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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PPGAU/CT - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ARQ2027 - MÉTODOS E TÉCNICAS DE PROJETAÇÃO ARQUITETÔNICA

Fichamento das vídeo-aulas de Guiherme Wisnik

Aluno:

Haroldo Viana Arruda Silva

Natal, 23 de junho de 2021


Guilherme Wisnik: A Formação do Pós-Modernismo - Aula 1

A discussão ministrada pelo Guilherme Wiskin inicia com a apresentação da música (Nothing
but) Flowers, do grupo Talking Head, que se tornou um sucesso no auge do pós-modernismo,
em que ela trata a favor do sistema capitalista e consumidor e contra a preservação da natureza,
de forma irônica e com elogios sarcásticos a tema que até hoje é tratado como tabu. Essa é uma
canção que fala sobre a cultura do consumo de massas, ligada ao capitalismo de consumo de
forma polêmica e irônica, diretamente ligada ao fenômeno cultural que se reflete em todo o
comportamento humano, inclusive na arquitetura em crescimento na época.

Foi na década de 40, no contexto pós segunda guerra mundial, que se interpreta que houve o
surgimento do pop-art e brutalismo como um nascimento casado, movimentos estes que
inicialmente são observados como opostos.

O brutalismo pode ser observado inicialmente com a obra lançada pelo arquiteto Le Corbusier,
uma unidade de habitação em Berlim, a qual foi a primeira obra lançada no mundo com concreto
aparente. Essa obra foi lançada após o arquiteto negar seus conceitos e princípios modernos e
industriais e ter reassumido suas origens mediterrâneas ao interpretar que a arquitetura não é
capaz de se tornar mecanizada, mas será sempre artesanal.

Outros exemplos podem ser vistos em construções na Inglaterra. Por ter sido um país que sofreu
economicamente de forma grandiosa após a guerra, esta crise repercutiu na sua reconstrução
com construções no estilo brutalista, em que também se apresentaram não só edifícios em
concreto exposto, mas também com tubulações, painéis pré-fabricados, alvenaria de tijolos e
estrutura metálicas aparentes, como a obra Robin Hood Garden, uma habitação social, e a escola
secundária Smithdon High School.

O intuito deste estilo foi mostrar os componentes construtivos do edifício junto de sua própria
história de construção como uma forma de “desfetichização” das obras, já que este estilo tende
a negar as origens e querer expor produtos apenas com o seu resultado final, como se sua
fabricação fosse, como declarado por Wiskin, vinda de poder divino e com resultado
instantâneo, longe da real realidade da produção industrial de qualquer material.

Estes produtos ilusórios eram representados quando, na mesma época, arquitetos e designers
apresentavam protótipos de suas visões da casa do futuro as quais existiriam nos anos 1980,
com uma visão futurista em um estilo de construção e objetos arredondados, de muita resina e
plástico e com elementos espaciais. Essa representação foi inspirada com a adoção e adoração
de propriedades do capitalismo, consumismo e materialismo, a partir de uma grande influência
que os Estados Unidos começaram a emplacar no mundo como o estilo de vida mais moderno
e tecnológico, um grande passo no processo de globalização.

Esta transformação no comportamento humano afeta não só o estilo e desejo das pessoas por
uma nova moradia e construção como também na convivência dos mesmos no espaço. A
segunda era da máquina transformou os arquitetos de criadores de design em criadores de
conteúdos influenciados pela mass-media e pelas propagandas que geraram um maior
consumismo e se tornaram a energia do desenvolvimento.

Porém, após tais observações realizadas por Wisnik, ele depois cita as construções dos Clusters
Cities dos Smithsons em que foi uma proposta urbanística radical contra todo este movimento
individual e capitalista, como também à carta de Atenas, em que propõem que as cidades não
mais atuem pelo zoneamento funcional, mas pela ideia de ramificação de complexidade, que o
plano de construção e planejamento parta do micro para o macro, das criações das vizinhanças
e bairros para à cidade. Esta foi uma mudança radical onde o consciente, dos percursos
subjetivos e pessoais, cada homem e cada indivíduo com suas especificidades, se tornem o foco,
e que não seja mais o sujeito universal.

O paradigma então se estabelece em um no qual o desejo pessoal se torna o valorizado, e não


o do homem universal, e essa é a maior transformação do Pós-modernismo, o momento em que
se assume a subjetividade e individualidade irredutível.

O crescimento e fortalecimento sobre o desejo e necessidade individual antes da do mundo se


iniciou principalmente na década de 1960. Marco inaugurais do individualismo podem ser
caracterizados com o advento de movimentos feministas, das revoltas estudantis, dos
movimentos juvenis, das lutas pelos direitos civis e dos movimentos revolucionários e também
pelo medo que foi emplacado de grandes potências militares com suas ameaças nucleares e a
própria ditadura brasileira emplacada nessa época. Toda essa ameaça existente no presente
confrontava uma nova percepção do futuro, pois nessa mesma época, o homem foi ao espaço
e a lua e a primeira imagem de fecundação humana foi compartilhada. Com o medo do presente
e a influência dele em um futuro a curto prazo, um sentimento de esperança com o futuro
fantasioso cresceu e os novos heróis viraram aqueles que desbravavam o limite e o real.

A arquitetura inventada nessa época então foi chamada de paper architecture, uma arquitetura
imaginada, especulações e invenções sobre um mundo do futuro, inspirado pela tecnologia e
pela imaginação do mesmo. Surgiram assim criações que ultrapassavam o limiar do possível e
existiam mais no imaginário do que na possibilidade do real, como cidades flutuantes e móveis
sob um mundo catastrófico. Mesmo essas mesmas ideias não sendo, elas serviram como
inspirações para outras possíveis formas com inspirações nelas, como por exemplo, as obras
modulares, de paredes, tetos e andares que encaixam entre si, como o projeto da Nova
Babilônia, da cidade definitiva, de Constant Nieuwenhuis, todo feito de estruturas móveis que
permitiram a flexibilização e adaptação total. Mesmo essa também não sendo uma criação
materializada para a realidade, ela continua a servir como inspiração para outras alternativas e
inovações que surgem após sua observação crítica.

Após essa construção e contextualização história, é a partir dos anos 60, como declarado por
Wisnik, que existe um otimismo profundo com os ideais modernos, com as megaestruturas
levando o movimento moderno ao seu extremo, e ao mesmo tempo, já está engendrando o
nascimento do pós-modernismo, mas que ainda não se entendia como pós-moderno. Esta
década se torna a condensação máxima e última e o rito de passagem ao novo movimento.

Guilherme Wisnik: A Formação do Pós-Modernismo - Aula 2

O início da aula inicia com a erupção do pós-modernismo nos anos 70 após ele ter se iniciado
nos anos 60, comentando sobre autores de livros que, em suas obras, discursam a relação entre
cultura e sociedade, economia e etc., que atribuem o pós-modernismo como a formulação da
lógica cultural do capitalismo tardio.

Mesmo este conceito atribuído como ultrapassado, ele foi muito poderoso nos anos 70 e 80
como forte ferramenta crítica ao movimento moderno.

Para exemplificação, Wisnik expressou o filme Koyaanisqatsi como uma das maiores expressões
da ideologia da arquitetura da época pós-moderna, com o desencanto do progresso e da técnica
que encarnam o mundo moderno, ao expressar pelo seu roteiro de que toda ilusão de progresso
termina num fracasso e a civilização técnica está condenada a sua autodestruição monumental.
Um dos momentos que o filme representa como a morte do movimento moderno é a demolição
do conjunto habitacional Pruitt-Igoe. Este evento se tornou marcante devido a, mesmo ele com
2 décadas de construção e possuindo premiações por inovações construtivas, sua demolição foi
interpretada por ter sido causada por movimentos ideológicos, como se fosse um movimento
de desapego ao passado para abrir as portas ao novo que se estava por vir. Outro símbolo dessa
transição foi outra destruição de uma das megaestruturas que era um marco do modernismo,
porém este não intencional, o incêndio na geodésica de Montreal, o colapso de uma das
soluções de construção da ideologia moderna.

A mudança de foco dos arquitetos do vernáculo da indústria pesada para o consumo, a


propaganda das posses materiais, leva para um outro tipo de arquitetura. Uma arquitetura
movida pelo capitalismo tardio, que ao contrário do que o nome parece, é o capitalismo
avançado, é o desmonte da sociedade do bem-estar social, aquela que foi formada com as
grandes crises das duas guerras e floresceu com a era do ouro. Porém, ao contrário do que
parecia nos anos 50, em que o capitalismo passava a impressão de um crescimento infinito, nos
anos 70 ele entra em crise devido ao mercado de consumo não ser capaz de também crescer
infinitamente. Daí então floresce o capitalismo tardio, o neo-liberalismo, que é o sistema
altamente concentrador e segregador de nichos de mercado, de privatizações e de desmonte
do estado, algo que se perpetua até hoje.

O pós-modernismo segue então essa ideia que não ser só relacionado a arquitetura, mas
também a uma mudança de mentalidade dentro do sistema. Ícones da arquitetura começaram
a ser tratados de forma simbólica quando o uso deles se torna mais comercial, quando estes se
tornam souvenires de vendas ou elementos característicos como as estruturas de casas de show
e apostas em Las Vegas: a transformação da arquitetura em uma forma publicitária.

Muitos exemplos de casos e livros são dados por Wisnik como formas de expressão e de artes
de arquitetos que desenvolveram esse novo estilo. Alguns desses exemplos são a utilização de
figuras públicas do famoso pop estadunidense para montagens e colagens de imagens e até
mesmo objetos ordinários, como latas de feijão, que levam objetos do cotidiano da baixa classe
para apresentações e exposições de museus que, antes só frequentados por pessoas da alta
classe, também se tornam alvos da utilização dessa mesma baixa classe de que foram retiradas
as inspirações.

Dentre muitos temas dos pós-modernismo, existem três que são, por Wisnik e pela sociedade
da arquitetura, explicitados como os mais influentes: o populismo, com a ideia de vernáculo de
consumo; o historicista, que faz citações e traz de volta a arquitetura clássica, principalmente
europeia; e o figurativo, vindo do desconstrutivismo, com um aspecto abstrato. De todas essas
formas de expressão, uma característica muito presente em muitas das expressões é o cinismo
e a ironia do pós-modernismo adiante de uma situação que, ao contrário do sonhado e
imaginado no modernismo, que ninguém vai transformar nada mais, que vivemos num mundo
conservador e consumista.

De todas essas interações e de ambas as aulas assistidas, é possível partilhar da definição que
Frederic Jameson realizou em um texto publicado no começo dos anos 90 sobre a forma de
observação do pós-modernismo para com o mundo: nós não ainda entendemos bem o que é
esse hiperespaço, nossa estrutura psíquica e nossa relação corporal com o mundo ainda não
tem instrumentos para se localizar fenomenologicamente no mundo do hiperespaço pós-
moderno pois nesse mundo achata com a nossa percepção espacial.

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