Tragédias Brasileiras

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Aula 01

Tema: Tragédias brasileiras

Professora Candice Almeida

Professor João Filipe Magnani


contato@redacaodecampeao.com.br; www.redacaodecampeao.com.br
TEMA: Tragédias brasileiras
“Lira Itabirana”
I III
O Rio? É doce. A dívida interna.
A Vale? Amarga. A dívida externa
Ai, antes fosse A dívida eterna.
Mais leve a carga.
IV
II Quantas toneladas exportamos
Entre estatais De ferro?
E multinacionais, Quantas lágrimas disfarçamos
Quantos ais! Sem berro?

A Vale do Rio Doce-Samarco foi instalada na região no início da década de 1940 e muitas
empresas, atraídas pelas reservas de ferro, se estabeleceram na cidade natal do poeta, Itabira.
Poucos anos antes de sua morte, em 1984, Carlos Drummond de Andrade publicou o poema que
parece ser o retrato do desastre que destruiu o Rio, antes doce.

Em tempos de água e lama foi o fogo que apagou, em pleno sono, o sonho de meninos
que desejaram ser ídolos ou heróis. KATIA RUBIO (FOLHA)

NOTÍCIAS
Barragem da Vale se rompe em Brumadinho, MG
Mar de lama avançou sobre área administrativa da empresa e casas na área rural da cidade.
Por G1 Minas — Belo Horizonte - 25/01/2019
Uma barragem da mineradora Vale se rompeu nesta sexta-feira (25), em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Imagens aéreas mostram que um mar de lama destruiu casas da região do Córrego do Feijão.
O rompimento ocorreu no início da tarde de hoje, na Mina Feijão. A Vale informou sobre o acidente à Secretaria
do Estado de Meio-Ambiente às 13h37. Os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia, inclusive um
refeitório, e parte da comunidade da Vila Ferteco.
Incêndio no CT do Flamengo deixa 10 garotos das categorias de base mortos
Segundo os Bombeiros, um dos sobreviventes está em estado grave no hospital. Há outros dois meninos internados 08 Fevereiro 2019 | 07h32
Um incêndio deixou dez mortos e três pessoas feridas, uma delas em estado grave, no Centro de Treinamento
do Flamengo, em Vargem Grande, zona oeste do Rio, na madrugada desta sexta-feira. As vítimas, segundo os
Bombeiros, são atletas das categorias de base do clube, que dormiam no local, e funcionários do clube, conforme
informou o vice-governador do Rio, Cláudio Castro.

Incêndio no CT do Flamengo: 'Não existe fogo acidental, todos são


resultado de falhas', dizem especialistas
O Brasil não tem um cultura de prevenção e O número de mortes provocadas por incêndios
proteção contra incêndios e, por isso, tragédias que no Brasil foi, em média, de 991 pessoas por ano, entre
destroem edifícios históricos ou deixam dezenas de 2007 e 2016 (último ano com dados oficiais). O recorde
mortos tendem a se repetir no país. Essa é a avaliação foi em 2013, com 1.261 vítimas. Naquele ano, 242
de engenheiros civis e especialistas em segurança pessoas morreram no incêndio na Boate Kiss, no Rio
ouvidos pela BBC News Brasil. Grande do Sul.
"Não temos uma cultura de prevenção de "Temos uma quantidade altíssima de incêndios
incêndios. O brasileiro é muito reativo, não proativo. Ou por vários motivos, mas que começa com a falta de
seja, ele não previne, ele reage. Espera ter uma tragédia consciência da população, das autoridades, das
como essa no Rio de Janeiro para começar a pensar no empresas, do governo, das pessoas em geral", afirma o
que precisa ser feito. Por que não foi feito antes?", afirma engenheiro José Carlos Tomina, superintendente do
o engenheiro civil Telmo Brentano, especialista em Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio da
prevenção de incêndios e professor aposentado da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Falha humana
"Eu costumo dizer que não existe incêndio edificações brasileiras não são pensadas para evitar que
acidental", diz Pignatta e Silva. o fogo comece.
"Um incêndio só ocorre porque houve uma falha, "Nas casas, por exemplo, é normal encontrar
desconhecimento, mau uso da edificação, como uso de botijões perto de coisas inflamáveis, ou crianças
velas em locais com material inflamável. Há também brincando com velas. Também há um cultura da
problemas estruturais ou de manutenção. Resumindo, gambiarra, muitas coisas ligadas em uma única tomada",
um incêndio não começa e não se espalha se não houver explica. "Já nos prédios, há instalações elétricas ruins,
uma falha." sobrecargas e falta de manutenção. Veja o caso do
A opinião é compartilhada pelos outros Museu Nacional [destruído por um incêndio em setembro
especialistas. "Não é azar, não é caso fortuito, não é de 2018], houve uma evidente falta de manutenção."
acidente. É sempre um erro humano, uma falha de Tomina cita outros exemplos: "As pessoas não
alguém que fez uma coisa errada", afirma Tomina, da tomam cuidado, deixam panela no fogo, equipamentos
ABNT. ligados, crianças brincando com produtos inflamáveis.
Rosaria Ono, professora da Faculdade de Ou então colocam um 'benjamin' na tomada com vários
Arquitetura e Urbanismo da USP, aponta que as aparelhos. Nas empresas também, fazem corta e solda
sem cuidado, sobrecarregam a rede elétrica."

Ninho do Urubu, Rio, Brumadinho: o jeitinho brasileiro e suas tragédias


No país das gambiarras e da falta de planejamento, a obediência às normas parece algo cada vez
mais utópico — mas só isso pode nos salvar de nós mesmos

O mundo do futebol amanheceu na sexta-feira, Essas tragédias vêm de outra cultura,


8, com uma notícia desoladora: dez garotos das secularmente cultivada aqui por estas paragens: pesa
categorias de base haviam morrido em um incêndio sobre cada dano, cada morte, o gérmen do jeitinho
durante a madrugada nas instalações do Ninho do brasileiro.
Urubu, como é conhecido o centro de treinamento do A capacidade de um povo aceitar tão
clube na Vargem Grande, zona oeste carioca. passivamente as improvisações e o desrespeito a leis,
Em menos de dois dias, duas tragédias no Rio. contratos e normas só pode ser entendida a partir do
Na noite de quarta-feira, uma tempestade — que mostrou momento em que se crê, também, que essa burla do
bem como podem ser de agora em diante os eventos sistema às vezes é causa de redenção. Deve vir daí a
extremos do clima — deixou pelo menos meia dúzia de crença no poder mágico dos mitos, sejam eles da política
mortos em deslizamentos, soterramentos e quedas de ou do esporte. Seres extraordinários que driblariam o
estruturas na capital carioca. destino para inventar um caminho e superar as barreiras.
Em menos de duas semanas, três tragédias no Afinal, se Garrincha deu certo, por que também não seria
Brasil. Desde o meio-dia de 25 de janeiro, Brumadinho um dia grande esse Brasil, ainda que torto?
está na lama e assim estará ainda por muito tempo, com De negligências e gambiarras
muitos de suas três centenas de mortos tendo os rejeitos O Brasil poderia se reinventar após a lama de
de mineração que os mataram como seu túmulo 2015 matar o Rio Doce e com ele tanta gente, tanta vida,
definitivo. Essa terceira seria muito menos tragédia e tanta história. Mariana falou, Mariana avisou: eram mais
muito mais um grave crime por negligência, como aos de 600 barragens de rejeitos de mineração e apenas 12
poucos tem sido revelado por documentos e pessoas para fiscalizá-las. A comoção foi embora e levou
depoimentos que vão surgindo. com ela a vontade política de enfrentar os interesses e
A cada tragédia, há uma invariável, obrigatória e mudar o quadro.
natural caça aos culpados. Como foi isso? Quem deixou Por seu histórico de construção e pela
acontecer? Onde estão os responsáveis? Ninguém obsolescência diante das novas tecnologias, muitas
poderia ter evitado? barragens corriam o risco de repetir Mariana. Até que
A resposta dolorosa: do naufrágio do Titanic ao aconteceu. Como chamar isso de tragédia, remetendo o
fogo do Ninho do Urubu, passando pelas mortes por ocorrido a algo como se fosse uma fatalidade? Não há
desnutrição na África e o acidente com o césio 137, a fatalidade alguma em Brumadinho, pelo contrário: houve
maioria das tragédias poderia não ter ocorrido. uma “””tragédia””” (assim com múltiplas aspas) mais que
Terremotos, explosões vulcânicas e tsunamis são anunciada.
exceções, que comprovam a força da natureza e a Mais do que isso, quando se descobre que o
fragilidade do homem. sistema de alerta de emergência não pôde ser acionado,
Se há a concordância de que poderiam ser o nível chega a outro grau: negligência elevada ao
evitadas em grande parte, de alguma forma, há sempre quadrado. Uma empresa que vale bilhões não consegue
algum grau de negligência, maior ou menor, que as fazer funcionar uma sirene? Que dividendo merece o
favoreça. E aqui se chega ao ponto-chave deste texto: acionista de uma mineradora que falha nisso?
três tragédias de tamanha proporção e visibilidade num De Mariana a Brumadinho, as investigações,
prazo de 14 dias, no mesmo país, não podem ser só fruto CPIs, inquéritos e sentenças, bem como tudo o mais que
da árvore do acaso. foi ou poderia ter sido feito, foi sendo levado com a

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tradicional barriga brasileira. Multas estipuladas e nunca mesmo se fosse você a estar na cadeira de presidente
pagas; acusados que nunca foram presos; indenizações do clube, dificilmente o fato deixaria de ocorrer. Afinal, no
que foram levadas nas coxas. E o que dizer dos projetos imaginário coletivo nacional, alvarás e licenças
para recuperação do ecossistema do Rio Doce? A (ambientais, sanitárias, imobiliárias, de funcionamento
quantas anda tudo isso? Respostas seguem a sina da etc.) são apenas maquinário da indústria da multa, não?
protelação. É preciso dizer algo que incrivelmente, por nosso
O justo título de Cidade Maravilhosa dado ao Rio histórico, parece não ser aplicável na prática. É preciso,
de Janeiro pelo magnífico conjunto de belezas naturais para que este País um dia dê certo, ser radical na
se opõe diametralmente à incapacidade humana e obediência de uma regra de ouro elementar: fazer a coisa
política de fazer funcionar seu complexo metropolitano. certa. Laudos precisam ser respeitados; encostas devem
Se uma chuva de verão instala o caos, o que ocorreria se ser evacuadas; licenças precisam ser obtidas.
houvesse uma tempestade de maiores dimensões? Tudo isso faz parte de um conjunto de códigos
Aconteceu, e o Rio virou uma Veneza caótica. escritos, sobre o qual em outros países não pesa uma
Foi como gambiarra que também ali no Rio, no névoa utópica. Esse conjunto de códigos chama-se lei.
Ninho do Urubu, transformaram contêineres em Do dono de carvoaria nos confins do Tocantins ao
alojamento para atletas e os colocaram onde estava presidente do STF, todos precisam se submeter a essa
previsto apenas um estacionamento. Não havia palavrinha de três letras para que um dia sejamos felizes.
permissão da prefeitura para aquela instalação. Mas o Garrincha foi craque não porque tinha as pernas
que poderia acontecer de mais? O que poderia tortas. Garrincha foi o craque que foi apesar das pernas
aconteceu. tortas. Não é fazendo o torto que se chega ao certo. Não,
Um porém, aqui: crucificar a diretoria do não é.
Flamengo pelo ocorrido é lícito apenas se aceitar que,
Elder Dias é editor-chefe do Portal Estádio das Coisas.

MÃOS À OBRA
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema: “As recentes tragédias brasileiras em debate”, apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Seu texto deve ter entre 07 e 30 linhas escritas.

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