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Nome: Nara Lares Kludasch

Matrícula: 2020052045
Data: 22/11/2021
Disciplina: Psicopatologia Geral I - Teórica
Professor: Antonio Marcio Ribeiro Teixeira

Fichamento Semiologia da consciência e das funções do eu

Buscando introduzir o tema do capítulo, os autores elegem o debate sobre a etimologia


da palavra “consciência” para, assim, poder conceituá-la sob diferentes perspectivas e
explicitar a ideia de Freud sobre o assunto. Dessa forma, constata-se a ambiguidade do termo
ao denotar a ideia de um saber compartilhado e, por outro lado, um conhecimento da própria
culpa, que carrega em si uma conotação moral. Entretanto, foi a partir do final do século
XVIII que a consciência foi dissociada de tal moralidade, com o uso do termo Bwusstsein
“estar ciente”. É apoiado na concepção de Husserl para o método fenomenológico, que a
consciência ganha uma noção dinâmica e uma ligação do pensamento sobre o objeto.
Toda consciência é necessariamente “consciência de”, a qual ora pode ser tomada como
consciência de si mesma, na forma da consciência reflexiva ou da consciência dos estados do
eu, ora como consciência de um objeto, em seu caráter projetivo ligado à sensopercepção e às
representações externas. (Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 66)

Já sob a visão da neurofisiologia, a palavra recebe o sentido do estado de vigilância,


nesse ponto é comparado com um palco iluminado por um facho de luz, sua intensidade
determinaria o nível da consciência e a extensão da parte clara seria a amplitude do campo da
consciência. Contudo, do ponto de vista clínico, a imagem do palco iluminado é reservada à
consciência e ao espaço sem luz à inconsciência. Portanto, percebe-se os diferentes
entendimentos sobre o termo, que ainda é abordado pela psicanálise com uma nova roupagem,
que rompe com o pensamento tradicional uma vez que questiona a inconsciência como local
de irracionalidade/doença mental.
Ao analisar a psicopatologia de Jaspers, atenta-se a uma realidade inteiramente
revestida pela consciência, ao possuir a possibilidade de autorreflexão/autoconsciência e,
ainda, não exclui o inconsciente e define-o como extraconsciente. Os autores apontam para a
diversidade de sentidos na conceituação do inconsciente assim como para a consciência,
porém destacam a inovação de Freud nesse campo ao não tornar o inconsciente como falta de
consciência. “conceber positivamente outra cena psíquica determinada por leis distintas
daquelas que regem os fenômenos da consciência.” (Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 69)
A partir de A interpretação dos Sonhos (1899) que Freud propõe o fim da soberania
da consciência, de modo a possibilitar uma nova formulação seguindo uma lógica própria
para o inconsciente. Ainda que surgida da medicina, a psicanálise se separou dela ao apontar,
com as pesquisas, perspectivas que não caminhavam de acordo com o conhecimento médico.
Ou seja, Freud vai desnaturalizar o corpo e propor pensar sobre o confronto das exigências de
uma satisfação pulsional com as regras de uma vida social. Sendo assim, a relação profunda
entre o corpo e a linguagem faz-se presente em toda sua obra, apontando para a
indispensabilidade da fala para reconhecer a pulsão do Eu.
Para explicar os estados patológicos marcados pela dissociação, Freud irá inovar por
negar a visão de Janet que afirmava tratar-se de um fracasso da função da consciência. E,
ainda, estabelecer que a produção do estado dissociativo pertence a um conflito desprazeroso
ao Eu. Com a primeira tópica freudiana que o inconsciente toma uma nova instância
constituinte fundamental do funcionamento mental, sendo o Eu subordinado ao inconsciente.
“o núcleo do inconsciente seria constituído por representantes das pulsões a que anteriormente
nos referimos, governados pelo princípio do prazer, ou seja, orientados pela descarga da
tensão gerada pelo estímulo pulsional.” (Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 72). Regido por
um processo primário, o inconsciente tem suas representações ligadas por meio de uma
transferência de investimento pulsional, isto posto, é na passagem para a consciência que a
censura ocorre, separando a pulsão de sua representação psíquica.
Contextualizando o debate sobre a consciência do Eu, os autores abordam novamente
a visão de Jaspers que caracteriza sob 4 termos: unidade (o Eu se apresenta integrado
espontaneamente), identidade (mantém numa sucessão temporal), atividade (consciência de
ser o produtor de suas atividades), oposição ao mundo externo.
As alterações da consciência do eu se encontrariam assim referidas à perda de sua vivência
espontânea de unidade, nas quais o sujeito se sente habitado por individualidades distintas,
como ocorre nas vivências do duplo corpóreo (heautoscopia, ou delírio do sósia), nas psicoses
exotóxicas, nos rituais de possessão místico-religiosa e na esquizofrenia; à perda de sua
identidade, em estados processuais de ruptura abrupta da personalidade; à perda da
consciência de sua atividade, como se vê na síndrome de automatismo mental e nos delírios de
influência; e finalmente à perda da consciência de oposição ao mundo externo, como se dá nos
fenômenos infantis de transitivismo, nos estados confusionais e nos quadros de delírio onírico.
(Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 74)

Já no ponto de vista freudiano, o Eu concilia a realidade externa com as exigências


pulsionais do Isso e do Supereu. Entretanto, Lacan vai apontar que essa linha de pensamento
determina uma primazia da consciência, à vista disso, entende-se que o Eu não exerce uma
mediação neutra, deforma a percepção sede da consciência. Para embasar tal ideia, utiliza-se
da tese do Estádio do Espelho em que o Eu se constitui por uma unidade corporal que antes se
mostrava incapaz de estabelecer por imaturidade do sistema nervoso. “não é por ser imagem
que a imagem deixa de ter consequências reais.” (Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 75).
Então, o Eu forma-se antes mesmo de ter uma consciência dele mesmo e é através da
linguagem que confirma-se que aquela imagem é sua, visto que a imagem, inicialmente,
apresenta-se como outro para o sujeito.
Além disso, caberá ao recalque o que não for compatível com a imagem que o sujeito
constrói de si mesmo e à consciência reconhecer como próprio o que lhe for concebível em
sua autorrepresentação, assim se estabelece um crivo moral sobre o pensamento. Logo, a
compreensão da realidade externa será orientada pelo Eu, pensando os fenômenos do mundo a
partir das projeções particulares.
Nessa lógica, os autores apresentam a prática psicanalítica como a busca pela cura
ligada à investigação e descoberta da causa do sofrimento psíquico. Apontando o mecanismo
de desconhecimento ativo, não como uma deficiência cognitiva, mas como uma separação da
representação traumática, fazendo-se indistinguível a causa do sofrimento (recalque). Na
compreensão freudiana que observa-se o desinteresse do Eu para com o Isso, a verdade do
sofrimento se torna um sintoma por ser a informação que o Eu ignora. Será em cima dessa
realidade e desse saber que a prática psicanalítica se debruça, exigindo a introdução do Outro
na experiência analítica, “um convite ao estranho”, para que o saber possibilite a entrada que
o Eu exclui. É esse outro que te convoca a dizer o que não é plausível em uma associação
livre.
Em sequência, a fenomenologia compreensiva é abordada ao demonstrar sua operação
apoiada no discurso da ciência em que o psiquiatra deveria se colocar no lugar do paciente.
Porém, Freud negou essa perspectiva ao afirmar que a prática clínica do psicanalista não é a
consciência e nem o Eu, mas opera com a categoria do sujeito. “Não existe, para o
psicanalista, nenhuma dimensão psíquica anterior ao que pode ser captado a partir da fala do
paciente ou daquilo que sobre ele pode ser dito.” (Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 80). Ou
seja, é no discurso que a psicanálise se estabelece, sendo o psiquismo seu efeito. Para Lacan, a
ciência trata-se do discurso que estrutura a operação psicanalítica “Necessitamos, portanto, da
categoria do sujeito para podermos abordar a divisão oculta sob a instância especular do ‘eu’,
cuja unidade imaginária depende, como visto anteriormente, de um mecanismo de
desconhecimento ativo das moções psíquicas que não condizem com sua
representação.”(Machado, Caldas & Teixeira, 2017, p. 82).
Referência:

Machado, O., Caldas, H., & Teixeira, A. (2017). Semiologia da consciência e das funções do
eu. Em A. Teixeira, & H. Caldas, Psicopatologia Lacaniana (pp. 66-83). Belo Horizonte:
Autêntica.

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