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A Vaidade Feminina e
sua Influência na Autoestima e no Consumo de Procedimentos Estéticos
Autoria: Vivian Iara Strehlau, Danny Pimentel Claro, Sílvio Abrahão Laban Neto
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo observar a influência da vaidade feminina na autoestima e no
consumo de procedimentos estéticos. Para Goldenberg (2002) existe uma cultura do corpo,
uma cultura narcísica, onde o corpo e a moda são elementos essenciais do estilo de vida. A
avaliação que cada um tem de sua própria aparência física compõe parte de seu autoconceito e
o essa avaliação, positiva ou negativa, reflete-se na autoestima (SOLOMON, 2002). A
vaidade, por sua vez, caracteriza uma preocupação e uma visão positiva (e possivelmente
inflada) da aparência física de alguém e de seus feitos e realizações (NETEMEYER;
BURTON; LICHTENSTEIN, 1995). Considerando que desde 2006, o Brasil ocupa a terceira
posição entre os maiores mercados de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos
do mundo (ABIHPEC, 2009) e os resultados do estudo desenvolvido por Alcalde (2008), que
apontou a insatisfação de muitas brasileiras com seu corpo, identificamos uma interessante
lacuna a ser estudada. O trabalho tem início com uma introdução ao do tema e sua
importância de seu estudo e inclui um referencial teórico sobre vaidade, beleza, autoestima e
envolvimento. A pesquisa realizada é quantitativa do tipo survey com 210 mulheres entre 18 e
60 anos, de classes socioeconômicas A, B, C e D. O questionário foi construído com
perguntas fechadas e inclui levantamento de dados demográficos da amostra, uma escala que
mede a vaidade da consumidora (DURVASULA; LYSONSKI e WATSON, 2001) e o tipo e
freqüência de realização de diversos procedimentos estéticos (FETTO, 2003). A amostra é
jovem, 71% da amostra possui até 30 anos de idade e a raça branca foi predominante (78%).
Quase 57% da amostra possui o ensino superior completo, 31%, o ensino médio completo e
apenas 4% possuem até o ensino fundamental completo. As respondentes estiveram
razoavelmente bem distribuídas nas classes socioeconômicas: quase 34% de classe A, 45% de
classe B e 21% de classes C e D. Para a análise das hipóteses, foram utilizadas regressões
múltiplas com a técnica dos mínimos múltiplos quadrados, Os principais achados se referem
a: Quanto maior o grau de vaidade da mulher maior a utilização de cosméticos e tratamentos
domésticos, a frequência de cuidados, e a autoestima com o corpo Foi encontrado resultado
significativo para o grau de vaidade e a propensão para a realização de procedimentos
cirúrgicos. Outro resultado indica que quanto maior o uso de cosméticos e tratamentos
domésticos de beleza, maior a propensão em realizar procedimentos cirúrgicos e
ambulatoriais. O envolvimento com a beleza afeta marginalmente a propensão em realizar
procedimentos cirúrgicos. A análise das variáveis de controle mostrou que a idade afeta
negativamente o conjunto de variáveis mediadoras de atitude ligadas a beleza, mostrando que
quanto mais nova a mulher maior a sua preocupação com a beleza e quanto mais velha maior
a propensão em realizar por procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais. Os resultados mostram
que quanto maior o nível educacional menor a preocupação com beleza. A variável de
controle sócio-econômica influencia negativamente as variáveis mediadoras, implicando que
quanto maior a classe menor a atitude.
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1. Introdução:
O mesmo autor afirma existir um paradoxo no culto ao corpo da classe média, a autonomia
individual em contraposição à exigência de conformidade aos modelos sociais do corpo.
“A obsessão com a magreza, multiplicação dos regimes e das atividades de modelagem do
corpo, a disseminação da lipoaspiração, dos implantes de próteses de silicone nos seios, de
botox para atenuar as marcas de expressão na face e da modelagem de nariz testemunham o
poder normalizador dos modelos, um desejo maior de conformidade estética que se choca com
o ideal individualista e sua exigência de singularização dos sujeitos” (GOLDENBERG, 2002,
p.9)
Os cuidados com o corpo e a beleza, quando excessivos, atendem pelo nome de vaidade.
Tradicionalmente, a vaidade é considerada como um dos sete pecados capitais do catolicismo,
surgindo ainda na personagem mitológica de Narciso e em histórias infantis, como a fábula
Branca de Neve dos Irmãos Grimm. A vaidade, portanto, assume conotação negativa, sendo
percebida como uma falha das virtudes morais, algo desfavorável, uma espécie de vício ou
arrogância depreciadora das virtudes morais. Netemeyer, Burton e Lichtenstein (1995)
identificaram alguns aspectos recorrentes nas definições disponíveis sobre vaidade: vaidade
seria a preocupação e uma visão positiva (e possivelmente inflada) da aparência física de
alguém e de seus feitos e realizações (achievement).
Para Domzall e Kernan (1993) a cultura popular, inclusive o marketing, continua a explorar a
atratividade física como um ideal, um índice de credibilidade e de seu próprio valor. Os
mesmos autores identificam uma série de pesquisas precedentes que indicam que indivíduos
atraentes seriam mais apreciados e percebidos em termos mais favoráveis que aqueles menos
atraentes. Em outras palavras, a suposta perfeição física impõe pesado fardo na busca pela
conformidade física a padrões estabelecidos. A aparência propicia, por parte do outro,
“atribuições de determinados papéis sociais, expectativas de conduta, e que, mediante esses
papéis, nossas ações serão avaliadas nas relações sociais” (SAMPAIO; FERREIRA, 2009,
p.10).
Este trabalho tem por objetivo relacionar a vaidade feminina ao consumo de procedimentos
estéticos, buscando responder às seguintes questões: qual a relação entre vaidade e o consumo
de procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não? Qual a relação entre vaidade e a frequência e o
tipo de consumo de elementos de cuidados corporais cotidianos? Qual a influencia destes
cuidados cotidianos na realização dos procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não?
Este trabalho está organizado da seguinte forma: este primeiro tópico contextualiza e introduz
o tema. A seguir, apresenta-se o referencial que deu suporte ao estudo seguido dos
procedimentos metodológicos, pesquisa e sua análise. O trabalho termina com as
considerações finais e as referências utilizadas no trabalho.
2. Referencial teórico
Para Eco (2004) existem diversas concepções da beleza, para o autor, o “Belo” é um adjetivo
usado para designar algo que agrada. Duarte (1998, p.13) define beleza como “uma maneira
de nos relacionarmos com o mundo. Não tem a ver com formas, medidas, proporções,
tonalidades e arranjos pretensamente ideais que definem algo como belo”. A preocupação
com a beleza não é fenômeno recente, a fantasia do elixir da imortalidade tão buscado em
outras épocas cedeu lugar à fantasia vendida através de tratamentos dermatológicos, cirurgias
plásticas, reposições hormonais, vitaminas etc. (GOLDENBERG, 2002).
Lipovetsky (2000) comenta que a beleza tem sido vista não apenas como um dever, mas um
direito, sendo o resultado de um esforço, de uma conquista. Tal afirmação é corroborada pelo
trabalho de Edmonds (2002). Para Goldenberg (2002, p.8) a “mídia adquiriu imenso poder de
influência entre indivíduos, generalizou a paixão pela moda, expandiu o consumo de produtos
de beleza e tornou a aparência uma dimensão essencial da identidade” de homens e mulheres.
Pelo lado negativo, Bassili (1981, p. 237) observa que, ainda que os indivíduos assumam que
uma boa aparência é instrumental para uma vida sexual e socialmente mais excitante, este
estilo de vida está desfigurado na vaidade e no autocentramento.
Para Poiriet (1999, p.31) o corpo é lugar de todas ambigüidades, não sendo um simples
objeto, pois “encontra-se numa situação intermediária a partir da qual pode, numa direção,
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tornar-se sagrado e subjetivar-se e, numa direção oposta, acabar por ‘coisificar-se’
inteiramente”. O corpo pode, portanto, ser completamente materializado, reduzindo a apenas
um monte de carne, logo, coisificado e passível de transformação o que pode ser indicado
pelos expressivos números da indústria da beleza, cirurgias plásticas, vendas de cosméticos e
adornos.
Os processos culturais são grandemente responsáveis pela definição tanto dos padrões
estéticos como da beleza corporal (QUEIROZ; OTTA, 1999). A cirurgia facial está assentada
em complexas questões referentes a gênero, raça, cultura e identidade pessoal e é interessante
observar o efeito das diferentes culturas nas atitudes com relação à beleza e à cirurgia plástica:
nos Estados Unidos estaria mais politizada e ligada à opressão racial enquanto no Brasil está
ligada à ideia de identidade nacional. (EDMONDS, 2002).
No Brasil, estudos que contemplam a temática beleza na área de marketing têm ganhado
atenção crescente, mas ainda incipiente; são poucos os trabalhos que estudam especificamente
a beleza, como Campos (2009) e Campos, Suarez e Casotti (2006). Na maioria das vezes
encontram-se trabalhos em que a beleza é uma variável importante no estudo, mas não seu
foco principal, como em Silveira Netto e Brei (2009), Schweig et al (2009), Hemzo e Silva
(2009) e Vanzellotti (2008).
Vaidade parece não ser mais vista como um pecado, ainda que nas definições encontradas em
Aurélio (2009) nenhuma tenha um cunho positivo: “Desejo imoderado de chamar atenção, ou
de receber elogios / Idéia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio; presunção,
fatuidade, gabo / Coisa vã, fútil; futilidade / Alarde, ostentação, vanglória...”; Todavia,
segundo Edmonds (2002), a vaidade, no Brasil, não apresenta o cunho pejorativo que
normalmente se associa ao termo: mulheres associam a vaidade a ter cuidado com o corpo,
em especial com cabelos e unhas e não aos exageros associados à aparência, distinguindo
entre vaidade (boa) e futilidade (má).
Netemeyer, Burton Lichtenstein (1995) identificam dois tipos principais de vaidade: a vaidade
com aparência física, ou seja, uma preocupação com aparência física, assim como uma visão
positiva e possivelmente exagerada da aparência física e também a vaidade ligada à realização
dos objetivos, ou seja, a preocupação com a realização e o alcance de objetivos, assim como
uma visão positiva (exagerada) do atingimento desses objetivos.
Por autoconceito entende-se o conjunto de crenças que uma pessoa tem sobre seus atributos e
como os avalia (SOLOMON, 2008). O autoconceito pode ser dividido em três tipos: o real, o
ideal e o social. O primeiro está relacionado com a auto-percepção, ou seja, como os
indivíduos se vêem na realidade de acordo com fatos e experiências pessoais. Já o
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autoconceito ideal tem a ver com o “ego ideal”: como o indivíduo gostaria de ser e não como
ele percebe que é realmente. E, por último o autoconceito social, ou seja, como o indivíduo
apresenta o “seu eu” para os outros ao seu redor (SIRGY, 1982).
Para Solomon (2008, p. 195) “a aparência física de uma pessoa é parte considerável de seu
autoconceito. A imagem corporal diz respeito à avaliação subjetiva do consumidor sobre seu
físico”, sendo que a noção de consciência corpórea é complexa por trazer em si aspectos
sociais, simbólicos e sinestésicos (MELO 2005). As mulheres tendem a captar mensagens da
mídia, nas quais a aparência, traduzida pelo corpo, reflete seu valor, sendo esta uma das
razões para uma maior ocorrência de distorções da imagem corporal em mulheres
(SOLOMON, 2008). Um exemplo é a propaganda contemporânea que sustenta o ideal de
beleza, em que o sucesso e a felicidade dependem de uma boa aparência física (BRIGGS,
2000). O descontentamento com o peso, por exemplo, leva a uma imagem corporal negativa e
que no caso dos obesos chega a causar um estigma social (VEER, 2009). Gomes e
Caramaschi (2007) afirmam que “a busca por um modelo ideal de beleza, que nunca foi tão
estimulada e valorizada, tem deixado um imenso grupo de insatisfeitos e deprimidos,
desconfortáveis com o próprio corpo e com a autoestima em baixa”
O conceito de envolvimento significa que uma pessoa é motivada a pensar sobre o objeto em
questão (ZAICHKOWSKI, 1995), ou seja, envolvimento é a importância pessoal percebida
e/ou interesse que o consumidor liga à aquisição, consumo e disposição de um bem, serviço
ou ideia (MOWEN; MINOR, 1998).
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que são essenciais ou benéficos por razões utilitárias) e Risco de compra: produtos que criam
incertezas por que uma má escolha seria extremamente aborrecida para o comprador.
Em atividade menos extrema e invasiva, Bloch (1993) identificou que o cuidado em adornar o
corpo com maquiagem ou roupas é uma atividade de lazer. Essas pessoas são motivadas por
recompensas extrínsecas (como a atratividade física) e recompensas intrínsecas (como
controle e auto-estima). Mulheres com alto envolvimento em atividades relacionadas ao
adorno (em oposição a mulheres com baixo envolvimento que gastam oito minutos a mais por
dia aplicando maquiagem e em sua opinião essa atividade é agradável e recompensadora).
O esquema conceitual com três hipóteses dessa pesquisa foi elaborado a partir dessa
discussão, como ilustrado na Figura 1, e que serão tratadas a seguir.
Considerando que a aparência física e o sucesso material parecem ser passaportes para a
felicidade, sucesso e todas as coisas boas da vida (WANG; WALLER, 2006) e sendo essas
integrantes do constructo vaidade, pode-se imaginar que pessoas vaidosas potencialmente
terão maior interesse na realização de procedimentos que melhorem e desenvolvam essas
características em busca dessa perfeição idealizada e dadivosa. Complementando, Goldenberg
(2002) observa que cada indivíduo é responsável por sua própria beleza, juventude e saúde.
Sendo assim, a primeira hipótese é:
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Figura 1: Esquema referente ao impacto da vaidade
H1
Procedimentos
Cirúrgicos
Uso de cosméticos e Cirurgia ocular à laser
tratamentos (a) Cirurgia na barriga
H2 Frequência de cuidados (b) H3 Lipoaspiração
Autoestima corporal (c) Implante dos seios
Vaidade Plástica facial
Envolvimento com beleza (d)
Cirurgia de nariz
Ambulatoriais
Renda (R$) Implante capilar
Variáveis Educação (anos) Botox
de controle Idade (anos) Injeções de colágeno
H2: Quanto maior a vaidade da consumidora, maior a propensão em usar cosméticos (a),
maior a frequência de cuidados (b), maior a autoestima corporal (c) e maior o envolvimento
com a beleza (d).
Poiriet (1999) aborda a questão da “coisificação” do corpo, sendo apenas uma massa de carne
e, portanto passível de transformação conforme os desejos de seu “dono”, portanto a busca
por um ideal de beleza é fortemente estimulada e valorizada (GOMES; CARAMASCHI,
2007) deixado um imenso grupo de pessoas desconfortáveis com o próprio corpo e com a
autoestima em baixa. Logo a terceira hipótese é:
H3: As atitudes frente ao uso de cosméticos (a), frequência de cuidados (b), autoestima (c) e
o envolvimento com a beleza (d) influenciam na realização de procedimentos cirúrgicos e
ambulatoriais.
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espera-se que o impacto seja positivo das variáveis de controle nas vaiáveis mediadoras e de
resposta.
3. Procedimentos metodológicos
O questionário foi elaborado incluindo-se questões demográficas tais como faixa etária,
educação e classe econômica. Essa última foi medida com o uso do Critério de Classificação
Econômica Brasil – CCEB –, que divide a população em cinco classes econômicas (A, B, C,
D e E) de acordo com a pontuação obtida pela posse de determinados bens e pelo grau de
instrução do chefe de família.
As médias, desvios padrões e a matriz de correlação para todos os itens são apresentados na
Tabela 1. A associação das variáveis do modelo pode ser vista nos coeficientes de correlação
que estão realçados. Embora várias correlações são significativas e positivas, todas elas estão
abaixo de 0,80. De acordo com Hair et al. (2005), correlações abaixo de 0,80 são necessárias
para se evitar problemas com multicolinearidade.
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Tabela 1: Correlações, desvio padrões e médias
Matriz Correlação
Variável Média Desvio Padrão
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.
7. Frequencia de Cuidados 3,39 0,94 ,10 ,13 ,01 ,13 - ,36** ,32** 1,00
8. Cosméticos e Tratamentos 4,62 1,27 ,30** ,11 - ,15* - ,01 - ,33** ,40** ,46** 1,00
9. Auto estima corporal 4,15 0,98 ,13 - ,09 - ,27** - ,05 - ,26** ,40** - ,31** ,32** 1,00
10. Envolvimento com beleza 4,85 1,46 ,16* ,01 - ,16* - ,11 - ,06 ,08 ,14* ,18* ,10
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4. Resultados da pesquisa
A amostra estudada é bastante jovem, 71% da amostra possui até 30 anos de idade com
predomínio de 78% da raça branca. Quase 57% da amostra possui o ensino superior completo,
31%, o ensino médio completo e apenas 4% possuem até o ensino fundamental completo. As
respondentes estiveram razoavelmente bem distribuídas nas classes socioeconômicas: quase
34% de classe A, 45% de classe B e 21% de classes C e D, como indicado na Tabela 2, a
seguir.
Tabela 2: Descrição da amostra por idade, nível educacional, classe socioeconômica e raça
Faixa etária N % Classe socioeconômica N %
até 19 anos 26 12,4 A1 32 15,2
entre 20 e 29 anos 124 59,0 A2 39 18,6
entre 30 e 39 anos 33 15,7 B1 44 21,0
entre 40 e 49 anos 18 8,6 B2 51 24,3
50 anos ou mais 9 4,3 C+D 44 20,9
Total 210 100,0 Total 210 100,0
Para a análise das hipóteses, foram utilizadas regressões múltiplas com a técnica dos mínimos
múltiplos quadrados, empregando-se o software SPSS 17.0. Computou-se a média simples
dos itens que refletem cada variável. A Tabela 3 apresenta os resultados dos efeitos das
variávies independentes nas variáveis dependentes. Quatro modelos foram necessários para o
teste das três hipóteses centrais. Os valores estimados do poder de explicação das equações
(R2) permite a avaliação do impacto de cada variável nas variáveis dependentes. Os
coeficientes reportados são padronizados (β) para permitir a comparação do impacto de cada
uma das variáveis. As equações apresentam nível significativo a 1% no teste F. O R2 ajustado
da equação significativa varia entre 0,233 a 0,047 e indica que os parâmetros estimados do
modelo apresentam um poder explicativo satisfatório. O poder explicativo da equação suporta
a avaliação individual dos coeficientes.
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Tabela 3: Resultados das Análises de Regressão
Cosméticos e Frequencia de Auto estima Envolvimento com Proced
Variáveis Proced, Cirurgicos
Tratamentos Cuidados corporal beleza Ambulatoriais
Variáveis de Controle
Idade - ,11 (1,71)† ,03 (,50) - ,23 (3,68)** - ,14 (2,04)* ,16 (2,27)* ,36 (5,19)**
Educação - ,14 (2,16)* ,01 (,01) - ,03 (,53) - ,13 (1,83)† - ,13 (1,93)† - ,03 (4,50)**
Classe Socio-Econömica - ,31 (4,59)** - ,30 (4,31)** - ,20 (2,98)** - ,10 (1,29) ,05 (,67) ,06 (,77)
Variável Antecedente
Vaidade H1ab,2 ,32 (5,16)** ,25 (3,85)** ,33 (5,16)** ,05 (,77) ,15 (2,05)* ,08 (1,08)
Variáveis Mediadoras
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Foi encontrado resultado significativo para o grau de vaidade e a propensão para a realização
de procedimentos cirúrgicos (β= 0,15; p<0,05). Este resultado está em linha com o esperado
na H1a. Apesar de não existir efeito significativo da vaidade em procedimentos ambulatoriais,
o sinal do coeficiente está em linha com a H1b. A hipótese H2 é significativamente suportada
para todas as variáveis mediadoras exceto para o envolvimento com a beleza. Assim como
descrito na H2, quanto maior o grau de vaidade da mulher maior a utilização de cosméticos e
tratamentos domésticos (β= 0,32; p<0,01), a frequência de cuidados (β= 0,25; p<0,01) e a
autoestima com o corpo (β= 0,33; p<0,01).
Há evidências para que a hipótese H3a seja suportada. Os resultados mostram quanto maior o
uso de cosméticos e tratamentos domésticos de beleza, maior a propensão em realizar
procedimentos cirúrgicos (β = 0,31; p<0,01) e procedimentos ambulatoriais (β = 0,13;
p<0,10). O envolvimento com a beleza afeta marginalmente a propensão em realizar
procedimentos cirúrgicos (β = 0,12; p<0,10), assim como esperado na H3d.
As variáveis de controle apresentaram impactos diversos nas variáveis de resposta. Idade afeta
negativamente o conjunto de variáveis mediadoras de atitude ligadas a beleza. Refletindo que
quanto mais nova a mulher maior a sua preocupação com a beleza. Por outro lado, quanto
mais velha a mulher maior a propensão em realizar por procedimentos cirúrgicos e
ambulatoriais. Nível educacional afeta negativamente as variáveis mediadoras e os
procedimentos cirúrgicos. Nem todas as variáveis mediadoras são influenciadas
significativamente. Os resultados mostram que quanto maior o nível educacional menor a
preocupação com beleza. A variável de controle sócio-econômica influencia negativamente as
variáveis mediadoras, implicando que quanto maior a classe menor a atitude. Não foi
encontrado efeito significativo da classe social nos procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais.
Considerações finais
O principal objetivo deste artigo foi analisar o relacionamento entre a vaidade e suas
dimensões e a realização de tratamentos estéticos, Para atingi-lo inicialmente foi realizada
breve revisão da literatura em que se levantou autores e pesquisas já realizadas com foco na
vaidade. Vaidade não é mais associada com uma coisa ruim, um pecado, Edmonds (2002)
observa que a vaidade é vista de forma positiva quando indica um cuidado saudável com o
corpo e só é vista como ruim quando é associada à futilidade.
Não foram levantadas hipóteses para as variáveis de controle, ainda que se esperasse que a
idade afetasse o conjunto de variáveis mediadoras de atitude ligadas a beleza. Uma
contribuição interessante desse estudo é mostrar que vaidade não tem idade. A mulher jovem
tem mais envolvimento com a beleza do que a mulher mais velha, esta, no entanto, não deixa
de ser vaidosa, buscando possivelmente a fórmula do rejuvenescimento através de cirurgias
plásticas e outros procedimentos estéticos ambulatoriais. Nível educacional também afeta as
variáveis mediadoras e os procedimentos cirúrgicos de maneira negativa, talvez haja uma
avaliação mais crítica da pressão social por beleza ou mesmo coloque peso maior em outras
variáveis componentes de sua autoestima.
A principal contribuição deste trabalho está no estudo das relações entre os procedimentos
estéticos e a vaidade, pois não foram encontradas evidências dessa relação na literatura
estudada. Vaidade está diretamente relacionada à propensão na realização de procedimentos
cirúrgicos, ainda que não seja significativa para procedimentos ambulatoriais. É curioso
observar que as mulheres não ficam satisfeitas apenas em tratamentos cosméticos, querem
mais, afinal beleza é uma conquista, tanto um direito como um dever. (LIPOVETSKY, 2000)
Quanto maior o uso de cosméticos e tratamentos domésticos de beleza, maior a propensão em
realizar procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais. O envolvimento com a beleza afeta apenas
marginalmente a propensão em realizar procedimentos cirúrgicos, talvez o envolvimento se
manifeste nos cuidados cotidianos e não nas grandes intervenções.
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