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MIKAELLY APARECIDA CORRÊA FERNANDES

Todo trabalho, Aem cada uma dasDA


FORMAÇÃO etapas, será submetido às ferramentas de
PERSONALIDADE:
varredura para a detecção de plágio. Assim caso seja detectado percentual acima
do tolerado, seu trabalho será
CONSTRUÇÃO DOS invalidado
VÍNCULOS em qualquer
AFETIVOSuma das
NAatividades.
INFANCIA Antes de
começar o trabalho, leia o Manual do Aluno e Manual do Plágio para compreender
todos itens obrigatórios e os critérios utilizados na correção.

Anápolis
2018
MIKAELLY APARECIDA CORRÊA FERNANDES

A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE:
CONSTRUÇÃO DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA INFANCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Anhanguera de Anápolis como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Psicologia.

Orientador: Liliani Sato

Anápolis
2018
MIKAELLY APARECIDA CORRÊA FERNANDES

A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE:
CONSTRUÇÃO DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA INFANCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Anhanguera de Anápolis, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Psicologia.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a).Flavia Simões de Oliveira

Prof(a).Heren Nepomuceno Costa Paixão

Prof(a).Rayane Barreto Castelo Branco

Anápolis, 14 de Novembro de 2018.


FERNANDES, Mikaelly Aparecida Corrêa. A formação da Personalidade:
Construção dos vínculos afetivos na infância. 2018. 25 folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Psicologia) – Faculdade Anhanguera de Anápolis, Anápolis,
2018.

RESUMO

O presente artigo foi desenvolvido buscando compreender como os vínculos afetivos


estão relacionados à constituição da personalidade do indivíduo, uma vez que
contextualizados na sociedade da qual se faz parte, os modelos iniciais dos
relacionamentos primários moldam a forma como o indivíduo estabelece seus
vínculos afetivos e suas relações com o outro. O crescente número de divórcios, a
demanda de trabalho para sustentar a família e outros aspectos, tem feito com que
cada vez mais crianças cresçam sem o acompanhamento adequado de seus pais
e/ou cuidadores, o que influencia diretamente na sua estruturação da personalidade
e na forma como esse indivíduo define suas relações adultas baseado modelo inicial
que aprendeu de sua família. Fez-se necessário então, entender as relações
afetivas que acontecem na primeira fase de vida do ser humano, e como elas se
estendem para todos os aspectos da vida adulta. Para identificar a relevância
dessas relações, utilizou-se o pesquisa bibliográfica para maior fidedignidade nas
informações.

Palavras-chave: Personalidade, Vínculos Afetivos, Primeira Infância, Infância.


FERNANDES, Mikaelly Aparecida Corrêa. A formação da Personalidade:
Construção dos vínculos afetivos na infância. 2018. 25 folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Psicologia) – Faculdade Anhanguera de Anápolis, Anápolis,
2018.

ABSTRACT

The present article was developed seeking to understand how the affective bonds
are related to the constitution of the personality of the individual, since contextualized
in the society of which it is part, the initial models of the primary relationships shape
the way in which the individual establishes his affective bonds and his relationship
with each other. The increasing number of divorces, the demand for work to support
the family and other aspects, has caused more and more children to grow up without
the proper accompaniment of their parents and / or caregivers, which directly
influences their personality structure and how that individual defines their adult
relationships based initial model that he learned from his family. It was then
necessary to understand the affective relationships that take place in the first stage of
life of the human being, and how they extend to all aspects of adult life. To identify
the relevance of these relationships, the bibliographic research was used for greater
reliability in the information.

Key-words: Personality, Affective Bonds, Early Childhood, Childhood.


7

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
2. VINCULOS AFETIVOS: A IMPORTÂNCIA NA PRIMEIRA INFÂNCIA COMO
ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE ................................................................ 9
3. OS DESDOBRAMENTOS DO ROMPIMENTO DOS VÍNCULOS AFETIVOS NA
INFÂNCIA..................................................................................................................14
4. OS VÍNCULOS AFETIVOS NA ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE.....18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................23
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 24
8

1. INTRODUÇÃO

Os vínculos afetivos surgem como uma forma de se relacionar com o outro


no que diz respeito ao aspecto emocional e comportamental na relação mãe
(cuidador) / bebê, e como uma maneira de desenvolver um ambiente adequado para
o desenvolvimento sadio da criança, uma vez que esta relação objetal inicial define
aspectos da personalidade e o funcionamento psíquico do indivíduo na vida adulta.
Após o nascimento, tanto a estrutura psíquica como o sistema biológico da
criança estão se desenvolvendo, e devido à ausência da capacidade de executar e
sanar as próprias necessidades básicas, é necessário que um cuidador esteja à
disposição para contribuir durante o desenvolvimento da criança. Essa relação
mãe(cuidador)/bebê é fundamental para o desenvolvimento do primeiro laço afetivo
da criança, pois a mesma se reporta e projeta as suas necessidades nessa figura
materna que se revela como uma fonte de segurança e suprimentos, capaz de
saciar seus desejos e vontades de forma quase instantânea.
Partindo dessa primícias questiona-se: como a formação de vínculos na
criança influencia a estruturação da personalidade? Nesta perspectiva, a finalidade
está em compreender como, ao longo do processo de amadurecimento, a criança
amplia sua necessidade de criar e manter vínculos com a mãe ou um cuidador
substituto, para que seja possível analisar e responder quais as possíveis formas
pela qual a formação de vínculos na criança influencia a estruturação da
personalidade, e quais consequências das rupturas geradas durante o processo de
formação dos vínculos.
Em meio a diversos formatos familiares, o objetivo geral do presente artigo é
compreender como a formação de vínculos realizada entre mãe-bebê/ influencia os
aspectos emocionais de uma criança, e como ela desenvolve sua personalidade a
partir disto, buscando: compreender a importância da formação de vínculos na
primeira infância; perceber os desdobramentos da deficiência e/ou rompimento dos
laços afetivos na infância e apontar como a personalidade se molda através dos
vínculos afetivos na criança.
8

Para desenvolver o trabalho, foi utilizado a revisão narrativa da literatura a


partir de buscas em livros e artigos de autores renomados para o desenvolvimento
de uma pesquisa de qualidade referente ao assunto, além da ferramenta Google,
tendo como principais autores utilizados: Jhon Bowlby, Freud e David E. Zimerman,
para a fidedignidade de resultados nas pesquisas realizadas.
9

2. VÍNCULOS AFETIVOS: A IMPORTÂNCIA NA PRIMEIRA INFÂNCIA COMO


ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE

A família enquanto formadora e cuidadora, desenvolve como principais


funções a socialização do indivíduo a partir do papel que exerce para determinar o
status social da criança, a assistência social e econômica, além das satisfações
biológicas básicas, com início na reprodução, até à satisfação da fome, sede,
cuidados pessoais e de higiene (DIAS, 2010).
Para Abbud (2002), a família e as relações afetivas são tão importantes no
desenvolvimento saudável da personalidade, como a educação e os conceitos de
ética e moral na vida do indivíduo, que vão permitir que ele se estabeleça na
sociedade e possua boas relações individuais. A família pode ser considerada então,
como unidade básica de desenvolvimento e crescimento do ser humano. É
responsabilidade dela a formação de caráter, personalidade e configuração
intelectual, social e emocional do indivíduo.
Dessa forma, independentemente das configurações familiares, do meio em
que o indivíduo está inserido e está sendo desenvolvido, a família causará grande
influência em sua estruturação enquanto ser humano. Para Maria Berenice Dias
(2006),
O desenvolvimento da sociedade e as novas concepções de família
emprestaram visibilidade ao afeto, quer na identificação dos vínculos
familiares, quer para definir os elos de parentalidade. Passou-se a desprezar
a verdade real quando se sobrepõe um vínculo de afetividade (p. 319).

O aspecto afetivo que vivenciamos no dia-a-dia a partir da experiência com


outras pessoas apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos
(amor, raiva, depressão) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas) (SOUZA,
2008). Somos seres relacionais e formamos vínculos afetivos desde o nosso
nascimento. Para Bion (1962/1966, apud ZIMERMAN, 2010), vínculo se define como
“elos de ligação – emocional e relacional que unem duas ou mais pessoas, ou duas
ou mais partes dentro de uma conversa” (p.24).
Na teoria dos vínculos, a estrutura da personalidade está diretamente
relacionada ao estabelecimento dos vínculos onde seu foco está nos modelos
adquiridos durante o desenvolvimento infantil, e no papel que tais modelos
desempenham nas relações interpessoais futuras, ao longo do ciclo da vida.
10

Zimerman (2010) fala a respeito destes primeiros modelos de vinculo e sua


importância: “os vínculos interiores, de primitiva formação, é que determinarão a
configuração e a conduta que marcarão a qualidade dos vínculos exteriores ao longo
da vida de todos nós” (p.24).
Diversos autores, como por exemplo Zimerman (2010) e Freud (1920)
enfatizam a importância dos primeiros vínculos na formação da personalidade do
indivíduo, principalmente a relação dual entre mãe e bebê/ mãe e cuidador. Se esta
relação for “sadia”, proporcionará ao bebê um bom desenvolvimento emocional,
tamanha a importância do vínculo relacional entre os dois. Zimerman (2010)
confirma que “muito além das necessidades básicas atendidas, a constituição do
vínculo ocorre carregada de emoção, pois um forte elo afetivo é constituído entre a
mãe e o bebê” (p.25).
Segundo Bion (1962/1966, apud ZIMMERMAN, 2010) criador da concepção
de relação continente-conteúdo, a mãe é um continente a acolher e conter em si os
conteúdos angustiantes do filho, e devolver a ele estes materiais de forma mais
digerível, assimilável e passível de serem aceitos. Para todo conteúdo que necessita
ser projetado (necessidades, angustias, objetos ameaçadores, etc.), deve haver um
continente receptor. Dessa forma, a mãe é indispensável para acolher e conter as
projeções da criança.
No vinculo mãe-bebê, o simples ato da amamentação implica em uma relação
vincular entre a boca do bebê, que procura saciar a sua fome, e o seio alimentador
da mãe, que funciona como continente materno. Winnicott (2008) enfatiza em suas
obras a importância da amamentação para a relação entre mãe e bebê,
considerando esta pratica como a mais significativa na construção dos laços
afetivos, afirmando que “todo o processo físico funciona precisamente porque a
relação emocional se está desenvolvendo naturalmente” (p. 33).
Jung (1998) utiliza o termo “Persona” para designar os papeis sociais que
desempenhamos para interagir com o mundo. A persona tem sua formação nos
primeiros anos de vida, quando a criança aprende valores e determina seus
comportamentos na vida adulta através do comportamento de seus pais, de forma
que, aquilo que aprendeu como sendo a conduta adequada frente às situações será
repetido.
11

Ao observar como uma criança se comporta em relação a sua mãe, tanto na


presença quanto (e especialmente) na ausência desta, pode-se compreender o
desenvolvimento de sua personalidade quando se trata do rompimento dos vínculos.
A criança geralmente reage de maneira desesperada, com choros e soluços de
grande intensidade, e quando retorna à mãe, mostra um intenso grau de ansiedade
de separação. Esses comportamentos e essa ansiedade experimentada no
rompimento dos vínculos, pode ser determinante na constituição da personalidade
na vida adulta (BOWLBY, 2001).
A criança precisa se desenvolver e crescer em um lar estável e sadio
emocionalmente, onde receba amor, cuidado, dedicação, além dos suprimentos
necessários para seu amadurecimento. Winnicott (2008), afirma que:
Se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um ser humano, haverá
poucas probabilidades de que a saúde mental seja alicerçada com uma
solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa ostentar uma
personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas
também de participar de um mundo que exige adaptação (p.118).

É necessário que a mãe permita que a criança se desenvolva e tenha seus


direitos assegurados, suprindo-a e dando-lhe o afeto necessário para seu
desenvolvimento, pois a figura materna é o primeiro contato que a criança tem com o
mundo, e é nela em que a criança se espelha para construir as relações com as
pessoas que estão a sua volta, além de ser a figura pela qual a criança adquire o
conhecimento necessário de tudo que a rodeia, e desenvolva sua personalidade
enquanto ser individual à mãe (WINNICOTT, 2008).
Freud (1920) sugere a compulsão à repetição vivenciada pelos indivíduos
que, de uma forma inconsciente tendem a repetir as ações dos pais, nas escolhas e
nas diversas situações cotidianas ao longo da vida, repetindo suas experiências
iniciais no seio familiar.
Lacan (1938), também incita a importância da família na formação da
personalidade humana, declarando que:
Entre todos os grupos humanos, a família desempenha um papel primordial
na transmissão da cultura. Se as tradições espirituais, a preservação dos
ritos, e dos costumes, a conservação das técnicas e do património lhe são
disputadas por outros grupos sociais, a família prevalece na primeira
educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua justamente
chamada materna. Por isso ela preside aos processos fundamentais do
desenvolvimento psíquico, a esta organização das emoções segundo tipos
condicionados pelo ambiente, duma maneira mais lata, ela transmite
estruturas de comportamento e de representação cujo jogo ultrapassa os
limites da consciência (p.8).
12

Freud (1985), afirma que os primeiros anos da vida da criança são primordiais
para seu desenvolvimento emocional, para que assim, se desenvolva e se torne um
adulto capaz de resolver os problemas e conflitos cotidianos, e que a família é a
base para a formação e desenvolvimento da personalidade da criança.
Chalita (2001), afirma que:
[...] a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os
desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Os filhos se
espelhando nos pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com os filhos.
[...] A preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são
responsabilidades da família. É essa a célula mãe da sociedade, em que os
conflitos necessários não destroem o ambiente saudável. (p. 20)

Portanto, pode-se afirmar que as relações afetivas e os vínculos são o melhor


modo do ser humano se desenvolver de forma eficaz para construir uma
personalidade saudável e conseguir ter estabilidade emocional ao passar dos anos.
Entretanto, a boa ou a má formação dos vínculos afetivos da criança estão
diretamente ligados à dedicação constante daquele que cuidará do bebê
(WINNICOTT, 2008). Uma das formas na qual se pode evidenciar a formação do
laço, é na amamentação.
Winnicott (2008) fala sobre a importância da amamentação para a relação
entre a mãe e o bebê. Para ele, “todo o processo físico funciona precisamente
porque a relação emocional se está desenvolvendo naturalmente” (p.33), sendo
essa então, a pratica mais significativa na relação de construção dos vínculos
afetivos. Winnicott (2008) afirma ainda que:

Por outras palavras, a única base para as relações de uma criança com a
mãe e o pai, com as outras crianças e, finalmente, com a sociedade, consiste
na primeira relação bem sucedida entre a mãe e o bebê, entre duas pessoas,
sem que mesmo uma regra de alimentação regular se interponha entre elas,
nem mesmo uma sentença que dite que um bebê deve ser amamentado ao
peito materno. Nos assuntos humanos, os mais complexos só podem evoluir
a partir dos mais simples. (p. 36)

Winnicott (2008), afirmou que uma amamentação bem sucedida, que estaria
relacionada a um vínculo de prazer mútuo, seria a grande riqueza do início de vida,
e que a experiência da amamentação pode se tornar grandemente satisfatória tanto
para a mãe quanto para o bebê, pela condição de entrega que acontece durante o
ato.
Melanie Klein (1996), cita:
13

Espero ter deixado clara a importância psicológica de a mãe alimentar o filho;


examinemos agora a situação em que ela se vê impedida de fazer isso. A
mamadeira é um substituto para o seio da mãe, pois permite ao bebe ter o
prazer de sugar e de estabelecer até certo ponto o relacionamento com a
mãe-seio através da mamadeira oferecida pela mãe ou pela babá. A
experiência mostra que muitas crianças que nunca mamaram no seio se
desenvolvem muito bem. Mesmo assim, análise dessas pessoas sempre
revela um profundo anseio pelo seio, eu nunca foi saciado; além disso,
apesar de o relacionamento com a mãe-seio ter se estabelecido até certo
ponto, ao deixa de fazer uma grande diferença para o desenvolvimento
psíquico o fato de a primeira e mais fundamental gratificação ter sido obtida
através de um substituto, ao invés daquilo que realmente se desejava. Apesar
de ser possível que a criança se desenvolva bem sem mamar no seio, pode-
se dizer que seu desenvolvimento teria sido diferente e mais vantajoso caso
tivesse sido alimentada no seio com sucesso. Por outro lado, minha
experiência mostra que crianças que apresentam problemas de
desenvolvimento, apesar de terem mamado no peito, estariam numa situação
bem pior se não tivessem tido essa experiência (p.342-343)

Pode-se afirmar então que, se o processo de amamentação teve êxito, a


formação dos vínculos afetivos se dará de forma satisfatória, e a criança será capaz
por si só de produzir um desmame tranquilo, sem agitações e dificuldades. Mas nos
casos onde há um rompimento dos laços afetivos, a estrutura da personalidade
torna-se instável e possíveis problemas de relacionamento e intolerância à
frustração irão se desenvolver.
14

3. OS DESDOBRAMENTOS DO ROMPIMENTO DOS VÍNCULOS AFETIVOS


NA INFÂNCIA

Pode-se observar que para o desenvolvimento saudável e adequado da


criança, faz-se necessário que ela receba amor e cresça em um lar estável, com
orientação e direção dos genitores e/ou cuidadores. A criança cujos pais souberem
oferecer amor e atenção para que a mesma se desenvolva, crescerá tendo uma
base sólida que auxiliará na construção de sua personalidade, e se formará um
indivíduo com perfeita saúde mental e tolerância às adversidades, para enfrentar as
provações da vida cotidiana. “Se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um
ser humano, haverá poucas probabilidades de que a saúde mental seja alicerçada
com uma solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa ostentar uma
personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas
também de participar de um mundo que exige adaptação” (WINNICOTT, 2008,
p.118).
Jung (1998), afirma que quanto mais impressionante forem os pais, quanto
menos quiserem assumir seus próprios problemas (muitas vezes pensando
diretamente no bem dos filhos), por um tempo mais longo e de modo mais intenso
terão os filhos de carregar o peso da vida que seus pais não viveram, como que
forçados a realizar aquilo que eles recalcaram e mantiveram inconsciente.
Bowlby (2001) afirma que a capacidade de formação e manutenção dos
vínculos no contexto familiar é a garantia da saúde mental da criança, e que cabe
aos pais fornecerem segurança e apoio para que essa criança explore o mundo ao
seu redor e retorne, sabendo que estará protegido e terá suas necessidades
supridas. Isso fará com que ela se sinta segura e capaz de enfrentar a realidade, até
mesmo diante de situações conflituosas.
No contexto de relacionamento familiar, a figura principal de apego
(geralmente a mãe e/ou cuidador) gera na criança a segurança e o conforto que ela
necessita, e sua presença faz com que ela experimente o mundo de forma segura, e
como consequência, gere sentimentos de confiança e segurança em relação a si
mesma e, principalmente, em relação às pessoas que a rodeiam, sejam essas
pessoas seus familiares, ou mesmo integrantes do contexto social a qual está
inserida (BOWLBY, 2002).
15

Observar o comportamento de uma criança que se separa de sua mãe,


mesmo que por um curto período de tempo, pode auxiliar na compreensão de como
ela vivencia o rompimento de vínculos afetivos, como base norteadora para a
formação de sua personalidade. Quando a criança é afastada de sua mãe
(momentaneamente ou não), pode reagir com expressões de comportamentos de
grande intensidade, como choro intenso, por exemplo; e quando retorna à mãe,
pode mostrar um grau intenso de ansiedade de separação, ou até mesmo um
excepcional desapego (BOWLBY, 2002).
Para Bowlby (2002), nos casos de separação da mãe, a criança mantem viva
dentro de si a imagem da mesma, e por essa imagem, pode demorar a perceber a
separação imediata. Mas se a mãe é sua principal acolhedora e saciadora, e se, se
tornar ausente por um limite de tempo que exceda a capacidade da criança de
manter viva essa imagem, isso fará com que essa imagem perca o significado e a
criança se torne incapaz de usá-la, perdendo dessa forma, o contato afetivo.
Quando a mãe retornar ao lar, a criança terá de reconstruir o afeto novamente, para
então poder confiar novamente na mãe e ter seus vínculos afetivos restabelecidos.
Ainda sobre as separações, um dos mais fortes rompimentos dos laços
afetivos para uma criança, com exceção à morte dos pais, é a separação dos
mesmos, especialmente quando a separação acontece em uma idade em que a
criança já tem discernimento para entender o que está acontecendo, e quais são as
consequências que ela acredita que sofrerá, o que influencia na geração de sérios
conflitos e danos em sua estruturação da personalidade e sua formação mental em
si. A criança percebe a separação dos pais como o rompimento do mundo como ela
conhece, há uma sensação de desmoronamento, de destruição de todo o contexto a
qual ela foi inserida e aprendeu a viver. A criança vivencia a separação dos pais
como sendo uma separação de si mesma, e não apenas dos dois parceiros que
estão se afastando. Bolwby (2001), sugere que frente às separações, a criança
vivencia os sentimentos e sintomas frequentemente encontrados na reação à perda,
e processo do luto, e é de acordo com o que ela recebeu da mãe que poderá
encontrar os recursos suficientes para enfrentar tal situação de perda.
Nesse primeiro momento, a criança projeta nos pais a expectativa de que
eles supram suas necessidades, e então vivencia a relação com eles como “questão
de sobrevivência”, buscando tê-los como base segura para diminuir os riscos que
16

são provocados pelo abandono. De acordo com Freud (1917), perder o ser amado
não é apenas perder o objeto, mas também o lugar que ele ocupava. A libido, de
início, apresenta certa resistência em abandonar as posições prazerosas
anteriormente experimentadas, porém o ego precisa se ver novamente livre e
desimpedido, e aos poucos a ausência do objeto impõe o doloroso desligamento.
Dessa forma, é compreensível que os enlutados sintam a necessidade de estarem
reclusos em ambientes que se sintam confortáveis e protegidos, e perto de pessoas
que lhe tragam apoio.
Para Freud (1917) então, o luto torna-se então uma resposta à
separação, e é vivenciado como nos casos em que o objeto de amor morre: há o
sentimento de negação, desamparo, descrença, consciência de perda, e então a
aceitação, para que se comece a reestruturar a vida e concluir o processo de luto.
Para Igor Caruso (1981), com a separação ocorre um tipo de elaboração
de luto curiosa e paradoxal, ou seja, para se conservar a vida, utiliza-se uma
repressão dirigida contra o que é vivo, porque a separação é um problema de morte
entre os vivos. “Na verdade, a separação pode tornar-se um escândalo maior do que
aquele provocado pela morte física: para garantir a sobrevivência, provoca-se a
morte da consciência de um ser vivo dentro de um outro ser vivo.” P.19
De acordo com Françoise Dolto (2003), a criança sofre várias
dissociações com maior ou menor grau de desestruturação durante o divórcio dos
pais. Françoise afirma ainda que, se a criança puder permanecer na casa onde seus
pais moravam enquanto ainda estavam casado, há uma mediação e o trabalho do
divórcio é feito de maneira com que ela não seja tão prejudicada psicologicamente.
Caso tenha que se mudar de casa com um dos pais, a criança já vivencia o
processo de luto com mais intensidade, ficando mais frágil e sensível.
Essa fragilidade remete a diversas consequências na vida do indivíduo nos
futuros momentos de sua vida. De acordo com Bowlby (2002), algumas crianças
podem passar por esse processo quase sem danos. Já Winnicott (2008) pontua que,
dependendo do estágio do desenvolvimento emocional pelo qual a criança está
passando, se seu ego ainda não estiver formado, ela terá sim implicações
significativas para elaborar essa perda.
17

Assim como no entendimento de Bowlby (2002) a idade na qual ocorre a


privação também influencia nas consequências nas crianças e se tratando dos
efeitos, o autor relata que:

Algumas descobertas sugerem que a privação da mãe pode ter efeitos


particularmente negativos sobre determinados processos. Dentro os
processos intelectuais, os mais vulneráveis parecem ser a linguagem e a
abstração. Dentre os processos de personalidade, os mais vulneráveis
parecem ser os que são subjacentes à capacidade de controlar impulsos em
benefício de objetivos de longo alcance (p. 202).

Os efeitos dos rompimentos dos vínculos afetivos são evidenciados


principalmente no que diz respeito aos aspectos da personalidade. E para
compreender a estrutura da personalidade humana, pode-se evidenciar a teoria da
personalidade de Freud a seguir.
18

4. OS VÍNCULOS AFETIVOS NA ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE

Para compreender a personalidade, Freud (1996) publicou estudos


significativos para definir e caracterizar os aspectos da personalidade. Para ele, o
aparelho psíquico é definido em alguns modelos. O primeiro deles é o modelo
topográfico, onde Freud (1996) utilizou a metáfora da ponta do iceberg para ilustrar a
psique humana. A ponta do iceberg que fica visível seria a região consciente, que
diz respeito à tudo aquilo que pode ser percebido por cada indivíduo: as percepções,
lembranças, pensamentos, sonhos e sentimentos. A parte do iceberg que fica
submersa, mas que ainda pode ser vista, seria o mesmo que o pré-consciente da
psique humana, ou seja, diz respeito àquilo que se é capaz de recordar: momentos
passados, que não estão sendo vivenciados no presente, mas podem ser trazidos à
consciência com facilidade. A parte que fica oculta sob a água, confere à região do
inconsciente. Nela ficam armazenadas todas as lembranças, sentimentos e
pensamentos inacessíveis para a consciência, incluindo os pensamentos e
conteúdos que podem ser desagradáveis, dolorosos, inaceitáveis, angustiantes ou
mesmo conflituosos.
Já o modelo estrutural na teoria de Freud (1923), sugere que o aparelho
psíquico é dividido em três instâncias que se desenvolvem ao longo da infância:
Id: é a parte primitiva e inata da personalidade, seu único propósito é
satisfazer os impulsos do indivíduo. Diz respeito às necessidades e desejos mais
básicos, as pulsões. (FREUD, 1923)
O id não tolera aumentos de energia, que são experienciados como estados
de tensão desconfortáveis. Conseqüentemente, quando o nível de tensão do
organismo aumenta, como resultado ou de estimulação externa ou de
excitações internamente produzidas, o id funciona de maneira a descarregar
a tensão imediatamente e fazer o organismo voltar a um nível de energia
confortavelmente constante e baixo. Esse princípio de redução de tensão
pelo qual o id opera é chamado de princípio do prazer (HALL, LINDZEY,
CAMPBELL, 1998, p.53)

O id é a primeira estrutura a se formar na personalidade do bebê. Nessa fase,


a criança segue seu instinto de satisfação, de obter o prazer mediante o suprimento
de suas necessidades e angustias. Neste momento ela é incapaz de tolerar
frustrações. Diante da falta da mãe (objeto de prazer), a criança cria uma ilusão da
sua presença. Nesta fase, nota-se também a pulsão de morte e de vida
(ZIMERMAM, 1999).
19

O id não tolera aumentos de energia, que são experienciados como estados


Diante da ausência do objeto que reduzia a pulsão, o indivíduo alucina. Na
ausência do leite, o bebê fantasia, ou alucina sua presença. O bebê recém-
nascido é influenciado não pela realidade, mas pelo que ele quer. O que
acontece nos sonhos como ausência de tempo, condensação de duas
pessoas em uma só, exemplifica o processo primário (BIAGGIO, 1988, p.
106).

Ego: O ego evolui de acordo com a idade e age como um intermediário entre
o id e o superego. Enquanto o id age através do princípio do prazer, o ego se
representa pela forma como enfrentamos a realidade. “O objetivo do princípio da
realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado,
para a satisfação da necessidade.” (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 55).

Ainda persiste a clássica definição de que o ego é a principal instância


psíquica, porquanto funciona como mediadora, integradora e harmonizadora
entre as pulsões do id, as exigências e ameaças do superego e as demandas
da realidade exterior (ZIMERMAM, 1988, p. 84).

Superego: O superego representa os pensamentos morais e éticos, e a lei e a


norma recebidos da cultura. É o último sistema da personalidade a se desenvolver
na criança. Ele é a força moral da personalidade, obtida por meio da introjeção dos
valores e padrões dos pais e da sociedade. “Ele é o representante interno dos
valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme interpretados para a criança
pelos pais e impostos por um sistema de recompensas e punições” (HALL,
LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 54). Cada uma das três instância tem funções
diferentes que agem com suas peculiaridades e que, de maneira conjunta, formam
uma estrutura única de personalidade.
Quando a estrutura da personalidade está sendo moldada, os cuidados que a
criança recebe na infância para se desenvolver e se manter, terão repercussão na
sua vida adulta. Os vínculos formados na infância não mais serão passados a seus
pais, mas sim à sua vida emocional e às suas relações com outras pessoas de seu
contexto social. Para que a criança se torne um adulto seguro de seus sentimentos e
não venha a ter muitos sofrer com conflitos emocionais no futuro, é necessário
trabalhar os sentimentos e afetos, desde a infância, para que passe por situações de
desapego gradativamente, a fim de que possa saber lidar melhor com os
sentimentos na fase adulta, tornando-se uma pessoa resistente frente às
dificuldades da vida (BOLWBY, 2001).
20

A personalidade se desenvolverá na criança aos poucos, e no decorrer da


vida, por mais que na primeira infância ela já exista e mostre traços únicos e
característicos de tal indivíduo. Jung (1998), afirma que sem determinação, inteireza
e maturidade não há personalidade. Essas três características não podem ser algo
próprio da criança, pois por meio delas a criança perderia sua infantilidade. A criança
então se tornaria uma imitação de adulo, desnatural e precoce.
Dado esse fato, é importantíssimo que os pais e/ou cuidadores participem do
papel de estruturação da personalidade, pois a criança precisa de um modelo para
se espelhar. Ninguém desenvolve sua personalidade porque alguém lhe disse que
seria bom e aconselhável fazê-lo. Desse modo, o desenvolvimento da personalidade
não obedece à nenhum desejo, a nenhuma ordem, a nenhuma consideração, mas
somente à necessidade. “Ela precisa ser motivada pela coação de acontecimentos
internos ou externos.” (Jung, 1998, 142).
Carl Jung (1998) afirma que:
Seria melhor não aplicar às crianças o elevado ideal de educar para a
personalidade. A razão disso é que geralmente se vê na “personalidade”, a
totalidade psíquica, dotada de decisão, resistência e força, mas isso é um
ideal de pessoa adulta, que se pretende atribuir à infância. Tal pretensão
apenas pode ocorrer em uma época em que o indivíduo ainda está
inconsciente da sua condição de adulto ou- o que é pior- procura
conscientemente esquivar-se dele. Eu tenho minhas dúvidas quanto à real
sinceridade desse entusiasmo pedagógico e psicológico, tal como se
manifesta na época atual: fala-se da criança, mas dever-se-ia falar da criança
que existe no adulto. No adulto, está oculta uma criança, uma criança eterna,
algo ainda em formação e que jamais estará terminado, algo que precisará de
cuidado permanente, de atenção e de educação. Esta é a parte da
personalidade humana que deveria desenvolver-se até alcançar a totalidade
(p.140)

Por sua vez, Winnicott (2006) afirma que é necessário admitir que há uma
dependência na criança que é marcada por um período de experiências muito
importantes para o desenvolvimento dos vínculos afetivos e para a estruturação de
sua personalidade. Afirma ainda que essa dependência é tão perceptível que a
criança não consegue por si só suprir as suas necessidades. Assim, a mãe e/ou
cuidador torna-se a peça fundamental para construção dos estados emocionais e
psíquicos da criança, que vai influenciar diretamente nas suas vivencias e na sua
relação com o meio no qual está inserida.
Quando a relação mãe/bebê se desenvolve de forma saudável, o ego da
criança é formado como ego reforçado, segundo as palavras de Winnicott (2008).
Esse ego reforçado é um ego capaz de se defender e organizar padrões pessoais
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de acordo com padrões hereditários aprendidos. A partir dessa estruturação, a


criança começa a mostrar suas singularidades e particularidades. Nesse momento
de formação, a criança também forma suas memórias e expectativas. As crianças
que não recebem o desenvolvimento egóico estão propensos à ansiedade,
inquietação, inibição e apatia.
Frente à esse desenvolvimento, quando o bebê reage com hostilidade frente
à sua mãe, e percebe que seu objeto de ataque é o mesmo objeto de amor, surge o
estágio da preocupação. Para Melanie Klein (1996), a criança agora tem que lidar
com dois conjuntos de fenômenos: Uma coisa boa - que gera satisfação e
acolhimento- foi atacada e provocou um sentimento bom na criança. Algo satisfatório
foi formado dentro dela. Ao mesmo tempo, ela tem que lidar com a culpa que esse
sentimento bom trouxe.
Françoise Dolto (2003) afirma que quanto menos existe o sentimento de
culpa, mais existe o da responsabilidade entre os seres humanos. É importante
ressaltar que dificuldades nesse campo, o sentimento de culpa não ressignificado,
associado à repressão de situações estressantes e/ou dolorosas, dão origem a
várias manifestações neuróticas e distúrbios de humor denominados psicóticos que
poderão chegar até mesmo à loucura.
Frente à essa ressignificação, Freud (1996/1911-1913) afirma que mesmo nos
estágios mais avançados da psicoterapia, o analista deve ter precaução e se policiar
para não “fornecer ao paciente a solução de um sintoma ou a tradução de um desejo
até que ele esteja tão próximo delas que só tenha de dar mais um passo para
conseguir a explicação por si próprio.” (FREUD, 1996/1911-1913, p. 155). “Temos de
esperar até que a perturbação da transferência pelo aparecimento sucessivo de
resistências transferências tenha sido removida.” (FREUD, 1996/1911-1913, p. 158).
Bruce Fink (1998), reflete acerca da relação do “ressignificar” com o “real”.
Para ele, o pensamento pré-existente do sujeito bem como suas fantasias, são
lançados de encontro com a possibilidade de ressignificação e elaboração traumas e
medos que o perseguem em sua subjetividade, que por sinal são constituídos pela
ordem da falta. Ao ir de encontro com essa falta, o sujeito torna-se livre para
ressignificar, criando novas formas de interpretar gerenciar suas angústias.
A estrutura da personalidade está diretamente ligada ao estabelecimento dos
vínculos, onde seu foco está nos “modelos” adquiridos durante o desenvolvimento
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infantil e no papel que tais modelos desempenham nas relações interpessoais


futuras, ao longo do ciclo da vida. No caso do rompimento dos vínculos, quando há
prejuízo na ressignificação dos sintomas, é comprovadamente certo afirmar que
muitos distúrbios psicológicos e da personalidade são reflexo de um prejuízo na
formação dos vínculos afetivos, em decorrência da falha no desenvolvimento na
infância (BOLWBY, 2001).
Quadros de sociopatia, psicopatia e depressão foram examinados, e
constatou-se que as possíveis causas do problema encontram-se na ausência de
oportunidades para estabelecer vínculos afetivos com os genitores, ou até mesmo a
ruptura dos mesmos. Os sintomas que acompanham esses transtornos são a
delinquência e o suicídio (BOLWBY, 2001).
Assim, parece agora razoavelmente certo que, em numerosos grupos de
pacientes psiquiátricos, a incidência de rompimento de vínculos afetivos
durante a infância é significativamente elevada. As maiores incidências de
vínculos desfeitos incluem tanto os vínculos com os pais como com as mães,
e são observados entre os cinco e os catorze anos, tanto quanto nos
primeiros cinco anos. Além disso nas condições mais extremas- sociopatia e
tendências suicidas- não só é provável que tenha sido uma perda
permanente, seguida da experiência de repetidas mudanças de figuras
parentais. (BOLWBY, 2001, p.104)

O analista, ao intervir sobre essas angústias, é capaz de acelerar o processo


de ressignificação das relações objetais do sujeito de forma firme e consistente,
proporcionando que novos pensamentos a respeito do sintoma possam surgir. Essa
demanda pelo novo é o que permite a ressignificação, uma vez que o sujeito torna-
se aberto para tratar dos “sintomas mestres” que aprisionam e causam sofrimento
(FINK, 1998).
23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do presente estudo, os objetivos estabelecidos foram alcançados de


forma a demonstrar a importância dos vínculos na primeira infância. Nesse contexto,
a formação dos vínculos mostra-se como uma importante experiência para o
completo desenvolvimento do ser humano, especialmente no que diz respeito à sua
capacidade de se relacionar com o outro. Através da formação dos vínculos a
criança estrutura sua personalidade e poderá então, de forma progressiva, aprender
a compartilhar suas experiências, aprender a resolver conflitos e problemas que
eventualmente ocorrem na vida cotidiana, ter sentimentos de empatia e aprender a
conduta adequada frente às inúmeras situações da vida.
Foi possível analisar também que o rompimento dos vínculos afetivos gera
indivíduos adoecidos, pois toda a psique humana se organiza em relação aos
primeiros contatos que a criança tem na infância. O rompimento gera na criança uma
sensação de desmoronamento, o que contribui para que, em sua vida adulta, o
sujeito torne-se inseguro e- na maioria das vezes-, incapaz de confiar plenamente
nas pessoas que o rodeiam.
A partir do estudo realizado evidenciou-se que, no que diz respeito à estrutura
da personalidade, os cuidados que a criança recebe na infância terão repercussão
no desenvolvimento da personalidade e na vida adulta, e é de extrema importância
que o sujeito esteja cercado de relações afetivas saudáveis no desenvolvimento dos
vínculos afetivos, pois dessa forma se estabelece uma sociedade com indivíduos
que possuem estabilidade emocional e bons relacionamentos sociais.
Podem surgir outros questionamentos a partir do trabalho desenvolvido, e que
podem se tornar objeto de estudo mais aprofundado, como por exemplo, como
mesmo frente às rupturas, o sujeito pode elaborar mecanismos psíquicos para além
da fragilidade que a ruptura causou? Ou até mesmo se é possível deslocar o vínculo
afetivo para outro objeto de apego.
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REFERÊNCIAS

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