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HISTÓRIA INTEGRADA

Módulos 8 – Esparta
1 – Dividindo o tempo 9 – Atenas
2 – Pré-História 10 – Período Clássico
3 – Mesopotâmia 11 – Roma: Monarquia
4 – Egito 12 – Roma: República
5 – Fenícia e Israel 13 – A expansão republicana
6 – Pérsia 14 – A crise da República
7 – Grécia: Períodos Pré-Homérico e 15 – Alto Império Romano
Homérico 16 – Baixo Império Romano

Palavras-chave:
• Tempo
Dividindo o tempo
1 • Cronologia
• Calendário

1. O nascimento da Era Cristã do sol ao Natal. Em 1582, o papa Gregório XIII resolveu
reformar o calendário juliano e adaptá-lo às festas
A História tem de ser pensada em termos de tempo cristãs, daí o nascimento do calendário cristão grego-
ou não é História. É a sucessão dos acontecimentos, riano que utilizamos hoje em dia.
obedecendo a uma ordem cronológica, que forma o seu
Foi somente a partir do século XIX, com a corrida co-
material de estudo, facilitando a sua compreensão.
lonialista e a necessidade de padronização para facilitar o
Portanto, para começar a entendê-la, é preciso saber
como os acontecimentos foram classificados. comércio mundial, que o calendário e a cronologia cris-
tãos foram impostos aos povos não cristãos do mundo.
A unidade de tempo mais conhecida é o dia, mas é
uma unidade muito pequena. Os meses são unidades Outros calendários
maiores, mas ainda assim muito pequenas. Por isso,
utilizamos basicamente os anos. A datação dos anos era Embora o gregoriano seja aceito universalmente,
feita, na Antiguidade, a partir dos reinados dos sobe- cada povo tem uma forma diferente de contar o tempo
ranos, da fundação de cidades pelos romanos ou de cer- e o faz por ciclos naturais: o solar de 365 dias ou o lunar
tos acontecimentos importantes como os Jogos de 30 dias.
Olímpicos na Grécia. Entre os solares estão o gregoriano, o juliano e o
Durante os primeiros cinco séculos que se suce- maia. Já entre os lunares podemos citar o chinês, que
deram ao nascimento de Cristo, ainda se usava na inicia sua datação a partir do governo do patriarca
Europa uma tríplice cronologia: a fundação de Roma, o Huangti; o judaico, que tem como ponto de partida a
nascimento de Cristo e a data de início de um deter- criação do mundo; o islâmico, que utiliza a Hégira, fuga
minado reinado. de Maomé de Meca para Medina em 622 d. C.
Por muito tempo, seguiu-se o calendário juliano, Durante a Revolução Francesa, decidiu-se que os
criado por Júlio César em 46 a. C. No século VI d. C., o anos seriam contados a partir da proclamação da
monge Dionísio, o Pequeno, procurou estabelecer o República e, mais tarde, Napoleão, em seu governo,
suposto ano do nascimento de Cristo e adequar a festa restabeleceu o calendário cristão.

HISTÓRIA 1
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A universalização da cronologia cristã fez com que Sobre essa divisão tradicional, é preciso considerar
os anos anteriores ao nascimento de Cristo fossem que se trata de um critério sobretudo político, em que
contados de trás para diante. Assim, temos o ano 10 d. os marcos fundamentais são todos ligados à história
C., que corresponde a 10 anos após o nascimento de política. Se considerássemos outros aspectos (econô-
Cristo, e o ano 10 a. C., isto é, 10 anos antes do nasci- micos, so ciais, reli giosos), pode ría mos en contrar
mento de Cristo. Observe que, como não existe um ano outras datas mais significativas. Como exemplo, o
0 na referida cronologia, o nascimento de Cristo situa-se Descobrimento da América, em 1492, é muito mais
já no ano 1 d. C., ou simplesmente ano 1. importante para a História do Ocidente do que a
Cem anos constituem um século. O primeiro século tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.
da Era Cristã começa com o nascimento de Cristo e vai Além do mais, situar um período de mudanças em
até o ano 100. Do ano 101 ao ano 200, temos o segundo uma única data é uma limitação muito séria, porque
século. Daí em diante, a cronologia segue a mesma uma época de transição não pode ser reduzida a
ordem. apenas um ano.
O mesmo acontece se quisermos contar os séculos
antes de Cristo: 765 a. C. pertence ao século VIII; 1598 Idade Antiga
a. C. pertence ao século XVI. O mecanismo somente
não vale quando o ano termina em dois zeros (final de A História inicia-se exatamente no momento em
século). Por exemplo, o ano 800 pertence ao século VIII que apareceram os documentos escritos; ora, como
e 1900 ao século XIX. eles surgiram em torno do IV milênio a. C., quer dizer,
por volta de 4000 a. C., podemos dizer que aí começa
Em resumo, os anos 1, 2, 3, ..., 98, 99 e 100 formam
a História propria men te dita. O perío do an terior
o primeiro século da Era Cristã. Para os demais anos,
utilize uma regra simples para a contagem dos séculos: somente pode ser reconstituído com base em docu-
se o ano terminar em 00, separe os dois últimos algaris- mentos não escritos. É necessário, portanto, interrogar
mos da direita (00) e o número que está à esquerda documentos “mudos” (instrumentos, armas, dese-
indica o século; se o ano não terminar em 00, separe os nhos, pinturas, restos) e, por isso, chamamos a esse
dois algarismos que formam a dezena e acrescente uma período de Pré-História.
unidade ao número que está à esquerda. A Antiguidade divide-se em Oriental e Ocidental –
ou Clássica. Com relação à primeira, estudamos as
Exemplos: civilizações surgidas no Oriente Médio, como os
egípcios, meso po tâmios (sumérios, babilônios e
476 – século V 1993 – século XX
assírios), fenícios, hebreus e persas. A respeito da
800 – século VIII 2000 – século XX segunda, analisamos a civilização grega e a romana.
1453 – século XV 2001 – século XXI Este período se encerra com a queda do Império
Romano do Ocidente por meio das invasões bárbaras.
Dez séculos ou mil anos formam um milênio;
assim, estamos no início do terceiro milênio depois de Idade Média
Cristo. A um período de 25 a 30 anos damos o nome O período medieval inicia-se com a queda de Roma
de geração, porque corresponde à média entre o e estende-se até a queda de Constantinopla em 1453
nascimento de um indivíduo e o momento em que ele (ou ainda o fim da Guerra dos Cem Anos), sendo a fase
constitui família e começa a procriar. Para a contagem
em que o feudalismo se formou, se consolidou e
do tempo, também se utiliza a década, que
iniciou a sua decadência, dando origem ao nascimento
corresponde a um período de dez anos. Assim, quando
do capitalismo.
citamos a década dos anos 60, do século XX, estamos
nos referindo ao período que começa em 1961 e
Idade Moderna
termina em 1970. Ainda é utilizada a expressão época
para especificar o período dominado por uma grande Neste período, estudamos a transição feudo-capita-
personalidade, como a Época de Péricles, na Grécia; lista, em que as características feudais são suplantadas
de Augusto, em Roma etc. aos poucos pelo capitalismo, até este se tornar dominan-
te. Seu marco final é a eclosão da Revolução Francesa em
2. Os períodos da História 1789.

Costuma-se dividir a História em períodos. Eles Idade Contemporânea


facilitam o trabalho do historiador; são cômodos, embora
superficiais. De fato, como não notamos a constante Nesta fase, ocorre a expansão e consolidação do ca-
continuidade no processo histórico, essas divisões têm pitalismo pelo mundo e seus efeitos perduram até os
um caráter meramente didático. dias atuais.

2 HISTÓRIA
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O conhecimento da História

A análise da causa como ligado ao efeito por um vínculo mais As mentalidades


instrumento do conhecimento direto, e quase não podemos evitar o A história das mentalidades obriga o
histórico sentimento de que só ele verdadei- historiador a interessar-se mais de perto
ramente o produziu. Aos olhos do senso por alguns fenômenos essenciais de seu
Suponhamos um homem a andar por
comum, que ao falar de causa tem domínio: as heranças, das quais o estudo
um caminho da montanha. E que tropeça
sempre dificuldade em desembaraçar-se ensina a continuidade, as perdas, as rup-
e cai num precipício. Para que se desse
de um certo antropomorfismo, este com- turas (de onde, de quem, de quando vem
um acidente, houve que verificar-se o
ponente da última hora, este componente esse hábito mental, essa expressão, esse
concurso de um grande número de ele-
particular e inopinado, assemelha-se um gesto?); a tradição, isto é, as maneiras
mentos determinantes. Entre outros,
pouco ao artista, que dá forma a uma pelas quais se reproduzem mentalmente
estes: a existência da gravidade, a pre-
matéria maleável já toda pronta. as sociedades, as defasagens, produto do
sença de um relevo, resultante ele próprio
de longas vicissitudes geológicas; o retardamento dos espíritos em se adap-
traçado do caminho, destinado, por História e verdade tarem às mudanças, e da inegável rapidez
exemplo, a ligar uma aldeia às suas pas- com que evoluem os diferentes setores
O raciocínio histórico, na sua prática
tagens de verão. Será, pois, perfeita- corrente, não procede de outro modo. Os da história. Campo de análise privilegiado
mente legítimo afirmar que, se as leis da antecedentes mais constantes e mais para a crítica das concepções lineares a
mecânica celeste fossem diferentes, se a gerais, por muito necessários que sejam, serviço histórico. A inércia, força histórica
evolução da Terra tivesse sido outra, se a continuam a ser simplesmente suben- capital, mais fato referente ao espírito do
economia alpestre não se baseasse na tendidos. Qual é o historiador militar que que à matéria, uma vez que esta evolui
transumância sazonal, não se teria pensará colocar entre as razões de uma frequentemente mais rápido que o primei-
verificado a queda no precipício. Mas se vitória a gravitação, que explica as tra- ro. Os homens servem-se das máquinas
perguntarmos entretanto: qual foi a jetórias dos obuses, ou as disposições que inventam, conservando as mentalida-
causa? Toda a gente dirá: o passo em fisiológicas do corpo humano, sem as des anteriores a essas máquinas. Os au-
falso. Não é que esse antecedente fosse quais os projéteis não provocariam tomobilistas têm um vocabulário de cava-
o mais necessário ao acontecimento. ferimentos mortais? Já os antecedentes leiros; os operários das fábricas do século
Muitos outros o eram no mesmo grau. mais particulares, mais dotados ainda de XIX, a mentalidade dos camponeses,
Mas distingue-se dos demais por vários uma certa permanência, formam o que se seus pais e avós. A mentalidade é aquilo
caracteres muito flagrantes: foi o último a convencionou chamar as condições. O que muda mais lentamente. História das
dar-se; era o menos permanente, o mais mais especial, aquele que no feixe das mentalidades, história da lentidão na
excepcional na ordem geral do mundo; e, forças gerais representa, de qualquer história.
finalmente, por virtude mesmo desta modo, o elemento diferencial recebe de
menor generalidade, a sua intervenção preferência o nome de “causa”.
(Jacques Le goff; Pierre Nora. História: Novos
parece a que poderia ter sido mais (Marc Bloch Introdução à História. Lisboa: Objetos. In As Mentalidades: uma História
facilmente evitada. Por todas estas Publicações Europa-América, Ambígua. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
razões, o passo em falso pode parecer 1976. p. 164-165.) p. 71-72.)

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Exercícios Resolvidos

Leia os dois documentos a seguir e responda a questão .

 Considerando os dois documentos, podemos afirmar


que a natureza do pensamento que permite a datação
da Terra é de natureza
a) científica no primeiro e mágica no segundo.
b) social no primeiro e política no segundo.
c) científica no primeiro e religiosa no segundo.
d) religiosa no primeiro e econômica no segundo.
e) matemática no primeiro e algébrica no segundo.
Resolução
As referências bíblicas, no primeiro documento, e as alusões a “isó-
topos de urânio” e “meias-vidas radioativas”, no segundo, indiciam
claramente o caráter religioso de um e a natureza científica do outro.
Note-se a redação tautológica do enunciado: “…a natureza do pensa-
mento… é de natureza…”
Resposta: C

Utilize o texto para responder a questão .


Pelo olhar do poeta, também é possível compreender determinados aspectos essenciais para a conceituação de História. Leia, por exemplo, Carlos
Drummond de Andrade:
“Aconteceu há mil anos?
Continua acontecendo.
Nos mais desbotados panos
estou me lendo e relendo.”

Ou, ainda, do mesmo autor:

“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

 (UnB – MODELO ENEM – modificada) – Com o auxílio das observações de Drummond, julgue os seguintes itens, referentes ao conceito de
História e ao ofício do historiador.
I. Tendo por objeto o estudo do passado, a História parte das contingências da “vida presente” para inquirir aquilo que passou.
II. Especialmente em épocas de crise generalizada, sobressai o papel que se espera do historiador: lembrar o que os outros esqueceram.
III. O autor transmite a ideia de que o passado é continuamente reescrito, a partir de cada presente e de seus novos interesses, eliminando,
assim, a possibilidade de a História conter um caráter científico.
IV. A reconstrução do passado, exatamente como ele ocorreu, é o que fazem os historiadores, independentemente de suas convicções
ideológicas e pessoais.

Resolução
A afirmativa III está incorreta, porque a História é uma ciência que utiliza uma metodologia e critérios próprios, apesar do historiador interferir com
os seus valores e interesses na sua produção historiográfica.
A afirmativa IV está incorreta, pois é impossível reconstruir o passado, exatamente como ele ocorreu. Cabe ao historiador realizar um trabalho
investigativo de recomposição a partir dos dados existentes. Na falta desses dados, as conclusões serão sempre parciais.

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Exercícios Propostos

 Por ser muito ampla e abrangente, a História pode ser c) o calendário cristão foi adotado universalmente porque,
fragmentada em vários aspectos do conhecimento, ajudando a sendo solar, é mais preciso que os demais.
relação das partes com o todo. Cite três ciências auxiliares da d) a religião não foi determinante na definição dos calendários.
História e defina-as. e) o calendário cristão tornou-se dominante por sua antigui-
dade.
RESOLUÇÃO:
Economia: estudo da produção, distribuição e consumo de bens e RESOLUÇÃO:
serviços; Antropologia: estudo dos “modos de vida” dos grupos O enunciado já determina a “variedade” na contagem do tempo em
sociais e da evolução da espécie humana; Arqueologia: estudo “diversas sociedades” e destaca a importância da religião na
dos materiais remanescentes de grupos sociais extintos. formação cultural de diversos povos, exigindo-se do examinando
apenas saber que, nas relações internacionais, é atualmente
utilizado o calendário cristão.
 Indique os séculos que correspondem às datas abaixo: Resposta: B

XX XVIII
1993 – século __________ 1789 – século ________

1453 – século XV
__________ 476 – século V
________  (MODELO ENEM) – O quadripartismo histórico, que divide
a história da humanidade em quatro “Idades”, é atualmente
XV
1500 – século __________ refutado pela maior parte dos estudiosos, uma vez que estes
entendem que os processos de transformação históricos são
 Relacione as colunas e assinale a alternativa correta:
muito mais complexos e não podem ser resumidos em apenas
um ano. Afirmar que a Idade Média termina em 1453 é partir do
A) Nascimento de Cristo
princípio de que apenas a Europa passou por mudanças
B) Hégira
relevantes nesse ano, ignorando qualquer outra civilização
C) Criação do mundo
presente em todos os outros continentes. Em outras palavras,
D) Proclamação da Convenção em 1792 (Vindimário)
esta divisão perpetua a visão eurocêntrica construída desde os
Descobrimentos até o início do século XX.
( ) Marca o início do calendário muçulmano.
( ) Marca o início do calendário judeu.
Com base no texto, assinale a alternativa correta
( ) Marca o início do calendário cristão.
a) a divisão da História em “Idades” desrespeita as sociedades
( ) Início do calendário revolucionário francês.
africanas e asiáticas, porém considera a América, uma vez
a) D, C, A e B. b) A, D, B e C. c) B, A, C e D.
que ela já havia sido “descoberta” pelos europeus na época
d) B, C, A e D. e) C, D, A e B.
que tal divisão foi feita.
RESOLUÇÃO: b) as “Idades” históricas valorizam a sociedade europeia, pois
A marcação do tempo difere de uma cultura para outra e obede- em outros continentes não havia a presença de sociedades
ce a critérios religiosos ou políticos. evoluídas o suficiente para possuírem escrita.
Resposta: D c) tal divisão histórica foi feita num momento em que a Europa
se considerava o centro das decisões tomadas no mundo
 Os quatro calendários apresentados abaixo mos- (século XIX) e, portanto, enfatiza suas mudanças como as
tram a variedade na contagem do tempo em mais importantes inclusive para as outras sociedades.
diversas sociedades. d) quando o quadripartismo foi criado, nenhuma sociedade,
além da europeia, possuía força militar suficiente para se
impor ao “velho mundo” e questionar tal visão.
e) A divisão em “Idades”, apesar de não ser a ideal, é a
melhor maneira de se estudar História, pois a visão
europeia foi sempre a mais justa, uma vez que eles eram o
único povo com capacidade tecnológica e alcance mundial
para tal tarefa.

(Adaptado de Época, n.° 55, 7 de junho de 1999.) RESOLUÇÃO:


O quadripartismo histórico foi feito para atender os interesses
Com base nas informações apresentadas, pode-se afirmar que civilizatórios europeus frente às demais civilizações, no final do
a) o final do milênio, 1999/2000, é um fator comum às dife- século XIX. Ao reduzir o papel dos povos não europeus nas
rentes culturas e tradições. transformações ocorridas no processo histórico, a Europa se
b) embora o calendário cristão seja hoje adotado em âmbito autoafirmava como o projeto de desenvolvimento hegemônico,
sobrepondo suas mudanças políticas, econômicas e sociais às das
internacional, cada cultura registra seus eventos marcantes
demais sociedades.
em calendário próprio. Resposta: C

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Palavras-chave:

Pré-História • Caça e coleta


2 • Pedra lascada

Paleolítico Inferior e Superior: 2. A Revolução Neolítica


de 2 600 000 a.C. a O Período Neolítico marca uma profunda
transformação das relações do homem com a natureza,
10 000 a.C. denominada Revolução Agrícola. Nesse período,
verifica-se a passagem da economia de depredação (em
O Paleolítico Inferior (do grego paleos = antigo + que o homem se preocupa apenas com sua sobrevivên-
lithos = pedra) é o período mais longo da Pré-História. cia, destruindo recursos naturais) para uma economia de
Ele abrange a fase das glaciações, quando prolongadas produção: quando o homem começa a plantar e aper-
baixas da temperatura provocaram a expansão da feiçoar, pela seleção, ervas, raízes e frutos comestíveis.
calota polar, alterando profundamente o clima do É também a fase em que se inicia a domesticação
Hemisfério Norte. A América do Sul também sofreu de animais. O homem resolve adaptar o meio geográfico
glaciações, mas antes que o homem nela se fixasse. às suas necessidades e não mais se ajustar a esse meio.
Os geólogos identificam quatro glaciações no A vida em grupo permite a dinamização da agri-
cultura e do pastoreio. O próprio processo de seden-
Hemisfério Norte. Elas começaram cerca de 600 000
tarização garante o desenvolvimento da agricultura e da
anos atrás e se prolongaram, intercaladas com longos
pecuária, assim como a melhoria de vida, promovendo
períodos mais cálidos, até perto de 10 000 a.C. então um aumento populacional.
Durante as épocas glaciais, os ancestrais do homem
Quanto mais cresce o grupo, mais é necessário
atual abrigavam-se em cavernas e viviam basicamente
semear; e, assim, os mais jovens podem ser utilizados
da caça; às vezes, a escassez de alimento os obrigava como força de trabalho no pastoreio e em serviços leves
ao nomadismo. Para abater os grandes mamíferos que no campo.
viveram nessas fases de baixas tempera turas
O homem é caçador ainda. Entretanto, cada vez mais
(mamutes, rinocerontes lanudos, bisões e alces), os
passa a percorrer maiores distâncias para que possa
homens começaram a organizar-se em grupos e a encontrar caça, cabendo à mulher o desenvolvimento da
estabelecer laços de cooperação e solidariedade, pois agricultura. Mesmo assim, segundo mostra a Arqueologia,
disso dependia a própria sobrevivência da espécie. nos períodos intermediários de caça, o preparo da terra e
O maior passo dado pelo homem no Paleolítico In- as atividades mais difíceis eram encargos masculinos.
ferior deveu-se ao Homo erectus. Trata-se da utilização A vida em sociedade vai se desenvolvendo. O homem
do fogo, que lhe permitiu aquecer-se, obter iluminação vai aperfeiçoando ferramentas e armas que facilitam a vida
à noite, afastar animais ferozes e cozer alimentos. em comunidade e o contato com a natureza. O aumento
da produtividade agrícola cria a necessidade de encontrar
O Paleolítico Superior coincide aproximadamente
utensílios para armazenar alimentos. Para tanto, desen-
com a última glaciação. O homem de Cro-Magnon (o
volveram-se as técnicas para a fabricação de cerâmica.
primeiro Homo sapiens sapiens que conhecemos),
Outros instrumentos deviam ser testados e o plantio do
que surgiu por volta de 40 000 a.C., é o representante algodão e a tosa da lã vão permitir ao homem a fabricação
característico do período. Essa subespécie do Homo de tecidos, o que exige conhecimentos e cultivo de deter-
sapiens dividiu-se em várias culturas locais, minadas plantas, além da técnica de tecer.
distribuídas pela Espanha, pelo Sul da França e pela Nas comunidades, a terra era de uso coletivo, as
Europa Centro-Oriental. técnicas de plantio eram precárias e quase não sobrava
Os Cro-Magnon ainda eram coletores, caçadores e excedente de produção. O homem ainda não havia
pescadores. Seus instrumentos, porém, passaram por completado seu processo de sedentarização.
transformações. Como o gelo da glaciação dificultava a Em torno dessa nova realidade econômica, a
obtenção de pedras, diversos utensílios começaram a sociedade também passou por transformações. Os
ser confeccionados com ossos e marfim; o arco e a homens organizaram-se na chamada comunidade
flecha surgiram nesse período, bem como arpões e primitiva, fundada a partir de laços de sangue, idioma e
agulhas. costumes. A posição social do indivíduo dependia do

Neolítico: referente ao período da pedra nova, também chamado de Idade da Pedra Polida (18 000 a 5 000 a. C.).
Sedentarização: ato de sedentarizar-se, isto é, ter habitação fixa.

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grau de parentesco que possuía com os membros do pois surgiu a técnica da fundição do estanho, que
grupo, começando a estruturar-se o conceito de família. permitiu a obtenção do bronze, resultado da liga desses
A característica marcante desse período é a presença dois minérios. Por volta de 3000 a. C., o bronze era pro-
de monumentos megalíticos, grandes blocos de pedra, duzido no Egito e na Mesopotâmia, estendendo-se sua
que possuíam um caráter funerário, pois os mortos eram utilização, a partir daí, para algumas regiões da Europa.
enterrados junto a eles, geralmente com seus pertences. O conhecimento da metalurgia do ferro é posterior ao
Esses monumentos são representados pelos: do cobre, tendo início apenas por volta de 1500 a. C., na
menires, simples pedras fincadas no chão; dolmens, Ásia Menor. Sua difusão, porém, foi mais lenta, em
compostos de duas pedras fincadas verticalmente no virtude da dificuldade de extração e da necessidade de
chão sobre as quais repousa uma terceira, horizon- uma temperatura de fundição muito alta. Desta forma, o
talmente; cromlechs, formados por pedras dispostas em cobre continuou predominando. No entanto, a resistência
fileiras em torno de um dólmen. do ferro para a fabricação de armamentos contribuiu para
a supremacia dos povos que souberam utilizá-lo com esta
finalidade.
As pequenas comunidades primitivas transforma-
ram-se em cidades grandes e povoadas, dando origem a
uma Revolução Urbana. Nesses novos centros, a eco-
nomia primitiva foi substituída por uma agricultura
intensiva, permitindo a produção de excedentes, além
do desenvolvimento do artesanato, da manufatura e do
comércio. Os homens passaram a utilizar a força de
tração animal e dos ventos, a usar o carro de rodas e o
barco a vela. A nova economia que se estabeleceu pas-
sou a exigir processos de contagem e padrões de me-
A evolução do homem. Da esquerda para a direita: Australopithecus,
Homo habilis, Homo erectus, Homo sapienses neanderthalensis e dida e deu origem à escrita.
Homo sapiens sapiens. A apropriação dos excedentes agrícolas e artesanais
apenas por alguns membros das comunidades gerou as
3. A Idade dos Metais diferenciações sociais. Para manter seu domínio sobre a
Aos poucos, o conhecimento técnico do homem propriedade e sua posição social, alguns indivíduos
estendeu-se à fundição de metais, sendo abandonados passaram a organizar o poder político, com a finalidade de
progressivamente os instrumentos de pedra. O primeiro arbitrar os antagonismos sociais, o que culminou no
metal a ser fundido foi o cobre, por ser pouco duro; de- aparecimento do Estado.

4. Cronologia geral da Pré-História


PERÍODOS CARACTERÍSTICAS SOCIEDADES

Sociedade comunitária.
Paleolítico Esboço de organização social.
Coup de poing (machado manual sem cabo).
Inferior Nascimento da instituição familiar.
Coup de poing aperfeiçoado e lascas.
(500 000 a. C. a Domínio do fogo.
Início do emprego de ossos na confecção de objetos.
30 000 a. C.) Rudimentos de linguagem.
Indícios de rituais funerários. Primeiras práticas de magia.

Nascimento da arte por meio da magia.


Utilização de ossos, chifres e pedras lascadas.
Instrumentos especiais para gravar e esculpir. Organização social mais complexa (agrupamentos basea-
Paleolítico Pequenas esculturas (Vênus de Willendorf). dos em famílias e clãs).
Superior Bastões de comando. Redução do nomadismo.
(30 000 a. C. a Auge do trabalho com sílex. Desenvolvimento da linguagem.
18 000 a. C.) Lâminas e pontas de arpão dentadas. Maior diversidade de ritos funerários.
Atiradores de dardo. Uso mais frequente da magia.
Apogeu da arte das cavernas (Altamira e Lascaux).
No final, declínio da produção artística.

HISTÓRIA 7
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PERÍODOS CARACTERÍSTICAS SOCIEDADES


Agricultura.
Formação da consciência de ser social.
Neolítico Domesticação de animais.
Embrião da vida urbana organizada em aldeias.
(18 000 a. C. a Teares simples (cordas, tecidos e redes trançadas).
Sedentarismo mais frequente.
5 000 a. C.) Cerâmicas.
No final, esboço de concepções religiosas.
Barcos.
Idade dos Vida urbana, agrícola e pastoril.
Emprego de cobre, bronze, ferro e outros metais. Sociedade estratificada.
Metais
(5 000 a. C. a Avanço técnico na agricultura, transporte e indústria. Surgimento do Estado e da religião, agora como
4 000 a. C.) Escrita. instituições definidas.

Exercícios Resolvidos

(UFPel – MODELO ENEM) – Leia os dois  Os textos analisam  Segundo a explicação mais
textos e responda à questão . a) o final do Período Neolítico e se posicionam difundida sobre o povoamento
de forma convergente quanto ao papel da América, grupos asiáticos teriam chegado a
Texto 1 revolucionário desempenhado pela agricul- esse continente pelo Estreito de Bering, há 18
“Em todo o mundo, a leste e a oeste, as tura e pela domesticação dos animais. mil anos. A partir dessa região, localizada no
populações começaram a trocar a dependência b) o início do Período Neolítico e divergem entre extremo noroeste do continente americano,
às hordas de grandes animais, muitas das si a respeito da existência da Revolução esses grupos e seus descendentes teriam
quais em rápido declínio, pela exploração de Neolítica, pois enquanto um indica uma migrado, pouco a pouco, para outras áreas,
animais menores e de plantas. [...] Onde as transformação radical, o outro destaca a chegando até a porção sul do continente.
condições fossem particularmente adequadas simultaneidade da caça, coleta e agricultura. Entretanto, por meio de estudos arqueológicos
[...], as peças do quebra-cabeça da domes- c) o início do Paleolítico Inferior e são realizados no Parque Nacional da Serra da
ticação se acomodaram e os coletores trans- contraditórios entre si, no que se relaciona Capivara (Piauí), foram descobertos vestígios da
formaram-se em agricultores.” aos efeitos da agricultura, dentre eles a presença humana que teriam até 50 mil anos de
sedentarização humana. idade.
(Alfred W. Crosby. Imperialismo ecológico. Validadas, as provas materiais encontradas
d) o final do Paleolítico Superior, no momento
São Paulo: Companhia das Letras, 1993.) pelos arqueólogos no Piauí
em que ocorreu a Revolução Agrícola,
a) comprovam que grupos de origem africana
ambos afirmando que a caça e a coleta
Texto 2 cruzaram o Oceano Atlântico até o Piauí há
foram suprimidas pela agricultura.
“Os historiadores acostumaram-se a 18 mil anos.
e) a Transição Mesolítica, e concordam que,
separar a coleta e a agricultura como se b) confirmam que o homem surgiu
com o cultivo das plantas e a criação de ani-
fossem duas etapas da evolução humana primeiramente na América do Norte e,
mais, ocorreu a suspensão das atividades
bastante diferentes e a supor que a passagem depois, povoou os outros continentes.
de caça e coleta, provocando a Revolução
de uma à outra tivesse sido uma mudança c) contestam a teoria de que o homem
Neolítica.
repentina e revolucionária. Hoje, contudo, americano surgiu primeiro na América do
Resolução Sul e, depois, cruzou o Estreito de Bering.
admite-se que essa transição aconteceu de
A explicação dada no primeiro texto apresenta d) confirmam que grupos de origem asiática
maneira gradual e combinada. Da etapa em
uma visão cartesiana da evolução humana, cruzaram o Estreito de Bering há 18 mil anos.
que o homem era inteiramente um caçador
enquanto o segundo texto demonstra que e) contestam a teoria de que o povoamento
coletor passou-se para outra em que começava
houve uma simultaneidade das atividades. da América teria iniciado há 18 mil anos.
a executar atividades de cultivo de plantas
Entretanto, cabe lembrar que, admitindo-se Resolução
silvestres [...] e de manipulação dos animais
uma evolução no desenvolvimento técnico e Os estudos arqueológicos no Parque Nacional
[...]. Mas tudo isso era feito como uma
social da espécie, ela não ocorreu da Serra da Capivara (PI) apontam para uma
atividade complementar da coleta e da caça.”
uniformemente em todos os agrupamentos origem do homem americano muito mais
(Cláudio Vicentino. História para o ensino médio: humanos espalhados pelo planeta Terra. remota (50 mil anos) do que a teoria da “ponte
história geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, Resposta: B de gelo” no Estreito de Bering (18 mil anos).
2005.) Resposta: E

Exercícios Propostos

 Por que podemos dizer que o processo de datação que


considera o início da História com a invenção da escrita é de
certa forma pouco científico?

RESOLUÇÃO:
Porque estabelece um critério dado pelos ocidentais sem consi-
derar outros aspectos relevantes das culturas.

8 HISTÓRIA
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IV. Os homens ainda não produziam seus alimentos, não


plantavam, nem criavam animais. Em verdade, eles coleta-
vam frutos, grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.

É correto o que se afirma apenas em


a) I e II. b) II e III. c) III e IV.
d) I, II e III. e) II, III e IV.
Copo de ouro do Mar
Egeu (ao lado) e espadas
RESOLUÇÃO:
de bronze (abaixo).
A afirmativa III está errada, pois esses navios começaram a ser
fabricados quando se formaram as civilizações, portanto, numa
fase posterior à Pré-História.
A afirmativa IV está errada, porque as atividades descritas fazem
parte do Período Paleolítico, que antecede ao Neolítico.
Resposta: A

 (ESAN) – Sobre a conhecida Idade dos Metais, na transição


entre a Pré-História e a História, é possível afirmar que  A tribo não possui um rei, mas um chefe que
a) foi marcada pela utilização do cobre, bronze e ferro, na não é chefe de Estado. O que significa isso?
produção de armas, instrumentos agrícolas, utensílios Simplesmente que o chefe não dispõe de nenhuma
domésticos etc. autoridade, de nenhum poder de coerção, de nenhum meio de
b) apenas o bronze pode efetivamente ser apresentado como dar uma ordem. O chefe não é um comandante, as pessoas
o primeiro metal utilizado. da tribo não têm nenhum dever de obediência. O espaço da
c) os homens lutavam entre si, enquanto a economia chefia não é o lugar do poder. Essencialmente encarregado de
continuava coletora. eliminar conflitos que podem surgir entre indivíduos, famílias
d) a vida nômade dos primeiros grupos humanos foi um e linhagens, o chefe só dispõe, para restabelecer a ordem e a
estímulo para o uso dos metais. concórdia, do prestígio que lhe reconhece a sociedade. Mas
e) não existe ligação entre o uso dos metais e a formação de evidentemente prestígio não significa poder, e os meios que o
grandes impérios. chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se
ao uso exclusivo da palavra.
RESOLUÇÃO:
(CLASTRES. P. A sociedade contra o Estado.
O homem sedentário percebeu que certas rochas (minérios) derretiam
quando submetidas ao fogo constante e que poderiam ser moldadas. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1982. Adaptado.)
Resposta: A
O modelo político das sociedades discutidas no texto contrasta
com o do Estado liberal burguês porque se baseia em:
a) Imposição ideológica e normas hierárquicas.
b) Determinação divina e soberania monárquica.
c) Intervenção consensual e autonomia comunitária.
d) Mediação jurídica e regras contratualistas.
 (MODELO ENEM) – “O Período Neolítico marca uma e) Gestão coletiva e obrigações tributárias.
profunda transformação das relações do homem com a
RESOLUÇÃO:
natureza, denominada Revolução Agrícola. Nesse período,
O texto evoca o exemplo de sociedades tribais hierarquizadas mas
verifica-se a passagem da economia de depredação (em que o sem Estado e, portanto, sem coerção, organizadas por consensos
homem se preocupa apenas com sua sobrevivência, devastando entre indivíduos, famílias e linhagens, para mostrar a possibilidade de
os recursos naturais) para uma economia de produção.” existirem sociedades desestatizadas, em que a comunidade
Com base nessas informações, escolha na relação a seguir as participaria da gestão política.
Resposta: C
hipóteses compatíveis com este período.
I. Os homens descobriram uma forma nova de obter alimentos:
a agricultura, que os obrigou a conservar e cozinhar os
cereais.
II. Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio alimen-
to, os homens não tinham mais por que mudar constante-
mente de lugar e tornaram-se sedentários.
III. Os alimentos eram transportados por navios de grande
porte, estimulando o comércio entre as várias civilizações.

HISTÓRIA 9
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Palavras-chave:
• Impérios
Mesopotâmia
3 • Teocráticos
• Crescente fértil

1. Nascimento das civilizações Os povos das planícies, agricultores, viviam assedia-


dos, desde a época dos primeiros estabelecimentos hu-
As primitivas comunidades de agricultores, autossu- manos na área, pelos povos das montanhas, que viviam
ficientes, transformaram-se em núcleos urbanos, alimenta- mais do saque e do pastoreio.
dos por suas “indústrias” (entenda-se a produção de arte-
As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam desen-
fatos) e pelo surgimento das primeiras relações comerciais.
volver-se mais, notabilizando-se por seus aspectos eco-
Numa fase em que as últimas glaciações modifi- nômicos e culturais. Surgiram assim importantes socieda-
caram o planeta, o homem fixou-se em regiões ribeiri- des hidráulicas, com a instituição de um Estado baseado
nhas, como o vale dos Rios Tigre e Eufrates, Nilo, Jor- na posse das terras e no controle das águas dos rios.
dão, Indo e Amarelo, dando origem aos povos da Anti-
guidade Oriental. Essas regiões são o berço de nossa Evolução política
civilização, ou seja, nossa herança oriental.
A Mesopotâmia possuía várias cidades-Estado
Crescente fértil: região de fertilidade em forma de importantes – Ur, Uruk, Lagash, Nipur, Nínive, entre
meia-lua, cercada por desertos e que compreende os outras. No seu comando, havia um rei, chamado patesi,
Rios Tigre, Eufrates, Orontes e Jordão. que governava de forma teocrática.
“Toda a sociedade, toda a civilização está condi- Ao sul, viviam vários povos – sumérios, acádios,
cionada por fatores econômicos, técnicos, biológicos, amoritas, caldeus etc. – e, nessa região, formou-se o
demográficos. As condições materiais e biológicas são Império Sumério-Acadiano (2800 a 2000 a. C.), no qual
sempre um fator importante no destino das civilizações. se destacou o importante rei Sargão I.
O aumento ou a diminuição da população, a saúde ou a
decadência física, o auge ou o declínio econômico ou Na parte central, constituiu-se o Primeiro Império
técnico repercutem-se tanto no edifício cultural como so- Babilônico (1800 a 1600 a. C.), em que reinou o grande
cial. A economia política, entendida no seu sentido mais Hamurábi.
lato, é o estudo de todos estes imensos problemas.” O Império Assírio (1875 a 612 a. C.), ao norte, teve
(Fernand Braudel. Le Monde Actuel,Histoire et Civilizations.
momentos de glória e decadência alternados, sendo
Senaqueribe seu grande rei. Tornou-se conhecido pela
Paris: Ed. E. Belin.)
extrema violência no trato com os cativos.
2. Sumérios, babilônios e Finalmente, estabeleceu-se o Segundo Império
Babilônico (612 a 539 a. C.) no qual sobressaíram os reis
assírios Nabucodonosor e Nabopolasar. Este último foi derrotado
O meio geográfico pelos persas durante a expansão para o Ocidente e na
região não se formou outro império.
Costuma-se dizer, geograficamente, que a Meso-
potâmia é a região do Oriente Médio compreendida entre
os Rios Tigre e Eufrates, onde predominavam condições
semelhantes às do Egito, pois os dois rios forneciam
facilidades para o transporte de mercadorias e as aves
ribeirinhas e os peixes eram abundantes. O regime dos
rios está preso ao derretimento da neve das grandes
altitudes, onde se situam suas cabeceiras, inundando as
terras e propiciando a abertura de canais de irrigação e a
construção de diques.
Apesar das enchentes periódicas dos rios, a
Mesopotâmia apresentou certas dificuldades para o
estabelecimento de populações ribeirinhas, pois essas
cheias eram irregulares. Além disso, o clima mais seco e
as doenças tropicais tornavam o trabalho do solo mais
difícil, apesar de sua fertilidade.
Ribeirinho: que se encontra ou vive próximo a rios ou ribeiras; referente aos povos que habitavam as margens dos rios.
Mesopotâmia: meso (no meio, entre); pótamos (rios).
Sociedade hidráulica: povo que dependia da força das vias fluviais e gravitava em torno delas.

10 HISTÓRIA
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Vida social e econômica A inexistência da noção de propriedade privada, no


modo de produção asiático, impediu a ocorrência do es-
Nas sociedades hidráulicas da Mesopotâmia, o
cravismo entre as comunidades camponesas. Havia es-
poder passou a se estruturar com a disputa pela posse
cravos urbanos, mas estes não podem ser considerados
das melhores áreas cultiváveis e da água. Os mais fracos
como parte de um modo de produção essencialmente
foram submetidos pelos mais fortes que, utilizando-se
ligado à agricultura.
da violência, reduziram-nos ao trabalho compulsório.
Economicamente, a Mesopotâmia vivia mais da
O homem da Mesopotâmia não era um indivíduo agricultura. As cheias dos rios eram aproveitadas para a
que se preocupava muito com a vida além-túmulo, como fertilização das terras, completando-se com a construção
era o caso dos egípcios; estava mais voltado para a vida de canais de irrigação e diques, que garantiam uma
presente, tendo por isso formado sociedades pouco produção regular de trigo e cevada.
éticas, mas bastante organizadas juridicamente.
Grande parte da população dedicava-se ao plantio e à
As grandes distâncias entre os estamentos sociais colheita. Quando as águas dos rios abaixavam, o húmus
eram marcadas: de um lado, pelo rei, apoiado por fortes fertilizante acumulava-se às margens do Tigre e do Eufra-
contingentes militares, pelos sacerdotes e pelos ricos tes, proporcionando abundantes colheitas à população.
mercadores; de outro lado, pelos artesãos, camponeses
e escravos, que viviam de maneira miserável. A situação Em razão do desenvolvimento da agricultura, a cria-
social era regulada pelo Código de Hamurábi, que ção de gado era pequena. Porém, desde o Neolítico,
acabou por prevalecer em toda a Mesopotâmia, em razão quando a produção artesanal marcou um grande avanço,
dos contatos contínuos entre os povos ali estabelecidos. os objetos de uso doméstico começaram a se aperfei-
çoar. O artesanato egípcio e o mesopotâmico, com o sur-
Modo de Produção Asiático gimento do tear e da cerâmica, apresentaram um notável
avanço e forneceram novos produtos para a sociedade. A
Nesse modo de produção, as terras cultiváveis eram construção de embarcações e a produção de tecidos
propriedade do Estado (rei) ou dos deuses (representan- desempenharam um importante papel nessas regiões.
tes do templo), mas o trabalho era executado por
camponeses com direito à posse do solo. Essa posse, O comércio da Mesopotâmia desenvolveu-se essen-
porém, tinha caráter coletivo, e não individual, já que o cialmente por causa de sua posição geográfica, visto que
trabalho era exercido comunitariamente por todos os al- é centralizadora das rotas provenientes do grande
deões. continente asiático e da África, e também pelas ligações
entre o Alto e o Baixo Eufrates. Dessa forma, surgiram
as condições para o nascimento de cidades-portos.

A religião na Mesopotâmia
Os sumérios dedicavam aos seus deuses templos,
oferendas, alimentos e sacrifícios, só que os deuses
sumerianos eram basicamente antropomórficos (seme-
lhantes à forma humana). A incapacidade em explicar os
fenômenos da natureza conduziu-os à criação de muitos
deuses, entre eles: Shamash, o Sol; Ishtar, Vênus;
Marduc, o deus principal. Esses deuses confundiam-se
com os astros do firmamento. Os sumérios buscavam a
origem do mundo na religião, desenvolvendo uma série
de lendas.
Os mesopotâmicos adotaram uma religião politeísta,
em que não lhes era acenada a vida além-túmulo, nem
havia quaisquer preocupações éticas. As orações visa-
vam à obtenção de favores dos deuses e os templos
funcionavam até mesmo como bancos, emprestando di-
nheiro a juros; serviam ainda como depósitos de cereais.
Era costume que todas as mulheres, uma vez na vida,
deveriam se prostituir com um estrangeiro e entregar o
Estela babilônica, na qual Hamurábi aparece recebendo do deus dinheiro para a manutenção do templo. O clero era
Shamash as leis que compuseram o seu famoso código, em destaque poderoso e interferia no poder político. Apoiando-se na
a escrita cuneiforme.

Compulsório: refere-se ao que não é livre; obrigatório.


Estamento: cada um dos grupos da sociedade com status jurídico próprio; sociedade na qual o nascimento e a tradição determinam a posição do
indivíduo.
Húmus: fonte de matéria orgânica, proveniente da decomposição de restos vegetais e animais, em menor escala, de grande importância na
constituição do solo.

HISTÓRIA 11
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crença da predestinação e do destino, lançaram os famo- morreu e chegou ao mundo subterrâneo, a vida se dete-
sos horóscopos, que combinavam leituras astronômicas ve na Terra e as plantas secaram. “Aquele que fazia nas-
com uma interpretação mística. cer os brotos sobre a Terra já não vive. O rei da força ter-
No Império Babilônico, região essencialmente agrí- restre já não existe.” Assim chorava a deusa Ishtar pelo
cola, acreditava-se no deus da fertilidade, representado seu falecido esposo. Com grande esforço, Ishtar atraves-
por Tamuz. O mito dessa divindade é semelhante ao sou os sete pórticos do mundo subterrâneo e devolveu
mito egípcio de Osíris. Contava-se que, quando Tamuz Tamuz à Terra. Quando regressou, toda a natureza reviveu.

3. Cronologia
IV milênio a. C.: ocupação da Mesopotâmia por povos originários da Armênia.
2800 a 2500 a. C.: chegada dos semitas à Mesopotâmia.
2500 a. C.: surgimento da primeira dinastia histórica, em Ur.
2800 a 2000 a. C.: predomínio dos sumérios e acádios.
2000 a. C.: destruição de Ur pelos elamitas.
1800 a 1600 a. C.: Primeiro Império Babilônico.
1728 a 1686 a. C.: reinado de Hamurábi na Babilônia.
Século XVI a. C.: invasão dos hititas e cassitas.
1875 a 1375 a. C.: Antigo Império Assírio.
1375 a 1047 a. C.: Médio Império Assírio.
883 a 612 a. C.: Novo Império Assírio.
745 a 728 a. C.: reinado de Teglat-falasar III.
668 a 626 a. C.: reinado de Assurbanipal.
612 a. C.: tomada de Nínive pelos medos.
612 a 539 a. C.: Segundo Império Babilônico.
605 a 563 a. C.: reinado de Nabucodonosor.
539 a. C.: conquista da Babilônia por Ciro II.
331 a. C.: conquista da Babilônia por Alexandre Magno.

O Código de Hamurábi

Encontram-se as leis de Hamurábi gravadas em um enorme bloco de pedra negra ou coluna monolítica de
2,25m de altura.
Eis alguns artigos do Código: “Se um homem negligenciar a fortificação do
seu dique, se ocorrer uma brecha e o cantão inundar-se, o homem será
condenado a restituir o trigo destruído por sua falta. Se não puder restituí-lo,
será vendido assim como os seus bens, e as pessoas do cantão de onde a
água arrebatou o trigo repartirão entre si o produto da venda. Se um homem
der a um jardineiro um campo para ser transformado em pomar, se o jardineiro
plantar o pomar e dele cuidar durante quatro anos, no quinto ano o pomar será
repartido igualmente entre o proprietário e o jardineiro; o proprietário poderá
escolher a sua parte. Se um homem alugar um boi ou um asno, e se nos
campos o leão matar o gado, é o proprietário do gado quem sofrerá a perda.
Estelas com escrita cuneiforme. Se um homem bater em seu pai, terá as mãos cortadas. Se um homem furar
o olho de um homem livre, ser-lhe-á furado um olho. Se um médico tratar da
ferida grave de outro homem, com punção de bronze, e se ele morrer, terá as mãos decepadas. Se um arquiteto
construir para um outro uma casa e não a fizer bastante sólida, se a casa cair, matando o dono, esse arquiteto é
passível de morte. Se for o filho do dono da casa quem morrer, o filho do arquiteto será também morto.”

(J. Isaac; A. Alba. Oriente e Grécia. São Paulo: Mestre Jou. p. 77.)

12 HISTÓRIA
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Exercícios Resolvidos

 (UFSM – MODELO ENEM) – “(...) E a situação sempre mais ou  (UFRS – MODELO ENEM) – O mapa a seguir apresenta a região
menos / Sempre uns com mais e outros com menos / A cidade não da Mesopotâmia.
para, a cidade só cresce / O de cima sobe e o de baixo desce / (...)”
Este trecho da música do pernambucano Chico Science (1966-
1997) e grupo Nação Zumbi nos remete à vida em cidades, processo
que passou a ser significativo na História, a partir do 4.° milênio a. C., na
Mesopotâmia.

Sobre esse processo, é correto afirmar:


a) Com o surgimento e crescimento das cidades, houve um
progressivo aumento da especialização do trabalho e da igualdade
social, enfraquecendo o poder político.
b) A diminuição da produção agrícola assegurou excedentes para a
manutenção de especialistas, desenvolvendo a urbanização em
cidades-Estado socialmente desiguais.
c) Apesar da urbanização e das novas tecnologias de irrigação, mantém-
se um Estado de caráter exclusivamente político e que não
intervém na economia, conservando a ordem social hierarquizada. A planície do Eufrates e do Tigre não constitui, como o vale do Nilo, um
d) A sedentarização do homem, o desenvolvimento de cidades, a longo oásis no meio do deserto. Ela tem fácil comunicação com outras
especialização do trabalho e uma sociedade socialmente desigual terras densamente povoadas desde tempos remotos. Por isso, a
levaram à constituição de polos de poder, como o Templo e o história da civilização mesopotâmica está marcada por uma sucessão
Palácio. de invasões violentas e de migrações pacíficas que deram lugar a um
e) Mesmo se legitimando através de conquistas militares ou como contínuo entrecruzamento de povos e culturas.
mediadores entre o mundo terreno e o mundo divino, os soberanos Entre esses povos, destacam-se
separaram a esfera política da religiosa no intuito de conservar uma a) egípcios, caldeus e babilônios.
sociedade desigual. b) fenícios, assírios e hebreus.
Resolução c) hititas, sumérios e fenícios.
As civilizações do Modo de Produção Asiático se caracterizaram pela d) sumérios, babilônios e assírios.
formação de Estados teocráticos, onde o governante se apresentava e) hebreus, egípcios e assírios.
como um deus ou o seu representante.
Resposta: D Resolução
A Mesopotâmia (região entre os Rios Tigre e Eufrates) possibilitou a
fixação de diversos agrupamentos humanos. Ao norte, os assírios; ao
centro, os babilônios e ao sul, os sumérios, que se dividiam em vários
povos: caldeus, acádios e amoritas.
Resposta: D

Exercícios Propostos

 Explique o que era o Modo de Produção Asiático.  Discorra sobre o “Crescente Fértil” e as “civilizações
hidráulicas”.
RESOLUÇÃO:
Modo de produção em que as terras eram propriedade do Estado, RESOLUÇÃO:
mas o trabalho agrícola era realizado pelos camponeses comuni- Região de extrema fertilidade, compreendida entre os vales dos
tariamente. Rios Tigre, Eufrates e Jordão. O aproveitamento das águas dos
rios promoveu o desenvolvimento agrícola e a dependência do
homem em relação a eles.

HISTÓRIA 13
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 (MODELO ENEM) – Leia este trecho do Código de Hamurábi:  “Sexto rei sumério (governante entre os
séculos XVIII e XVII a.C.) e nascido em Babel,
“Se um arquiteto construir para um outro uma casa e não a
‘Khammu-rabi’ (pronúncia em babilônio) foi fundador do I
fizer bastante sólida, se a casa cair, matando o dono, esse
Império Babilônico (correspondente ao atual Iraque), unificando
arquiteto é passível de morte. Se for o filho o dono da casa
amplamente o mundo mesopotâmico, unindo os semitas e os
quem morrer, o filho do arquiteto será também morto.”
sumérios e levando a Babilônia ao máximo esplendor. O nome
Levando-se em consideração o modo de organização da de Hamurabi permanece indissociavelmente ligado ao código
sociedade babilônica e a lei de Talião, conhecida pela frase jurídico tido como o mais remoto já descoberto: o Código de
“olho por olho, dente por dente”, este código: Hamurabi. O legislador babilônico consolidou a tradição
a) não possuiu importância histórica, uma vez que não inspirou jurídica, harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a
outros códigos jurídicos futuros. todos os súditos.”
b) deve ser valorizado por sua importância histórica, ainda que
(Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br.
possua uma noção jurídica primitiva se trazida para a
Acesso em: 12 fev. 2013. Adaptado.)
atualidade.
c) despreza as relações sociais, servindo de parâmetro apenas
Nesse contexto de organização da vida social, as leis contidas
para as primeiras civilizações do Crescente Fértil.
no Código citado tinham o sentido de
d) preservava os princípios de equidade, igualando juridi-
a) assegurar garantias individuais aos cidadãos livres.
camente pessoas pertencentes a diferentes estamentos.
b) tipificar regras referentes aos atos dignos de punição.
e) ate hoje inspira atitudes de grupos extremistas que,
c) conceder benefícios de indulto aos prisioneiros de guerra.
legitimados pelo Estado, utilizam isso como forma de
d) promover distribuição de terras aos desempregados
resolver questões de criminalidade urbana.
urbanos.
RESOLUÇÃO: e) conferir prerrogativas políticas aos descendentes de
O Código de Hamurabi foi o primeiro código de leis escritas da estrangeiros.
História, servindo de base para as civilizações subsequentes.
Porém, foi feito com base na sociedade estamental babilônica, RESOLUÇÃO:
onde prevaleciam privilégios a determinados setores sociais, além O Código de Hamurabi estabeleceu o princípio da reciprocidade,
de, se trazido para a atualidade, ferir os Direitos Humanos. no caso de o autor e a vítima pertencerem ao mesmo estamento.
Resposta: B Esse princípio é semelhante à Lei de Talião romana e à norma
bíblica do “olho por olho, dente por dente”.
Seu objetivo central era garantir regras para a comunidade,
controlando as relações sociais com duras punições aos
transgressores
Resposta: B
 (MODELO ENEM) – Considere as afirmações sobre a
Mesopotâmia e assinale verdadeiro (V) ou falso (F).
(0) Compreendia a região entre os Rios Tigre e Eufrates.
(1) O poder político nas cidades era exercido pelos
comerciantes marítimos.
(2) Os acádios, sob a chefia de Sargão, assimilaram a cultura
suméria.
(3) No Primeiro Império Babilônico, sobressaiu o rei Hamurábi
na religião.
(4) A guerra, como elemento econômico, deu aos assírios uma
característica belicosa e violenta.
(5) Nabucodonosor destacou-se no Segundo Império Babilôni-
co, construindo os Jardins Suspensos.
(6) Os zigurates expressavam sua preocupação religiosa e
científica.
(7) As cheias cíclicas dos rios impulsionaram as técnicas de
irrigação.

RESOLUÇÃO:
O item 1 é falso porque o poder era exercido pelo patesi (rei e
sacerdote). Essa característica pertence aos fenícios.
O item 3 é falso porque Hamurábi notabilizou-se pela criação do
primeiro conjunto de leis escritas.

14 HISTÓRIA
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Palavras-chave:
• Teocracia • Império
Egito
4 •Estamentos
• Cheias

1. As condições geográficas pelas inundações de um rio mais formidável que o de


hoje e infestado de animais ferozes. Essas tribos eram
das mais diversas origens.
Depois, com a seca produzida na África, durante o
período glaciário mais recente, essa parte do continente
passou progressivamente de floresta a estepe e, em
seguida, de estepe a deserto. Para escapar à seca, sua
população nômade se estabeleceu primeiramente em
volta dos lagos interiores e depois nos afluentes do Nilo;
enfim, quando também estes secaram, foram ocupar as
esplanadas dos penhascos que dominavam a imensa
vala onde corre o rio.
Foi preciso que esses povos, agrupados em famílias,
começassem por conquistar uma natureza hostil, a por-
ção do vale que lhes ficava defronte. Quando afinal
conseguiram, transferiram-se para seus novos domínios.
O Egito, então, acabou dividido em vários pequenos
principados independentes uns dos outros, conhecidos
como nomos, cada um deles liderado por um chefe: o
nomarca.
Cavando seu leito na rocha, cruzando todo o deserto
em busca do Mar Mediterrâneo, está o Rio Nilo, nascido
O Egito, localizado no nordeste da África, considerado uma “dádiva”
do Rio Nilo pelo historiador grego Heródoto de Halicarnasso.
no interior da África. Em suas margens, praticava-se a
agricultura, a qual está estreitamente ligada ao compor-
tamento do rio, uma vez que o nordeste da África é uma
Os fatores geográficos tiveram grande importância região seca e desértica, onde a água era obtida somente
para o estabelecimento das populações que se fixaram por meio de açudes e canais de irrigação. As cheias
nas diversas regiões do Oriente Próximo e do Oriente cíclicas do rio é que contribuíram para a formação de
Médio. Com a estiagem que varreu o interior africano, uma civilização peculiar, como foi a egípcia.
consequência da última grande retração dos gelos em
direção aos polos, os animais começaram a migrar em
busca de água, movidos pelo instinto de sobrevivência.
Os homens, ainda na fase pré-histórica, vivendo quase
exclusivamente da caça e da pesca, seguiram suas
trilhas, e assim, todos foram buscar refúgio no nordeste
da África, no Vale do Rio Nilo.
Para compreender o povoamento da região, é
preciso levar em conta as particularidades dele.
Em primeiro lugar, o Vale do Nilo não foi ocupado
desde o início por uma migração homogênea. Na fase do
Paleolítico, toda a África do Norte, coberta pela selva
tropical, era percorrida por tribos de caçadores, à
exceção do Vale do Nilo, devastado periodicamente Vista moderna do Rio Nilo, ainda hoje de importância vital para o Egito.

Paleolítico: referente ao período da pedra antiga (Pré-História), que antecede ao Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Lascada.
Glaciário: relativo a gelo ou geleira; referente ao período geológico da Pré-História que corresponde à fase do Paleolítico Inferior
(500 000 a 30 000 a. C.).
Nomos: espécie de clã, que se constituiu na primeira unidade econômica, social e política dos egípcios.

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O regime das cheias e vazantes do Nilo está ligado Médio Império


ao derretimento da neve nas altas montanhas do interior
africano, bem como às chuvas que abundam nas Por volta de 2000 a. C.,
cabeceiras do rio. O volume de água aumentava consi- iniciou-se o Médio Império,
deravelmente por volta de julho, arrastando sedimentos com a restauração do poder
que eram depositados nas margens alagadas: o húmus. do faraó, a partir da cidade
de Tebas. A influência do
Com isso, o solo tornava-se fértil a ponto de permitir
Egito estendeu-se a Israel
uma ótima colheita e os canais de irrigação, construídos
(Canaã) e à Núbia, por meio
desde o Período Neolítico, ampliavam a área de apro-
da expansão comercial e
veitamento agrícola. Dotado de uma vasta flora (papiros,
militar. Por volta de 1750 a.
palmeiras e trigo-selvagem) e de uma fauna abundante
C., o Vale do Nilo foi invadido
(íbis, crocodilos e hipopótamos), o Nilo sustentou uma
e conquistado pelos hicsos,
das mais antigas civilizações do mundo: o Egito.
que conheciam sofisticadas
técnicas militares. Detalhe do Templo de Ramsés II.
2. A evolução política
À medida que a população explorava a fértil área
Novo Império
localizada às margens do Rio Nilo, os nomos se Durante o período de dominação estrangeira, os
agruparam, dando origem a dois reinos: um ao norte, no egípcios assimilaram os conhecimentos de guerra dos
Baixo Egito, e o outro ao sul, no Alto Egito. Por volta de inimigos e, por volta de 1580 a. C., os invasores
3200 a. C., Menés, um nomarca do sul, conquistou o acabaram sendo expulsos do Egito, dando início ao Novo
norte, tornando-se senhor absoluto de todas as terras do Império. A política expansionista e imperialista dessa
Egito e, portanto, o primeiro faraó. fase atingiu o auge no governo do faraó Tutmés III, que
conquistou a Síria, Israel (Canaã) e a Núbia, estendendo
Antigo Império seus domínios até o Rio Eufrates, na Mesopotâmia. A
abundância de escravos e riquezas promoveu um notá-
Nesse momento, teve início o Antigo Império, que vel desenvolvimento. Ao mesmo tempo, houve um au-
se prolongou por quase mil anos. Durante esse período mento no prestígio dos sacerdotes, que chegaram a
de grande esplendor, foram construídas as pirâmides de ameaçar o poder do faraó. O faraó Ramsés II deu conti-
Quéops, Quéfren e Miquerinos pelos faraós represen- nuidade ao expansionismo, porém, com a sua morte, o
tantes da IV dinastia. No final dessa fase, houve um pro- Egito iniciou um processo de decadência.
gressivo enfraquecimento do poder político dos faraós e Após sofrer a invasão dos assírios, em 670 a. C., o
os antigos nomarcas tomaram o poder. Egito acabou sob o domínio dos persas. Nos séculos
seguintes, foi dominado pelos gregos e romanos.

3. O cenário social e econômico


No decorrer de sua história, o Egito transformou-se
em uma imensa civilização presa ao comportamento do
rio. A população dedicava-se a lavrar o solo, levando uma
vida pacífica. Contando com uma proteção natural,
proporcionada pelos acidentes geográficos (Mar Verme-
lho, a leste; Saara, a oeste; Mediterrâneo, ao norte;
florestas do Sudão, ao sul), o felá (camponês egípcio)
pôde gozar de paz durante a maior parte da existência do
Império Egípcio.
As pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, uma das maravilhas
da Antiguidade.
Nessas “sociedades hidráulicas”, a distinção social
começou a se fazer notar quando a luta pela posse das
áreas cultiváveis levou os camponeses a se defron-
tarem, na posição de possuidores da força de trabalho,
Corte de uma pirâmide.
Seguindo pelo corredor (7), com os proprietários das terras, que delas se apode-
atinge-se a galeria (3) que raram e as mantinham, invocando a proteção dos deuses
conduzia às câmaras do faraó (1) e dos sacerdotes.
e da rainha (2). A entrada (6) e O topo da pirâmide social era ocupado pela família
o corredor (5), que na Antiguidade
levavam à cripta primitiva (4),
do faraó; este, por considerar-se um deus encarnado,
permanecem fechadas. possuía prerrogativas únicas.
Papiro: material sobre o qual se escrevia, obtido das hastes de uma comprida folha, de uma erva própria das margens do Rio Nilo.
Íbis: gênero de aves pernaltas, com várias espécies espalhadas pelas regiões quentes da Europa e norte da África.
Hicsos: povos nômades originários dos planaltos da Ásia, também conhecidos como povos pastores.

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Os sacerdotes também ocupavam uma posição in-


vejável, juntamente com a nobreza, que detinha o con-
4. A vida religiosa
trole das terras e o trabalho dos camponeses. Com o A religiosidade do Oriente pode facilmente ser aqui-
crescimento do comércio e do artesanato, durante o latada por uma constatação atual, pois as cinco grandes
Médio Império, surgiu uma camada social média religiões de nossos dias tiveram sua origem nessa
empreendedora, que chegou a conquistar uma certa região. Daí provém uma enorme variedade de deuses,
posição social e alguma influência no governo. fórmulas religiosas e cultos.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar destaca- A existência dos deuses satisfazia à ânsia do
do na administração, principalmente no que tangia à homem em ver suas aspirações atendidas, ao mesmo
cobrança de impostos (em gêneros) dos camponeses. tempo que afastava seus temores íntimos. Protetores da
Havia toda uma hierarquia de escribas, cujos graus água, da chuva, da colheita, das plantas e dos
variavam de acordo com a confiança neles depositada pescadores eram todos cultuados de formas diversas,
pelo faraó e pela nobreza. que iam desde o incenso até o sacrifício de animais e
Os artesãos ocupavam uma posição inferiorizada homens, tudo com a intenção de conseguir suas boas
perante os camponeses. Estes eram fiscalizados por graças. Os próprios governantes revestiam-se de
funcionários especiais. O número de escravos aumentou caracteres divinos, a fim de serem mais respeitados.
consideravelmente a partir das guerras e do expansio- Paralelamente à instituição religiosa, uma casta fechada
nismo egípcio na fase do Novo Império. Apesar de de sacerdotes cresceu e estruturou-se em todas as
serem totalmente dependentes de seus senhores, em civilizações. O clero ocupava uma posição social e eco-
geral eram bem tratados. nômica privilegiada, influenciando o governo e o povo.
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas
formavam, em sua maioria, escribas destinados a
trabalhar na administração do Estado Faraônico.
A agricultura, no Egito, detinha a maior concentração
de trabalho. Com exceção das culturas fenícia e egeia
(cretense), que se lançaram ao comércio marítimo, os
demais povos praticavam a agricultura, procurando
extrair da terra o sustento da população.
Assim como na Mesopotâmia, prevalecia o modo
de produção asiático. Além disso, o Egito foi o grande
celeiro do Oriente Médio e uma das mais privilegiadas Esfinge
civilizações. Suas terras, favorecidas pelo rio e pela ferti- de Quéops.
lização natural e beneficiadas pelos diques e canais,
No Egito, como em quase toda a Antiguidade, a
mostraram-se férteis e generosas. Ao longo do Nilo,
religião assumia a forma politeísta, compreendendo uma
estendiam-se as plantações de trigo, cevada e linho –
enorme variedade de deuses e divindades menores.
cuidadas pelos felás –, que se desenvolveram
rapidamente em razão do aperfeiçoamento das técnicas Muitos animais gozavam de um culto todo especial,
de plantio e semeadura. A charrua puxada pelos bois, e como era o caso do gato, do crocodilo, do íbis, do esca-
o emprego de metais propiciaram grandes colheitas. ravelho e do boi Ápis; havia também divindades híbridas,
Teoricamente, as terras pertenciam ao faraó, porém a com corpo humano e cabeça de animal (antropozoomór-
nobreza detinha grande parte delas. Enormes armazéns ficas): Hator (a vaca), Anúbis (o chacal), Hórus (o falcão
guardavam as colheitas, que eram administradas pelo protetor do faraó). Cultuavam-se ainda fenômenos
Estado. Uma parte da produção chegava a ser exportada. naturais, como as cheias do Rio Nilo.
O comércio processava-se entre o Alto e o Baixo Egito O mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos
por meio de embarcações que subiam e desciam o rio egípcios, que decidiram erigir túmulos e templos em
abarrotadas de cereais e produtos artesanais. homenagem à morte e à vida futura.
A presença da tecelagem e da fiação e a confecção O principal deus egípcio era Amon-Rá, combinação
de sandálias de folhas de papiro, como também a de duas divindades, e era representado pelo Sol. Em tor-
ourivesaria, propiciaram um desenvolvimento razoável no dele, girava o poder sacerdotal. A preocupação com a
do comércio interno, uma vez que poucas relações eram vida futura era grande e os cuidados com os mortos
mantidas com o exterior. eram contínuos, bastando lembrar as cerimônias fúne-
Rebanhos de gado bovino e ovino podiam ser vistos bres, nas quais eram realizadas as oferendas de ali-
nos campos próximos ao rio, guiados por pastores. mentos e de incenso.

Escriba: funcionário real; pessoa que tinha instrução, permitindo-lhe o acesso à complicada escrita egípcia.
Charrua: arado grande, de ferro, utilizado para alargar o sulco da terra.
Ourivesaria: oficina onde se trabalha o ouro, com trabalhadores denominados ourives.

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Acreditava-se em um julgamento após a morte, quan- Reforma monoteísta


do o deus Osíris iria colocar em uma balança a alma do
Por volta de 1500 a. C., o Egito viu nascer o primeiro
indivíduo, representada pelo seu coração, para julgar seus
culto monoteísta: o culto a Áton, representado pelo disco
atos. Os justos e bons teriam como recompensa a rein-
solar. O faraó Amenófis IV levantou-se contra a religião
corporação e depois iriam para uma espécie de Paraíso. politeísta, expulsou o clero, fechou seus templos e distri-
buiu suas terras. Com essa revolução religiosa, esperava
quebrar o poder dos sacerdotes. Em seguida, organizou
uma nova classe sacerdotal e construiu, a 32 quilômetros
ao norte de Tebas, a cidade de Tell el-Amarna (“a cidade
do horizonte” ou “a morada de Áton”), transformada em
residência real, e mudou seu nome para Akhenáton,
compondo ao novo deus o Hino ao Sol.
Essa tentativa monoteísta foi efêmera. Com a morte
do faraó Amenófis IV, seu sucessor, Tutancáton, permitiu
ao clero recuperar sua influência e restaurar o culto ao
deus Amon, sendo obrigado a mudar seu nome para
Tutancamon.

O embalsamento era um rito ligado ao deus Osíris, o rei do reino dos


mortos. A gravura mostra o deus Anúbis embalsamando um morto.

O politeísmo entravava o progresso egípcio, pois a


camada sacerdotal era muito grande e a sua manutenção
era bastante onerosa para o Estado, que desta forma
aumentava constantemente a tributação. Os sacerdotes
interferiam com frequência nos assuntos públicos e o
próprio faraó, muitas vezes, não passava de um
instrumento do clero. Aproveitando-se da religiosidade
do povo, os sacerdotes alcançaram uma extraordinária
ascendência, convertendo a civilização egípcia como se
fosse sua propriedade particular. Máscara de Tutancamon, faraó da Ao lado, vemos um exemplo da es-
XVIII dinastia egípcia. crita ideográfica, a primeira forma
O perigo do poder clerical já havia sido constatado utilizada pelos egípcios.
por Amenófis III. Para se livrar da influência do clero, o
faraó havia mudado seu palácio para longe dos templos.

5. Cronologia
IV milênio a. C.: formação dos nomos no Egito.
3200 a. C.: unificação do Alto e Baixo Egito por Menés, dando início ao Antigo Império.
2850 a 2052 a. C.: Antigo Império.
2650 a 2190 a. C.: época da construção das grandes pirâmides (Quéops, Quéfren e Miquerinos).
2400 a. C.: ascensão dos nomarcas ao poder.
2052 a 1570 a. C.: Médio Império.
1800 a. C.: chegada dos hebreus ao Egito.
1650 a. C.: invasão do Egito pelos hicsos.
1580 a. C.: expulsão dos hicsos e início do Novo Império.
1377 a 1358 a. C.: introdução do culto a Áton por Amenófis IV.
1320 a. C.: início do reinado dos faraós da dinastia de Ramsés II.
663 a. C.: curto período de recuperação.
525 a. C.: derrota de Psamético III em Pelusa por Cambises; o Egito torna-se uma província persa.
332 a. C.: invasão do Egito por Alexandre Magno.
30 a. C.: início do domínio romano.
1798 d. C.: descoberta da Pedra de Roseta.
1822 d. C.: decifração dos hieróglifos por Champollion.

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Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – Entre os tesouros encontrados no túmulo de Analise a charge e o texto a seguir e responda à questão .
Tutancamon (faraó que reinou entre 1332 e 1322 a. C.), acha-se este
baixo-relevo em ouro representando uma cena da vida privada da
família real: a esposa do faraó esfregando óleo perfumado no corpo do
marido (a seguir). Dos artesãos e trabalhadores em geral que
produziram o túmulo e suas riquezas, não se acharam vestígios.

“Heródoto, historiador grego do século V antes de Cristo, dizia que o


Egito era um presente do Rio Nilo. Durante os meses de cheias, suas
águas inundavam as terras e as cobriam de adubos naturais. Mas isso
não era o bastante, como dizia um documento provavelmente escrito
por volta do ano 2000 antes de Cristo: ‘Desejamos a inundação, nela
achamos vantagem. Mas nenhum campo lavrado cria-se por si mesmo’.
De fato, eram muitas e árduas as tarefas que os camponeses tinham
de realizar para criar os campos lavrados e eram os movimentos do
Nilo que regulavam suas atividades durante todo o ano.”
Sobre essas figuras anônimas, pode-se afirmar:
I. Eram cidadãos do Estado teocrático egípcio e, como tais, tinham
(Rubin Aquino; Maria Bernadete Moura; Luiza Aieta. Fazendo a História.
direitos semelhantes aos dos seus reis e patrões.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A. Edição Revisada, 1993.)
II. Serviram aos soberanos egípcios e garantiram a sobrevivência dos
valores deles por meio de obras artísticas.
 (MODELO ENEM) – Quanto à relação do Nilo com o trabalho dos
III. Eram operários das obras funerárias dos reis e aristocratas e tinham
camponeses, é válido argumentar que os camponeses
seus direitos garantidos por severa legislação do Código de
a) podiam se ocupar com as atividades de lazer, quando o rio voltava
Hamurábi.
ao seu leito e, então, o trabalho agrícola cessava.
IV. Eram homens e mulheres que entregavam o trabalho e a vida para
b) precisavam construir diques, represas e canais de irrigação, para
que a grandeza do Estado egípcio se perpetuasse no tempo.
armazenar e distribuir as águas do rio para diferentes regiões.
c) semeavam e colhiam, durante os meses em que ocorriam as inun-
Está(ão) correta(s)
dações, aproveitando-se do solo úmido, fertilizado e amolecido.
a) apenas I.
d) eram recrutados pelos faraós para o trabalho artesanal e doméstico
b) apenas I e II.
nos palácios, durante os períodos de vazante.
c) apenas II e IV.
e) constituíam a camada social mais privilegiada, em razão da impor-
d) apenas III e IV.
tância atribuída ao seu trabalho.
e) I, II, III e IV.
Resolução
Resolução
As cheias do Rio Nilo ocorriam entre julho e novembro, e depositavam
A afirmativa I está errada, pois não havia o conceito de cidadania –
em suas margens uma lama extremamente fértil. Esta sedimentação
igualdade jurídica, que surgiria tempos depois na Grécia Antiga. A
foi utilizada pelos camponeses para o plantio de cereais que
afirmativa III está errada, pois o código de Hamurábi surgiu na
garantiram a sobrevivência da civilização egípcia em meio àquela
Mesopotâmia. A rígida estrutura social egípcia era regida por princípios
região hostil.
religiosos, cuja base se encontrava no Livro dos Mortos.
Resposta: B
Resposta: C

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Exercícios Propostos

 “Amanheces formoso no horizonte celeste,  Ao visitar o Egito do seu tempo, o historiador


Tu, vivente Áton, princípio da vida! grego Heródoto (484-420/30 a.C.) interessou-se
Quando surgiste no horizonte do Oriente por fenômenos que lhe pareceram incomuns, como as cheias
Inundaste toda a terra com tua beleza. regulares do rio Nilo. A propósito do assunto, escreveu o seguinte:
És belo, grande, resplandecente e sublime sobre toda a “Eu queria saber por que o Nilo sobe no começo do verão e
terra; subindo continua durante cem dias; por que ele se retrai e a
Teus raios invadem as terras até o limite de tudo o que sua corrente baixa, assim que termina esse número de dias,
fizeste: sendo que permanece baixo o inverno inteiro, até um novo
Sendo Rei, alcanças o fim delas, verão. Alguns gregos apresentam explicações para os fenô-
Subjuga-as para teu filho predileto. menos do rio Nilo. Eles afirmam que os ventos do noroeste
Embora estejas longe, teus raios estão na terra; provocam a subida do rio, ao impedir que suas águas corram
Embora toques as faces dos homens, ninguém conhece o para o mar. Não obstante, com certa frequência, esses ventos
teu destino.” deixam de soprar, sem que o rio pare de subir da forma
(Akhenáton, Hino a Áton) habitual. Além disso, se os ventos do noroeste produzissem
esse efeito, os outros rios que correm na direção contrária aos
Com base no texto, responda: ventos deveriam apresentar os mesmos efeitos que o Nilo,
a) Que faraó egípcio implantou o culto a Áton no Egito Antigo? mesmo porque eles todos são pequenos, de menor corrente.”

RESOLUÇÃO: (Heródoto. História (trad.). livro II, 19-23.


Amenófis IV (Akhenáton). Chicago: Encyclopaedia Britannica Inc. 2ª ed. 1990, p. 52-3.
Adaptado.)

b) Qual o motivo dessa revolução religiosa no Novo Império? Nessa passagem, Heródoto critica a explicação de alguns
gregos para os fenômenos do rio Nilo. De acordo com o texto,
RESOLUÇÃO: julgue as afirmativas abaixo.
Diminuir a influência dos sacerdotes na vida política, substituindo
I. Para alguns gregos, as cheias do Nilo devem-se ao fato de
o culto politeísta pelo monoteísmo de Áton.
que suas águas são impedidas de correr para o mar pela
força dos ventos do noroeste.
II. O argumento embasado na influência dos ventos do
noroeste nas cheias do Nilo sustenta-se no fato de que,
quando os ventos param, o rio Nilo não sobe.
 Coloque falso (F) ou verdadeiro (V) nas assertivas sobre a III. A explicação de alguns gregos para as cheias do Nilo
baseava-se no fato de que fenômeno igual ocorria com rios
civilização egípcia.
de menor porte que seguiam na mesma direção dos ventos.
(0) As cheias cíclicas do Rio Nilo influenciavam a vida social.
É correto apenas o que se afirma em
(1) A organização política dissolveu-se por meio dos nomos.
a) I. b) II. c) I e II. d) I e III. e) II e III.
(2) Antigo, Médio e Novo Império correspondem à sua
evolução política. RESOLUÇÃO:
(3) As pirâmides de Gizé são exemplos do poder teocrático. Interpretação do texto, no qual Heródoto (considerado o “Pai da
(4) O faraó Menés unificou o Egito por volta de 3 200 a. C. História”) cita uma explicação da época para as cheias do Nilo, e
depois a destrói, com argumentos baseados na observação dos
(5) Amenófis IV revolucionou a religião tradicional, ao substituir
fatos.
o culto politeísta pelo monoteísmo. Resposta: A
(6) A religião era animista e antropozoomórfica.
(7) Os hebreus e os hicsos não tiveram relações com o Egito.

RESOLUÇÃO:
O item 1 é falso porque a primeira forma de organização política
ocorreu por meio dos nomos.
O item 7 é falso porque os hebreus viveram durante algum tempo
como escravos no Egito; os hicsos invadiram o Egito e se tornaram
seus governantes.

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 O Egito é visitado anualmente por milhões de  (FATEC) – No século V a.C., Heródoto, historiador grego,
turistas de todos os quadrantes do planeta, afirmou que “O Egito é uma dádiva do Nilo”.
desejosos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a principal
poder esculpida em pedra há milênios: as pirâmides de Gizeh, razão de se atribuir ao rio Nilo uma importância tão grande para
as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos o desenvolvimento do Egito Antigo.
construídos ao longo do Nilo. O que hoje se transformou em a) Nos períodos de cheias, as águas desse rio feritilizavam as
atração turística era, no passado, interpretado de forma muito margens, o que possibilitou a agricultura.
diferente, pois b) Os faraós construíram barragens para obter eletricidade,
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós aumentando a produção de itens de exportação.
tinham para escravizar grandes contingentes populacionais c) A navegação pelo grande rio permitiu que os egípcios
que trabalhavam nesses monumentos. conquistassem o sul da Europa, formando um grande
b) representava para as populações do Alto Egito a império.
possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos d) Das margens do rio se retirava o barro om que eram fa-
canteiros faraônicos. bricados os tijolos utilizados na construção das grandes
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma pirâmides.
vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas riquezas, e) Atravessando a África de norte a sul, o Nilo possibilitou a
construindo templos. integração cultural e econômica da área entre o Saara e o
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, deserto da Namíbia.
obrigando os desocupados a trabalharem em obras
públicas, que engrandeceram o próprio Egito. RESOLUÇÃO:
A função fertilizadora desempenhada pelas cheias do Nilo
e) significava um peso para a população egípcia, que
permitiu o desenvolvimento de uma brilhante civilização, baseada
condenava o luxo faraônico e a religião baseada em crenças sobretudo na produção agrícola, fazendo do Egito um marco
e superstições. civilizatório na história da Antiguidade.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
O Antigo Egito constituía uma monarquia teocrática, na qual a
servidão coletiva era a forma de trabalho dominante (modo de
produção asiático). Dentro dessa estrutura, o faraó dispunha do
poder necessário para mobilizar compulsoriamente grandes
contingentes de trabalhadores, destinando-os à construção de
obras monumentais, voltadas para a glorificação do soberano e
das divindades às quais ele estava associado.
Resposta: A

HISTÓRIA 21

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