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KARL MARX

E
FRIEDRICH ENGELS
1845-1846
1. HISTÓRIA
2. DA PRODUÇÃO
DA CONSCIÊNCIA
“O primeiro pressuposto de toda a
existência humana e, portanto, de toda a
história (é) o de que todos os homens
devem ter condições de viver para poder
‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso
antes de tudo beber, comer, morar, vestir-
se e algumas outras coisas mais”.
“O primeiro fato histórico é, portanto, a
produção dos meios que permitem
satisfazer essas necessidades, a produção
da própria vida material”.
“O segundo ponto a examinar é que uma
vez satisfeita a primeira necessidade, a
ação de satisfazê-la e o instrumento já
adquirido com esta satisfação levam a
novas necessidades – essa produção de
novas necessidades é o primeiro ato
histórico”.
“A terceira relação, que intervém no
desenvolvimento histórico, é que os
homens, que renovam a cada dia sua
própria vida, passam a criar outros
homens, a se reproduzir”.
“Aliás, não se devem compreender esses
três aspectos da atividade social como
três estágios diferentes, mas tão-somente
como (...) três momentos que coexistiram
desde o começo da história e desde os
primeiros homens, e que ainda hoje se
manifestam na história”.
“Produzir a vida, tanto a sua própria vida
pelo trabalho, quanto a dos outros pela
procriação, nos aparece, portanto, a
partir de agora, como uma dupla relação:
por um lado como uma relação natural,
por outro como uma relação social (...)
uma ação conjugada de vários
indivíduos”.
“E somente agora, depois de já termos
examinado quatro momentos, quatro
aspectos das relações históricas
originárias, descobrimos que o homem
tem também ‘consciência’”.
“A consciência é, portanto, de início, um
produto social e o será enquanto
existirem homens”.
Síntese
Portanto, a consciência é um resultado
histórico, do fato de que:
1) Para viver, é preciso antes de tudo beber,
comer, morar, vestir-se e algumas outras coisas
mais.
2) É preciso produzir os meios que permitem
satisfazer essas necessidades.
3) A satisfação das necessidades leva a novas
necessidades.
4) Os homens passam a criar outros homens, a
se reproduzir. (continua a síntese)
(continuação da síntese)
“E somente agora, depois de já termos
examinado quatro momentos, quatro
aspectos das relações históricas
originárias, descobrimos que o homem
tem também ‘consciência’”.
“Essa concepção da história tem por base o
desenvolvimento do processo real da
produção, e isso partindo da produção
material da vida imediata (...) Ela não explica
a prática segundo a ideia, explica a formação
das ideias segundo a prática material.
Chega por conseguinte ao resultado de que
todas as formas e produtos da consciência
podem ser resolvidos não por meio da crítica
(espiritual) intelectual (...) mas unicamente
pela derrubada efetiva das relações sociais
concretas de onde surgiram essas baboseiras
idealistas”.
“Assim, a moral, a religião, a metafísica e
todo o restante da ideologia, bem como as
formas de consciência a elas
correspondentes, perdem logo toda a
aparência de autonomia. Não têm
história, não têm desenvolvimento. Não é
a consciência que determina a vida, mas
sim a vida que determina a consciência”.
“A produção das ideias, das
representações e da consciência está, a
princípio, direta e intimamente ligada à
atividade material e ao comércio material
dos homens. A consciência nunca pode
ser mais que o ser consciente. E o ser dos
homens é o seu processo de vida real,
não de um homem genérico, abstrato,
indeterminado, mas de homens
históricos reais”.
“O mesmo acontece com a produção
intelectual tal como se apresenta na
linguagem da política, na das leis, da
moral, da religião, da metafísica, etc. de
todo um povo. São os homens que
produzem suas representações, suas
ideias, etc., mas os homens reais,
atuantes, tais como são condicionados
por um determinado desenvolvimento de
suas forças produtivas e das relações que
a elas correspondem” (...)
“A força produtiva do trabalho é
determinada por meio de circunstâncias
diversas, entre outras pelo grau médio de
habilidade dos trabalhadores, o nível de
desenvolvimento da ciência e sua
aplicabilidade tecnológica, a
combinação social do processo de
produção, o volume e a eficácia dos
meios de produção e as condições
naturais”.
O capital, capítulo I, item 1.
“A estrutura social e o Estado nascem
continuamente do processo vital de
indivíduos determinados; mas desses
indivíduos não tais como aparecem nas
representações que fazem de si mesmos ou
nas representações que os outros fazem
deles, mas na sua existência real, isto é, tais
como trabalham e produzem
materialmente; portanto, do modo como
atuam em bases, condições e limites
materiais determinados e independentes de
sua vontade”.
“O Estado é uma expressão ilusória do
interesse universal”.
“O desenvolvimento das forças
produtivas no plano da história mundial e
não no plano da vida local é uma
condição prévia absolutamente
indispensável, pois, sem isso, a penúria se
generalizaria e, com a necessidade,
também a luta pelo necessário
recomeçaria, e se cairia fatalmente na
mesma imundície anterior”.
“O comunismo só é empiricamente
possível como o ato “súbito” e simultâneo
dos povos dominantes, o que supõe, por
sua vez, o desenvolvimento universal da
força produtiva e os intercâmbios
mundiais estreitamente ligados a este
desenvolvimento”.
“O proletariado só pode existir, portanto,
em termos de história universal, assim
como o comunismo, que é a sua
consequência, só pode se apresentar
enquanto existência “histórica
universal”.
“Para o materialista prático, isto é, para o
comunista, trata-se de revolucionar o
mundo existente, de atacar e de
transformar praticamente o estado de
coisas que ele encontrou”.
“Na sociedade comunista cada um não
tem uma esfera de atividade exclusiva,
mas pode se aperfeiçoar no ramo que lhe
agradar, a sociedade regulamenta a
produção geral, o que cria para mim a
possibilidade de hoje fazer uma coisa,
amanhã outra, caçar de manhã, pescar
na parte da tarde, cuidar do gado ao
anoitecer, fazer crítica após as refeições,
a meu bel-prazer, sem nunca me tornar
caçador, pescador ou crítico”.
“A revolução, e não a crítica, é a verdadeira
força motriz da história, da religião, da filosofia
e de qualquer outra teoria (...) Os elementos
materiais de uma subversão total são, por um
lado, as forças produtivas existentes e, por
outro lado, a formação de uma massa
revolucionária que faça a revolução não só
contra condições particulares da sociedade
existente até então, mas também contra a
própria “produção da vida” anterior (...) Se
essas condições não existem, é inteiramente
indiferente, para o desenvolvimento prático,
que a ideia dessa subversão já tenha sido
expressada mil vezes”.
“De modo nenhum se pode libertar os
homens enquanto estes não estiverem em
condições de adquirir comida e bebida,
habitação e vestuário na qualidade e na
quantidade perfeitas. A "libertação" é um
ato histórico, não um ato de pensamento,
e é efetuada por relações históricas, pelo
nível da indústria, do comércio, da
agricultura, do intercâmbio...”
“A divisão do trabalho só se torna
realmente divisão a partir do momento
em que surge uma divisão do trabalho
material e espiritual”.
“A partir deste momento (da separação
violenta dos trabalhadores e dos meios
de produção, do surgimento do escravo e
das classes sociais), a consciência pode
realmente dar-se à fantasia de ser algo
diferente da consciência da práxis
existente (...), a partir desse momento a
consciência é capaz de se emancipar do
mundo e de passar à formação da teoria
‘pura’, da teologia, da filosofia, da moral,
etc., ‘puras’”.
“E mesmo quando esta teoria, teologia,
filosofia, moral, etc., entram em
contradição com as relações vigentes, isso
só pode acontecer pelo facto de as
relações sociais vigentes terem entrado
em contradição com a força de produção
existente...”
“A cada geração é transmitida pela sua
predecessora uma massa de forças
produtivas, capitais e circunstâncias que,
por um lado, é de fato modificada pela
nova geração, mas que por outro lado
também lhe prescreve as suas próprias
condições de vida e lhe dá um
determinado desenvolvimento, um
carácter especial. Isso mostra, portanto,
que as circunstâncias fazem os homens
tanto como os homens fazem as
circunstâncias.”
“Estas condições de vida que as
diferentes gerações já encontram
vigentes é que decidem, também, se o
abalo revolucionário periodicamente
recorrente na história será
suficientemente forte ou não para deitar
abaixo a base de todo o existente”.
“As ideias da classe dominante são, em
todas as épocas, as ideias dominantes, ou
seja, a classe que é o poder material
dominante da sociedade é, ao mesmo
tempo, o seu poder espiritual dominante. A
classe que tem à sua disposição os meios
para a produção material dispõe assim, ao
mesmo tempo, dos meios para a produção
espiritual, pelo que lhe estão assim, ao
mesmo tempo, submetidas em média as
ideias daqueles a quem faltam os meios
para a produção espiritual”.
“As ideias dominantes não são mais do
que a expressão ideal das relações
materiais dominantes, as relações
materiais dominantes concebidas como
ideias; portanto, das relações que
precisamente tornam dominante uma
classe, portanto as ideias do seu
domínio.”
“A existência de ideias revolucionárias
numa época determinada pressupõe já a
existência de uma classe revolucionária.”
“Para que a alienação se torne um poder
‘insuportável’, isto é, um poder contra o
qual se faça uma revolução, é necessário
que tenha criado uma grande massa da
humanidade ‘destituída de propriedade’
e ao mesmo tempo em contradição com
um mundo existente de riqueza e cultura,
o que pressupõe um grande aumento da
força produtiva, um grau elevado do seu
desenvolvimento” (continua)
“O desenvolvimento das forças produtivas é
também uma premissa prática absolutamente
necessária porque sem ele só a penúria se
generaliza, e, portanto, com a miséria também
teria de recomeçar a luta pelo necessário e de se
produzir de novo toda a velha porcaria, e ainda
porque só com este desenvolvimento universal das
forças produtivas se estabelece um intercâmbio
universal dos homens, que por um lado produz o
fenômeno da grande massa ‘destituída de
propriedade’ em todos os povos ao mesmo tempo
(concorrência geral), torna todos eles dependentes
das revoluções uns dos outros e, por fim, colocou
indivíduos empiricamente universais, indivíduos
histórico-mundiais, no lugar dos indivíduos locais”.
Fonte:
MARX, K. ; ENGELS, F. A ideologia alemã.
São Paulo : Martins Fontes, 1989.

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