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Observação de preparações

definitivas de organismos
unicelulares, dos filos
Microspiridia e Apicomplexa.

Edward Sousa
Bioquímica, 1º ano
2020/2021

INTRODUÇÃO
Os microsporideos, como descritos por Haag, (2014) “são parásitas
intracelulares que podem ter impactos económicos vários, por serem a causa
de doenças de animais como os peixes...”. Foram recentemente colocados no
Reino dos Fungos e são definidas como parásitas intracelulares obrigatórias
comuns nos peixes (além de outras espécies como o homem e outros
protozoários); estes organismos forman esporos que se caracterizam
nomeadamente pela presença de um disco ancorador, esporoplasma
uninucleado e por um filamento polar enrolado em espiral. Estas estruturas
podem ser observadas na seguinte figura (Figura 1).
A parte interna da célula é delimitada por três
camadas: exóesporo que é a camada externa (e),
endósporo que é a camada interna (en), e a
membrana plasmática que envolve o citoplasma
(c). No interior encontra-se o núcleo (n), o
vacuolo posterior (v) com posterosoma (ps) e
ainda três estruturas que constituem o aparelho
infeccioso; que são o filamento polar (pt), os
polaroplastos (p) e o disco ancorante (a).
O ciclo de vida (Figura 2) destes organismos
ocorre em duas fases: merogonia (Fase II, Figura
2), evento em que o parasita aumenta
Figura 1: Partes do esporo (Microsporideo). massivamente o seu número com a
formação de células merontes; fase
esporogénica (Fase III, Figura 2) que
consiste na formação das células infecciosas
(esporogonia) que ao germinarem reiniciam o
ciclo; e a fase de infecção ou transmissão
(Fase I, Figura 2) que consiste na entrada dos
esporos no hospedeiro. Os coccideos são
organismos unicelulares do filo Apicomplexa, são
geralmente parásitas intestinais obrigatórias que
têm como hospedeiro aves, gado, cordeiros, etc.
O ciclo de vida (Figura 3) dos coccideos
Figura 2 – Ciclo de vida do Microsporideo divide-se num ciclo sexuado e assexuado.
Inicia a partir do esporozoíta (Também
chamados esporocistos, 1) que invade a
célula hospedeira e multiplica-se por divisão binária até chegar na forma de
merozoitos (5) que podem iniciar um novo ciclo assexuado ou começar o ciclo
sexuado. No ciclo sexuado, os merozoitos sofrem diferenciação em
microgametócitos (Também chamados microgamontes, são as estruturas
“masculinas”) e macrogametócitos (Também chamados macrogamontes,
são as estruturas “femeninas”); entre eles ocorre a fecundação e forma-se o
ovo que se transformará num oocisto (11).
Neste trabalho foram observadas duas espécies
do filo Microsporidia: Pleistophora ladogensis e
Glugea hertwigi que se encontravam
respetivamente em amostras de células
musculares e células do intestino do peixe
Osmerus eperlanus.
Também, foi observada a espécie Goussia
clupearum (filo Apicomplexa) numa amostra de
células do fígado da cavala (Scomber
scombrus).
Figura 3 – Ciclo de vida do Coccideo

MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho foram analisadas amostras definitivas
porque garantem a fixação e a coloração das células em estudo para uma
melhor demonstração dos seus componentes, permitindo posteriores
observações (O material biológico tem, por isso, de ser submetido a diversas
operações que permitam que não se decomponha) . A preparação correta de
uma amostra definitiva deveria mostrar as células com a mesma composição
quimica e estrutura que elas possuiam quando se encontravam vivas. O
objetivo destas observações foi a identificação de xenomas e nódulos, que
são as estruturas que contêm os esporos das espécies G. Hertwigi e P.
Ladogensis, respetivamente; e também a identificação de oocistos (entidade
que contém os esporocistos na espécie Goussia clupearum). Para as três
observações foi usado um microscópio ótico; cada amostra foi observada na
objetiva 5x, na objetiva 10x e na objetiva 40x; fazendo uso do parafuso
macromético e micrométrico para focar a imagem corretamente, e diminuindo a
intensidade da luz do condensador, especialmente na objetiva 40x para uma
visualização mais clara dos organismos. Para a amostra das células
musculares de Osmerus eperlanus foram observadas descontinuidades
entre ditas células que faziam lembrar a pequenas protuberâncias (nódulos).
Na amostra das células do aparelho digestivo da mesma espécie de peixe
foram encontradas estruturas arredondadas em forma de bolhas (os xenomas,
por possuírem a sua forma característica). Finalmente na amostra de células
do fígado da cavala encontraram-se pequenas estruturas de forma ovóide
conglomeradas entre si; estas estruturas são os oocistos. As estruturas
anteriormente descritas foram esboçadas (Figura 4).

Figura 4 – As diferentes estruturas observadas; nódulos (A), xenoma (B) e oocistos (C).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apartir de uma ocular micrométrica e dos dados das figuras 5 e 6 (Costa,
2016), foi possível determinar que as dimensões apróximadas dos nódulos de
Pleistophora ladogensis foram 890x564µm; e as dimensões apróximadas dos
xenomas de Glugea hertwigi foram de 1400x1800µm.

Figura 5 – Nódulo (Escala da barra = 235µm) Figura 6 – Xenomas (Escala da barra = 400µm)

Adicionalmente, foi possível estimar as dimensões dos esporos que se


encontram no interior das estruturas referidas anteriormente, a partir das
figuras 7 e 8 (Costa, 2016): os resultados obtidos estão representados na
tabela 1:

Pleistophora
Figura 7 e 8 – Esporos ladogensis
de Pleistophora Glugeahertwigi
ladogensis (Barra = 26µm) e de Glugea hertwigi
(Barra = 16µm)
Nº de esporo Comprimento Largura Comprimento Largura
Tabela 1 – Comprimento
Esporo 1 e largura
3,25(dimenssões) de 102,60
esporos de Pleistophora ladogensis
4 e Glugea hertwigi;
2
Esporo 2 com respetiva média e desvio padrão.
3,25 2,16 4 2
Esporo 3 3,25 2,16 4 2,28
Esporo 4 3,25 2,60 3,55 1,77
Esporo 5 2,36 2,16 2,90 1,88
Esporo 6 2,36 2,16 2,78 2
Esporo 7 2,36 2,60 4 2,28
Esporo 8 1,85 1,85 4 2
Esporo 9 3,71 2,16 4 2
Esporo 10 3,46 1,85 4 2,28
Média 2,91 2,23 3,723 2,049
Desvio Padrão 0,586174 2,269072 0,46191 0,16688
Para P. ladogensis a média do comprimento e da largura da cada esporo foi
respetivamente de 2,19 e 2,23; os seus desvios padrão foram de 0,586174 e
2,269072 respetivamente. Para G. hertwigi a média do comprimento e da
largura de cada esporo foi respetivamente de 3,723 e 2,049; os seus desvios
padrão foram de 0,46191 e 0,16688.
É importante mencionar também que os microsporideos possuem
ribossomas 70s, e carecem de mitocôndrias e centríolos; por estes factos são
consideradas células eucarióticas primitivas.
Os esporos de Pleistophora ladogensis são formados massivamente no
processo de esporogonia e ao serem observados ao TEM (microscopio
eletrónico de transmissão) é possível observar o seu aparelho infeccioso:
filamento polar, polaroplasto e vacuolo posterior. É graças a este aparelho
que é possível a replicação dos esporos nas fibras mulculares; o que produz
deformações nocivas para o peixe; até o grau de afetar notóriamente a
motricidade do animal, peixes altamente infectados eram mais susceptíveis
à predação, ou acabavam por morrer por debilitação.
Um caso similar ocorre com a proliferação de esporos de Glugea hertwigi,
que produz violentas eminências no corpo do peixe, tornando a sua
movilidade dificultada ou quase impossível; em alguns casos, foi constatada a
abertura da cavidade corporal devido à formação dos esporos.
Na preparação do fígado da cavala foram observadas numerosos oocistos
de Goussia clupearum; o número estimado destas estruturas visa à volta das
400. As dimensões dos ooscistos rondavam à volta dos 20µm de altura e
comprimento enquanto que os esporocistos possuiam aproximadamente 8µm.
A reprodução acentuada dos esporocistos destas parásitas produz a morte de
numerosas células do fígado (hepatócitos), o que pode conduzir a
disfuncionalidades no controlo osmótico, na coagulação sanguínea e na
secreção do bilis.
Face aos dados apresentados, torna-se evidente a importancia do estudo
desdes microorganismos; desde que podem infectar diversas espécies animais
como peixes, gado, cordeiros, abelas, etc. E consequêntemente ter impactos
na sociedade e na economía. A realização desta investigação permitiu um
melhor entendimento de formas de vida unicelulares, nomeadamente da sua
organização celular e dos seus organelos; e permitiu ter noção da
complexidade do estudo da morfologia destes seres.

REFERÊNCIAS
 Costa, G.; Melo-Moreira, E.; Pinheiro de Carvalho, A.; 2016.
Occurrence of microsporidians Glugea hertwigi and Pleistophora
ladogensis, in smelt Osmerus eperlanus from two German rivers,
North Sea coast. Funchal.
 Haag et al., 2014, Evolution of a morphological novelty occured
before genome compaction in a lineage of extreme parasites.
Vanvouver.
 Porto, L.; 2008. Diversidade de microsporídeos (Microsporidia) em
cochonilhas (Homoptera; Pseudococcidae; Planococcus citri)
praga de citrinos. shorturl.at/inyzI. Acedido em 03/11/2020
 Barone, A.; Coccídios: Isospora belli, Cryptosporidium spp. E
Cyclospora cayetanensis. shorturl.at/qrvCE. Acedido em 03/11/2020
 Desconhecido, 2019; Coccidiasina.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Coccidiasina. Acedido em 03/11/2020
 Capelo. A.; Preparações temporárias e definitivas.
encurtador.com.br/emzC6. Acedido em 06/11/2020

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