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SERVIÇO ATENDIMENTO PERMANENTE

ABORDAGEM DA BRONQUITE AGUDA / Tosse aguda

Definição

A bronquite aguda é uma infecção do trato respiratório inferior, que causa inflamação
dos brônquios (sem evidencia de pneumonia).

Embora não haja uma definição universalmente aceita para a bronquite aguda, os critérios
propostos por MacFarlane oferecem uma abordagem prática:

(a) doença aguda com duração <3 semanas;

(b) tosse persistente como sintoma predominante (presume-se que resulte de


hiperreatividade brônquica, comprovada em PFR)

(c) pelo menos 1 outro sintoma no trato respiratório inferior (produção de escarro, rouquidão,
sibilância, dispneia, dor torácica);

(d) ausência de explicação alternativa para os sintomas/história de doença respiratória crónica

Outras caracteristicas:

. Tosse normalmente agrava à noite ou durante a prática de exercícios.

. Tosse pode ser ou não produtiva. Se produtiva, a expetoração pode ser mucosa ou espessa,
de cor branca, amarela, verde ou mesmo raiada de sangue.

. Outros sintomas gerais podem estar presentes: febre ligeira, fadiga, cefaleia ligeira, dor
torácica muscular

. Geralmente é precedido por sintomas de infecção respiratória das vias aéreas superiores
(constipação comum)

Nota: Embora os critérios de MacFarlane determinem que os sintomas geralmente duram <3
semanas, outros estudos mostraram que a tosse pode durar > 4 semanas em um quarto dos
pacientes e outros ainda referem mais de 8 semanas (CDC2013). Logo, a bronquite aguda
ainda poderá estar presente em pacientes com tosse com duração >1 mês.

Tosse

- Tosse aguda – dura < 3 semanas, habitualmente de etiologia infeciosa (vírica ou


bacteriana)

- A tosse subaguda com duração entre 3-8 semanas, é mais frequente nos doentes com mais
do que um mecanismo desencadeante, predominantemente no período pós-infeção das vias
aéreas e antecedentes ou exacerbação de patologia préexistente (asma, refluxo
gastroesofágico, bronquite crónica e bronquite eosinofilica não asmática) ou hábitos
tabágicos.

d) A tosse crónica, com duração superior a oito semanas, é, em aproximadamente 80% dos
casos, causada por asma, refluxo gastroesofágico e síndrome da tosse das vias aéreas
superiores (anteriormente referido como da rinorreia posterior). Há que excluir a hipótese da
tosse crónica ser efeito secundário de medicação em curso.

ETIOLOGIA

Presume-se que a maioria dos episódios em indivíduos saudáveis seja de origem vírica (mais
comum vírus Influenza; adenovírus, coronavírus, enterovirus, VSR) embora isto tem vindo a
ser questionado. Outros agentes implicados são Haemophilus influenzae e Moraxella
catarrhalis, isolados na expetoração em até 45% dos doentes (difícil avaliar se infeção ou
colonização).Mycoplasma pneumoniae (causa mais infeção do trato respiratório ou
traqueobonquite com sibilancia do que pneumonia), Chlamydia pneumoniae, e Bordetella
pertussis, cada um deles identificado em até 25% dos casos. Pode haver associação de agentes
víricos e bacterianos.

UpToDate: “não há evidência convincente para suportar o conceito de bronquite aguda


bacteriana”

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é essencialmente clínico.

De notar que não há critérios clínicos seguros que permitam distinguir clinicamente
etiologia vírica ou bacteriana (ex: expetoração esverdeada não é indicativo de infeção
bacteriana como sibilância não é indicativo de infeção vírica)

Não são recomendados exames auxiliares de diagnóstico numa primeira abordagem


em doentes saudáveis.

TRATAMENTO

O tratamento visa a reduzir os sintomas até que a infecção seja revertida ou as lesões
brônquicas sejam reparadas.

1ª linha: observação e/ou anti-pirético

Alívio sintomático não farmacológico: chá quente, mel, pastilhas para garganta, cessação
tabágica
Ponderar:

- antitússico (dextrometorfano Bisoltussin ou codeina) – para alívio sintomático da tosse e se


não atrasar recuperação (há estudos que reportam taxas de sucesso de 68 a 98%)

- expetorante se produção mucosa – guaifenesina (expetorante e relaxante muscular)


ambroxol (Mucosolvan), bromexina (Bisolvon)

- anti-histaminico se associado a rinite alérgica

- descongestionante se associado a obstrução nasal

- AINS – para inflamação bronquica

- broncodilatador beta-agonista de ação curta (se sibilância)

Apesar dos benefícios serem incertos, muitas guidelines sugerem este tipo de medicação que
pode ajudar a reduzir a demanda por antibióticos.

Antibióticos não são recomendados para a maioria dos pacientes, excepto em doentes
com fatores de risco para complicações (ex: ≥80 anos, comorbilidades, ,
corticotratados, fumadores). Mas habitualmente há sempre referência a que se os
sintomas agravarem ou se prolongarem, então deve ponderar-se antibioterapia.

Apesar da não recomendação, antibióticos são prescritos em 60 a 80% dos casos.

Uma revisão Cochrane de 17 ensaios clínicos (3936 participantes) mostrou que existem
evidências limitadas dando suporte ao uso de antibióticos no tratamento de bronquite aguda.
Alguns pacientes podem se recuperar mais rapidamente com o tratamento com antibióticos;
porém, a diferença (meio dia ao longo de um período de 8 a 10 dias) não foi considerada
significativa. É provável que os antibióticos sejam eficazes apenas num subgrupo de doentes
com bronquite aguda. Os doentes que apresentam outros sintomas típicos de infeção das vias
aéreas superiores e com duração dos sintomas menor que 1 semana serão os que têm menor
probabilidade em beneficiar do uso de antibióticos.

Há autores que recomendam antibióticos quando a tosse se prolonga por > 2 semanas. (7)

A prescrição protelada pode ser considerada juntamente com aconselhamento sobre a


história natural da doença e tratamentos sintomáticos

Chest:

Não é recomendada nenhuma terapêutica por rotina em doentes imunocompetentes


– antibiótico, antivírica, antitússicos, anti-histaminicos, broncodilatadores, corticoides,
AINS.
Se houver agravamento do quadro ou suspeita de sobreinfeção bacteriana (não
especificam nem clínica nem duração dos sintomas), recomenda-se considerar
terapêutica antibiótica

Regime antibiótico

- Azitromicina 500 mg/d – 3 dias ou 500 mg no 1º dia seguido de 250 mg/d 4 dias

- doxiciclina – 200 mg/d no 1º dia, depois 100 mg/d 4 dias

COMPLICAÇÕES:

Complicações são raras; a principal é uma síndrome pós-bronquite capaz de produzir tosse que
se prolonga por vários meses.

Investigações a serem consideradas

• teste de função pulmonar


• radiografia torácica
• proteína C-reativa
• despiste Covid-19

Bibliografia:

1. Abordagem imagiologica da tosse – Norma DGS


2. MacFarlane J, Holmes W, Gard P, et al. Prospective study of the incidence, aetiology
and outcome of adult lower respiratory tract illness in the community. Thorax.
2001;56:109-114.
3. BMJ Best Practice – Acute Bronchitis
4. Antibiotic treatment for people with acute bronchitis - Cochrane Database of Systematic
Reviews
5. Chest cold (acute bronchitis) - CDC 2013
6. Azithromycin for acute lower respiratory tract infections - Cochrane Database of Systematic
Reviews
7. Diagnosis and Management of Acute Bronchitis. Doug Knutson, Chad Braun. Am Fam
Physician. 2002 May 15;65(10):2039-2045.
8. Acute Cough due to acute bronchitis in immunocompetent adult outpatients. Educational and
clinical practice: Guidelines and consensus statements. CHEST, volume 157, Issue 5, P1256-65,
May 01, 2020
PROTOCOLO DE ABORDAGEM NO SAP

Bronquite aguda

Doente com tosse suspeita de bronquite aguda


(< 3 semanas, outros sintomas respiratórios)

Antecedentes de doença respiratória?


Sinais de gravidade (dispneia, toracalgia, taquipneia, taquicardia, etc) ?

Sim Não

Referenciação para Sintomas há > 2 semanas?


consulta presencial Agravamento?
ou SU

Sim Não

Ponderar antibiótico Tratamento sintomático

. Azitromicina 500 mg/d - 3 dias ou


500 mg 1º dia-> 250 mg/d 4 dias
OU

. Doxiciclina 200 mg/d 1º dia -> 100 mg/d - 4


dias
Considerar despiste de Covid-19

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