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Shannon K.

Butcher
TWKliek
Delta Force 01

Shannon K. Butcher
Sem Arrependimentos
Delta Force 01

Sem arrependimentos
A renomada criptóloga Noelle Blanche se recusa a ter sangue em suas mãos. Então, quando
os militares pedem sua ajuda em uma operação secreta, ela se recusa - até que homens
armados e mascarados invadem sua casa e ameaçam sua vida. De repente, fica muito claro
que o sangue derramado pode ser o dela. Noelle não tem escolha a não ser confiar no
estranho perigoso enviado pelos militares para protegê-la. Um estranho que é tudo o que ela
detesta, tudo o que ela teme... e tudo o que deseja.
Sem olhar para trás
O ex-agente Delta, David Wolfe acha que deixou tudo para trás, o horror, a dor, a
culpa. Mas agora, os homens que barbaramente assassinaram sua esposa estão de olho em
uma criptóloga brilhante que pode levá-los ao esconderijo de armas que eles tanto querem
encontrar. Quando a paixão inflama entre Davi e a mulher que ele jurou proteger, o que
começou como apenas uma missão se transforma na luta de sua vida. Mas ele poderá evitar
que a história se repita?

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Shannon K. Butcher
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Delta Force 01

Traduzido do Inglês
Envio do arquivo e Formatação: Gisa
Revisão Inicial: Rosemeire
Revisão Final: Caps. 1 a 4 – Thais
Caps. 5 em diante - Valdirene
Capa: Elica Leal
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Comentário da Revisora Valdirene: David é um homem atormentado. Torturado por


lembranças fúnebres e devastadoras de sua esposa brutalmente assassinada.
Retirou-se voluntariamente da Equipe Delta Force que comandava, por não conseguir
se concentrar em mais nada, além da dor da morte injusta e brutal de sua esposa, e carrega
durante dois anos a dor e a culpa por sua morte. Carrega também sua aliança em uma
corrente perto de seu coração. Por amor a ela, e para se lembrar que nunca amará
novamente, para não colocar nenhuma outra mulher em risco.
Após dois anos afastado, é obrigado a voltar para o Delta Force, por ser considerado o
único que pode manter Noelle segura e desbaratar o grupo responsável por tantas mortes.
Noelle confia nele imediatamente e a cada momento que passam juntos vê sua
admiração e respeito crescerem, juntamente com o amor que começa a sentir por este
homem tão corajoso.
Só que David não acha que mereça encontrar outra mulher que possa fazê-lo feliz.
Não acredita que mereça ser amado, se não pode proteger quem ele ama. Resiste
duramente à sua atração e sentimentos, mas eles são mais fortes que ele, e se perde por
Noelle, por sua inteligência, beleza e meiguice.
Depois que fazem amor, esse homem enlouquece. Ele se considerava morto antes de
encontrar Noelle, amargo e movido pela vingança. Em Noelle, ele vê uma mulher cujo
amor lhe proporcionou a redenção de seu coração e sua mente, além de enlouquecê-lo de
desejo. Chega a ser doloroso ler sobre a força de seus sentimentos, o amor que ele sente, a
atração irresistível e, principalmente, o medo que ele sente de perdê-la, de que aconteça com
ela o mesmo que aconteceu com sua esposa. Ele se torna obcecado por sua segurança e tudo
que faz é pensando em protegê-la, mesmo às custas de sua própria vida.

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Capítulo 01

O passado de David Wolfe o encontrou no estacionamento de uma pequena


mercearia da cidade nas Montanhas Rochosas. Era final de novembro e o sol aquecia seu
cabelo escuro, mas não fazia nada para livrá-lo do mau presságio que o atravessava a cada
passo que dava em direção ao seu ex-oficial de comando.
O coronel George Monroe estava encostado contra o Jeep de David, bloqueando sua
fuga.
— O que está fazendo aqui, senhor? — David perguntou, seu tom acentuado em
desagrado.
O coronel Monroe deu a David com um olhar firme que teria feito um homem
menos confiante ficar pálido. O Cabelo de Monroe, uma vez negro, ganhou estrias cinzas
com a idade, e ele possuía olhos frios de um homem que vira muito sofrimento em uma
vida. Mas em sua camisa branca de malha e calça cáqui, ele mais parecia um jogador de
golfe aposentado do que um comandante da maior força de combate de elite do mundo,
atuando em segredo.
— Você é um homem difícil de encontrar, Wolfe — disse Monroe.
— Eu não estava querendo ser encontrado, senhor — respondeu David. — Eu estou
surpreso que você tenha chegado até aqui.
— Seguimos o dinheiro que você mandou para sua irmã para a cirurgia de seu
sobrinho.
David cuspiu uma maldição. Ele enviara o dinheiro a mais de cem quilômetros de
distância usando um pseudônimo de um homem que nem sequer existia. Monroe nunca
deveria ter sido capaz de encontrá-lo.
A menos que ele realmente estivesse empenhado nisso.

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Ondulações de desconforto deslizaram pela espinha de David. Fosse qual fosse o


motivo para Monroe buscá-lo, não podia ser bom. Poderosos líderes militares como
Monroe não emboscavam ex-militares em estacionamentos de loja apenas para lembrar os
velhos tempos.
— O que você quer? — exigiu David.
— Nós precisamos de você, Wolfe. Há uma situação...
— Eu não dou a mínima para sua situação — disse David, acrescentando
propositalmente um tardio, — senhor.
A boca de Monroe se contraiu numa sugestão de sorriso. — Vejo que você não
perdeu o respeito pela autoridade nestes últimos dois anos.
— Não, mas estou prestes a perder a calma, assim é melhor você se afastar do meu
Jeep e encontrar outro homem para sua situação. Deixei o Delta Force dois anos de atrás,
lembra?
Monroe não se moveu e David estava rapidamente começando a pensar que teria
que mostrar a Monroe o quanto ele aprendera em todos esses anos estando sob seu
comando; treinamento para lutar com o que estava à mão, e quando nada tinha em mãos,
lutando com nada. Seu corpo ficou tenso quando ele avaliou a possibilidade de uma queda
rápida e eficiente para Monroe.
— Eu não faria isso se fosse você, Wolfe — disse Monroe como se estivesse lendo os
pensamentos violentos de David. — Eu não sou estúpido o suficiente para pensar que
poderia levá-lo em uma luta justa, por isso trouxe reforço. Há um atirador a cem metros
atrás de você nas árvores. Ele não é tão bom quanto Grant, mas ele é bom o suficiente. —
Um sorriso breve e selvagem brilhou sobre o rosto de Monroe.
David congelou, de repente sentindo o peso de um rifle letal apontado para sua
cabeça. Se ele tocasse em Monroe, seria a última coisa que faria.
— Você é um bastardo, senhor — disse David.
— É o que diz a minha mulher, mas ela não me conhece como você. — Monroe deu
um sinal de mão para o atirador e David reconheceu o comando para esperar em alerta. —
Eu preciso de você para assumir uma missão e eu não vou aceitar um não como resposta.

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— Sim, você vai. Eu não lhe devo nada. Eu saí sem prejudicar ninguém. Os únicos
favores que devo são para Grant e Caleb, e eles não estão pedindo. — David suprimiu a
sua culpa quando mencionou seus dois mais próximos amigos, homens para os quais ele
devera sua vida mais vezes que podia contar. Homens dos quais ele se afastou a dois anos,
deixando-os na dura batalha que escolheram sem ele.
Monroe inclinou a cabeça e olhou diretamente nos olhos de David. Ele era um dos
poucos homens que David conhecia que podia realmente olhar para ele e não recuar. —
Você está errado. Você me deve.
A súbita suavidade na voz de Monroe preocupou David. Homens como Monroe
nunca eram suaves, não com suas esposas ou filhos e certamente não com homens como
David, a quem enviara aos locais mais infernais na terra para matar algumas das pessoas
mais vis e continuar respirando.
— Que diabos você está falando? — perguntou David.
— Eu fui a pessoa que ordenou o retorno do restante da equipe Delta em sua última
operação.
A dor no peito socou David com a menção da operação que falhara e quanto isso lhe
custara. Seu corpo tremia e o saco de mantimentos em suas mãos rangeu sob o aperto de
suas garras. Contra a sua vontade, seus olhos fecharam e ele foi forçado a enfrentar o horror
de seus dois anos de memórias, lembranças ainda dolorosamente frescas em sua mente.
— Foi você que deu a ordem? — a falta de ar em seus pulmões fez a pergunta sair
como um sussurro fraco.
— Eu fiz — disse Monroe. — E eu faria isso de novo hoje, se confrontado com a
mesma escolha.
Se David não tivesse tomado a pequena vingança que Monroe lhe proporcionara, ele
não teria durado tanto tempo. A culpa o teria comido todo.
— Você foi à corte marcial? — perguntou David.
Monroe desviou o olhar, seus olhos cinzentos correndo desconfortavelmente para a
floresta atrás de David, onde o atirador esperava por um sinal para matar. — Isso não
importa agora. O que importa é que eu preciso de sua ajuda. Eu nunca quis cobrar este

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favor particular, mas não tenho escolha. Eu preciso que você volte para esta operação. Vidas
estão em jogo.
Memórias sombrias e dolorosas inundaram David e ele lutou para mandá-las de
volta para deter o fluxo de sangue, morte e dor, tudo encapado em tons de pesadelos.
— Eu não vou voltar — resmungou David, não familiarizado com o som cru de sua
própria voz. — Eu não posso. Perdi muito trabalhando para você para voltar.
A boca de Monroe esticou em uma linha sombria. — O Swarm ressurgiu. Eles
começaram a matar de novo.
David ficou tão chocado que seus joelhos tremeram. — Isso é impossível. Eu matei
todos eles. Eu incendiei o prédio e fiquei observando para certificar-me de que nenhum
deles conseguisse sair vivo.
David reviveu cada momento de sua última operação no espaço de um batimento
cardíaco. Ele sentiu a raiva cega que tomou conta dele quando disparou, sentiu a satisfação
sinistra de saber que o Swarm nunca machucaria alguém de novo, sentiu o vazio oco de
saber que não importa quantos homens ele matasse, não poderia trazer os mortos de volta.
Vingança não mudava nada.
Depois de vários momentos tensos, David foi capaz de reconstruir a barreira na parte
de sua mente que era uma tempestade caótica de pesadelos, imagens que batiam em sua
sanidade até que as conteve em uma bolha, como um filme.
— Quatro civis estão mortos e a vida de uma jovem mulher está em jogo. Eu preciso
de você. Ela precisa de você.
— Você quer que eu a proteja? — David perguntou, incrédulo. — Você deve estar
desesperado.
Monroe puxou uma respiração profunda e cansada. — Você conhece o Swarm. Você
conhece suas táticas. Você também sabe o que acontecerá com ela se falhar.
Raiva fervendo, violenta, subiu até a garganta de David, deixando o sabor ácido da
bile para trás. Por dois anos ele pensara que exterminara cada um dos membros do
Swarm. Antes que ele saísse da Força Delta quis ter a certeza que eles nunca poderiam
prejudicar um inocente outra vez.

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Ele estivera errado. Por dois anos, ele estivera errado.


— Diga-me onde está o Swarm agora — pediu David em um grunhido próximo. —
Eu matarei cada um deles até o último, pessoalmente.
— Nós não sabemos onde eles estão. Mas nós sabemos o que eles querem.
— A mulher — adivinhou David.
Monroe assentiu. — Dra. Noelle Blanche. Grude nela e você não terá que encontrar o
Swarm. Eles vão te encontrar.
Um sorriso lento e feroz apareceu sobre os lábios de David. — Onde ela está?

— Precisamos conversar.
Noelle Blanche parou e se virou para ver quem havia interrompido a sua
concentração.
A professora Joan Montgomery, mentora de longa data e amiga de Noelle, estava
parada na porta do escritório abarrotado de Noelle, parecendo preocupada e um pouco
nauseada.
Joan fora uma das professoras de graduação de Noelle na Universidade de Kansas.
Ela instigara em Noelle seu primeiro gosto pelo latim e, por causa dela, o destino
educacional de Noelle mudara. Sua carreira de matemática fizera uma curva em direção a
linguística e acabou descansando em alguma parada maluca chamada Professora
Assistente de Matemática Aplicada e Linguística.
Noelle forçou um sorriso de boas-vindas em seu rosto, afastando o intrigante,
vagamente alfabeto cirílico que acabara de receber por e-mail de um colega na Rússia. —
Eu estarei lecionando álgebra linear em quinze minutos, mas tenho tempo até então.
A expressão de Joan revirou com desconforto. — Eu fui enviada pelo reitor para ver
qual será sua decisão final sobre essa concessão. Ele está cansado de esperar.
Noelle abafou um suspiro resignado. — Eu já disse que não aceitarei qualquer
subvenção financiada pelos militares.
Joan prendeu os cabelos grisalhos, na altura do queixo, atrás de uma orelha, puxou a
cadeira laranja dos anos setenta de seu escritório e sentou-se. — Por que não? Você é a única

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no departamento que pode fazer o trabalho. Inferno, até onde eu sei, você é a única no país
que pode fazê-lo.
Noelle balançou a cabeça e enfiou os dedos pelos cachos vermelhos para
desembaraçá-los da dobradiça de seus óculos. — Isso não é verdade. Há pelo menos outras
quatro pessoas que sabem mais do que eu sobre essa espécie particular de criptologia e dois
deles vivem aqui nos Estados Unidos. É apenas um hobby para mim. Eles fazem isso em
tempo integral.
— Não foi para eles que o governo ofereceu uma grande quantia em dinheiro em
subsídio — Joan lembrou. — Aparentemente, você é muito mais valiosa do que pensa.
Noelle bufou. — Minha irmã é a pessoa inteligente. Deixe-os pedir a ela. Ou a
qualquer outra pessoa. Só não eu.
— Por que você não quer fazer o trabalho? Parece bastante inofensivo para mim. Não
é como se eles estivessem pedindo para você construir uma bomba ou algo assim.
— Eles me querem para desenvolver um sistema matemático de criptografia para
uso militar.
— E daí? — Joan perguntou, franzindo a testa para Noelle em confusão. — Você acha
que não pode fazer isso?
Noelle acenou com a mão pálida, quase derrubando a torre inclinada de papel sobre
sua mesa. — Claro que eu posso fazer. Eu já estou na metade do caminho com os
algoritmos, porque não conseguia tirar meu cérebro do quebra-cabeça enquanto dormia.
Eu terei a solução em mais dois meses, ou não, não interessa, mas esse não é o ponto.
— Então, qual é o ponto? Porque eu não estou vendo como recusar dinheiro fácil irá
ajudar a solidificar a sua posição aqui na universidade.
— Se eu der aos militares uma ferramenta, eles irão usá-la. Eventualmente, eles a
usarão ofensivamente. Quando isso acontece, pessoas morrem ou podem morrer e eu serei
parcialmente responsável. Eu não posso fazer isso.
— Se você não fizer, alguém em alguma outra universidade fará — disse Joan, com o
rosto suavizando com a compreensão. — Você é brilhante, e provavelmente vai levar dois

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meses para fazer algo que alguém demoraria cinco anos para fazer, mas, eventualmente,
alguém vai descobrir. Eventualmente, alguém vai dar aos militares a sua ferramenta.
— Mas não serei eu — respondeu Noelle. — Eu não vou ter o sangue em minhas
mãos, mesmo que isso signifique que eu seja demitida.
— Cortada — Joan corrigiu com uma careta.
— O que seja. — O que fosse, significava que Noelle estaria sem emprego.
O silêncio encheu a sala, quebrado apenas pelo leve zumbido da sobrecarga de luz
fluorescente barata.
— Nem qualquer coisa — disse Joan. — Cortada.
O tom apologético da voz de Joan chamou a atenção de Noelle. — Eles mandaram
você para me despedir, não foi?
Os olhos escuros de Joan encontraram os verdes de Noelle. — Se você não aceitar este
dinheiro da concessão, você vai sair no final do semestre da primavera.
Fora. Noelle sentiu como se sua cadeira fosse retirada dela. Ela provavelmente não
deveria ficar chocada, mas estava. Uma coisa era pensar na possibilidade de perder o
emprego, outra completamente diferente era saber que isso ia acontecer. E quando. —
Você tem certeza?
Joan balançou a cabeça, fazendo seu cabelo curto cinza balançar ao longo de seu
queixo. — É por isso que fui enviada aqui. O departamento não quer perder você e seu
brilho sardento, mas nós não podemos arcar com a despesa adicional no momento. Uma
vez que seu salário sai do orçamento do Departamento de Linguística, tivemos a palavra
final. Eu sinto muito.
Noelle fechou os olhos. O que ela faria agora? Encontrar um emprego que não
exigisse dela as palavras: Você quer fritas como acompanhamento? Seria quase impossível.
Não era como se tivesse empregadores batendo em sua porta, implorando para ela ir
trabalhar para eles. Matemática Linguística não era exatamente um campo em expansão.
Alguém com uma carreira obscura como a dela precisaria de meses, senão anos, para
encontrar outra posição adequada que provavelmente teria que ser criada especificamente
para ela. O que ela faria até lá?

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Ela acumulara toneladas de dívida em empréstimos estudantis apenas para obter seu
doutorado. Os pagamentos do empréstimo por si eram mais do que seu custo de vida. Ela
podia adiar as cobranças por um tempo, mas precisaria de uma renda decente, não o tipo
que conseguiria fazendo hambúrgueres.
Noelle engoliu o pânico que entupira sua garganta. Era apenas dinheiro. Ela
encontraria alguma forma de contornar esse obstáculo.
— Você sempre pode aceitar o subsídio — sugeriu Joan.
Noelle queria que fosse assim tão simples. Ela estava levemente tentada a ceder e
tornar sua vida muito mais fácil. Mas para alguém que começou a faculdade aos dezesseis
anos, fácil claramente não era o seu modus operandi. — Eu não posso fazer isso. É dinheiro
de sangue.
— Não seja tão dramática — repreendeu Joan. — Ninguém está pedindo que você
faça mal a ninguém. Na verdade, é inteiramente possível que fazendo isso possa salvar
vidas.
— E se você estiver errada? — Noelle levantou e colocou seu laptop em sua bolsa de
nylon preta. — Eu não posso pensar nessa possibilidade. Não seria capaz de dormir à noite
pensando que o meu trabalho custou a vida de inocentes.
— É sobre sua carreira que estamos falando, seu futuro inteiro descansa sobre esta
decisão.
— Agora, quem está sendo dramática? — provocou Noelle.
— Estou falando sério. Se você abrir mão deste subsídio, as chances são de você não
encontrar outra posição tão cedo. Se você pegar o trabalho, então terá a chance de se tornar
famosa na comunidade acadêmica como a mulher que revolucionou a matemática
linguística.
Noelle revirou os olhos. — Tenho certeza que escreverão isso no meu túmulo, junto à
parte sobre como eu ajudei a matar milhares de civis inocentes em algum país onde as
crianças nem sabem o que é a matemática.
— Eu não posso deixar você fazer isso consigo mesma — disse Joan. — Você é muito
brilhante para destruir sua carreira por causa de algo que poderia acontecer.

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— A escolha não está em suas mãos. Você esteve ao meu lado, me apoiando quando
todo mundo apontava os dedos e ria da garota magricela com mais cérebro do que
habilidades sociais. É mais do que apenas minha mentora, você é minha amiga, mas você
não pode me pedir para fazer isso. Eu não vou fazer parte de assassinatos, não importa o
quão necessário algum general pensa que isso possa ser.
Noelle empurrou a lição de casa dos alunos em sua bolsa, recusando-se a olhar para a
mulher que dera a ela nada além de bons conselhos e firme apoio.
— Vou ligar para você no fim de semana, depois que você tiver algum tempo para
pensar — disse Joan.
Noelle não se preocupou em dizer que já havia pensado tudo que precisava sobre o
assunto. Sua decisão estava tomada. E só para ter certeza de que não fosse tentada a mudar
de ideia quando o verdadeiro pânico financeiro surgisse, Noelle tirou o laptop de sua bolsa
e digitou os comandos que matariam quaisquer vestígios de dados em seu disco rígido
ligado ao projeto. Não havia como voltar atrás agora.
Ela estaria sem trabalho no fim da próxima primavera, mas pelo menos seria capaz
de viver consigo mesma sabendo que não fora comprada por nenhum montante em
dinheiro de subvenção.

Demitida ou não, Noelle ainda tinha um trabalho até a primavera, e ela acabara de se
preparar para uma noite selvagem de sexta corrigindo a lição de casa desajeitada de
Cálculo I quando o as luzes de sua pequena casa de aluguel apagaram. Com um suspiro
que vinha desde seus dedos dos pés, ela abriu uma gaveta e pegou uma das muitas
lanternas em sua casa. Ela sempre dissera que as velhas casas possuíam grande quantidade
de charme e personalidade, mas em sua experiência, elas simplesmente possuíam
encanamento barulhento, corrente de ar abundante e fiação defeituosa. Era a terceira vez
esta semana que explodia um fusível na caixa de fusíveis da casa antiga.
Fazendo seu caminho para o porão mais pela memória que pela visão, Noelle desceu
as escadas de madeira nua. Com a velocidade de muita prática, ela retirou e substituiu o

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fusível que colocara há apenas dois dias. Mentalmente, ela fez uma nota para falar com o Sr.
Hasham sobre este problema, quando pagasse aluguel do próximo mês.
Mesmo com o fusível novo no lugar, as luzes não acenderam. Isso nunca acontecera
antes.
Acima de sua cabeça veio o barulho de vidro quebrando, seguido pelo tilintar
silenciado de fragmentos frágeis caindo no chão de madeira.
Noelle saltou, então congelou, escutando. O som vinha de sua porta dos fundos.
Alguém estava invadindo sua casa.

Capítulo 02

O coração de Noelle disparou dentro de seu peito enquanto ela se atrapalhava


desligando a lanterna para que pudesse se esconder no porão escuro. Sobre sua cabeça, ela
ouviu o passo lento e metódico de pelo menos duas pessoas andando sobre o chão.
Ela rezou para que eles pegassem rápido o que quisessem e fossem embora... Tão
silenciosamente quando podia, ela foi na ponta dos pés pelo chão empoeirado em direção à
escada. O porão estava relativamente vazio e o esconderijo estava atrás da escada
barulhenta.
Noelle prendeu a respiração até que seus pulmões queimaram, ouvindo quando os
passos chegaram perto do topo das escadas. Um feixe de luz brilhou no porão, caindo no
local onde ela estivera de pé apenas alguns segundos antes. No centro da luz branca
deslizando lentamente sobre o chão estava um ponto vermelho, do tipo minúsculo
lançado por uma ponta de laser igual ao que ela usava quando lecionava.
Ou como a mira do laser de uma arma.
Noelle respirou silenciosamente enquanto assimilava esta ideia. Estes não eram
apenas algumas crianças punks querendo fazer alguns dólares com uma TV roubada.
Quem estava em sua casa estava armado de uma forma pesada.

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Noelle ouviu o barulho fraco das baterias contra a caixa de plástico da lanterna em
suas mãos tremendo. A mancha branca de luz balançou para a esquerda, lançando a
sombra de passos, como irregulares dentes pretos, no chão perto de seus pés. O ponto
vermelho ficou mais brilhante e ela podia ver o raio do laser refletido nas partículas de
poeira flutuando no ar do porão sujo.
Um suspiro suave escapou de sua boca contra a sua vontade e o sangue martelava
alto em seus ouvidos. Noelle observou a luz branca, viu-a se tornar menor e mais brilhante
quando o portador descia a escada.
A madeira velha do degrau rangeu sob o pé do homem. Ela podia ver suas botas
pesadas de combate na parte de trás aberta dos degraus que ele desceu.
Noelle tentou recuperar o fôlego enquanto se encolhia no menor espaço possível. Ela
segurava a lanterna sabendo que era sua única arma. Ela também sabia que ia ser um jogo
pobre contra homens carregando armas reais.
Um pop afiado, seguido de um baque abafado soou onde Noelle imaginava estava
sua sala. O pé no degrau mudou, girando como se o homem se voltasse para olhar atrás
dele. A coluna de luz desapareceu por um instante. Ela ouviu um grunhido e a crise
doentia de ossos quebrados, em seguida, o corpo do homem no degrau mais alto
lentamente caiu para baixo, saltando molemente sobre a borda dura de cada degrau de
madeira.
Quando ele desembarcou seus pés no chão sujo, seus olhos escuros estavam abertos,
olhando direto para Noelle.
Ela congelou de medo. Ela levou várias frenéticas e rápidas batidas de coração para
perceber que o homem estava morto. A maioria de seu rosto estava coberto com uma
máscara de esqui preta de malha, mas ela podia ver seus olhos, vidrados e fixos na morte.
A pequena lanterna montada na parte superior de seu rifle em um cilindro de luz
brilhante apontava para a parede imediatamente a esquerda de Noelle. A poeira levantada
pela abrupta queda do corpo no chão sujo girava no ar, traçando seu caminho para seus
pulmões. O peito apertava com a necessidade de tossir enquanto ela lutava para
permanecer em silêncio.

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O ranger da madeira velha soou diretamente acima de sua cabeça e o queixo


disparou a tempo de ver um novo par de botas aparecer furtivamente no degrau mais alto.
Desta vez, as botas eram maiores.
O homem desceu os degraus, permanecendo na borda exterior, de forma que a
madeira fazia o menor ruído possível. Noelle se forçou a permanecer em silêncio,
apertando a mão duramente contra a boca e o nariz para segurar a tosse. Ele movia-se com
cautela e graça de quem, aparentemente, fizera isso antes. Muito.
Não tinha lanterna montada na arma deste homem, mas agora que ele havia descido
os degraus longe o bastante, ela conseguia vê-lo através das ripas de madeira e percebeu
que ele usava capacete, como os usados pelos militares para visão noturna.
Ele ajoelhou-se diante do homem morto no chão e pressionou dois dedos contra a
lateral da garganta do homem caído. Mesmo enquanto ele verificava o pulso, ele nunca
baixou os olhos.
Ele arrancou uma coisa da cabeça do morto e colocou-o em sua orelha,
provavelmente algum tipo de dispositivo de comunicação, ela pensou.
Ele examinou o quarto e assim que ele avistou Noelle através de seus óculos de visão
noturna, seu corpo relaxou.
Suor frio escorregou entre seus seios. Apertou seu punho em torno da lanterna de
plástico, agarrando-a como faria com um taco de beisebol. Lentamente, ela forçou as pernas
trêmulas para se endireitar e começou avançar para a fuga, a poucos passos.
— Dra. Blanche? — perguntou o homem num sussurro próximo.
Ele sabia o nome dela. Isso deveria ser bom, certo?
— Eu não estou aqui para te machucar. Estou aqui para tirá-la daqui antes que os
bandidos o façam. — Estendeu uma mão enluvada. Seu corpo estava totalmente envolto
em preto. Mesmo seu rosto fora manchado com tinta preta por trás dos buracos na
máscara. Ele segurou o rifle, com a confiança inconsciente de um homem que passara
muito tempo manuseando armas.

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Ela rezou para que ele não estivesse mentindo. Ela não era acostumada a usar seus
instintos, por isso os dela estavam enferrujados, mas mesmo assim diziam que ele falava a
verdade. Ele estava aqui para ajudar.
Intelectualmente, sua melhor opção era ir para a escada, sair e deixar a polícia separar
os bons dos maus sujeitos. Era um bom plano. Seu único plano. Mas como ele antecipou
seus movimentos, seu corpo se moveu de forma que se ela quisesse ir para as escadas, ela
teria que passar por ele. Ela tivera aulas suficientes de estatística para saber que as chances
de isso acontecer eram quase tão ruins quanto suas chances de ganhar na loteria.
Dolorosos e irregulares batimentos cardíacos pontuavam seus pensamentos
dispersos. Acima do baque no peito ela ouviu o rangido fraco do assoalho velho. Alguém
estava lá em cima.
O coração de Noelle deu um salto e foi parar abaixo, no poço de seu estômago.
O homem na frente dela nem recuou. Ele levantou um dedo enluvado para os lábios,
pedindo silêncio e ajoelhou-se para desligar a lanterna do homem morto.
Instantaneamente, o porão foi mergulhado de volta na escuridão poeirenta. Os olhos
Noelle se arregalaram, mas simplesmente não havia luz visível. Ela estava cega.
Noelle resistiu ao impulso de ligar o interruptor de plástico de sua própria lanterna e
fazer desaparecer em alguma medida o terror com o raio de luz. Ela sabia que isso daria a
sua posição não só para o homem aqui no porão, mas também para o sujeito acima.
Esses instintos enferrujado gritavam para ela sair da casa. Pena que eles não gritaram
cinco minutos antes.
Cautelosamente, Noelle estendeu a mão para sentir as escadas enquanto ela se
adiantava. Antes de seu primeiro degrau, o homem no porão com ela cruzou a distância
entre eles, cobriu sua boca com a mão enluvada e usou seu corpo para achatar o dela contra
a parede de tijolos atrás dela.
Um grito assustado borbulhava em sua garganta, mas sua mão impediu que o ruído
escapasse.

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Ele inclinou a cabeça para baixo de modo que sua boca roçou seu ouvido. Suas
palavras foram um simples sopro de som, quase quieto demais, mesmo para ela ouvir. —
Fique quieta e eu farei com que nós dois saiamos daqui vivos.
Noelle não fazia ideia do que se tratava ou por que esses homens estavam na casa
dela. Mas uma coisa era certa, não importa o quanto ela quisesse fugir, não havia nenhuma
maneira de ela se mover até que ele estivesse pronto para deixá-la. O corpo dela estava
pressionado com tanta força contra a parede que ela podia sentir o minúsculo serrilhado
nos tijolos atrás dela.
Noelle deu um aceno apertado para deixá-lo saber que ela iria colaborar. Satisfeito, ele
diminuiu a pressão de seus dedos contra sua boca. Ela puxou uma respiração profunda,
que expandiu seu peito, trazendo-a mais perto de seu captor. O calor de seu corpo
atravessou as malhas de roupa de várias camadas que ela usava para combater as
correntes de ar de sua casa. Ela sentiu pedaços metálicos de seu equipamento militar contra
seus seios e barriga, juntamente com as arestas de um colete à prova de balas. Seu nariz
estava no nível da clavícula dele e ela podia sentir o cheiro combinado de sua luva de couro,
pele quente e masculina e pólvora.
Outro barulho no andar superior forneceu a localização do intruso acima. Ele estava
em seu quarto, e ela podia dizer pelo rangido lento que o intruso procurava por algo. Ou
alguém.
Estava completamente escuro no porão, mas Noelle podia sentir sua respiração
constante, misturando-se com sua própria frenética e rápida respiração. Se ele estava
nervoso, certamente escondia isso muito melhor do que ela.
Ela achou sua confiança estranhamente reconfortante.
Seu corpo se deslocou, e ela pôde sentir a quente boca imprensada contra o topo de
sua orelha. A mão larga com luvas ainda pairava diretamente sobre seus lábios. Ela não
duvidou nem por um segundo que ele seria capaz de impedi-la de gritar antes mesmo que
puxasse ar suficiente para fazer um guincho.
— Fique onde está — ele comandou na voz baixa e rouca. — Vou abrir um caminho
para sair daqui.

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Shannon K. Butcher
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Delta Force 01

— Mas...
Seus dedos fecharam sobre sua boca, impedindo que mais palavras escapassem. —
Eu sei o que estou fazendo. Virei buscá-la quando a barra estiver limpa.
Antes que Noelle pudesse argumentar mais, ele já fora embora, e ela ficou sozinha na
escuridão, sem sequer ouvir o fraco sussurrar dos passos arrastando atrás dele.
Noelle não ia ficar presa no porão de novo com um estranho armado. Seu estômago
disse a ela que este homem dizia a verdade, que ele realmente queria ajudá-la. A lógica
disse que ele era apenas um contra vários homens armados. Se ele não conseguisse limpar
o caminho, como disse, ela poderia muito bem ser deixada à sua própria sorte para escapar.
Usando apenas a memória para guiá-la, Noelle empurrou a lanterna no bolso de seu
jeans, estendeu as mãos na frente dela, e começou lentamente tatear pelo assoalho do
porão. A superfície seca das escadas de madeira rasparam seus dedos, mas ela se recusou a
deixar de se encaminhar ao único objeto que poderia seguramente levá-la para a liberdade.
O dedo do pé de seu tênis colidiu em algo mole e pesado. O homem morto.
Ela estremeceu em repulsa quando seu estômago se apertou e rangeu os dentes
juntos para evitar o vômito no porão. Empurrando o pensamento de cadáveres fora de sua
mente, ela ajoelhou-se e sentiu todo o corpo dele até que tocou a superfície fria e lisa de seu
rifle. Tomando cuidado para não puxar o gatilho acidentalmente, ela posicionou suas mãos
para que pudesse usar a arma direito. Seus dedos tremiam e sua pele estava escorregadia
com o suor do terror. Ela não tinha certeza de que realmente poderia atirar em alguém, e ela
rezou para que ninguém olhando para ela soubesse instantaneamente disso.
Do andar de cima, ouviu um estouro e o pesado baque de um corpo em colapso. O
medo deslizou ao longo de sua espinha quando se perguntava qual dos homens havia
caído.
Ela rezou para que não fosse o homem com o tom de comando e com o cheiro de
couro em sua pele.

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Shannon K. Butcher
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Delta Force 01

David pegou a arma do homem que acabara de matar. Uma olhada rápida através
do cartucho confirmou sua suspeita de que a munição que eles usavam era não-letal.
Dardos tranquilizantes.
Os homens atrás da Dra. Blanche não estavam aqui para matá-la. Eles a queriam viva.
O pensamento deveria ter feito David sentir-se melhor sobre a situação, mas mais
uma vez, o Swarm quisera muitos outros reféns vivos. Em primeiro lugar.
Lembranças amargas destacaram em sua cabeça, fazendo com que suas entranhas se
apertassem. Ele falhou com uma mulher e isto lhe custara a vida. Ele não cometeria o
mesmo erro duas vezes.
Ele enrolou a correia da arma confiscada por cima do ombro e voltou pelo corredor
em direção à sala principal.
A porta para o porão estava aberta, como era a porta quebrada da cozinha que dava
para o quintal. Ar frio varreu o chão antigo de ladrilho e subiu ao redor das pernas de
David. O cheiro de folhas queimadas e fumaça de madeira flutuavam no vento noturno,
lembrando-o de fogueiras e inúmeras noites frias gastas em solo inimigo congelado.
Até agora ele derrubara três homens. A unidade de comunicação em seu ouvido
zumbiu com outra voz, tentando freneticamente encontrar seus amigos. Se David tivesse
organizado a missão, haveria pelo menos mais um participante em silêncio cobrindo a
parte externa da casa para o caso da mulher conseguir escapar da armadilha que fizeram
em sua casa.
Uma sombra surgiu sobre a laje de concreto do lado de fora da porta da cozinha,
indicando a presença de outro homem lá fora. À esquerda de David as escadas de madeira
rangeram e ele soube que Noelle caminhava direto para a linha de fogo.
David se agachou, abaixo e à direita para que pudesse cobrir sua entrada para a
cozinha. O revestimento preto fosco de sua arma e o silenciador se misturavam nas
sombras. Se alguma coisa fosse lhe dar vantagem sobre seu inimigo, seria a noite que o
cercava, dando a ele a possibilidade de se esconder.

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Shannon K. Butcher
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Delta Force 01

Lentamente, o inimigo girou em torno do batente da porta, fazendo-se um alvo claro.


Antes que David tivesse tempo de apertar o gatilho, Noelle saiu pela cozinha ficando
diretamente entre David e seu alvo.
Com uma maldição silenciosa, o cano da arma de David subiu em direção ao teto. —
Abaixe! — Ele gritou.
O homem na porta abaixou e disparou, acertando Noelle com um dardo.
Noelle saltou e o rifle em suas mãos caiu com um som metálico no chão de ladrilhos.
Seu comportamento declarava que não tinha treinamento de combate, mas, para seu
crédito, ela levou só uma fração de segundo para responder. Ela virou-se para o som de sua
voz e se esquivou para baixo, cobrindo a cabeça com os braços.
David ouviu o baque oco do dardo tranquilizante no segundo que ele explodiu do
rifle e afundou-se na carne de Noelle.
Ela gritou de dor e reflexivamente arrancou o dardo de braço, jogando-o no chão da
cozinha como se fosse uma cobra viva. Dedos desajeitados golpearam o dardo restante em
seu braço, mas já era tarde demais. O estrago estava feito. Seu corpo balançou vacilante
quando a droga começou a fazer efeito. David levantou-se, nivelou a arma e disparou dois
tiros seguidos. As balas atingiram o alvo centímetros acima de cada órbita ocular.
Mesmo antes de o homem morto cair no chão, David abaixou a arma e foi para a
Noelle. Seus dedos pressionaram sobre as lesões em seu braço. A mancha escura espalhava
para fora sobre o tecido de sua camiseta, provavelmente mais droga que sangue,
considerando quão rapidamente ela retirou o segundo dardo. O primeiro, no entanto,
ficara tempo suficiente para fazer o seu trabalho, e a droga já corria em seu sistema.
David não se atreveu a tirar o capacete com visão noturna para verificar sua lesão.
Não havia muito tempo que ela ficara inconsciente, e ele precisava dela acordada para
completar a segunda parte de sua missão.
Os olhos de Noelle rolavam vagamente em torno em sua cabeça, quando ela se
mexeu, como se estivessem pesados demais para suportar.

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Não muito gentilmente, David levou-a aos ombros e lhe deu um chacoalhão. — Não
me deixe ainda, Noelle — ele ordenou em um rugido silencioso. — Onde está sua
pesquisa?
Ela apertou os olhos e os arregalou, tentando se concentrar em seu rosto. — O meu
laptop — ela conseguiu dizer, sacudindo a mão em direção à pequena mesa na sala.
— Onde você armazena seus registros?
Seus olhos fecharam e David pegou a agulha hipodérmica que continha um
estimulante poderoso suficiente para mantê-la acordada por mais alguns minutos, tempo
exato para obter as informações que precisava. Ele aplicou uma dose para alguém mais
leve do que ele mesmo, mas a sua mão ao redor de seu braço delgado disse-lhe que a dose
não era pequena o suficiente. Ele viu fotos de vigilância de Noelle, mas ele não esperava que
ela fosse tão leve sob as roupas largas. Embora a dose fosse reduzida, ainda assim, poderia
fazê-la ter uma overdose.
Salve a mulher a qualquer custo. Precisamos dela viva.
Suas ordens eram cristalinas. Não deixaram nenhuma sombra de dúvida de que se
ele fosse responsável pela morte de outra mulher, ele sairia da missão e não olharia para
trás.
David arrumou a droga e chacoalhou novamente os ombros finos de Noelle. —
Onde estão os seus papéis? Seus registros?
Desajeitadamente, a boca trabalhou para formar palavras. — Sem papel — ela
murmurou. — Aqui. — Noelle tocou sua têmpora com o dedo.
Seu olhos ficaram vidrados e seu rosto frouxo. Ela estava drogada.
— Merda — David amaldiçoou, esperando que ela não estivesse apenas se
vangloriando de ter o seu trabalho na cabeça. Isto faria seu trabalho infernalmente fácil se
não tivesse que fazer uma busca, bem como uma missão de resgate.
Antes que mais visitantes aparecessem, David pegou-a e a posicionou por cima do
ombro esquerdo como um bombeiro para que ainda pudesse disparar uma arma. Ele
arrancou os cabos do laptop da parede e empurrou a bagunça toda da droga na pasta de
transporte próxima.

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Delta Force 01

Assim que o seu fardo de mulher e laptop estavam acomodados, ele levantou sua
arma e foi para seu caminhão.
Somente um inimigo permaneceu, guardando um veículo de fuga. Quando o braço
de David puxou um pouco ao disparar dois tiros pelo silenciador na garganta do homem,
Noelle nem sequer se mexeu.

Owen levantou a ponta da cortina rendada e observou a Dra. Blanche ser levada. Do
seu ponto de vista, na casa do outro lado da rua, ele ouviu mais que pelos comunicadores
sobre como seus homens foram mortos um a um.
Piedade. Ele colocara um esforço considerável na formação deles.
Quando Owen viu o soldado levar a garota embora, algo incomodou em sua
memória. Havia algo familiar sobre a maneira como ele se movia, sobre a maneira como
ele matava.
Owen franziu a testa, sentindo as cicatrizes grossas queimar ao longo de sua ruga na
testa. Talvez não fosse tanto que ele conhecesse este homem em particular, mas o fato que
ele conhecia homens como ele, dedicados a um ideal que nunca veriam realizado.
Um desperdício de talento.
Era quase uma vergonha que alguém com tanto a oferecer fosse morto em poucas
horas. E a garota que ele passou suas últimas horas protegendo logo seria convencida a se
tornar bastante útil. Ou ela iria se juntar aos seus colegas mortos.
Tudo muito simples e limpo, do jeito que Owen gostava.
Na distância, ele ouviu o lamento de sirenes se aproximando. As autoridades
estariam aqui a qualquer minuto e ele queria estar longe antes que eles chegassem.
Owen deixou a cortina cair de volta, acidentalmente derrubando uma fotografia
emoldurada que estava na mesa ao lado da janela. Ele pegou o retrato e colocou de volta no
lugar, maravilhado que o fotógrafo tivesse conseguido obter um sorriso de olhos abertos
em cada um dos sete netos pequenos. Eles eram crianças adoráveis, com bochechas
rechonchudas e os olhos brilhantes.

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Quando Owen passava por cima dos restos de sangue da velha que morava aqui, ele
se perguntou se uma dessas crianças seria o único a encontrar seu corpo.

Capítulo 03

David acelerou pela estrada até que as luzes de Lawrence, Kansas, fossem apenas um
brilho fraco no céu noturno. A estrada estava quase vazia e depois de várias alterações de
pistas e mudanças de velocidade, ele tinha certeza que ninguém o seguira para fora da
cidade. Kansas era plana, embora, no ar claro de outono que proporcionava boa visão, o
carro não teria que necessariamente estar muito perto.
Ele abriu seu celular e discou o número privado de Monroe.
— Monroe — respondeu o coronel ao primeiro toque.
— Estou com ela, senhor. Você terá que enviar uma equipe de limpeza para sua casa.
— Que tipo de bagunça?
— Cinco corpos e uma van. Ainda fugindo.
— Você pegou todas as pesquisas dela? — perguntou Monroe.
— Acho que sim. Faça uma varredura para ter certeza, mas ela disse que está tudo na
sua cabeça. Ela não tinha qualquer anotação.
— Maldição. Eu sabia que ela era inteligente, mas isso é um pouco assustador,
mesmo para um gênio.
David olhou para a forma fraca de Noelle dormindo no banco de passageiro. Ela não
parecia assustadora, mas ele não passara exatamente muito tempo conversando com ela,
também. Agora ela apenas parecia vulnerável e ele mantinha um olho nela para ter certeza
que ainda respirava.
Ele não tinha como saber que tipo de tranquilizante eles deram ou quanto estava em
seu sistema. O seu único conforto era o fato de saber que o Swarm a queria viva. Se não, eles
teriam usado balas de verdade. Ele apenas rezava para que a inteligência do Swarm fosse

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Delta Force 01

maior que a dele e que o homem que aplicara a droga nela a tivesse dosado para seu corpo
pequeno.
Se não, ela poderia nunca acordar. E se eles a perdessem, perderiam a chance, a última
e a melhor para quebrar o mais complicado texto cifrado que viera à tona desde o fim da
Guerra Fria. Era por isso que tanto o Swarm como Monroe a queriam viva.
— Quero levá-la a um hospital — disse David.
— Não. Ela estaria muito vulnerável lá. Você foi treinado para lidar com esta situação,
por isso lide com ela.
— Eu não gosto disso. Ela seria melhor assistida por um médico.
— Você a leva para um hospital e ela estará morta antes do amanhecer. Você
também. Você tem suas ordens, capitão. Nada de hospitais.
David resistiu ao impulso de dizer a Monroe para enfiar essas ordens no rabo e olhou
para Noelle. Seus cachos vermelhos estavam derramados sobre os olhos, mas ele ainda
podia ver a linha clara de seu rosto. Sua pele estava muito pálida e isso o preocupava. Já que
não podia levá-la a um hospital, ele precisava levá-la ao local seguro mais próximo que ele
verificara durante sua rápida preparação para esta operação. Não muito longe à frente
havia um motel onde ele poderia examiná-la mais cuidadosamente, trabalhar em acordá-la
e tirar os medicamentos de seu sistema.
— Eu te ligo quando resolver — disse David.
— Onde você está indo?
David não fazia ideia se alguém estava ouvindo esta conversa, por isso ele não se
atreveu a dar a informação precisa. — Deixarei você saber logo. Tenha um veículo diferente
pronto para trocar com o nosso, caso estejamos sendo seguidos.
— Isso é provável?
— Não, senhor. Despistei todos que eu vi. Acho que estamos limpos, mas eu prefiro
prevenir que remediar.
— Certo. Relatório o mais breve possível.
— Sim, senhor.

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Delta Force 01

David dirigiu até que o carro mais próximo estava a um quilômetro de distância do
dele na estrada e sinalizou na saída seguinte. Depois de desligar os faróis, ele esperou ao
virar da esquina para ver se mais alguém utilizara a saída obscura para Lugar Nenhum,
em Kansas. Enquanto esperava, ele limpou a maquiagem de seu rosto com alguns lenços
umedecidos que trouxera para esse fim. Quando seu rosto estava relativamente limpo e ele
satisfeito que não estavam sendo seguidos, David dirigiu pelas ruas estreitas, mal
conservadas até chegar a um motel barato, do tipo só dinheiro, que se adaptava aos tipos
com tesão desesperado ou aos irremediavelmente perdidos.
O sinal de néon piscando zumbia num ritmo preguiçoso quando David entrou no
estacionamento e deslizou o caminhão perto o suficiente da janela do escritório de onde
poderia manter um olho em Noelle enquanto entrava para obter um quarto.
O homem no escritório se afastou de sua TV preto-e-branco com estática e pressionou
o nariz no vidro para olhar para fora na escuridão.
David olhou para Noelle, sentada no banco do passageiro de seu caminhão Ford. Ele
afivelara o cinto de segurança nela, mas durante a viagem ela deslizara para baixo, assim
parecia mais morta que dormindo.
Não havia nenhuma maneira de colocá-la num quarto sem carregá-la, o que poderia
muito bem levantar suspeitas por parte do atendente do motel, mesmo que ele não fosse o
mais brilhante dos homens. David escolhera este local por causa de sua relativa privacidade
e a última coisa que precisava era ter a polícia local batendo à sua porta em meia hora, para
responder perguntas sobre por que ele carregava uma mulher inconsciente.
Embora tivesse uma identidade falsa em sua carteira que enganaria até mesmo a
mais bem equipada delegacia de polícia, seu Comandante não seria tão amável ao ter que
encobrir o rastro de um soldado que tropeçara com a polícia enquanto fazia algo tão
simples como encontrar um lugar para Noelle dormir por algumas horas.
David deslizou pelo assento do banco e levantou Noelle, para que ela se sentasse mais
ereta. Ela soltou um gemido suave e sua cabeça pendeu para a frente pousando em seu
ombro. Sua boca pressionou contra sua garganta e a respiração quente varreu a sua pele
como uma carícia.

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Delta Force 01

O corpo de David respondeu como o homem que era - um que não tivera uma
mulher em dois anos. Depois de sua última operação com a Delta Force, ele saíra para o
isolamento - completo isolamento. Sua luxúria não ia ferir outra mulher, nem mesmo uma
que usasse somente para sexo.
Ele cerrou os maxilares, fechou os olhos e mentalmente começou a recitar as armas
que ele já usara em campo.
Com os olhos fechados, o cheiro fraco de xampu de morango e uma mulher
adormecida preencheu suas narinas, espalhando seus pensamentos. Seu corpo endureceu
em uma corrida alucinante de sangue, todo o sangue sumindo de seu cérebro.
David amaldiçoou o suor caindo ao longo de seu cabelo.
Por que não podia ser um homem que precisava de resgate? Por que tinha que ser
uma mulher, muito suave, que cheirava a primavera e se sentia ainda mais quente?
O atendente do motel deu a David um olhar curioso e colocou as mãos em concha
sobre o vidro para ter uma melhor visão.
Agir conforme as expectativas do homem era a única maneira de impedi-lo de ficar
desconfiado. As escolhas de David eram parecer perdido ou com tesão. Ele sabia, sem
dúvida, qual escolheria.
Com uma oração por força, David inclinou-se e fez um show com o nariz no pescoço
de Noelle. Esta com certeza não era a pior coisa que tivera que fazer em sua carreira para
passar desapercebido. Sua pele era macia e mesmo que fosse apenas fingimento, ele não
podia apenas ficar beijando a pele logo abaixo da orelha.
Ela tinha um delicioso gosto de morangos frescos e creme.
David sufocou um juramento doloroso e forçou as mãos a afrouxarem sobre seu
cabelo. Ele não fazia ideia de como elas chegaram lá, mas a textura suave e elástica de seus
cachos vermelhos correndo entre os dedos faziam sua mão queimar. Perguntou-se se ela
era toda tão suave e quente quando ela suspirou seu nome enquanto seus dedos
deslizavam por ela.

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Noelle soltou um suspiro satisfeito e caiu pesadamente contra ele. Os aros de ouro de
seus óculos estavam tortos em seu rosto, as dobradiças irremediavelmente emaranhadas
em seus cabelos.
Com toda sua força de vontade, David ordenou-se a lembrar que ela estava
inconsciente e o que ele estava fazendo agora, apesar de pelo menos em parte ser para
protegê-la, era tirar proveito dela. Seu arquivo confirmava que ela não era casada, mas por
tudo o que sabia, ela podia ter um namorado, até mesmo um noivo. Ele não tinha direito
de ficar degustando uma mulher que certamente deveria pertencer a um homem - um
homem que não iria querê-la morta, só por estarem sentados lado a lado em um caminhão.
Esse pensamento foi como água gelada abaixo em suas as calças. Ele se afastou dela,
ajustando os óculos, em seguida, a cabeça, de modo que estava encostada
confortavelmente contra o assento, tocando-a o mínimo possível no processo.
O homem na janela riscada com sua camiseta manchada deu a David um sorriso
lascivo destinado a torcer por ele e um sinal de polegar para cima. Ele ficou lá em aberta
antecipação, esperando que o show no caminhão fosse adiante.
David moveu-se para que nenhuma parte dele tocasse Noelle. Ele ainda podia cheirar
a sua pele e tinha certeza que se lembraria deste cheiro até mesmo se estivesse do outro lado
do mundo.
Depois de vários segundos, ele conseguiu diminuir sua respiração a um ritmo normal
e vestiu a jaqueta solta, cobrindo suas armas. Ele saiu do caminhão e trancou Noelle em
segurança dentro, longe dele.

O flash da luz de néon e o cheiro de café forte forçaram o cérebro de Noelle a reiniciar.
Sua cabeça parecia ter participado de um concerto do Metallica e sua boca tinha um gosto
ainda pior.
Ela tentou alcançar cambaleante o copo de água que mantinha em sua mesa de
cabeceira, mas seus dedos desajeitados mal se moveram, antes que encontrassem algo
duro e quente em seu lugar.

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O pânico espalhou a adrenalina residual em seu sistema em estrias de fogo como


através de um fusível. Seus olhos se abriram e a luz escassa na sala esfaqueou seu crânio,
fazendo com que gemesse de dor.
— Calma — disse uma voz tranquila e profunda próxima ao seu lado. Muito perto.
Uma mão larga apoiou-se sob sua nuca, ajudando-a a sentar. A borda de um copo
frio foi pressionado contra seus lábios.
— Beba.
O líquido frio tocou sua boca e ela abriu seus lábios para engolir.
Ela forçou os olhos para abrir e aceitar o zumbido visual de um sinal de néon que
passava pela pequena fenda entre as cortinas do hotel sombrio. Com cada piscada da luz,
suas têmporas latejavam.
— A dor de cabeça logo vai diminuir um pouco. Essas pílulas vão ajudar.
Duras pílulas amargas foram empurradas para sua boca e começaram a dissolver
contra sua língua. Quando o copo foi mais uma vez oferecido, ela saudou a onda fria de
água que passou pelos lábios e levou as pílulas para baixo.
Noelle apertou os olhos contra a luz da lâmpada da cabeceira e o homem moveu seu
corpo de modo que sua sombra caiu sobre seus olhos. Sua visão era difusa, sem os óculos,
mas ela podia facilmente ver seus ombros largos e os cabelos curtos do corte militar através
da nítida luz atrás dele. Ele sentou-se a apenas alguns centímetros dela, seu braço ainda
suportando o peso de seus ombros para que ela pudesse beber. O calor da sua mão
queimava através das três camadas de roupa e ela podia sentir a sua força casual fluindo
através de seu braço, pela facilidade com a qual ele a segurava sentada.
Estranhamente, ela reconheceu seu cheiro - de couro, homem e pólvora - e soube, sem
sombra de dúvida que ele fora o responsável por tirá-la de sua casa viva.
Toda a noite veio à tona para ela num piscar de olhos e ela mal sufocou seu pânico.
Com esforço, ela se forçou a pensar logicamente, racionalmente. Se ela estivesse em algum
tipo de perigo, ela precisaria de sua inteligência agora mais do que nunca.
Lentamente, ela se acalmou o suficiente para que pudesse gerenciar um pensamento
claro. Ela estava viva. Ninguém estava atirando mais nela.

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Noelle engoliu em seco, em um esforço para encontrar sua voz. — Quem é você? —
ela perguntou primeiro.
— David. — Sua voz era profunda e tranquila e ela perguntava se era em deferência à
sua dor de cabeça ou se ele sempre falava como se não quisesse ser ouvido.
— Ok. David. Onde estamos? O que estou fazendo aqui? E quem eram aqueles
homens em minha casa?
Ele ignorou as perguntas e colocou-a de volta para baixo no travesseiro. Ela se sentiu
fraca e mole, como se estivesse no terceiro dia de um surto de gastroenterite. Ela não tinha
força para sentar-se sozinha e, de repente, o medo começou a se mover lentamente em
torno de seu estômago novamente.
David deve ter visto o medo em seu rosto, porque pôs a mão em sua testa suave e
delicadamente a impedindo de se debater. — A fraqueza vai passar daqui a pouco. É um
efeito colateral do tranquilizante que aplicaram em você.
— Tranquilizante? — Noelle lembrou-se da dor aguda no braço e de quando
empurrara para fora o ferrão. Ela realmente não processara o que acontecera na hora, mas
agora ficou claro que ela fora baleada com uma espécie de dardo, como o tipo que usavam
em animais.
Seu polegar varreu sua têmpora em um arco suave, fazendo uma pausa para
levantar as pálpebras para uma inspeção breve em suas pupilas. — Eu verifiquei você e dei
alguma coisa para ajudar a limpar o tranquilizante de seu sistema. A fraqueza vai
desaparecer. Você vai ficar bem. Eu prometo.
Noelle lançou um olhar incrédulo. — Eu não tenho ideia de onde estou ou por que
esses homens invadiram a minha casa. Eu fui baleada. Duas vezes! E eu não tenho ideia do
motivo. Estou fraca demais para me mover e se mais daqueles homens vierem bater na
porta agora, não há nada que eu possa fazer para me proteger. Em meu livro, isto é bem
longe de estar bem.
Seu discurso foi completamente ignorado. — Como está sua cabeça? — ele
perguntou em um sussurro próximo.

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Noelle sentiu as lágrimas ardendo em seus olhos, a face de sua confusão e impotência,
mas mandou-as de volta antes que David pudesse notar. Ela esperava. — Como elefantes
dançando nela — ela conseguiu responder.
Um sorriso fraco surgiu na face sombreada. — Tão mal, hein?
— Eu já estive pior às 04:00 da manhã antes das provas finais de sexta-feira.
Ele resmungou e foi encher o copo na pia barata do quarto do motel.
— Onde estamos? — perguntou Noelle.
O tilintar do gelo e o silvo de água encheu o ar viciado. — Fora da estrada, não longe
de onde começamos. Antes que eu pudesse levá-la completamente fora da cidade eu
precisava ter certeza que estava bem e descobrir se havia cópias em mais algum lugar do
seu trabalho, incluindo em formato eletrônico.
Noelle piscou em confusão. — Meu trabalho? Que trabalho? — Ela estivera
trabalhando em pelo menos uma meia dúzia de projetos, nenhum dos quais interessaria a
alguém que não tivesse um ardente amor por latim, escrita cirílica, ou equações diferenciais.
Ele se virou. Seus olhos mal se ajustavam a luz, mas ela podia agora ver suas
características mais facilmente, apesar de estarem ainda um pouco confusas, sem o auxílio
de óculos. Ele era bastante alto, talvez pouco mais de 1,80m. Usava equipamento militar
preto com um colete de muitos bolsos por cima de sua resistente camisa de mangas longas.
Havia uma arma perfeitamente encaixada debaixo do braço esquerdo e pelo espelho, ela
podia ver outra pressionando o final de suas costas. Seus ombros eram tão amplos como os
braços eram longos e, apesar de ele não parecer um lutador profissional, ela podia afirmar
sua prática sob as roupas que escondiam muito mais do que apenas pele e ossos.
Seu rosto estava sombreado com o restolho de barba que estava apenas um pouco
mais curta do que o cabelo em sua cabeça. Em sua têmporas, alguns fios cinza brilhavam
como lascas de luar sobre a água negra. Em algum momento, ele tirara as luvas e lavara a
maquiagem de seu rosto, e isso o fazia parecer mais humano do que quando na escuridão
do porão de Noelle.

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Ele possuía o tipo de masculinidade que poderia fazer uma mulher que
normalmente não notava ou se preocupava com tais coisas nos homens em geral dar uma
segunda olhada. Noelle fez exatamente isso.
Isto a chocou, olhar para ele com algo mais que curiosidade. Investigá-lo em busca de
pistas sobre o que estava acontecendo com ela era uma coisa. Olhar para ele com
pensamentos de como se sentiria pressionado contra ela era outra. Talvez fosse apenas a
droga falando, ou talvez fosse o fato de que ele a apertara contra a parede de tijolos quando
o seu sistema recebia uma overdose de adrenalina, mas ela estava vendo David Sem-
Sobrenome como um homem. Um homem muito interessante e atraente fisicamente.
E considerando a sua situação atual, apenas isso era suficiente para fazer Noelle
questionar sua sanidade.
David se aproximou e ela viu como uma gota de água correu pelo lado do copo,
sobre seus dedos bronzeados e pingou sobre o tapete laranja e vermelho berrante.
Ela estava, subitamente, com muita sede novamente.
— Eu tive autorização para saber sobre o seu trabalho com algoritmos de criptografia
para os militares. Você não precisa escondê-lo.
Noelle se esforçou para sentar, mas seus músculos se recusaram, e ela quis gritar de
frustração. — Eu não estou escondendo nada — ela retrucou. — A verdade é que eu não
estou fazendo nenhum trabalho de criptografia para os militares. Eu joguei fora quando
descobri que o Exército dos EUA estava pagando a conta.
— E todos os arquivos antes de você desistir? Onde eles estão?
— O pouco que eu documentei foi excluído. Enviados para a grande festa de zeros e
uns no céu.
— Merda. — Sua voz era calma, mas seu tom de voz ainda era duro o suficiente para
transmitir a sua descrença.
— Desculpe-me?
— Fui informado sobre seu trabalho no projeto Cobweb. Você teve uma grande
oferta de dinheiro para desenvolver o projeto. Você não teria apenas jogado tudo fora.
— Eu nunca ouvi falar do projeto Cobweb.

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— Não o nome, talvez, mas foi oferecido para você o dinheiro da subvenção para
completar sua pesquisa.
— Dinheiro de Subvenção? Você quer dizer dinheiro de sangue.
Ele deu a ela um encolher de ombros casual de indiferença. — Chame isso do que
quiser que não me importo. Minha pergunta é: onde estão os arquivos?
— Eu disse a você. Eu apaguei tudo o que estava no meu disco-rígido, o que não era
muito. Eu não costumo escrever as coisas até que eu tenha acabado e esteja pronta para
fazer o relatório final, a menos que seja verdadeiramente complexo, e eu estava apenas na
metade com esse projeto.
David ficou em silêncio por um momento como se estivesse tentando determinar a
verdade de suas palavras. Ele passou a mão sobre o seu cabelo curto e escuro e balançou a
cabeça. — A unidade rígida de seu computador portátil?
Noelle assentiu.
— Tem certeza de que não há outras cópias de segurança no trabalho ou em qualquer
lugar? Arquivos de segurança em um servidor de rede? Discos? Arquivos de papel? Notas
escritas em guardanapos?
O que ele pensava que ela era, idiota? Ela era esperta o suficiente para não deixar nada
de valioso espalhado em volta, onde qualquer um com metade de um cérebro pudesse
encontrar. Seus pais, bons cientistas, haviam ensinado assim. Ela tinha a responsabilidade
de garantir que ninguém pudesse usar seu trabalho para fazer o mal. — Eu tenho certeza.
Quando eu decidi não pegar o dinheiro da concessão, matei os arquivos usando um
programa de eliminação, Clean Sweep, criado por alguns dos caras do Departamento de
Ciência da Computação. Os arquivos não foram apenas excluídos, eles foram destruídos.
Não existem quaisquer vestígios deles no disco rígido que possa ser recuperado. Eu não
queria ficar tentada a fazer o trabalho em troca da concessão quando a Universidade me
avisou da demissão.
Uma sobrancelha escura subiu em surpresa. — Você vai ser demitida?

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Ela viu uma outra gota de água escorregar pelo copo e lambeu os lábios secos. — A
Universidade não podia pagar mais meu salário com todos os cortes no novo orçamento,
assim, sem a concessão, eu estaria fora de lá no fim da primavera.
— E mesmo que seja demitida se não tomar o dinheiro da concessão, você ainda
estava se recusando a fazer o trabalho?
— Sim. Eu me recuso a fazer qualquer coisa em prol da violência, qualquer violência,
mesmo a tolerada pelo governo dos EUA.
— Por quê? — ele parecia genuinamente perplexo.
— Porque eu fui criada por pessoas que sabem o que é ter seu trabalho transformado
em algo violento. Eles nunca quiseram que isso acontecesse com a minha irmã ou comigo,
então garantiram que entenderíamos que temos que ter cuidado com o que criamos e em
quem confiamos. Foi uma lição que aprendi antes de ser capaz de andar.
David considerou a resposta por um momento antes de concordar e sentar na cama
ao lado dela. O colchão firme mergulhou com seu peso, mas seu corpo estava muito
pesado com as drogas para se ajustar ao movimento. Ela rolou para seu lado até que seu
quadril descansou contra o dele. Tendo se dedicado à sua educação, mesmo antes que
atingisse a puberdade, Noelle não estava acostumada com a sensação do corpo de um
homem contra o seu. Especialmente não um homem como... másculo como David Sem-
Sobrenome.
O primeiro e único namorado, Stanley, era um palito sem imaginação de um homem
que geralmente preferia o PlayStation a sexo com Noelle. Depois de algumas rondas na
cama com ele, ela também preferia o PlayStation.
David fazia Stanley parecer uma criança na comparação, o que fazia Noelle imaginar
o que o sexo com um homem de verdade podia ser. Provavelmente muito melhor do que
qualquer jogo de videogame se o seu palpite estivesse certo. Precisava haver uma razão
para que muitos bebês nascessem a cada ano. Se ela sobrevivesse a isso, iria dedicar algum
do seu tempo livre para pesquisar essa teoria.

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David deslizou o braço por trás dela e apoiou-a no V entre o braço e o corpo. Ele
segurou o copo para ela beber, mas um pouco derramou fora ao lado de sua boca e correu
para baixo do queixo e pescoço.
A água fria a fez suspirar, uma vez que deslizou dentro de seu decote modesto. David
pegou um lenço de papel da mesa de cabeceira e seguiu o rastro de água até que ela
desapareceu sob a gola da sua camiseta.
Ela estremeceu quando os dedos longos e fortes deslizaram logo abaixo da borda de
sua roupa.
— Frio? — perguntou ele, movendo o olhar para a parede mais distante. —
Depressores às vezes podem fazer isso. Para não falar do choque.
Noelle olhou para longe de sua mão em seu rosto e tentou se concentrar em suas
palavras ao invés de apenas em sua boca em movimento. Parecia firme e se mexia e ela se
perguntou se ele sabia beijar tão bem quanto podia matar.
Que diabos havia de errado com ela? Esta não era a hora ou o lugar para estar
desenvolvendo este tipo de hormônios. Isto nunca acontecera antes, por isso devia ter algo
a ver com as drogas ou talvez apenas sua reação pessoal para o ápice do perigo. Fosse o que
fosse, era condenadamente inconveniente.
— Choque? — ela murmurou, olhando para a forma como os dedos bronzeados
terminavam em cônicas e curtas unhas limpas.
Ele levantou uma sobrancelha divertido. — Você não acha que ser atacada em sua
casa e receber tiros, mesmo que de tranquilizante, é o suficiente para deixá-la em choque?
Enquanto falava, ele tirou os sapatos de Noelle e dobrou o cobertor para baixo no
outro lado da cama. Sem aviso, ele a levantou, colocou-a na cama e cobriu-a até o queixo
com o lençol barato, branco e o fino cobertor.
A sensação de seu peso ser levantado tão facilmente fez nadar sua cabeça, para não
mencionar o fato de que ela sentia cada grupo e movimento de seus músculos enquanto
ele a movia. Estar nos braços desta força primitiva era mais do que suficiente para
confundir o cérebro de qualquer menina.

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Noelle observou-o com olhos confusos. Nada em seu rosto indicava quais eram seus
pensamentos. Por tudo que ela sabia, este era o tipo de coisa que ele fazia todos os dias. Ela
estivera em torno de tipos militar o suficiente para saber que eles não eram de muito bate-
papo e muito menos de falar sobre o que andava em suas mentes. Eles gostavam de ser os
únicos a fazer perguntas enquanto você dá respostas curtas e simples, que terminava de
preferência com a palavra Senhor.
— Melhor? — ele perguntou, seu olhar brilhando no carvão preto dos cílios. Ela podia
dizer que seus olhos eram de uma cor clara, mas, fora isso, enxergava pouco na luz amarela
do motel.
— Eu não sei. Você me diz. Estou melhor agora? Posso voltar para casa de manhã?
Desta vez, ele encontrou seus olhos e ela pôde ver a geada cinza nadando em um mar
frio azul. — Não, Noelle. Você não pode voltar para casa pela manhã. — Ele pressionou a
palma da mão larga em sua testa, sua pele áspera estranhamente reconfortante. — Você
não pode voltar para casa nunca mais.
Levou um momento para que suas palavras a atingissem, mas quando aconteceu,
Noelle lutou para respirar através do choque e da tira apertada que envolveu seu peito.
Nunca mais voltar para casa?
— Não! — foi tudo que ela conseguiu dizer.
David apertou os lábios em uma linha sombria e assentiu. — Sinto muito, mas essa é
a maneira que tem que ser. É melhor você começar a se acostumar com a ideia agora.
— Por quê?
David olhou para ela por um longo minuto, seus olhos examinando todos os ângulos
de seu rosto. — Você realmente não entendeu, não é?
Medo, confusão, isolamento rodavam dentro dela, criando um frio, com dores na
boca do estômago. — Entender o quê? Tudo que eu quero fazer é ir para casa.
— Você está listada como a mais talentosa criptóloga civil no país, possivelmente no
mundo.
Noelle quase zombou da declaração ridícula. — Isso é um absurdo. Eu nem sequer
tenho o foco em criptologia. Eu só tentei dar uns chutes e gostei do desafio. Há pelo menos

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dois homens, só nos EUA que têm mais experiência, conhecimento e inteligência que eu
nessa área.
— Seis meses atrás, talvez, mas não mais. — Sua voz era tão profunda e tranquila que
levou um momento para registrar suas palavras na mente de Noelle.
— O que aconteceu com eles? — ela perguntou, temendo já saber a resposta.
— Você só precisa saber que o mesmo não vai acontecer a você.
— Diga-me o que aconteceu com eles — ela exigiu, necessitando saber, mas não
querendo ouvir a verdade sombria dita em voz alta.
Sua mão acariciou os despenteado cachos vermelhos e a abraçou com um olhar que
era feroz ... determinado. — Eles não tinham a mim para protegê-los.

Capítulo 04

David viu pelo canto do olho quando ela voltou a dormir no espaço de alguns
segundos. O tranquilizante ainda a afetava, mas não tanto quanto ele temia. Pelo menos, as
drogas não iam matá-la. Ele cuidaria para que nada mais o fizesse.
Ela era um pequeno nódulo sob o cobertor fino, mandando embora com o sono os
efeitos remanescentes das drogas. Eles não podiam ficar aqui por muito mais tempo, mas
ele queria dar a ela cada minuto para que pudesse se recuperar. Ele podia dizer pelo pânico
em seus olhos verdes o quanto ela ficou com medo de não estar no controle de seu próprio
corpo.
David duvidou que Noelle tivesse entendido completamente o conceito de que seu
nome estava no topo de uma lista de alvos dos terroristas, que quatro homens estiveram
nessa mesma lista, e que cada um deles fora raptado pelo Swarm, porque possuía um
talento especial para decifrar códigos obscuros. Ou os homens se recusaram a cooperar
com o sádico grupo terrorista ou simplesmente foram incapazes de quebrar o código, pois
todos os quatro foram executados. Ele simplesmente não conseguia dizer que Noelle era

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próxima. A pobre mulher já passara por muito hoje e uma pessoa só podia administrar
uma certa quantidade de medo antes de simplesmente conseguir processar mais.
Tanto quanto David odiava ter arruinado seu isolamento, Monroe tivera razão ao
chamá-lo de volta para o Delta. David sabia exatamente o que aconteceria com essa jovem
se ele não fizesse seu trabalho direito. Erros eram um inferno de um efetivo professor.
Ele só não esperava que Noelle mexesse tanto com ele como mulher. Mesmo com
seus bagunçados cachos vermelhos, as roupas largas e seu rosto desprovido de qualquer
traço de maquiagem, ela ainda era sedutora. Ela era tão malditamente... atraente.
Ele não conseguia esquecer o jeito como ela cheirava, toda doce e quente, ou o jeito
como ela fazia estes pequenos ruídos enquanto dormia. Toda vez que teve que tocá-la, ele
se sentiu excitado, ansioso como um menino de quinze anos de idade, que estava prestes a
ver sua primeira mulher nua.
Era patético. Claro, ele estava a mais de dois anos sem sexo, mas ele deveria ser capaz
de resistir a tocá-la mais do que o absolutamente necessário. Dar água a ela, sim. Dar os
analgésicos, com certeza. Colocá-la sob os cobertores, tudo bem. Mas acariciar seus cabelos?
Tocar seu rosto? Completamente desnecessário.
Mas muito bom.
Talvez fossem apenas seus instintos de proteção em modo exacerbado, mas ele
precisava continuar lutando contra o impulso de puxá-la para seus braços e dizer que tudo
ficaria bem.
A verdade era que isso não ia ficar bem. Mesmo no melhor cenário, ela teria que
largar sua vida, cortar todos os laços e nunca olhar para trás se quisesse viver. Ou isso, ou
fechar um acordo com o Exército, ou talvez a CIA e viver em algum local hermético com
segurança onde pudesse ser protegida em troca de sua capacidade intelectual.
Seu comentário sobre dinheiro de sangue fizera David supor que ela preferia morrer
que escolher qualquer opção que a colocasse à disposição dos militares.
Noelle se mexeu em seu sono. Pelo menos, as drogas estavam saindo, assim ela
poderia ser capaz de sair daqui sobre suas próprias pernas. Isso economizava a necessidade
de tocá-la mais, o que era o melhor.

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Seu novo veículo devia chegar dentro de uma hora. O caminhão que utilizara seria
levado amanhã de manhã e usado como um chamariz, dirigindo-se em uma direção
diferente da que eles seguiriam. Então, ele e Noelle já estariam bem longe.
Com sorte, ele seria capaz de convencê-la a cooperar com a CIA antes que eles
chegassem à casa segura, onde os agentes da CIA, sem dúvida, estariam prontos para
atacar. Monroe não dera a David o código que Noelle precisava, uma vez que era
estritamente confidencial, mas ele dissera que a informação os levaria direto para os
membros restantes do Swarm.
A necessidade de vingança ainda queimava quente em David, embora ele soubesse
que não mudaria o passado. Ele precisava limpar completamente a face da terra de cada
membro da Swarm. Só então ele estaria satisfeito.
E para isso, ele precisava da cooperação total e completa de Noelle. De uma forma ou
de outra, isso é o que ele ia conseguir.

Havia um monte de coisas nas quais Noelle podia receber uma mão de David, mas
ajudá-la a usar o banheiro, não era uma delas. Ela tinha seu orgulho. Isso foi o que
finalmente afastou a última das teias de aranha pegajosas no cérebro de Noelle e a fez
colocar as pernas em movimento. Ela não estava completamente firme em seus pés, mas
com uma parede próxima, ela estaria bem.
Noelle se levantou da cama, esperando que David apenas continuasse olhando pela
janela através de uma rachadura nas cortinas de plástico e não notasse seu movimento.
Ela estava sem sorte. Ele percebeu e caminhou sobre o tapete vistoso para o lado dela.
— Como está se sentindo? — ele perguntou, seus olhos medindo seu corpo como se
estivesse absorvendo cada pequeno detalhe.
— Como se precisasse fazer xixi.
Se sua franqueza o incomodava, ele não mostrou nada em seu rosto angular. —
Tonta? — perguntou ele.
— Um pouco. Nada que eu não possa lidar.

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Sua mão agarrou seu braço, não tão apertado que doesse, mas firme o suficiente para
que se ela tivesse um derrame, ele fosse capaz de segurá-la. Era reconfortante de um jeito
bizarro você-é-um-estranho-e-talvez-um-louco-maníaco-mas-pelo-menos-você-está-aqui
algo assim.
Ele a acompanhou até a porta do banheiro e ela fez uma carranca que dizia que
cuidaria das coisas a partir daqui.
Ele apenas resmungou, que pelo som ela adivinhou parecia o mais próximo possível
de um riso que jamais chegou, e encostou-se à porta com os braços cruzados sobre esse
peito largo dele. — Eu estarei aqui se precisar de mim.
Noelle forçou-se a ficar em pé sozinha, endurecendo sua coluna e dando a ele seu
melhor olhar de professor - aquele que enviava calouros direto para a biblioteca com um
desejo ardente de estudo. — Eu não preciso de você para isso — ela disse, enquanto
fechava a porta na cara dele.
O esforço de fazer toda a pose fez palpitar e rodar a cabeça. Fosse o que fosse que lhe
aplicaram era um inferno de uma batida. Claro, ela perdera um par de refeições hoje, o que
provavelmente não ajudava a coisa toda da tontura.
Agora que ela estava na vertical e relativamente coerente, fez um inventário da sua
situação. Ela ainda não fazia ideia de onde estava, ou quem David era. Ela assumiu que ele
trabalhava para os militares dos EUA, mas havia uma chance de que fosse isso que ele
queria que ela pensasse. Por tudo que sabia, ele poderia ser um espião estrangeiro, enviado
para buscá-la para decifrar os algoritmos da criptografia na qual ela trabalhara
anteriormente.
Ela não era tão assustadoramente inteligente quanto sua irmã, Lilly, mas ela não era
estúpida, também. Ela sabia o poder que a solução daria a qualquer agência de inteligência,
fosse a missão sancionada ou não pelo governo. Informação era poder. A proteção das
informações era fundamental para manter a matemática do poder. Assim como Noelle
percebia o quão longe ela poderia levar seu trabalho, ela sabia que era uma arma muito
poderosa para se desenvolver. Quem tivesse o controle disso nunca mais se preocuparia
sobre quebrar qualquer código, pelo menos não como eles existiam hoje. Sua solução não

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era apenas uma simples ferramenta para quebrar códigos. Se ela tivesse tempo para
terminá-la, ela tinha certeza que daria tanto poder à computação, que seu trabalho se
aproximaria da inteligência artificial. Bastaria alimentá-lo o suficiente com texto cifrado e,
eventualmente, teria dados suficientes não só para quebrar qualquer código, mas na
verdade para prever códigos futuros com base em informações históricas. O sistema
primeiro aprenderia consigo próprio, então iria ensinar.
Desenvolver algo tão complexo, provavelmente levaria anos, mas o fato de que ela
quase pudesse imaginar como seria o trabalho, em algum lugar na periferia seu cérebro, era
suficiente para convencê-la que não só era possível, isto estava dentro de sua capacidade de
criar.
Ninguém sabia o quanto sua solução avançara, e se ela queria ficar viva, precisava
manter assim. Ela não conseguia imaginar uma situação em que alguém seria capaz de
obrigá-la a criar uma coisa contra sua vontade, mas ela era inteligente o suficiente para saber
que sua imaginação para a crueldade humana não era tão bem desenvolvida quanto a dos
outros. Enquanto ninguém soubesse do que ela era capaz, não havia risco de que fosse
forçada a trabalhar sobre o que ela considerava o Código dos códigos, a última fronteira.
A questão era, se eles não sabiam sobre isso, e ela sabia que não podiam saber, então
por que os homens estavam atrás dela? Por que David viera para salvá-la?
E mais importante, ela podia confiar nele?
Noelle olhou em volta do banheiro apertado. Não era nada especial, apenas uma
combinação de telha rachada, mofado e água manchando o papel de parede. A
característica mais notável era a pequena janela de vidro fosco alta acima do vaso sanitário.
Uma grande o suficiente para ela se espremer para fora se realmente tentasse.
A porta do banheiro estava trancada, mas ela sabia que David não teria muito esforço
para quebrá-la. Ela também sabia que ele faria exatamente isso se a ouvisse tentando
escapar. Ela podia dizer a ele que ia tomar um banho e sair enquanto a água corria para
mascarar o som. Isto poderia funcionar. Suas pernas estavam mais fortes agora, embora
ainda se sentisse toda fraca e se movimentar tomava um esforço muito maior do que
deveria.

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Ela podia tentar fugir. Podia até ser capaz de fazê-lo. Mas deveria? E se David fosse a
única coisa entre ela e quem tentou sequestrá-la mais cedo? Parecia estúpido fugir de um
homem que não fizera nada além de ajudá-la até agora. Talvez fosse apenas um artifício
para deixá-la com uma sensação de falsa segurança, mas Noelle não pensava assim. Havia
algo sobre ele que gritava sobre honra. Ele era um pouco rude e não exatamente um
talentoso conversador, mas ele a protegeu. Ele a ajudara viver. Grogue, mas viva.
Noelle não era muito de confiar em instintos. Ela preferia a lógica e os fatos e uma
pilha espessa de dados empíricos para tomar decisões. Mas agora, ela não possuía nada
disso. Tudo o que tinha era a sua intuição que dizia que David era um bom homem. Ficar
com ele era muito mais seguro do que se espremer por uma janela à noite, sozinha, fraca e
desarmada.
Agora, David era sua melhor aposta.
Quando Noelle saiu do banheiro, ele ainda estava lá, encostado no batente da porta.
— Estou feliz que você não tenha tentado — disse ele.
— Tentar o quê?
— A janela.
Noelle ainda tentou alterar sua expressão antes que ele pudesse ver sua reação
chocada de saber que ele percebera sua intenção de fuga. — Eu não sei sobre o que você
está falando — disse ela.
Uma fraca cintilação de diversão cruzou seus olhos. — Você é muito inteligente para
não ter pelo menos pensado em fugir pela janela. Você caberia ali, mas não iria muito longe,
antes de eu pegá-la.
Noelle revirou os olhos. — Se eu realmente quisesse dar o fora, eu conseguiria,
portanto, não fique dando uma de He-Man para cima de mim.
— Não, madame. Nem sequer pensei nisso.
Ela lhe deu um olhar cheio de desafio, mas as luzes fluorescentes em cima da pia e do
espelho atrás dele deram ferroadas em seu cérebro.
— Sua cabeça ainda está doendo? — perguntou ele, dobrando os joelhos para que
ficasse em um nível para olhar diretamente em seus olhos.

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— Sim, mas eu vou viver.


Ele tirou uma lanterna fora do seu colete cheio de coisas, e disse: — Fique quieta.
A luz machucava, mas o que ele via deve ter incomodado, com base na séria carranca
que ele fazia agora.
— A droga deveria ter desaparecido por agora, mas suas reações ainda estão lentas.
Você está tomando algum medicamento? Usa drogas?
As entranhas de Noelle se contorceram em indignação. Como ele ousava acusá-la de
ser uma viciada, quando ela nunca tocara essas coisas em sua vida? — Eu não uso drogas,
não que isso seja da sua conta.
Ele colocou a luz a distância, mas bloqueou sua saída para que ela não pudesse nem
bufar de irritação do jeito que queria. — Tudo sobre você é da minha conta. Eu fui
designado para mantê-la viva, assim você não vai nem piscar sem o meu conhecimento.
— Designado? Por quem?
Seus lábios apertaram numa linha fina e silenciosa.
— Já vejo. Então você tem que saber tudo sobre mim, mas eu nem sequer posso saber
quem te mandou?
Ele balançou a cabeça uma vez. — É isso aí.
— Você tem que ser militar. Ninguém mais é tão cheio de si com essa coisa toda de
missão secreta. — Ela tentou passar por ele, mas era como tentar tirar de seu caminho uma
sequoia.
— Nós precisamos nos mover agora que você está de pé — disse ele quando se virou
para longe dela, ignorando a pergunta implícita.
— Para onde vamos? Não espere, deixe-me adivinhar. Você poderia me dizer, mas
então teria que me matar, certo?
Um canto da boca realmente contraiu com um sorriso. — Agora você está
entendendo.
Noelle suspirou. Ela não estava recebendo nada dele. Talvez ele a estivesse levando
para seus superiores, aonde ela iria, pelo menos, ser capaz de fazer algumas perguntas. Ela
sabia que ele estava aqui para protegê-la e que alguém tentara matá-la pelo trabalho que se

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negara a fazer para o governo. Ela também sabia que, logo que conseguisse falar com
alguém com poder suficiente para tomar uma decisão independente, eles arrumariam essa
bagunça toda e ela poderia estar de volta à sua velha vida na segunda-feira.
Não que sua antiga vida tivesse muito a oferecer com uma tonelada de dever de casa
da graduação para corrigir e a recompensa por sua dedicação sendo a demissão no final do
ano. Mas ei, pelo menos era a vida dela. Suas escolhas. Sua demissão. Isso é o que realmente
importava.
Noelle lavou a boca na pia, tentando livrá-la do gosto de animais em decomposição
empalhados. Pelo do canto do olho, ela viu David pegar um pequeno tubo de creme
dental e uma escova de dentes envolta em plástico.
Aleluia!
— Podemos pegar algo para comer na estrada, mas precisamos ir. Quando você
acabar, vamos deixá-la equipada.
Noelle levantou uma sobrancelha questionando-o no espelho. — Que equipamento?
— Colete, dispositivo de rastreamento, uma arma pequena, se você conseguir
carregar uma.
— Não é provável.
— Não penso assim.
Noelle fez um rápido trabalho em seus dentes e embolsou a escova de dentes para
uso posterior. Ela nem sequer tinha sua bolsa com ela. Sem dinheiro, sem identidade, sem
nada.
Exceto seu laptop. David pegara apenas isso de sua casa.
A manga de seu moletom solto estava manchada de sangue e algo oleoso. Os dardos
não deixaram um grande buraco, mas o sangue ia ser muito perceptível contra a pele
pálida. Noelle tirou-o, endireitando as duas camisetas que usava por baixo. Normalmente,
ela só usava uma, mas a casa dela era fria, e toda vez que ela usava um casaco, as mangas
soltas mandavam as pilhas de papéis para o chão.
David observou-a enquanto ela limpava o local sangrento com uma minúscula barra
de sabão na pia.

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— Seu braço está doendo? — ele perguntou, como se só agora se lembrasse que as
pessoas podiam sentir dor. Ele era, obviamente, um cara muito duro.
Doía, mas Noelle não gostava dele sabendo que ela estava em desvantagem. — Está
tudo bem.
— Você é uma mentirosa lamentável. — Ele cavou em uma mochila de lona preta e
tirou um kit pequeno de primeiros socorros.
— Sim, bem, isto vem de quem não ganha a vida com mentiras, o Sr. Misterioso.
Ele grunhiu novamente e pegou a barra de sabão de sua mão. Ele ensaboou um pano
e limpou e os pequenos buracos com um toque delicado para um homem do seu
tamanho, que aparentemente não sentia dor.
Os dedos longos e bronzeados de uma das mãos a seguravam no lugar enquanto ele
trabalhava. Eles eram um forte contraste com a pele pálida de leite que vinha junto com o
pacote, com cabelo naturalmente vermelho e as sardas espalhadas de Noelle. Seus dedos
envolviam toda a volta do braço, fazendo o braço dela parecer quase infantil, em
comparação.
Seus olhos deslizaram para onde ele se ocupava dela. Ela sabia que ele não podia
deixar de notar que ela parecia uma criança magrela. Ela sempre parecera. Isto não a
incomodara há muito tempo. Até agora.
Agora, ela queria ser bonita e glamourosa com peitos para fora e pernas até o pescoço.
Que era sem dúvida o tipo de mulher que David gostava. Até onde ela podia dizer, todos
os homens gostavam.
— Você é menor do que você parecia nas fotos de vigilância — disse em uma voz
baixa e profunda, do tipo que usaria para acalmar uma criança.
A ideia de que ela fora secretamente fotografada era uma violação desagradável de
sua privacidade, mas ela decidiu que era melhor apenas deixar isso passar sem reclamação.
Ela tinha coisas mais importantes para gastar sua força mais para frente. — Sim, bem, eu
gosto de roupas largas. Eles são mais confortáveis.
— Quantas camisas você está vestindo, afinal?

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Ela olhou para baixo, querendo cobrir os seios pequenos com os braços. Eles eram
apenas mais duas coisas adicionadas ao visual totalmente imaturo de seu corpo. Claro, a
frase em negrito na camiseta Saí de casa para isso? não ajudava muito sua imagem
madura.
Noelle desviou o olhar, desejando que fosse qualquer pessoal, menos ela mesma. Ela
era inteligente e amável e geralmente gostava de quem se tornara. Era estúpido e
completamente insano que a imagem que tinha de seu corpo fosse incomodá-la em um
momento como este, mas aconteceu. E isso a chateou.
— Eu estou usando duas — ela retrucou. — E antes que você pergunte, estou usando
dois pares de calças também, jeans sobre legging. Mas só um sutiã, uma calcinha e um par
de meias de algodão, tudo cem por cento cotton, já que poliéster me dá alergia. Eu acho que
isso cobre a parte do meu guarda-roupa. Nós já passamos pelo meu vício em drogas e
prontuário médico. Há mais alguma coisa de natureza pessoal que você gostaria de me
perguntar?
Ele simplesmente olhou para ela, seu maxilar apertado, a mão ainda em torno de seu
braço. Ela não achava que ele fosse dizer alguma coisa, ele só faria aquela coisa maldita de
silêncio militar, mas então ele perguntou: — Você tem namorado?

David queria bater sua cabeça contra a parede por ser tão estúpido. Você tem
namorado? Que diabos ele estava pensando? Ele não tinha nada que se importar se ela
estava ou não envolvida com outro homem ou mulher. Isto não importava nada. Quem
quer que seu namorado pudesse ser, ela não o veria novamente, assim como poderia isso
importar?
Mas importava. E aquilo o irritou.
David terminou bandagem no braço dela, recusando-se a notar como sua pele era
macia contra os calos dos dedos, como maravilhosamente pálido seu corpo era ao lado de
sua mão escura, quão frágeis os ossos delicados de seu braço eram comparados com a
espessura de seu braço. Ela era completamente feminina e frágil, e isso fez todo desejo
primal de proteção em seu corpo levantar-se e rugir.

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Ela estava em uma lista de alvos. Ele não podia esquecer isso. Ele estava aqui para
protegê-la, não para se encantar.
Ele não a deixaria morrer porque estava muito ocupado pensando com seu pau.
Assim, em vez de despir as camisetas de grandes dimensões para ver se o resto do
seu corpo o fazia perder o controle tanto quanto seu braço fez, ele virou as costas e checou a
janela do motel enquanto ela tirava uma camiseta e vestia o colete Kevlar em torno dela.
— Eu acho que isso não vai caber — disse ela por trás dele.
David amaldiçoou sua sorte e foi para ajudar. Ela estava certa, o colete era grande
demais, e mesmo quando bem apertado, os fechos ajustáveis estavam muito distantes para
fechar. Se ela caísse, o material pesado deslizaria pelo corpo e não faria nada para proteger
seus órgãos vitais.
David engoliu uma maldição e tirou o colete. — Coloque todas as suas roupas de
volta e o colete por cima.
— Não vai ser um pouco suspeito eu andar por aí mostrando meu colete Kevlar da
moda? Eu não tenho uma jaqueta para cobri-lo, a menos que você tenha trazido uma da
minha casa.
David já estava tirando seu colete e camisa de mangas longas. Ele puxou uma de suas
camisetas de manga curta de sua mochila e entregou a camiseta preta térmica que vestia.
— Vamos colocar isso sobre o colete para mantê-la quente e esconder tudo até que você
consiga um colete menor.
David a ajudou a prender as tiras, que se encaixaram melhor ao longo das três
camisas que ela usava. Sua camisa preta a cobriu completamente. Somente alguém que
estivesse olhando de perto saberia que ela usava um colete. David não deixaria ninguém
chegar tão perto.
As mangas longas sobraram sobre suas mãos, e ela as enrolou. Mesmo assim, a
camisa era muito grande, engolindo-a e fazendo-a parecer vulnerável.
David disse a si mesmo que estava tudo bem ela parecer vulnerável. Ela era.

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Eles não precisam ter David se distraindo com uma ereção que surgiu a partir de algo
tão simples como vê-la usando suas roupas. Isto era juvenil e estúpido, algo assim como
perder o controle.
Ele estava claramente perdendo isso.
— Como estou? — ela perguntou, o rosto rosa corado de vergonha.
Como seu demente sonho molhado.
— Vai servir — disse ele.

Capítulo 05

Noelle encostou-se no interior da porta do passageiro, observando o passar das


planícies. O sol acabara de nascer, e o céu estava lavado com amarelo pálido e rosa. Os
pneus do Buick cantarolavam sobre o pavimento da interestadual sem nada para quebrar
a monotonia do ruído.
David ainda usava o colete e as armas, mas cobrira tudo com um blusão solto que
escondia as coisas abaixo dele. Incluindo o fato que estava completamente rasgado.
Noelle o observara no quarto de hotel quando ele tirou a camisa para ela vestir. Não
mais grogue, foi capaz de realmente apreciar como o corpo dele era bonito. Os músculos
em seu peito e barriga eram o sonho de um artista, todos definidos e sombreados por pelos
escuros. Cada movimento era gracioso, quando ele verificara suas armas e equipamentos.
Ele não era excessivamente musculoso, mas os que tinha eram abundantes e deslizavam
fluidos uns contra os outros sob sua pele, encolhendo e flexionando em hipnótica
masculinidade.
No momento em que deixaram o hotel, Noelle estava tremendo. Ela disse a si mesma
que era apenas sua baixa taxa de açúcar no sangue, mas sabia que era algo mais. Algo
feminino, ridículo e... excitante.

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Isto era ridículo. Ela nem conhecia o homem. Não tinha ideia se era casado, embora
usasse algum tipo de anel em uma corrente ao redor do pescoço. Diabos, nem sabia se ele
era honesto.
—Quanto tempo até chegarmos a este destino misterioso? —Ela perguntou, para se
distrair.
Ele olhou para o relógio do painel. Eram apenas seis da manhã. —Antes do almoço.
O que me lembra, a que horas você jantou na noite passada? Eu estava pensando que
poderia ser a razão pela qual a droga atingiu-a com tanta força.
—Eu esqueci de jantar, — disse ela, olhando pela janela.
—Esqueceu-se. Okay. Quando almoçou?
—Sim, bem, eu meio que perdi isso também. Eu estava dando uma aula, então recebi
o e-mail com essas imagens antigas da Rússia, então Joan veio....
David soltou um suspiro. —Café da manhã?
—Eu realmente não sou muito uma pessoa de café da manhã.
—Você é hoje, — disse ele enquanto dava sinal para a próxima saída em direção a um
McDonalds. —Então, você ficou o dia inteiro sem comida. É uma maravilha que ainda não
esteja dormindo.
—Eu passei muitas noites trabalhando em vez de dormir. Resistir ao impulso de cair é
apenas uma daquelas coisas que vem junto com uma carreira acadêmica. Eu gosto de
pensar nisso como um benefício.
Ele entrou no estacionamento e se dirigiu para o drive-thru. —O que você quer?
Noelle encolheu os ombros. Fazia tanto tempo desde que comera que seu estômago
desligara. Isso acontecera algumas vezes. —Eu não me importo. Escolha alguma coisa.
Depois que a velha senhora na janela, com idade de avó, entregou-lhe seu terceiro
saco cheio de comida, Noelle começou a pensar que fora a coisa errada a dizer.
—O café é meu. Você tomará água até a porcaria ser lavada fora de seu sistema.
—Sim, senhor, — ela resmungou, tentada a jogar uma salsicha e o ovo crocante em
sua cabeça ao invés de comê-lo.
Ele apenas lhe deu aquele sorriso torto e voltou para a estrada.

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Ela estava dormindo novamente. David não tinha certeza se aquele era um bom sinal
ou não.
Depois de comer um café da manhã decente, Noelle se enrolara contra a porta do
carro e apagou, antes que ele tivesse uma chance de convencê-la a ajudar a CIA.
Agora, estavam na casa segura no sul de Colorado, onde se encontrariam com pelo
menos meia dúzia de outras pessoas - tanto CIA, como o Exército - que lhe pressionariam a
cooperar.
Esta era a coisa certa a fazer. Inferno, era a única coisa a fazer, embora David estivesse
preocupado. Eles nunca encontrariam o Swarm sem alguma inteligência decente e agora,
Noelle era a única chance que tinham.
David queria esses bastardos terroristas mortos, mas ainda se irritava que ela fosse
usada em um jogo onde sequer conhecia as regras.
Entrou na alameda de cascalho da parte de trás da antiga fazenda, mas não desligou o
motor. Ele já fora rastreado por pelo menos quatro atiradores antes mesmo de entrar na
propriedade. Pelo menos esses caras estavam do seu lado. Estavam tão seguros aqui como
podiam, mas ainda sentia a inundação da adrenalina em sua corrente sanguínea quando
colocou sua cabeça no jogo. Não podia haver erros agora.
—Acorde, Noelle, — disse ele enquanto examinava a área. Podia ver o rosto do
coronel Monroe em uma das janelas da frente, junto com vários outros homens do mesmo
naipe. Viu um dos atiradores no telhado e outro apenas dentro da linha das árvores.
Gostaria de ver Grant ou Caleb entre eles, mas era só esperança.
Cara, seria bom ter seus antigos companheiros às suas costas para esta operação. Ele
se sentiria muito melhor sobre a movimentação em torno de Noelle a céu aberto.
Ela se mexeu e abriu os olhos verde-escuros. —Chegamos?
—Sim. Preciso levá-la para dentro, onde é seguro. Não gosto de você exposta aqui
fora.
Noelle bocejou e pegou a maçaneta da porta.
—Ainda não. Espere até eu dar a volta para abrir.

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—Eu sou perfeitamente capaz de abrir a porta.


—Eu sei. Você também é perfeitamente capaz de levar um tiro na cabeça enquanto
está lá fora sem mim para cobrí-la. Em vez disso, por que não me deixa fazer isso, okay?
Seu tom era duro, mas ele não podia se preocupar sobre magoar os seus sentimentos.
Tinha que se preocupar apenas com a proteção de seu corpo.
Esse pensamento levou-o a uma viagem mental de como seu corpo podia ser doce
sem todas aquelas roupas. Ele se perguntou se ela era toda clarinha, ou se teria uma pitada
de sardas nos seios.
Uau. Este não era nem perto do lugar onde seus pensamentos precisavam estar
agora.
Com uma severa repreensão por sua estupidez, David pisou em sua libido até que ela
se encolheu de volta em seu canto escuro, onde pertencia.
Ele moveu-se ao redor para abrir o carro para Noelle, mantendo a mão sobre a arma.
Ela deslizou para fora do banco, de olhos arregalados e tremendo de medo.
Merda. Ele não tivera a intenção de assustá-la assim.
Agora ele não tinha como lhe oferecer o pouco conforto que podia. Colocou o braço
em volta de seus ombros, sentindo os tremores de medo correndo por ela. Protegeu o
corpo dela com o seu, enfiando a cabeça dela contra seu peito, certificando-se que, se
alguém desse um tiro, passaria primeiro por ele - disse a si mesmo que estava apenas
fazendo seu trabalho, mas o aperto previsível em suas calças provou que ele era um
mentiroso. Ele gostava da maneira como a sentia grudada contra ele. Era um ajuste perfeito,
com a cabeça aninhada sob seu queixo. Era o tipo de ajuste que lhe fazia questionar como
resto deles se encaixaria bem.
À medida que se apressava para subir os degraus, ele se inclinou para perto de seu
ouvido, trazendo o aroma de morango fresco do seu xampu. Ele queria levá-la para
alguma ilha secreta onde ninguém jamais pudesse encontrá-la. Queria tirar aquele olhar de
medo de seus olhos e nunca deixá-lo assombrá-la novamente. Queria voltar no tempo e
matar todos os membros da Swarm antes que tivessem se espalhado como uma câncer
maligno - antes que pudessem ter ameaçado a segurança de Noelle e arruinar sua vida.

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Mas não podia fazer nada disso. Não podia mudar o passado. Tudo o que podia
fazer era protegê-la até que ela fizesse sua escolha, se desistia de sua vida atual e vivia, ou se
agarrava a ela e morria.
O pensamento da segunda opção não era uma com a qual o estômago de David
pudesse lidar. Já houvera morte de inocentes o suficiente em sua vida. Ficar parado e aceitar
outra, era algo que ele simplesmente não podia fazer. Se Noelle iria viver, ela tinha que
confiar em alguém e queria que esse alguém fosse ele.
Ela não tinha ideia do que estava prestes a passar lá dentro. Ela seria questionada,
pressionada, manipulada. O que eles sentissem que precisava ser feito para ganhar a sua
cooperação, eles fariam, não importava como fosse nojento. Eles precisavam dela, e se o que
David achava estivesse certo, precisavam dela mais do que ela precisava deles. Ela só não
sabia disso.
A urgência de protegê-la queimou forte dentro dele. Ele tinha um monte de erros
para compensar - erros tão grandes que nunca poderiam ser corrigidos. Ele não queria
apenas protegê-la, mas queria proteger seu conforto também. O que ela estava prestes a
passar não seria confortável, e isso irritava David. Ele só desejava que pudesse levá-la para
longe de tudo isso e poupá-la da provação extenuante de ser pressionada pela CIA.
Mas ele não podia fazer isso, sequer seria permitido ficar com ela na mesma sala
enquanto era interrogada e coagida. Esta era a última chance que ele teria para lhe dar o
pouco de apoio que podia oferecer. A ideia de ela estar sozinha naquela sala de
interrogatório com os capangas bem vestidos não caía bem. Ele queria ficar a seu lado e
dizer-lhe que tudo ficaria bem. Ele se asseguraria disso.
Mas isso era uma mentira. Não importa o que acontecesse, nada para ela jamais seria
a mesma coisa. O melhor que podia fazer era armá-la para que ela pudesse lutar suas
próprias batalhas. Seu conhecimento e habilidades eram armas formidáveis - armas que
duvidava que ela soubesse possuir. A questão era, onde estava sua própria lealdade? Com
o governo que precisava da ajuda de Noelle ou com a própria mulher? Ele sabia que devia
para Monroe, mas também sabia que tinha de agir de acordo com sua consciência. Noelle
tinha que ser sua prioridade. Não podia ser de outra maneira. Nada menos do que total

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compromisso com sua segurança, mesmo segurança emocional, era inaceitável para ele.
Ele era mais do que uma ferramenta do governo. Ele era um homem. E como homem, ele
tinha que ouvir o seu coração.
No final, ganhou o seu coração. Ele tinha que oferecer sua ajuda, enquanto ainda era
capaz. —Não deixe que eles te assustem aqui, — disse a ela em um sussurro contra seu
ouvido. —Lembre-se, você é a única que tem algo que eles querem. Você tem o poder.
Você está no controle.
Ela olhou para ele, o choque brilhando em seus escuros olhos verdes. A partir desse
olhar de fração de segundo, ele sabia que ela entendera o que ele disse sobre sua
importância. Ela podia não entender por que ou como, mas ela descobriria. Ele sabia que
ela o faria. De repente ficou aliviado por Noelle ser uma mulher inteligente o suficiente, que
não precisava de muita ajuda para ligar os pontos.
Antes que ela pudesse fazer qualquer pergunta, eles estavam lá dentro, rodeados por
um grupo imponente de homens que quase a sufocaram em um mar de ternos pretos
quando a colocaram na sala de interrogatório.

Noelle se sentou em uma cadeira dura de madeira, aguardando o próximo grupo de


homens que viriam interrogá-la.
Era fim de tarde e a rotina estava ficando chata.
Estava cansada de responder às mesmas perguntas várias vezes. Estava cansada de
ficar sentada nesta sala sem janelas, com um grupo de homens que olhava para ela como se
fosse uma aberração ou uma ferramenta. Mas acima de tudo, estava simplesmente
cansada. Seu braço doía onde fora baleada, sua boca estava seca e os nervos desgastados.
Enquanto repetia os eventos que lhe aconteceram na noite passada para os homens
bem vestidos, a realidade de sua situação começou a afundar dentro dela. Ela fora caçada e
atacada. Entendido, os homens que a atacaram a queriam viva, mas isso realmente não
ajudava muito para fazê-la se sentir melhor sobre sua situação.
A porta da sala mofada se abriu novamente e um homem mais velho com uma
camisa de golfe e calça cáqui entrou, seguido de perto por David. Seu coração saltou de

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alívio ao vê-lo. Ela teve que se segurar para não correr para seus braços atrás de um abraço
reconfortante. Ele era o único rosto familiar em uma multidão de estranhos. Claro, ela não
sabia seu sobrenome, ou mesmo para quem ele trabalhava, mas ele estava um grande
passo a frente dos homens pomposos que se infiltraram através desta sala o dia todo,
tentando convencê-la a dar ao governo o que eles queriam - algo que ela não estava
disposta a dar.
Pelo menos, seus pais ficariam orgulhosos por não ceder, manter em pé seus
princípios. Ela só esperava que tivesse a chance de vê-los novamente e dizer-lhes como ela
foi corajosa e que seus ensinamentos não foram desperdiçados.
David colocou uma garrafa gelada de água sobre a mesa, tirando o copo meio vazio
de café que dera a ela mais cedo. Ele engoliu o resto do café frio em um longo gole, fazendo
Noelle saber como ele necessitava da cafeína.
Ele parecia cansado e seus ombros estavam menos esticados e retos que ela se
lembrava, mas ele ainda teve forças para atingi-la com um olhar exigente, que ordenava
que ela bebesse.
Noelle sorriu, feliz pela folga de não ter de enfrentar os fatos novamente.
O homem mais velho tinha cabelos grisalhos e um tipo físico que fora uma vez muito
parecido com o musculoso David, mas não tão obscenamente. Agora, ele estava
começando a amolecer com o tempo e a gravidade até que parecia apenas... confortável.
Mesmo assim, havia um ar sobre ele, algo sobre a maneira como David o olhava com total
respeito, que a advertiu a não subestimá-lo.
—Você gostaria de uma pausa? Talvez ir ao banheiro? — perguntou o homem mais
velho.
Noelle balançou a cabeça. Ela só queria que esta bagunça acabasse.
—Eu sou o Coronel George Monroe, — disse ele, estendendo a mão em saudação.
Noelle olhou para David, e pelo seu ligeiro aceno de cabeça, ela decidiu se levantar e
apertar sua mão.
Monroe levantou uma sobrancelha, surpreso quanto percebeu a troca de olhares
entre ela e David, mas não disse nada sobre isso. —Por favor, sente-se.

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—Prefiro não, — disse Noelle. —Minha bunda ficou dormente em cima dessa coisa.
Monroe deu de ombros e deslizou para um assento na mesa que uma vez enfeitara a
cozinha de alguém com um monte de crianças, pelo modo como parecia bem usada.
—Posso economizar a todos nós um monte de tempo aqui, coronel Monroe. Eu já
disse aos homens de terno combinando, o que aconteceu ontem à noite em minha casa.
Tenho certeza que David aqui pode corroborar a minha história.
—Eu não estou interessado nisso, Dra. Blanche.
Noelle fez uma careta. Ela odiava estar aqui quase tanto quanto odiava o seu nome.
Noelle Blanche. Natal Branco. Alguém deveria ter chutado seus pais na bunda por essa
brincadeira.
Ela endireitou os ombros e olhou para o homem imponente bem nos olhos. —Então,
a resposta para todas as suas outras perguntas é não.
—Não? — Ele perguntou, franzindo a testa.
—Certo. Não. Como em, eu não vou trabalhar para você. Não, não vou ajudá-lo a
decifrar qualquer mensagem em código. Não, não vou terminar o desenvolvimento dos
algoritmos de criptografia que você queria. Não, não, não. Eu acho que isso cobre todas as
contingências possíveis. Sim?
—Noelle, — disse David, em uma voz baixa e persuasiva. Não seja tão teimosa.
Apenas ouça-o, por favor?
Ela olhou através da sala para David. Ele parecia cansado, preocupado. Ela percebeu
que ele devia ter permanecido acordado a noite toda cuidando ela. Protegendo-a. Queria
recompensá-lo por sua ajuda, mas simplesmente não conseguia comprometer seus
princípios.
Com um suspiro pesado, ela se resignou a mais duas horas engaiolada nesta sala
abafada. —Tudo bem. Vou ouvir, mas não espere que eu de repente mude de ideia sobre
as mesmas questões. Posso estar cansada de responder, mas as respostas não mudarão.
Monroe acenou com a cabeça, dando-lhe um profundo olhar de respeito. —Até que
ponto você chegou com a criptografia algoritma – sobre a qual lhe foi oferecida a concessão
pelo desenvolvimento? — Perguntou ele.

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Noelle olhou para David, de repente, lembrando o que ele dissera. Eles queriam algo
dela. Ela estava em uma posição de poder aqui. Ela era esperta, poderia descobrir uma
maneira de jogar isso em sua vantagem.
Noelle cruzou os braços sobre o peito e ofereceu a Monroe o mesmo olhar que ela
recebeu de David quando ele a encurralou no hotel. —Não. Primeiro você me diz onde
estou.
Monroe olhou por cima do ombro para onde David estava recostado contra a parede,
parecendo entediado. A expressão do homem mais velho era claramente descrita com um
olhar isso tudo é culpa sua.
Quando ele se virou de volta para Noelle, um sorriso leve e complacente puxou a
boca de Monroe. —Tudo bem. Você está no sul do Colorado, em uma casa segura da CIA.
Noelle sentiu uma onda de vitória, mas tentou mantê-la fora de seu rosto. —Quem
eram aqueles homens que invadiram a minha casa?
Monroe balançou a cabeça. —Primeiro, você responde à minha pergunta. Até que
ponto você chegou em seu desenvolvimento?
—Mais da metade. — Parecia uma resposta vaga o suficiente. Verdadeira, mas não a
informação real. Oh sim, ela podia jogar este jogo.
—Quanto tempo você levaria para concluir o trabalho? —Monroe perguntou.
—Quem eram aqueles homens? — ela respondeu.
—Eles eram membros de um grupo terrorista chamado Swarm, — ele respondeu
com um sorriso conhecedor, combinando com a imprecisão da resposta dela e a deixando
ligeiramente frustrada.
Nesse ritmo, ficariam aqui a noite toda, e nem um deles teria qualquer informação
verdadeiramente útil. Ela decidiu atirar-lhe um osso na esperança que ele fizesse o mesmo.
—Eu demoraria dois meses, talvez um pouco mais, algo como mais quatro semanas, se
fosse tudo no que estivesse trabalhando. Então, eu seria capaz de entrar em qualquer
sequência de código com base nas mais de três mil possíveis variações da amostra de texto
cifrado que me foi dada e ter uma solução. — Era um código bem simples e ela tinha
certeza que poderia descobrir isso em poucas semanas.

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—E se lhe fosse dada uma amostra de texto diferente? Quanto tempo você levaria?
Noelle encolheu os ombros. —Não posso dizer sem ver o texto.
Monroe abriu seu casaco e tirou um envelope que continha um pedaço de papel
dobrado. Abriu-o cuidadosamente e esticou o papel na frente dela.
Noelle olhou para a página e de imediato, seu coração começou a bater de emoção.
Ela tinha visto algo assim antes – que o professor russo lhe mandara e sobre o qual ela
estava trabalhando. Os símbolos eram os mesmos, mas a sua utilização era totalmente
diferente. Ela já podia ver um complexo padrão entre os símbolos que fluiam, algo vago e
evasivo, mas definitivamente lá.
—Isto não é apenas texto— afirmou. —É matemática.
Monroe franziu o cenho. —Como você pode dizer? Você deu apenas uma olhada de
poucos segundos.
Noelle apontou para vários símbolos. —Estes são gregos, e não cirílico. Sua sequência
e colocação me leva a crer que os outros símbolos são variáveis de algum tipo de equação.
Ou equações. Eu não posso ter certeza.
David e Monroe trocaram um olhar. —Agora sabemos por que eles a queriam, —
disse Monroe. —O Swarm deve ter descoberto que havia um ângulo matemático e sabiam
que ela era uma das poucas que poderia decifrar.
As palmas das mãos coçavam para alcançar e agarrar o papel. Este era o tipo de
quebra-cabeça que Noelle gostava de resolver. Ela até podia sentir. Isto era algo que nunca
fizera antes. Tinha peso. Importância.
Era um verdadeiro desafio, e Noelle amava um desafio.
Antes que pudesse começar a ver o padrão, Monroe virou o papel de costas sobre a
mesa, se inclinando para trás.
Noelle escondeu seu desapontamento.
—Nós precisamos de você, Dra. Blanche. Tivemos uma equipe trabalhando nisso há
meses e eles não chegaram tão longe como você fez agora, em poucos segundos.

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Noelle engoliu em seco e enfiou as mãos sob as coxas, para que não ficasse tentada a
chegar ao papel. —E você acha que eu posso fazer melhor do que a sua equipe? — Ela
perguntou, tentando soar casual, mas soando ofegante em vez disso.
Monroe encolheu os ombros largos. —Você já chegou. Isso é importante. Estamos
falando sobre evitar um importante desastre nuclear. Este texto contém a localização de
várias armas ... perdidas na Guerra Fria.
Guerra. Sempre parecia voltar a isso, com os militares.
Seu estômago torceu quando ela percebeu que não teria a chance de ver o roteiro
matemático novamente. Ela não seria capaz de fracioná-los em partes para colocá-lo
novamente numa ordem que fizesse sentido. Ordem no caos.
Uma frustração resignada queimava em sua barriga, mas não havia nada que
pudesse fazer sobre a maneira como se sentia. Teria que se contentar em ficar
decepcionada.
—Eu gostaria de poder ajudar— disse ela, e isso era verdade. —Mas não vou me
envolver com projetos militares. Para quebrar o código vou precisar desenvolver alguns
algoritmos. Eles seriam específicos para este tipo de código, mas ainda tão generalizados
que poderiam ser usados novamente. Eu nunca poderia ter certeza de que meu trabalho
não seria usado ofensivamente.
A frustração banhou os homens em suas mandíbulas cerradas e a sala se encheu com
a tensão palpável de homens com desejo de violência. Provavelmente contra ela.
—Precisamos descobrir o que está nesta página, — disse Monroe.
—Então sugiro que comecem a procurar o próximo perito da lista, coronel Monroe.
—Podemos oferecer-lhe uma quantia substancialmente maior que o subsídio—
ofereceu Monroe.
—Eu não quero o dinheiro. Nunca foi sobre o dinheiro.
—Mas você vai perder seu emprego se não fizer alguma coisa. Pelo menos desta
maneira, teria uma maneira de pagar suas contas.

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—Vou descobrir alguma coisa. Eu já tive trabalhos ruins antes. Posso tê-los
novamente. —Ela não tinha intenção de dizer-lhes que um trabalho de merda não iria
pagar seu monumental empréstimo estudantil, assim como sua renda.
—Por que não pode nos ajudar? Você tem algo contra seu governo?
—Não, mas eu li a história o suficiente para aprender com ela. Repetidamente há
histórias de cientistas que descobriram ou inventaram grandes coisas só para vê-las
transformadas em algo mortal. Eu não vou deixar que isso aconteça com o meu trabalho.
Meus pais são cientistas, e me ensinaram que eu devo ter tanta responsabilidade quanto
cérebro, porque serei responsável pelas coisas que crio e como são usadas.
A boca de Monroe torceu com uma careta. —É ridículo que você seja responsável por
algo que está fora de seu controle. Você não pode ser responsável pelas ações de todos que
irão utilizar o seu trabalho, seja para o bem ou o mal.
—Mas é aí que você está errado. Tenho a responsabilidade de pensar no futuro e me
certificar que meu trabalho não possa causar danos. Posso não ser capaz de pensar em
tudo, mas tenho que tentar, e neste caso, qualquer acéfalo poderia ver.
Monroe se inclinou para frente e ela pode sentir a verdadeira qualidade assustadora
nele que fazia até mesmo um homem tão forte como David mostrar respeito. Um duro
gelo cruel brilhava em seus olhos. —Se você não nos ajudar, não poderemos oferecer a
nossa ajuda em troca. Você será capturada dentro de dias, se não horas, e os homens que a
pegarem vão garantir que faça esse trabalho por qualquer meio necessário. Não podemos
deixar isso acontecer.
Noelle sentiu o verdadeiro medo correr em uma espiral gelada na espinha. Sentiu,
mais que ouviu, a mensagem subjacente: se os Estados Unidos não pudessem tê-la,
ninguém teria. E ele não estava blefando.
David deu um passo adiante, mas Monroe estendeu a mão para pará-lo. —Isto não é
um jogo ou uma forma de mostrar seus sentimentos anti-guerra. Esta é uma questão de
segurança nacional e não vamos deixá-la cair em mãos inimigas. Você simplesmente é
perigosa demais.

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Noelle teve que engolir para dar espaço para as palavras atravessarem seu medo. —
Mas nunca irei ajudá-los.
—Você ajudaria. No final, você faria. Você não é treinada para resistir à tortura. Eles
encontrarão suas fraquezas e vão explorá-las. E uma vez que servisse a seu propósito, a
matariam. Sem apelos, sem uma segunda chance, sem nenhum remorso. Se você não
aceitar nossa oferta, sua vida acabou. Por uma questão de segurança nacional, antes que eu
a deixe sair, ordenarei sua morte. — Ele deixou suas palavras pairarem no ar, tão frio e
denso, que era difícil para ela respirar.
Noelle não queria morrer. Não queria suportar a tortura e ajudar um inimigo de seu
país. Mas mais que isso, ela não queria ser a causa da morte de inúmeros outros. Sabia que
seu trabalho poderia ser torcido e transformado em algo perigoso. Mortal.
Era a coisa mais difícil que já teve que fazer, mas ela olhou Monroe nos olhos e disse:
—Eu sinto muito. Eu não posso ajudá-lo.

Capítulo 06

David nunca vira o coronel tão angustiado. Para um homem conhecido por esconder
suas emoções, era estranho que ele de repente se tornasse tão transparente.
David não gostava de coisas estranhas. Aquilo significava que ele estava jogando ou
que algo estava realmente errado. Só não sabia o que. Ainda.
—Você tem que parabenizá-la por sua determinação, — disse David, uma vez que a
olhavam pela câmera de circuito fechado escondido.
Sua cabeça estava apoiada nos braços e ela balançava os ombros com os sinais
inconfundíveis de que estava chorando.
David reprimiu uma maldição e desviou o olhar, incapaz de controlar o impulso de
correr de volta lá dentro, e confortá-la. Ele começara a ficar suave em seu tempo longe da
Força Delta. Era a única explicação para a sua necessidade quase incontrolável de acalmá-la.

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—Eu adoraria ir lá e felicitá-la pela sua teimosia, mas parece meio bobo cumprimentar
um cadáver, — disse Monroe.
O corpo de David ficou tenso. —Que diabos está falando, senhor? —Ele exigiu. —
Você só estava blefando sobre matá-la para mantê-la fora do alcance do Swarm, não
estava?
Monroe balançou a cabeça grisalha. —Isso é grande, filho. Não há muita coisa que eu
possa fazer. O governo dos Estados Unidos não pode deixá-la cair em mãos inimigas. Seu
conhecimento é demasiado perigoso para ser solta. Duvido que ainda estejam dispostos a
colocá-la em uma instalação segura, se ela não entrar no jogo. Existem simplesmente
muitos riscos de ela ser capturada quando a caminho. — Ele olhou David nos olhos. —
Meu palpite é que vão dar-lhe mais um dia aqui para cooperar, e se não, então ela será
executada como uma ameaça à segurança nacional.
—O quê? — Gritou David. A raiva borbulhava logo abaixo da superfície, juntamente
com outra coisa. Algo mortal. Ele não ia deixá-la morrer. Ele a trouxera aqui para proteção e
mataria qualquer homem aqui antes que os deixasse machucá-la. Incluindo Monroe.
Um casal de agentes bem vestidos enfiaram a cabeça na porta, oferecendo olhares
interrogativos, mas Monroe acenou.
—Eles não podem fazer isso, senhor, — disse David entre os dentes cerrados.
—Eles vão fazer se não convencê-la a ajudar. Tenho certeza disso.
David soltou uma série de maldições vis.
—Eu concordo. Não se preocupe. Não vão mandar você fazer o trabalho. Eles têm
um grupo de homens que podem acabar com uma garota inocente e, de alguma forma,
ainda dormir à noite.
Sobre o seu corpo morto, mas ele não deu essa informação para Monroe. —Onde
encontram homens assim? No beco do inferno?
Monroe deu de ombros. —Eles servem a seu propósito. Não posso dizer que os
convidaria para jantar em casa com a esposa e filhos, mas nós os usamos antes.

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David olhou para o coronel. Ele respeitava Monroe mais do que quase qualquer um,
mesmo com Monroe lá, conversando sobre a morte de Noelle como se fosse apenas mais
uma operação desagradável que estaria cheia de mosquitos e lama fria.
David queria sentir pena de Monroe e toda a merda que ele deve ter vivido para
torná-lo forte o suficiente para ser tão casual quanto a matar, mas em vez disso, viu-se
odiando o homem por sequer pensar em ferir uma mulher inocente. David passou sua
vida sofrendo e matando para proteger os inocentes. Sim, ele fizera algumas coisas
horríveis que ainda o assombravam tarde da noite. E sim, desejara muito, em alguns dias
de sonhos ter escolhido uma linha diferente de trabalho. Mas no final, estivera fazendo a
coisa certa. Ele matou a escória, para que os inocentes pudessem viver.
Mas Monroe estava falando sobre matar um daqueles inocentes aos quais David
dedicara sua vida para proteger. De alguma forma, isto os colocava em lados opostos de
uma linha invisível.
David afastou-se de Monroe, incapaz de olhar nos olhos dele sem mostrar o ódio
ardente que inundava suas entranhas.
Monroe colocou uma mão no ombro largo de David e ele teve que se esforçar para
não quebrar o pulso do homem.
—Ainda temos tempo para fazê-la mudar de ideia, — disse Monroe.
Você já a ameaçou de tortura e morte, e ela ainda não cedeu. O que diabos você acha
que vai funcionar? Oh, espere, eu sei. Esquecemos de dizer “por favor”. Tenho certeza que
foi isso.
—Não seja um idiota, filho. É óbvio que essa coisa toda está assando sua bunda, mas
deve apertar o botão certo e parar de me odiar por falar a verdade e começar a procurar
algo que possa fazê-la mudar de ideia. Você esteve com ela mais que qualquer homem
aqui. Você tem que ter alguma ideia de como podemos convencê-la.
David vasculhou sua memória por algum ponto fraco em sua armadura. Ela não
tinha um filho, pelo qual David estava grato. Qualquer criança dela certamente seria usada
como peão.

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Duas semanas de investigação disseram que ela não saía com os amigos, pelo menos
não durante o tempo em que estivera sendo observada. Ela ia trabalhar e voltava para casa
com as idas ocasionais ao supermercado ou biblioteca. Tinha família que poderia ser
ameaçada - pais e uma irmã que morava em Kansas. David podia ver usando-os como
um último recurso, mas de alguma forma, ele não achava que a ameaça de matar sua
família a fizesse mudar sua maneira de pensar.
A única coisa que conseguiu pensar foi no modo como seus olhos brilharam quando
ela olhou para o papel que Monroe mostrara. David teria jurado que ela estava olhando
para o Santo Graal cifrado. Talvez houvesse uma chance que pudessem aguçar o suficiente
seu apetite e obter seu interesse em resolver o enigma apenas por uma questão de saber a
resposta.
É claro que, mesmo que ela quebrasse o código, quais seriam as chances de apresentá-
lo em um formato que fosse útil para a CIA? Só porque ela sabia a resposta não significava
que teria que compartilhar.
David passou a mão no queixo, sentindo a barba de três dias. Ele estava cansado.
Frustrado. Bravo como o inferno.
Precisava de um pouco de ar para limpar sua cabeça. Tinha que haver algo que não
estava considerando. Ele não conhecia Noelle bem, mas tinha que haver alguma maneira
de convencê-la a ajudar.
Aquele código lhes daria a localização de várias ogivas nucleares que foram
escondidas na Rússia durante o auge da Guerra Fria. Era por isso que o Swarm estava tão
doido em quebrar o código antes da CIA. A informação daria muito poder a eles. A
questão era, doze homens bons morreram apenas por esse pequeno detalhe de
informação.
Se Noelle não ajudasse, as doze vidas teriam sido desperdiçadas. Para não mencionar
o fato que, se David não soubesse onde o Swarm estava, ele não seria capaz de obter sua
vingança. Ele jurou matar todos eles, e isso era exatamente o que pretendia fazer.
Mas mesmo a necessidade de vingança não era forte o suficiente para ofuscar seu
desejo de ver Noelle segura. E a única maneira de ela ficar segura era trabalhar com os

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militares. Eles lhe ofereceriam proteção em troca de seu trabalho. Era uma relação
simbiótica, e provavelmente não muito confortável, mas a única opção real que ela tinha.
O que quer que fizesse, tinha que pensar em uma maneira de fazê-la cooperar e
rápido. Com apenas vinte e quatro horas à frente, não havia muito tempo para mudar a
opinião de Noelle. Ele tinha que encontrar uma maneira de enfraquecer sua determinação.
No final, tinha apenas uma carta para jogar, e o pensamento de utilizá-la o fez eclodir
em um suor frio. Seu passado não era um lugar amigável. Se ele o compartilhasse com ela,
ela saberia como ele falhara horrivelmente. Seu maior erro estaria em destaque, em vivas
cores, com todos os seus detalhes sangrentos. E mesmo se ele fizesse isso, mesmo que ela
descobrisse seu passado e sua desonra, isso ainda podia não ser suficiente para convencê-la
a cooperar.
David sabia que não tinha escolha. Ele tinha que tentar. Não era forte o suficiente para
sobreviver ao fato de falhar com outra mulher, e gostando ou não, estava com sua vida
envolvida com a dela, amarrando seus destinos juntos. Se ela morresse, ele morreria
também. Ele faria qualquer coisa para protegê-la. E, infelizmente, isso incluia enfrentar seu
passado de novo.

Capítulo 07

O braço de Noelle estava doendo, mas nem perto de como doía sua cabeça. Tudo o
que queria era enroscar-se em seu velho sofá de segunda mão, com um cobertor e um bom
livro e fingir que nada disso acontecera.
Pela primeira vez em sua vida, desejava ter nascido estúpida. Pelo menos assim não
estaria sentada aqui querendo saber se estaria viva ou não em seu vigésimo sétimo
aniversário. Estaria fora em um clube em algum lugar com Muffy e sua turma, rindo,
ficando bêbada e pegando homens.
Cara, isso que era vida.

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Mas em vez disso, estava nesse quartinho pequeno, esperando para ver quanto
tempo tinha até ser executada.
O colete a prova de balas de David estava desgastado e cortando a sua lateral, então
ela o retirou. Não ajudaria muito se eles a queriam morta, de qualquer maneira. Eles lhe
dariam um tiro na cabeça.
A sala estava fria, então puxou a camisa de David sobre ela, desejando um cobertor
para cobrir os dedos gelados dos pés. Provavelmente era algum tipo de técnica de
interrogatório para deixá-la tão desconfortável quanto possível, de modo que estivesse
mais disposta a sair daqui, dando-lhes o que queriam.
Pena que ela não era o tipo de garota de ceder tão facilmente. Certo como o inferno
que tivera coisas simples ao redor.
Noelle se amontoou na cadeira, puxando suas pernas para cima para ajudar a mantê-
las aquecidas. A camisa cheirava a David, limpeza, com um toque fraco de calor e algum
desodorante masculino, e ela não conseguiu se controlar e enterrou a cabeça nos braços e
respirou o cheiro dele em busca de conforto.
Em todas as suas relações das últimas vinte e quatro horas, ele foi o único que lhe
mostrou alguma humanidade, ainda que pouca. Os agentes bem vestidos eram como
autômatos repetitivos que provavelmente nunca tiveram um pensamento original em
suas vidas. E o coronel Monroe. Bem, ele era apenas o homem mais frio que já tinha visto.
Ele simplesmente informou, sem se importar, o que aconteceria com ela, quando no fundo,
ela tinha certeza que ele estava calculando as probabilidades de sua cooperação e de como
seu papel nisto alteraria sua agenda pessoal.
A coisa toda só a fez querer chorar, mas as lágrimas não ajudavam. De fato, nos três
minutos em que se permitiu chorar, só conseguiu seu nariz escorrendo e sua cabeça
doendo.
Foi até a porta, surpresa ao descobrir que estava destrancada. Do outro lado estavam
dois guardas usando o mesmo tipo de roupa vagamente militar, como David. Cada um
deles tinha grande arma assustadora a seu lado e uma impressão em seus olhos que dizia
que não estavam desacostumados a usá-las.

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—Posso ter uma aspirina ou algo assim? — ela perguntou ao guarda loiro.
—Vou verificar, — disse ele quando ela fechou a porta, e ela ouviu o barulho da
tranca do lado de fora.
Tanto para não ser trancada dentro.
Alguns minutos depois, David voltou com uma garrafa de água, dois comprimidos
brancos e uma maleta.
A barriga de Noelle tremeu com a visão dele. Ele encheu a porta, seu rosto anguloso
sombreado com a barba por fazer. Mesmo que pudesse ver os sinais de fadiga gravados
sob seus olhos azuis árticos, ele movia-se como se tivesse toda a força do mundo, como se
pudesse continuar até que fosse conveniente parar. Sua expressão era relaxada, dando-lhe
alguma esperança que as coisas não era tão ruins quanto pensava. Ela simplesmente
desejava que ele a tocasse como fizera no motel. Um simples abraço, ou mesmo um braço
em volta dos ombros teria feito um mundo de bem para ajudá-la a acreditar que passaria
por isso.
Mas ela tinha certeza que abraços não estavam na agenda para um agente militar
como David. Por tudo que sabia, seria ele o responsável por matá-la, se fosse isso que
decidissem fazer.
Que época para desenvolver uma paixonite. Credo.
David entregou-lhe a água e os comprimidos, observando quando ela os tomou.
—Espero que não seja cianureto, — disse ela com um toque de humor. —Apesar que
certamente me livraria da dor de cabeça.
—Não é veneno. Eu os peguei de meu próprio abastecimento só para ter certeza.
Ele não estava brincando.
O estômago de Noelle encheu com ácido. Ela se deixou cair em uma das cadeiras
duras de madeira e apenas se concentrou em respirar.
Isto estava começando a atingir a medida em que seus dias estavam verdadeiramente
contados. Ela só esperava que a conta estivesse na casa de, pelo menos, dois dígitos.
David tirou o blusão que usava e colocou-o sobre seus ombros. O calor de seu corpo
afundou-se na sua pele e a ajudou a acalmar os nervos.

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Até que ela olhou para ele. Ele agora usava apenas uma camiseta preta sob o colete
preto cheio de bolsos. Seus braços estavam nus de seus bíceps para baixo, e na feia
iluminação fluorescente, ela podia ver uma fina rede de cicatrizes em suas mãos e braços.
Não eram nada drásticas, nada com risco de vida. Apenas um testemunho da maneira
como ele vivera a sua vida.
David Sem-Sobrenome era um homem perigoso.
Mas, ele também era o único homem nesta casa, para quem ela deu uma mínima
parcela de confiança.
—O que eles vão fazer comigo? — perguntou ela.
David virou a cadeira sobre a mesa e ficou por cima dela. —Não vou mentir para
você. Não parece bom. Eles querem esse código quebrado, e, na falta disso, não querem
que ninguém o quebre.
—Eles vão realmente me matar, não é? Isso não era apenas um blefe para me fazer
cooperar.
O olhar firme de David deslizou para longe e o silêncio estendeu-se entre eles como
dedos gelados.
Ela conhecia a verdade então. Ela era uma mulher morta.
—Quanto tempo? — ela conseguiu sussurrar.
Os olhos de David tremulavam em direção a um canto da sala. Era um sinal.
Não demorou muito tempo para Noelle ver o pequeno buraco negro que, sem
dúvida, abrigava uma lente com uma câmera minúscula.
—Eu não sei quais são os planos para você, — ele disse uniformemente, segurando
dois e depois quatro dedos com a mão que estava escondida da câmera em seu corpo. —
Mas se eu fosse você, começaria a pensar duas vezes sobre sua posição.
Vinte e quatro. Dias? Horas? Era esse todo o tempo que lhe restava?
A sala começou a desvanecer-se, recuando, enquanto seu destino ganhava grande
importância à sua frente.
Esta hora, amanhã, ela poderia estar morta.

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Era quase pior saber quando iria acontecer. Pelo menos quando não tinha certeza,
podia fingir que as coisas dariam certo.
—Eu não quero morrer, mas morrerei, se for obrigada. Eu não vou deixar vocês
usarem o meu trabalho como uma arma.
A mandíbula de David cerrou e uma veia latejou em sua têmpora. —Nem tudo o
que fazemos é matar, Noelle. Mantemos este país seguro. Protegemos as pessoas.
—Mas vocês matam. — Não era realmente uma pergunta.
—Quando necessário.
—E quem decide quando é necessário?
Ele esfregou a grande mão sobre a cabeça e respirou profundamente, como para se
acalmar. —Há um monte de gente ruim lá fora. Não é exatamente algo que transmitimos
no noticiário noturno quando podemos impedir. Agrada-nos que as pessoas sejam
capazes de dormir à noite, e não se preocupar se serão ou não mortas de maneiras que não
podemos sequer imaginar.
—Você fica dizendo “nós”, você é uma das pessoas que escolhe entre a vida e a morte
de outro ser humano?
David explodiu em movimento com raiva, atirando a cadeira a distância. —Sim, eu
sou uma dessas pessoas. Eu tive homens na mira de meu rifle e decidi se devia ou não
apertar o gatilho. Armei explosivos em um edifício sabendo que assim que eu apertasse o
botão, tudo que estivesse dentro seria soprado ao inferno. Já matei com minhas próprias
mãos, quebrando pescoços dos homens ou os asfixiando, ceifando a vida fora de seus
corpos.
Ele se inclinou para frente, com as mãos sobre a mesa, seus olhos azuis gelados de
raiva. —E eu não me arrependo porque sei o que aqueles homens fizeram. Eu sei o que
seriam capazes de fazer se estivessem vivos.
Noelle se recostou na cadeira, a necessidade de colocar alguma distância entre ela e
sua raiva. Mas mesmo com tanta raiva na face, ela ainda ficou com a cabeça erguida,
recusando-se a recuar sobre o que era importante. —Você não pode saber o que está no
coração de uma pessoa. E se não pode saber, não pode julgá-los. Isto está errado.

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Suas narinas inflaram enquanto ele estudava seu rosto. Ela queria se levantar e andar
pela sala, mas endureceu-se sob seu escrutínio.
Lentamente, ele se abaixou e pegou a maleta que trouxera com ele. Sua voz não era
tão alta, mas era extremamente fria. —Não, Noelle, você é a única que está errada. Eu sei o
que estava em seus corações. — E com isso, ele puxou uma pilha brilhante de dez fotos e
lançou-as sobre a mesa.
Era uma colagem de um pesadelo em tons de sangue e carne morta. Havia membros
amputados, dedos, orelhas, línguas. Metade de um pênis. Os rostos das vítimas foram tão
espancados e mutilados que eram quase irreconhecíveis como humanos. Havia homens,
mulheres e até mesmo duas crianças que não poderiam ter mais que dez anos. Dois bebês
mortos.
Noelle lutou contra o impulso de vomitar. Ela tinha visto a sua quota de filmes de
terror, mas nada poderia tê-la preparado para a coisa real. Ainda com o destaque adicional
das fotos, ela quase podia sentir o cheiro de sangue e medo que emanava das imagens.
Seu corpo começou a tremer e suar enquanto sua mente lutava para assimilar o que
ele lhe mostrava. Isto não era real. Não podia ser. Ninguém era tão horrível.
—Isto, — ele disse com uma voz tranquila, apontando para as fotos. —Isto é o que
estava em seus corações.
Noelle não queria olhar, mas não conseguia se conter. Seu estômago apertou
dolorosamente, mas ela se forçou a encarar as imagens de morte e violência e do mal com
coragem, tanto quanto podia. Estas fotos eram reais. Pessoas reais. Crianças reais.
Os olhos de Noelle se encheram de lágrimas, mas ela piscou-as para longe, olhando
para David. Angústia queimava em seus olhos azuis, que também estavam molhados
com lágrimas não derramadas. Sua mandíbula estava cerrada e os lábios esticados em um
emaranhado de auto-aversão.
—E esta. — Sua voz era quase um sussurro agora, tranquila com o aperto da tristeza.
Com a mão trêmula, ele puxou um conjunto de fotos mostrando o que foi, uma vez, uma
bela jovem loira. Ela estava amarrada a uma cadeira de metal com algemas de couro grosso
em torno dos pulsos e tornozelos. Estava nua e machucada em grande parte de sua pele

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bronzeada. Havia uma poça de sangue sob sua cadeira que parecia grande demais para
caber dentro de alguém com um corpo tão esguio. As coxas estavam manchadas com
mais sangue e cada um de seus dedos foram cortados e estavam ordenadamente
alinhados sobre a mesa ao seu lado. —Essa mulher era minha esposa. Minha Mary. — Ele
engoliu audivelmente antes que pudesse continuar. —O Swarm fez isso com ela. Eles a
estupraram e torturaram pelo crime de ser casada comigo. Nada mais. Era para ela estar
segura em casa enquanto eu estava fora em uma operação de treinamento. Eu não saberia
sequer que ela fora raptada se não tivesse recebido seu anel de casamento, ainda ligado a
seu dedo cortado, pelo correio.
Foi a tristeza em sua voz tranquila que fez Noelle olhar para cima. Ele amava Mary.
Ela podia ver claramente, brilhando em seus olhos, juntamente com o pesar, a angústia e o
ódio por si mesmo. Ele amava esta mulher e eles a mutilaram.
De repente, todas as pessoas nas fotos tornaram-se reais, não apenas imagens em
papel. Tinham pais, irmãos e amigos que os amavam. Elas riram, choraram e amaram em
troca. Eram pessoas. Vivas.
Transformadas em imagens muito grotescas para imaginar.
David levantou os olhos das fotos e a olhou diretamente. Havia tanta dor dentro dele
que ela não conseguia desviar o olhar. Ela sentia que, se desviasse o olhar, mesmo por um
segundo, David cairia sob o peso de sua culpa. Ela podia perceber que ele sentia que
deveria ter salvo sua esposa deste destino horrível. Noelle tinha certeza que ele fez tudo o
que podia para salvar a mulher que amava, e isso ainda não foi suficiente.
—É contra isso que estamos lutando, Noelle. É por isso que precisamos da sua ajuda.
Sem você, o Swarm vai encontrar essas armas e não hesitará em usá-las. Pessoas vão
morrer, e só você pode impedir que isso aconteça. — Sua voz caiu para um mero sussurro
de som. —Por favor, não deixe que isso aconteça. Não deixe que a esposa de outra pessoa
seja torturada e morta como a minha Mary.
O corpo de Noelle tremia em revolta contra o pedido de David. Como ele podia pedir
isso a ela? Como podia pedir a ela para jogar fora toda sua moral e fazer o que jurou que
jamais faria? E se seu trabalho fosse usado para matar?

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Uma pequena e nova voz dentro dela respondeu: E se isto não for usado para matar
esses monstros?
Noelle se forçou a olhar para as fotos novamente. David estava certo. Quem fez isso
merecia morrer. Eles precisavam morrer antes que pudessem matar novamente. Não
importa como a tarefa fosse feia ou horrível, alguém precisava fazê-la. O Swarm não era
um grupo de pessoas. Era um grupo de demônios. Pura maldade.
Alguém tinha que pará-los, mas Noelle não tinha certeza se era forte o suficiente para
ser essa pessoa.
Os olhos brilhantes dos mortos a encaravam, implorando a ela por ajuda. Os olhos
castanhos sem vida de Mary imploravam para Noelle salvar o marido de sua própria
prisão de tristeza e auto-aversão.
Noelle afastou-se da mesa e se inclinou sobre a pequena lixeira de metal, vomitando.
Ela tentou respirar, tentou afastar as imagens flutuando em sua cabeça, que estavam na
superfície da mesa a apenas cinco metros de distância.
Não ajudou. Não podia impedir o estômago de enjoar.
E, em seguida, David estava lá. Ele colocou a mão na sua cabeça e passou o braço em
torno de seu estômago para ajudar a segurar as cãibras de seus músculos. Ele não disse
nada, mas apenas o toque de outro ser humano, vivo e quente, foi suficiente para permitir a
Noelle recuperar o controle.
Lentamente, ela foi capaz de respirar novamente e recostou-se contra seu peito, a
respiração ofegante.
Ele acariciou o frio suor do cabelo em volta de sua testa, apenas esperando-a se
acalmar.
Noelle não se atreveu a virar-se, com o risco de ver as fotos novamente. Não pensava
que sua sanidade fosse aguentar se o fizesse. —Eu não sabia, — disse ela.
Sentiu o movimento de David atrás dela. Ele estava perto, segurando-a firme,
confortando-a. —Eu sei. Lamento que você tivesse que ver o que faz homens de bem
matar.
—Você, uh, matou os homens que fizeram... aquilo com sua esposa?

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Ele ficou duro, todos os músculos do seu peito ficaram tensos, mas não se afastou. —
Eu pensava que sim, mas estava errado. Restou no mínimo um. Talvez mais.
—Eles reconstruíram o Swarm, — ela adivinhou.
—Sim, — ele disse, sua voz firme com ódio.
Noelle não tinha ideia de como deveria ser difícil para David perder sua esposa para
algo horrivelmente violento. Não havia nada natural sobre sua perda. Ele não conseguia
encontrar conforto no fato que talvez fosse o tempo dela ir, como foi o caso para a avó de
Noelle. A vida de sua esposa fora cortada, derramada sobre um chão de cimento frio.
Roubada.
Noelle se perguntou que tipo de força David teria que ter para ir atrás de algo assim.
—Eu pensei ter feito impossível que eles fizessem qualquer coisa assim a uma mulher
novamente. Pensei ter vingado a sua morte e protegido inúmeros outros do mesmo
destino. Eu estava errado, — disse ele. —O Swarm ainda está lá fora e capaz de atacar de
novo. Não posso deixar isso acontecer. Preciso de sua ajuda.
Noelle entendeu o que ele queria dizer, mas era um entendimento doloroso. Homens
como David faziam coisas horríveis para que as pessoas normais sequer precisassem saber
sobre o tipo de mal contra o qual lutavam. Era um trabalho honroso, complicado, ingrato.
Que ela poderia ajudar a tornar mais fácil. Que ele não poderia fazer sem sua ajuda.
Noelle não estava convencida que aquela violência fosse prevenir violência, mas
talvez conhecimento pudesse. Conhecimento que só ela poderia proporcionar.
Noelle enrijeceu-se para o que estava prestes a fazer, não querendo negar o pedido de
ajuda de David. O pedido de sua esposa. Ela não queria lidar com a culpa de causar a
morte de outros, não importa como estivesse distanciada do ato. Mas agora sabia que algo
tinha que ser feito para parar o Swarm. Talvez David estivesse certo. Talvez a única
maneira de detê-los fosse matá-los.
Por mais que desprezasse a ideia de abastecer os militares com o conhecimento que
poderia ser usado ofensivamente, ela tinha que ser forte como David e fazer algo que
odiava, porque era necessário. Noelle apenas rezou para que o que estava prestes a fazer
não fosse matar sua própria alma.

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Afastou-se dele e inclinou-se de costas contra a parede, buscando apoio. Ela precisava
olhar para seu rosto e se certificar que ele estava dizendo a verdade. —Se eu ajudar, você
pode me dar a sua palavra que vai fazer tudo em seu poder para destruir meu trabalho
antes que possa ser usado contra alguém, além do Swarm?
David concordou. —Farei tudo para encontrar o resto dos homens que mataram
minha esposa. Isso inclui destruir propriedade do governo.
—E você pode prometer que vai me deixar livre se eu der o que eles querem?
—Não, mas posso prometer manter controle sobre você, e se eles não a libertarem, eu
a tirarei de quem quer que a esteja prendendo. — Ele deu um sorriso selvagem. —Mesmo
que isso me mate.
Noelle derrotou-o com um olhar feroz. —Eu não vou deixar você morrer por mim,
David. Eu não valho o preço de outra vida humana.
Ele encolheu os ombros, como se sua vida não valesse mais a pena, com um gesto
casual. —A sua vida é muito mais valiosa do que pensa.
—A sua também, — disse ela.
Algo em sua expressão mudou, suavizando. —Isso significa que você quer me
ajudar?
Ajudar David a se recuperar da perda de sua esposa era uma das coisas que ela mais
queria fazer, até mais que quebrar esse código intrigante. Noelle não conhecia Mary, mas
ajudar David parecia um tributo à mulher que o amava. Ela não tinha certeza de como faria
isso, mas faria tudo em seu poder para provar a ele que a morte de Mary não era sua culpa.
—Sim. Significa.

Capítulo 08

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David precisava desesperadamente de cafeína, mas suas mãos tremiam tanto que
não confiava em si mesmo para não derramar o café escaldante em seu colo. Olhou para a
caneca fumegante sobre a mesa, forçando-se a relaxar.
Monroe colocou uma mão paternal no ombro de David. —Você fez a coisa certa,
mostrando as fotos dela, filho.
Certamente ele não se sentia bem. Apenas um olhar para ele era suficiente para ver
que gostaria de estar morto ao lado de Mary. O peso de sua culpa se abateu contra seu
coração, esmagando a força fora dele. Se não fosse por sua necessidade de vingança e sua
promessa de ver Noelle em segurança no meio desta bagunça, não achava que teria
vontade de continuar respirando.
Por mais que quisesse ver o Swarm dizimado, odiava a ideia de levar Noelle para o
meio desta confusão perigosa. E se ele não fosse forte o suficiente para mantê-la segura?
—Quanto tempo até que a levemos, senhor? É assustador como o inferno tê-la
sentada em um lugar tão aberto como esse.
Monroe se recostou na cadeira do escritório que fora trazido como parte de seu
escritório móvel. Um dos quartos na antiga casa foi convertido em um espaço de trabalho,
contendo um computador, impressora/fax, equipamentos de comunicação e uma tela de
TV de circuito fechado que monitorava a sala onde Noelle estava sendo mantida. Nada em
todo mobiliário combinava, mas era funcional, e isso era tudo que importava.
—Estou à espera de detalhes sobre sua transferência agora, — disse Monroe. —Há
três instalações brigando por ela. Estou esperando a merda da briga para ver quem fica sem
munição.
David respirou profundamente, tentando convencer seu corpo que ele estava
relaxado e não a ponto de estrangular alguém. —Eu quero ser atribuído a sua equipe de
proteção.
Monroe assentiu com a cabeça grisalha. — Você pode acompanhá-la ao seu destino
final, mas depois disso, vamos precisar de você no campo, capitão.
David odiava deixar Noelle sozinha.

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Não, não estará sozinha, ele corrigiu a si mesmo. Ela estaria sob vigilância as vinte e
quatro horas do dia, sete dias por semana, nas entranhas de algum complexo
impenetrável. Ela estaria segura.
Mais segura do que estaria com ele por perto. Ele não podia deixar-se envolver. Ele
não conseguia esquecer o que aconteceu da última vez em que se preocupou com uma
mulher.
David amaldiçoou e engoliu o café quente rápido o suficiente, sem pensar. O líquido
preto queimou por todo o caminho, fazendo-o sentir-se mais alerta.
—Eu não gosto disso— David admitiu, embora ele não fosse específico sobre
exatamente qual parte não gostava. Deixe o coronel descobrir.
—Ela vai ficar bem. E quando tudo acabar, podemos até mesmo deixar você vir para
uma visita, se quiser.
Ele gostou, e isso era o problema. —Eu só quero acabar com isso.
Monroe deu de ombros num você que sabe, mas não disse nada sobre a escolha de
David.
—Eu vou ligar e ver se há alguma novidade sobre onde ela está indo. Por que você
não vai se sentar com ela e levar alguma coisa para comerem? Parece que tanto você como
ela precisam de uma refeição decente.
David olhou para a tela, que mostrava Noelle enrolada em uma bola na cadeira, com
as pernas dobradas embaixo dela. Estava completamente coberta pelo casaco, mas ainda
tremendo visivelmente.
Depois que ela passou mal, eles a deixaram se limpar enquanto alguém se livrava da
lata de lixo e das fotos.
Ele pensou que sua cor estava melhor quando saiu da sala e que ela podia realmente
dormir um pouco, mas era óbvio agora que ela teria um longo caminho antes de dormir
novamente.
David conhecia o sentimento e sentia essa necessidade egoísta de confortá-la
novamente, como se ele pudesse se sentir melhor, fazendo-a se sentir melhor.
Muito pouco, muito tarde.

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—Certo, certo, — disse David, e foi para a cozinha da fazenda em busca de algum
alimento.

A fechadura da porta estalou, fazendo Noelle saltar. Ela estava começando a temer a
abertura da porta. Cada vez que isto acontecia, as coisas pioravam.
David entrou, carregando uma bandeja coberta. —Você está com fome? — ele
perguntou, seus olhos deslizando sobre ela, cobrindo cada centímetro como se estivesse
procurando algo. Ela não tinha ideia de por que ele fazia isso cada vez que estava ao redor,
mas estava cansada de seu escrutínio.
—Eu realmente só quero sair daqui. Se eu nunca mais vir esta sala de novo, ainda será
pouco tempo.
—Eu posso arrumar isso. Vamos.
Ele falou calmamente com os guardas fora da porta e levou-a a uma sala menor que
deve ter sido um quarto de uma criança em algum momento, a julgar pelo desbotado
papel de parede do Mickey Mouse. O chão era de madeira nua e havia uma mesa menor
aqui – velha e desbotada, grande o suficiente apenas para dois. Mesmo que isso ainda fosse
uma espécie de prisão, era muito melhor que a última sala, com seu ar estagnado e recentes,
mas horríveis, memórias.
David destampou a bandeja, revelando vários sanduíches, duas latas de Coca-Cola e
uma tigela de sopa enlatada de galinha com macarrão.
Ele ignorou sua afirmação e abriu uma Coca-Cola. —Isso deve ajudar a acalmar o seu
estômago, se ainda estiver incomodando.
Noelle pegou a lata e tomou um gole. Seu estômago se mexeu um pouco, mas ela
achava que era mais devido a presença de David que ao refrigerante. Ele era uma constante
para ela em meio à bagunça toda em que estava. Algo em sua força constante e
honestidade inabalável lhe dava um fino fio de conforto, que era mais que ela tivera dos
outros. —Quando poderei sair?
David mordeu um sanduíche e mastigou. —Em breve. Você será levada para um
lugar seguro onde poderá trabalhar.

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—Onde?
—Eu não sei ainda, mas vamos descobrir em breve.
—Em breve? Breve em questão de minutos, horas, dias?
Seus olhos azuis cairam para a sopa. —Você deveria comer alguma coisa. Não há
como dizer quanto tempo levará até que possa ter outra refeição quente.
—Não quero comida. O que eu quero é sair daqui agora. Exceto que eu gostaria de
mais um pouco de aspirina já que vomitei as últimas.
—Eu posso pegar a aspirina - se, pelo menos, você prometer comer alguma coisa para
que elas não te façam mal. O resto está fora de minhas mãos. — Ele parecia
verdadeiramente arrependido da última parte, que não pudesse fazer nada para Noelle se
sentir melhor sobre o que aconteceria a seguir.
Noelle tomou um gole da sopa apenas para vê-lo se movendo para buscar as pílulas.
Sua cabeça estava realmente ruim.
—Você tirou seu colete, — disse ele, seu tom casual, como se não tivesse acabado de
lhe contar que ela iria morrer, apenas alguns minutos atrás.
—Estava me incomodando.
—Eu vou te dar um menor. Quero que você o use em todos os momentos. Apenas
como prevenção. — Ele derrotou-a com um olhar laser que a teria feito se encolher
covardemente se as circunstâncias fossem diferentes. Ela enfrentou a morte hoje, tanto a
dela como a de incontáveis outros, certamente poderia enfrentar seu olhar duro.
Ele saiu e voltou logo, com a aspirina e um colete menor. Mais uma vez, olhou-a
engolir os comprimidos como se estivesse certificando-se que ela não os esconderia em sua
bochecha ou algo assim.
Que tipo de vida ele tivera, que sequer podia confiar em alguém para tomar o
remédio que ela própria pediu, em primeiro lugar? Ela não tinha certeza se queria saber.
Noelle vestiu o colete rapidamente. Este encaixava apenas à direita, e ela teve que tirar
tudo, menos a camiseta íntima que usava, para poder fechar as tiras.

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David a observou o tempo todo, mastigando e engolindo mecanicamente enquanto


o fazia. Ele já tinha acabado com dois sanduíches e estava começando o terceiro. Pelo jeito,
ela duvidava que ele tivesse se alimentado antes.
As arestas duras do colete incomodavam sua pele, mas ela agradecia a proteção que o
colete trazia, apesar de se sentir limitada.
—Venha terminar sua sopa, — disse ele quando ela estava vestida. —Eu prometo
que vai fazer você se sentir melhor.
Noelle não tinha certeza se um pouco de caldo de galinha e macarrão fizesse muito
para fazê-la se sentir melhor, mas dificilmente poderia piorar as coisas.
Do lado de fora da porta veio um grande estrondo, seguido do chocalhar das paredes
e os gritos frenéticos de ordens. David estava de pé com sua arma antes da batida do
coração de Noelle ter tempo de bombear adrenalina através de seu sistema.
Seu rosto se transformou em algo selvagem, predador. Ela pensou que apenas
imaginara o que ele parecia na noite em que foi atacada, mas agora sabia que estava errada.
Este era o outro lado de David - o guerreiro. O assassino.
Ele colocou a arma em suas mãos, desligando a trava de segurança. —Fique aqui. Se
alguém que você não viu hoje entrar por aquela porta aponte e puxe o gatilho.
—Eu não posso, — ela começou a dizer, mas David já estava fora da porta com sua
segunda arma na mão.
A arma queimava os dedos com o peso da fria violência. Ela nunca segurara uma
arma em suas mãos antes de tudo isso acontecer, mas sabia como a trava de segurança
funcionava e que haveria um tranco se puxasse o gatilho.
Também sabia que ontem, não teria nenhuma situação em que ela consideraria usar
essa arma. Mas muito acontecera desde ontem.
Noelle virou a pequena mesa ao seu lado, derramando sopa e Coca-Cola em toda
parte. Deslizou por trás da barreira, apoiando a arma pesada em cima da beirada.
Se o Swarm estava aqui, ela não iria deixá-los levá-la viva.

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David ordenou aos guardas que ficassem na porta de Noelle e foi procurar o coronel.
Ele encontrou Monroe em uma janela, o rifle de atirador em suas mãos capazes.
—Você está vivo! — Gritou Monroe, quando David se aproximou, mantendo a
cabeça abaixada.
—Sim. O que você esperava?
—Eu esperava encontrá-lo explodido ao inferno por esse RPG que abriu um buraco
na parede de trás da casa. Foi direto para a sala de interrogatório. Alguém sabia onde
estávamos mantendo Noelle.
Merda. Esta não era uma boa notícia. Se não fosse por seu pedido de transferência e
sua incomum suavidade por seu conforto, os dois estariam mortos agora.
—É o Swarm? — David perguntou quando se moveu para tomar o lugar do coronel.
—Não sabemos, mas é aí que está minha aposta. Tire a menina daqui. Agora! —
Monroe teve de gritar para ser ouvido sobre a última rodada de tiros.
O Swarm, ou quem quer que estivesse lá fora, obviamente encontrou alguém do lado
de dentro que vazara informações sobre o paradeiro de Noelle, ou eles não estariam aqui.
Sua localização era altamente secreta. —Eu não a levarei para qualquer uma das instalações
oficiais. Não é seguro.
—Eu confio em seu julgamento. Basta ir! Pegue minha Bronco, é a prova de balas. —
Monroe deslizou as chaves e um telefone via satélite de seu cinto e empurrou-os no chão
para David, então pegou o envelope contendo a amostra de texto, amassou para torná-lo
mais aerodinâmico e atirou para David também. —Vou contatá-lo mais tarde.
—Não, — disse David. —Eu vou contatá-lo.
—Agora não é hora para discutir, filho.
—Um ataque como este significa que alguém de sua equipe foi comprometido.
—Maldição. Você está certo. — O rosto de Monroe estava triste e chateado. A cabeça
de alguém iria rolar por isso. —Onde é que você vai levá-la?
Sua mente já estava voando, tentando decidir onde levá-la. Qualquer local oficial que
a levasse seria um alvo óbvio. Mesmo se as instalações fossem seguras, chegar lá não seria.
Se o Swarm estava por trás disso, teriam equipes estacionadas em todas as rotas que

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levassem a esses locais. Dessa forma, poderiam chegar a Noelle antes que ela estivesse
trancada e segura.
Ele tinha que levá-la em algum lugar defensável. As chances eram saírem daqui sem
alguém os seguindo. Ele precisava de um local remoto, de modo que quando as balas
começassem a voar, não houvessem inocentes que iriam se machucar.
Ele sabia exatamente para onde ir.
—Vou descobrir alguma coisa.
—Você tem um plano, não é?
—Sempre.
—Tudo bem. Apenas certifique-se que é bom. Precisamos dela viva, Wolfe.
—Sim, senhor, — disse David.
—Vou pedir aos homens para cobrir a sua saída. Você tem noventa segundos para
sair.
David assentiu e correu de volta, abaixado até Noelle. Desviou pelo gabinete de
Monroe para pegar seu laptop, ainda na maleta, sabendo que ela precisaria dele.
Não mais de trinta segundos depois, David anunciou sua presença para Noelle com
um grito, para que ela não o matasse acidentalmente. Quando ele abriu a porta, sua arma
estava apontada para o teto e ele entrou por um lado da porta para reduzir o tamanho do
alvo que ele fazia.
Noelle estava barricada atrás da mesa com a arma emprestada apontando
diretamente para sua cabeça. Garota inteligente.
David não pôde deixar de sorrir da expressão feroz que ela usava, que a fazia parecer
uma espécie de guerreira. Ela podia ser um pacifista maluca, mas não era covarde.
—Estamos saindo daqui, — afirmou ele, quando arrastou os pés por um lado,
mantendo um olho na porta.
Ela tropeçou contra ele, toda quente, macia e assustada. Se as coisas fossem diferentes,
ele poderia ter simplesmente puxado-a para seus braços e a segurado durante cerca de
meio ano. Mas as coisas não eram diferentes e os tiros não estavam abrandando. Ele tinha
apenas trinta e oito segundos restantes antes de Monroe interromper o fogo de cobertura.

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David enfiou-a contra seu corpo, certificando-se que sua cabeça estava abaixada
contra o peito. Dessa forma ele poderia protegê-la, posicionando seu corpo entre ela e o
inimigo. Tomou a arma de suas mãos e a empurrou para baixo, agachando-se enquanto
caminhavam na direção da saída traseira da velha casa. Pela sua contagem mental, tinham
sete segundos restantes. David usou esse tempo para dar um abraço em Noelle, um braço
de conforto.
—Não deixe que eles me peguem viva, — ela sussurrou contra o pescoço dele.
David sabia que o ela estava dizendo. Ela preferia morrer que ser levada pelo Swarm.
Ela era mais corajosa do que ele pensava que seria, considerando que não tinha nenhuma
formação ou experiência em combate. Ele a respeitava por isso. Não havia tempo para
explicar que morreria antes de deixá-la se machucar e que era provável que qualquer outro
homem aqui faria o mesmo. Ela era valiosa e cada homem aqui sabia disso.
Mas ao invés de tentar explicar isso a ela, ele simplesmente deu-lhe outro aperto e
disse: Eu não vou deixá-los levá-la. Vamos.
Um volteio alto de fogo de cobertura começou e David protegeu Noelle com seu
corpo.
David ainda tinha as chaves do Buick, então atirou-as para outro agente em seu
caminho para fora, imaginando que haveria pelo menos mais um ou dois veículos que
sairiam ao mesmo tempo, como uma distração.
Empurrou Noelle através da porta do motorista do Bronco e colocou o veículo em
movimento nos cascalhos, em segundos.
Atrás dele, a intensidade do fogo aumentou, e dois veículos de isca estavam em seu
para-choques.
—Fique abaixada, — ele ordenou, e dirigiu para o norte, como se o próprio Satanás
estivesse em seu caminho.

Capítulo 09

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Eles viajaram por horas quando David finalmente saiu da estrada. Noelle não tinha
ideia de onde estavam e o manto da noite a fez se sentir mais vulnerável e nervosa.
—Estamos perto? — perguntou-lhe. Estas foram as primeiras palavras que qualquer
um deles falou em horas. David se concentrara em dirigir, verificando o espelho retrovisor
muitas vezes atrás dos bandidos, e Noelle se contentara em ficar quieta e deixá-lo fazer seu
trabalho.
Os olhos de David passaram pelo espelho pela milionésima vez. —Alguns
quilômetros mais.
—Será que estamos sendo seguidos?
Suas grandes mãos envolveram firmemente o volante e os músculos do maxilar
apertaram em frustração. —Provavelmente.
Noelle virou em seu assento e olhou para a escuridão que se estendia por trás deles.
Havia algumas casas ao longo deste trecho da estrada esburacada. A maioria ficara para
trás, escondidas pelas árvores. A noite deixava tudo, de alguma forma, mais escuro e
ameaçador, sem o brilho alegre da iluminação pública para romper a escuridão.
Claro, esse sentimento sinistro poderia ser devido ao fato que David parecia certo que
estavam sendo seguidos, não importava como a estrada atrás deles parecesse vazia para
Noelle.
—Eu não vejo ninguém, — disse ele.
—Nem eu, mas meu instinto me diz que eles estão lá fora, e eu confio mais nele que
em meus olhos.
Noelle se recostou em seu assento para que pudesse observá-lo sem ele perceber. O
fraco brilho das luzes do painel destacava a angularidade masculina de suas feições e
aprofundava os círculos de cansaço sob seus olhos. Mesmo parecendo cansado, nada em
seus movimentos dava sequer sinal de fadiga. Cada movimento era suave, confiante,
controlado.

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Noelle reprimiu um bocejo e verificou o relógio. Era mais de meia-noite e ela se sentia
torcida. E ela dormira na noite passada, pelo menos um pouco. Até onde sabia, David não
dormira nada.
—Você quer que eu dirija um pouco? — Perguntou ela.
Seus olhos deslizaram de lado e se conectaram aos seus por um momento. Embora
seu olhar fosse breve, ela teve a sensação desconcertante que fora medida, pesada e
inventariada ao tempo em que ele desviou o olhar. —Não, obrigado. Você deve tentar
dormir um pouco, se puder. Nós vamos estar lá na hora.
—Estar aonde?
—Outra casa segura.
Noelle revirou os olhos. —Ótimo. Você acha que esta casa segura será realmente
segura?
—Por um tempo.
—Quanto tempo é um tempo? Dias? Horas?
—Durma um pouco e deixe-me preocupar com essa parte.
—É mais fácil falar que fazer, — ela murmurou.
—Desculpe-me, eu não posso lhe dar quaisquer garantias. Gostaria de poder.
Noelle suspirou e inclinou a cabeça para trás contra o assento. —Eu não quero parecer
ingrata com sua ajuda, é só que essa coisa toda é uma porra muito séria.
Um pequeno sorriso levantou um lado de sua boca. —Eu não diria melhor.
—Quero dizer, lá estou eu, levando perfeitamente minha bela e pacata vida,
perfeitamente satisfeita em estar fazendo isso, então, de repente, tudo fica de pernas para o
ar. Não fiz nada para merecer isso, a menos que você conte ser estúpida o suficiente para
escolher a criptologia como hobby.
—Talvez você deva considerar colecionar selos no futuro.
—Espero ter a chance para poder considerar.
Ele virou a cabeça e deu-lhe toda a sua atenção por apenas um segundo. Seus olhos
azuis queimavam com determinação. —Você terá, Noelle. Vou me assegurar que você saia
viva disto.

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Seu foco voltou para a estrada, deixando uma Noelle abalada. Ela não conhecia David
muito bem, mas uma coisa era certa, ele quis dizer cada palavra que dissera.
Depois de um longo e silencioso momento, ela colocou a mão em seu ombro. Ele se
encolheu tão levemente, que ela não teve certeza que isso aconteceu. O calor do seu corpo
afundou em seus dedos gelados e ela se esforçou para não apertar e sentir a força de seus
músculos de aço sob a palma da mão. —Obrigada, — ela sussurrou.
Seu foco permaneceu na estrada esburacada. —Por quê?
—Por estar aqui.
Ele deu de ombros enquanto ela ainda o tocava, lembrando-a de retirar a mão. —É o
meu trabalho.
—Então, obrigada por aparecer no trabalho hoje.
O caminhão reduziu a velocidade e virou para uma estrada que era pouco mais que
uma trilha de cascalho. Pedras raspavam as laterais do Bronco, guinchando como pregos
em um quadro.
David desligou os faróis e diminuiu a velocidade para manter as rodas na estrada,
uma vez que estavam mergulhado em trevas.
Noelle ficou tensa, mas permaneceu em silêncio, deixando-o dirigir o veículo de
grande porte. A distância, ela podia ver uma moita espessa de árvores e dentro delas, as
linhas perpendiculares de uma estrutura artificial.
David parou o caminhão na porta de trás, perto o suficiente para abrir a porta direto
na soleira.
—Vou para dentro verificar as coisas, — disse ele, soltando o cinto de segurança e
puxando para fora uma de suas armas. Com movimentos de especialista, verificou a arma,
tirou a trava de segurança e verificou a área em volta. —Fique ao volante, e se você vir
alguém além de mim, dirija o mais rápido possível. — Ele tirou um celular do bolso do
casaco junto com um envelope amassado. —Na discagem rápida você conversará com o
coronel Monroe e somente com Monroe. Ele lhe dirá para onde ir.

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Noelle pegou o telefone e o envelope, apertando-os em suas mãos. —Eu não vou sair
daqui e deixá-lo, só porque eu vejo alguém. E se for apenas um garoto daqui com sua
namorada?
—Não vai ser. E não discuta comigo. Se vir qualquer pessoa, assuma que estão aqui
para matá-la.
O pensamento fez seu estômago apertar dolorosamente e ela tentou empurrar a dor
de lado. —E você?
—Eu posso cuidar de mim.
—Eu não vou deixá-lo aqui para morrer.
Ele estendeu a mão em concha e pegou seu queixo, forçando-a a olhar para ele. Seus
dedos estavam quentes e tão inflexíveis como seus olhos. —Isto não é sobre mim, Noelle.
Você é a única que eles querem. Se você não ficar viva o tempo suficiente para quebrar
aquele código, um monte de gente inocente vai morrer. Eu não posso deixar isso acontecer.
Então, você vai fazer exatamente o que eu disse e parar de discutir antes de nos matar.
Entendeu?
Noelle deu um aceno pequeno de cabeça, mas aparentemente foi suficiente para
satisfazer David.
—Tranque as portas quando eu sair, — disse ele enquanto seus dedos deslizaram
afastando-se de seu rosto, liberando-a.
O foco de David mudou abruptamente para os arredores. Ele deslizou para fora do
carro e desapareceu na esquina da casa e Noelle se moveu para o assento de motorista,
ajustando-o para que pudesse alcançar os pedais, se precisasse dirigir.
Ela rezou para não precisar, porque realmente não tinha certeza se era forte o
suficiente para deixar David aqui para morrer, enquanto fugia. Sem sua presença, ela se
sentia exposta. Vulnerável. Suas mãos agarraram o volante até que os nós dos dedos
doeram.
Os minutos deslizavam lentamente, forçando-a a concentrar-se para lembrar de
respirar. Seu corpo tremia e suava frio, enquanto olhava com os olhos arregalados para a
escuridão.

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Onde diabos ele estava? Por que demorava tanto?


Noelle se esforçou para ouvir algo sobre o som do motor em marcha lenta. Ela ainda
abriu a janela, mas só ouviu o canto do vento através das árvores quase nuas.
Depois do que pareceu a metade de todo o sempre, David reapareceu dentro da casa,
abrindo a porta para ela.
O alívio inundou Noelle, e ela sorriu para ele enquanto o seu corpo lhe pedia para
amassar a tensão. Ou correr para seus braços e abraçá-lo.
Ele fez sinal para ela entrar, e Noelle com prazer desligou o motor, colocou as chaves
no bolso e correu de volta ao lado de David, onde sentia pelo menos algum pequeno grau
de segurança.
David fechou e trancou a porta atrás dela, deixando-os na escuridão. Noelle
instintivamente estendeu o braço em sua direção, colidiu com a carne dura e quente de seu
braço, e ele envolveu suas mãos em torno dela. Ela não se importava que não fosse
adequado estar tateando-o. Tudo o que queria era saber que ele ainda estava ali com ela.
—Calma, — disse ele em uma voz baixa e suave. —Eu não vou a lugar nenhum.
—Então você não vai se importar se eu segurar em você um pouco mais, vai?
Ele deu um grunhido divertido. —Eu vou lhe dar uma lanterna, mas você precisa
certificar-se de manter o feixe longe das janelas, okay? Há cortinas nas janelas, mas se o raio
de luz passar por elas, vai nos expor para o exterior.
—Pegue.
Afastou uma de suas mãos de seu braço e guiou os dedos ao redor do corpo magro
de uma lanterna. Seus dedos lhe mostraram onde estava o interruptor, e quando estava
seguramente apontada para o chão, ele o deslizou. Uma pequena corrente de luz surgiu no
piso de vinil, parecendo brilhante na relativa escuridão.
David afastou as mãos e deu um passo atrás. —Tenho algum trabalho a fazer para
garantir que este lugar fique em segurança. Quero que você durma um pouco, se puder.
Use o sofá na sala ao lado.
—Eu não acho que isso vai acontecer. Prefiro ajudá-lo.

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Ele estudou-a brevemente, franzindo a testa com o que viu. —Tudo bem. Se quer
ajudar, encontre algo para comermos. Estou morrendo de fome.
—Existe alguma comida aqui? — Perguntou ela.
David assentiu. —Não perecíveis, mas deve haver uma abundância de produtos
enlatados nos armários e bebidas na geladeira. Se tivermos sorte, poderia até ter um pouco
de café escondido no freezer.
—Eu estou nisso - David deixou a sala - que Noelle agora via era a cozinha, para fazer
sabe Deus o que. Pelo menos ele não a deixara sentada aqui sem nada para pensar, ou
fazer.
Noelle cobriu a luz com os dedos, para que apenas com um brilho tênue,
cuidadosamente verificasse os armários de suprimentos. Encontrou um copo e deixou-o
de cabeça para baixo em cima do balcão e colocou a lanterna em cima para que lhe desse
apenas luz suficiente para o trabalho. Encontrou um ensopado enlatado, que aqueceu no
micro-ondas e puxou dois refrigerantes do refrigerador. Nenhum aparelho tinha a usual
luz interna quando a porta era aberta, fazendo Noelle saber a quem pertencia este lugar.
Isto obviamente foi criado para o sigilo.
Ela colocou tudo na mesa, mas não ousou chamar David. Em vez disso, pegou a
lanterna e saiu a sua procura.
A casa era suficientemente pequena, então, não demorou muito para encontrá-lo. Ele
estava no porão, em uma sala sem janelas, repleta de armas e munição suficiente para
equipar um pequeno exército. Uma única luz incandescente balançava sobre sua cabeça.
—Que lugar é esse? — ela perguntou, olhando para vários pacotes de caixas de
munição em uma mochila de lona.
—É uma das nossas casas seguras.
—Nossas? Da..?
—Não da CIA. Militar.
—Oh. Um pouco paranoico, hein?

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Ele deu-lhe um sorriso rápido. —Essa é uma maneira de colocar. Prefiro o termo
“preparado”, mas chame-o do que quiser, desde que signifique que eu não ficarei sem
balas.
Noelle olhou as prateleiras revestidas em uma parede. Havia caixas de alimentos,
galões de água, gasolina, material médico, equipamentos de comunicação, baterias... —Este
lugar parece que foi feito como um abrigo contra bombas.
—Foi.
—Por que apenas não ficamos neste buraco aqui até eu quebrar o código, então?
—Eu ficaria se eu pensasse que seria seguro.
—Mas você não pensa?
—Não. Alguém do lado de dentro sabe sobre você. Por isso fomos atacados hoje. —
Não quero dar a chance de que alguém descubra sobre este lugar e venha atrás de você.
Qualquer pessoa que conheça o código e tenha seu texto em arquivo pode entrar aqui.
Noelle sentiu o sangue fugir de seu rosto. —Você quer dizer que um de seus caras
trabalha para o Swarm?
Um rosnado entortou sua boca, mas a voz era firme. —Parece.
—Então, quanto tempo podemos ficar aqui? Devo começar a trabalhar no código?
Ele pegou uma caixa cheia de suprimentos médicos da prateleira e empurrou-a em
um saco. —Vou colocar no Bronco um estoque com qualquer coisa que seja necessário,
então, comer um pouco e um rápido cochilo, se eu tiver sorte. Depois de comer e dormir
um pouco, vamos falar sobre o código. Até então, preciso me concentrar em mantê-la viva
e isso significa tirar vantagem desses suprimentos.
Ele começou a encher outro saco de lona, desta vez com comida, água e um segundo
kit médico.
—Será que realmente precisamos de tudo isso?
—Podemos precisar. As chances são que teremos que desaparecer por um tempo.
Você não se importa em acampar, não é?
Noelle pensou sobre aranhas e todos os insetos rastejantes que viviam na terra. —Se é
isso que teremos que fazer para nos manter vivos, então eu vou fazer, mas não é minha

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ideia de diversão. Além disso, se você quiser seu código quebrado, eu vou precisar de meu
laptop.
Ele assentiu. —Certo. Precisaremos de energia. — Puxou algumas baterias grandes
da prateleira e algo que parecia um adaptador que ela poderia usar para conectar seu
laptop em um isqueiro. Estes entraram em outro saco.
Noelle rezou para que ele encontrasse um hotel agradável e seguro em alguns dias,
em vez de um ponto de terra fria, habitada por insetos.
—Eu esquentei um ensopado.
—Parece ótimo, — respondeu ele. —Vou colocar este material na parte traseira do
Bronco e estarei lá em alguns minutos.
Noelle agarrou uma das mochilas que ele encheu e colocou sobre o ombro. A coisa
pesava quase tanto quanto ela, mas ela conseguiu subir as escadas. David seguia de perto
atrás dela com uma mochila de lona por cima de cada ombro. Noelle desceu a dela quando
passou pela porta dos fundos e ficou espantada quando ele a pegou e adicionou ao seu
fardo.
Mesmo na limitada iluminação, podia ver a forma como seus músculos apertavam e
ondulavam com a tensão. Ele não era muito volumoso, mas ficou claro que cada grama de
músculo que tinha era inteiramente funcional. Ele estava, provavelmente, transportando
mais de duzentos quilos e não parecia em dificuldades.
Estava contente que ele estivesse do seu lado. Também estava feliz por que, de todos
os homens da casa segura que poderiam tê-la escoltado até aqui, foi David, quem fizera o
trabalho. Embora estivesse preocupada, ele provou ser capaz de protegê-la duas vezes até
agora, e não havia outro homem vivo que ela teria confiado mais que David para mantê-la
segura do Swarm.
—Você ainda está com as chaves? —Perguntou ele.
Noelle pegou-as da calça jeans e as entregou. Seus dedos roçaram os dela por um
breve segundo, e o contato enviou uma sacudida de necessidade puramente feminina
através de seu sistema. Porra, aquela mistura de adrenalina e hormônio era potente...

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Ela se afastou, tirando a mão como se tivesse sido queimada. Agora não era a hora de
estar pensando em nada, apenas permanecer viva. Certamente não era o momento de
estar se perguntando se David estava tão consciente de estar sozinho em uma casa muito
isolada e muito escura com ela, como ela estava. Ou se ele estava tendo a mesma distração,
os pensamentos totalmente impróprios, como ela.
David a olhava com aqueles olhos que não perdiam nada. —Você está bem?
Noelle engoliu seu constrangimento. Estivera em torno de homens o suficiente em
sua vida para não se abalar por um simples toque, não devia, mas seus nervos estavam
baleados e seu cérebro estava em sobrecarga. Seus instintos mais primitivos foram
convocados pela ameaça à sua vida e gritavam para ela chegar o mais perto de David
possível. Ele a manteria segura.
—Sim. Apenas cansada.
Ele deu-lhe um olhar que dizia que sabia que ela estava mentindo, mas deixaria
passar, mesmo assim. —Afaste-se da porta. Não quero que você seja um alvo claro quando
eu abri-la.
Noelle hesitou por apenas um segundo antes de obedecer. —Você acha que alguém
está lá fora?
—Não ainda, mas não quero correr nenhum risco.
Antes que ela pudesse argumentar que não era seguro para ele ir lá fora, ele já saíra e
voltou alguns segundos depois.
Noelle soltou um suspiro de alívio quando ele trancou a porta e foi até a pia da
cozinha lavar as mãos.
Ela se ocupou em encontrar um estoque de café no freezer e começou a fazer um bule
fresco. Ambos necessitariam de cafeína, mais cedo ou mais tarde.
Sentaram-se para comer com a lanterna improvisada de Noelle entre eles. Era tão
íntimo quanto um jantar à luz de velas, mas nem perto de ser tão relaxante.
O silêncio encheu a sala, com o chiado ocasional do gorgolejar da cafeteira. Noelle
observou David tomar seu ensopado mecanicamente, parando apenas para tomar longos
goles de refrigerante.

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Noelle comeu tanto quanto a tensão em seu estômago permitiu, desejando que
pudessem conversar sobre algo para quebrar o silêncio.
Ele olhou para ela, então para sua tigela. —Não está com fome?
—Não muita, — ela respondeu.
—O gosto é muito bom, mas eu nunca fui muito de cozinhar. Não como uma
refeição caseira decente desde...
Ele parou, mas Noelle sabia o que ele queria dizer, não tivera uma refeição decente
desde que sua esposa morreu. Queria perguntar-lhe sobre ela, mas podia ver na tensão em
sua expressão que a sua morte ainda doía-lhe muito. Ela não podia suportar aquele olhar
de dor e culpa em seus olhos e teria dado qualquer coisa para apagar a dor.
—Como ela era? — Perguntou Noelle em um tom quase reverente. Qualquer
mulher que pudesse conquistar um homem como David tinha que ser especial.
A mandíbula de David ficou tensa, como se ele não fosse responder, mas depois de
alguns minutos, ele fechou os olhos e disse: —Mary era maravilhosa. — Ele ficou em
silêncio por mais algum tempo, mas Noelle deixou-o tomar seu tempo, decidir se devia ou
não compartilhar suas memórias com ela. —Ela era secretária em uma das escolas
elementares locais. As crianças a adoravam. Estava sempre trazendo para casa desenhos de
crayon que as crianças faziam para ela. Nossa geladeira estava coberta de desenhos
coloridos, desajeitados e belos. —Um sorriso melancólico curvou um lado de sua boca. —
Ela nunca jogou uma única coisa fora. Havia caixas e caixas cheias de coisas. Depois que ela
morreu... eu não pude jogá-los fora, também.
O coração de Noelle doeu por ele, pelo que perdera, pelo que nunca tivera a chance de
ter. Lágrimas queimaram seus olhos, mas ela segurou-as, instintivamente sabendo que se
ela chorasse, David pararia de falar sobre Mary.
—Ela gostava muito de nadar e passava a maior parte dos verões na piscina quando a
escola estava de férias. Eventualmente, começou a dar aulas de natação para iniciantes. Ela
os chamava de patinhos. — Seu sorriso e seus olhos aqueceram com a lembrança. —Ela
adorava ensinar as crianças mais que tudo. Estava voltando para a escola para obter seu
diploma, para que pudesse fazer um trabalho pedagógico. Em um ano, teria se formado.

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Seu sorriso desapareceu e a tristeza alcançou sua expressão. Seu foco voltou para o
presente e ele olhou para o seu ensopado. —Ela seria uma professora muito boa. Nunca
desistia de um aluno, não importava como fosse frustrante.
—Ela parece ter sido uma pessoa fácil de amar, — disse Noelle.
—Ela era. Ainda dói não poder estar com ela. Eu teria feito qualquer coisa para trocar
de lugar com ela.
Olhando para seu rosto, testemunhando sua dor e o amor que ele ainda sentia por
sua falecida esposa, Noelle sentiu-se apaixonando por ele, deslizando sobre a borda, só um
pouco apaixonada por ele. Tentou afastar o sentimento, sabendo que só lhe causaria dor,
mas não podia. Aquela lasca de amor por David fazia parte dela agora.
Noelle teve que limpar a garganta antes que pudesse falar com toda a emoção que se
formou. —Tenho certeza que Mary não gostaria que você morresse em seu lugar.
—Não, mas pelo menos a minha morte não teria acabado com sua vida como a
morte dela fez comigo. Ela era muito cheia de vida para deixar a minha morte abatê-la por
muito tempo. Ela era linda. Os homens se aglomeravam em torno dela. Não levaria muito
tempo para encontrar alguém para amar. Outra pessoa que a amaria em troca.
—E quanto a você? Você não quer isso? Uma esposa e família para amar de novo?
Ele olhou diretamente em seus olhos, uma luz azul brilhante queimando dentro dele.
—Eu quero isso mais que qualquer coisa, mas não acredito em segundas chances. Eu
estraguei tudo. Mary morreu. Eu não vou deixar isso acontecer novamente com outra
mulher.
—Você não pode assumir a responsabilidade por algo que os terroristas fizeram.
—Ela era minha esposa. Era minha obrigação mantê-la segura. Se eu não estivesse tão
ocupado brincando de herói, nunca teria me envolvido com o Swarm, para começar. As
Forças Especiais são para homens solteiros, não para homens com família. Esse foi meu
erro.
—Então, você não merece ter uma carreira e uma família?
Sua boca torceu num esgar de auto-aversão. —Aparentemente, não.
—Você está sendo muito duro consigo mesmo.

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—Mary está morta. Não posso ser duro o suficiente comigo para compensar isso. —
Ele soltou um suspiro duro. —Escute, não quero falar mais sobre isso, okay?
Noelle assentiu. O fato que ele tivesse dito alguma coisa sobre Mary foi uma surpresa.
Em algum lugar, ele devia confiar nela, pelo menos um pouco, se estava disposto a
compartilhar algo tão próximo a seu coração.
—E sobre outros familiares? — Ela perguntou em um esforço para mudar de
assunto. —Você tem irmãos e irmãs?

David se agarrou a mudança no tema como uma tábua de salvação. —Uma irmã e
um sobrinho. Ele está com cinco anos agora, — disse David com uma cadência suave na
voz.
—Qual o nome dele?
Ele corou, o que era uma coisa muito estranha de se ver no rosto de um homem duro.
—David. Ela lhe deu o meu nome.
Noelle sorriu, imaginando um David em miniatura com brilhantes olhos azuis e
cabelo castanho escuro.
Algo dentro de Noelle torceu e se apertou com desejo, mas ela não se atreveu a se
concentrar nisso. Em vez disso, empurrou-o para fora e limpou sua garganta.
—Você deve estar orgulhoso, — disse ela.
—Sim, ele é um grande garoto, mas eu gostaria de poder vê-lo com mais frequência...
Já faz um tempo.
—Por quê?
Sua expressão fechou, tornou-se vigilante. —Eu tenho que ter cuidado para não
chegar perto das pessoas que amo. Preocupa-me que ainda há homens por aí que
gostariam de me ver morto. Ou pior ainda, torturado, por ver minha família morrer, um
por vez. Eles somente estarão seguros se eu ficar longe.
Noelle estremeceu contra o frio repentino da violência que suas palavras evocavam.
—Parece uma maneira horrível de viver - isolado daqueles que você ama. Não há nada
que possa fazer?

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Ele lhe deu um olhar cheio de elevada calma gelada. —Eu poderia caçá-los e matá-los
primeiro.

Noelle odiava o conceito de matar, mas odiava ainda mais a ideia que alguém
matasse David. Eles foram jogados juntos em circunstâncias extremas, e mesmo que ela
sentisse a violência mal escondida dentro dele, ele não foi nada, além de amável e gentil
com ela. Ela estava começando a se importar com ele e isso a assustou.
—Você sabe quem são esses homens? Poderia encontrá-los?
—Quando assumi este trabalho, eu dei a Monroe uma lista dos nomes de homens
que eu queria encontrar. Ele vai me ajudar...
Noelle não queria nem saber o que Monroe faria para ajudar. Era melhor não saber.
—E depois disso, você será capaz de ver seu sobrinho novamente? Sua vida voltará ao
normal ou algo assim?
—Veremos, — disse ele, mas Noelle sabia que ele estava escondendo a verdade.
—Você quer que sua vida volte ao normal, não é? Ou só espera morrer para que isto
não importe mais?
Ele ignorou sua pergunta, seu tom apagando qualquer chance de mais conversa
pessoal. —Eu liguei o alarme do perímetro, por isso, se você ouvir uma sirene vindo do
porão, vá até a porta de trás para que eu possa te tirar daqui. — Ele passou as chaves do
carro de volta para ela, deslizando-as sobre a mesa de modo que não houvesse chance de
suas mãos se tocarem.
Noelle não sabia se ele fizera isso de propósito, mas tinha a sensação que havia pouco
que fizesse, que não fosse cuidadosamente planejado.

Capítulo 10

Três horas se passaram e o Swarm não aparecera ainda.

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David estava começando a se preocupar que estivessem esperando que tirasse Noelle
de seu esconderijo para que pudessem dar um tiro limpo nela. Se ainda a queriam viva ou
se queriam matá-la para impedi-la de quebrar o código para os Estados Unidos, ele não
sabia, mas também não aconteceria enquanto ele respirasse.
David olhou através da pequena sala onde ela estava enrolada em uma cadeira
estofada. Sua respiração era constante, mas não achava que ela estivesse dormindo. Ela
precisava de descanso, mas depois de toda adrenalina bombeando através de seu sistema,
duvidava que ela fosse dormir a menos que ele a drogasse. O que não era uma opção.
Precisava dela coerente o suficiente para fugir, se fosse necessário.
David rezou que não fosse. Ele não gostava da ideia dela lá fora sozinha.
O breve cochilo de combate que ele tomou ajudou a clarear sua cabeça, mas não fez
muita coisa para aliviar a areia queimando em seus olhos. Apenas algumas horas reais de
sono ajudaria e ele não conseguiria isso tão cedo. Não se o Swarm estivesse nas suas costas,
fora de seu alcance.

Silenciosamente, David foi até a cozinha e ligou para Monroe.


—A menina está segura? — Foram as primeiras palavras da boca do coronel.
—Sim, senhor.
—Onde está você?
—Localização 1734. Parece a localização do 1388. Você se lembra daquele lugar? —
David forçou-se a parecer casual, esperando que Monroe entendesse a pista e lembrasse o
que acontecera na localização 1388 antes que David saísse do Delta. Ele sabia que as chances
da chamada ser interceptada eram altas. Na verdade, estava contando com isso. Monroe
nunca estivera no local 1388, mas ele leu o relatório – extremamente detalhado – quando
David, Grant e Caleb ficaram para trás e colocaram uma armadilha, enquanto o resto de
sua equipe moveu-se para a segurança. David e seus dois amigos ficaram para trás, para
que pudessem emboscar os Swarm, enquanto os terroristas seguiam a trilha de
informações falsas que Monroe colocara. Cada um dos Swarm que apareceu morrera
naquela noite. David planejava repetir o desempenho, e tudo dependia do fato que cada

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palavra que dissesse a Monroe chegasse até os homens que caçavam Noelle. Se tivesse
sorte, cada um dos bastardos viriam caçá-los e acabariam andando direto para sua
armadilha.

—Esses lugares parecem todos iguais, não é mesmo? Cheiram iguais, também, —
disse Monroe. Vou certificar-me de que sua localização seja relatada às autoridades
competentes.
Autoridades competentes, ou seja, a quem Monroe suspeitava estava vazando
informações. David fechou os olhos em alívio. Monroe compreendera. —Obrigado,
senhor.
—Um dos chamarizes que deixou a casa segura foi seguido, por isso eu não sei se
você deve se preocupar com alguém encontrá-lo.Você deve estar seguro aí.
Como o inferno, pensou David. —Bom, — disse ele. —Ela precisa começar a
trabalhar. Você sabe onde me encontrar se precisar de mim.
—Eu posso enviar algum apoio, se quiser.
—Não, senhor. Não quero correr o risco que o Swarm possa seguir qualquer um e
nos encontrar. Eu não tenho todo o perímetro seguro, então não quero que eles tenham a
chance de passar despercebidos. Era tudo mentira, mas David tinha certeza que Monroe
sabia.
—Concordo. Deve haver uma abundância de provisões por aí para aguentar por uns
dias.
—Está mais para semanas. Vamos ficar para uma estadia prolongada, enquanto ela
trabalha.
—Verifique quando ela fizer algum progresso.
—Sim, senhor.
David terminou a chamada e se virou para Noelle. Ele sentiu sua aproximação
durante a conversa, mas não olhou para ela e correu o risco de ver o medo que ela tentava
manter escondido dele.
—Vamos ficar aqui por um tempo, então? — Perguntou ela.

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—Não.
—Mas você acabou de dizer que ficaríamos.
—Eu menti.
—Por quê?
—Porque temos que assumir que cada palavra que eu disse foi ouvida ou gravada
para ser usada mais tarde pelo Swarm.
O medo em seus olhos verdes queimava e ela colocou os braços ao redor de si mesma
como se estivesse tentando se aquecer.
David esmagou o desejo de consolá-la. Tocá-la era uma maldita distração. —Temos
que fazê-los pensar que nos sentimos seguros aqui, que a guarda está baixa. É quando eles
se moverão para cá.

—Mas não queremos que eles se movam para cá! Queremos que eles se movam
para longe.
—Eu não posso matá-los se ficarem longe.
—Então não os mate. Vamos para outro lugar. Algum lugar seguro.
—E onde é isso? — Ele perguntou. —Não há nenhum lugar que possamos ir que o
Swarm não venha a encontrar. Não podemos enganá-los apenas com nós dois. Temos que
dormir em algum momento e você tem que trabalhar nesse código ou todo esse esforço
será para nada.
—Eu não quero que eles nos encontrem.
—Eu sei, mas essa é a maneira que tem que ser.
—E se você se machucar?
—Eu não vou me machucar, — disse ele, certificando-se que seu tom estivesse mais
confiante do que sentia.
—Você não sabe disso. E se você for morto?
—Eu lhe disse para fugir se acontecer alguma coisa comigo.
—E ir para onde? — Ela exigiu.
—Monroe vai dizer.

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—E será que os bandidos ouvirão isso, também?


David praguejou e esfregou os olhos cansados. Não havia como enganar uma
mulher tão inteligente como Noelle. Ele precisava de café para manter-se. —Monroe vai ser
mais cuidadoso que isso. Ele vai usar uma linha segura.
—Eu não posso fazer isso sem você, David. — Ela parecia tão vulnerável e derrotada
que ele teve que cerrar os dentes contra o desejo de pegá-la em seus braços. Consolá-la seria
um longo caminho para fazê-lo se sentir melhor, mas também mais uma forma para fazer
algo que pudesse acabar com ambos na cama. Por mais atraente que ela fosse para ele,
sabia que tinham muito para se arrepender se perdesse a cabeça assim.
—Você pode fazer isso, — assegurou a ela. —Você não tem escolha - não, se quiser
ficar viva.
—E se eu quiser que você fique vivo, também? Não confio em mais ninguém. Talvez
não devesse confiar em você, também, mas eu confio. Você me tirou do perigo duas vezes,
e estou contando com você para fazê-lo novamente, estou contando com você ao meu
lado.
—Puxa, você não é muito exigente, é? — Ele perguntou com uma pitada de humor.
Ele não conseguia se lembrar da última vez que fizera uma piada e seu senso de humor
parecia enferrujado.
—Estou falando sério. Não quero que você faça planos que envolvam deixá-lo pra
trás, entendeu?
—Você não está em posição de fazer exigências.
—Claro que estou. Eu sou a única que pode quebrar o código, lembra? E eu digo que
se as coisas correrem mal, fugiremos juntos.
David andou com passos largos até que teve as costas dela contra uma parede. Ele
queria ter certeza de ter sua total atenção e não hesitou em usar seu corpo maior para
intimidá-la a escutá-lo. O fato que ele amou a forma como seu corpo se sentiu pressionado
contra o dele era apenas um benefício adicional. Ou um tormento agregado, dependendo
da forma como olhasse para isso.

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Ele pegou seus ombros e colocou-os contra a parede. Ela teve que inclinar a cabeça
para trás para olhar nos olhos dele, o que ela fez, sem o menor indício de submissão.
—Você vai fugir, se eu disser para fazer isso. Isto não é um jogo e por mais que me
agrade, não posso garantir que serei capaz de ir com você. Meu trabalho é mantê-la viva.
Ponto. É o que eu vou fazer e ninguém, nem mesmo você, vai ficar no caminho disso.
Entendeu?
Noelle engoliu e lambeu os lábios. O olhar de David se concentrou em sua boca como
um alvo laser. Ele percebeu o seu erro então. Ele não deveria ter chegado tão perto. Podia
sentir o cheiro dela, sentir seu calor. De pé tão perto, era fácil esquecer que ela era um
trabalho e não apenas uma mulher que atiçava seus sentidos.
Ela lambeu os lábios de novo e David afastou o olhar antes que cedesse ao desejo de
prová-la.
—Eu não gosto de ser intimidada, — disse ela, embora sua voz parecesse sem fôlego,
em vez de irritada.
—Não estou interessado no que você gosta ou não gosta. — Era uma mentira total.
Ele estava interessado no que ela gostava, ou não, se preferia seu homem levando as coisas
suaves e lentas ou quentes e duras. Se tivesse a oportunidade, ele daria a ela o que quisesse,
mas ele não teria a oportunidade e precisava tirar seu cérebro de suas calças ou isso acabaria
matando-a.
—Bem, é bom saber que você se importa, — ela disse, parecendo magoada e irritada,
tudo ao mesmo tempo.
—Eu me importo. Muito. Se as coisas fossem diferentes...
Uma sirene gemeu do porão, indicando que o perímetro fora violado. O Swarm
estava aqui.
Adrenalina inundou o corpo de David e ele afastou todos os pensamentos,
concentrando-se em proteger Noelle. Ela estava dura com o medo e olhava para ele com
olhos grandes e confiantes.
—Você ainda está com as chaves? — Ele perguntou.
Ela assentiu.

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—Ótimo. Quando eu lhe disser, quero que corra para o Bronco e leve sua bunda para
longe daqui. Dirija para o norte e chame Monroe, assim que puder.
David deslizou o telefone por satélite em seu bolso dianteiro, em vez de confiar que
suas mãos trêmulas o segurassem. Ele puxou a arma e tirou a trava de segurança. —Vou
cobrir sua saída e chamá-la pelo telefone assim que eu estiver seguro fora daqui, okay?
Ela hesitou por um momento, mas finalmente concordou. David tomou-a pela mão e
a conduziu até a porta de trás, empurrando seu corpo para onde ela estivesse mais segura.
—Tudo que você precisa está no carro, — disse ele. —Armas, munição, mapas,
combustível. O tanque está cheio. Não pare, a menos que seja necessário ou Monroe lhe
diga. Você vai ficar bem desde que se mantenha em movimento.

Ainda estava escuro dentro da casa, então ele abriu a porta dos fundos. O perímetro
estava definido a trezentos metros de distância da casa, então eles não tinha muito tempo
antes do Swarm chegar lá.
—Vá, — ordenou, dando-lhe um pequeno empurrão para colocá-la em movimento.
—Venha comigo. Por favor, — ela implorou.
—Eu não posso, eu a alcançarei em breve. Agora vá!
Noelle obedeceu, movendo-se com rigidez, os passos temerosos. Abriu o caminhão,
escorregou para dentro e com um último olhar para David, ligou o motor e dirigiu para
longe.
David fechou a porta e se preparou para a batalha.

Noelle manteve as luzes apagadas enquanto dirigia o Bronco pela estrada de


cascalho. Pelo espelho retrovisor, podia ver formas escuras se movendo nas árvores. De
encontro a David.
Havia muitos deles. Ele nunca seria capaz de enfrentá-los, não importa o quanto ele
fosse bom. Era necessário somente um tiro certeiro para matar um homem.
Atrás dela, os tiros explodiram no silêncio.

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Noelle pisou no freio e derrapou até parar. Não conseguiria fazer isso. Não podia
deixá-lo morrer.
Com uma volta dolorosa do volante duro, Noelle girou em torno do Bronco e correu
de volta para David.
Meia dúzia de homens armados apontavam suas armas na porta traseira da casa. Era
difícil vê-los no escuro, mas Noelle passara as últimas horas próxima a escuridão e seus
olhos estavam bem ajustados. Enquanto os observava, eles disparavam em direção a
David e ele deve ter disparado de volta, porque um deles caiu ao chão.
Os outros se moviam com cuidado, revezando-se e atirando para que David tivesse
que ficar escondido ou correria o risco de ser atingido.
De forma nenhuma Noelle os deixaria deslocar-se sobre ele assim. David fizera muito
por ela e não estava disposta a recompensá-lo fugindo e deixando-o morrer, não importa o
quanto ele alegasse que era o que queria. Para o inferno com o texto cifrado. A vida dele era
tão importante quanto a dela.
Formas escuras cercaram a casa, rastejando lentamente, mantendo-se rente ao chão.
Era fácil esquecer que eram homens e vê-los como os monstros que eram - monstros que
queriam ela e David mortos.
A parte racional de sua mente lhe dizia que matar era errado, mas sua parte
emocional gritava para ajudar David, não importa o que fosse necessário. Se não fizesse
algo, ele não iria conseguir sair daquela casa vivo.
Antes que pudesse pensar muito sobre a situação, Noelle acelerou o motor do Bronco,
e saiu do cascalho, indo direto em direção ao inimigo mais próximo. Ele estava de costas
para ela e com os faróis apagados e armas atirando por todos os lados, ele não notou sua
aproximação. O Bronco atingiu o homem de frente com um baque nauseante, jogando seu
corpo para o mato como uma boneca de pano.
Dois outros homens se viraram e atiraram no Bronco à prova de balas. Um dos faróis
quebrou e uma teia de rachaduras apareceu na janela ao lado, mas a janela permaneceu no
lugar.

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O veículo em alta velocidade foi suficiente para desviar a atenção dos homens de
David e ele conseguiu acertar mais três homens no tempo que levou para o Swarm
descobrir o que acontecia.
Um por um, David acertou o inimigo até que restaram apenas cadáveres espalhados
na paisagem enluarada.
Noelle cerrou os dentes com a vontade de vomitar. Nunca fizera nada violento na
vida, e tinha medo que se parasse para pensar sobre o que acabara de fazer - sobre o que
acabara de ver - perderia a razão. Prometeu a si mesma que, mais tarde, se permitiria ficar
tão histérica como queria, mas agora não era o momento.
David ainda precisava dela.
O atirador viu o que acontecera a seus amigos e correu para as árvores. Antes que
fosse capaz de deslizar para a escuridão, seu corpo estremeceu e sangue pulverizou como
um gêiser por trás de sua cabeça. Ele caiu, se contorceu uma vez, e não se mexeu de novo.
Noelle levou o carro até a porta dos fundos da casa e abriu a porta do motorista para
David. Ele saiu, sem olhar para ela, mas focado nos arredores, vasculhando a área por mais
bandidos.
—Você dirige, — disse ele, e seu tom de voz era tão plano e vazio que ela soube que
ele estava irritado com ela por voltar.
Ela não se importava. Fizera a escolha certa e ele poderia ficar tão bravo com ela
quanto quisesse, desde que entrasse no maldito carro.
Assim que ele entrou, ela virou o Bronco e voltou para a pista.
—Pare aqui, — ordenou.
Noelle parou e viu quando David saiu e foi em direção ao homem que ela atropelou.
Noelle engoliu em seco, fingindo que tudo isso era apenas um sonho mau. Ela
realmente nunca matara ninguém e em poucos segundos, ela acordaria, lavaria o rosto e
limparia todo o sangue e morte de seus sonhos.
David se aproximou do homem abatido com cuidado, mantendo a arma apontada
para sua cabeça. Quando ele estava perto o suficiente, chutou a arma do homem para
longe e inclinou-se por um momento. Ela não sabia se ele estava verificando o pulso ou

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talvez retirando sua máscara para dar uma olhada no seu rosto, mas quando ele ficou de
pé, disparou três tiros contra o crânio do homem.
Noelle sacudiu três vezes, deixando sair uma série de gritos assustados.
Não podia enganar-se por mais tempo. Isto era mais que um sonho. Estes homens
estavam todos mortos e ela ajudara a matá-los. Ela tinha matado.
Freneticamente, ela arranhou a porta e vomitou no chão.
Quando acabou de vomitar, David já estava de volta no carro entregando-lhe uma
garrafa de água. Ela a pegou com as mãos trêmulas.
Noelle lavou o gosto ácido de sua boca e pisou em cada pensamento que passou pela
sua cabeça. Ela não conseguiria lidar com nada disso agora, sem passar mal novamente, e
eles precisavam sair daqui. Então, ao invés de se concentrar no circo de horror em torno
dela, concentrou-se em dirigir. Apenas dirigir.

O nariz de Owen se contraiu contra o mau cheiro de café fervido. Ele desligou o fogo e
colocou o bule sob o fluxo de água corrente.

Tudo ao redor da casa dava sinais que sua presa estivera aqui. Tigelas vazias estavam
na pia, um cobertor amarrotado ainda estava no sofá. A porta dos fundos da casa fora
deixada aberta, o que tornou fácil sua entrada, sem mesmo necessitar do código que seu
contato fornecera.
No porão, encontrou as fitas do que acontecera aqui há menos de uma hora,
capturadas pelas câmeras de segurança instaladas ao redor da propriedade. Ele observou,
divertindo-se com o visor pequeno colocado sobre a corajosa Dra. Blanche. Ela era uma
mulher mais formidável do que ele poderia ter esperado. Adorável.
Mas não foi a mulher que mais o surpreendeu. Essa honra pertenceu ao capitão
Wolfe, que, depois de dois longos anos, de repente reapareceu do nada. Foi por isso que ele
pareceu tão familiar antes. Eles se conheciam a muito tempo. Tinham até mesmo
compartilhado uma mulher uma vez. Este tipo de conexão não era facilmente esquecida.

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Com a memória, a pele do rosto do homem esticou em um sorriso, fazendo as


cicatrizes em seu rosto repuxarem apertadas. Se havia um homem na face do planeta
digno de sua total atenção, era o capitão Wolfe, e lá estava ele, protegendo a Dra. Blanche.

Dois pássaros com uma pedrada.


Deus estava realmente sorrindo para Owen.

David passou muito tempo observando Noelle fazer a viagem de volta a si mesma.
Ela se fechou totalmente, seguindo suas instruções automaticamente, sem dizer uma
palavra. Se ela tivesse chorado e ficado histérica, ele se sentiria melhor, mas seu silêncio o
preocupava. Era um sinal que ela estava perto de desmoronar.
Ainda não podia acreditar que ela voltara por ele. Não podia acreditar que atropelara
um homem para protegê-lo. Ele sabia como ela se sentia sobre a violência, mas ainda assim
ela teve a coragem de colocar esse ideal de lado e arriscar sua própria vida para salvá-lo. É
claro que aquela coragem poderia tê-la matado, e ele não podia deixar isso acontecer
novamente. Sua vida era muito importante.
E ele quase a deixara jogar sua vida fora. Por ele.
Talvez Monroe estivesse errado e David não fosse o homem certo para o trabalho.
Talvez seus dois anos longe o tivessem deixado lento, suave. Talvez seu pesar sobre a
morte de Mary o deixasse fraco. E se o seu melhor não fosse bom o suficiente e o Swarm
matasse Noelle, ou pior ainda, a raptasse? Ele nunca seria capaz de sobreviver sob o peso
dessa culpa. Nunca.
Pelo espaço de dez segundos, David pensou em desistir. Deixar outra pessoa proteger
Noelle, alguém que fosse melhor que ele. Mais forte. Mais rápido. Mais inteligente. Havia
uma dúzia de homens como estes no Delta.
Mas se ele desistisse, nunca teria a certeza que o Swarm acabara. Ainda haveria uma
chance que eles estariam lá fora, prejudicando as pessoas. Matando inocentes. David não
conseguia andar para longe disso. Ele devia à memória de Mary mais que covardia, e isso
era exatamente o que seria se ele se afastasse de Noelle. Ele não tinha medo de morrer, mas

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tinha pavor de falhar. Esta operação era sua única chance de acabar com o grupo que
matara sua Mary, e ele não podia deixar isso passar.
O que significava que tinha que cuidar de Noelle. Mantê-la segura e ter certeza que ela
nunca mais arriscaria sua vida por ele.
David disse-lhe para entrar em uma parada de descanso deserta, o que ela fez, sem
questionar. Quando o Bronco parou, ela apenas ficou lá, esperando o próximo conjunto de
instruções.
Ele estendeu a mão e deslizou a alavanca de câmbio para ponto morto, pensando
sobre o que fazer em seguida.
Ele queria gritar com ela por desobedecer suas ordens. Queria lhe agradecer por
salvá-lo. Mas acima de tudo, ele só queria abraçá-la. O desejo era demasiado forte para
resistir por mais tempo, então ele parou de tentar.
David soltou o cinto de segurança e colocou o corpo dela sem resistência em seu colo.
Suas mãos amplas acariciaram seus braços de cima abaixo, tentando acalmá-la.
Ela ficou ali, uma estátua de chumbo congelada em seu colo, sem se mover ou falar.
Estava traumatizada e ele tinha certeza que sabia o motivo.
Ela estivera disposta a morrer para impedir que seu trabalho fosse usado como arma,
mas esta noite, experimentou em primeira mão o que era ser forçada a violência. Ele
duvidava que qualquer coisa em sua mente brilhante estivesse equipada para lidar com
isso.
—Noelle, você não o matou, — disse David em voz baixa.
Noelle saltou, todo o seu corpo rígido. —Sim. Eu matei.
—Não. Ele só estava atordoado. Machucado, talvez alguns ossos quebrados, mas ele
sobreviveria.
—Eu queria matá-lo, o que é pior do que se eu tivesse feito isso por acidente. A pior
parte é que se eu tivesse que fazer tudo novamente, faria exatamente a mesma coisa. Eu
mataria aquele bastardo antes que ele pudesse matar você. Tanta coisa, esses anos todos
ouvindo os meus pais dizer como era importante que meu trabalho nunca fosse usado
para prejudicar os outros.

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Ele pegou seu queixo e virou sua cabeça para que ela olhasse para ele. Ele precisava
que ela visse a verdade, então esperou até que estivesse olhando em seus olhos. —Você
não o matou. Eu matei. Sua morte é minha responsabilidade. Seu sangue está em minhas
mãos.
—Você não teria que matar qualquer um deles, se não fosse por mim.
—Não é culpa sua. O Swarm foram os que decidiram começar a matar pessoas, a fim
de quebrar esse código. Essa decisão não teve nada a ver com você. Você só foi pega no
meio.
Noelle inclinou-se contra o corpo de David, metendo a cabeça sob seu queixo. Ela se
sentia tão bem ali, enrolada contra ele. Precisava de toda sua força de vontade para se
lembrar que estava em seu colo só porque precisava de consolo – apenas conforto.
—Está acabado agora? —Ela perguntou. —Eles estão todos mortos, não estão?
Ele ficou quieto por um longo tempo e podia sentir o aumento sutil em sua tensão
que lhe disse que ela percebera a verdade. Ainda não terminara.
—Eu não acho que haja alguém mais nos seguindo, — disse ele. —Mas temos que
ser cuidadosos. O Swarm quer o código quebrado e eles não vão parar até que isso
aconteça.
—Eu não acho que aguento mais disso. — Sua voz quebrou em um soluço, mas ela
segurou as lágrimas. Parte dele desejava que ela se soltasse e libertasse toda a culpa e medo.
Ela choraria, adormeceria exausta e acordaria se sentindo melhor.
David realmente queria que ela se sentisse melhor.
—Você está chateada. Tem o direito de estar, mas não pode deixar isso ficar no
caminho de seu progresso. Você ainda tem um trabalho a fazer e eu também.
—Então, o que agora? Outra casa segura?
—Não. Eu tenho uma ideia melhor.
—Você sabe de um lugar onde o Swarm não pode nos encontrar?
Ele balançou a cabeça, fazendo o queixo passear em seus cabelos. A barba por fazer no
queixo enroscou em seus cachos, amarrando-os juntos. —Não importa aonde vamos, eles

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vão nos encontrar, eventualmente, mas eu conheço um lugar onde não estarão propensos
a olhar.
—Por que não?
—Porque ele não existe.

Capítulo 11

Noelle só queria que isso não existisse. Ela olhou para a cabana, quando David levou
o Bronco perto da porta da frente. Rústico seria um eufemismo para este lugar. Do jeito que
era, a cabana era mais... primitiva do que ela teria esperado.
—Que lugar é esse? — Perguntou ela, esperando que o som de Senhor, por favor não
me obrigue a dormir aqui, não aparecesse em sua voz.
Estiveram na estrada por horas e a boca de David estava marcada por linhas de
cansaço, mas ele ainda deu um pequeno sorriso. —É uma cabana de caça de propriedade
de um amigo meu. Ele não vai se importar se a usarmos.
Noelle olhou para a cabana de um quarto, e banheiro externo independente, com
desconfiança. Tinha certeza que teria coisas vivas lá dentro. Coisas com mais pernas que ela,
que não seriam bons companheiros de quarto.
David estivera observando-a e sufocou uma risada na cara dela. Ela percebeu sua
diversão, mas não disse nada. O pobre homem estivera alerta por horas e seu cansaço
estava começando a aparecer em seu rosto. Ele precisava descansar, e se este era o lugar
onde ele poderia fazer isso, ela aceitaria. E dormiria no carro.
—Vou limpá-la um pouco, — ele prometeu. —Quando eu ligar o gerador você vai
ver que não é tão ruim.
Noelle puxou um sopro de coragem e subiu na varanda. —Prefiro estar aqui do que
morta.
David grunhiu em concordância.

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—Eu não quero parecer ingrata nem nada, — disse Noelle. —Mas por que este lugar?
David começou a descarregar o Bronco. —Esta é a cabana secreta de Caleb, e tenho
certeza que ele não se importaria se eu a usasse.
—Quem é Caleb?
A expressão de David ficou em branco como se não fosse responder a pergunta. —
Um amigo meu. Passamos pela formação de base juntos.

Noelle queria trazer o homem de volta para fora da máscara. Ela tivera uma visão do
homem de verdade quando ele contara sobre a morte de sua esposa. Aquele homem
amoroso e apaixonado estava enterrado sob uma montanha de sofrimento, dor e culpa. Ela
queria fazer algo para devolver-lhe seu espírito, embora não tivesse ideia de como fazer
algo assim. —Vocês ainda são amigos?
—Sim, mas eu não o vejo a dois anos. — Seu tom era ríspido, suas palavras cortadas.
—Então como você sabe que ele não vai se importar que fiquemos aqui?
Ele olhou para ela com um olhar frio azul por um momento antes de algum gelo ser
derretido. Um canto da boca bem definida levantou em um sorriso irônico. —Porque se há
uma coisa que Caleb não pode suportar, é virar as costas para uma mulher em apuros. O
cara tem um ponto fraco de um quilômetro de largura, quando se trata do sexo oposto. Isto
o colocou em algumas encrencas, mas ele consegue resolver por si mesmo. É como uma
doença.
—Então, porque eu sou uma mulher que precisa de um lugar para se esconder, ele
não se importaria de estarmos usando sua cabana sem o seu conhecimento?
—Inferno, Caleb lhe entregaria a escritura da propriedade se achasse que você precisa.
Esse é apenas o seu jeito.
Noelle sorriu em resposta à diversão no tom de David. —Parece que ele é um grande
cara.
—Ele é. Eu sinto falta dele.
Havia tanta dor emocionada naquelas pequenas palavras que fez o coração de Noelle
doer em protesto contra a dor que sentiu na voz dele. —Onde ele está?

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David balançou a cabeça escura. —Eu não tenho ideia. Ele e Grant, outro amigo
nosso, fomos inseparáveis por anos. Quando eu deixei o serviço, passaram a trabalhar
juntos sem mim. Espero que eles ainda estejam vivos. Ambos são bons homens.
Noelle desejava estender a mão e tocá-lo, mas não se atreveu. Seu corpo parecia estar
enrolado com muita força, como se a menor pressão o fizesse explodir. —Talvez quando
tudo isso acabar, você poderá vê-los novamente.
David encolheu os ombros, o movimento dizendo que ele não se importava, mas o
olhar de saudade nos olhos contava outra história. —Talvez.
Noelle odiava ver a dor da perda em seu rosto, então tentou mudar de assunto
tentando fazê-lo sorrir. —Então, além do fato que Caleb é louco por uma mulher em
apuros, eu não consigo ver muita coisa para recomendar este lugar.
—Ah, mas essa é a beleza da coisa. Caleb construiu este lugar com suas próprias mãos
e uma pequena ajuda de Grant e minha. Nunca houve qualquer registro de licença de
construção ou qualquer vestígio que esta cabana exista. Sem endereço, sem telefone, sem
comodidades. É o esconderijo perfeito, se você não se importa com um lugar ligeiramente
rude.
—Acho que não me importo, então. Quero dizer, estar segura é mais importante que
ter um chuveiro quente, certo?
David balançou a cabeça lentamente. —Ou um banheiro dentro da casa.
Noelle se encolheu. Não ter banheiro dentro era definitivamente muito pior que
nenhum chuveiro quente. Ainda assim, não era estúpida o suficiente para desprezar um
lugar que lhe daria segurança, mesmo que não fosse divertido estar aqui.
Com David.
Iria ficar sozinha com ele aqui. Ninguém sabia onde estavam. Isto deveria assustá-la,
mas, ao invés disso, o pensamento deu-lhe um pouco de emoção. —Prometo que não vou
reclamar, desde que você prometa remover todas as coisas e insetos rastejantes. Sou capaz
de lidar com ser a caça e não ter água quente, mas eu me recuso a compartilhar o espaço
com aranhas.

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—Fechado, — disse ele com um sorriso torto quando levou vários sacos de
suprimentos em direção à cabana. Os músculos ao longo de sua espinha se moveram com
força e Noelle não pôde deixar de olhar. Cada parte feminina que tinha estava
extremamente consciente de David. Ela sabia que ele ainda amava sua esposa, mas isso
não a impedia de querer saber qual seria a sensação de ser amada por ele. Beijá-lo e ter sua
pele nua tocada por aqueles dedos longos e fortes.
Apenas o pensamento foi suficiente para fazê-la suar nas mãos e aumentar a
velocidade de seu coração. Em um nível intelectual, era uma reação física intrigante, mas
não estava prestando muita atenção a essa parte. Pela primeira vez em sua vida, estava
sentindo o puxão instintivo de um homem que seria certamente um amante formidável.
Ele estava olhando para ela com os olhos apertados e ela rezou para que não
conseguisse ler os pensamentos que cruzavam seu rosto. Ela se sentia como uma
adolescente com sua primeira paixão, insegura e preocupada, cujos sentimentos não eram
correspondidos. Era melhor que mantivesse seus sentimentos escondidos e salvos da
inevitável dor da rejeição.
—Você provavelmente deve ficar aqui até que eu convença os nativos de oito patas a
se mudar, — sugeriu.
—Boa ideia, — disse ela, suprimindo um arrepio. Disse a si mesma que era o
pensamento de aranhas que a deixou tremendo e não o olhar focado de David.
—Assim que eu conseguir ligar o gerador, você pode ligar o seu laptop e começar a
trabalhar no código. Aquele envelope ainda deve estar no seu bolso com o telefone por
satélite.
Noelle cavou no bolso e tirou o telefone e o envelope. Colocou o telefone no capô do
Bronco e cuidadosamente abriu o envelope.
—Talvez isso a faça esquecer que o banheiro está fora da cabana—disse David.
Noelle alisou o papel amassado sobre a coxa. Era o texto cifrado que Monroe
mostrara a ela.

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Noelle estudou a página, e sentiu o coração dar um pontapé de excitação. —Eu não
acho que já tenha visto ou tenha qualquer outra chance de ver algo como isso.

—Eu acho que você está errada. Espero que valha a pena o brilho de excitação que
vejo em seu rosto. Eu odiaria deixá-la decepcionada.
—Duvido que ficarei desapontada. Há algo verdadeiramente magnífico aqui. Eu só
não sei o que é ainda. — Ela pegou a página e vagou até a escada de madeira resistente que
levava para a varanda. —Eu tendo a vagar quando trabalho. Dez minutos a partir de
agora, não vou nem lembrar o estado em que estamos, muito menos nossas condições de
vida. — Já podia sentir a atração do quebra-cabeça em seu cérebro, e saudou a distração
com todo coração. —Esse manuscrito é lindo.

Ela não se movera em duas horas.


David conseguira fazer o gerador funcionar, limpou a cabana, de modo que se
tornasse habitável, pegou alguns suprimentos e jogou juntos em um jantar de sanduíches
de peru e salada.
A floresta em volta escurecia rapidamente quando o sol começou a se por e pela
forma como Noelle apertava os olhos enquanto se mantinha sentada na varanda, a falta de
luz estava começando a revelar-se um problema para ela.
—Por que você não vem para dentro agora, — disse em voz baixa para não assustá-
la.
Ela piscou e o olhou como se nem se lembrasse que ele estava aqui. Ela não estava
brincando sobre vagar quando trabalhava.
Tirou os óculos para esfregar os olhos e massageou a nuca com uma mão. —Que
horas são?
—Hora do jantar. Venha comer.
—Em um minuto, — disse ela, com seu olhar perdido de volta para a página e
qualquer significado que ela via no que era ilegível para o resto da humanidade.

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David tirou a página da sua mão, tomando cuidado para não rasgá-la. —Oh, não,
chega. É hora de comer. Você pode tê-lo de volta depois do jantar.
Ela suspirou, mas levantou rigidamente e seguiu-o para dentro, esticando-se com um
arco sinuoso de suas costas.
David desviou os olhos, recusando-se a olhar. O movimento inocente curvava seu
corpo em um arco intrigante que lembrava a liberação sexual de uma mulher e deixou sua
boca cheia de água com a luxúria.
Quando ela entrou na cabana pela primeira vez, seu olhos verde-escuros percorreram
o único ambiente, embora por causa da sombra no fundo, ele não pudesse ver sua
expressão com clareza suficiente para dizer se estava desgostosa ou simplesmente curiosa.
—Não é tão ruim quanto eu imaginava, — disse ela.
David sentiu algumas de suas tensões deixá-lo quando ela fez aquela declaração. Até
agora, ele não tinha percebido como estava preocupado que ela não encontrasse esse lugar
suportável. Saber que ela achava aceitável, colocava os pensamentos de nova localização
distante de sua cabeça por enquanto. Cedo ou tarde, teriam que sair e ele tinha um estoque
de planos alternativos para quando chegasse a hora, mas por agora, esta era a sua melhor
opção para sua proteção.
Ele colocou uma pequena lanterna de querosene sobre a mesa. Era uma superfície
pequena, não mais de dezoito polegadas em cada lado, com três bancos de madeira para
sentar. A mesa era marcada por muito uso, e David se lembrava de jogar cartas sobre ela
com seus amigos antes de a cabana sequer estar terminada. Eles sentaram lá fora,
completamente à vontade no ambiente rústico, com apenas um ao outro como
companhia. Cara, ele sentia falta daqueles caras.

A cabana inteira tinha apenas doze metros por quinze, com uma cozinha em uma
extremidade e uma área aberta para o outro lado, para dormir e tudo mais. O lugar era
aquecido com um fogão velho que também era usado para cozinhar. Caleb tinha cavado
um poço de água na propriedade, e o gerador a gás bombeava água para a superfície,
enchendo um tanque pressurizado, de modo que havia pelo menos um pouco de água

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disponível na torneira da cozinha, mesmo que o gerador fosse desligado. Não havia
iluminação além da fornecida por uma pequena janela na porta durante o dia. À noite,
teriam que usar velas ou lanternas.

O estoque de lenha duraria por uns dias, mas David cortaria mais em breve. Se ele
conhecia Caleb, havia provavelmente uma outra pilha de madeira perto que já estava
cortada e envelhecida. David não se esqueceria de substituir o que usassem.
Noelle lavou as mãos na funda pia da cozinha, utilizando uma barra de sabão que
trouxeram com eles. Ela assobiou quando desligou a água e procurou por uma toalha. —
Cara, isto está frio.
David balançou a cabeça, entregando-lhe uma toalha nova. Todas as toalhas que
encontrara na gaveta foram o recente lar de famílias de ratinhos e ele duvidava que Noelle
gostaria de usá-las. Serviram para iniciar o fogo que ardia agora dentro do fogão velho, no
entanto.
—É água do poço, vindo do escoamento da neve derretida no alto das montanhas.
Mesmo no verão, vai deixar seus dedos azuis.
—Eu não vislumbro a possibilidade de ter qualquer banho quente em breve,
também, hein?
O olhar em seu rosto estava tão desesperado que David teve que lutar para não rir.
Ela estava tão bonita vestindo seu casaco, seu cabelo vermelho uma bagunça completa, a
boca cheia fazendo beicinho.
—Podemos aquecer água no fogão para nos lavar, a menos que queira se enrolar na
pia para um banho, isso é o que teremos, eu temo.

Noelle suspirou. —Ainda ganha daquela maldita casa segura.


Sentaram-se para comer. Ou pelo menos David comeu. Noelle olhou para seu prato
como se tentasse entender o sentido da vida.
—Você está trabalhando, não é? —Perguntou ele.

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Noelle saltou e olhou para ele com os olhos arregalados, como se tivesse acabado de
notar que ele estava lá.
Por alguma razão, incomodava que ela pudesse esquecer sua presença tão facilmente.
Porque Deus sabia que ele não podia esquecê-la. Toda vez que passou por ela sentada
sobre os degraus, não conseguia parar de olhar. O sol era filtrado através das poucas folhas
nas árvores à esquerda, polindo seu cabelo em uma chama de cobre profunda. O que ele
não teria dado para enfiar seus dedos através daqueles cachos, deixando suas mãos se
entrelaçarem contra seu couro cabeludo até que ele tivesse um bom e firme aperto em sua
cabeça, para que pudesse beijá-la exatamente como queria, profunda e duramente, sem dar
a ela a chance de se afastar antes que ele o fizesse.
Levaria uma hora inteira para ele se cansar de sua boca. Seus lábios eram tão rosas e
macios. Ele podia apenas imaginar como se sentiria contra a sua boca ou vagueando sobre
sua garganta, tórax, abdome, abaixo...

O garfo de David dobrou sob a força de seu aperto e ele teve que puxar uma
respiração controlada antes que pudesse relaxar a mão o suficiente para colocá-la para
baixo.
Ela olhou para ele com a preocupação brilhando em seu olhar e estendeu a mão
delgada em direção ao seu rosto. —Você está bem?
David não se moveu. Ele mal conseguia respirar sob o peso de seu desejo, que
apertava sua virilha e o fazia ter cãibras no estômago com a necessidade.
Deus, fora um longo tempo desde que tivera relações sexuais. Ele sequer tocara muito
a si mesmo desde a morte de Mary, também. Isso simplesmente não parecia valer a pena,
sentir qualquer tipo de alegria, até mesmo o prazer fugaz da auto-realização. Quando ele
desconectara do mundo, desconectara de sua humanidade também. Ele sobreviveu. Nada
mais.
A mão dela roçou seu rosto, descansando sobre a barba escura que ele não se
preocupara em fazer. Seus dedos estavam frios da água e ele podia sentir a marca macia de
cada ponta dos seus dedos.

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David não conseguiu deixar de cobrir sua mão. Antes de estarem juntos, ele passara
tanto tempo sem contato, que temia que ela se afastasse - temia que poderia passar dois
anos ou mais antes que alguém tivesse a coragem de tocá-lo como ela fazia. Ele era muito
rude e duro para merecer qualquer coisa que lembrasse a gentileza.
Porque a mesa era tão pequena, sua cabeça ficou perto da dele e ele podia sentir o
cheiro fraco de seu xampu misturado com a fumaça de madeira que flutuava na cabana.
Podia ver um pouquinho das sardas em seu nariz, uma imperfeição que só servia para
realçar a beleza de sua pele pálida.
Ele queria chegar do outro lado da mesa e trazê-la para perto, para um beijo que
acabaria por levá-los a atravessar toda a sala em direção aos sacos de dormir. Ele queria
prová-la, mostrar a ela com a boca e língua, o que pretendia fazer com o resto do seu corpo.
Queria consumi-la, possuí-la, tomá-la até que ela esquecesse cada amante que já tivera.
Queria que ela fosse sua. Completamente.

A necessidade em garras em seu interior gritava para ele dar o bote em cima dela. Ele
iria cortejá-la com as mãos e a boca até que a tivesse implorando por mais. Só então, quando
ela estivesse na borda irregular da sanidade, o desejando tanto quanto ele a queria, iria
preenchê-la e saciar a necessidade dentro dele.
Mas ele não podia fazer nada disso com ela. Eles não tinham uma vida juntos. Nem
futuro. Ela já era uma mulher caçada. Se o Swarm descobrisse que ela era a mulher de
David...
Ele não podia sequer suportar pensar no que aconteceria a ela. Se ele não fosse
cuidadoso, Noelle poderia acabar como Mary. Sem sequer tentar, David ainda podia ver
Mary viva em suas memórias, o seu corpo sem vida mutilado, amarrado naquela cadeira,
sentada em uma poça de seu próprio sangue.
—Eu estou bem, — ele falou e se afastou em um movimento estranhamente
desajeitado. Passou a cuidar do fogo, num esforço para colocar alguma distância entre eles.
Seu corpo doía de excitação, mas ele saudou a dor. Era algo em que poderia focar, algo que
sabia como lidar.

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Noelle olhava para as costas de David enquanto ele acrescentava lenha ao fogão. Ele
usava apenas uma camiseta e jeans, e ela podia ver sob o tecido escuro como cada um de
seus músculos se deslocavam em perfeita união quando ele se movia. Seus ombros largos
bloqueavam a luz do fogo, mas ela podia sentir o calor contra seu rosto.
Ou talvez fosse apenas seu embaraço aquecendo sua pele.
Ele estivera prestes a beijá-la. Ela tinha certeza disso. Noelle não era a Rainha dos
Encontros, mas conhecia aquele olhar. Ele a queria, e ela o queria também. Cara, como ela
queria que ele a beijasse...
Seu coração ainda estava disparado de excitação, a pele formigando onde sua mão
cobrira a dela. Sob todas essas camadas de roupas, seus mamilos estavam apertados e seu
estômago se encheu com asas de borboletas.
Ela nunca se sentira assim com Stanley. Nem perto.
Sua relação com Stanley foi a sua maneira de perder a virgindade com a idade
madura de vinte e dois anos. Ela se importava com ele. Nunca teria dormido com ele se
não se importasse. Até achara que o amara, no início. Mas, então, suas carreiras acadêmicas
foram separadas; caminhos diferentes, e assim eles se separaram. Não foi feio ou maldoso.
Não foi, de jeito nenhum. Simplesmente aconteceu, morna e tranquilamente. Esse foi meio
que o tom de seu relacionamento inteiro.

Nada sobre a maneira que David olhava para ela era morno. Ela viu o calor em seus
olhos, o derretimento azul do Ártico em um mar escaldante. Ela não teria que afogar sua
mente por um tempo, só para ver como era.
Mas antes que encontrasse a coragem para abrir mão de suas inibições, ele congelara
de novo, deixando-a com a sensação de frio e abandono.
Noelle não tinha ideia do que fizera para David fugir, mas era óbvio que alguma coisa
aconteceu. Alguma coisa passara pela sua cabeça que transformara todo o calor em um
pedaço congelado de homem.
E então ela se lembrou da sua falecida esposa.

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Como ela podia ser tão insensível? O pobre homem ainda estava de luto por Mary, e
mostrar a Noelle aquelas fotos horríveis da morte de sua esposa, seguida por uma conversa
agradável sobre como ela foi uma mulher maravilhosa, não fazia o processo de luto mais
fácil. David desenterrara lembranças, que ela tinha certeza que ele preferia deixar
enterradas, se não esquecidas.
Ele estava apenas agachado lá no chão, imóvel, olhando para o fogo. Noelle doía para
ir até ele e oferecer amizade, conforto, mas não conseguia imaginá-lo querendo nada com
ela. Ela não era sua esposa, não era nem mesmo sua amiga. Ela não era nada mais para ele
que um trabalho. Quando o trabalho terminasse, provavelmente nunca o veria
novamente.
O fato que essa eventualidade a incomodasse tanto não era algo que Noelle quisesse
se deter pormenorizadamente.
Ela olhou para as costas tensas de David, desejando saber como consolá-lo. Do jeito
que estava, tudo o que poderia oferecer-lhe era a privacidade de seu silêncio para que ele
pudesse se concentrar em si mesmo, ao invés dela. Não estava disposta a desistir de tentar
tirá-lo do seu isolamento mental auto-imposto, mas sabia que só poderia empurrar até um
ponto. Tudo o que fizera ou dissera, obviamente, arrombara velhas feridas, e estava
disposta, se não feliz, a deixá-lo lambê-las em paz.
—Você deve tentar descansar um pouco, — disse ela. —Você parecer necessitar.
Suas costelas expandiram-se com um profundo suspiro e ele esfregou a mão no
queixo sombreado. —Sim. Estou a cerca de sessenta horas sem dormir agora. Acho que
finalmente é seguro o suficiente para relaxar por um tempo. — Seu tom ainda era forte,
mas pesado de cansaço.
Ele puxou uma arma preta fosca pequena de suas costas, a verificou com rápidos
movimentos e a colocou na mesa, ao lado do prato de Noelle.
—Mantenha isto perto de você em todos os momentos— disse a ela.
Ela deu-lhe um aceno de cabeça resignado e empurrou tanto a arma como David de
sua mente com força de vontade. Ela estava aqui para fazer um trabalho, e era isso
exatamente o que faria.

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Capítulo Doze

O relógio interno de David lhe disse que era logo depois das duas horas, quando
acordou de um cochilo muito necessário. Apenas a exaustão de merda lhe permitira sono
ininterrupto por quatro horas - mais do que tivera desde a descoberta de Noelle e sua
necessidade de proteção contra o Swarm. Mas ao invés de deixá-lo sentindo-se revigorado,
o sono o deixara dolorido, irritado e insatisfeito. Ou talvez esta fosse a maneira que ele se
sentia de qualquer maneira, dormindo ou não.
Claro, o sonho erótico que tivera com Noelle não fizera muita coisa para aliviar sua
frustração. Era incrível que mesmo sem nunca tê-la visto nua, ou até mesmo próximo a
isso, sua mente ainda conseguia preencher todos os detalhes interessantes do seu corpo nu.
Em seu sonho, ela tinha a mais suave pele pálida e mamilos cor de rosa que endureciam
ansiosamente contra sua língua. Suas coxas eram esguias, mas fortes, e envolvidas em
torno de seus quadris, quando ele a puxou para perto, para que cada centímetro de sua
dolorosa ereção estivesse enterrado dentro de seu corpo doce. Ela gemeu quando ele a
tomou, lenta e profundamente, em um ritmo preguiçoso que levava ambos perto da borda
do clímax, sem empurrá-los. David não tinha pressa para terminar, razão pela qual
acordara antes que seu corpo encontrasse a liberação física que tanto precisava.
David manteve os olhos fechados e se concentrou na respiração, com foco em colocar
um amortecedor sobre a sua libido. Ele era um homem, não um menino, e totalmente no
controle de suas ações, não nas respostas do seu corpo. Não importa o quanto quisesse
trazer Noelle até ele para terminar o que seu sonho começou, ele não iria. Não podia usá-la
dessa maneira, mesmo que pensasse ter visto algo parecido com o desejo em seus olhos,
sobre a mesa de jantar.

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Ela merecia coisa melhor que ele, mais do que ele poderia oferecer a ela. E estava
muito vulnerável agora. Aproveitar-se disso seria imperdoável. Ele fizera muitas coisas
imperdoáveis em sua vida, não precisava adicionar mais à pilha.

A cabana esfriara consideravelmente, e mesmo dentro de seu saco de dormir, ele mal
estava aquecido o suficiente.
Colocara os sacos de dormir tão distantes quanto as paredes permitiam no pouco
espaço, colocando o topo de um para o pé do outro. Era o menos íntimo possível, dadas as
circunstâncias, mas não era o suficiente para que David não pensasse em como seria bom
apenas juntar os dois sacos e deslizar para dentro com Noelle. Nua.
David rangeu os dentes até que a dor na mandíbula afastou seus pensamentos
indesejáveis.
Olhou para o saco de dormir de Noelle para ver se ela parecia aquecida o suficiente.
Não só ela não estava lá, dormindo, mas seu saco de dormir estava intacto. Ela ainda
estava sentada onde ele a deixou, na pequena mesa. Tinha um lápis na mão, e estava
escrevendo furiosamente em um caderno que ele comprou para ela quando pararam em
uma loja atrás de algumas roupas e material de limpeza.
A luz da lanterna lançava um brilho amarelo sobre suas feições, deixando seu cabelo
em chamas com cores quentes. Mesmo que seus olhos estivessem sombreados com fadiga
e uma ruga de concentração formada em sua testa, ela ainda era bonita à luz do fogo.
Ele se perguntava qual seria sua aparência, esticada nua embaixo dele com a luz do
fogo bruxuleante sobre seu corpo.
Instantaneamente, ficou excitado novamente, grosso, duro e pronto para colocar em
ação seus pensamentos inadequados.
David amaldiçoou silenciosamente, odiando que estivesse à mercê de sua libido,
sempre que olhava para Noelle. Era ridículo não poder controlar-se tempo suficiente para
fazer o seu trabalho. Mas, era ainda mais humilhante que começasse a não se preocupar
com propriedades e protocolo.

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Ele concentrou-se na respiração, como se estivesse ensaiando sua pontaria, até que foi
capaz de ficar em pé sem escandalizar Noelle. Ou rasgar sua calça jeans.
Não que ela fosse notar se ele andasse por lá nu. A mulher não era nada se não um
laser com foco em seu trabalho.
Andou calmamente até o fogão, acrescentou mais lenha nas brasas e colocou um
coador antigo para fazer café. Ele não dormiria mais esta noite.
Noelle, finalmente, olhou para cima e sorriu para ele. —Oi.
A curva doce e convidativa de sua boca foi como um soco no estômago. Passara um
longo tempo desde que uma mulher o cumprimentara pela manhã com um sorriso suave
e uma palavra amiga. Uma coisa tão simples e ainda assim tão bem-vinda... tentadora. Isso
o fazia pensar em acordar tarde, após longas horas da noite fazendo amor. Isso o fazia
pensar em café da manhã na cama que nunca era aproveitado porque a fome carnal
assumia. Isso o fazia pensar no simples prazer de ter uma casa e uma mulher que o amava
para acordar todas as manhãs.
Isso o fazia pensar se Noelle ansiava por aquelas coisas simples, tanto quanto ele.
—Você sabe que horas são? — Ele perguntou, sua voz grave e áspera com o sono e
desejo.
—Na verdade não. Te acordei?
—Não. —Ela não fizera nenhum som além do lápis arranhando ao longo do papel.
Se tivesse feito, ele teria acordado, não importava como estivesse cansado, provavelmente
com uma arma na mão.
David olhou para o prato de alface murcha e a maioria do sanduíche intocado ao lado
dela. Você não comeu.
—Vou comer, em um minuto, — disse ela, acenando com o lápis.
A frustração se levantou como uma onda no peito de David. Ele tinha certeza que
uma parte era apenas devido a negligência dela consigo mesma, o resto era pura luxúria,
crua e áspera que lhe apanhara.
David levantou o lápis, o caderno e o papel longe dela, ignorando a expressão irritada
de impaciência em seu rosto. —Ei, eu estava usando isso!

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Ele bateu seus papéis sobre a tábua de carne no balcão e empurrou o prato de comida
de volta para a frente dela. —Você acabou de trabalhar por hoje à noite. Você vai comer, e
depois dormir, e quando acordar, eu darei suas coisas de volta.

O queixo delicado impulsionou no ar. —Você não pode me dizer o que fazer.
—O inferno que não posso. Sou aquele com a arma, lembra? — Ele pegou o
sanduíche e colocou-o em sua boca. —Coma.
Noelle revirou os olhos e deu uma mordida, —tudo bem, — ela disse com a boca
cheia com o pão duro. —Mas quando eu terminar de comer, vou voltar ao trabalho. As
vidas das pessoas estão em jogo, eu dormirei depois.
David cruzou os braços sobre o peito e se endireitou em toda sua altura, dando-lhe o
seu melhor olhar, faça isso e acabarei com você. —A última coisa que precisamos é que
você se atrase porque está doente demais para terminar o trabalho. Não seja estúpida sobre
isso. — Do jeito que estava, ele não tinha certeza se viveria mais um dia para resistir a sua
luxúria por ela. Atrasos estavam completamente fora de questão.
Ela fez uma careta para ele. Claro, todo o efeito foi arruinado pelos círculos escuros e
ombros caídos. Admitisse ou não, ela estava cansada.
—Posso, pelo menos, lavar-me primeiro? — Ela perguntou. —Não tomei banho
desde a noite de sexta-feira. — Ela fez uma pausa, franzindo a testa. —Que dia é hoje
mesmo?
Que Deus o salvasse de acadêmicos distraídos. —Segunda-feira, bem no início.
Seus olhos se arregalaram e ela saltou de seu banquinho. —Oh, não! Você tem que
me arrumar um telefone para que eu possa ligar para meu trabalho. Joan ficará doente de
preocupação se eu não aparecer lá.
—Sinto muito, mas ela vai ter que se preocupar, então. Não faremos nenhuma
chamada.
—Mas eu tenho que chamá-la. — Ela agarrou seu braço, os dedos finos curvando em
torno de seu bíceps.

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David reprimiu um estremecimento de pura vitória masculina. Ela o tocou


novamente e isto o fez se sentir ainda melhor desta vez do que antes. Ele estava
rapidamente tornando-se viciado.
A resposta de seu corpo era tão irritante como previsível. Ele teria que superar seu
vício por esta menina, e rápido. —Escute, se chamar Joan, você poderia estar colocando-a
em perigo. Tenho certeza que o Swarm tinha você sob vigilância antes do ataque. É
provável que saibam quem são seus amigos e família e tenham colocado escutas telefônicas
em qualquer um que pensem que você possa entrar em contato. É até possível que
possam, de alguma forma, rastrear a chamada de volta até nós também. E se não, então
podem tentar obter as informações através de Joan... de forma desagradável.
—Mas eu não lhe diria onde estamos. — Sua voz estava frenética, implorando.
David se segurou contra a vontade de acalmá-la. Ela não precisava que a acalmassem.
Ela precisava da verdade, para que não fizesse nada perigoso. —Não importa se ela saiba
ou não. Eles ainda poderiam machucá-la. Eu sei que você não quer isso.
As mãos dela relaxaram e caíram longe dele. Seu braço queimou em fúria pela perda
de seu toque. David cerrou os dentes e se se firmou sobre o chão.
Ela assentiu, inclinando a cabeça, mas não antes de David ver o brilho de uma única
lágrima por trás dos óculos.
Foi sua ruína. Ele ordenou que seu pau ficasse quieto e puxou-a para seus braços. Ela
estava dura e fria, mas não se afastou. Finalmente, seus braços serpentearam sobre os
ombros dele, e ela escondeu o rosto contra sua garganta.
—Eu odeio isso, — ela sussurrou. Seu hálito quente inundou sua pele, fazendo-o
tremer.
Ele estava no limite, querendo oferecer conforto e ter mais dela, mas manteve o
equilíbrio. —Eu sei. Mas tudo vai acabar logo. — Ele rezou que isso não fosse mentira.
Ela olhou para cima, para ele, os olhos brilhantes de lágrimas, seu nariz rosado. —E
depois? Eu sei que não posso voltar para minha antiga vida. Como você apontou, isto irá
acontecer novamente a próxima vez que alguém encontre um texto cifrado como este.
Tudo o que sei fazer é o que aprendi na escola, que é inteiramente diferenciado, e qualquer

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trabalho que eu poderia começar seria como uma bandeira vermelha, mesmo se eu
mudasse de nome e identidade. — Ela puxou uma respiração resignada, o que pressionou
seus pequenos seios contra as costelas de David em uma carícia deliciosa. —Eu nunca mais
vou fazer trabalhos acadêmicos, não é?
Ele não ia começar a mentir para ela agora, mas tentou suavizar o golpe com um tom
de compreensão silenciosa. —Se você quiser continuar fazendo o mesmo trabalho que faz,
a única opção segura que vai ter é trabalhar para o governo, provavelmente em uma
instalação que facilite sua proteção.
—Eu não posso fazer isso. Após este trabalho, nunca mais vou trabalhar para eles de
novo.
—Os militares não são de todo ruim, Noelle.
Noelle balançou a cabeça, fazendo com que os cachos emaranhados caíssem sobre o
dorso das mãos de David. Ele segurava sua cintura firmemente para se impedir de agarrá-
la e saquear sua boca, mas suas curvas macias sob seus dedos, provocava em sua
resistência um novo tipo de inferno. —Pode ser um mal necessário, mas tenho que manter
a minha consciência, tenho a responsabilidade de assegurar que nenhum mal virá das
coisas que eu crio, e eu simplesmente não confio nos militares para compartilhar essa
responsabilidade comigo.
Doía o fato que ela evitava tudo o que David passara a vida fazendo. Ela não era a
única que compartilhava da opinião que os militares eram maus, mas a opinião pública
nunca realmente incomodara David antes. Ele fizera o que ele achava que era certo. Fim da
história.
Mesmo quando isso significara manter-se afastado de tudo pelo que trabalhara,
porque sabia que já não estava apto para liderar sua equipe de forma segura. Suas emoções
cobraram seu preço sobre sua responsabilidade.
Sua voz estava um pouco mais ríspida do que ele pretendia. —Esse grupo que você
não confia está no meio de um inferno de problemas para mantê-la viva.

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Ela se afastou e olhou para ele. —Só porque eu tenho algo que eles querem. Monroe
estava disposto a me executar se eu não cooperasse. Isso não é exatamente uma
organização amigável.
—Não somos programados para sermos amigáveis. Estamos destinados a fazer o
trabalho, não importa como seja desagradável.
—Vou fazer este trabalho, mas depois disso, eu estou fora. Se eu fizesse qualquer
outra coisa, não seria capaz de dormir à noite.
David grunhiu. —E eu não consigo dormir à noite sabendo que haveria mais que eu
poderia fazer para ajudar a proteger as vidas dos inocentes.
—Desde que você escolha quais vidas serão protegidas e quais não serão.
David sentiu o som saindo de seus lábios próximo a um grunhido. —Eu não escolhi a
morte para minha mulher. O Swarm fez isso. Não fique aí agindo como todos os
hipócritas, quando você não sabe do que diabos está falando.
Uma onda de culpa espalhou por suas feições. —Sinto muito, David. Não posso
imaginar o que deve ser para você perder a mulher que ama assim.
Os olhos de David se fecharam e ele desejou conseguir manter suas emoções sob
rédea curta. Não podia se dar ao luxo de perder o controle agora, não importa o quanto se
entristecia por sua Mary. —Sei que você não está feliz com esta situação, mas eu preciso de
sua cooperação para ter este código quebrado tão rápido quanto você puder. Concordando
ou não com as estratégias militares para lidar com as coisas ruins lá fora, você é parte dessa
estratégia agora.
—Eu sei, e vou fazer o melhor que puder, só não espere que este trabalho seja o início
de algum outro. Depois de fazer isso, irei embora. Eu não vou trabalhar para vocês
novamente.
—Não tome qualquer decisão sobre isso agora. Você terá bastante tempo mais tarde
para decidir o que quer fazer quando não houver pessoas tentando matá-la.
—Este é justamente o meu ponto. Enquanto eu for um trunfo para qualquer grupo
secreto - sejam eles o governo dos Estados Unidos ou qualquer outro - sempre haverá
alguém que poderá me usar como uma arma. Ou me matar. Eu nunca serei livre de novo.

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Ela estava certa. David apenas queria que ela não fosse inteligente o suficiente para
descobrir isso tão cedo.
—Escute, — disse David, forçando sua voz para um tom calmo. —São mais de duas
da manhã. Durma um pouco e eu prometo que as coisas vão melhorar quando não estiver
tão cansada. Talvez não muito, mas um pouco.
Ela se virou e voltou para o seu trabalho. Seus movimentos eram rígidos, com fadiga,
mas com nítida determinação. —Eu vou dormir quando isso acabar.

Capítulo 13

Na manhã seguinte, um zumbido de luz piscando trouxe Noelle para fora de seu
estado de concentração. Ela perdera sua capacidade de foco de qualquer maneira, devido
ao seu cansaço cada vez mais maciço. Embora funcionasse bem, mesmo com a falta de
sono, estava realmente começando a sentir os efeitos dessa situação estressante. Se não
descansasse em breve, começaria a bater a cabeça contra a parede da cabana.
Noelle esfregou os olhos e parou para ver o que fazia todo aquele barulho. O telefone
de David estava no topo de sua mochila fechada, piscando e vibrando com impaciência.
Noelle não se atreveu a atender, e uma olhada rápida na cabana disse-lhe que ele não
estava por perto. Pegou o telefone, pendurou em sua cintura e saiu em busca dele.
Não tinha ideia se a chamada era importante ou não, mas não queria correr nenhum
risco caso ele precisasse falar com quem estava do outro lado imediatamente. Só esperava
que o telefone tivesse um correio de voz, porque ela não atenderia, para não dar a chance a
quem estivesse do outro lado, de descobrir sua localização.
O ar fora da cabana estava gelado, mas com cheiro limpo. Depois de estar dentro do
espaço apertado por muito tempo, era bom ter o céu brilhante, aberto sobre sua cabeça, em
vez de pesadas vigas de madeira. O casaco mantinha distante o pior do frio, mas enfiou as
mãos profundamente em seus bolsos para manter seus dedos quentes.

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Com um ligeiro constrangimento, Noelle bateu na porta do banheiro externo,


esperando que não estivesse interrompendo nada importante.
Ele não respondeu, fato pelo qual ela ficou imensamente grata.
Um pouquinho de neve cobria o chão e Noelle pôde ver marcas grandes dos pés de
David gravados claramente na neve. Seguiu o caminho, que entrava no meio das árvores
na encosta que descia a montanha. Mais ou menos cinquenta metros adiante, as pegadas
desapareceram junto com a neve.
Noelle ficou ali, olhando em volta atrás de qualquer sinal sobre o caminho que ele
tomou. Não encontrou nenhum.
Em vez de passear pelas árvores e se perder, colocou as mãos em concha em volta da
boca e chamou por ele.
No terceiro grito, ele apareceu em silêncio do meio das árvores, o pânico afiando suas
feições. Ele a empurrou para o chão, a mão cobrindo sua boca, seu corpo pressionando os
dela de encontro à terra fria.
—Não estamos sozinhos, — ele sussurrou contra sua orelha. —Só espero que eles
não tenham ouvido seus gritos.
O medo cortou através dela e ela ficou dura por baixo dele. Arrastou a mão até a dele
para que pudesse sussurrar. —O Swarm?

David balançou a cabeça enquanto olhava sua boca. Ele olhou por um longo tempo, a
sua pergunta aparentemente esquecida. Justamente quando ela tinha certeza que estava
prestes a beijá-la, ele rolou de cima dela e colocou o seu peso nos cotovelos. Seus ombros
estavam curvados e sua voz afiada e áspera. —Caçadores, mas não estou descartando
nenhuma possibilidade. Eu os observei durante toda a manhã.
Deitada no chão sem o calor de David para protegê-la a deixava com a sensação de
frio e vulnerabilidade. Quando tentou sentar-se, David disse: —Fique abaixada. Eles estão
no vale abaixo.
Ela rolou sobre sua barriga e se apoiou nos cotovelos, imitando a posição de David. —
O que estão fazendo?

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David tirou um par de binóculos e olhou para o vale. —Bebendo cerveja,


principalmente. Não parece que ouviram você.
—Não é um pouco cedo para a cerveja? — perguntou Noelle.
David deu de ombros. —Acho que não para eles. Estão aqui desde que o dia
amanheceu.
—Por que o Swarm sentaria para tomar cerveja quando nossa cabana está a menos
de um quilômetro de distância?
—Não acho que eles o fariam, mas mesmo que sejam apenas caçadores, se
tropeçarem na cabana, vão causar problemas. A cabana de Caleb supostamente não existe,
pelo menos não em registros públicos. Se estes tolos mencionarem que estamos aqui em
cima para alguém na cidade, teremos que sair.
—Não podemos simplesmente ir para outro lugar?
David balançou a cabeça. —Este lugar é tão seguro quanto possível, a menos que
você queira se manter em movimento. Eu não acho que você seria capaz de trabalhar tanto
chacoalhando dessa maneira.
Apenas o pensamento de tentar trabalhar em um carro em movimento fez seu
estômago enjoar. —Então o que vamos fazer?
—Vou continuar a observá-los e garantir que não cheguem mais perto.
—E se chegarem?
Ele deu um sorriso um pouco sinistro. —Vou convencê-los que este é um mau
caminho a percorrer.
—O que você vai fazer? Montar uma armadilha de urso ou algo assim?
—Ou algo assim. Agora, preciso que você volte para a cabana, onde estará segura. Eu
vou lidar com as coisas aqui fora.
Noelle realmente não queria voltar para a cabana sozinha. Sabia que devia ser corajosa
e forte e obrigar-se a voltar ao trabalho, mas estava cansada e preocupada. Estava se
sentindo particularmente vulnerável com os homens no vale abaixo, embora não quisesse
admitir qualquer coisa do tipo. David tinha o suficiente para se preocupar, sem ter a
preocupação adicional com seus sentimentos. Ela era uma menina grande e podia cuidar

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de si mesma, pelo menos em circunstâncias normais. Infelizmente, estas circunstancias


estavam longe de serem normais, e ela realmente precisava estar perto de alguém que
confiava.
David.
—Eu prefiro ficar. O trabalho não está indo muito bem e eu precisava de uma pausa
para limpar a minha cabeça.
—Vou levá-la para um passeio mais tarde. Agora eu realmente preciso de você fora
de perigo. Mesmo se os homens forem apenas caçadores, eles ainda estão bebendo e
portando armas. Não é uma boa combinação. —Ele agarrou seu ombro, sentindo-a através
de seu casaco. —E você se esqueceu de usar o seu colete. — Ele disse essa última parte, com
uma carranca paterna mais adequada a uma criança travessa que a uma mulher adulta.
Noelle não gostou nem um pouco e lutou contra a necessidade de ficar na defensiva
com ele. Ele estava certo. Ela nunca deveria ter saído sem usar seu colete Kevlar. Teria que
se acostumar com isso se quisesse viver. —Eu estava com pressa— disse ela, lembrando-se
por que viera aqui. —O telefone estava tocando. — Ela cavou debaixo do casaco e puxou-o
de seu cinto.
David pegou o telefone, o seu olhar sombrio. — Eles chamaram apenas uma vez?
Noelle assentiu. —Acho que sim. Quero dizer, eu estava trabalhando, mas isto me
distraiu.
—Inferno de telefone, — ele murmurou quando o desligou.
—Você não vai chamar e ver a mensagem ou algo assim?
—Não. —Ele não deu mais detalhes.
—E se alguém estiver tentando entrar em contato com a gente? E se for urgente?

—Olhe, — disse ele em um tom assustador. —Alguém naquela casa segura vazou a
sua localização. Foi isso o que causou o ataque. Eu não estou a ponto de confiar em
ninguém até saber quem vazou a informação.
Noelle não pôde reprimir um arrepio de medo, que correu por sua espinha. —Você
não tem nenhuma cobertura?

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Ele desviou o olhar, mas não antes que ela pudesse ver a frustração cobrindo seu
rosto. — Farei isso bem sem cobertura. Você deveria ir.
De repente, já não importava se ele achava que ela era uma covarde. Desde que a
deixasse ficar, ele poderia pensar o que quisesse. —Você se importa se eu ficar um tempo?
Eu poderia, você sabe, ser sua cobertura.
Suas feições se suavizaram e parecia que estava prestes a sorrir de sua oferta. —
Exatamente o quanto você sabe sobre vigilância?
—Eu sei que não poderei fazer isso de dentro daquela cabana. —Só em pensar em
voltar aquele cômodo apertado mais uma vez, foi suficiente para que ficasse difícil respirar.
O peso de sua situação foi caindo em cima dela, cobrindo seu corpo esguio. Ela não estava
fazendo muito progresso com o código. Precisava de uma pausa. Estar em céu aberto um
pouco, respirar ar fresco.
Parecia que ele estava prestes a recusar, mas depois de olhar seu rosto, ele cedeu.
—Basta ficar abaixada e quieta.
Noelle sorriu, sentindo-se momentaneamente livre de seu fardo. Deslizou um pouco
mais perto de David em um esforço para manter-se aquecida. —Eu prometo.

David olhou para Noelle, esperando que ela estivesse olhando para o espaço,
trabalhando em algo que só ela podia ver. Em vez disso, ele descobriu que ela adormecera.
Ela não estava aqui fora nem a dez minutos.
Grande cobertura, David pensou com um sorriso indulgente.
Ela enrolou-se a seu lado em um esforço para manter-se aquecida e David a cobriu
com um cobertor fino que puxou de sua mochila.

Como sempre acontecia quando a olhava dormindo, David sentiu algo mudar no
peito - tornar-se mais confortável e de alguma maneira mais apertado, ao mesmo tempo.
Ela parecia tão confiante e puxava cada um de seus instintos protetores sempre que olhava
para ela. Ele era a única coisa entre ela e a morte, e ainda assim, ela confiava nele o suficiente
para cochilar com homens armados no vale abaixo.

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Passara um longo tempo desde que alguém confiara nele assim. Ele ficou humilhado,
disposto a fazer qualquer coisa para provar que era digno de sua confiança. Ele não podia
falhar com ela.
O cabelo vermelho de Noelle misturava-se à perfeição entre as folhas caídas, seus
óculos de aros dourados brilhando como os aglomerados de flocos de neve que
continuavam agarrados aos galhos aqui e ali. Suas bochechas estavam ruborizadas e os
lábios entreabertos, a respiração formava ondas de calor no ar. Cara, o que ele não daria
para estar aqui com ela por simples prazer. Ele nunca fizera amor no chão frio da floresta
antes. Ele tivera o suficiente de dormir em chão gelado durante sua carreira, para sempre
escolher uma cama quente, quando podia. Mas agora, David não conseguia pensar em
um lugar melhor para ficar nu com uma mulher do que aqui.

Ele a manteria aquecida com o seu corpo e o calor da paixão que acenderia dentro
dela. Iria amá-la muito bem. Ela se esqueceria de tudo sobre o ar frio e as folhas espalhadas.
Faria isso tão bem que ela se esqueceria que era uma mulher caçada.
David deslizou os óculos do nariz dela para seu bolso. Seus dedos passavam ao longo
de sua bochecha e ele fechou os olhos contra o cetim liso de sua pele roçando seus dedos.
Ela murmurou algo incoerente e baixo e deslizou em direção ao seu toque.
Ele se afastou e se forçou a se concentrar nos arredores. Não podia mais ficar de
bruços, sem aumentar a dor em sua ereção, que crescia em resposta à sensação de sua pele.
Nem mesmo o solo congelado era suficiente para manter seu desejo afastado.

Forçando seus pensamentos de volta para os homens abaixo, David olhou através do
binóculo. Parecia que estavam embalando suas coisas para sair, agora que a cerveja
acabara.
David observou-os sair do jeito que chegaram. Ele descobrira mais cedo alguns
caminhões velhos estacionados ao longo do lado da estrada que ladeava este lado da
montanha.

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Ele estava feliz que não resolveram acampar durante a noite. David não achava que
seria capaz de ficar aqui fora no frio a noite toda, enquanto Noelle ficava sozinha na cabana,
desprotegida. E certamente não poderia deixá-la ficar com ele sem o benefício de um fogo
para mantê-la aquecida. Sem um, ela estaria congelada pela manhã.
A menos que ele a mantivesse quente de uma outra maneira.
David cuspiu uma maldição cáustica no ar gelado. Ele não podia continuar pensando
nela como uma mulher. Tinha que pensar nela como um emprego, uma operação, uma
atribuição.
A atribuição soltou um suspiro de contentamento no sono, que parecia uma mão
quente acariciando seu corpo.
Noelle se mexeu e David teve que puxar o cobertor sobre seus ombros novamente.
Odiaria acordá-la agora que ela finalmente dormiu.
David não tinha certeza de quanto tempo seu corpo seria capaz de manter esse ritmo
antes que algo acontecesse. Ela era implacável consigo mesma em busca da solução para o
código que Monroe apresentara. David vira homens com menos determinação no
treinamento das Forças Especiais.
Se ela não tivesse cuidado, empurraria-se demasiadamente duro e quebraria. David
se certificaria que isso não acontecesse. Ela provou que confiava nele e ele provaria a si
mesmo ser digno dessa confiança. Se ele conseguisse tirá-la desta confusão ilesa, isso seria o
começo de um longo caminho para convencer a si mesmo que ele não era um fodido total.
Isso seria muito bom.
David enfiou o cobertor ainda mais sob os ombros de Noelle e acomodou-se para
algumas horas mais de frio, fazendo seu trabalho de segurança - por tantas horas quantas
ela demorasse em recuperar sua força.

Owen inclinou-se e arrancou o fio de cabelo encaracolado vermelho do galho onde o


cabelo de Noelle enganchara. Ele passou horas admirando aquele cabelo de fogo,
observando-a deitada aqui no chão ao lado do Capitão Wolfe.

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Ele tinha que dar crédito a David. Mesmo com a distração de uma mulher linda, ele
fizera um inferno de um bom trabalho mantendo Noelle fora de alcance. Custara a Owen
quatro carros roubados e três litros de café para segui-los até aqui sem ser detectado. Ele
nunca teve tantos problemas antes para ficar escondido.
Owen sorriu, fazendo com que as cicatrizes horríveis de queimaduras em seu rosto
franzissem. Ele adorava um desafio.
Um homem menos inteligente que Owen invadiria a cabana pequena e acolhedora
enquanto David dormia, o mataria e levaria Noelle. Mas Owen era mais esperto que isso.
Sabia que a menina funcionaria melhor enquanto estivesse com alguém em quem
confiasse. Ele estava nisto pelas armas que o texto localizaria e pelo dinheiro que faria no
mercado negro. Seu chefe, o Sr. Lark, deixara claro que a armas garantiriam a Owen um
lugar de poder na organização recém reestruturada. Se isso significava esperar a menina
concluir seu trabalho antes que a sequestrasse, então isso era o que ele faria.
Além disso, era divertido encontrar maneiras para evitar as medidas de segurança de
David. O homem pegou o que a floresta oferecia e transformou essas coisas em armas
mortais que pretendiam matar qualquer um que ousasse entrar no seu domínio. Passara
um longo tempo desde que Owen testara suas habilidades contra um adversário digno, e o
homem que guardava Noelle era definitivamente um adversário digno.
Muito ruim para ele que Owen fosse muito melhor.

Capítulo 14

Noelle limpou a bagunça do jantar, ajudando, pela primeira vez desde que
chegaram à cabana. Até agora, David cuidara de tudo que era mundano – cozinhando e
limpando – dando-lhe tempo para trabalhar. Era um luxo que não estava acostumada,
mas ela não se importava.

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Cara, ele seria um grande marido. Pena que ainda estivesse casado com uma mulher
morta.
Ele saíra de novo pela quinta vez, trazendo outra braçada de madeira. Uma das
paredes da cabana estava totalmente coberta pelos resultados de seus esforços de cortar a
lenha, e por seu cálculo rápido, havia madeira suficiente para durar mais de um mês.
Enxugou as mãos e pôs o pano de prato sobre o balcão para secar. — Você espera
uma tempestade de neve ou algo assim? — perguntou-lhe.
David espanou as mãos, mas não correspondeu a seu olhar. —Não há sentido em
não estar preparado. Além disso, eu tenho tempo. Se não usarmos a madeira, Caleb usará.

Noelle teve que admitir que a ideia de ficar presa na neve com ele não era totalmente
desagradável. Ela se acostumou com o cenário rústico e com exceção da falta de chuveiro
quente e um banheiro de verdade, não era uma dificuldade estar aqui com ele. Parte dela
estava até mesmo gostando. Estava tendo a primeira aventura real de sua vida adulta.
Então, novamente, ele vinha fazendo todo o trabalho. Se ele lhe pedisse para caçar ou
pescar com ele, ela teria uma história completamente diferente para contar.
O simples fato era que gostava da companhia de David. Ele era cortês e deixava-a
sozinha para trabalhar. Só a molestava quando ela se esquecia de comer, o que
provavelmente não era uma coisa ruim. Fazia um longo tempo desde que tivera alguém
por perto que cuidava dela. Isto a fazia sentir-se... confortável por saber que ele estava lá.
E ele certamente não era ruim de se olhar.
David alimentou o fogão e Noelle apenas observou. Adorava a maneira como seu
corpo movia-se de forma que seus músculos deslizavam poderosamente sob sua pele. Ela
repetidamente tinha que se segurar para não estender e colocar a mão sobre ele para sentir
o movimento intrigante. Disse a si mesma que era uma intelectual e gostava de pesquisar
tudo o que lhe interessava, mas no fundo, sabia que era mais que apenas interesse o que lhe
instigava a chegar perto dele. Sentia que ele estava carente de contato humano, que se
isolara do mundo.

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E mesmo se esse sentimento não estivesse lá, David a interessava como homem.
Demais para seu próprio bem.
—Se você não parar de olhar para mim como se eu fosse uma de suas notas
indecifráveis, eu vou ficar nervoso, — disse ele.
Noelle sacudiu ao som de sua voz, seu rosto aquecendo em um rubor. —Sinto muito.
Eu só fico me perguntando como você deve se sentir sendo tão forte. Eu sempre fui meio
franzina para a minha idade.

Ele se adiantou, o seu longo passo colocando-o apenas alguns centímetros dela. —
Franzina não é a palavra certa.
Noelle levantou uma sobrancelha ruiva. —Oh? E que palavra você usaria, Sr.
Músculos?
Seu olhar aqueceu enquanto ele varria seu corpo. Ela estava se acostumando a sua
frequente verificação a cada vez que ele entrava na sala, mas este olhar era diferente. Mais
quente. Suas pálpebras estavam pesadas e seus punhos fechados ao lado do corpo. —
Delicada, — disse ele.
Noelle teria achado ridícula sua declaração se não fosse por sua expressão séria.
Parecia que ele estava falando sério. E que gostava disso. —Boa tentativa de acariciar meu
ego, mas não é realmente necessário. Estou orgulhosa de mim mesma – com o que eu fiz
de minha vida.

—Você deveria estar. Mas também deveria se orgulhar do fato de ser uma mulher
bonita.
Desta vez, Noelle não pôde deixar de rir. Ela era inteligente, leal, dedicada, e presa a
sua moral, não importava como se tornasse inconveniente, mas ela não era bonita. Até que
conhecera David, nunca realmente se importara com isso.
Mas agora, com ele olhando para ela com aqueles quentes olhos azuis, seus músculos
tensos, o corpo luxurioso a apenas poucos centímetros do seu, ela não queria nada mais
que ser uma mulher sedutora. Queria deixá-lo de joelhos com sua beleza. Queria que ele a

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pegasse em seus braços e lhe mostrasse o quanto ele pensava que ela era bonita usando
apenas sua língua. —Você é o único que é bonito. Toda essa força me faz querer tocá-lo só
para saber como é a sensação.

Ela estava tão arrastada pela imagem mental que criara, que nem mesmo percebeu
que dissera as palavras em voz alta. Até que viu a mudança em sua expressão e o viu
tornar-se mais cauteloso.
O fogo floresceu em seu rosto e ela desejou rastejar sob uma rocha até que morresse
de velhice.
Seu queixo afundou e ela respirou profundamente, para ajudar a se recuperar da
humilhação.
Os dedos de David levantaram seu queixo, forçando-a a olhar em seus olhos.
Estavam quase pretos, sua face ruborizada, as narinas infladas, como se estivesse com raiva.
Mas não era raiva, era outra coisa. Algo que nunca pensou ver em seu rosto.
Desejo.
Ele se inclinou para beijá-la, dando-lhe pouco tempo para escapar. Seu braço era uma
cinta de ferro na parte de baixo das costas, segurando-a. Ela não conseguia se afastar. Não
tinha certeza se queria.
David a beijou, duro e exigente. Sua língua brincava com os lábios dela, persuadindo-
a a aceitá-lo em sua boca. Ele tinha gosto do café que compartilharam após o jantar.
Cheirava a floresta ao pôr do sol.
Noelle beijara antes, mas nunca como isto. Sua experiência era morna em comparação
com a paixão ardente que agora varreu o seu sistema.
Suas mãos deslizaram até seus braços, apertando seus ombros rígidos para se firmar.
Seu corpo cantou com empolgação, fazendo-a girar a cabeça e os joelhos ficarem fracos.
Ela devia ficar maravilhada com a maneira como seu corpo reagiu, a um nível
intelectual. Gostaria de analisar quais hormônios faziam seu sangue bombear mais
rapidamente, seus olhos se dilatarem, sua pele aquecer quase a ponto do colapso. Mas tudo
o que conseguia pensar era em como era bom sentir sua língua deslizando sobre seus

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lábios, como os mamilos endureceram em pontos sensíveis, que esfregavam contra a


parede de seu peito musculoso. Sua cabeça estava cheia de seu perfume masculino,
conduzindo o conhecimento de tudo o mais fora de sua mente.
Pela primeira vez em sua vida, seu cérebro foi desligado e seu corpo ligado.
Era tão maravilhoso quanto assustador.
E então ele interrompeu o beijo e ela ficou sozinha, agarrando sua camisa, ofegante
como se tivesse acabado de correr um quilômetro montanha acima.
David olhou para ela, os olhos fixos em seus lábios separados. Ela podia sentir como
estavam quentes e inchados de seu beijo menos que delicado. Ela se perguntou se ele se
sentia da mesma forma.
Noelle levantou um dedo para a sua boca e mal o tocou, querendo sentir com a mão o
que os lábios já sentiram. David estremeceu ao seu toque, praguejando baixo e
obscenamente.
—Isso foi um erro, — disse.
O ar frio enchendo a cabana varreu qualquer sentimento de contentamento e
fascinação que Noelle poderia estar sentindo.
Um erro? A melhor coisa que ela já sentiu em sua vida foi um erro? Não conseguia
inalar ar suficiente para falar, mesmo se fosse corajosa o suficiente para refutar a sua
afirmação.
—Não podemos fazer isso, — disse ele, como se tentasse convencer a si mesmo. —
Está errado.
Noelle encontrou forças para soltar sua camisa e ficar em seus próprios pés. Colocou
um bom espaço entre eles antes que fosse capaz de falar. A distância deixou a sensação de
frio e desolação, mas não tanto quanto o duro brilho de vergonha nos olhos de David.
Ela era completamente ciente de sua própria sensualidade, ou a falta dela. Não estava
disposta a forçar um homem a beijá-la, se ele não queria. Ela tinha mais autoestima que isso.
Ainda assim, não podia suportar a ideia de ficar no pequeno espaço com ele nem mais um
minuto. Tinha que fugir, esfriar a cabeça e lembrar suas prioridades.

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Agarrou seu casaco ao sair da cabana. Antes de fechar a porta, ela disse: —Pareceu
malditamente certo para mim.

David não poderia seguí-la para fora da cabana, nem se quisesse. Seu pênis estava
muito duro, fazendo suas tripas doerem e seu cérebro pulverizar em um esforço para
funcionar, apesar de seu déficit de sangue.
Que diabos havia de errado com ele? Ele sabia como evitar que algo assim
acontecesse. Só não foi inteligente o suficiente para tomar cuidado.
Mesmo agora, sozinho na cabana fria, seu sangue ainda bombeava quente, sua pele
soltando onda após onda de calor frustrado. Foi um tolo por beijá-la, mas cara, ele se sentira
bem. Ela estava certa sobre essa parte.
Ela tinha gosto de fogo líquido e seu corpo tão perfeitamente ajustado contra o dele,
tornava difícil imaginar que não fora feita só para ele. Isto era uma noção ridícula, que uma
mulher educada, brilhante como ela desejaria ter algo a ver com um Neanderthal como ele.
O que ele teria para oferecer a ela, fora algumas horas quentes de sexo estonteante? Sua
carreira acabara. Ele não era um mendigo, mas vivia frugalmente com o que conseguiu
economizar de mais de doze anos passados como militar. Não era um tipo do homem
gentil, que ajoelharia a seus pés em algum mundo de fantasia romântica. Ele era apenas um
cara - ex-soldado – que sequer fora capaz de manter sua própria esposa segura.
Ele não merecia uma segunda chance de felizes para sempre. Obviamente, ele sequer
merecera a primeira.
A imagem do corpo de Mary inundou sua mente. Sangrento, torturado e sem vida.
David deu um soco na pilha de lenha, lascas voando pela cabana. Ele odiava que cada
vez que pensava em Mary, só via a sua morte. Não conseguia sequer lembrar os bons
momentos que tiveram juntos. Sabia que eles estavam lá, em sua memória, mas
simplesmente não conseguia vê-los. Tudo o que via era seu cadáver agredido, lembrando-
lhe apenas o que aconteceria se ele se deixasse ser egoísta o suficiente para trazer uma outra
mulher para sua vida.

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Noelle tinha problemas suficientes sem adicionar os dele. Ele tinha que manter
distância. Tinha que ser profissional. Não importava o quanto queria o contrário.
Nem mesmo se ela tinha gosto de fogo líquido e se encaixava perfeitamente contra o
seu corpo. Nem mesmo se ela derretia em seu beijo como se tivesse sentido fome disso toda
sua vida. Nem mesmo se ela implorasse.
Sangue pingava de suas juntas feridas, um tamborilar fraco na noite tranquila.
Ele tinha que fazer a coisa certa. Precisava mantê-la segura, até de si mesmo. Não
importava o quanto ele a quisesse.
David olhou para a porta, ainda balançando solta em suas dobradiças. Ela esquecera
seu colete e a arma que ele insistiu que levasse sempre com ela quando deixasse a cabana.
Se ela não tivesse cuidado, correria para uma das armadilhas que ele criara em um
perímetro de segurança em torno da cabana. Elas eram primitivas, mas letais.
Cuspiu um juramento ardente e foi atrás dela. Ele não sabia como resistiria a beijá-la
novamente quando a encontrasse na noite enluarada, mas tinha que encontrar um jeito.

Capítulo 15

Noelle não ouviu a sua aproximação, mas o sentiu pouco antes de ver sua grande
forma escapar por entre as árvores a não mais de dois metros de distância.
Estava escuro lá fora e Noelle não fora longe - apenas o suficiente para que não visse a
cabana através da espessura das árvores. Apenas o suficiente para que pudesse se sentir
sozinha.
Estar sozinha tornava mais fácil aceitar a rejeição de David e lembrar-se do que era
realmente importante em sua vida. Seu trabalho.
Não era uma tola. Não esquecera o que estava em jogo se falhasse em sua tarefa de
descobrir o significado oculto no texto cifrado.

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—Você esqueceu seu colete, — disse David. Sua voz era pouco mais que um sussurro
de som escuro.
O vento mexia incansavelmente os galhos das árvores, espalhando as folhas caídas.
Cheirava a gelo e fumaça de madeira misturada com uma pitada de David .
Ela se perguntou se esqueceria a maneira como ele cheirava. A forma como o sentira
sob sua língua.
Noelle não pegou o colete de sua mão. Sentia-se sentia segura aqui, não importa como
fosse tola por se sentir assim. A única ameaça que enfrentava era a capacidade de David de
fazê-la perder o controle.
Ele soltou um suspiro de frustração e deslizou o colete sobre seus braços. Seus braços
vieram ao redor dela para prender as tiras, colocando-a novamente em seu abraço.
Noelle olhou para ele, já sentindo a maneira como seu corpo respondia à sua
proximidade como uma droga. Viciante.
Seu coração acelerou e seu nariz alargou para puxar seu perfume. Seus movimentos
eram bruscos, mas gentis, enquanto ele esticava as alças.
Sombras escondiam seus olhos, mas acentuavam a linha apertada de sua mandíbula.
Ele fizera a barba recentemente, ela percebeu, e pôde sentir o cheiro fraco de sabão em sua
pele.
O desejo se revolvia em sua barriga, fazendo-a sentir-se fraca e sem fôlego. Ela nunca
se sentira assim com Stanley, nem com ninguém. Sua reação a David era única e totalmente
confusa.
Ele se afastou, e a perda do calor de seu corpo foi imediata. Ela estremeceu e abraçou
seu corpo para aquecer-se.
—Precisamos voltar para a cabana, — disse ele.
Noelle não podia suportar o pensamento de ficar fechada com ele em um espaço tão
pequeno. Pelo menos, não a menos que ele terminasse o que começou.
—Voltarei em pouco tempo. Só preciso de um pouco de ar.
Ele balançou a cabeça, mas não se mexeu. —Eu não queria magoar você, Noelle. Juro.
Eu só...

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Noelle endureceu seu aperto em torno de si, tentando aliviar a dor vazia que a gelava
de dentro para fora. —Não temos que falar sobre isso. Esqueça que aquele beijo aconteceu.
—Eu fui um idiota e sinto muito. Nunca deveria ter deixado meus sentimentos
ficarem no caminho do trabalho.
O trabalho. Isso é o que era realmente importante aqui, não seus sentimentos, ou
David. Eles tinham um trabalho a fazer, e vidas dependiam de seu sucesso. —Está tudo
bem, — disse ela. As palavras eram ocas, porque com certeza, ela não estava bem.

—Não, não está. É uma merda, mas é o jeito que é. Essa é a maneira que tem que ser.
Você entende?
Noelle entendia perfeitamente. Sua esposa fora assassinada pelos mesmos homens
que tentavam matá-la. Eles não tinham nada que se envolver um com o outro. Ambos
tinham trabalhos a fazer, e isto não deixava as coisas mais fáceis.
—Apenas me dê algum tempo sozinha para limpar a minha cabeça, para que eu
possa me concentrar no meu trabalho. — Ela precisava pensar e não podia fazer isso
quando ele estava tão perto.
Após uma longa pausa, David concordou. —Não vá longe, — disse ele enquanto
deslizava de volta para as sombras.
Noelle olhou para o claro céu noturno. Ela podia fazer isso. Ela era suficientemente
forte para resistir a ele. E inteligente o suficiente para saber que não havia outra escolha.

Owen deslizou mais profundo em seu esconderijo, sorrindo. Eles se beijaram. Que
doce.
David estava muito distraído por Noelle e seu desejo óbvio por ela para notar Owen
em seu esconderijo a menos de cem metros da cabana. A partir daqui, ele tinha uma visão
clara da tensão apertando os braços delgados de Noelle em torno de seu corpo.
Ele também podia ver David vigiando-a a alguns metros de distância, com o rosto
endurecido pela frustração e culpa. Pobrezinho.

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No escuro, Owen duvidava que ela pudesse ver David vigiando, e se ele a deixasse
sozinha, Owen teria um tempo difícil para resistir ao impulso de mover-se muito em breve.
O Sr. Lark estava respirando no seu pescoço, ansioso para por suas mãos sobre as
armas - ou mais importante, sobre o dinheiro que fariam no mercado negro. Ele já
começara a preparar uma lista de clientes que financiariam o leilão, o que colocava uma
pressão indevida sobre Owen para se apressar. Quando ele ganhasse esse lugar cobiçado
como braço direito do Sr. Lark, teria que ensinar ao homem que dinheiro não era tudo. O
poder era muito mais importante - mais agradável - e, embora dinheiro pudesse comprar o
poder, o medo poderia comprar ainda mais.
O leilão apenas teria que esperar. Owen estava se divertindo demais para se apressar,
considerando como seus planos mudaram apenas com esse beijo. Noelle não era mais
apenas algum cérebro de alta potência. Ela era uma mulher com a qual David se
importava o suficiente a ponto de beijar, o que a fazia muito mais interessante. E útil.

Capítulo 16

Noelle não fizera nenhum progresso há mais de vinte e quatro horas. Nenhuma
faísca de algum insight, e nem um resquício de sucesso. O código estava ganhando e
pessoas iriam morrer.
Ela sempre funcionou bem sob pressão - havia poucos acadêmicos que não o faziam -
mas este nível de pressão era mais do que era capaz de lidar. Estava começando a pensar
que falhara.
O prato de sopa que ele colocou na frente dela há uma hora esfriou, foi reaquecido e
esfriou novamente. Cheirava muito bem, mas seu estômago enrolava com o pensamento
de comer. Sabia que era estúpido morrer de fome assim. Era mesmo contraproducente,
mas toda vez que fazia qualquer coisa para focar no problema, sua cabeça começava a se

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encher com imagens daquelas fotos horríveis que David lhe mostrou. Isto lhe fizera tão mal
que era incapaz de dormir, ou mesmo fechar os olhos por muito tempo.
Não tivera mais que uns poucos pequenos cochilos, desde que chegaram à cabana, e
com exceção do cochilo no mato, só dormira algumas vezes na mesa, curvada sobre seu
trabalho, em exaustão. Se isso não parasse logo, ficaria louca. E seria grata por isso.
—Você deve tentar descansar um pouco, — disse David da porta da cabana. Não
tinha ideia de quanto tempo ele estivera ali de pé, olhando para ela.
Seu corpo quase enchia a porta, bloqueando os raios brilhantes de sol atrás dele. Ele
fizera a barba recentemente, mas não parecia menos perigoso. Seu cabelo crescera o
suficiente para revelar ainda mais prata nos cabelos negros em suas têmporas, fazendo-a se
perguntar se seu corpo estava realmente adequado a sua idade, ou se seu cabelo estava
ficando prematuramente grisalho. Com base no que sabia de seu passado, adivinhava que
era o último.
Como sempre, quando saia da cabana, ele usava o colete Kevlar. Sob o colete uma
camisa de flanela de manga comprida com as mangas enroladas que revelavam seus
antebraços grossos e todos os músculos que ela não podia deixar de notar. Pela mancha
escura de suor em volta da gola, adivinhou que ele estivera cortando lenha novamente.
Ele parecia fazer muito isso, o que a fez imaginar quanto tempo ele esperava que
ficassem aqui.
Além de cortar madeira, ele passava muito de seu tempo fora da cabana durante o
dia, fazendo só Deus sabia o quê. Algumas vezes, ele trouxe alguns peixes e até mesmo um
coelho, que Noelle firmemente se recusou a comer. Ela não era vegetariana, mas o
Thumper não estava absolutamente no menu.
—Eu queria poder dormir, mas cada vez que fecho meus olhos, tudo que vejo é o
código rolando na minha cabeça. — E os rostos dos mortos. Ela não lhe disse isso,
entretanto. Qual a vantagem? Só para fazê-lo se sentir culpado por ter lhe mostrado as fotos.
Ele já tinha muita culpa auto-imposta, sem sua ajuda.
Noelle fechou a tela de seu laptop para economizar bateria. David dissera que havia
muito combustível para o gerador funcionar por várias semanas, se apenas o usasse para

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recarregar o laptop e a bomba de água. Ela esperava que quebrar este código não levasse
tanto tempo, porque sabia que seu corpo não aguentaria muito mais tempo sob estresse.
David fechou a porta, fazendo com que a cabana parecesse menor com sua mera
presença.
—Vai fazer frio esta noite, — disse ele enquanto tirava seu colete e o pendurava em
um prego ao lado da porta, ao lado do colete e do casaco de Noelle. —Não há cobertura de
nuvens para segurar o calor.
—Vai fazer frio? Já está frio. — Noelle usava uma jaqueta, e ela se sentara
aconchegada dentro de seu saco de dormir na mesa para manter suas pernas e pés
quentes, enquanto trabalhava. E mesmo isso não dava isolamento suficiente. Ir para fora
era ainda pior. Sendo estritamente um tipo de menina de dentro de casa não tivera
nenhuma experiência para a diversão de sentar-se no assento congelado enquanto a
madeira congelava sua bunda.
Pela primeira vez em sua vida, Noelle desejou poder fazer xixi em pé.
—Vai ficar mais frio, mas manterei o fogo aceso hoje à noite, antes de começar a
escurecer.
—Isso não vai ajudar, — disse ela. Colocou seus óculos sobre a mesa e enfiou a mão
nos cabelos em frustração, e seus dedos imediatamente ficaram presos no emaranhado de
cachos grossos. Lembrara de escovar o cabelo hoje? Achava que não, mas os dias se
misturavam quando não conseguia dormir, talvez por isso ela os tivesse escovado.

Os olhos azuis de David deslizaram sobre seu corpo e foram até seu rosto. —O que
há de errado?
Ela pensou em não lhe dizer, mas sabia que no final, ele descobriria. Além disso, falar
não tornaria as coisas piores. —Bati numa parede. Dura.
—Uma parede?
Ela sentiu a vergonha queimar no alto das maçãs do rosto. —Eu usei cada algoritmo
de decodificação que desenvolvi em todas as possíveis permutações. Há algo mais nesse
código que eu senti desde a primeira vez que olhei para ele - alguma qualidade elusiva que

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parece se alterar cada vez que eu penso enxergar o padrão. É matemática, e conheço muito
de matemática, mas há algo mais. Algo quase misterioso na forma como os símbolos estão
encadeados juntos. — Ela parou, sacudindo a cabeça. —Não importa quanto tempo eu
trabalhe, a solução continua fugindo de mim.
—Você deveria tentar dormir um pouco.
Noelle esfregou os olhos cansados. —Eu não posso. Isto não é apenas uma questão de
ser aprovada em algum curso, ou mesmo de completar a minha tese. As vidas das pessoas
estão em jogo. Se eu falhar, pessoas vão morrer.
—É muita pressão para colocar em si mesma. Você não está acostumada. Relaxe. Dê
um tempo. Por enquanto você está segura, é o que importa. Você pode ter todo o tempo
que precisa.
Ela empurrou um suspiro frustrado. —É difícil relaxar quando continuo batendo
minha cabeça contra a mesma parede. — Olhou para ele, esperando que não visse que o
desespero ameaçava esmagá-la. —E se eu não puder fazer isso?
—Você pode. — Ele parecia totalmente confiante.
—O que você faz normalmente quando bate em alguma séria dificuldade?
Ela balançou a cabeça, fazendo com que seus cachos deslizassem sobre o rosto. —
Normalmente vou para um outro projeto e dou um tempo para meu cérebro resolver as
coisas por conta própria. Se eu focar num problema muito difícil, simplesmente não
consigo encontrar uma solução. Eu tenho que deixá-lo por um tempo. Mas...
—Mas?

Ela olhou bem em seus olhos. —Não temos tempo para isso. Temos?
Se ele estava decepcionado por sua incapacidade de quebrar o código, não mostrou
em sua expressão. —Temos todo o tempo que você precisar. Vou mantê-la segura.
Seus ombros cederam um pouco, aliviados. De repente ela se sentia frágil. Esgotada.
—Por que não tira um cochilo? Provavelmente está cansada demais para pensar.
—Eu preciso me distrair um pouco e deixar o meu cérebro trabalhar em paz.
—Você não precisa de uma distração. O que precisa é dormir.

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—Eu não consigo dormir, David . Eu tentei.


—Eu sei. Ouvi você se mexendo em seu saco de dormir ontem à noite, tentando
dormir.
Ela olhou para ele, o rosto enrubescendo de vergonha. —Desculpe por mantê-lo
acordado.
David deu de ombros. —Eu tenho sono leve.
—Vou tentar não fazer barulho, — prometeu.
—Eu não me importo com isso. Estou preocupado com você. Precisa fazer uma
pausa.
—Eu não posso. Preciso...
—Faça uma pausa, — insistiu. —Parece que você está prestes a cair.
Noelle esfregou os olhos. Estavam secos e quentes, enquanto o resto dela estava
gelado. Parecia que passara um longo tempo desde que se sentira verdadeiramente
quente. Prometeu a si mesma que se saísse dessa bagunça, tomaria um banho tão quente
que duraria uma semana e derreteria a telha de cerâmica do banheiro.
David tirou seu corpo fora do banco pelo braço e entregou-lhe seu colete à prova de
balas. —Hora de uma caminhada. Talvez um pouco de exercício vá disparar suas sinapses,
ou pelo menos a ajude a dormir.
—Neste momento, estou disposta a tentar qualquer coisa.
Ela viu sua mandíbula endurecer por um breve momento, como se contendo sua
frustração. Em seguida, despareceu e ele ofereceu-lhe um leve sorriso enquanto
caminhavam em direção ao sol.
O ar estava frio, mas claro. O vento ao longo dos últimos dois dias trouxe consigo o
cheiro limpo da geada. Ela não tinha ideia de que horas eram, além de estar claro. De certa
forma, era uma espécie de libertação não se preocupar com horários, classes ou reuniões. Se
não fosse o prazo fatal e monstruoso que pesava sobre ela, ficaria feliz em desfrutar da
liberdade.
Mas ela tinha esse prazo, assim como outros sem nome, que sem saber, dependiam
dela para viver.

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—Não, nada disso, — alertou David com um tom agudo. —Você vai parar de
pensar no que está pensando agora. Eu estive te observando por dias, e conheço esse olhar.
—Que olhar? —Perguntou ela.
—Esse olhar que me diz que você não vai comer a minha comida, não importa
quantas vezes eu a esquente para você. O que faz seus olhos se encherem de medo e sua
pele ficar pálida.
Noelle não sabia que era tão transparente. Ou talvez ele fosse simplesmente muito
observador. —Eu tento não pensar sobre isso, realmente.
—Você vai resolver este quebra-cabeça. Eu sei que vai. Está muito perto agora. Dê-se
uma pausa.
—Gostaria de poder. — Ela parou, as pernas de repente, não mais capazes de
impulsionar para a frente. —Você sabe o que está em jogo.
Ele balançou a cabeça lentamente, fazendo com que os fios de prata parecessem
purpurina no cabelo escuro sob a luz do sol. —Você não pode ficar com isso em sua cabeça.
Um passo de cada vez. Isso é tudo que precisa pensar.
—É assim que você faz?
Ele estendeu a mão e resgatou uma mecha de cabelo que ficou presa sob o ombro de
seu colete. —Eu ficaria sobrecarregado se parasse para pensar em ajudá-la a decifrar este
código, então levá-la daqui, então procurar o informante na equipe de Monroe, em
seguida, passar as informações para Monroe, e depois, encontrar um esconderijo seguro
para você, enquanto nós usamos a informação, e então...
Noelle cobriu sua boca com a mão, incapaz de ouvir mais nada. —Entendi seu ponto.
Um passo de cada vez.

Ele enrolou a mão em torno dela e puxou-a de sua boca. Seus dedos estavam quentes
em sua pele gelada, fazendo com que desejasse ter sua fornalha interna.
Ao invés de soltá-la, ele segurou a mão dela na sua, aquecendo-a. —O ponto é que
você só pode fazer uma coisa de cada vez. O resto tem que esperar sua vez.

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Ela olhou em seus olhos azuis e desejou tê-lo encontrado em circunstâncias diferentes.
Ele provara que era um homem carinhoso. Colocava os outros antes de si mesmo, mesmo
no extremo de arriscar sua própria vida. E ele era tão bom de se olhar. Seu rosto era
másculo, com ângulos agudos e sulcos profundos sob as maçãs do rosto. Sua boca era
macia e quente, e ela ainda lembrava como a sentiu firme e exigente contra seus lábios.
Apenas a memória foi o suficiente para ajudar a aquecê-la, começando com o rubor
que se espalhava por seu rosto.

Um leve sorriso curvou seus lábios como se tivesse lido seus pensamentos. —Nós
não faremos isso, também, — disse com falsa severidade. —Vamos lá. Eu quero lhe
mostrar uma coisa.
Desde que ele tinha a mão dela capturada, ela não tinha escolha senão seguir atrás
dele. Ele manteve seu passo curto para que ela pudesse acompanhar, o corpo cansado
empurrando-a para frente. Dirigiram-se por entre as árvores, seus movimentos precisos e
focados. Algumas vezes, ele a levou em volta de uma parte do terreno, apontando para
uma armadilha aqui e ali que colocara para afastar todos os visitantes indesejados.
Estavam indo em linha reta para cima, e Noelle teve que parar várias vezes para
recuperar o fôlego. —Eu realmente preciso fazer mais exercícios, — ela ofegou,
embaraçada por não conseguir acompanhá-lo.

Um tenso olhar cruzou seu rosto, e ele virou as costas antes que ela pudesse descobrir
o que dissera para causar a tensão.
Chegaram ao topo de uma colina, e David parou. O vento soprava em torno deles,
jogando os cabelos em seu rosto. Noelle colocou-os dentro de seu casaco, rente ao pescoço,
com um empurrão irritado de suas mãos. Esquecera-se de cortá-los por, oh, pelos últimos
quatro anos, e estava se tornando um aborrecimento.
—Lá, — disse ele, apontando com a mão em direção ao horizonte.
Noelle olhou e sua respiração ficou presa em seu peito. A vista era magnífica! A partir
daqui, uma série de montanhas pontiagudas estendiam-se até onde ela podia ver. No vale

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abaixo, as árvores ainda não tinham perdido suas folhas. Alguns apresentavam amostras
brilhantes de vermelho, laranja e amarelo, que turvavam juntas em uma imagem que
Monet teria apreciado. A faixa de prata do rio deslizava através do vale, parecendo calma e
silenciosa desta distância, mesmo sabendo que tinha que estar em ebulição pela água
gelada, borbulhante e agitada enquanto batia nas margens rochosas.
A partir deste ponto de vista, tudo parecia diferente - mais suave e contínuo. Ao invés
de árvores e rochas individuais, tudo fundia-se em um gigante completo – a
individualidade perdia o significado, transformando toda a paisagem em uma única obra
de arte. Individuais, os objetos discretos compunham um todo contínuo.
A partir de uma distância tão grande, objetos discretos pareciam contínuos.
Assim como o texto cifrado.
O tempo parou para Noelle quando a importância de seus pensamentos tocou alto e
claro em sua mente. Era isso. Ela descobrira a chave para o enigma. Graças a David e sua
vista da montanha, encontrara a resposta. Ela podia decifrar o código!

Noelle empalideceu, e David pensou que iria desmaiar. Agarrou-a e puxou-a em


direção a ele, levando-a para o chão antes que pudesse cair.
O olhar de admiração em seu rosto enquanto ela olhava a vista da montanha fizera
valer a pena a caminhada morro acima, e ele tinha certeza que o ar fresco abriria sua cabeça
como nada mais poderia. Com exceção, talvez, de sexo, quente e úmido.
Mas aquele olhar no rosto dela agora o assustou como o inferno. Ele tinha certeza que
algo estava terrivelmente errado. Talvez ela tivesse medo de altura ou algo assim.
—Noelle? Você está aí? — Ele manteve sua voz baixa e calma, mesmo quando queria
gritar e agitá-la para responder.
Finalmente, ela puxou uma respiração. Seus olhos estavam arregalados e sem foco e
um brilho fino de suor descia ao longo de sua testa. David tocou sua pele e parecia fria e
pegajosa. Rapidamente, tirou seu casaco e colocou-o sobre ela para mantê-la aquecida. Ela
não tinha isolamento suficiente para ficar suando aqui no maldito frio.

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—Noelle? — Ele parecia soar mais frenético desta vez, mesmo tentando duramente
não fazê-lo.
Ele empurrou sua cabeça para baixo, em direção ao meio das pernas, para impedí-la
de passar mal e se amaldiçoou por não forçá-la a comer como devia. O que ele estava
pensando, a arrastando em uma caminhada árdua, quando ela não tivera uma refeição
decente ou uma boa noite de sono em dias?
—Eu consegui, — ela disse, as palavras abafadas pela sua posição embaraçosa.
—O quê? — Curvou-se para ouvir o que ela tinha a dizer.
Noelle empurrou contra o braço dele e ele a deixou sentar-se. — Eu entendi. O texto
cifrado. Eu descobri o que faltava sobre o código.
David não tinha certeza se ela estava completamente coerente, mas não iria interrogá-
la aqui. Ele precisava levá-la de volta para a cabana, onde poderia deixá-la aquecida.
—Preciso de uma caneta, papel, algo.
David deu um tapinha nos bolsos do colete atrás de algo que ela pudesse usar para
escrever e encontrou uma caneta esferográfica esquecida, mas não papel. Ela pegou a
caneta e começou a rabiscar em sua mão.
David viu os símbolos estranhos que ela rabiscava, que não faziam qualquer sentido
para ele. Parecia vagamente matemática, mas não havia números, apenas o alfabeto cirílico
que vira no papel que Monroe lhes dera.
Ela escreveu até o limite de sua mão e começou a puxar as roupas para chegar ao
braço.
—Aqui, use o meu, — ele ofereceu, empurrando sua manga para cima e esticando
seu braço nu para ela.
A ponta da caneta fazia cócegas, mas ele não se atreveu a fazer um som por medo de
que pudesse interromper a linha de pensamento e bagunçar a epifania que ela estava
tendo.
Minutos fluíram em silêncio frio, com apenas o uivo do vento e o barulho das folhas
secas para ouvir.

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Quando ela já quase enchera um braço, David ofereceu o outro, dando um suspiro
de alívio quando ela começou a rabiscar mais lentamente.
Ela parou e o olhar de alegria brilhando em seus traços o fez querer inclinar-se e beijá-
la, só para sentir qual era o gosto da vitória nos seus lábios.
—Precisamos voltar. Agora. Eu posso fazer isso, David .
Seu sorriso a fazia parecer mais jovem, mais vulnerável e totalmente desejável. Se ele
pudesse resistir a ela quando o olhava como se ele tivesse acabado de entregar-lhe o
mundo, poderia resistir a qualquer mulher.
Com cuidado para não borrar seu trabalho, ele empurrou as mangas para baixo,
abotoou o casaco em torno dela e pegou sua mão, enquanto a levava de volta para baixo da
montanha.

Owen atravessou a cabana vazia que Noelle estava compartilhando com David para
verificar o progresso da menina. Ele os viu caminhando até a montanha, esperou até que
estivessem longe o suficiente para ter uma medida de segurança de tempo para bisbilhotar,
então começou a fazer exatamente isso.
Folheou suas notas, tirando fotos de cada página do lixo indecifrável. Se algo
acontecesse com a menina, então, pelo menos, ele teria algumas notas para ajudar o
próximo cérebro de gênio a começar de onde ela parou.
Não tinha ideia de quanto faltava para uma solução, mas um inventário rápido de
seus suprimentos lhe disse que só tinham mais alguns dias de alimento até que alguém
tivesse que ir para a cidade buscar mais.
Owen era um homem paciente. Ele podia esperar. As chances eram boas. David
pensava que estava seguro aqui com todas essas armadilhas colocadas para protegê-la.
Quando chegasse a hora de ir para a cidade, David poderia até deixá-la para trás para
trabalhar.

Então Owen faria a sua jogada. Sem David , seria uma coisa simples entrar e pegar a
menina, juntamente com todo o seu trabalho. Uma vez que ele a tivesse, sua posição no

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Swarm estaria solidificada. Moveria-se na organização e ganharia o seu lugar ao lado do Sr.
Lark. Eles não olhariam mais para ele e veriam apenas suas cicatrizes - veriam o homem
por trás das cicatrizes e apreciariam esta visão para o Swarm. Com Owen atrás do leme, o
Swarm não teria mais que trabalhar nas sombras. Tornariam-se uma força a ser
reconhecida e temida.

Owen sorriu enquanto deslizava os dedos sobre algumas calcinhas que secavam
penduradas sobre o varal na lavanderia da cabana.
Se Noelle fosse uma boa menina, poderia até mantê-la viva tempo suficiente para
brincar com ela. Assim como brincara com a mulher de David, Mary.

Capítulo 17

Algumas horas mais tarde, Noelle finalmente chegou a um ponto de parada. Ela não
fizera tudo ainda, mas podia ver a solução brilhando no horizonte, já não completamente
fora de alcance. Algumas horas mais de cálculos e seria capaz de começar a escrever o
programa para executar um código que quebraria quaisquer algoritmos já criados. Uma
vez que o programa estivesse escrito e depurado, seria capaz de colocar o texto cifrado e ver
o que acontecia.
Aquela seria a verdadeira prova do seu novo processo de pensamento.
Ela se esticou, arqueando as costas para aliviar a tensão em seus músculos. Passara
tantas horas sentada neste banco duro de madeira, que pensava ter adquirido um recuo
redondo permanente em seu traseiro. Seus ombros doíam, e seus dedos estavam quase
dormentes de frio, mas ela se sentia melhor do que se sentira em dias.
Sabia que podia fazer isso, e o alívio que teria sucesso era como uma droga correndo
através de seu sistema, fazendo-a sentir-se viva.
E faminta.

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Algo salgado estava cozinhando no fogão, e o aroma de cebola e especiarias enchia a


cabana minúscula, trazendo água na boca. Ela não conseguia se lembrar da última vez que
se sentira tão voraz.
Um olhar rápido na cabana não mostrava nenhum sinal de David. Ela achava que
ouvira o trinco da porta quando ele saiu, mas isso poderia ser uma memória distante de
duas ou três horas atrás. O tempo realmente não fluia normalmente quando estava
trabalhando, então ela não podia ter certeza.
Noelle lavou as mãos em um fio de água gelada e espirrou um pouco no rosto para
limpar a areia de seus olhos cansados. Estava cansada, mas também exaltada por seu
sucesso, dando a ela uma espécie de energia nervosa que não chegava a se traduzir no
movimento de seus membros. Sua cabeça estava completamente acordada, mas seu corpo
estava prestes a cair. Ela realmente abusara dele ao longo dos últimos dias. Era hora de
compensar o mau comportamento.
Noelle olhou ansiosamente para a panela fervendo no fogão. Pedaços de cenoura e
aipo e o que ela esperava fosse galinha, e não o Thumper, flutuavam preguiçosamente
através do caldo fumegante.
Ela não tinha ideia de onde estava David, mas com comida no fogão, duvidava que
ele estivesse longe. A ideia de compartilhar uma refeição com ele era atraente o suficiente
para que se dispusesse a enfrentar o frio lá fora e ver se podia encontrá-lo.
Noelle colocou o colete Kevlar e puxou seu casaco por cima para impedir a entrada
do frio. Ela aprendera a lição sobre gritar seu nome, então em vez disso, olhou para as
árvores, procurando sinais para onde ele teria ido.
Não havia neve no chão hoje, mas ela ainda podia ver as impressões superficiais de
suas pegadas no chão e lugares onde o que restou da vida vegetal fora esmagado.
Não tinha ideia de como dizer se as pegadas eram frescas, então dirigiu-se para onde
o encontrou a última vez.
A floresta estava linda, ainda mais verde. Folhas secas rangiam sob seus pés e galhos
quebravam.

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Ouvira histórias sobre pessoas que podiam mover-se silenciosamente na floresta, mas
aqui, começava a duvidar que houvesse muita verdade nisso. Seria preciso um fantasma
para mover-se silenciosamente por todas as folhas secas e os detritos barulhentos.
Owen não fez nenhum som quando se moveu em direção a Noelle. Ele estava
começando a ver porque David estava tão atraído por ela. Havia algo sedutor e fresco sobre
ela – uma básica honestidade em sua aparência desmascarada pelo engano de cosméticos.
Uma mulher honesta era um achado raro e Owen teve que lutar contra o desejo de levá-la
agora.
Não era hora ainda. Seu trabalho tinha que ser concluído antes que ele pudesse
brincar com ela.
A menos que ela chegasse muito perto. Então não teria nenhuma escolha a não ser
levá-la agora.
Owen parou, decidindo deixar o destino escolher. Se ela viesse a ele, então ele saberia
que ela estava pronta para ser sua agora.
O jogo de azar o excitava e seu corpo tremeu em antecipação. Ela estava tão perto - a
apenas alguns metros de distância. Sua camuflagem e o número de árvores e arbustos
escondiam-no de sua visão, mas ele podia vê-la claramente. Cada onda de fogo, um salpico
de sardas. Ela perdera peso desde que chegara aqui, e os círculos escuros sob seus olhos
eram novos, também.
David não estava cuidando muito bem de sua nova mulher. Claramente o homem
não a merecia.
Noelle chegou mais perto, uma expressão pensativa de desânimo. Ela parou e olhou
ao redor, então estudou o chão. Alguns passos mais perto e estaria ao seu alcance. Apenas
dois passos. Silenciosamente, Owen incitou-a para que chegasse perto, sua boca se
movendo com a forma de seu nome.
A cor foi drenada de seu rosto e seus olhos se arregalaram de medo. Ela não tinha
ideia do que temia, e ele sabia que não o tinha visto, mas podia imaginar o que a assustara,
deixando sua face mais bela. Ela era perfeita, aterrorizada e trêmula com a força de seu
medo. Não havia nada mais bonito para Owen que uma mulher aterrorizada.

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Ela fez um pequeno som de choramingo que fez o pau de Owen endurecer em
resposta. Isto era tudo o que podia fazer para controlar-se e não estender a mão para ela e
agarrar seus cabelos até que ela gritasse. Ele tinha certeza de que ela teria uma bela voz
gritando.
Sentiu seus punhos apertarem e fechou os olhos para recuperar o controle sobre si
mesmo. Tinha que pensar no emprego primeiro. Se falhasse com o Sr. Lark, seria
executado como um exemplo para os outros. Owen entendeu que era assim que isso tinha
que ser, mas a compreensão não o confortou. Tinha que parar de babar sobre a mulher,
colocar sua necessidade de vingança contra David de lado e fazer o seu maldito trabalho.
O corpo de Owen cooperou, relaxando mais uma vez. Quando abriu os olhos, viu
Noelle tropeçando de volta para a cabana. O destino o traíra. Noelle o traíra, e ela seria
punida por isso. Owen mal podia esperar.
Ele permaneceu no local até que fosse seguro se deslocar da cobertura das folhagens e
dos membros meio entorpecidos. Foi até o local onde Noelle estivera e tentou descobrir o
que a assustara. Estudou o terreno onde ela olhou.
Não admirava que a coitada tivesse medo. Pressionadas na sujeira estavam várias
pegadas. Duas dos passos pesados de David, uma dos pés delicados de Noelle e um
terceiro par. Não de Owen. Ele era muito cuidadoso para deixar para trás uma prova tão
evidente da sua presença aqui.
O que significava que tinha um visitante.
Owen sorriu. Talvez o destino não o houvesse traído, afinal de contas.

Capítulo 18

—Tem certeza que estava aqui? — Perguntou David, agachado para olhar o chão,
onde Noelle disse ter visto as pegadas. Viu suas pegadas e várias de Noelle, mas isso era
tudo.

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—Tenho certeza, — disse Noelle, embora sua voz vacilasse com a incerteza.
Desde que ela chegara a clareira com aquele olhar de pânico em seu rosto, o sangue
de David estava correndo quente. Ele não se atreveu a deixá-la sozinha na cabana
enquanto verificava suas alegações de novas pegadas. Ele a manteria a seu lado até que
soubesse que era seguro.
—Eu não vejo nada, — disse a ela.
Noelle inclinou-se e apontou. —Bem aqui, — disse ela, apontando para uma seção no
chão coberto de folhas secas.
David cuidadosamente varreu as folhas para ver o que havia nesse pedaço de terra,
protegido do vento pelas raízes grossas de uma árvore, mas não havia nada por baixo,
apenas terra. Estudou a área, à procura de qualquer outro sinal de intrusos, mas não
encontrou nada. Se alguém apagara as pegadas que ela pensou ter visto, fizeram um
trabalho muito bom e não deixara um único vestígio. David já trabalhara com alguns dos
melhores agentes das Forças Especiais, e nunca conhecera alguém que fosse tão bom. Nem
mesmo Grant.
Talvez ela tivesse visto suas pegadas sobre as dele, o que formava um novo padrão.
Um monte de gente cometia o mesmo erro quando começava a aprender sobre
rastreamento.
A voz de Noelle estava fraca, difícil de ouvir sobre o som do vento nas árvores. —Não
estou mentindo para você.
—Eu sei que não. Também sei que você tem trabalhado como louca, não dorme ou
come o suficiente e o estresse pode fazer coisas estranhas com as pessoas. Pode fazê-las ver
coisas que não existem ou interpretar mal as coisas que vêem.
Ela colocou os braços em torno de si mesma, parecendo vulnerável e amedrontada.
—Você acha que essas pegadas eram alguma espécie de alucinação?

David não viu nada fora do lugar, não sentiu nenhum sinal de algo errado que não
fosse sua preocupação persistente com Noelle. Ele fora meticuloso em sua patrulha da área
e nenhuma de suas medidas de segurança tinham disparado. Sabia que ela não mentiria

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para ele, mas ninguém podia suportar o tipo de pressão em que ela estava e não quebrar
um pouco.
David puxou-a para seus braços, necessitando acalmá-la e tirar o seu medo. —Eu
acho que você viu alguma coisa, mas não acho que foi nada para se preocupar.
—Eu não posso suportar a ideia de não ser capaz de confiar em minha própria mente.
Meu cérebro é tudo que tenho.
A declaração era tão ridícula que David teve que lutar contra o desejo de passar a
próxima hora listando todos os seus atributos. Ela era corajosa, solidária, honesta, tão linda
que fazia seu peito doer. Ele desejava saber como lhe mostrar o quanto ela tinha a oferecer,
mas tudo o que sabia era aliviar o medo. —Seu cérebro está bem. Apenas sobrecarregado.
—Se eu não puder confiar em minha própria mente... —Ela se agarrou a ele com uma
sensação quase palpável de desespero.
—Pode confiar em mim. Vou mantê-la segura. — Ele tinha que manter. Não podia
sequer pensar em qualquer outra possibilidade. Tinha que fazer qualquer coisa para
protegê-la, mesmo que significasse admitir que não podia fazê-lo sozinho.
David precisava de ajuda. Havia muito terreno para cobrir aqui sozinho, e ele não
conhecia nenhum lugar melhor para levá-la, agora que todas as casas seguras estavam
potencialmente comprometidas. E se ela estivesse certa sobre essas pegadas, e houvesse
alguém na floresta com habilidade suficiente para escapar à sua detecção, estavam em mais
problemas do que ele pensava.
Havia apenas dois homens na face do planeta em quem confiava o suficiente para
ajudá-lo a proteger Noelle. Caleb e Grant. Odiava afastá-los de suas funções, mas odiava a
ideia de prejudicar Noelle se não o fizesse. Quando David deixara o Delta, Caleb lhe fizera
memorizar um número de telefone que ele poderia chamar a qualquer hora, dia ou noite.
Embora eles nunca dissessem isso, David sabia que Caleb e Grant estavam preocupados
que ele se mataria depois do que aconteceu com Mary. Prometeram que se ele chamasse,
eles viriam. Sem fazer perguntas.
Não tinha certeza se o número ainda funcionava depois de dois anos, mas era sua
melhor chance de manter Noelle segura.

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Até o momento que entraram de volta na cabana, Noelle tinha certeza que estava
ficando louca. Ela viu aquelas pegadas. Ou pensou que as viu, mas não havia dúvidas que
não estavam lá agora.
David estava certo. Ela estava sob muito estresse. Pena que não houvesse nada que
mudaria isso logo, para aliviá-la.
—A comida vai ajudar, — disse ele, oferecendo-lhe uma tigela fumegante de sopa
que ele fez.
—A essa altura, vou tentar qualquer coisa. — Ela tirou seu trabalho da pequena mesa
para que pudessem sentar e comer.
—Dormir seria uma boa ideia, também. — Sua voz era baixa e suave. Assim como os
médicos falavam com as pessoas loucas.
—Sim. Vou tentar. — Mas ela não fez nenhuma promessa.
Ela terminou a maior parte de sua refeição sob o olhar vigilante de David. Não tinha
certeza do que ele procurava, mas a sua constante atenção estava fazendo seu corpo
esquentar e sua mente vagar para o reino proibido do gosto de sua boca contra a dela. O Sol
entrava pela única janela empoeirada e brilhava em estilhaços de prata em suas têmporas,
as sombras profundas fazendo seu rosto parecer mais angular, seu maxilar amplo.
Sua expressão era tão solene e ela desejava saber como fazê-lo sorrir - como fazê-lo rir.
Ele foi para o fogão para encher seu prato com mais sopa. —Quer mais? —
perguntou a ela, procurando o seu olhar com aqueles olhos azuis.
Mais dele? Sim. Queria beijá-lo novamente, certificar-se que o calor crescente que ele
acendera dentro dela não era apenas sua imaginação, também. —Não, obrigada.
—Vou lá fora, em seguida, tentarei dormir um pouco. Estarei de volta em um
minuto.
—É uma boa ideia. Não esqueça seu colete, — lembrou ele.
Noelle colocou o colete e puxou o casaco. O céu estava claro e azul, mas o vento estava
frio. Ela fez uso rápido das instalações precárias e estava voltando para dentro, para o
relativo calor da cabana quando algo a fez parar. Não tinha certeza se era um barulho que

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ouviu, ou a floresta tranquila sob o som do vento através dos ramos, ou se era apenas sua
imaginação, mas Noelle se virou e procurou nas árvores para descobrir o que a assustara. O
medo umedeceu as palmas das mãos e tinha certeza que podia ouvir o som de seu coração
disparado, mesmo através de seu casaco pesado.
Era apenas sua imaginação de novo. Isso era tudo. Assim como essas pegadas. Ela
com certeza não iria correr para David com alegações de fantasmas na floresta novamente.
Os ramos de baixo de um arbusto próximo se mexeram de repente, como se alguém
tivesse andado por eles, voltando ao lugar depois. Noelle sentiu o corpo se contrair com o
terror. Não era sua imaginação. Não desta vez.
Ela queria correr, mas suas pernas estavam pesadas, travadas no chão. —David!
Ele estourou fora da cabana com uma arma grande e preta na mão. Não se
preocupou em vestir o casaco ou colete Kevlar. —Você está bem?
—Eu, uh, ouvi alguma coisa. Eu acho. Ouvi algum movimento nos ramos.
—Onde?
—Noelle apontou para o local, e David colocou-se entre os ramos e ela.
—Vá para dentro e fique abaixada— ele ordenou.
As pernas de Noelle estavam pesadas, mas pelo menos desta vez elas se moveram
quando pediu. David não usava o colete e ela não queria deixá-lo aqui sem ele. Ela correu
de volta para a cabana e agarrou-o no prego perto da porta.
Quando abriu a porta para trazê-lo para ele, sua voz a atacou, fria e dura. —Não se
atreva a vir aqui.
—Eu não tenho a menor chance de sobreviver sozinha, se você se matar. — Apenas o
pensamento dele ferido foi suficiente para fazê-la suar frio. —Além disso, provavelmente
era apenas um animal.
—Eu não vou correr nenhum risco.
—Nem eu, — disse ela, levando o colete para ele. Ela não se esconderia na cabana
quando havia algo que podia fazer para ajudá-lo a permanecer seguro.

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Sua mandíbula estava apertada com raiva, mas ele a deixou colocar o colete sobre os
seus ombros largos, enquanto mantinha a arma em suas mãos. —Mostre-me exatamente
onde você viu o movimento.
Noelle apontou para os arbustos à direita do Bronco. —Bem aqui.
Os arbustos balançaram novamente, e David a empurrou para trás com um braço,
enquanto apontava a arma para os ramos. —Volte para dentro, — ele ordenou, em uma
voz que ela tinha certeza, fazia homens crescidos saltarem para obedecer.
Antes que Noelle pudesse voltar, um cervo disparou pela clareira, desaparecendo nas
árvores frondosas do outro lado.
O coração de Noelle martelou e ela tinha um aperto de morte no braço de David.
—Apenas um veado. — O alívio era claro em seu tom. —Para estar seguro, eu vou
dar uma olhada e quero você de volta lá dentro. Vai ser apenas um minuto.
Noelle odiava deixá-lo sozinho, mas sabia que não tinha utilidade para ele agora.
Esta era a sua área de especialização, e tudo o que ela podia fazer para ajudar era ficar
fora de seu caminho. Voltou para dentro da cabana, odiando um pouco mais a construção
resistente a cada segundo.
Encontrou a arma que David lhe deu e deixou-a cuidadosamente a seu lado,
mantendo os olhos fixos na porta da cabana. Suas mãos tremiam muito e mal confiava em
si mesma que não fosse acertar David quando ele voltasse. E ele voltaria. Era apenas um
cervo. Tinha que acreditar nisso.
Os segundos passavam lentamente. Sua pulsação batia dolorosamente em suas
têmporas, e o som áspero de sua respiração parecia muito alto na cabana vazia. Os
segundos se transformaram em minutos, e embora sua respiração desacelerasse, a
adrenalina ainda corria penosamente através de sua corrente sanguínea, fazendo-a suar.
Retirou seu casaco, mas deixou o colete por cima. David tinha seu colete também. Pelo
menos isso conseguiria protegê-lo um pouco.
Os passos pesados de botas soaram do lado de fora, e Noelle colocou a mão sobre a
arma, apenas por precaução. Não se atreveu a se debruçar sobre a facilidade com que sua
mente se inclinava para violência como solução. Tinha certeza que isso a fazia uma

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hipócrita, mas não se importava com nada tão trivial quando David ainda estava lá fora,
sozinho.
—Sou eu, — disse David , antes que entrasse pela porta. —Não havia ninguém lá
fora. Cervos. Apenas isso.
Noelle apenas bebeu a visão dele, agradecida que ele voltara em um pacote só e não
aos pedaços. Ele estava lindo.
—Você está bem? — ele perguntou, sua voz suave.
Noelle assentiu. —E você?
Ele abriu os braços grossos, colocando-se em exposição. —Nem um arranhão.
—Isso é bom.
—Você parece um pouco abalada, — disse ele, seus olhos examinando-a com aquele
olhar cauteloso e preocupado que a fazia pensar que estava questionando sua estabilidade
mental. Ele checou a trava na sua arma e deslizou para fora de seu alcance. Não era um
bom sinal.
—Eu realmente achava que havia alguém lá fora. Acho que agora são duas vezes que
eu deixei minha imaginação voar. — Ela se sentia como uma garota boba que saltava com
sua própria sombra.
—Você fez a coisa certa quando me chamou.
—Mas era apenas um veado.
—Não importa. Poderia ser alguém que queria prejudicá-la. Melhor prevenir que
remediar.
—Eu me sinto como uma idiota.
A mão de David enrolou em torno de seu pescoço e puxou seu rosto perto de sua
testa até tocá-la. Ela podia ver a mancha cinza em seus olhos azuis quando ele derrotou-a
com um olhar firme e sincero: —Você não é uma idiota. Você e eu somos uma equipe.
Vamos ficar juntos e tudo ficará bem. Você confia em mim...?
—Sim, — ela sussurrou e passou a língua sobre os lábios secos.
Seus olhos focaram no movimento e ela viu suas pupilas se expandirem, sentiu seus
ombros subirem com uma entrada súbita de ar. Ele ia beijá-la e ela não conseguia pensar

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em nada que quisesse mais. Se iria morrer em poucos dias, queria ir sem arrependimentos,
e perder a oportunidade de beijar David novamente seria definitivamente digno de
arrependimento.
Ele tomou seu rosto entre suas mãos quadradas, calejadas. Seu estômago e seu
coração saltaram à vida, batendo ruidosamente contra suas costelas. Ela podia sentir a onda
de adrenalina deslizando através de suas veias, misturada com os hormônios que
deixavam seu corpo quente e macio. Estremeceu quando seu calor afundou em sua pele e
fechou os olhos para que pudesse simplesmente sentir.
O primeiro contato dos seus lábios foi suave, quase terno, nada como a pressão
desesperada de sua boca durante o seu primeiro beijo. Ele persuadiu os lábios a se
separarem e ela acolheu-o ansiosamente em sua boca, provando a sua excitação espelhada
nele. Sua língua varreu o lábio inferior, provocante e brincalhão, antes de acariciar
ousadamente sobre os dentes.
Ele levantou-a e ela podia sentir a força constante de seus braços em torno dela. Um
som baixo, carente, retumbou em seu peito e pôde senti-lo vibrar nas pontas de seus seios,
fazendo seus mamilos ficarem duros e apertados. Suas mãos deslizaram de sua face para
sua garganta e ombros, onde estavam agarradas como se indecisas sobre qual seria o
melhor curso de ação.
Noelle não teve problemas em decidir. Ela deixou as mãos vagarem sobre seus
ombros, peito e pela cintura para chegar as suas costas e sentir a força suave dos músculos
logo abaixo da linha de seu colete.
A sensação dele sob seus dedos era tão boa - ele era forte, sólido e tão quente. Pela
primeira vez em dias, não sentiu frio em seu âmago ou suor de medo. O simples prazer de
apenas estar quente fazia sua cabeça girar.
Sua mão deslizou mais baixo, espalmando sobre a bunda dele. Serpentinas de prazer
atravessaram seu torso e se estabeleceram em felizes nós se contorcendo abaixo em sua
barriga.
Ela suspirou em sua boca, revelando como se sentia bem tocando-o, a mão
posicionada tão intimamente.

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Aquele som áspero que emanava de David se aprofundou quando ele puxou-a para
frente para que ela pudesse sentir claramente o cume de sua ereção dura contra seu
abdômen. Num cantinho de sua mente deixado para o pensamento racional, ela percebeu
que isto certamente em nada se comparava com sua experiência com Stanley.
Um gemido breve e fraco de necessidade feminino encheu o ar da cabana e David
separou seus corpos. Seus olhos estavam quase pretos com luxúria e seu peito doía pela
respiração difícil. —Temos que parar, — ele ofegou.
Noelle ouviu as palavras que ele disse, mas demorou alguns segundos para processá-
las em algo que pudesse entender. —Por quê? —Foi tudo o que conseguiu dizer.
O olhar dele se arrastou até sua boca e ele lambeu os lábios como se a degustasse sobre
eles novamente. —Porque isto não pode acontecer.
—Não pode?
Ela sentiu suas mãos tensas contra seus braços e não pode suprimir um arrepio de
prazer.

Suas narinas inflaram e ele apertou a mandíbula. —Eu não posso me concentrar no
meu trabalho quando estamos assim. Tudo o que posso pensar é em seu gosto, em como
você é gostosa.
—E isso é ruim, certo? — Sua voz soou distante, fraca e sem fôlego.
David amaldiçoou e fechou os olhos. —É bom. Tão malditamente bom que poderia
nos matar. Não posso me permitir essa distração agora.
O calor da paixão lânguida estava começando a desaparecer em face da realidade.
Custou cada grama de força de vontade que possuía, mas ela conseguiu tirar as mãos
de seus braços e ficar sozinha. Seus joelhos tremiam e todo sangue de seu corpo parecia ter
sido drenado e substituído por serragem. Estava tão fraca que mal conseguia ficar de pé,
mas encontrou forças para assentir. —Nenhum de nós tem qualquer espaço para
distração. Vou voltar ao trabalho.

Owen encontrou o visitante naquela noite jantando fora de uma barraca minúscula.

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Era um garoto que não tinha vinte anos ainda. Seu cabelo curto loiro estava
descoberto e capturava a luz da lua, e o tolo ainda foi realmente estúpido para acender uma
fogueira.
Amador.

Owen pressionou o cano da arma contra a parte posterior do crânio do jovem. O


prato de cozido que ele estava comendo caiu no chão em uma poça desleixada, e o rapaz
levantou as mãos lentamente.
—Por que você está aqui? — perguntou Owen.
—Acalme-se, cara. Eu estou apenas acampando. — Sua voz era rachada como a de
um adolescente à beira da puberdade.
—Minta para mim outra vez e você não vai viver tempo suficiente para se
arrepender. Qual é seu nome?
O jovem endureceu e suas mãos começaram a tremer. —Brian Lorenz.
—Por que está aqui, Brian Lorenz?
—Eu fui enviado para cá.
Os dedos de Owen no gatilho ficaram tensos. —Enviado? Por quem?
—O Sr. Lark me enviou. Disse que eu poderia encontrá-lo aqui, ou melhor, você me
encontraria. Disse que eu nunca o encontraria, mas se você me encontrasse, eu deveria
dizer-lhe para apressar-se como o inferno.

Agora eles estavam chegando a algum lugar. Ou o chefe de Owen o estava testando
ou testando o menino. Talvez ambos. —Por que ele o enviou? Ou você é apenas um garoto
de recados?
O Sr. Lark comumente enviava tolos como este menino em missões impossíveis. Se
eles não conseguiam, havia um idiota a menos do mundo, e se conseguiam, ganhavam
um ponto cobiçado dentro das fileiras do Swarm. No ano passado, apenas sete pessoas
receberam um convite, e dezenas morreram em um esforço para ganhar um. O Sr. Lark
era seletivo e só permitia os mais dedicados e qualificados em sua organização. Ele

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acreditava que todos deveriam ganhar o seu lugar no mundo e Owen estava ao lado do Sr.
Lark, ajudando-o a dirigir o Swarm para cumprir seu verdadeiro potencial. Owen não
deixaria esse garoto idiota bagunçar tudo.

—Estou aqui para ganhar o meu convite para o grupo.


—O grupo? — Perguntou Owen, forçando a questão soar suave.
A voz de Brian caiu para um sussurro conspiratório. —O Swarm.
Owen deu um tapa na nuca de Brian com a mão livre, fazendo com que Brian
gritasse com dor. —Nunca diga o nome de novo, — ordenou Owen.
Brian moveu o braço como se fosse esfregar o local, mas sabiamente parou a si
mesmo. —Eu entendi, cara. Legal.
Legal. A criança não tinha claramente o conceito de quem era Owen dentro da
organização - praticamente a mão direita do Sr. Lark. Se Owen tivesse o luxo do tempo e
uma sala com isolamento acústico, teria gostado de Brian mostrar quais habilidades
especializadas ele traria para o Swarm. —Quais são suas ordens?
—As mesmas suas. Mate o homem. Traga a mulher viva, juntamente com todo o seu
trabalho.
—E você acha que é um homem melhor para o trabalho?
Brian hesitou, e Owen encorajou-o a responder à pergunta, pressionando o cano de
sua pistola mais firmemente contra o crânio do menino.
—Ele disse que poderia haver concorrência.
—Uma concorrência? Você acha que tem classe para competir comigo?
—Acho que vamos ver. — Era um desafio. O menino era na realidade arrogante,
propondo-lhe um desafio.
A coisa mais fácil a fazer era apenas puxar o gatilho e resolver o assunto.
Menos um idiota no mundo. Mas o tiro faria barulho e sujeira e Owen não tinha
paciência para limpar esse tipo de bagunça hoje à noite.
A presença de Brian era um problema, mas talvez também fosse uma bênção
disfarçada. Um presente do Sr. Lark por seus anos de serviço fiel.

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A mente de Owen começou a se agitar com as ideias de como poderia usar o menino.
Sua juventude era um importante recurso. Iscas jovens sempre eram melhor para puxar os
instintos de pais que ele sabia, tanta gente possuía.
—Talvez devêssemos trabalhar juntos, — Owen ofereceu.
—Não é contra as regras ou algo assim? Quero dizer, se você me ajudar, então eu
realmente não ganho o convite para o Sw-uh, grupo, ganho?
—Eu lhe asseguro que o Sr. Lark não se importa como o trabalho é feito desde que ele
seja feito.
—Portanto, não vai estragar as minhas chances de entrar?
Idiota crédulo. Era surpreendente o menino ter vivido tanto tempo. —Não. Na
verdade, o Sr. Lark achará inteligente fazermos parceria.
—Você o deixará pensar que a ideia foi minha? — perguntou Brian, muito ansioso.
—Por que não? Eu já ganhei meu lugar.
—De verdade? Você não está me sacaneando?
Owen revirou os olhos, feliz que estava atrás de Brian de modo que o garoto não
podia ver o seu desgosto. Se Brian era tão crédulo, Owen estava fazendo um favor ao
mundo por se livrar dele.
Owen abaixou a arma e entrou na fogueira deixando o rapaz ver suas cicatrizes. Brian
se encolheu. —Puta merda! Isso é duro.
O dedo de Owen no gatilho se contraiu, mas ele se manteve no controle. —Você não
tem ideia. Agora apague o fogo antes que David o veja e você consiga nos matar.

Capítulo 19

Noelle soltou um suspiro de alívio assim que teve certeza que David estava
dormindo. Ela foi incapaz de se concentrar com ele olhando para ela através do quarto,
mesmo quando fingia que não.

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Ele estava lindo com as sombras fracas sobre sua mandíbula forte e ombros
musculosos. Parecia confiante e capaz, até mesmo durante o sono, e tinha uma presença
que podia encher uma sala de aula. Na cabana minúscula, Noelle estava se sentindo um
pouco sobrecarregada. Especialmente após aquele beijo. Precisava desesperadamente
terminar seu trabalho para que pudessem sair deste lugar.
E ir para onde?

Noelle deixou-se pensar sobre o que faria depois - depois que resolvesse este quebra-
cabeça, depois que estivesse sã e salva, depois que David pegasse seu feliz – ou talvez não
tão feliz - caminho.
Esse pensamento fez congelar o ar em seus pulmões. Depois de passar tanto tempo
com David, percebeu que não queria que ele se fosse. Tão grande quanto sua presença era,
era um conforto saber que estava por perto. Ela podia não se sentir segura sobre sua atração
por ele, mas certamente se sentia a salvo de todo o resto.
Ele já dissera que ela não poderia voltar à sua vida normal. Quando ela voltasse, ainda
teria que se preocupar que alguém invadisse sua casa à noite? Teria que se preocupar com
terroristas armados procurando sua ajuda? Teria que se preocupar com todas essas coisas
sem David ao seu lado para torná-las mais fáceis?
O pensamento era demais para lidar e ainda conseguir fazer o trabalho, assim ela o
encaixotou e empurrou para a parte mais profunda de seu cérebro - a mesma reservada
para os pagamentos do empréstimo estudantil, ao fim de sua carreira, pela qual trabalhara
tanto.
Noelle serviu-se de uma xícara de café, que estava forte e abençoadamente quente. A
comida no seu estômago evitou que a coisa preta abrisse um buraco em seu intestino. Ela
comera o que David colocara na sua frente, e se sentia mais forte com isso. É claro, uma
barriga cheia trazia sono, mas era algo que ela podia suportar. Muitas sessões de fim de
noite se abarrotando asseguraram essa habilidade a seu repertório.
Normalmente, ela não tomava muitas notas enquanto estava trabalhando em um
problema. Então, novamente, geralmente, tinha tempo de sobra para deixar que a solução

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viesse a ela, e ela não estava sob tanta pressão. Desde que sua mente começara a se rebelar
em manter todos os pensamentos necessários para resolver um código tão complexo,
começou a tomar notas, a fim de lembrar todos os pensamentos que passaram por sua
cabeça.
Quase encheu um caderno com rabiscos, e cada vez que uma de suas ideias não dava
certo, ela voltava para as notas para uma nova solução possível. Infelizmente, as notas que
precisava lembrar agora foram rabiscadas nos braços de David naquele dia.
Com um grito silencioso de frustração, Noelle deslizou para fora de seu casulo quente
e acolchoado, com meias nos pés, e foi para onde David dormia.
A luz da lanterna esta baixa, mas parecia brilhante no canto escuro deste lado da
cabana. Ela podia ver claramente a linha angular do rosto e da mandíbula, sombreado por
um novo crescimento de barba. Seu cabelo escuro brilhava com estilhaços de prata
concentrados nas têmporas. Ele estava deitado de lado em cima de seu saco de dormir, sua
pistola com fácil acesso. A posição fazia seus ombros largos parecem ainda maiores
quando comparados à extensão estreita de seus quadris. Mesmo no relaxamento profundo
do sono, ele parecia forte. Perigoso.
Noelle abafou um pequeno arrepio feminino de desejo. Se ao menos ele não tivesse
parado de beijá-la, ela poderia ter descoberto como seria viver essa experiência com um
homem que parecia uma esteira, íntimo e pessoal.
Muito pessoal.
Tomando cuidado para não mexê-lo mais que necessário, Noelle desabotoou sua
manga e trouxe o braço para seu colo, onde poderia ler suas notas na tênue luz da lanterna.
Teve que se esforçar para tirar a flanela da circunferência muscular de seu antebraço. Não
era uma tarefa fácil, lutando com o peso morto do braço, mas conseguiu colocá-lo em uma
posição onde podia se debruçar sobre seu colo e ler as notas que fizera.
Ficou surpresa por não tê-lo acordado. Talvez ele estivesse mais cansado que
admitira.
Ela correu um dedo levemente sobre a escrita, lembrando agora o descarrilamento do
trem de seus pensamentos quando a inspiração surgira. Ela estava certa - isto não era um

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código, pelo menos não exatamente, era mais como uma esteira de sistemas que poderia
ser usado para criar um texto cifrado que poderia ser decifrado. Tanto o texto quanto a
chave para desvendar estavam escondidas dentro dessa única página. O texto no papel era
uma série de equações simultâneas amarradas juntas, mas onde terminava uma e
começava a próxima, ela não podia ter certeza. Sem isso, não havia esperança de descobrir
a solução.
Noelle mordeu o lábio, profundamente concentrada. Se essa teoria estivesse certa, e
seus instintos lhe diziam que estava, ela estava quase fazendo o gol.
Tudo o que tinha a fazer era manter sua mente em seu trabalho e se desligar do corpo
musculoso de David, dormindo.

David viu Noelle através de uma fenda minúscula de suas pálpebras. Rezou para
que ela achasse que ele estava dormindo, concluísse logo essa coisa de tocá-lo e fosse
embora antes que ele fizesse algo estúpido e começasse a beijá-la novamente. Se ele
começasse, não achava que seria capaz de parar neste momento.
Ele sabia como fingir dormir e fez isso agora com cada pingo de habilidade que
possuía. Era fácil manter a respiração profunda e regular. Seu batimento cardíaco era
inteiramente outra questão. Isso era tudo o que podia fazer para permanecer imóvel
enquanto ela acariciava sua pele com um único dedo delgado, deslizando-o
carinhosamente sobre a parte inferior sensível de seu braço enquanto seguia a linha dos
rabiscos de suas notas.
Todos os tipos de pensamentos perdidos atravessaram sua mente sobre como seria
se ela o tocasse tão gentilmente em outros lugares mais sensíveis. Ele, claro, retribuiria o
favor especial. Ele era um cavalheiro, afinal.
Não, não, não. Não iria pensar em tocá-la. Não iria pensar sobre como seria seu corpo
esguio nu, colocando-se diante dele como uma espécie de deliciosa sobremesa - uma
mistura de morango doce e vermelho, e branco cremoso. Não iria pensar sobre como seria
sua pele sob seus dedos curiosos, todas as curvas quentes e macias. Não iria pensar se ela
tremeria com seu toque ou se gemeria baixinho do fundo da sua garganta. Talvez os dois.

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O fogo subindo pelas veias de David aumentou o ritmo de seus pensamentos


indesejáveis, fazendo seu coração bater mais forte. Não foi difícil ficar sem uma mulher por
dois anos. Por que era tão impossível agora, de repente até respirar sem desejar fazer sexo,
duro e quente com Noelle?
Seu lábio inferior estava entre os dentes e ele queria tanto beijar aquele olhar de
concentração em seu rosto que fazia seu corpo doer apenas por resistir à vontade.
A luz da lanterna polia seus cachos com um cobre cor de fogo e banhava sua pele
com reflexos dourados. Ela era bonita à luz do fogo. As marcas de fadiga e tensão foram
lavadas pelo brilho suave, deixando para trás apenas a sua beleza natural. Assim é que ela
devia parecer quando não havia pessoas querendo matá-la. Quando não tinha a vida de
inúmeras pessoas em suas mãos.
Ela franziu a testa em concentração e pegou seu outro braço, que estava preso sob a
cabeça, como um travesseiro. Ela deve ter percebido que não poderia libertar o seu braço
sem mover a cabeça, então ela hesitou, e, em seguida, delicadamente acariciou o lado de
seu rosto.
—David? Você pode virar?

Seus dedos frios acariciaram seu rosto da têmpora até a mandíbula, mais e mais. Ele
fingiu que dormia apenas para que pudesse ser acariciado, mesmo não havendo uma
única parte dele que não estava completa e amplamente acordada.
Ela passou a mão em seu cabelo, onde brincava com os fios curtos, como se apreciasse
a textura. —David ? — Ela sussurrou.
Noelle inclinou-se e ele pode sentir o cheiro sutil de sua pele e o calor do seu corpo
perto dele. Seus olhos estavam completamente fechados agora, e ele teve apenas o aviso de
um hálito quente contra seu pescoço antes que percebesse o que ela estava fazendo.
Seus lábios passaram por sua pele logo abaixo da orelha, em um beijo suave. Era uma
de suas zonas erógenas pessoais, e a sensação da boca dela empurrou sua luxúria além do
ponto suportável. A calça jeans se tornou dolorosamente apertada, restringindo o seu pau.
Ele era um homem, não um santo, e Noelle acabara de encontrar o seu limite.

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Ele agarrou seu corpo e puxou sua boca, engolindo seu suspiro assustado no meio de
um beijo exigente. Ela abriu a boca para ele, ansiosa e derretendo em segundos.
Ele não se importava mais em estar quebrando regras ou correndo riscos. Ele fez tudo
o que podia para resistir a ela e nada funcionou.
Ele puxou sua boca para longe dela e com um golpe poderoso de quadril a derrubou
abaixo dele no saco de dormir. Podia sentir a expressão selvagem em seu rosto, mas não
havia nada que pudesse fazer para controlá-la.
Sua voz estava baixa e áspera, quase estranha, mesmo a seus próprios ouvidos. —
Diga-me que você não vai se arrepender mais tarde, — ele exigiu.
A boca dela abriu-se, molhada em um convite, tornando quase impossível para ele
manter um pensamento racional para aguardar pela resposta - sua concordância. Seus
olhos eram uma profunda floresta verde com o brilho triunfante de uma mulher que
estava prestes a conseguir o que tão desesperadamente queria. Podia sentir seu tremor
abaixo dele, embora se de antecipação ou medo, ele não tinha certeza.
Ela ergueu o queixo e olhou diretamente nos seus olhos, lambendo os lábios, —Sem
arrependimentos, — ela prometeu na voz sussurrada, e ele sabia que ela dizia a verdade.
Era o suficiente.
David soltou seu controle e beijou sua boca macia com cada grama de reprimida
frustração sexual e desejo que ele guardou por dois anos. Ela aceitou sua ferocidade e
suspirou em sua boca, as mãos carentes buscando suas costas e ombros.
A língua dele impulsionou dentro de sua boca, sentindo o gosto de sua aceitação.
Suas mãos encontraram seu caminho sob as camadas de roupas até espalmar seus seios.
Seu mamilo aumentou e ele podia sentir a ânsia afiada através do tecido fino de seu sutiã,
exigindo o toque de pele contra pele.
Ele tinha que sentir seu corpo nu contra o dele, sem nada entre eles, apenas a luz da
lanterna. Ela estava com tantas malditas roupas que levaria um ano apenas deixá-la nua.
Seus dedos não cooperavam, tremiam com a necessidade e uma pitada de nervosismo.

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David não ficava nervoso com uma mulher desde que tinha quinze anos. Inferno, ele
não tinha sequer certeza que fosse possível ficar tão nervoso, mas, aparentemente, Noelle
fazia um monte de coisas possíveis.
Ela arqueou e se contorceu debaixo dele, seus dedos finos trabalhando nos botões de
sua camisa de flanela enquanto sua boca pressionava beijos quentes e molhados ao longo
de seu pescoço. —Você tem um gosto tão bom, — ela murmurou contra sua pele.
A mandíbula de David apertou lutando contra a vontade de apenas deslizar os seus
jeans e tomá-la duro e rápido. Tinha certeza que duraria talvez dez segundos uma vez que
estivesse dentro dela.
Forçou-se a se concentrar e apenas os anos de treinamento militar concederam a seu
cérebro um espaço para funcionar. Tirou sua camiseta pela cabeça, fazendo seus óculos
deslizarem pelo chão de madeira. A segunda camisa saiu com menos esforço e ele tirou a
última antes que seus lábios encontrassem sua pele novamente.
Levantou seu queixo para um beijo, persuadindo-a a abrir a boca para ele. Ela não
hesitou e sua língua ansiosa dançou com ousadia contra a dele. Os pequenos gemidos
provenientes de sua garganta o deixaram selvagem, forçando o pensamento racional
direto para fora de sua cabeça.
De alguma forma, ele se lembrou de como tirar o sutiã de uma mulher com uma
mão. A outra mão não podia esperar para sentir a pele macia de seu seio contra a palma.
Seus mamilos estavam apertados, implorando por atenção, e ele não pôde resistir ao gosto
dela. Correu a língua sobre a ponta rosada, e Noelle sussurrou em resposta.
—Mais, — ela implorou, com a voz baixa e sem fôlego nos confins da pequena
cabana.
David sugou seu mamilo, deleitando-se em sua carne sensível. Ela arqueou abaixo
dele, apertando as mãos em punho em sua camisa.
Nesse ritmo, ele gozaria antes de tirar as calças, se não abrandasse. Cada resposta que
ela dava era como jogar fluido inflamável sobre seu desejo ardente.

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Seus dedos desataram seus jeans e o puxou, legging e calcinha, tudo junto em um só
movimento. Não fosse a alça de seu sutiã num ombro fino, que ainda estava pendurado
livremente sobre um braço do outro lado, ela estaria completamente nua.
David não se atreveu a olhar para ela toda nua e colocou-a diante dele. Ele sabia que
não teria forças para isso, nesse momento. Precisava estar dentro dela, duro e profundo.
Ele fez um rápido trabalho nos botões que restaram para enviá-los voando pela sala
quando arrancou sua camisa e camiseta.
Os olhos verdes escurecidos focaram em seu peito nu e ela soltou um suspiro
feminino de aprovação. Dedos finos deslizaram pelo seu cabelo escuro, procurando o calor
da pele por baixo. Suas unhas curtas rasparam em sua pele como se testando a textura do
músculo subjacente.
Sua aliança de ouro, que ele usava em uma corrente em volta do pescoço pendia
sobre ela, dando a David um momento de pausa. Ele não podia pensar nisso agora. Não
agora. Antes que os pensamentos de Mary pudessem invadir, ele se concentrou em Noelle.
Sua boca estava molhada e inchada, e havia um profundo rubor que se espalhava ao
longo de seu peito, descendo em direção a seus seios. David não conseguiu impedir-se de
tomar sua boca de novo em um beijo profundo e possessivo. Sua língua impulsionou
dentro de sua boca em um ritmo inconfundível. Em resposta, seus quadris pressionaram
contra ele, ansiosa e inquieta.
A mão de David moveu-se para baixo em seu torso, sobre seu estômago pálido, e
seus dedos separaram os cachos vermelhos e úmidos, entre as coxas. Ela estava
escorregadia e quente contra seus dedos, arqueando as costas e as pernas abertas para
persuadir seu contato a se tornar mais íntimo.
David agradeceu. Ele deslizou um dedo longo devagar dentro dela. Ela estava
apertada. Quente. Molhada.
Ela gemeu em sua boca e as unhas afundaram em seus ombros. Seu corpo balançou
ansiosamente debaixo dele, mas ele pressionou o seu peso para baixo, de encontro a ela,
para mantê-la quieta.

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Suor deslizou ao longo de sua têmpora quando ele tentou chutar o seu cérebro para
funcionar. Ele não queria estragar isso. Ele queria que fosse bom para ela. Tão bom para que
ela quisesse mais.
Porque Deus sabia que uma vez não chegaria de forma alguma perto do suficiente
para saciá-lo - não com uma mulher que ele queria tanto como queria Noelle.
Seus músculos cerraram-se em torno de seu dedo, apertando-o firmemente.
Imediatamente, sua mente desligou e os instintos assumiram completamente. Em algum
lugar no fundo de sua mente, ouviu-se dar um rosnado profundo, um som que parecia
completamente desconhecido. Empurrou seu jeans para baixo, apenas o suficiente para
libertar-se, pressionou as coxas de Noelle e as afastou e deslizou sua ereção dentro dela em
um impulso longo e lento.
Noelle soltou um som agudo que poderia ser prazer ou dor. Ele não tinha ideia e não
conseguia fazer sua boca formular as palavras para perguntar. Estava perdido nas garras
quentes de seu corpo, onde ela se encaixava como se fosse feita sob medida apenas para ele.
Ele se manteve imóvel, enterrado tão profundamente que podia sentir sua pulsação
batendo duas vezes mais rápido, assim como a dele. Ele já estava no limite de um orgasmo
e sabia que se ele se movesse agora, estaria perdido.
Abaixo dele, sentiu o corpo delgado de Noelle relaxar um pouco. Sua respiração era
rápida e podia sentir cada respiração quente e macia em seu ombro.
Ele lutou para recuperar algum tipo de controle sobre seu desejo, mas era uma
batalha perdida. Noelle esticou os joelhos num convite, permitindo que David deslizasse
algumas polegadas mais fundo. David sibilou, mas Noelle fez um som doce de prazer e
mexeu seus quadris em um esforço para fazê-lo mover-se contra ela.
David não precisava de mais persuasão. Ele simplesmente soltou as rédeas de seu
autocontrole e se permitiu sentir. Cada centímetro do movimento escorregadio levava-o
mais perto do limite até que ele estava desesperado com a necessidade de gozar. Seu corpo
agarrava-o carinhosamente, aceitando suas estocadas urgentes com o calor macio e
maleável. Ele queria que ela gozasse com ele, mas não podia esperar. A necessidade
aumentou com força, atacando-o, fazendo-o perder a cabeça.

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Suas mãos agarraram seus quadris, dobrando-os para que pudesse dar a estocada
final mais profundamente. O prazer era tão intenso que doía e varreu seu corpo como uma
tempestade de raios quando ele gozou duro, enterrado até o cabo dentro de Noelle.
Por longos momentos, tudo o que pôde fazer foi respirar aos trancos com o prazer
atravessando seus membros. Ele sabia que estava esmagando Noelle, mas não era capaz
de fazer seu corpo se levantar. Mãos macias e amorosas acariciavam suas costas, enquanto
seu corpo amortecia o dele.
Finalmente, o pensamento consciente voltou, e com ele veio a culpa. —Sinto muito,
Noelle. — Sua voz era áspera e seca, e ele engoliu com esforço para trazer alguma umidade
para a boca.
Queria explicar-lhe que passara anos desde que fizera sexo e que não era
normalmente tão rápido para gozar. Queria prometer uma retribuição disso a ela. Com
juros.
Mas tudo o que podia fazer era se recuperar do orgasmo mais poderoso de sua vida.
Ele ainda estava semi duro dentro dela e não queria sair. Ainda não.
Apoiou-se nos cotovelos e olhou para ela. Ela estava linda, seus olhos estavam ainda
escuros com o desejo, sua pele pálida estava rosada, seus mamilos eram botões apertados
contra seu peito e sua boca...
Ele não conseguia parar de olhar para sua boca, que estava inchada e cor de cereja.
Incrivelmente, sentiu-se ficar duro novamente. Noelle também sentiu. Ela estremeceu
e soltou um gemido de necessidade.
—Não se preocupe, — ele sussurrou. —Eu não vou parar desta vez até que você
implore.

Capítulo 20

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Noelle estava pronta para implorar agora. Seu corpo todo tremia de necessidade,
pairando à beira de algo maravilhoso.
Ela podia sentir David dentro dela, tão quente e grosso que achava que morreria com
a sensação de estar esticada e preenchida. Seu cabelo no peito provocava cócegas em seu
corpo, fazendo com que seus mamilos se eriçassem ansiosamente por mais. Onda após
onda de calor tomava conta de sua pele, acompanhada pelo cheiro almiscarado do
homem.

O rosto de David já não estava tão triste desde que ele gozou. Ela podia ver uma
diminuição na monumental tensão que sempre sentiu dentro dele. Um sorriso fraco
aparecia nos cantos de sua boca.
A luz amarela da lanterna lançava um brilho dourado em sua pele bronzeada e
destacava a borda angular de sua mandíbula, a curva mais suave de sua boca. Um anel de
ouro pendia de uma corrente ao redor de seu pescoço. Era uma aliança de casamento
simples, sem diamantes ou ornamentação, mas não menos bela em sua simplicidade.
Noelle sentiu uma ponta de culpa. Sua esposa estava morta. Ela não era exatamente a
outra mulher, mas sentia como se estivesse traindo alguma coisa santa e pura por estar com
um homem que ainda amava sua mulher o suficiente para usar sua aliança de casamento.
Ela estendeu a mão para tocá-la com um dedo, mas David a agarrou antes que o
fizesse e colocou-a contra o saco de dormir ao lado de sua cabeça. —Eu não quero pensar
nisso agora. Só em você, — disse ele.
Noelle assentiu e empurrou de lado seus sentimentos de culpa, por ora. Havia tantas
sensações tumultuosas em seu corpo que precisou de pouco esforço para ser varrida por
elas.

Ele era um homem tão bonito. Ela não tinha ideia de por que estava disposto a
compartilhar um pouco de si mesmo com ela assim.
Mas estava tão agradecida que ele o fizera.

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A mão de David deslizou sob seus quadris para apertar seu bumbum e angulou seu
corpo em direção a ele, lentamente, empurrando constantemente. A cada movimento de
seu corpo, suas terminações nervosas formigavam e faiscavam. Dentro dela, o prazer
estava se construindo sobre si mesmo, seguindo uma progressão geométrica que a deixava
ofegante em reverência a seu poder.
Noelle não era tentadora e mesmo que quisesse fazer algo para aumentar seu prazer,
não conseguia pensar direito o suficiente para descobrir o que poderia ser. Estava muito
ocupada sentindo a mão dele em seu longo caminho deslizando a seu lado, acariciando e
inflamando cada célula por onde passava.
David olhou nos olhos dela e deslizou profundamente, mantendo essa posição,
circulando com seus quadris como um especialista. Faíscas de sensação dispararam em sua
barriga, provocando seu suspiro de assombro.

David riu na escuridão e se moveu de modo que ficou ajoelhado entre suas coxas
amplamente abertas, ainda dentro dela. Agarrou suas coxas e empurrou-as em direção aos
seus seios enquanto se abaixava para pegar um mamilo duro em sua boca.
Noelle arfou e arqueou as costas em resposta. Seu corpo se movia sobre o dela em
uma série de golpes poderosos, e ela sabia que se continuasse, ela voaria para além da pura
intensidade do seu prazer.
David sentiu isso também. Ela podia sentir isso na maneira como seus longos dedos
apertaram contra as pernas dela, a maneira como sua respiração acelerou, uma vez que
estufou sobre o peito. Ele chupou seu mamilo mais forte, e para seu prazer, raspou os
dentes contra sua pele sensível quase lhe enviando sobre a borda.
Parte de Noelle estava com medo. Ela nunca teve um orgasmo e não acreditava
realmente que existia para as mulheres, até agora. Agora, com o seu clímax chegando para
ela na velocidade da luz, sabia que estivera errada.

Queria ter tempo para estudar o que estava acontecendo com ela, dividi-lo em partes,
partes interessantes para que pudesse examinar o processo mais a fundo. Mas David tinha

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outra ideia. Ele não lhe deu tempo para pensar ou analisar. Ele aumentou o ritmo, deslizou
a mão para baixo entre eles e acariciou o nó de terminações nervosas blindado por seus
cachos úmidos.
—Eu vou fazer você gozar agora, — sussurrou contra seu peito.
Noelle não podia ter encontrado a capacidade mental para falar, mesmo se
conseguisse respirar. Seu corpo inteiro estava firmemente enrolado, mantido em cativeiro
pela sensação de sua ereção empurrando dentro dela, a boca em seu mamilo e seu dedo
fazendo mágica em seu clitóris. Ela não tinha certeza quanto mais podia suportar sem se
machucar, mas David movia-se com confiança. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
E então aconteceu com Noelle. Ela gozou em uma explosão de prazer que cauterizou
seus nervos e correu através do seu sangue como um relâmpago. Não conseguia controlar
as ondas de pura sensação percorrendo seus membros, reunindo-se em sua barriga. Ela
não queria controlar. Era a coisa mais incrível que já experimentara em sua vida.
Sua voz encheu a cabana com afiados gritos de prazer que ecoavam no ar, ainda frio.
Lentamente, o mundo voltou a Noelle. Ela levantou a cabeça de David e beijou-o com
uma expressão de admiração e gratidão.
David sorriu. —Estou feliz que você gostou, mas não terminamos ainda.
Não terminou? Uma agitação ansiosa pousou abaixo de seu estômago, mexendo
com seus nervos super estimulados. —Eu não tenho certeza se aguento mais.

Seu sorriso escureceu com sensualidade, e ele moveu seus quadris para a frente,
lembrando-a de sua presença ainda grossa e pesada dentro dela. —Vamos descobrir, não
vamos?
Um longo e suado tempo depois, eles descobriram exatamente quanto mais ela era
capaz de tomar. E dar.

Noelle ainda estava dormindo horas depois, quando David acordou e se afastou de
seu calor. Ela balbuciou enquanto respirava, em seguida, aninhou-se no saco de dormir
aconchegante.

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David sorriu. Depois de tentar persuadi-la para ter uma quantidade decente de sono
por dias, parecia engraçado que finalmente encontrara a tática certa para usar. Desgastá-la
com sexo.
Apenas a memória do doce contorcer do corpo feminino contra ele foi suficiente para
deixá-lo duro novamente. Mesmo depois de quatro vezes, ele estava pronto para buscar
uma quinta. Ele não era assim desde que deixara a escola. Várias vezes em um dia, com
certeza. Várias vezes em poucas horas? Não dava para tanto.
Talvez fossem os anos de celibato auto-imposto que o fazia recuperar-se tão
rapidamente. Ou talvez a maneira como Noelle reagiu ao seu toque, os sons que ela fez
quando deslizou para dentro de seu corpo ansioso, o jeito que ela cheirava após a sua pele
estar quente de tesão e suor, a maneira como seus olhos se arregalaram com choque
quando ela gozou para ele.
Oh Sim. Esta parte fez a sua calça jeans apertar horrivelmente.
Mas ao invés de voltar para o saco com Noelle e ceder à sua libido insaciável, virou as
costas e forçou sua mente a se concentrar nos negócios. Ele tinha que verificar o perímetro e
se certificar que ainda estavam seguros. A cada vez que fazia a ronda, suas entranhas
incomodavam-no com preocupação. Tinha certeza que não perdera nada, mas não
precisaria muita habilidade para contornar as medidas de segurança primitivas que ele
colocou em prática.
Era o melhor que podia fazer com os recursos limitados, mas não era bom o suficiente
para Noelle.
Então, novamente, nem era para ele.
Esse pensamento foi suficiente para matar qualquer calor restante que carregava das
horas anteriores na cama com Noelle. Pediu a Deus que ela não se arrependesse, que
quisesse dizer exatamente isso quando falou que não se arrependeria.
David caminhou pela propriedade, concentrando-se unicamente sobre a terra,
procurando qualquer sinal de transgressão. Nenhuma de suas armadilhas foi desmontada,
nenhuma vegetação mudara de lugar. Não havia outros rastros além dos seus e de um
casal de veados.

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Aquela preocupação persistente diminuiu, mas não estava curada. Ele manteria um
olho fora, enquanto Noelle trabalhava. Ela parecia estar fazendo progresso, e se ele não a
distraísse demais, estariam fora daqui logo.
De alguma forma este pensamento não era tão atraente como era ontem. O sexo com
Noelle mudara tudo. Ele não estava mais arrastando seus pés quando percorreu o
caminho de volta para a cabana. Em vez disso, ele se viu correndo para chegar lá. Queria
vê-la novamente. Inferno, ele até queria apenas conversar com ela.
Depois da noite passada, eles tinham que conversar sério. Ele não usara camisinha.
Não tinha nenhuma com ele. Sequer pensava sobre elas já que sua vida não incluía sexo.
Ele com certeza não pensara sobre elas na noite passada quando gozou dentro dela, tão
profundo quando podia. Repetidamente. Era exatamente o que deveria fazer se estivesse
tentando engravidar uma mulher.
Não uma mulher qualquer. Noelle.
Um estranho tremular de excitação encheu seu estômago. Ele deveria ficar assustado
só de pensar em um bebê. Deveria entrar em pânico, gotejar suor frio e tremer como se
acabasse de vomitar as tripas.
Em vez disso, ele pensava se ela ainda estaria nua ou não quando voltasse e se ele
poderia ou não acordá-la usando apenas sua língua. Imaginou como seria fácil empurrar-
se para dentro dela enquanto ainda estava escorregadia da última vez que gozara dentro
de seu corpo. A calça jeans esticou e suas bolas doeram por liberação.
O que diabos estava errado com ele? Não tinha nenhum direito de agir como um
homem das cavernas. Inferno, ele ainda não tinha conversado com Noelle sobre sexo,
muito menos sobre filhos.
Filhos? Como assim, no plural?
Agora era oficial, ele estava completamente louco. Todo esse tempo de isolamento o
enviara para a borda. Essa era a única explicação possível que podia encontrar para depois
de uma noite com Noelle, já estar pensando em formar uma família.

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Família não tinha lugar em seu mundo. Especialmente não agora. Ele não podia
sequer passar um tempo em segurança com sua irmã ou seu filho sem se preocupar com
quem o estava vigiando e se ele não colocaria as pessoas que amava em risco apenas por
estar na mesma sala com eles. Até mesmo considerar a ideia de se estabelecer em uma casa
nos subúrbios preenchendo todos os quartos com crianças era uma loucura completa.
Ele era um alvo ambulante. Esta era a sua última missão e ele tinha toda a intenção de
sair em uma chama de glória heroica, levando cada um dos Swarm com ele. Não só não se
importava se isso o mataria, parte dele esperava por isso.
Mas se esse fosse o caso, então por que estava pensando em bebês?
Tinha que ser algum tipo de imperativo biológico - como relógio biológico da mulher,
mas para um homem. Ele realmente não esperava viver para ver o Natal, então o seu lado
homem das cavernas estava fazendo o necessário para deixar para trás uma pequena fatia
de seus genes para as gerações futuras. Tinha que ser isso. Era a única coisa que dava algum
sentido a tudo isso.
Quando entrou na cabana, Noelle estava colocando um moletom pesado por sobre a
cabeça. Depois os sapatos e ela estava completamente vestida.
O desapontamento desacelerou seus passos quando fechou a porta atrás de si. Cara,
tinha realmente esperado que ela ainda estivesse nua.
Noelle deu-lhe um sorriso hesitante. —Você viu meus óculos?
David pegou-os de onde os jogara na noite anterior, limpou a poeira com sua camisa
e estendeu-os para ela.
A mão dele estava tremendo.
Ele amaldiçoou em silêncio e apertou sua mandíbula contra esse desejo de beijá-la.
—Obrigada, —disse ela, com um sorriso vacilante.
Sem dúvida ele parecia tão amigável como um urso pardo irritado. Tentou encontrar
um sorriso, ou pelo menos colocar em sua face uma máscara de neutralidade, mas não
conseguiu.
Ela lambeu os lábios em um gesto nervoso e seus olhos verdes deslizaram para seus
sapatos. —Eu, uh, acho que deveria começar a trabalhar.

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David limpou a garganta para que pudesse falar. —Vamos comer primeiro, okay?
Ela lhe deu um pequeno aceno de cabeça e se dirigiu a área da cozinha. David
agarrou seu braço e a interrompeu. Ele não podia deixar essa coisa inábil do dia seguinte
continuar.
—Noelle, — disse ele, tentando soar casual. Iria dizer-lhe como, apesar de ter sido o
melhor sexo de sua vida, não poderia deixar isso acontecer novamente. Era muito perigoso
para qualquer um deles envolver-se emocionalmente. Eles tinham que ser focados,
profissionais e manter a distância. As emoções corriam soltas durante situações de crise, e
essa certamente se qualificava como uma. Era natural que se unissem em um esforço para
libertar alguma tensão que os mantinha estressados o suficiente para quebrar. Mas em vez
disso, ele disse, —Você está em controle de natalidade?
Noelle piscou em confusão, então seus olhos se arregalaram. —Sim, quero dizer, não.
Quero dizer, sim eu tomo a pílula, mas elas estavam na minha bolsa que não veio com a
gente e então eu não tenho...
Ela afundou até o chão, sem energia, nenhum banco por perto. —Oh, Deus.
David sentou-se ao seu lado e puxou-a para seu colo. Seu corpo todo tremia. Ele não
disse nada. Apenas segurou-a até que ela pudesse trabalhar com seus pensamentos.
Felizmente, não demorou muito.
Ela olhou para ele, seu rosto era uma máscara bonita de rosa envergonhado. —Sinto
muito. Sequer pensei sobre isso a noite passada.
David não podia culpá-la nisso. Nenhum deles pensara muito. —Nem eu.
—O que eu faço? — Perguntou-lhe.
Que tal casar? Sua mente doente perguntou silenciosamente. Ele realmente desejava
merecer outra chance de felizes para sempre. Seria bom tentar fazer as coisas funcionarem
com Noelle. —Não há muito que nós possamos fazer agora, eu acho. Quer dizer, não faz
sentido fechar a porta do celeiro quando os cavalos fugiram, sabe?
Ela deu um aceno lento. —Não tenho certeza se gosto de ser comparada a um celeiro,
mas eu entendo seu ponto. De qualquer forma, eu acho que é tarde demais no mês para
que eu fique... você sabe.

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—Grávida? — Ela não conseguia sequer dizer a palavra. Isso não assentava bem em
David, considerando que ele foi um verdadeiro idiota com o simples pensamento esta
manhã.
—Sim. Grávida. — Se ela não estivesse olhando direto para ele quando falou isso, ele
não teria visto a maneira como seus olhos se dilataram. Claro, poderia ser sua imaginação,
ou uma mudança na iluminação filtrada de fora. Mas ele não pensava assim. Ela não se
afastara dele, e isso era um bom sinal.
Ele acariciou seus cachos despenteados, tentando confortá-la. —Nós vamos arrumar
tudo, okay?
—Hum, okay. A voz dela tremia tanto que ele mal conseguiu entender as palavras.
Não era um bom sinal, afinal de contas.

Noelle não conseguia se concentrar em coisa alguma. Os símbolos continuavam


correndo juntos, enquanto seus pensamentos se desviavam para outras coisas. David.
Sexo. Um bebê.
Sua cabeça caiu sobre a mesa marcada com um baque. O que no mundo ela faria se
acabasse grávida? Não é que não gostasse de crianças, porque gostava. Eventualmente
pensava em ter um ou dois filhos, naqueles tipos de pensamentos vagos, tipo um-dia-
desses. Mas um dia desses podia ser hoje, possivelmente, e não conseguia parar de pensar
nisso. Sua vida já estava tão complicada. Quando isto acabasse, teria que se esconder para
evitar ser caçada novamente, tinha certeza disso. Uma coisa era ter sua própria vida virada
de cabeça para baixo, mas arrastar uma criança junto com ela?
E isso, se ela sobrevivesse.
Pelo menos esse pensamento a recordava que tinha preocupações maiores que uma
gravidez não planejada. Se não concluísse com êxito sua tarefa, não teria tempo suficiente
nem mesmo para descobrir se estava grávida.
As mãos quentes e grandes de David se acomodaram em seus ombros. —Quer dar
um passeio e limpar sua cabeça?

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—Como você pode estar tão calmo? Acabou de descobrir pela manhã que uma
transa que teve ontem à noite pode acabar assombrando você para o resto de sua vida.
Sentiu-o tenso atrás dela. —Transa? Me assombrar? É assim que você vê o que
aconteceu entre nós?
Noelle gemeu em frustração e se virou para olhar para ele. —Honestamente, eu não
sei o que pensar. Quero dizer, eu mal o conheço. Claro, você parece um cara legal e é sexy
como o pecado, mas uma criança é um negócio sério.
Ele agachou-se para ficar ao nível dos olhos dela. —É um negócio sério, mas você não
está sozinha. Eu também estava lá, lembra? Eu sabia o que estava fazendo.
—Não, você não sabia. Se soubesse que eu poderia engravidar, você nunca teria me
tocado.
Seus olhos azuis aqueceram com desejo. —Quer apostar? Eu a tomaria novamente
agora mesmo se eu tivesse só uma pequena dica que você não tentaria me bater.
Ele não estava brincando. Algo dentro dela virou líquido quente em resposta ao olhar
completamente sincero em seu rosto.
Bebê ou não, a ideia de ficar nua com ele novamente era uma força potente,
exortando-a a esquecer todo o resto à sua volta e apenas entrar nessa. Seria tão fácil
simplesmente fazer isso. Muito fácil.
—Eu nunca bateria em você, — ela sussurrou.
As narinas inflaram e os olhos escureceram num tom de azul meia-noite. Ele deslizou
um dedo sobre sua boca, com os olhos focados atentamente a seu toque. —Não me tente,
Noelle. Estou a dois minutos do colapso e ainda não temos preservativos, assim, a menos
que você esteja disposta a arriscar, é melhor não testar meu autocontrole.
Seus pulmões pareciam mal funcionar e sua pele estava muito quente e tensa em suas
mãos. Seu corpo ansiava por sentir suas mãos calejadas sobre a pele, a boca em seus seios. E
abaixo.
Ela estremeceu lembrando o modo como sua língua era tão quente, molhada e
terrivelmente delicada entre suas coxas. Deus do céu. Mesmo que ela vivesse cem anos,
nunca esqueceria como se sentiu voar para além com os dedos enterrados dentro dela e os

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círculos de sua língua dançando sobre seu clitóris. E isso não era nada comparado com o
enorme poder do orgasmo em torno de sua ereção, quando ele bombeou profunda e
duramente, não lhe dando nenhum caminho para escapar da força do seu orgasmo.
Ela nunca soube que o sexo podia ser assim.
Duvidava que seria assim com alguém além de David .
Seu corpo gritava para ela ceder. Sim, poderia ficar grávida, mas seria realmente tão
ruim? Ela era inteligente. Encontraria uma maneira de fazer as coisas funcionarem para
ambos, ela e um bebê. Não tinha ilusões de que David estaria com ela, mas isso não a
assustava. Aprenderia a ser uma boa mãe solteira. Muitas mulheres eram.
O que realmente a assustava era saber que cada vez que ela abria-se fisicamente,
ficava cada vez mais perto de se envolver emocionalmente. Não era tola. Sexo e amor
estavam muito estreitamente ligados para ignorar a correlação. Sabia que as mulheres se
apaixonavam por homens que eram errados para elas o tempo todo.
E David era definitivamente errado para ela.
Ele era militar de carreira. Ela se opunha a qualquer tipo de violência. Os dois não
tinham nada em comum. Acrescente a isso o fato de que ele ainda tinha a morte de sua
esposa para assombrá-lo, e ele era tão errado para ela como um homem podia ser, não
importa como ele a fazia se sentir bem na cama.
Se ela se apaixonasse por ele, acabaria machucada. Sua vida já estava uma bagunça
tão grande que ela simplesmente não podia se arriscar a fazer qualquer coisa que pudesse
torná-la pior. Se apaixonar por um homem que não poderia ter, certamente faria as coisas
muito piores. Sexo iria apenas torná-lo mais atraente para ela do que ele já era.
Isso, ela não poderia administrar.
—Sinto muito. Eu não posso, — ela sussurrou.
—Quer dizer que você não quer. Você já provou, além de qualquer dúvida, que você
pode na última noite. Muito bem, na verdade.
—Eu não me arrependo do que fizemos na noite passada. Eu só não acho que é
inteligente ficarmos... distraídos agora.

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Ele se afastou, seus movimentos bruscos e zangados. —Você está certa, é claro. Você
não tem que explicar, — disse ele com os dentes cerrados. —Eu vou estar lá fora.
A cabana balançou com a força da porta batendo atrás dele. O ar frio rodopiou pela
sala, gelando Noelle tanto dentro como fora. Odiava vê-lo sair assim, mas não o culpava
por querer colocar alguma distância entre eles. Era a única maneira para que ela fosse capaz
de resistir a ele.
Noelle engoliu e estimulou sua respiração a voltar ao normal. Estava irritada e agitada
por dentro. Seu corpo parecia contraído e instável, e ela sabia que isto tinha que ser a
sensação da frustração sexual. Ela queria mais do que nunca o seu normal, visão de laser
focada entrando em ação, e o mundo - incluindo o seu corpo frustrado - desapareceria. Mas
isso não aconteceu. Seu foco foi mantido em cativeiro por pensamentos em David.
Pensamentos sobre o que fizeram na noite passada.
Talvez não devesse tê-lo recusado. Deus sabia como ansiava por alguma companhia
agora, alguém para quem voltar-se durante esse período estressante. Alguém que a
segurasse dizendo que tudo iria ficar bem. Ela não se importava como essa mentira era
grande.

David era apenas humano, não importa que humano formidável ele parecia ser. E se
ele ansiasse pela mesma coisa?
Sua situação era perigosa. Homens tentaram raptá-la, ou matá-la. Noelle poderia
dizer pela determinação de aço de David que não importa como as coisas ficassem ruins,
ele a protegeria, mesmo que isso lhe custasse a vida.
Na verdade, às vezes, quando ela olhava para ele, se perguntava se uma parte dele
não teria o desejo da morte. Ele sofria por sua esposa, o fato que ainda usasse seu anel de
casamento na corrente e a maneira como falara dela provava isso.

Talvez por isso ele fosse tão destemido em face do perigo. Um homem que não se
importava em morrer tinha pouco a temer.

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Mas isso não significava que ele não queria companhia, enquanto estivesse vivo.
Ninguém queria morrer sozinho. David seria diferente?
Algo profundo em seu íntimo lhe disse que era melhor ter cuidado. Ela estava se
apaixonando por David. Perdidamente. Noelle se forçou a afastar os pensamentos e voltar
ao trabalho.

Capítulo 21

Alguém violou o perímetro que David estabeleceu na floresta.


David se agachou e foi em busca de sinais que o invasor pudesse ter deixado. Eles
eram bons, ele tinha que reconhecer. Só descobriu porque desarrumaram alguns galhos
que David torcera e colocara juntos em um dos caminhos em direção à cabana. O intruso
vira a medida de segurança muito tarde e tentou colocar as videiras para trás da maneira
que estavam antes, mas David podia ver as diferenças sutis. Uma das folhas estava rasgada
e caída no chão, esmagada, onde o peso de uma bota de combate pisara.
David forçou o medo crescente a diminuir e colocou seus sentidos em alerta máximo.
Tinha que voltar para a cabana e tirar Noelle daqui. Rápido.

Quando Noelle abriu a porta para sair e usar o precário banheiro externo, ela viu o
movimento nas árvores em dois lugares. Algo estava errado com essa imagem e os seus
instintos gritavam para se apressar e descobrir. Ela congelou no lugar, seu cérebro nebuloso
lutando para dar sentido ao que viu. Sua respiração acelerou e seu coração começou a
vibrar com medo. Movimentos em dois lugares.
Havia apenas um David.
Pânico correu pelo seu sistema, fazendo-a se sentir pesada e lenta, como se o tempo
desacelerasse, e sua mente sobrecarregada começou a girar, tentando descobrir o que fazer.

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—É apenas um cervo, — Noelle sussurrou para si mesma, mas seus instintos diziam
o contrário, gritando para ela fugir.
Por uma mancha fina na floresta, Noelle teve um vislumbre de uma forma em
movimento através das árvores. Uma forma humana. Deslizava lentamente sobre o chão
áspero, com cautela, os passos furtivos.
Oh, Deus. O Swarm a encontrou.
Tremendo de terror, Noelle entrou na cabana e pegou a arma que estava sempre
sobre a mesa para usar em caso de emergência. Por mais que odiasse o peso, o frio letal da
arma, isto certamente podia ser qualificado como uma emergência, e ficou aliviada ao sentir
o frio da arma pressionando a palma da mão.
Não iria deixar o Swarm levá-la sem luta.
O roçar desconfortável do colete à prova de balas que David insistiu que usasse
quando deixava a cabana era um amigo bem-vindo neste momento. Agradeceu
silenciosamente a David, por seus apelos constantes, irritantes e superprotetores.

Quando saiu da cabana, suas mãos tremiam tão violentamente que tinha certeza que
nunca atingiria um alvo menor que a lua. Mas a ameaça da arma era naturalmente melhor
que nada.
Sua única chance de sair desta com segurança era chegar até David. Se a
encurralassem na cabana, ela estaria presa. Não havia sequer uma porta para usar como
rota de fuga.
O pensamento de ficar encurralada pelo Swarm ameaçou deixá-la de joelhos, mas
respirou profundamente e forçou-se a se concentrar.
A varanda da cabana não oferecia nenhuma cobertura contra balas, mas a pilha de
lenha cortada a poucos metros ao lado da cabana tinha potencial. Mais alguns metros além,
estava o Bronco à prova de balas. Se ela pudesse chegar tão longe, tinha certeza que poderia
escapar para a floresta.
Mas primeiro tinha que chegar lá.

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Sua mente começou a correr através de cálculos para determinar o quanto de


madeira teria que ter entre ela e uma bala para a pilha de lenha segurar a bala, mas sem
saber a densidade da madeira ou a massa e a velocidade inicial da bala, ela não tinha ideia.
Um monte, ela chutou.
Uma rajada de vento chicoteou através das árvores, deixando tudo em movimento.
Ela ouviu o bater de pés pesados se aproximando. Não tinha mais tempo para esperar.
Precisava sair daqui.
Com uma velocidade que não sabia que tinha, Noelle correu para a pilha de troncos e
se agachou atrás dela, rezando que a protegesse. Seus pulmões queimaram da curta
corrida e tinha certeza que iria vomitar de medo. Conseguiu se manter segurando a arma,
mas sua mão estava tão suada que a coisa continuava deslizando em torno de seu aperto.
Se dar essa pequena corrida a deixara ofegante e com tonturas, não havia nenhuma
maneira que fosse capaz de superar os homens na floresta. Não conseguiria correr cem
metros antes que eles a alcançassem.
Tinha que pensar em outra coisa ou seria um caso perdido.
Seu cérebro cansado despertou, e ela agarrou a arma em sua mão tão apertada que
fez doer os nós dos dedos.
A arma. Era isso. Armas não eram usadas apenas para matar, também podia pedir
ajuda. Apontou-a para o alto e apertou o gatilho. O tiro passou pela culatra e picou sua
mão, abalando seu pulso, e o boom foi mais alto do que esperava, mesmo que tivesse
antecipado. Só esperava que tivesse sido alto o suficiente para David ouvir, onde quer que
estivesse. Se ele ouviu o tiro, viria ajudá-la. Tinha certeza disso. Tudo o que tinha que fazer
era sobreviver por tempo suficiente até ele chegar aqui.

Em um esforço para ganhar tempo, espiou por um buraco na pilha de troncos e


gritou: —Pare de se mover, ou eu atiro!
O movimento no bosque parou.
Noelle soltou um pequeno suspiro, estremecendo. Pelo menos eles estavam ouvindo.
—Joguem fora suas armas, — ela gritou.

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Alguns segundos tensos passaram, então ela ouviu o barulho de aço batendo no solo
congelado. Ela espiou e pode ver o contorno preto de duas pistolas na terra pouco além da
linha das árvores.
Isso estava muito fácil. Se eles fossem membros do Swarm, não teriam desistido tão
facilmente - não contra uma mulher mal armada e sem fôlego. Talvez os homens fossem
apenas caçadores atrás de algumas horas de diversão com caça de tocaia. Os homens
usavam pistolas para caçar veados? Ela sempre pensou que usassem rifles ou espingardas.
Noelle amaldiçoou-se por sua falta de conhecimento sobre o assunto. Ela realmente
não podia ter certeza de nada.
—Saia devagar com as mãos sobre a cabeça, — ela ordenou, a voz orgulhosa
vacilando só um pouco.
Um homem saiu de debaixo da cobertura de alguns arbustos. Assim como ela pediu,
suas mãos estavam na cabeça, e ele movia-se tão lentamente que parecia uma cena em
câmera lenta em um filme de ação.
Ele usava camuflagem marrom que se misturava perfeitamente com o ambiente da
floresta de outono. O rosto estava manchado com tinta, ocultando suas feições. Além do
fato que era um homem alto, magro, ela não conseguia ver nada específico sobre ele, nem
mesmo a cor do cabelo. Ele se movia com o mesmo tipo de elegância predadora que ela
vira em David e sob sua camuflagem, podia ver o contorno de um colete Kevlar.
Ele não era um caçador local. Ele era a coisa real.
Noelle estava atrás da pilha de lenha, a arma tremendo quando apontou-a na direção
dele. Não queria atirar em ninguém, a menos que fosse obrigada. —No chão. Rosto no
chão. Diga ao seu amigo para sair.
O homem começou a se mover como se para se deitar, mas não disse nada. Estava se
movendo muito lentamente, porém, quase como se estivesse tentando ganhar tempo.
Uma sensação de mal estar torceu o estômago de Noelle. Sua fácil rendição era um
truque. Noelle moveu-se para fugir, mas já era tarde demais. Antes que pudesse se virar, foi
levantada do chão e a arma arrancada de sua mão suada. Ela tentou gritar, mas uma mão

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forte tapou sua boca ao mesmo tempo que o ar foi expulso de seus pulmões por um braço
grosso sob os seios, prendendo suas mãos ao lado do corpo.
O pânico cauterizou suas terminações nervosas, dando-lhe força. Ela se debatia e
chutava, acertando alguns golpes sólidos nas pernas do homem, que trouxeram grunhidos
de dor de seu captor. Ela balançou a cabeça tentando desalojar a mão o suficiente para
mordê-lo, mas o seu aperto era muito firme.
Abaixo da espessa faixa de seu braço, ela torceu a mão e cravou as unhas em sua coxa
dura, mas não adiantou. Não importava o que ela tentasse, ele a segurava firmemente, ela
era incapaz de se soltar.
—Fique quieta, — ele ordenou em voz baixa e rouca. —Eu não vou machucá-la.

Noelle sentiu o homem segurando-a completamente ainda um segundo antes de


ouvir a voz gelada de David. —É isso mesmo. Você não vai machucá-la, pelo menos não
enquanto eu estiver com essa arma apontada para sua cabeça.
—Calma, — disse o homem segurando Noelle. —Eu vou soltá-la, David. Não atire.
Sou eu, Caleb.
No segundo que seu aperto aliviou, Noelle se afastou, tremendo pelo medo e a
adrenalina. Suas pernas mal a sustentavam em pé e sua cabeça girava com a falta de ar.
Estava respirando com muita dificuldade, muito rápido.
—Caleb? — David perguntou enquanto girava o homem enorme para olhar para
ele.
—Sim, e Grant, também, — Caleb disse, apontando com a cabeça em direção ao
segundo homem. —Sua mulher o fez beijar a sujeira.
Grant puxou o corpo magro do chão e limpou a poeira de suas pernas. —Eu só me
joguei ao chão para Caleb ter tempo de chegar lá e desarmá-la. Estava com medo que ela
fizesse uma coisa estúpida e disparasse em um de nós.
David olhou Noelle de cima abaixo e de baixo para cima. —Você está bem?

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Ela assentiu, a respiração começando a normalizar. O alívio fazia sua cabeça girar e ela
sentou-se no toco de madeira para recuperar seu senso de equilíbrio. —Você conhece esses
caras?
—Sim. Tem certeza que você está bem? — Ele levantou a mão como se quisesse
acariciar seu cabelo despenteado, mas interrompeu o movimento brevemente e deixou a
mão cair.
—Eu vou ficar bem. Eles apenas me assustaram. — Apesar de "apenas assustaram"
era uma forma muito generosa de colocá-lo. Ela não tinha certeza se queria abraçá-los por
serem bons rapazes ou socá-los por tirar dez anos de sua vida com o susto.
—Desculpe por isso, senhora, — disse o grandalhão, Caleb. —Eu não a machuquei,
não é?
Seus dedos estavam um pouco doloridos do aperto dele, mas ela não viu necessidade
em mencioná-lo. —Não.
Os olhos escuros de Caleb foram para os dedos doloridos, como se soubesse que ela
estava mentindo.
—Eu machuquei você? — perguntou ela.
—Apenas o suficiente para me fazer lamentar escolher levantá-la. Minhas canelas
nunca mais serão as mesmas. Você é mais dura que parece.
—E inteligente, — acrescentou Grant, dando-lhe um sorriso encantador. —Essa bala
foi uma boa maneira de chamar David.
—Sem brincadeira. Acho que nunca corri tão rápido em minha vida, —disse David.
Noelle se sentia como uma tola. Ela não tinha certeza de como deveria ter suposto que
eles eram amigos de David, mas ainda se sentia boba por tê-los confundido com os
terroristas. —Desculpe, pensei que vocês fossem os bandidos. Acho que estou um pouco
nervosa ultimamente.
—Você não fez nada de errado, Noelle, — disse David. —Pensei em lhe contar que
eles poderiam estar vindo, mas eu não tinha certeza que minha mensagem chegaria.
—Chegou bem, — disse Caleb.
David puxou Caleb para ele em um abraço duro. —Graças a Deus.

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Caleb era alguns centímetros mais alto que David e tinha pelo menos cinquenta
quilos de músculos no corpo. David era musculoso, mas poderia passar por uma pessoa
normal com roupa comum. Caleb, porém, não seria capaz de fazer qualquer coisa para
disfarçar a sua massa muscular.
Grant, por outro lado era o mais magro dos homens, com uma compleição que
lembrava corredores de longa distância. Seus movimentos eram fluidos e fáceis, como se
cada um fosse cuidadosamente coreografado e planejado com semanas de antecedência.
Ele tinha olhos dourados que brilhavam com humor.
Grant saltou sobre a pilha de troncos, como se fosse um tapete amarrotado e não um
obstáculo. E ela pensando em se proteger por trás da pilha de troncos.
Grant abraçou David, batendo-lhe nas costas com força suficiente para levantar
poeira. —Você parece surpreso de termos recebido a mensagem.
—Nós lhe dissemos quando saiu do Exército que tudo que tinha a fazer era chamar, e
viríamos—, disse Caleb. —Você ligou. Viemos.
—Eu não tinha certeza se o número ainda era o mesmo. Muita coisa pode acontecer
em dois anos, — disse David .
—Não tanto para que não estejamos aqui para você, — disse Grant. —Quantas vezes
você salvou nossa pele? Não poderíamos deixar uma dívida como essa suspensa.
David olhou nos olhos de Grant, sua boca se contorcendo com um sorriso. —E se
Monroe perguntar se eu vi vocês?
O rosto de Caleb era uma máscara de pedra de neutralidade, não mostrando nada do
humor compartilhado por David e Grant. —Seria muito difícil para você ter nos visto,
considerando que estamos alocados em um deserto sem nome, a milhares de quilômetros
daqui.
David assentiu, em compreensão. —Por mais que eu esteja aliviado por tê-los aqui,
não quero que estraguem suas carreiras por minha causa.
Grant sorriu, suave e amigável. Mesmo sob toda a tinta, ele era um homem de boa
aparência. —Inferno, capitão. Não estamos aqui por você. Viemos por conta da senhora

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aqui. Você sabe que eu não posso manter minhas mãos longe de ruivas. — Seu sorriso
ficou mais quente quando olhou para Noelle. Oh, Sim. Esse cara era um sério mulherengo.
David ficou tenso e Caleb pôs a mão restringindo seu ombro. —Calma, David. Grant
não sabe que ela é sua mulher.
Noelle corou e perguntou se algum tipo de batalha de macho estava prestes a
irromper por causa dela, a nerd desajeitada com o cabelo bagunçado e roupas largas. Era
surreal.
Grant levantou as mãos em sinal de rendição e deu um passo significativo para longe
de Noelle. —Acho que encontrei uma ruiva a qual posso resistir, afinal. Isso só prova que
há sempre uma primeira vez para tudo.
Os olhos de David vasculharam o corpo de Noelle, pairando em seu rosto. —Tem
certeza que você está bem? —Perguntou ele.
O pulso de Noelle reduziu, mas ela ainda estava tremendo por dentro. O surto de
adrenalina depois deste susto não seria divertido. Já estava começando a se sentir fria e
fraca. E realmente tinha que fazer xixi.
Caleb deu-lhe um olhar envergonhado. —Desculpe se eu a machuquei. Tentei ser
cuidadoso, mas eu não podia correr o risco de você fazer um buraco no meu amigo.
—Eu estou bem.
—Você está com frio, — disse David, estendendo a mão reconfortante antes de deixá-
la cair ao seu lado sem tocá-la. Novamente.
Ela ofereceu-lhe um sorriso débil. Ainda estava tremendo por dentro e odiava que
não fosse feita de um material mais resistente. —Eu vou fazer um pouco de café fresco.
Alguém está interessado?
Caleb e Grant assentiram, mas David só a olhou, seu olhar azul quente e inabalável.
—Vá se aquecer. Entraremos em um minuto.
Era uma dispensa, e ela sabia. Mesmo assim, estava feliz por obedecer, apenas para
voltar para dentro onde estava quente, onde David não olhava para ela como se estivesse
prestes a beijá-la.

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Se ele a beijasse, as emoções sem nomes ferveriam dentro dela, assim como
acontecera na noite passada. Ela já estava no limite, lutando para manter o controle sobre o
seu medo, preocupação e luxúria. Não havia espaço para mais nada agora. Algo mais e ela
desmoronaria.

David teve que usar cada milímetro de autocontrole apenas para evitar pegá-la em
seus braços e deixá-la nua para se certificar que estava bem. Ela estava trêmula e pálida, e ele
só queria abraçá-la até que todas as coisas ruins fossem embora. As coisas que passaram na
sua cabeça quando ouviu a bala e a viu se debatendo e lutando para se livrar de Caleb
ainda fazia seu sangue correr gelado. Nunca sentiu tanto medo em sua vida.
Nem mesmo quando estava prestes a descer para o acampamento do Swarm e
recuperar o corpo de Mary.
Não tinha certeza do que estava acontecendo com ele, mas o que quer que fosse, não
era bom para o seu controle, o dispersava.
—Ela é uma gracinha. Meio como um fada, — disse Grant, estrategicamente
colocando-se em flagrante distância de David .
David fez uma careta para Grant. —Ela é um inferno de muito mais que apenas
bonita, e você fique bem longe dela. Entendeu?
Grant sorriu. —Oh, Sim. Ouvi alto e claro, senhor.
David olhou para Caleb, que estava estudando lentamente a linha das árvores.
Mesmo um mês sob o sol quente do deserto não conseguira clarear o cabelo preto como
carvão de Caleb. Sua pele era ainda mais bronzeada do que David lembrava, e não era a
única coisa que havia mudado. O homem dentro parecia mais sem emoção que o soldado
das lembranças de David. Era hábito para qualquer lutador como eles, ser cuidadoso, mas
Caleb estava mais que apenas cauteloso. Estava desconfiado e vigilante como se esperasse
uma emboscada a qualquer momento.
David estava tão aliviado por tê-lo em suas costas que quase dobrou os joelhos.
—Como você sabe sobre Noelle? — Ele perguntou a Caleb.

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Os duros olhos negros encontraram os de David . —Você quer dizer como é que eu
sei que ela é sua mulher?
David concordou.
Caleb encolheu os ombros. —Ela tinha o seu perfume e o cheiro de sexo sobre ela. Ela
não cheiraria assim se você tivesse somente roçado acidentalmente contra ela.
David sentiu-se endurecer com as palavras. Ele fez muito mais que apenas roçar
contra ela. E estava morrendo de vontade de fazê-lo novamente. Era péssimo que Noelle
não se sentisse da mesma maneira.
Ninguém mencionou o incomum senso olfativo de Caleb. Eles tinham se
acostumado ao seu talento único anos atrás.
—Bom gosto para mulheres, a propósito, — disse Grant quando puxou um pano de
camuflagem da cabeça, revelando seus cabelos aloirados pelo sol. —Ela não é uma flor
murcha que se rende e se deixa ser morta. Foi inteligente ao atirar para você vir correndo, e,
francamente, estou surpreso por não tentar atirar em mim. Quero dizer, ela não teria
atingido merda nenhuma com a mão tremendo como estava, mas eu não teria ficado
chocado se ela tivesse tentado.
—Eu deveria estar aqui, — disse David, odiando-se por não estar perto o suficiente
para salvá-la do medo de se deparar com dois estranhos armados. E se não fossem seus
amigos?
Suas entranhas cerraram em um nó com o pensamento, e ele empurrou-o
impiedosamente para longe. Pensamentos como este iriam congelá-lo e torná-lo inútil para
ela.
—Sim, e nós deveríamos estar naquele deserto de areia caçando ratos, — disse Grant.
—Você não pode estar em todas as partes ao mesmo tempo. Supere isso.
Mais fácil dizer que fazer, pensou David. —Como chegaram aqui tão rápido?
—Alguns dias atrás ouvimos dizer que você voltou para o Delta. Estávamos tentando
encontrá-lo, mas até a sua chamada, não tínhamos ideia de onde procurar.
—Por que estavam me procurando? — perguntou David .

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—Temos acompanhado as comunicações em todo o Oriente Médio. Seu nome


apareceu, — disse Caleb.
—Nem é preciso dizer, — continuou Grant, —começamos a ouvir com um pouco
mais de atenção. Ouvimos que você está de volta no jogo e há um monte de bastardos à
sua procura. O Swarm voltou a funcionar, e como você é o homem que quase os destruiu
antes, eles o querem morto como uma mensagem para qualquer outra pessoa que poderia
tentar fazer o mesmo.
—Você vai nos contar sobre a mulher? — perguntou Caleb. —Tudo o que sabemos é
que você voltou para o Delta para uma última missão. A missão é ela?
David concordou. —Ela tem que ficar viva, não importa como.
—Isso é evidente, — disse Caleb uniformemente. —Ela é uma mulher.
—Não, é maior que apenas o fato de ela ser uma mulher. Há algumas semanas,
alguns dos nossos rapazes tiveram informações de um grupo de homens suspeitos de
venderem armas. Eles não eram apenas um grupo qualquer, eram os Swarm.
—Então como é que ela se encaixa? — perguntou Grant.
—Ela é inteligente. Realmente inteligente. Monroe me localizou e me puxou de volta
para protegê-la. Ela é a única pessoa sobrevivente que tem alguma chance de quebrar esse
código antigo. Contém a localização de um esconderijo de ogivas roubadas. Desnecessário
dizer, o Swarm o quer para si, o que significa que também a quer.
—Oh, Deus, — murmurou Grant, os olhos dourados arregalados de medo.
O rosto de Caleb escureceu com raiva, suas narinas queimaram.
David olhou de um amigo horrorizado para o outro, tentando descobrir o que diabos
estava acontecendo. —Vocês vão compartilhar porque estão ao mesmo tempo tão
assustados?
Caleb engoliu em seco antes de falar. —Nós também interceptamos uma
comunicação falando sobre como alguns cientistas dos Estados Unidos estavam vendendo
planos para a produção de veículos aéreos não tripulados com armas implantadas. Os
novos foram feitos para serem indetectáveis por radar, com alcance suficiente para chegar a
qualquer lugar em terra numa distância de uns cem quilômetros. Não estávamos muito

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preocupados porque não houve nenhuma conversa sobre armas biológicas, que era a
nossa maior preocupação.
—Mas se eles tiverem nas mãos as armas nucleares... — concluiu David, sentindo seu
estômago afundar até as botas.
—Então, eles têm tudo que precisam para acabar com qualquer grande cidade
costeira dos Estados Unidos a sua escolha, — concluiu Caleb.
Os dois amigos de David o olharam como se esperando que ele dissesse que estavam
errados. Ele rezou a Deus que pudesse. —Não podemos deixar isso acontecer.
—Ela está perto de quebrar o código? — perguntou Grant.
—Eu não sei. Perto, eu acho, mas eu não quero que ela saiba sobre isso. Ela já está sob
muita pressão.
Os dois homens acenaram em concordância.
—O que podemos fazer para ajudar? — perguntou Grant.
David respirou fundo antes que fosse capaz de falar. As coisas estavam rapidamente
se tornando mais complicadas do que ele gostaria. —Você trouxe algum brinquedo?
Alarmes de perímetro, equipamentos de comunicação?
—Não. Mal conseguimos manejar as coisas para chegar aqui. Imaginamos que não
dariam por nossa falta por um tempo, considerando a nossa operação, mas o equipamento
faltando... o alarme soaria de imediato.
David cuspiu uma maldição violenta. —Este lugar não é seguro.
—Não, não é, — disse Caleb. —Eu o construí para ser privado, não necessariamente
defensável. Eu geralmente posso cuidar de mim, não importa onde esteja.
—Eu não estou querendo insultar a sua cabana, cara. Apenas não sei para onde mais
levá-la.
—Uma casa segura? — sugeriu Grant.
David grunhiu. —Não é tão segura. As duas últimas em que estávamos foram
atacadas. Alguém do lado de dentro vazou a sua localização na primeira vez. Na segunda
vez eu mesmo fiz isso para que pudesse tirá-la de lá.

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Os amigos trocaram um olhar que prometia violência se encontrassem a pessoa


responsável pelo vazamento de informações confidenciais.
—Então, como você quer jogar isso, capitão? — Grant perguntou, seus olhos
dourados reluzindo com avidez.
David balançou a cabeça. — Ficaremos aqui até que ela acabe de quebrar o maldito
código. Uma vez que saibamos o que ele diz, podemos saber o que fazer em seguida. Até
então, estou aberto a sugestões.
Os olhos negros de Caleb se estreitaram, pensativos, enquanto olhava a linha das
árvores. —Há apenas poucas formas de chegar a esta montanha e apenas uma estrada que
percorre todo o caminho até aqui. Grant e eu podemos manter o olho lá, enquanto você fica
ao lado dela.
—Eu não sei se essa é uma boa ideia, — disse David. —Eu não tenho certeza se ela
realmente me quer em torno dela.
—Ficarei com ela, — ofereceu Grant, levantando as sobrancelhas loiras.
David deu-lhe uma ordem que seria anatomicamente impossível obedecer.
Grant apenas sorriu.
Caleb balançou a cabeça como um pai em cima de garotos brigando. —Ficarei com
ela, se você quiser, e você sabe que eu nunca tocaria na mulher de outro homem, mas acho
que se perguntasse a ela, ela vai querer que você fique.
—Um homem pode sonhar, — disse David .
—Vocês dois vão tomar um café, — disse Caleb. —Vou pegar nosso equipamento.
—Quer ajuda? — ofereceu Grant.
—Não. Eu sei que você está morrendo de vontade de conversar com David sobre
alguma coisa, então agora é sua chance de fofocar como uma velhota.
Grant piscou, surpreso, mas não disse nada enquanto Caleb saía com passos largos e
poderosos.
—Do que ele está falando? — perguntou David .
Grant esfregou o pescoço como se doesse. —Eu pensei que estava sendo sutil. Tudo
que fiz foi dizer como seria bom encontrá-lo e conversar com um homem que estivesse do

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lado de fora e que entendia o que era ser parte do Delta. Eu não acho que Caleb saiba sobre
o que eu queria falar com você a sós.
—Sobre o quê?
Grant apertou os lábios em uma linha fina. —Estou pensando em sair. Deixar os
militares.
David tentou não mostrar sua surpresa. Grant adorava seu trabalho, ou pelo menos
adorava durante o tempo que David estivera com ele, que fora desde a formação básica. —
Por quê?
Grant fechou os olhos dourados. —Está começando a me atingir. —Engoliu em seco
e David podia ver seu amigo se esforçando para reter alguma emoção sem nome. —No
mês passado, acabamos com um acampamento de inimigos que estavam envolvidos com
armas de alto poder de fogo. Não era nada novo, só que eram... crianças. Deus, alguns deles
não eram nem mesmo adolescentes ainda.

David estava feliz por não ter ideia do que era matar uma criança. Pelo menos, este era
um pecado que nunca cometera.
—Isso não os torna menos letais, — disse David .
Grant assentiu, mas não abriu os olhos. —Eu sei. Perdemos um bom homem naquela
noite no tiroteio. Como eu, Evans hesitou quando viu que eram apenas crianças. Custou-
lhe a vida.
—E você está preocupado que a mesma coisa poderia acontecer a você.
Grant olhou para ele, então, um olhar frenético e doloroso que implorava por ajuda.
—Ou um dos outros homens. Se alguma coisa acontecesse a Caleb por minha causa...
David tentou interromper sua reação ao pensamento de qualquer um de seus amigos
serem mortos, mas já era tarde demais. Essa preocupação já criara raízes e começou a
crescer, acumulando sobre sua pilha já respeitável de preocupações. —Ele pode cuidar de
si mesmo, — disse David, tentando se convencer disso.
Grant deu um grunhido sem humor. —E todos ao redor dele, aparentemente. Mas
somos parceiros. Cobrimos as costas um do outro. Agora que você se foi, eu odeio deixá-lo.

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David sentiu uma pontada de culpa mais uma vez por deixar seus amigos para trás.
Ele deveria ser um homem mais forte, deveria ser forte o suficiente para colocar sua dor de
lado e continuar lutando. —O que ele diz?
A boca de Grant levantou em um sorriso. —Ele diz que eu preciso me casar e dar-lhe
algumas crianças para brincar. Seus irmãos não estão fazendo seu dever de procriação
rápido o suficiente para se adequar a ele.
—É isso que você quer?
Grant ficou quieto por um tempo, olhando para a floresta. —Sim. É o que eu quero há
muito tempo. Visitamos o irmão de Caleb, Saul, no ano passado. Ele estava tendo alguns
problemas com a volta para a fazenda. Saul poderia precisar de uma mão e eu tenho duas
boas.
—Então, o que está prendendo você?
—Caleb... Ele está me assustando ultimamente. Algo aconteceu há alguns meses.
Uma operação correu mal e ele se culpa. Ele está correndo riscos desnecessários. — Grant
alfinetou David com um olhar duro. —Você sabe o que quero dizer.
David sentiu um toque nauseante no estômago. A culpa de Caleb o fazia assumir
riscos que não deveria. Fazendo com que não se importasse se sobreviveria ou não a uma
operação. Quando a culpa ficava grande demais para suportar, o esquecimento parecia
uma boa solução. David sabia disso muito bem. — Sim, eu sei.
—Então você entende porque não posso simplesmente sair. Ninguém mais conhece
Caleb como nós. Ele precisa de mim para mantê-lo estável para que não faça nada
estúpido.
—Ele quer sair, também? — Sair do Delta foi o que salvou a vida de David e de seus
amigos. Ele se tornou descuidado em um trabalho onde essa falha poderia facilmente ser
fatal.
Grant balançou a cabeça. —Sem chance.
David deu um suspiro. Ele não gostava de tudo isso. Grant e Caleb eram seus amigos
mais próximos, e mesmo que não tenha sido capaz de manter contato com eles por um

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longo tempo, era como se o tempo não tivesse passado. Estar com eles novamente era tão
natural quanto respirar. Tinha que descobrir alguma maneira de manter a ambos seguros.
—E quanto a transferência para algo mais seguro? Informação interna? Formação? O
que Caleb acharia disso?
—Eu não sei. Ele talvez aceitasse melhor uma ordem, que uma sugestão.
—Você quer que eu fale com Monroe? — perguntou David .
Grant soltou um suspiro cansado. —Ele me mataria se descobrisse que eu te contei
disso. E te mataria por isso também.
—Ele vai matar a si próprio se não fizermos nada.
—Eu estive pensando em pedir-lhe para vir comigo para o rancho de sua família.
Você sabe, uma licença prolongada sem realmente ter um compromisso.
—Que bem isso vai fazer?
—Isso daria a ele o gosto da vida do lado de fora do Delta por um tempo. Ele tem
uma família grande, quatro irmãos e uma irmã caçula. São todos cabeças-duras, mas o
receberam em casa com tanto amor, que é difícil acreditar que ele seja capaz de deixá-los de
novo, principalmente porque ele é necessário lá. Quem sabe, poderia até arrumar uma
mulher e mudar de ideia sobre sair.
David pensou em Noelle. Não a conhecia a muito tempo, mas já se perguntara do
que ele voluntariamente desistiria se achasse que tinha até mesmo uma pequena chance de
ficar com ela. —Isso poderia funcionar.
—Eu tenho que tentar alguma coisa, capitão. Não posso deixá-lo manter sua vida
desse jeito. Ele me salvou várias vezes. O mínimo que posso fazer é tentar salvá-lo desta
vez.
—Vou conversar com Monroe sobre uma ausência prolongada, assumindo que
ambos não serão completamente expulsos por vir me ajudar. — Parte dele esperava que
fossem. Pelo menos, seus amigos estariam a salvo. Talvez não felizes, mas seguros.
Grant deu um sorriso acanhado. —Caleb faria qualquer coisa por você. O fato de
haver uma mulher com problemas apenas adoçou o negócio.
—Ele é um bom homem.

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—Um dos melhores, — concordou Grant. —É por isso que eu tenho que manter a
bunda dele fora de problemas. Eu nunca poderia enfrentar sua família, se eu deixar que ele
se mate.
David sabia que enfrentar a família de Caleb seria o menor dos problemas de Grant se
Caleb morresse. Ele teria que aprender a viver com a culpa de saber que não conseguira
trazer Caleb à razão. Isso era um inferno muito pior, David sabia por experiência própria.
—Se Deus quiser, você não terá que enfrentá-los. De uma forma ou de outra, nós vamos
proteger Caleb, mesmo que isso signifique chutá-lo para fora do Delta.

Owen franziu a testa com a chegada dos homens de David. Ele gostava de um
desafio, mas as chances estavam rapidamente se virando contra ele. Isto simplesmente não
aconteceria.
Não era tolo o suficiente para correr o risco de perder a menina, o que significava que
teria que pedir reforços, e não de alguém com meleca no nariz, como Brian. Cobertura real,
homens que ele mesmo treinara, homens que sabiam o preço do fracasso.
Owen deslizou silenciosamente para fora da vista. O grandalhão que chamavam
Caleb ficou olhando o seu caminho, e apesar de Owen saber que não podia ser visto, os
olhos negros de Caleb ainda eram desconcertantes. Teria que fazer algo sobre aquele
homem antes que as coisas saíssem do controle. Ele era muito perigoso para ficar vivo.
Caleb se afastou, indo na direção oposta de Owen, mas ainda era necessário que
Owen reunisse seus homens. Precisava fazer alguns planos e não havia muito tempo antes
que o Sr. Lark enviasse outra pessoa. Alguém competente dessa vez.
O tempo da paciência acabou. Era hora de levar a menina.

Capítulo 22

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Noelle ainda estava envergonhada por ter confundido os amigos de David com os
bandidos, por isso, enquanto eles jantavam, sentou-se ao lado, tentando ficar invisível.
David e seus amigos falavam sobre estratégias de defesa de perímetro e um monte de
outras coisas que deixavam seus olhos vidrados. Desligou-se do assunto e deixou sua
mente se concentrar em seu trabalho até que todos se calaram e olharam com expectativa
para ela, como se alguém acabasse de lhe fazer uma pergunta e estivesse esperando por
uma resposta.
—O quê?, — perguntou ela.
—Você quer algo mais para comer? — Perguntou David, mas algo em seu tom a
levou a acreditar que esta não era a pergunta original.
—Não, obrigada.
Caleb olhou de David para Noelle e falou em voz baixa, —Grant e eu iremos limpar
tudo. Por que você dois não vão dar um passeio?
Noelle ficou contente com o pensamento de estar sozinha com David novamente, e
quando ele se levantou e estendeu a mão em sua direção, descobriu que não era capaz de
recusar. Queria tocá-lo, muito.
Silenciosamente, ele a ajudou a colocar seu colete e casaco e a levou para fora, para a
luz restante do sol.
David ajudou-a descer as escadas em direção a um pequeno caminho que ela o vira
usar várias vezes antes. O vento cheirava a folhas secas e geada e varria o calor e a umidade
do rosto e das mãos, enquanto soprava perto deles. Os seus passos soavam altos em
comparação com David e ela não tinha ideia de como um homem com quase o dobro do
seu peso podia fazer metade do ruído que fazia, tanto sobre as folhas caídas, como sobre os
pedaços de paus.
Ele a levou por um caminho curto, oculto e abrigado, em torno da floresta, antes que
parasse. —Precisamos conversar, — disse ele, com a voz sombria e determinada.
Noelle temeu o que ele teria a dizer. Ela só queria poder terminar seu trabalho e pegar
seu caminho. Seu pobre coração estava em perigo de se perder, a cada minuto que passava
com David .

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—Vá em frente e fale, então, — disse ela.


—Alguém tem que ficar com você esta noite. Eu sei, as coisas... fugiram do controle
entre nós. Não vou dizer que sinto muito, porque eu estaria mentindo. — Ele balançou a
mão e deu alguns passos, colocando distância entre ambos.
—Eu também não lamento, David. Eu disse sem arrependimentos e quis dizer
exatamente isso. —Era um reconhecimento surpreendente saber que era verdade. Não se
arrependeu por ter dormido com ele, independentemente das consequências. A vida era
muito curta e preciosa para perder sequer um minuto.
Ele estava de costas para ela, e podia ver a tensão fluindo em seus braços e coluna
vertebral. —Eu não sei exatamente o que é esta coisa entre nós, mas eu queria ter certeza
que você sabe como eu me sinto. Sobre ontem à noite, eu quero dizer. Eu sinto... — Ele
parou com uma série de baixas maldições. —Eu não sinto muito, isso é tudo.
Noelle foi até ele, sabendo que estava brincando com fogo. Colocou uma mão fria em
sua manga e ele se encolheu. —Não temos que falar sobre isso agora. As coisas ainda estão
loucas, e seria tolo tomar qualquer decisão com base na nossa situação atual. Vamos tentar
não pensar sobre isso e seguir em frente.
Ele virou-se tão rápido que ela pulou para trás em choque. Seus olhos azuis brilhavam
com raiva e algo mais intenso. —Tentar não pensar nisso? É tudo em que eu consigo
pensar! Toda vez que eu olho para você, tudo o que posso pensar é como escorregadia e
quente eu te senti ao entrar quente e duro em seu corpo doce uma e outra vez. Eu vejo sua
boca e lembro-me de como você gemeu, de como é seu gosto. Eu vejo suas mãos e lembro-
me como elas se moveram sobre minhas costas, as unhas me arranhando enquanto você
gozava.
Suas palavras a acertaram como um chicote de fogo - quente e brilhante e de forma
muito intensa. Seu corpo estremeceu, lembrando-se muito bem como foi bom quando ele
a levou ao limite muitas e muitas vezes. Ela queria mais. Agora, aqui na floresta, ao vento
frio. Não se importava que houvesse pessoas não muito longe. Não se importava que
pudesse ter aranhas ou hera venenosa. Tudo o que queria era senti-lo dentro dela de novo,
para sentir o prazer que só ele sabia como persuadir seu corpo a sentir.

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Estendeu a mão para ele, mas ele deu um passo para trás. —É melhor você ter certeza
antes de tocar em mim, — ele exigiu. —Eu não tenho muito controle agora, e se você me
tocar, tudo vai desmoronar.
Noelle tinha certeza. Ela o queria, independente das consequências. Talvez ela fosse
autodestrutiva. Talvez fosse mesmo errado. Ela simplesmente não ligava mais. Sua atração
por David era muito forte para negá-la.
Com movimentos lentos e deliberados, estendeu a mão e tocou seu rosto. Os
músculos da mandíbula de David cerraram quando ele rangeu os dentes. Ela podia ver
um brilho fino de suor cair sobre sua testa.
E, em seguida, todo o seu controle desapareceu. Ela podia ver isso em seus olhos, na
forma como a sua expressão mudou de dor para aceitação. Vitória.
Ele estendeu a mão para ela e a puxou para um beijo. Foi duro, exigente. Ela recebeu o
impulso de sua língua em sua boca e devolveu a sua paixão da mesma maneira. Ele
agarrou seus quadris, levantando-a até que podia sentir sua ereção entre suas coxas. O
mundo de Noelle entrou em colapso até que só restou o espaço entre eles, os sons do prazer
e do cheiro da pele de David e sua própria excitação.
Ela sentiu suas mãos apertarem seu bumbum, enviando tremores de corrente elétrica
ao longo de seus membros. Ela puxou a boca longe da dele para encontrar o calor salgado
de sua garganta. Ela adorava o gosto dele. Lambeu e mordeu delicadamente, logo abaixo
da orelha, onde sabia que o faria rosnar de prazer. Adorava a sensação de seu corpo, a
forma como as mãos fechavam sobre seu traseiro, enquanto se aproximava de seu lugar
preferido com a língua.
Ele apertou-a contra uma árvore grossa para suportar seu peso, liberando as mãos
para explorar. Seu corpo a apertou, seus quadris girando lentamente, apertando contra ela
de forma que fazia seu sangue ferver. —Preciso de você dentro de mim, — ela ofegou
contra o seu pescoço. —Agora.
Seus longos dedos fizeram um rápido trabalho em seu jeans, depois nela, despindo-a
apenas de uma perna da calça. Em segundos, colocou as pernas dela enroladas em sua

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cintura, para que estivesse aberta e vulnerável para ele. O vento frio gelou sua pele
superaquecida e ela choramingou, necessitando dele para mantê-la quente.
David levantou-a para posicionar sua ereção em sua entrada e deslizou-a lentamente,
enchendo-a centímetro por centímetro. Ela estava lisa e pronta para ele, e não havia nada
para barrar seu caminho.
Noelle só podia gemer quando a gravidade levou-a até a conclusão inevitável de seu
passeio. David esticou seu corpo, acariciando todas suas terminações nervosas
delicadamente. Aberta como estava, ela não podia evitar a pressão de atrito do seu corpo
contra o dele. Dentro e fora, ele colocava fogo nos locais mais sensíveis em seu corpo,
mesmo sem se mexer.
David respirava com dificuldade, a cabeça atirada para trás para dar-lhe espaço para
mordiscar e beijar a espessa coluna de sua garganta.
—É tão malditamente bom... —ele ofegou. — ... Estar dentro de você.
Noelle fez um som áspero em reconhecimento a seu elogio e tentou mexer os quadris
para liberar a pressão que rapidamente estava se construindo dentro dela.
David agarrou o cabelo dela para alavancar sua boca em posição para um beijo
profundo e molhado. Ela provou seu desespero, sua urgência, e isso aumentou seu próprio
desejo. —Eu preciso que você se mova, — ela exigiu contra sua boca.
E ele obedeceu. Ergueu-a até que mal estava dentro dela, depois baixou-a até que ela
achou que morreria com a sensação de estar preenchida. Mais e mais ele mexia o seu corpo,
provocando seus suspiros e gemidos. Ela estava perto, e não podia ir mais devagar.
O vento levou os sons dos dois fazendo amor quando a voz de Noelle subiu para um
tom mais exigente. Ela não era capaz de se conter. Não agora. Não enquanto seus braços
duros a seguravam, levando-a nas alturas do prazer.
Com um impulso final, ela se soltou. Seu orgasmo varreu seu sistema em uma
tempestade de prazer tão forte que a fez gritar. Seu corpo convulsionou em torno dele,
fazendo-a se sentir ainda mais completa, causando uma nova onda de prazer correndo
através de seus nervos.

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Quando as ondas começaram a diminuir, sentiu a tensão de David puxando-a


totalmente para si. Ele soltou um ruído gutural e ela sentiu-o preenchê-la com jato após jato
quente de sêmen.
Sua respiração soou áspera na noite tranquila, mas Noelle não se importou. Seus ossos
viraram gelatina e seu cérebro pudim. Ela soltou vagarosamente os braços dos ombros de
David, confiando nele para segurá-la.
Uma vez que seu coração abrandara, ele separou seus corpos e ajudou-a a deslizar a
perna da calça jeans e da calcinha de volta, para que pudesse afundar no chão e se
recuperar. Ela já podia sentir a umidade de sua liberação escorrendo em seu jeans,
refrigerando no ar gelado.
David ajustou sua roupa, observando-a com uma expressão reservada. Ela se
perguntou se os homens se sentiam inseguros após o sexo, do mesmo jeito que ela. Ou pelo
menos, da forma como ela costumava se sentir. Agora, não se sentia assim, sentia-se
poderosa e sensual. Ela gostava dessa parte de ser mulher - sabendo que dera prazer a seu
homem, e se tivesse outra chance, daria novamente.
—Você está bem? — perguntou ele. —Eu, uh, te pressionei muito duramente contra
a árvore.
Noelle sentiu a boca se curvar em um sorriso. Ainda podia sentir a impressão da casca
áspera ao longo de sua espinha, e adorou. —Eu sei.
Ele passou a mão larga sobre o seu cabelo curto e escuro, como se para arrumá-lo, o
que era bobagem, considerando-se que era muito curto para ser facilmente despenteado.
—Eu tinha a intenção de trazê-la aqui para perguntar se você prefere que Caleb fique na
cabana com você esta noite.
De repente, Noelle sentiu um pouco da insegurança pós-sexo retornar. —Caleb?
—Sim, bem, eu mudei de ideia. Depois disso— ele acenou vagamente para a árvore
que acabara de ser usada descaradamente. — Não creio que poderia deixá-lo ficar com
você. Pelo menos sem querer matar alguém. Normalmente não sou um homem
ciumento, mas eu me vejo incapaz de dividir agora.

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—Bom, — disse Noelle. —Eu tenho um código para escrever, e não acho que a ideia
de Caleb me olhando com aqueles olhos negros seja muito reconfortante.
—Malditamente certo, — concordou David .
Noelle endireitou o casaco. Ela estava esperando David para voltar para a cabana,
mas ele estava hesitando e ela não sabia por quê.
Finalmente, ele suspirou e soltou. —Nós fizemos isso novamente— disse ele. —Sexo
sem proteção.
—Eu sei.
—Você está bem com isso?
—Em uma situação ideal, teríamos preservativos e pílulas anticoncepcionais. E uma
cama de verdade. Mas esta situação está longe de ser perfeita. — Estendeu a mão e a
colocou contra o rosto dele. Seus olhos se fecharam, e ela quis que ele entendesse todas as
emoções tumultuadas dentro dela. Não conseguia se arrepender de fazer amor com
David. Simplesmente não conseguia. —Vamos lidar com as coisas quando tiver algo para
lidar. Agora, tenho que me concentrar no meu trabalho. Estou perto, David.
Ele assentiu e colocou a mão dela na sua. O olhar em seu rosto era tão grave que a
preocupava. —Eu só quero que você saiba que, se houver um bebê, eu vou tomar conta
dele. Aceitá-lo. Ou ela. Não vou furtar-me a responsabilidade se você não quiser o bebê.
Okay?
Noelle piscou. O homem estava realmente pensando adiante, mas afinal, era parte de
sua profissão fazer isso. Era a única maneira de estar preparado.
Ele estava esperando por sua resposta, ela podia ver a luz em seus olhos ansiosos. Não
podia deixá-lo esperando. —Okay, — disse com cuidado. —Se houver um bebê,
conversaremos sobre como lidar com isso. Não vou tomar nenhuma decisão sem falar
com você primeiro. —Ela não sabia se poderia dar seu filho para adoção, mesmo para o pai
dessa criança, mas era quase como se ele estivesse animado com a possibilidade de se
tornar pai.
Algo dentro dela derreteu quando percebeu isso. A maioria dos homens preferia se
desfazer da garota do que estar preso com a responsabilidade de sustentar uma criança,

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mesmo financeiramente, e muito menos ser um pai real. Mas David se oferecera para
cuidar de um bebê que sequer existia.
Foi nesse momento que percebeu seu erro. Apesar de sua inteligência aguçada e anos
de educação avançada, apesar de sua advertência para si mesma, que mantivesse distância
de David, apesar da carreira dele e seus princípios não pudessem se entrosar, Noelle fizera
a coisa mais estúpida de sua vida.
Apaixonara-se por David .

Capítulo 23

David sentou nos degraus em frente à cabana, na manhã seguinte, bebendo café com
Caleb e Grant, a fim de dar tempo a Noelle para trabalhar em paz. Ela disse que estava
perto de uma solução e ele rezava que estivesse certa.
O ar frio e claro cheirava levemente a pinho e as folhas que caíram. Havia uma
pequena brisa e apenas o topo das árvores se moviam quando eram balançadas pelo vento
frio.
—Eu continuo esquecendo o quanto amo este lugar, — disse Caleb.
—Claro como o inferno que bate no deserto, — respondeu Grant. —Não há nada
pior do que sua bermuda cheia de areia.
David olhou Caleb, mantendo seu rosto solene. Algo sobre Caleb mudara desde que
trabalharam juntos há dois anos. Ele estava mais sério que costumava ser. Mais silencioso.
David pensou sobre o que Grant dissera sobre Caleb arriscar demais sua vida. —
Você já pensou em uma mudança de carreira? Você é um ótimo carpinteiro. Por que não
tenta a marcenaria ou algo assim e faz deste lugar sua casa permanente?
—Essa é uma ideia, — disse Grant, os olhos brilhando de emoção. —Poderíamos
ajudá-lo a expandir o local. Colocar um banheiro de verdade e talvez uma suíte.

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Poderíamos até ver sobre a obtenção de linhas de energia até aqui para que você não tenha
que usar o gerador.
Caleb sequer piscou. Permaneceu lá, a xícara de café envolvida em suas mãos
enormes, olhando para a floresta daquela maneira paciente que fazia David querer sacudi-
lo para ver se ele sequer sabia que estavam falando com ele.
—Aposto que você poderia trazer a televisão por satélite até aqui, — continuou Grant.
—Com isso e uma geladeira cheia de comida e cerveja, o que mais um homem poderia
querer?
Um lado da mandíbula de Caleb se contraiu, mas ele permaneceu em silêncio.
David conhecia Caleb bem o suficiente para ver que ele estava sofrendo, mas pelo
que, David não tinha ideia. Fosse o que fosse, a conversa era dura para Caleb, então era
hora de uma mudança no tópico. Caleb falaria sobre o que estava em sua mente, se e
quando, lhe conviesse, o que David esperava fosse em breve.
—Um de nós vai precisar fazer uma viagem à cidade amanhã, — disse David .
—Eu vou, — disse Caleb.
—Eu vou com você, — ofereceu Grant, um pouco rápido demais para ser casual.
David franziu o cenho para Grant, que lhe deu um olhar de desculpas.
—Eu não sou suicida, — disse Caleb. Sua boca achatada em uma linha irritada. —
Pare de agir como se eu não pudesse cuidar de mim.
—Eu sei que você pode cuidar de si mesmo, argumentou Grant. —Também sei que
Monroe o rotulou como um homem com poucos instintos de auto-preservação.
As sobrancelhas negras de Caleb subiram com esta notícia. —Ele fez isso? Huh.
David olhou para Grant para ver se esta era uma de suas piadas de mal gosto. Grant
tinha um senso de humor estranho, mas agora, ele falava sério. —O que diabos aconteceu?
— perguntou David .
Caleb virou a cabeça e estudou a floresta. O rosto de Grant escureceu com raiva.
Nenhum dos homens disse uma palavra.
Um baixo zumbido veio da calça de Grant, e ele enfiou a mão no bolso para retirar
um celular por satélite. Uma olhada para o visor e soltou um suspiro resignado. —É o

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coronel Monroe, — disse quando apertou o botão para receber a chamada. —Tenente
Kent falando.
Grant ouviu, então fez uma careta. —Sim, senhor. O deserto é malditamente quente.
Ensolarado também, senhor.
David podia ouvir o barulho fraco da voz de Monroe.
—Não, senhor. Estávamos esperando o Capitão Wolfe nesta operação, senhor?
Grant disparou a David um olhar frustrado. —Sim, senhor. Se eu o vir, vou me
certificar de dizer que você está procurando por ele.
O barulho vindo do telefone ficou mais alto.
—Não, senhor. Estou bastante certo que sua bota não vai acertar tão longe minha... —
Grant afastou o telefone de seus ouvidos e todos os três homens puderam ouvir a voz de
Monroe, a profunda raiva crescendo para fora do pequeno alto-falante.
Houve uma série de vis maldições seguida pelo comando, —Passe o maldito telefone
para Wolfe , Kent!
—É para você, — disse Grant.
David pegou o telefone e começou a falar antes que Monroe dissesse a primeira
palavra —Não culpe Caleb e Grant por virem aqui, eu pedi para deixarem seus postos e
me dar uma mão.
A voz de Monroe estava baixa e irritada. —O inferno que você pediu. Eu conheço
esses dois homens e nenhum deles teve ordens para lhe dar uma mão. A única razão que
conseguiram fugir foi porque eu queria que eles o encontrassem. Sabia que o encontrariam,
não importava quão profundamente você tivesse se enterrado. Funcionou, também.
—Sim, senhor. Suponho que sim.
—Por que diabos você não atendeu o telefone por satélite?
—Eu não queria ser rastreado. Não gosto de usá-lo, então, seja rápido.
—Não abuse da sua sorte, filho. Você ainda está sob o meu comando durante o
tempo que ela estiver com você.
David engoliu uma frase desrespeitosa. —O que você quer, senhor?

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—Encontramos o informante. Era um dos agentes da CIA. O Swarm pegou seu filho
como refém, em troca de informações, embora a estas alturas, tenho certeza que o menino
já está morto. Colocamos o agente sob interrogatório por quarenta e oito horas e não acho
que ele saiba alguma coisa. Ele é apenas a ferramenta do Swarm.

Merda. David não podia conseguia perguntar quem era por medo que fosse alguém
que ele conhecia. Alguém que gostava. Talvez conhecesse o filho do homem. O
pensamento era mais do que ele podia aguentar agora. —Existem outros?
—Não sei. Esperávamos conseguir a localização atual do Swarm, através dele, mas
isso não parece esperançoso. Vamos recorrer a táticas mais extremas em poucas horas
apenas para nos certificar que ele não está mentindo, mas só queria que você soubesse que
agora deve ser seguro voltar.
—Vamos ficar aqui, por enquanto. É mais seguro.
—Você tem certeza?
—Sim, senhor. Eu realmente gostaria de sair desta linha agora, no entanto. Quem
sabe que tipo de equipamentos de localização eles têm.
—Eu entendo. Ela está fazendo progresso?
—Sim, senhor. Está. Eu não acho que vai demorar muito agora.
—Ligue novamente dentro de dois dias, Capitão.
—Sim, senhor. — David terminou a conversa e desligou o telefone. —Mantenha isso
desligado, enquanto está aqui. Não quero correr nenhum risco.
—Certo. Farei isso. Então, o quanto estamos fodidos? —perguntou Grant.
David sentiu-se sorrir. —Não é tão ruim. Monroe estava esperando que vocês
viessem me encontrar.
—Esse bastardo sacana. — Grant sorriu.
Os olhos de Caleb ficaram duros e frios. Ele, aparentemente, não gostava de ser
manipulado assim. —Se vamos ficar, devemos planejar aquela viagem para a cidade.
David ouviu o murmúrio baixo de frases incoerentes de Noelle, proveniente da
cabana. Seu coração aquecia com a ideia de ter um pouco de tempo sozinho com ela

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novamente. Logo ela terminaria seu trabalho, e eles seguiriam caminhos separados. Ele
queria passar tanto tempo com ela quanto podia antes que isso acontecesse. —Por que não
vão os dois para a cidade? Noelle e eu ficaremos bem aqui sozinhos.
—Tenho certeza que sim, — murmurou Grant com um sorriso.
—Ciúmes? — perguntou Caleb com uma expressão totalmente séria.
—O inferno, sim. David arranjou uma mulher inteligente que é muito bonita para
colocar em palavras, enquanto eu não tive nenhuma garota nas últimas semanas.
—Semanas? — disse David com uma careta de horror, pensando em seu celibato de
dois anos. — Pobres bebês.
—Foda-se, Wolfe. Eu não tenho que ficar ouvindo isso. — Grant se levantou e se
dirigiu para a linha das árvores. —Estou indo verificar o perímetro a pé e pensar na mulher
que vou pegar enquanto estiver na cidade amanhã.
—Ele vai, — resmungou Caleb quando Grant foi embora.
—Vai o quê? — perguntou David .
—Encontrar uma mulher disposta a dar uma rapidinha em um hotel com ele. Ou
talvez até mesmo em um banheiro público. Juro que o cara pode cheirar um alvo fácil a
duzentos metros. Ele vai tirar o atraso e me deixar fazer as compras de supermercado.
David riu. Não conseguiu se controlar. Sentira muita falta de seus amigos, inclusive de
se divertir com suas peculiaridades. —Já que você estará fazendo as compras, preciso
adicionar algumas coisas a sua lista.
—Como o quê?
David sentiu o calor na face. Ele era um homem crescido, mas não podia deixar de se
sentir um pouco constrangido sobre seu relacionamento com Noelle. Ainda era novo e
incerto e parte dele ainda se sentia como se estivesse sendo infiel à memória de Mary. Sabia
que era estúpido, mas não podia evitar.
David respirou fundo e simplesmente falou. —Eu preciso que você traga um teste de
gravidez.

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A expressão de Caleb se manteve neutra, sem surpresa. —Eu notei algumas


mudanças em você, como se estivesse começando a aparecer. Não quis comentar nada,
caso o problema fosse alta ingestão de gordura.
David riu, e caramba, se sentiu bem. —Não seja idiota. Isso é sério.
—Okay. Vou ver o que posso fazer.
—Eu não me incomodaria se soubesse quanto tempo ficaríamos aqui, mas não
sabemos e se ficarmos por mais algumas semanas... Eu só pensei que ela gostaria de saber.
A ideia realmente a assustou.
—E você, o que está esperando? Resultado positivo ou negativo?
David sabia o que queria, mas isso envolvia muito mais que apenas uma linha azul
em algum teste. Em um mundo perfeito, ele teria tudo isso. Uma esposa, filhos, uma vida
agradável, tranquila, onde não precisasse se preocupar com alguém querendo matá-lo ou a
sua família. Em um mundo perfeito, ele se perdoaria pela morte de Mary e seria capaz de
seguir em frente. Mas isso estava longe de ser perfeito e ele tinha que encarar a realidade. —
O que eu quero é que Noelle viva tempo suficiente para ver os resultados de um teste de
gravidez.
—Então, você quer que eu pegue algumas vitaminas pré-natal, apenas por garantia?
Minha mãe sempre tomou quando estava grávida.
—Boa ideia. Ela nem vai precisar saber e também tem os produtos de higiene
feminina.
—Droga, — disse Caleb, parecendo um pouco desconfortável, pela primeira vez
desde que chegou. —Eu não sei nada sobre isso.
—Você tem uma irmã, não tem?
—Sim, mas ela ainda era uma criança quando saí de casa. Não era realmente um
problema. Você é o único que teve uma esposa. Não deveria saber sobre essas coisas?
—Mary sempre cuidou dessas coisas sozinha. Eu nunca tive que aprender a
comprar... essas coisas.
Eles se inclinaram para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos para uma sessão
de estratégia. —Então, o que vamos fazer? — Perguntou Caleb.

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—Eu não quero perguntar a Noelle o que ela precisa. Ela está concentrada, e se eu
levantar a questão sobre saber se ela vai ou não precisar de... produtos de higiene íntima, ela
pode se distrair.
—Certo. Vamos descobrir sem ela. Nós planejamos missões que eram mais difíceis
que isso, certo?
David deu um olhar incrédulo a Caleb. —Eu não me lembro de nenhuma. —
Empurrou uma respiração para fora. —Okay. Acho que Mary usava absorventes internos.
Por que você não compra esses?
—Eles não vêm em tamanhos diferentes?
—Como diabos eu saber?
—Eu acho que vêm. Ela parece que usa os pequenos. O que você acha?
Esse pensamento fez David lembrar como ela estava apertada e escorregadia quando
ele a tomou na última noite contra a árvore. Ele limpou a garganta e focou na conversa
antes de se tornar fisicamente desconfortável. —Talvez você devesse trazer uma variedade,
apenas para se prevenir.
—Eu posso fazer isso.
—E alguns preservativos.
Caleb sorriu agora. —Você quer estes em tamanho pequeno, também?
David balançou a cabeça. —Foda-se, Stone.
—Nem mesmo em seu melhor dia.

Noelle fechou o laptop e arrumou a pilha caótica de notas sobre a mesa cheia de
marcas. Já estava escuro, e podia ouvir as vozes dos homens na varanda, brincando e rindo
juntos. Podia ouvir a voz de David, e toda vez que ele ria, a fazia sorrir.
Era um som maravilhoso. Que ela não seria capaz de ouvir por muito mais tempo.
Estava quase pronto. Algumas linhas mais de código para depuração, e tinha certeza que
seu programa funcionaria.
Depois disso, sabia que David a levaria de volta para Monroe e voltaria para sua vida
sem ela.

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Era um pensamento sombrio e ela se recusou a se demorar nele agora. Ela tinha
muita responsabilidade para deixar qualquer parte de seu cérebro ficar ocupado por
problemas emprestados. David ainda estava aqui e ela usaria o pouco tempo que tinha
para fazer muitas memórias que pudesse guardar com ela, mesmo depois que ele se fosse.
Colocou café em quatro canecas e levou-as para fora, usando uma placa de madeira
como bandeja.
Quando empurrou a porta, os homens ficaram em silêncio e todos os seis olhos se
voltaram para ela. —O quê? — Ela perguntou, contorcendo-se sob toda a atenção
masculina.
—Nós apenas não esperávamos vê-la separar-se do seu trabalho, — disse Grant.
David se levantou e pegou as canecas, entregando-as aos outros. —Tudo bem? Você
está bloqueada de novo?
Noelle balançou a cabeça. —Estou em um ponto sensível e se começar a vasculhar o
código sem a cabeça clara, vou acabar fazendo mais mal que bem. Vou começar de novo
pela manhã, quando minha mente estiver fresca.
David bebeu um gole de café, olhando para ela por cima da borda da caneca. —
Parece muito bom que você esteja pensando em realmente dormir esta noite. E não à mesa,
também.
Noelle ofereceu-lhe um sorriso tímido. O que era isso sobre a forma como ele olhava
para ela e a fazia se sentir toda melosa por dentro? —Eu pensei em dar ao saco de dormir
outra oportunidade. A possibilidade de cair dali é menor que do banco da mesa.
Pelo canto do olho, ela viu Caleb empurrar Grant com um braço grosso. —Devemos
ir, — disse ele.
—Uh, sim, — gaguejou Grant. —Temos muito a fazer hoje à noite. Você sabe, fazer
uma fogueira e... outras coisas.
Caleb balançou a cabeça para Grant e ele acabou com seu café. —Boa noite, Capitão.
Noelle.
Grant deixou sua caneca na varanda e seguiu Caleb de volta para a linha das árvores,
onde acamparam na noite passada.

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—Por que eles não ficam na cabana com a gente? Irão congelar lá fora.
David levantou-se e ofereceu-lhe a mão. —Eu prometo a você que nem mesmo
sentirão frio. Estivemos no frio antes, e isso não está nem perto. Além disso, eles não querem
se intrometer entre nós.
As bochechas de Noelle se aqueceram. —Oh.
—Mas se isso for fazer você se sentir melhor, vou buscá-los e ordenar que durmam lá
dentro. Eles não vão gostar, mas dormirão.
—Uh, não. Tudo bem.
Ele estava olhando para ela, seus olhos azul-escuros sob a luz fraca da varanda.
Apenas o brilho suave da lanterna dentro iluminava o espaço. Ele ainda segurava sua mão,
e estava perto o suficiente para que ela pudesse sentir o cheiro de sua pele. Ele estava apenas
observando-a, esperando que ela fizesse algo.
Se ela fosse uma sedutora, agora era a hora em que diria algo sexy e o puxaria para
um beijo. Mas ela não era e realmente não sabia como dizer a ele que queria transar
novamente antes de se separarem. Achava que ele ainda a queria. Estava olhando para ela
com olhos famintos, e não estava se afastando. Mas não estava se movendo para mais
perto, também.
Ele estava deixando a próxima jogada para ela. Se isto fosse xadrez, ela já o teria nu,
deslizando dentro dela. Xeque-mate. Mas isso não era algo que ela conhecia, e sua
insegurança a estava deixando maluca.
Noelle se recusou a ser tímida ou adolescente sobre isso. Ela sabia o que queria, e
mesmo que não tivesse certeza de como proceder para tomá-lo, pelo menos, o deixaria
saber o que queria sem margem a dúvida. —David, — começou, então vacilou.
—Sim, querida?
O doce carinho a fez estremecer com o calor e deu-lhe coragem. —Se você não estiver
muito ocupado e se não se importar muito, eu acho que gostaria se pudesse entrar na
cabana para fazer amor.
Um sorriso masculino curvou seus lábios e Noelle se viu olhando para ele. Querendo.
— Não acho que estou muito ocupado no momento.

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—Não?

Ele balançou a cabeça lentamente. —E, quanto a me importar, bem, você me diz o
que acha. — Ele pressionou a palma da mão ao longo do cume em seu jeans, a prova dura
e inconfundível de que ele a desejava.
A insegurança de Noelle desapareceu. Ele a queria. E ela o queria. Ela colocou os
braços em volta do seu pescoço, levantou-se sobre os dedos dos pés e beijou-o. Seus lábios
estavam quentes e firmes, e ele tinha gosto de café doce.
Suas mãos deslizaram em volta da cintura, apertando, segurando-a perto. Podia
sentir sua ereção dura contra sua barriga macia e isso fez seu interior derreter.
Sua língua brincou ao longo do interior liso do seu lábio inferior, seus dentes
mordiscando e puxando sua boca delicadamente. David gemeu e embalou sua cabeça
para que pudesse beijá-la mais profundamente. A cabeça de Noelle nadou com a sensação
e simplesmente se deixou flutuar no meio dela. Nada mais importava agora, exceto a boca
de David sobre a sua, seu corpo pressionado firme e quente contra ela.
De repente, ele se afastou, os olhos escuros e quentes em sua boca. Suas mãos
flexionaram contra seu couro cabeludo, a outra ao longo do quadril. —Você tem certeza?
— Perguntou ele.
—Nunca tive mais certeza de nada na minha vida. Eu preciso de você David . Desejo
você.
Suas narinas inflaram, como se puxando seu perfume e sua mandíbula apertou com
a tensão. —Deus, adoro ouvir você dizer isso.
Ela ofereceu-lhe um sorriso de aprovação feminina. —Vamos para dentro.
Noelle tomou sua mão e levou-o pela porta. David observou-a enquanto tirava seu
casaco e colete, e depois continuou a se despir. Noelle observava com atenção completa,
quando ele desamarrou suas botas, tirou as meias, calça jeans e camisa. Ele ficou diante dela
completamente nu e excitado, completamente indecente. Seu peito era coberto com uma
faixa escura de pelos que se estreitavam enquanto desciam por seu corpo. Sob a luz fraca, os
músculos em seus braços e pernas estavam acentuados com sombras profundas, fazendo

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com que seus dedos coçassem para deslizar sobre os contornos masculinos. Seu pênis se
projetava a partir de um ninho de pelos escuros, apontando com orgulho para o teto, a
ponta brilhando em antecipação.
A boca de Noelle encheu de água com a visão.
A voz de David estava baixa e áspera com a excitação. —Aprecie bem, pois, logo que
eu a despir, estaremos pressionados muito juntos para que você possa ver alguma coisa
Ele estendeu a mão para ela, mas Noelle recuou, esquivando-se de sua mão. —Deixe-
me, — disse ela, querendo dar-lhe o mesmo show emocionante que ele acabara de lhe dar.
—Eu não sou stripper profissional, então você vai ter que perdoar minha falta de
experiência.
Um ronco baixo de aprovação soou de sua garganta e seus olhos se fixaram em seus
dedos, que estavam abrindo os botões da camisa de flanela que emprestara dele para se
aquecer.
—Vou apreciar o entusiasmo sobre a experiência, sempre.
Ela tirou suas camadas de roupa, as mãos tremendo de excitação. Nem uma vez os
olhos de David se afastaram dela. Ele ficou lá, com os pés apoiados no chão, as mãos
apertadas ao lado, como se estivesse tentando se controlar para não agarrá-la. Enquanto ela
o observava, seu corpo ficou tenso, a ereção se contorceu e Noelle o olhou com espanto.
—É o suficiente para um show, — grunhiu David, quando diminuiu a distância entre
eles e puxou seu corpo nu para seus braços. Apenas a calcinha e meias permaneceram, e
quando seus corpos se encontraram, a suavidade dos pelos de seu corpo contra sua pele
acendeu cada um de seus nervos. Seu calor envolveu-a, fazendo-a sentir seus ossos
derretidos.
—Beije-me, — ela exigiu, e ele obedeceu com um sorriso triunfante.
Noelle abriu a boca para seu ataque apaixonado, suspirando quando provou-o mais
uma vez. Seus braços eram faixas quentes em torno de seu corpo, segurando-a na posição
vertical, apesar de suas pernas bambas. O mundo de Noelle se inclinou e ela relaxou,
confiante em David para levá-la com segurança até a almofada do saco de dormir colocado
no chão.

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O ar estava frio, mas o frio não a atingia, não enquanto estava sendo presa na fornalha
do calor do corpo de David. Com o saco de dormir escorregadio em suas costas e David
deitado em cima dela, cobrindo seu corpo com o dele, Noelle sentia-se totalmente segura,
protegida e desejada. Era uma combinação explosiva, que apreciava com todos os
neurônios de pensamento consciente que restavam.
Seu corpo zumbia, vibrando onde suas mãos acariciavam. Noelle queria ir mais
devagar para que pudesse saborear cada momento, mas seu corpo tinha outros planos. Ela
sofria com o vazio, sabendo que a única coisa que poderia aliviar aquela dor era David. Ela
passou as pernas pela cintura dele, estendendo-as ansiosa, mas David não pegou a dica.
Moveu-se para seu lado, se afastando de sua boca com um beijo audível. —Eu quero olhar
você desta vez, — disse ele.
Noelle não tinha ideia do que ele queria dizer. Ele sempre a observava. Ela
amaldiçoou sua falta de experiência, mas se recusou a desistir do calor que se construía
entre eles. Estendeu a mão para ele, tentando puxá-lo de volta para cima dela, mas ele não
se moveu.
—Assim, — disse ele, e moveu seu corpo até que ela montada em suas coxas.
Noelle olhou para a maravilhosa vastidão do homem abaixo dela. Ele estava
apresentado como um sacrifício, e Noelle não queria nada mais que tomar o que ele
oferecia. Mas em vez disso, ela ainda se segurava, obrigando-se a ir devagar. Esta era
provavelmente a última vez que fariam amor, e ela queria ir devagar.
O cabelo nas pernas fazia cócegas no interior sensível de suas coxas, que estavam
amplamente abertas para alcançar ambos os lados de seu corpo. Ela abriu os dedos sobre
suas costelas e se inclinou para frente para chegar a sua boca. Não era alta o suficiente para
alcançar, de modo que contentou-se em beijar seu pescoço. Seu pênis estava pressionado
quente e duro contra seu estômago, e o contato fazia David gemer. A língua de Noelle
correu para saborear sua pele, mergulhar no espaço de sua garganta em um beijo
molhado. Ela sentiu o comprimento sinuoso da fina corrente de ouro em volta do pescoço
dele, mas não se permitiu pensar por que ela estava lá.

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—Mmmm. — Ela soltou um gemido, apreciando o sabor salgado do homem


excitado. —Você todo tem um gosto tão bom?
Sentiu-o tenso e deleitava-se com o conhecimento de seu poder feminino. Seus lábios
se arrastaram sobre um ombro largo e ela afundou os dentes delicadamente no bloco duro
de músculos.
David assobiou, e Noelle deu um sorriso maldoso contra seu ombro. —Você gostou
disso.
—Deus, mulher! Você está me tirando do sério.
—Quer que eu pare?
—Claro que não.
—Então não se importa se eu experimentar mais de você? Explorar você?
Ela sentiu o movimento no peito em uma risada baixa. —Nunca conheci um homem
que morreu de luxúria, mas se acontecer, pelo menos vou morrer feliz.
Noelle tomou isso como consentimento e deixou suas mãos e boca vagarem sobre o
peito, descendo pelo abdômen. Ela adorava a textura do seu cabelo e o calor suave de sua
pele por baixo. Ele cheirava a floresta ao pôr do sol, belo, selvagem e limpo. A dureza de seu
corpo tanto intrigava quanto a excitava. Ela nunca soube o que era sentir tanto poder até
que sua força de aço flexionou sob as palmas das suas mãos.
Continuou sua trilha de beijos, toques e mordidas em seu corpo até que atingisse o
comprimento desenfreado de sua ereção. Seu corpo inteiro estava tenso, duro, enquanto ela
o estudava, deixando à vista sua necessidade por ela. Ela nunca pensou que o corpo
masculino fosse tão atraente, mas para ela, a excitação nua de David era linda.
Estendeu um dedo magro e tocou a prova de sua necessidade, que brilhava à luz do
lampião.
David puxou uma respiração estrangulada, e seus quadris pinotearam no chão.
—Você gostou disso— ela sussurrou, observando enquanto espalhava a umidade
sobre a ponta de sua ereção.
Ele estava além do poder da fala, mas o grunhido que deu transmitia sua
concordância tão eloquentemente como se tivesse começado a jorrar poesia.

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Ela envolveu a mão em torno de seu comprimento, maravilhando-se com a


suavidade da sua pele. Macio, como a pele de bebê, com uma dureza de ferro. O contraste
era excitante, atraente.
Os dedos de David deslizaram pelos cabelos ao longo de seu couro cabeludo. Seus
braços tremiam, como se estivesse lutando contra a necessidade de puxar a cabeça dela em
direção a ele. Noelle não precisava de encorajamento. Ela queria prová-lo todo.
Sem aviso, o levou a boca, sentindo a carne deslizar suavemente contra sua língua, o
sabor salgado e o cheiro de sua excitação preenchendo seus sentidos.
David gemeu e seus dedos cerraram ao longo de seu crânio enquanto seus quadris se
deslocavam em um movimento caótico. Noelle nunca fizera isso antes, mas,
aparentemente, sua inexperiência não importava.
Ele disse que consideraria o entusiasmo sobre a experiência, e Noelle tinha entusiasmo
de sobra. Ela levou o seu tempo desfrutando dele, descobrindo o que lhe agradava. Ele
soltava esses sons profundos, roucos gemidos de aprovação que faziam seu sangue cantar
de prazer. Fazê-lo sentir-se bem com isso era perversamente maravilhoso, algo a que
definitivamente poderia se acostumar.
Seus gemidos se tornaram mais urgentes, e ela sentiu-o puxando seus cabelos,
tentando afastá-la. Noelle libertou-o de sua boca e olhou para seu rosto. Podia sentir os
lábios quentes e inchados, sabia que seu prazer estava claro em seu rosto.

—Tão linda, — ele murmurou.


Noelle sorriu, seu novo poder dando a sua boca uma inclinação impertinente. —Você
também.
Ele envolveu as mãos em torno de seu bíceps e puxou-a sobre seu corpo até que
pudesse beijar sua boca. Ela sentia sua necessidade feroz pela liberação esticar seu controle,
mas seus beijos eram suaves, calmantes, intoxicantes.
Noelle cedeu à sua necessidade de ser levada pela sensação, fechou os olhos e
deleitou-se com a maneira como ele aquecia seu corpo e fazia sua alma cantar. Ele era seu
homem, pelo menos por agora, e ela queria possuí-lo, ser possuída por ele.

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David se afastou de sua boca e levantou-a para que pudesse varrer sua língua quente
sobre a ponta de seu seio. Sensações elétricas zumbiam ao longo de seus nervos,
escaldando seu sangue e descendo para sua barriga. Noelle soltou uma respiração
chocada, depois soltou um gemido de crua necessidade.
A barba curta ao longo de sua mandíbula raspava sobre os seios em uma carícia
áspera. Ele chupou seu mamilo fortemente, usando a língua e os dentes de uma forma que
a deixou tremendo no limite entre o prazer e a dor. Era uma sensação muito forte e ainda
não era o suficiente.
Noelle usou todas as suas forças para se afastar, lutando para colocar seu corpo
ansioso sobre a ponta de sua ereção. Ela precisava dele dentro dela. Agora. Não havia mais
tempo para fazer amor lenta e preguiçosamente. Ela precisava dele, quente, profundo e
duro. Sua dor era muito forte para ser apaziguada com gentileza.
Sem qualquer ajuda, Noelle deslocou seu peso e caiu sobre ele, sentindo a doce
pressão de estar preenchida centímetro por centímetro com seu pênis quente. Os olhos dela
rodaram em sua cabeça e ela ofegou enquanto se ajustava a sensação de ser esticada. As
mãos de David seguravam sua cintura no lugar, recusando-se a deixá-la se mover. Ele
também estava respirando com dificuldade, e ela podia sentir a tensão de seu corpo ficar
ainda mais apertada abaixo dela.
—Eu nunca vou ter o suficiente de você, — ele disse com uma voz grossa. —É tão
malditamente bom.
Noelle não conseguia falar. Necessitou de toda sua concentração apenas manter-se
imóvel. A necessidade de movimentar-se iria matá-la, mas se ela lutasse contra seu aperto,
nunca teria a força para terminar o que começara. E ela queria muito aquilo para deixá-lo ir.
Lentamente, as mãos a soltaram, e ele correu as palmas por seu corpo até colocá-las
sobre os seios. Seus polegares rasparam sobre os mamilos e Noelle choramingou quando
correntes elétricas atravessaram seu corpo com um tiro direto para onde era preenchida
por David .
Ela apoiou as mãos em seu peito e começou a se mover, lentamente, com cuidado,
sentindo cada centímetro escorregadio dele contra a sua bainha sensibilizada. O equilíbrio

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era estranho, mas ela rapidamente aprendeu a montá-lo e deixar para trás todo o resto de
inibição que possuía.
David a ajudou a se mover, guiando seu corpo de maneiras que ela não imaginava
que a agradariam. Quando ela pensou que ele estivesse assentado dentro dela tão
profundamente quanto podia, ele prensou seus quadris e fez movimentos de rotação,
mostrando-lhe que estava errada. Pressionou o polegar contra o seu clitóris, aumentando a
pressão a cada golpe até que Noelle não pode mais se conter. Ela se permitiu escorregar
para o orgasmo, deixando-o varrê-la em uma série incessante de ondas, uma após a outra,
enquanto seu corpo convulsionava em torno de David .
Ela o sentiu olhando-a, mas não se importava. Não restara espaço nela para
constrangimento. Isto era puro prazer e ela entrou nele com cada lampejo de sensação. A
intensidade de seu clímax diminuiu, continuando em pequenas ondulações em sua
musculatura interna. Abaixo dela, David gemeu, tenso, puxando-a para ele em um vínculo
inquebrável. —Noelle— ele gritou, e o primeiro pulso de seu orgasmo a encheu. Ele
segurou-a junto dele, rangendo os dentes quando seu calor bombeava para ela.
Noelle deitou seu corpo sobre o dele, descansando a cabeça em seu peito. Podia sentir
seu coração batendo, rápido e ao mesmo ritmo do dela. Podia ouvir o som abaixo de sua
orelha, num ritmo frenético que a deixou sorrindo de satisfação. Ela não era sedutora, mas o
fizera se sentir bem. Isso era tudo o que ela realmente queria.
David embalou seu corpo em suas mãos grandes, acariciando as palmas das mãos
sobre suas costas e na parte inferior. Mesmo seus calos eram agradáveis contra sua pele.
Entre o seu carinho, carícias e o alívio lânguido de seu jeito de fazer amor, Noelle não
conseguiu deixar de fechar os olhos e apagar.
David se mexeu, e percebeu que ela adormeceu. Ele rolou, deixando-a deitada em
um saco de dormir enquanto abria o segundo para fazer uma cama. Noelle se moveu para
o outro e ele a cobriu com o primeiro.
Sua expressão estava quente e suave, quando entrou no saco de dormir com ela. Ele
era um homem tão fácil de amar, a maneira como cuidava dela. Desejava que tivessem
mais tempo juntos, mas sabia que isso não iria acontecer.

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Seu corpo estava saciado e muito cansado do esforço físico e da pressão mental. Parte
dela o queria novamente, mas o resto estava apenas muito cansado. —Você vai dormir
comigo? — Perguntou-lhe.
—Sim, mas isso é tudo. Você precisa descansar. — Ele apagou a chama da lanterna,
rastejando na cama com ela. —Dê-me seus óculos.
Noelle entregou-os, confiando nele para colocá-los em algum lugar seguro onde não
seria pisado. Ela precisava lavar-se, mas não conseguiu encontrar força para esse cuidado,
estava escorregadia e bagunçada pelo ato de amor. Conhecendo-o, mesmo que se lavasse,
iria acabar bagunçada novamente pela manhã.
Ele rolou para o lado e puxou-a contra ele, assim suas costas foram embaladas por seu
peito. —É tão bom estar quente novamente, — disse ela.
—Vou aquecê-la assim sempre que quiser, querida.
Noelle sabia que não era uma promessa para o futuro, mas parte dela desejava que
pudesse ser. Ao invés de ficar triste sobre o fato de que se separariam em breve, decidiu
aproveitar seu tempo restante com David.
Aconchegou-se contra ele, sorrindo no escuro quando sentiu seu pênis endurecer
contra sua bunda. —Eu pensei que você disse que queria dormir.
—Eu não disse que eu queria, eu disse que você precisava. E você precisa. Basta fechar
os olhos e fingir que não sente isso.
Noelle riu. —Sim, certo. — Ela se remexeu um pouco mais, experimentando seus
poderes recém-descobertos de sedução.
A ereção de David tornou-se mais difícil de ignorar. Para ambos.
—Pare com isso, — ele ordenou.
Noelle desobedeceu com prazer.
Com um rosnado, David rolou sobre ela e deslizou dentro dela em um impulso
poderoso. Não lhe deu tempo para construir seu orgasmo. Bombeou-a com uma série de
movimentos especialistas de seus quadris, dedos e língua.

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Noelle não tinha onde se esconder de suas exigências, e quando ele chegou ao
orgasmo profundo dentro de seu corpo, ela choramingava em uma mistura de cansaço e
prazer.
Ela sentiu seu sorriso satisfeito contra a têmpora. —Você vai dormir agora, aposto.
Noelle apagou antes que pudesse encontrar forças para concordar com ele.

David segurou-a por um longo tempo antes que seus membros parassem de tremer.
Escorregou do casulo quente do saco de dormir para pegar uma toalhinha, molhou-a e
segurou-a sobre o fogão, até que estivesse agradável e acolhedora. Fizera uma confusão no
corpo doce de Noelle, e ela estava muito cansada para limpar-se, então, ele fez isso por ela.
Ela estava tão profundamente adormecida que sequer se contorceu. Coitadinha. Ela
foi empurrada duramente. Ele estava feliz que finalmente ela estivesse tendo uma noite
decente de sono.
E ela teria. David ficaria bem ao seu lado durante toda a noite, segurando-a,
certificando-se que ficasse onde queria. O fato que estivesse tão suave, feminina e nua não
faria sua tarefa difícil. Este era um trabalho que ele iria gostar.
David a puxou de volta para o seu abraço, colocando sua cabeça em seu peito. Sua
respiração quente espalhou-se sobre ele com um suspiro sonolento de contentamento.
Não tinha ideia do que faria depois que este trabalho terminasse, mas sabia que não
queria deixar Noelle ir embora. Talvez fosse apenas o fato de ela ser a primeira mulher com
quem ele transara desde Mary, mas, talvez fosse algo mais. David não tinha certeza, mas
sabia de uma coisa. Ele não deixaria Noelle até descobrir se o que sentia por ela era tão real
quanto temia que pudesse ser. Esperava que fosse.
Ele perdera uma mulher que amava, e morreria antes de perder outra.

Pouco antes do amanhecer, Owen se aproximou de onde Brian dormia na base de


uma grande árvore. Ele tinha mais um trabalho para o menino. Uma missão final.

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Antes que Brian pudesse se agitar, Owen injetou-lhe um sedativo pesado. Assim que
Brian sentiu a picada da agulha, seus olhos se arregalaram, mas a sua consciência durou
apenas um segundo antes da droga atingi-lo.
Owen levantou Brian em seu ombro e deslocou o peso do garoto desengonçado para
uma posição mais confortável. Ele tinha uma isca, agora tudo o que precisava fazer era
montar a armadilha.

Capítulo 24

Grant e Caleb tinham acabado de patrulhar o perímetro mais uma vez antes de ir à
cidade atrás de suprimentos. Não havia comida suficiente para durar mais de um dia, da
maneira como esses dois comiam. David inclinou-se contra o balcão da cozinha, apenas
observando Noelle. Desde que ele a acordara fazendo amor com a boca esta manhã, ela
não dissera mais que um punhado de palavras que eram mais grunhidos que realmente
palavras.
David sorriu. Ela era tão malditamente charmosa quando ficava concentrada em seu
trabalho. Seus cachos vermelhos se derramavam do nó que fizera no topo da sua cabeça.
Ela tinha um pouco de tinta manchando a face, mas estava com uma cor saudável, ao invés
do rosa pálido antinatural. Ficava franzindo a testa para sua tela de computador, em
seguida, despejava o jargão sobre equações simultâneas e análise vetorial. Provavelmente
nem percebia que falava consigo mesma.
David apenas ficava lá, contente em observá-la. Pela primeira vez em anos, o vazio, os
pontos mortos em torno de seu coração estavam voltando à vida. Não era exatamente um
processo confortável, mas era melhor do que se sentia há muito tempo.
Desde Mary.
De alguma forma, pensar em Mary não evocava a mesma dor instantânea que
sempre costumava aparecer. Ainda se sentia culpado pela morte dela e tinha um desejo

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ardente de ver cada um dos últimos Swarm mortos, mas Noelle fizera algo por ele que
ajudou a aliviar a dor lancinante com a qual se tornara tão familiarizado. Ela o estava
ajudando a se curar.
Se ele não estivesse sentindo isso acontecer, não pensaria ser possível.
Noelle estava completamente imóvel. —Consegui, — disse ela num tom próximo a
um sussurro. —Eu resolvi isso.
David cruzou o espaço em três passos largos. Olhou para a tela, sem entender uma
palavra ou símbolo que via. —Você tem certeza?
Ela olhou para ele, a emoção brilhando em seus olhos verdes. David queria tanto
beijá-la que quase podia sentir o gosto em sua boca. —Sim. Eu estou cem por cento certa.
Somente...
—Só o quê?
Ela mordeu o lábio, como se tentando descobrir o que dizer. —Este não é todo o
código.
—Então como você sabe que o quebrou?
—Eu poderia passar as próximas doze horas tentando explicar minha solução para
você, ou você pode apenas acreditar em minha palavra.
David tinha um pouco de dificuldade em ficar sentado durante uma palestra de uma
hora. —Vou acreditar em sua palavra.
—Monroe lhe entregou qualquer outra coisa? Quaisquer números ou instruções?
—Não, nada.
Noelle sentou-se e soltou um suspiro de frustração. —Então o que eu tenho aqui não
vai ajudar muito.
Decepção e alívio guerrearam dentro dele. Ela ainda não tinha terminado, o que
significava que ela não o estava deixando ainda. —O que você quer dizer?
—É meio difícil explicar sem as doze horas, mas vou tentar. Você tem um mapa?
—De onde?
Noelle encolheu os ombros. —Realmente não importa. Eu só preciso disso para
demonstrar o que quero dizer.

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David vasculhou sua mochila e tirou um mapa do Colorado. Noelle foi até a cozinha,
despejou um punhado de macarrão em uma tigela e rasgou a frente da caixa de papelão.
Havia uma janela de plástico claro que exibia o macarrão dentro da caixa. Nessa janela, ela
desenhou uma seta e apontou para o norte. Então desenhou outra seta apontando para
baixo e à direita.
Noelle abriu o mapa sobre o balcão e colocou em cima dele a frente da caixa de
papelão com a janela de plástico e as setas que desenhara. —Okay. A seta para cima é norte
- apenas uma referência e a segunda seta nos dá a nossa solução, que são coordenadas do
mapa. A ponta da seta é o destino final que este texto foi criptografado para esconder. É o
nosso local de destino para as armas.
David franziu o cenho. —Mas você não sabe o destino se não souber onde colocar a
seta no mapa.
—Exatamente. Eu conheço a magnitude - distância neste caso - mas não a origem.
A frustração brotou no peito de David. —Todo esse esforço e nada de tangível para
mostrar para ele. Droga, eu sinto muito, Noelle.
—Não é uma causa perdida. Tem que ter um outro pedaço de texto em algum lugar,
como este, que nos dá a origem. Se soubermos isso, saberemos para onde este texto nos
manda ir. Você não pode perguntar a Monroe?
—Posso tentar, mas tenho certeza que ele teria enviado qualquer coisa que pensasse
que você poderia usar. É possível que tenha perdido alguma coisa? Quero dizer, não
poderia haver outro traço de informação em toda essa sopa de letras?
Noelle riu. —Não é uma sopa de letras. É uma série de equações que compartilham
variáveis. A solução para essa série de equações simultâneas claramente leva a uma análise
vetorial bastante simples. Fiz algumas suposições ao longo do caminho, e se alimento os
valores com algoritmos diferentes para determinadas variáveis, então tenho uma solução
com uma nova magnitude e direção - um vetor diferente, mas é tudo muito simples agora.
David olhou para ela. Podia sentir seu QI escorregar em suas palavras, abatendo as
células de seu lobo cerebral esquerdo e direito. —Tenho certeza que é.

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Ela parecia agitada por não poder compartilhar isso com ele, mas não havia muito
que David pudesse fazer sobre isso. Ele simplesmente não estava em seu nível, quando se
tratava dessas coisas.

—Então, o que vamos fazer agora? —Perguntou ela.


—Primeiro, você faz uma cópia de segurança de todas as coisas e me mostra como
usá-la. Quero você longe dessa bagunça tão rapidamente quanto possível. Meu instinto me
diz que assim que descobrir a última peça do quebra-cabeça, eu levantarei voo
imediatamente atrás deles.

Ela desviou o olhar rapidamente, como se querendo esconder os olhos dele. —Então,
nos separaremos logo em seguida?
David não gostava da ideia de deixá-la para trás, assim como ela não gostava, mas ele
sabia que era sua melhor chance de sobrevivência. Pelo menos até que tudo isso acabasse.
Não poderia arrastá-la para a fortaleza dos Swarm quando fosse caçá-los. Ele precisava
saber que ela estava segura. —Sim.
—Será que vou vê-lo novamente? — Sua voz era tão baixa e vulnerável que o fazia
querer puxá-la em seus braços e prometer nunca mais sair do seu lado novamente. O que
era quase a coisa mais estúpida que poderia fazer.
—Você vai. Temos negócios inacabados. — David não fez promessas. Ele não sabia
se sobreviveria a esta missão ou não, mas sabia que se o fizesse, iria procurá-la, não
importando como eles tentariam enterrá-la profundamente em qualquer um dos
programas de proteção. Ela era sua mulher e ele não a deixaria ir embora até que um deles
decidisse. Além disso, ele podia ter um filho a caminho, e não estava disposto a se afastar,
enquanto respirasse.
Ela assentiu, mas ele podia ver em sua expressão que ela não acreditou nele. David
não podia culpá-la por isso. Ele também tinha dificuldade em acreditar que sairia desta
missão vivo. Mesmo que as chances não fossem grandes, eram melhores do que jamais

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haviam sido antes, porque Noelle lhe dera uma razão para viver, que era mais do que ele
tivera em um longo, longo tempo.

Caleb e Grant estavam quase terminando a patrulha do perímetro que David criara
para proteger a cabana quando Caleb ouviu um barulho fraco. Ele parou, apontando para
Grant fazer o mesmo.
—Você ouviu isso? —Perguntou Caleb, farejando o ar atrás do cheiro de animais,
incluindo a variedade humana.
O som chegou de novo, mais alto desta vez, um lamento fraco vindo da mata. Parecia
um homem.

Grant assentiu e apontou para um arbusto crescendo na vala que corria ao longo do
lado sul da estrada que levava para a cabana.
—Me dê cobertura, — disse Caleb quando preparou sua arma e foi para o arbusto.
Caleb sentiu Grant protegendo suas costas, sabia que seu amigo manteria o olho
aberto para o caso de ser algum tipo de armadilha.
A brisa mudou, e o cheiro de sangue encheu o ar da manhã, grosso e pesado. Muito
sangue.

Caleb se inclinou e separou alguns ramos para o lado. Sob a beirada densa de caules
retorcidos e folhas caídas viu um braço vestido em roupa de camuflagem de caçador e
uma mão pálida endurecida com sangue seco. Cautelosamente, Caleb afastou os ramos até
que conseguiu forçar seu corpo através de uma abertura apertada.
O homem gemeu de novo, um som baixo, lamentável. Ele estava deitado de lado
com um corte profundo poucos centímetros acima do joelho direito. Caleb podia ver o
osso. O tecido pesado de sua calça estava cortado, aberto e encharcado de sangue em torno
do ferimento. Um pouco acima do corte horrível, o homem afivelara o cinto apertado à
volta da coxa, fazendo um torniquete para estancar o sangramento. Um machado

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manchado de sangue estava no chão a poucos metros ao lado de um pedaço de lenha


cortada parcialmente.
O pobre coitado acertara sua perna durante o corte de lenha, e pela quantidade de
sangue manchando o chão, era uma maravilha que ainda estivesse vivo.
—Tem um homem caído, aqui, — disse Caleb a Grant.
—Está muito ruim?
—Malditamente ruim, — respondeu Caleb.
—Alguém que conhecemos?
Caleb virou mais o homem para que pudesse ver seu rosto. Merda. Isso não era bom.
—Ele é apenas um garoto. Talvez dezessete anos. Precisamos conseguir ajuda.
—O caminhão está um pouco abaixo na estrada. Mais perto que a cabana.
—Não há nada na cabana que possa salvar o garoto, de qualquer maneira. Ele precisa
de sangue, e muito. Temos que levá-lo a um hospital. —Tão cuidadosamente como pôde,
Caleb levantou o menino em seus braços. O menino soltou um gemido áspero que fez o
estômago de Caleb doer. Não parecia bom.
—Você pode carregá-lo? — Grant perguntou do outro lado da folhagem espessa.
—Estou com ele, — disse Caleb. O menino não pesava muito, mas era todo braços e
pernas, e pareceu levar uma eternidade para percorrer o caminho de volta pelo arbusto
espesso, sem raspar a perna ferida.
Essa coisa toda fazia o estômago de Caleb enjoar. Ele não era um homem sensível,
mas a visão de uma criança cortada assim rasgava-o ao meio. Pelo menos não era uma
menina. Caleb não tinha certeza se poderia lidar com isso. Não depois do que aconteceu na
Armênia.
Grant ainda vigiava cuidadosamente, examinando a área com seu rifle, pronto para
atirar quando Caleb se desembaraçou de todos os ramos.
—Vamos sair daqui, — disse Grant. —Tenho um mau pressentimento sobre isso.
Owen observou os dois militares da Força Delta, até que desapareceram depois de
uma curva na estrada de cascalho. Brian não sobreviveria tempo suficiente para chegar a

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um hospital - Owen se assegurara que ele perdesse muito sangue para isso, mas ele serviu
a seu propósito. Ele foi uma excelente isca.
Owen fez uma nota mental para agradecer ao Sr. Lark por enviar o garoto na
próxima vez em que conversassem. Com esses dois militares transformados em pequenos
pedaços pelos explosivos que ele colocou no caminhão, David e Noelle seriam alvos muito
mais fáceis.

Noelle sabia que seu tempo com David ficava cada vez mais curto, mas tentou não
deixar isso interferir com o que tinha que fazer. Mostrou a David como ele poderia entrar
com novos valores para as variáveis faltantes e como interpretar os resultados. Ela ainda
demonstrou praticamente.
Enquanto David usava o telefone via satélite para entrar em contato com Monroe,
Noelle fez uma cópia de segurança de seu trabalho em um disco de reserva que tinha na
pasta de seu laptop. Apenas caso ele caísse em mãos erradas, ela colocou uma senha de
proteção em todos os arquivos. Podia não ter o melhor software de segurança, mas era
decente, e com certeza atrasaria qualquer um que não soubesse o que estava fazendo.
Do outro lado da sala, ouviu-o falar em voz baixa ao telefone. —Não, senhor. Ela tem
certeza. Tem que ter um outro texto que não recuperaram.
Noelle podia ouvir a voz profunda de Monroe amaldiçoando do outro lado da linha,
mesmo do outro lado da cabana.
—Sim, senhor. Isso é o que eu pensei, também.
A mão de David apertou o telefone enquanto ouvia.
—Não, não foi um desperdício de tempo, — disse ele. —Encontre a equipe que
recuperou o texto e talvez eles tenham uma pista.
Os olhos de David fecharam por um momento, mas não antes que ela visse um flash
de tristeza atrás de seus cílios. —Todos eles? Pensei que Jason tivesse sobrevivido.
Encostou-se ao balcão, parecendo mais derrotado com cada palavra. —O que você
espera que eu faça? Ela foi até onde pode com a informação que demos. Você quer que a
gente comece a inventar coisas?

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David apertou o telefone com tanta força que Noelle pensou que a caixa de plástico
quebraria. —Não, senhor, — rosnou David . —Isso não será necessário. Apenas me dê as
coordenadas do local onde a equipe encontrou o texto e eu mesmo irei até lá.
A última peça do quebra-cabeça se encaixou na cabeça de Noelle com um clique
quase audível. —É isso, David. A origem. Isto tem que ser considerado a partir da
perspectiva de quem escreveu este texto cifrado. Onde foi encontrado?
—Espere, senhor, — disse David ao telefone. Para Noelle, ele desfiou as coordenadas
que Monroe acabara de lhe dar.
Noelle as digitou às pressas em seu programa e clicou no botão executar. Prendeu a
respiração, esperando. Alguns segundos depois, os resultados brilhavam na tela do laptop.
David olhava por cima do ombro.
Quando viu as coordenadas, esbravejou baixinho. No telefone, ele disse, —
Precisaremos de roupas de frio, senhor. Estamos voltando para a Rússia.
Então a pequena janela na porta da cabana foi destruída, a cabeça de David sacudiu e
bateu com força contra a parede, manchando-a com sangue atrás de si. O telefone caiu de
seus dedos trêmulos e ele caiu no chão empoeirado com um baque surdo.
Noelle gritou.

Capítulo 25

Caleb tentou não machucar o menino enquanto ele e Grant voltavam para a estrada
onde deixaram o caminhão. Este era o único caminho que levava à sua cabana, e com
Grant no velho e maltratado Ford estacionado do outro lado, ninguém passaria por esse
caminho - pelo menos não sem fazer um barulho infernal.
—Ele não vai aguentar o tempo suficiente para chegar ao hospital, — disse Grant.
Caleb olhou para o garoto. Sua respiração era superficial e a pele estava pálida.

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A imagem de Lana deitada, machucada e sangrando em seus braços brilhou em sua


mente, trazendo dor em seu peito com a culpa. Fazia quase um ano desde que ele a levara
para fora da caverna, e não havia um único dia em que não pensava nela. Não havia um
único dia que passava sem odiar a si mesmo por ter deixado aqueles bastardos machucá-la.
Ela sobreviveu. Talvez esse garoto conseguisse, também. —Você provavelmente está
certo, mas eu tenho que tentar.
—Eu sei. Não vamos desistir dele. — A voz de Grant era impassível.
—Você quer colocá-lo na parte traseira ou levá-lo para a cabana? — O rifle de Grant
estava em suas mãos hábeis e seus olhos estavam nas árvores.
Ele poderia atingir quase qualquer coisa que pudesse ver com esse rifle, mas isso
pouco fez para aliviar a tensão que começara a crescer entre as omoplatas de Caleb desde
que encontraram o garoto sangrando. —Vou segurá-lo. Tente amortecer o percurso para
ele.
Quando se aproximaram do caminhão, Caleb e Grant foram mais devagar, fazendo
um levantamento da área, verificando se alguém invadira o perímetro.
—Parece limpo, — disse Grant.
Caleb não viu nada, mas aquela persistente preocupação ainda raspava contra ele. —
Sim. Parece limpo.
Grant deu-lhe um olhar de soslaio. —Você tem um mau pressentimento?
—Sim.
—Deus, eu odeio quando você tem essas coisas.
—Eu também. Dirija. Vamos até a cabana para verificar David e Noelle, antes de
voltar a descer a montanha. E contar a David o que está acontecendo.
Grant abriu a porta para Caleb para que ele pudesse colocar o garoto no banco do
passageiro. O caminhão abaixou com seu peso, rangendo em protesto. Grant correu ao
redor do caminhão, ainda mantendo os olhos nas árvores. Deslizou para trás do volante e
colocou seu rifle em local de fácil acesso ao lado da porta do motorista.
O interior do caminhão era tão surrado quanto o exterior, com uma fenda larga
correndo ao longo da parte superior do painel, combinando com os bancos de vinil velhos.

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O botão da manivela da janela desaparecera e a fechadura do porta-luvas estava presa e se


mantinha fechada com fita adesiva. O caminhão tinha cheiro de plástico queimado ao sol,
espuma envelhecida, meio milhão de batatas fritas e algo mais que Caleb não reconheceu -
um cheiro áspero, como suor de uma semana e um fraco odor químico que flertou com
sua memória, algo que ele não encontrara em anos.
Grant colocou a chave na ignição.
Explosivos caseiros. Este era o cheiro. Puta merda!
O pulso de Grant se contraiu quando ele começou a girar a chave.
—Pare! — Caleb gritou, e empurrou a mão de Grant longe da chave.
O garoto não fez nenhum som quando a perna bateu no freio por causa do
movimento espasmódico de Caleb. Não era um bom sinal.
—Que diabos? — estalou Grant, enquanto tentava arrancar o seu braço do aperto.
Caleb não soltou.
—Saia do caminhão. Está cheio de explosivos. — Suor frio eclodiu ao longo das costas
de Caleb.
Grant abriu a porta lentamente e aliviou o peso de seu assento. Caleb inclinou-se,
seguindo o nariz para onde o cheiro era mais forte. Era estranho tentar inclinar-se sobre o
garoto, mas ele conseguiu descer o suficiente para ver sob a coluna de direção. Um feixe de
fios saía da ignição e ia a uma caixa de metal que ainda tinha um rótulo de atum em anexo:
produto caseiro. Ele provavelmente poderia desarmá-la, mas levaria tempo. Tempo que o
menino não tinha.
Tempo que David e Noelle não tinham. Alguém estava lá fora tentando matá-los, e
David precisava saber disso, rápido.
—Precisamos voltar à cabana, — disse Caleb.
Grant assentiu e pegou seu rifle. —Faça o que puder aí, — disse ele, e começou uma
corrida até a trilha de volta para a cabana.
Caleb saiu do caminhão e colocou o rapaz a uma distância segura. Não havia nada
que pudesse fazer por ele, agora. Em algum lugar dos últimos momentos, o coração do

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garoto havia parado de bater, e sem sangue suficiente para mantê-lo bombeando,
nenhuma aparelho de ressuscitação ajudaria. O menino estava morto.
Caleb ficou sobre ele por um breve momento, sentindo o sangue gelado em suas
mãos e roupas. Tanto maldito sangue. Tanta inocência perdida.
Caleb se afastou, incapaz de suportar a visão de outra vida arruinada sob sua
responsabilidade.
A culpa o corroeu, mas tinha um trabalho a fazer, então fechou essa parte de si
mesmo. Se não se apressasse, as chances eram David e Noelle serem adicionados a essa
lista, e ele não podia deixar isso acontecer.
Quando Caleb estava a meio caminho da cabana ouviu o estampido de uma
espingarda e rezou que o barulho viesse do rifle de Grant.

Noelle agachou ao lado de David, incentivando seu corpo a não ceder ao medo. Em
algum lugar no fundo da sua mente, ela ainda gritava, mas a parte racional de seu cérebro
esforçava-se e avaliou a situação.
O braço esquerdo de David estava sangrando muito, e Noelle fez uma rápida oração
de agradecimento, por que a bala não desviou para a direita e atingira algum órgão vital.
Ele estava consciente, mas grogue, provavelmente por bater a cabeça ao cair.
Ela não se atreveu a movê-lo, mas tinha que fazer algo para parar o sangramento.
Arrancou sua camiseta, sem se importar quando seus óculos se emaranharam em seus
cabelos. Amarrou a camisa em torno da ferida, deixando-a tão apertada quanto pôde.
David gemeu de dor e seus olhos se abriram.
Lá fora, Noelle podia ouvir as batidas pesadas das hélices de um helicóptero. O
Swarm estava chegando.
A adrenalina correu em seu sangue, dando-lhe velocidade e força. Ela se atropelou
para deslizar a cópia de segurança fora de seu laptop e guardá-lo dentro da camisa de
David. Tinha apenas alguns segundos antes que eles estivessem aqui, e precisava garantir
que o trabalho que fizera não caísse em mãos erradas.

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Sem hesitar, Noelle digitou um comando em seu laptop, executando o programa de


eliminação para garantir que tudo em seu disco rígido fosse apagado sem deixar vestígios.
Não se importava que todo o trabalho que fizera estava sendo jogado fora. Estava apenas
preocupada com David e certificando-se que ele ficasse seguro.
Ela o sacudiu, estremecendo quando ele gemeu de dor. Lentamente, seus olhos se
abriram e ela podia ver a confusão turvando seus olhos azuis.
—David! — Ela disse, enchendo a voz com cada grama de terror que sentia. Isso
provocou a reação desejada e ela pode vê-lo se esforçar para afastar os efeitos de seus
ferimentos. Ele parecia quase lúcido. E louco como o inferno.
—Você se lembra do que eu te disse na primeira noite que fizemos amor?
Ele piscou e ela podia vê-lo lutando para se concentrar.
Noelle inclinou-se para seu rosto. O medo rondava ao longo de sua espinha com
garras ácidas. Ela tremia tanto que era difícil se mover.
Agarrou seu rosto entre as mãos e o beijou.
Foi um beijo doce, suave, cheio de tudo o que não teve tempo para dizer.
Noelle se afastou e olhou diretamente em seus olhos. —Lembre-se o que eu te disse
na primeira vez que fizemos amor. É importante.
Ela ouviu passos se aproximando da cabana. Já não tinham mais tempo.
Ela se jogou sobre o corpo de David e cedeu à torrente de medo, raiva e culpa que
começara a bater no segundo que percebeu que ele foi baleado. Lágrimas escorriam por
seu rosto numa manifestação de dor.
Pressionou os dedos contra o pescoço dele, bloqueando o fluxo de sangue que seguia
para o cérebro de David. Em poucos segundos ele desmaiaria. Noelle rezou que isso fosse
suficiente para enganar os homens que vinham atrás dela e pensassem que ele estava
morto.
Três homens armados e mascarados irromperam pela porta, enviando lascas de
madeira para o ar.
Noelle virou em direção a eles, seu rosto uma bagunça de lágrimas desesperadas. —
Vocês o mataram!

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Ela puxou a arma da cintura de David, se levantou e apontou-a para o homem mais
próximo. Antes que pudesse puxar o gatilho, um dos homens apontou uma pistola e deu-
lhe um tiro na perna.
Noelle tropeçou e o mundo tornou-se um gigante buraco negro que a engoliu em
uma mordida.
Grant viu que era tarde demais para bloquear o homem que levava Noelle para o
helicóptero. Ele desapareceu ao virar da esquina da cabana com o corpo mole dela por
cima do ombro antes de Grant poder dar um tiro. Os dois homens que estavam lutando
com o corpo de David eram uma outra história.
Ele controlou a respiração quando olhou através do escopo de seu rifle, tendo como
alvo a cabeça do homem que segurava os pés de David. Grant não tinha tempo para
esperar seu coração diminuir o ritmo, então encontrou o ritmo das batidas e deu seu tiro
entre elas.
Um jato de sangue rosa explodiu no ar junto com a cabeça do homem, mas Grant já
estava em seu próximo alvo, que ainda não percebera porque a carga que levava, de
repente se tornou tão pesada. Escassos três segundos depois, o segundo homem caiu no
chão em um amontoado sem vida.
O piloto do helicóptero deve ter recebido ordens para partir sem os homens, porque já
estava subindo de forma constante, chicoteando os galhos das árvores próximas em um
frenesi de movimento.
Grant olhou através de seu rifle, visando o piloto, mas depois hesitou. Noelle estava
naquele helicóptero, e se ele o derrubasse, poderia matá-la. Se isso acontecesse, David nunca
se recuperaria. Supondo que ele já não estivesse morto.
O pensamento deixou os pulmões de Grant fortemente apertados, bloqueando o ar.
Com uma maldição violenta, Grant tirou o escopo de seu olho e foi ver se David ainda
estava vivo.

O latejar na cabeça de David o acordou. Um senso de urgência o chamou para fora do


conforto abençoado da inconsciência. Então, ele se lembrou.

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—Noelle! — Gritou David, num ímpeto, tentando ficar em pé.


Sua cabeça girava, e ele mal conseguia ver a pequena cabana entre as dúzias de
imagens idênticas que nadavam diante de seus olhos.
—Calma, — disse Caleb. —Apenas tenha calma e sente-se.
A força maciça de Caleb colocou David em um banco não lhe dando escolha a não
ser sentar-se ou cair.
—Onde está Noelle? —Ele exigiu de todos os três Calebs que estavam na frente dele.
—Nós vamos encontrá-la, David .
Encontrá-la? Ela não estava aqui? O medo e a culpa ameaçaram levá-lo de volta para
o esquecimento. Noelle fora levada.
David agarrou a camisa de Caleb, não se importando o quanto parecia desesperado.
—Eu tenho que ir atrás dela.
—Nós vamos, — assegurou Caleb em uma voz baixa e reconfortante. —Mas
primeiro temos que descobrir para onde ir.
A visão de David havia limpado, de modo que via apenas um de tudo novamente. A
dor batendo na parte de trás do crânio ainda estava lá, assim como a sensação de
queimação no fundo do seu braço esquerdo. Nada disso importava, e não podia se
permitir desmaiar de novo.
—Quanto tempo eu estive apagado?
Caleb olhou o relógio. —Dezoito minutos. Grant matou dois dos homens que
estavam tentando carregá-lo para longe. O helicóptero partiu sem eles, depois que o tiroteio
começou. Noelle já tinha sido levada, junto com seu computador e todos os seus papéis, —
continuou Caleb em uma voz constante, como se estivesse falando sobre o tempo, em vez
do paradeiro da mulher que David amava .
—Será que ela...? —David não conseguiu se impedir de perguntar.
—Se eles a tivessem matado, a teriam deixado aqui e levado apenas seu trabalho.
Tenho certeza que a levaram viva.
Viva. Graças a Deus.

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—Noelle salvou você quando foi atingido. Usou a camisa dela para amarrar a ferida.
Ela é uma senhora muito inteligente. Se não tivesse estancado o sangramento, você estaria
em mau estado agora.
David amaldiçoou. —Ser inteligente foi o que a meteu nessa confusão, para começar.
Talvez seja melhor ser estúpido.
Do outro lado da cabana, Grant estava no telefone, falando em tom baixo.
Caleb estava agachado, comprimindo sua ferida como um pacote pequeno. David
percebeu que havia sangue nas roupas de Caleb. Muito sangue. Estava espalhado sobre ele
em manchas esparsas, algumas já secando. —Você foi ferido? — Perguntou David .
A mandíbula de Caleb se contraiu. —O sangue não é meu.
Graças a Deus.
—Você viu ou ouviu qualquer coisa que possa nos dizer onde eles a levaram? —
Perguntou Caleb.
David concentrou-se em lembrar o que aconteceu. Era difícil deixar de lado sua
resposta emocional a Noelle em perigo - seu medo por ela, sua culpa por deixar isso
acontecer. Ela era tão vulnerável, e se o Swarm fizesse com ela o que fizera com Mary...
—Foco, Wolfe, — Caleb gritou, dando um pequeno chacoalhão nos ombros de
David. —Você tem que se esforçar.
David sabia que Caleb estava certo. Se ele não começasse a pensar com a cabeça, em
vez de seu coração, Noelle não teria chance.
David respirou profundamente e tentou se concentrar na última coisa que ele podia
se lembrar. —Eu estava conversando com Monroe sobre a obtenção de mais algumas
informações. Noelle descobriu o que dizia o texto, mas estava incompleto.
—Grant está no telefone com Monroe agora. Você se lembra de mais alguma coisa?
David sentiu algo girando em sua memória. Um beijo, tão doce que quase trouxe
lágrimas aos seus olhos. Noelle o beijara antes de ser levada.
E ela disse algo - algo sobre a primeira vez que fizeram amor...
David soltou uma maldição ácida. Como ele podia ter deixado isso acontecer? Como
podia tê-los deixado apanhá-la?

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A mão forte de Caleb desceu sobre o ombro de David em um aperto reconfortante.


—Eu sei que você está sofrendo agora, mas ela precisa de você. Você tem que pensar. O
que ela estava fazendo enquanto você falava com Monroe?
A cabeça de David palpitava mais quando ele tentava lembrar. —Ela disse algo sobre
a necessidade de ter as coordenadas de onde o texto foi encontrado. Ela pensou que
poderia ser a informação que faltava. Monroe tinha acabado de me dizer, então eu dei-lhe
as coordenadas...
—E?
—E ela digitou-as e... —David podia ver o olhar de triunfo em seu rosto, o jeito como
ela sorriu para ele, tão feliz que fez o seu coração cantar.
—Ela executou o programa e trouxe as coordenadas em sua tela.
—Você se lembra das coordenadas?
David balançou a cabeça com uma explosão de frustração. —Nós temos que
descobrir isso antes de fazer qualquer coisa. Tenho certeza que tem que estar onde eles a
estão levando. Eles não vão matá-la até saber onde estão as armas e sabem que só
conseguirão descobrir através dela. Temos que chegar lá primeiro e emboscá-los.
—Como é que vamos descobrir para onde ir?
—Eu não sei, — David gritou. —Seu trabalho está desaparecido. Ela se foi!
Caleb voltou-se para Grant. —Quanto tempo antes de nossa carona chegar?
—Eles estão bem próximos agora, — disse Grant. —Estou com o piloto do
helicóptero no telefone. Vou sair e guiá-lo até aqui.
David levantou-se, cauteloso, para não desmaiar de novo. Noelle precisava dele, e ele
tinha que fazer tudo em seu poder para ter certeza que fosse capaz de ajudá-la.
Dentro de sua camisa, sentiu algo deslizar para baixo, ao longo do peito. Ele colocou a
mão dentro e tirou um disco brilhante manchado com duas pequenas impressões digitais
de sangue. Noelle.
Uma centelha de esperança acendeu no fundo do coração de David.
—Isso é o que eu acho que é? — Perguntou Caleb.

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David balançou a cabeça e um sorriso selvagem tocou sua boca. Ele iria encontrá-la.
—Eu não sei como ela conseguiu retirá-lo, mas estou malditamente feliz que ela conseguiu.
Do lado de fora, David podia ouvir a vibração fraca do helicóptero voando mais
perto.
David pegou sua arma, sua mochila e saiu para a varanda, ignorando a dor,
silenciosamente pedindo ao piloto para apressar o máximo possível.

Capítulo 26

Noelle acordou em algum tipo de aeronave militar. As placas de metal duro sob seus
pés vibravam com o rugido dos motores a jato. Seus tornozelos foram amarrados na
estrutura do assento que ocupava. Um cinto de segurança apertava seu torso e os pulsos
foram amarrados com algemas de plástico flexível.
Sua cabeça parecia que ia voar para o além e a boca tinha gosto de carcaça de rato
morto. Ela reconheceu o gosto - sequelas do tranquilizante que atiraram nela quando
estava em sua casa. Mas desta vez era diferente. David não estava aqui para cuidar dela.
Noelle sufocou as lágrimas enquanto se lembrava de David deitado no chão da
cabana, sangrando. Ele estava aqui? Ele ainda estaria vivo?
A necessidade de saber fez Noelle abrir as pálpebras um pouco mais, rangendo os
dentes contra os efeitos dolorosos da fraca luz da aeronave. Por um momento, ela teria
recebido com prazer a explosão real de sua cabeça, de tanto que doía. Fechou os olhos
novamente e se concentrou em não vomitar.
Lentamente, a dor diminuiu para apenas excruciante, e ela tentou olhar ao seu redor
novamente.
O avião tinha cerca de vinte metros de largura, cheio de caixas e equipamentos
eletrônicos, e ela só podia adivinhar seu objetivo. Havia meia dúzia de homens vestindo
roupas militares negras, mas sem bandeiras ou símbolos que indicassem sua lealdade.

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Delta Force 01

Conversavam em voz baixa e ela não podia ouvir sobre o barulho dos motores a jato, então
a conversa não ajudava em nada.
Tudo que sabia era que David não estava à vista, o que significava que estava sozinha.
Um dos homens se virou e viu que estava acordada. Ele era alto e loiro e seria bonito,
se não fosse a cicatriz horrível que cortava metade de sua face.
Ele pegou uma garrafa de água de um compartimento e veio sentar ao seu lado.
—Você está com sede? — Perguntou com um sotaque que pertencia a algum lugar
no Wisconsin.
Noelle olhou para a garrafa de água, que ainda estava selada. Ela assentiu.
O homem abriu a garrafa e segurou-a em sua boca para que pudesse beber.
Ele abriu uma pequena caixa que tinha no bolso e pegou alguns comprimidos. —Isso
vai ajudar com a dor de cabeça.
Noelle virou a cabeça, recusando as pílulas. Ela não confiava nesses homens, e não
tornaria mais fácil para eles matá-la.
Ele deu uma risada baixa, divertido. —Sua escolha.

—Quem é você?
—Você pode me chamar de Owen. Passaremos muito tempo juntos, você e eu.
Algo no jeito como ele disse isso fez o cabelo na parte de trás do pescoço de Noelle se
arrepiar. — O que você quer comigo? — Ela resmungou, sentindo como se sua garganta se
rasgasse ao meio.
—Que pergunta mais tola para uma mulher tão inteligente. — Ele fechou a garrafa de
água e empurrou-a no espaço entre sua coxa e o lado do assento.
Colocou uma mão em cada braço do assento e inclinou-se para que ela pudesse olhar
diretamente em seus pálidos olhos verdes. Não havia nenhum calor lá, nenhuma
compaixão. Apenas cobiça.
Foi então que Noelle percebeu que era uma mulher morta. Talvez ainda não, mas
assim que eles tivessem o que queriam dela, ele disporia de sua vida sem remorso.
—Você vai nos contar o que o texto russo diz, e vai fazer isso agora.

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A única chance de Noelle era fazer um show para eles. Assim que David encontrasse
o disco, ele descobriria como encontrá-la. Ele encontraria uma maneira de parar esses
loucos. Ela tinha certeza disso. —Eu não sei se posso. Houve um pico de energia e meu
laptop começou a soltar faíscas. Você verificou para ver se ele ainda está funcionando?
Ele deu um tapa forte em seu rosto. Noelle ficou tão chocada que levou um minuto
antes que sequer percebesse o que ocorrera. O golpe foi duro o suficiente para que ela já
sentisse o inchaço de sua bochecha e provasse o sangue de seu lábio cortado.
—Eu não acho que você compreenda plenamente a magnitude de sua situação, Dra.
Blanche. — Ele agarrou a parte de trás do seu cabelo e empurrou sua cabeça para que ela
olhasse diretamente para ele. A cicatriz feia no rosto escureceu para um vermelho irritado.
—Sabemos tudo sobre você. Sabemos quem são seus amigos. Temos homens
acompanhando a sua família. Você realmente não quer que eles sofram por sua teimosia,
não é?
A face de sua irmã Lilly cristalizou na mente de Noelle, e ela não pôde segurar as
lágrimas que deslizaram silenciosamente pelo seu rosto. —Eu não posso. — Ela não
explicou que não podia arriscar a vida de muitos, para que uma só pessoa pudesse viver.
Nem mesmo sua amada irmã. Lilly fora educada da mesma forma, a nunca comprometer
seus princípios, não importa o que aconteça. Elas aprenderam isso no colo de seu pai.
Ambas sabiam que carregavam essa responsabilidade, porque eram inteligentes.
—Veremos, — disse ele, e virou-se para recuperar uma caixa de metal que parecia
uma caixa de ferramentas. De dentro da caixa tirou uma seringa e um frasco cheio de
líquido.
Noelle estremeceu, incapaz de lutar contra o terror que crescia em seu peito. O que
diabos era aquela coisa e o que ele iria fazer com ela?
Ele encheu a seringa e casualmente injetou em seu braço sem se preocupar em
desinfetá-lo. Era apenas mais um sinal que ele não se importava se ela viveria a longo
prazo.

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O calor voou ao longo de suas veias, fazendo-a estremecer. Após alguns segundos, o
avião parecia aumentar e encolher repetidamente, pulsando com cada batida do seu
coração. Por alguma razão, isso não parecia estranho.
O homem olhou para ela, e depois apontou uma pequena luz em cada um dos seus
olhos. —Não se preocupe, — ele disse, sua voz oleosa com uma paródia de compaixão.
Acariciou seus cabelos com movimentos delicados. —Não vai demorar muito agora.
David estava perto da insanidade, com raiva, impotente e frustrado. Andava pela
sala enquanto os nerds trabalhavam para quebrar a senha de proteção no disco que Noelle
lhe dera.
O General Monroe o observava de um canto. Grant e Caleb tinham suas cabeças
inclinadas juntas em uma conversa tranquila sobre um mapa, do outro lado da sala branca
e estéril.
Este pequeno laboratório contratado pelo governo era o lugar mais próximo onde
poderiam ter algum tipo de suporte técnico, o único lugar próximo, onde podiam ser
capazes de descobrir para onde Noelle fora levada. Especialistas estavam voando para
ajudar, mas demorariam ainda várias horas para chegar.
A sala branca estava cheia de fios e com várias entranhas de gabinetes de computador
abertos. Lâmpadas fluorescentes cantarolavam enquanto o abafado clicar do teclado enchia
um dos lados do lugar. Três jovens trabalhavam freneticamente para conseguir as
informações no disco.
David queria colocar uma arma apontada para suas cabeças para ajudar a incentivá-
los a trabalhar mais rápido, mas resistiu ao impulso. Duramente.
Monroe ficou de pé, usando uma bengala para ajudá-lo a se equilibrar. Ele levara um
tiro na perna durante o tiroteio na casa segura, e embora fosse se recuperar, estava ficando
velho o suficiente para que não se recuperasse mais como costumava fazer. Ele parecia
cansado. Idoso.
—Você já pensou em alguma coisa, Capitão? — Perguntou Monroe.

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David esfregou o rosto com as mãos, tentando livrar os olhos dos grãos de fadiga. Ele
tomou café suficiente para fazer um buraco no estômago, mas não ajudou. —Há algo que
ela disse logo antes de sair, mas eu não me lembro o que era.
—O que você lembra?
David empurrou alguns cabos de lado e encostou-se à beira de uma bancada coberta
com um revestimento azul de descarga eletrostática de proteção. —É, uh, pessoal, senhor.
—Foda-se o pessoal. Cuspa isso, Capitão.
David estava hesitante em falar com Monroe sobre seu relacionamento com Noelle.
Não que estivesse preocupado em ter o seu juramento mastigado por quebra de protocolo.
Ele não podia se importar menos com isso. Mas se preocupava em manchar o que ele e
Noelle compartilharam, expondo-o a outras pessoas. Ele queria que as memórias de fazer
amor com ela fosse algo que apenas ambos compartilhassem.

Ainda assim, David sabia que isso poderia ajudar a descobrir a senha que protegia os
dados no disco, e só isso, valia a pena manchar boas lembranças. —Ela disse algo sobre a
primeira vez que fizemos amor.
Se Monroe ficou surpreso com essa notícia, não deixou transparecer em seu rosto. —
O que tem isso?
David bateu com o punho na bancada, fazendo as placas de circuito saltarem. —
Droga, eu não sei!
—Tente se lembrar. Quais foram as suas palavras?
David tentou. Sua memória era nebulosa, mas ele conseguia se lembrar daquele beijo
que ela lhe deu – um beijo tão cheio de amor que o deixava perto das lágrimas só de pensar
se... —Ela disse que eu tinha que lembrar o que ela disse naquela noite.
—O que ela disse?
—Um monte de coisas. Falou consigo mesma enquanto estava trabalhando. A maior
parte era lixo para mim.
—O que ela disse para você?

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Eles não tinham trocado muitas palavras naquela noite. Ela acordou-o para olhar
aqueles rabiscos em seus braços. Ele tentou não ceder ao desejo, mas falhou. Ele puxou-a
sob seu corpo e o olhar no rosto dela - tão aberto e ansioso - foi sua ruína. Mas, ele tivera
certeza que era o que ela queria. Ele exigiu que ela lhe dissesse que era o que ela queria.
David viu seu rosto em frente a ele como se ela estivesse aqui. Seus olhos estavam de
um verde profundo e sonolento. Sua pele vermelha e sua boca estava molhada e madura.
—Sem arrependimentos, — sussurrou David.
—O quê?
Ele olhou para Monroe, quebrando a imagem doce de Noelle. —Ela disse “Sem
arrependimentos”.
David cruzou o espaço para os nerds de tecnologia. —Digite a senha Sem
Arrependimentos.
Um pequeno garoto espinhento com uma cara que não podia ter mais de dezenove
anos teclou rapidamente. Uma luz azul piscou através de sua pele manchada, refletindo
contra os óculos redondos que usava. —É isso aí. Estamos dentro.
David sentiu o ímpeto de vitória dar-lhe força renovada. —Agora, digite essas
coordenadas em seu programa e imprima os resultados.
A tecnologia fez o serviço. David puxou o papel fora da impressora antes que
terminasse de imprimir. A impressora caiu no chão atrás dele, mas nem se importou. Ele já
estava fora da porta.

Capítulo 27

David viu os guardas armados caminhando pelo perímetro do local antigo na Rússia
e soube que era tarde demais. O Swarm chegara aqui primeiro.
A noite escondia o movimento de sua equipe. Eles se vestiam de preto e desceram de
paraquedas a mais de um quilômetro de distância. A caminhada foi a mais rápida de sua

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vida. Ainda podia ouvir alguns homens lutando para acalmar a respiração difícil para
manter o ritmo extenuante que ele impusera. Seu braço queimava onde a bala o atingira,
mas ele empurrou a dor até que ela já não existisse.
Caleb e Grant estavam ali, e ele nunca fora mais grato por tê-los ao seu lado. Como
estava, ele mal mantinha o pensamento racional sabendo que Noelle estava dentro daquele
prédio com o Swarm. Tudo o que queria fazer era correr e tirá-la de lá. Só o conhecimento
que sua impaciência poderia matar Noelle o mantinha contido.
—Eu conto quinze, — Sussurrou Grant, olhando através de seu escopo noturno.
—Eu também, — confirmou Caleb. —Assinaturas de calor mostram outros seis lá
dentro.
David pegou o escopo que podia ver através das paredes de metal e apontou para o
velho edifício. Havia realmente seis lá dentro. Dois deles estavam se movendo. Três
estavam em um grupo, e um estava a um lado, sentado, imóvel e menor que o resto.
Noelle.
David percebeu que estava tentando se mover quando sentiu a mão grande de Caleb
segurando-o. —Ainda não. Vamos juntos ou ela não terá a menor chance. Não vá ficar
estúpido agora.
Grant olhou para o relógio e deu a David um olhar de compreensão. —Trinta e oito
segundos, Wolfe. Todos nós entraremos juntos então. Você pode esperar trinta e oito
segundos.
Foram os trinta e oito segundos mais longos de sua vida.

Noelle iria congelar até a morte - literalmente. Ela não conseguia mais sentir os dedos
das mãos ou dos pés, e os arrepios que afligiam seu corpo eram tão extremos que tinha
certeza que danificariam o tecido muscular. Pelo menos já não podia sentir o ardor das
dezenas de cortes superficiais sobre seus braços e pernas.
Eles não tiveram sequer necessidade de machucá-la para obter informações. A droga
que aplicaram fizera com que fosse impossível para ela se manter em silêncio diante dos
homens que a questionavam sobre as coordenadas que ela viu na tela. Ela desejava não ter

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uma boa memória para números e que não fosse capaz de lhes dar as coordenadas, mas
afinal, não tivera escolha.
E ainda a cortaram. O homem com a cicatriz disse que apenas gostaria de ouvi-la
gritar. Ela tinha uma voz bonita. Noelle tentara não lhe satisfazer, mas no final, falhara nisso,
também.
Estava nua, amordaçada, fora encharcada com um balde de água gelada e amarrada
a uma cadeira de metal no centro de uma sala que não tinha um aquecedor funcional a
mais de uma década. Seu estômago estava apertado e estava tão exausta fisicamente que
mesmo os arrepios involuntários começavam a diminuir. Depois de tantas horas, seu
corpo simplesmente não tinha forças para lutar por mais tempo.
Apenas o pensamento em David a manteve além de onde ela teria se rendido. Se ele
estivesse vivo, ele viria por ela. Ela nunca duvidou disso, nem por um segundo.
Forçou-se a ficar acordada, olhando para qualquer coisa que pudesse interessá-la o
suficiente para manter sua mente alerta. Quando David chegasse, precisava estar acordada
e capaz de ajudá-lo de qualquer maneira que pudesse. Ela não se renderia sem lutar.

Noelle olhou em volta. O edifício era uma espécie de paiol feito de placas de metal
fáceis de desmontar e transportar para outros lugares. A estrutura e tudo o mais era
projetado para ser portátil.
Mas por mais interessante que pudesse ser expiar este ponto em sua vida, exatamente
agora, a única coisa mantendo-a focada era o frio lancinante que afundava em todos os
poros. Ela já estava sentindo uma forte e profunda letargia que sabia, significava hipotermia
iminente. Quando a morte se aproximasse seria horrível, até que ela cedesse ao desejo de
dormir. Então tudo estaria acabado.
Água pingava de forma constante sobre seus cabelos e fazia uma piscina rasa em seus
pés descalços. Suas pálpebras deslizavam e ela lutava para abri-las novamente. Disse a si
mesma que tinha que ficar acordada. David estava vindo.
A fé em David era tudo que restara, e se agarrou a ela com toda a força que possuía.

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De repente, as portas de metal se abriram, seguido de uma acentuada saraivada de


tiros. Não conseguia levantar a cabeça o suficiente para ver quem era, mas não precisava
fazer isso.
David estava aqui.

Finalmente, David foi capaz de agir. Grant, extraordinário franco atirador, foi capaz de
tirar quatro homens protegendo a entrada antes que o resto do grupo pudesse até mesmo
diminuir a distância. David ignorou o resto dos guardas inimigos, sabendo que eram os
alvos de sua equipe. Seu objetivo era entrar, eliminar os inimigos perto de Noelle e tirá-la de
lá. Caleb estava bem ao seu lado.
Relatos dos inimigos abatidos enchiam seus ouvidos, mas ele se desligou do som,
colocando todo o foco em sua parte do ataque.

Caleb e David estouraram as portas, atirando em quem não fosse Noelle. Três
homens caíram antes que o primeiro inimigo tivesse chance de revidar. Um abaixou para
se proteger atrás de uma divisória de metal e o terceiro correu pela sala, em direção a
Noelle.
David a viu lá, ensanguentada, nua, amarrada a uma cadeira de metal. Uma poça de
sangue brilhava sob sua cadeira.
David quase se perdeu ali mesmo. Era como olhar para Mary, novamente.
Espancada. Torturada.
Morta.
Ele quase se dobrou com a dor, lutando contra a vontade de vomitar. Isso não podia
estar acontecendo de novo. Ele não sobreviveria a perda de Noelle.
O dia em que Mary morreu, um monstro nascera dentro dele. Nos últimos dois anos,
David alimentara este monstro com uma dieta constante de culpa, tristeza e
arrependimento. O monstro crescera, inchara dentro de David, até que havia pouco espaço
para o homem que ele costumava ser.

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Noelle, de alguma forma descobriu o homem e soprou uma centelha de vida dentro
dele. Mas agora, olhando seu corpo torturado, todo o ser humano nele morreu, gritando
em tormento. Tudo o que restava era o monstro, rondando dentro dele, esperando por sua
chance de atacar.
David forçou a sair cada pingo de emoção persistente em seu coração. Ele não podia
sentir nada agora. Se o fizesse, isso o destruiria – deixando-o fraco. Ele tinha que ser frio.
Oco. Vazio. Uma máquina ajustada para matar. Mataria a cada um dos bastardos aqui e
rezaria para morrer no processo.
Uma bala passou zunindo por sua cabeça, e se não fosse por Caleb empurrando-o
para fora do caminho, teria sido atingido.
—Controle-se, — rosnou Caleb, usando seu corpo maior para cobrir David dos tiros.
Eles foram prensados em um pequeno nicho ao lado da porta, que lhes dava cobertura.
Caleb agachou, levando David com ele. —Ela está viva, — disse Caleb. —Não vê que
ela está tremendo?
David espreitou o canto, necessitando ver por si mesmo. Caleb estava certo. Ela ainda
estava viva.
A sensação de alívio tentou tomar posse dele. David a esmagou, golpeando-a sem
piedade. Ele não podia suportar a ideia de acreditar que Noelle estaria bem, então vê-la
acabar como Mary. Ele não sobreviveria a esse tipo de dor novamente. Isto era tudo o que
podia fazer apenas para se manter respirando.
—Eu vou atrás dela, — David disse a Caleb, sua voz baixa e dura.
—Certo, — disse Caleb, sabendo que era melhor concordar que tentar argumentar.
—No três.
Caleb deu cobertura a David enquanto ele corria pela sala em direção a Noelle. Ele
nunca se sentiu mais forte ou mais rápido em sua vida. Ele vivia por um único propósito –
salvar Noelle.
Atrás dele, ouviu o grunhido doloroso do homem que se abrigara atrás da divisória.
Caleb relatou calmamente outro inimigo abatido, pelo receptor preso dentro do ouvido de
David.

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O que deixava apenas um inimigo no prédio.


O homem louro que vira David se aproximar e saltou para trás de um armário onde
se escondera e usava Noelle como cobertura. E se isso não fosse suficiente para impedi-los
de disparar contra ele, ainda colocou uma pistola diretamente contra a têmpora de Noelle.
—Pare, — disse o homem.
David parou, derrapando sobre o piso de concreto. Dentro dele, o monstro uivou em
frustração.
Ele iria matar aquele homem.
David olhou para ele, esperando por uma abertura. O reconhecimento queimou
brilhante na memória de David. O homem estava horrivelmente marcado agora, mas
David estava certo que este era o homem que mantivera Mary em cativeiro. O mesmo
homem que a matou.
—Eu pensei que já tivesse matado você, — disse David. Sua voz era vazia, sem
emoção.
As pálpebras de Noelle tremularam em resposta a sua voz, mas David recusou-se a
olhá-la. Precisava ficar focado. Ela iria ficar bem. Ele se certificaria disso, não importava
como.
O homem louro sorriu, fazendo com que a cicatriz ao longo de sua bochecha esticasse
em cumes horríveis. —Não foi bem assim. Aqueles tiros quase me mataram, mas consegui
escapar, mesmo com uma bala no peito. — Ele deu um passo para o lado e se agachou,
colocando-se mais completamente atrás de Noelle. David não tinha uma boa posição para
atirar. —Eu sabia que você viria pela mulher. Você sempre volta por suas mulheres.
Noelle gemeu e David rangeu os dentes contra o desejo de estender a mão para ela.
—Você não pode imaginar quantas vezes eu sonhei em matar você, — disse o
homem.
David não sentia nada com as palavras do homem. Nenhum medo. Nenhuma raiva.
Apenas a calma frígida de saber que ele faria esse homem morrer. Ele tiraria sua vida com
as próprias mãos para certificar-se, sem qualquer dúvida, que ele nunca poderia ferir outra
mulher novamente.

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David jogou sua arma no chão com um ruído metálico e abriu as mãos. —Aqui
estou. Deixe a mulher ir embora, e eu sou seu.
David podia sentir Caleb tenso atrás dele. Eram amigos a muito tempo para David
não saber que Caleb pensava que ele estava sendo um completo idiota em se entregar
assim.
Um sorriso malicioso iluminou os olhos do homem. —Diga ao seu amigo gigantesco
para recuar, — ordenou o homem louro.
—Saia, Caleb. Posso lidar com isso.
Caleb deu um passo e David agora podia vê-lo pelo do canto do olho. —Não seja um
idiota, Wolfe. Ele vai...
David não deixou Caleb terminar. —Eu disse para sair! Isso é uma ordem, tenente.
—Não sem a menina, Capitão, — disse Caleb.
David deixou sair um suspiro de frustração, apesar de ainda não sentir nada, além do
monstro rondando incessantemente dentro de si e a necessidade premente de matar.
—Certo. — Ele caminhou direto para Noelle, fazendo-se um alvo fácil. A arma do
homem parou de apontar para Noelle e foi para David, dando-lhe a chance de levá-la
embora. Ele empurrou sua cadeira de rodas em direção a Caleb, confiando nele para tirá-la
de lá em segurança. Tão logo ela saísse, David realmente não se importava com o que
aconteceria com ele.
Agora que David era de fácil acesso, o homem com cicatrizes agarrou-o em torno da
garganta com um braço e apertou o cano frio de sua arma contra o lado do rosto de David.
David se forçou a não sentir nada.
Caleb pegou Noelle, cadeira e tudo, e a carregou como se ela não pesasse mais que
um saco de mantimentos.
A cadeira gotejava vermelho, que David podia ver agora, era mais água que sangue.
Noelle estava ferida, mas não tão mal como suspeitava. Ele queria sentir alívio, mas não
conseguiu. Se ele se permitisse sentir algo, mesmo que pouco, a torrente de emoções
correria para a liberação e o queimaria vivo.

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Uma vez que Noelle estava em segurança fora do prédio, David deliberadamente
deixou seu monstro livre. Ele uivou de deleite e tomou o corpo de David, dando-lhe quase
velocidade desumana.
Com um empurrão do cotovelo de David, a arma do homem saiu voando pela sala.
Foi apenas uma questão de segundos antes de David ter o homem preso no chão de
concreto, com as mãos em torno de sua garganta, vendo-o morrer.
David não sentiu nada. Nenhum sentimento de vitória, nenhuma alegria. Nada.
Quando David não conseguiu mais sentir a batida do coração do homem sob seus
dedos, ele soltou. Só para ter certeza que o homem não voltaria dos mortos, David
recuperou sua arma e colocou duas balas na cabeça dele.
Só então ele virou para se afastar.
Caleb não o deixara como fora ordenado. Ele estava de pé com Noelle, usando seu
corpo para protegê-la, e sua arma voltada para o homem morto. Ele ficara para o caso de
David precisar de reforço.
A cabeça de Noelle pendia debilmente de seus ombros, mas ela ainda estava
consciente o suficiente para vê-lo. Seus olhos verdes brilhavam de medo e repulsa, olhando
para o homem que David acabara de matar. Ela viu a coisa toda. Ela o viu matar com as
próprias mãos.
Noelle odiava a violência, e depois do que acabara de presenciar, David tinha certeza
que ela não teria escolha, a não ser odiá-lo.
A fúria cresceu dentro dele, mas ele espezinhou-a. Tinha que manter o controle de
suas emoções por ela. Tinha que tirá-la daqui com segurança.
David atravessou a sala, olhando para Noelle enquanto se movia. Ela ficava mais
fraca a cada segundo. Ele podia ver sua força ser drenada a cada arrepio de seu corpo
magro. David se recusou a deixar-se sentir alguma coisa. Ainda não. Não até que Noelle
estivesse segura e aquecida. Ele fizera isso. Ele vingou a morte de Mary, mas isto não lhe
trouxera alegria. Nenhuma satisfação. Estendeu a mão para ela e ela se encolheu para longe
de seu toque.

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Era a confirmação de tudo o que David temera. Ela o vira matar com as próprias
mãos para salvá-la e ao fazê-lo, ele a perdera para sempre.

Capítulo 28

Noelle sentiu o calor em torno de seu corpo. Não conseguia abrir os olhos, mas ouviu
vozes familiares em conversas picadas. Podia sentir o cheiro da pele de David quando ele a
aqueceu, usando seu próprio corpo.
—...ela está congelando... mantê-la quente... queimadura de frio...
—Ele está morto. — Esta voz era de David, embora não soasse bem. Parecia dura e
fria.
—... Os ferimentos não são graves... preocupado com hipotermia...
Noelle lutou por força suficiente para falar. —Sinto muito, — ela sussurrou. —Eu
tentei não dizer as coordenadas. Eu tentei...
—Fique quietinha, agora— disse David. Ele estava próximo a ela, falando ao lado de
sua orelha. Sua voz ainda estava estranha, mas ela não se importava. Era David. Ele estava
a salvo. —Você não fez nada de errado.
O calor começou a queimar quando a sensação voltou para os dedos dos pés. Noelle
parou de lutar contra o sono.
Ela acordou mais tarde, em uma cama. Havia várias mãos em torno dela, uma
máscara de plástico sobre o nariz e a boca. Estava toda machucava e podia sentir as agulhas
cutucando toda sua pele.
—Dê-lhe algo para a dor, — pediu David.
Ele estava perto, mas ela não conseguia manter os olhos abertos para vê-lo. Tentou
falar, mas não conseguiu descobrir como retirar a máscara.
Ela sentiu o acesso para soro na parte traseira de sua mão mexer, então o que fora
aplicado nela para a dor começou a fazer efeito, e ela voltou a dormir.

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A próxima vez que acordou estava escuro. Estava com sede e sua garganta
queimava. Havia ruídos fracos em torno de homens conversando em sussurros
silenciosos. —David? — Ela resmungou.
Os sussurros pararam e ela sentiu uma mão quente e calejada agarrar a dela. Ele
estava aqui. Ela estava salva.

David se recusou a abandonar Noelle, por dois dias. Estava cansado, com fome e
dolorido da cabeça aos pés, mas não conseguia deixá-la. Nem mesmo sabendo que logo
que acordasse, ela olharia para ele com repulsa.
Caleb entrou no quarto do hospital, seu corpo grande enchendo a porta. Não havia
janelas para o exterior por razões de segurança, e a única luz na sala vinha de fendas
minúsculas na persiana da janela interior da parede que dava para a sala das enfermeiras.
Caleb se aproximou em passos silenciosos, seus olhos negros verificando a condição
de Noelle, em um minucioso escrutínio. —Ela está melhor hoje, — afirmou quando se
aproximou da cama, em frente a David.
—Sim. Acho que está. É difícil dizer com todas as contusões, mas continuo tendo
esperança.
—Você deve tomar um banho. Ficarei com ela enquanto você estiver fora, se quiser.
Um dos lados da boca de David se contraiu. —É essa a sua maneira sutil de dizer que
eu estou fedendo?
—Muito. Se quer que ela tenha alguma coisa com você quando acordar, sugiro que
limpe a lama de suas botas, tome um banho e coloque roupas limpas.
David olhou para Noelle. Ela estava tão pálida e ainda com todas as contusões, que
cada vez que ele a olhava, seu intestino torcia em um nó apertado. Ele quase a perdera e
apenas o pensamento ainda o sacudia cada vez que passava por sua mente, o que
acontecia a cada trinta segundos. Tentou não pensar nisso, mas o quarto era tranquilo, e
seus cortes e contusões eram lembretes constantes de como estivera perto de perdê-la.
Como ela estivera perto de acabar como Mary. —Vou sair daqui a pouco.

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Caleb assentiu e puxou uma cadeira para se sentar. Acomodou-se na cadeira com a
paciência de um homem que não tinha planos de ir a lugar algum por um tempo. —O que
você vai fazer agora? —Caleb perguntou.
—O que você quer dizer? Eu vou sentar aqui até que ela acorde.
—E depois?
David olhou para Caleb, para seus pacientes olhos escuros. Um vazio desolador
encheu seu peito. Ele sabia o que Caleb estava perguntando.
David sabia o que tinha que fazer. Por mais que isso o machucasse, ele tinha que ir
para longe de Noelle. Seu médico confirmara que ela não estava grávida. Ele exigiu que
verificassem. Ela teve seu período, então não havia sequer essa última desculpa para
manter David aqui. David tinha que lhe dar a chance de uma vida real, uma vida sem a
ameaça de violência pairando sobre ela todos os dias.
Ela merecia ser feliz. Ele queria que ela fosse feliz. Ele a amava o suficiente para ir
embora para que ela pudesse ser.
David planejava se esconder tão profundamente que ninguém jamais iria encontrá-lo
novamente. Nem mesmo Monroe. Deixaria o país, rastejaria em alguma selva tão densa
que iria engoli-lo inteiro. Nem mesmo os satélites seriam capazes de vê-lo. Ele
desapareceria e Noelle estaria segura da marca de violência que ainda manchava a sua
alma.
—Isso não é o que ela quer, — disse Caleb, como se ouvisse os pensamentos
silenciosos de David . —Não é o que você quer.
—E você me conhece tão bem, depois de ficarmos separados por dois anos, que acha
que sabe o que eu realmente quero?
Caleb acenou com a cabeça escura. —Sim. Eu conheço.
—Okay, Sr. Observador. O que você acha que eu realmente quero?
—Noelle.
—Bem, é claro que eu ainda a quero. Ela é uma mulher bonita.
—Eu não estou falando de sexo. Estou falando de mais que isso. Compromisso.
Amor. Para sempre.

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—Eu não posso. De novo não. Não depois do que aconteceu com Mary.
—Noelle não é Mary. Se você não conseguiu descobrir isso, então você não a merece.
—Eu não merecia Mary, também.
—Ela achava que você merecia. Ela iria querer que você fosse feliz, você sabe.
—Sim. Eu sei. Ela me amava, mas parte de mim sente como se eu a estivesse traindo,
traindo a sua memória de alguma forma.
—Você só estará traindo sua memória se parar de viver. Você esteve morto por dois
anos. Não é tempo suficiente para punir a si mesmo?
A única punição que se encaixava a seu crime seria morrer da mesma forma que
Mary - torturada, fria e sozinha.
David puxou a corrente de ouro do pescoço e balançou sua aliança de casamento na
frente dele. A luz brincava sobre a superfície simples de ouro, fazendo seus olhos picarem
com lágrimas. Ele ainda amava Mary. Sempre amaria. Como poderia desonrá-la,
colocando outra mulher inocente em perigo, porque ele era egoísta o suficiente para querer
uma segunda chance de felicidade?
Ele não podia. Ele amava Noelle tanto quanto amara Mary. Nunca pensou que seria
possível amar assim novamente, mas amava. Só fazia ainda mais difícil ir para longe dela.
Isso também fazia ser muito mais que necessário.
—Não importa o que eu quero, — disse David.
—Tudo bem. Digamos que você está certo sobre isso. E sobre o que Noelle quer? —
Perguntou Caleb.
—Noelle odeia violência. Ela viu o que fiz com o homem que a levou, e eu vi o jeito
como ela olhou para mim quando cheguei perto dela. Ela se afastou. Encolheu-se como se
eu fosse machucá-la.
Caleb deu um olhar a David que dizia o idiota total que ele pensava que era. —
Inferno, eu também teria me afastado. Você não tem ideia de como você parecia lá, não é?
— Caleb disse para a carranca desnorteada de David: —Você estava coberto de lama, o
rosto riscado de tinta. Havia manchas de sangue em sua roupa e na pele e um brilho
selvagem em seus olhos que deixou até a mim com medo que você tivesse ultrapassado

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seu limite. Você acabara de matar um homem com as mãos nuas e parecia que estava
pronto para fazê-lo novamente. Ela provavelmente percebeu que você estava um pouco
louco. Inferno, eu pensei a mesma coisa até que você se acalmou.
—Ela deveria saber que eu nunca iria machucá-la. O fato que ela não saiba só prova
que ela realmente me vê como um homem violento.
Caleb revirou os olhos negros e deu um suspiro de desgosto. —Ela estava fora de si,
cara, delirante de drogas e hipotermia e, provavelmente, temendo que fosse morrer. E ela é
uma civil. Dê-lhe uma folga, idiota. A menos que você esteja apenas usando isso como
desculpa para não tentar fazer as coisas funcionarem com ela.
—Foda-se, Stone.
Caleb suspirou e levantou-se, o seu corpo maciço imponente sobre a cama de Noelle.
—Não seja mais burro do que Deus lhe fez, David. Você a ama e se for esperto, vai deixá-la
saber antes que seja tarde demais. Não vá embora. Você vai se arrepender. — Essa última
parte soava muito parecida com a voz da experiência, fazendo com que David se
perguntasse o que acontecera com Caleb ao longo dos últimos dois anos.
David se levantou e saiu da sala, passando por Grant em seu caminho para fora. Era
hora de se mexer. Noelle ficaria bem e ele precisava ir embora antes que ela acordasse. O
mínimo que podia fazer por ela era estar longe para não ter estresse pós-traumático com
sua presença quando abrisse os olhos.

Noelle abriu os olhos para encontrar Grant e Caleb aos pés da cama. —Onde está
David?
A mandíbula de Grant cerrou com raiva e Caleb a olhava com raiva também. —Ele
está indo embora. Para o seu bem. Eu não sei se você quer ou não impedi-lo, mas precisa
decidir rápido. Ele tem uma vantagem de três minutos, e uma vez que ele saia, nenhum de
nós jamais será capaz de encontrá-lo.
Noelle lutou contra a sensação de pânico. —Indo embora? Por quê?
—Ele não quer que você acabe como Mary, — disse Grant.

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Noelle ainda estava grogue, mas forçou sua mente a limpar e fazer um balanço do
que estava ouvindo. Ela sabia que David sentia-se culpado pela morte de sua esposa e,
provavelmente, sobre o que acontecera com ela também. Também sabia que ele era um
cabeça dura total para achar que a culpa era dele. —Eu não posso deixá-lo ir. Eu o amo.
—Você tem certeza disso? —Perguntou Caleb. —Você precisa pensar sobre o que
está dizendo e ter certeza absoluta. Não brinque com ele, Noelle. — Essa última parte foi
um aviso, tão claro e ameaçador como eles.
—Cale a boca! Qual de vocês é o mais rápido?
Grant sorriu, deu a volta na cama com um salto casual e gracioso e foi para fora da
porta num piscar de olhos.
—Ajude-me, Caleb. — Ela usou sua melhor voz de autoridade professoral.
—Você não está em condição de sair da cama. Deixe Grant trazer David de volta até
aqui.
—Você realmente acha que Grant poderá arrastá-lo de volta se ele não quiser vir? —
Ela estava desesperada agora, jogando as cobertas, tentando não arrancar o acesso do soro
de sua mão. —Caleb, eu juro que se não me ajudar neste instante, vou usar cada uma das
minhas células cerebrais para fazer você sofrer pelo resto de sua vida.
Um sorriso admirado curvou a boca de Caleb, e ele começou a obedecer. Ajudou-a a
ficar sobre suas pernas instáveis. Noelle não sabia como andaria, mas tentaria alguma coisa.
Caleb tirou um cobertor da cama e envolveu-o em torno dela. —Por mais que David
gostasse de ver seu traseiro nu, duvido que ele gostaria de compartilhar a visão com os
outros. Ele é um pouco ciumento quando se trata de você, caso não tenha notado.
—Ciumento o suficiente para estar disposto a deixar-me sem sequer um beijo de
despedida?
Noelle começou a desenganchar o tubo do soro, mas Caleb a parou. —Você precisa
disso. — Ele pegou o saco do suporte de metal e o entregou a ela. —Aqui, você segura isso,
e eu vou levá-la para fora. Ver você nos braços de outro homem não vai deixar David feliz.
— O sorriso no rosto dele disse a Noelle o quanto a ideia de irritar David o agradava.
Ele a ergueu com o cobertor e tudo, e se dirigiu para fora.

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David quase chegara a seu carro quando viu Grant correndo em sua direção.
Ele adivinhou que Grant estava vindo para tentar impedi-lo de ir embora, mas uma
pequena e aterrorizada parte se preocupava que algo houvesse acontecido com Noelle.
Hesitou, e foi essa hesitação que fez com que terminasse deitado de costas na grama em
frente ao estacionamento do hospital.
A adrenalina inundou seu sistema e ele empurrou Grant em uma disputa de força.
Seu cotovelo bateu no nariz de Grant no processo e sangue escorreu em sua camiseta cinza.
Se Grant percebeu o ferimento, não reagiu. Apenas veio para David, seus olhos
brilhando de alegria. Bateu com o corpo em David, fazendo o ar sair correndo de seus
pulmões quando absorveu a força do golpe.
Grant e David brigaram muitas vezes durante seu treinamento, para David saber que
estavam empatados. Grant era poucos centímetros mais alto, mas não se parecia nada com
David no departamento de peso. Em uma luta normal, David teria uma chance de
cinquenta por cento de ganhar. Essa não era uma luta normal.
A mão de Grant encontrou o ferimento a bala no braço ferido de David e apertou. A
dor atravessou o corpo de David e ele rangeu os dentes para não gritar. —Isso é por
arrebentar meu nariz. Novamente, — disse Grant.
—Parem com isso! — Noelle ordenou imperiosamente.
David congelou ao som de sua voz e olhou em sua direção. Ela estava nos braços de
Caleb, envolta em uma manta de algodão branco, carregando sua bolsa de soro contra o
peito. Seu rosto estava machucado, e ele podia ver que era um esforço para ela manter a
cabeça ereta.
—Fiquem longe de mim, — gritou David .
Imediatamente, Grant se afastou oferecendo uma mão para ajudar David a levantar.
David olhou para Grant e recusou a mão. Grant apenas sorriu. O filho da puta sempre se
divertia demais nas brigas para seu próprio bem.
O primeiro instinto de David foi correr para o lado de Noelle, mas ele se agarrou à
força de vontade e plantou os pés a uns bons dois metros de distância dela.

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—Eu não lhe disse para machucá-lo, Grant, — Noelle repreendeu. —Só para detê-lo.
Grant deu-lhe um sorriso constrangido. —Desculpe, madame. Acho que me
empolguei.
Seu olhar verde fitou David e foi como tomar um soco no estômago. A traição
brilhava em seus olhos. —Você simplesmente estava indo embora? —Ela perguntou.
David queria assassinar Caleb, sabendo que ele que contou a ela. Seria muito melhor
se ele simplesmente mantivesse sua boca fechada. —Eu tenho que ir, Noelle. É para seu
próprio bem.
Sua boca apertou em um círculo com raiva. —Não me diga que é para o meu próprio
bem! Eu sou uma mulher adulta e totalmente capaz de decidir o que quero e não quero. Se
você está indo embora porque não dá a mínima para mim, então vá, mas não tente me
dizer que é para o meu próprio bem.
O esforço de gritar com ele minou sua força visivelmente. Ela recostou a cabeça contra
o peito de Caleb e uma onda de ciúme rasgou através de David, que cerrou os punhos
contra o desejo de chocá-los contra o rosto de Caleb.
—Ponha a minha mulher no chão, — rosnou David .
Caleb arqueou uma sobrancelha preta. —Ela está fraca demais para aguentar ficar em
pé. Se você quer que eu a coloque no chão, venha tirá-la de mim. Caso contrário, sofra.
David considerou deixá-la com Caleb, mas estava com tanto ciúme que não
conseguia pensar direito ao vê-la nos braços de outro homem. Era estúpido pensar nela
como sua. Afinal, ele estava indo embora, logo que endireitasse as coisas com Noelle.
Sabia que, eventualmente, algum outro homem descobriria o tesouro que ela era, e se
casaria com ela. E ele não estaria por perto para impedir que isso acontecesse, também. Era
melhor se ele se acostumasse com a ideia de ela pertencer a outro homem.

Talvez até mesmo Caleb.


Esse foi o pensamento que o enviou ao limite, e ele sabia que Caleb vira isso na cara
dele. David pisou sobre a grama e tomou Noelle de Caleb. Ele teve cuidado com seu corpo
machucado, mas o olhar de ódio que deu a Caleb era uma clara dispensa.

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Noelle estava tensa e insegura, mas David não podia culpá-la. Ele magoou seus
sentimentos e, provavelmente, muito mais que isso.
—Acho que você me deve uma explicação a respeito de porque ia embora sem dizer
adeus, — disse ela.
David se recusou a olhar para ela. Sabia que o olhar de traição ainda torcia seu rosto,
causando-lhe uma profunda dor sobre o que fizera a ela. —Vamos colocá-la de volta na
cama. Conversaremos lá.
—Eu vou ficar de guarda na porta, — ofereceu Grant em um tom alegre, limpando o
sangue de seu rosto. Apenas no caso de ele decidir fugir de novo.
David rosnou, mas não fez nenhum comentário. Estava muito frio lá fora para
Noelle, usando uma roupa de hospital frágil e um cobertor.

Ele não disse nada enquanto a empurrava de volta na cama e pendurava o saco de
soro de volta no suporte de metal. Uma vez que isso foi feito, colocou alguma distância
entre eles, andando até o final da cama.
—Bem? — Perguntou ela. Sua voz estava tensa. Cansada. Magoada.
David queria bater o punho em algo, de preferência nos rostos de seus amigos.
Sentia-se numa armadilha. Engaiolado pela culpa e responsabilidade. Ele sabia o que tinha
que fazer, é que apenas era tão difícil andar para longe dela agora que estava acordada, que
não estava certo de ser forte o suficiente.
Não se atreveu a olhar para ela, se concentrou em seus pés, como se fossem a coisa
mais interessante do mundo. —Nós não podemos ficar juntos. É muito perigoso para você.
Você quase acabou morta. Não há nenhuma garantia que não acontecerá novamente. Só
que da próxima vez, talvez você não sobreviva.
—Mas eu sobrevivi. Você me salvou.
A imagem do corpo de Mary brilhou através de seus pensamentos. —Nem sempre
funciona assim. É mais seguro não ficarmos juntos.
—Você não acha que deveria ser minha decisão? Eu sou muito inteligente.
Sou conhecida por tomar uma decisão considerando todas as variáveis possíveis.

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—Não sobre isso.


—Por que não? Não confia em meu julgamento?
—Não tem nada a ver com julgamento.
—Esta é apenas sua maneira de me dizer que não está interessado em me ver mais?
Você me fodeu e agora acabou?
A raiva ferveu dentro dele pela palavra crua e completamente errada, acabando com
seu controle. —Claro que não.
—Então, se você não está apenas tentando me dar o fora, por que estava fugindo?
—Eu não posso deixar você se machucar novamente.
Ele finalmente olhou para ela, vendo cada gota de cansaço em desvantagem contra
sua determinação. Ela não ia fazer isso fácil para ele, não que andar para longe dela jamais
pudesse ser fácil.
Ela olhou-o duramente. —E quem pode dizer que se você me deixar eu estarei
segura? Você mesmo disse que minha vida estaria sempre em risco por aqueles que
querem usar o que eu sei. Eu sempre estarei em perigo. É algo com o que precisarei
aprender a conviver para que possa me proteger.
—Você vai estar mais segura sem mim. — Sua voz estava afiada com determinação.
—Então, o que você está dizendo é que, apesar de eu ainda estar em perigo, se você
não estiver por perto, pelo menos você não será responsável se eu for assassinada. Suas
mãos estarão limpas. Você não terá que se preocupar com todo o sentimento de culpa que
sentiu com a morte de Mary.
Algo primitivo e assustador levantou-se dentro dele e podia sentir os olhos ardendo
de raiva. —Você não será assassinada! Nunca.
—Você não pode garantir isso. Ninguém pode. Na verdade, eu poderia entrar em
um carro para ir para casa e ser esmagada na estrada e não haveria nada que pudesse fazer
para deter isso. Nada! Assim como não havia nada que você poderia ter feito para manter
Mary viva.

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Mary. E agora Noelle. Oh, Deus. Ele nunca seria capaz de manter a sanidade sob o
peso de sua culpa o esmagando. Ele tinha que ir embora. Desligar suas emoções. Era a
única maneira de sobreviver. —Não é a mesma coisa.
Seus olhos verdes queimaram com raiva. —Uma merda que não é! É exatamente a
mesma coisa. Você não estava lá e Mary foi levada. E se ela fosse morta em um acidente de
carro, porque você não estava lá para ir até a loja por ela? E se ela escorregasse sobre o gelo e
morresse de traumatismo craniano porque você não estava lá para levá-la para trabalhar
todos os dias. Você não pode estar em toda parte, David! Você não pode ser responsável
por todos. Não é seu trabalho manter todos vivos.
Parte do que ela estava dizendo começava a atingi-lo, mas ele se recusou a se debruçar
sobre isso, ele mal a fazia entendê-lo. —Eu nunca quis manter todos vivos. Apenas as
pessoas que amo. Não são muitas. Não deveria ser pedir demais.
—Você está dizendo que me ama?
—Não. Eu não posso dizer isso. — E não podia. Ele não podia admitir amá-la e dar a
qualquer um que pudesse estar ouvindo uma arma para usar contra ele, uma razão para
machucá-la.
—Eu entendo. Bem, eu não tenho esse problema. — Sua voz suavizou-se, embora se
de emoção ou fadiga, ele não poderia dizer. —Eu amo você, David. Quero estar com você,
independentemente do risco.
As palavras cantaram para sua alma e fizeram o que restava de seu coração doer
desesperadamente, querendo ouvi-las novamente. Ela o amava. Como podia um homem
como ele ser tão afortunado? Ele não merecia seu amor. Mas, oh, como ele o queria. —Não
seja estúpida. Ficar comigo não vale esse tipo de risco. Eu não mereço esse tipo de risco.
—Você está errado. Mesmo sabendo o que sei agora - sabendo o que poderia
acontecer, se alguém me desse a opção de se devia ou não voltar atrás e fazer tudo de novo
- o tempo com você, com a tortura até o final, ou nenhum tempo com você - eu com prazer,
faria tudo exatamente da mesma forma novamente. Sem arrependimentos.
Ela não estava mentindo. David podia ver em seus olhos. Ela quis dizer cada palavra
que dissera.

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Isso fez seu intestino torcer. Fê-lo querer gritar como um animal o que suas palavras
agridoces lhe causavam. Como ela podia amá-lo tanto assim? Ele, um homem violento
que cometera tantos erros? —Você não pode dizer isso.
—Eu quero dizer isso. Aqueles dias que passamos juntos valeram cada corte e
contusão, cada partícula de medo que senti. E eu só tive alguns dias com você. Mary teve
anos. Se ela te amava tanto quanto eu amo - e tenho certeza que ela amava, teria de bom
grado aceito seu destino como o preço pelo tempo que teve com você. Talvez você seja
burro demais para perceber, mas você é um homem bom. Você vale cada bocado de
sofrimento.
—Você teve bastante sofrimento por me ter em sua vida. Não diga que está disposta a
correr esse tipo de risco novamente.
Ela pegou sua mão, e foi só então que percebeu que ele estava ao seu lado, o mais
próximo a ela que poderia ficar sem subir na cama com ela. Seus dedos estavam frios e ele
automaticamente os enrolou entre suas mãos para aquecê-las.
Sua voz estava suave, mas não menos exigente. —Por quê? Porque então você não
terá mais uma desculpa para fugir? Porque terá que encarar o fato que eu te amo e estou
disposta a estar com você mesmo que isso signifique que eu morra?
—Eu não vou deixar você morrer. — Era uma promessa, um voto que sua alma o
obrigou a fazer.
—Não é sua escolha. Nunca foi.
Ela poderia estar certa? Poderia ser verdade que ele nunca teve controle sobre a vida e
a morte? Ele tinha matado. Ele protegeu as pessoas do mal. Isso não lhe dava controle? —
Deus, Noelle. Não faça isso comigo.
—Eu não estou fazendo nada, apenas mostrando-lhe que sua vida não tem que ser
sobre culpa e tentar compensar por um crime que não cometeu. Você pode ter uma
segunda chance de felicidade se quiser. Tudo o que você tem que fazer é pegá-la.
A pequena parte dele que ainda era humana, assombrada e esperançosa, queria isso
mais que tudo. Ele ansiava por uma segunda chance, mas ele merecia? —Eu não sei se
posso. E se acontecer tudo de novo? E se você morrer como Mary?

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Seus dedos deslizaram sobre a palma da mão dele, acalmando-o. O fogo em sua voz
se foi, mas suas palavras queimaram do mesmo jeito. —E se eu não morrer? E se você se
permitir me amar e daqui a quarenta anos, a partir de agora, estivermos sentados em nossa
varanda vendo nossos netos brincar no quintal?
—Oh, Deus, — ele gemeu, quase dobrando o corpo de ansiedade. Ela estava
oferecendo-lhe tudo o que ele queria. Amor. Uma família. Como ele poderia virar as costas
a isto? —Noelle, por favor.
Sua voz estava fina, cansada. —Cabe a você, David. Você pode acabar com tudo e
desaparecer, ou pode se permitir viver. Seja qual for sua escolha, eu ainda te amarei. Nunca
vou me arrepender de te amar.
Ele fechou os olhos, sentindo as lágrimas quentes que se reuniram por trás de suas
pálpebras. Não queria chorar. Não chorava desde que Mary morreu. Queria ficar trancado
em sua caixa de segurança sem emoção, mas Noelle não deixaria isso acontecer. Ela estava
arrancando cada uma de suas barreiras e obrigando-o a dar a sua alma espaço para
respirar. Para crescer.
Noelle realmente não tinha arrependimentos? Mary podia ter se sentido da mesma
forma também? Ela teria estado disposta a sacrificar-se pelo amor que compartilharam?
Não parecia possível. Ele não era digno desse tipo de amor, mas Mary sempre dera
mais de si do que ele merecia. Assim como Noelle.
Ele desejava poder falar com Mary mais uma vez e dizer-lhe como estava triste por ter
falhado com ela. Havia tantas coisas que ele queria que ela soubesse – coisas egoístas que
diminuiriam a sua culpa, mas que não fariam nada para trazê-la de volta. Mary, porém,
sempre foi capaz de ler sua mente. Talvez ela já soubesse.
Talvez ela soubesse que ele fizera tudo que podia para chegar até ela e ainda não fora
suficiente. Talvez soubesse que ele daria sua vida por ela milhares de vezes, se fosse
necessário. Ele ficaria em seu lugar de bom grado - para ser torturado, assustado,
desamparado. Ele teria feito qualquer coisa. Qualquer coisa.
Então olhou nos olhos de Noelle e viu o potencial sem limites para o amor, como
Mary, e soube que era verdade. A Mary que amava nunca o acusaria de fracassar. Ela

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gostaria que ele fosse feliz. Que fosse amado. Que continuasse a viver, mesmo depois que
ela se foi.
De repente, uma espécie de paz desceu sobre ele. De um batimento cardíaco para o
próximo, David sentiu-se livre. Noelle o fez ver que estava procurando o que precisava no
lugar errado. Ele precisava de perdão, mas não de Noelle ou Mary. Ele precisava perdoar a
si mesmo.
Então ele o fez. Deixou ir todos os poderia, deveria e os ses e concedeu-se o benefício
da dúvida. Talvez não tivesse feito tudo certo na sua vida, mas sempre trabalhou direito
para conseguir as coisas importantes. Sabia, sem sombra de dúvida que, quando Mary
morreu, ela sabia que ele a amava. Sempre deu a ela essa certeza através de palavras e atos.
A morte de Mary estava no passado, e ele finalmente estava pronto para deixar ir toda
a dor, culpa e raiva que mantivera engarrafado dentro dele por tanto tempo. Quando ele se
desfez de todos aqueles sentimentos, começou a se lembrar dos bons momentos com
Mary - os momentos felizes que não fora capaz de lembrar em meio a toda a culpa e
vergonha.
Eles se amaram, riram e viveram e ele manteria esses pensamentos em sua mente, em
memória da mulher que ela foi.
Ele apostava sua vida que Mary gostaria que ele vivesse. Ele se permitiria sentir a
felicidade que encontrara com Noelle. Ele apenas rezou para que ela ainda o quisesse
depois de ser tolo o suficiente para pensar que devia se afastar do que eles tinham.
David cobriu a mão de Noelle com a sua, disposto a fazê-la entender o que não
conseguia descobrir como dizer. —Eu não sou bom o suficiente para você. Nunca vou ser
bom o suficiente para você. Mas eu quero você de qualquer jeito. Não posso me afastar de
você. Quero que você se case comigo. Não daqui a alguns anos. Agora. Vou me esconder
com você. Vou desistir do meu trabalho. Comparado a você, isso não significa nada para
mim.
Seus olhos se arregalaram e ele sentiu sua mão tremer mais forte contra as dele. —
Casar com você? Agora?
—Não diga não. Me dê uma chance de fazê-la feliz. Deixe-me mantê-la segura.

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—É por isso que você quer casar comigo? Para me proteger? Eu não quero ser um
dever ou um fardo para ninguém, especialmente não para você.
—Eu quero protegê-la, mas isso não é tudo.
—Então por quê? Por que você quer se casar comigo?
Ela o faria dizer. Ele não queria. Ele não queria colocar seu coração lá fora, todo aberto
e vulnerável para que ela visse. Queria manter aquela parte dele segura. Enquanto ele não
dissesse as palavras, se ela se recusasse, ele poderia ficar com pelo menos o seu orgulho
intacto.
Mas enquanto olhava nos olhos dela, sabia que se não aproveitasse a oportunidade e
falasse, ele poderia perdê-la.
Foda-se o seu orgulho. Ele queria Noelle.

David respirou fundo, fechou os olhos e falou de uma vez: —Porque eu te amo. Não
quero ficar sem você. Quero ir para a cama com você durante a noite e acordar ao seu lado
pela manhã. Quero comprar uma casa em algum lugar e ter alguns filhos. Quero sentar na
varanda com você daqui a quarenta anos e ver nossos netos brincarem. Eu quero tudo,
mas só com você.
Ela ficou em silêncio por um longo momento, como se estivesse tentando decifrar o
que ele acabara de dizer.
Seu silêncio foi tornando-se preocupante, e como um idiota balbuciante, ele continuou
tagarelando. —Eu não me importo onde viveremos. Se você quiser tentar voltar a ensinar,
descobrirei uma maneira para que você possa fazê-lo com segurança. Não sei exatamente
como, mas vou descobrir alguma coisa. Se você quiser, podemos...
Ela agarrou sua camisa e puxou-o para baixo em direção a ela, interrompendo-o.
Continuou puxando até sua boca encontrar a dela, e beijou-o como se estivessem de volta
na cabana - tão doce e cheia de amor que não havia nenhuma maneira, que mesmo um
idiota como ele pudesse não entender.
Ele se afastou, seu pulso acelerado, sua respiração mais rápida com apenas alguns
beijos suaves. Cara, esta mulher subia direto para sua cabeça.

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Em caso de você estar se perguntando, — disse ela com uma voz rouca. —Isso foi um
sim.
—Sim? Como assim um sim? Sim, você vai se casar comigo?
—Sim. Eu vou casar com você. E o resto também. As crianças, os netos. Tudo isso.
O coração de David cresceu, jogando para fora toda a culpa e insegurança do
passado. Ele tinha tudo que precisava bem aqui na frente dele. Noelle.
Ele se abaixou e beijou-a delicadamente, tomando cuidado com o rosto machucado.
Ela suspirou e se ajeitou mais fundo no travesseiro. Ele percebia que ela estava cansada, por
isso se afastou para lhe dar uma chance para descansar.
—Eu vou contar para Grant e Caleb, mas estarei de volta em quinze minutos para
subir na cama com você e te abraçar. E não vou deixá-la ir embora.
Ela deu-lhe um sorriso, indulgente e cansado. —Eu não vou a lugar nenhum.
—Você é uma mulher incrível, Noelle.
—E você é um homem incrível, David.
David beijou-a novamente, maravilhado com sua boa sorte em tê-la em sua vida. Se
Noelle achava que ele merecia uma segunda chance, quem era ele para argumentar?
Afinal, ela era a inteligente.

Fim

** Essa tradução foi feita apenas para a


leitura dos membros da Tiamat.
Muita gente está querendo ganhar fama e seguidores usando os livros feitos por nós.
Não retirem os créditos do livro ou do arquivo.
Respeite o grupo e as revisoras.

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