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ATRIAL
Fatores de risco, manejo
e complicações
Coordenadores
Weimar Kunz Sebba Barroso
Faculdade de Medicina - Universidade Federal de Goiás
Liga de Hipertensão Arterial – Universidade Federal de Goiás
Audes D. M. Feitosa
Investigador Principal da Unidade de Hipertensão e Cardiologia Preventiva do Pronto-
Socorro Cardiológico Universitário da Universidade de Pernambuco (PROCAPE/UPE)
Coordenador do Instituto UNICAP de Pesquisa Clínica
FIBRILAÇÃO
ATRIAL
Fatores de
risco, manejo e
complicações
PREFÁCIO
5
6
©
2021, DDS COMUNICAÇÃO E SERVIÇOS EDITORIAIS.
7
Capítulo 1
Fisiopatogenia
da Fibrilação
Atrial
Audes D. M. Feitosa
• Investigador Principal da Unidade de Hipertensão e Cardiologia
Preventiva do Pronto-Socorro Cardiológico Universitário da Universidade
de Pernambuco (PROCAPE/UPE)
Autor • Coordenador do Instituto UNICAP de Pesquisa Clínica
• Doutor em Biologia Aplicada à Saúde pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE)
• Fellow da European Society of Cardiology
INTRODUÇÃO
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Figura 1. Visão geral dos mecanismos de FA. Quatro diferentes loops de feedback positivo são pro-
postos como as principais forças motrizes para o processo de remodelação atrial. Acredita-se que o
aumento da carga de Ca2+ durante a FA seja a base da maioria dos mecanismos pró-arrítmicos celulares
(loop de gatilho). O principal processo no circuito elétrico é uma contribuição alterada dos canais iônicos
para a configuração do potencial de ação que protege os miócitos atriais contra a carga excessiva de
Ca2+. A abreviação do potencial de ação facilita a reentrada e, portanto, promove a FA. Na alça estrutural,
o estiramento atrial crônico ativa inúmeras cascatas de sinalização que produzem alterações da matriz
extracelular e distúrbios de condução, facilitando, também, os mecanismos de reentrada. As principais
alterações das propriedades contráteis do coração são a perda da contratilidade atrial que aumenta
a complacência atrial e o desenvolvimento de taquicardiomiopatia ventricular, ambos levando ao esti-
ramento da parede atrial. O aumento circular de feedback positivo dessas mudanças fisiopatológicas
explica a tendência geral da FA de se tornar mais estável com o tempo. Deve-se observar que os dife-
rentes loops são interconectados por mecanismos que fazem parte de mais de um loop. Por exemplo, a
elevação da carga de Ca2+ aumenta a atividade do gatilho (circuito de gatilho) e também resulta em uma
mudança na população e na atividade do canal iônico (circuito elétrico). Os mecanismos de reentrada
são promovidos tanto pelo encurtamento da refratariedade (alça elétrica) quanto por distúrbios de con-
dução resultantes da fibrose do tecido (alça estrutural). Como em um sistema de engrenagens, um loop
acionará o outro, levando à progressão da arritmia. No entanto o sistema proposto de engrenagens não
começa a se mover espontaneamente. Doenças cardíacas estruturais, arritmias, envelhecimento ou
doenças hereditárias são necessários para iniciar o movimento de uma ou mais dessas rodas. Ocorrerá
FA quando eventualmente as alterações fisiopatológicas atingirem certo limiar6.
Desequilíbrio
Estiramento agudo autonômico Canalopatias
Liberação
Correntes de
espontânea
íons alterada
de Ca2 +
Automaticidade
PRE (período
de atividade
refratário efetivo) Sobrecarga disparada
de cálcio
Loop Loop
elétrico Frequência atrial rápida de gatilho
WL (do inglês, wavelengt Ectopia
|comprimento de ondas)
Circuitos FA
reentrantes
Diminuição Contratilidade
da heterogeneidade atrial Frequência ventricular
Loop Loop
de condução rápida e irregular
Estiramento
estrutural atrial crônico hemodinâmico
Complacência
Inflamação atrial
por hipertrofia
Fibrose celular Disfunção VE
Vias
pró-fibróticas
Defeito de
enchimento
ventricular
Envelhecimento Hipertensão
Miocardite Insuficiência
cardíaca
Doença Doença
cardíaca valvar
reumática
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CAPÍTULO 1: Fisiopatogenia da Fibrilação Atrial
Este capítulo fornecerá uma visão geral e relativamente simplista para um tópi-
co complexo a respeito da compreensão atual dos mecanismos da FA.
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
13
CAPÍTULO 1: Fisiopatogenia da Fibrilação Atrial
Figura 2. Mecanismos subjacentes ao ATR. As frequências atriais rápidas aumentam a carga de Ca2+
potencialmente citotóxica. As reduções autoprotetoras de ICa,L ocorrem por meio de alterações fun-
cionais de desenvolvimento rápido (inativação de ICa,L ) e de alterações de desenvolvimento mais lento
na expressão de genes e proteínas. A diminuição de ICa,L reduz o carregamento de Ca2+, mas diminui o
APD. Com o APD diminuído, a refratariedade é encurtada, reduzindo o comprimento de onda (WL). Isso
permite menores e mais circuitos de reentrada atrial, tornando improvável uma reversão da FA. A ta-
quicardia atrial também aumenta as correntes retificadoras para dentro, como IK1 e IK, ACh, c , o que reduz
ainda mais o APD e promove a FA10.
SR (60/min)
Reentrada
Gatilhos Substratos
FA (350-450/min)
Horas
Sobrecarga de Ca2+ Remodelação
Meses
Transcrição
mRNA
Anormalidades
Minutos no manuseio de Ca2+ Tradução
Proteína
Fosforilação Δs Proteólise
Cx40
APD
RP
Hipocontratilidade Dilatação atrial
WL
PR (período refratário)
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
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CAPÍTULO 1: Fisiopatogenia da Fibrilação Atrial
Mecanismo de Reentrada
Mapas de FA em animais e humanos sugerem que essa arritmia é causada por
múltiplas ondas errantes, o que pode se dever às heterogeneidades da refratarie-
dade e da condução atriais. Além disso, a resposta da atividade atrial à infusão de
adenosina sugere uma reentrada em vez de um mecanismo focal30. A adenosina
aumenta a corrente interna do retificador de potássio, o que encurta os períodos
refratários e acelera os circuitos de reentrada. Em contraste, esse efeito retardaria
um foco automático ou acionado. Em uma série de 33 pacientes com FA submeti-
dos a estudo eletrofisiológico, a adenosina aumentou as frequências dominantes,
apoiando fontes reentrantes em vez de focais para a perpetuação da FA.
O principal mecanismo eletrofisiológico da FA é o fenômeno denominado “mi-
croreentrada”, assim chamado para distingui-lo da reentrada clássica, na qual a
mesma via de reentrada é repetidamente percorrida. O impulso pode circular em
torno de uma linha central do bloco funcional, a chamada reentrada do círculo
principal; esse tipo de reentrada tende a não ser estável, mas, sim, a deslizar pelos
átrios até se extinguir. A perpetuação da FA também pode depender de maneira
importante da macroreentrada em torno dos orifícios e das estruturas naturais
do átrio, o que fornece uma justificativa e marcos anatômicos para o tratamento
ablativo. A colisão das frentes de onda cancela muitas despolarizações atriais que
poderiam atingir o nó AV, resultando em uma frequência cardíaca mais lenta do
que poderia ocorrer.
Pequenas fontes reentrantes, chamadas rotores, podem conduzir ou manter a FA
em alguns casos. Esses rotores resultam em uma distribuição hierárquica de frequên-
cias ao longo dos átrios, que pode ser identificada com a análise espectral dos regis-
tros intracardíacos. A ablação de tais locais encerrou a FA paroxística, sugerindo que
eles podem desempenhar um papel importante, mas não está claro se os rotores são
responsáveis pela FA ou se são fixos na maioria dos casos31. A FA pode ser caótica e
ter ondas e rotores que são motivos secundários, e não a causa predominante32. To-
davia a reentrada em torno dos orifícios das veias pulmonares e os condutores focais
podem ser os principais responsáveis pela FA. A complexidade de tais drivers aumenta
com FA prolongada. Esses locais estão frequentemente localizados próximos aos orifí-
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Papel do Nó Atrioventricular
O nó atrioventricular (AV) regula o número de impulsos atriais que chegam ao
ventrículo. A frequência ventricular na FA é tipicamente irregular, podendo ser len-
ta, moderada ou rápida, dependendo da capacidade do nó AV de conduzir impul-
sos. A taxa de condução nodal AV depende de vários fatores, incluindo proprieda-
des elétricas do nó e influência do sistema nervoso autônomo33.
O tecido nodal AV consiste nas chamadas fibras de “resposta lenta”, que de-
pendem de uma corrente mista de cálcio/sódio. Essa corrente é frequentemente
chamada de corrente interna de cálcio, uma vez que, em um ambiente fisiológico
normal, os íons são quase exclusivamente cálcio. A corrente mista usa um canal
cineticamente lento e é responsável pela despolarização da fase 0.
Essas características levam a propriedades que são bastante diferentes do te-
cido de “resposta rápida” nos átrios, que, como observado acima, dependem de
uma corrente de sódio de entrada que usa um canal cineticamente rápido para a
despolarização de fase 0:
• A reativação parcial e completa retorna apenas 100 mseg ou mais após o re-
torno ao potencial diastólico (versus 10 a 50 mseg nos átrios).
• O período refratário muda pouco em função da taxa de frequência de
estimulação.
• A velocidade de condução é relativamente lenta, variando de 0,01 a 0,1 m/s.
• Ao contrário do tecido que gera um potencial de ação rápida, que tem uma
resposta “tudo ou nada” (ou seja, a velocidade de condução do impulso é seme-
lhante em todas as taxas de estimulação até que ocorra o bloqueio), o tecido
que ocasiona um potencial de ação lenta exibe uma resposta gradativa ou de-
cremental, em que a velocidade de condução do impulso diminui à medida que
a taxa de estimulação aumenta.
• Conforme observado acima, a frequência ventricular geralmente varia de 90
a 170 batimentos/min. Frequências ventriculares abaixo de 60 batimentos/min
são observadas com doença nodal AV, efeito de drogas que afetam a condução
e aumentam o tônus vagal, como pode ocorrer em um atleta bem condicio-
nado. Frequências ventriculares acima de 200 batimentos/min sugerem exces-
so de catecolaminas, diminuição da atividade parassimpática ou existência de
uma via acessória, como ocorre na síndrome de pré-excitação ventricular (Wolf-
f-Parkinson-White). Os complexos QRS são alargados nessa situação (aberrância
de condução) e devem ser diferenciados de um bloqueio de ramo subjacente
ou relacionados à alta frequência de resposta ventricular.
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CAPÍTULO 1: Fisiopatogenia da Fibrilação Atrial
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
RESUMO
19
CAPÍTULO 1: Fisiopatogenia da Fibrilação Atrial
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20
Capítulo 2
Os Diversos
Tipos de
Fibrilação Atrial
Desafios no diagnóstico e suas
principais complicações
Carlos Kalil
• Cardiologista e Eletrofisiologista
• Mestre e Doutor em Cardiologia pela Fundação Universitária de
Cardiologia (ICFUC)
Autor • Coordenador do Centro Internacional de Arritmias Instituto J. Brugada,
Hospital São Francisco - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
INTRODUÇÃO
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Definições
Taquicardia supraventricular com atividade atrial irregular e consequente
contração atrial inefetiva.
Características eletrocardiográficas:
FA • Intervalos R-R irregulares (quando a condução atrioventricular não é
prejudicada).
• Ausência de ondas P.
• Ativação atrial irregular.
Termos frequentemente utilizados
Sintomática ou assintomática. FA documentada no eletrocardiograma
(ECG) de superfície.
FA clínica
O tempo mínimo de duração do traçado de ECG necessário para realizar
o diagnóstico de FA é de 30 segundos, no ECG de 12 derivações.
Indivíduos sem sintomas atribuíveis à FA, em quem a FA clínica não é detec-
Eventos
tada anteriormente (ou seja, não há traçado de ECG de superfície).
atriais
rápidos Eventos atriais rápidos: (do inglês, “atrial high-rates episodes”, AHRE) –
são eventos que preenchem critérios específicos dos dispositivos cardíacos
implantáveis (DCI), com um eletrodo atrial permitindo monitoramento
contínuo do ritmo atrial.
FA subclínica: inclui eventos atriais rápidos confirmados como FA,
FA
subclínica “flutter” atrial, taquicardia atrial (TA) ou episódios de FA detectados por
monitor de eventos ou “wearables” e confirmados por eletrogramas intra-
cardíacos revisados visualmente ou por ritmo registrado pelo ECG.
Adaptada de: Hindricks G et al.; European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J; 2021.2
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CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
Classificações da FA
Múltiplas outras especificações e nomenclaturas foram propostas para a fibri-
lação atrial3,4. Tradicionalmente, cinco padrões têm sido reconhecidos, baseados
na apresentação, na duração e no término espontâneo dos episódios. Entre as
classificações propostas encontram-se aquelas decorrentes dos eventos tem-
porais apresentados como FA paroxística e permanente. Outras categorizações
refletem os sintomas ou, ainda, os pacientes assintomáticos com eletrocardio-
gramas demonstrando FA. As recomendações para o manejo são baseadas nos
padrões temporais da arritmia, exceto na restauração do ritmo sinusal.
Alguns fatores importantes fazem com que a classificação de FA na atuali-
dade seja praticamente individualizada para cada paciente. Dentre eles, pode-
mos citar: o conhecimento das condições causadoras e mantenedoras da FA,
o entendimento sobre as diversas doenças que podem ou não estar presentes
(devido ao seu tratamento complexo), a atualização sobre as novas ferramentas
diagnósticas e as demais implicações terapêuticas, que interferem diretamente
na conduta a ser tomada.
25
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Padrões de FA Definições
Primeiro diagnóstico FA não diagnosticada antes, independentemente de sua duração
de FA ou da presença/gravidade dos sintomas relacionados à FA.
FA que termina espontaneamente com ou sem intervenção
Paroxística
dentro de 7 dias após o início.
FA sustentada por mais de 7 dias, incluindo episódios ter-
Persistente minados por cardioversão (elétrica ou por medicamentos)
após 7 dias.
Persistente de Episódios contínuos de FA por mais de 12 meses de duração,
longa duração quando se decide adotar a estratégia de controle de ritmo.
FA aceita pelo paciente e seu médico, sem que nenhuma outra
tentativa de restaurar/manter o ritmo sinusal seja realizada.
A FA permanente reflete uma atitude terapêutica do paciente e do
médico, em vez de uma condição fisiopatológica. O termo não
Permanente deve ser utilizado no contexto de uma estratégia de controle do
ritmo com drogas antiarrítmicas, terapia ou ablação de FA. Caso
uma estratégia de controle de ritmo seja adotada, a arritmia
seria reclassificada como “persistente de longa duração”.
Adaptada de: Hindricks G et al.; European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J; 2021.2
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CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Adaptada de: Hindricks G et al.; European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J; 2021.2
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CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
Desafios no Diagnóstico da FA
Identificar indivíduos com alto risco de desenvolver arritmia entre a popula-
ção facilitaria o direcionamento de intervenções preventivas e programas para
screening de FA inicial. Dessa maneira, seria possível identificar subgrupos com
alto risco para acidente vascular cerebral (AVC). A relevância no diagnóstico da
FA encontra-se nos pacientes assintomáticos (10-40% dos indivíduos com FA são
assintomáticos8 e 50% dos episódios de FAs paroxísticas também o são9). A au-
sência de sintomas não configura um prognóstico favorável, até porque pacientes
nessa categoria podem apresentar uma doença cardíaca menos severa, mas com
maior número de AVC10. Grandes ensaios clínicos randomizados, como o CRYSTAL
AF (Cryptogenic Stroke and Underlying Atrial Fibrillation), estabeleceram o potencial
para diagnosticar a FA com monitor de eventos por até 3 anos após o AVC11.
Dentre os métodos de screening que são utilizados atualmente, estão as tecno-
logias móveis (weareable) de saúde, que vêm se desenvolvendo rapidamente para a
detecção de FA e para outras finalidades. É necessário o cuidado no seu uso, visto
que muitos indivíduos não são validados clinicamente. Também podem ser encon-
tradas novas perspectivas na utilização de inteligência artificial, capaz de identificar
pacientes de alto risco. Quando um dispositivo weareable detecta FA com medida
de screening, é preciso realizar um ECG de 12 derivações, analisado por um médico,
para estabelecer um diagnóstico definitivo2.
Um dos melhores preditores para o desenvolvimento de FA é o tamanho dos
átrios, promovendo fibrose intersticial e desconexão elétrica entre os miócitos
atriais. A angiotensina-II, assim como o fator de transformação do crescimento
(TGF-β1), parecem participar desse processo pelas ações pró-inflamatórias, pela
apoptose, pela necrose e pela fibrose12.
Outros métodos utilizados são: palpação do pulso, aparelhos de verificação de
pressão arterial automatizados, dispositivos de ECG de uma única derivação, apli-
cativos de smartphones, pulseiras e relógios. A Sociedade Europeia de Cardiologia
(European Society of Cardiology, ESC) recomenda o screening para FA ou por medição
do pulso ou por ECG em pacientes com mais de 65 anos. Tal orientação se deve ao
estudo STROKESTOP (Systematic ECG Screening for Atrial Fibrillation Among 75 Year
Old Subjects in the Region of Stockholm and Halland, Sweden) o qual demonstrou que,
durante 2 semanas de aferição nos idosos, a prevalência de FA foi de 12,3%13. Já
no estudo ASSERT-II (Prevalence of Sub-Clinical Atrial Fibrillation Using an Implantable
Cardiac Monitor), foram implantados monitores de eventos em 256 pacientes com
mais de 65 anos, escores CHA2DS2-VASc maiores que 2 e evidência de aumento
do átrio esquerdo. Após 1 ano, 34% da população do estudo apresentou FA sub-
clínica, definida como um episódio de mais de 5 minutos da arritmia14. Ambas as
pesquisas sugerem que a FA é comum e a carga geral é baixa. Os estudos ARTESIA
(Apixaban for the Reduction of Thrombo-Embolism in Patients with Device-Dectected
Sub-Clinical Atrial Fibrillation)15 e LOOP (Atrial Fibrillation Detected by Continuous ECG
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FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Sensibilidade Especificidade
Adaptada de: Hindricks G et al.; European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J; 20212.
Adaptada de: Hindricks G et al.; European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J; 20212.
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CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
Principais Complicações
A FA é responsável por 20 a 30% dos AVCs isquêmicos e 10% dos criptogênicos.
O risco de tais eventos depende das comorbidades apresentadas por cada pacien-
te. Os AVCs cardioembólicos são usualmente mais severos, com alto risco de recor-
rência e maior perigo de deficiência permanente. Os preditores independentes de
eventos encontrados e que trazem aumentos de risco são17:
• Antecedente de AVC ou ataque isquêmico transitório (AIT) - risco 2,5 vezes maior;
• Idade avançada - risco 1,5 vez maior a cada 10 anos;
• Hipertensão arterial - risco 2 vezes maior;
• Diabetes mellitus - risco 1,7 vez maior, independentemente da gravidade, da
duração e do controle glicêmico.
O tipo de FA (paroxística ou persistente) está relacionado com risco semelhante
ao de AVC18.
O paciente com FA tem, também, riscos aumentados em 5% (ano) de desenvol-
ver síndrome coronariana aguda, insuficiência cardíaca ou morte cardiovascular
(em relação ao restante da população). A possibilidade de morte também sobe de
1,5 a 3,5 vezes. Dos indivíduos diagnosticados, de 20 a 30% podem evoluir com
disfunção ventricular e declínio cognitivo [razão de risco (RH) 1,4 a 1,6, independen-
temente de histórico prévio de AVC]; mais 60% podem ter piora da qualidade de
vida; e de 10 a 40% têm aumento da taxa anual de hospitalização2.
Na última diretriz de FA da ESC foi proposto o manejo integrado da FA ao
sistema nomeado “ABC” para guiar o tratamento. Tal proposta visa a tentar sim-
plificar o tratamento e melhorar o cuidado do paciente. No ensaio clínico ran-
domizado mAFA-II, o desfecho composto foi significativamente reduzido com a
intervenção do tratamento pela via do ABC, em comparação com os cuidados
habituais (1,9% vs. 6,0%; HR 0,39; IC 95% 0,22 - 0,67; p <0,001)2. Abaixo, é possí-
vel entender como funciona o “ABC”.
31
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
32
CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
33
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
CONCLUSÕES
34
CAPÍTULO 2: Os Diversos Tipos de Fibrilação Atrial
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35
Capítulo 3
O Desafio no
Diagnóstico da
Fibrilação Atrial
Paroxística
Eduardo Costa Duarte Barbosa
• Presidente da Artery Latam
• Presidente Eleito do Colégio Pan-Americano de Endotélio
• Coordenador do Serviço de Hipertensão e Cardiometabolismo do
Autor Hospital São Francisco- Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
• Coordenador do Laboratório de Dinâmica Vascular do Hospital São
Francisco - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Carlos Kalil
• Cardiologista e Eletrofisiologista
• Mestre e Doutor em Cardiologia pela Fundação Universitária de
Cardiologia (ICFUC)
Coautor • Coordenador do Centro Internacional de Arritmias Instituto J. Brugada,
Hospital São Francisco - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
INTRODUÇÃO
38
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Mecanismo Fisiopatológicos
A evolução da FA é caracterizada por remodelamento atrial, e sua progressão
depende da duração do ritmo e do substrato subjacente4. A cardiopatia atrial está
baseada em fatores hemodinâmicos, eletrofisiológicos, estruturais e autonômicos
(moduladores) do átrio, resultando em desorganização da atividade elétrica atrial.
Alguns parâmetros podem ser considerados para o diagnóstico, tais como
o volume atrial esquerdo aumentado e o estado pró-trombótico. A FA não é
apenas um fator de risco, mas também um marcador de cardiopatia atrial, o
que poderia explicar a falta de relação temporal entre FA detectada e acidente
vascular cerebral (AVC)5.
A atividade atrial focal é necessária para deflagrar a FA, assim como um substra-
to atrial para sua manutenção, criando, assim, uma reentrada anatômica (zonas de
condução lenta, regiões de fibrose) ou funcional (regiões com refratariedade hete-
rogênea, levando propagação elétrica errática), o que facilita a perpetuação da FA6.
39
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
Hipertensão
arterial
Manejo conforme
as diretrizes
Glicemia
Redução >10% na HBA1c Sedentarismo
com objetivo <6,5% Início de
atividades
físicas
Apneia
Obesidade
obstrutiva
Redução >10%
do sono
Objetivo IMC <27 kg/m2
Diagnóstico e
tratamento
Álcool
Tabagismo
Redução ou
Cessação
cessação
Dislipidemias
Tratamento
conforme as
diretrizes
40
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
com o grupo de controle convencional (PAS menor que 140 mmHg)11. O estudo
ARREST-AF mostrou que o controle estrito da pressão arterial resultou em um
aumento no intervalo livre de arritmia em pacientes submetidos à ablação de FA12.
No estudo Framingham Heart Study, com participantes com idade maior que
35 anos inicialmente livres de FA, verificou-se que os que tinham uma pressão de
pulso (a pressão de pulso é calculada como a diferença entre a pressão sistólica e a
diastólica) maior que 61 mm Hg desenvolveram FA em longo prazo, diferentemen-
te daqueles com pressão de pulso menor 40 mm Hg. Assim, é possível afirmar que
a pressão de pulso é associada com o crescimento de risco para FA13.
Dentre os marcadores subclínicos indicando elevação de risco para FA po-
dem ser descritos o aumento da rigidez arterial e as evidências ecocardiográficas
de doença cardíaca estrutural (como alargamento do átrio esquerdo, hipertro-
fia ventricular esquerda e disfunção ventricular esquerda sistólica e diastólica).
Sendo assim, pode-se afirmar que a rigidez arterial é um forte preditor de FA em
pacientes hipertensos, independentemente da idade, da aferição de pressão de
pulso de 24h, do volume indexado de massa ventricular esquerda e do diâmetro
do átrio esquerdo14.
A maioria dos fatores de risco de doença cardiovascular foram relatados para
prever o risco de FA, à exceção do colesterol. Os níveis de colesterol total e LDL não
são inversamente proporcionais à incidência de FA. A redução de tais índices pelas
estatinas mostra um efeito nulo no que diz respeito à arritmia. A presença de ate-
rosclerose na carótida e a espessura aumentada das camadas íntima e média são
precursoras da aterosclerose definitiva e podem ser associadas a um risco elevado
de manifestação de FA ao longo de 15 anos de acompanhamento15.
Em um estudo realizado com pacientes jovens sem fatores de risco e doen-
ças cardíacas, o início da FA era significativamente relacionado com a espessura
aumentada das camadas íntima e média da artéria carótida, com a velocidade de
onda de pulso carotídeo-femoral e com baixos índices de elasticidade aórtica, de-
monstrando uma associação plausível entre aterosclerose e FA. Por outro lado, a
aterosclerose carotídea e o espessamento da parede estão intimamente ligados à
aterosclerose coronariana e ao dano microvascular que, por sua vez, pode causar
hipoperfusão, isquemia do átrio e subsequentes fibrose e FA16.
A rigidez aórtica tem sido descrita como um preditor independente de desfe-
chos de mortalidade cardiovascular. O aumento de 10 mmHg na pressão de pulso
resultou em 12% na elevação de risco de novo início de FA, conforme descrito em
uma metanálise realizada em 201717.
Estudos experimentais e clínicos têm demonstrado que a FA é associada
às disfunções endotelial vascular e atrial a partir de diferentes mecanismos,
entre eles: hemodinâmica alterada, tensão de cisalhamento das células endo-
teliais, redução na biodisponibilidade do óxido nítrico, aumentos do estresse
41
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
Rigidez arterial
Pressão de pulso
Remodelamentos
Disfunção atrial e elétrico
endotelial
AF
AF
H
LV
Hipertrofia
Reatividade
ventricular
simpática
esquerda
A disfunção endotelial é uma doença vascular geral, porém está simplificada como uma célula endotelial na artéria (aorta) na
figura. A rigidez arterial aumenta a pressão de pulso e a pós-carga no coração, o que pode induzir mudanças estruturais e elé-
tricas atriais no ventrículo esquerdo, provavelmente promovendo a FA. A hiperatividade simpática pode preceder a hipertensão
e também gerar arritmia.
42
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Há métodos não invasivos que podem ser utilizados para avaliar a função
geral da vasculatura, mas não a função coronária especificamente:
43
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
44
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Recomendações de Diretrizes
Em pacientes que apresentam qualquer um dos seguintes sinais deve
ser realizada a palpação do pulso para avaliar a presença de pulso
irregular, possível indicador de FA subjacente (Classe C): falta de ar/
2014 NICE dispneia, palpitações, síncope/tontura, desconforto no peito e AVC.
Um ECG deve ser realizado em todos os pacientes, sejam sintomáticos
ou não, nos quais houver suspeita de FA devido a uma irregularidade
detectada a partir do pulso (Classe B).
AHA/
2014 Nenhuma recomendação formal para triagem.
ACC/HRS
Para pacientes que estão sendo investigados para um AVC isquêmico
embólico agudo, recomendamos pelo menos 24 horas de ECG de mo-
nitoramento para identificar FA paroxística em potenciais candidatos à
terapia de anticoagulação oral (ACO) (forte recomendação, evidência de
qualidade moderada).
2014 Canadian
Para pacientes idosos selecionados com um AVC embólico agudo,
não lacunar, de origem indeterminada para o qual há suspeita não
comprovada de FA, sugerimos monitoramento ambulatorial adicional
(além de 24 h) para detecção de FA, quando disponível (recomendação
condicional, evidência de qualidade moderada).
A triagem oportuna para FA é recomendada por medição do pulso ou ECG
em pacientes >65 anos (Classe I, B).
Em pacientes com AIT ou acidente vascular cerebral isquêmico, a triagem
para FA é recomendada por registro de ECG seguido por monitoramento
contínuo de ECG por pelo menos 72 h (Classe I, B).
Recomenda-se verificar o marca-passo e os DCI regularmente para identifi-
car eventos atriais rápidos (AHRE). Pacientes com AHRE devem ser subme-
tidos a monitoramento adicional de ECG para documentar a FA antes de
2020 ESC iniciar a terapia de FA (Classe I, B).
Em pacientes com AVC, deve ser considerado o monitoramento de ECG adi-
cional por monitores de ECG não invasivos de longo prazo ou gravadores
de loop implantados, a fim de documentar a FA silenciosa (Classe IIa, B).
A triagem sistemática de ECG pode ser considerada para detectar FA em pa-
cientes com idade >75 anos ou aqueles com alto risco de AVC (Classe IIa, B).
O diagnóstico definitivo de FA em triagem positiva é estabelecido somente
após o médico analisar a gravação de ECG de derivação única de ≥30s ou
a do ECG de 12 derivações confirmando a FA (Classe I, B).
Adaptada de: Mairesse GH et al. Europace; 2017.24 Hindricks G et al. Eur Heart J; 2021.25
45
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
Figura 3. Exemplos gráficos de Poincaré com pontos plotados baseados em uma gravação de ECG de uma hora.
0 0.5 1.0 1.5 2.0 R’R’’ [S] 0 0.5 1.0 1.5 2.0 R’R’’ [S] 0 0.5 1.0 1.5 2.0 R’R’’ [S]
46
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Parâmetros
calculados
Análise de componente principal de
Parâmetros de conjuntos de dados
dados sobre o intervalo R-R
de ECG de patologias conhecidas (FA,
AFP, normais)
Desvios-padrão calculados dos dados
do intervalo R-R
Matriz de decisão
Análise de parâmetros matemáticos
não lineares/lineares
47
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
48
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
49
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
50
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Será apresentada a confirmação de que o exame foi enviado para análise. Ago-
ra, precisamos aguardar alguns minutos para obter o relatório.
51
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
52
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Após o login, clique no menu “Relatórios”. Será exibida a lista com todos os re-
latórios disponíveis para download ou o surgirá o status atual da análise de SRA.
Clique no botão “Download” para obter o arquivo de relatório.
53
Capítulo 3. O Desafio no Diagnóstico da Fibrilação Atrial Paroxística
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54
Capítulo 4
Paciente
Hipertenso com
Fibrilação Atrial:
Melhores estratégias de tratamento
Autor
Coautor
CAPÍTULO 4: Paciente Hipertenso com Fibrilação Atrial: Melhores Estratégias de Tratamento
INTRODUÇÃO
57
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
70
60
% de pacientes
50
40
30
20
10
0
Diagnosticada Paroxística Persistente Permanente
pela primeira vez n=1.517 n=1.167 n=1.541
n=978
Legenda
Hipertensão Doença arterial coronária Insuficiência cardíaca Doença cardíaca valvular
Todavia a FA é assintomática em até 35% dos casos8. Esse fator dificulta o seu
diagnóstico e aumenta as chances de ocorrência de fenômenos tromboembólicos
como o AVE, principalmente no indivíduo com HA sobreposta à FA silenciosa.
58
CAPÍTULO 4: Paciente Hipertenso com Fibrilação Atrial: Melhores Estratégias de Tratamento
Classificação clínica
FA sim FA não Total
Classificação SRA FA sim 500 24 524
FA não 4 2.797 2.801
Total 504 2.821 3.325
Sensibilidade 500/504 = 0,99; Especificidade = 2.794/2.821 = 0,99
SRA = análise de risco de AVC (do inglês, Stroke Risk Analysis – SRA)
ECG = eletrocardiograma
FA = fibrilação atrial
59
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
O estudo SPRINT (Systolic Blood Pressure Intervention Trial) comparou duas metas
de tratamento (PAS < 20 mmHg x < 140 mmHg) em relação a desfechos cardiovas-
culares e à mortalidade. O grupo submetido a tratamento intensivo (< 120 mmHg)
apresentou diminuição de 25% do desfecho primário [composto de infarto, síndro-
me coronariana aguda não resultando em infarto, AVE (acidente vascular encefálico),
IC descompensada e morte cardiovascular], além de redução de 27% da mortalidade
por todas as causas. Por isso, esse estudo foi interrompido precocemente, com se-
guimento médio de 3,26 anos13.
Duas subanálises recentes desse estudo demonstraram resultados confli-
tantes acerca do benefício do tratamento anti-hipertensivo intensivo na preven-
ção da fibrilação atrial14,15.
Soliman et al. utilizaram os eletrocardiogramas obtidos diretamente do banco
de dados do estudo SPRINT, do qual foram autores. Foram excluídos da avaliação
os pacientes que já apresentavam o diagnóstico de FA no momento da randomi-
zação (127) e aqueles sem eletrocardiograma no momento da randomização (138)
ou durante o seguimento (1.074). Nesse estudo, portanto, havia a possibilidade de
inclusão de pacientes portadores de FA paroxística: histórico de FA, mas eletrocar-
diograma sinusal na randomização14.
Já Parcha et al., utilizando dados disponíveis publicamente do estudo SPRINT,
excluíram da análise os pacientes com história clínica prévia de FA ou com eletro-
cardiograma apresentando essa arritmia15.
Com a inclusão de possíveis portadores de FA paroxística, pressupõe-se que
nesse grupo haja recorrência da FA. Isso poderia justificar a maior incidência de
FA (6,21 e 8,33 por 1.000 pessoas/ano para os grupos intervenção e controle, res-
pectivamente) na análise conduzida por Soliman et al. quando comparada àquela
realizada por Parcha et al. (4,11 e 4,95 por 1.000 pessoas/ano)14,15.
Além disso, o benefício do tratamento anti-hipertensivo na prevenção da FA
tende a ser maior naqueles com quadro paroxístico dessa arritmia. Isso poderia
justificar a diferença entre as duas análises: 206 casos de FA no estudo de Soliman
et al. [RR 0,74 (0,56-0,98, IC 95%) p = 0,037] e 141 no estudo de Parcha et al. [RR
0,78 (0,56-1,10, IC 95%) p = 0,15]14,15.
Apesar de apresentar resultados estatísticos discordantes, ambas as análi-
ses, quando associadas aos dados dos estudos SHEP e ACCORD-BP, demons-
traram benefício do tratamento intensivo da pressão arterial na prevenção da
FA: Soliman et al. [RR 0,77 (0,63-0,95, IC 95%) p= 0,01] e Parcha et al. [RR 0,80
(0,61-0,98, IC 95%) p = 0,047]14–16.
Nos estudos SPRINT e SHEP, o tratamento intensivo da pressão arterial re-
duziu significativamente o risco de insuficiência cardíaca. Esse achado poderia
justificar a menor incidência da FA nesses indivíduos, por serem tais condições
clinicamente associadas11,13.
60
CAPÍTULO 4: Paciente Hipertenso com Fibrilação Atrial: Melhores Estratégias de Tratamento
Uso de IECA/BRA
Os bloqueadores de receptores de angiotensina (BRAs) e os inibidores de en-
zimas conversora de angiotensina (IECAs) são drogas de primeira linha para o tra-
tamento da HA. Atuam inibindo o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA)
e demonstraram redução de morbimortalidade no tratamento da IC. Em relação à
prevenção de FA, a literatura aponta dados heterogêneos17.
Diversas metanálises realizadas com BRAs/IECAs não demonstraram benefício
na redução de FA em indivíduos hipertensos18–21. Outras mostraram vantagem des-
sa classe na diminuição de FA em hipertensos22,23.
Os achados também foram conflitantes em análises secundárias de gran-
des ensaios clínicos.
A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é um grande preditor do surgimento
de FA em hipertensos. Em uma subanálise do estudo LIFE (Losartan Intervention for
Endpoint Reduction in Hypertension), que comparou losartana e atenolol em relação
a desfechos cardiovasculares, a regressão da HVE com o uso do bloqueador do
receptor de angiotensina foi associada à diminuição da incidência de FA24.
Ainda no estudo LIFE, o uso de losartana comparado ao de atenolol demons-
trou redução do desfecho primário (composto de mortalidade cardiovascular, AVE
e infarto do miocárdio). A diminuição de novos casos de FA no grupo tratado com
losartana contribuiu para a queda da taxa de AVE e, consequentemente, para a
redução do desfecho primário25.
No estudo VALUE (Valsartan Antihypertensive Long-term Use Evaluation), o uso de
valsartana comparado ao de anlodipino (ambos associados a outros anti-hiper-
tensivos) demonstrou redução na incidência de novos casos de FA paroxística e
permanente em pacientes hipertensos de alto risco26.
No estudo ALLHAT (Antihypertensive and Lipid-Lowering Treatment to Prevent Heart
Attack Trial), o emprego de lisinopril comparado ao de clortalidona demonstrou ten-
dência à maior incidência de fibrilação atrial (+4%, p = 0,48). Quando contraposto
ao anlodipino, o uso de lisinopril foi associado ao surgimento de novos casos de FA
com significância estatística (+13%, p = 0,02)27.
Em uma análise secundária do estudo HOPE (Heart Outcomes Prevention
Evaluation), 8.335 pacientes de alto risco cardiovascular ≥55 anos, sem IC ou FA,
quando submetidos ao tratamento com ramipril comparado ao placebo, não
tiveram menor incidência de FA [2,0% x 2,2%; OR 0,92 (0,68-1,24, IC 95%) p = 0,57]28.
Uso de Betabloqueadores
Os betabloqueadores são drogas consagradas nos tratamentos de IC, DAC e
diversas arritmias. São medicações de primeira linha na estratégia de controle de
frequência da FA e também atuam prevenindo a recorrência dessa arritmia após
a cardioversão29,30.
61
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
62
CAPÍTULO 4: Paciente Hipertenso com Fibrilação Atrial: Melhores Estratégias de Tratamento
Razão de
Seletivida- Meia-vida
Fármaco potência do ISA Lipofilicidade Outro
de β1/ β2 (horas)
bloqueio β1
Nadolol 1,0 0 0 Baixa 12-24
Pindolol 6,0 0 ++ Alta 3-4
Propanolol 1,0 0 0 Alta 3-4
Efeitos
Sotalol 0,3 0 0 Baixa 12
antiarrítmicos
Timolol 0,6 0 0 Alta 4-5
Acebutolol 0,3 + + Moderada 3-4
Atenolol 1,0 + 0 Baixa 6-9
Bisoprolol 10,0 ++ 0 Moderada 9-12
Metoprolol 1,0 ++ 0 Alta 3-4
Efeito de
bloqueio α1,
Labetolol 0,3 + 0 Baixa 3-4
vasodilatação β
direta
Efeito de
Carvediol 10,0 0 0 Moderada 7-10
bloqueio α1
Endotélio-
dependente,
Nebivolol 10,0 +++ 0 Moderada 8-27
vasodilatação
mediada pelo NO
63
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
64
CAPÍTULO 4: Paciente Hipertenso com Fibrilação Atrial: Melhores Estratégias de Tratamento
CONCLUSÃO
65
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
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66
Capítulo 5
Miocardiopatias
e Fibrilação
Atrial
Melhores estratégias de tratamento
INTRODUÇÃO
69
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Hipertensão Arterial
Obesidade
Insuficiência Renal Crônica
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
Anemia
Doença Hepática
Câncer
Demência
Evento Cerebrovascular
Doença Arterial Periférica
70
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
o cenário de “epidemia de IC” a melhora dos cuidados dos pacientes com doença
arterial coronária e o aumento da sobrevida após o infarto agudo do miocárdio,
com pacientes que evoluem tardiamente para a síndrome de IC. Estima-se que 2%
da população geral tenha IC, sendo que esse valor sobe para 8% nos indivíduos
acima de 65 anos.
Dessa forma, a prevalência de FA é bastante elevada, independentemente da
fração de ejeção. Seja IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr), IC com fração de
ejeção intermediária (ICFEi) ou IC com fração de ejeção preservada (ICFEp), a FA é
a arritmia sustentada mais comumente encontrada em associação com a IC, com
uma preponderância estimada de 25 a 65%, a depender da coorte de pacientes
estudados7 – observe que, na Figura 1, há predomínio de fibrilação atrial na IC nos
variados espectros de fração de ejeção8.
100
Prevalência de FA
80
65%
60%
60 53%
40
20
0
ICFEr ICFEi ICFEp
Legenda
ICFEr - insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida
71
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
100
80
60
40
20
0
<60 60-90 70-79 80-89 90-
Faixas etárias
Legenda
FEVEi - fração de ejeção intermediária
FEVEp: Homens FEVEp : Mulheres
FEVEr - fração de ejeção reduzida
FEVEi: Homens FEVEi: Mulheres FEVEp - fração de ejeção preservada
72
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
Prognóstico
A associação entre FA e IC apresenta uma forte correlação com pior prognósti-
co. Quando comparada com pacientes portadores de IC e ritmo sinusal, a FA agre-
ga uma importante redução de sobrevida livre de eventos, independentemente da
fração de ejeção (Figura 3).
Figura 3. Pior prognóstico dos pacientes com IC e FA em relação àqueles com IC e ritmo sinusal
Sobrevivência acumulada (%)
100
Legenda
RS - FEVEi
80 RS - FEVEr
RS - FEVEp
60 FA - FEVEi
FA - FEVEr
40 FA –FEVEp
20
0
0 2 4 6 8 Tempo (anos)
Número em risco
3.585 2.129 1.087 377 93 RS - FEVEi
10.767 6.210 3.261 1.236 312 RS - FEVEr
3.345 1.814 870 262 53 RS - FEVEp
5.312 2.721 1.262 396 82 FA - FEVEi
12.187 6.092 2.932 1.010 230 FA - FEVEr
6.250 2.992 1.314 350 64 FA – FEVEp
73
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Legenda
Taxa de eventos em 1 ano (%)
50 ICFEr
40 ICFEi
40 37
34 ICFEp
30 CA - cardiomiopatia arritmogênica
23 24 IC – insuficiência cardíaca
22 22
20 19 AVC – acidente vascular cerebral
20
AIT - ataque isquêmico transitório
74
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
• Hipertensão
• Hipertensão • Diabetes mellitus
• Tabagismo • Inflamação
• Diabetes mellitus • Obesidade
• Envelhecimento • Doença pulmonar crônica
• Inflamação • Apneia do sono
• Genética • Tabagismo
• Obesidade Ritmo sinusal • Envelhecimento
• Isquemia coronariana • Genética
• Resposta ventricular
rápida
• Cardiomiopatia induzida
por taquicardia
• Estresse mecânico
• Dilatação ventricular
esquerda
• Inotropismo reduzido
• Fibrose cardíaca
• Inflamação
• Hipertrofia dos miócitos
• Dilatação atrial
75
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Miocardiopatia Atrial
O papel da função atrial na relação com a IC tem sido alvo de recentes dis-
cussões. A miocardiopatia atrial pode ser definida como doenças do miocárdio
associadas com disfunção elétrica e/ou mecânica que usualmente causam fibrose
atrial, hipertrofia ou dilatação do átrio16. Essa alteração atrial pode prejudicar uma
disfunção ventricular assintomática, descompensar um quadro de IC e aumentar
o risco de AVC16.
Essa nova entidade emergiu como uma disfunção atrial que impacta significa-
tivamente a performance cardíaca, com agravamento dos sintomas e pioras da
qualidade de vida e do prognóstico. O reconhecimento dessa condição trouxe à
tona a importância da função atrial na gênese dos sintomas em muitos pacientes,
e seu adequado manejo será alvo de estudos clínicos buscando um melhor enten-
dimento de sua fisiopatologia e o direcionamento do tratamento.
Tratar as comorbidades
76
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
Anticoagulação
A combinação de IC e FA aumenta de maneira significativa o risco tromboem-
bólico quando comparado ao risco de cada uma das condições separadamente.
Não há diferenças entre os subtipos de IC em relação à possibilidade de fenô-
menos tromboembólicos, sendo recomendada a anticoagulação sistêmica pelos
guidelines15. A avaliação do risco de AVC é realizada pelo escore de CHADS-VASc,
no qual a IC computa um ponto e, alguns autores, sugerem um possível papel da
anticoagulação no cenário de miocardiopatias específicas, como a miocardiopatia
hipertrófica e amiloidose cardíaca.
77
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
Controle
Controle de
de taxa
taxa Controle de
Controle deritmo
taxa Controle
Controle de de
ritmo não
taxa
• Betabloqueadores farmacológico com ou
• Betabloqueadores farmacológico
• Betabloqueadores
• Bloqueadores dos • sem cardioversão
Bloqueadores dos ••Ablação por cateter
Bloqueadores dos
canais de cálcio (ICFEp) canais• Amiodarona
de cálcio (ICFEp) canais de• Cirurgia
cálcio (ICFEp)
• Digoxina •• Dofetilida
Digoxina • Digoxina
• Amiodarona • Sotalol (pacientes com
• Amiodarona • Amiodarona
• Ablação nodal um CDI)
• Ablação nodal • Ablação nodal
atrioventricular • Dronedarona
atrioventricular atrioventricular
78
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
• Obesidade: reduzir pelo menos 10% do peso corporal, IMC <27 kg/m2 e discu-
tir cirurgia bariátrica em casos selecionados;
• Tabagismo: cessação do tabagismo;
• Inatividade física: atividade aeróbica regular de moderada intensidade por, no
mínimo, 150 minutos semanais, geralmente com apoio da fisioterapia;
• Uso excessivo de álcool: o excesso de álcool tem relação com a ocorrência de
fibrilação atrial e IC. A redução do consumo alcoólico é encorajada, especial-
mente na diminuição de recorrências;
• Suspeita de apneia obstrutiva do sono: comorbidade frequente no consultó-
rio, especialmente em pacientes com obesidade. É fundamental o médico ques-
tionar o paciente em relação aos sintomas mais comuns e procurar o diagnós-
tico. Se não tratada, a apneia do sono pode levar à hipertensão pulmonar e ao
aumento de recorrência de fibrilação atrial.
79
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
CONCLUSÕES
80
Capítulo 5. Miocardiopatias e Fibrilação Atrial - Melhores Estratégias de Tratamento
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81
Capítulo 6
Prevenção de
Acidente Vascular
Encefálico em
Pacientes com
Fibrilação Atrial
Renato Delascio Lopes, MD, Ph.D
• Professor de Medicina da Divisão de Cardiologia do Duke Clinical
Research Institute, Duke University, Durham, NC, EUA
• Pesquisador do Brazilian Clinical Research Institute, São Paulo, Brasil
Autor
INTRODUÇÃO
84
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
85
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
10
Risco de AVC ao ano (%)
9 Considerar Anticoagulação
Anticoagulação indicada
8
7
6
5
4
3
2
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Escore CHA2DS2 - VASc
Legenda
CHA2DS2 - VASc Score Pontos
Dado histórico
Insuficiência cardíaca (1)
Dabigatrana
Hipertensão (1)
Apixabana
Idade ≥ 75 anos (2)
Edoxabana
Diabetes (1)
Rivaroxabana
AVC ou AIT prévio (2)
Varfarina
Doença vascular (1)
Idade 65-74 anos (1)
Sexo feminino (1)
As pontuações na escala CHA2DS2-VASc variam de 0 a 9, com escores mais altos indicando um risco maior de acidente
vascular cerebral. Os pontos são somados para gerar a pontuação. Os escores CHA2DS2-VASc médios e as taxas de AVC
em grandes estudos randomizados são mostrados para pacientes que recebem anticoagulantes orais de ação direta e para
aqueles que recebem varfarina. A anticoagulação é indicada para indivíduos com pontuação CHA2DS2-VASc de 2 ou mais
(área sombreada) e pode ser considerada para pacientes com pontuação 1.
AVC = acidente vascular cerebral
AIT = ataque isquêmico transitório
86
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
87
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
Potencialmente
Não modificáveis Modificáveis Biomarcadores
modificáveis
• Idade >65 anos • Fragilidade extrema • Hipertensão arterial • GDF-15
• Episódios prévios de • Anemia sistêmica ou hiperten- • Cistatina C/ CKD-DRC
sangramento maior são sistólica isolada
• Plaquetopenia ou • Troponina T de alta
• Disfunção renal grave disfunção plaquetária • Uso concomitante de sensibilidade
antiplaquetários ou de
(diálise ou transplante • Disfunção renal com • Fator de von
renal) ClCr menor que 60 anti-inflamatórios não Willebrand (+ outros
mL/min hormonais marcadores de
• Cirrose hepática
• Ingesta excessiva de coagulação)
• Fatores genéticos
álcool
(por exemplo:
polimorfismos CYP2C9) • Não aderência ao
uso de anticoagulantes
• AVC prévio ou
orais
doença microvascular
cerebral • Atividades de traba-
lho ou lazer perigosas
• Diabetes
• Demência ou
distúrbio cognitivo
Antagonistas da Vitamina K
Em comparação com o controle ou o placebo, a terapia com antagonista da
vitamina K (AVK) (principalmente a varfarina) reduz o risco de AVC em 64% e a
mortalidade em 26%19 e, ainda, é a terapia anticoagulante usada em muitos pa-
cientes com FA em todo o mundo. Os AVKs são atualmente o tratamento antico-
agulante indicado para pacientes com FA com estenose mitral reumática grave e/
ou válvula cardíaca metálica.
88
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
89
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
90
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
com aspirina foi ineficaz para a prevenção de AVC em comparação com nenhum
tratamento antitrombótico e foi associada a um maior risco de acidente vascular
cerebral isquêmico em pacientes idosos27. No geral, a monoterapia antiplaquetária
é ineficaz para a prevenção de AVC e é potencialmente prejudicial, (especialmen-
te entre pacientes idosos com FA), enquanto a TAPD está associada a um risco
de sangramento semelhante ao da terapia anticoagulante oral. Portanto, a terapia
com monoterapia antiplaquetária não deve ser usada para a prevenção de AVC em
pacientes com FA27.
91
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
92
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
93
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
94
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
novos trombos não se formem. Para encurtar esse tempo, a cardioversão guiada
por ecotransesofágico (ECOTE) foi introduzida. Como os NOACs agem rapidamente,
a cardioversão pode ser agendada para três semanas após o início do NOAC, des-
de que os pacientes sejam aconselhados sobre a necessidade de adesão à terapia.
Os NOACs têm em eficácia e segurança comparáveis às da varfarina em pacientes
com FA submetidos à cardioversão. Uma revisão de três estudos (5.203 pacientes)
mostrou que o desfecho primário composto (acidente vascular cerebral/embolia
sistêmica, infarto do miocárdio, ou morte cardiovascular) foi significativamente re-
duzido com NOACs em comparação com AVKs43. Em pacientes com FA há menos
de 48 horas ou quando se planeja uma cardioversão precoce é possível o emprego
de NOACs entre 2 a 4 horas antes do procedimento, conforme demonstrado no
algoritmo da Figura 2.
A terapia de longo prazo com ACO após a cardioversão não deve ser baseada
na restauração bem-sucedida do ritmo sinusal, mas no risco de AVC (usando a
pontuação CHA2DS2-VASc), equilibrado contra o risco de sangramento. Para pa-
cientes nos quais um trombo é identificado no ECOTE, deve-se manter a antico-
agulação por pelo menos três semanas antes da reavaliação para cardioversão42.
95
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
Figura 2. Algoritmo para cardioversão em pacientes com FA tratados com NOAC, dependendo da du-
ração da arritmia e da anticoagulação prévia
considere
FA ≥ 48 h ou
Checar aderência FA ≤ 48 h
duração incerta
seguir
CARDIOVERSÃO
Incerto: se CHA2DS2-VASc 0
Toda a vida : se CHA2DS2-VASc1
4 semanas : se CHA2DS2-VASc (homem) e 1 (mulher) e FA < 48 h.
(homem) e ≥ 2 (mulher) tanto para
0 (homem) e 1 (mulher) e FA ≥ 48 h Omissão da ACO pode ser considera-
FA paroxística como persistente
da se FA definitivamente < 24 horas
FA = fibrilação atrial
CV = cardioversão
NOAC = anticoagulante oral não antagonista da vitamina K
96
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
97
Capítulo 6. Prevenção de Acidente Vascular Encefálico em Pacientes com Fibrilação Atrial
CONCLUSÃO
98
FIBRILAÇÃO ATRIAL FATORES DE RISCO, MANEJO E COMPLICAÇÕES
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rivaroxabana
MEDICAMENTO SIMILAR EQUIVALENTE AO MEDICAMENTO DE REFERÊNCIA
USO ORAL
USO ADULTO
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de joelho ou quadril nos estudos de fase III relataram em seu histórico médico o
consumo de álcool ao menos eventualmente. Pacientes foram ambulatoriais du-
rante algum tempo, mas não há disponível nenhuma informação adicional sobre o
uso concomitante de álcool e tabaco.
POSOLOGIA: Prevenção de TEV: a dose recomendada para prevenção de TEV
em cirurgia ortopédica é um comprimido de 10 mg uma vez ao dia, com ou sem ali-
mento. A duração do tratamento depende do tipo de cirurgia ortopédica. Após ci-
rurgia de grande porte do quadril, os pacientes devem ser tratados por 5 semanas.
Após cirurgia de grande porte do joelho, os pacientes devem ser tratados por 2
semanas. A dose inicial deve ser tomada 6 a 10 horas após a cirurgia, contanto que
tenha sido estabelecida a hemostasia. Para pacientes que não conseguem engolir
comprimidos inteiros, o comprimido de rivaroxabana pode ser triturado e mistu-
rado com água ou alimentos pastosos, como purê de maçã, imediatamente antes
da utilização, e administrado por via oral. O comprimido de rivaroxabana triturado
pode ser administrado por sonda gástrica. Deve-se confirmar o posicionamento
da sonda gástrica antes de administrar rivaroxabana. O comprimido triturado deve
ser administrado em uma pequena quantidade de água através de uma sonda
gástrica, que deve ser lavada com água após a administração. Em caso de esque-
cimento da tomada de um comprimido, o paciente deverá tomar a dose de 10 mg
de rivaroxabana assim que se lembrar e, no dia seguinte, continuar tomando o
comprimido uma vez ao dia, como antes. Prevenção de TVP e EP recorrentes:
a dose recomendada para o tratamento inicial de TVP e EP agudos é de 15 mg de
rivaroxabana duas vezes ao dia para as três primeiras semanas, seguido por 20
mg de rivaroxabana uma vez ao dia para a continuação do tratamento e para a
prevenção da TVP e de EP recorrentes. Após a conclusão de pelo menos 6 meses
de tratamento para TVP ou EP, rivaroxabana 10 mg uma vez ao dia ou rivaroxabana
20 mg uma vez ao dia é recomendado com base em uma avaliação de risco indivi-
dual de TVP ou EP recorrente em relação ao risco de sangramento. Tratamento
e prevenção de TVP ou EP recorrentes - Dia 1 – 21: 15 mg duas vezes ao dia.
Dia 22 em diante: 20 mg uma vez ao dia. Prevenção de TVP ou EP recorrentes
- Após a conclusão de pelo menos 6 meses de tratamento para TVP ou EP: 10 mg
uma vez ao dia ou 20 mg uma vez ao dia, com base na avaliação risco- benefício
do médico. Para TVP e EP, a duração do tratamento deve ser individualizada após
cuidadosa avaliação do benefício do tratamento contra o risco de sangramento. A
terapia de curta duração (3 meses) deve ser considerada em pacientes com TVP ou
EP provocada pelos principais fatores de risco transitórios (por exemplo, cirurgia
importante recente ou trauma). A terapia de longa duração deve ser considerada
em pacientes com TVP ou EP provocada por fatores de risco permanentes, TVP
ou EP não provocada, ou história de TVP ou EP recorrente. Durante as primeiras
3 semanas de tratamento agudo, rivaroxabana 15 mg deve ser tomado 2 vezes
ao dia. Após as primeiras 3 semanas, o tratamento com rivaroxabana deve ser
continuado com 20 mg uma vez ao dia. Após pelo menos 6 meses de tratamento,
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“Atenção: este produto é um medicamento que possui nova indicação terapêutica no país e, embora as pesquisas te-
nham indicado eficácia e segurança aceitáveis, mesmo que indicado e utilizado corretamente, podem ocorrer eventos
adversos imprevisíveis ou desconhecidos. Nesse caso, notifique os eventos adversos pelo Sistema VigiMed, disponível
no Portal da ANVISA.”
Registro M.S. nº. 1.0235.1283/ Farm. Resp. Dra. Telma Elaine Spina/ CRF - SP 22.234/ EMS S/A/ Rod. Jornalista Francis-
co Aguirre Proença, Km 08/ Bairro Chácara Assay/ Hortolândia – SP/ CEP 13186-901/ 57.507.378/0003-65/ INDÚSTRIA
BRASILEIRA. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. “SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTA-
DO”. Documentação científica e informações adicionais estão disponíveis no Serviço de Atendimento ao Consumidor e
no serviço de atendimento aos profissionais prescritores e dispensadores de medicamentos.
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“Em casos de eventos adversos, notifique pelo Sistema VigiMed, disponível no Portal da ANVISA.”
Registro M.S. nº. 1.0235.1283/ Farm. Resp. Dra. Telma Elaine Spina/ CRF - SP 22.234/ EMS S/A/ Rod. Jornalista Francis-
co Aguirre Proença, Km 08/ Bairro Chácara Assay/ Hortolândia – SP/ CEP 13186-901/ 57.507.378/0003-65/ INDÚSTRIA
BRASILEIRA. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. “SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTA-
DO”. Documentação científica e informações adicionais estão disponíveis no Serviço de Atendimento ao Consumidor e
no serviço de atendimento aos profissionais prescritores e dispensadores de medicamentos.
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CONCÁRDIO®
Hemifumarato de bisoprolol
USO ADULTO
USO ORAL
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de: diabetes mellitus com grandes flutuações nos níveis da glicemia, uma vez que
sintomas de hipoglicemia (como taquicardia, palpitações ou sudorese) podem ser
mascarados; jejum rigoroso; terapia de dessensibilização em andamento (confor-
me ocorre com outros betabloqueadores, o bisoprolol pode aumentar tanto a sen-
sibilidade em relação aos alérgenos quanto a gravidade de reações anafiláticas. O
tratamento com epinefrina pode nem sempre proporcionar o efeito terapêutico
esperado); bloqueio AV de primeiro grau; angina de Prinzmetal; doença arterial
obstrutiva periférica. Pacientes com psoríase ou com histórico de psoríase somen-
te devem receber betabloqueadores após cuidadosa avaliação dos riscos e benefí-
cios. Sintomas de tireotoxicose podem ser mascarados sob tratamento com biso-
prolol. Em pacientes com feocromocitoma, o bisoprolol não deve ser administrado
até que tenha ocorrido o bloqueio dos alfa-receptores. Em pacientes submetidos
à anestesia geral, o betabloqueio reduz a incidência de arritmias e isquemia do
miocárdio durante indução e entubação e o período pós-operatório. Normalmente
recomenda-se que se mantenha o betabloqueio no período pós-operatório.
Caso seja considerado necessário interromper o tratamento com o betabloquea-
dor antes da cirurgia, isso deve ser feito gradualmente e completado cerca de 48
horas antes da anestesia. Embora betabloqueadores cardiosseletivos (beta1) pos-
sam apresentar menos efeitos sobre a função pulmonar do que os betabloquea-
dores não-seletivos, como acontece com todos os betabloqueadores, estes devem
ser evitados em pacientes com doenças obstrutivas das vias aéreas, a menos que
existam razões clínicas relevantes para seu uso. Nessas situações, CONCÁRDIO
pode ser usado com cautela. Na asma brônquica ou em outras doenças pulmona-
res obstrutivas crônicas, que podem causar sintomas, indica-se terapia broncodila-
tadora concomitante. Pode ocorrer aumento ocasional na resistência das vias aé-
reas em pacientes asmáticos, requerendo uma dose maior de estimulantes beta2.
Gravidez: Categoria de risco C. Não se recomenda a administração de CONCÁRDIO
durante a lactação. A capacidade para dirigir ou para operar maquinário pode ser
prejudicada. Isso deve ser levado em consideração, particularmente no início do
tratamento e no caso de troca da medicação, assim como na administração conco-
mitante com o álcool. Este medicamento pode causar doping. REAÇÕES ADVER-
SAS: bradicardia (em pacientes com insuficiência cardíaca crônica), comuns: piora
de insuficiência cardíaca pré-existente (em pacientes com insuficiência cardíaca
crônica), tontura*, cefaleia, queixas gastrointestinais como náusea, vômito, diar-
reia, constipação, sensação de frio ou dormência nas extremidades, hipotensão
(especialmente em pacientes com insuficiência cardíaca), astenia, (em pacientes
com insuficiência cardíaca crônica), fadiga. POSOLOGIA: Os comprimidos devem
ser engolidos inteiros, com algum líquido, pela manhã, antes, durante ou após o
café da manhã. Este medicamento não deve ser partido ou mastigado. Tratamento
de hipertensão ou angina pectoris. Adultos: Para ambas as indicações a dosagem é
5 mg uma vez ao dia. Caso seja necessário, a dose pode ser aumentada para 10 mg
uma vez ao dia. A dose máxima recomendada é 20 mg uma vez ao dia. Em todos os
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