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Doença de Osgood-Schlatter: o que é, quais são as causas e como tratar?

 Dr. Breno Nery  2 de dezembro de 2018

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Dor abaixo dos joelhos pode ser sinal da doença de Osgood-Schlatter. Saiba como diagnosticar
e tratar.

Crianças com dor abaixo dos joelhos, que ocorre geralmente após realização de atividade
física, limitando a mobilidade. Esta é manifestação típica de uma doença que é
frequentemente atendida nos Pronto Socorros pelos Pediatras. Leia e  atualize-se sobre
a apofisite da tuberosidade tibial – também conhecida como Doença de Osgood-Schlatter.

OSGOOD-SCHLATTER – VISÃO GERAL

Em 1903, Robert Osgood, cirurgião ortopédico dos EUA, e Carl Schlatter, cirurgião suíço,
descreveram simultaneamente uma doença que ocasionava dor na tuberosidade tibial após
exercício excessivo [BMJ 2011, Medscape 2017]. Ela acomete frequentemente o público
adolescente, em especial do sexo masculino, e é uma das causas mais comuns de dor nos
joelhos. O diagnóstico é clínico, baseado na história e no exame físico.

O início da sintomatologia normalmente é gradual, com dor na região da tuberosidade tibial,


que alivia no repouso, e surge durante a atividade física (principalmente corrida e salto)
[UpToDate2017, Medscape 2017, Review Cureus, JAAPA 2013, BMJ 2011].

INCIDÊNCIA

A doença de Osgood-
Schlatter ocorre geralmente entre os 9 a 14 anos de idade, período no qual os adolescentes
apresentam estirão de crescimento [UpToDate2017]. A doença tem predileção pelo sexo
masculino, tendo uma relação meninos:meninas de 3:1 [Medscape 2017]. As meninas são
afetadas geralmente entre 10 a 11 anos (podendo variar entre 8 e 12 anos); já os meninos são
afetados geralmente entre os 13 e 14 anos (podendo variar entre 12 e 15 anos), fato este
coincidente com a fase mais tardia do estirão puberal no sexo masculino [Medscape 2017, BMJ
2011, JAAPA 2013].

A incidência em adolescentes que praticam atividade esportiva pode chegar a 20%, em


comparação a 5% nos não praticantes. Embora tipicamente o acometimento seja assimétrico,
pode ser bilateral em 25 a 50% dos casos [UpToDate2017].

ETIOLOGIA/PATOGÊNESE

A causa da doença de Osgood-Schlatter (DOS) é desconhecida. No entanto, a teoria mais aceita


é a de que as repetidas contrações extensoras do joelho levariam à tração (apofisite de tração)
na porção anterior do centro de ossificação em desenvolvimento, resultando em múltiplas
fraturas de microavulsão subagudas e/ou inflamação tendinosa. Como consequência, tem-se
um distúrbio benigno e autolimitado manifestado como dor, edema e hiperemia.

O que ocorre é que a região proximal da inserção do tendão patelar se separa, resultando na
elevação do tubérculo tibial. Durante a reparação desta fratura de estresse, o novo osso é
formado no espaço da avulsão, o que pode resultar em um tubérculo tibial desviado e
proeminente. Com a persistência das práticas esportivas, o processo de
microavulsão/reparação do tubérculo tibial ferido continua, podendo resultar em uma
proeminência marcadamente pronunciada do tubérculo, com implicações estéticas e
funcionais a longo prazo. Um fragmento separado pode se desenvolver na inserção do tendão
da patela e pode levar à dor crônica, decorrente da não ossificação. Estudos histológicos
apoiam esta etiologia traumática  [UpToDate2017, Medscape 2017, JAAPA 2013, BMJ 2011].

http://differentialdiagnosislowerleg.weebly.com/osgood-schlatter-disease.html

http://www.bio4me.co.za/2012/01/osgood-schlatters-disease/
 

OSGOOD-SCHLATTER: APRESENTAÇÃO CLINICA

História

A queixa mais comum é dor no joelho ou na região inferior ao mesmo, exacerbada com
exercício físico ou trauma e aliviada com o repouso. Nos quadros iniciais, os sintomas
geralmente são vagos, graduais e intermitentes.

Os sintomas podem se desenvolver sem trauma ou outra causa aparente, embora


aproximadamente 50% dos pacientes tenham uma história de trauma ou exercício físico de
grau acentuado como fator precipitante. Frequentemente o acometimento é unilateral,
embora o envolvimento bilateral é relatado em mais de 25% dos casos
[UpToDate2017, Medscape 2017, JAAPA 2013] .

Exame Físico

O exame físico é muito específico. Nele, pode ser encontrado:

 aumento da sensibilidade,

 eritema,

 edema ou massa proeminente no tubérculo tibial (local onde o tendão patelar se


insere na tíbia).

A palpação pode desencadear dor no local. Geralmente a movimentação, marcha e os reflexos


são normais [JAAPA 2013] .
https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases–conditions/osgood-schlatter-disease-knee-pain/

https://twitter.com/ortokalach/status/758774708892422144

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é firmado, na maioria dos casos, com história e exame físico


[UpToDate2017, Medscape 2017]. Algumas outras doenças mais graves e que poderiam gerar
danos permanentes também devem ser consideradas no diagnóstico diferencial, caso a
história e o exame físico deixem dúvidas. Exemplos: tumores, osteocondrite dissecante,
fraturas ou dor irradiada do quadril. Nesses casos, é sempre indicada a realização de exames
complementares. A ausência de traumatismo, ou a presença de sintomas sistêmicos (febre,
perda de peso ou mal estar), dor óssea ou na articulação em outros locais, dor noturna ou
após o repouso, dor ao exame na articulação do quadril ou do joelho, entre outros sintomas,
são sinais de alarme para a potencial presença de outra entidade nosológica que não a DOS.
[BMJ 2011].

Radiografia

Alguns autores sugerem realização de radiografia em todos os caso, pelo menos uma vez, na
avaliação ou durante o tratamento, a fim de descartar outras etiologias. O achado mais
comum nas radiografias, principalmente se realizadas na fase inicial, é a ausência de alterações
[Medscape 2017].

A lesão é mais bem visualizada no perfil, com o joelho em ligeira rotação interna (10-20°)
[Medscape 2017]. No estágio agudo, as margens do tendão da patela tornam-se borradas na
radiografia, devido ao edema dos tecidos moles. Após três a quatro meses, a fragmentação
óssea na tuberosidade tibial é vista. No estágio subagudo, o edema dos tecidos moles
desaparece, mas o ossículo na tuberosidade tibial permanece. No estágio crônico, o fragmento
ósseo pode se fundir com a tuberosidade tibial, que pode parecer normal; no entanto, às
vezes, o fragmento ósseo é deslocado [Review Cureus].

Achados radiográficos que podem ser encontrados:

 ossículo superficial no tendão patelar,

 ossificação irregular da tuberosidade tibial proximal,

 calcificação dentro do tendão patelar,

 espessamento do tendão patelar,

 edema do tecido mole proximal à tuberosidade tibial [Medscape 2017].


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5063719/pdf/cureus-0008-
000000000780.pdf
https://radiopaedia.org/cases/osgood-schlatter-disease

Outros exames de imagem

Geralmente não são necessários outros exames para fazermos o diagnóstico da DOS, mas eles
podem ser necessários para investigarmos outros diagnósticos
possíveis. A ultrassonografia pode revelar uma tuberosidade normal, imagem hiperecogênica
devido ao espessamento do tendão patelar e área hipoecogênica do tecido mole adjacente.
A cintilografia óssea pode demonstrar aumento da reabsorção óssea na área da tuberosidade
tibial. A tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) podem revelar
mudanças na inserção do tendão da patela. A ressonância magnética pode ajudar no
diagnóstico de uma apresentação atípica, estadiamento da doença e prognóstico, porém sua
utilidade é limitada. A ressonância magnética auxilia mais na investigação de outros
diagnósticos diferenciais [Medscape 2017].

Exames Laboratoriais

A realização de exames laboratoriais não é indicada para investigação da DOS, a menos que
outros diagnósticos estejam sendo investigados.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

 Síndrome de Sinding-Larsen-Johansson,
 Doença de Hoffa,

 Síndrome de Plica,

 tumores ósseos ou de partes moles,

 avulsão ou ruptura do tendão patelar,

 condromalácia da patela,

 tendinite patelar,

 infecções osteo-articulares,

 apofisite infecciosa,

 centros de ossificação acessórios,

 osteomielite de tíbia proximal e fratura da tuberosidade tibial,

 dor idiopática do joelho anterior

 tendinite patelar e síndrome de Legg-Calvé-Perthes, entre outras.

OSGOOD-SCHLATTER: TRATAMENTOS

As muletas raramente são indicadas e os imobilizadores do joelho estão contraindicados.

Não existem ensaios clínicos randomizados sobre tratamento da DOS. Estudos observacionais


sugerem que a maioria dos pacientes responde ao tratamento clínico e apenas alguns casos
refratários, com sintomas persistentes, podem se beneficiar do tratamento cirúrgico.

Tratamento Clínico

A  doença de Osgood-Schlatter geralmente é uma condição benigna e autolimitada, com


resolução dos sintomas quando a placa de crescimento é ossificada. A duração habitual é de 6
– 18 meses. Os pilares do tratamento são: controle de dor e edema, continuação da atividade
e fisioterapia (para fortalecer e melhorar a flexibilidade do quadríceps, além de melhorar a
flexibilidade dos isquiotibiais). A eficácia destas medidas não foi avaliada por ensaios
randomizados. As recomendações são baseadas em estudos observacionais e experiência
clínica [UpToDate2017].

Controle da dor 

Medidas para controlar a dor e o edema podem incluir: aplicação de gelo (20 -30 minutos pelo
menos 2 vezes ao dia, nos períodos de exacerbações), a administração de analgésicos
(Paracetamol) e/ou anti-inflamatórios não esteroides – AINEs (Ibuprofeno, cetoprofeno ou
naproxeno) por um período limitado, durante três a quatro dias, e o uso de um almofada de
proteção sobre o tubérculo tibial.

Pacientes com dor persistente, por mais de 3 meses, que alteram sua capacidade de praticar
esportes, podem se beneficiar da injeção de dextrose hiperosmolar (por exemplo, 12.5 %) por
um especialista em medicina esportiva ou ortopedista. Glicocorticoides não são
recomendados. Deve-se manter a utilização de almofada protetora, a qual pode prevenir
trauma e, consequentemente, dor na tuberosidade tibial [UpToDate2017].
Continuação das atividades 

A suspensão completa das atividade esportivas não é necessária. A inatividade pode levar ao
descondicionamento e, consequentemente, ao aumento no risco de recorrência (ou de outra
lesão, após o retorno à atividade esportiva). É permitida realização de atividades com dor,
desde que a dor seja tolerável e resolvida dentro de 24 horas. As atividades que requerem
agachamento prolongado ou ajoelhamento podem não ser toleradas [UpToDate2017].

Fisioterapia

Após o controle adequado da dor, está indicado um programa de reabilitação que inclua
alongamento do quadríceps e músculos isquiotibiais, além de fortalecimento dos músculos do
quadríceps [UpToDate2017].

Tratamento Cirúrgico

Reservado para pacientes que não respondem às medidas conservadoras. Geralmente, a


cirurgia é realizada após o fechamento da placa de crescimento tibial proximal.

Procedimentos específicos não foram avaliados em ensaios randomizados. Em séries de casos,


a ressecção do ossículo e/ou a excisão da tuberosidade tibial têm sido benéficas na redução da
sintomatologia [UpToDate2017].

PROGNÓSTICO

O prognóstico da DOS é excelente. No geral, a dor é autolimitada, resolvendo-se quando o


paciente chega à idade adulta, isto é, quando a apófise do tubérculo tibial se ossifica. Em
aproximadamente 10% dos casos, os sintomas continuam inalterados até a idade adulta,
apesar do tratamento conservador. Então, pode ocorrer o aumento residual da tuberosidade
ou a formação de ossículo no tendão da patela.

A probabilidade de sequelas de longo prazo aumenta nos casos graves, em que o tratamento
não foi realizado adequadamente [UpToDate2017].

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