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DIRECÇÃO

PARA

VIVER CHRISTÃMENTE.
PELO

REV. PADRE QUADRUPANI

BARNABITA

S. PAULO
T Y P OG RA PH IA SALESIANA
1905 »
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lNOvrçOÜUCÇÃO

1. As acções já boas de si mesmas,


diz Sancto Agostinho, tornam-se tanto
mais ■virtuosas e dignas de elogio, quan­
to melhor forem coordenadas; porque
sem ordem não ha virtude,
2. E’ por isso que vos apresentamos
uma regra de vida, que abrange todos
os devercs do homem para com Deus,
para com seus similhantes e para com-
sigo mesmo.
3. Lembrae-vos, porém, de que estas
regras de proceder, dispostas para vos­
sa direcção, não obrigam sob pena de

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— 6 -

peccado, nem ainda v e n ia l; vêde nellas


uma direcção e não um preceito. As ca­
deias são para os escravos, e não para
os filhos de D eu s; estes não conhecem
outras prisões que as do amor e da von­
tade divina. Não é pelo temor dos cas­
tigos, mas pelo seu amor, que um filho
afiectuoso e reconhecido attrahe as com-
placencias de seu bom pae.

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PI^ E B AÇÃO DO JT^AD UCTO P

A moral do Evangelho, que Jesus


inspirára a seus Apostolos, e eom a qual
devemos conformar nossas acções, ó a
mais augusta e consoladora philosophia,
que não só eleva a intolligencia pela
divindade dos mysterios e ennobrcco o
espirito pela sublimidade dos dogmas,
mas também fórma as almas grandes e
generosas pelo balsamo consolador e y í -
viflcante de doutrinas tão doces e sua­
ves como salutares. J
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Só ella, que reune*tão nobres títu­
los e tão grandes consolações, nos pôde
fazer antegostar ja, neste doloroso exí­
lio, as delicias incffaveis do Céu.
Quem ha ahi, pois, que possuindo
thesouro tãp rico de luzes e afléctos,
não tenha a alma cheia d‘uma confiança
sem receio e d'uma alegria sem tristeza?
No emtanto, a cada passo, se nos de­
param muitas almas piedosas, as quaes
são devoradas por uma tristeza, pusilla-
nimidade e desconfiança sem eguaes ;
dando a entender com o seu procedi­
mento e exemplo que o jugo da lei do
Senhor não é leve, nem suave, mas sim
um fardo penoso, para levar o qual pou­
cos teem forças o coragem.
E qual será a razão de tão grandes
males, que fazem das almas piedosas
um continuo supplicio d’escrupulos, re­
ceios e afiiicções ; e da virtude, que a
todos deveria encantar o possuil-a, uma
cousa odiosa e impossível de praticar-se?
A razão é, digamol-o bem alto, pois
temos na mão a experiencia de tantos
factos, o não ser suílicientemente expli-
cada e desenvolvida a moral do Evan-
; gelho ; a razão ó porque alguns desses
í livros feitos para dirigir as almas, mos-
j tram só com que facilidade e frequência
se commette o peccado, e nunca as cir-
cumstancias em que se não o commette,
fallando muito d aju stiçad e D eu s,ep ou -
C co da sua misericórdia infinita.
D’esta gravíssim a omissão em as-
sumpto tão preciso resulta que as almas
piedosas, mais timidas que temerarias,
são dominadas d’um receio e medo que,
na maior parte dos casos, não tem fun­
damento nem razão de ser, e que, não
poucas vezes, tem sido o motivo da sua
queda moral.
E \ portanto, de grande necossida do
ensinar quando a lei de Deus é violada
e quando o não é, afim de que o chris-
tão pouco circumspecto conheça os seus
deveres, e o christão virtuoso não ju l­
gue haver commettido peccado onde nem
sequer havia materia para isso ; objecto,
este, que, sendo o mais rapidamente tra­
tado, e até ás vezes esquecido por gran-
de parte dos auctores espirituaes. ó, por
isso mesmo, o mais importante.
Foi para conseguir este duplo fim
que o Padre Quadrupani escreveu dous
opusculos; um com o titulo « D i r e c ç ã o
FURA SOCEGAR NAS SUAS D UV ID AS AS A L­
MAS t im o r a ta s », outro com o titulo «Di­
recção PRATICA PARA VIVER CHRISTÃ •
MENTE».
Aquelle diz respeito a uma classe
particular d’almas ; este tem um alcance
mais alto, pois trata dos deveres geraes
do christão, e por isso a sua applicação
é mais universal. Ã:è-so em ambos uma
doutrina segura e solida, bebida nas fon­
tes puras c inexhauriveis do Evangelho
e dos Padres da Egreja; uma clareza,
precisão e discernimento admiraveis, que,
determinando os limites da virtude e do
vicio, mostram ora os preceitos, ora os
conselhos; e modificando a fôrma se­
gundo os diversos estados, conservam in­
tacta a substancia da perfeição christan,
que se resume no amor dc Dous e no
cumprimento da sua vontade.
— 11 —

E não se diga em ar d’accusação


que o Padre Quadrupani foi um pouco
mais faeil e doce de que convém á se­
veridade do Evangelho e ás verdades
terríveis que este ensina ; não : — d'es-
te modo já foi arguido, no seu tempo,
S. Francisco de Sales, mas nem por is&o
este grande mestre da vida espiritual
supprimiu essa direcção suave e mode­
rada, que a experiencia e o espirito de
Deus lhe tinham mostrado como a me­
lhor no procedimento das almas pie­
dosas.
Longe de lisongear os vicios, o Pa­
dre Quadrupani sabia mostrai-os com
todo o aspecto horrendo !
Longe de apoiar a relaxação dos cos­
tumes, defendia eloquentemente a pureza
do Evangelho contra os sophismas dos
incrédulos e contra os corruptores da
moral ohristan 1 Era com uma liberdade
verdadeiramente apostolica que elle tra­
tava diante dos povos e dos reis os pon­
tos mais delicados dos seus deveres pa­
ra com um Deus pobre e cruxificado ; e
segundo a opportunidade', sabia mostrar
a severidade do Evangelho e inspirar um
justo terror dosjuizos do Senhor, para
despertar as almas adormecidas na vir­
tude ! Mas umas eram, diz um celebre
escriptor, as exigencias da instrucção
em publico, outras as da direcção em
particular. As grandes chuvas fazem re­
verdecer os campos, mas quebram as
flores do jardim ; o tratamento que con­
viria a um temperamento robusto numa
doença grave, seria funesto a uma na­
tureza delicada, e não se poderia appli-
car a uma dessas enfermidades que nos
veem experimentar todos os dias.
As numerosíssimas edições e appro-
vações, bem como o nome do auctor, são
jã de si uma grande recommendação pa­
ra a leitura d'este livrinho.
Foram immensas, e ainda o são ho­
je, as vantagens e benefícios que as al­
mas piedosas teem colhido da leitura de
tão precioso livrinho ; e entre nós não
haveria esta fonte de luzes e consola­
ções, se um joven, assaz intelligente e
virtuoso, o não houvera traduzido do
francez para n- nossa lingua patria.
- 13 —

Mas este joven, de cuja amizade a


morte nos veio separar para o levar á
patria dos escolhidos, não pode acabar
a empreza de toda a traducçào, deixando-
nos por traduzir o segundo opusculo que
tem por titulo D i r e c ç ã o p r a t i c a p a r a
V I V E R CH RI STÃ M ENT E.
E eu, não me lembrando da minha
insufliciencia no fervor de minha home­
nagem á vontade e desejo do piedoso e
distincto escriptor, traduzi-o para maior
gloria de Deus o utilidade espiritual das
almas piedosas.
Possam estes dous motivos fazer es­
quecer aos leitores todas as faltas e er­
ros que eu tenha commettido na versão
de tão precioso livro D i r e c ç ã o p a r a
V I V E R C H RI ST ÃM EN TE .
■ E é na benevolencia dos meus lei­
tores e nas orações das almas piedosas
que deposito a recompensa d’este meu
pequeno trabalho; assim como na pro­
tecção d’aquelle nosso amigo, que o Se­
nhor levára ha pouco para junto de si,
espero coníladamente alcançar de Deus

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— 14 —

a benção para o fructo e realisação d’um


dos seus maiores desejos.
E vós, ó Maria, Virgem concebida
sem peooado, acceitae esta humilde tra-
ducção dedicada á maior gloria vossa e
do vosso Filho ; e orae por nós que re­
corremos a vós.

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^ E E A Ç Õ E j^ COM D EUj^

O s deveres do christão para


com D eus reduzem -se á pratica
da religião, e, p o r conseguinte, a
aperfeiçoar-se sobretudo no uso
da oração, no m odo de ouvir a
missa, na frequencia da confissão
e da com m unhão, na leitura espi­
ritual e na sanctificação dos dias

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— 1G —

sanctos. T oquem os rapidam ente 1


to d o s estes diversos assum ptos.

ohação

1 — A oração é o meio ordi­


nário p o r on d e D eus nos com-
m unica suas graças. « A oração
eleva-se do hom em p a r a Deus,
diz Sancto A gostinho, e a gra ça
desce de D eus sobre o homem.»
2 — M as todas as cousas teem
sua m edida e-seu limite. Q uando,
nas Sanctas Escripturas, se ordena
que orem os constantem ente, nãc
se deve entender a respeito da
oração actual, o que seria im­
possível ao hom em neste m u n d o ;
m as do desejo de glorificar a D eus
em todas as nossas acções, desejo
que deve ser perm anente em nós.
Por isso Sancto A gostinho d is s e :
« S i o vosso desejo fo r freqüente,
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— 17 —

freqü en te será a vossa o ra çã o ;


se vosso desejo fò r co n tinuo , con­
tin u a será a vo ssa oração. »
3 — A duração da vossa ora­
ção deve m edir-se pela disposição
da vossa alma e obrigações do
vosso estado.
4 — Aquelle que prolonga a sua
oração até se enfastiar e sobre­
carregar o espirito, o ppõe-se ao
m esm o fim da oração, que é con­
servar em todo seu fervor o de­
sejo de glorificar a Deus. Esta
doutrina, exposta com lucidez por
S. Thom az, não deveria ser esque­
cida p or essas almas, excellentes
em tudo o mais, mas que pelo
excesso de suas orações abatem o
espirito em vez de o reanimarem.
O hofnem de tem perança e bom
senso cessa de com er q uando está
satisfeito, ou quando sente algum a
dor d ’estom ago, p o r m elhores que
D irecçã o e s p ir itu a l %
— 18 —

sejam e mais exquisitos e saborosos


os alim entos que se lhe sirvam.
5 — N unca deveis deixar de
cum prir as obrigações do vosso
estado para orardes segundo o
vosso gosto. S. T hom azensinaque,
na occasião em que estam os ap-
plicados aos nossos deveres se­
g u n d o a vontade de Deus, rece­
bem os da sua m ão as graças de
que havem os mistér, ainda m esm o
sem essa oração freqüente. Estão
em seu logar o trabalho e a fa­
diga. Ha até mais m erecim ento
do que em entreter-se som ente no
pensam ento d ’elle, com o acontece
durante a oração.
6 — Fugi d ’esse cuidado que
vos impelle a multiplicar vossas
orações v o c a e s ; applicae-vos antes
a sanctifical-as, recitando-as com
socego, attenção e devoção. Não
é a abundancia de sustento, q u e '
dá vigor, m as sim a sua boa di­
gestão. É’ por isso que S. F ran­
cisco de Salles dizia: « 0 nosso
am or p roprio é u m g ra n d e em ­
b ru lh a d o r, que a braça sem pre
m u ito e n a d a ap erfeiçoa. Pouco
e bem ê o que fa z o hom em
p ru d e n te e s a b io ; m u ito e m a l
é o que fa z o in sen sa to e p r e ­
su m id o . »

DA MEDITAÇÃO

1 — A m editação esclarece e
conforta nossa alma. David dizia
de si m e s m o : « A m editação a-
queceti m eu coração, e accendeu
n ’elle o fogo d a ca ridade. »
2 — M editae todos os dias uma
meia hora, a não ser que vol-o
impedida um a occupação ou uma
indisposição extraordinaria.

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3 — D isponde da tarde para a
noite, ou ao m enos antes de prin-
cipiardes, o assum pto da vossa
m editação. O espirito então ap-
plicar-se-ha com mais facilidade
a essa matéria já preparada.
4 — Meditae, ordinariam ente,
sobre assum ptos que despertem
em vós a confiança e o am or de
Deus. O s assum ptos que inspiram
terror são raras vezes de van­
tagem para vosso espirito. A vós
se pode applicar o que S. F ran­
cisco de Salles escreveu a uma
d a m a : Prohibo-vos que m ed iteis
n a m orte, no ju iz o e no in fern o .
E stes a ssu m p to s de tem or s a lu ta r
são excellent.es; m a s não p a r a
vossa a lm a que j á está m u ito
tím id a . »
5 — N ão abraceis, para meditar,
matéria m uito ex ten sa; esta seja
curta e precisa. Segui este co n ­
selho dos mais- d o utos entre os
Padres espirituaes: na m editação
deveis entreter-vos mais nos af-
fectos do coração, que nas consi­
derações do espirito; porque a
consideração é o meio, e o affecto
é o fim a que aspiram os.
õ — E ’ de vantagem , tam bem ,
entregarm o-nos á oração com re­
colhim ento e paz, sem inquieta­
ções nem receio excessivo de d is­
tracções.
A distracção involuntária faz-
nos adquirir d ous m erecim entos:
um de penitencia, porque é um
penoso soffrim ento d ’espirito o não
nos poderm os considerar recolhi­
dos diante de D eus ; p or isso San-
cta Thereza d iz ia : « S i não faço
oração, faço p en iten cia. » 0 outro
merecim ento é o da própria oração;
porque Deus recom pensa o desejo
tanto com o a obra, q uando o cum ­
— 22 — ‘ ;

prim ento d ’esta não está na n o s­


sa mão.
7 — Será para nós um a grande
consolação ter sem pre diante dos
olhos estes principios de S. F ran­
cisco de S alles: E ’ u m a oração *
excellente o consider arm o- nos
com p a z e n a tr a n q u illid a d e n a
presen ça de Nosso Senhor e de­
b a ixo de s u a protecção, sem outro
desejo n em pretenção m a is do
que esta r com elle e fa z e r a s u a
vontade.» O filhinho acolhido no
seio de sua mãe não profere pa­
lavra a lg u m a ; m as diz tudo pelo
seu olhar affectuoso, que exprim e
a felicidade de estar nos braços
m aternaes.
8 — N o fim da m editação não
é preciso m ultiplicar as resolu­
ções; m as devem -se renovar prin­
cipalm ente aquellas que vão con­
tra nossa _paixão dom inante. A


multiplicidade das resoluçãoes em­
baraça a alm a e não a torna
m elhor.
O rdinariam ente aquelle que pro-
m ette m uito, dá pouco.
9 — Sancta Thereza quer que
durante a oração tom em os uma
posição com m oda, para que o espi­
rito não seja distrahido da attenção
que devem os prestar á oração na
presença de Deus. N ãovoscanceis,
pois, conservando-vos por muito
tem po de joelhos.
Basta que o vosso espirito se
hum ilhe diante de Deus, com o
respeito, a confiança e o am or
que lhe são devidos.

DAS ORAÇÕES JACULATORIAS

1 — As orações jaculatorias são


aspirações m uito curtas e im pulsos

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— 24 —

affectuosos que elevam a alma


para Deus. S. Francisco de Sales
diz que ellas substituem a' todas
as outras orações: em quanto que
todas aso u tras orações não podem
substituir as jaculatorias.
2 — As orações jaculatorias p o ­
dem fazer-se em qualquer tempo,
em qualquer logar e durante qual­
quer occupação. Assim com o se to ­
mam rebuçados e pastilhas arom a-
ticas para adoçar a bocca e for­
tificar o estom ago, assim tam bem
se usa das freqüentes orações jacu­
latorias para reanim ar o espirito.
3— O s antigos m onges, de quem
Sancto A gostinho falia na sua
carta a Proba, não podiam dar-se
a longas orações, po rque preci­
savam su sten tar-se do seu tra­
balho quotidiano: o uso freqüente
das orações jaculatorias suppria
a falta das outras orações, e, to ­
— 25 —

davia, podia-se dizer que oravam


sem interrupção, pelo m esm o facto
de suas fadigas incessantes.
4 — Desejo vivam ente que ap-
pliqueis todo o cuidado em forti­
ficar-vos no habito dum a oração
tão im portante, tão facil, e que
vos será mais util que tantas o u ­
tras orações vocaes, cuja m ulti­
plicidade não serve m uitas vezes
senão para fatigar, e não para
esclarecer ou reanim ar a alma.

DA MISSA

1 — Sobre o altar N osso Se­


nhor Jesus C hristo renova o m es­
mo sacrifício que consum m ou na
cruz; com a differença de que o
da cruz operou-se pela effusão do
seu sangue, e o da missa é in­
cruento.
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2 — P or meio desse sacrificio
incruento desem penham os quatro
obrigações, que, segundo a lin­
guagem de S. Thom az, unem o
hom em a D e u s: I o honram os a
sua grandeza e m agestade; 2 o sa­
tisfazem os pelos peccados commet-
tidos; 3o dam os graças ao Senhor
pelos benefícios que delle tem os
recebido ; 4o pedim os-lhe soccor-
ro para as nossas necessidades
presentes.
3 — A missa é d ’um valor in­
finito, porque encerra os méritos
infinitos de Jesus C hristo. M as os
seus effeitos são limitados, isto é,
em p ro po rção com a m aior ou
m enor devoção d ’aquelle que a
celebra, que a m anda celebrar, ou
que a ouve. O oceano, diz Sancto
A gostinho, encerra a im m ensidade
das ag u a s; cada um poderá co-
Ihel-as segupdo a m aior ou m enor
— 27 —

capacidade que tiver o vaso de


que se servir. Esta im m ensidade
das aguas do oceano é a imagem
dos m éritos im m ensos de N osso
Senhor, que a missa encerra; o
vaso com m aior ou m enor cap a­
cidade é a m aior ou m enor de­
voção d ’aquelle que participa do
sancto sacrificio.
4 — E’ preciso, portanto, ou-
vil-a com d e v o ç ã o ; e p o r mais
louvável que seja a assistência a
m uitas missas, mais louvável ainda
é a devoção com que se assiste a
ellas.
5 — Q uan d o fôrdes ouvir missa,
dizei a vós m e s m o s : « Lonrje de
m im todos os p en sa m e n to s d a
te rr a ; vou á m o n ta n h a sa n cta
de D eu s, onde tudo deve ser
a m o r e sa n c tid a d e . »
Dirigi-vos á egreja num piedoso
silencio.
— 28 —

6 — Antes de principiar a mis­


sa ou logo que principiar, fazei um
acto m uito curto de contricção
viva .e affectuosa, para purificar
o coração que deve assistir ao
grande sacrifício do D eus da p u ­
reza e participar d ’elle.
7 — T oda a oração, qualquer
que seja, vocal ou mental, é p ró ­
pria para fazer colher os fructos
da missa áquelle que a ouve. Será
de grande vantagem m editar nos
m ysterios representados pelas ac­
ções do celebrante. N ão m edite­
mos, todavia, senão em poucos
sym bolos ao m esm o tem po, a fim
de darm os m aior espaço ás pie­
dosas reflexões, e muito maior
ainda aos effectos.
E nganam -se essas almas que
põem mais cuidado em dizer um a
grande quantidade d ’orações cor­
respondentes ás acções do sacer­
- 29 —

dote, do que em excitar em si


reflexões e affectos. Isso é mais
um a oração da lingua do que um
acto de religião.
8 — N o fim do sacrifício, ou
á com m unhão, offerecei-vos com
tudo o que possuis a N osso Se­
nho r Jesus C hristo, que se offe-
receu por nós a seu Pae Eterno.
Podereis, tam bem , se o desejar-
des, fazer a com m unhão espiri­
tual.
9 — N um a necessidade parti­
cular, ou no dia de festa d ’um de
n ossos principaes patronos ou de
um a sancta protectora, será bom
m andar celebrar uma missa por um
sacerdote d ’uma piedade reconhe­
cida, e que conheça as nossas ne­
cessidades, afim de que ore po r nós
com mais fervor.
10 — As esm olas dadas para
celebração de missas são levadas

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em conta das esm olas que deve­
m os dar segundo o nosso estado
e bens.

DA CONFISSÃO, COMMUNHÃO E
LEITURA ESPIRITUAL

1 — A confissão é um dos mei­


os mais p o d erosos para justificai
e consolar os pobres peccadores
q ue desejam m udar de vida.
2 — A pprovo que vos confes­
seis ao m enos todos os quinze dias
e todas as vezes que houver ne­
cessidade.
3 — Q uanto ao exam e de co n ­
sciência para quem se confessa
todos os oito dias, basta um
quarto d ’hora, diz S. Francisco
de Sales. Será bom que vos co n ­
fesseis da tarde para à noite, a
fim de terdes a m anhã para vos
preparardes mais com m odam ente
para a sancta com m unhão.
4 — A narração m inuciosa das
vossas faltas não é o que as a-
paga, da m esm a sorte que a
exacta enum eração das dividas
não solve um real ao deve­
dor. Além disso, o vosso co n ­
fessor conhece já o estado da
vossa alma e as vossas faltas ha-
bituaes. Um exam e m uito m inu­
cioso só servirá para fatigar-vos
o espirito e dessecar-vos o co­
ração.
5 — Deveis ter um a vontade
decidida de evitar todos os pecca-
dos, mas sob retu d o os que dizem
respeito ao vosso defeito dom i­
nante.
6 — A alma que habitual­
mente não quer o peccado, está
habitualm ente c o n tric ta ; não lhe
será pois difficil ter a contricção
actual. N ão sabeis si a tendes,
não a sentis, po rque ordinaria­
m ente ella não é sensivel, isto é,
não im pressiona os sentidos, nem
a parte affectiva da nossa alm a;
mas tendes a contricção, porque
a vossa vontade repelle o pec-
cado, e é nisso verdadeiram ente
que consiste a contricção. O pezar
de não aborrecerdes o peccado,
com o conviria, nasce do vosso
odio contra elle, com o o desejo
de am ar a Deus. procede do am or
que lhe tendes.
7 — Fazei a vossa confissão
todas as vezes, com o se fosse a
derradeira, pois que pode sel-o
com effeito; e dizei então o que
dirieis, se fosseis d ’isso advertido.
Dizei com clareza, confiança e
sem rodeios todas as vossas fal­
tas, especialm ente as que vão
contra a pureza. Lem brai-vos de
— 33 —

que falais a Deus, a quem nada


se lhe esconde. Fugi de querer
ser theologo ou d ’occultar algum a
cousa n ’esta matéria.
8 — C onfessae-vos, não com o
vós o entendeis, mas com o quer
o vosso director. D ’este m odo, as
vossas confissões satisfarão m enos
o am or proprio, mas agradarão
mais a Deus. Parecer-vos-ha estar
m enos contente, mas tereis colhido
m uito mais m erecim entos.
9 — O m elhor e mais seguro
meio para conhecerdes se estaes
na graça de Deus, diz S. Tho-
maz, e p or consequencia se as
vossas faltas com m ettidas estão
perdoadas,é considerar na vossa
vida presente. Se o passado vos
desagrada, se não recahis nas
faltas antigas, é um signal de que
o mal desappareceu e que a graça
do S enhor está em vós. Se as
D irecçã o e s p ir itu a l 3
— 34 -

raizes do vosso coração estivessem


ainda viciosas com o o u tr’ora, p ro ­
duziriam os m esm os fructos. Tal
é a reflexão de S. Francisco de
Sales. Esta consideração baste
para vos tranquillisar sobre o *
passado.
10 — A com m unhão freqüente
é um dos meios mais efficazes
para progedir na perfeição. « Se
os m u n d a n o s vos p erg u n ta rem
porque com m ungaes ta n ta s ve­
zes, respondei-lhes que é p a ra
a p ren d erd es a a m a r a D eus,
p a r a vos p u r ific a r d e s d a s im ­
perfeições, livra r-vo s d a s m isé­
ria s, consolar-vos n a s affticções,
em fim p a r a vos su sten ta rd es nas
fra q u eza s. sLs pessoas qu e no
m u n d o teem poucas occupcições
devem -no fa zer, porque teem
tempo p a r a i s s o ; a s que estão
sobrecarregadas de trabalhos
— 35 —

•l^vem-no fa z e r por necessidade,


fo r q u e quem, se cança m uito,
quem e m u ito occupado, precisa
d 'u m a a lim en ta çã o m a is so lid a
m a is freqüente.
11 — A preparação para a
com m unhão é ou rem ota e habi­
tual ou próxim a. A prim eira con­
siste em purificar o coração pelo
odio ao peccado, e entreter n ’elle
um vivo desejo de se nutrir d ’estc
celestial alimento.
12 — A preparação próxim a
é-nos indicada por estas pala­
vras de S. Francisco de S a le s :
Devem os levar para a com m u­
nhão um coração abrazado em a-
mor. » E squeçam os p ois todas
as crea tu ra s, p a r a não p e n sa r­
mos senão no Greador que im o s
receber.
13— «E’ necessário, além d ’is-
so, continua o mesmo Sancto, en-
— 36 —

tregarm o-nos totalm ente á P ro­


videncia divina, não só pelo que
toca aos bens tem poraes, mas so ­
bretudo pelo que diz respeito aos
nossos interesses esp iritu ae s; é
preciso renunciarm os, na presença
da bondade divina, ás nossas af-
feições, desejos e inclinações, para
lh ’as subm etter inteiram ente.
Estejam os certos de que da
sua parte N osso S enhor cum prirá
a prom essa que nos fez, d ’elevar
a nossa baixesa até que chegue a
unir-se a sua grandeza. »
14- — Uma só com m unhão bas­
ta para nos sanctificar; <*. mas o
verdadeiro motivo pelo qual não
som os sanctificados é p orque N os­
so S en h o rach a os nossos corações
cheios de desejos, d ’affeições e de
p equenas vontades... Elle quer
achal-os vasios para se tornar se­
n hor d ’elles. » Logo, antes e depois
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da com m nnhão entreguem o-nos a
Deus, não aspirem os senão ao seu
am or e ao seu querer, com simpli­
cidade, desapego e generosidade.
15 Na vespera da com m u-
nhão recitae freqüentes orações
jaculatorias, que respirem sanctos
e affectuosos desejos e uma plena
confiança de que sereis santifi­
cados. No proprio dia da com-
m unhão devem ellas exprimir o
vosso reconhecim ento, adoração e
confiança em Deus. Todavia fa­
zeis isto sem violência, sem gran­
de esforço, mas d ’um m odo doce
e affectuoso.
lõ - Se pois vos esquecerdes
das orações jaculatorias, não vos
inquieteis. Esperae, que D eus vos
fará a graça de vos lem brardes del-
las para outra vez, e ficae em paz.
17 — Se vos entregardes á
vontade de D eus na sancta com-
m unhão, soffrereis eom socego e
generosidade as seccuras do espi­
rito, sem perder m uito tem po a in­
dagar-lhes as causas. A alma resi­
gnada acceita tudo com o vindo de
D eus : não se exalta pela consola­
ção nem é abatida pela aridez. (Ve­
de as instrucções sobre a oração).
18 — Para a vossa leitura es­
piritual escolhei os livros mais pro-
prios para alimentarem a vossa al­
ma ; para este fim familiarisai-vos
com a leitura das obras de S. F ran­
cisco de Sales, e com o espirito
d ’este sancto p or Mr. Belley
19 — Fazendo a vossa leitura
espiritual d ’essas obras, recebei
o seu assum pto com o se o proprio
D eus o escrevesse.
20 — T ende p or certo que as
práticas extraordínarias são sem ­
pre suspeitas e encobrem facil­
m ente um a secreta vaidade. Por
isso S. B ernardo dizia « que a v ir ­
tude consiste em fa ze r cousas
cu m m u n s, m a s (Vum modo não
com m um .»
Se procuram os o extraordiná­
rio, procurem os conserval-o no
segredo do coração e deante de
Deus; isto é, na recta intenção
e no am or de N osso S e n h o r; será
verdadeiram ente extraordinaria a-
quella alma que crêr que em si
tudo é com m um .

DA SAXCTIKICAÇÃO DOS DIAS

SANTOS

1 — C ada um de n ossos dias


deve ter com o regra a gloria de
D eus; porém elle escolheu alguns,
nos quaes exige de nós um culto
esp ecial: são os dias sanctos.

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2 — Devem os, pois, sanctifical-
os por um grande num ero d ’obras
de piedade : a missa, os sacra­
m entos, a oração, a assistência aos
serm ões, as sanctas leituras.
3 — M as não devem os, comtu-
do, fatigar o corpo e opprimir
o espirito pelo excesso das p ra­
ticas de devoçãò. Aqui tem logar
o que dissem os fallando da oração.
4 — Devem os tam bem lembrar-
nos de que uma visita de cere-
monia, um passeio recreativo, um
divertim ento razoavel (tudo cou-
sas na ordem da Providencia) p o ­
dem ser offerecidas a Deus e ser­
vir assim para santificar os dias
sanctos. Da m esma sorte, as outras
acções reclam adas pelo sustento
da vida, o comer, o repouso, o
som no, não se oppõem tão pouco
ao que exige nos dias sanctos a
sanctidade do christão.
5 — Eu faço estas observações
para consolar as almas que se
inquietam sem motivo a respeito
da sanctificação dos dias sanctos,
e parecem seguir antes as supers­
tições pharisaicas do antigo sab-
bado do que a sancta liberdade
d ’espirito que nos deu Jesus Chris-
to no seu Evangelho. Q ue essas
pessoas evitem os ex tre m o s: uma
dissipação, ou um a oração exces­
siva.
ó 1— Se as circum stancias vos
não permittem assistir ás intru-
cções religiosas, lêde todos os dias
santos algum as paginas sobre a
doutrina christã, para não esque-
cerdes os ensinos da nossa sancta
religião.
7 — Se num dia sancto acon­
tecer que devais viajar ou entre­
gar-vos a outra occupação que
não seria da vossa escolha, mas
que vos sobreveio cTiínproviso, não
vos inquieteis com não poderdes
desem penhar com m odam ente os
vossos ex ercid o s habituaes de pie­
dade. Recorrei então ás orações
jaculatorias, as quaes com o já dis­
sem os, substituem todas as outras
orações.
8 — O bservae, emfim, que as
pessoas obrigadas a ficar em casa,
a ter conta em crianças a assis­
tir a doentes, podem sanctificar
um dia sancto p or um a só m issa :
porque estão occupadas em obras
de justiça e de caridade. N ’estes
casos, a occupação, que é sancta,
vale o m esm o que uma longa
oração.

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- 43 -

\l
rjEL-A Ç Õ K j^ COM O P I^ O X lM O

As relações geraes que nos u


nem com o proxim o são ou de
justiça, ou de caridade, e encer­
ram p o r conseguinte os deveres
do coração, do espirito, dos en­
tretenim entos, das posses de cada
um e da sociedade. Do coração
na pureza dos affecto s; do espirito
na fuga dos juizos e suspeitas te­
merárias; dos entretenim entos para
evitar as palavras injuriosas e a
m aledicência: dos bens, para a
conveniente e bem ordenada dis­
tribuição das esm olas; e da socie­
dade para a tornar virtuosa e
amavel. T oquem os rapidam ente
todos esses pontos.

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COM QUE AMOU DEVEMOS AMAR

O PROXJMO

1 — E’ necessário am ar o pro-
ximo, porque foi creado por Deus
e destinado a p ossuil-o; de m odo
que o am or de Deus e o do pro-
ximo são, na phrase de S. Gre-
gorio o G rande, com o dous ram os
que procedem do m esm o tronco e
teem a m esma raiz.
2 — Devem os pois evitar em
n osso coração duas especies de
am or s o rd id o : o am or interesseiro
e o am or s e n s u a l; am bos tão op-
p o stos ao verdadeiro am or do pro-
xiino, com o a virtude o é ao pec­
cado e a sagrada Sião á infame
Babylonia.
3 — E ’ preciso evitar o am or
sensivel, que é aquelle com que
— 45 —

am am os o proxim o por causa dos


encantos do sem blante, da viva­
cidade do espirito, dos talentos;
n u m a palavra, pelo que lisongeia
os sentidos, a im aginação e a con-
cupiscencia.
4 '-— Este am or sensivel conduz
rapidam ente ao am or sensual. O
sabio João de Avila nota que o
quererm os m oderar-nos no am or
sensivel, e não passar além dos
bons limites, é com o se quizesse-
mos conservar pura a razão no
meio da loucura.
5 — Este am or apresenta-se-
nos prim eiram ente debaixo da ap-
parencia d ’um affecto innocente
e, talvez, até v irtu o so ; mas depois
em breve se transform a n ’um ve­
neno violento. E ’ sim ilhantc á
serpente, cujas escam as são bri­
lhantes e a lingua elegante e de­
licada, mas que baixo d ’estas
— 46 —

bellas apparencias tem esconcjido


o veneno mortal. E ’ com o o raio
que brilha aos olhos, mas no m es­
mo m om ento em que fuzila tam ­
bém fere e mata, Fugi pois da
intimidade com pessoas m undanas
e levianas e de sexo differente;
não tenhaes relações com ellas só
p or só, p o r causa do perigo que
lia em nossa excessiva condescen­
dência e más inclinações.
6 - Debaixo do nom e de pro-
ximo são com prehendidos todos
aquelles que ja entraram ou p o ­
dem entrar no go so da felicidade
celestial, que é a base d ’este amor,
do qual p o r conseguinte são ex­
cluídos os dem onios e os conde-
m nados.
7 — O s infiéis e os peccadores
devem ser com prehendidos n ’este
am or do proxim o, porque podem
converter-se e alcançar a salvação
}
i
eterna. Além disso, diz Santo A-
^ostinho, é necessário distinguir
* :u a s cousas no infiél e no pecca-
:o r : primeira, a natureza d ’elle
i :reada p o r Deus, e esta devem os
f am al-a; a segunda, o peccado que
i :• homem com m etteu, e este pec-
:a a o devem os ab o rrec el-o ; por
•sso David dizia que odiava os
máus com um odio perfeito. Per-
*•rto odio o d e r a m ilto s {\).Q uando
teremos, pois, um odio perfeito?
Q uando tiverm os horror ao pecca­
do e am arm os o peccador.
8 — E’, pois, necessário am ar
o proxim o em Deus, e este am or

I
deve ser constante; u n iv e r s a l e
fjficaz.
i .9 - 0 am or deve ser co nstan­
te, porque o fim para que am a­
mos é constante. Si o proxim o

(1) Ps. cxxxvm , 22.

i http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
— 48 - T

vos offendeu, não deixa por isso


de ser obra de Deus, destinada a
possuil-o, e com o tal não perdeu
o direito de ser p or vós am ado.
Podeis aborrecer o joio que cresce
n ’um terreno inculto, mas não o
terreno mesmo, o qual se fosse
bem cultivado produzia bom trigo.
10 — Todavia não está em nos­
sa mão o deixar de sentir ce'rta
repugnância para com nossos of-
fensores; porém um a cousa é sen­
tir, outra cousa é consentir : quan- j
do Deus nos m anda am ar os nos- »
sos inimigos e os que nos offende-
ram, é a parte superior do nosso
espirito e á vivacidade da nossa fé
que elle dirige esse m andam ento, f
e não ao nosso appetite sensiti- i
vo. ’
11 — Além disso este am or
deve ser u n iv e r s a l e portanto
assim ilhar-se ao orvalho bemfa-

i
zejo que cáe egualm ente sobre ás
-osas e sobre os espinhos ; sobre
-»s palacios dos ricos, com o sobre
a hum ilde cabana dos pobres. Se
da fé excluirm os um só artigo,
deixa de ser verdadeira f é ; o
m esm o acontece á caridade fra­
ternal, se d ’ ella excluirm os uma
só pessoa.
12 — Este am or, porém , ainda
ju e universal, admitte, em quanto
aos seus gráus, m aior ou m enor
intensidade, segundo as affeições
dictadas pela natureza, pela gra­
tidão e outros m otivos honestos.
E' por isso, diz S. Thom az, que
t>s laços do sangue, e os que e-
xistem entre os indivíduos de um
mesmo paiz, que receberam a m es­
ma educação, e q u e te e m inclina­
ções similhantes, tornam mais for­
te para com certas pessoas o amor,
cujo principio procede de Deus e
D irecção esp iritu al 4
n ’elle a c a b a ; e seg u ndo essas re­
lações estimam-se e am am -se mais
os parentes, os bemfeitores, as
pessoas sabias e virtuosas, iTuma
p a lv r a , aquelles que estão mais
proxim os a nós ou a Deus.
13 — Finalm ente o am or do
proxim o deve ser efficaz, isto é,
deve soccorrer quanto pode o nos­
so proxim o em suas necessidades.
O fogo (jne não q u e im a , diz São
G rcgorio, não é fo g o ; do m esm o
m odo é o a m o r: se elle não opéra
e não faz bem, quando pode, ao
proxim o necessitado, deixa de ser
am or.
14 - Não devem os recusar os
testem unhos com m uns da civili­
dade e da caridade nem aos nossos
inim igos nem aos que nos offen-
deram; antes devem os estar prom -
ptos a soccorrel-os de uma m a­
neira especial, q uando precisarem .
— 51 —

15 — Ainda que sejam prohi-


bidos o odio interior e a exces­
siva repugnância contra as p es­
soas más e as que nos offende-
ram, todavia a circumspecção
algumas vezes não o é ; antes é
n ’essa occasião o effeito de uma
prudência indispensável. Ha pes­
soas com quem se não pode viver
em paz, sem que se viva longe
d ’ellas. N ’este caso a distancia é
um acto de prudência e não de
inimizade. Quem ha ahi que não
fuja d ’um doente empestado e c o n ­
tagioso ? Ora iVeste caso não é o
odio que nos faz fugir do doente,
mas sim o medo da doença. A ca­
ridade leva-nos a amar nossos ir­
mãos e a fazer-lhes bem, mas não
a proteger os maus, nem a expor
a innocencia e a simplicidade dos
bons ás suas maldades e enganos.
Sêde simples como a pomba, diz
— 52 —

Jesus Cliristo, mas também sêde


prudentes como a serpente.
16 -T e n d e cuidado em que
uma occulta e subtil paixão vos
não apresente debaixo d ’uma pru­
dência rasoavel aquillo que talvez
proceda d ’um secreto rancor.

no s JUJZOS T E MERÁR I OS
E DAS SUSPEITAS

1 — Aquelle que condem nar


no seu interior o proximo, sem
que elle seja evidentemente cul­
pado, ultraja a seu irmão e of-
fende a Deus.
2 — Q uando um crime ou
um culpado era denunciado a A-
lexandre o Grande, tapava um
ouvido, d izen d o : « O /e m /o u m
ouvido ao a eeu sa d o r, e reservo
o outro p a r a o u v ir a defesa do
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'iccusarlo. » O proprio Deus a
quem tudo é conhecido, não quiz
condem nar Adão sem primeiro
ouvil-o e convencel-o da culpa.
3 — Uma acção pode ser con ­
siderada debaixo de mil aspectos
differentes, diz S. Francisco de
S ales; o homem de bem olha-a
pelo lado mais bello ; o mau, p o ­
rém, encara-a pelo lado mais
feio.
4 — Acautelae-vos de julgar
compaixão, porque esta desfigura
muitas vezes a verdade. Aquèlle
que olha por um vidro de côr, vê
todos os objectos da côr d ?esse
vidro; se o vidro é vermelho,
tudo lhe parece v e rm e lh o ; se é
amarello, tudo lhe parece ama-
rello. A paixão está para nós do
mesmo m odo que o vidro. Se al­
guma pessoa nos agrada, tudo lhe
louvamos e desc u lp a m o s; se nos
desagrada, tudo lhe condemna-
mos, ou interpretamos tudo de um
m odo desfavorável.
5 — Não vos deixeis arrastar
pelas apparencias. O sacerdote
Heli vê a Anna, que era uma
sancta mulher, e julga-a embria­
gada ; porém sua apparente em­
briaguez não era mais do que o
effeito do seu fervor ao seu Deus.
A rica e formosa Judith, en­
trando nas tendas dos soldados,
onde foi recebida com amor por
Holophernes, teria parecido uma
mulher mundana, e no entanto
não havia n ’aquelle tempo mu­
lher mais casta.
6 — E’ verdade que muitas
vezes ha juizos falsos, sem serem
temerários, e portanto alheios de
toda a culpa, por se fundarem em
motivos justos. Porém o melhor
é não nos occuparm os com o que
*— DD —

nos não diz respeito, e deixar a


Deus o julgal-o.
7 — E’ cousa difficillima que
um bom christão seja culpado de
iuizo temerário, isto é, que co n ­
dem ne o seu proximo com cer­
teza de juizo, sem motivos justos
para isso. Ordinariam ente'não são
senão suspeitas ou temores, c para
isso bastam motivos muito menos
fortes.
8 — A suspeita é permittida
quando tem por objecto o cuidado
dos seus proprios interesses. A-
quelle que receia formar suspeitas
não é um homen virtuoso, mas
imprudente e nescio. A caridade
christa prohibe a malicia dos p en­
samentos e não a vigilancia e cir-
cumspecção.
9 — A suspeita é tambem per­
mittida, e até algumas vezes d ’o-
brigação, principalmente nas pes­
— 5(3 —

soas que tem a seu cargo dirigir


o u t r a s : como são os paes a res­
peito de seus filhos, os am os a
respeito de seus cria d o s ; pois
n ’esse caso, trata-se de remediar
um mal que existe, ou de impe-
dil o quando haja motivos ra-
soaveis para o receiar.
10 —- Uma cousa é sup pôr um
mal como possivel, outra cousa é
suppol-o como real. Na primeira
supposição não ha o m enor pec-
cado. Encontraes n ’uma matta um
homem armado de espingarda, que
pode ser um c a ç a d o r ; suspeitando
que talver seja um ladrão, acaute-
lae-vos... Nisto não commetteis
peccado algum, pois suspeitaes que
o mal é possivel, sem todavia crer
que elle exista.
11 — E ’ necessário tambem não
confundirmos a desconfiança com
a suspeita. A desconfiança ou ter­
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ror é um estado passivo, que não
depende de nossa vontade ; a sus­
peita, pelo contrario, é um acto
voluntário da nossa a l m a . .
12 — A suspeita nasce mui­
tas vezes de um temperamento ti-
mido e propenso á tristeza. Q u a n ­
do não ha intervenção do enten­
dimento que distingue e da v on ­
tade que approva, a suspeita, ain­
da a que não tem fundamento al­
gum, não é peccado. Tenham os
sempre deante dos olhos o gran­
de principio que Santo Agostinho
recomenda muitas vezes : « 0 m al,
([He não é conhecido nem é vo­
lu n tá rio , d e ix a de ser u m m a l,
isto é, deixa, de ser peccado »

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I)A M A L E D I O E N U i A E D A S P A L A V R A S
INJURIOSAS

1 — Ha muitas escólas no
m undò onde se ensina a fallar
bem ; não ha porém nehum a o n ­
de se ensine a calar-se bem, a
não ser a de Jesus Christo. Se
n ’esta escóla apprendeis a calar-
vos, apprendereis tambem a fallar
bem, isto é, a fallar segundo a
caridade para com o proximo, e
portanto evitar primeiro que tu­
do a murmuração.
2 — A murmuração consiste :
1. em attribuir ao proximo o
mal que n ’elle não ex is te ; 2. em
exaggerar o mal que elle commet-
t e u , 3. em manifestar o mal que
é occulto, sem motivo algum de
necessidade ou de utilidade; 4.

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em interpretar o bem maliciosa­
mente ; 5. em negar, occultar ou
diminuir o louvor que o proximo
merece.
3 — Acostumae-vos a não fal­
ar do procedimento dos outros
nas cousas que vos não dizem res­
peito. Tem os muito que fazer em
nós m esmo e no nosso interior,
sem que nos seja preciso impor­
tar-nos com o que diz respeito
aos outros. E’ isto um excellente
remedio contra a maledicência.
4 — Q uando S. Pedro teve
a curiosidade de perguntar a Je­
sus Christo o que aconteceria a
João, Nosso Senhor deu-lhe esta
celebre resposta: «Q uid u d te ?
tu me sequer e. — Que te im p o r­
ta a ti ? Seque-m e (1).

(U S. .InÃo. cnp. 2!
— 60 —

Porque perguntas cousas com as


quaes te não deves importar ? Teu
dever é seguir-me, e nada mais.
O mesmo deveis dizer comvosco,
quando a curiosidade vos excita
a examinar' de criticar as acções
dos outros.
5 — Não sejaes, todavia, co­
mo essas pessoas fracas que, com
medo de cairem na murmuração,
querem fazer a apologia de todos
os crimes e culpas. Q u an do as fal­
tas ou culpas são conhecidas,
ou ainda quando são occultas, mas
nocivas ás almassimpleseinnocen-
tes é necessário desmascaral-as,;
porisso S. Francisco de Sales dizia:
« G rita r contra o lobo, é ser cari-
tativo p a r a com as ovelhas.» A-
quelle que vê o ladrão roubar o
seu proximo, tem obrigação de gri­
tar contra o ladrão, e avisar a-
quelle que é roubado, para que se
— 0)1 —

possa defender. Com maior razão


devemos fazer o mesmo áquelle.s
que procuram roubar furtivamen­
te a innocencia, corrom pendo os
costumes e a doutrina.
6 — Peccam egualmente, tan­
to o que detráe com malicia, co­
mo o que escuta com prazer a
murmuração : entre o primeiro e
o segundo não ha outra differen
ça, diz S. Bernado, senão e s t a :
•• A qu elle </u.e m u r m u r a m a licio ­
sam ente tem o dem onio n a lin -
íiu a ; e aquelle que ou ve com
prazer a m u rm u ra ç ã o tem o de­
m onio nos ouvidos. »
7 - Eu disse : aquelle que ou­
ve com p ra zer a m u rm u ra ç ã o ;
porque se a ouvistes e não a ap-
provais, não consentis e portanto
não peccaes.
8 Se o mal que o maldizen-
te imputa ao proximo é falso, ne-
— 62 —

g a e - o ; se elle é occulto ou exag-


gerado, procurae habilmente des­
viar a conversação para outro ob-
jecto, ou antes tomae uma seve­
ra gravidade ou um significativo
silencio, conforme as circumstan-
cias do tempo, do logar e das
pessoas.
9 - Além disso o mal póde
ser bem conhecido e real, ainda
que d ’elle não tenhaes o menor co­
nhecimento. N ’este caso, aquelle
que falia d ’elle não pecca, e aquel­
le que ouve não é obrigado a fa­
zer a fraternal correcção.
De mais, a não ser que tenhaes
um perfeito conhecimento do con­
trario, não deveis formar má opi­
nião do proximo, nem suppôr que
aquillo que diz é falso ou está re­
velando o que é segredo.
10 — Não som os obrigados a
reprehender o detractor, quando
— ü3 —

não temos uma esperança funda­


da da sua emenda. A correcção
é um remedio de que se lança
mão só quando ha esperança de
que póde ser util ao doente.
11 — O s sarcasmos, as inju­
rias, os desprezos são tambem
um veneno mortal para a carida­
de : é por isso que o Espirito San-
:o disse: « Tende cu id a d o que a
rossa lín g u a não c/t ia no pecca­
do, com receio de que a vossa
ferid a seja, in cu rá vel. (I) ».
12 - - Aquelle que fere a re­
putação ou a honra, é mais cul­
pado ainda que aquelle que ata-
:a a f o r tu n a ; nem alcançará de
Deus o perdão, se elle, podendo,
não reparar o dam no que fez.
13 - - Vigiae pois sobre a vos­
sa lingua, que S. Thiago chama

1 E cclc. XXVII, 30

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— w —

uni, m iw d o de in u p iid n d e s — U-
iiiverxitftH iiii([u ita li.s (l): não vos
esqueçaes d ’este bello pensam en­
to de S. Bazilio : Deus não pôz
aos nossos ouvidos nenhum a defe-
za, para estarmos prom ptos a ou- -
vir: deu aos olhos uma defeza
por meio das p a lp e b r a s ; quiz p o ­
rém que a lingua fosse defendida
por duas fortes barreiras, os lá­
bios e os dentes, a fim de que so u ­
béssemos o grande dever que s o ­
bre nós pesa para que a guarde- »
mos.
14 — Entretanto, notae que a
virtude não consiste em não fal-
lar, porque então os m udos seriam
de todos os hom ens os mais vir­
tu o sos; consiste sim em fallar c o ­
mo é necessário, isto é, nos loga-
res e circumstancias em que é con-

^1' S, Tlriago, III, (5


— 65 —

veniente fallar e pelo m odo como


se deve fallar.
15 — As conversações sobre
as cousas indifferentes servem pa­
ra entreter uma honesta sociabi­
lidade, e podem por conseguinte
ser referidas a Deus. As palavras
^ciosas, que o Evangelho conde-
mna, não pertencem a esta classe.

DA ESMOLA

1 — Porque razão Deus, que


é o Pae commum e Bemfeitor de
todos os homens, faz nascer uns
na pobreza e outros na opulência ?
Porque, diz Sancto Agostinho, uma
vez estabelecida a ordem actual
das cousas, esta desegualdade é
necessaria para a sua conserva­
ção. Effectivamente, se não h ou­
vesse pobres, não haveria nem
trabalho,nem industria, nem obe-
Direcçao espiritual 5
— titã —

diencia, nem , m a n d o ; d ’onde se


conclue, que a opulência e a
pobreza são dous laços que unem
o genero humano.
2 — Mas o Pae celeste não es­
queceu por isso seus filhos pobres,
que são obejecto das suas mais
caras complacencias, pois que el-
le mesmo quiz que seu filho na­
scesse, vivesse e morresse pobre.
3 —No mesmo m odo que Deus
remedeia a seccura da terra com
o orvalho e abundantes chuvas,
tambcm quer que o supérfluo dos
ricos remedeie a indigencia dos
pobres. Aquelle que reparte com
os pobres o supérfluo, não lhe faz
um dom ou favor, mais cumpre
um dever imposto por esse Deus,
que é o pae previdente e o senhor
absoluto dos pobres.
4 — Ha duas qualidades de su­
pérfluo : uma diz respeito ao que

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
— 67 —

nos é necessário para viver, ou­


tra diz respeito ás exigencias do
nosso estado; a primeira devemos
empregal-a nas necessidades ex­
tremas do proximo, a segunda nas
suas ordinarias necessidades e com
maior razão nas suas graves pre-'
cisões.
5 — Cada qual tem o direito
de viver com a decencia corres­
pondente ao seu e s t a d o ; mas es­
ta conveniente decencia não for­
ma um todo indivisível, pois ainda
que a este estado se accrescentem
muitas cousas, d’elle não se sahe,
assim como ainda que d 7ali se ti­
rem muitas outras, não nos avil­
tamos.
6 — D ’aqui resulta, que não
se póde estabelecer uma regra
uniforme e invariavel para deter­
minar na pratica o que é sujoer-
ílu o ; pojs isso depende de muitas
— 68 —

circumstancias reunidas, e é por


esta razão que, segundo S. Tho-
maz, em taes matérias devemos se­
guir a opinião de uma pessôa sábia
e prudente.
7 - - E ’ certo, algumas vezes,
que o que não é necessário ao
sustento da vida e ás exigencias
do nosso estado, deve ser consi­
derado como su p é rflu o : porém
devemos fazer isto, quando tenha­
mos examinado o nosso estado se­
gundo as regras da moderação
christã, da qual a nenhum fiel é
licito apartar-se.
8 — Muitos ricos ha que não
conhecem nada de supérfluo no
seu estado, porque se entregam
a um luxo, que devora todas as
suas riquezas. Aquelle que qui-
zer viver como o rico avarento
de que falia o Evangelho, não a-
chará nunca nem pão nem ao me­
— 69 —

nos uma migalha para dar a


Lazaro.
Q — Estes ricos tornam inutil
o grande preceito da esmola, e são
culpados d ’um grave roubo, sacri­
ficando á sua cega e sórdida am ­
bição o patrimonio destinado por
Deus a sustentar os pobres. Ter-
tuliano chama-lhes ricos predesti­
nados ao inferno, para differença
dos ricos caritativos, que são pre­
destinados á gloria. O caminho
do céo para o pobre é o soffri-
m ento; o caminho do céo para o
rico é a esmola
10 — O deixar uma quantia
razoavel para as necessidades or­
dinárias e extraordinarias da vi­
da não é am ontoar supérfluo; mas
sim proceder conforme manda a
prudência. Assim como toda a co­
mida é temperada com sal, assim
toda a virtude deve ser tempe­
rada com a prudência e precaução.
11 — O que acabamos de di­
zer applica-se sobre tudo aos paes,
que devem poupar tudo que é ne­
cessário para bem educar seus fi­
lhos, e dar ás suas filhas um dote
segundo o seu estado e meios.
Fazer isto, não é am ontoar supér­
fluo ; mas sim prover ao necessá­
rio ; pois os paes ou aquelles que
os substituem são obrigados, por
dever de justiça, a dar a seus fi­
lhos essa educação e dote.
12 — Mas para ser previden­
te para com seus filhos não é ne­
cessário ser cruel para com os p o ­
bres. De todas as heranças que
podeis deixar a vossos filhos, a
mais bella é o exercício da cari­
dade. A familia do homem carita-
tivo será sempre abençoada por
aquelle Deus, que manda dar es­
mola
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13 — O dever da esmola não
obriga a renunciar aquillo que
o nosso estado ou condição exige.
A virtude, como já dissemos no
principio deste livro com Santo
Agostinho, não é outra cousa se­
não a o r d e m : logo, aquillo que
não é bem ordenado não é virtude.
14 — Ha certas pessoas que pa­
ra darem mais abundantes esm o­
las faltam ao reconhecimento e á
generosidade para com aquelles
de quem receberam serviços ou
fa v o re s : isto é um erro. As vir­
tudes respeitam-se mutuamente e
dão-se as m ã o s ; nenhum a exige
o que é devido a outra.
15 — Não cuideis que tendes
obrigação de soccorer todos os
necessitados; isso não é possivel.
Q uando tiverdes distribuído um
numero de esmolas, que, segundo
o juizo d ’uma pessoa prudente, é
— 72 -

proporcionado aos vossos meios,


tereis satisfeito ao vosso dever
para com Deus e para com o pro­
ximo, e deveis viver socegados.
16 — E ’ necessário usar de
prudência na repartição das es­
molas. E ’ impossível imaginarquan-
tas pessoas fingem necessidade ou
exaggeram, para serem soccorri-
das. C um pre pois evitar a dema­
siada credulidade e ser prudente
no exercício d ’esta obra de mise-
cordia, para que a esmola cáia
na mão do que é verdadeiramen­
te necessitado, e não na d ’aquelle
que se finge pobre, como aconte­
ce muitas vezes. Se todas as es­
molas fossem bem repartidas, não
haveria tantos verdadeiramente
necessitados. Muitas pessoas para
não errarem em matéria tão dif-
ficil, confiam a distribuição das
esmolas, em todo ou em parte, ao

i
seu parocho ou director, porque
estes em razão do seu ministério
são ordinariamente os que estão
mais no caso de saber onde está
a verdadeira miséria.
17 — Lembrai-vos do gran­
de conselho que dão os Sanctos:
E ’ m ister que a quelle que tem
m uito dê m u i t o ; que o que tem
pouco dê pouco; e que aquelle
que uadci tem p o ssu a ao m enos
o desejo de d a r ; pois deante de
Deus a boa vontade d ’aquelle que
dá ou deseja dar tem mais m ere­
cimento que a mesmadadiva. O pe­
queno obolo da viuva, de que nos
falia o Evangelho, foi mais agra-
davel a Deus que as pom posas of-
fertas feitas pelos ricos faustosos.
18 — Amae tambem a esm o­
la espiritual. Um prudente conse­
lho, uma virtuosa exhortação, uma
consolação salutar, uma visita a
um enfermo, a protecção dada a
uma viuva ou a um orphão, a
uma pessoa abandonada ou per­
seguida, são esmolas tanto mais
meritórias deante de Deus, quanto
ordinariamente são menos brilhan­
tes aos olhos dos homens.

DAS RELAÇÕES EM GERAL

1 — O homem collocado no
m undo não póde por si só satisfa­
zer ás suas necessidades mais es-
senciaes. Precisa do auxilio dosou-
tros para viver e desenvolver-se ;
prova assás clara que o homem
é pela sua natureza destinado á
sociedade.
2 — Ha na sociedade diver­
sas especies de relações, cada uma
das quaes impõe diversos deveres.
Umas são as relações geraes; ou-
— 75 —

:ras as de familia; outras as re­


ações particulares. C ham am os ás
orimeiras relações gera es, porque
?e extendem a todos os hom ens
com quem podem os tratar. A’s se­
gundas chamamos relações de fa -
»ilia , porque ellas se limitam á
vida domestica. A’s terceiras cha­
mamos relações p a rtic u la re s, por­
que estas constituem a amizade, a
qual não pod eesten d er-seag ra n d e
numero de pessoas.
3 — Nas relações geraes é
preciso respeitarmos os nossos su­
periores; sermos doceis para com
os eguaes e bondosos^para com
os inferiores.
4 — Na conversação, cujo fim
é recrearmo-nos honestamente, de­
ve cada um contribuir a tornal-
a agradavel: do contrario não será
uma recreação, mas uma cousa en­
fadonha.
5 — Evitae pois o fallar dem a­
siadamente, assim como um silen­
cio insupportavel e uma absten­
ção excessiva. O fallar demasia­
damente dá idéa d ’um ap essoa pre-
sumpçosa, ou leviana, ou impru­
dente. O não fallar nada ou p o u ­
co de mais, dá a entender que se
não gosta da com panhia d ’aquel-
les com quem estamos.
6 — Os maus gracejos e o
genio zom bador são o veneno da
conversação. São condem nados pe­
la moral christã, pelas conveniên­
cias, pela honestidade e até mes­
mo pela civilidade. Ha grande nu­
mero de pessoas que querem pas­
sar por gente espirituosa, e não
sabem fallar senão de cousas in­
decentes, e toda a sua espirituo-
sidade não se limita senão á lei
dos sentidos.

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— 77 -

7 — O medico para co n h e­
cer o estado d ’um doente exami­
na-lhe a lingua. A mesma regra
devemos observar para conhecer
a qualidade da pessoa com quem
:emos relações. Aquelle que tiver
a lingua im munda e obscena nos
discursos, não póde ter o coração
puro nos affectos. S. Thiago diz
que a lingua d ’essas pessoas es-
;á abrazada do fogo do inferno;
e David chama-lhe sepulchro fé­
tido que envenena e corrom pe
a pureza do ar que aspiramos-
Fugi d ’esses impuros falladores
com mais cuidado ainda que dos
empestados; porque a perda da
alma é mais terrivel que a do
corpo.
Procurae na conversação a-
gradar e não offender. Evitae,
pois, o caracter odioso e insup-
portavel de d o m in a d o r, de cri­
tico, de chocar retro, de vaidoso
e de in co n sta n te.
D o m in a d o r é aquelle que toma
um tom imponente, e pretende
que todos se calem apenas elle
comece a fallar.
Critico é aquelle que se oc-
cupa em vir tuperar as acções dos
que estão presentes e ausentes,
e de tudo faz questão.
Chocarreiro é aquelle que pre­
tende fazer rir a todos á custa
d ’um, ou que abusa da simplici­
dade d ’outro.
Vaidoso é o que falia sem ces­
sar no seu talento, nas suas pro­
ezas imaginarias e nos seus il-
lustres antepassados.
In c o n sta n te é aquelle cujo hu ­
mor ou genio varia mais que os
ventos do mar; ora se mostra
alegre e prasenteiro, ora triste
e aspero. As pessoas deste tem-
— I f —

"'eramento (cujo numero é gran­


de) tornam a conversação inci—
il e fastidiosa.
S Fazer aos outros o que
iesejamos que nos façam, e não
*azer-lhes o que nos desagradaria
nol-o fizessem, eis ahi o laço
de todas as relações e o m otor
de toda a conversação.

RELAÇÕES DE FAMÍLIA

1 — As relações de fatnilia
são mais importantes ainda que
as relações sociaes em geral, po r­
que nos tocam mais de perto. E ’
j triste termos a mesma casa, os
mesmos interesses, e não termos
em nossos corações os mesmos
sentimentos. No entanto encon­
tram-se muitas pessoas affaveis
e condescendentes em casa dos
outros; ásperos, porém, e insup-
portaveis no seio de sua familia.
2 — Evitae um defeito tão
vil. A familia, ainda a mais rica,
seria desgraçada se no seio d ’ella
não reinasse uma paz reciproca :
sem esta paz não pode haver nem
ordem domestica, nem estima dos
homens, nem benção de Deus.
3 — E ’ preciso pois em pre­
gar todos os cuidados em conser­
var esta paz se ella existe, ou
em alcançal-a se acaso não existe.
O s meios poderosos e seguros p a­
ra alcançar tão importante fim
são o a m o r, a co m p a ixã o , a vi­
g ilâ n c ia e a ordem .
4 — Amae, diz Santo A gos­
tinho, e depois fazei o que qui-
zerdes no seio da vossa familia,
porque o que vos dictar o amor
será sempre uma cousa amavel.
Se amardes os outros, sereis por
- 81 -

elles amados, e com este amor


reciproco reinará a harmonia nas
affeições e nas obras.
5 — Mas na familia ainda a
mais santa haverá defeitos, por­
que ella é a reunião de homens
e não d ’Anjos; por isso é preciso
soffrer ui\s aos outros, aliás qual­
quer palhinha tornar-se-á uma
trave, e a mais leve aragem um
furacão violento.
Os outros que supportem os
vossos defeitos, e vós supportae
os d ’elles. Um provérbio antigo
diz: A q u elle que desejar viver
cm paz, ve ja , ouça' e cale.
6 — Evitae toda a sorte de
contendas e pretenções importu­
nas. Taes cousas são reprehen-
siveis até para com os estranhos,
quanto mais para com vossa fa­
milia !

l)ií'et‘{'õo e spiritu a l
Não vos digo que renuncieis
vosso direito, não; digo-vos so­
mente que não susciteis preten-
ções arbitrarias que percam a
paz, bem tam anho que não ha
preço que o possa pagar.
7 — Fugi das pessoas que
vos contam as palavras e acções
de vossa familia, e que podem
provocar a vossa indignação e
dar logar a contendas.
Aquelle que é capaz de contar
os defeitos alheios, sem que o fa­
ça por obrigação de consciência,
é tambem capaz de os inventar.
E com effeito se examinardes
com cuidado as cousas que se
vos contam, achareis que ou são
inteiramente falsas ou alteradas
a ponto de terem um aspecto
completamente differente.
8 — Muitas vezes acontece
que os criados que servem diffe-

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
— 83 -

rentes amos, na mesma familia*


tenham entre si secretas rivali­
dades, e procurem por uma cega
e 'vil paixão fazer acreditar as
suas suspeitas ou aggravar o mal
que elles conhecem. Não sejaes
faceis em acreditar e mormente
não se*jaes nunca prom ptos a con-
demnar a outrem.
Os criminosos públicos nunca
são condem nados sem previamen­
te terem sido processados.
9 — O terceiro meio de con­
servar a paz na familia, é a v i­
g ilâ n c ia dos amos sobre os cri­
ados, dos paes sobre os filhos,
dos maridos para com suas mu­
lheres.
10 — O s amos vélem sobre
o procedimento christão de seus
criados; e se lhe acharem cos­
tumes viciosos, ou que tenham
caracter inquieto e altercador, os

l
— 84 —

despeçam im m ediatam ente; aliás


haverá mil contendas na familia,
pouco cuidado e muitas infideli­
dades nas despezas e administra­
ção dos bens, perversão nos fi­
lhos...
Q uantas vezes, por causa da
maldade d ’um só criado, temos
visto familias respeitáveis chegar-
rem a ponto de se darem em
espectáculo aos outros habitantes
da casa, servindo de comedia ás
pessoas de f ó r a ! Na escolha de
vossos criados contentae-vos com
uma habilidade menor, contanto
que tenham maior piedade e p ru ­
dência. Um mau criado attráe os
flagellos de Deus ainda sobre a
casa d ’um bom amo.
11 — Amae os criados bons
e capazes, e soccorrei-os nas su­
as necessidades; mas não lhe deis
confiança, a qual pouco a pouco
os tornará altivos, menos doceis
ás vossas ordens, e arrogantes
uns para com os outros; fazendo-
se, d ’este modo, mal aos criados
e aos amos. Pessoas sem educa­
ção facilmente abusam da condes­
cendência e cordialidade de seus
superiores.
12 — Os paes devem vigiar so ­
bre seus f ilh o s ; devem instruil-
os nos deveres da religião, cor-
rigil-os em suas faltas e condu-
zil-os á virtude por meio do seu
exemplo. O s filhos mal educados
são o tormento dos paes e por­
tanto a raiz das amarguras d ’uma
familia.
13 — E ’ necessário não ser
demasiadamente severo para com
os filhos, com receio de lhes aca-
brunhar o espirito e irrital-os
sem motivo; mas é necessário tam­
bém não ser demasiadamente brim-
— 80 -

do e condescendente, com medo


de os tornar audaciosos e inde­
pendentes.
Heli foi condem nado por Deus
por ter sido demasiadamente fraco
em corrigir os excessos de seus
filhos.
14— Reprehendei com soberana
vigilancia os defeitos de vossos
filhos ainda creancinhas. O rd in a­
riamente os paes desprezam fa-
zel-o, dizendo que isto é effeito
d’uma inclinação natural e d ’uma
idade que não está madura; mas
Tertuliano affirma com acerto que
são germens do peccado, que pro­
gnosticam o futuro. Os espinhos
quando começam a brotar não pi­
cam, as serpentes quando nascem
não teem veneno; mas pouco a
po uco os espinhos se tornam em
dardos afiados, e as serpentes são
mais venenosas á medida que ei>
— 87 -

velhecem. Os paes demasiadamen­


te condescendentes para com seus
filhos ainda infantes, são maiores
inimigos de si mesmos que dos fi­
lhos. Salomão diz que semelhantes
crianças tornam-se leões ferozes
contra aquelles mesmos de quem
receberam a vida e os bens. Sof-
frei generosamente vêr os filhos
chorarem nos seus primeiros an-
nos, para que reprimidos nas suas
viciosas inclinações não vos obri­
guem a derramar lagrimas duran­
te toda a vossa vida.
15 — ^ssim como as folhas,
as flôres e os fructos estão encer­
rados no grãosinho da semente,
assim tambem os germens das vir­
tudes e dos vicios estão encerrados
nas criancinhas. T odo o objecto
pois da educação consiste em cul­
tivar os primeiros e arrancar os
segundos.

1
16 — Conservae constante e
prudentem enteestaauctoridade pa­
terna e respeitável, que a natureza
e o preceito de Deus vos deram so­
bre vossos filhos; informae-vos das
companhias e das casas que elles
freqüentam, dos livros que leem,
e das occupações ás quaes se en­
tregam, para lhes prohibir o que
é reprehensivel e indicar-lhes o
que é conveniente e virtuoso.
17 — Administrae com ecojno-
mia os vossos bens, pois que São
Paulo diz que os paes devem
enthesourar (isto é fazer econo­
mias) para seus filhos, a fim de
que estes não se vejam na neces­
sidade de descer da sua posição
ou gerarchia, não pela malicia de
seus inimigos, mas pelo .desleixo
e excessivo luxo de seus paes.
18 - Não poupeis porém des-
pezas, quando se trata de dar uma
— 89 -

boa educação a vossos filhos, pois


é a mais rica herança que lhes
nodereis deixar. Mas quando fallo
em boa educação, entende-se a-
quella que faz os meninos pie­
dosos para com Deus, bemfazejos
nara com o proximo, castos, es-
:udiosos, insíruidos, modestos, ge­
nerosos e verdadeiros philoso-
phos, como o deve ser um bom
chritão e um virtuoso cidadão.
19 — Faço esta explicação,
porque muitos pais chamam boa
educação o ensinar aos filhos a
esgrima, a dança, as maneiras
d’uma sociedade escolhida, algum
novo systema philosophico; mais
proprio para seduzir do que para
esclarecer o espirito, e alguma
viagem em paizes estrageiros.
Estas viagens sendo feitas m u­
nia idade demasiadamente nova,
só servem para visitar os theatros,
aprender o jogo, travar relações
com os cortezãos e incrédulos; n ’u-
ma palavra, a accrescentar aos vi-
cios nativos da patria os dos outros
paizes, como ordinariamente ac o n ­
tece aos nossos jovens viajantes.
20 — Não tenho por mal que
a intelligencia de vossos filhos
seja cultivada com as bellas-artes,
se o vosso estado o permittir;
porém o que digo é que elles
devem procurar primeiro que tu­
do o ornamento da alma, e por­
tanto o conhecimento e a pratica
dos sublimes deveres do homem,
do cidadão, do christão. -
D ’outro m odo seriam nobres tal­
vez pelo merito de seus avós, mas
ignóbeis pela baixeza do seu pro­
cedimento. Além d ’isso de nenhu­
ma utilidade seriam os talentos,
se não forem acom panhados de
honestidade.
As maiores desgraças que a
íamilia, a patria e o estado teem
soffrido, partiram de homens de
grande genio, mas dTim coração
depravado.
21 — Finalmente, vigiem os ma­
ridos sobre suas mulheres, affas-
:ando-lhes essas relações familia­
res que se chamam g a la n teria , a
qual é o maior inimigo da paz
domestica, porque dá origem na
mulher a -affeições illicitas; fal-a
descuidar-se dos filhos; sendo o
seu píincipal cuidado agradar ao
cortezão que a lisongeia.
22 — O matrimonio, diz S. Pau­
lo, é a imagem da união de Je­
sus Christo com a Egreja; não
deve pois ser profanado por af-
ieição alguma que não seja ho­
nesta e conjugal.
23 — Tem obrigação o marido
de vigiar sobre os primeiros pas­
sos d ’essas affeições estranhas, por
que se a cadeia se chega a formar,
é mui difficil depois quebral-a, ou
então n ão se poderá fazel-o a não
ser com grande estrondo.
Assim como é reprehensivel nos
maridos um ciume desarrasoado,
assim tambem é reprehensivel um
tal descuido em matéria tão im­
portante.
24 — O marido deve procu­
rar agradar só a sua mulher, e
ter cuidado em pôl-a ao abrigo
de qualquer inconveniência.
25 — Não confundam os estas
cortezias e excessivas attenções,
que são prohibidas, com os res­
peitos a que a mulher tem direito.
26 — O marido é n ’uma fa­
mília o superior e o chefe, e por
conseguinte tambem o é da sua
mulher; mas toda aucforidade tem
limites.

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- 93 —

A mulher tem deveres a cum ­


prir para com o marido; o marido
oara com a mulher. Um marido
orudente e rasoavel deve procu-
_ar tudo o que é conveniente á
nosição de sua mulher.
27 — Devem os casados evitar
ns palavras asperas e am eaçado­
ras. Eva, a primeira mulher, não
*'oi formada da cabeça de Adão,
observa S. Thomaz, para que se
visse que a mulher não deve g o ­
vernar o homem; mas tambem
não foi formada dos pés, para que
soubesse que o homem não a •
deve tratar com despreso: foi
sim formada d ’uma costella de
Adão, isto é, da parte mais pró­
xima do coração, para nos dar a
entender as relações d ’affeição
íntima e cordial que devem exis­
tir entre o marido e a mulher,
— 94 -

28 — Deve o marido ter á


sua esposa uma doçura e conde-
scendecia virtuosa; e a mulher
deve ser obediente e amavel ao
seu esposo; d ’esta sorte reinará
na familia a harmonia dos senti­
mentos.
29 — Deve finalmente o pae
de familia dar um regulamento
que marque as horas de comida,
de occupações, de conversação;
o dinheiro que se deve gastar, e
todas as outras cousas que dizem
respeito aos negocios da casa. Sem
regulamento não ha ordem, e sem
ordem é impossível manter por
muito tempo a paz domestica, que
todos tão ardentemente desejam,
mas que mui poucos querem com ­
prar com os sacrifícios que ella
exige.

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— 95 —

DAS RELAÇÕES PARTICULARES


OU DA AMTZADE

1 — «Quem achou u m vcrd a -


leiro am igo, achou u m rico thc-
< o u h o , diz o Espirito Santo. Os
Tiesmos sabios do paganismo, ci­
a d o s e seguidos po r S. Thomaz,
ensinam que para gosar da pouca
■elicidade que se póde alcançar
•reste mundo, é preciso ter um
verdadeiro am igo; o- qual seja
Aara nós um conselheiro, um con­
solador, um bemfeitor, e por assim
dizer umá só pessoa comnosco. A
amizade lhe faz supportar com
agrado todos os trabalhos, e até
sente mais prazer em procurar o
aem para o seu amigo do que este
sente em recebel-o
2 — Mas quanto mais p re­
ciosa é a amisade, tanto ella é
— 06 —

mais rara. Em nossos dias ab u ­


sa-se de uma maneira singular
de duas p a lav ras: a de ph ilo so -
pho e a de am igo. C ham a-sep h ilo -
no)jho áquelle que é extravagante
no seu procedimento, incivil nas
suas acções, incrédulo nas suas
maximas, e estouvado no seu m o­
do de andar. Cham a-se am igo á-
quelle que foi companheiro de me­
sa, de passeio, dos saráus e do
theatro.
3 — E’ muitissimo mais facil
achar um homem probo e carita-
tivo, que um amigo. T odo o ami­
go deve ser homem de bem ; mas
nem todo o homem de bem é
um amigo.
4 — A verdadeira amizade
exige (além d ’outras condições,
que por brevidade omittimos ) :
1. costumes irreprehensiveis ; 2. in­
tenções honestas ; 3. relações cir-
— 97 -

cumspectas. Com estas condições


a amizade poderá ser virtuosa,
| até entre um homem e uma m u­
lher; porque Deus, creador e pae
| commum, não collocou em estado
de reciproca antipathia uma me-
:ade do genero hum ano contra
outra m e ta d e ; aliás estaria em
contradição comsigo mesmo.
5 — A primeira condição pa-
~a que a amizade seja sincera, é
a pureza de coatu-men. A amizade,
diz S. Jeronymo, estabelece-se en­
tre pessoas que já são similhantes
entre si, ou as torna taes ; por
isso não podem os ter relações com
um impio por muito tempo, sem
que participem osdesua impiedade.
Esta doutrina encontra-se n ’um
provérbio dos sabios do paganis­
mo : D ise-m e q u a l é o teu a m ig o ,
eu te d irei quem tu es. Pode­
mos sem receio ajuizar do caracter
D irecção e s p ir itu a l 7
— 98 —

d ’um hom em pelo caracter do seu


amigo.
6 — Um falso amigo, similhan-
te a um homem perverso, é mais
p erigoso que um fabricador de
m oeda falsa : este faz mal aos vos­
sos bens de fortuna, aquelle ex­
põe-vos a mil desgraças em tudo
quanto vos diz respeito. O que
en contra um falso amigo, cáe na
m aior desgraça, tanto mais formi­
dável q uanto é por nós m enos
conheciada. Um sabio da antigui­
dade costum ava dizer -.Dos m eus
in im ig o s defendo-m e eu m esm o
porém dos fa lso s a m igos só Deus
m e póde defender. » Aquelles
pois, cujos costum es forem disso-
lutos aquelle que vos dér maús
conselhos ou que applauda o que
é reprehensivel e vicioso, não é
vosso amigo, é um traidor. No
entanto quantas pessoas ha que
— 99 —

consideram com o seus am igos h o ­


mens sem religião, sem prudência,
sem caracter! $ão infelizes, por-
ju e estão ainda mais expostos aos
perigos do que o estão os mari-
oheiros no meio das tem pestades.
7 — N ão basta porém que os
im ígos tenham costum es puros,
ievem ter além d ’isso u m fim
‘mesto, isto é, devem am ar-se
~ão por um vil interesse nem tão
">ouco p o r um attractivo sensual,
mas sim pela estim a de vêrem em
ambos a virtude, a cordialidade
e a conform idade d ’inclinações.
8 - - A m aior parte dos ricos
e grandes são rodeados de pes­
soas venaes as quaes falsam ente
se intitulam seus am igos, porque
só o são das suas mesas, da sua
riqueza e p ro te c ç ã o ; mas nem
d’istose apercebem , porque a m oe­
da falsa brilha mais que a verda­
— 100 —

deira: assim em quanto dura a


prosperidade, dura a adulação. O
m esm o Boecio, se bem que pro­
fundo e esclarecido philosopho, só
conheceu os seus indignos adula­
dores quando caiu na adversidade.
Do fundo da prisão, onde gemia
depois de ter perdido os favores
do rei, escrevia com m agoas as
seguintes p a la v ra s ; « A gora co­
nheço os falsos a m ig o s ; amavam
o consul, e não a B o e c io ; eram
os am igos da m inha felicidade,
a qual lhes era proveitosa, e não
da m inha p e s s o a .»
9 — A am izade virtuosa exclue
tam bem essa perigosa sensibilida­
de que produz o attractivo sedu-
ctor dos sentidos, e da qual já falía­
m os, qu an d o se iraXoudamaneirci
p e la q u a l d eviam os a m a r o p r o x i­
mo. Taes am izades sensiveis são,
na excellente expressão de Sidonio
— 101 —

Apolinario, com o as flôres, as


quaes se estimam enquanto frescas
t exhalando arom as, m as que, ape-
-a s m urcham , logo se lançam fóra.
10 — A ultima condição d ’um a
verdadeira am izade é a cicum -
'pecção que se deve em pregar nas
-elações com os am igos. As liber­
dades prohibidas, os gracejos des­
concertados, as confidencias illi-
citas, são signaes d ’um a alma sen­
sual e inimiga, e tão o p p o sta á ver­
dadeira amizade, com o a escurida-
de da noute o é á claridade do dia.
11 — Para evitar tan to s peri­
gos e inconvenientes, antes de esco-
Iherdes definitivam ente um amigo,
em pregae o stresm eio s que o g ran ­
de O rador R om ano indica e que
Santo A gostinho approva: 1. E xa-
minae se a pessoatem ar qualidades
que a verdadeira am izade exige. 2.
Submettêi-a á prova dos factos, es­
- 102 —

pecialm ente áquelles que dizem res-


peito ao s seus interesses. 3. D epois
d ’isto podeis escolhel-apara vosso
am igo, mas ficae sem pre na persu a­
são de que um verdadeiro amigo
é a cousa mais rara d ’este m undo,
e que aquelles que se vangloriam
de o ter facilmente achado, enga­
nam -se e não sabem distinguir os
verdadeiros dos falsos amigos.

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III.

DA/Í X\EDAÇÕEjí COMNüSCO

As relações para com nosco abra­


çam tam anho num ero de objectos,
que seria dem asiadam ente longo
trabalho tratar cada um a de per
si. As principaes são: As occupa-
ções; a recreação; o vestido; a
m ortificação; a p erfeiçã o ; a liber­
dade e a tra n q u illid a d e de espi­
rito; e o co n sid era r tudo (pie nos
acontece como vindo de D eus.

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DAS OCCUPAÇÕES

1 — Q uan d o Adão era ainda no


estado d ’innocencia, foi collocado
no paraizo terrestre, para que seoc-
cupasse cultivando este jardim deli­
cioso. Este terreno tão fertil não
precisava de cultura, diz S. João
C hrysostom o; mas Adão é quepre-
cisava de occupar-se, para que a
ociosidade não fosse cau sad eru in a
da sua innocencia, ruina talvez mais
fatal do que a causada pela serpen­
te. A ociosidade é a fonte de todos
os vicios, assim com o a virtude é a
fontes de todas as virtudes.
2 — As occupações devem ser
analogas ao vosso estado e devem
variar segundo as diversas situa­
ções em que vos achardes, porque
todas as occupações não podem ser
convenientes em todo o tem poe em
todo o logar.
3 — Não sejaes do num ero d ’a-
quellesque para seoccuparem lêem
livros maus, paixão dom inante do
nosso seculo, o que faz com que ve­
jamos tantas cabeças rom anescas.
Similhante occupação, dizia São
João C hrysostom o, é peior que a
propriaociosidade. D áarm as am ais
poderosa e seductora paixão do h o ­
mem; pactua com um inimigo, que
agrada a corações corrom pidos e
os lisongeia; acontecendo m uitas
vezes acharm o-nos perdidos, quan­
do loucam ente enganados nos jul­
gam os vencedores.
4 — Se quereis occupar-vos com
uma leitura util, lêde eestu daeessas
obras que vos ensinam os deveres
geraes e particulares do homem,
do cidadão, do christão, do pae, do
filho, d o esp o so , do amo edoam igo
— ÍC6 —

T odos estes deveres são da mais


alta im portância, mas são tão des-
presados que a m aior parte dos
hom ens vivem e morrem em com ­
pleta ignorancia sobre tão im por­
tante objecto.
5 — N ão v o sesqueçaes,tam bem ,
dos livros divinos, istoé, das Santas
Escripturas, que nos foram expli­
cadas p or tantos escriptores illus-
tres e piedosos. Assim com o seria
vergonhoso para um medico igno­
rar os livros mais elem entares da
sua arte, e para um jurisconsulto
não conhecer o codigo das leis, as­
sim tam bem seria verg onhoso para
um christão ignorar o livro de
N osso S enhor Jesus Christo, e p a ra
um fiel não conhecer o livro da sua
fé, livro d o nde os p hilosophos p a­
gãos de m aior nom eada tiravam
preceito que lhes mereciam a esti­
ma do m undo e sobre o qual os
- 107 -

christãos dos prim eiros séculos fi­


zeram tantos estudos que não só os
hom ens de letras, mas aquelles
mesmo da classe pobre, com o os
artistas elavradores,tinham grande
parte d^elles na memória, e repetiam
as maximas celestiaes com uma
santa alegria. A leitura d ’este livro
divino esclarecerá o vosso coração
e occupar-vos-á santam ente.

DA RECREAÇÃO

1 — O repouso e a recreaçãQ são


tãonecessaarios com o ao ccupação
e o trabalho. «A quelleque iiãoquer
nen h u m a especie de recreio, diz
S. Thom az, ó um apenH oaperigam
r selvape-ur, e cáe n u m a reprehen-
xivel fro u x id ã o .
2 — Para que a recreação seja
licita e virtuosa, deve ter tres con-

^ — -
— 108 —

dições, a saber: 1. honesta em sua-


n a tu r e z a ; 2. o rd en a d a no seu fim ;
5. m o d e ra d a n a s u a duração.
3 — O s divertim entos devem ser
prim eiro que tudo honestos em su a
n a tu r e z a , isto é, não devem abran­
ger nenhum a maldade, nem ser
prohibidos p o r nenhum a lei. Taes
são os m aus bailes, as scenas dra-
m aticas lascivas, os jogos, onde se
não tem outra causa em vista sinão
o ganho, eo u tro ssim ilh antesdiver­
tim entos.
4 — O s divertim entos devem ter
u m fim . P rocurar o prazer só pelo
prazer, o divertim ento pelo diver­
tim ento, é isto uma opinião condem -
nada pelos soberanos Pontífices; os
divertim entos não devem ter outro
fim senão recrear o espirito e
o corpo fatigados. A m edida pois
do nosso divertim ento deve ser re­
gulada pela necessidade de recrea­
— 109 —

ção que é preciso tom ar, a fim


de reanim ar o corpo e o espirito
cançados. E’ justam ente d ’este m o­
do, diz S. Francisco de Sales, que o
viajante cançado procede, quando
pára e descança, não para parar
e descançar, mas unicam ente para
descançar e tom ar o alim ento ne­
cessário afim de mais depressa e
facilmente proseguir a viagem em-
prehendida.
5 — O moralista, citado e appro-
vado p or S. Thom az, diz que p o u ­
cos divertim entos bastam na vida
do homem, com o pouco sal basta
para tem perar as com idas.
6 — Os divertim entos são com o
os alim entos; uns precisam mais,
outro m enos.

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— 110 -

DO V líS T JR

1 — Podem -se estabelecer a este


respeito quatro regras p rin c ip a e s:
1. O vestuário deve ser p ro p o r­
cionado ao nascim ento egerarchia
de cada u m ; 2. aos seus m e io s;
3. á idade em que cada um se
a c h a ; 4. ao estado de viuvo, ca­
sado ou solteiro. Assim Santo A-
gostinlio reprehendeu um a m ulher
casada, que queria vestir-se de pre­
to com o se fosse uma religiosa.
2 — O s vestidos servem não só
para indicar a condição da pessoa
que os traz, com o para observar
a decencia, e proteger-nos contra
os rigores das estações. Seria pois
um grande mal violar o pudor, com
os m esm os meios que servem para
o proteger; e seria grande culpa
soffrer frio, que póde ser nocivo
á saude, seguindo as m odas ca­
— 111 —

prichosas e levianas, ou antes lou­


cas e ridicularm ente extravagantes,
que jarnais se poderão conciliar
nem com a fé do christão, nem com
a razão do homem.
3 O piedoso Thom az More,
íallando n ’uma occasião a um a jo-
ven senhora que expunha a sua
saude aos rigores do frio, com o
unico fim de se distinguir pela
elegancia de seus vestidos, dizia-
lhe : Deu.s* será in ju sto p a r a com-
rosco, 'se vos não co n d em nar ao
in fe rn o , vendo-vos tão corajosa
p in tr é p id a em soffrer ta n to s in>-
rom m odos só p a ra a tirada r ao
dem onio e aos seus sectários.
4 — Ha m artyres da fé; tambem
ha m artyres davaidade. Desejam os
soffrer? Q ue o soffrim ento seja co­
ordenado á gloria de Deus e sal­
vação nossa, e não á perdição de
nossas almas.
I)A MORTIFICAÇÃO

1 - E ’ um erro julgar-se que


as paixões hum anas são um mal;
quando, pelo contrario, dirigidas
com prudência, são os instrum en­
tos de grandes virtudes. O meio de
bem as dirigir é a m ortificação ;
o leme governa o navio, o freio
dirige o cavallo, e a mortificação
rege e guia as paixões do homem.
2 — Ha duas especies de mortifi­
cação : um a exterior para o corpo,
outra interior para o espirito. O
christão deve praticar am bas para
se tornar sim ilhante a Jesus Chris-
to, M estre dos predestinados.
3 — No entanto, lem brem o-nos
de que as nossas penitencias e m or­
tificações habituaes não devem ser
de natureza tal, que sejam n o ­
civas á saude e as forças, das quaes
som os m eram ente depositários, e
não senhores. O nosso corpo, <
diz graciosam ente Santo A gosti­
nho, é um p obre doente recom-
m endado á caridade de nossa
a lm a ; todas as suas necessida- «
des são com o outras tantas en­
fermidades, ás quaes a caridade
da alma deve vir em auxilio. Te­
nham os pois cuidado do nosso
corpo, sem 'fom entar as paixões,
mas tam bem sem faltar ás suas
necessidades.
4 — Os exem plos dos Santos,
que praticaram extraordinarias
penitencias, merecem n ossa ad­
m iração e não a nossa imitação.
5 - Tende cuidado em que
os vossos jejuns e abstinencias
não sirvam a lisonjear a vaida-
dej ou que tenham por principio
o am or proprio e a vossa von-
D irecçã o E s p ir itu a l ,8
-1 1 4 -

tade. Se estas obras não forem


subordinadas á obediencia do
vosso director, serão rejeitadas
po r Deus, com o elle m esm o dis­
se pela bocca de Is a ia s : «Em
vossos jejuns só procuraes satis­
fazer a vossa v o n ta d e : Ecce in
d ie j e jim ii v e stri, i n m u ih ir vo-
lu n ta s vefitra.
6 — Q uereis exercer um gene-
ro de mortificação livre de peri­
go ? Praticae a mortificação inte­
rior, a qual, segundo diz S. Ber­
nardo, consiste na abnegação da
nossa própria vontade ; e para
esta não ha escusas. Se vos m an­
do o jejum, diz S. Jeronym o, p o ­
deis responder-m e que as vossas
forças não vol-o permittem ; se
vos m ando dar esm olas, podeis
desculpar-vos com os vossos p o u ­
cos meios ; mas se vos m ando
que renuncieis á vossa vontade,
-*ão tendes agora pretexto algum
•rara d ’isso vos escusardes.
7 — S. Filippe N ery dizia muitas
i . ezes aos seus descipulos : *Meua
j ~Jhos, a v id a e s p ir itu a l consiste
- m tres dedos », e ao dizer isto
Tunha os dedos sobre atesta, para
mostrar que a vida espiritual está
na m ortificação da nossa im agina­
ção, juizo e vontade
8 — A bella e tão segura regra,
que Santo A gostinho seguia a res-
oeito do sentido do olfacto, póde
applicar-se a tudo q uando lisonjeia
agradavelm ente os sentidos. O meu
espirito pouco caso faz d ’essas
substancias queexhalam agradavel
a ro m a ; senão se acham perto de
I mim, não as procuro; se estão per-
| :o de mim, d ’ellas não fujo, m as es-
í :ou sem pre prom pto a passar sem
ellas.
. Q — As m ortificações que não
j dependem da nossa vontade e não
- 116 —

foram escolhidas p or nós, com o as


doenças, o m au exito de um nego­
cio, a inveja dos outros, o despre­
zo, soffridas com resignação e ale­
gria de espirito, são mais m eritórias
que todas as outras mortificações,
pois são invalidas por Deus, que se
serve da malicia dos hom ens com o
d ’um instrum ento para nos provar.
David fugitivo e insultado p o r Se-
mei conteve a justa ira dos seus,
dizendo-lhes que Deus tinha m an­
dado a Semei am aldiçoar David.

DA PERFEIÇÃO

1 — O christão não é obrigado


a ser perfeito, m as é certam ente
obrigado a tender á perfeição; quer
dizer, é obrigado a fazer todos os
esforços e em pregar todos os cui­
dados para progredir na virtude;
com o o affirmam S. João Chrysos-

A.
— 117 —

tomo, S. A gostinho, S. T hom az e


S. Bernardo.
2 — Na escada de Jacob, ima­
gem da perfeição christã, havia
anjos que cam inhavam em sen­
tido o p p o s to ; uns subiam, outros
desciam, mas nenhum estava p a­
rado e immovel. Quem não sobe,
d e s c e ; quem se não aproxim a
de Deus, afasta-se delle. Se o
barqueiro, que quer passar o rio,
não avança no cam inho á força
de remo, é arrastado para traz pe­
la corrente contraria.
3 — Portanto, em vez de m ul­
tiplicar as praticas de piedade,
que, na m aior parte das vezes,
fatigam o espirito em vez de o
reanimar, applicae-vos antes a a-
perfeiçoar as praticas de cada dia,
as quaes vos deixarão o espirito
mais tranquillo, o coração mais af-
fectuoso e a intenção mais pura.

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— 118 —

E q uando não puderes cum prir


todas as praticas piedosas de ca­
da dia, supprim i uma grande par­
te d ’ellas, afim de que as que fi­
quem sejam feitas com tranquil-
lidade. A respeito d ’isto tornae a
ler o que dissem os mais acima so­
bre a Oração.
4 — Ponde o maior cuidado em
aperfeiçoar-vos nos deveres do
vosso estado, afim de que sejam
cum pridos com a mais sublime
sanctidade. C om o foi que Santo
A gostinho m ereceu ser collocado
na ordem dos Santos ? Porque
sendo bispo, cum priu dignam ente
os deveres do episcopado. E S.
Luiz, rei de F rança ? P orque sen­
tado no throno, cum priu digna­
m ente os deveres da realeza. O
m esm o se pode dizer a respeito de
to d o s os outros h eroes do christia-
nismo. E’ essa a razão porque S.
- 119 -

Paulo quer que cada um se aperfei­


çoe segundo a sua vocação.
5 — Na creação, m andou Deus
que todas as plantas produzissem
fructos, mas cada uma segundo a
sua esp e cie: ju x t a ye n u s m u m ;
e por isso as diversas plantas p ro ­
duzem differentes frutos, cada
planta mystica, imagem da alma,
deve produzir fructos de santida­
de ; mas cada uma segundo a sua
especie, isto é, segundo o seu
estado: assim Elias no deserto e
David sobre o throno foram pie­
dosos e santos d ’um m odo diffe-
rente. Lição im portante para aquel-
les que no meio do seculo que­
rem viver com o no claustro, e
no seio da côrte com o no deser­
to! O s fructos são excellentes em
si mesmos, m as não em relação
com a arvore que os produz.

±
DA LIBERDADE E TRANQU1LLIDADE
DE ESPÍRITO

1 — Diz S. Paulo que onde se


achar o Espirito de D eus ahi se
encontrará a santa liberdade e tran-
quillidade d ’espirito. Dois são os
meios que se devem em pregar pa­
ra as obter: 1. D esprezar d'um m o­
do m agnanim o e virtuoso as ten ta­
ções que nos assaltam . 2. Evitar a
tristeza.
2 — Aquelle que não fôr tenta­
do, não será coroado. A palm a não
se dá senão ao vencendor; porque
não ha victoria onde não ha com ­
bate.
3 — Na lucta contra a maior
parte das tentações é m elhor usar
antes d ’um virtuoso desprezo que
d ’uma opposição formalfe directa;
aliás ou serem os vencidos ou fica­
rem os perturbados e afflictos no
meio da victoria.
4 — Q uando fôrdes tentados,
especialm ente contra a pureza ou
contra a fé, continuae na vossa oc-
cupação sem responder nem fazer
caso algum da suggestão do ini­
migo. Todavia se quizerdes usar
de algum a oração com a tentação,
dizei p or exem plo : « 0 ’ Jesu s,
dae-m e o vosso a m or e n a d a
m ais. Q uando, ó Jesus, m e u a-
mor, o m eu coração se a h ra za rá
u n ica m en te no vosso am or P »
5 — Tom ae todas as m anhãs a
resolução de não querer co n sen ­
tir nem responder á tentação e
ao tentador.
6 — E ’ preciso dizerm os, de­
pois, a nós mesmos, q uando for­
m os tentados contra a fé: Eu não
posso, não devo, não quero cotn-
prehender. Não posso, porque são
! — 122 —
i
i cousas que pertencem á natureza
! infinita de Deus; não devo, por-
i que o verdadeiro crente subm et-
te hum ildem ente a sua razão e
não se entrega a curiosas inves­
tigações; não quero, porque ain­
da q uando eu pudesse por uma
; supposição impossível com pre-
hender tudo, desejaria não enten­
der nada do que Deus me ensi­
nou de m ysterioso, para dar-lhes
um testem unho da m inha verda­
deira subm issão, tendo dito Jesus
C hristo: « B em a ven h ira d o os que
11do v ir a m e crêra m (1). »
7 — N ão vos confesseis das ten­
tações, po rq u e então o m edo de
peccar não vos deixaria; antes de-
veis saber que uma tentação da
qual estaes resentidos, é objecto
de m erecim ento e não de peccado.

(1) S. Jo ã o x x , 29.
— 128 —

8 — Sêde obedientes, e vivereis


socegados. T odo o pensam entq
que perturba, diz S. Francisco de
Sales, não vem de D eus, que é o
rei da paz. Q uando, pois, se le­
vantar em vosso coração algum
receio que vá perturbar o estado
da vossa consciência ou da vos­
sa salvação não o considereis co­
mo inspiração mais sim com o ten­
tação.
9 —Lem brae-vos que obrar con­
tra o escrupulo não é obrar con­
tra a consciência; pelo contrario é
cum prir um dever da consciência,
por isso que obraes conform e as
determ inações do vosso direito. Lê-
de com attenção o III e IV capitulo
da parte quarta da In trodueçõo
á v id a devota, e ahi achareis in-
strucções im portantíssim as sobre
as tentações.
1 0 —E ’ necessário além d ’isso e-
vitar a tristeza, que S. Francisco de
Sales cham ava com razão um rigo­
roso in v e rn o , que despoja a alma
de toda a sua belleza, e que a lança
num estado de escura abstracção,
privando as faculdades mais acti-
vas de toda a sua força. O hom em
triste assim ilha-se á esses do en ­
tes, cujos estom agos não podem
su p p o rtar nem b ons nem m áus
alim e n to s; o bem e o mal o af-
fligem da m esm a sorte.
11 — Q u an d o pois sentirdes
que o vosso coração está proxi-
m o a cair em tristeza, tratae de
d istrah ir-v o s; fugi de tão peri­
go so inimigo : occupae-vos, em
algum a cousa ou ide fazer algu­
mas visitas, ou divertir-vos, até
que esse caliginoso dem onio se
tenha affastado de vós. E ’ facil
fechar-lhe a porta do nosso co­
— 125 —

ração, mas difficilissimo o larw


çaí-o fóra quan d o lá entrou.
12 — N ehem ias dizia ao povo
israelita que a alegria no Senhoj
era toda a sua f o r ç a : N ão voú
en tristeç aes; porque a alegria d<j
S enhor é n o ssa força (1). j
í
DEVEMOS CONSIDERAR TUDO
O QUE ACONTECE EM ORDEM A’SAL<
VAÇÃO COMO VINDO DE DEUS

1 — T odas as nossas inquieta­


ções proveem de considerarm ol
tudo o que nos acontece de d e
sagradavel com o procedido ou dl
ordem da natureza ou da maldadi
dos hom ens, e não com o proce
dido dos im perscrutaveis, ma?
sem pre paternaes desígnios da Di
vina Providencia.

vl) II e sc lr ., V I I , 10.
— 126 —

2 Disse Jesus C hristo ( e isto


é de fé ) que nem um cabello
cairá da nossa cabeça sem a von­
tade do nosso Pae celeste. T oda
a raiva da malvadez, até m esm o a
dos dem onios, não pode de m odo
nenhum fazer-nos mal, se Deus o
não permittir. E ’ verdade que Deus
não quer nem póde querer o pec-
cado, m as quer o dam no que
para nós resulta do peccado que
outrem com m etteu contra a lei
divina. N ão quer, p o r exemplo, o
roubo; m as quer que sintam os
o dam no que nos causa o roubo.
Por isso Job não attribuia as des­
graças que o opprim iam nem aos
C haldeos, nem ao fogo, nem ao
denom io: attribuia-as á divina v o n ­
tade, p o rq u e não olhava para a
vara que o açoutava, m as sim para
a divina m ão que d ’ella se servia
para açoutal-o. Exclamava portan­
t o : Aconteceu o que a p ro u ve c m
Sen h o r; bem dito ella seja (7).
3 — Olhae, portanto, para tudo
o que acontece n ’este inundo, em
ordem á vossa salvação, com o p ro ­
cedendo de Deus; e ainda que se­
jam cousas que vos encom m odem ,
prejudiquem ou hum ilhem per­
suadir-vos que o Pae Celeste, que
em tudo deseja o bem dos seus
filhos, as permittiu para que vos
sejam proveitosas. M anda-vos tri­
butações ; com o o medico orde­
na um saudavel remedio, p o r mais
am argo ou desagradavel que seja
ao doente, com o unico fim de
curar a sua doença. A mais su­
blime santidade consiste n ’esta in­
tima persuasão e n ’esta resigna­
ção perfeita ; pois, com o diz S.

1 S ic u l D o m in o p la c u il ita 1'actum est;


sit n om en D òm ini b en ed ictu m . J oh 1, 21,

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— 128 —

Jeronym o, d ’este m odo nos uni­


m os da m aneira mais intima com
Deus, que é o Sum m o Bem, não
tendo com elle senão um a e m es­
ma vontade.

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A P P K N D IC E

Depois de haver m ostrado na


sua applicação os deveres geraes
e particulares que tem os a cum ­
prir para com Deus, para com o
proxim o e para com nosco, o que
resume todo o procedim ento do
homem e do christão, accrescen-
tarem os algum as observações pa­
ra nos facilitar e to rn ar seguro
o ex ercid o de taes obrigações.

DOS ESCRUPULOS

1— Ha algum as pessoas que o-


lham o escrupulo com o um a vir­
tude ; pelo contrario é elle um

D ir e ç ã o e s p ir itu a l 9

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}
— 130 — l
«
defeito mui perigoso. G erson diz
que m uitas vezes é mais nociva
uma consciência escrupulosa, istò
é, que se receia mais do que é pre­
ciso, do que um a consciência re­
laxada. 1
2 — O escrupulo obscurece a
alma, perturba a paz, produz a des­
confiança; affasta dos sacram entos,
altera a saude e opprim e o espirito.
Q uantos ha que com eçaram pelo
escrupulo e acabaram pela loucura!
Q uantos ha que com eçaram pelo
escrupulo e acabaram pala licença!
E’ a observação de Santo An-
tonio, profundo theologo e m estre
da vida espiritual.
Repelli, pois, este terrivel ve-
m eno da piedade, e dizei com S.
José C upertino : « Eu não quero
em m inha casa nem escrupulos
nem tristeza.»
— 131 —

3 — O escrupulo consiste em
:er-se um receio im aginario do
peccado, não havendo m otivo al­
gum de receiar. O escrupoloso
não considera as suas hesitações
e receios com o escrupulos, mas
sim com o cousas fundadas em boas
razões. Deve, pois, acreditar que
taes cousas são escrupulos, quan­
do o seu director lhe affirmar que
o são.
4 — O escrupuloso não vê em
sua consciência outra cousa que
peccados, e em Deus só colera e
vingança. Deve pois m editar to­
dos os dias n ’aquelle attributo que
m anifeste mais a sua m isericórdia.
Tal deve ser o objecto de seus
pensam entos, reflexões e senti­
m entos.
5 — O unico rem edio para os
escrupulos é um a com pleta e fir­
me obediencia. S. Francisco de
— 132 —

Sales dizia que é o nosso secreto


orgulho quem faz perm anecer os
escrupulos, porque preferim os a
nossa opinião á do nosso director.
O bedecei, pois, conclue o Sancto,
sem fazerdes outro raciocínio a
não ser este — E u devo obedecer,
então sereis curados de tão h o r­
rorosa enferm idade.
6 — Esses que assim estão tem e­
rosos e inquietos fazem um grande
mal a D e u s ; pois parece que com
seus escrupulos estão dizendo: E ’
um a escravidão servir este Deus
d ’am or e de bondade infinita.

DA EXAGTA OBEDTENCIA
AO SEU DIRECTOR

1 — De pouco servirão para


vos aperfeiçoar o espirito essas
praticas de piedade que fazeis, se
— 133 —

não obedecerdes exactam ente ao


vosso director; pois a palavra de
um director espiritual não é a
palavra d ’um homem, mas sim
a de Deus. Dizia S.Francisco de
Sales: Com a obediencia tudo fica
seguro; sem ella tudo é duvidoso.
2— Não esqueçaes as maxi-
mas d'este m esm o Santo: Comer
e descan çar p o r obediencia ê m a is
a g ra d a vel a D eus do que je ju a r
e v ig ia r como os a n a choretas,
sem esta virtu d e. Além disso
Comer p o r obediencia, isto é,
p a r a fa ze r a vontade de Deus,
é m a is do que soffrer a m orte
•sem ter ta l intenção. A q uelle que
se ju l g a in s p ira d o de differente
modo e recusa obedecer, erra.
3 — Essas almas que não es­
tão de harm onia com o seu di­
rector, ou que procura attrahil-o
para a sua o pinião e vontade, são
— 134 —

inimigas da paz e de si mesma.


E’ isso effeito d ’um orgulho tan ­
to mais terrivel, quanto é ainda
pouco conhecido. Um viajante não
deve ensinar o cam inho aquelle
que o guia, nem o doente lem brar
rem edios áquelle que o trata.
4 — Convém até, diz S. Fran­
cisco de Sales, contentarm o-nos só
com saber do nosso director se
andam os no bom cam inho, sem in­
dagarm os a razão d ’isso.
5 — N unca percam de vista a
distincção que S. Francisco de S a­
les estabelece entre o director e
confessor: « A o director descobre-
se toda a nossa alm a) ao con­
fessor m cm ifesta m -se-lh e só os
peccados. » Q uer até que não ha­
ja em nosso espirito um atom o
que não m anifestem os ao director.
6 — Se tiverdes um a confiança
filial e um a obediencia prom pta
- 135 -

universal e constante áquelle que


vos dirige, experim entareis em
vosso coração um a paz maravi­
lhosa; com pou co s esforços adqui-
rireis m uitos th esouros de graças, “
e sereis tanto mais elevados aos
olhos de Deus quanto mais sub­
m issos fôrdes áquelle que falia
em seu nome.

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CUl\WAj^ A já»II\A Ç Õ Bjí

QUE SE DEVEM FAZER DURANTE AS


ACÇÕES ORDINARIAS DE CADA DIA

1 — Logo que desperteis do


som no, elevae vossa alm a até De­
us e dizei-lhe: Senhor, o vosso ci­
mo r e n a d a m a is. Quero viver
sem pre em vós e p a r a vós.
2 — Ao vestir-vos podeis di­
zer: S en h o r, r e v is ti a m in h a a l­
m a d a s vossas virtu d es.
3 — Ao despir-vos, ou quando
m udeis de roupa, podeis dizer:
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- 138 -

A h ! S en h o r, d esp i m in h a a l­
m a de todos os vícios, e p r in ­
cip a lm en te d a s inclinações, que
m a is vos d esa g ra d a m .
4 — Antes de sairdes do vosso
quarto, ou pelo m enos, logo que
vos fôr possivel, ponde-vos de joe­
lhos e dizei: E ste d ia talvez será
o u ltim o da v id a , que D eus me
concede p a r a a p a g a r os m eus
peccados e merecer o Céu. Ah!
S e n h o r, quero consagral-o todo
á vossa g lo ria . De m im só n a d a
posso fa z e r , m a s tudo posso em
vós e comvosco. M eu Jesus, an­
tes m o rrer que to rn a r a o ffen -
der-vos.
5 — Ao enfeitar-vos e ao olhar-
vos ao espelho, dizei.- T anto c u i­
d ado em prego p a r a a g ra d a r aos
h om ens, e tão pouco p a r a a g ra d a r
a D eus, que me creou com tanto
} - 130 -

am or, e m e resgatou com seu


■<angue.
6 — Ao sair de casa dizei:
Sancto A n jo da m in h a ■ G uarda,
, g u a rd a s os m eu s olhos e todo o
' meu corpo e m in h a a lm a , parco
j (pie m e conserve fiel ao m eu
| Deus.
I 7 — Ao entrar na Egreja di­
zei: O’ m in h a a lm a , vaes e n tra r
na casa de D eus, onde tudo de­
ve ser p u reza e sa n tid a d e: lon­
ge de m im todos os p en sa m en to s
da terra, em q u a n to vou estar no
palacio do Céu.
8 - - Ao assentar-vos á mesa
dizei: Pcie -misericordioso, ao
mesmo tempo que alim enta,es meu
corpo, a lim en ta e tam bém a m i­
( nha a lm a com a vossa graça.
9 — Q uan d o fôrdes descançar
dizei: E is a q u i o leito p a r a o des­
canço do corpo: q u a n d o che-
— 140 -

gcirá esse fe liz m om ento em que


m in h a a lm a d escançará no seio
de Deus?
10 — Antes de fazerdes as vos­
sas orações podeis dizer: Lem bra-
te, m in h a a lm a , que va es agora
fa lla r com o R e i dos R eis,S en h o r
dos Senhores: a tu a attenção,
pois, deverá*corresponder á tua
pequenez e á su a g ra n d eza .
11 — Q uando cairdes em algu­
ma falta, qualquer que ella seja,
dizei logo: Senhor, q u a n d o p e ­
qu ei fiz o que sou ca paz de fazer,
vós agora fa zei o que sois capaz
de fa z e r , perd o a n d o -m e. D ou-vos
g ra ça s p o r não ter feito p eio r,
p o is de m im sou ca paz de ca ir
em cu lp a s a in d a m aiores. De­
pois d ’isto não penseis nessas fal­
tas, nas quaes tendes caido, senão
na confissão.
12 — Poder-se-hão em pregar ou­
tras aspirações similhantes, quan­
do estiverm os occupados com ou­
tras acções; devendo-nos lem brar
sem pre que taes aspirações devem
ser todas de confiança e de amor.
Com estes meios com eça-se m ara­
vilhosam ente o cam inho da ver­
dadeira santidade; n ’elle se fazem
progressos e se chega á perfeição.

DO EXAME DE CONSCIÊNCIA

Exam inem os a nossa consciência


sobre tres especies de peccados,
a saber: para com Deus, para com
o proxim o e para com nosco.
1 — Para com Deus exam ine­
mos: as om issões ou negligencias
em cum prir os n o ssos deveres de
piedade, as irreverencias na Egre-
ja, as distracções voluntárias na
— U2 -

oração, as faltas de intenção, a re­


sistência á graça, os juram entos,
as m urm urações, a falta de con­
fiança e resignação.
2 — Para com o proxim o exa­
minemos: os juizos tem erários, os '
desprezos, o odio, a inveja, o de­
sejo de vingança, as contendas,
os arrebatam entos d ’ira, as im-
precações, as injurias, a maledi­
cência, a zom baria, as relações
perigosas, o dam no ou prejuizo
nos bens e na reputação d ’outrem ,
o mau exemplo, o escandalo, a fal­
ta de respeito, de obediencia, de
caridade, de zelo, de fidelidade.
3 — Para com nosco exam ine­
m os: a vaidade, os respeitos hu­
m anos, as m entiras, os pensam en­
tos, desejos, palavras e acções
contrários á pureza, a intem pe-
rança, a cólera, a impaciência, a
vida inutil e sensual, e a preguiça

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I - 143 —

no cum prim ento dos deveres de


nosso estado.

MA.XIM AS

Tenhamos sempre em vista sò a Deus-


. Jesus Christo como modelo, a Maria
'■omo nossa”auxiliadora. K nós conserve-
mo-nos sempre em sacrifício.
Seja tudo para maior gloria de Deus.
S a n to Ifjn a c io .

Que haja alguém, ó meu Jesus, que


vos sirva melhor do que eu, não duvido;
mas que haja alguem que vos ame e
ieseje mais ardentemente a vossa gloria
do que eu, não o posso soffrer.
S a n c ta T h e r e s a .

A mãe de Deus é aminha Mãe.


S a n c to E s ta n is la u .

Até hoje ainda não pedi cousa alguma


a S. José, que m’a não tenha feito.
S. T h e r e s a

Do que me servirá isto para a eterni­


dade?
L u iz de G o nza ga
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INDIG K

In tr o d u c ç ã o pag 5
Prefacção do traductor . .. . 7

1 RELAÇÕES COM DEUS . . . . . 15


Da oração .............................................16
Da Meditação.......................................... 19
Das orações jaculatorias . . . . 23
Da Missa . . . . ............................. 26
Da confissão, communhão e leitura
espiritual . . . ............................. 30
Da santificação dos dias sanctos . 39

II. R elaç ões c$m o proxi mo . . . 43

Com que amor devemos amar o pro­


ximo . . . . . . . . . 44
Dos juizos temerários e das su s­
peitas ................................................. 52

l>irecção e s p ir itu a l \q

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
— 146 —

Da maledicência e das palavras in­


juriosas ‘ . p a g . ■ 5,-i
Da esmola . . . 65
Das relações sociaes em ^eral . . 74
Das relações de familia . . . 79
Das relações particulares ou da
a m i z a d e .................... ..... . . . . 5

III. D as relações comnosco. . . 103

Das o c c u p a ç õ e s .................... 104


Da recreação .............................. 107
Do vestir . .................................. . 1 1 0
Da m o r t if ic a ç ã o .................... .112
Da p e r fe iç ã o ............................................ 116
Da liberdade e tranquillidade d’es-
pi r i t o ..................................................119
Devemos considerar tudo que acon­
tece... como vindo de Deus . . 125

IV. A jP p e n d ic e .....................................129

Dos e s c r u p u lo s ....................................... 129


Da exactaobediencia ao seu Director 132
Curtas aspirações . . . . . . 137
Do exame de consciência . . . . 141
Maximas . . . ............................. 143

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