Você está na página 1de 2

“O exercício da ética e da cidadania no ambiente hospitalar, realce a figura do

médico.”

Enquanto agente de uma ciência biopsicossocial o médico está inserido e vulnerável


a uma conjuntura de aspectos deletérios próprios da condição humana, que o expõem
diretamente às intransigências e problemáticas morais da nossa sociedade. Todavia, frente
a esta realidade, não pode deixar-se corromper, em respeito aos ditames prenunciados no
juramento de Hipócrates: "praticará sua profissão com dignidade e consciência, não
permitindo que concepções de nenhum tipo intervenham entre seu dever, pacientes e
colegas".
O Código de Ética Médica traz em seu artigo 1º que a medicina é uma profissão a
serviço do ser humano e da coletividade, de tal forma, o seu exercício está imbuído da
missão de acolher, proteger, escutar sem julgar, cuidar com equidade. Imprescindível,
portanto, o médico ser instrumento de preservação da vida, auxiliando aqueles que
padecem das segregações da sociedade, e ao mesmo tempo difundir, seja no habitáculo de
seu trabalho, seja em sua conduta cidadã, esses predicados basilares que edificam sua
profissão.
No ambiente hospitalar, a tensão natural exigida no trato direto com a vida das
pessoas, somada a complexidade que permeia as possibilidades de cura e com os receios
de um agravamento e morte, fragiliza os que precisam deste serviço e também aqueles que
nele atuam. E nesse contexto revela-se um ambiente de trabalho marcado pela necessidade
do caráter coletivo na atuação em saúde, caracterizada pela complementaridade de ações
de diferentes profissionais, bem como a frequência de ambientes pouco humanizados nos
quais as ações de saúde deixaram de focalizar a atenção aos usuários reconhecendo-os
como objeto do cuidado.
Toda essa conjuntura de um ambiente laboral marcado por divergências de valores,
incertezas sobre as tomadas de decisões e enfrentamentos na relação com os outros (seja
no trabalho junto à equipe multidisciplinar, como na relação médico-paciente), resultam em
problemas éticos, ou seja, aspectos, questões ou implicações éticas de ocorrências comuns,
especialmente para os médicos. Esses problemas éticos, acrescidos de uma rotina que se
depara bem de perto com os paradigmas sociais marcantes da contemporaneidade, tais
como as intolerâncias de ordens variadas e as corrupções disseminadas da micro à macro
escala no seio social, leva a atuação médica a alcançar um significativo aumento nos
desafios e responsabilidades.
O médico e filósofo grego Galeno ressaltava que para ser um bom médico era
necessário ser, também, filósofo, ratificando que a ética médica consiste em aplicar a ética
geral ao domínio da medicina. Isso porque, a prática médica é também um compromisso
democrático, consolidado na horizontalidade daqueles que compõem toda a equipe
multidisciplinar envolvida, que guiados pelo ideal de beneficência, devem empreender o
mesmo objetivo: o processo saúde. Nesse sentido, o exercício da transversalização e do
respeito começa pelos colegas, entre os quais as insígnias e os títulos devem ser pontes e
não abismos; as responsabilidades devem ser compartilhadas, podendo cada um da equipe,
ser e se sentir membro valorizado de um espaço de gestão colegiada. É praticar a
concórdia, a fim de fazer brotar das relações interprofissionais, a exemplaridade do bem
comum.
Sob esse cenário, o exercício da ética na profissão médica deve estar amparado
primordialmente na fraternidade, que não só promove a união entre os sujeitos da saúde,
como também fortalece uma ação proativa em favor do outro: o paciente. Nesse sentido, o
médico pela prática da empatia, do elo honesto e transparente e do diálogo respeitável e
ético, detém nessa perspectiva, o caminho para resgatar no outro seu bem estar, mas
também inspirar-lhe a conduta da integralidade.

Você também pode gostar