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Manual - MODULO III - Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Manual - MODULO III - Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
MERCADORIAS
Dezembro 2015
Manual de Formação
Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
INTRODUÇÃO
Sendo este documento constituído por três partes distintas, entendi, por questões
de metodologia, iniciá-lo, abordando a temática do transporte sob conhecimento
de carga, tendo como legislação de suporte a Convenção de Bruxelas de 25 de
Agosto de 1924, a qual, já ultrapassada em muitos detalhes pela jurisprudência
internacional, encontra-se contudo, em vigor em Angola e, é parte integrante
maioria dos contratos de transporte efectuados; seguidamente, foram analisados
os vários tipos de contrato de fretamento, para os quais, embora já muitos países
tenham legislação específica e existam inúmeros contratos tipo, o espírito da
vontade expressa das partes contratantes continua a imperar; finalmente, foram
citados os contratos de transporte continuado (COA’S), muito utilizados para
garantir empréstimos bancários para aquisição de novas unidades de transporte.
Luís Moita
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ÍNDICE
1. Origem histórica
2. Definição, menções e tipos de conhecimentos de carga
3. Regime jurídico da Convenção de Bruxelas de 1924
4. Obrigações e responsabilidades das partes
5. Principais cláusulas do conhecimento de embarque-CONLINEBILL
6. Cartas de garantia
7. A Convenção de Hamburgo de 1978.
1. Origem histórica
2. Definição
3. Forma do contrato de fretamento
4. Modalidades de fretamento
5. Definições legais e enunciações da respectiva carta-partida no fretamento por
viagem
6. Carta-partida e emissão de conhecimentos de carga-CONGENBILL
7. Sub-fretamento
8. Assinatura dos conhecimentos de carga nos casos de fretamento de navio
C- Contracts of affreightment
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1 - ORIGEM HISTÓRICA
Para melhor se compreender a evolução que culminou nas regras de Haia de 1921 e na
assinatura da convenção de Bruxelas de 1924, importa dar uma ideia, ainda que sumária,
da forma como, desde remotos tempos da Antiguidade, se processava o comércio
marítimo.
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Não podemos todavia, esquecer que, nesta recuada época, muitas pessoas eram
analfabetas e, como tal, tornava-se extremamente difícil a elaboração de um contrato
escrito, no qual ficassem consignados as obrigações e direitos de cada uma das partes
contratantes.
Já no século X nos aparece uma lei norueguesa dispondo que o contrato deve ser
materializado através de um aperto de mão na presença de testemunhas.
Porém, só em 1526, num édito da cidade de Florença, aparece pela primeira vez a notícia
da existência de um documento que se pode considerar antepassado do actual
conhecimento de embarque. Neste édito aparece designado por “apólice de
carregamento”.
A verdade, porém, é que, a partir do século XVI, o seu uso se começa a estender aos países
da Europa Ocidental, aparecendo-nos referido em várias Ordenanças desta época:
Ordenança de Filipe II, de 1563, sobre o comércio marítimo; Ordenança de Anvers, de
1570; Ordenança de Amesterdão, de 1598 e Ordenança das cidades Anseáticas
promulgada em Lubeque em 1591, mas ainda como mero recibo da mercadoria entrada
a bordo do navio.
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O grande passo iria ser dado no século XIX, no tempo de Napoleão, que ordenou a
redacção do Código do Comércio, com uma parte dedicada ao Comércio Marítimo, onde
o conhecimento de embarque aparece, pela primeira vez, como documento negociável.
De simples recibo passa a título representativo da mercadoria e é igualmente
reconhecido pela Câmara de Comércio Internacional como documento de crédito.
No fim do século XIX, o panorama era tal, que se chegou a afirmar que “o Capitão
transporta o que quer, quando quer, para onde ele quer, como quer e no estado que mais lhe
convém”.1
Esta situação será alterada em 1921 com a elaboração das Regras de Haia, as quais mais
tarde deram origem à Convenção de Bruxelas de 25 de Agosto de 1924, para a Unificação
de Certas Regras em Matéria do Conhecimento, vigente em Angola a partir de 2 de
Fevereiro de 1952, através da portaria ministerial nº7865.
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Deste modo, sob a influência e no âmbito do Grupo dos 77 da Convenção das Nações
Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), foi redigida nova Convenção,
designada por Convenção de Hamburgo de 1978.
No entanto, hoje em dia, a maior parte do transporte de “carga geral”, faz-se por meio de
contentores, em navios especialmente construídos para o efeito, em que a carga - os
contentores - pode ser transportada no convés.
O Conhecimento de Carga (em inglês designado por “Bill of Lading”, de onde vem a
abreviatura frequentemente utilizada “B/L”) poderá ser definido como o documento que
materializa o “contrato de transporte em virtude do qual um armador, na pessoa do capitão ou
de outra pessoa autorizada, o agente, reconhece ter recebido a bordo uma determinada
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O Conhecimento de Embarque é emitido pelo transportador, com base nos elementos que
lhe são fornecidos pelo carregador, o qual será responsável pela veracidade das
declarações que presta.
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Nestes casos, o navio transportador será responsável pelos prejuízos sofridos pela carga,
sendo-lhe conferida, para o efeito, a personalidade judiciária.
A importância destas menções prende-se com o facto de, por um lado, o transportador
ser obrigado a entregar a mercadoria no mesmo estado em que a recebeu, e por outro,
para permitir ao destinatário, seguradores e bancos que intervenham numa transacção
envolvendo o documento, poderem, de algum modo, verificar o estado ou valor da
mercadoria em causa.
Deste modo, a cláusula “said to contain” é uma das cláusulas mais frequentemente
usadas e aceites, precisamente quando o transportador não tem a possibilidade de
verificar, de forma razoável, o conteúdo da mercadoria que lhe é apresentada para
embarque.
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Por exemplo, quando recebe um contentor fechado e selado, o transportador não tem a
possibilidade de o abrir e de verificar o seu conteúdo, situação esta em que se justifica a
utilização da cláusula “said to contain”.
h) Data.
Para além das menções obrigatórias, são inseridas nos Conhecimentos diversas cláusulas
que regulam o transporte em causa e que se referem, essencialmente, à legislação
aplicável ao contrato de transporte, à jurisdição competente em caso de litígio, à
mercadoria transportada (marcas, carga, estiva e descarga), à viagem (portos de
descarga, escalas do navio), à substituição do navio, ao frete e à responsabilidade do
transportador.
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a) Nominativos
b) À ordem
c) Ao portador
Este tipo de conhecimento oferece uma menor segurança em virtude de ser transmissível
através de simples entrega.
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Este documento prova a recepção das mercadorias e não o seu embarque. Após o
embarque das mercadorias o transportador deverá exarar neste documento a expressão
“carregado a bordo”, o nome do navio e a data.
As eventuais reservas que sejam emitidas pelos sucessivos transportadores não poderão
ser invocadas contra o destinatário, mas tão-somente entre os vários transportadores
envolvidos.
O artigo 1º define algumas expressões que, com bastante frequência, vão ser utilizadas
no articulado da Convenção a saber:
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Estamos perante noções fundamentais cujo sentido é necessário apreender com a possível
exactidão, pois só assim será possível compreender a disciplina da Convenção. Vamos,
pois, dar uma pequena explicação relativa a cada um destes conceitos:
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Por outro lado, ainda que emitido ao abrigo dum contrato de fretamento, o conhecimento
continua a ser um documento negociável.
Mas, ainda que tal cláusula não faça parte do conhecimento, as relações entre armador e
afretador continuarão a ser reguladas pela carta-partida, limitando-se o conhecimento ao
papel de documento probatório do embarque da mercadoria, documento negociável e
apenas subsidiariamente se aplicarão as suas cláusulas, isto é, só para aqueles problemas
em que a carta-partida seja omissa.
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c) Mercadorias - Abrange tudo aquilo que, como carga, embarca no navio, excepto
animais vivos e aquela carga que, declarada como carregada no convés, aí é efectivamente
transportada.
A estas perguntas têm sido dadas as respostas mais díspares, quer pela doutrina, quer
pela jurisprudência.
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Estatui, a seguir, o artigo 2º que “salvo o disposto no artigo 6º, o armador, em todos os contratos
de transporte de mercadorias por mar, ficará, quanto ao carregamento, manutenção, estiva,
transporte, guarda, cuidados e descarga dessas mercadorias, sujeito às responsabilidades e
obrigações, e gozará dos direitos e isenções indicadas nos artigos seguintes”, isto é, ficará sujeito
ao regime jurídico constante da Convenção.
Obrigações do transportador
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Impõe-se que o “armador será obrigado a exercer, uma razoável diligência”. Que entender por
“razoável diligência”?
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Razoável diligência é aquela que pode ser exigida a um bom pai de família. O conceito é
ainda bastante amplo, mas será melhor precisado quando estudarmos a propósito do
artigo 4º as exonerações do armador.
Aliás, recorda-se, que a existência e o abuso das cláusulas de exoneração as mais variadas,
é que estiveram na base da Conferência de onde vieram a nascer as regras da Convenção.
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Determina ainda o nº 4º que “um tal conhecimento constituirá presunção salvo a prova em
contrário, da recepção pelo armador das mercadorias tais como foram descritas conforme o § 3º
alíneas a), b) e c)”.
Exonerações Legais
Mas, a própria Convenção prevê expressamente uma série de exonerações que, por tal
facto, podemos considerar como legais:
I) Como já vimos, a carga de convés e os animais vivos estão, por disposição expressa,
excluídos do âmbito da Convenção, imperando quanto a eles o princípio da liberdade
contratual.
II) Exonerações previstas no nº 2 do artigo 4º que determina que “nem o armador nem o
navio serão responsáveis por perda ou dano resultante ou proveniente:
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j) De greves ou lock-outs, ou de suspensão ou dificuldades postas ao trabalho, seja qual for a causa,
parcialmente ou totalmente;
k) De motins ou perturbações populares;
l) De uma salvação ou tentativa de salvação de vidas ou bens no mar;
m) De desfalque de volume ou peso, ou de qualquer outra perda ou dano resultante de vício oculto,
natureza ou vício próprio da mercadoria;
n) De uma insuficiência de embalagem;
o) De uma insuficiência ou imperfeição de marcas;
p) De qualquer outra causa não proveniente de facto ou culpa do armador ou de facto ou culpa de
agentes ou empregados do armador, mas o encargo da prova incumbirá à pessoa que invoca o
benefício dessa isenção e cumprir-lhe-á mostrar que nem a culpa pessoal, nem o facto do armador,
nem a culpa ou o facto dos agentes ou empregados do armador contribuíram para a perda ou dano".
Saliente-se que, de cada vez que o armador invocar uma destas causas de exoneração,
será a ele que competirá provar que elas de facto se verificaram, não bastando a sua mera
invocação. Se não puder produzir tal prova, responderá pelos danos causados às
mercadorias como se nada tivesse acontecido. Em linguagem jurídica diz-se que o ónus
da prova recai sobre o armador.
Em todos os casos, o armador, para se libertar de responsabilidade, terá que provar que
actuou diligente e cuidadosamente para que nada sucedesse à carga, que utilizou a
razoável diligência que, como referimos, lhe é imposta ou que só por uma das causas de
exoneração transcritas é que as avarias e/ou faltas se verificaram.
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Efectivamente, determina o nº 6 do artigo 3º que "salvo o caso de ser dado armador ou ao seu
agente no porto de desembarque um aviso, por escrito da existência e da natureza de quaisquer
perdas e danos, antes ou no momento da retirada das mercadorias e da sua entrega à pessoa que
tem o direito de recebê-las em virtude do contrato de transporte, essa retirada constituirá, até prova
em contrário, uma presunção de que as mercadorias foram entregues pelo armador tais como foram
descritas no conhecimento".
Conclui-se daqui que os interessados nas cargas deverão apresentar as suas reclamações
ao transportador, se se tratar de avarias ou faltas visíveis, no momento em que termina a
sua responsabilidade. Tais reclamações devem:
a) Ser feitas por escrito;
b) Indicar quais as faltas e avarias verificadas;
c) Especificar a natureza das faltas e avarias referidas.
Continua o mesmo nº 6 "se as perdas e danos não são aparentes, o aviso deve ser dado no prazo
de três dias a contar da entrega", isto é, para o caso de faltas e/ou avarias não visíveis,
dispõem os interessados nas cargas de três dias para apresentação das suas reclamações.
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Vimos já que no caso de não ser dado ao transportador o aviso escrito da existência de
perdas ou danos nas mercadorias, dentro dos prazos assinalados, se presume que as
mercadorias foram entregues pelo navio nas mesmas condições em que haviam sido
recebidas a bordo.
Trata-se no entanto, de uma simples presunção que pode sempre ser destruída por prova
em contrário.
Mas os interessados nas cargas se quiserem, através de acção judicial, fazer prova que
destrua tal presunção têm que respeitar um prazo para além do qual se extingue o seu
direito. Tal prazo é de um ano. Com efeito, dispõe ainda o nº 6 do artigo 3º da Convenção
"em todos os casos o armador e o navio ficarão libertados de toda a responsabilidade por perdas e
danos, não sendo instaurada a respectiva acção no prazo de um ano a contar da entrega das
mercadorias ou da data em que estas deveriam ser entregues".
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"Tanto o armador como o navio não serão obrigados, em caso algum, por perdas e danos causados
às mercadorias ou que lhe digam respeito, por uma soma superior a 100 libras esterlinas por volume
ou unidade, ou o equivalente desta soma numa diversa moeda, salvo quando a natureza e o valor
destas mercadorias tiver sido inserida no conhecimento”.
Convém chamar a atenção para a 2ª parte do preceito transcrito nos termos do qual a
limitação de responsabilidades por volume ou unidade pode desaparecer se o valor das
mercadorias for expressamente declarado no respectivo conhecimento de carga.
Contudo, nestes casos, o transportador tem a faculdade de cobrar o frete, não pelo taxa
fixada na tabela normal para o tráfego em questão, mas de acordo com uma taxa “ad
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valorem'' isto é, calculado de acordo com o próprio valor da mercadoria, valor pelo qual
passa, efectivamente, a ser responsável, em caso de perda ou dano que lhe sejam
imputáveis.
Obrigações do carregador
As obrigações prescritas pela Convenção e que recaem sobre o carregador não são mais
do que aplicações práticas do princípio da boa-fé que deve presidir a qualquer declaração
negocial.
Assim é que determina o nº 5 do artigo 3º que “o carregador será considerado como tendo
garantido ao armador, no momento do carregamento, a exactidão das marcas, do número, da
quantidade e do peso, tais como por ele foram indicadas, e indemnizará o armador de todas as
perdas, danos e despesas provenientes ou resultantes de inexactidão sobre estes pontos”.
Acrescenta o nº 5 do artigo 4º na sua parte final que “nem o armador nem o navio serão
responsáveis, em caso nenhum, pelas perdas e danos causados às mercadorias ou que lhes sejam
concernentes, se no conhecimento o carregador houver feito, conscientemente, uma falsa declaração
da sua natureza ou do seu valor".
Impõe ainda o nº 6 do mesmo artigo 4º que "as mercadorias de natureza inflamável, explosiva
ou perigosa, cujo embarque o armador, o capitão ou o agente do armador não consentiriam se
conhecessem a sua natureza ou o seu carácter, poderão ser, a todo o momento, antes da descarga,
desembarcadas em qualquer lugar, destruídas ou tornadas inofensivas pelo armador, sem
indemnização e o carregador dessas mercadorias será responsável por todo o dano e pelas despesas
provenientes ou resultantes, directa ou indirectamente, do embarque delas. Se alguma dessas
mercadorias embarcadas com o conhecimento e o consentimento do armador, se converter em perigo
para o navio ou para a carga, poderá ser da mesma maneira desembarcada ou destruída ou tornada
inofensiva pelo armador, sem responsabilidade para este, salvo a que resultar de avarias comuns
havendo-as".
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Como se vê dos preceitos transcritos resulta claramente que o carregador terá sempre que
responder pelas suas falsas declarações. Mesmo que não tenha feito falsas declarações
tem que assumir os riscos próprios das cargas perigosas.
Vamos agora debruçar a nossa atenção sobre algumas das principais cláusulas que os
conhecimentos de carga, dum modo geral, incluem.
As principais são:
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III - Estiva: Alguns conhecimentos incluem também, uma cláusula relativa aos diversos
lugares onde a carga pode ser estivada. Trata-se, no entanto, de uma cláusula de reduzido
interesse, na medida em que, vá estivada onde for, o transportador terá sempre que
responder por ela de acordo com a Convenção.
I - Cláusula de opção - É bastante vulgar um navio receber carga para ser descarregada
num de dois portos, à opção. Neste caso, o proprietário da mercadoria terá que avisar o
transportador, com certa antecedência, acerca do porto onde pretende que a mercadoria
seja descarregada. Os conhecimentos podem incluir uma cláusula em que esse problema
seja regulado e que pode apresentar-se com esta redacção: "o porto de descarga para carga à
opção deverá ser declarado aos agentes do navio, no primeiro porto de opção, o mais tardar 48 horas
antes da chegada do navio a esse porto. Na falta de tal declaração, o armador poderá decidir efectuar
a descarga no primeiro ou em qualquer outro dos portos à opção e o
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contrato de transporte será então considerado como tendo sido cumprido. Qualquer opção não
poderá ser exercida senão para a quantidade total a coberto do presente conhecimento de embarque".
d) Regular agulhas;
f) Ser reparado;
g) Ser abastecido;
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do transporte realizado por ele próprio em navios sob a sua direcção e nenhuma reclamação será
reconhecida pelo transportador por dano ou perda que aconteçam durante qualquer outra parte do
transporte mesmo que ele tenha recebido o frete pela totalidade do transporte”.
Sucede, com frequência, serem recebidos num porto cargas sujeitas a baldeação num
porto intermédio e ser emitido para os mesmos um conhecimento directo. Neste caso, o
transportador que emite o conhecimento directo é responsável perante o carregador pela
totalidade do transporte uma vez que se comprometeu a conduzir a carga ao seu destino
final. O que pode é ele próprio exercer o seu direito sobre os outros transportadores, se
porventura se verificaram perdas ou danos imputáveis a estes. O transportador que
emitiu o conhecimento directo responde perante o carregador; os restantes
transportadores respondem perante aquele que emitiu o conhecimento directo.
I - Frete: Costuma inserir-se no conhecimento uma cláusula que pode ter esta redacção:
“0 frete pagável antecipadamente, quer esteja efectivamente liquidado ou não, será considerado
como inteiramente devido a partir do embarque e não restituível em caso algum".
II - Direito de retenção: Esta cláusula pode apresentar-se assim "o transportador terá o
direito de retenção em garantia de quaisquer importâncias devidas ao abrigo deste contrato e custos
da sua cobrança, e terá o direito de vender as mercadorias particularmente ou em leilão para ser
reembolsado das importâncias de que é credor”.
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III - Cláusula de avaria grossa - Pode apresentar-se sob esta forma: "a avaria grossa será
regulada em qualquer porto ou em qualquer lugar à escolha do transportador e será liquidada de
acordo com as Regras de York/Antuérpia de 1994”.
6 - CARTAS DE GARANTIA
Ora, todas as anotações feitas ao embarque deverão, em princípio, ser transcritas nos
conhecimentos de carga, pois é este o documento que descreve as mercadorias e deve
descrevê-las tal qual se encontravam, na altura em que foram carregadas.
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b) Banco que concede créditos com base numa mercadoria que o conhecimento indica
estar em perfeito estado e que não está;
c) Segurador que aceita segurar uma mercadoria na convicção de que se encontra tal
como descrita no conhecimento e afinal essa mercadoria apresenta já faltas e avarias que
lhe são ocultadas.
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Assim, podemos afirmar que, dum modo geral, o uso das cartas de garantia para
cobertura de reservas ou observações que deveriam ser inseridos nos conhecimentos se
deve ter por ilegítimo e contrário aos mais elementares ditames da boa-fé contratual.
Outras questões podem servir de fundamento às Cartas de garantia, como a pré- datação
de conhecimentos de carga.
A Convenção das Nações Unidas, sobre o Transporte de Mercadorias por Mar, aprovada
em Hamburgo em 31 de Março de 1978, entrou em vigor conforme já se referiu em 1 de
Novembro de 1992.
Quais são as diferenças entre a Convenção de Bruxelas e a de Hamburgo?
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As regras de Hamburgo assentam num princípio geral de presunção de culpa por parte
do transportador pelos prejuízos decorrentes da perda, avaria ou atraso na entrega das
mercadorias transportadas, devendo o transportador, para afastar tal presunção, provar
a ausência de falta ou negligência da sua parte, e dos seus representantes ou empregados
e que foram tomadas todas as medidas que lhe podiam, razoavelmente, ser exigidas, com
vista a evitar a perda ou avaria em causa, bem como as suas consequências.
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1. ORIGEM HISTÓRICA
Este sistema dava azo à existência de situações insuperáveis ou fraudes, quando uma das
partes dizia ter perdido ou perdia, efectivamente, a sua parte do documento. Passou-se
então a escrever o contrato em dois exemplares.
2. DEFINIÇÃO
O contrato de fretamento de navio define-se como aquele em que uma das partes
(fretador) se obriga em relação à outra, (afretador) a pôr à sua disposição um navio, ou
parte dele, para fins de navegação marítima, mediante uma retribuição pecuniária
denominada frete.
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4. MODALIDADES DE FRETAMENTO
“Contrato de fretamento por viagem é aquele em que o fretador se obriga a pôr à disposição do
afretador um navio, ou parte dele, para que este o utilize numa ou mais viagens, previamente
fixadas, de transporte de mercadorias determinadas.”
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Vale a pena tecer algumas considerações sobre a importância de algumas das principais
menções referidas:
Não significa isto que o fretador esteja impedido, se para tanto obtiver o acordo do
afretador, de substituir o navio indicado por um navio gémeo ou mesmo semelhante.
Mas se tal possibilidade não estiver prevista no contrato, o afretador poderá
legitimamente opor-se à substituição.
De notar que nem sempre o afretador coincide com o carregador. Não coincidirão em
caso de sub-afretamento de que falaremos adiante, e, não coincidirão também num caso
de fretamento a tempo em que o afretador utilize o navio afretado numa das suas linhas
regulares para o transporte de carga geral ou outra carga, que não seja propriedade sua
mas de terceiro.
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Do armador ou fretador
Assim, em princípio, o fretador não poderá substituir o navio, a não ser que a
possibilidade de substituição tenha sido expressamente prevista no contrato ou após
obtido o acordo expresso do afretador.
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d) O navio deverá seguir para o porto de destino pela via mais directa - como veremos
adiante é normal a inserção nos contratos de fretamento de uma cláusula de desvio,
“deviation clause", para permitir ao armador desviar-se da rota que, normalmente,
deveria seguir.
Importa salientar que a via mais directa pode muitas vezes, não ser a mais segura. Se tal
acontecer, o capitão do navio deverá optar pela via menos rápida mas mais segura e
nunca ao contrário.
e) O fretador deve prestar à carga os devidos cuidados durante a viagem e deve entregá-
la no porto de destino. Os cuidados a prestar às mercadorias transportadas, durante a
viagem, devem ser tais que as mesmas possam ser entregues no porto de descarga nas
mesmas condições em que forem recebidas no porto de embarque, isto é, sem avarias ou
faltas. Em princípio, o armador só não será responsável por avarias e/ou faltas devidas a
vício próprio das mercadorias, força maior ou actos de terceiros.
Do Afretador
Se o afretador efectuar estas operações em menor tempo do que o previsto, tem direito a
uma remuneração por sub-estadia, que é a contrapartida paga pelo armador pelo tempo
economizado.
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Se, pelo contrário, o afretador demorar mais tempo que o previsto em tais operações, o
navio entra em sobrestadia, que será remunerada pelo afretador como contrapartida pelo
tempo perdido.
Vamos passar em análise muito rápida algumas das cláusulas mais correntes nos
contratos de fretamento por viagem e através das quais poderemos ficar com uma ideia
aproximada de como são articuladas as cartas-partidas. As cláusulas que não vamos
referir, são aliás, consequência das situações particulares de cada contrato.
Faremos uso da designação inglesa empregada para cada cláusula, por se tratar de
designações consagradas, embora procuremos também dar a sua tradução portuguesa:
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b) “Deviation clause” (cláusula de mudança de rota) - Como vimos, uma das obrigações
do armador é fazer seguir o navio para o porto de destino pela rota mais directa. Ora,
para prevenir casos em que haja necessidade, por determinados motivos, de alterar a rota
que devia ser seguida, o armador costuma inserir na carta-partida esta cláusula, a qual
pode apresentar-se com a seguinte redacção: “o navio goza da liberdade de escalar qualquer
porto ou portos por qualquer ordem e para qualquer finalidade, de navegar sem piloto, de rebocar
ou assistir navios em todas as situações, e de se desviar da rota com o fim de salvar vidas e/ou
haveres".
Ora, se o navio não se apresentar à carga até àquela data, assiste ao afretador o direito de
rescindir o contrato.
Esta cláusula pode apresentar a seguinte redacção: "Se o navio não estiver pronto para
carregar em/ou antes de... os afretadores têm o direito de rescindir o presente contrato, desde que o
declarem com pelo menos 48 horas de antecedência da chegada provável do navio ao porto de carga.
Se o navio estiver atrasado por virtude de avaria ou outra razão, os afretadores deverão ser
informados tão rapidamente quanto possível, e se o atraso for superior a dez dias sobre a data
convencionada, para o início do carregamento, os afretadores têm o direito de rescindir o contrato,
a não ser que nova "Cancelling date" tenha entretanto sido acordada."
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Pode, no entanto, não o conseguir ou, pelo menos, não conseguir um frete tão alto como
o que teria recebido se o contrato previamente celebrado tivesse sido cumprido.
Neste caso, terá direito a ser indemnizado pelo afretador pela totalidade do frete ou pela
diferença entre o que recebeu e o que deveria ter recebido se o contrato se tivesse
cumprido.
Pode apresentar-se com a seguinte redacção: "A indemnização pelo não cumprimento do
contrato, depois de provados os prejuízos, não excederá a importância do frete".
Repare-se que a cláusula protege ambas as partes:
II) O afretador, assegurando-lhe que a indemnização nunca poderá ser superior àquela
importância.
De acordo com esta cláusula o armador pretende ficar garantido pelo pagamento integral
do frete e demais despesas na medida em que pode exercer o direito de privilégio sobre
a carga transportada e, no caso de não ficar totalmente reembolsado, o afretador
continuará, perante ele, a responder pela importância em falta.
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Pode apresentar a seguinte redacção: "A responsabilidade dos afretadores cessará com o
embarque da carga".
g) “General average clause” (Cláusula de avaria grossa) - através desta cláusula assegura
o armador o direito de recuperar da carga a contribuição em avaria grossa em comum,
mesmo que o acontecimento que estiver na sua origem seja uma consequência de faltas
cometidas pelo seu pessoal e, ao mesmo tempo, fixa qual a legislação ou as regras a
aplicar na regulação da mesma avaria.
Pode apresentar-se com a seguinte redacção: "a avaria grossa será liquidada de acordo com as
Regras de York/Anvers, 1994, e os proprietários da carga terão que pagar as respectivas
contribuições nas despesas da avaria grossa, ainda que a mesma tenha sido consequência da
negligência ou falta do pessoal ao serviço do armador".
Efectivamente, o recurso aos órgãos judiciais, em qualquer país, fica normalmente muito
caro, além de ser moroso. Assim, as partes contratantes preferem aceitar uma decisão de
árbitros, cujo modo de nomeação consta da mesma cláusula e que é um processo de
composição de litígios que pode ser mais económico e mais célere.
Esta cláusula pode apresentar a seguinte redacção: “Qualquer litígio emergente do presente
contrato será submetido a arbitragem em , sendo um dos árbitros nomeado pelo armador
e o outro pelo afretador e, no caso de os árbitros não chegarem a acordo à decisão de um louvado
nomeado por estes, sendo a decisão dos árbitros e do louvado irrecorrível e obrigatória para ambas
as partes.
Se algum dos árbitros nomeados recusar, for incapaz ou morrer, a parte que o nomeou pode nomear
outro para o substituir.
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Se uma das partes não proceder à nomeação do árbitro, no prazo de sete dias, após a outra parte,
tendo nomeado o seu árbitro, a ter notificado para proceder à nomeação, a parte que nomeou o
árbitro pode instrui-lo para que actue sozinho e a sua decisão será obrigatória para ambas as
partes".
Pode ter a seguinte redacção: “...% de comissão sobre o frete e é devida a .... Em caso de não
execução do contrato o armador terá de pagar ao broker pelo menos 1/3 da comissão calculada sobre
o frete, e frete morto, como compensação pelas suas despesas e trabalho. No caso de serem feitas
mais viagens o montante da indemnização será fixado por mútuo acordo".
Trata-se de uma cláusula Importante para a defesa dos direitos do armador. Com efeito,
mesmo que afretador nomeie um agente para defesa dos seus interesses, o armador tem
a faculdade de nomear o seu próprio agente que, no caso de ser diferente do agente do
afretador, é designado em inglês por “protecting agent”, ou agente protector.
Mas estão longe de ser as únicas. Salientámos já que cada contrato tem cláusulas próprias
para satisfação das necessidades concretas e que, em cada caso, seja necessário dar
satisfação. É, por isso, impossível fazer uma enumeração exaustiva de todas elas, tanto
mais que, como já foi salientado, as partes gozam sempre da maior liberdade contratual.
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c) Cláusulas de greves - como se sabe, na maior parte dos portos do globo, ao contrário
do que se passa no nosso país, as legislações do trabalho permitem o recurso à greve,
como forma de os trabalhadores forçarem as entidades patronais à satisfação das suas
justas reivindicações.
Ora, pode acontecer que um navio não possa dar cumprimento a determinado contrato
no tempo previsto ou no lugar previsto, em virtude de ter ficado paralisado o trabalho
num porto de carga ou de descarga. Pode até acontecer que o armador se veja forçado a
desviar o navio para porto diferente daquele em que o navio, por força do contrato, devia
descarregar, em virtude de uma greve dos trabalhadores portuários.
É a todas estas situações de anormalidade, que estas cláusulas procuram obviar, numa
tentativa de reduzirem ao mínimo os prejuízos e transtornos de toda a ordem que as
partes têm que suportar.
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Parece-nos ter dito o que de essencial e mais importante há a referir sobre o contrato de
fretamento, pelo menos para que se possa fazer uma ideia da variedade e complexidade
dos problemas que a sua celebração e execução envolvem.
Com efeito, um dos objectivos principais que conduziu à elaboração das Regras de Haia
e posteriormente à já referida Convenção de Bruxelas, foi, exactamente a protecção do
terceiro, portador do Conhecimento, estranho ao contrato celebrado entre o afretador e
o fretador ou entre o transportador e o carregador.
Tal como refere P. WILDIERS, "Il est d'élémentaire logique que les Règles ne s'appliquent
qu'aux relations entre transporteur et tiers-porteur. Le chargeur, porteur ou non du
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
connaissement, n'en reste pas moins chargeur et les régles n'ont pas à le protéger vu qu'il peut
débattre librement ses contrats avec le transporteur".ob cit., pág. 62.
7. SUB-FRETAMENTO
É vulgar nas C/P, tanto a tempo como a viagem, a existência de uma cláusula nos termos
da qual "o Capitão” assinará os Conhecimentos "as presented" ou "as presented at any
rate of freight", isto é, “ tal como lhe forem apresentados” ou “tal como lhe forem
apresentados seja qual for a taxa de frete”.
Assume a maior importância para o Capitão saber até que ponto o afretador pode forçá-
lo a assinar os Conhecimentos pondo de lado algumas regras fundamentais.
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Quantidade
Descrição e Condição
Nenhuma disposição da C/P pode exigir que o Capitão assine um Conhecimento no qual
se faz uma incorrecta descrição das mercadorias ou do seu estado e condição, na altura
do embarque;
Data
Descrição da viagem
Nesta área, o Capitão deverá usar o seu próprio critério, à luz dos factos que são do seu
conhecimento.
Num fretamento à viagem, o Afretador não poderá pedir ao Capitão que assine um
Conhecimento para um porto de destino diferente daquele ou daqueles que estão
indicados na C/
Num fretamento a tempo, a C/P normalmente concede ao Afretador uma margem de
liberdade bastante ampla neste campo.
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Termos e Condições
Nesta matéria, normalmente o Afretador tem autoridade para pedir ao Capitão que
assine os Conhecimentos tal como lhe são apresentados.
Tal não deve impedir o Capitão de tomar as precauções que, em seu critério, entender
necessárias.
Pagamento do frete
Contudo, o capitão deve ter bem presente que tal direito à indemnização não se tornará
efectivo se:
- O Afretador entrar em falência,
Ou
- O Capitão tiver assinado um Conhecimento de Carga viciado relativamente à
quantidade, descrição, condição ou estado da mercadoria e data.
O Capitão nunca deverá esquecer esta regra:
Embora da C/P se possa deduzir o contrário deve sempre partir do princípio de que o
TRANSPORTADOR é o seu Armador e não o Afretador e que,
Por isso,
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
C. CONTRACTS OF AFFREIGHTMENT
Trata-se de contratos que fixam, apenas em termos gerais, os direitos e obrigações das
partes, deixando o detalhe de cada viagem para os contratos de fretamento respectivos.
Com efeito, a assinatura dos “contracts of affreightment” não dispensa que, por cada
viagem inerente ao seu cumprimento, seja necessária a celebração de uma carta-partida
própria, a qual naquele contrato fica apenas enunciada em termos gerais.
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Transporte Marítimo Internacional de Mercadorias
Esta referência, necessariamente muito breve, tinha que ser feita, uma vez que os
“contracts of affreightment” constituem hoje um importante meio de gestão racional dos
meios de transporte e do regular abastecimento das mercadorias da actividade industrial.
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CNC
BIBLIOGRAFIA
BIMCO
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CNC
ANEXOS:
3-CONLINEBILL
4-CONGENBILL
5-GENCON
6-BALTIME
7-BARECON
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