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Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes trabalhou em áreas completamente
diferentes, e como nenhuma outra atividade dava sentido à sua vida profissional,
acabou voltando para a educação. Seu compromisso é com essas crianças - que são
maioria nas escolas públicas - para que superem o fracasso e tenham sucesso na
escola. Apesar de ser considerada especialista em alfabetização, sua questão é a
aprendizagem, em especial, a aprendizagem escolar.
Função da Escola
É praticamente impossível a escola realizar sozinha essa terceira função, mas sua
contribuição é essencial, pois é preciso pensar como agir para democratizar o acesso à
informação e às possibilidades e construção de conhecimento
O que sabe uma criança que parece não saber nada
Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para poder atuar é uma questão
complexa. Esse saber não está relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva
adulta) e sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o conhecimento necessário
para fazer o aluno avançar do que ele já sabe para o que não sabe.
● O que realmente importa são as construções e ideias que o aprendiz elaborou e
que não foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas pelo aprendiz.
● Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode ajudar o professor a
descobrir o que ela tentou fazer.
● Ao desconsiderar o esforço do seu aluno, dizendo-lhe que sua produção não está
correta, acaba desvalorizando sua tentativa e esforço e, consequentemente, o
aluno vai pensar duas vezes antes de produzir de novo.
● O conhecimento se constrói por caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe.
● Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno pensa ou conhece a respeito do
conteúdo que quer que ele aprenda, o ensino que ele oferece não tem com quem
dialogar. Conhecimentos prévios dos alunos não deve ser confundido com
conteúdo já ensinado pelo professor.
● Para que isso não aconteça, é preciso que o professor desenvolva uma
sensibilidade e uma escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, supondo
que o que elas pensam tem sentido e não é fruto de sua ignorância
● O professor precisa criar um ambiente socioafetivo para que as crianças possam
manifestar livremente/espontaneamente o que pensam; somente assim, poderá
favorecer situações de aprendizagem significativas.
● Tal ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre suas ideias. Do
mesmo modo, cabe ao professor oferecer conflitos/situações problemas que
possibilitem às crianças exercitarem o pensamento, na busca de soluções
possíveis.
● Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e investigativa.
● A psicogênese da língua escrita abriu a possibilidade de o professor olhar para a
criança e acreditar que para aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica
e o que o professor não enxerga é porque não tem instrumentos suficientes para
perceber o sentido que está sendo manifestado pela criança.
● Quando o professor não entende a produção da criança deve-se perguntar à
criança, mesmo que não consiga entender suas explicações, uma atividade
indicada para isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as crianças dão
explicações umas às outras e, então, o professor poderá compreender as hipóteses
das crianças.
● Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a disponibilidade da informação
externa e a possibilidade da construção interna - construtivismo: um modelo
explicativo da aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as possibilidades do
sujeito e as condições do meio. Cabe ao professor tomar decisões importantes, seja
na formação das parcerias entre alunos, seja nas questões que ele mesmo propõe
no desenrolar da atividade.
(...) "É preciso, pois, educar o olhar para enxergar o que sabem as
crianças que aparentemente não sabem nada".
A equalização de oportunidades de aprendizagem não significa uma pedagogia
compensatória. É preciso socializar os conteúdos pertencentes ao mundo da cultura:
literatura, ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso é uma questão de
inserção social e, portanto, direito de todas as crianças. A escola não pode ser
instrumento de exclusão social. Todo professor deve levar todos os seus alunos a
participarem da cultura.
As ideias, concepções e teorias que sustentam a prática de qualquer professor, mesmo quando ele
não tem consciência delas
A prática pedagógica do professor é sempre orientada por um conjunto de ideias,
concepções e teorias, mesmo que nem sempre tenha consciência disso. Para que
possamos compreender a ação do professor, é preciso verificar de que forma seus
atos expressam sua concepção sobre:
- O conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
- O processo de aprendizagem (os caminhos pelo quais a aprendizagem acontece);
- Como deve ser o ensino.
● Para mudar é preciso reconstruir toda a prática a partir de um novo paradigma
teórico. Em uma concepção construtivista, o conhecimento não é concebido como
cópia do real, incorporado diretamente pelo sujeito. A teoria construtivista
pressupõe uma atividade, por parte do aprendiz, que organiza e integra os novos
● omplexos, que devem ser dados a conhecer, aos alunos, por inteiro. Para o
referencial construtivista, a aprendizagem da leitura e da escrita é complexa e,
portanto, deve ser apresentada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma
funcional. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, protagonista do seu
próprio processo de aprendizagem
● A diferença entre o modelo empirista e o modelo construtivista é que no primeiro a
informação é introjetada ou não; enquanto que no segundo, o aprendiz tem de
transformar a informação para poder assimilá-la. Isso resulta em práticas
pedagógicas muito diferentes. Afirmar que o conhecimento prévio é a base da
aprendizagem não é defender pré-requisitos
Como fazer o conhecimento do aluno avançar
O processo de ensino deve dialogar com o de aprendizagem. Isso mostra que não é
o processo de aprendizagem (aluno) que deve se adaptar ao processo de ensino
(professor), mas, sim, o processo de ensino que deve se adaptar ao processo de
aprendizagem.
Tais atividades devem reunir algumas condições e respeitar alguns princípios:
- Os alunos devem pôr em jogo tudo que sabem e pensam sobre o conteúdo que se
quer ensinar;
- Devem ter problemas a resolver e decisões a tomar em função do que se propõe
produzir;
- A organização da tarefa pelo professor deve garantir a máxima circulação de
informação possível;
- O conteúdo trabalhado deve manter suas características de objeto sociocultural
real, sem se transformar em objeto escolar vazio de significado social.
O professor precisa estar ciente de que o conhecimento avança quando o aprendiz
se defronta com situações-problema nas quais não havia pensado anteriormente.
Situações significativas de aprendizagem em sala de aula acontecem quando o
professor abre mão de ser o único informante e quando o clima sócio afetivo se
baseia no respeito mútuo e não no autoritarismo.
É papel da escola garantir a aproximação máxima entre o use social do
conhecimento e a forma de tratá-lo didaticamente.
Quando corrigir, quando não corrigir
O
utra visão de correção é a informativa que carrega a ideia de que a correção
deve informar o aluno e ser feita dentro da situação de aprendizagem (concepção de
erro construtivo - que faz parte do processo de aprendizagem de qualquer pessoa).
A necessidade e os bons usos da avaliação
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conhecimentos prévios, é preciso que o
professor utilize um ou outro instrumento para verificar como os alunos estão
progredindo, pois o conhecimento não é construído igualmente, ao mesmo tempo e
da mesma forma por todos. Esse instrumento é a avaliação de percurso - formativa
ou processual - feita durante o processo de aprendizagem. Esse procedimento
permitirá ao professor avaliar se o trabalho que está desenvolvendo com os alunos
está sendo produtivo e se os alunos estão aprendendo com as situações didáticas
propostas. A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do trabalho do
professor. Quando se avalia a aprendizagem do aluno, também se avalia a
intervenção do professor, pois o ensino deve ser planejado e replanejado em função
das aprendizagens conquistadas ou não.
● A escola deve estar comprometida com a aprendizagem de todos e, dessa forma,
criar um sistema de apoio para que os alunos não se percam no caminho. As
dificuldades precisam ser detectadas rapidamente para que sejam sanadas e
continuem progredindo, não desenvolvendo bloqueios. Tais crianças precisam ser
atendidas por meio de realização de atividades diferenciadas durante a aula, trabalho
conjunto com colegas que possam ajudá-los e intervenções