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DO

CAPÍTULO 5
BEBE,
DEPRESSÃO
DEPRESSÃ

NCEITOo DA M
DE PSIQUIATRIA PERINATAL

Trata-se de um tema para mim


particularmente importante na medida
em que as relaçoes que podem exIistir entre as depressões da mãe e as do
hebé, as relações que existem inegavelmente entre estes dois campos da
clinica oferecem um paradigma fecundo um triplo plano: psicopatoló-
gico, teórico e preventivo (ou terapêutico).
Evidentemente que no campo da psicopatologia é importante apoiar-
-se firmemente no modelo treudiano das «séries complementares» que
subentende uma certa dimensão de complexidade dinâmica e exclui todo
o determinismo linear do tipo relação de causa-efeito.

importante e nocivo que possa ser para o bebé


o encontro
Por muito
mostra aliás muito cla-
depressiva, este facto da vida que
-

com uma me

ramente a diferença que existe entre a noção


de desenvolvimento e a do

destino ou de destinée'- este facto da vida, pois,


não pode ser considerado

por si só como um elemento causal directo.


Nem todas as depressões do bebé se devem
a depressões maternas (tam-
de carència quanti-
EUn
existem, como se sabe há muito tempo, situações a de-
maternas dão origem
4Va) e além disso nem todas as depressões
pressões do bebé. «nodalidades
de sal-
graças a
Algumas criança podem ficar indemnes Outras podem
como N. Jeamnnet.
Vaço» bem cStudadas
por um a u t o r
plano narcsIcO ou
nunn
variadas
evidenciar perturt
Perturbações ou
dificuldades
de unatorma
depresiva

objectal sem q u e estas


dificuldades se
organizem

propriamente dita. por


muito
emblematicas
quue
nodo
Por outras palavi as depressões
maternas,

manipuladas
de un

ds, ser
ejam, não podem ser, de forma alguma,
As
nmäes não
polein
190.

culpabilizante, i explicita,
nem
implicitamente.

poderíamos
c e n s u r a - l a s por

acusadas de ser o d e

estar
deprimidas.
Não

de notas I e2 da p. 155. (N. da )


PENSAMENTO
CORPO AO
DO

as suas depressóes num modelo causal linear


No entanto, se integrarmos
do bebé, elas nao podem deixar de se sentir
em matéria de depressões
as depressoes maternas sejam precisamente
culpadas e é de recear que
de pensamento para reintroduzir sub-
utilizadas por algumas correntes
-repticiamente uma visão etiopatogenica simpista, no campo da psicopa-
tologia infantil. Por isso faço muita questão no titulo: Depressão do bebé,
da mae não no inverso, porque tambem aqui as coisas funcio-
depressão
nam em termos
e
de reciprocidade. Se a m e pode - em certas condições-

deprimir o bebé, este também pode deprimir a me, movimento dialéctico


que funda e justifica o conceito de psiquiatria perinatal (R. Kumar).

A PSIQUIATRIA PERINATAL

UMA CLASSIFICAÇÃO TRIPARTIDA DAS PERTURBAÇÕES


PSIQUIÁTRICAS DO PÓS-PARTO

No decurso dos últimos anos, esta classificação foi surgindo a pouco e


pouco . Hopkins, M. Marcus e S. B. Campbel, 1984; M.w. O'Hara e
E. M. Zekoski, 1988).
Embora exista provavelmente um espectro mais ou menos continuo
de perturbações, esta classifcação isola no entanto três entidades: o baby
btues pós-parto, as depressões
pós-parto e as psicoses puerperais (C. Zeanah).

BABY BLUES PÓS-PARTO

E uma
perturbação transitória
do humor que se exterioriza durante os
primeiros dias que se seguem ao parto, que é de duração relativamente
Curta (de alguns dias a algumas semanas no
mais de 50% das mulheres.
måximo) e
que parece atectar

A. Guedeney fez recentemente uma revisão crítica da literatura sobre


este assunto
(A. Guedeney, C. Bungener D. Widlöcher, 1994)
e
bem as
dificuldades que revela
incertezas
nmetodológicas caracteristicas deste tipo de estudos e as

etiológ1cas que ainda hoje subsistem acerca deste fenomeno.


No entanto o
baby blues pós-parto suscita actualmente um
1nteresse no aunmento d
que respeita, por um lado, às suas relaçòes com as
pOs-parto propriamente ditas e, por outro lado, à sua eventual tunçao na depresSOc>
Constituiçao do sistema
nteractivo precoce entre mãe
parece pois centrar-se e filho. A retlexao
em torno de um
mecanismo
dopaminergico quc

76
DEPRESSÃO DO BEBE. DEPRESSÃO DA M

nermitiria «varrer qualquer marca de entraquecimento afectivo», facilitar


ma
um a verdadeira conclusão psiquicada gravidez e
permitir que a criança
entre efectivamente no jogo interactivo.
Daí o interesse que haveria em estudar também o futuro interactivo
das mulheres que nao apresentam o baby blues e daquelas que recebem
substâncias que contrariam a subida do leite, através de uma influência no
sistema dopaminérgico.

AS DEPRESsÕES PPS-PARTO

Apresentam uma dimensão patológica muito mais incontestável, como


vamos ver.

AS PSICOSES PUERPERAIS

São claramente mais raras (um a três casos em mil nascimentos). Ocor-
rendo habitualmente no mês que se segue ao parto, dão origem a sintomas
da série psicótica (confusão, delirio, despersonalização, mania...) que se

podem organizar segundo eixo esquizofrénico, unm eixo melancólico


um

ou um eixo bipolar (maníaco-depressivo). Falaremos portanto da dimen-


são dissociativa ou distímica mas, seja como tor, estas psicoses puerperais
quais seio dos a
exigem cuidados psiquiátricos relativamente pesados
no

e filho passa sempre muito


guestão da manutenção dos vínculos entre me
estruturas de presta-
rapidamente para primeiro plano, sendo que poucas
verdadeira capacidade para se
çao de cuidados possuem actualmente
uma

m e-filho âmbito de
forma prática e eficaz da díade no
Ocuparem de uma
e coerente. Os trabalhos actualmente dis-
projecto terapêutico global de
futuro dos filhos de pais psicóticos
poniveis dizem mais respeito ao
M.Rabain-Lebovici, 1985; M. Lamour, 1989),
Onga duração (S. Lebovici e um quadro de psicose
O
que ao dos filhos de m es que apresentaram
Puerperal stricto sensu.

AS DEPRESsÕES PóS-PARTO
e iserem-se
puerperais
psicoses
mais frequentes do que
as
ao muito i n d u b i t a v e l m e n t e pato-

blues num registo


0Contrário dos baby
-

concordantes
trabalhos såo
muitos
criança
-

ogico. Fazem com que a

177
PENSAMENTO

cORPO AO
DO

sérios riscos psicopatologicoS (N. Guedeney, 1989


-

corra
neste ponto
desenvolvimentistas se debruçaram activa
Desde 1985 que os psiquiatras
m a t e r n o depressivo ao nível
mente sobre os reflexos
do comportamento
e a irritabilidade das maes depri
da m e-filho. O retraimento
interacção
dificuldade em transmitir à criança estrategias de socialização
midas, a sua

lhe permitem partir à descoberta do desconhecido,


a sua posição con-
que
tlituosa quanto aos movimentos de autonomizaç o do filho, tudo isto
podendo estar em jogo
interactivo muito claro,
parece ter já um impacte
ao nível das emoções, ao nível da agressividade, ao nivel das modalidades

de vinculação ou até ao nível do funcionamento cognitivo (N. Guedeney


1993).
Voltarei mais adiante à clínica das depressões maternas do pós-parto e
dos seus efeitos na criança.
Para ja, o que importa lembrar é o movimento de ideias que ocorreu
relativamente à etiopatogenia destas depressões do pós-parto reconhecidas
e descritas desde há muito tempo (Esquirol, Marcé..) e que um autor
como B. Cramer recentemente tornou a traçar (B. Cramer, 1993).
A descrição de B. Pitt (1968) lançava primeiro as bases de uma visão
especifca das depressões pós-parto insistindo no facto de que a frequência
das depressões, designava então
que como termo de atipicas, ou
seja, com
uma frequencia de 10,8%, era muito maior durante as oito semanas que se
sucediam ao parto do que numa amostra de mulheres que não tinham
dado à luz mas
que se harmonizavam todas
com as outras variáveis.
Mais tarde, este ponto de vista particular foi posto em causa a partir de
diferentes horizontes, especialmente clinicos e
B. Cramer (traduzido por
Citemos epidemiológicos.
mim): começou-se a pensar neste segundo pe-
rnodo «que já não [parecia] haver
prevalência ou incidência acrescida das
depressões no periodo do pós-parto comparativamente com amostras de
mulheres num período não
puerperal» (P. J.
Day, H. Jennerley e A. Bond, 1988; M. W. Cooper,
E. A. Campbell,
A.
O'Hara e E. M. Zekoski,
1988). P. N. Nott (1987) descreveu um início
sões
mais frequente das depres
pós-natais entre o terceiroe o nono mês
decurso do primeiro trimestre depois do parto do que n
do
A puerpério.
especificidade dos aspectos
clínicos também foi
P.J. Cooper et al. contestada po
(1988) que não notaram
quanto à frequencia à qualquer
diferença signiticatva
perais
repartição e
dos sintomas durante as
depressões puc
depressões não puerperais.
e as

B.Cramer
também mostra que durante este segundo
factores de risco também não período evo
ção das ideias, análise dos
a da

específica das depressões puerperais, defendia uma vi


visto os factores gerais de risco terem

78
DEPRESSÃO DO BEBE, DEPRESSÃO DA M

surgido então como mais prediziveis do que os factores de risco estritamen-


te associados ao nascimento da criança. Entre estes factores
gerais de risco:
os antecedentes psiquiátricos da mulher J. P Watson, S. A. Elliott,
A.J. Rugge D.I. Brough, 1984);
a existência de
episódios depressivos anteriores (S. B. Campbel,
J. E Cohn, C.Flanagan, S. Popper e T. Meyera, 1992);
a
qualidade do funcionamento do casal parental (A. Stein.,PJ.Cooper,
E.A. Campbell, A. Day e P. E. M.
Altman, 1989;J. P. Watson et al.,
1984);
a ambivalência dos futuros
pais durante a gravidez (C. P. Cowan e
P.A. Cowan, 1992).

Os acontecimentos vitais stressantes, principalmente no plano inan-


ceiro, também revelaram ser importantes factores de risco em matéria de
depressão materna com inicio no pós-parto.
Todos estes
argumentos iam no sentido de uma nova visão, não
especí-
fica, destas depressões da me em período de pós-parto.
As divergências entre a ICD, por um lado, e o DSM-1I1-R e o DSM-IV,
Ou DSM-IVR, por outro, ainda hoje revelam bem esta reorganização do
movimento de ideias acerca das depressões com início no pós-parto.
Actualmente foi revelada uma nova especificidade destas depressöes
maternas com os trabalhos de B. Cramer e da Escola de Genebra de Psi-
quiatria do Bebé (B. Cramer e E Palacio-Espasa, 1993).
De facto, estes trabalhos, centrados no estudo do funcionamento inte-
precoce e na análise das projecções maternas (principalmente
no
ractivo
ambito das terapias conjuntas m e-filho), levam a considerar o periodo do

verdadeira «neo-orga-
POS-parto como um período onde se constitui
uma

do (na realidade), crian- bebé


24Ça0 psíquica, associada à nova presença
que passa a oferecer-se como um espaço de «materialização» possivell
as diferentes componen-
comportamento para
-

SEu corpo e no seu

chamada interacção fantasmática. Por outras palavras, especificida-


a
da
s existéncia
início pós-parto residiria na própria
s depressões com no
demasiado tempo.
nca afastada do pensamento durante
via que permitia considerar as depressões
Ontrava-se então aberta a
ou nio espe-
pôs-parto não só dol a d o da näe (pontos de vista especificos m e-tilho
da relação
como uma verdadeira perturbação
mas base imteractiva e servindo
essa c o m uma
amer, 1993), perturbação
de ponto o conceito de psiquatru perinatal.
cancoragem para

79
PENSAMENTO

AO
CORPO
DO

PERINATAL
PSIQUIATRIA
CONCEITO DE
o

fornece o titulo geral do recente livro de J. Coxe


Este conceito dinâmico que
eminentemente
de um conceito

J. Holden (1994).
Trata-se e as do recm-nascido
as perturbaçoes
psiquicas parentais
visa apreender nem sequer unicamente
uma forma independente,
do bebé, não de
ou
linear (relação simples de
causa e efeito), mas
articuladas de uma forma cada
modelo interactivo onde um dos
concebê-las sim no seio de
um

representar e imaginar as dif-


parceiros do vínculo pode não só encarnar,

também desencadear, ver e induzir as


disfunções
culdades do outro, mas

ou psicopatológicas deste último.


psicológicas
maternas e as diversas
Por exemplo, perspectiva, as representações
nesta

associam do ponto de vista da interacção fantasmática


projecçoes que se lhe
interactivo do bebé, desenca
assim influenciar o comportamento
podem
estamos a
dear o seu próprio funcionamento depressivo (no registo que
deixar de acentuar as modalidades
considerar) que, por sua vez, no poderá
forem as raízes destas últi-
depressivas do psiquismo materno, sejam quais
mas que pertencem à história estrutural da mae. Cada um compromete

assim o futuro do outro. pode deprimir o bebé mas o inverso tam-


A mãe
factor de risco
bém é possível, vindo a interacção do bebé acrescentar um
depressiv suplementar à eventual depressividade materna prévia.
Imagina-se que deste ponto de vista, e no que diz respeito às depres-

sões maternas pos-parto, impacte destas últimas no sistema interactivo


o

dimensões (enfra-
precoce m e-bebé passa provavelmente mais pelas suas
quecimento afectivo, tristeza, lentificação, irritabilidade.) do que pela
sua

mas
classificação (neurótico, psicótico ou reactivo, por exemplo), tanto
que o puerpério é aqui encarado em termos de neo-organização psiquica
particular, como vim0s.
Deste modo,o conceito de sintonia afectiva descrito por D.N. Sterne
certamente um bom candidato ao papel de elo na articulação, em ambos

Os sentidos, das perturbações maternas e das da criança.


E certo que uma depressão materna pode vir a alterar profundamene
o estilo interactivo de base da me, no equilibrio dos seus diferentes
comate-
ponentes: sintonia uni ou transmodal, imediata ou diferida, resposta i
acentuada. Ora o bebé parece ser competente para modi-
nuada ou
notar e, em
fhcações dessa natureza que o dessintonizam de uma forma duradoira e
contrapartida, a sua confusão interactiva vai agravar a indisponibia
materna para a
harmonização dos afectos.
uto-

Depressa nos encontramosuma face a espiral psicopatolog" *


-agravante que desorganiza o jogo interactivo e ameaça o equilibrio emo-

cional ou tímico dos dois


parceiros da inter-relação.

180
DEPRESSAO DO BEBE. DEPRESSÃO DA M

ASPECTos CLÍNICos

A DEPRESSÃO PÓS-PARTO

É uma depressão que se instala no seguimento do


baby blues com início
pós-parto. Este não cede ao tim de duas semanas como é
habitual.
Somam-se-Ihe nitidoS sintomas depressivos e uma certa ansiedade, asso-
ciada a uma tad1ga extrema, anorexia, perda de peso, uma insónia real, um
sentimento de culpabilidade e sobretudo um sentimento de incompetên-
cia perante a criança. Esta depress o pode ir de algumas semanas a vários

meses depois do nasCimento. Ela atinge, segundo os autores, 10% a 20%


das mulheres. Num trabalho recente, S. B. Campbell e colaboradores assi-
nalam que, nas primiparas, a depresso pós-parto atinge ainda 20% das
mulheres para além do quarto mês.
Uma característica, sobretudo na nossa cultura, é que a depressäão tem
uma evolução pouco ruidosa e tende para a cronicidade. Ela não é reco-
nhecida nem pela me nem pelos que a rodeiam, porque o nascimento é,
por definição, um acontecimento que deve ser feliz, como observaram
Ph. Mazet et al, N. Guedeney, D.Widlöcher e R. Kumar.
Num trabalho de R. Kumar et al.e também de T. Lemperière, observa

deprimidas final do ano


que se
que 20% das mulheres ainda estão
no
-Se

segue ao nascimento.
carácter melancólico são muito fceis de
Se as grandes depressões de
a medidas de
assistëncia, o mesmo não
1dentificar e dão portanto origem
continuam escondidas
mentalizadas ou que
acontece com as que não são
(interacções abundantes,
por detrás de um sistema de «defesas operatórias»
mas um pouco mecânicas e desvitalizadas).
limitar a fobias de
maternas também se podem
ugumas depressões dificeis de detectar porque
são
puisao para com o bebé, sintomas muito
da sua carga de
intensa culpabilidade
em virtude
ndos em segredo, da depressio
materna e
à classificação
que diz respeito diz respeito äs
suas
m , se o
o
do que que
vimos -

portante
-

como
numa personali-
dimen e n t a n t o que
as depressões emjogo a criança,
d S,parece n o particularmente
nocivas para
limite (borderline) da mae são das casos,
d e s c o n t i n u i d a d e s

nestes
Cm virtude maciça,
da acentuação
ctivas imprevisíveis e incontroláveis pela crlainga

8
PENSAMENTO

CORPO AO
DO

MATERNA
DEPRESSÃO
EFEITOS DA
OS
(SEGUNDO M. BYDLOWSKI)

evidenciam uma
correlaçao entre a depressão pós-
Inúmeros trabalhos
De acordo com os testemunhos
desenvolvimento da criança.
-parto e o são tristes, atónicos
recém-nascidos de mes deprimidas
dos clínicos, os
ë a adequada, visto a
A interacção não
ou, pelo contrário, hiperirritáveis.
nula aos m o v i m e n t o s es-
limitada ou
ter uma tolerância
me deprimida Beardslee et al. indicava
W.R.
pontâneos do bebé. Um apanhado geral de afectivas por altura do
40% das crianças de pais com perturbações
que n u m a dada altura da sua
vida
nascimento recebem
cuidados psiquiátricos
e E. Z.Tronick
adulta. Num estudo ainda
não publicado, M. K. Weinberg
me deprimida, tem
menos de um ano, de uma
mostram que o filh0, com
mais fechado,
vivazes. Mostra-se muito
afectos menos positivos e menos

um nível de
actividade m e n o s bom.
m e n o s atento e apresenta
nascidas de maes deprimidas têm
Para M. B. Keller, 24% das crianças
visíveis. Para A. G. Billings, 69%.
A diversidade destas avalia-
perturbações
critérios adoptados para re-
atribuída à variabilidade dos
de ser
ções tem
estudadas.
também à idade das crianças
gistar as perturbações interactivas e
elevados para
Mas de modo os números são suficientemente
qualquer o
trata de um sério de saúde pública e que
problema
considerar que se
nascimento fica numa situaço
filho de u m a mae deprimida por altura do
psicopatologia ulterior.
de risco e é candidato a uma
de
descreveram quatro tipos de padrões
J.E Cohn e E. Z. Tronick
entre as m es deprimidas e o filho:
interacç o
mães deprimidas são tristes,
de acordo com um primeiro padrão, as
fechadas em si mesmas, com pouca expressao
lentas, silenciosas e

afectiva;
c
colericas
de acordo com um segundo padrão, elas mostram-se

tensas principalmente ao nível do rosto;


de acordo com um terceiro, elas são intrusivas e bruscas dura
interacçöes com o bebé e, de certo modo, hiperestimulantes
de acordo com um último padrão, elas misturam os sinais dos an

riores padröes.

os últi-
interactiva me deprimida-filho foi estudada durante
A diade
mos anos, graças a0 contributo do instrumento vídeo que permite SIS
a
tematizar as situações de estudo, codificar os resultados e chegar

I82
DEPRESSÃO DO BEBE,
DEPRESSÃO DA M

-ão quantificável. A especificidade destas trocas reside na


za e na sua descontinuidade no seio de uma mesma sequência. Do pobre-
sua
traba-
Iho de T.Fieldssobressai que a depressão materna étransmissível ao recém-
odurante as trocas interactivas
precoces.Além disso,J. F. Cohn et al.,
estudarem a interacçoi mae-filho de dois meses, estabelecem uma rela-
o etiológica entre depressao materna e desarmonia interactiva
precoce,
raduzida pela negatividade das reacções do recém-nascido, numa amostra
diades.
de vinte e quatro

A ORGANIZAÇÃO DEPRESSIVA DO BEBÉ

Para além das repercussões interactivas propriamente ditas da dinâmica


depresiva ao nível da díade, em França, autores como L. Kreisler aprofun
daram muito a questão da própria organizaço depressiva ao nível do bebé
implicado em tais situações.
Todos sabem que ele descreveu dois quadros principais, consoante a

mae que interagia de uma


criança encontrou, ou não, inicialmente uma

quando mae se
ela. Um quadro de «depressão branca»
a
torma viva com
momento, «uma
sindronme de comportamento
deprimiu num segundo
conheceu desde sempre a me depressiva (rela-
vazio» quando criança
a

ção desértica habitual»).


por
Em ambos de situações de carëncia designadas
os casos trata-se
fisicamente mas o
visto a me estar presente
qualhtativas» (M.Ainsworth),
quanti-
de carência designadas por
cOraçao nao, ao contrário das situações como nas descriçoes de
ausente
em
que a mãe
está fisicamente
avas,
R.Spitz eJ. Bowlby o caminho
brancas poderiam preparar
alongo prazo, as depressões e as sindro-
psicossomáticas da personalidade
de-
uenticas organizações terminar no que
outrora se

comportamento vazio poderiam


de
gnou por neuroses de comportamento. destes dite-
sintomatologia
a
no outro,
num caso
como
núcleo clinico
no tor, torno de um
em
depressivos organiza-se a citar:
daros elementos que
me
limita
Sttuido pelos seguintes
a atonia psíquica;
distalj:
do que
iCntificação
motora (mais proximal
a retirada interactiva; graças
importante.
e
sobre as quas
se apenas
psicossomáticas
especiticar
Daçoes observador,
h t r a t r a n s f e r e n c i a l
do
à vivência contra

183
P E N S A M E N T O

CORPO
AO
DO

quisesse «tratar.a mae


Se a criança
(com0
têm o valor de um apelo
pelo contrário, iá tm um
ou se,
a sair da depressão) de desorganizacãc
ajudando-a de abandono e
psi-
significado de
esgotamento,
valor nao è
me
evidentemente o
no
O seu
cossomática profunda.
ou as pulsões
destrutivas.A crian
n-
as forças de vida
se prevalecerem mae c o m o perseguidora, o que
a
para
ça deprimida depressa surge interactiva bem conhecida de que um
ilustrar a noção
serve para
também é um bebé deprimente.
bebé deprimido

vazio, pode ver-se organizar, a lon-


Nas síndromes de comportamento
instabilidades psicomotoras, sendo plau-
nanismos psicogénicos ou
go prazo, motora de substituição, em resposta ao
sível a função de «segunda pele»
sua

fracasso do amparo (holding) e


do continente materno inicial.

E ainda preciso dizer que estes quadros


depressivos são eminentemente
suficientemente
terapéutica precoce,
reversíveis em casos de intervenção
atrasos da
intervenção pode dar origem
a
a sua evolução sem
enquanto
mecanismos mais intimos
linguagem perturbações cognitivas cujos
ou a
tëm ainda de ser esclarecidos, no parecendo a hipótese de uma inibição
defensiva do pensamento ser suticiente em todos os casos.
Estes trabalhos pedopsiquiátricos revelam-se espantosamente conver-

gentes com alguns dados da reconstrução psicanalítica.


Mencionarei apenas o célebre artigo de A. Green sobre o complexo da
emãe morta» que nos mostra como este tipo de problemática pode ser

abordado na posterioridade, através do fenómeno da «depressäo de trans-


ferencia».
A estas descrições clínicas, A. Green acrescenta uma tentativa de exp
cação retrospectiva, invocando:
o desinvestimento da me pelo bebé como resposta detensiva
desinvestimento do bebé pela mae;
a identificação da criança com o funcionamento depressivo da m e,

a fim de
preservar um último vínculo com ela, vínculo esse que
situa então mais no
registo do ser do que no do ter;
a
incriminação de unna terceira pessoa como causa da
terna com todos os riscos
depressa
de tura:

dentificação com
pseudo-edipificação prenm
uma
o
objecto perdido do luto da mae.
Do
ponto de vista do
processo de que
colocada é a de sabersubjectivação, questão ce criana
se encontra a
assim
a
partir de quando e quc*

184
DEPRESSAO DO BEBE,
DEPRESS DA M

ce torna capaz de se deprimir em seu próprio nome, se é


mos exprimir assim, e no apenas como que nos
pode-
espellho da
depressão materna.

ELEMENTOS DE PREVENÇÃO

Tendo em conta o
1mpacte das depressóes maternas pós-natais sobre o
sistema interactivo precoce e sobre o futuro psicopatológico da criança, a
importancia de uma prevenção parece ser indiscutível.
Podem encarar-se diterentes medidas preventivas, quer nos situemos
no período prê-natal quer no pós-natal.

NO PERÍODO PRÉ-NATAL

Este é evidentemente o ponto mais dificil. Seria interessante poder


tendo em vista
dispor de instrumentos de despistagem que permitissem,
correm o risco
identificar as mulheres que
uma prevenção direccionada,
verdadeiramente depois do parto.
de se deprimir trabalhos de
citar os
Actualmente, e neste campo, só se podem
Saucier et al.
M.W.O'Hara et al. e os de J.-E mostram elevados indices de
despeito dos resultados publicados
A
que
confirmados, mas é sobre-
estes trabalhos têm ainda de ser
preditibilidade, convincente, na medda em

udO a sua metodologia que


é pesada e pouco
factores s u i c i e n -
ser apenas
especificados parecem
yuc os factores de risco no periodo
definição,
vulnerabilidade psíquica que, por inte-
eente gerais de
fundamentalmente

natureza
conta a
a ter e m
chegam
nao
d das depressões
actva maternas pos-natais. Saint-Vincent-de-Paul

em
de
e nós próprios i n s t r u m e n t o s

Tem de ser feitos esforços, criar e


validar
tentar

investir neste sentido, para


nos a menos
duas exig ncias:
pelo do bebé
despistagem que respondam a

o impacte
da presença

depressoes
adiantadamente das
reender
poder
d e t e r m i n i s m o

no interactiva
e da
nte em jogo
que entra directan da sua
implicação
triádica) que
se

virtude
em diádica (ou
maternas pós-natais, tópica
- o r g a n i z a ç ã o

sua inscrição na
(autoquestionars
ap-
Cria no pós-parto;
i n s t r u m e n t o s
sinmples
utilizados
por pesoa
como ser
apresentarem-se c
C n - s e

podem perinatal.
que
exemplo) psiquiatria
por de
lae, em
matéria

não muito quali


tO
qualificado

85
PENSAMENTO
DO CORPO AO

EM PERIODO POS-NATAL

As coisas já estão mnais adiantadas.


E preciso saber que apenas 20% das mulheres que apresentam um baby
blues com início no pós-parto tazem em seguida uma etectiva depressão

pós-natal.
O baby blues com nicio no pós-parto não surge pois como um bom
elemento de prediç o das depressões maternas pós-natais, o que no entan-

to não permite que se reduza imprudentemente o tempo de estada das


mulheres na maternidade, correndo-se o risco de as deixar viver sozinhas
e desamparadas, em casa, o seu movimento depressivo dos primeiros dias, o
que, em si mesmo, não pode ser de modo algum proveitoso.
Seja como for, no quadro médicos é
da maternidade, mais do que os

sem dúvida o pessoal paramédico ou até o pessoal de serviço que pode ter
uma maior proximidade psíquica com as mães, para poder ser sensível a
um eventual isolamento relacional (ausência de visitas, por exemplo), a
uma talta de apoio pelo pai da criança, e para criar um clima de coniança

que permitaå mäe conftiar-see verbalizar aborrecimento, morosidade, fal-


ta de prazer interactivo ou por vezes fobias de impulsão mais ou menos

intensas.
Ja existem bastante bons instrumentos de despistagem das depressões
maternas a partir da quinta ou da sexta semana depois do parto e citarei
apenas a escala de J. Cox, traduzida e validada em França por N. Guedeney.
Parece-me no entanto que não nos devemos deixar obnubilar por abor-

(à base de escalas), éigualmente muito


dagens puramente escalares e que
de detecção clinica num certo
importante estabelecer todo um dispositivo
número de locais estratégicos: consultas de Protecção Materno-Infantil,

consultórios de pediatria, creches, etc.


E evidentemente nestes locais que podem ser identificadas as jovens
so
maes deprimidas, sendo que os psiquiatras, psicólogos ou psicanalistas
podem intervir num segundo momento.

E o suficiente para mostrar a importância e o interesse de uma veru


relativa-
deira sensibilização de todos os técnicos de saúde destes locais
conceito de
mente ao conceito de psiquiatria perinatal e ao próprio
depressão materna.
Uma vez despistada a depressäo materna pós-natal, é importante dus
por dos meios para evitar os seus efeitos no bebé.
Ja se realizaram tentativas de intervenção.Trata-se enm geral de trata
mentos multimodais com medicação, psicoterapia e grupos de aPo

pos-natal.

I86
DEPRESSAO DO BEBE,
DEPRESSÃO DA MAE

IIm trabalho de P. Cooper e L.


Murray está actualmente a ser rea-
lipado Cambridge,
em atraves da
amostragem aleatória de mulheres
aue apresentam uma depressao
major, propondo-lhes vários
de tratamento, de forma a tipos
as comparar modalidades terapêuticas.
Uma destas modalidades e um tratamento de oito semanas através de
visitas ao domicilio na presença da criança.
A visita ao domicilio, no primeiro ano de vida da criança, foi descrita
por vários autores: 5. Cramer, F Palacio-Espasa, S. Stoleru, M. Morales, no
caso especifico das máes provenientes de meios desfavorecidos. Um estudo
de C. M. Heinicke et al. dá uma eficácia de 75% nas mudanças positivas
intrafamiliares depois de, em média, doze visitas ao domicílio.

A equipa de M. Bydlowski, no hospital de Port-Royal em Paris,


também procura avaliar os efeitos de uma intervenção teraputica
precoce no domicílio de maes deprimidas.
O recurso a observações directas com finaidade terapêutica, segun-
do a metodologia de E. Bick, também poderia vir a ser interessante.

m todos Os casos, é certo que para além dos diferentes dispositivos


me
considerados, o simples facto de alguém se ocupar de uma
cos confessar as suas dificuldades
que se sente só e que não ousa
d narcísicos que não
nte lhe proporciona evidentemente ganhos
POaem deixar de ter um efeito favorável na evolução da situaçao.
retlexao:
Lomo conclusão, indicarei apenas alguns eixos de
murua-
assente numa
que o conceito de psiquiatria perinatal
Vesmo entre a me e o bebë, nem

dade das influências psicodinâmicas a do adulto


bebé e

POE 1550 se deve concluir que a depressão do


metapsicologica5.
Cnetem para as m e s m a s concepções
como intrapsi-
extrapsíquica,
Em virtude da sua indiferenciação, tanto assente
de objecto
temática de perda
ca,
10
obebé não pode elaborarintrapsíquicas do adulto.
uma

toi
mesmo jogo das instâncias de depressão
tannbem

E de tal se o
termo
analogas
forma
d
i
1sto é verdade que,
mais
virtude de
em
foi
utilizado para o bebé, parece-me que o do que nivel de analogtus
dinica
ao
afectos
dos
expressão
struturais dificeis de sustentar entendido
na crianç
nito

de
deva ser de quebra
m o de depress o de
depressão,

pequena na sua acepçã


Dr mais directa,
ou seja, a
de vida.
de queda dotónus dos instintos

87
PENSAMENTO
DO COR PO AO

Além disso, como se viu, não considerei o impacte das depressões


maternas pré-natais no desenvolvimento ulterior do bebé e no seu
eventual funcionamento depressivo.

De momento, sabemos muito poucas coisas neste campo e, numa pers-


pectiva de prevenção, ainda há muito que tazer e que retlectir sobre este
assunto.

E se a realidade do impacte das depressões maternas pós-natais nas


interacções precoces já não tem de ser demonstrada, assim como a
realidade dos riscos que elas significam para a criança no plano do
seu futuro psicopatológico, parece-me iguamente importante ter
presente a possibilidade de uma depressão materna fantasmada pela
criança na posterioridade.

Depressão materna fantasmada que lhe permitiria reconstruir a sua


saída da simbiose desprovida de toda a culpabilidade: «Não fui eu quem se
afastou dela, foi ela quem me abandonou.»
E de certo modo uma posição económica e que talvez também expli-
que parcialmente o fascínio dos investigadores e dos clinicos por esta questão
tão especifica e tão central das depressões maternas.
DoCORPO
PENSAMENTO
Bernard Golse

VÉRTICES 11

CLIMEPSI
DITAne

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