Você está na página 1de 10

NOTA DE AULA

1 de 10

CURSO: ENGENHARIA DE ENERGIA TURMA: 6.01209


DISC.: ENG.0033 – PRINCÍPIOS DE ELETRÔNICA PROF.: HENRIQUE
ASSUNTO: DIODOS EM CORRENTE CONTÍNUA

INTRODUÇÃO
Como mencionado no capítulo anterior, os diodos são dispositivos eletrônicos formados
a partir da junção de um cristal tipo P com outro do tipo N, daí serem conhecidos como
diodos de junção (Fig. 1).

Fig. 1 – Diodo semicondutor.


A Fig. 1 mostra a conexão dos cristais para formar o diodo, vê-se que há 2 terminais
fundidos em cada cristal, os quais são denominados de Anodo (cristal tipo P) e Catodo
(cristal tipo N), e que os elétrons do catodo não se combinam com as lacunas do anodo,
porque não tem energia suficiente para ultrapassar a Barreira de Potencial (BP). A sim-
bologia eletrônica para o diodo é vista na Fig. 2.

Fig. 2 – Símbolo do diodo.


Aplicando-se uma diferença de potencial (ddp) entre os terminais do diodo, a BP poderá
ser vencida e, assim, estabelecer um fluxo de elétrons (corrente elétrica) entre os cris-
tais tipo P e tipo N. O processo de submeter o diodo a uma ddp é chamado de POLARI-
ZAÇÃO.

POLARIZAÇÃO
Quando polarizamos um diodo, podemos fazê-lo de 2 maneiras distintas i) o positivo e
o negativo da fonte conectados ao anodo (A) e ao catodo (K) respectivamente e/ou ii) o
positivo e o negativo da fonte conectados ao catodo e ao anodo respectivamente (Fig.
3).

Fig. 3 – Polarização do diodo (a) direta e (b) reversa.


A maneira de conectar a fonte ao diodo, mostrada na Fig. 3a, é conhecida como POLA-
RIZAÇÃO DIRETA e a de POLARIZAÇÃO REVERSA a apresentada na Fig. 3b. Na polarização
NOTA DE AULA
2 de 10

direta, o terminal de anodo (A) apresenta um potencial MAIOR ou MAIS POSITIVO que
o de catodo (K). Caso contrário, a polarização será dita reversa.
UA > UK ⟹ polarização direta
(1)
UA ≤ UK ⟹ polarização reversa

Sabe-se, da Eletricidade, que as cargas de polaridade oposta se atraem e as de mesma


polaridade se repelem. Assim, o terminal positivo de uma fonte de tensão é atraente
para os elétrons da carga.
Aplicando este raciocínio à polarização do diodo conclui-se que os elétrons do cristal N
serão atraídos pelo terminal positivo da fonte de tensão. Logo, os elétrons irão se des-
locar, no interior do cristal, em direção à fonte em busca do terminal positivo.

POLARIZAÇÃO DIRETA
Quando o diodo está polarizado diretamente, isto é, quando o terminal positivo da fonte
está conectado ao anodo (A) do diodo, os elétrons do cristal N se deslocam para o
terminal positivo da fonte, mas são impedidos pela Barreira de Potencial (BP) (Fig. 4).

Fig. 4 – Elétrons na polarização direta.


A concentração de elétrons nas proximidades da BP dá início a uma “pressão” sobre
ela. A pressão faz com que alguns elétrons ultrapassem a BP e se combinem com as
lacunas, diminuindo a espessura da BP. Consequentemente, mais elétrons cruzam a
BP e ela reduz ainda mais sua espessura (Fig. 5).

Fig. 5 – Diminuição da BP.


Para aumentar o fluxo de elétrons através da BP se faz necessário o aumento da “força
de atração” do terminal positivo da fonte, o que é alcançado com o aumento da intensi-
dade da tensão aplicada ao diodo.
Ao aumentar a intensidade da fonte, mais elétrons são atraídos e atravessam a BP,
tornando-a mais fina e estabelecendo um fluxo (Fig. 6).

Fig. 6 – Fluxo de elétrons através da BP.


Enquanto isto, os primeiros elétrons alcançam o terminal positivo da fonte e os elétrons
que lá estavam são impelidos a se deslocarem para o cristal N através do terminal ne-
gativo e consequentemente a circulação de corrente pelo circuito (Fig. 7).
NOTA DE AULA
3 de 10

Fig. 7 – Estabelecimento da corrente.


Se a intensidade da tensão diminuir, o processo se inverterá e a BP voltará à forma
inicial, reduzindo o fluxo de elétrons. Entretanto, se ao invés disso aumentarmos a in-
tensidade da fonte, a BP ficará tão fina que irá se romper e a quantidade de elétrons
que a atravessará será altíssima (Fig. 8).

Fig. 8 – Rompimento da BP.


A partir deste ponto (Fig. 8), se a fonte for retirada, a BP não retornará ao seu estado
natural e o diodo conduzirá com qualquer polarização, ou seja, o diodo “entrou” em
curto.
Portanto, a corrente que circulará através de um diodo tem uma intensidade máxima,
que depende das características construtivas dele, e que não deve ser ultrapassada. O
fabricante fornece o valor da máxima corrente que um diodo pode conduzir e é conhe-
cida como CORRENTE DIRETA DO DIODO (IF).

POLARIZAÇÃO REVERSA
Quando o diodo está polarizado reversamente, os elétrons do cristal N se deslocam
para o terminal positivo da fonte, tentando sair do diodo e se “afastam” da BP (Fig. 9).

Fig. 9 – Elétrons na polarização reversa.


O afastamento dos elétrons nas proximidades da BP, aumentando a distância entre
elétrons e lacunas. A força do afastamento (“tração”) provoca uma dilatação da espes-
sura da BP (Fig. 10).

Fig. 10 – Aumento da BP.


Ao aumentar a intensidade da fonte mais elétrons são atraídos e a dilatação da BP
cresce, fazendo com que sua espessura se torne tão extensa quanto à própria distância
entre os terminais de anodo e catodo (Fig. 11).
NOTA DE AULA
4 de 10

Fig. 11 – Máxima dilatação da BP.


Se a intensidade da tensão diminuir, o processo se inverterá e a BP voltará à forma
inicial, possibilitando o fluxo de elétrons. Entretanto, se ao invés disso aumentarmos a
intensidade da fonte, a BP ficará tão extensa que perderá sua capacidade de elastici-
dade (Fig. 12).

Fig. 12 – Hiperextensão da BP.


A partir deste ponto (Fig. 12), se a fonte for retirada, a BP não retornará ao seu estado
natural e o diodo NÃO conduzirá independentemente de sua polarização. Dizemos que
o diodo está “aberto”.
Portanto, o excesso de tensão reversa sobre um diodo fará com que ele rompa sua
rigidez dielétrica e deixe de conduzir. O fabricante fornece o valor máximo da tensão
reversa que um diodo pode suportar e é conhecida como TENSÃO INVERSA MÁXIMA (PIV).
Em resumo, quando um diodo está polarizado diretamente, dizemos que ele está em
estado de condução ou simplesmente conduzindo e que está em aberto ou cortado
quando polarizado reversamente. Logo,
UA > UK ⟹ ID ≠ 0 (conduzindo)
(2)
UA ≤ UK ⟹ ID = 0 (em aberto)

Portanto, um diodo só conduz corrente elétrica em um único sentido e isto só acontece


quando ele se encontra polarizado diretamente.
A tensão de condução do diodo (UD) depende do material que ele é fabricado, sendo de
0,7 V para diodos de silício e de 0,3 V para os de germânio. Portanto, para um diodo
conduzir é necessário que a tensão do anodo seja maior que a do catodo em pelo me-
nos o valor da sua tensão de condução. Podemos expressar a tensão de condução do
diodo como:
U = U − U (3)

COMPORTAMENTO DA BP
A barreira de potencial aumenta ou diminui de espessura e consequentemente sua opo-
sição à passagem de corrente de acordo com a polarização do diodo. A BP funciona
como uma espécie de “Resistência” à passagem da corrente pelo diodo.
A diferença de potencial que um diodo está submetido (UA – UK) deve ser capaz de
vencer a RESISTÊNCIA DA BARREIRA DE POTENCIAL (RBP). Assim, em uma polarização direta
a barreira de potencial diminui de intensidade e a passagem de corrente é facilitada
NOTA DE AULA
5 de 10

(Fig. 7). Por outro lado, na polarização reversa a BP aumenta e dificulta o estabeleci-
mento da corrente pelo dispositivo (Fig. 11).
Na polarização DIRETA, as lacunas (tipo P) e os elétrons (tipo N) migram para a junção
e se combinam, fazendo com que a BP DIMINUA sua espessura e apresenta uma
RESISTÊNCIA MENOR (idealmente 0). Na INVERSA, os elétrons e as lacunas se afastam da
junção, AUMENTANDO a barreira e apresenta uma RESISTÊNCIA MAIOR (idealmente infinito).
Portanto, a RBP assume valores diferentes para cada polarização do diodo. Quando em
polarização direta, a RBP será chamada de RESISTÊNCIA DIRETA (RD) e tem um valor
baixo; quando inversamente polarizado, a RBP é denominada de RESISTÊNCIA REVERSA
(RR), apresentando um valor elevado.
Desta forma, temos:
UA > UK ⟹ ID ≠ 0 ⟹ R BP = R DIRETA → 0
(4)
UA ≤ UK ⟹ ID = 0 ⟹ R BP = R REVERSA → ∞
CURVA CARACTERÍSTICA
O comportamento de um diodo pode ser verificado em laboratório submetendo-o a di-
ferentes valores de polarizações direta e reversa. As diversas medições podem ser ta-
buladas e, em seguida, um gráfico de funcionamento pode ser construído, este gráfico
é conhecido como CURVA CARACTERÍSTICA do diodo.
A curva característica é a curva (Fig. 13) que representa graficamente o comportamento
de um diodo quando polarizado, mostrando os pontos de condução plena e de corte.

Fig. 13 – Curva característica do diodo.


A curva característica, vista na Fig. 13, pode ser subdividida, didaticamente falando, em
regiões de operação. A Fig. 14 apresenta as modificações sugeridas, nela ver-se per-
feitamente uma região de polarização direta (1º quadrante), uma região de polarização
reversa (2º quadrante) e uma região de ruptura (3º quadrante)

Fig. 3.14 – Regiões de operação do diodo.


NOTA DE AULA
6 de 10

Cada região (Fig. 14) tem características específicas (o nome já indica a característica).
A região direta (1º quadrante) é a região onde se dá a condução do diodo (ID) e sobre
seus terminais surge uma ddp (UD) cujo valor depende do material utilizado. Na região
reversa (2º quadrante) não há condução de corrente (diz-se que o diodo está cortado)
e a tensão inversa está não deve ultrapassar o valor de PIV sob o risco de danos ao
diodo. Por fim, a região de ruptura (3º quadrante), onde a tensão de polarização reversa
ultrapassou a intensidade do PIV e o diodo perdeu suas características dielétricas.
PONTO DE OPERAÇÃO
Pela Fig. 7, nota-se que o diodo polarizado diretamente tende a conduzir uma corrente
elevada, a qual poderá danificá-lo (Fig. 8) e para evitar tal situação se faz necessário
identificar a corrente de operação que circulará pelo circuito sob uma determinada ten-
são de operação. Tal ponto é conhecido como PONTO DE OPERAÇÃO (UD, ID) ou PONTO
QUIESCENTE (Q), conforme a Fig. 15.

Fig. 15 – Ponto de operação do diodo.

O diodo quando polarizado diretamente permite a passagem de uma corrente elevada


(Fig. 14). Entretanto, a capacidade máxima de corrente do diodo varia e é dependente
do tipo de material utilizado.
CIRCUITO DE POLARIZAÇÃO

Ao polarizarmos diretamente um diodo, sua resistência direta tende a ser nula (3) e a
corrente torna-se muito alta (lei de Ohm) podendo danificar o mesmo. Para evitar isto,
deve-se colocar em série com o diodo um elemento capaz de limitar a intensidade da
corrente. O dispositivo que desempenha esse papel é o resistor. A Fig. 16 traz um exem-
plo deste circuito.

Fig. 16 – Circuito de polarização para um diodo.


Analisando o circuito (Fig. 16) pelo método das malhas de Kirchhoff, temos que:
U – UD – UR = 0 (5)
NOTA DE AULA
7 de 10

Aplicando-se a Lei de Ohm no resistor (R), obtém-se:


U – RID – UD = 0 (6)

Manipulando adequadamente a equação (6), chega-se a uma expressão da corrente do


diodo como função de sua tensão de polarização.

U UD
I = (7)

Na Fig. 15 vê-se uma reta que passa pelo ponto de operação e corta os eixos. Esta reta
é conhecida como equação da RETA DE CARGA do diodo, sendo sua equação dada por
(7).

A partir da equação (6), pode-se determinar o valor da resistência de polarização para


atender as especificações do ponto de operação.

U UD
R = (8)
ID

Na grande maioria das vezes o valor obtido para a resistência não coincide com nenhum
valor comercial. Então, o que fazer? Adota-se o valor comercial mais próximo do calcu-
lado. Por exemplo, na Fig. 16 o valor calculado do resistor foi 130 . Qual o valor ado-
tado, sabendo que os valores comerciais são de 100 e 150 ?
Valores comerciais: 100  e 150 
Valor calculado: 130 
Adotando: 100  ⟹ ID maior do que a utilizada
150  ⟹ ID menor do que a utilizada.

Sugestão: Adotar o valor imediatamente maior que o obtido no dimensionamento do


circuito, porque a corrente de operação será menor.
NOTAS:
1. A tensão sobre o diodo (UD) depende do material que é feito o diodo, ou seja, o
semicondutor define a tensão de condução de um diodo. Para o silício este valor
é de 0,7 V e 0,3 V para o germânio.
2. A especificação de um diodo é feita através de sua corrente de condução direta
(IF) e pelo valor da máxima tensão reversa que ele pode suportar (PIV).

ANÁLISE DE CIRCUITOS
A compreensão de como um determinado circuito funciona depende do entendimento
de como o diodo se comporta sob as condições de trabalho. Em outras palavras, saber
qual o modelo de diodo que melhor se adéqua a análise de um circuito pode favorecer
ou não sua análise.
NOTA DE AULA
8 de 10

Analisando a Fig. 14 é possível estabelecer um padrão de comportamento para o diodo


segundo as tensões envolvidas no circuito e especificar modelos de análise de acordo
com o comportamento apresentado.
Os modelos de análise de diodos comumente empregados são:
i) modelo real;
ii) modelo para médias tensões;
iii) modelo ideal.

MODELO REAL
O modelo real (Fig. 17) é utilizado quando a tensão de polarização do diodo (UD) é da
mesma ordem de grandeza das tensões envolvidas no circuito e se deseja um maior
rigor na análise.

Fig. 17 – Modelo real para um diodo.


Neste caso, pode-se analisar o diodo como um dispositivo de comportamento linear
quando polarizado diretamente (Fig. 18).

Fig. 18 – Comportamento do diodo no modelo real.

MODELO PARA MÉDIAS TENSÕES


O modelo para médias tensões (Fig. 19) é usado quando a tensão do diodo (UD) for da
mesma ordem de grandeza as envolvidas no circuito e não se deseja tanto rigor analí-
tico. Este é o modelo mais utilizado.

Fig. 19 – Modelo para médias tensões.


Nesta situação, a condução do diodo é instantânea e acontece no instante em que a
tensão do anodo (UA) se torna mais positiva que a do catodo (UK). Tal desempenho é
ilustrado na Fig. 20.
NOTA DE AULA
9 de 10

Fig. 20 – Comportamento em médias tensões.

MODELO IDEAL
O modelo ideal (Fig. 21) é usado quando a tensão do diodo (UD) for muito menor que
as tensões existentes no circuito.

Fig. 21 – Modelo ideal do diodo.


No modelo ideal (Fig. 21), a tensão de polarização do diodo (UD) pode ser desprezada
(considerada nula), pois seu valor é muito inferior às demais. Assim, o diodo apresentará
o comportamento semelhante ao da Fig. 22.

Fig. 22 – Comportamento do diodo ideal.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
No circuito da Fig. 16, considere que o diodo é de silício (UD = 0,7 V). Determine a
tensão sobre o resistor para uma fonte de:
i) 5 V;
ii) 10 V;
iii) 20 V.
Da equação (3.5) obtém-se...
UR = U – UD
Assim, em i) UR = 4,3 V 14 %
em ii) UR = 9,3 V 7%
NOTA DE AULA
10 de 10

em iii) UR = 19,3 V 3,5 %


A influência da queda de tensão do diodo (UD) sobre o circuito diminui à
medida que a tensão da fonte aumenta. Assim, os modelos apresentados
podem ser empregados nas situações mencionadas.

BIBLIOGRAFIA

BOYLESTAD, R. L. & NASHELSKY, L. “Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos”.


8ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
LANDO, R. A. & ALVES, S. R. “Amplificador operacional – teoria, aplicações, servo-
mecanismo”. São Paulo: Erica, 1983

Você também pode gostar