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Belo Horizonte
2021
Clara Cristina Cruz Pedrosa
Belo Horizonte
2021
FOLHA DE APROVAÇÃO
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, aos meus pais, Antônio Gregório Pedrosa e Márcia Cristina Cruz Pedrosa,
que estiveram ao meu lado durante essa jornada, sem vocês não conseguiria completar mais essa
etapa. Obrigada por terem me dado força e por me acolherem quando achava que não iria dar
conta de conciliar todos os meus afazeres, vocês são minha base, obrigada por todos os
conselhos, amo vocês, incondicionalmente.
Aos meus irmãos, Danielle Pedrosa e Rodrigo Pedrosa, por sempre me incentivarem a ser
inquieta e buscar a minha melhor versão.
Aos meus tios, em especial, minha madrinha Marilene Cruz e minha querida tia Marlene
Cruz, que sempre estiverem ao meu lado nas horas mais difíceis e felizes da minha vida.
A minha querida Avó, Margarida Rodrigues Cruz, a senhora sempre será minha
inspiração, os seus conselhos me dão vida e me ajudaram muito nessa jornada, me dando força
para continuar.
As minhas amigas, Ana Angélica de Castro, Gabriela Miranda Sandri, Izabella Bétula
Lobato, Laura Nogueira e Paula Moreira Fonseca, por entenderem esse momento da minha vida e
por me motivarem a continuar escrevendo.
Por fim, ao meu prezado orientador, Professor Leonardo Andrade Rezende Alvim, pela
dedicação e compreensão, me apresentando que sua discussão é de extrema importância.
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................3
JUSTIFICATIVA...........................................................................................................................5
PROBLEMA...................................................................................................................................6
HIPÓTESES...................................................................................................................................7
OBJETIVOS...................................................................................................................................8
Objetivo geral...............................................................................................................................8
Objetivos específicos....................................................................................................................8
METODOLOGIA...........................................................................................................................9
CAPÍTULO I – FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS
DA ISENÇÃO DE LIVROS........................................................................................................10
1.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (1988).......................10
1.2 LEI N. 10.865/2004..............................................................................................................10
1.3 PROJETO DE LEI N. 3.887/2020........................................................................................10
CAPÍTULO II – ISENÇÃO AOS LIVROS E DESONERAÇÃO DO PREÇO DAS
PUBLICAÇÕES...........................................................................................................................11
1.3 A ISENÇÃO OUTORGADA AOS LIVROS PELA LEI N. 10.865/2004 ENSEJOU
EFETIVA DESONERAÇÃO DO PREÇO DAS PUBLICAÇÕES...........................................11
2.2 A ISENÇÃO OUTORGADA AOS LIVROS PELA LEI N. 10.865/2004 ACARRETA EM
MAIOR BENEFÍCIO PARA POPULAÇÕES COM RENDA FAMILIAR MAIS ELEVADA
....................................................................................................................................................11
2.2 A ISENÇÃO OUTORGADA AOS LIVROS PELA LEI 10.865/2004 MELHOROU O
HÁBITO DE LEITURA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA.....................................................11
CAPÍTULO III – CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE OPERAÇÕES COM BENS E
SERVIÇOS SOBRE O PREÇO DOS LIVROS - PL 3.887/2020 E LEI N. 10.865/2004.......12
3.1 A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE OPERAÇÕES COM BENS E SERVIÇOS
PODERÁ OBSTAR O ACESSO À LEITURA NO BRASIL...................................................12
3.2 POSSIBILIDADE DO GOVERNO IMPLEMENTAR POLÍTICAS PÚBLICAS PARA
FOMENTAR O ACESSO À LEITURA COM A RECEITA ARRECADA PELA CBS..........12
3.3 IMPACTOS DO PL 3.887/2020 SOBRE A LEI N. 10.865/2004........................................12
3.4 IMPACTOS DA IMPUTAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE OPERAÇÕES
COM BENS E SERVIÇOS AOS LIVROS................................................................................12
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................13
REFERÊNCIAS...........................................................................................................................14
10
INTRODUÇÃO
Ante ao exposto, visando maior compreensão do tema sob análise, cumpre elucidar, que o
art. 150, inciso VI, alínea d, da Carta Magna, preconizou que os” livros, jornais, periódicos e o
papel destinado à sua impressão, são imunes à cobrança de impostos”. Contudo, resta claro, que o
referido mandamento legal, não obsta a imputação de outros tributos aos livros.
Dessa forma, o que se encontra na imunidade aos livros, jornais, periódicos e ao papel
destinado à sua impressão é um estímulo à atividade cultural, exercida por meio dos
livros, periódicos e jornais. Tal incentivo, vale dizer, poderia dar-se em qualquer
11
Nesta toada, faz-se necessário trazer à baila, a isenção estabelecida no art. 28, inciso VI,
da Lei n. 10.865/04, regulamentado pela Lei 11.033/04, o referido dispositivo legal outorgou
alíquota zero para as contribuições de PIS/PASEP e à COFINS aos livros, conforme
regulamentado no art. 2º. da Lei nº 10.753/03.
Convém enfatizar, que a isenção outorgada aos livros pelo diploma legal supracitado,
tencionava trazer concretitude ao postulado na Carta Magna, possibilitando assim um maior
acesso à leitura pela população, ante a redução dos preços.
Dessa forma, após necessária pormenorização, resta claro que o presente estudo
pretende discutir a iniciativa de extinguir a isenção concedida pela Lei n. 10.865/04, tendo
em vista que a CBS intenta instituir alíquota de 12% sobre a receita da venda de livros e do papel
usado para a fabricação desses produtos.
Outrossim, faz-se necessário evidenciar, que o tema sob análise vem sendo amplamente
controvertido pela sociedade brasileira, dado que a primeira corrente entende que a imputação da
CBS aos livros, irá obstar o acesso à leitura daqueles que possuem menor capacidade econômica,
devido o inevitável aumento do preço do produto final.
1
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 9. ed. São Paulo: Saraivajur, 2019, p. 1021.
12
Em contrapartida, outra vertente alega que a isenção concedida aos livros não incentiva a
leitura, entendendo ser mais efetivo utilizar o dinheiro arrecadado com a CBS para
implementação de políticas públicas que possibilitem o maior acesso aos livros.
JUSTIFICATIVA
O presente tema possui diferentes motivações para sua escolha. A par disso, cumpre
elucidar, que considero o Direito como um instrumento fundamental para catalisar a
transformação social, dado que oferece mecanismos aos cidadãos, viabilizado mudanças na
sociedade, tornando-a mais justa e digna.
Dessa forma, para a escolha do tema, se mostrou necessário que este abarcasse o aspecto
social da ciência jurídica. Assim, restou evidente, a importância de se analisar a revogação da
isenção dos livros proposta no Projeto de Lei n. 3.887/2020, uma vez que esta poderá
significar a redução ao acesso à educação e à cultura.
Tal alegação decorre do fato que a tributação dos livros por meio da Contribuição
Social sobre Operações com Bens e Serviços, irá aumentar o preço das publicações em até
20%, conforme cálculo do setor, o que dificultaria significativamente o acesso à leitura das
famílias de baixa renda, asseverando a desigualdade ao acesso à informação.
Ademais, faz-se necessário analisar que os livros não são apenas mercadorias e sim
instrumentos que promovem a educação e garantem a concretude ao princípio da liberdade de
manifestação do pensamento e da expressão da atividade intelectual, preconizando no art. 5º.,
13
Ademais, a alegação do Governo que a receita arrecada com a CBS poderá possibilitar a
instituição de políticas públicas, que visam promover o hábito de leitura, gera certo desconforto,
tendo em vista que o PL 3887/2020 em nenhum momento dispôs como essa vinculação iria ser
feita.
Neste norte, insta frisar, que transferir o benefício fiscal para o gasto, com mera
expectativa da possibilidade da receita arrecadada com a CBS ser revertida em política pública,
não garante a realização do gasto.
Assim, resta claro, que o tema sob análise é de grande relevância social, dado que a
imputação da CBS sobre os livros pode acentuar as desigualdades, obstando o acesso das famílias
de baixa renda a educação e cultura.
PROBLEMA
O presente estudo tem como norte de pesquisa a seguinte pergunta: Quais os impactos da
imputação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços aos livros, outrossim,
com a arrecadação da CBS poderia o governo instituir políticas públicas a fim de incentivar à
leitura, tendo em vista que a receita não é vinculada?
Dessa forma, o estudo irá analisar a verdadeira reverberação da extinção da isenção dos
livros outorgada no art. 28, da Lei n. 10.865/04, abstendo-se de debates puramente ideológicos,
atendo-se a fatos e pesquisas acerca do tema.
14
HIPÓTESES
Portanto, a Receita Federal aduziu que a isenção outorgada aos livros, no art. 28, da
Lei 10.865/04, não possuiu real efetividade, considerando que só traria benefícios àqueles que
poderiam pagar pelo produto, favorecendo as famílias com maior poder aquisitivo.
Não obstante, a alegação da Receita Federal sobre não haver relação de causalidade entre
a isenção e a desoneração do preço dos livros, será demonstrado que a imputação da CBS no
mercado livreiro tende aumentar o preço das publicações em até 20%, conforme cálculos do
setor.
Sendo assim, a instituição da CBS irá acentuar, ainda mais, a desigualdade ao acesso à
educação e cultura, devido ao aumento dos preços das publicações, dificultando o consumo pelas
famílias de baixa renda.
15
Por fim, com a imputação da CBS mostra-se falha a alegação da Receita Federal, de que a
arrecadação do tributo seria vinculada a instituição de políticas públicas que oportunizem o
acesso à leitura, tendo em vista que o Projeto de Lei não estabeleceu como será feita tal
vinculação, sendo latente o risco da não realização do gasto. Assim, aqueles que possuem menor
capacidade econômica, estariam à mercê da possibilidade de futuras políticas focalizadas,
resultando no agravamento da desigualdade de acesso à leitura.
OBJETIVOS
Objetivo geral
O presente estudo tem por objetivo geral analisar o impacto da revogação da isenção dos
livros proposta pelo Projeto de Lei n. 3.887/2020. É cediço, que o referido Projeto de Lei intenta
criar a CBS, assim, torna-se essencial o estudo sobre o tributo mencionado, tendo em vista que
sua imputação sobre os livros acarretará na incidência da alíquota de 12% sobre a receita da
venda e do papel usado para a fabricação desses produtos.
Por fim, o trabalho irá analisar a alegação que respalda a revogação da isenção, na qual é
arguido que a renúncia fiscal do PIS e da COFINS sobre os livros não ensejou uma melhora no
hábito de leitura da população. Portanto, seria mais efetivo e eficiente a imputação da CBS sobre
os livros, para o Governo poder implementar políticas públicas de incentivo à leitura com a
receita arrecadada com o tributo.
16
Objetivos específicos
Analisar se a isenção outorgada aos livros por meio da Lei 10.865/04, acarreta
maior benefício a faixa da população com renda familiar mais alta.
Analisar se a isenção outorgada aos livros por meio da Lei 10.865/04, ensejou
efetiva desoneração do preço das publicações.
Analisar se a isenção outorgada aos livros por meio da Lei n. 10.865/04, melhorou o
hábito de leitura da população brasileira.
Analisar o impacto da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços
sobre o preço dos livros.
Analisar se a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços irá obstar o
acesso à leitura.
Analisar se há a possibilidade governo implementar políticas públicas para fomentar
o acesso à leitura com a receita arrecada pela CBS.
METODOLOGIA
O presente trabalho irá se desenvolver tendo como ponto inaugural a análise da imputação
da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços aos livros, verificando a
repercussão social ante a extinção da isenção do PIS e COFINS outorgada aos livros.
Dessa forma, o trabalho será elaborado por meio de pesquisa quantitativa, tendo em vista
que intenta descobrir os efeitos da imputação do novo tributo aos livros, se este irá obstar o
acesso de certa parte da população, podendo restar configurado uma ofensa direta ao art. 215, da
CF/88. Outrossim, também será analisado a alegação da Receita Federal que o governo poderá
instituir políticas públicas a fim de assegurar o acesso aos livros, com a receita da CBS.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
17
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os
diferentes segmentos étnicos nacionais.
Ademais, será utilizado o método dialético, a fim de expor os argumentos daqueles que
defendem a instituição da CBS sobre os livros, contrapondo-se com os fundamentos da vertente
que condena sua instituição, possibilitando uma análise enxuta sobre o tema em análise.
Por fim, a técnica utilizada para o desenvolvimento será a de revisão bibliográfica, tendo
em vista que a presente pesquisa tem por base, livros, artigos, jornais e sites de internet.
https://www.migalhas.com.br/quentes/344201/iab-repudia-proposta-que-visa-fim-da-
imunidade-tributaria-de-livros
18
http://genjuridico.com.br/2020/09/17/tributacao-sobre-os-livros/
Segundo Paulo Caliendo apud CANOTILHO: "a isenção dos livros jornais e periódicos
inicia a sua história com a isenção de direitos de entrada no Brasil para os livros estrangeiros de
ciência, das artes e das letras, datada de 26 de janeiro de 1819”, por meio de uma instrução do rei
entregue ao Desembargador do Paço, João Severiano Maciel da Costa. 2 De acordo com a Lei n.
10. 753/2003:
Art. 2º.: Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de textos escritos em
fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado,
encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato e acabamento.
VII - livros em meio digital, magnético e ótico, para uso exclusivo de pessoas com
deficiência visual;
Artigo 3º.: É livro brasileiro o publicado por editora sediada no Brasil, em qualquer
idioma, bem como o impresso ou fixado em qualquer suporte no exterior por editor
sediado no Brasil.3
3
BRASIL. Lei n. 10.753, de 30 de outubro de 2003, institui a Política Nacional do Livro.
4
Artigo 31 - A União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado: [...] V - lançar impostos sobre:
[...] c) papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros.
5
Artigo 20 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - criar imposto sobre: [...]
d) o livro, os jornais e os periódicos, assim como o papel destinado à sua impressão.
6
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - instituir imposto sobre: [...]
d) o livro, o jornal e os periódicos, assim como o papel destinado à sua impressão.
20
(...)
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão.7
Não obstante, não se trata de imunidade, mas de isenção conferida pelo artigo 150, VI,
letra "d" da Carta Magna, que consiste na concretização, no plano tributário, dos direitos
fundamentais à livre manifestação do pensamento (artigo 5º, IV e 220, caput), à liberdade de
expressão intelectual, artística, científica e de comunicação (artigo 5º, IX), do direito social à
educação (art. 6º, caput, 205, caput) e do direito ao pleno exercício das manifestações culturais
(artigo 215, caput).
O ministro relator Dias Toffoli reconheceu no RE 330.817 que o artigo 150, VI, d, da
7
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado, 2015.
8
PONTES, Helenilson Cunha; PONTES, Juliana Fonseca. A inconstitucionalidade de tributação dos livros.
Consultor Jurídico. (2020).
9
Idem.
10
PONTES, Helenilson Cunha; PONTES, Juliana Fonseca. A inconstitucionalidade de tributação dos livros.
Consultor Jurídico. (2020).
21
Ao reconhecer a não tributação pelo PIS/COFINS da receita bruta auferida com a venda
de livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, o legislador infraconstitucional
ampliou o alcance da isenção tributária para estas contribuições, concretizando os valores
constitucionalmente protegidos pelos direitos fundamentais que embasam a norma de isenção.
O legislador não é livre para revogar esta ampliação de isenção, porque esta constitui um
instrumento direto e central na promoção da eficácia desses direitos fundamentais, de modo que,
se excluída do ordenamento, retrocede o avanço que franqueou ao gozo destes. Tal retrocesso é,
na consolidada jurisprudência pátria, proibido.
Idem.
11
12
PONTES, Helenilson Cunha; PONTES, Juliana Fonseca. A inconstitucionalidade de tributação dos livros.
Consultor Jurídico. (2020).
22
Nessa mesma direção, verifica-se que o dever de progressiva realização dos direitos
fundamentais ou princípio da irrevocabilidade14, representa ainda uma exigência juspositiva
contemplada pelo artigo 2º., do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
norma internacional ratificada pelo Brasil, através do Decreto n. 591, de 6 de julho de 1992. 15 A
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil, através do Decreto n. 678,
de 6 de novembro de 1992, também consagra em seu artigo 26 o princípio da progressividade na
realização dos direitos fundamentais.16
13
RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 7. ed. São Paulo:
Saraivajur, 2019, p. 291.
14
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 12. ed. São Paulo: Saraivajur,
2018, p. 80.
15
Art. 2.1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como
pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus
recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos
direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
16
Art. 26. Desenvolvimento Progressivo. Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providência, tanto no âmbito
interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de
conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre
educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo
de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.
17
RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 6. ed. São Paulo: Saraivajur, 2019, p. 104-105.
23
[...] a proibição do retrocesso atua, portanto, em termos gerais, como uma garantia
constitucional do cidadão e da coletividade contra a ação do legislador (mas também em
face da Administração Pública), no intuito de salvaguardar os seus direitos fundamentais
consagrados pela Constituição e cristalizados no ordenamento jurídico de um modo
geral, tanto no plano constitucional, quanto infraconstitucional. 18
O reconhecimento da alíquota zero para a receita bruta auferida com a venda de livros
representou uma conquista na afirmação entre os brasileiros do espaço de realização do conjunto
de direitos fundamentais protegidos pela isenção tributária consagrada pelo artigo 150, VI, letra
"d" da Constituição. Não representou mero favor do legislador, mas um efetivo cumprimento da
obrigação constitucional de progressiva realização dos direitos fundamentais protegidos pela
citada imunidade tributária.
18
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental. 5. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2017, p. 306.
19
CANOTILHO, José Joaquim. Direito Constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 2006, p. 177.
24
Segundo Pontes e Pontes, conforme descrito na seção anterior, foi sob esse cenário
constitucional que surgiu a Lei n. 10.865/2004 que, em seu artigo 28, VI, concedeu alíquota (0)
zero para as contribuições do PIS/COFINS, incidentes sobre a receita bruta decorrente da venda
de livros, jornais, periódicos e sobre o papel destinado à sua impressão, no mercado interno,
ampliando a estas contribuições a isenção objetiva garantida constitucionalmente.21
20
BRASIL. Lei n. 10.865/2004, dispõe sobre a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação
do Patrimônio do Servidor Público e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, incidentes sobre a
importação de bens e serviços e dá outras providências.
21
PONTES, Helenilson Cunha; PONTES, Juliana Fonseca. A inconstitucionalidade de tributação dos livros.
Consultor Jurídico. (2020).
22
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental. 5. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2017, p. 307.
25
1.3.1 Atual modelo da tributação sobre os livros, jornais e periódicos no mercado interno
Segundo Pimenta, os livros estão submetidos à isenção prevista pelo artigo 150, VI, “d”,
da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), a qual atinge apenas uma espécie
tributária: os impostos. No plano infraconstitucional, a Lei n. 10.865/2004, mencionada pela Lei
n. 10.753/200325, assegura em seu artigo 28, I e II, a alíquota zero para a contribuição para o PIS
e a COFINS, incidentes sobre a receita bruta decorrente de venda de livros, jornais, periódicos e
papel par impressão no mercado interno.26
De acordo com Pimenta, no modelo proposto pelo referido Projeto de Lei, desaparecerá a
23
PONTES, Helenilson Cunha; PONTES, Juliana Fonseca. A inconstitucionalidade de tributação dos livros.
Consultor Jurídico. (2020).
24
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
25
BRASIL. Lei n. 10.753, de 30 de outubro de 2003, institui a Política Nacional do Livro.
26
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
26
alíquota referenciada, que será expressamente revogada por meio do artigo 130, XXII, “a”. Por
conseguinte, a nova Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substituirá a contribuição
para o PIS e a COFINS, incidirá sobre a receita bruta auferida com a comercialização de livros e
de periódicos, com a alíquota de 12% (doze por cento). No entanto, resta saber se essa alteração é
compatível com o texto da Constituição da República Federativa do Brasil (1988),
especificamente com a tutela por esta estabelecida aos direitos fundamentais.27
Por outro lado, ainda segundo Pimenta, entende-se que essa vedação não se aplica às
demais espécies tributárias (taxas, contribuição de melhoria, empréstimos compulsórios e
27
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
28
BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p.
339.
29
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
27
contribuições especiais). Como a contribuição que se deseja criar pertence à classe das
contribuições especiais, a vedação em epígrafe não se aplicará ao novo tributo. No entanto, a
presença dessa isenção demonstra a existência de uma preocupação constitucional com a cultura
e com a educação no Brasil.30
30
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
31
Idem.
28
De acordo com Abrahm, a isenção outorgada pela Lei n. 10.865/2004 traz uma
desoneração fiscal mais do que justa e devida: a não tributação dos livros, ou seja, a não
incidência de impostos e contribuições sociais – ou tributo equivalente que venha ser futuramente
criado – sobre a venda de livros pelas editoras e livrarias em geral no Brasil.32
Trata-se de uma situação excepcional de isenção tributária específica para os livros, uma
vez que os benefícios fiscais que se tem no sistema tributário brasileiro são de difícil mensuração
quanto aos resultados concretos em termos de retorno socioeconômico. Além disso, prega-se a
plena aplicação do artigo 11, da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000),
dispondo que constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição,
previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da
Federação.33 Porém, não se está diante da desoneração fiscal sobre mero objeto ou mercadoria.
Há bens jurídicos de elevado valor a serem protegidos que justificam tal política fiscal: a
liberdade de expressão e o direito à educação, à cultura e à informação.34
Todavia, a desoneração quanto a impostos não foi bastante para baratear suficientemente
os livros.36 Por isso, implementou-se, no final de 2004, a redução para 0 (zero) da alíquota das
contribuições sociais PIS/PASEP e da COFINS, incidentes sobre a receita bruta decorrente da
venda dos livros no mercado interno, através da Lei n. 10.865/2004, artigo 28, inciso VI.
Portanto, na realidade fiscal atual, os livros gozam de isenção quanto à incidência de impostos e
contribuições PIS/COFINS.37
CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços). Este imposto é descrito no Projeto de Lei n.
3.887/2020 e está aguardando despacho do presidente da Câmara dos Deputados. Trata-
se de um novo imposto que substituirá o PIS e a COFINS, unificando suas alíquotas e
tornando-se uma alíquota única. Os recursos arrecadados, segundo o que é divulgado
pelo Governo Federal, tem por objetivo financiar a seguridade social (saúde, previdência
e assistência social) e uma parcela irá para o BNDES aplicar em financiamentos.
Quando se fala em PIS e COFINS, estamos falando de dois impostos bastante
complexos e burocráticos para se controlar. Assim, o objetivo do Governo Federal é
facilitar a declaração dos tributos. Diz-se que a principal vantagem desta proposta é o
fim da cumulatividade do PIS e da COFINS. Além disso, a proposta também acaba com
a inclusão do ICMS e do ISS na base de cálculo da CBS, visto que o STF já determinou
a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS.40
Ao ter acesso a um estudo desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros
35
ABRAHM, Marcus. O porquê da não tributação dos livros. GenJurídico. (2021). Disponível em <
http://genjuridico.com.br/2021/05/19/o-porque-da-nao-tributacao-dos-livros/>. Acesso em 12 jun 2021.
36
Idem.
37
BRASIL. Lei n. 10.865/2004, dispõe sobre a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação
do Patrimônio do Servidor Público e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social incidentes sobre a
importação de bens e serviços e dá outras providências.
38
BRASIL. Projeto de Lei nº 3.887/2020, pretende instituir a CBS no Brasil.
39
ABRAHM, Marcus. O porquê da não tributação dos livros. GenJurídico. (2021). Disponível em <
http://genjuridico.com.br/2021/05/19/o-porque-da-nao-tributacao-dos-livros/>. Acesso em 12 jun 2021.
40
REIS, Cristiano. CBS – Contribuição sobre Bens e Serviços. Gestão para Pequenas e Médias Empresas. (2021).
Disponível em <https://cr.inf.br/blog/cbs-contribuicao-sobre-bens-e-servicos/ >. Acesso em 15 jun 2021.
30
(SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro, pode-se identificar os efeitos positivos da isenção aos
livros. Outrossim, segundo Abrahm, sobre a isenção concedida desde 2004, as citadas instituições
assim se manifestaram expressamente:
Isso permitiu uma redução imediata do preço dos livros nos anos seguintes: entre 2006 e
2011, o valor médio diminuiu 33%, com um crescimento de 90 milhões de exemplares
vendidos. Os fatos demonstram claramente a correlação entre crescimento econômico,
melhoria da escolaridade e aumento da acessibilidade do livro no país.41
Segundo Abrahm, ao querer fazer incidir a nova CBS sobre os livros, o respectivo Projeto
de Lei tributária deveria trazer em seu bojo a própria revogação da atual Política Nacional do
Livro, instituída pela Lei n. 10.753/2003.44 Tal lei, em suas diretrizes (artigo 1º.), apresenta o
livro como meio principal e insubstituível da difusão da cultura e transmissão do conhecimento e
propõe como seus objetivos, dentre outros, assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de
acesso e uso do livro; fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição e a
41
ABRAHM, Marcus. O porquê da não tributação dos livros. GenJurídico. (2021). Disponível em <
http://genjuridico.com.br/2021/05/19/o-porque-da-nao-tributacao-dos-livros/>. Acesso em 12 jun 2021.
42
ABRAHM, Marcus. O porquê da não tributação dos livros. GenJurídico. (2021). Disponível em <
http://genjuridico.com.br/2021/05/19/o-porque-da-nao-tributacao-dos-livros/>. Acesso em 12 jun 2021.
43
Idem.
44
BRASIL. Lei n. 10.753/2003, institui a Política Nacional do Livro.
31
Art. 1º. Esta Lei institui a Política Nacional do Livro, mediante as seguintes diretrizes:
IX - capacitar a população para o uso do livro como fator fundamental para seu
progresso econômico, político, social e promover a justa distribuição do saber e da
renda;
45
BRASIL. Lei n. 10.753/2003, institui a Política Nacional do Livro.
32
Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, a isenção dos livros beneficia quem poderia
pagar mais impostos, segundo o ministro, o governo poderia aumentar o valor do Bolsa Família,
para compensar o fim da isenção ou mesmo pensar em um programa de doação de livros.
Segundo Guedes, os mais pobres: “num primeiro momento, quando fizeram o auxílio
emergencial, estavam mais preocupados em sobreviver do que em frequentar as livrarias que nós
frequentamos”.48
46
AGÊNCIA SENADO. Reforma Tributária pode tornar o livro mais caro. Senado Notícias. (2021). Disponível em
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/11/reforma-tributaria-pode-fazer-livro-ficar-mais-caro>.
Acesso em 12 jun 2021.
47
ABRAHM, Marcus. O porquê da não tributação dos livros. GenJurídico. (2021). Disponível em <
http://genjuridico.com.br/2021/05/19/o-porque-da-nao-tributacao-dos-livros/>. Acesso em 12 jun 2021.
48
Idem.
33
https://www.migalhas.com.br/quentes/344201/iab-repudia-proposta-que-visa-fim-da-
imunidade-tributaria-de-livros
Para Fabiano Contarato (ES), também senador, a isenção tributária dos livros democratiza
o saber, assegura a livre difusão do conhecimento e evita que o governo use os impostos para
cercear obras críticas. Registrou que "o obscurantismo hoje no poder tem horror à cultura e à
49
AGÊNCIA SENADO. Reforma Tributária pode tornar o livro mais caro. Senado Notícias. (2021). Disponível em
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/11/reforma-tributaria-pode-fazer-livro-ficar-mais-caro>.
Acesso em 12 jun 2021.
35
educação".50
Por outro lado, o senador Carlos Viana (MG) reconhece que os desafios da Reforma
Tributária são muitos, aponta que é importante diminuir os impostos sobre os mais pobres, mas
faz a ressalva de que ninguém quer o aumento da carga tributária. Segundo o senador, “quando
ocorrer a discussão sobre as desonerações, a isenção sobre os livros certamente entrará em
pauta”. “— Não há impedimento de que o governo reveja ou mantenha algumas desonerações.
Mas não podemos deixar de enfrentar o problema. A Reforma Tributária é fundamental para a
retomada econômica e a geração de empregos logo após a pandemia – declarou”.51
Segundo o presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro, senador Jean Paul
Prates (RN), a tributação de livros não é um prejuízo apenas para o segmento editorial, mas para
o Brasil como um todo. O senador lembra que a média de leitura no Brasil é muito baixa — 4,96
livros lidos por pessoa, anualmente — e cobrar 12% de impostos vai encarecer o produto e
distanciar ainda mais os livros da população. Para Jean Paul, a média em direitos autorais pagos a
um escritor é de 10% do valor do livro. Nesse sentido, afirmou o seguinte: “o governo [...] quer
embolsar 12%, ou seja, quer ganhar mais do que o autor”, cujo senador considera que a proposta
do governo nem pode ser chamada de Reforma. O senador lamenta o fato de a Reforma
Tributária do governo tributar livros em 12% e cobrar apenas 5,9% de bancos, financeiras e
planos de saúde.52
O senador Jader Barbalho (PA) também criticou a proposta do governo, divulgou nota de
repúdio ressaltando o seguinte: "não há educação sem livros, sem leitura, sem conhecimento".
Afirma também que: "será um enorme desastre para todo o mercado editorial caso o Projeto de
Lei n. 3.887/2020 apresentado pelo governo federal venha ser aprovado na forma como se
encontra.53
50
AGÊNCIA SENADO. Reforma Tributária pode tornar o livro mais caro. Senado Notícias. (2021). Disponível em
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/11/reforma-tributaria-pode-fazer-livro-ficar-mais-caro>.
Acesso em 12 jun 2021.
51
Idem.
52
Ibidem.
53
Idem.
36
O Documento ressalta que todo e: “qualquer aumento nos custos, por menores que sejam,
afeta o consumo e, em consequência, os investimentos em novos títulos. A isenção é uma forma
de encorajar a leitura e promover os benefícios de uma educação de longo prazo”. Assinaram o
Manifesto entidades como a Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e
Tecnologia Educacional (ABRELIVROS), a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato
Nacional dos Editores de Livros (SNEL), entre outras.
A discussão sobre a cobrança de tributo ocorre num momento em que a venda de livros
começa mostrar pequena recuperação diante da pandemia do Coronavírus. Apesar de o mercado
de livros apresentar retração nos últimos cinco anos, uma pesquisa do SNEL mostra que no
período de 18 de maio a 14 de junho de 2020, o setor livreiro teve faturamento de R$ 109
milhões, um crescimento de 31% em relação ao mês anterior. Segundo o estudo, a evolução do
setor é visível e representa potencial reversão na curva de queda por causa do Coronavírus.
Algumas editoras também têm tentado a recuperação de suas vendas recorrendo a formas
alternativas de produção como obras com vários autores, financiamento coletivo e compras
antecipadas por parte dos leitores em potencial. No entanto, há receio de que essa pequena
recuperação seja anulada pela possível cobrança de tributos, por meio do referido Projeto de Lei.
Nesse sentido, segundo a Agência Senado, a tributação do livro também é reprovada pelos
autores. Para o escritor Maurício Gomyde, a iniciativa vai dificultar o acesso aos livros. Em
entrevista à TV Senado apontou que o mercado editorial já é muito difícil e alertou que a conta da
tributação certamente irá para o preço do livro. Gomyde afirma esperar que essa proposta seja
barrada pelos deputados e senadores. A editora e escritora, a jornalista Hulda Rode também
criticou o fim da isenção e afirmou que o livro não pode se tornar um artigo de luxo, apenas para
clientela mais abastada. Por fim, afirma-se o seguinte: “— o livro é essencial para a humanidade:
muda mundos, muda realidades e aproxima continentes. O imposto trará redução do acesso ao
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito à educação foi qualificado pela CF como um direito fundamental social. Nesse
sentido, o art.6º prescreve que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.54
No capítulo III, seção IV do Título VII, a Carta estrutura o direito em epígrafe, afirmando
que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art.205).
Nesse contexto, o direito à educação, como direito fundamental social, tem por conteúdo
uma serie de deveres, de ações, a serem realizados pelo Poder Público, Trata-se de um direito à
uma ação positiva, (Recht auf positive Handlung), que pertencem à classe dos direitos à
prestações (Leistungsrechte),como bem salienta Robert Alexy (Theorie der Grundrechte, Baden-
Baden, Nomos, 1994, p.395)
O acesso aos livros é um meio para realizar este direito. Se não for assegurado aos
cidadãos o amplo acesso à leitura, como o direito à educação poderá ser efetivado? De que forma
a educação poderá ser implementada, se os livros, devido ao seu alto preço, forem suscetíveis de
aquisição apenas pelas classes mais favorecidas da população, sob o ponto de vista econômico?
Dificultar esse acesso, por qualquer motivo, inclusive econômico-financeiro, pode até
mesmo impossibilitar o desfrute desse direito fundamental.
É o que ocorre com o Projeto de Lei em pauta, na medida em que cria um ônus financeiro
elevado, então inexistente. Isso obstaculiza o desfrute do direito à educação, indiscutivelmente,
pois o encarecimento do preço dos livros e periódicos irá fazer com que uma classe menos
54
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. A tributação sobre os livros e as inconstitucionalidades do Projeto de Lei n.
3.887/2020. GenJurídico. (2020).
39
favorecida da população não tenha recursos financeiros para adquirir tais bens. O gozo do direito
será dificultado, pelo gravame financeiro estabelecido.
Além disso, o art.215 da Carta Magna reza que “o Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais”. Por força dessa determinação constitucional,
o Poder Público tem que garantir, por todos os meios possíveis, o exercício dos direitos culturais.
Em outras palavras, o Estado deve realizar uma série de comportamentos para promover o direito
à cultura.
Como se isso fosse insuficiente – não é, em hipótese alguma-, o projeto sob comento
atinge, de forma direta, o art. 218 do texto constitucional, segundo o qual “o Estado promoverá e
incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas”.
Esse enunciado veicula uma norma que atribui ao Estado uma atuação positiva, no sentido
de estimular o desenvolvimento da ciência, da pesquisa e da tecnologia. Ao tributar os livros por
meio de uma nova contribuição, ao invés de incentivar a ciência, a União age em sentido
contrário, dificultando a ciência, a pesquisa e a tecnologia Isso porque a realização de
determinados tipos de pesquisa demanda a aquisição de livros, que funcionam como fontes
primárias das investigações. Além disso, a veiculação dos resultados das pesquisas ocorre por
meios de textos escritos, os quais muitas vezes são publicados por meio dos livros. Ao encarecer
a comercialização destes, o acesso aos resultados das pesquisas também fica sobremaneira
dificultado.
Por tais motivos, é indubitável que o projeto em pauta agride, de forma direta e
inquestionável, vários dispositivos constitucionais.
REFERÊNCIAS
INSPER. Glossário da reforma tributária: saiba o que significam IVA, ICMS, IR e guerra
fiscal. Disponível em: https://www.insper.edu.br/conhecimento/conjuntura-economica/reforma-
tributaria/. Acesso em: 1 mai. 2021.
JOTA. Fim da isenção aos livros preocupa mercado, que já vivia crise antes da pandemia.
Disponível em: https://www.jota.info/tributos-e-empresas/tributario/fim-da-isencao-aos-livros-
preocupa-mercado-que-ja-vivia-crise-antes-da-pandemia-18092020. Acesso em: 30 abr. 2021.
PUBLISHNEWS. Receita repete argumento de que livro é produto das elites para justificar
incidência de CBS. Disponível em:
https://www.publishnews.com.br/materias/2021/04/07/receita-repete-argumento-de-que-livro-e-
produto-das-elites-para-justificar-incidencia-de-cbs. Acesso em: 5 mai. 2021.
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 9. ed. São Paulo: Saraivajur, 2019. 2159p.
VALOR ECONÔMICO. Entre livros e templos: dar o peixe e ensinar a rezar . Disponível em:
https://valor.globo.com/legislacao/fio-da-meada/post/2020/08/entre-livros-e-templos-dar-o-peixe-
e-ensinar-a-rezar.ghtml. Acesso em: 4 mai. 2021.
42
VALOR INVESTE. Preço do livro pode subir 20% com alíquota de imposto de 12%, estima
setor. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-
politica/noticia/2020/09/10/preco-do-livro-pode-subir-20percent-com-aliquota-de-imposto-de-
12percent-estima-setor.ghtml. Acesso em: 29 abr. 2021.