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Universidade de Brasília

Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Florestal
Arborização e Paisagismo
Autores: Profª Carmen Regina e Profº Paulo Ernane

OS PRIMEIROS JARDINS

O começo da civilização tem sua origem bastante provável no oriente médio entre
os rios Tigre e Eufrates, no mar mediterrâneo e no golfo Persa. E foi provavelmente lá que
surgiram os primeiros jardins. Escavações em alguns vales hindus, em sítios de 3.000 A.C.,
sugerem que eles não tinham jardins, embora cultivassem plantas em vasos. A China tem
uma velha tradição em jardinagem, a qual pode ser anterior a 2.000 A.C., porém não
existem evidências para comprová-las. O rei Sargon (2334-2279 A.C.), governador de
Akkad na Mesospotâmia, teve um filho com uma sacerdotisa e o abandonou em um rio
(como Moisés da bíblia). Ele flutuou num cesto no Eufrates até ser encontrado por um
jardineiro o qual o criou. Uma inscrição gravada nos arquivos reais declara “ meu serviço
como jardineiro foi agradável para a deusa Ishtar e eu me tornei rei”.
Os sumérios, que se estabeleceram no sudeste da Mesopotâmia 3.000 A.C., vieram
provavelmente das florestas das montanhas da Armênia onde o Tigre e o Eufrates nasciam.
Eles construíam terraços ou plataformas nas quais plantavam árvores, provavelmente para
fornecer um novo lar para seus deuses da floresta. Essas plataformas, camada por camada,
iam crescendo em direção ao céu e adquirindo forma de pirâmide ou ziggurats.
Escavações nesses ziggurats revelaram um complexo sistema de irrigação e
drenagem. Terraços foram características dos primeiros jardins chineses e pirâmides
apareceram em culturas americanas também. Exceto as árvores cultivadas, pouco se sabe
sobre os jardins dos sumérios e assírios. Uma talha oriunda do palácio de Assurbanipal

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mostra-o celebrando uma vitória com a rainha sob uma videira. Apresenta várias espécies
de árvores, porém nenhuma flor (660 A.C.).
As primeiras evidências de um jardim como os atuais aparecem em na pintura de
uma tumba no Egito, a qual mostra cenas em um jardim, mais antigas do que da festa de
Assurbanipal. Figos, tâmaras, uvas e outras plantas úteis eram cultivadas neles, mas os
jardins tinham a função clara de recreação. Eles apresentavam todos os elementos os quais
a maioria das pessoas hoje associa a um jardim, um lugar cercado, adjacente à residência,
onde plantas selecionadas são cultivadas, propositadamente ordenadas para criar um
ambiente agradável.
Os muros ao redor desses jardins absorviam o calor solar, árvores proporcionavam
sombras, além disso, a água refrescava o ar. Os mais simples jardins deveriam ter canais de
irrigação, os quais dividiam o solo, impondo um padrão formal e geométrico. Os jardins
maiores eram mais elaborados, com piscinas com peixes e aves ornamentais.
Jardins reais e religiosos eram maiores. Com mais de 3 km de comprimento a
avenida que ligava o templo de Luxor a Karnak era ornamentada por flores e árvores. Cerca
de 1500 AC a rainha Hatshepsut organizou uma expedição para a terra de Punt
(possivelmente a Somália) para trazer árvores aromáticas (utilizadas para a fabricação de
incenso). Ela queria utilizá-las no templo mortuário que ela estava construindo para si. Os
jardineiros reais transportaram as árvores inteiras, com as raízes protegidas em grandes
potes para não ressecarem durante o transporte de centenas de quilômetros. As árvores
foram plantadas em enormes buracos escavados na rocha. Todas sobreviveram e
floresceram. É sabido que os egípcios também cultivavam plantas medicinais e culinárias.
Os mais famosos dos jardins antigos são os jardins suspensos da Babilônia,
conhecidos como uma das 7 maravilhas do mundo antigo. Escavações recentes revelaram
construções de pedra, cuja estrutura parece confirmar as descrições dadas pelos
historiadores gregos Strabo e Diodorus Siculus, feitas 100 A.C.
Esses jardins suspensos têm sua construção atribuída ao rei Nabucodonosor (embora
eles datem ser mais antigos) para presentear a esposa persa, que estava muito saudosa dos
montes da sua terra natal, ou, de acordo com Diodorus, para presentear uma cortesã persa.
Com 30 m de largura e 22 de altura no nível do muro da cidade, eram construídos os
terraços, até o jardim principal no topo. Foram construídos com camadas duplas de tijolos

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para torná-los à prova d’água. Esses terraços eram profundos o suficiente para que fossem
cultivadas árvores grandes, com raízes profundas, as quais eram irrigadas por um sistema
de dutos.
Diodorus relata que a água era bombeada por meios que não podiam ser vistos.
Strabo relata que escravos bombeavam água diretamente do Eufrates, porém arqueólogos
encontraram um poço com três elevadores para carregar água.
Jardins em terraços eram características de outros palácios e eles tinham extensos parques
para caçadas, incluindo leões que eram capturados no meio selvagem e soltos para o
esporte real.
Um rei assírio, outro Sargon, século VIII A.C., criou um parque fora de Nínive,
como as montanhas de Amanus, onde todas as flores e ervas das terras do hititas foram
plantadas juntas. Seu filho Sennarcheris reforçou sua obra de jardins, incluindo um,
cravado na rocha de um templo, cortado por canais de água e com buracos na rocha para as
plantas, como o da rainha Hatshepsut no Egito.
Os israelitas, cujos ancestrais vieram de Ur, viveram no Egito e escravos na
Babilônia, também construíram jardins. O livro de Josué descreve jardins que Salomão
costumava cavalgar. Quando os persas conquistaram a Assíria, Babilônia e Egito eles
desenvolveram e adaptaram os estilos dos jardins que eles encontraram. Seus jardins
contavam com parques, os quais eles chamavam de paradise, terraços e muros como os
jardins egípcios. Os jardins persas impressionaram os gregos e mais tarde serviram de
modelo para jardins através do mundo árabe.
Os gregos dos tempos arcaicos eram fazendeiros e cuidavam de rebanhos de
ovelhas, raramente de jardins com flores. Na primavera, as encostas das montanhas gregas
brilhavam com as flores. Estas eram colhidas para a confecção de guirlandas para
comemorações esportivas e religiosas. Mais tarde passaram a ser plantadas por
fornecedores de guirlandas e fabricantes de perfumes. Os jardins gregos eram locais
práticos, com árvores frutíferas e vinhas. Era possível que o palácio de Minoano tivesse
jardins. Seus terraços possuíam sítios naturais e os laços fortes com os egípcios fizeram os
Cretas conhecedores dos jardins egípcios. Porém foi Alexandre o Grande, ao levar os
gregos para a Pérsia e Egito, o maior responsável pela adoção da idéia de um lugar
agradável. O jardim de Alcino, descrito na Odisséia de Homero, era certamente ornamental.

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Havia fontes e pontos de irrigação, árvores frutíferas, e ervas úteis, porém não há menção
de flores. Como seus vizinhos do leste, os gregos valorizavam as árvores e rapazes na
Grécia e Pérsia eram treinados para plantá-las. Um bosque de árvores era freqüentemente
considerado sagrado. Alguns dos locais sagrados e seus templos se tornaram centros de um
complexo de ginásios, banhos e outros prédios sociais. Tão rápido quando se
desenvolveram as cidades do 5O século Grego, árvores foram plantadas para dar sombra em
locais públicos, onde pessoas se encontravam para descansar, conversar e debater. Esses
locais eram disputados por professores e seus estudantes. Próximo a Atenas havia um
bosque o qual foi dedicado a um obscuro herói chamado Academus, que deu ao mundo
moderno a palavra academia, um lugar onde os filósofos iam conversar com seus alunos.
Mais tarde os grandes jardins romanos e renascentistas incorporaram como moda
academias ou bosques sagrados.
Nas cidades gregas foram criados jardins bem extravagantes, especialmente em
Alexandria, onde 25% da cidade consistia em terraços suspensos e pátios com flores e
estátuas, fontes e sistema hidráulico arrojado.
Alexandre foi ensinado por Aristóteles e de toda parte de seu reino, as informações
sobre as plantas eram enviadas para o filósofo em Atenas. O Liceu de Aristóteles foi o
primeiro jardim botânico conhecido, e seu outro pupilo, Teophrastus, criou o primeiro
sistema de classificação de plantas. Do livro de Teophrastus foi possível saber que 3
séculos A.C. os jardins de Atenas incluíam rosas, lírios, violetas, anêmonas, e todas plantas
silvestres da região.
Os jardins romanos foram baseados no início no modelo grego. Possuíam estruturas
mais próximas das formas naturais, fugindo à simetria. Eram desenvolvidos em relevo
acidentado e ocorrendo o surgimento de jardins fechados, presença de esculturas e fontes,
bem como primavam pela utilização de plantas frutíferas.

EVOLUÇÃO DOS ESTILOS PAISAGÍSTICOS

O conceito de jardim como um espaço reservado para o cultivo de plantas é


provavelmente tão antigo como os assentamentos humanos. Entretanto, o mais provável é

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que o jardim projetado como lugar de recreação seja mais recente e surgiu como
manifestação de poder e riqueza.

1. EGÍPCIO
Existem poucas provas das primeiras etapas do desenvolvimento dos jardins
egípcios. As pinturas das tumbas egípcias representam recintos fechados para o cultivo de
plantas, com uma disposição sumamente avaliada e um forte sentido estético. Grandes
planos horizontais, livres de acidentes naturais ou artificialmente produzidos. Estilização
geométrica e a rigidez retilínea, tão características dos monumentos egípcios, tiveram sua
correspondente nos jardins, com a simetria rigorosa dos extensos planos que o compunham.
Via de regra, esses planos, orientados segundo os quatro pontos cardinais, eram
dimensionados em proporção às distâncias astronômicas. As palmeiras, os sicômoros, as
figueiras e as parreiras constituíam em conjunto, os ornamentos florísticos empregados na
composição dos jardins egípcios. Como se vê, a idéia de utilidade seguia de perto a
concepção estética dos egípcios. Acentua-se a inexistência de certos elementos de
decoração, próprios aos jardins, como sejam: escadarias, terraços superpostos, efeitos de
água, etc. Porém estavam presentes peixes, aves e plantas aquáticas. A água também tinha
um valor simbólico. Por ser um elemento essencial para a vida, a água condicionou os
assentamentos humanos e apoiou o desenvolvimento da civilização. O Nilo foi a chave da
prosperidade do Egito.

2. GREGO

É pouco o que se sabe sobre os jardins particulares na Grécia. Os santuários eram


erguidos em lugares que se julgava propício para honrar determinados deuses. Podia ser
uma gruta, uma clareira num bosque ou um monte rochoso. Ao longo do tempo podia ser
construído um templo nestes lugares. Um deles era o Jardim da Academia em Atenas, onde
viveu e trabalhou o filósofo Platão. Os riachos que brotavam das numerosas covas das
colinas se consagravam aos deuses locais, fazendo surgir o conceito de gruta, um
importante elemento dos jardins mediterrâneos. Fugiram da simetrização e da regularidade

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matemática, tão comuns aos jardins construídos no Egito antigo. Desenvolviam-se em
ambientes fechados. Neles cultivavam-se plantas de utilidade, as quais eram dispostas,
regular ou irregularmente, conforme o gosto do proprietário. O pomar e a horta, em
conjunto, constituíam o jardim grego. Utilizavam outros elementos decorativos além das
plantas. Os objetos próprios do artesanato grego como vasos e cântaros eram utilizados
como ornamento nos jardins.

3. ROMANO

Os jardins eram objeto de especial carinho e cuidadosa atenção, mas apesar disso,
eram um tanto falhos na originalidade. Deve-se citar como características do jardim romano
a grandiosidade e magnificência da composição, as perspectivas vastas, que empregaram
com prioridade, a decoração pomposa e, sobretudo, a valorização arquitetônica da
paisagem. Neles são encontradas espécies úteis seguidas de plantas de valor puramente
ornamental. As plantas eram: plátanos, heras, buxos, louros, ciprestes, rosas. Elementos de
ornamentação: estátuas, baixos-relevos, bancos, pérgulas, fontes, repuxos etc. Os escritos
do erudito romano Varrão demonstram que os edifícios especiais nos jardins eram muito
correntes, também foi descrita detalhadamente a grande diversidade de estilos de poda de
arbustos que se praticava.

4. ISLÂMICO

Jardim-oásis, tomado da Pérsia, acabou por chegar através do islamismo até a


Europa medieval, já preparada para empreender o caminho até as glórias do Renascimento.
Os árabes, povo nômade, careciam de tradição arquitetônica. Por isto, a arquitetura árabe
foi um amálgama de estilos tomados das regiões conquistadas e reunidos segundo a
inspiração de uma filosofia única. O jardim era um elemento de singular importância no
Islamismo. Para os invasores árabes o jardim persa deve ter representado a satisfação das
promessas do paraíso formuladas no Alcorão e serviu como modelo que se estendeu a todos
os cantos do mundo islâmico. A semelhança das condições climáticas em todo o seu
império permitiu adotar este estilo de jardim em todas as regiões, sempre que fosse
acompanhado pelas complicadas técnicas hidráulicas dos persas. O conceito de jardim

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como símbolo do Paraíso condicionou intensamente sua construção em todas as regiões
islâmicas. Para o árabe acostumado ao vento e à areia, à seca e à sede, a imagem de um
lugar sombrio e fresco com fontes deveria ser singularmente atraente. Se o Paraíso era um
jardim, por sua vez os jardins se construíam à imagem do Paraíso. A água era o símbolo
não somente da própria vida, mas também de pureza. Refrescava tanto o corpo com a alma.
Sem ela as plantas não poderiam sobreviver e o jardim islâmico não existiria. Tudo
dependia de sua disponibilidade e se aplicava complicadas técnicas de engenharia
hidráulica para levá-la até às cidades e seus jardins. As plantas, embora se dispusessem com
precisão geométrica, ajudavam a aliviar a quase exagerada sensação de ordem do estilo
geométrico. As árvores eram tão importantes tanto pelo seu tamanho como por sua sombra.
Eram plantadas em fileiras não somente como componente da geometria dos jardins, mas
para também para facilitar a irrigação. Situadas ao longo dos canais sua folhagem servia
para reduzir a evaporação. Jardins de luzes e sombras. O microclima ameno era obtido pela
utilização de jardins envolvidos, fechados por colunas e edificações.

5. RENASCENTISTA

Evoluiu lentamente. Os jardins geométricos e simétricos vieram primeiro, até


meados do século dezesseis e evoluíram com características artísticas cada vez mais
rebuscadas. O espaço era ordenado segundo os princípios clássicos de geometria, proporção
e simetria.

Italiano: Conhecido como o jardim do intelecto, tem como antecedente os jardins


romanos e como eles, se caracteriza pelas grandes perspectivas, o relevo do solo, a profusão
de estátuas e baixos-relevos, os lagos, as fontes monumentais e uma infinidade de
elementos arquitetônicos. O tratamento dado à água se fez maravilhosamente imaginativo
porém, totalmente integrado em um esquema global de arquitetura, escultura e paisagismo.
Os criadores do Renascimento se propuseram a aproveitar o antigo legado das construções
romanas e inventaram uma nova arquitetura regida pelos preceitos da proporção. Com isso
pretendiam imprimir ordem, estabilidade e tranqüilidade: a beleza de flui do intelecto
humano. Fizeram renascer a casa de campo e a integraram com o jardim em um projeto

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global que também incluía a paisagem interior. Pela sua fria racionalidade, logo cedeu
espaço ao atrativo emocional do barroco, que jogava com o movimento, o dinamismo e a
ilusão do espaço infinito. O propósito do jardim renascentista era alimentar o intelecto e por
isso estava repleto de alusões eruditas. Nas esculturas se ilustravam profusamente cenas da
mitologia antiga, especialmente aventuras de caça e figuras bucólicas como pastores,
sátiros e ninfas dos bosques. Nesta época, em que os valores e a literatura clássicos estavam
sendo descobertos de novo, quando tanto na literatura quanto nas artes visuais invocava-se
para criar um Éden humanístico, era natural pensar que o jardim continha profundos
significados utilizando alusões simbólicas. A água ocupava um posto crucial no jardim do
Renascimento. Estava associada à fecundidade e à abundância da natureza. Além do mais
se associava às musas inspiradoras da vida intelectual. O emprego da escultura era tão
importante como o domínio da água. Sabia-se que os romanos tinham estátuas em seus
jardins; na Visão Amorosa de Boccaccio se descreve os jardins reais do castelo novo cheios
de esculturas. A vegetação, nesses jardins, tinha um papel secundário e geralmente era
submetida, pelo corte, a certas formas determinadas (topiária). Essa vegetação assim
recortada era distribuída em terraços sucessivos e ligados uns aos outros por rampas e
escadarias. A residência senhorial ou o palácio, dominando a composição, situava-se, pelo
comum, no plano mais elevado do jardim. O louro, o cipreste, o azinheiro, o pinheiro são,
entre outros, os vegetais característicos dos jardins italianos do renascimento. O buxo era
largamente utilizado para as formas recortadas.

Francês: enquanto os jardins italianos seguiam os modelos romanos, renovados


segundo os princípios da Antigüidade Clássica, os jardins franceses, mais nacionalistas,
eram concebidos em acordo com os jardins medievais. Entretanto, com o passar do tempo
e, sobretudo, o emprego de arquitetos italianos na corte francesa, fez com que as novas
idéias, dominantes na Itália, se fossem introduzindo na Arte Francesa. Assim formou-se
uma Escola de Jardins do Renascimento Francês, que serviu de base ao grande arquiteto e
jardinista de Luís XIV, André Le Nôtre. A produção de esculturas para jardins adquiriu
uma escala sem precedentes na França. A escultura se integrava aos jardins como parte do
projeto global com uma convicção que nunca mais se voltou a produzir. As obras são
espacial e tecnicamente perfeitas. Por melhores que sejam as peças que integram as
coleções dos séculos XIX e XX, e por muito bem situadas que estejam, seguem sendo

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coleções. Porém, em Versalles, fazem parte da história e são essenciais para a harmonia do
conjunto. Embora água e escultura fossem o orgulho de Versalles, os trabalhos
arquitetônicos desempenhavam importante papel complementar. Le Nôtre, embora haja
construído vários parques, não só na França como fora dela, só afirmou as qualidades do
estilo que hoje conhecemos com a denominação de Estilo Francês na composição do
monumental parque de Versalles. Arrumou seus jardins sobre as pequenas colinas e as
vastas planícies, utilizando, com mestria, as alturas - em verdade modestas- para fazer
realçar a bela extensão dos planos e utilizou-se destes para apresentar, de um modo certo,
marcado, a sucessão de desníveis, escadas e terraços. A água que nos jardins italianos se
destacava, abundante e valorizada arquitetonicamente foi, por ele, empregada nas mais
notáveis e características oportunidades, constituindo-se, aqui e ali, como que ordenadora
de níveis, isto é, oferecendo planos horizontais perfeitos, retidos pelos bordos das bacias-
planos que dão, nos lugares oportunos, a impressão quase metafísica de que as encostas e
os desníveis do terreno resolvem-se num equilíbrio estético perfeito. A composição
florística desses jardins obedece à mesma clareza dominante no conjunto. As plantas eram
agrupadas lógica e harmoniosamente, jogando entre si com os espaços vazios e com justa
proporcionalidade de suas dimensões.

6. INGLÊS

Não se pode falar apenas o estilo inglês, na verdade aqui também há uma escola, a
Escola Inglesa que ao contrário dos estilos anteriores se baseia no naturalismo e
consequentemente no prazer em cultivar plantas. Os jardins do estilo inglês se inspiraram
nas concepções orientais do velho império chinês. A Chambers se deve a introdução, na
Inglaterra, da idéia chinesa do jardim paisagístico. As correntes intelectuais da época, já em
franca rebeldia com as formas estilizadas demais do jardim francês, preconizavam a
simplicidade da vida rústica e uma maior aproximação do homem com a natureza. São
atributos do jardim inglês: linhas grandiosas, amplas extensões verdes (gramados), ruas
amplas, cômodas e em pequeno número, terreno acidentado, possibilitando a visão de belas
perspectivas, pequenos bosques compostos de plantas da mesma ou de espécies diferentes,
com ou sem divergência na coloração, grupos de árvores não muito numerosas, plantas

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isoladas, plantação de árvores mortas, construção de ruínas etc. A natureza idealizada e
romantizada foi o modelo para o jardim-parque do século dezoito. Objetivava criar um
ambiente pastoral e bucólico, utilizando jogos de luzes e sombras. Na história mais recente
observa-se uma evolução dos jardins ingleses no sentido de trabalhar as cores, utilizando
plantas floríferas em profusão, em bordaduras, maciços, caramanchões, pérgulas.

7. ORIENTAL

Enquanto que a geometria começava a imperar no ocidente, no oriente acontecia


algo totalmente diferente. O homem oriental se considerava parte da natureza e não o seu
dono. Em conseqüência os jardins buscavam, tanto em suas criações paisagísticas quanto
em suas construções e na ornamentação dos jardins, refletir as forças naturais em vez de
celebrar as vitórias da humanidade.

A civilização chinesa e a grega floresceram durante aproximadamente o mesmo


período, o século VI a C. O taoísmo e o budismo, importado da Índia e posteriormente
levado ao Japão, tiveram uma enorme repercussão na elaboração dos edifícios e jardins.
Artistas e paisagistas tencionavam extrair a essência da Natureza, observando as
montanhas, os lagos e as plantas em busca de inspiração. O respeito à tradição, ao antigo e
ao permanente levou a formas pictóricas e paisagísticas absolutamente distantes das
ocidentais, tanto em espírito como na técnica.

Nos jardins orientais, a atitude em relação ao espaço era, e continua sendo,


radicalmente diferente da ocidental. A geometria é um dos fundamentos da arquitetura,
porém os espaços exteriores, concebidos como contraste para os edifícios, se deixam nas
mãos da Natureza, que tem sua própria forma de moldar o mundo. A criatividade individual
é limitada por um vocabulário tradicional de expressão. A cor e os ornamentos são tratados
como aspectos integrados aos edifícios. As texturas são muito importantes e utiliza-se
pontos de luz com plantas de cores vibrantes.

Os jardins japoneses evoluíram de uma forma diferente. Os jardins eram os dos


templos e palácios. No século XI a arte dos jardins se regia por um código, o Sakuteiki, que
definia os tipos aceitáveis de jardins, as composições possíveis, o movimento da água e os
tipos de pedras a empregar.

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A invenção da cerimônia do chá teve uma importância decisiva nos jardins
japoneses. O protocolo exigia um pavilhão de uso exclusivo e um jardim concebido para
que o visitante esquecesse as preocupações mundanas. As pedras dos caminhos se
dispunham cuidadosamente para controlar a velocidade com a qual chegavam os usuários e
os pontos onde deviam deter-se e desfrutar do panorama. Tanto nos jardins chineses quanto
nos japoneses, a água, também rica em simbolismos, era o elemento imprescindível para
contrastar a força da montanha. Segundo Confúcio, “o sábio encontra deleite na água; o
benevolente o encontra nas montanhas. Todos os grandes parques da China têm lagos,
assim como muitos dos jardins urbanos posteriores. De modo semelhante, no Japão a
maioria dos grandes jardins estavam situados ao redor de lagos ou tanques, e inclusive nos
kare sansui, ou jardins secos, o tratamento da areia ou cascalho, rastrilhadas com o máximo
cuidado, é tal que quase se parece água.

Tanto na China quanto no Japão se apreciava muito os lagos de águas tranqüilas


com pagodes nas margens. Do refúgio nestas pequenas edificações, o observador
desfrutava dos reflexos de luzes, do suave movimento das folhas e dos pingos da chuva
pela manhã.

8. MODERNO

Na segunda metade do século dezenove o trabalho de Ferderick Law Olmsted no


Central Park de Nova York trouxe nova disciplina à arquitetura paisagística no ocidente.
Introduziu a assimetria para as áreas públicas.

No século vinte o movimento modernista introduziu no paisagismo os conceitos de


função e utilidade, fornecendo atividades e relaxamento, evitando planos axiais e
construções monumentais. Inspirando-se em Bauhaus, empregou-se formas abstratas. A
vida moderna levou à implantação de jardins de baixa manutenção. A tendência atual é o
ecopaisagismo com princípios baseados na ecogênese, ou seja, reconstrução da paisagem.

9. BRASIL

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Observou-se a reprodução dos estilos desenvolvidos no exterior, com poucas
manifestações de expressão, merecendo destaque alguns parques públicos como o Passeio
Público do Rio de Janeiro realizado no século 18, a Quinta da Boa Vista projetada e
executada por Auguste Glaziou no século 19. Cabe ressaltar a importância de Glaziou para
o paisagismo brasileiro pois sua forte influência do estilo inglês o levou a trabalhar com
plantas nativas, segundo princípios do naturalismo inglês. No início do século o grande
afluxo dos imigrantes trouxe a influência dos jardins europeus e orientais. Na década de 30,
por influência do Modernismo nas artes e literatura, tem início o movimento paisagístico
brasileiro, tendo como seu grande mentor Roberto Burle Marx. Burle Marx criou o estilo
contemporâneo onde havia maior liberdade de formas e mistura de estilos. Com fortes
características do naturalismo oriental, depositou nas plantas importância fundamental.
Através de linhas amplas e sinuosas o seu traçado paisagístico denota leveza e naturalidade,
sempre buscando reproduzir a paisagem natural ou valorizá-la onde esta já se apresenta
exuberante. Profundo estudioso da nossa flora, introduziu no paisagismo plantas até então
desconhecidas. Realizou engenhosos trabalhos de piso, como por exemplo o calçadão de
Copacabana. Preferência por contrastes de cores e texturas.

Atualmente no Brasil, seguindo a tendência mundial, emprega-se a miscelânea de


vários estilos, com predomínio do jardim tropical, com aspectos dos jardins japoneses.
Muito recentemente, a utilização de elementos dos jardins renascentistas, como esculturas
clássicas e topiária, têm atraído a parcela da população conhecida como novos ricos.

BIBLIOGRAFIA

Balston, M. 1994. Jardin bien diseñado. Tursen Hermann Blume Ediciones, Madrid. 189p.

Brookes, J. 1994. John Brookes' garden design book. London, Dorling Kindersley Book.
352p.

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