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N’Os Lusíadas, Camões celebrou os Descobrimentos, num tempo em que a alma da nação se
encontrava ferida pela corrupção e decadência, às quais o poeta não era alheio. Alvo do
desprezo dos seus contemporâneos, Camões faz nascer uma obra, onde se realça o plano das
Reflexões do Poeta, de pendor subjetivo. Este assume um papel humanista, intervindo de
forma pedagógica, moral e crítica na vida humana.
No canto VIII, estâncias 96 e 97, tece considerações sobre o poder do ouro, que tudo e todos
(primeira pessoa do plural) corrompe (“[...] o vil interesse [...]/Do dinheiro, [...] nos obriga.”,
(vv.7 e 8), exercendo um poder perverso sobre o ser humano, indiferente à sua classe social
(“[...] rico, [...] no pobre,”(v.6)). O seu mote é a traição a Vasco da Gama “Que não se fia já”
(v.3) e que contrasta com um “Regedor, corrompido[...]”(v.4). O recurso a exemplos da
Antiguidade (exp.“Rei Treício” (v.9)), fundamentam o seu ponto de vista.
Nas estâncias 98 e 99, são enumerados os efeitos perniciosos do vil metal, ampliados pela
anáfora “Este”, realçando-se os seus efeitos nefastos, aos quais ninguém escapa, nem justiça
(“[...]faz e desfaz leis” (v.10)), nem clero (“Até [...]/Se dedicam[...]” (vv.13 e 14).