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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PORTELA E MOSCAVIDE Escola Secundária da

Portela Escola EB 2,3 Gaspar


Ano letivo de 2020/2021 Correia Escola EB1 Catela
Questão aula – 8º ano Gomes Escola EB1/JI Quinta da
Março 2021 Prof. Catarina Salvador Alegria
Escola EB1/JI Portela

Lê atentamente o texto.

O Mundo em que Vivi

1 «O meu avô, homem alto e magro, de cara larga, ossuda e um tanto avermelhada, olhos claros e quase sempre tristes,
tinha o costume de levantar as sobrancelhas espessas quando dizia alguma coisa importante. Isso fascinava-me e por
isso me desgostava ver-lhe, por vezes, as pingas de sopa presas no bigode pendente para cada lado da boca. Não ligava
com ele, sempre tão apurado, com o cabelo farto, penteado cuidadosamente. «Limpa a boca, avô», dizia eu. «Ora, ora»,
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respondia ele, um pouco embaraçado.

A avó contrastava com a figura esguia e imponente do avô. Baixa, muito baixa mesmo, tinha a cara miúda sulcada de
rugas e usava o cabelo branco rigidamente penteado para cima da cabeça, onde o juntava num puxo redondo, apertado.
Preferia vestidos escuros, que protegia nas lidas domésticas com um avental cor de cinza.

Eu, a julgar pelas velhas fotografias, não passava duma menina frágil, de cabelo louro, de feições infantilmente lisas. Nada
10 mais descubro que valha a pena destacar.

Vivíamos os três numa pequena casa com uma varanda deitada sobre a rua, coberta com vinha. Ali minha avó passava
as tardes de Verão a fazer meia ou a costurar. Ao certo não me recordo se costurava, mas suponho que sim, pois não me
lembro de costureira alguma que a tivesse substituído nesse serviço. Mas seja como for: que fazia meia nunca o poderei
esquecer. Vejo-a sentada na cadeira de espaldar, as agulhas a bater desembaraçadamente, enquanto observava o que
15 se ia passando na rua. Tão acostumada estava a fazer meia que nem precisava de olhar. Aliás, as meias eram sempre pretas,
infalivelmente pretas, fossem para ela própria, para o avô ou para mim. Por isso eu, apesar de tão pequena ainda, tinha
de andar sempre de meias pretas. Isso arreliava-me, porque as crianças com quem convivia não usavam meias pretas e
queria ser igual a elas. Cheguei a falar à avó nessa minha mágoa, mas respondeu-me:

— Não digas tolices, Rose. Se as outras crianças não usam meias pretas é porque as mães não sabem ser práticas e
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económicas. Duas palavras que, cedo, aprendi a detestar: prático e económico.”

Ilse Losa, O Mundo em que Vivi

1. Explica o contraste existente entre o avô e a avó da narradora referido nos dois primeiros parágrafos.
2. A menina confessa que nunca esqueceu a imagem da sua avó «a fazer meia». Apresenta os três motivos que estão na
origem dessa recordação permanente. Na tua resposta usa, obrigatoriamente, as expressões por um lado; por outro
(lado); além disso.
3. Caracteriza física e psicologicamente a narradora, justificando a tua resposta com duas expressões do texto.
4. Identifica os factos a que se referem os dois pronomes.
a) “nunca o poderei esquecer” (l. 13)
b) “Isso arreliava-me” (l. 17)

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