Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei
nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou
qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios
(eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra,
bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora.
Título: Manual de Clínica Médica 2ª Edição
Editor: Guilherme Melo
Revisão ortográfica: Thaís Nacif
Diagramação: GALLETI | Marketing 360 Graus
Capa: Mateus Machado
Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Paulo Costa Lima, Sandra de Quadros Uzêda,
Sheila de Quadros Uzêda e Silvio José Albergaria da Silva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)
F475m Figueiredo, Estevão Tavares (org.).
Manual de Clínica Médica / Organizador: Estevão Tavares Figueiredo. - 2. ed. - Salvador, BA :
Editora Sanar, 2020. 1216 p.; 16x23 cm.
ISBN 978-65-87930-40-4
1. Clínica. 2. Manual. 3. Médica 4. Medicina. I. Título. II. Assunto. III. Figueiredo, Estevão
Tavares.
CDD: 617
CDU: 616
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, Thayná Araújo (coord.) et al. Manual de Semiologia Médica. 1. ed. Salvador: Editora
Sanar, 2020.
Módulo 1 - Cardiologia
1.1 Eletrocardiograma
1.3 Dislipidemias
1.4 Síndromes Coronarianas Agudas
1.7 Taquiarritmias
1.8 Bradiarritmias
1.11 Anticoagulantes
Módulo 2 - Endocrinologia
2.1 Cetoacidose Diabética
Módulo 3 - Gastroenterologia
3.1 Ascite
3.2 Abdome Agudo
Módulo 4 - Infectologia
4.1 Dengue
4.2 Tuberculose
4.3 HIV / AIDS
4.4 Influenza
4.5 Endocardite Infecciosa
4.6 Leptospirose
4.7 Leishmaniose Tegumentar Americana
4.10 Hanseníase
4.11 Rotina após Exposição Ocupacional com Material Biológico
4.12 Acidentes por Animais Peçonhentos
4.13 COVID-19
Módulo 5 - Nefrologia
5.1 Cólica Nefrética
Módulo 6 - Pneumologia
6.1 Exacerbação de Asma
6.2 Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)
6.3 Tromboembolia Pulmonar Aguda
Módulo 7 - Reumatologia
7.1 Lúpus Eritematosos Sistêmico (LES)
7.5 Gota
7.6 Osteoporose
7.7 Fibromialgia
8.10 Coma
8.11 Delirium
Módulo 9 - Hematologia
9.1 Investigação Inicial das Anemias
Módulo 11 - Oftalmologia
11.1 Ceratites
11.2 Celulite Pré-septal e Pós-septal
11.3 Conjuntivites
Quando interferimos na vida de quem nos procura como médicos, precisamos de ações
fundamentadas no que há de melhor e mais ético para a realização da beneficência – não
maleficência –, justiça e respeito à autonomia. Quem nos procura chega vulnerável, inocente,
esperando de nós o mínimo de respeito, retidão e eficácia. Precisamos, além do atendimento
humanizado e individualizado, pautar nossas decisões no que há de mais robusto na literatura médica
para que todos sejam tratados correta e igualitariamente.
Em tempos obscuros nos quais a ciência é questionada, menosprezada e refutada por opiniões
rasas e sem fundamentações, temos o dever, como médicos e cidadãos, de propagar o conhecimento
advindo de randomizações e comprovações científicas. Esse é um dos objetivos do nosso livro,
embora todo ele tenha sido feito para que o paciente seja beneficiado.
O Estevão acreditou na perpetuação do projeto – bem como a Sanar – e todos nós o
desenvolvemos com muita responsabilidade e seriedade para que todos tenham acesso à medicina
baseada em evidências. Com este livro, pretendemos pulverizar conhecimentos de qualidade,
minimizando barreiras e embasando condutas para que a boa prática médica beneficie a todos, sem
distinção.
O livro aborda temas pertinentes e rotineiros na prática clínica de graduandos e médicos
generalistas, e convida os colegas a se manterem preparados e atualizados, consolidando sempre a
qualidade e a empatia nos atendimentos.
Vamos em frente, juntos!
José Tasca
Autor
Coordenador do Centro de Terapia Intensiva do Hospital do Coração de Poços de Caldas (Hospital
Santa Lúcia) e Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas. Título de Especialista em Cardiologia
pela SBC. Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Título de Especialista em
Endocrinologia e Metabologia pela SBEM. Preceptor da Residência de Cardiologia do Hospital do
Coração de Poços de Caldas. Professor da Faculdade de Medicina da PUC - Poços de Caldas.
Iracema Esteves
Autora
Especialista em Hematologia e Hemoterapia. Doutora pela UNIFESP/EPM em transplante de
células-tronco hematopoéticas. Médica hematologista do corpo clínico do Hospital Israelita Albert
Einstein e da Beneficência Portuguesa em São Paulo-SP.
Bruna Bonzi
Autora
Acadêmica do 7º período de Medicina da F.A.M.E.S.C. de Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
Bruna Sá Eduardo
Autora
Acadêmica do 7º período de Medicina da F.A.M.E.S.C. de Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
Rayssa Tavares
Autora
Cursando Especialização em Dermatologia pela Faculdade ISMD, Belo Horizonte-MG.Graduada em
Medicina pela UniAtenas-Paracatu-MG.
introdução
O eletrocardiograma (ECG) básico possui doze derivações clássicas, sendo seis no plano frontal
(aVR, aVL, aVF, DI, DII, DIII) (Figura 1), representando as extremidades aferidas nos membros, e as
demais no plano horizontal, localizadas no precórdio (V1, V2, V3, V4, V5, V6) (Figura 2). Williem
Einthoven ganhou o Nobel de Medicina em 1924 por ter realizado o ECG propriamente dito. Porém,
sabe-se que apenas em 1931 o médico Frank Norman Wilson criou o sistema de seis derivações
precordiais, ou plano horizontal, padronizadas pela American Heart Association em 1938 (Figura 2).
Figura 1. Eixos e ângulos cardíacos frontais.
Fonte: Elaborado pelos autores
Figura 2. Eixos cardíacos precordiais.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O ECG é representado pelas ondas P, QRS, T, U; seguimentos PR, ST; intervalos PRi, QTi (Figura
3), e suas diversas morfologias variam de acordo com a derivação analisada, respeitando-se o
posicionamento dos eletrodos no paciente (Tabela 1).1-3
Figura 3. Eletrocardiograma normal.
Fonte: Elaborado pelos autores.
DI MSD e MSE
aVR MSD
aVL MSE
aVF MIE
V3 5o EICE, entre V2 e V4
MSD – membro superior direito. MSE – membro superior esquerdo. EIC – Espaço Intercostal.
EICD – Espaço intercostal direito. EICE – Espaço intercostal Esquerdo.
O ritmo fisiológico do coração, denominado de sinusal, origina-se no átrio direito alto. Para saber
se o ritmo é sinusal deve-se preencher os seguintes critérios:1-3,5
√RR
Como a Fórmula de Bazzet sofre muita influência da frequência cardíaca, devemos limitar o seu
uso a frequências entre 60 e 100 bpm. Em casos fora dessa faixa, existem outras fórmulas mais
adequadas (ver abaixo), especialmente a de Fridericia, por ser mais acurada). Além do mais, em
pacientes que apresentem QRS alargado (como BRE ou uso de marca-passo), o QT deve sofrer uma
correção adicional (Fórmula de Bogossian) antes do uso dessas fórmulas.
• Fórmula de Bogossian: 8
• Fórmula de Hodges: 9
• Fórmula de Framingham:
QT corrigido = QT medido + 0,154 (1 - RR)
• Fórmula de Fridericia: 10
QT corrigido = QT medido
(RR)1/3
A duração do QTc deve ser menor ou igual a 440-460 ms, podendo variar com o gênero.
Pode-se traçar uma linha média entre o complexo QRS. Caso a onda T ultrapasse essa linha
imaginária, o QTi é considerado longo (Figura 4):1-3,6
5-20 mm (frontal)
Complexo QRS < 110 – 120 ms
10-30 mm (precordiais)
DII: entalhe na onda P > 40 ms (P mitrale) Peñaloza-Tranchesi (QRS V1 < 1/3 QRS V2)
V1: porção final da onda P negativa com área V1: porção inicial da onda P positiva com área
> 40 ms x 0,1 mV (sinal de Morris) > 0,06 ms
SÂP desviada para esquerda entre -30º e - 45º SÂP desviada para a direita e para cima (75º)
• RaVL > 1,1 mV: Este é um critério isolado, em que apenas se verifica se a onda R de aVL é
maior que 11 mm (1,1 mV).
• Critérios de Romhilt-Estes (Tabela 5): Resultado igual a quatro pontos significa uma
provável sobrecarga. Se acima de cinco pontos, o diagnóstico é definitivo.
Observamos, na figura 7, o QRS desviado para a esquerda (além de -30°), SAE com sinal de
Morris e SVE com RaVL > 11 mV, Cornell positivo, Sokolw-Lyon positivo e Romhilt (Estes oito
pontos pelos traçados representados.
• R em V1 ≥ 0,7 mV;
• R/S em V1 > 1 com R > 0,5 mV;
• R/S em V5 ou V6 < 1;
• S em V5 ou V6 > 0,7 mV;
• R em V5 ou V6 ≥ 0,4 mV com S em V1 ≥ 0,2 mV;
• QR em V1;
• Desvio do eixo para a direita (≥ +90°);
• Padrão S1Q3;
• Padrão S1S2S3;
• P pulmonale (sobrecarga de átrio direito sugere sobrecarga de ventrículo direito).
Observamos na Figura 8 o eixo do QRS desviado para a direita (>90°) e SVD pelos critérios de R
em V1 > 7 mV e S em V6 > 5 mV com R de V1 > 1 mV.
e. BLOQUEIOS UNIFASCICULARES
O ramo esquerdo origina-se contíguo ao ponto onde o feixe de His surge do corpo central fibroso.
Subdivide-se em anterior, médio e posterior com grande variabilidade. Como o bloqueio situa-se após
os ramos esquerdo e direito, o QRS não se alarga, porém há desvio do SÂQRS.1-3,5,6,11,13
Os critérios para definir se há bloqueio unifascicular podem ser vistos na Tabela 6.
Observamos na Figura 9 o BDAS. Eixo do QRS desviado para esquerda, duração do QRS < 0,12 s,
SDIII > SDII.
Observamos na Figura 10 o BDPI se excluídas outras causas de desvio para direita. Eixo do QRS
desviado para a direita, duração do QRS < 0,12 s, RDIII > RDII.
Observamos na figura 11 duração do QRS > 0,12 s, onda R entalhada em D1 e V6, além de
pequena onda R em V1 com onda S profunda.
Na figura 12 o eixo do QRS desviado para direita, duração do QRS > 0,12 s, há presença de
meseta (rsR’) em V1 e onda S alargada em V6.
A Figura 13 mostra a visão ecocardiográfica do coração, assim como o nome das respectivas
paredes e a visão da vascularização dessas áreas. Também é possível observar o posicionamento das
derivações em cada região do miocárdio.
mEq/L.
• Hipocalemia (hipopotassemia)
Assim como na hipercalemia, a representação no ECG depende da concentração de potássio sérico.
Portanto, as alterações que são esperadas quando os níveis de potássio sérico estiverem abaixo do
limite inferior, ou seja, < 3,5 mEq/L, são:1-3,13,14
• Diminuição da amplitude da onda T ;
• Presença de onda U ;
• Aumento do QTc ;
• Hipercalcemia
Deve-se notar que o intervalo QTc diminui à medida que aumentam os níveis séricos de cálcio.
Pode-se observar onda J ou O de Osborn, que significa uma discreta onda positiva ao final do
complexo QRS.1-3,13,14
Figura 16. ECG de paciente em hipercalcemia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Hipocalcemia
Observar que o intervalo QTc aumenta à medida que diminuem os níveis séricos de cálcio, além de
alterações como a retificação do segmento ST, aumento da onda T e sobrecarga ventricular esquerda.1-
3,13,14
Na figura 17 observar-se a retificação do segmento ST, aumento do intervalo QT, sinais sugestivos
de sobrecarga ventricular e atrial esquerdas, vistos nas derivações aVL e V1, e onda T apiculada em
V1.
• Hipotermia
As alterações estão presentes no ECG a partir de temperaturas axilares abaixo de 35°C. Como
consequência imediata, ocorre bradicardia sinusal. O estado de hipotermia pode gerar onda J ou O de
Osborn, prolongamento do intervalo QT (QTi) e o clássico miopotencial de ação por tremor
muscular.1-3,13,14
Figura 18. ECG de paciente em hipotermia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Intoxicação digitálica
O ECG poderá apresentar ondas T achatadas, infradesnivelamento de STs, QTi diminuído,
intervalo PR (PRi) aumentado e segmento ST em forma de “pá ou colher de pedreiro”. As
extrassístoles são o tipo de arritmia mais comum.
Deve-se ficar atento à taquicardia juncional não paroxística (ausência de onda P e ritmo regular,
porém com frequência cardíaca entre 100 e 120 bpm) e à dissociação atrioventricular.
Na figura 19 percebemos uma frequência cardíaca aproximada de 100 bpm, PRi aumentado, QTi
diminuído, ondas T achatadas, leve infradesnivelamento de ST em aVF, presença do “sinal da pá” em
V3.
• Hipotireoidismo
Observar, no ECG, baixa voltagem (< 5 mm em derivações periféricas, e < 10 mm nas derivações
precordiais). Frequentemente, pode coexistir alternância elétrica em resposta ao possível derrame
pericárdico presente, como visto na figura a seguir:
• Miocardite
A taquicardia sinusal com extrassístoles ventriculares são os achados mais comuns. Porém, pode
ocorrer bloqueio atrioventricular com necessidade de marca-passo. Se o pericárdio também for
comprometido, esperam-se alterações dos segmentos ST e de onda T. Observamos na Figura 23
taquicardia sinusal com extrassístoles ventriculares sem comprometimento pericárdico.
• Pericardite
Neste tipo de doença, ocorre supra de ST difuso, exceto em aVR e V1, com possível
infradesnivelamento do segmento PR. Também podem estar presentes taquicardia sinusal e arritmias
supraventriculares. Nas primeiras horas, observa-se supradesnivelamento dos segmentos ST, seguido
por normalização dos STs em dias, porém aparecendo inversão de onda T caso o quadro dure semanas.
Mesmo sem tratamento adequado, espera-se normalização do eletrocardiograma após meses de
evolução.1,2,4,11,13,14
Figura 24. ECG de paciente com pericardite.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Derrame pericárdico
Observa-se como características principais a taquicardia sinusal e a baixa voltagem do QRS (≤ 10
mm nas derivações precordiais e ≤ 5mm nas derivações periféricas). Devido ao movimento do coração
envolto em líquido, pode ocorrer o fenômeno de alternância elétrica em que o QRS em V1 ora está
aumentado, ora diminuído. Já em V2 pode estar ora positivo, ora negativo. Observamos na Figura 25 o
traçado eletrocardiográfico de paciente com derrame pericárdico, sendo possível evidenciar
alternância elétrica em DI e derivações precordiais.
Figura 25. ECG de paciente com derrame pericárdico.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Febre reumática
O diagnóstico clínico é soberano e requer evidência de contato com estreptococos do grupo A. O
ECG complementar pode apresentar um aumento do PRi (≥ 20 ms) que, pelos critérios de Jones
modificados, é um dos critérios menores para febre reumática, sendo um bloqueio atrioventricular
(BAV) de primeiro grau.1,2,4,6-10 Observamos na Figura 26 o ECG com aumento do PRi, configurando
um BAV de primeiro grau, sendo um dos critérios menores para febre reumática.
• Doença de Chagas
É uma parasitose causada pelo Tripanossoma cruzi. A doença provoca uma disautonomia cardíaca
por inflamação crônica, com alteração do funcionamento normal dos plexos autonômicos cardíacos,
sendo a fibrose local o achado mais comum. Em relação à apresentação eletrocardiográfica, as
arritmias são comuns, assim como os bloqueios. O ECG característico da doença de chagas é
composto por:1-3,6,13-15
• Hemorragia subaracnoidea
Observar um padrão de onda T invertida difusamente. Tais ondas isquêmicas estão presentes
devido ao alto nível de catecolaminas circulantes liberadas em decorrência da hiperativação do sistema
nervoso autônomo simpático, em resposta às alterações de pressão intracraniana e possíveis lesões
cerebrais. Deve-se estar atento à positivação dos marcadores de necrose miocárdica também pela
concentração elevada de catecolaminas. Onda T cerebral é aquela com voltagem > 10 mm (1 mV).1-
3,6,13,14 Observamos na Figura 28 o padrão de onda T invertida nas 12 derivações e Onda T cerebral
em V4 e V5, aumento do intervalo QT em precordiais.
Figura 28. ECG de paciente em resposta a hemorragia subaracnoidea.
Fonte: Elaborado pelos autores.
i. TAQUIARRITMIAS
As taquiarritmias podem ser divididas em dois subgrupos, as supraventriculares e as ventriculares.
Adiante será relatado brevemente sobre as principais taquiarritmias.1-3,6,13,14
• Taquicardia sinusal
Caracteriza-se por apresentar ritmo cardíaco regular com onda P, precedendo todo o complexo
QRS. Como se trata de uma taquicardia, a frequência cardíaca (FC) é > 100 bpm.1-3 Observamos na
Figura 29 eixo de P normal, eixo do QRS normal, ritmo sinusal, regular, FC de aproximadamente 150
bpm.
Na Figura 33, observamos no primeiro ECG uma FC aproximada de 158 bpm, RR regular,
ausência de onda P e variabilidade da amplitude do QRS, o que sugere uma TPSV por reentrada AV.
Após cardioversão elétrica, observa-se no segundo ECG presença de ritmo sinusal, com PRi
diminuído e presença de onda delta, o que caracteriza o paciente com síndrome de Wolff-Parkison-
White, confirmando a taquicardia paroxística por vias anômalas.
• Flutter atrial
Diferentemente da FA, este ritmo apresenta frequência atrial fixa, geralmente 300 bpm, sendo
causado por uma única macrorreentrada no átrio direito. Devido à filtragem atrioventricular, a
frequência cardíaca tem um padrão, podendo ser 2:1, 3:1 ou 4:1. Assim como na FA, as principais
causas são cardiopatias hipertensivas e coronariopatias. Ao observar o eletrocardiograma, deve-se
ficar atento às ondas F de flutter (“dente de serra”) em D2, D3 e aVF. O intervalo RR é regular e não
há intervalos isoelétricos entre os complexos QRS. Observamos na Figura 35 FC aproximada de 270
bpm e presença de ondas F de flutter.
j. BRADIARRITMIAS
• Arritmia sinusal (fisiológica)
Nessas situações, a onda P está positiva em DI e aVF. Há aumento do RRi na inspiração e
diminuição na expiração devido à ocorrência de alteração do volume de sangue que chega ao coração
e consequente resposta do sistema nervoso autônomo, denotando seu bom funcionamento e
variabilidade.1-3,6,14 Percebemos na Figura 38 o ritmo sinusal e a presença de variabilidade respiratória
fisiológica (aumento da FC na inspiração).
• Bradicardia sinusal
Situação em que a frequência cardíaca está abaixo de 50 bpm, com onda P positiva em DI e aVF.
Geralmente desencadeada por droga bradicardizante, como betabloqueadores e bloqueadores dos
canais de cálcio, ou situações que induzam resposta vagal.1-4,6,11,13,14 Percebemos na Figura 39 o ritmo
sinusal e FC de aproximadamente 44 batimentos.
• Pausa sinusal
Observa-se ritmo cardíaco normal com um intervalo sem atividade elétrica. Esse intervalo é
suficiente para conter um complexo QRS. Se a pausa for > 2,5 segundos, o coração produzirá um
escape para evitar síncope.1-4,6,13,14 Na Figura 40, percebemos o ritmo sinusal, eixo de P e do QRS
normais, presença de pausa sinusal, sem escape juncional ou ventricular, visto em DII, não sendo
múltiplo da FC.
• Síndrome bradi-taqui
Observa-se taquiarritmia (FA ou TPSV) e bradiarritmia alternadas. Está associada à doença do nó
sinusal e tem como tratamento definitivo a colocação de marca-passo. A doença do nó sinusal, além
da síndrome bradi-taqui, também pode gerar bradicardia sinusal e pausa sinusal.
Na figura 42 observa-se diminuição progressiva do intervalo PP, com pausa sinusal, não múltipla
da FC, e retorno dos batimentos persistindo a variabilidade entre os intervalos PP.
Tipo II: é uma parada sinusal com duração múltipla de um intervalo RR. Nesse caso não
há alteração do intervalo PP. 1-3
BAV 1º grau: BAV supra-hissiano, em que toda onda P gera um QRS, porém há um
intervalo PR (PRi) > 200ms. Pode ser patológico, como em paciente com febre reumática,
ou não, como em atleta aeróbico durante o sono.1-3
Figura 44. ECG de paciente com BAV de 1º grau
Fonte: Elaborado pelos autores.
Observamos na figura 45 ECG de ritmo sinusal regular e aumento progressivo do PRi até que
ocorra um bloqueio obrigatório.
→ Mobitiz II: existem ondas P sem gerar QRS, na proporção 2:1, 3:1, ou mais, quando é dito
avançado. O PRi é fixo. Diferentemente dos bloqueios atrioventriculares mencionados
anteriormente, este é um bloqueio infra-hissiano.
Observamos na figura 46 o ECG de ritmo sinusal regular com PRi fixo e presença de BAV de 2º
grau Mobitz II de proporção 2:1.
Como ocorre dissociação dos batimentos atriais e ventriculares, em certos momentos será
observado um batimento de fusão, com átrio e ventrículo batendo ao mesmo tempo. Nesse instante
o exame físico mostrará onda “a” do pulso venoso “em canhão”.
Assim como o BAV de segundo grau Mobitz II, esse é um bloqueio infra-hissiano.
Observamos na figura 47 ECG característico de BAV total, com dissociação entre onda P e
complexos QRS.
REFERÊNCIAS
1. Freitas Piegas LS, Timerman A, Feitosa GS, Nicolau JC, Mattos LAP, Andrade MD. V Diretriz da Sociedade Brasileira de
Cardiologia sobre o tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST. Arq Bras
Cardiol. 2015; 105(2): 1-121.
2. Póvoa R, Souza D. Análise crítica do eletrocardiograma e do ecocardiograma na detecção da hipertrofia ventricular esquerda.
Rev Bras Hipertens. 2008; 15(2): 81-9.
3. Pastore CA, Pinho JA, Pinho C, Samesima N, Pereira-Filho HG, Kruse JCL, et al. III Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Cardiologia sobre análise e emissão de laudos eletrocardiográficos. Arq Bras Cardiol. 2016; 106(4): 1-38.
4. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. São Paulo: Roca Ltda; 2015.
5. Lang RM, Badano LP, Mor-Avi V, Afilalo J, Armstrong A, Ernande L, et al. Recommendations for Cardiac Chamber
Quantification by Echocardiography in Adults: An Update from the American Society of Echocardiography and the
European Association of Cardiovascular Imaging. J Am Soc Echocardiogr. 2015; 28(1): 1-39.
6. Lapa E. Dica - como suspeitar de forma rápida que o paciente tem intervalo QT aumentado? CardioPapers. [Internet]; 2015.
[acesso em 11 fev 2017]. Disponível em: https://cardiopapers.com.br/dica-como-suspeitar-de-forma-rapida-que-o-paciente-
tem-intervalo-qt-aumentado.
7. Bazett HC. An analysis of the time-relations of electrocardiograms. Heart. 1920; (7): 353-37.
8. Bogossian H, Frommeyer G, Ninios I, Pechlivanidou E, Hasan F, Nguyen QS, et al. A new experimentally validated formula
to calculate the QT interval in the presence of left bundle branch block holds true in the clinical setting. ANE. 2017; 22(2):
e12393.
9. Hodges MS, Salerno D, Erlinen D. Bazett’s QT correction reviewed: evidence that a linear QT correction for heart rate is
better. J Am Coll Cardiol. 1983; 1: 694.
10. Fridericia LS. The duration of systole in an electrocardiogram in normal humans and in patients with heart disease. 1920.
Ann Noninvasive Electrocardiol. 2003; 8(4): 343-51.
11. Hampton JR. ECG Essencial. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014.
12. Peguero JG, Lo Presti S, et AL. Electrocardiographic Criteria for the Diagnosis of Left Ventricular Hypertrophy. J Am Coll
Cardiol. 2017; 69(13): 1694-703.
13. Mann DL, Zipes DP, Libby P. Braunwald’s Heart Disease: A textbook of cardiovascular medicine. 10. ed. Philadelphia:
Saunders; 2014.
14. Marin-Neto JA, Maciel BC, Filho AP, Castro RBP. Condutas de Urgência nas Síndromes Isquêmicas Miocárdicas Instáveis.
Simpósio: urgências e emergências cardiológicas. Medicina Ribeirão Preto. 2003; 36: 187-99.
15. McCance KL, Huether SE, Brashers VL, Rote NS. Pathophysiology: The biologic basis for disease in adults and children.
7. ed. St. Louis: Mosby; 201
1.2
HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA
Autores:
Bianca Tavares de Figueiredo
Rafael Pereira Marinho
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica): condição clínica
multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis
pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a
distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de
órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de
risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à
glicose e diabetes mellitus (DM).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: não pode faltar a medição da PA nos dois braços,
além da verificação peso, altura, IMC, FC e circunferência
abdominal.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Rotina básica (indicada para todos os pacientes): análise de
urina, ritmo de filtração glomerular estimada (RFG-e),
eletrocardiograma convencional, glicemia de jejum, colesterol total,
HDL-c, triglicérides, creatinina plasmática, potássio e ácido úrico.
b. MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial):
permite o registro indireto e intermitente da PA durante 24 horas ou
mais, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais durante os
períodos de vigília e sono. Capacidade de identificar as alterações
circadianas da PA, com implicações prognósticas consideráveis. Tem
como indicações específicas a discordância importante entre a PA no
consultório e domiciliar, avaliação do descenso durante e sono, suspeita
de HAS ou falta de queda da PA durante o sono habitual em pessoas
com apneia de sono, DRC ou diabetes e avaliação da variabilidade da
PA.
c. MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial):
medição realizada com protocolo específico, consistindo na obtenção de
três medições pela manhã, antes do desjejum e da tomada da
medicação, e três à noite, antes do jantar, durante cinco dias. Outra
opção é realizar duas medições em cada uma dessas duas sessões,
durante sete dias.
d. Tanto a MAPA quanto a MRPA são indicadas na suspeita de
HAB, suspeita de HM, identificação de EAB em hipertensos, grande
variação da PA no consultório na mesma consulta ou em consultas
diferentes, hipotensão postural, pós-prandial, na sesta ou induzida por
fármacos, PA elevada de consultório ou suspeita de pré-eclâmpsia em
mulheres grávidas e confirmação de hipertensão resistente.
e. Ecocardiograma: indicado na presença de indícios de HVE ao
ECG ou pacientes com suspeita clínica de IC.
f. Radiografia de tórax: acompanhamento de pacientes com
suspeita clínica de comprometimento cardíaco e/ou pulmonar, bem
como avaliação de hipertensos com comprometimento da aorta quando
o ecocardiograma não está disponível.
g. Albuminúria: pacientes hipertensos diabéticos, com síndrome
metabólica ou com dois ou mais fatores de risco.
h. US das carótidas: presença de sopro carotídeo, sinais de doença
cerebrovascular ou presença de doença aterosclerótica em outros
territórios.
i. US renal com Doppler: pacientes com massas abdominais ou
sopro abdominal.
j. HbA1C: quando glicemia de jejum > 99 mg/dL, história familiar
de DM tipo 2 ou diagnóstico prévio de DM tipo 2 e obesidade.
k. Teste ergométrico: suspeita de doença arterial coronariana
(DAC) estável, diabetes mellitus ou antecedente familiar de DAC em
pacientes com PA controlada.
l. Velocidade de onda de pulso (VOP): hipertensos de médio e alto
risco.
m. RNM de cérebro: pacientes com distúrbios cognitivos e
demência.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Os valores de referência para o diagnóstico de HAS no cenário de cada
abordagem, bem como sua classificação em estágios podem ser observados
nas Tabelas 1 e 2. Para o estabelecimento adequado do diagnóstico de
hipertensão, observar a Figura 1. Também é imprescindível classificar todos
os pacientes de acordo com o risco cardiovascular (Figura 2 e Tabela 3) para
se estabelecer as metas de tratamento.
MAPA
NORMAL ≤ 120 ≤ 80
MAPA: Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial; MRPA: Monitorização Residencial da Pressão Arterial.
PAS 130-139
HAS Estágio 1 HAS Estágio 2 HAS Estágio 3
OU PAD 85-89
Sem fator de Risco Sem Risco Adicional Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto
1-2 fatores de risco Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco Alto
≥ 3 fatores de risco Risco Moderado Risco Alto Risco Alto Risco Alto
Presença de LOA,
Risco Alto Risco Alto Risco Alto Risco Alto
DCV, DRC ou DM
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DCV:
doença cardiovascular.
Questionário de Berlim,
polissonografia ou poligrafia
SAHOS Ronco, sonolência diurna residencial com 5 ou mais
episódios de apneia e/ou
hipopneia por hora de sono
Determinações de aldosterona
(>15 ng/dL) e atividade/
concentração de renina
plasmática; cálculo da relação
Hiperaldosteronismo primário HAR e/ou com hipopotassemia (não
aldosterona/renina > 30.
(hiperplasia ou adenoma) obrigatória) e/ou com nódulo adrenal
Testes confirmatórios
(furosemida e captopril).
Exames de imagem:
TC com cortes finos ou RNM
Intolerância ao calor,
perda de peso, palpitações,
Hipertireoidismo exoftalmia, hipertermia, TSH e T4 livre
reflexos exaltados,
tremores, taquicardia
SAHOS: síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono; HAR: hipertensão arterial resistente;
RFG-e: ritmo de filtração glomerular estimado; EAP: edema agudo de pulmão; SRAA: sistema
renina-angiotensina-aldosterona; TC: tomografia computadorizada; ACTH: adrenocorticotropina;
TSH: hormônio tireoestimulante; PTH: paratormônio; IGF-1: fator de crescimento
insulina-símile tipo 1; GH: hormônio do crescimento.
Homens ≥ 94 cm
OBESIDADE ABDOMINAL
Mulheres ≥ 80 cm
TRIGLICERÍDEOS
≥ 150 mg/dL
(OU TRATAMENTO PARA HIPERTRIGLICERIDEMIA)
GLICEMIA
≥ 100 mg/dL
(OU TRATAMENTO PARA DM)
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica;
DM: diabetes mellitus.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; CV: cardiovascular; DCV: doença cardiovascular;
MEV: modificação de estilo de vida.
CV: cardiovascular; HA: hipertensão arterial. * Para pacientes com doenças coronarianas, a PA não deve ficar < 120/70 mmHg,
particularmente com a diastólica abaixo de 60 mmHg pelo risco de hipoperfusão coronariana, lesão miocárdica e eventos
cardiovasculares.
Diuréticos de alça
Diuréticos tiazídicos
• 25 mg e 50 mg 12,5 mg 25 mg 1x/dia
Hidroclorotiazida
Indicação: associação a síndrome das pernas inquietas, retirada de opioides, flushes da menopausa, diarreia associada a neuropatia
diabética e hiperatividade simpática em pacientes com cirrose alcoólica.
Efeitos colaterais: reações autoimunes, como febre, anemia hemolítica, galactorreia e disfunção hepática.
Contraindicações: portador de doença do nódulo sinusal.
25 mg, 50 mg
• Atenolol e 100 mg
25 mg 100 mg 1-2x/dia
25 mg, 50 mg
• Metoprolol e 100 mg
50 mg 200 mg 1-2x/dia
10 mg, 40 mg
• Propranolol e 80 mg
40 mg 240 mg 2-3x/dia
Indicação: propranolol é útil em pacientes com tremor essencial, síndromes hipercinéticas, cefaleia de origem vascular e hipertensão
portal.
Efeitos colaterais: bradicardia, BAV, hipotensão e broncoespasmo.
Contraindicações: BAVs avançados, FC < 50 bpm, hipotensão e broncoespasmo (neste caso, dar preferência para bisoprolol ou
metoprolol, que são cardiosseletivos).
Tabela 10. Betabloqueadores (BB).
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Doxazosina 2 mg e 4 mg 1 mg 16 mg 1x/dia
20 mg, 30 mg
• Nifedipino Oros e 60 mg
30 mg 60 mg 1x/dia
• Nifedipino 10 mg e 20 mg 20 mg 60 mg 2-3x/dia
Retard
• Manidipino 10 mg e 20 mg 10 mg 20 mg 1x/dia
2,5 mg, 5 mg
• Ramipril e 10 mg
2,5 mg 10 mg 1x/dia
• Perindopril 4 mg e 8 mg 4 mg 8 mg 1x/dia
5 mg, 10 mg
• Lisinopril e 20 mg
5 mg 20 mg 1x/dia
8 mg, 16 mg
• Candesartana e 32 mg
8 mg 32 mg 1x/dia
80 mg, 160 mg
• Valsartana e 320 mg
80 mg 320 mg 1x/dia
Indicação: opção para aqueles que são intolerantes aos IECA (tosse e angioedema).
Efeitos colaterais: hipotensão e hipercalemia.
Contraindicações: mesmas dos IECA, exceto angioedema.
Indicação: tem boa eficácia em monoterapia, de redução da PA, porém não há evidências de benefícios sobre morbimortalidade.
Efeitos colaterais: rash cutâneo, diarreia, aumento de CPK e tosse.
Contraindicações: gestantes.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 55 anos, etilista e
tabagista há 30 anos, portador de hiperuricemia há 15 anos (sem
histórico de gota) e DM tipo 2 há 10 anos. Faz uso regular de
Metformina de 850 mg 3x ao dia. Vem para avaliação anual de rotina,
assintomático. Em seu prontuário foi anotada PA 150 x 90 mmHg há 6
meses, sem exames complementares. Nega estar praticando atividade
física e não tentou cessar o tabagismo, mantendo dieta hiperglicídica e
hipercalórica.
b. Ectoscopia: PA 160 x 90 mmHg (duas aferições), FC 90 bpm, FR
10 rpm. Peso 100 kg e altura 1,70 m.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Deve-se seguir rigorosamente as recomendações para a
adequada aferição da pressão arterial, como seleção do
manguito de tamanho adequado, posição, alimentação, uso de
cafeína ou fumo, bexiga vazia etc.
• O uso de DIU deve ser muito bem avaliado devido aos seus
efeitos colaterais, como diuréticos de alça (ototoxicidade,
hipocalemia, hipomagnesia), tiazídicos (hipocalemia,
hipomagnesemia, hiperuricemia, hipercalcemia e dislipidemia).
DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
CLASSIFICAÇÃO LABORATORIAL:
CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA:
• Causas primárias: distúrbio lipídico é de origem genética
(familiar).
QUADRO CLÍNICO
• Um evento coronário agudo é a primeira manifestação da
doença aterosclerótica em pelo menos metade dos indivíduos que
apresentam esta complicação. Desta forma, a identificação dos
indivíduos assintomáticos que estão mais predispostos é crucial
para a prevenção efetiva, com a correta definição das metas
terapêuticas individuais.
MARCADORES DE RISCO
CARDIOVASCULAR
ESTRATIFICADORES DE RISCO (ER)
Idade ≥ 48 anos no homem e ≥ 54 anos na mulher
Síndrome metabólica
LDL-c entre 70 e 189 mg/dL, com risco calculado pelo ERG > 20% (H) ou > 10% (M)
*Antes dos 55 anos para homens e antes dos 65 anos para mulheres;
CAC: cálcio arterial coronariano; H: homem; M: mulher.
ER: estratificadores de Risco; DASC: doença aterosclerótica subclínica; ERG: escore de risco global.
METAS DE TRATAMENTO
• Muito alto risco: o LDL-c < 50 mg/dL e o não HDL-c < 80
mg/dL.
• Alto risco: o LDL-c < 70 mg/dL e o não HDL-c < 100 mg/dL.
• Risco intermediário: o LDL-c < 100 mg/dL e o não HDL-c <
130 mg/dL.
• Baixo risco: meta de LDL-c deve ser < 130 mg/dL e o não HDL-c
< 160 mg/dL.
• Pitavastatina 1, 2 e 4 mg intermediária
Recomendações: são primeira opção na prevenção primária e secundária. Dosagem de CK deve ser avaliada no início do
tratamento, principalmente em indivíduos de alto risco de eventos musculares. A dosagem rotineira de CK não é recomendada,
exceto se ocorrerem sintomas musculares ou na introdução de fármacos que interajam com as estatinas, ou ao se elevar a dose
destas. Dosagem de enzimas hepáticas (AST e ALT) deve ser realizada no início do tratamento. Dosagem de enzimas hepáticas
durante o tratamento apenas se sinais e sintomas de hepatotoxicidade.
Potência: as estatinas podem reduzir o LDL-c em > 50% (alta potência), entre 30-50% (intermediária potência) e até 30% (baixa
potência). Após esta redução inicial, a cada vez que dobramos dose da mesma estatina, obtemos uma redução adicional de LDL-c
de 6 a 7%.
Mecanismo de ação: inibidores da HMG-CoA redutase, com consequente diminuição do colesterol intracelular e aumento da
expressão de receptores de LDL-c. Assim, diminuem o LDL-c em até 55% e os triglicérides em 7 a 28%, podendo elevar o HDL-c
de 2 a 10%.
Suspensão: se houver aumento da CPK > 10 vezes o LSN e sinais de hepatotoxicidade (icterícia, hepatomegalia, aumento da
bilirrubina direta e do INR). Em caso de elevações das transaminases em mais de 3 vezes o LSN, é recomendada a investigação de
outras etiologias e a suspensão fica a critério médico.
• Ezetimiba 10 mg 1 x ao dia
Recomendações: adição quando a meta do LDL-c não é atingida com estatina em dose máxima tolerada em pacientes em
prevenção secundária; quando a meta do LDL-c não é atingida com estatina em dose máxima tolerada na prevenção primária;
isolada ou associada a estatinas em paciente que não tolerem doses recomendadas de estatinas; esteatose hepática.
Mecanismo de ação: inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, atuando seletivamente nos
receptores NPC1-L1 e inibindo o transporte intestinal de colesterol. De maneira isolada podem reduzir de 10 a 25% do LDL-c.
Cuidados: Raros efeitos colaterais têm sido apontados e estão em geral relacionados com o trânsito intestinal. Por precaução,
recomenda-se que ela não seja utilizada em casos de dislipidemia com doença hepática aguda.
Recomendações: em adição ao tratamento com estatina quando a meta de LDL-c não é atingida. Único fármaco liberado para
mulheres em período reprodutivo, amamentação e gestação.
Mecanismo de ação: redução da absorção enteral de ácidos biliares, causando depleção do colesterol celular hepático,
estimulando síntese de LDLR (receptor de LD-c) e de colesterol endógeno. Como consequência deste estímulo à síntese, pode
ocorrer aumento da produção de VLDL e, consequentemente, de TGL plasmáticos.
Cuidados: interfere muito na absorção de outras medicações, devendo ser ingerida em horário distinto. A suplementação de
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e ácido fólico pode ser necessária em alguns casos. Evitar em paciente com TG aumentados
(especialmente se níveis maiores de 400 mg/dL).
Recomendações: TGL > 500 mg/dL ou em pacientes com TGL > 204 mg/dL e HDL-c < 34 mg/dL, isolado ou associado a
estatinas.
Mecanismo de ação: estimulação dos receptores PPAR-α, aumentado a produção e ação da lipase lipoproteica, com consequente
redução dos triglicérides em 30 a 60% (quanto maior o valor basal, maior a redução) e aumento de HDL-c em 7 a 11%. Os valores
de LDL-c podem se manter, diminuir ou até aumentar.
Cuidados: interfere muito na absorção de outras medicações, devendo ser ingerida em horário distinto. A suplementação de
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e ácido fólico pode ser necessária em alguns casos. Evitar em paciente com TGL
aumentados (especialmente se níveis maiores de 400 mg/dL). Não é recomendada a associação de genfibrozila com estatinas,
devido ao elevado risco de rabdomiólise.
ÁCIDO NICOTÍNICO APRESENTAÇÕES POTÊNCIA
Recomendações: HDL-c baixo isolado, e como alternativa aos fibratos e estatinas, ou em associação a estes fármacos em
portadores de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou com dislipidemia mista resistente.
Mecanismo de ação: reduz a ação da lipase tecidual nos adipócitos, levando à menor liberação de ácidos graxos livres para a
corrente sanguínea. Como consequência, reduz-se a síntese de TGL pelos hepatócitos. Reduz ainda o LDL-c em 5 a 25%; aumenta
o HDL-c em 15 a 35%; e diminui o TGL em 20 a 50%.
Cuidados: preferir formulações de liberação prolongada pela menor incidência de efeitos colaterais como rubor e prurido.
Ingestão de bebidas alcoólicas não é recomendada e pode ser associado AAS antes da sua ingestão para também reduzir efeitos
indesejáveis.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 42 anos, previamente
hipertenso em uso de Losartana 25 mg/dia, assintomático, comparece
em consulta para avaliação de rotina. Nega tabagismo e etilismo. Dieta
hipercalórica. Sedentário. Ectoscopia: PA 130 x 80 mmHg, FC 85 bpm,
FR 15 rpm, acianótico, anictérico. 92 Kg, altura 1,73 m (IMC = 30,7).
Exame físico geral e específico sem alterações. ECG de 12 derivações
dentro dos limites de normalidade.
b. Exames laboratoriais: hemograma e função renal normais. TGO
29 mg/dL, TGP 52 mg/dL, glicemia jejum 98 mg/dL, HbA1C 5,5%,
colesterol total 283 mg/dL, HDL-c 26 mg/dL, triglicérides 206 mg/dL.
c. Conduta: através da fórmula de Friedewald, encontramos o
LDL-c (215 mg/dL). Trata-se de um paciente com obesidade grau I,
sedentário e portador de hiperlipidemia mista (vide classificação
laboratorial no início deste capítulo). Através da calculadora de ERG ou
mesmo pelo valor de LDL-c já classificamos tal paciente como sendo
de alto risco. Assim, deve receber orientações para tratamento não
farmacológico, bem como para tratamento farmacológico. Temos por
objetivo uma meta de LDL-c < 70 mg/dL, bem como um colesterol não
HDL-c < 100 mg/dL e triglicérides < 150 mg/dL. Como temos metas
bem apertadas, será necessária estatina de alta potência.
d. Prescrição sugerida:
1. Atorvastatina 40 a 80 mg/dia ou
2. Rosuvastatina 20 a 40 mg/dia ou
3. Associação de Sinvastatina 40 mg + Ezetimiba 10 mg.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Fórmula de Friedewald: LDL = CT - HDL - TGL .
5
REFERÊNCIAS
1. Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al.
Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017.
Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76.
2. Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO. (ed.). Braunwald: Tratado de Doenças
Cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
3. Grundy SM, Stone NJ, Bailey AL, et al. AHA, ACC, AACVPR, AAPA, ABC, ACPM,
ADA, AGS, APhA, ASPC, NLA and PCNA. Guideline on the Management of Blood
Cholesterol: Executive Summary: a report of the American College of Cardiology/American
Heart Association Task Force on clinical practice guidelines. J Am Coll Cardiol.
2019;73(24):3168–3209.
4. Karlson BW, Palmer MK, Nicholls SJ, et al. A VOYAGER meta-analysis of the impact of
statin therapy on low-density lipoprotein cholesterol and triglyceride levels in patients with
hypertriglyceridemia. Am J Cardiol. 2016;117(9):1444–1448.
5. Wang D, Liu B, Tao W, et al. Fibrates for secondary prevention of cardiovascular disease and
stroke. Cochrane Database Syst Rev. 2015;(10):CD009580.
6. Aung T, Halsey J, Kromhout D, et al. Associations of omega-3 fatty acid supplement use
with cardiovascular disease risks: meta-analysis of 10 trials involving 77917 individuals.
JAMA Cardiol. 2018;3(3):225–234.
1.4
SÍNDROMES CORONARIANAS
AGUDAS
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Jean Bryally Peres
Vitória de Cássia da Silva Moreira
DEFINIÇÕES
• Na metade do século XIX a OMS (Organização Mundial da
Saúde) apresentou a primeira definição de infarto do miocárdio
(IM), com a introdução de novas tecnologias que melhoraram a
abordagem clínica foram elaboradas outras definições para o IM. A
definição em vigência desde 2018 – quarta definição mundial de
IM – caracteriza essa situação como a presença de lesão aguda
miocárdica associada a níveis anormais dos biomarcadores
cardíacos com quadro clínico que evidencie isquemia
miocárdica aguda. Neste capítulo o IM será abordado
minuciosamente de acordo com esta definição.
ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA E
CLASSIFICAÇÃO
• De acordo com a quarta definição mundial de IM (2018) as
categorias de SCACSST e SSST são complementadas com a
classificação dos tipos de IM (1 a 5), os quais são fundamentados
nas diferenças clínicas, fisiopatológicas, prognósticas e de
tratamento.
CAUSAS DE IM TIPO 2
DISSECÇÃO AGUDA DA AORTA Dor intensa dissecante com irradiação para o dorso.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia e sinais vitais: presença de cianose de extremidades,
queda na saturação de pulso, hipotensão ou hipertensão
arterial, alterações do estado mental, pele diaforética. Parâmetros
importantes, pois, permitem estabelecer o estado geral do
paciente e a condição hemodinâmica.
DIAGNÓSTICO
Abordagem inicial da dor torácica ou sintoma equivalente isquêmico:
Critérios gerais
Alteração dos níveis de troponina com pelo menos 1 valor acima do P99 ALR associado a pelo menos 1 dos seguintes
achados:
Evidência em exames de imagem de perda aguda de cardiomiócitos viáveis ou zona de mobilidade da parede ventricular
inadequada supostamente nova.
IM tipo 2: identificação de achado sugestivo de desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio miocárdico.
<29 0
30-39 8
40-49 18
IDADE 50-59 36
(ANOS) 60-69 55
70-79 73
80-89 91
>90 100
I 0
II 20
KILLIP-KIMBALL
III 39
IV 59
<79 24
80-99 22
PRESSÃO ARTERIAL 100-119 18
SISTÓLICA 120-139 14
(MMHG) 140-159 10
160-199 4
>200 0
<49 0
50-69 3
FREQUÊNCIA 70-89 9
CARDÍACA 90-109 14
(BPM) 110-149 23
150-199 35
>200 43
0-0,39 1
0,4-0,79 3
0,8-1,19 5
CREATININA 1,2-1,59 7
1,6-1,99 9
2,0-3,99 15
>4 20
PARADA
Sim 39
CARDIORRESPIRATÓRIA
Não 0
(PCR) NA ADMISSÃO
Variável pontos
DESVIO DO Sim 28
SEGMENTO ST Não 0
• Resultado:
<108: baixo risco para óbito hospitalar – <1%;
Idade ≥ 65 anos 1
Troponina positiva 1
EXAMES COMPLEMENTARES
• Laboratoriais: indicados para todos os pacientes com suspeita
de SCA - glicemia, eletrólitos, função renal, hemograma,
coagulograma.
Cineangiocoronariografia Cineangiocoronariografia
imediata precoce
Angina refratária ou recorrente, mesmo com Nenhum dos achados que indiquem
tratamento adequado. intervenção imediata.
TRATAMENTO
Após a abordagem inicial da dor torácica e evidência de SCA CSST
iniciam-se as condutas gerais e específicas para promover conforto e
melhor prognóstico.
1. Oxigenioterapia: reduz a hipóxia no território isquêmico. Indicada
quando saturação de oxigênio < 90%.
2. Nitratos: promove melhora sintomática, sem benefício
prognóstico. Não deve ser usada em hipotensos ou após uso de
inibidores da fosfodiesterase (sildenafil e tadalafil). Se não houver
melhora sintomática recomenda-se o uso de opioides. Não utilizar
em IM de VD.
3. Morfina: promove redução da dor e do consumo de oxigênio.
Não utilizar em IM de VD.
4. Antiagregantes plaquetários: fundamental no manejo da SCA.
Ácido acetilsalicílico associado com as novas classes de
Antiagregantes (clopidogrel, prasugrel, ticagrelor).
5. Anticoagulantes: reduz a progressão de eventos trombóticos,
podem ser usados: heparina não fracionada e heparina de baixo
peso molecular.
6. Inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona: reduzem
a mortalidade após IAM, independente da terapia de reperfusão.
Maior benefício em IAM de parede anterior, evolução com
congestão pulmonar e fração de ejeção do VE < 40%. Não devem
ser utilizados se PAS < 100 mmHg na admissão. Primeira opção
IECA, caso haja intolerância pode ser utilizado bloqueadores dos
receptores da angiotensina (BRA).
7. Betabloqueadores: Promovem a diminuição da FC, contratilidade e
consequente redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio.
Contraindicações: disfunção moderada a grave de VE, edema
pulmonar, bradicardia, hipotensão, perfusão de extremidades
diminuída, bloqueios atrioventriculares, hiper-reatividade de vias
aéreas. Recomenda-se utilizar, na ausência das contraindicações,
com início nas primeiras 24 horas.
8. Antagonistas dos canais de cálcio: reduzem a contratilidade
miocárdica, tônus vascular, velocidade de condução
atrioventricular e atividade do nodo sinusal. Indicado quando
existem contraindicações aos betabloqueadores, angina de
Prinzmetal e isquemia refratária ao tratamento com nitratos e
betabloqueadores sem disfunção de VE. Preferir cardiosseletivos:
verapamil ou diltiazem.
9. Estatinas e hipolipemiantes: reduzem a incidência de eventos
cardiovasculares maiores, indicação de início nas primeiras 24
horas. Caso o paciente já esteja em uso desses medicamentos estes
não devem ser interrompidos na hospitalização. Preferência para
estatinas de alta potência como: Rosuvastatina, Atorvastatina,
Sinvastatina + Ezetimiba.
10. Terapias de reperfusão: Indicação de reperfusão química ou
mecânica: IAM CSST < 12 horas de evolução ou 12-24 h com
persistência de sintomas e SST.
Trombolíticos: idealmente iniciados em até 30 minutos.
Podem ser utilizados: estreptoquinase (preferido para > 75
anos), alteplase e tenecteplase (eleição).
Droga Dose
Nitratos
• Ataque: 300 mg VO
• Ácido Acetilsalicílico (AAS)
• Manutenção: 100mg/dia VO
Inibidores do Receptor P2Y12
• Ataque: 300-600 mg VO
• Clopidogrel • > 75 anos: 75 mg VO
• Manutenção: 75 mg/dia por até 12 meses VO
• Ticagrelor • Ataque: 180 mg VO
• Primeira escolha, se disponível. • Manutenção: 90 mg 12/12h VO
• Prasugrel • Ataque: 60 mg VO
• Não indicado de rotina – alto risco de • Manutenção: 10 mg/dia VO
sangramento;
• ≥ 75 anos: ½ dose
• Indicado durante ou após angioplastia com
stent.
• < 60Kg: ½ dose
Inibidores da Glicoproteína IIb/IIIa
Droga Dose
Droga Dose
Droga Dose
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma de diagnóstico e tratamento das síndromes coronarianas agudas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente H.W.P., 63 anos, masculino, chega ao P.S.
trazido pelo SAMU, após ter sido reanimado por 8 ciclos de RCP +
Desfibrilação (FV/TV) em sua residência. Familiares relatam que o
paciente se deitou após o almoço, assintomático, porém, após cerca de
aproximadamente 40 minutos, quando um dos familiares entrou no
quarto, notou que ele não respondia aos estímulos, acionando o SAMU.
b. Antecedentes: Hipertenso sem controle adequado. Tabagista há
46 anos (40 cigarros/dia). Fazia uso esporádico de Diazepam 5 mg
quando estava muito nervoso. Pai era valvulopata e faleceu aos 58 anos
devido complicações de ICC descompensada. Negaram alergias.
c. Exame físico: Sedado, pupilas mióticas e fotorreativas, IOT +
VM, Sat. O2: 92%, FC = 100 bpm, PA = 100 / 60 mmHg, em uso de
Noradrenalina (1 mcg/Kg/min) e Dobutamina (12 mcg/Kg/min). Na
avaliação cardiopulmonar foi evidenciado estertores creptantes
bilaterais até 1/3 médio, BRNF 2T, s/ sopros, cliques e estalidos e
presença de B4. Pulsos palpáveis e simétricos bilateralmente. Melhora
da perfusão após emprego das Drogas Vasoativas.
d. Exames complementares: ECG de admissão evidencia ritmo
rinusal, sem desvio de eixo, e presença de Supradesnivelamento do
Segmento ST de V1 – V6. Sem outras alterações.
e. Hipótsese diagnóstica: IAMCST ANTERIOR EXTENSO +
CHOQUE CARDIOGÊNICO
f. CONDUTA: Como o hospital possui serviço de hemodinâmica, o
paciente foi encaminhado à este setor, recebendo rapidamente, por
SNG, dose de ataque de AAS 300mg + clopidogrel 600mg. Foi
submetido à Coronariografia + Angioplastia Primária com implante de
stent em segmento proximal de ADA (artéria descendente anterior), não
possuía outras lesões coronarianas e então posteriormente encaminhado
à UTI/UCO, onde permaneceu por 5 dias. Realizou ecocardiograma
transtorácico, foram administradas medicações que reduzem
morbimortalidade, algumas delas ainda em otimização. Recebeu alta
para enfermaria onde se recupera bem.
g. Prescrição sugerida para otimização clínica na enfermaria:
1. Dieta oral;
2. Enoxaparina 1 mg/Kg de 12/12h;
3. AAS 100 mg VO após o almoço;
4. Clopidogrel 75 mg VO após o almoço;
5. Enalapril 10 mg VO de 12/12h;
6. Metoprolol 50mg VO pela manhã;
7. Atorvastatina 40 mg VO 1x ao dia;
8. Considerar uso de benzodiazepínicos se abstinência ou
insônia/agitação.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Diante de dor torácica ou sintomas equivalentes isquêmicos
deve-se ter atenção redobrada, pois SCA é o principal
diagnóstico e confere alto risco de mortalidade ao paciente,
principalmente se não for abordada da maneira adequada.
REFERÊNCIAS
1. Piegas, L. S., Timerman, A., Feitosa, G. S., Nicolau, J. C., Mattos, L. A. P., Andrade, M. D.,
... & Mansur, A. P. (2015). V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre
tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arquivos
brasileiros de cardiologia, 105(2), 1-121.
2. Santos, E. D. S. D., & Timerman, A. (2018). Dor torácica na sala de emergência: quem fica e
quem pode ser liberado? Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo, 394-402.
3. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do
Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2015; 105(2):1-105.
4. Pesaro et al. Síndromes coronarianas agudas: como fazer um diagnóstico correto na sala de
emergência. Einstein. 2007; 5(1):80-84
5. Thygesen, K., Alpert, J. S., Jaffe, A. S., Chaitman, B. R., Bax, J. J., Morrow, D. A., & White,
H. D. (2018). Fourth universal definition of myocardial infarction (2018). Journal of the
American College of Cardiology, 72(18), 2231-2264.Macias M, Peachey J, Mattu A, Brady
WJ. The electrocardiogram in the ACS patient: high-risk electrocardiographic presentation
lacking anatomically oriented ST-segment elevation. Am J Emerg Med. 2015
6. BassanF & Bassan R. Revista da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul – Ano XV
nº 07 Jan/Fev/Mar/Abr 2006
7. Bernoche, C., Timerman, S., Polastri, T. F., Giannetti, N. S., Siqueira, A. W. D. S., Piscopo,
A., ... & Quilici, A. P. (2019). Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e
Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 113(3), 449-663.
8. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do
Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST (II Edição, 2007) –Atualização 2013/2014.
Arq Bras Cardiol 2014; 102(3Supl.1):1-61
9. Authors/Task Force Members, Hamm, C. W., Bassand, J. P., Agewall, S., Bax, J., Boersma,
E., ... & Huber, K. (2011). ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes
in patients presenting without persistent ST-segment elevation: The Task Force for the
management of acute coronary syndromes (ACS) in patients presenting without persistent
ST-segment elevation of the European Society of Cardiology (ESC). European heart
journal, 32(23), 2999-3054.
1.5
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
CRÔNICA
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Bianca Tavares de Figueiredo
Jean Bryally Peres
DEFINIÇÕES
• IC (Insuficiência Cardíaca): síndrome decorrente da
incapacidade do coração em ofertar um débito cardíaco adequado
às demandas metabólicas ou o faz às custas de altas pressões de
enchimento. Estes sinais e sintomas vem acompanhados da
elevação de peptídeos natriuréticos e alterações ecocardiográficas
(disfunção sistólica, disfunção diastólica e alterações estruturais).
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): fibrilação atrial, taquicardia sinusal,
sinais de sobrecargas ventriculares e atriais (vide capítulo de
ECG), ondas Q (área inativa devido infarto prévio), baixa
voltagem (derrame pericárdico e doenças infiltrativas), BRD +
BDAS (cardiopatia chagásica), BRE (valor prognóstico).
• Radiografia de tórax: aumento da área cardíaca, sinais de
congestão pulmonar (linhas B de Kerley, borramento peri-hilar),
derrame pleural.
BNP > 400 pg/mL indica IC, de 100 a 400 pg/mL não afasta IC
e BNP < 100 pg/mL sugere outra etiologia para dispneia.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Maiores Menores
De acordo com os critérios de Framinghan, o diagnóstico de IC é estabelecido pela presença simultânea de 2 critérios
maiores ou 1 critério maior + 2 critérios menores.
• Restrição hídrica até 1.500 mL (se NYHA III ou IV, Na+ < 135
mEq/L ou anasarca).
Diuréticos tiazídicos
Tabela 4. Diuréticos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Indicação: pacientes com FE ≤ 35%, sintomáticos a despeito de tratamento ótimo com a maior dose de BB
tolerada, em ritmo sinusal e FC ≥ 70 bpm.
• Efeitos colaterais: fosfenos (aparecimento de luzes no campo visual) e bradicardia.
• Contraindicações: IC descompensada, bloqueios AV e sinoatriais, marcapasso, doença do nó sinusal e
fibrilação atrial.
DIMINUIÇÃO DA MORTALIDADE:
Droga Apresentações Dose inicial Dose alvo
25 mg, 50 mg
• Metoprolol e 100 mg
25 mg 1x/dia 200 mg 1x/dia
• Indicação: todos os pacientes com disfunção do VE estável sintomática, havendo benefício também para
assintomáticos. Visar uma FC (frequência cardíaca) alvo entre 50 e 60 bpm. Iniciar em doses baixas, com aumento
progressivo a cada 2 semanas.
• Efeitos colaterais: piora transitória da IC, bradicardia, BAV, hipotensão e broncoespasmo.
• Contraindicações: BAVs avançados, FC < 50 bpm, hipotensão e broncoespasmo (neste caso dar preferência
para bisoprolol ou metoprolol, que são cardiosseletivos).
12,5 mg, 25 mg
• Captopril e 50 mg
6,25 mg 3x/dia 50 mg 3x/dia
5 mg, 10 mg
• Enalapril e 20 mg
2,5 mg 2x/dia 20 mg 2x/dia
2,5 mg, 5 mg
• Ramipril e 10 mg
1,25 mg 1x/dia 10 mg 1x/dia
5 mg, 10 mg
• Lisinopril e 20 mg
2,5 mg 1x/dia 40 mg 1x/dia
8 mg, 16 mg
• Candesartana e 32 mg
4 mg 1x/dia 32 mg 1x/dia
80 mg, 160 mg
• Valsartana e 320 mg
40 mg 1x/dia 320 1x/dia
• Indicação: opção para aqueles que são intolerantes aos IECA (tosse e angioedema).
• Efeitos colaterais: hipotensão e hipercalemia.
• Contraindicações: mesmas dos IECA, exceto angioedema.
Tabela 9. Bloqueadores do Receptor de Angiotensina II (BRA).
Fonte: Elaborado pelos autores.
• 25 mg, 50 mg
25 mg 1x/dia 50 mg 1x/dia
e 100 mg
Espironolactona
• Indicação: em substituição do IECA (ou BRA), para disfunção de VE sintomática, já em uso de terapêutica
otimizada com terapia tripla (BB, IECA ou BRA e Espironolactona).
• Efeitos colaterais: hipotensão ortostática.
• Contraindicações: concomitantemente ou dentro de 36 horas da última dose de IECA, histórico de angioedema
com IECA, clearance de creatinina < 30 mL/Kg/1,73 m2, potássio < 5,4 mEq/L e gestação.
• Indicação: a disfunção sistólica sintomática com contraindicação à IECA ou a BRA (insuficiência renal e/ou
hipercalemia) ou naqueles com disfunção sistólica sintomática em classe funcional III-IV (NYHA), apesar de
terapêutica otimizada.
• Efeitos colaterais: hipotensão postural, taquicardia reflexa, cefaleia (nitrato), lúpus induzido (hidralazina).
• Contraindicações: naqueles que em uso de inibidores da fosfodiesterase 5, como sildenafil.
Tabela 12. Hidralazina + Dinitrato de Isossorbida.
Fonte: Elaborado pelos autores.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1:
Fonte: Adaptado de Comitê organizador da Diretriz de Insuficiência
Cardíaca.¹
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 32 anos, com passado
de miocardite viral, nega uso de qualquer medicação, evoluindo com
dispneia aos pequenos esforços, edema de membros inferiores e
aumento do volume abdominal.
b. Ectoscopia: PA 130 x 80 mmHg, FC 105 bpm, FR 20 rpm,
turgência jugular patológica.
Tórax: MV com estertores finos em bases pulmonares, RCR
em 2T, com bulha acessória (B3) e sopro sistólico 2+/6+,
regurgitativo, em foco mitral.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A nova classificação da IC não adota mais os termos IC sistólica
ou diastólica.
• Em pacientes acamados por qualquer motivo, o edema
decorrente da disfunção de câmaras direitas não será mais evidente
em membros inferiores. Por ação da gravidade, será notável em
região sacral, bolsa escrotal e grandes lábios.
REFERÊNCIAS
1. Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539.
2. Ponikowski P, Voors AA, Anker SD, Bueno H, Cleland JG, Coats AJ, et al. 2016 ESC
Guidelines for the diagnosis and treamente of acute and chronic heart Failure: The Task
Force for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart Failure of the European
Society of Cardiology (ESC). Developed with the special contribution of the Heart Failure
Association (HFA) of the ESC. Eur Heart J. 2016;37(27):2129-2200. doi:
10.1093/eurheartj/ehw128.
3. Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, Butler J, Casey DE, Colvin MM, et al. 2017
ACC/AHA/HFSA Focused Update of the 2013 ACCF/AHA Guideline for the Management
of Heart Failure: A Report of the American Task Force on Clinical Practice Guidelines and
the Hear Failure Society of America. Circulation. 2017 Aug 8;136(6):e137-e161. doi:
10.1161/CIR.0000000000000509.
4. McMurray JJV, Solomon SD, Inzucchi SE, et al. Dapagliflozin in patients with heart Failure
and reduced ejection fraction. N Engl J Med 2019; 381:1995-2008.
5. Armstrong PW, Pieske B, Anstrom KJ, et al., on behalf of the VICTORIA Study Group.
Vericiguat in Patients With Heart Failure and Reduced Ejection Fraction. N Engl J Med
2020;Mar 28:[Epub ahead of print].
6. Butler J et al. Comparing the benefit of novel therapies across clinical trials: Insights from the
VICTORIA Trial. Circulation 2020.
1.6
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
DESCOMPENSADA
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA): Síndrome clínica de
insuficiência cardíaca (IC) com instalação aguda em pacientes
sem antecedentes de IC. Secundária a eventos clínicos variados e,
geralmente, agudos.
• Insuficiência Cardíaca Crônica Descompensada (ICCD):
Situação clínica de IC com instalação insidiosa ou abrupta.
Pacientes com diagnóstico prévio de IC. As causas de
descompensação são múltiplas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Tanto a ICA quanto a ICCD são resultantes do desequilíbrio
hemodinâmico originado por disfunções diastólicas e/ou
sistólicas, alterações nas pressões de enchimento das câmaras
cardíacas (pré-carga e pós-carga) e do ritmo cardíaco.
QUADRO CLÍNICO
• Sinais e sintomas secundários a disfunção de ventrículo
esquerdo: acometimento pulmonar - dispneia progressiva
(classificação da NYHA); dispneia paroxística noturna: sensação
de sufocamento, opressão torácica, associada a despertar noturno;
ortopnéia; edema agudo de pulmão, aumento do esforço
respiratório.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: cianose, taquicardia, baixa oxigenação periférica
(medida na oximetria de pulso), aumento do tempo de enchimento
capilar, edema de membros inferiores, alterações do nível de
consciência (confusão) e oligúria (débito urinário < 0,5
ml/kg/hora).
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): recomenda-se ECG de 12 derivações
na admissão desses pacientes no cenário de emergência, pois
auxiliam no diagnóstico diferencial e abordagem apropriada.
Exemplos: arritmias, mais prevalentes flutter e FA, áreas de
inatividade miocárdica; alterações no segmento ST.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Maiores Menores
PERFIL A PERFIL B
PERFIL L PERFIL C
TRATAMENTO
• Avaliação clínica hemodinâmica: A divisão conforme o perfil
hemodinâmico referida anteriormente, irá nortear as medidas
terapêuticas.
FÁRMACOS
Droga Dose (inicial/máxima)
Tiazídicos
Tabela 2. Diuréticos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Adrenérgico
• Dobutamina
• 2,5 a 20 mcg/kg/minuto
• Avaliar ajuste da droga a cada 10 minutos
Não adrenérgicos
Tabela 3. Inotrópicos.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Vasodilatadores
Ponte para decisão: necessidade imediata de suporte circulatório sem uma estratégia final de tratamento.
Ponte para recuperação: existe perspectiva de melhora da função ventricular após insulto agudo.
Ponte para transplante cardíaco: os dispositivos fornecem suporte hemodinâmico até o momento da realização do
transplante.
Alguns dispositivos que podem ser usados: balão intra-aórtico, circulação extracorpórea,
assistência circulatória mecânica direita ou esquerda.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Fluxograma adaptado da Atualização da Diretriz de Ressuscitação
Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia – 2019.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 54 anos, com passado
de hipertensão arterial não tratada e dislipidemia. Apresentou dor
torácica de característica anginosa com mais de 48 horas sem buscar
atendimento médico. Evolui com nova dor, com as mesmas
características há 4 horas. Procurou pronto atendimento com queixa de
dispneia em repouso, letargia e extremidades frias.
b. Ectoscopia: Peso: 88kg, PA 80 x 60 mmHg, FC 120 bpm, FR 30
rpm, turgência jugular patológica, perfusão periférica > 3 segundos,
extremidades frias e cianóticas, saturação de oxigênio de 91%.
Tórax: MV com estertores crepitantes em todo o tórax, RCR
em 2T com duas bulhas rítmicas e hipofonéticas.
1. Jejum
2. Furosemida 80 mg EV em bolus
3. Furosemida 40 mg EV de 12/ 12 horas
4. Dobutamina 20 ml (250 mcg) + SG 5% 230 ml em Bomba de
infusão contínua (BIC) à critério médico – iniciar com 5 ml/h e
titular a dose conforme níveis pressóricos.
5. Noradrenalina 16 ml (16 mg) + SG 5% 234 ml em BIC à critério
médico – iniciar com 10 ml/h e titular dose conforme níveis
pressóricos.
6. AAS 300 mg VO
7. Clopidogrel 300 mg VO
8. Ventilação Não Invasiva com PEEP de 10 cm H20, por 30 minutos
de 8/8 horas ou se necessário.
9. Enoxaparina 80 mg SC 12/12 horas.
10. Paciente encaminhado para estudo hemodinâmico.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Drogas vasopressoras, como a noradrenalina, podem ser
iniciadas em veia periférica nos casos de emergência e
instabilidade hemodinâmica grave. Porém, devem ser usadas nesta
modalidade por pouco espaço de tempo (até conseguir acesso
venoso em veia central).
• Pressão arterial < 110/70 mmHg e creatinina sérica > 2mg/dl são
fatores preditores de prognóstico desfavorável na IC
descompensada.
REFERÊNCIAS
1. Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de
Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539.
2. Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWS, Piscopo A et al.
Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados de Emergência da
Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):449-663.
3. Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO. (ed.). Braunwald: Tratado de Doenças
Cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
4. Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, et al. 2017 ACC/AHA/HFSA focused update of the 2013
ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the American College
of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and
the Heart Failure Society of America. Circulation. 2017;136(6):e137–e161.
1.7
TAQUIARRITMIAS
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Carolina Limongi de Oliveira
Andressa Mayumi Matucuma
Jade Rodrigues Lino de Oliveira
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Ritmo taquicárdico: frequência cardíaca (FC) superior a 100
batimentos por minuto (bpm), secundário à alteração na condução
do impulso elétrico no miocárdio. As taquicardias apresentam um
amplo espectro de apresentação, que serão abordados neste
capítulo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Taquicardias supraventriculares (TSV): alterações do ritmo
cardíaco provenientes do nodo sinusal (SA), miocárdio atrial,
nodo atrioventricular (AV) ou de vias acessórias (Figura 1).
QUADRO CLÍNICO
• Assintomáticos: nesses indivíduos, as taquiarritmias podem não
necessitar de tratamento específico imediato, caso não
determinem alterações clínicas. No entanto, precisam ser
documentadas, se possível, para reavaliações no futuro.
EXAME FÍSICO
• Nas taquiarritmias, o exame físico é basicamente marcado pela
frequência cardíaca maior ou igual a 100 bpm. Achados
adicionais de instabilidade podem ocorrer, principalmente se a
frequência cardíaca ultrapassar 150 batimentos por minuto ou o
paciente já apresentar alguma cardiopatia estrutural prévia.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): principal componente da avaliação
complementar dos sinais e sintomas sugestivos de taquiarritmia.
Na vigência do episódio, permite o diagnóstico de certeza,
diferenciação entre os subtipos existentes e correta abordagem
terapêutica.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES
• Taquicardia sinusal
Características gerais: resposta exacerbada aos estímulos
simpáticos, hiperestimulação do nodo sinusal (principal causa),
alta sensibilidade à adrenalina.
FC aproximada de 176 bpm, ausência de onda P, intervalo RR regular, presença de pseudo-S em D2 (seta) e pseudo-
R em V1 (ponta de seta).
No primeiro traçado, FC aproximada de 158 bpm, RR regular, ausência de onda P e variabilidade da amplitude do
QRS, o que sugere uma TPSV por reentrada AV. Após cardioversão elétrica, observa-se no segundo traçado a
presença de ritmo sinusal, com PR diminuído e presença de onda delta.
• Classificação da FA:
Paroxística: autolimitada e com duração menor que 7 dias,
geralmente menor que 24h e se resolve espontaneamente.
- Flutter Atrial
b. TAQUICARDIAS VENTRICULARES
• Taquicardia ventricular não sustentada (TVNS)
Características gerais: duração menor do que 30 segundos e
não cursa com instabilidade hemodinâmica. Investigar nestes
pacientes doença arterial coronariana (DAC), cardiomiopatias,
valvopatias ou causas não estruturais. Fator de risco para TV
sustentada com evolução para morte súbita.
TRATAMENTO
• Tratamento inicial das taquicardias com QRS estreito (<120
ms): os pacientes hemodinamicamente instáveis ou que
desenvolvam instabilidade durante atendimento devem ser
submetidos, no tempo mais breve possível, à cardioversão
elétrica. A análise eletrocardiográfica deve ser reservada a um
momento mais oportuno. Nos instáveis, é suficiente o
reconhecimento da presença de taquiarritmia; já nos estáveis,
a regularidade ou irregularidade do intervalo RR. O
fluxograma a seguir (Fluxograma 3) sintetiza a abordagem
terapêutica que pode ser instituída.
Fluxograma 3. Tratamento da taquiarritmia com QRS estreito.
Fonte: Adaptado de Bernoche.4
• Tratamento inicial das taquicardias com QRS largo (≥ 120
ms): frequentemente os pacientes com este tipo de arritmia se
apresentam com instabilidade hemodinâmica ou desenvolvem-na
durante o curso clínico. Por isso, medidas de terapêutica imediata
são comumente empregadas. Em pacientes instáveis, a
cardioversão elétrica é a terapia de escolha, energia de 100 a
200 J se monofásico ou 100 J, bifásico, iniciais com aumento da
carga se necessário, em modo sincronizado. O fluxograma a seguir
(Fluxograma 4) aborda detalhadamente a terapêutica sugerida.
Critérios Pontos
Insuficiência Cardíaca 1
Hipertensão arterial 1
Sexo feminino 1
a. FÁRMACOS
Adenosina: dose inicial de 6mg EV em bolus rápido. Caso não
haja resposta, realizar dose de 12 mg EV em bolus rápido. Após
realizar adenosina, deve ser feito 20 mL de SF0,9% com
elevação do membro onde o acesso venoso está alocado.
Analgesia
Medicação Dose
• Morfina • 1 – 2 mg EV
• Fentanil • 1 – 2 mcg/kg EV
Sedação
Medicação Dose
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Adaptado de Magalhaes.5
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 63 anos, 70 kg, comparece ao pronto-
socorro com quadro clínico de palpitação de início há duas horas,
associada à sudorese profusa. Nota-se que está pálido e com leve
dispneia. Hipertenso e diabético de longa data, com uso contínuo de
losartana, clortalidona e metformina. Iniciadas medidas de
monitorização cardíaca, oximetria de pulso e solicitado um
eletrocardiograma – apresentado a seguir.
b. Exames complementares: Laudo do ECG: ritmo cardíaco
irregular, com oscilações em linha de base e ausência de onda P.
c. Prescrição sugerida: Realizada cardioversão elétrica com 200 J
bifásico, após preparação prévia, conforme prescrição abaixo.
1. Jejum
2. Heparina não fracionada (HNF) 5000 UI/mL – 5600 UI EV em
bolus
3. HNF 5000Ui/mL - 1260 UI EV a cada hora por 6 horas
4. Fentanil 70 mcg EV em bolus lento.
5. Etomidato 21 mcg EV em bolus lento.
Paciente é revertido para ritmo sinusal e tem alta após 48 horas de
observação, sendo encaminhado para acompanhamento ambulatorial. Em
consulta posterior, mantém recidivas do quadro, porém com resolução
espontânea. Opta-se, então, por tratamento com estratégia pill in the pocket,
com propafenona 300 mg, dois comprimidos em crises. Em consulta após
três meses, apresenta dificuldade em manter o ritmo sinusal e iniciada
abordagem com controle da frequência cardíaca. Escore CHA2DS2-VASc
com dois pontos (HAS + Diabetes). Definido uso do carvedilol 3,125 mg
1x/dia e rivaroxabana 20 mg 1x/dia (anticoagulação plena), associado a
medicações prévias.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Sempre tratar o indivíduo − e não o eletrocardiograma.
Relacionar o exame com a clínica do paciente. Muitas vezes a
taquicardia é decorrente de situações que não necessitam de
reversão, como nas taquicardias sinusais reflexas a estados de
choque.
• Em todas as situações, é mandatória uma história clínica breve,
de modo a estabelecer a relação causa-efeito.
REFERÊNCIAS
1. Alencar Neto AJ. Manual de Eletrocardiograma. 1. ed. Salvador: Sanar Editora; 2019.
2. Vereckei A, Duray G, Szénási G, Altemose GT, Miller JM. New algorithm using only lead
aVR for differential diagnosis of wide QRS complex tachycardia. Heart Rhythm. 2008; 5(1):
89-98.
3. Brugada P, Brugada J, Mont L, Smeets J, Andries EW. A new approach to the differential
diagnosis of a regular tachycardia with a wide QRS complex. Circulation. 1991; 83(5):
1649-59.
4. Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWDS, Piscopo A, et al.
Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):
449-663.
5. Magalhães LP, Guimarães ICB, Melo SL, Mateo EIP, Andalaft RB, Xavier LFR, et al.
Diretriz de Arritmias Cardíacas em Crianças e Cardiopatias Congênitas SOBRAC e DCC -
CP. Arq Bras Cardiol. 2016; 107(1): 1-71.
1.8
BRADIARRITMIAS
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Valéria Vieira da Silva Gomes
Jean Bryally Peres
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Bradiarritmias: distúrbios de condução elétrica em que a
frequência cardíaca (FC) é inferior a 50 bpm. Este limite é
individual, frequências menores podem ser consideradas
fisiológicas para alguns pacientes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Etiopatogenia: dividida em dois grandes grupos: não cardíacas
(extrínseca) ou de origem cardíaca (intrínseca). Causas
específicas mais detalhadas na tabela 01.
Causas intrínsecas Causas extrínsecas
Doença degenerativa primária elétrica Estímulo sistema nervoso autônomo:
Esclerodermia Metabólicas:
Neurológicas:
Hipertensão intracraniana.
QUADRO CLÍNICO
• Sinais e sintomas das disfunções sinusais: frequentemente são
assintomáticas, quando existem manifestações as mais comuns:
astenia, intolerância ao esforço, dispnéia, mal- estar
indefinido, vertigem e, menos frequente, lipotimia e síncope.
EXAME FÍSICO
• Nas taquiarritmias o exame físico é marcado pela frequência
cardíaca menor ou igual a 50 bpm. Achados adicionais de baixo
débito cardíaco podem ocorrer, principalmente, se a frequência
cardíaca for inferior a 50 bpm. Não há sinais ou sintomas ao
exame físico patognomônicos para o diagnóstico das arritmias.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eletrocardiograma (ECG): importante fazer sempre um D2
longo.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
As bradiarritmias são classificadas de acordo com o local de origem da
disfunção da formação ou condução do estímulo elétrico: nodo sinusal e
nodo atrioventricular, que serão abordados com mais detalhes a seguir.
Disfunções do nodo sinusal Disfunções do nodo atrioventricular
Bloqueios sinoatriais
Diminuição progressiva do intervalo PP, com pausa sinusal, não múltipla da FC, e retorno dos batimentos
persistindo a variabilidade entre os intervalos PP.
• BAV de 1º grau
Características gerais: benigno, pois suas causas são
geralmente reversíveis.
• BAV de 2º grau
Características gerais: nem toda onda P gera um complexo
QRS.
Ritmo sinusal regular e aumento progressivo do PRi até que ocorra um bloqueio obrigatório.
TRATAMENTO
Se sintomático, a conduta inicial é a estabilização e monitorização do
paciente, haja visto que pode evoluir para choque devido à bradicardia.
Realizar ECG com 12 derivações para estabelecer o ritmo cardíaco.
A terapia medicamentosa tem como droga de escolha a atropina,
medida temporária até o implante de um marcapasso transcutâneo.
Deve-se fazer uso cauteloso em bradicardias pós infarto agudo do miocárdio,
evitando aumento da área de lesão. Outras drogas que podem ser utilizadas
são a dopamina e a adrenalina, em associação ou isoladamente.
Se mesmo após as medidas farmacológicas acima citadas os sintomas de
instabilidade hemodinâmica permanecerem está indicado o marcapasso
transcutâneo. Nos casos em que o este não é eficaz deve-se colocar um
marcapasso transvenoso, considerando nesses casos o auxílio de
profissional previamente capacitado.
Todos os pacientes devem ser acompanhados e avaliados para a
necessidade de colocação de um marcapasso definitivo.
O Fluxograma 01, sintetiza o manejo das bradiarritmias.
FÁRMACOS
Fármacos Doses (mínima/máxima)
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
Fluxograma 01: Manejo das bradiarritmias
Fonte: Fluxograma adaptado da Atualização da Diretriz de Ressuscitação
Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia – 2019.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Homem, 62 anos, portador de miocardiopatia
chagásica, deu entrada em emergência trazido pelos familiares após
síncope. No atendimento inicial: PA: 80 x 60 mmHg, saturação de O2:
93%, perfusão periférica > 3 segundos, cianose de extremidades e
torporoso. Realizado ECG, com registro de DII longo abaixo:
b. Medidas iniciais:
1. Jejum;
2. Atropina 0,5 mg EV em bolus;
3. Sedação (etomidato 0,3mg/kg EV);
4. Marcapasso transcutâneo;
5. Máscara de O2 - 4 litros/minuto;
6. Monitorização cardíaco, pressórica e de oximetria contínuas;
7. Encaminhado para colocação de marcapasso transvenoso.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A padronização da análise do ECG é muito útil, pois facilita e
agiliza o atendimento inicial do paciente. Sugerimos a análise nas
bradiarritmias seguindo: identificação do paciente, FC, ritmo e
intervalo PR.
• Caso o fator desencadeante da arritmia for identificado no
atendimento inicial, este deve ser prontamente tratado.
REFERÊNCIAS
1. Bernoche, C., Timerman, S., Polastri, T. F., Giannetti, N. S., Siqueira, A. W. D. S., Piscopo,
A., ... & Quilici, A. P. (2019). Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e
Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 113(3), 449-663.
2. GONZALEZ, Maria Margarita et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: I Diretriz de
Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, n. 2, ago. 2013.
3. LENÈGRE, Jean. Etiology and pathology of bilateral bundle branch block in relation to
complete heart block. Progress in Cardiovascular Diseases, n. 6, p.409-444, mar. 1964.
4. LOPES, Antonio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. São Paulo: Roca Ltda, 2015.
5. MANGRUM, J. Michael; DIMARCO, John. The Evaluation and Management of
Bradycardia. New England Journal of Medicine, v. 342, n. 10, p.703-709, mar. 2000.
6. MARTINS, Herlon Saraiva et al. Medicina de Emergência: abordagem prática. 12. ed.
Barueri-SP: Manole Ltda, 2017.
7. MASON, Jay W. et al. Electrocardiographic reference ranges derived from 79,743
ambulatory subjects. Journal of Electrocardiology, v. 40, n. 3, p.228-234, mai. 2007.
8. PASTORE, Carlos Alberto et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: III Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos
Eletrocardiográficos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 106, n. 4, abr. 2016.
9. YANG, Xing Sheng; BECK, Gerald; WILKOFF, Bruce. 749-1 Redefining Normal Sinus
Heart Rate. Journal of the American College of Cardiology, v. 25, n. 2, p.193A, fev. 1995.
1.9
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
E RESSUSCITAÇÃO
Autores:
Leonardo Jordan Hansen Vizzotto
Nader Alziro Kassem Fares
Estevão Tavares de Figueiredo
DEFINIÇÕES
• Parada Cardiorrespiratória (PCR): estado de deterioração
absoluta da estabilidade hemodinâmica com débito cardíaco
incapaz de manter perfusão tecidual. Pode ser revertido pela
pronta intervenção ou evoluir para óbito.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Fisiopatologia: Com a PCR, ocorre interrupção da oxigenação e
consequente lesão tecidual. Inicialmente, ocorre desorganização
elétrica cardíaca e ritmo desorganizado (p. ex.: fibrilação
ventricular), caso não revertida, as células consomem
praticamente todas as reservas metabólicas necessárias para
manutenção de suas atividades basais. Como repercussão, ocorre
acidose metabólica e disfunção tecidual grave com queda
drástica da sobrevida.
• Tamponamento cardíaco
Antiarrítmicos; digitálicos; betabloqueadores; bloqueadores dos
• Tóxicos canais de cálcio; antidepressivos tricíclicos; cocaína; heroína;
crack.
EXAMES COMPLEMENTARES
• O diagnóstico é eminentemente clínico. A identificação dos
eventos eletrocardiográficos como taquicardia ventricular sem
pulso, fibrilação ventricular, atividade elétrica sem pulso ou
assistolia, em um paciente em PCR é fundamental, pois
determina o manejo dessa condição clínica.
• Ritmos chocáveis
• Tratados com desfibrilação. São os principais encontrados nos
pacientes que sofrem PCR no ambiente pré-hospitalar.
Traçado de TV sem pulso: presença de complexos QRS alargados monomórficos, sem ondas P.
Traçado evidenciando complexo QRS, ondas P e T com morfologia adequada associado a bradicardia gráfica
severa, porém paciente sem pulsos.
TRATAMENTO
Diante de um paciente em PCR a conduta imediata é iniciar a
Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP). Devendo-se posicionar o paciente
em decúbito dorsal em superfície plana e rígida, chamar por ajuda e
iniciar a RCP. O mais rapidamente possível iniciar as compressões
torácicas, priorizando a qualidade, respeitando a frequência de 100 a 120
compressões por minuto, deprimir o tórax entre 5 e 6cm e,
impreterivelmente, retornar completamente ao ponto inicial. Realizar
ciclos de 30 compressões para cada duas respirações (30:2) com
dispositivo bolsa-valva-máscara com reservatório e oxigênio adicional.
É importante checar o ritmo de parada, pois pode ser necessário dar
prioridade ao uso do desfibrilador elétrico em ritmos chocáveis. Os
choques devem ser administrados na potência máxima do desfibrilador,
sendo 360J para monofásico e 200J para bifásico. Importante solicitar que
todos se afastem do contato com o paciente e logo após a desfibrilação
reiniciar imediatamente a RCP e apenas após novo ciclo de 2 minutos checar
pulso e ritmo.
Em ritmos não chocáveis a desfibrilação é contraindicada, devendo-se
manter a RCP com repetidas verificações do pulso e ritmo de parada.
Para casos de assistolia é importante a realização do protocolo da linha
reta e descartar a presença de uma fibrilação ventricular fina. Portanto
deve-se verificar a adequada conexão dos cabos e eletrodos, aumentar o
ganho de sinal no monitor cardíaco (amplitude/potência de sinal) e
checar o ritmo em outra derivação. Se assistolia confirmada, manter-se
nos ciclos de RCP sem uso do desfibrilador.
Deve-se, simultaneamente, obter acesso venoso periférico ou intraósseo
(IO) para possibilitar administração das medicações. As drogas utilizadas
diferem entre os ritmos chocáveis e não chocáveis. Em ambos é indicado o
uso da epinefrina (adrenalina) EV ou IO na dose de 1mg/dose a cada 3 a
5 minutos, seguida por bolus de 20mL de solução fisiológica e subsequente
elevação do membro.
Para os ritmos chocáveis, por se tratar de arritmias, o uso de
antiarrítmicos está firmado. Podem ser feitas duas doses de amiodarona
com intervalo de 3 a 5 minutos, sendo a primeira dose EV ou IO de
300mg e a segunda de 150mg, sempre seguidas pelo bolus de 20mL de
solução fisiológica e elevação do membro. Outra opção é a lidocaína,
também EV ou IO, nas dosagens de 1-1,5mg/kg para a primeira
aplicação e 0,5-0,75mg/kg na segunda (após 5 minutos), também seguidas
pelo bolus de solução fisiológica e elevação do membro. Em casos de PCR
secundária à hipomagnesemia ou taquicardia ventricular polimórfica
(Torsades de Pointes) deve-se administrar sulfato de magnésio 1 a 2g EV
ou IO diluído em 10 a 20mL de glicose a 5%.
Para todos os pacientes em PCR realizar concomitantemente os
procedimentos para garantir uma via aérea avançada, preferencialmente a
intubação orotraqueal (IOT), mas considerar o uso de máscara laríngea no
caso de intubação difícil, para não retardar a realização das compressões de
boa qualidade. Após assegurado uma via aérea avançada manter a
compressões no mesmo ritmo (100-120/min), sem pausas para
insuflações, e oferecer 10 insuflações por minuto (uma a cada 6 segundos
não sincronizadas com as compressões torácicas).
É considerável a necessidade de tentar-se realizar um diagnóstico
diferencial, procurando tratar as causas reversíveis identificáveis, conforme
tabela 01.
Não existe consenso a respeito do momento de cessação da
ressuscitação, este deve ser determinado em conjunto com os membros da
equipe levando em conta critérios clínicos no momento e fatores
prognósticos.
FÁRMACOS
• Adrenalina: 1 mg EV em bolus a cada 3 a 5 minutos, seguido
de 20 ml de SF 0,9% com elevação do membro.
CASO CLÍNICO
Paciente feminina, 76 anos, admitida em UTI após estudo hemodinâmico
de coronárias decorrente de IAM tardio. Exame de admissão: consciente,
orientada, escala de coma de Glasgow 15, perfusão periférica adequada, PA:
90x60 mmHg com noradrenalina. Após 30 minutos da admissão, evolui com
síncope. Detectada ausência de pulso ou respiração espontânea. Iniciado
manobras de ressuscitação cardiorrespiratória. Checado ritmo de parada,
visto no ECG abaixo:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Quando for atender uma vítima de PCR não esqueça de antes
atentar a segurança da cena, retirando, por exemplo, o paciente de
vias públicas, e usando equipamentos de proteção individual.
Sempre chame ajuda!
REFERÊNCIAS
1. Bernoche, C., Timerman, S., Polastri, T. F., Giannetti, N. S., Siqueira, A. W. D. S., Piscopo,
A., ... & Quilici, A. P. (2019). Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e
Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 113(3), 449-663.
2. Braunwald - Tratado de Doenças Cardiovasculares (10a). (2018).
3. Walls, R. M. (2019). Rosen - Medicina de Emergência (9a).
4. Velasco, I. T. (2019). Medicina de Emergência - Abordagem Prática (13a).
5. GONZALEZ, Maria Margarita et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia: I Diretriz de
Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, n. 2, ago. 2013.
6. LOPES, Antonio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. São Paulo: Roca Ltda, 2015.
7. MORAIS, Daniela Aparecida; CARVALHO, Daclé Vilma; CORREA, Allana dos Reis. Out-
of-hospital cardiac arrest: determinant factors for immediate survival after cardiopulmonary
resuscitation. Revista Latino-americana de Enfermagem, v. 22, n. 4, p.562-568, ago. 2014.
8. NACER, Daiana Terra; BARBIERI, Ana Rita. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória
intra-hospitalar: revisão integrativa da literatura. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 17, n.
3, p.1-8, 30 set. 2015.
9. RIVAROLA, Esteban; SCANAVACCA, Mauricio. Cardiac Autonomic Modulation - The
Search for an Ultimate Technique. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, p.384-386, 2017.
10. SILVA, Karla Rona da et al. Parada cardiorrespiratória e o suporte básico de vida: O saber
acadêmico. Saúde (Santa Maria), v. 43, n. 1, p.53-59, jan. 2017.
1.10
FEBRE REUMÁTICA
Autores:
Maria Cecília Landim Nassif
Lucas Campos Barbosa e Silva
Maria do Carmo Pereira Nunes
DEFINIÇÕES
• Febre reumática aguda: doença causada por uma resposta
autoimune à infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo
A, ocasionando manifestações cardíacas, articulares, neurológicas,
cutâneas e subcutâneas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A febre reumática é uma complicação não supurativa da
faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do
grupo A (Streptococcus pyogenes), decorrente de resposta imune
tardia a esta infecção em indivíduos geneticamente predispostos. A
cardiopatia reumática (CR), por outro lado, consiste em uma
complicação da FR aguda, caracterizada por lesão valvar
permanente induzida pelo processo reumático.
QUADRO CLÍNICO
• A FR aguda ocorre três semanas após a faringoamigdalite
estreptocócica e pode afetar as articulações (poliartrite), a pele
(eritema marginatum e nódulos subcutâneos), os gânglios da base
(coreia de Sydenham) e o coração. A incidência do surto inicial de
FR aguda é maior entre 5 e 14 anos, acometendo igualmente
homens e mulheres. No entanto, a CR ocorre mais comumente em
mulheres, na proporção de 1,6:2 do sexo feminino em relação ao
masculino.
EXAME FÍSICO
• Sistema osteoarticular: artropatia assimétrica, poliarticular e
migratória, com acometimento preferencial de grandes articulações
periféricas (tornozelos, joelhos, cotovelos e punhos) e presença de
sinais flogísticos. Ao exame físico, observa-se limitação ativa e
passiva da amplitude do movimento, associada à exuberante
quadro álgico. Não ocorrem deformidades irreversíveis.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: elevação da proteína C reativa (PCR), da
velocidade de hemossedimentação (VHS) e de mucoproteínas. O
fator antinuclear (FAN) costuma ser negativo. A avaliação da
infecção estreptocócica pode ser realizada pela dosagem dos
anticorpos antiestreptolisina O (ASLO), anti-DNAse B e anti-
hialuronidase. Pode ocorrer leucocitose neutrofílica e anemia
normocítica e normocrômica.
• Ecodopplercardiograma: a avaliação ecocardiográfica da CR
baseia-se nos achados morfológicos do acometimento reumático
das valvas mitral e aórtica e no comprometimento funcional valvar
(Tabela 1). Baseado nos critérios da WHF, as crianças e
adolescentes menores de 20 anos podem ser classificados em três
categorias: normal, borderline ou CR definitiva, com suas
subcategorias conforme as alterações ecocardiográficas (Tabela 2).
Alterações morfológicas
Valva mitral Valva aórtica
Jato regurgitante visto em duas incidências Jato regurgitante visto em duas incidências
Jato regurgitante ≥ 2cm em pelo menos uma Jato regurgitante ≥ 1cm em pelo menos uma
incidência incidência
Velocidade ≥ 3m/s em pelo menos um registro Velocidade ≥ 3m/s em pelo menos um registro
do Doppler do Doppler
Regurgitação mitral patológica e, pelo menos, duas Pelo menos duas alterações morfológicas da valva
SUBGRUPO A características morfológicas de lesão reumática na mitral, sem regurgitação patológica ou estenose
valva mitral mitral
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico de FR é baseado em critérios clínicos, denominados
critérios de Jones, após exclusão de outros diagnósticos
diferenciais. Os critérios são divididos em manifestações maiores
e menores (Tabela 3). O diagnóstico de FR agudo é feito quando o
paciente apresenta dois critérios maiores, ou um critério maior e
pelo menos dois menores. Além disso, para o diagnóstico, é
necessário ter evidências de infecção recente estreptocócica da
orofaringe, o que geralmente é feito usando sorologias. As
exceções a esses critérios são os pacientes que apresentam coreia
ou cardite indolente, pois essas manifestações podem tornar-se
aparentes apenas meses após a infecção estreptocócica causal e,
portanto, manifestações adicionais podem não estar presentes e o
teste de sorologia estreptocócica pode ser normal.
Febre ≥ 38,5oC;
Febre ≥ 38oC; VHS ≥ 30mm; PCR Febre ≥ 38oC; VHS ≥ 30mm; PCR
VHS ≥ 60 mm;
MENORES ≥ 3mg/dl; intervalo PR prolongado; ≥ 3mg/dl; intervalo PR prolongado;
PCR ≥ 3mg/dl; intervalo PR
monoartralgia monoartralgia
prolongado; poliartralgia
*Na tabela 1, foi considerada população de baixo risco aquela com incidência de febre reumática aguda ≤ 2 por 100.000 crianças em
idade escolar (5-14 anos) ou prevalência de cardiopatia reumática em todas as idades ≤ 1 por 1.000 indivíduos por ano. Em relação à
cardite subclínica, considerou-se os casos nos quais não se ausculta sopro de disfunção valvar, mas com sinais de valvulite ao
ecodopplercardiograma.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• A erradicação do estreptococo é feita com a penicilina G
benzatina (600.000 a 1.200.00UI) em dose única. Nos pacientes
alérgicos à penicilina é recomendada a eritromicina na dose de 20 a
40 mg/kg/dia durante 10 dias, podendo-se utilizar azitromicina ou
clindamicina.
• Prevenções:
Primária: previne a colonização, a infecção e a transmissão do
agente, objetivando principalmente a eliminação da bactéria
antes da instalação da resposta imunológica do hospedeiro. As
faringoamigdalites devem ser tratadas com uma dose
intramuscular de penicilina G benzatina ou 10 dias de
penicilina V oral, iniciados em até 9 dias da instalação da
infecção. Cefalosporinas de primeira geração ou macrolídeos
estão indicados para os pacientes alérgicos à penicilina.
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: LFS, 25 anos, sexo feminino, casada, procura
atendimento médico com queixa de dispneia aos esforços, iniciada nos
últimos três meses com caráter progressivo. Paciente relata estar
previamente assintomática quando notou cansaço para andar mais
rápido e subir uma rua mais íngreme, com queda gradual da tolerância
aos esforços. Mais recentemente, ela precisa parar quando está
caminhando no plano e não consegue acompanhar seu marido de
mesma idade. Relata ser sedentária e estar ganhando peso e acha que a
dispneia apresentada pode ser decorrente dos hábitos de vida. Refere
faringoamigdalites de repetição na sua infância, tendo sido internada
uma vez com poliartrite. Quando interrogada, referiu episódios de
´´batedeira no peito´´, sem relação com esforço físico. Na história
pregressa, relatou ter nascido no interior de Minas Gerais, em uma casa
pequena, morando com os pais e mais seis irmãos. Ao exame físico:
PA: 120/80 mmHg; FC: 92 bpm; B1 facilmente palpável e
hiperfonética, sopro iniciado logo após B2, com configuração
crescente-decrescente, precedido por estalido de abertura mitral e mais
intenso antes de B1 (ruflar diastólico com reforço pré-sistólico).
Exames laboratoriais trazidos pela paciente sem anormalidades. O
eletrocardiograma evidenciou ritmo sinusal com FC de 86 bpm e sinais
de sobrecarga atrial esquerda.
b. Condutas:
3. Solicitar exames laboratoriais para avaliação de outros fatores contribuintes para a intolerância ao exercício físico.
4. Solicitar ecodopplercardiograma para quantificação da gravidade da lesão, para estimativa da pressão sistólica na
artéria pulmonar e para avaliação da morfologia valvar mitral e definição da melhor estratégia terapêutica.
5. Profilaxia secundária com penicilina G benzatina 1.200.000 UI IM a cada 21 dias até a idade de 40 anos.
6. Orientação em relação à anticoncepção para evitar os riscos decorrentes de uma eventual gestação.
7. Considerar anticoagulação com varfarina pelo provável quadro de fibrilação atrial paroxística.
8. Procurar atendimento de urgência diante de qualquer agravamento da dispneia ou aparecimento de outros sintomas.
9. Orientações gerais em relação à dieta e às atividades físicas, que podem ser mantidas conforme a tolerância da
paciente.
• Paciente retornou relatando permanecer sintomática e o
ecodopplercardiograma confirmou estenose mitral grave com
hipertensão pulmonar e anatomia valvar favorável ao procedimento
percutâneo (Imagem 1), sendo encaminhada para realização de
valvoplastia mitral por cateter-balão. As imagens do
ecodopplercardiograma estão mostradas abaixo:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Os critérios de Jones para o diagnóstico de FR aguda foram
atualizados, considerando a cardite subclínica detectada pelo
ecocardiograma como critério maior.
REFERÊNCIAS
1. Sika-Paotonu D, Beaton A, Raghu A, Steer A, Carapetis J. Acute Rheumatic Fever and
Rheumatic Heart Disease. 2017.
2. Marijon E, Mirabel M, Celermajer DS, Jouven X. Rheumatic heart disease. Lancet. 2012;
379 (9819): 953-64.
3. Watkins DA, Johnson CO, Colquhoun SM, Karthikeyan G, Beaton A, Bukhman G et al.
Global, Regional, and National Burden of Rheumatic Heart Disease, 1990-2015. The New
England journal of medicine 2017;377(8): 713-22.
4. Nascimento BR, Beaton AZ, Nunes MC, Diamantino AC, Carmo GA, Oliveira KK et al.
Echocardiographic prevalence of rheumatic heart disease in Brazilian schoolchildren: Data
from the PROVAR study. International journal of cardiology. 2016;219:439-45.
5. Meira ZM, Goulart EM, Colosimo EA, Mota CC. Long term follow up of rheumatic fever
and predictors of severe rheumatic valvar disease in Brazilian children and adolescents.
Heart. 2005;91(8):1019-22.
6. Pato MF, Gelape CL, Cassiano TJ, Carvalho A, Cintra PR, Passaglia LG et al. Determinants
of prolonged length of hospital stay after cardiac surgery: impact of rheumatic heart disease.
MedicalExpress. 2015;2.
7. Peixoto A, Linhares L, Scherr P, Xavier R, Siqueira SL, Pacheco T et al. Febre reumática:
revisão sistemática. Rev Soc Bras Clin Med 2011;9(3): 234-8.
8. Barbosa PJB, Mülle RE. Diretrizes Brasileiras para diagnóstico, tratamento e prevenção da
febre reumática. Arquivos brasileiros de cardiologia 2009;93(Suppl 4):127-47.
9. Jones TD. The diagnosis of rheumatic fever. Journal of the American Medical association
1944;126(8): 481-4.
10. Gewitz MH, Baltimore RS, Tani LY, Sable CA, Shulman ST, Carapetis J et al. Revision of
the Jones Criteria for the diagnosis of acute rheumatic fever in the era of Doppler
echocardiography: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation
2015;131(20):1806-18.
11. Marijon E, Ou P, Celermajer DS, Ferreira B, Mocumbi AO, Jani D et al. Prevalence of
rheumatic heart disease detected by echocardiographic screening. The New England journal
of medicine 2007; 357(5): 470-6.
12. Beaton A, Aliku T, Dewyer A, Jacobs M, Jiang J, Longenecker CT et al. Latent Rheumatic
Heart Disease: Identifying the Children at Highest Risk of Unfavorable Outcome.
Circulation 2017;136(23):2233-44.
13. Rothenbuhler M, O’Sullivan CJ, Stortecky S, Stefanini GG, Spitzer E, Estill J et al. Active
surveillance for rheumatic heart disease in endemic regions: a systematic review and meta-
analysis of prevalence among children and adolescents. The Lancet Global health
2014;2(12):e717-26.
14. Remenyi B, Wilson N, Steer A, Ferreira B, Kado J, Kumar K et al. World Heart Federation
criteria for echocardiographic diagnosis of rheumatic heart disease--an evidence-based
guideline. Nature reviews Cardiology 2012;9(5):297-309.
15. Gerber MA, Baltimore RS, Eaton CB, Gewitz M, Rowley AH, Shulman ST et al.
Prevention of rheumatic fever and diagnosis and treatment of acute Streptococcal
pharyngitis. Circulation 2009; 119 (11):1541-51.
16. Nishimura RA, Otto CM, Bonow RO, Carabello BA, Erwin JP, Guyton RA et al. 2014
AHA/ACC guideline for the management of patients with valvular heart disease: a report of
the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice
Guidelines. The Journal of thoracic and cardiovascular surgery 2014;148(1):e1-e132.
17. Baddour LM, Wilson WR, Bayer AS, Fowler VG, Tleyjeh IM, Rybak MJ et al. Infective
Endocarditis in Adults: Diagnosis, Antimicrobial Therapy, and Management of
Complications: A Scientific Statement for Healthcare Professionals From the American
Heart Association. Circulation 2015;132(15):1435-86.
18. Osowicki J, Carr JP, Steer AC. Rheumatic fever: The rebound phenomenon returns. J
Paediatr Child Health. 2018;54(6):685.
19. Ayoub EM, Barrett DJ, Maclaren NK, Krischer JP.Association of class II human
histocompatibility leukocyte antigens with rheumatic fever. J Clin Invest. 1986;77(6):2019.
20. Coen M, Leuchter I, Sussetto M, et al. Progressive Dysphonia: Ortner Syndrome. Am J Med
2018; 131: e 494.
21. Chiriboga CA. Acute toxic-metabolic encephalopathy in children. Post TW, ed. UpToDate.
Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (accessed on March 25, 2020).
22. Fusco C, Spagnoli C. Corticosteroid treatment in Sydenham’s chorea. Eur J Paediatr Neurol.
2018 Mar;22(2):327-331.
23. Medscape. Rheumatic fever: a preventable and treatable public health problem.
https://www.medscape.com/viewarticle/406404_5 (acessed on March 25, 2020).
1.11
ANTICOAGULANTES
Autores:
Estevão Tavares de Figueiredo
Jean Bryally Peres
José Tasca
Vitória de Cássia da Silva Moreira
Breve histórico
• 1271 - Relatos literários descrevendo Trombose Venosa;
• 1628 - Willian Harvey, médico inglês, descreve as leis que regem
a Circulação Sanguínea;
INTRODUÇÃO
Os anticoagulantes são drogas essenciais tanto para a prevenção quanto
tratamento de inúmeras situações clínicas de alta incidência e prevalência no
dia a dia do Médico moderno. Este, por sua vez, deve assumir o papel que
lhe cabe, e encarar com mais seriedade e atenção esse tema, a fim de adquirir
mais recursos técnicos e ampliar seu raciocínio clínico prático.
Percebe-se, infelizmente, que, grande parcela dos pacientes acometidos
por fenômenos tromboembólicos evitáveis, acabam por ser vítimas da
omissão de quem teria o dever de protegê-los: “o Médico”. Estes pacientes
sim serão penalizados por essa negligência e ou imperícia, elevando o
número das estatísticas de morte, invalidez, redução da perspectiva de vida e
prejuízo socioeconômico irreparável, tanto para si quanto para suas famílias
e o próprio Estado.
Pensando nisso, o manual vem com a proposta de desmistificar o tema e
incutir no leitor, maior familiaridade e tranquilidade ao indicar,
contraindicar, manejar e reconhecer sinais de alerta, conferindo ao colega
prescritor, maior habilidade para escolha e manuseio destas armas
terapêuticas. O objetivo é de fato, dar segurança ao colega médico e seus
pacientes.
É importante que tenhamos em mente, que estas drogas, podem variar
suas dosagens e posologias, além de seus ajustes particulares, nas mais
variadas situações.
Recomendamos que antes de iniciarmos a condução de situações
específicas, é fundamental que entendamos e revisemos rapidamente sobre
os fundamentos fisiológicos da Hemostasia e coagulação sanguínea,
relacionando-os à farmacocinética e farmacodinâmica das drogas em
questão.
FISIOLOGIA DA COAGULAÇÃO
No sangue há um grande número de substâncias que promovem a
coagulação, chamadas de pró-coagulares, e outras que inibem a coagulação,
chamadas de anticoagulantes. Ele não coagula enquanto circula porque há
predominância das substâncias anticoagulantes. O nome que se dá a este
mecanismo é hemostasia. Por um corte, ruptura de um vaso ou mesmo em
situações patológicas, a hemostasia é provocada e podem ocorrer diversos
mecanismos para a sua manutenção, como: constrição vascular, formação de
tampão de plaquetas, formação de coágulo sanguíneo, crescimento de tecido
fibroso para fechamento do vaso. Após um trauma do vaso sanguíneo há um
breve período de vasoconstrição por espasmo muscular e substâncias
vasoconstritoras, com subsequente ativação e aderência das plaquetas pelo
contato com a parede lesada do vaso, formando um tampão plaquetário. Se a
lesão for grande há a necessidade da formação de um coágulo sanguíneo,
para completar a hemostasia. O mecanismo da coagulação pode ocorrer por
duas vias, a via extrínseca e a via intrínseca.
A via extrínseca é ativada quando ocorre lesão do endotélio vascular,
havendo liberação da tromboplastina tecidual ou fator III, que se combina
com o fator VII (acelerador da protrombina) na presença do fator IV (cálcio)
e atua enzimaticamente sobre o fator X (anti-hemofílico), para formar o fator
X ativado. Na via intrínseca, o fator XII (Hageman) ao contato com
qualquer superfície que não seja o endotélio vascular, é ativado, em seguida
ativa o fator XI (precursor da tromboplastina plasmática). Estes dois fatores
ativados estimulam a ativação do fator IX (anti-hemofílico B), o fator IX
ativado, converte o fator VIII (anti-hemofílico A) à forma ativa. O fator VIII
ativado se liga ao cálcio e ao fosfolipídio plaquetário, formando um
complexo ativador do fator X.
Estímulos diferentes iniciam as vias extrínsecas e intrínsecas, mas a
partir da ativação do fator X, as duas vias seguem uma via comum. O fator
X ativado se combina com o fator IV (cálcio), com o fator V (pró-acelerina)
e com as plaquetas ou com os fosfolipídios teciduais para formar o complexo
ativador da protrombina e convertem o fator II (protrombina) em trombina.
A trombina, por sua vez, é uma enzima proteolítica, que atua sobre o fator I
(fibrinogênio), formando moléculas de monômero de fibrina, essas
moléculas se polimerizam, formando longas fibras de fibrina. Assim o
tampão de plaquetas, formado inicialmente, mais as fibras de fibrina, células
sanguíneas e plasma, formam o coágulo sanguíneo.
DROGAS
I) DROGAS ANTICOAGULANTES PARENTERAIS:
A. DE AÇÃO INDIRETA:
HEPARINAS:
A heparina não fracionada (HNF) possui peso molecular de 15.000
Daltons (Da). Tem como mecanismo de ação, a inibição indireta da
Trombina (Fator IIa) atuando como co-fator da antitrombina (AT),
aumentando sua atividade e, consequentemente, seu efeito anticoagulante
sob a trombina, o Fator Xa, e, em menor grau, os Fatores XII, XI e IX
ativados, além de também inibir o complexo ‘Fator tecidual – Fator VIIa’,
promovendo alterações laboratoriais do Tempo de Protrombina (TP), do
Tempo de Tromboplastina Parcial ativado (TTPa) e do Tempo de Trombina
(TT). A despolimerização da HNF levou à obtenção de compostos de menor
peso molecular (inferior a 8.000 Da), que receberam o nome genérico de
heparinas de baixo peso molecular.
As heparinas de baixo peso molecular (HBPM) têm baixa atividade
antitrombínica mas mantém a capacidade de inativar o Fator Xa. Exerce sua
atividade antitrombótica por inibição seletiva do Fator Xa mediada pela
antitrombina III (ATIII). Laboratorialmente, somente alteram o TTPa quando
utilizadas em altas doses e, devido às suas características farmacológicas,
permitem dispensar a monitorização na maioria dos pacientes, exceto
grávidas, obesos e pacientes com disfunção renal, onde nestes casos, se
disponível, é indicado a dosagem do Fator anti-X ativado (anti-Xa). Os
níveis terapêuticos da atividade anti-Xa oscilam entre 0,5 e 1,0 UI/ml. A
média da atividade anti-Xa, mensurada 3 a 5 horas após injeção SC, é
proporcional à dose administrada: 0,2, 0,4, 1,0, 1,3 UI anti-Xa/ml nas doses
únicas de 20mg, 40mg, 1mg e 1,5mg/Kg respectivamente.
Apresentações:
Diluição sugerida: Heparina sódica (5.000 UI/mL) 5 mL + Solução glicosada 5% 245 mL.
Concentração final: 100 UI/mL.
BIVALIRUDINA:
Anticoagulante parenteral de ação de inibição direta da trombina. Tem
como mecanismo de ação, o bloqueio da atividade da trombina em dois
sítios, ou seja, livre no plasma e ligada ao trombo. Consequentemente
impedindo a conversão de fibrinogênio em fibrina, interferindo sobre as
fases de amplificação e propagação estabelecidas pelo modelo celular da
coagulação pela diminuição da geração de trombina. Possui resultados
semelhantes aos da Enoxaparina em estudos que demonstram redução da
incidência de sangramentos graves. Pode ser empregada em SCA. Porém,
ainda indisponível para uso no Brasil.
INR > 9,0 sem sangramento - Suspender Varfarina, monitora INR 24-48 h;
ou sangramento menor* - Administrar Vit. K# 3 a 5 mg VO (via oral).
1.1) DABIGATRANA:
O Etexilato de Dabigatrana (pró-droga sem atividade farmacológica),
após administração, é rapidamente absorvido e convertido em Dabigatrana
no plasma e no fígado por meio de hidrólise catalisada por esterases. É um
inibidor direto da trombina, potente, competitivo, reversível e é o principal
princípio ativo no plasma. Visto que a trombina possibilita a conversão de
fibrinogênio em fibrina durante a cascata de coagulação, a sua inibição
previne a formação do trombo.
Droga Apresentação
Dabigratana Comprimidos de 75 mg, 110 mg e 150 mg
• Indicações: AVC, prevenção TVP em cirurgia ortopédica, tratamento TVP/TEP, prevenção de AVC em FA
não valvar.
• Contraindicações: ClCr ≤ 30 ml/min, sangramento ativo ou condições de alto risco de sangramento,
TGO/TGP acima de duas vezes o nível normal, história de hipersensibilidade a Dabigatrana. AVC Hemorrágico
nos últimos 6 meses e portadores de próteses valvares cardíacas.
• Efeitos colaterais: sangramentos, anemia, dor abdominal, diarreia, dispepsia, náuseas.
* Interações medicamentosas: Uso concomitante de diversos antifúngicos, anticonvulsivantes e antiarrítmicos (Amiodarona,
Verapamil, cetoconazol, rifampicina, carbamazepina, fenitoína, fenobarbital);
* FA: fibrilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda
Tabela 4. Dabigatrana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
2.1) RIVAROXABANA:
Droga Apresentação
Rivaroxabana Comprimidos de 2,5mg, 10 mg, 15 mg ou 20 mg
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP, prevenção de EP
• Contraindicações: ClCr ≤ 15ml/min, sangramento patológico ativo ou contraindicações de alto risco de
sangramento, doença hepática crônica (Child-Pugh B/C) ou doença hepática com coagulopatia, história de
hipersensibilidade a rivaroxabana, gravidez, lactação, uso concomitante de outras drogas (cetoconazol,
itraconazol, voriconazol, posoconazol, inibidores de protease (lopinavir, ritonavir e indinavir)
• Efeitos colaterais: sangramento, anemia. Cefaleia, boca seca, urticária
Indicações de correção da dose Dose
* FA: fibrilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda
Tabela 5. Rivaroxabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP, prevenção de EP.
• Contraindicações: ClCr ≤ 15 ml/min, sangramento patológico ativo ou condições de alto risco de
sangramento, doença hepática crônica (Child-Pugh B/C) ou doença hepática com coagulopatia, história de
hipersensibilidade a apixabana, TGO ou TGP acima de 2 x o nível de normalidade, uso concomitante de
algumas drogas (cetaconazol, itraconazol, voriconazol, posoconazol, indinavir, rifampicina, carbamazepina,
fenitoína, fenobarbital, inibidores de protease – lopinavir, ritonavir e indinavir).
• Efeitos colaterais: sangramento, anemia, náuseas.
INDICAÇÕES DE CORREÇÃO DA DOSE DOSE
• Trombose venosa aguda e EP: 10 mg 2 x ao dia nos primeiros 7 dias; a partir daí 5 mg de 12/12 h.
• Prevenção de TVP depois de cirurgia de joelho ou quadril (14 ou 30 dias, respectivamente): 2,5 mg de 12/12
h. Iniciar o uso da apixabana 12 a 24 h após o término da cirurgia, contanto que tenha sido estabelecido
hemostasia.
*FA: fibrilação atrial, AVCi: acidente vascular cerebral isquêmico; ClCr: Clearance de creatinina;
Cr: Creatinina; EP: embolia pulmonar; TVP: trombose venosa profunda.
Tabela 6. Apixabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
Troca de anticoagulantes:
• Indicações: FA não valvar com escore de risco para AVC que indique prevenção de AVCi, tratamento e
prevenção de TVP e EP.
• Contraindicações: Edoxabana é contraindicada em pacientes com sangramento ativo clinicamente
significativo e em pacientes com doenças hepática associada à coagulopatia e a risco de hemorragia
clinicamente relevante.
• Efeitos colaterais: anemia, epistaxe, hemorragia do trato gastrointestinal superior, hemorragia do trato
gastrointestinal inferior, hemorragia oral / faríngea, hemorragia em tecido subcutâneo, rash, hematúria
macroscópica /uretral, hemorragia vaginal, hemorragia no local da punção, provas de função hepática anormais,
aumento de bilirrubina sanguínea, aumento de gamaglutamil transferase (GGT), tontura, cefaleia, dor
abdominal, náusea e prurido.
Tabela 7. Edoxabana:
Fonte: Elaborado pelos autores.
Troca de anticoagulantes:
60 mg 1x ao dia
Prevenção 150 mg 2x ao dia ou
20 mg 1x ao dia 5 mg 2x ao dia ou
AVC/Embolia 110 mg 2x ao dia
30 mg 1x ao dia
Portadores DRC 20% com ClCr 30-49 21% com ClCr 30-49 15% com ClCr 30-50 19% com ClCr < 50
INDICAÇÕES
DOACS VARFARINA (INR ALVO)
MIOCARDIOPATIAS C/
TROMBOS INTRACAVITÁRIOS NÃO SIM, INR = 2,5 (2-3)
E EMBOLIA PRÉVIA
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
SIM SIM, INR = 2,5 (2-3)
DE TEV
SIM. OBS:
FA SIM, INR = 2,5 (2-3)
FA NÃO VALVAR
DOENÇAS VALVARES
ASSOCIADAS
A FA E PÓS-OPERATORÓRIO SIM SIM, INR = 2,5 (2-3)
DE BIOPTÓTESES MITRAL
(3 MESES INICIAIS)
(ENTENDE-SE POR FA VALVAR, QUANDO COEXISTE PRÓTESES VALVARES BIOLÓGICAS OU MECÂNICAS, REPARO
VALVAR MITRAL, ESTENOSE MITRAL REUMÁTICA OU ESTENOSE MITRAL MODERADA A IMPORTANTE. NESTES CASOS
USE APENAS VARFARINA!).
1. VARFARINA:
Em casos onde a anticoagulação imediata é indicada (EX: TVP, TEP), é
recomendado o início da Varfarina intrahospitalar juntamente a HNF OU
HBPM em doses terapêuticas por um tempo mínimo de 4 a 5 dias até que se
atinja o alvo terapêutico do INR, e só então suspender a heparina. A
Varfarina pode ser iniciada ambulatorialmente nas demais condições, sem
necessidade de uso de heparina concomitante.
MANEJO DE SANGRAMENTO:
1. VARFARINA:
A Tabela 3 descreve o manejo do paciente em uso de varfarina com
sangramento e a conduta mais adequada no paciente com níveis elevados de
INR sem sangramento (vide tabela).
2. DOAC’s:
A pós interrupção do tratamento, a restauração da hemostasia ocorre em
12 a 24 horas após a última dose tomada.
O manejo dos pacientes em uso de DOAC com sangramento sem e com
risco de morte está demonstrado nas “Tabelas 10 e 11”.
DABIGATRANA RIVAROXABANA E APIXABANA
• Todas medidas adotadas no sangramento sem risco • Todas medidas adotadas no sangramento sem
de morte risco de morte
• Concentrado complexo protrombínico 50U/Kg • Concentrado complexo protrombínico
(25U/Kg a mais se clinicamente houver necessidade); 50U/Kg (25U/Kg a mais se clinicamente
(sem dados clínicos) houver necessidade); (sem dados clínicos)
• Concentrado complexo protrombínico 50U/Kg, com • Concentrado complexo protrombínico
máximo de 200U/Kg dia 50U/Kg, com máximo de 200U/Kg dia
• Fator VII ativado (FVII recombinante 90 mcg/Kg), • Fator VII ativado (FVII recombinante
sem dados sobre benefício e alto custo 90 mcg/Kg), sem dados sobre benefício
• Idarucizumab 5g, endovenosa. e alto custo.
Tabela 11. Manejo de paciente em uso de NOAC com sangramento e risco
de morte:
Fonte: adaptado de Oliveira.
MANEJO PERIOPERATÓRIO:
Para recomendação do manejo perioperatório de pacientes em uso de
anticoagulantes orais, deve-se previamente classificá-los de acordo com sua
estratificação de risco tromboembólico (Tabela 12) e de sangramento
(Tabela 13).
FA
(sem AIT/AVE • AIT/AVE recentes
prévio).
(3 meses);
• Estenose mitral
(reumática) / FA.
ARTÉRIAS
CORONÁRIAS • Prevenção primária • Doença arterial • SCA;
de doença arterial crônica estável pós • Cirurgia de
crônica. IAM;
Revascularização do
• Cirurgia de miocárdio há menos de
Revascularização do 1 ano;
miocárdio há + de 1 • ICP.
ano.
1. VARFARINA:
A decisão de se realizar a ponte com heparina em pacientes em uso de
varfarina dependerá do risco tromboembólico do paciente e do risco de
sangramento do procedimento, segundo Tabela 14.
O esquema de suspensão da varfarina está descrito na Tabela 15.
Risco Risco
hemorrágico tromboembólico
BAIXO MODERADO ALTO
Interromper Varfarina
Interromper Interromper Varfarina (INR
(INR < 2); Avaliar
Varfarina; < 1,5); Indicado realizar
ALTO individualizadamente a necessidade
Não realizar ponte ponte com heparina em
de ponte com heparina em dose
com heparina dose terapêutica***
profilática**
*A depender dos fatores de risco e características individualizadas de cada paciente; ** Dose profilática de heparina: enoxaparina 0,5
mg/kg via subcutânea 2x ao dia ou 40 mg subcutânea 2x ao dia, ou HNF 5.000 a 7.500
2. DOAC’s:
Os DOAC’s apresentam excreção renal significativa e, portanto, um
passo importante no manejo perioperatório desses pacientes é a avaliação
da função renal.
Em virtude de sua relativa meia-vida de eliminação curta, não é
necessária a ponte perioperatória com a heparina.
Em cirurgias ou procedimentos de baixo ou mínimo risco de
sangramento, não há necessidade de suspensão do uso dos DOAC, mas o
procedimento deve ser realizado preferencialmente no vale plasmático do
fármaco, ou seja, no mínimo, 24 horas após a última dose. Em cirurgias ou
procedimentos moderados ou alto risco de sangramento, os DOAC devem
ser suspensos por pelo menos 48 horas, dependendo da função renal do
paciente segundo a Tabela 16.
DABIGATRANA RIVAROXABANA APIXABANA
• Stroke (AVE) 1
1
• Bleeding (Sangramento)
1
• Labile INR (Variação do INR) 1
• Elderly (Idade)
1 ou 2
• Drugs or alcohol (Fármacos ou álcool) MÁXIMO 9
* H: pressão arterial sistólica >160 mmHg; A: função renal alterada (diálise, transplante renal ou creatinina sérica maior ou
igual a 2,3 mg/dL) ou função hepática alterada (cirrose, bilirrubina > 2 vezes o limite superior da normalidade em associação
a TGO ou TGP > 3 vezes o limite superior da normalidade); S: AVE prévio, se especialmente se profundo/lacunar; B: história
prévia de sangramento, anemia ou predisposição a
sangramentos; L: INR instável ou alto ou tempo na faixa terapêutica< 60%; E: idade maior que 65 anos; D: uso de
medicações antiplaquetárias ou anti-inflamatórias não hormonais e consumo de 8 ou mais doses de bebidas alcoólicas por
semana.
II) VALVOPATIAS:
Grandes estudos randomizados que mostram um alto grau de
reconhecimento no tratamento antitrombótico dos pacientes com doenças e
próteses valvares ainda é carente. A Varfarina é a principal terapia
antitrombótica nos portadores de valvulopatias. O uso de DOAC’S é
contraindicado em casos de próteses mecânicas e estenose mitral moderada a
grave, em especial de causa reumática. Entretanto, as diretrizes mais recentes
descrevem o uso de DOAC como alternativa razoável em FA e pacientes
com outras doenças valvares, como estenose aórtica, insuficiência aórtica e
insuficiência mitral. Porém, apesar disso deve-se sempre avaliar
individualmente seus riscos e benefícios.
A. LESÕES MITRAIS:
C. PORTADORES DE BIOPRÓTESES:
Neste cenário é de suma importância considerar o tempo de realização do
implante.
1. Primeiros 3 a 6 meses:
2. Após 3 a 6 meses:
A. Varfarina:
O manejo da varfarina em pacientes com SCA e submetidos à
intervenção coronária percutânea (ICP) está descrito a seguir:
B. DOAC´s:
O manejo da terapia na fase aguda e em longo prazo dos pacientes com
SCA e em uso de DOAC está descrito no Fluxograma 1.
*Fluxograma representativo das indicações de associação de terapas antitrombóticas de acordo com o risco
isquemico ou hemorrágico. ACO:anticoagulantes orais; C: clopidogrel.
VIII) MIOCARDIOPATIA:
É recomendado o uso de Varfarina, INR = 2,5 (2-3) em pacientes com
miocardiopatias associadas a FA, embolia prévia ou trombos intracavitários.
Existem estudos em andamento avaliando o uso de DOAC em pacientes
com insuficiência cardíaca.
a. Varfarina:
B. DOAC´s:
*TC: Tomografia Computadorizada; RM: Ressonância Magnética; AVE: acidente vascular encefálico; AIT: acidente
isquêmico transitório; FR: fatores de risco; NIHSS: National Institute of Health Stroke Scale
A. Varfarina:
Em paciente sob o uso de varfarina a recomendação de cardioversão
elétrica (CVE) no cenário de FA/Flutter, se realiza como abaixo descrito:
FA presente por tempo > 48 horas, devemos avaliar as condições clínicas
do paciente, havendo dois caminhos a serem seguidos:
1. Paciente estável em acompanhamento ambulatorial: Varfarina, INR
= 2,5 (2-3), deve-se manter o INR em faixa terapêutica por mais de 3
semanas e realizar a cardioversão, se a mesma for bem sucedida, manter a
Varfarina por 1 mês (INR 2-3). Considerar se paciente estava em uso de
heparina na época da cardioversão, caso isso aconteça, deve-se manter o uso
da Varfarina até INR atingir faixa terapêutica.
Se cardioversão não for bem sucedida manter o uso de Varfarina (INR 2-
3).
2. Paciente instável, que não tem condições de aguardar cardioversão
por 3 semanas, internado: Recomenda-se o uso de heparina IV com meta de
TTPa alvo = 60s (entre 50 a 70s), realização de ecocardiograma
transesofágico, em caso de evidência de trombo, deve-se adiar a CVE e
manter heparina até o INR atingir a faixa terapêutica, e considerar repetir
ecocardiograma transesofágico antes de realizar CVE.
Se Ecocardiograma TE revelar ausência de trombo, recomenda-se
realizar a CVE. E o manejo após o procedimento deverá ser o mesmo do
paciente estável ambulatorial a depender do sucesso da CV.
B. DOAC`s:
Em pacientes sob o uso de DOAC a recomendação de cardioversão
elétrica ou farmacológica, deve ser avaliada em dois tipos de pacientes:
1. Pacientes em uso de DOAC por mais que 3 semanas:
Verificar aderência ao tratamento. Se boa adesão, indicado realizar CVE
e manter uso de DOAC por 4 semanas no mínimo (> 4 semanas baseado no
CHA2DS2 -VASc).
Em caso de não aderência, dúvidas sobre a adesão ou alto risco para
trombo em átrio esquerdo deve-se realizar ecocardiograma transesofágico.
Se confirmado trombo em átrio esquerdo, deve-se adiar CVE e realizar
anticoagulação por períodos mais longos e após, repetir ecocardiograma
transesofágico. Obs: Ainda não existem dados de melhor estratégia em
converter para heparina IV associada a Varfarina até atingir faixa terapêutica
ou manter uso de DOAC.
Realiza-se a CVE após esse período estendido de anticoagulação, e
manter uso de DOAC por 4 semanas no mínimo (> 4 semanas baseado no
CHA2DS2 -VASc);
• Terapias associadas a
náuseas e vômitos;
• Extremo de pesos (<50 DOAC
e>150); NÃO INDICADO
• História de sangramento GI
prévio ou neoplasia GI ativa;
• Risco de sangramento
conhecido ;
• Alterações da absorção GI
HBPM NÃO INDICADO
• IR;
• Negação do paciente a
terapia parenteral;
• CA + TVP durante a
anticoagulação;
• Extremos de peso (<50 e
>150);
• IRC avançada;
• Extremos de peso (<50 e
>150);
• Situações que exigem VARFARINA INDICADO
monitoramento da
anticoagulação (alterações
metabólicas, alterações de
absorção e risco de
sangramento);
*CA: câncer; GI: gastrointestinal; IR: insuficiência renal; IRC: insuficiência renal crônica; TVP; trombose venosa profunda;
DOAC: anticoagulantes orais de ação direta; HPBM: heparina de baixo peso molecular.
REFERÊNCIAS
1. MENEGHELO, Zilda Machado; BARROSO, Cecilia Maria Quaglio. Guia prático de
anticoagulação oral – 1ª edição, Ano 2017.
2. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro, Elsevier
Ed., 2006.
3. Sociedade Brasileira de Cardiologia • ISSN-0066-782X • Volume 101, Nº 3, Supl. 3,
Setembro 2013 / Diretrizes Brasileiras de Antiagregantes Plaquetários e Anticoagulantes em
Cardiologia
4. Tratamento do tromboembolismo venoso em pacientes com câncer: Atualização quanto ao
papel dos anticoagulantes orais nesse cenário. www.rbc.inca.gov.br,2019
5. Konstantinides SV, et al. 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of acute
pulmonary embolism developed in collaboration with the European Respiratory Society
(ERS): The Task Force for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism of
the European Society of Cardiology (ESC). European Heart Journal, ehz405
6. 2016 ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation developed in collaboration
with EACTS. European Heart Journal (2016) 37, 2893–2962. doi:10.1093/eurheartj/ehw210.
7. 2015 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting
without persistent ST-segment elevation. European Heart Journal (2016) 37, 267–315
doi:10.1093/eurheartj/ehv320.
8. Trombose Venosa Profunda na Gestação e Puerpério. Protocolo de Atenção à Saúde –
Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia - Versão Preliminar SES- 2018.
9. Hokusai VTE Investigators, Buller HR, Decousus H, Grosso MA, Mercuri M, Middeldorp S,
et al.Edoxaban versus warfarin for the treatment of symptomatic venous thromboembolism.
The New England Journal of Medicine. 2013;369(15):1406–15
10. Marik EP, MD, Plante LA, MD, MPH. Venous Thromboembolic Disease and Pregnancy.
The New England Journal of Medicine. Review Article 2008- 359 2025- 33
11. SELECT-D: Anticoagulation therapy in selected cancer patients at risk of recurrence
ofvenous thromboembolism. DOI: 10.1200/jco.2014.32.15_suppl.tps9661 Journal of
Clinical Oncology 32, no. 15_suppl. Published online January 31, 2017
12. Apixaban and dalteparin in active malignancy associated venous thromboembolism. The
ADAM VTE Trial. 2017 Oct 5;117(10):1952-1961. doi: 10.1160/TH17-03-0193. Epub 2017
Aug 24.
13. Bruins Slot KM, Berge E. Factor Xa inhibitors versus vitamin K antagonists for preventing
cerebral or systemic embolism in patients with atrial fibrillation. Cochrane database Syst
Rev [Internet]. 2018 [cited 2019 Sep 4];3(3):CD008980.
14. Fanola CL, Giugliano RP, Ruff CT, Trevisan M, Nordio F, Mercuri MF, et al. A novel risk
prediction score in atrial fibrillation for a net clinical outcome from the ENGAGE AF-TIMI
48 randomized clinical trial. Eur Heart J. 2017;38(12):888-96. 29.
15. Oldgren J, Alings M, Darius H, Diener HC, Eikelboom J, Ezekowitz MD, et al. Risks for
stroke, bleeding, and death in patients with atrial fibrillation receiving dabigatran or warfarin
in relation to the CHADS2 score: a subgroup analysis of the RE-LY trial. Ann Intern Med.
2011;155(10):660-7, w204.
16. Douketis JD. Perioperative management of patients who are receiving warfarin therapy: an
evidence-based and practical approach. Blood. 2011;117(19):5044-9.
17. Krishnamurthi RV, Feigin VL, Forouzanfar MH, Mensah GA, Connor M, Bennett DA, et al.
Global and regional burden of first-ever ischaemic and haemorrhagic stroke during 1990-
2010: findings from the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet Glob Health.
2013;1(5):e259-81.
18. Avezum A, Costa-Filho FF, Pieri A, Martins SO, Marin-Neto JA. Stroke in Latin America:
Burden of Disease and Opportunities for Prevention. Glob Heart. 2015;10(4):323-31.
19. Miller CS, Grandi SM, Shimony A, Filion KB, Eisenberg MJ. Meta-analysis of efficacy and
safety of new oral anticoagulants (dabigatran, rivaroxaban, apixaban) versus warfarin in
patients with atrial fibrillation. Am J Cardiol. 2012;110(3):453–60.
20. European Heart Rhythm Association Practical Guide on the use of non-vitamin K antagonist
anticoagulants in patients with non-valvular atrial fibrillation. Europace. 2015;17(10):1467-
507.
21. Glund S, Moschetti V, Norris S, Stangier J,Schmohl M, van Ryn J, et al. A randomised
study in healthy volunteers to investigate the safety, tolerability and pharmacokinetics of
idarucizumab, a specific antidote to dabigatran. Thromb Haemost. 2015;113(5):943-51.
22. Patel MR, Mahaffey KW, Garg J, Pan G, Singer DE, Hacke W, ROCKET AF Investigators,
et al. Rivaroxaban versus warfarin in nonvalvular atrial fibrillation. N Engl J Med.
2011;365(10):883-91. 6. Granger CB, Alexander JH, McMurray JJ, Lopes RD, Hylek EM,
Hanna M, ARISTOTLE Committees and Investigators, et al. Apixaban versus warfarin in
patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2011;365(11):981-92.
23. Camm, AJ, Lip GY, De Caterina R, Savelieva I, Atar D, Hohnloser SH, et al. 2012 focused
update of the ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation: na update of the 2010
ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation. Developed with the special
contribution of the European Heart Rhythm Association. Eur Heart J. 2012;33(21):2719-47
24. Chugh SS, Havmoeller R, Narayanan K, Singh D, Rienstra M, Benjamin EJ, et al.
Worldwide epidemiology of atrial fibrillation: a Global Burden of Disease 2010 Study.
Circulation 2014;129(8):837-47.
25. Lip GY, Windecker S, Huber K, Kirchhof P, Marin F, Ten Berg JM, et al. Management of
antithrombotic therapy in atrial fibrillation patients presenting with acute coronary syndrome
and/or undergoing percutaneous coronary or valve interventions: a joint consensus document
of the European Society of Cardiology Working Group on Thrombosis, European Heart
Rhythm Association (EHRA), European Association of Percutaneous Cardiovascular
Interventions (EAPCI) and European Association of Acute Cardiac Care (ACCA) endorsed
by the Heart Rhythm Society (HRS) and Asia-Pacific Heart Rhythm Society (APHRS). Eur
Heart J. 2014;35(45):3155-79.
26. SJ Connolly, MD Ezekowitz, S Yusuf, et al., the RE-LY Steering Committee and
InvestigatorsDabigatran versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med,
361 (2009), pp. 1139-1151.
27. MR Patel, KW Mahaffey, J Garg, et al., the ROCKET AF InvestigatorsRivaroxaban versus
warfarin in nonvalvular atrial fibrillation. N Engl J Med, 365 (2011), pp. 883-891.
28. CB Granger, JH Alexander, JJ McMurray, et al., the ARISTOTLE Committees and
InvestigatorsApixaban versus warfarin in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med
2011; 365:981-992.
29. RP Giugliano, CT Ruff, E Braunwald, et al.Once-daily edoxaban versus warfarin in patients
with atrial fibrillation N Engl J Med, 369 (2013), pp. 2093-2104.
2.1
CETOACIDOSE DIABÉTICA
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• CAD (Cetoacidose Diabética): emergência clínica decorrente de
deficiência relativa ou absoluta de insulina, com consequente
prejuízo na captação de glicose plasmática. Para gerar energia,
ocorre a quebra de gordura, em um processo bioquímico chamado
lipólise. A incapacidade de metabolizar a glicose leva ao aumento
da glicemia, geralmente acima de 250 mg/dL, e a lipólise leva à
produção de cetoácidos com consequente acidose. Tais alterações
metabólicas compõem a tríade de hiperglicemia, cetonemia e
acidose metabólica.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de hiperglicemia: intolerância a exercícios,
fadiga, adinamia, poliúria, polidipsia, perda de peso súbita e
intensa, taquipneia, dor abdominal.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Os principais diagnósticos diferenciais estão resumidos no quadro 1 e
classificação da gravidade do quadro está descrita na tabela 1.
Intercorrências clínicas
Pancreatite aguda Insuficiência renal crônica ou agudizada
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: Hidratação, correção da acidose, da
hiperglicemia e dos desequilíbrios hidroeletrolíticos. A hidratação por si
só reduz a glicemia em 17 a 80% durante 12 a 15 horas, atingindo uma
taxa média de redução de 25 a 50 mg/hora.
No entanto, a resolução da CAD não é a resolução da hiperglicemia, que
pode ocorrer muito mais cedo no decorrer da terapia. Em vez disso, a
resolução da CAD é a correção da acidose metabólica e a normalização do
bicarbonato, ânion gap e recuperação para o sensório normal.
Uma vez atingidos esses parâmetros, os fluidos intravenosos são
interrompidos, é liberada uma refeição oral e a primeira dose de insulina
subcutânea é administrada. A infusão de insulina é interrompida meia hora
depois ou 2 horas depois em adultos. A transição para insulina subcutânea,
com os vários tipos disponíveis, entra no âmbito do manejo do controle
hiperglicêmico intra-hospitalar (veja esse capítulo).
Reposição Volêmica
- Infusão salina isotônica de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9% ou ringer lactato na primeira hora, em média 15 a 20
mL/kg/h ou 1 L/h. Em crianças e muito desidratados, realizar 20 mL/kg em fase de expansão em 30-60 minutos.
- Caso o paciente apresente hipernatremia (Na ≥ 150 mEq/L), usa-se solução de NaCl a 0,45% de 10 a 15 mL/kg/h.
- Para lactentes, usar NaCl 0,9% + água destilada (1:1). Crianças maiores devem receber solução de NaCl 0,9% + água
destilada na proporção 2:1.
- pH < 6,9 ou com hiperpotassemia grave: infundir 100 mEq/L de bicarbonato de sódio diluídos em 400 mL de água
destilada, sendo 200 mL/hora, até que o pH atinja valores superiores à 7.
- pH > 7: a infusão de NaHCO3 não melhora o prognóstico.
- Em crianças: infundir bicarbonato de sódio apenas se pH arterial for < 7,0. Iniciar após ter começado reidratação e
insulinoterapia, na dose de 1 a 2 mEq/kg durante 2 h.
Repor apenas quando o paciente apresentar disfunção cardíaca, anemia ou depressão respiratória e fosfato < 1 mg/dL.
- Infundir 20-30 mEq/L de fosfato ácido de potássio (KH2PO4).
Sempre Insulina Regular EV em bolus diluída em SF 0,9%: quanto maior a diluição, maior a segurança e hidratação.
Exemplos de diluição: Insulina Regular 25 unidades em 250 mL SF 0,9% de SF 0,9% ou 50 unidades em 500 mL de
SF 0,9% (diluição de 0,1 unidade por mL ou 1 unidade/10 mL da diluição).
A diluição de 100 unidades em 100 mL de SF 0,9% não é recomendada para crianças e, pelo desperdício de insulina e
necessidade de dose de velocidade de infusão muito baixa, deve ser reservada apenas para cardiopatas ou doentes
renais crônicos que não toleram volume.
Dose de 0,1 U/kg/h (adultos) e 0,05 U/kg/h (crianças), com meta de redução da glicemia de 50-75 mg/dL por hora.
Glicemia menor 250 mg/dL: reduzir para 0,05 U/kg/h de insulina regular e iniciar soro glicosado. Repetir gasometria.
Em casos leves, pode-se utilizar insulina regular SC de 1/1 h, ou análogos ultrarrápidos subcutâneos de hora em hora
ou a cada duas horas; porém, não se trata do método ideal de tratamento.
A suspensão da insulinoterapia só deverá ser feita quando corrigida a cetoacidose (pH e bicarbonato) e quando houver
redução da glicemia, que invariavelmente ocorrerá antes.
Tabela 3. Insulinoterapia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Avaliar sinais neurológicos de alerta e sintomas de edema cerebral (agitação, irritabilidade, aumento da
sonolência).
Gasometria arterial a cada 2 ou 4 horas, assim como eletrólitos de acordo com a reposição.
pH ≥ 7,3
b. Complicações:
Hipopotassemia, hiperglicemia, hipoxemia, edema agudo de pulmão
acometendo geralmente doentes renais crônicos ou pacientes com IC.
A rabdomiólise pode ocorrer devido à hiperosmolaridade e hipoperfusão.
Hipercloremia e edema cerebral podem ocorrer devido à rápida redução
da osmolaridade sérica em pacientes adultos jovens. Manifesta-se com sinais
de cefaleia, letargia, alterações pupilares ou convulsões.
Edema cerebral: as crianças apresentam maior incidência de edema
cerebral sintomático em comparação aos adultos, principalmente naqueles
com diabetes de início recente. Apresenta-se com uma taxa de mortalidade
de 10 a 25%. O edema cerebral geralmente ocorre algumas horas após o
início da terapia com CAD, com sintomatologia variada, variando de
cefaleia a deterioração neurológica abrupta e coma. Portanto, é necessário
um alto índice de suspeita em pacientes com sinais neurológicos sutis
precoces, sensório alterado persistente, apesar da melhora da acidose (pH >
7,3) e hiperglicemia (glicemia < 300 mg/dL). Quando há suspeita de edema
cerebral, é essencial monitorar rigorosamente glicemia e eletrólitos para
evitar desequilíbrio osmótico. Em tratamentos com manitol deve ser
considerada a ocorrência de edema cerebral. O volume de fluido
administrado deve ser reduzido e demais medidas para controle da pressão
intracraniana devem ser tomadas, quando necessárias.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Suspeita clínica e Manejo prático da CAD
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Sexo feminino, 13 anos, 40 kg, procura PS
queixando-se de fadiga e indisposição há 2 dias. Pais referem que há 1
mês vem apresentando polidipsia, poliúria e perda de 4 kg nos últimos
14 dias. Apresentou 1 episódio de vômito hoje. Nega patologias,
internações prévias ou uso de medicação contínua. Pais hígidos.
b. Exame físico: REG, afebril, hipocorada, sudoreica. Aparelho
cardiorrespiratório e abdominal sem alterações.
c. Exames laboratoriais:
• Glicemia: 480 mg/dL; pH 7,2; PaCO : 20; PaO : 130; BIC: 3; BE:
2 2
-19; SatO2: 98%; Hb: 10; K+: 4,0 mEq/L; Na+: 140 mEq/L; Cl−:
112 mEq/L, HCO3−:15 mEq/L;
• Leucócitos: 10.000;
• Ânion GAP: Na − (Cl + HCO3 ); AG = 140 - (112 + 15) = 13.
+ − −
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• CAD é uma emergência e a principal causa de morte em
diabéticos jovens.
• Solicitar vaga e realizar a transferência para terapia intensiva se
possível.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020.
São Paulo: Editora Clannad; 2020.
2. American Diabetes Association. Classification and Diagnosis of Diabetes: Standards of
Medical Care in Diabetes - 2020. Diabetes Care 2020; 43(1): S14-31.
3. Hamblin PS, Wong R, Ekinci EI, Fourlanos S, Shah S, Jones AR et al. SGLT2 Inhibitors
Increase the Risk of Diabetic Ketoacidosis Developing in the Community and During
Hospital Admission. J Clin Endocrinol Metab. 2019; 104(8): 3077-87.
4. Ramos AJS, Coral MHC, Souza TBS, Fonseca MM, Araújo D, Araújo LA, et al.
Emergências em Diabetes. In: Vilar L. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan Ltda; 2016.
5. Griffiths S, Peak D, Bridwell R E, Long B. Thyroid Storm and Diabetic Ketoacidosis
presenting to the Emergency Department. Cureus. 2020; 12(1): e6751.
6. Jayashree M, Williams V, Iyer R. Fluid Therapy For Pediatric Patients With Diabetic
Ketoacidosis: Current Perspectives. Diabetes Metab Syndr Obes. 2019; 12: 2355-61.
7. Desai R, Singh S, Syed M, Dave H, Haisnan M, Zahid D, et al. Temporal Trends in the
Prevalence of Diabetes Decompensation (Diabetic Ketoacidosis and Hyperosmolar
Hyperglycemic State) Among Adult Patients Hospitalized with Diabetes Mellitus: A
Nationwide Analysis Stratified by Age, Gender, and Race. Cureus. 2019; 11(4): e4353.
8. Kaewput W, Thongprayoon C, Varothai N, Sirirungreung A, Rangsin R, Bathini t, et al.
Prevalence and associated factors of hospitalization for dysglycemia among elderly type 2
diabetes patients: A nationwide study. World J Diabetes. 2019; 10(3): 212-23
9. Leite SAO, Umpierrez MCLG. Controle glicêmico no ambiente hospitalar. In: Vilar L.
Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
10. Buse JB, Wexler DJ, Tsapas A, Rossing P, Mingrone G, Mathieu C, et al. 2019 Update to:
Management of Hyperglycemia in Type 2 Diabetes 2018 A Consensus Report by the
American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of
Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2020; 43(2): 487-93.
2.2
ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• EHH (Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar): emergência endocrinológica em pacientes
diabéticos e acomete, quase exclusivamente, os diabéticos do tipo 2.
• A maioria dos casos ocorre em pacientes com diabetes tipo 2 e idosos. Mas raramente pode
ocorrer em crianças com diabetes tipo 2, especialmente na última década, devido à epidemia de
obesidade em crianças e consequente diabetes tipo 2 nesse grupo.
• EHH é responsável por cerca de 1% das admissões hospitalares. Em até 20% dos casos, o paciente
não apresenta o diagnóstico prévio de diabetes, evento que fará o diagnóstico.
• A mortalidade é elevada, com taxa até 20% e 10 vezes maior quando comparada à cetoacidose
diabética.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As etiologias mais comuns são os fatores que levam à descompensação do quadro de diabetes preexistente
ou gatilho para abrir o diagnóstico: infecções, AVE, IAM, queimaduras, desidratação (idosos acamados que
não têm acesso à hidratação adequada), embolia pulmonar e demais fatores predisponentes listados abaixo.
A fisiopatologia do EHH é a soma de dois fatores: decréscimo da insulina sérica e aumento de seus
hormônios contrarregulatórios (glucagon, epinefrina/norepinefrina, cortisol e hormônio do crescimento). Essas
alterações levam ao aumento da gliconeogênese e da glicogenólise e ao uso inadequado da glicose,
principalmente a nível muscular.
• Ausência de acidose metabólica ou quadro discreto: como não há deficiência absoluta de insulina,
a pequena concentração circulante de insulina é suficiente para impedir a lipólise e, com isso,
prevenir o surgimento da cetogênese, mas é insuficiente para a metabolização da glicose (a
quantidade de insulina requerida para suprimir a lipólise é um décimo menor que a requerida para
estimular a utilização periférica de glicose).
O déficit de água total no EHH é estimada em 9 a 12 litros, mais expressiva do que nos casos de
cetoacidose. É válido ressaltar que a osmolalidade plasmática é calculada com os valores séricos de sódio,
glicose e ureia. No entanto, a osmolalidade plasmática efetiva não considera o valor absoluto de bases
nitrogenadas (ureia) em sua fórmula, pois ele encontra-se distribuído igualitariamente pelo corpo, não
interferindo no gradiente osmótico das membranas celulares; portanto, não é significativo quando comparado
às concentrações de glicose e sódio.
A propedêutica visa identificar o fator etiológico que precipitou o EHH, correlacionando com a
suspeita clínica individual, com foco especial nas infecções respiratórias e urinárias e nos eventos
cardiovasculares em idosos.
• Pacientes idosos são propensos a prolongar a imobilização e têm alteração em resposta à sede,
dificultando seu estado de hidratação e aumentando o risco de EHH.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de hiperglicemia: mal-estar, fadiga, indisposição, fraqueza em membros
inferiores, turvação visual, poliúria, polidipsia, polifagia.
Sódio: Glicemia muito elevada pode levar a falso-positivo de hipernatremia. Nesses casos, utilizar
fórmula de Katz para calcular o sódio corrigido:
• Potássio: só é esperado que se encontre baixo se houver acidose metabólica, K deve ser > 3,3
+
mEq/L antes do início da terapêutica com insulina. Se menor, realizar a reposição de potássio por via
intravenosa, conforme descrito no capítulo de CAD.
b. Eletrocardiograma (ECG): deve ser solicitado para todos diabéticos tipo 2 ou tipo 1 com mais de
10 anos de diagnóstico, uma vez que pode haver infarto sem dor.
c. Radiografia de tórax: solicitar se houver suspeita clínica de infecção ou fator desencadeante não
identificado.
d. Outros exames (indicações mais restritas e específicas): tomografia de crânio se sinais de
deterioração neurológica ou se o paciente não apresentar a osmolalidade plasmática elevada, pois o coma
com valores baixos de osmolalidade plasmática deve alertar para a pesquisa de outras causas neurológicas
(p.ex., AVC ou meningite).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é essencialmente clínico. A propedêutica laboratorial deve ser realizada conforme sugerido
acima. A agilidade diagnóstica e a precisão do manejo clínico determinam o desfecho do paciente. A tabela 1
descreve os critérios diagnósticos para EHH.
Critérios laboratoriais
Glicemia sérica acima de 600 mg/dL
pH > 7,3
Bicarbonato > 15
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: o objetivo principal é restabelecer a hidratação e o osmolalidade
plasmática. A redução da hiperglicemia e da hiperosmolaridade deve ser lenta para não haver dano
neurológico.
• A recomendação ainda é priorizar o SF 0,9%, pois a solução salina na 0,45%, devido à relativa
hipotonicidade, grande parte do volume de 0,45% infundido pode ser perdido no espaço
extravascular.
• Embora a solução salina a 0,45% seja raramente usada como fluido de ressuscitação em adultos,
vários estudos examinaram seu uso como fluido de ressuscitação e manutenção em populações
pediátricas com CAD.
A reposição volêmica é essencial para o sucesso do tratamento, para correção do grande volume perdido.
Em adultos, sugerem-se 1000-1500 mL de SF0,9% nas primeiras 2 horas e 500-1000 mL nas 2 horas
subsequentes. Nas 20 horas seguintes é feita a reposição do restante das perdas previamente calculadas,
acrescido de perdas futuras previstas. Caso o paciente não tolere volume (idosos, cardiopatas e doentes renais
crônicos), a hidratação deverá ser feita de forma cautelosa, com SF 0,9% - 250mL em bolus e reavaliação para
evitar edema agudo de pulmão.
• Em crianças, é recomendada uma fase inicial de expansão, de cerca de 4 horas, com 20 mL/kg de
SF0,9% a cada 20 minutos até que os sinais de desidratação sejam revertidos. Mas é muito raro o EHH
nessa população.
Para o controle da hiperglicemia, utilizar insulina regular endovenosa contínua, em bomba de infusão
contínua, desde que o potássio sérico esteja ≥ 3,3 mEq/L, devido ao risco de arritmia severa em casos de
hipopotassemia.
• A solução para a bomba de infusão pode ser preparada com diluições como: 50 unidades de insulina
regular em 500 mL de SF 0,9% OU 25 UI de insulina regular em 250 mL de SF 0,9%, desprezando-
se os 50 mL iniciais. Nessa solução cada 10 mL correspondem a 1 unidade de insulina.
• Caso o paciente apresente IRC dialítica ou ICC com restrição hídrica, pode-se utilizar a diluição de
100 unidades de insulina regular em 100 mL de SF 0,9%. Nessa solução, cada 1 mL corresponde a 1
unidade de insulina. Lembrando que nessa diluição se perde muita insulina e há maior risco de erro
na velocidade de infusão e hipoglicemia severa.
• A cada 2-4 h verificar eletrólitos, ureia/creatinina séricas e pH venoso ou arterial de acordo com o
quadro respiratório. A glicemia capilar deve ser mensurada a cada hora enquanto estiver na bomba de
infusão contínua.
• Idealmente, esse paciente deverá ser encaminhado para Centro de Terapia Intensiva, sempre que
possível.
• Déficits eletrolíticos graves podem ser observados, principalmente potássio, fosfato e magnésio. Eles
podem ser mais extremos do que na CAD.
A suplementação de potássio deve ser iniciada em 10-20 mEq/L, mesmo se as concentrações de potássio
estiverem dentro da faixa normal, como dose de manutenção em pacientes com função renal preservada.
• Recomenda-se que a hipofosfatemia seja tratada; no entanto, deve-se estar ciente de que essa terapia
pode contribuir para a hipocalcemia. São utilizadas soluções intravenosas de uma mistura 50: 50 de
fosfato de potássio e cloreto de potássio, resultando em suplementação adequada de fosfato com
baixo risco de hipocalcemia clinicamente significativa.
A hipomagnesemia pode contribuir para a hipocalcemia durante o tratamento; portanto, a suplementação
deve ser considerada em pacientes com hipomagnesemia e hipocalcemia (25 a 50 mg/kg de magnésio por dose,
três a quatro doses administradas a cada quatro a seis horas, com uma taxa de infusão máxima de 150 mg/min e
2 g/h).
precri.jpgEXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, E.R.T, masculino, 72 anos, 70 kg, diabético tipo 2 há 20 anos, hipertenso,
trabalhador rural, sem utilizar a medicação há 1 semana (insulina NPH/regular e Metformina 850 mg).
Nega febre, vômitos, diarreia ou convulsão.
b. Exame físico: taquidispneico, anictérico, acianótico, afebril, corado. PA = 100 x 55 mmHg, pulso
célere e filiforme, FC = 108 bpm, FR = 26 irpm, SatO2 = 92%, panturrilhas livres. Pupilas isocóricas e
foto reagentes.
• Ectoscopia: mau estado geral, confuso, sonolento, sudorese profusa, desidratado 4+/4+.
• Glicemia capilar = (HIGH)
c. Exames complementares: glicemia sérica: 700 mg/dL, pH arterial: 7,43, bicarbonato sérico: 28
mEq/L, Sódio: 152 mEq/L, Cloro: 110 mEq/L, Potássio: 4,2 mEq/L, Ureia: 35 mg/dL, Creatinina: 1
mg/dL.
d. Cálculos:
OP = (2 x 152) + 700/18
OP = 342,8 mOsm/kg (V.R.: 290 ± 5)
e. Prescrição sugerida:
discesp.jpgDICAS DO ESPECIALISTA
• A hidratação vigorosa só pode ser realizada em pacientes que toleram volume, ou seja, sem
insuficiência renal ou cardíaca.
• Tanto a redução da hiperglicemia quanto da osmolaridade devem ser lentas para evitar complicações
neurológicas.
• Houve aumento de 0,3% para 0,5% na taxa de internações descompensadas relacionadas ao diabetes
entre os diabéticos mais velhos (≥ 65 anos), e esse grupo merece atenção especial, já que há altas
taxas de mortalidade hospitalar em comparação à idade jovem, o que reflete o aumento da gravidade
da descompensação e comorbidades associadas em diabéticos idosos.
• Vários estudos recentes mostraram que o controle intensivo da glicose (Hemoglobina glicada menor
que 6,5%) pode gerar mais danos do que benefícios em idosos. Cada vez mais, a importância de
cuidados e manejo especializados para a população geriátrica requer maiores cuidados clínicos, e a
abordagem de tratamento utilizada no DM2 na população idosa deve diferir da dos pacientes mais
jovens.
• Por outro lado, pacientes com excesso de peso tiveram um risco reduzido de hospitalização
relacionada à hiperglicemia. Provavelmente isso pode ser explicado pelo fato de que o controle
glicêmico aprimorado está associado ao ganho de peso.
• O uso de insulina e o aumento da HbA1C também foram fatores de risco para hospitalizações
hiperglicêmicas. Isso pode ocorrer devido a uma associação com complicações do diabetes
(nefropatia, retinopatia), maior prevalência de comorbidades pelos pacientes e suas complicações
associadas e baixa adesão.
refere.jpg REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. São Paulo: Editora Clannad; 2020.
2. American Diabetes Association. Classification and Diagnosis of Diabetes: Standards of Medical Care in Diabetes - 2020. Diabetes Care
2020; 43(1): S14-31.
3. Ramos AJS, Coral MHC, Souza TBS, Fonseca MM, Araújo D, Araújo LA, et al. Emergências em Diabetes. In: Vilar L. Endocrinologia
clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
4. Zubkiewicz-Kucharska A, Chrzanowska J, Noczyńska A. Hyperosmolar hyperglycaemic state (HHS) as the first manifestation of type 2
diabetes in a child. Pediatr Endocrinol Diabetes Metab. 2019; 25(2): 85-9.
5. Desai R, Singh S, Syed M, Dave H, Haisnan M, Zahid D, et al. Temporal Trends in the Prevalence of Diabetes Decompensation (Diabetic
Ketoacidosis and Hyperosmolar Hyperglycemic State) Among Adult Patients Hospitalized with Diabetes Mellitus: A Nationwide Analysis
Stratified by Age, Gender, and Race. Cureus. 2019; 11(4): e4353.
6. Kaewput W, Thongprayoon C, Varothai N, Sirirungreung A, Rangsin R, Bathini t, et al. Prevalence and associated factors of hospitalization
for dysglycemia among elderly type 2 diabetes patients: A nationwide study. World J Diabetes. 2019; 10(3): 212-23
7. Gershkovich B, English SW, Doyle M-A, Menon K, McIntyre L. Choice of crystalloid fluid in the treatment of hyperglycemic
emergencies: a systematic review protocol. Syst Rev. 2019; 8: 228.
8. Leite SAO, Umpierrez MCLG. Controle glicêmico no ambiente hospitalar. In: Vilar L. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan Ltda; 2016.
9. Buse JB, Wexler DJ, Tsapas A, Rossing P, Mingrone G, Mathieu C, et al. 2019 Update to: Management of Hyperglycemia in Type 2
Diabetes 2018 A Consensus Report by the American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of Diabetes
(EASD). Diabetes Care. 2020; 43(2): 487-93.
2.3
INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Adrenal Aguda (IAA): emergência clínica decorrente da diminuição abrupta na
secreção de hormônios esteroides produzidos pelo córtex adrenal (glicocorticoides,
mineralocorticoides e precursores androgênicos suprarrenais), cujo déficit predominante e de ameaça
à vida é o déficit de glicocorticoides.
• Epidemiologia: 5,2 a 8,3 por 100 pacientes-ano. A incidência de crise adrenal parece aumentar com
a idade, com um estudo relatando uma taxa de 24,3 admissões por milhão por ano em pacientes com
60-69 anos
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Entre as principais causas, além das doenças primárias e secundárias descritas abaixo, há a suspensão
brusca do tratamento com administração de glicocorticoides por um longo período de tempo (IA secundária).
A IA primária é rara (40 a 110 casos por milhão de habitantes).
• IAA secundária: causada por doenças ou situações que comprometam o eixo hipotálamo-
hipofisário, caracterizada por baixa produção de ACTH e, consequentemente, de cortisol. A diferença
laboratorial para IAA primária é o valor de ACTH que, na IAA secundária, apresenta-se baixo ou
inapropriadamente normal, mas nunca elevado acima de 100.
• Hemorragia adrenal aguda bilateral: causa com pior prognóstico, sendo muitas vezes fatal. Deve-
se atentar para esta etiologia em casos de meningococcemia (síndrome de Waterhouse-Friedrichsen),
septicemia por outras bactérias (Pseudomonas aeruginosa), uso de anticoagulantes, trauma ou cirurgia
abdominal.
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente da deficiência de cortisol: instabilidade hemodinâmica refratária à reposição
de fluidos, hiperpirexia, náuseas e vômitos, hipoglicemia ou coma, intolerância a exercícios, fadiga,
adinamia, anorexia, dor lombar.
• Quadro decorrente de hemorragia adrenal aguda bilateral: hipotensão grave e refratária a drogas
vasoativas e reposição volêmica.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: palidez, fraqueza muscular, hiperpigmentação cutânea (apenas na IA primária devido ao
aumento de ACTH com estímulo aos melanócitos).
• Cortisol basal e ACTH séricos colhidos entre 8 e 9 h: Permite diferenciar os pacientes saudáveis
daqueles com IA, assim como diferenciar pacientes com IA primária e secundária.
• Cortisol basal <3 mcg/dL confirma o diagnóstico de IA (acima de 18 mcg/dL praticamente exclui o
diagnóstico, exceto na sepse, que requer valores acima de 32 para exclusão).
• ACTH acima de 100 mcg/dL sela o diagnóstico de IAA primária, e concentrações normais ou
reduzidas estabelecem a IA de causa secundária.
• Definição da causa subjacente: posteriormente à crise, para reconhecer doenças que serão tratáveis
após a estabilização do quadro. Se primária, solicitar TC de abdome para avaliar adrenais e, se
secundária, solicitar RNM de hipófise/sela túrcica.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, a classificação após a estabilização do paciente é
importante para o seguimento do paciente.
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: Restabelecer o equilíbrio hemodinâmico e hidroeletrolítico, corrigir
hipoglicemia.
Infusão salina deve ser iniciada rapidamente por via endovenosa, com soro fisiológico (SF) a 0,9% em uma velocidade
inicial de 1-2 L/h, com monitorização cardíaca contínua e solução glicosilada a 5%. Após a melhora da hipotensão, a
taxa de infusão pode retornar para 3 a 4 L de solução salina isotônica por dia.
Cuidado em pacientes idosos e cardiopatas que podem não tolerar volume; avaliar cardiorrespiratório após cada
infusão de 250 mL de SF 0,9%.
Correção da hipoglicemia
Glicemia abaixo de 60 mg/dL: iniciar o soro glicofisiológico, pois estes pacientes vêm de períodos longos de anorexia.
Reposição de glicocorticoides
Hidrocortisona 100 mg EV em bolus seguida por 50 mg a cada 6 h nas primeiras 24 h em infusão contínua. Se o
diagnóstico de insuficiência adrenal estiver correto, haverá uma dramática melhora em 12 h após o início do
tratamento, e a dose de hidrocortisona poderá ser reduzida progressivamente. Em 24-72 horas, manter hidrocortisona
50 mg EV 8/8 horas e, em sequência, iniciar corticoterapia oral.
• Recomenda-se uma revisão urgente pela equipe de endocrinologia para orientar a redução segura da
hidrocortisona para doses de manutenção, além de orientar investigações adicionais em um paciente
com IA desconhecida.
• Se o paciente for clinicamente estável, a redução gradual da hidrocortisona para doses de reposição
pode ser iniciada geralmente dentro de 24 a 72 horas.
• É importante que pacientes, cuidadores e familiares estejam cientes dos sintomas de uma crise
iminente. Os pacientes devem ter um limiar baixo para administrar uma injeção de emergência de
hidrocortisona e procurar atendimento médico urgente se desenvolverem esses sintomas.
• Regra do dia 2: necessidade de injetar uma preparação de glicocorticoides IM/IV em caso de doença
grave, trauma, vômito persistente, em jejum para um procedimento (colonoscopia) ou durante
intervenção cirúrgica hospitalar.
• Em casos em que não se consegue determinar uma causa definitiva para a descompensação, deve ser
elucidada uma história abrangente de medicamentos, incluindo preparações à base de plantas e sem
receita. A investigação da presença de esteroides nessas preparações deve ser considerada quando os
pacientes persistirem com insuficiência adrenal secundária, apesar da descontinuação dos
medicamentos esteroides prescritos.
refere.jpg REFERÊNCIAS
1. Silva RC, Vilar L, Kater CE. Insuficiência adrenal: diagnóstico e tratamento. In: Vilar L, Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan Ltda; 2016.
2. Bornstein SR, Allolio B, Arlt W, Barthel A, Don-Wauchope A, Hammer GD, et al. Diagnosis and Treatment of Primary Adrenal
Insufficiency: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2016; 101(2): 364-89.
3. Dineen R, Thompson CJ, Sherlock M. Adrenal crisis: prevention and management in adult patients. Ther Adv Endocrinol Metab. 2019; 10:
1-12.
4. Kempegowda P, Quinn L, Shepherd L, Kauser S, Johnson B, et al. Adrenal insufficiency from steroid-containing complementary therapy:
importance of detailed history. Endocrinol Diabetes Metabol Case Rep. 2019: (1): 1-4.
5. Saverino S, Falorni A. Autoimmune Addison’s Disease. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab. 2020; 34(1): 101379.
6. Dineen R, Martin-Grace J, Thompson CJ, Sherlock M. The management of glucocorticoid deficiency: Current and future perspectives, Clin
Chim Acta. 2020; 505: 148-59.
7. Manosroi W, Kosachunhanan N, Atthakomol P. Clinical and biochemical factors to predict biochemical adrenal insufficiency in
hospitalized patients with indeterminate cortisol levels: a retrospective study. BMC Endocr Disord. 2020; 20(1): 24.
2.4
CRISE TIREOTÓXICA
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Crise Tireotóxica ou Tempestade tireoidiana: síndrome clínica decorrente do excesso de
hormônios tireoidianos circulantes, associada ou não ao hipertireoidismo.
• Os hormônios tireoidianos exercem seus efeitos nos miócitos cardíacos, no músculo liso vascular e
no endotélio vascular por ações genômicas (fT3) e não genômicas (fT3 e fT4). Enquanto esses
mecanismos controlam efeitos sobre a frequência e ritmo cardíacos, outros efeitos, como alterações
na função autonômica, também podem contribuir para as ações cardiovasculares. Esses últimos
efeitos são mediados pela ativação de genes que controlam a função do músculo cardíaco e a
cronotropia.
• A contratilidade cardíaca melhora a curto prazo, e a longo prazo a massa cardíaca aumenta. No
entanto, se a tireotoxicose for prolongada ou grave, a insuficiência cardíaca pode se desenvolver
frequentemente quando ocorre uma taquiarritmia, como fibrilação atrial (FA). Aumento da idade e
doença cardíaca coronária e valvular preexistente são fatores de risco para FA e suas complicações.
Indivíduos jovens que não têm doença cardíaca previamente conhecida também podem ser
acometidos, embora seja menos frequente.
A apresentação clínica da crise tireotóxica não depende da concentração sérica dos hormônios tireoidianos,
uma vez que eles são semelhantes aos encontrados na tireotoxicose compensada. A crise é decorrente o
aumento súbito de suas concentrações e não de seu valor absoluto.
Dessa forma, acredita-se que a crise ocorra por:
• Súbita elevação das concentrações dos hormônios tireoidianos livres, decorrentes de alterações nas
concentrações de proteínas carreadoras desses hormônios ou da produção de inibidores de ligação do
hormônio tireoidiano a essas proteínas.
• Quadro clínico relacionado ao sistema nervoso central: Sintomas leves como ansiedade e
depressão são comumente observados em pacientes com tireotoxicose. Na crise tireotóxica,
apresentações dramáticas do SNC, que variam de apatia, psicose e status epilético ao coma, já foram
descritas em vários relatos de casos. O prognóstico do coma relacionado à CT é ruim, e tanto o
despertar quanto a morte ocorrem mais comumente nos primeiros 2 dias do início do coma.
examf.jpgEXAME FÍSICO
• Ectoscopia: pele fria e úmida, exoftalmia/proptose ocular, edema periorbital e bócio difuso são
característicos da doença de Graves. Olhar fixo e brilhante é característico da tireotoxicose e não
específico para doença de Graves.
• Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular ou irregular (fibrilação atrial é a arritmia mais
comum), hipertensão sistólica, taquicardia.
• Dosagem do TRAb: os ensaios de TRAb tornaram-se mais confiáveis e com menor custo nos
últimos anos. Embora não seja necessária para o diagnóstico, sua dosagem é útil para prever
pacientes em risco de recidiva após a descontinuação de medicamentos antitireoidianos e para
detectar tireotoxicose fetal ou neonatal em mulheres com doença de Graves, uma vez que esses
anticorpos atravessam a placenta.
b. Eletrocardiograma (ECG): fibrilação atrial, taquicardia sinusal.
c. Ultrassonografia de tireoide com doppler: não é necessária na urgência. Mas é o exame que
diferencia a doença de Graves (hipervascularização sanguínea ao doppler, aumento difuso da glândula) da
tireotoxicose induzida pela destruição (diminuição do fluxo sanguíneo).
d. Cintilografia de tireoide: não é feita na urgência, mas distingue nódulos frios de quentes e
caracteriza a etiologia. Doença de Graves irá se apresentar como uma captação difusamente aumentada.
No bócio multinodular tóxico, a captação radioativa de iodo seria normal ou alta com padrão assimétrico e
irregular, e padrão localizado e focal no adenoma tóxico, com captação suprimida no restante tecido
tireoidiano.
diag.jpgDIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da crise ou tempestade tireotóxica é essencialmente clínico. Não existe um teste laboratorial
específico que identifique tal condição.
Os critérios diagnósticos de crise tireotóxica de Burch e Wartofsky e seus pontos somados apresentam a
seguinte probabilidade:
Disfunção gastrointestinal /
Efeitos no SNC pontos pontos
hepática
Ausentes 0 Ausente 0
Leve (agitação) 10
Moderados (delírio, psicose, letargia extrema) 20 Moderada (diarreia / náuseas / dor 10
Graves (convulsões, coma) abdominal) 20
30
Ausente 0 Presente 10
Leve 5
Moderada 10
Grave (edema agudo pulmão) pulmão 15
trat.jpgTRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: abordagens para a crise tireotóxica são:
b. Opções:
• Tionamidas: essa classe de medicamentos chamados antitireoidianos (DAT) de síntese tem como
objetivo bloquear a formação de hormônios tireoidianos, e possui dois representantes: metimazol
(MMZ) e o propiltiouracil (PTU). Sua ação se inicia cerca de uma a duas horas após sua
administração por via oral, a mais disponível. O propiltiouracil (PTU) é considerado a droga de
escolha na crise tireotóxica (dose 200 mg 8/8 horas), devido ao seu efeito adicional no bloqueio da
conversão periférica do T4 para o T3. Os dois medicamentos podem ser administrados por via
alternativa (retal) quando os pacientes não tiverem a via oral disponível. São indicados apenas
quando a crise tireotóxica tiver como causa o hipertireoidismo. A dose de metimazol recomendada é
40 mg/dia.
• Tireoidectomia total: deve ser considerada naqueles pacientes que não respondem ao tratamento e
após estabilização cardiovascular.
A febre deve ser tratada com paracetamol. Os salicilatos devem ser evitados porque aumentam a
concentração livre de T3 e de T4.
Fatores desencadeantes devem ser identificados e tratados, após a estabilização do quadro agudo.
Após a melhora da função tireoidiana, que geralmente ocorre em 24 h, o iodo pode ser gradualmente
descontinuado e os glicocorticoides, diminuídos. DAT e betabloqueadores devem ser ajustados de acordo com
a função tireoidiana. O tratamento definitivo com tireoidectomia ou iodo radioativo é sugerido depois que o
paciente se torna eutireoideo (função tireoidiana normal) ou naqueles que não respondem ao tratamento.
precri.jpgEXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: sexo feminino, 32 anos, 55 kg, apresenta-se ao PS com quadro de hipertermia,
palpitações intensas, agitação e tremores de extremidades em domicílio, durante a madrugada, sendo
conduzida por familiares à unidade de pronto-atendimento. Segundo os familiares, tratava-se de paciente
portadora de doença de Graves, sem tratamento medicamentoso regular.
• Ectoscopia: paciente hipocorada, hidratada, anictérica, acianótica, febril (Tax: 38ºC), edema de
membros inferiores e exoftalmia evidente.
• Tireoide: glândula aumentada de tamanho, bócio difuso, sem nódulos à palpação, com presença de
frêmito.
• Aparelho cardiorrespiratório: taquicardia (FC = 140 bpm) e pressão arterial 150 x 80 mmHg.
c. Exames complementares: ECG: taquicardia sinusal, FC: 142 bpm, sem sinais de sobrecarga de
câmaras esquerdas. Exames laboratoriais: hemograma, glicemia e função hepática sem anormalidades.
Função tireoidiana após 12 horas do início do tratamento mostrou: TSH: 0,01, T4 livre: 5,03 e T3T: 2,70
(T4 e T3T aumentados em 3x e 2x o limite superior da normalidade).
d. Prescrição sugerida:
discesp.jpgDICAS DO ESPECIALISTA
• A crise tireotóxica tem como sua principal causa a doença de Basedow-Graves e um tratamento
definitivo para esta deve ser oferecido, especialmente se o paciente apresentar quadros recorrentes
desta emergência. As opções de tratamento definitivo para a doença de Graves são terapia com iodo
radioativo e cirurgia.
• O bócio nodular tóxico também merece atenção especial para um tratamento definitivo, já que é alta
a taxa de recidiva de tireotoxicose após a descontinuação da medicação.
• Embora a doença de Graves continue sendo a principal causa de hipertireoidismo em todo o mundo,
a tireotoxicose associada à amiodarona também é uma causa importante devido ao alto uso mundial
dessa medicação. As recomendações atuais enfatizam que a função tireoidiana seja monitorada
regularmente após a prescrição de amiodarona.
• A escolha do tratamento para a doença de Graves difere entre os países. A terapia com iodo
radioativo é frequentemente usada como a primeira terapia na América do Norte. Fora dos EUA, as
tionamidas são preferidas como tratamento primário, enquanto a terapia definitiva é reservada apenas
para pacientes com hipertireoidismo persistente ou recorrente.
• Existem várias controvérsias quanto ao manejo ideal da tireotoxicose grave causada por Tireoidite
Subaguda, uma vez que os medicamentos antitireoidianos raramente são eficazes. A administração de
corticosteroides é a alternativa mais recomendada no manejo da maioria dos pacientes. Em situações
agudas, a principal linha de tratamento é a reidratação, betabloqueadores e esteroides.
• O choque cardiogênico parece estar fortemente associado a resultados fatais, sugerindo a necessidade
de monitoramento cardíaco rápido, e a terapia plasmaférese com o objetivo de reduzir rapidamente as
concentrações circulantes de hormônios tireoidianos deve ser considerada para esses pacientes.
refere.jpg REFERÊNCIAS
1. Freitas MC, Mota VC, Souza TBB, Cardoso LRA, Vilar L. Diagnóstico e tratamento da Doença de Graves. In: Vilar L. Endocrinologia
clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
2. De Groot L, Abalovich M, Alexander EK, Amino N, Barbour L, Cobin RH, et al. Management of Thyroid Dysfunction during Pregnancy
and Postpartum: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2012; 97: 2543-65.
3. Ylli D, Klubo‐Gwiezdzinska J, Wartofsky L. Thyroid emergencies. Pol Arch Intern Med. 2019; 129: 526-34.
4. Swee DS, Chang CL, Lim A. Clinical characteristics and outcome of Thyroid Storm: a case series andreview of neuropsychiatric
derangements in thryrotoxicosis. Endocr Pract. 2015; 21: 182-9
5. De Leo S, Lee SY, Braverman LE. Hyperthyroidism. Lancet. 2016; 388: 906-18.
6. Burmeister LA. Coma in Thyroid Storm: Review of Aggregated English-Language Case Reports. J Endocr Soc. 2019; 3: 1261-74
7. Witczak JK, Ubaysekara N, Ravindran R, Rice S, Yousef Z, Premawardhana LD. Significant cardiac disease complicating Graves’ disease
in previously healthy young adults. Endocrinol Diabetes Metab Case Rep. 2020; 2020: 19-0132.
8. Salih AM, Kakamad FH, Rawezh QS, Masrur SA, Shvan HH, Hawbash MR, et al. Subacute thyroiditis causing thyrotoxic crisis; a case
report with literature review. Int J Sur Case Rep. 2017; 33: 112-4.
9. Bourcier S, Coutrot M, Kimmoun A, Sonneville R, Montmollin E, Persichini R, et al. Thyroid Storm in the ICU: A Retrospective
Multicenter Study. Crit Care Med. 2020; 48(1): 83-90.
10. Shinohara M, Toyoyoshi U, Funayama T, Watanabe M, Kusaoi M, Yamaji K, et al. Effect of Plasma Exchange in Thyroid Storm With
Consideration of Its Distribution Into the Extravascular Space. J Endocr Soc. 2020; 4(4): bvaa023.
2.5
COMA MIXEDEMATOSO
Autora:
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Coma Mixedematoso (CM): trata-se de uma redução intensa das
concentrações séricas de tetraiodotironina (T4) e sua conversão em
sua forma mais ativa triiodotironina (T3), que geralmente acomete
indivíduos com hipotireoidismo prévio conhecido,
inadequadamente tratados, ou precipitado por eventos agudos ou
ainda como abertura do diagnóstico.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A etiologia mais comum é a Tireoidite de Hashimoto, uma doença
autoimune, em que há uma perda de função das células tireoidianas para a
produção hormonal, gerando uma redução de suas concentrações séricas.
Outras etiologias mais raras são: pós-tireoidectomia e tireoidite de Riedel.
Para que ocorra o CM deve haver um fator desencadeante, situações
clínicas descritas no Quadro 1 ou em pacientes acima dos 65 anos que
habitam ou viajam para áreas de clima frio, onde o aumento do trabalho
metabólico do indivíduo gera sobrecarga de tireoide em mau funcionamento.
Dessa forma, após algum evento precipitante, ocorre redução das
concentrações séricas de T4 e a concentração intracelular de T3.
Fatores precipitantes do CM
Hipotermia Insuficiência adrenal
QUADRO CLÍNICO
• Quadro decorrente de redução do metabolismo basal:
intolerância a exercícios, fadiga, adinamia, hipotermia, intolerância
ao frio, síncope ou pré-síncope, diminuição do débito urinário,
cianose.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: pele infiltrada, carotenêmica e fria, macroglossia,
fácies edemaciada, pseudomadarose, rarefação de pelos corporais e
voz rouca (sinais de hipotireoidismo prévio).
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio,
função hepática, TSH, T4L, glicemia, perfil lipídico.
b. Eletrocardiograma (ECG): bradicardia sinusal, baixa voltagem,
alterações inespecíficas no segmento ST.
c. Radiografia de tórax: para descartar infecção pulmonar e
derrame pleural.
d. Outros exames (indicações mais restritas e específicas): o
anticorpo mais sensível para o diagnóstico de Tireoidite de Hashimoto é
o Anti-TPO; porém, na urgência, nem sempre está disponível. Deverá
ser levado a posteriori do quadro agudo ao especialista.
Ultrassonografia de tireoide só será solicitada para acompanhamento
posterior pelo especialista.
DIAGNÓSTICO
• A tríade clássica é o principal critério diagnóstico do coma
mixedematoso: rebaixamento do nível de consciência, hipotermia e
fatores desencadeantes.
TRATAMENTO
a. Objetivos do tratamento: resgatar o estado neurológico, corrigir
desequilíbrio hidroeletrolítico, controlar a temperatura corporal e
restaurar as concentrações séricas dos hormônios tireoidianos.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Resume o quadro clínico e manejo inicial do CM.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: 70 anos, sexo feminino, 62,5 kg, com
hipotireoidismo de longa data em uso inconstante de levotiroxina 100
μg VO uma vez por dia, em jejum. Acompanhante relata que a paciente
estava em tratamento há 5 dias para pneumonia, porém sem adesão à
terapêutica. Esse diagnóstico foi firmado pela presença do quadro
clínico de tosse purulenta por 3 dias, T de 38,7°C (aferida), RX de tórax
evidenciando opacificação em lobo médio do pulmão direito e
linfocitose de 15600/mm3 com desvio à esquerda. A terapêutica
ambulatorial prescrita foi amoxicilina 500 mg VO por 7 dias +
azitromicina 1 g VO 1x/dia por 5 dia.
c. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A reposição de iodo, amplamente difundida na mídia leiga como
lugol, não tem indicação no hipotireoidismo ou qualquer evidência
científica para seu uso como medida preventiva ou tratamento de
patologias tireoidianas.
REFERÊNCIAS
1. Freitas MC, Lima LCH. Diagnóstico e tratamento do hipotireoidismo. In: Vilar L,
Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
2. Freitas MC, Torres MR, Nobrega MBN, Ramos AJS. Tireoidites: diagnóstico e tratamento.
In: Vilar L, Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
3. De Groot L, Abalovich M, Alexander EK, Amino N, Barbour L, Cobin RH et al.
Management of Thyroid Dysfunction during Pregnancy and Postpartum: An Endocrine
Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2012; 97: 2543-65.
4. Ylli D, Klubo‐Gwiezdzinska J, Wartofsky L. Thyroid emergencies. Pol Arch Intern Med.
2019; 129: 526-34.
5. Sihindi S, Gunatilake C, Bulugahapitiya U. Myxedema Crisis Presenting with seizures. A
Rare Life-Threatening Presentation—A Case Report and Review of the Literature. Case Rep
Endocrinol. 2017; 2017: 4285457.
6. Ueda K, Kiyota A, Tsuchida M, Okazaki M, Ozaki N. Successful treatment of myxedema
coma with a combination of levothyroxine and liothyronine. Endocr J. 2019; 66(5): 469-74.
7. Ono Y, Ono S, Yasunaga H, Matsui H, Fushimi K, Tanaka Y. Clinical characteristics and
outcomes of myxedema coma: Analysis of a national inpatient database in Japan. Journal of
Epidemiology 2017; 27: 117-22.
8. Vacant M, Biondi A, Basile F, Ciun R, Luca S, Di Saverio S, et al. Hypothyroidism as a
Predictor of Surgical Outcomes in the Elderly. Front. Endocrinol. 2019; 10: 258.
9. Charoensri S, Sriphrapradang C, Nimitphong H. Split high-dose oral levothyroxine treatment
as a successful therapy option in myxedema coma. Clin Case Rep. 2017; 5(10): 1706-11.
10. Gish DS, Loynd RT, Melnick S, Nazir S. Myxoedema coma: a forgotten presentation of
extreme hypothyroidism. BMJ Case Rep. 2016; 2016: bcr2016216225.
2.6
CORTICOIDES – DOSES E
EQUIVALÊNCIAS
Autoras:
Beatriz Francisco Barbosa Rodrigues
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Adrenais ou suprarrenais: são duas glândulas localizadas no
retroperitônio, ocupando o pólo superior dos rins bilateralmente,
peso médio estimado em 8 a 10 gramas em um indivíduo adulto,
histologicamente constituídas por duas estruturas principais, o
córtex e a medula.
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
a. Indicações: afecções dermatológicas, asma brônquica, doenças
linfoproliferativas, insuficiência adrenal, inflamações oculares, HIV,
doenças do colágeno, síndrome da angústia respiratória (pré-parto),
estabilização hemodinâmica na sepse, imunossupressão intencional
(p.ex., transplantados), artrite reumatoide, distúrbios neuromusculares
(paralisia facial, polirradiculopatias), trauma raquimedular, doença de
Crohn e outras.
EFEITOS COLATERAIS
O uso dos corticosteroides em altas doses, por longos períodos de tempo
ou repetidamente, pode aumentar o risco de complicações.
Além disso, o uso concomitante de outras drogas pode interferir nos
níveis séricos de CT. Cetoconazol e eritromicina aumentam sua
concentração sérica e sua ação por inibição do metabolismo hepático
(citocromo P 450), enquanto os anticonvulsivantes e a rifampicina
diminuem sua concentração e ação por indução das enzimas hepáticas.
Outras drogas como antiácidos, anti-histamínicos H2 (cimetidina) e
inibidores da bomba de prótons podem prejudicar a absorção dos
corticosteroides orais.
d. Efeitos cardiovasculares
Pacientes com hipercortisolismo, endógeno ou exógeno (iatrogênico),
demonstram alta morbimortalidade cardiovascular, principalmente se o
diagnóstico for atrasado. As comorbidades cardiovasculares e metabólicas
induzidas pelo hipercortisolismo incluem hipertensão, resistência insulínica,
dislipidemia e obesidade.
A alta prevalência de fatores de risco cardiovascular leva ao aumento da
taxa de eventos cardiovasculares e mortalidade. Esse risco é reduzido,
embora não revertido, mesmo após o tratamento bem-sucedido do
hipercortisolismo.
A hipertensão induzida pelo hipercortisolismo é uma doença
multifatorial que envolve principalmente a ativação dos receptores
mineralocorticoides e glicocorticoides, sistema renina-angiotensina, sistema
nervoso simpático e comprometimento do equilíbrio entre vasodilatadores e
vasoconstritores. A aldosterona e o cortisol têm uma afinidade semelhante
ao nível dos receptores mineralocorticoides, que são expressos
principalmente nos rins.
e. Necrose avascular
Os efeitos ósseos acarretam hipertensão intraóssea, levando à isquemia e
necrose, provavelmente por hipertrofia dos lipócitos locais.
Associadamente, ocorre apoptose dos osteoblastos. Vários pacientes ainda
apresentam trombofilia ou hipofibrinólise, resultando na oclusão trombótica
do retorno venoso do osso, diminuição da perfusão arterial e infarto,
consequentemente. Clinicamente, manifesta-se com dor e limitação do
movimento em uma ou mais articulações.
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO
Deve-se investigar histórico pessoal e familiar de diabetes, hipertensão,
hiperlipidemia, glaucoma, tuberculose e doenças que cursam com
imunossupressão ou infecções sistêmicas.
Anamnese e exame físico detalhados para afastar infecções e possíveis
reativações de quadros em latência. Avaliar pressão arterial e peso do
paciente, glicemia em jejum, colesterol e triglicerídeos.
Avaliação oftalmológica, PPD, raio X de tórax, hemograma, eletrólitos,
densitometria óssea e fezes com cultura em placas de Ágar devem sempre
ser realizadas quando for necessário tratamento prolongado, pois diminui
e/ou minimiza efeitos adversos ou iatrogênicos.
Durante o tratamento com os corticoides, deve sempre ser realizada uma
avaliação oftalmológica para detecção de catarata e glaucoma, inicialmente
a cada três a seis meses no primeiro ano, e depois a cada seis a doze meses
ou segundo orientação do oftalmologista. Alterações oculares podem surgir
principalmente em pacientes com corticoterapia por mais de um ano com
doses superiores a 10 mg/dia de prednisona. Deve-se questionar o paciente
sobre sintomas de poliúria, polidipsia, dor abdominal, febre, distúrbios do
sono e efeitos psicológicos; avaliar curvas de crescimento em crianças a
cada três meses; dosar eletrólitos, glicemia, colesterol, triglicerídeos e
pesquisa de sangue oculto nas fezes após um mês de tratamento e, depois, a
cada três a seis meses. Realizar densitometria óssea nos pacientes com
tratamento por três meses ou mais, a cada seis a doze meses.
ESQUEMA DE SUSPENSÃO
O desmame deve ser realizado de acordo com a doença de base e o grau
de supressão gerada sobre o eixo HHA. Suspensão abrupta não pode ser
realizada, devido ao risco potencial de insuficiência adrenal se o paciente
estiver em uso por mais de 3 semanas. Orienta-se que o esquema de
suspensão ou desmame (redução da dose) seja individualizado de acordo
com o paciente, embora existam algumas recomendações gerais a serem
seguidas:
DOSES E EQUIVALÊNCIAS
Dose Meia-Vida
Atividade Atividade
Fármaco Equivalente biológica
Glicocorticoide Mineralocorticoide
(mg) (horas)
Curta ação
Cortisona 25 0,8 2+ 8 - 12
Hidrocortisona 20 1 2+ 8 - 12
Média ação
Prednisona 5 4 1+ 24-36
Prednisolona 5 4 1+ 24-36
Metilprednisolona 4 5 0 24-36
Triancinolona 4 5 0 24-36
longa ação
Dexametasona 0,75 20-30 0 36-54
DICAS DO ESPECIALISTA
• Todos pacientes devem portar cartões de emergência quando
estiverem em uso crônico de CT.
REFERÊNCIAS
1. Akalestou E, Genser L, Rutter GA. Glucocorticoid Metabolism in Obesity and Following
Weight Loss. Front Endocrinol. 2020; 11: 59.
2. Cain DW, Cidlowski JA. Immune regulation by glucocorticoids. Nat Rev Immunol.
2017;17(4): 233-47.
3. Leong SH, Shander S, Ratnasingam J. Predicting recovery of the hypothalamic-pituiatary-
adrenal axis after prolonged glucocorticoide use. Endocr Pract. 2018; 24(1): 14-20.
4. Ministério da Saúde (BR). Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação / Ministério
da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças
Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
5. Sammaritano LR. Management of Systemic Lupus Erythematosus During Pregnancy.
Annual Review of Medicine. 2017; 68(1): 271-85.
6. Constanzo M. Corticoterapia prolongada. Recomendaciones para la suspensión de los
glucocorticoides sistémicos. Med Infant. 2019; 26(3): 327-31.
7. Dineen R, Martin-Grace J, Thompson CJ, Sherlock M. The management of glucocorticoid
deficiency: Current and future perspectives, Clin Chim Acta. 2020; 505: 148-59.
8. Manosroi W, Kosachunhanan N, Atthakomol P. Clinical and biochemical factors to predict
biochemical adrenal insufficiency in hospitalized patients with indeterminate cortisol
levels: a retrospective study. BMC Endocr Disord. 2020; 20: 24.
9. Li D, El Kawkgi OM, Henriquez AF, Bancos I. Cardiovascular risk and mortality in patients
with active and treated hypercortisolism. Gland Surg. 2020; 9(1): 43-58
10. Yerke J, Strnad K, Bauer SR. Corticosteroids for Septic Shock: Another Chapter in the
Saga. Hosp Pharm. 2020 Apr;55(2):135-142. .
11. Vilar L, Czepieleweski MA, Faria TMM, Bruno OD. Diagnóstico e diagnóstico diferencial
da Síndrome de Cushing. In: Vilar L, Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan Ltda; 2016.
2.7
CONTROLE GLICÊMICO INTRA-
HOSPITALAR
Autoras:
Beatriz Francisco Barbosa Rodrigues
Débora Gonçalves da Silva
DEFINIÇÕES
• Hiperglicemia intra-hospitalar: caracteriza-se a hiperglicemia
intra-hospitalar por uma glicemia aleatória, com valor máximo de
até 180 mg/dL, uma complicação comum e por vezes
negligenciada. Hiperglicemia intra-hospitalar aguda é uma
condição comum nos doentes críticos e não críticos, com ou sem
diagnóstico prévio de diabetes mellitus.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a. HIPERGLICEMIA
O aumento da glicemia em doenças agudas é uma resposta fisiológica à
maior demanda metabólica nesses pacientes e está associada à liberação de
hormônios contrarreguladores: o hormônio do crescimento (GH), a
epinefrina, o cortisol, o glucagon. Associado a tal condição fisiológica, há
uso de corticoides, dietas enterais e parenterais, e liberação de citocinas
inflamatórias se na vigência de sepse e em pós-operatório.
A liberação de hormônios promove glicogenólise e gliconeogênese no
fígado, aumentando a produção endógena de glicose e inibindo,
concomitantemente, a liberação de insulina. As citocinas inflamatórias
prejudicam a ação da insulina nos tecidos periféricos, aumentando a
resistência à sua ação.
A hiperglicemia persistente resulta em alteração hemodinâmica,
distúrbio hidroeletrolítico, desidratação, estresse oxidativo com formação
de superóxidos, hipercoagulabilidade, piora de isquemia miocárdica e
cerebral, aumento de fatores inflamatórios, redução da imunidade, da
quimiotaxia e fagocitose, predisposição a quadro de sepse em pacientes
críticos, prejuízo à cicatrização e disfunção endotelial.
Essas alterações primariamente se associam ao excesso de glicose
intracelular nos tecidos que não dependem de insulina para transportá-la
para dentro da célula, e o fazem através dos GLUT 1, 2 e 3, tais como os
epitélios, células endoteliais, SNC, hepatócitos e células inflamatórias. A
hiperglicemia hospitalar, então, deixa de ser vista puramente como uma
resposta metabólica exacerbada e passa a ser responsável por piores
prognósticos e aumento da morbidade e da mortalidade nos pacientes.
A hiperglicemia aguda após lesão traumática induz a secreção de
cortisol e glucagon, promovendo estresse oxidativo e resistência à insulina,
e resultando em hiperglicemia. A glicemia na admissão representa um
preditor clinicamente útil da mortalidade e resposta à infecção em pacientes
traumatizados. Dessa forma, alcançar a normoglicemia no período pós-
traumático precoce melhora a recuperação.
O grande desafio é o paciente sem o diagnóstico prévio de diabetes
mellitus e com a glicemia aleatória entre 180-220 mg/dL, e devemos avaliar
a hipótese de hiperglicemia por estresse.
A definição de hiperglicemia por estresse é difícil no momento do
evento. Sem evidências de diabetes anterior, a hiperglicemia durante
eventos agudos também pode:
QUADRO CLÍNICO
a. HIPERGLICEMIA
Os sintomas consistem em poliúria, polidipsia, fraqueza generalizada,
dificuldade em cicatrização de feridas, infecções recorrentes.
b. HIPOGLICEMIA
Os sintomas típicos são taquicardia, tremores, sudorese, pele fria e
pálida (desencadeadas por descarga adrenérgica) e, em casos graves,
letargia e estado comatoso, crises convulsivas. A hipoglicemia severa pode
levar a alterações cardíacas, como arritmias, crises de angina, além de
promover liberação de fatores pró-inflamatórios.
EXAME FÍSICO
• Alterações pela hiperglicemia: geralmente sem sintomas
típicos, mas glicemias acima de 300 mg/dL geralmente podem
cursar com comprometimento do sensório, agitação ou letargia,
taquicardia, tremores, sudorese e dificuldade para cicatrizar
feridas.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. HIPERGLICEMIA
TRATAMENTO
• Deverão ser avaliados: condições clínicas do paciente, diabetes
prévio e tratamento em uso antes da internação; uso atual de
corticosteroides e antipsicóticos; tipo de dieta do paciente;
horários das refeições; necessidade de jejum ou recebendo soro
glicosado.
• O esquema terapêutico deverá ser de fácil compreensão e
aplicação, aliado a uma boa preparação da equipe de enfermagem,
atenta às variações da glicemia, à técnica de aplicação de insulina
e capacidade para reconhecer sinais de hipoglicemia (glicemia
inferior a 70 mg/dL ou grave quando < 40 mg/dL; enquanto, em
pacientes não diabéticos, valores glicêmicos < 50 mg/dL já são
suficientes para provocar alterações cognitivas).
Detemir 6a8h 18 a 22 h
NPH 4 a 10 h 10 a 18 h
Degludeca Nenhum 24 a 42 h
Regular 2 a 3h 5a8h
70 a 99 Diminuir 10%
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. HIPERGLICEMIA
Exemplo para início de insulinização, em esquema intensivo
(basal/bolus), para paciente de 80 kg, usando 0,6 U/kg. Portanto, DTD de
48U e fator de sensibilidade 30. Foram utilizadas como exemplo as duas
insulinas que estão mais frequentemente disponíveis nos hospitais do
Sistema Único de Saúde.
A tabela 3 mostra o esquema de insulinização inicial.
1) Dieta oral para Diabetes.
4) Insulina Prandial: Insulina Regular 8 unidades 30 minutos antes do café da manhã, almoço e jantar.
5) SGH 50% 40 mL EV ou VO (se paciente consciente) se glicemia menor que 70 mg/dL. Repetir glicemia capilar 15
minutos após.
6) Se glicemia maior que 140 mg/dL, corrigir a dose de insulina Regular, acrescentando a esta:
• 141-170: 1 unidade 291-320: 6 unidades
• 171-200: 2 unidades 321-350: 7 unidades
• 201-230: 3 unidades 351-380: 8 unidades
• 231-260: 4 unidades 381-410: 9 unidades
• 261-290: 5 unidades > 410: 10 unidades
Tabela 3. Modelo de Prescrição para início de Insulinoterapia Esquema
Basal-Bolus
Fonte: Elaborado pelos autores.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A alta hospitalar requer orientações detalhadas, principalmente
para aqueles que não usavam insulina antes da hospitalização. É
fundamental que os pacientes com primodiagnóstico de diabetes
sejam avaliados pelo especialista, para verificar o tipo de diabetes
e a estratégia de tratamento que será mantida ambulatorialmente.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-
2020. São Paulo: Editora Clannad; 2020.
2. American Diabetes Association. Classification and Diagnosis of Diabetes: Standards of
Medical Care in Diabetes - 2020. Diabetes Care 2020; 43(1): S14-31.
3. Hamblin PS, Wong R, Ekinci EI, Fourlanos S, Shah S, Jones AR et al. SGLT2 Inhibitors
Increase the Risk of Diabetic Ketoacidosis Developing in the Community and During
Hospital Admission. J Clin Endocrinol Metab. 2019; 104(8): 3077-87.
4. Ramos AJS, Coral MHC, Souza TBS, Fonseca MM, Araújo D, Araújo LA, et al.
Emergências em Diabetes. In: Vilar L. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan Ltda; 2016.
5. Leite SAO, Umpierrez MCLG. Controle glicêmico no ambiente hospitalar. In: Vilar L.
Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda; 2016.
6. Di Luzio R, Dusi R, Mazzotti A, Petroni MA, Marchesini G, Bianchi G. Stress
Hyperglycemia and Complications Following Traumatic Injuries in Individuals
With/Without Diabetes: The Case of Orthopedic Surgery. Diabetes Metab Syndr Obes.
2020; 13: 9-17.
7. Zaidi S, Khan Y, Razak B S, Malik BHe) Insight Into the Perioperative Management of
Type 2 Diabetes. Cureus. 2020; 12(2): e6878.
8. Roberts GW, Quinn, SJ, Valentine N, Alhawassi T, O’Dea H, Stranks S, et al. Relative
Hyperglycemia, a Marker of Critical Illness: Introducing the Stress Hyperglycemia Ratio J
Clin Endocrinol Metab. 2015; 100(12): 4490-7
9. Yao R, Ren C, Wu G, Zhu Y, Xia Z, Yao Y. Is intensive glucose control bad for critically ill
patients? A systematic review and meta-analysis. Int. J. Biol. Sci. 2020; 16 (9): 1658-75.
10. Buse JB, Wexler DJ, Tsapas A, Rossing P, Mingrone G, Mathieu C, et al. 2019 Update to:
Management of Hyperglycemia in Type 2 Diabetes 2018 A Consensus Report by the
American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of
Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2020; 43(2): 487-93.
11. Davis GM, Galindo RJ, Migdal AL, Umpierrez GE. Diabetes Technology in the Inpatient
Setting for Management of Hyperglycemia. Endocrinol Metab Clin N Am. 2020; 49: 79-93
12. Li Y, Li X, Zhang Y, Zhang L, Wu Q, Bai Z, et al. Impact of glycemic control status on
patients with ST-segment elevation myocardial infarction undergoing percutaneous
coronary intervention. BMC Cardiovasc Disord. 2020; 20: 36.
3.1
ASCITE
Autores:
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Lívia de Almeida Costa
Bruno Mendes Galvão
Sandyelle da Silva Rocha
Gabriel Gonçalves Lopes
DEFINIÇÕES
A ascite consiste no acúmulo patológico de líquido na cavidade
peritoneal e tem como principal etiologia a cirrose hepática, responsável por
cerca de 80% dos casos.
A história natural da cirrose é caracterizada por duas fases: a primeira, é
compensada e assintomática, seguida por uma fase descompensada, marcada
pelo desenvolvimento de complicações como ascite, a principal delas. Essa
manifestação está associada a mau prognóstico e acomete 5% a 10% dos
pacientes cirróticos anualmente e, em 10 anos, até 70% deles.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Existem várias causas de ascite, sendo a principal delas a hipertensão
portal por cirrose hepática. É necessário estabelecer o diagnóstico diferencial
com outras etiologias como a cardiogênica, as doenças peritoneais, além de
condições sistêmicas que ocasionam hipoalbuminemia. A avaliação clínica
associada à propedêutica complementar permite identificar a etiologia na
maioria dos casos e instituir terapêutica específica.
A ascite pode ser classificada de acordo com a fisiopatologia (Tabela 1):
Doença Outras
Hipertensão Portal Cardiogênica Hipoalbuminemia
Peritoneal Causas
Enteropatia
Hepatite Pericardite Ascite
Tuberculose perdedora de
Alcoólica Constrictiva Pancreática
proteínas
Peritonite
Veno-oclusiva
Granulomatosa
Diálise
Peritoneal
QUADRO CLÍNICO
Pacientes com ascite tipicamente apresentam distensão abdominal, que
pode ser assintomática ou associada com desconforto, plenitude pós-
prandial, dispneia e ganho de peso. O tempo do surgimento da ascite, assim
como alguns achados específicos, podem estar associados à causa de base.
Aqueles com infecção do líquido ascítico podem apresentar febre, dor
abdominal, taquicardia, dispneia e alteração do estado mental.
A avaliação clínica detalhada permite identificar a provável etiologia:
EXAMES COMPLEMENTARES
• Paracentese abdominal: técnica e exames laboratoriais
pertinentes serão detalhados no tópico a seguir.
CLASSIFICAÇÃO
A ascite pode ser graduada de acordo com o exame clínico em:
PARACENTESE DIAGNÓSTICA
A paracentese diagnóstica com análise do líquido ascítico é fundamental
em todos os doentes investigados por ascite para identificar a etiologia e
descartar peritonite bacteriana espontânea (PBE) nos cirróticos, reduzindo as
taxas de mortalidade nesse subgrupo de pacientes.
É o método mais rápido e custo-efetivo, sendo realizado à beira do leito,
com retirada de pequena quantidade de líquido ascítico para análise. A
paracentese de alívio é terapêutica ao remover grandes volumes de líquido,
visando ao alívio dos sintomas associados ao aumento da pressão intra-
abdominal.
a. Indicações:
c. Técnica:
Amilase Bilirrubina
Gram CEA
• GASA < 1,1 g/dL: outras causas que não sejam decorrentes de
hipertensão portal.
GASA ≥ 1,1 GASA < 1,1
Cirrose Hepática Carcinomatose peritoneal
Amarelo Leucócitos
ICC ≥ 1,1 > 2,5 Negativo
citrino < 1000
Citologia (+)
Peritonite Pode ser Leucócitos > 1000
< 1,1 > 2,5 Negativo
Carcinomatosa hemorrágico (às custas de PMN e
linfócitos)
TRATAMENTO
O manejo clínico envolve o tratamento da ascite e a resolução, se
possível, da condição de base, a fim de evitar a recorrência do quadro. Os
pacientes portadores de hepatopatia devem manter abstinência alcoólica,
mesmo que esta não seja a causa primária da doença, pois o álcool atua
diretamente na hipertensão portal. O uso de substâncias (medicamentos,
ervas, suplementos) hepatotóxicas também deve ser interrompido. O
tratamento da causa da cirrose hepática é fundamental, pois evita a
progressão da deteriorização funcional do fígado.
A restrição de sódio adequada, junto à terapia diurética, leva ao controle
da ascite em 90% dos casos. Quando esse controle não é obtido, a
determinação da excreção urinária de sódio deve ser realizada, a fim de
verificar se o paciente está transgredindo a dieta ou se está evoluindo com
disfunção renal e, assim, não respondendo à terapia. Quando a ascite é
controlada, a redução progressiva e proporcional dos diuréticos deve ser
realizada, até a suspensão ou manutenção da menor dose possível que leva
ao controle da ascite.
a. Restrição de sódio:
Não é recomendada restrição de sódio rotineira em pacientes que nunca
tiveram ascite. Nos casos leves, após o primeiro episódio, essa medida pode
levar à resolução da ascite em 10% dos pacientes. A restrição extrema desse
íon, além de pouco palatável, favorece o desenvolvimento de hiponatremia e
é frequentemente associada à redução da ingestão de calorias, prejudicando o
estado nutricional.
A ingestão máxima de sódio por dia é controversa. O AASLD (American
Association for the Study of Liver Diseases) recomenda 2 g de sal por dia (=
88 mEq), enquanto a EASL (European Association for the Stydy of Liver
Diseases) considera a ingestão adequada até 4,6-6,9 g de sal por dia.
b. Diuréticos:
Os diuréticos não estão associados a desfecho de mortalidade, sendo
úteis apenas para controle sintomático. Como o hiperaldosteronismo
secundário desempenha um papel fundamental na retenção renal de sódio
nos cirróticos, antagonistas da aldosterona como a Espironolactona (100-400
mg/d) representam um papel importante no tratamento clínico da ascite. A
Amilorida (10-40 mg/d) atua no ducto coletor, porém é menos eficaz e deve
ser usada apenas naqueles que desenvolvem efeitos colaterais graves com
antagonistas da aldosterona. A reabsorção tubular proximal promove
retenção renal de sódio por vários mecanismos, como o aumento da
angiotensina II, hiperatividade adrenérgica simpática e redução da perfusão
renal, com benefício na associação de diuréticos de alça como a Furosemida
(40-160 mg/d).
O objetivo durante o tratamento é a perda de 0,5 kg/dia nos pacientes
sem edema periférico e 1 kg/dia naqueles com edema de membros inferiores,
devendo evitar perdas rápidas e superiores para não ocasionar contração do
volume plasmático e consequente insuficiência renal e hiponatremia. A
longo prazo, objetiva-se manter os doentes sem ascite com a menor dose
necessária de diuréticos, devendo suspendê-los sempre que possível.
As principais complicações da terapia diurética são disfunção renal,
distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia, hiponatremia e
hipercalemia), encefalopatia hepática, ginecomastia (pela espironolactona) e
câimbras. Dosagens periódicas de eletrólitos e função renal são
recomendadas. Se houver piora da função renal ou hiponatremia grave (Na+
< 125 mmol/L), deve-se descontinuar os diuréticos; se hipocalemia grave
(K+ < 3 mmol/L), suspender os diuréticos de alça; se hipercalemia grave
(K+ > 6 mmol/L), interromper os antagonistas da aldosterona. A restrição
hídrica não é recomendada rotineiramente, sendo indicada nos pacientes com
sódio sérico abaixo de 125 mmol/L.
Nos cirróticos com ascite não complicada, a abordagem baseia-se no
grau de ascite:
1. ASCITE REFRATÁRIA
A ascite refratária é aquela que não responde ao tratamento de
mobilização ou que recidiva de forma precoce. A sobrevida média nesse
grupo de pacientes é de aproximadamente 6 meses, sendo considerada uma
indicação ao transplante hepático. Pode ser subdividida em:
a. Clínica
Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar dor,
hipersensibilidade abdominal e vômitos, além de sinais de infecção
sistêmica, como febre, calafrios e taquicardia. Os cirróticos podem
apresentar descompensação da função hepática, encefalopatia hepática,
disfunção renal ou instabilidade hemodinâmica em decorrência da infecção
do líquido ascítico.
b. Diagnóstico
O diagnóstico é realizado através da análise do líquido ascítico, que
apresenta características de hipertensão portal (GASA ≥ 1,1) e proteína do
líquido ascítico < 2,5, associadas a:
Amoxicilina-clavulanato, 1,2 g, EV, 8/8h, por dois dias + 500/125 mg, VO, 8/8 horas, por até 8-14 dias.
Ciprofloxacino 200 mg, EV, 12/12h, por 2 dias, seguido de 500 mg, VO, 12/12 horas, por 7 dias.
• Profilaxia primária
Hemorragia digestiva: Norfloxacino 400 mg 12/12 h por 7 dias.
Se doença hepática avançada (Child B ou C) ou uso prévio de
quinolonas, preferir Ceftriaxona (1 g/dia, EV, 7 dias).
• Profilaxia secundária
História prévia de PBE: Norfloxacino via oral 400 mg/dia,
contínuo. Como alternativa, Ciprofloxacino (750 mg uma vez
por semana, por via oral) ou Sulfametoxazol + Trimetoprim
(800/160 mg ao dia, 5 dias/semana por via oral).
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1: Paracentese diagnóstica.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fluxograma 2: Diagnóstico e Tratamento da Peritonite Bacteriana
Espontânea (PBE).
Fonte: Adaptado de Ferraz. 8
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: J.P.M., masculino, 50 anos, 60 kg, dá entrada ao
pronto-atendimento com queixa de dor abdominal difusa, vômitos e
febre há 3 dias, além de aumento progressivo do volume abdominal. É
portador de cirrose hepática de etiologia alcoólica em uso de
Furosemida 40 mg/dia e Espironolactona 100 mg/dia.
• Aspecto: turvo
Exame microscópico
Contagem total de células 842
PMN 410
Cultura E. coli +
Exame bioquímico
Glicose 80 mg/dL
DICAS DO ESPECIALISTA
• A ascite é uma manifestação clínica tanto de doenças hepáticas
quanto de doenças peritoneais e sistêmicas.
DEFINIÇÕES
• Abdome agudo: caracteriza-se por uma síndrome clínica que
apresenta como principal manifestação dor abdominal de início
abrupto ou de evolução progressiva.
Devido ao extenso rol de diagnósticos diferenciais, com condições
potencialmente ameaçadoras à vida, o abdome agudo é um desafio para o
médico no setor de emergência. Alguns grupos de pacientes representam
desafios diagnósticos especiais: idosos e diabéticos, por apresentarem
sintomas atípicos; imunossuprimidos, pelas condições incomuns que
podem apresentar; e gestantes, que cursam com alterações fisiológicas e
anatômicas que afetam a apresentação das doenças.
A dor intensa de início súbito e a dor constante, de forte intensidade,
com duração superior a 6 h, sugerem patologias com necessidade de
abordagem rápida, com indicação cirúrgica em poucas horas na maioria dos
casos devido à alta morbimortalidade. Portanto, o principal elemento de
diagnóstico é uma boa anamnese com exame físico completo, os quais
podem propor supostas causas e direcionar os métodos complementares a
serem realizados.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O abdome agudo pode exibir cinco principais etiologias:
• Inflamatória: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite,
diverticulite aguda, abscesso hepático, doença inflamatória
intestinal (fístulas e abscessos) etc.
QUADRO CLÍNICO
O principal sintoma do abdome agudo é dor abdominal, cujas
características podem variar conforme a etiologia:
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Pacientes inquietos, agitados, trocando de posição na
tentativa de aliviar a dor, sugerem, por exemplo, cólica renal ou
obstrução intestinal. Já pacientes que se encontram imóveis no
leito, em posição fetal, evitando falar e fáscies de dor intensa,
provavelmente têm peritonite.
• Exame abdominal:
Inspeção: presença de cicatrizes cirúrgicas aumentam a
suspeita sobre aderências; presença de distensão e peristaltismo
visível sugerem obstrução intestinal.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Exames laboratoriais: Hemograma completo e análise de
sedimentos da urina (EAS, sumário de urina ou urina tipo 1)
devem ser solicitados para a maioria dos pacientes, porém são
inespecíficos. Solicitar teste de gravidez em todas as mulheres em
idade fértil. Paciente com dor em abdome superior deve ter
enzimas hepáticas e amilase solicitados. Outros testes devem ser
avaliados conforme a hipótese diagnóstica.
DIAGNÓSTICO
A combinação de uma história cuidadosa e exame físico é crucial para
criar um diagnóstico focado e apropriado (Tabela 1).
TRATAMENTO
O primeiro passo para avaliar um paciente com dor abdominal aguda é
definir se está hemodinamicamente instável ou estável:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: P.S.M, masculino, 29 anos, comparece ao pronto-
socorro relatando dor epigástrica há dois dias, evoluindo com piora e
migração para região de fossa ilíaca direita (FID). No momento,
apresenta dor intensa em todo o abdome, febre e vômitos. Nega
diarreia, icterícia, colúria ou acolia fecal. Ao exame físico, apresenta
FC de 115 bpm, Tax 38,9°C, PA de 140x80 mmHg, EG Regular,
abdome em tábua, dor à descompressão brusca em todo o abdome,
porém mais intensa em FID e Sinal do obturador e Rovsing positivos.
b. Exames complementares: leucocitose com desvio à esquerda e
FAST demonstrando a presença de líquido na cavidade abdominal.
c. Diagnóstico: apendicite aguda perfurada.
d. Prescrição Sugerida: paciente foi submetido à laparotomia com
lavagem de cavidade e apendicectomia. Prescrito ciprofloxacina 400
mg EV 12/12 h e metronidazol 500 mg EV 8/8 h no intra e no pós-
operatório. A evolução foi boa, recebendo alta após 7 dias da cirurgia.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Anamnese e exame físico cuidadosos são essenciais para um
diagnóstico diferencial focado e para direcionar sua propedêutica.
DEFINIÇÕES
• Diarreia aguda: alteração do hábito intestinal, devido ao aumento
de água e eletrólitos nas fezes, ocasionando a redução da
consistência, aumento na frequência e no volume fecal (mais de
250 g por evacuação). Em resumo, é a presença de 3 ou mais
evacuações aquosas, diminuídas de consistência, em um período
igual ou maior que 24 horas.
EPIDEMIOLOGIA
A doença diarreica tem alta prevalência e morbimortalidade,
principalmente nos países em desenvolvimento que possuem recursos
limitados, falta de higiene por grande parte da população e saneamento
básico precário, com a presença de água e alimentos contaminados, os quais
compreendem as mais importantes fontes de transmissão.
É uma das principais causas de mortalidade infantil; já nos adultos,
apesar de os dados quanto à diarreia serem escassos, sabe-se que, na maioria,
o quadro é autolimitado e com curta duração.
Atualmente, nos países desenvolvidos, como os EUA, tem sido estimado
um aumento nos casos de diarreia, uma vez que os recursos financeiros
criam possibilidades de transmissão como: viagens, importação de
alimentos, maiores aglomerações e um maior acesso e uso da automedicação
com antibioticoterapia.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A maioria dos casos de diarreia aguda é de origem infecciosa, incluindo
vírus (norovírus, rotavírus, adenovírus e outros), bactérias (Salmonella,
Campylobacter, Shigella, Escherichia coli, Clostridioides difficile e outros),
fungos (Candida albicans) e protozoários (Cryptosporidium, Giardia,
Cyclospora, Entamoeba e outros), sendo a origem viral responsável pela
maioria dos casos e as bactérias por grande parte dos quadros graves.
Deve-se atentar para o fato de que as infecções por protozoários
geralmente cursam com diarreia persistente.
Eventualmente, outras causas podem iniciar o quadro como diarreia
aguda, tais como: dietéticas (sorbitol, frutose, intolerâncias alimentares [a
lactose, sacarose, feijão, frutas, pimenta] etc.), medicamentosas
(antibióticos, laxativos), alérgicas (alergia ao leite de vaca, soja e outros),
inflamatórias (Crohn, RCU), funcionais (síndrome do intestino irritável),
dentre outras (apendicite aguda, doença celíaca, intoxicação por metais
pesados e etc.).
QUADRO CLÍNICO
É pertinente atentar-se a uma história clínica cuidadosa, determinando a
duração dos sintomas, a frequência e as características das fezes e
sintomas associados (febre, náuseas, vômitos, dor abdominal). Além disso,
deve-se questionar sobre a ingestão alimentar, o uso de qualquer
medicação (laxativos, antibióticos), história de viagem recente e diarreia
em familiares próximos, especialmente naqueles que ingeriram alimentos
semelhantes.
EFEITOS COLATERAIS
a. Sinais de alerta
Diarreia • Pode durar até 14 dias e determina perda de grande volume de fluidos, podendo causar desidratação.
• Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos.
aguda • A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se
aquosa episódios sucessivos acontecem.
Diarreia
• Caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa inflamatória lesão na mucosa intestinal.
aguda • Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação.
com sangue • Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras.
(Disenteria)
EXAME FÍSICO
Exame físico deve ser detalhado, procurando sinais de desidratação e
desnutrição.
EXAMES COMPLEMENTARES
Deve ser lembrado que os laboratórios, em geral, não dispõem de
recursos para diagnosticar todas as bactérias e vírus causadores de diarreia
aguda.
• Exames e indicações:
Fluxograma 1: Exames complementares na investigação de diarreia aguda.
Fonte: Elaborado pelos autores.
TRATAMENTO
A conduta inicial para pacientes com diarreia aguda é a reposição
hidroeletrolítica (preferencialmente por via oral) e a manutenção da nutrição,
independentemente da severidade do quadro diarreico.
2 mg Ataque: 2 comprimidos VO
• Loperamida
(comprimido) Manutenção: 1 comprimido VO após cada evacuação¹
ANTI-SECRETORES
SINTOMÁTICOS
4 mg/2mL ou
• Ondansetron 8 mg/4mLl 1 ampola até 8/8h se náuseas ou vômitos IV³
(ampola)
PROBIÓTICOS
• Saccharomyces boulardii 200 mg 1 cápsula ou sachê de 12/12h VO até melhora do quadro diarreico
• Lactobacillus reuteri (pó oral ou
• Lactobacillus acidophilus cápsulas) (em média de 3 a 5 dias)4
¹ Antidiarreicos: reduzem a frequência das evacuações. Podem ser utilizados na ausência de febre e disenteria. Não exceder dose
maior que 16 mg/dia. Riscos: megacólon tóxico nos casos de enterocolite por C. difficile.
² Antissecretores: o inibidor da encefalinase age diminuindo a secreção de líquidos induzida pelo patógeno sem afetar a motilidade
intestinal. Não afeta o curso clínico da gastroenterite.
³ Sintomáticos: em caso de vômitos, suspender TRO e administrar um antiemético.
4 Probióticos: tem valor limitado no tratamento da diarreia aguda, tendo benefício mais bem comprovado na prevenção da diarreia
relacionada a antibiótico.
SINTOMÁTICOS
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
c. Conduta inicial:
e. Prescrição Sugerida:
1. Alta hospitalar.
2. Dieta leve e obstipante, sem alimentos com gordura ou lactose.
3. SRO (1 a 2 L por dia) + aumentar a ingestão de líquidos por VO.
4. Ciprofloxacino 500 mg 1 cp (VO) 12/12 h por 5 dias (empírico).
5. Dipirona 500 mg 1 cp (VO) 6/6 h se dor ou febre (> 38,5 °C).
6. Metoclopramida 10 mg 1 cp (VO) 8/8 h se náuseas ou vômitos.
7. Retorno para reavaliação clínica, após resultados das culturas e
PPF, ou antes, em caso de piora dos sintomas.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Apesar de a definição de diarreia aguda considerar o limite
máximo de duração de 14 dias, a maioria dos casos são
autolimitados e resolvem-se em até 7 dias. Porém, pode ter
consequências graves como desidratação, desnutrição energético-
proteica e óbito.
REFERÊNCIAS
1. Dupont HL. Acute Infectious Diarrhea in Immunocompetent Adults. N Engl J Med. 2014;
370(16): 1532-40.
2. Torres J, Bonovas S, Doherty G, Kucharzik T, Gisbert JP, Raine T, et al. European Crohn’s
and Colitis Organisation. Guidelines on Therapeutics in Crohn’s Disease: Medical
Treatment. J Crohn’s and Colitis. 2020; 14(1): 4-22,
3. Kelly CP, Lamont JT. Clostridioides (formerly Clostridium) difficile infection in adults:
Treatment and prevention, Literature review. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em junho
de 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clostridioides-formerly-
clostridium-difficile-infection-in-adults-treatment-and-prevention.
4. LaRocque R, Pietroni M. Approach To The Adult With Acute Diarrhea In Resource Rich
Settings. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em junho de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-acute-diarrhea-in-resource-
rich-settings.
5. Shane AL, Mody RK, Crump JA, Tarr PI, Steiner TS, Kotloff K, et al. 2017 Infectious
Diseases Society of America Clinical Practice Guidelines for the Diagnosis and
Management of Infectious Diarrhea. Clin Infect Dis. 2017; 65(12): e45-80.
3.4
DOENÇA CALCULOSA DAS VIAS
BILIARES
Autores:
Fernanda Ramos da Costa
Bruno Moura e Oliveira Birchal
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
COLECISTITE AGUDA
DEFINIÇÕES
A colecistite aguda é a complicação mais comum da doença calculosa
biliar. Consiste no processo inflamatório da parede da vesícula biliar,
frequentemente ocasionada pela obstrução do ducto cístico por cálculos
biliares.
A colecistite aguda alitiásica é mais rara, ocorrendo em cerca de 5 a
10% dos casos, sendo mais frequente em idosos e pacientes críticos. Embora
a etiologia não seja clara, isquemia e estase biliar são consideradas as causas
mais comuns.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução do ducto cístico pelo cálculo biliar leva o órgão a uma
distensão progressiva devido à impossibilidade de secretar o muco e a bile,
provocando edema. Frequentemente, o cálculo se desloca e a inflamação e a
sintomatologia diminuem. A obstrução temporária da drenagem da
vesícula biliar pode provocar sintomas agudos; entretanto, autolimitados.
Nos casos mais graves, quando a obstrução persiste, o edema da parede
pode gerar isquemia seguida de necrose (5 a 10%), o que apresenta uma
alta mortalidade (de 20 a 70% dos casos). O processo inflamatório
inicialmente é estéril, mas aproximadamente 50% dos casos acabam
infectados por bactérias da flora intestinal, como Escherichia coli,
Klebsiella sp. e Streptococcus.sp.
QUADRO CLÍNICO
O sintoma mais característico é a dor constante no quadrante superior
direito (QSD), intensa e geralmente prolongada (superior a seis horas).
Outros sintomas comuns são: irradiação da dor para o dorso e/ou escápula
direita, febre, náuseas e vômitos. Muitas vezes há uma história de ingestão
de alimentos gordurosos antes do início da dor.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico, o paciente pode apresentar sensibilidade dolorosa em
QSD, com defesa abdominal. Além disso frequentemente se apresenta com
febre e taquicardia. O sinal de Murphy, frequentemente encontrado na
colecistite aguda, é positivo quando há dor seguida de parada da inspiração
durante a compressão do ponto cístico, localizado no QSD. Em casos de
quadro mais grave, observa-se rigidez abdominal e sensibilidade abdominal
difusa, com dor à descompressão brusca de abdome, sugerindo peritonite.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exames laboratoriais: Leucocitose; leve aumento de amilase,
das enzimas hepáticas (aspartato aminotransferase (AST) e alanina
aminotransferase (ALT)). A elevação das concentrações séricas de
bilirrubina total e fosfatase alcalina não é comum na colecistite aguda
não complicada. Nesses casos, devem ser considerados os diagnósticos
de coledocolitíase ou de Síndrome de Mirizzi.
b. Radiografia de abdome: útil na avaliação da dor abdominal,
especialmente na presença de sinais de peritonite. Entretanto, apenas
25% dos cálculos biliares são visualizados por esse exame.
c. USG de abdome superior: é um exame não invasivo,
considerado de escolha para avaliação de colecistite (sensibilidade de
85% e especificidade de 95%). O exame alterado pode apresentar
espessamento da parede da vesícula biliar (> 4 mm), líquido pericólico,
distensão da vesícula, cálculo impactado no ducto cístico e o sinal de
Murphy sonográfico.
d. TC de abdome: apresenta sensibilidade menor que o USG,
devendo ser solicitada para avaliação de possíveis diagnósticos
diferenciais.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da colecistite aguda é baseado na avaliação clínica,
laboratorial e radiológica. As diretrizes de Tóquio auxiliam na definição do
diagnóstico, com alta sensibilidade e especificidade (Tabela 1).
Tax: Temperatura axilar. PCR: Proteína C Reativa. QSD: Quadrante superior direito
TRATAMENTO
O tratamento deve ser realizado sob regime de internação hospitalar.
Deve-se orientar jejum e prescrever hidratação venosa, analgesia e
antibióticos com espectro para gram-negativos entéricos. O controle da
dor geralmente é realizado com anti-inflamatórios não esteróides
(AINEs) ou opioides. Os antibióticos de primeira escolha são cefalosporina
de 3a geração ou quinolonas. A associação de terapia anaeróbica, tais como
clindamicina e metronidazol, é indicada se presente anastomose biliar
entérica ou manipulação prévia da via biliar.
A colecistectomia é a abordagem preferida e o tratamento definitivo para
o paciente com colecistite aguda, sendo indicada preferencialmente até 72
horas do início do quadro. A via videolaparoscópica deve ser preferida,
pois, quando comparada com a colecistectomia aberta, apresenta menor
mortalidade e tempo de permanência hospitalar, com retorno precoce às
atividades laborais.
Em pacientes com alto risco cirúrgico, o tratamento conservador deve
ser realizado inicialmente. No caso de falha com manejo conservador, estes
pacientes devem ser submetidos à drenagem precoce da vesícula biliar; as
opções incluem colecistostomia percutânea ou drenagem endoscópica. A
colecistectomia eletiva deve ser realizada após resolução do processo
inflamatório.
Em casos de suspeita de complicações como gangrena, empiema ou
abscesso perivesicular, a cirurgia em caráter de emergência é indicada.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, 50 anos, 85 kg,
apresentando dor em QSD com início há aproximadamente 6 horas,
associada a náuseas e vômitos, sem sinais de sepse ou critérios de alto
risco. USG de abdome com espessamento em parede de vesícula biliar
e sinal de Murphy sonográfico.
b. Prescrição sugerida:
COLEDOCOLITÍASE
DEFINIÇÕES
A coledocolitíase consiste na presença de cálculo no colédoco. Ela pode
ser classificada em primária ou secundária, sendo a última a mais comum,
tendo como principal origem do cálculo a vesícula biliar. Caso ocorra em até
dois anos após a colecistectomia, ela deve ser classificada como residual.
As duas principais complicações associadas à coledocolitíase são
pancreatite e colangite aguda.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Os cálculos primários do colédoco são formados em pacientes com:
QUADRO CLÍNICO
A presença de cálculos no colédoco, em geral, é sintomática. A
apresentação mais comum é a dor biliar aguda, causada pela obstrução
parcial ou completa do ducto biliar comum, além de sinais de colestase com
icterícia, prurido, acolia fecal e colúria. Quando febre com calafrios se
associa a esses sintomas, considera-se o diagnóstico de colangite.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exames laboratoriais: alanina aminotransferase (ALT) e
aspartato aminotransferase (AST) são tipicamente elevadas no início do
curso da obstrução biliar. Posteriormente, observa-se um padrão
colestático, com aumentos na bilirrubina sérica, fosfatase alcalina e
gama-glutamil transpeptidase (GGT).
b. USG de abdome superior: é considerado um ótimo exame
devido a sua disponibilidade, praticidade e por ser um método não
invasivo, porém somente 50% dos cálculos e 75% dos ductos dilatados
(> 6 mm) são visibilizados. Portanto, a falta de identificação do cálculo
no colédoco não afasta o diagnóstico.
c. Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE): é
indicada em pacientes com alta probabilidade clínica de coledocolitíase,
pois é um método diagnóstico e terapêutico, com sensibilidade e
especificidade de aproximadamente 95%.
d. Colangiorressonância: é recomendada para pacientes com
probabilidade intermediária de coledocolitíase. Trata-se de um método
não invasivo com elevada sensibilidade e especificidade.
e. Ultrassom Endoscópico: indicado quando persiste a suspeita de
cálculos em via biliar, mesmo com colangiorressonância negativa.
Microcálculos formadores da lama biliar, que são de difícil avaliação
até pela colangiorressonância, podem ser facilmente identificados pelo
ultrassom endoscópico.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Usamos os resultados de exames laboratoriais e ultrassonografia
abdominal para estratificar um paciente como de alto, intermediário ou
baixo risco de apresentar coledocolitíase. O gerenciamento subsequente
varia de acordo com a estratificação demonstrada abaixo (Tabela 2).
Preditores
Fortes Moderados
muito forte
*BT: Bilirrubina total. USG: Ultrassonografia. ALT: Alanina aminotransferase. AST: Aspartato ami-
notransferase. FA: Fosfatase alcalina. GGT: Gama-glutamil transferase.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 48 anos, 90 kg,
ictérico e com dor biliar, prurido generalizado, sem febre ou alteração
do estado mental. Exames laboratoriais evidenciando leucocitose e
aumento de enzimas canaliculares. USG de abdome mostrou
coledocolitíase.
b. Prescrição sugerida:
1. Jejum para CPRE.
SF 0,9% 2000 mL
COLANGITE AGUDA
DEFINIÇÕES
A colangite consiste no processo inflamatório/infeccioso dos ductos
biliares, resultante da obstrução ductal (benigna ou maligna) e infecção
por bactérias intestinais. Aproximadamente 85% das colangites são
causadas por impactação de cálculos na via biliar. Outras causas incluem
neoplasias, parasitas, anormalidades congênitas dos ductos biliares e
estreitamento biliar.
A infecção da bile em estase, em geral, é causada por bactérias, sendo
mais comum Escherichia coli, Klebsiella, Pseudomonas, Proteus e
Enterococos. Em 15% da bile levada para cultura são encontradas bactérias
anaeróbicas, como Clostridium perfringens e Bacteroides fragilis.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução do ducto biliar causa estase biliar, o que forma um meio
propício para a contaminação bacteriana da bile, causando um processo
inflamatório desse ducto. A colangite é comum nas obstruções causadas por
coledocolitíase e estenoses (benignas ou malignas). A obstrução cursa com
aumento da pressão intraductal, o que gera uma regurgitação das bactérias da
bile e translocação bacteriana, podendo causar sepse.
QUADRO CLÍNICO
A sintomatologia mais comum é dor no QSD, icterícia e febre. Quando
os três sintomas coexistem, chamamos de tríade de Charcot (alta
especificidade, porém baixa sensibilidade para o diagnóstico de colangite
aguda). Quando, além desses sintomas, surgem confusão mental e
hipotensão, chamamos de pêntade de Reynolds, indicando um quadro mais
grave com septicemia.
EXAMES COMPLEMENTARES
As alterações laboratoriais são bastante frequentes nos pacientes com
colangite. A maioria apresenta elevação de enzimas hepáticas, com padrão
colestático predominante. Evidências de inflamação sistêmica também estão
habitualmente presentes, como leucocitose (em geral, com desvio à
esquerda) e elevação de Proteina C reativa (PCR). O aumento da amilase
pode ser decorrente de pancreatite aguda, que também pode ocorrer como
consequência da obstrução biliar.
Hemoculturas deverão ser colhidas imediatamente à suspeita de
colangite. Para diagnóstico radiológico da colangite, deve-se utilizar os
mesmos métodos descritos para coledocolitíase.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito com evidência de inflamação sistêmica, colestase e
exame de imagem sugestivo de obstrução de via biliar. Os critérios de
Tóquio são demonstrado abaixo (Tabela 3):
A - EVIDÊNCIAS DE
INFLAMAÇÃO B – EVIDÊNCIA DE COLESTASE C - EXAMES DE IMAGEM
SISTÊMICA
TRATAMENTO
O tratamento se baseia na estabilização hemodinâmica, antibióticos
endovenosos e drenagem endoscópica percutânea (CPRE) ou cirúrgica
da via biliar.
O esquema antibiótico escolhido deverá ser de amplo espectro, cobrindo
principalmente gram-negativos, principais causadores da colangite.
Sugerimos a prescrição de cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona 1
g EV 12/12 h) ou quinolona (ciprofloxacina 400 mg EV 12/12 h) associado
ou não a metronidazol 500 mg EV 8/8 h. Após controlada a fonte da
infeccção, o antibiótico é mantido por mais 4 a 7 dias.
Caso o paciente mantenha estabilidade hemodinâmica e apresente
melhora clínica nas primeiras 12 horas, a drenagem da via biliar deve ser
realizada em até 72 horas do início dos sintomas. Entretanto, se neste
período houver piora, com desenvolvimento de qualquer disfunção orgânica,
a drenagem da via biliar deverá ser realizada em caráter de emergência. A
CPRE é o método mais indicado, pois apresenta menor morbimortalidade
quando comparada ao tratamento cirúrgico com exploração ductal.
A drenagem percutânea guiada por ultrassom pode ser realizada
dependendo da disponibilidade e experiência local. Idealmente, deve ser
reservada em casos de emergência, nos quais não há disponibilidade de
CPRE, pelos riscos de complicações do procedimento e necessidade de
exploração da via biliar por outros métodos posteriormente (CPRE ou
cirurgia).
Além da terapia antimicrobiana e da drenagem biliar, é necessário o
manejo da causa subjacente. Em pacientes com cálculos biliares, isso inclui
colecistectomia eletiva após a resolução da colangite.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, 35 anos, 62 kg,
referindo dor em QSD. Ao exame, apresenta-se orientada no tempo e no
espaço, cooperativa, com icterícia 2+/4+, calafrios e Tax 38,8 ºC. Nega
prurido. USG de abdome confirma a presença de coledocolitíase.
b. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Cólica biliar intermitente (com duração inferior a 6 h) pode ser
característica de colelitíase sintomática, não havendo sinais de
colecistite aguda. Entretanto, é indicação de tratamento cirúrgico
eletivo (colecistectomia).
REFERÊNCIAS
1. Coelho JCU, Contieri FL, Matias JEF, Parolin MB, Godoy JL. Prevalência e fisiopatologia da
litíase biliar em pacientes submetidos a transplante de órgãos. ABCD, Arq Bras Cir Dig.
2009; 22(2): 120-3.
2. Feldman M, Friedman LS, Brandt LJ. Sleisenger and Fordtran’s Gastrointestinal and Liver
Disease. 10. ed. New York: Saunders; 2016.
3. Longo DL, Faucy A. Harrison’s Gastroenterology and Hepatology. 2. ed. New York:
Mcgraw-hill Education; 2015.
4. Lopes AC. Clínica médica: Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Atheneu; 2014.
5. Yokoe M, Hata J, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Wakabayashi G, et al. Tokyo
Guidelines 2018:
6. Okamoto K, Suzuki K, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Endo I, Iwashita Y, et al. Tokyo
Guidelines 2018: flowchart for the management of acute cholecystitis. J Hepatobiliary
Pancreat Sci. 2018; 25: 55-72
7. Yokoe M, Hata J, Takada T, Strasberg SM, Asbun HJ, Wakabayashi G, et al. Tokyo
Guidelines 2018: diagnostic criteria and severity grading of acute cholecystitis (with videos).
J Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25: 41-54.
8. Takada T. Tokyo Guidelines 2018: Updated Tokyo Guidelines for the management of acute
cholangitis/acute cholecystitis. J Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25(1): 1-2.
9. ASGE Standards of Practice Committee, Maple JT, Ben-Menachem T, Anderson MA,
Appalaneni V, Banerjee S, et al. The Role Of Endoscopy In The Evaluation Of Suspected
Choledocholithiasis. Gastrointestinal Endoscopy, 2010; 71(1): 1-9.
10. Kiriyama S, Kozaka K, Takada T, Strasberg SM, Pitt HA, Gabata T, et al. Tokyo Guidelines
2018: diagnostic criteria and severity grading of acute cholangitis (with videos). J
Hepatobiliary Pancreat Sci. 2018; 25: 17-30.
3.6
PANCREATITE AGUDA
Autores:
Guilherme Miyakawa Dadalti
Lívia de Almeida Costa
Marcella Motta Lucindo Duarte
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
Pancreatite Aguda (PA): processo inflamatório agudo do pâncreas, que
pode ser restrito ao órgão, acometer tecidos adjacentes ou até mesmo gerar
repercussões sistêmicas, com falência orgânica.
EPIDEMIOLOGIA
PA é uma das doenças mais comuns do trato gastrointestinal e está
associada a elevado grau de morbidade e custos ao sistema de saúde.
Embora a quantificação da incidência dessa doença seja dificultada pelo
grande número de casos sem diagnóstico (PA resolvida e não detectada ou
óbito precoce), estudos recentes evidenciam uma elevação desse parâmetro
no mundo todo, fato que reflete diversas situações, como o aumento
crescente da obesidade na população mundial (levando a um aumento do
número de casos de colelitíase), aumento do consumo de álcool e melhorias
nos métodos diagnósticos. No entanto, nota-se uma redução na taxa de
mortalidade da doença devido aos avanços diagnósticos e terapêuticos
desses pacientes, principalmente daqueles com doença grave.
A taxa de mortalidade é semelhante nas diversas etiologias. Os fatores de
risco associados ao aumento na mortalidade são: diabetes mellitus, infecção
adquirida em ambiente hospitalar e idade maior ou igual a 70 anos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A ocorrência da PA está relacionada a um bloqueio da secreção de
enzimas pancreáticas, não coincidente com a redução na sua produção.
Segue-se então à ativação intra-acinar desses produtos pancreáticos (tripsina,
fosfolipase, quimiotripsina e elastase), com consequente autodigestão da
glândula. A destruição pode repercutir por todo o pâncreas, acometendo
também o tecido peripancreático e o endotélio vascular, resultando em
vasoconstrição e redução do aporte de oxigênio local. Todas essas alterações
conduzem à produção de citocinas inflamatórias, culminando com o
desenvolvimento da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
(SIRS), vasodilatação generalizada e perda de grande quantidade de volume
para o terceiro espaço. Nos casos em que essa resposta é ainda mais intensa,
pode-se observar Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SRDA),
injúria renal e choque.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: febre; icterícia secundária a coledocolitíase ou edema
da cabeça do pâncreas; alteração do nível de consciência, que pode
ser secundária a toxemia, distúrbios hidroeletrolíticos ou síndrome
de abstinência alcóolica.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: leucocitose, elevação do hematócrito, hipo ou
hiperglicemia, elevação de creatinina e ureia sérica, aumento de
marcadores inflamatórios (PCR e VHS). Elevação de ALT (acima de 3
vezes o limite superior) e AST, além de alteração de enzimas
canaliculares, sugerem etiologia biliar. Os pacientes com PA
relacionada à hipertrigliceridemia podem apresentar níveis
falseadamente baixos em decorrência do jejum. Nesses casos, deve-se
repetir nova dosagem de triglicérides após reinício da dieta.
b. Radiografias
c. Ultrassonografia
• Níveis de amilase e/ou lipase séricas acima de 3 vezes o valor do limite superior de normalidade;
• Derrame pleural
ACHADOS
• Infiltrados pulmonares
RADIOLÓGICOS
• Coleções extrapancreáticas múltiplas ou extensas
TRATAMENTO
• Monitorização:
Sinais vitais, incluindo saturação de oxigênio (SatO2), devem
ser observados, devendo-se manter esse parâmetro sempre
superior a 95%, mediante administração de oxigênio
suplementar, se necessário.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 56 anos, 60 kg,
apresenta diagnóstico de pancreatite aguda leve com início dos
sintomas há dois dias. No momento, está com dor abdominal de leve
intensidade, sem náuseas ou vômitos.
b. Exame físico:
• Ectoscopia e sinais vitais: anictérico, afebril, orientado no tempo
e espaço, FC de 85 bpm, FR de 18 irpm e StO2 de 98% em ar
ambiente.
d. Prescrição Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Episódios recorrentes de PA sugerem a etiologia alcoólica com
pancreatite crônica subjacente. No entanto, pacientes com
colelitíase podem apresentar episódios recorrentes de cólica biliar,
colecistite ou mesmo pancreatite.
• Níveis elevados de triglicérides se associam a pior prognóstico,
mesmo em outras etiologias de PA.
REFERÊNCIAS
1. Crockett SD, Wani S, Gardner TB, Falck-Ytter Y, Barkun AN; American Gastroenterological
Association Institute Clinical Guidelines Committee. American Gastroenterological
Association Institute Guideline on Initial Management of Acute Pancreatitis. Gastroenterol.
2018; 154: 1096-101.
2. Leppäniemi A, Tolonen M, Tarasconi A, Segovia-Lohse H, Gamberini E, Kirkpatrick AW, et
al. 2019 WSES guidelines for the management of severe acute pancreatitis. World J Emerg
Surg. 2019; 4: 27
3. Vege SS. Clinical manifestations and diagnosis of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet];
2019. [acesso em mar 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-
manifestations-and-diagnosis-of-acute-pancreatitis.
4. Vege SS. Management of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em mar
2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/management-of-acute-
pancreatitis.
5. Vege SS. Etiology of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em mar 2020].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/etiology-of-acute-pancreatitis.
6. Vege SS. Predicting the severity of acute pancreatitis. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em
mar 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/predicting-the-severity-of-
acute-pancreatitis.
3.7
ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
Autores:
Carolina Limongi de Oliveira
Drielly Morais Sá Ferreira
Lívia de Almeida Costa
Pedro Henrique dos Santos Pinto
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
A encefalopatia hepática (EH) é uma síndrome neuropsiquiátrica
reversível que ocorre em pacientes com insuficiência hepática avançada,
insuficiência hepática aguda e na presença de desvios portosistêmicos. Tem
grande impacto na qualidade de vida e na sobrevida dos doentes, sendo
frequentemente considerada um indicador de mau prognóstico.
Caracteriza-se por uma variedade de alterações no estado mental, desde
sinais mínimos de função cerebral até coma. Pode ser classificada como:
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A EH apresenta fisiopatologia complexa e não totalmente compreendida,
decorrente de mecanismos distintos, incluindo inflamação, estresse
oxidativo, aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica e
alteração no metabolismo energético, além da presença de neurotoxinas,
como a amônia.
A amônia é a neurotoxina mais bem caracterizada na EH. É produzida
pelos enterócitos, a partir da glutamina, e pelo catabolismo bacteriano do
cólon de fontes nitrogenadas, como proteínas ingeridas. O funcionamento
adequado do fígado elimina quase toda a amônia, convertendo-a em ureia ou
glutamina. No entanto, na disfunção hepática há incapacidade de excretar
essa substância de forma adequada e, como consequência, ocorre
hiperamonemia, presente em mais de 80% dos pacientes com EH. Isso gera
alteração da permeabilidade e aumenta a osmolaridade nos astrócitos,
resultando em edema e disfunção celular, sem aumento clinicamente
evidente da pressão intracraniana. Como consequência, há alteração da
atividade elétrica neuronal, aumentando o tônus das vias inibitórias
gabaérgicas e alterando outros neurotransmissores.
A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), secundária a
infecções, sangramento gastrointestinal, obesidade e alterações na flora
intestinal, também se relacionam com a patogênese da EH, pois ocorre
liberação de citocinas e mediadores pró-inflamatórios, gerando alterações no
fluxo sanguíneo e nos metabólicos cerebrais, alterando a permeabilidade da
barreira hematoencefálica.
EXAMES COMPLEMENTARES
O achado laboratorial comum é a elevação na concentração sérica de
amônia, entretanto, não deve ser solicitado para diagnóstico e/ou
rastreamento de EH, pois pode estar elevado em outras condições não
hepáticas, como doença renal, choque, sangramento gastrointestinal, em
usuários de ácido valproico e álcool. Se for identificado nível normal de
amônia, o diagnóstico de EH deve ser questionado.
Os pacientes geralmente apresentam testes bioquímicos de função
hepática alterados devido à doença subjacente. Distúrbios hidroeletrolíticos
também são comuns, como hiponatremia e hipocalemia, relacionados à
disfunção hepática e/ou uso de diuréticos, e devem ser obtidos para
diagnóstico diferencial de outras condições que levam a alterações do estado
mental, assim como a dosagem de glicemia e função renal.
Para pacientes com graus leves de EH (mínima ou grau I), nos quais o
diagnóstico clínico não é evidente, testes psicométricos e eletrofisiológicos
podem ser úteis para avaliar o comprometimento da função mental.
Entretanto, são incapazes de discriminar entre disfunção cognitiva da EH ou
de outras causas, assim como diferenças individuais na inteligência e
habilidades cognitivas que influenciam os resultados desses testes. Pela
heterogeneidade dos achados, recomenda-se pelo menos 2 testes diferentes.
O estudo eletrofisiológico, para detectar EH mínima, inclui monitoramento
de eletroencefalograma, potenciais evocados e testes críticos de frequência
de oscilação. No entanto, nenhum desses testes é amplamente utilizado.
Os exames de imagem não servem para o diagnóstico de EH e são
utilizados quando há dúvida diagnóstica, para excluir outras causas de
alterações do estado mental. Os mais utilizados são Tomografia
computadorizada (TC) de crânio sem contraste, principalmente quando o
diagnóstico de EH é duvidoso, no qual não se pode excluir hemorragia
intracraniana, e ressonância nuclear magnética (RNM) de encéfalo. A
ressonância magnética com espectroscopia e a tomografia por emissão de
prótons são exames não invasivos que estão sendo estudados para
diagnóstico de EH, a partir da análise de neurometabólitos.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A abordagem diagnóstica da EH é baseada em:
• Infecção
• Sangramento digestivo
• Uso de diuréticos
• Uso de medicações depressoras do sistema nervoso central
• Constipação intestinal
• Distúrbios hidroeletrolíticos ou acidobásicos
• Hipoglicemia
• Deterioração da função hepática
• Carcinoma hepatocelular
Testes laboratoriais séricos para descartar anormalidades metabólicas e
TC de crânio devem ser consideradas se o paciente apresentar achados
clínicos que sugiram outra etiologia.
A encefalopatia hepática é categorizada com base em quatro fatores:
• Doença subjacente:
Tipo A: associada à insuficiência hepática aguda;
Sonolência e torpor com resposta aos estímulos verbais, desorientação grosseira e agitação
3
psicomotora, presença ou ausência de flapping
4 Coma não responsivo aos estímulos verbais e com resposta flutuantes à dor
• Curso temporal:
Episódica ou aguda: episódio isolado em um período de 6
meses;
TRATAMENTO
O tratamento é recomendado apenas a EH clinicamente manifesta. A
identificação dos fatores desencadeantes e sua correção é de extrema
importância, pois quando combinado à terapia padrão está associado a uma
rápida melhora na EH, em 90% das vezes.
A terapia da EH depende da gravidade do quadro. Aqueles com EH graus
II, III e IV deverão receber tratamento em ambiente hospitalar, enquanto no
grau I o tratamento pode ser ambulatorial. Nos casos mais graves (EH graus
III a IV), com risco ou incapacidade de proteger via aérea, devem ser
monitorizados em terapia intensiva, considerar intubação orotraqueal para
proteção de via aérea e passagem de sonda nasoenteral para administração de
terapêutica específica e dieta.
Os pacientes com cirrose geralmente são desnutridos e a restrição à
ingestão proteínas aumenta a mortalidade. Dessa forma, é essencial manter
um consumo energético de 35 a 40 kcal/kg/dia, com uma ingestão de
proteínas de 1,2 a 1,5 g/kg/dia, evitando longos períodos de jejum.
As medicações específicas disponíveis visam reduzir a produção e o
aumento da excreção de amômia. A base da terapia da EH manifesta são os
dissacarídeos não absorvíveis, como a lactulose, e antibióticos, como
rifaximina.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Manejo da encefalopatia hepática
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fluxograma 2: Manejo da encefalopatia hepática
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo feminino, 68 anos, portadora de
cirrose hepática por Hepatite C diagnosticada há 7 anos. Em uso de
hidroclorotiazida, losartana, sinvastatina e metformina. Admitida ao
pronto-atendimento com quadro de aumento do volume abdominal e
dor difusa, sonolência, importante desorientação e presença de flapping.
b. Exame físico: corada, desidratada 1+/4+, ictérica 2+/4+,
temperatura axilar 36°C, FC 105 bpm, PA 130 x 90 mmHg, FR 18
irpm, SatO2 96%. Abdome ascítico, com dor difusa à palpação
abdominal e membros inferiores edemaciados.
c. Diagnóstico: Encefalopatia grau III.
d. Prescrição Sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Ferenci P. Hepatic encefalopathy in adults: treatment. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em
maio de 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/hepatic-encephalopathy-
in-adults-treatment.
2. Ferenci P. Hepatic encefalopathy: pathogenesis. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em maio
de 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/hepatic-encephalopathy-
pathogenesis?topicRef=1255&source=see_link.
3. Ferenci P. Hepatic encefalopathy: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate.
[Internet]; 2019. [acesso em maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/hepatic-encephalopathy-in-adults-clinical-
manifestations-and-diagnosis?topicRef=1257&source=see_link.
4. Ferraz MLG, Silva AEB, Schiavon JLN, Monteiro MM, Sammarco GN, Almeida VB.
Manual de hepatologia para clínicos e residentes. São Paulo: Atheneu; 2018.
5. Wijdicks EFM. Hepatic Encephalopathy, N Engl J Med. 2016; 375: 1660-70.
6. Bajaj JS, Duarte-Rojo A, Xie JJ, Acharya C, Wade J, Robles C, et al. Minimal Hepatic
Encephalopathy and Mild Cognitive Impairment Worsen Quality of Life in Elderly Patients
with Cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020; S1542-3565(20)30345-1.
7. Kaji K, Okita K, Suzuki K, Sato I, Fujisawa M, Yoshiji H. Lower levels of serum albumin are
associated with impairment of cognitive function in cirrhotic patients with early-stage
hepatic encephalopathy: An exploratory data analysis of phase II/III clinical trials of
rifaximin in Japan. BMC Gastroenteroly. 2020.
8. Labenz C, Adarkwah CC, Wörns, Miehlke S, Hofmann WP, Buggisch P, et al. Management
of hepatic encephalopathy in Germany: a survey among physicians. Z Gastroenterol. 2020;
58(01): 49-56.
9. Vilstrup H, Amodio P, Bajaj J, Cordoba J, Ferenci P, Mullen KD, et al. Hepatic
encephalopathy in chronic liver disease: Practice Guideline by the American Association for
the Study of Liver Diseases and the European Association for the Study of the Liver.
Hepatol. 2014; 60(2): 715-35.
10. Hudson M, Schuchmann M. Long-term management of hepatic encephalopathy with
lactulose and/or rifaximin: a review of the evidence. EUR J Gastroenterol Hepatol. 2019; 31:
434-50.
11. Patidar KR, Thacker LR, Wade JB, Sterling RK, Sanyal AJ, Siddiqui MS, et al. Covert
hepatic encephalopathy is independently associated with poor survival and increased risk of
hospitalization. Am J Gastroenterol. 2014; 109: 1757-63.
12. Kappus MR, Bajaj JS. Covert hepatic encephalopathy: not as minimal as you might think.
Clin Gastroenterol Hepatol. 2012; 10(11): 1208-19.
3.8
HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
Autores:
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Breno Araújo Barbosa
Elaine Jéssica Laranjeira Lima
DEFINIÇÕES
A Hemorragia Digestiva Alta (HDA) é definida como sangramento
digestivo intraluminal de origem proximal ao ligamento de Treitz
(demarcação anatômica da junção duodeno-jejunal), podendo ter origem no
esôfago, estômago ou duodeno.
Trata-se da emergência gastroenterológica mais comum, sendo uma
condição frequente nos serviços de urgência e emergência, responsável por
cerca de 1 internação a cada 10.000 adultos/ano, importância relacionada a
alta morbidade e custos elevados. Tem incidência anual de 48 a 160
casos/100.000 habitantes, sendo mais prevalente na população idosa, em
homens (2 homens: 1 mulher) e nas regiões de menor desenvolvimento
socioeconômico. Embora a maioria dos casos (aproximadamente 80%) tenha
caráter autolimitado, a mortalidade pode ocorrer em 5 a 20 % dos casos,
dependendo da etiologia, sendo maior no sangramento de origem varicosa.
Dessa forma, o estabelecimento de medidas de suporte e terapia específica
relaciona-se com a redução desses índices.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A etiologia da HDA pode ser estabelecida em aproximadamente 80% dos
casos (Quadro 1) e pode ser dividida em:
Esofagite erosiva
Laceração de Mallory-Weiss
Úlceras de estresse
Varizes esofagogástricas
Angiodisplasias
Neoplasias
Fístula aortoentéricas
Lesão de Dieulafoy
b. HDA VARICOSA
Trata-se de sangramento de grande monta, pela ruptura de varizes
esofágicas ou, menos frequentemente, gástricas. Essas alterações são
decorrentes do aumento da pressão no sistema venoso portal, secundário à
doença hepática estrutural ou por alteração no sistema vascular pré, intra ou
pós-hepático. A HDA varicosa geralmente decorre de hipertensão portal
significativa, muitas vezes associada a doença hepática avançada (classe B
ou C de Child-Pugh), e é responsável pela morte de até 30% dos cirróticos.
Os fatores de risco para hemorragia varicosa incluem gravidade da doença
hepática, que pode ser estimada pela classificação de Child-Pugh, calibre das
varizes e presença de sinais da cor vermelha (red spots).
QUADRO CLÍNICO
O sangramento digestivo alto geralmente se apresenta sob a forma de
hematêmese (vômito com sangue vivo) ou, mais comumente, melena (fezes
enegrecidas e com odor fétido). Embora a hematoquezia (fezes misturadas
com sangue) e a enterorragia (evacuação de sangue vermelho vivo) sejam
mais relacionadas à hemorragia digestiva baixa, até 15% dos pacientes com
essa forma de apresentação têm como origem do sangramento o trato
gastrointestinal superior, que deve ser investigado nesses casos se houver
maior repercussão hemodinâmica.
Pacientes com sangramento digestivo volumoso podem apresentar
repercussão sistêmica decorrente da hipovolemia, como taquicardia, palidez
cutaneomucosa, hipotensão arterial, lipotímia ou síncope.
EXAME FÍSICO
A avaliação inicial busca identificar fatores de risco na história do
paciente, como idade, presença de comorbidades (doença cardiovascular,
doença hepática, insuficiência renal), medicações em uso, história de
sangramento prévio e, no exame físico, sinais de instabilidade hemodinâmica
(taquicardia, hipotensão arterial, rebaixamento do nível de consciência,
sudorese, perfusão periférica) a fim de definir a melhor abordagem. Alguns
sinais podem sugerir uma causa específica:
Ressuscitação volêmica
Cristaloides Cristaloides Cristaloides e sangue Cristaloides e sangue
indicada
* PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FR: frequência respiratória.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Hemograma: as dosagens seriadas são fundamentais para
monitorização dos níveis de hematimétricos. É importante lembrar
que, nos casos de reposição volêmica agressiva, os níveis de
hematrócrito podem estar falsamente baixos, devido à
hemodiluição.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Aproximadamente 80% dos episódios de sangramento do trato digestivo
superior cessam espontaneamente. A morbidade e a mortalidade nos 20%
restantes decorrem de hemorragia persistente ou recorrente. Dessa forma, a
estratificação de risco para ressangramento e morte é fundamental para
definir a terapêutica. Os critérios clínicos e laboratoriais de gravidade
utilizados levam em conta:
• Necessidade de hemotransfusão
Para padronização da estratificação de risco, existem escalas
prognósticas que consideram os achados clínicos, laboratoriais e
endoscópicos, permitindo identificar o grupo que necessita de intervenção
intra-hospitalar. O escore de Rockall (ER) (Tabela 2) baseia-se em três
achados clínicos e dois endoscópicos, com pontuação de 0 a 11, sendo o
risco de mortalidade diretamente crescente com a pontuação no escore
(Tabela 3). Pacientes com ER admissional (pré-endoscópico) igual a zero
podem realizar EDA ambulatorial, sem a necessidade de internação
hospitalar, devido à baixa mortalidade e baixo risco de ressangramento.
ESCORE ADMISSIONAL
PONTUAÇÃO 0 1 2 3
ESCORE PÓS-ENDOSCOPIA
ESCORE 0 1 2 3 4 5 6 7 8+
SANGRAMENTO
RECORRENTE 4,9 3,4 5,3 11,2 14,1 24,1 32,9 43,8 31,8
(%)
<18,2 0
≥18,2 e <22,4 2
UREIA (MG/DL) ≥22,4 e <28 3
≥28 e <70 4
≥70 6
Homem ≥ 13 0
Homem ≥ 12 e < 13 1
Homem ≥ 10 e < 12 3
HEMOGLOBINA(G/DL)
Mulher < 12 0
Mulher >= 10 e <12 1
Homem ou Mulher <10 6
> 100 0
100-109 1
PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA (MMHG)
90-99 2
< 90 3
<100 0
PULSO (BPM)
≥100 1
Não 0
MELENA AO EXAME
Sim 1
FATORES DE RISCO ACHADOS PONTUAÇÃO
Não 0
PRESENÇA DE SÍNCOPE
Sim 2
Não 0
HEPATOPATIA
Sim 2
Não 0
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Sim 2
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO CLÍNICO
Para todos os pacientes internados, é recomendada monitorização de
dados vitais (FC, PA, oximetria de pulso) e avaliação do débito urinário. Nos
pacientes idosos, com comorbidades, instabilidade hemodinâmica,
apresentação inicial com sangramento ativo ou suspeita de sangramento de
origem varicosa, recomenda-se monitorização em unidade de terapia
intensiva (UTI).
Todos os pacientes devem ser mantidos em jejum de 6 a 8 horas para
alimentos sólidos e de 2 horas para líquidos claros até a realização da
endoscopia digestiva alta para diagnóstico e possível terapêutica.
Insuficiência respiratória
• Reposição volêmica
A manutenção da perfusão tecidual através da reposição volêmica
adequada é a terapêutica inicial a ser adotada, com impacto na mortalidade.
Idealmente, a infusão de cristaloides (Soro fisiológico 0,9% ou Ringer
lactato) deve ser feita por dois acessos venosos periféricos calibrosos, sendo
o acesso venoso central uma alternativa naqueles pacientes sem via
periférica ou com necessidade de uso de drogas vasoativas. O objetivo da
ressuscitação é manter PA sistólica maior ou igual a 100 mmHg e FC menor
que 100 bpm. Nos cirróticos, a reposição volêmica deve ser mais cautelosa, a
fim de evitar aumento da pressão no sistema portal e piora do sangramento.
• Objetivos hemodinâmicos:
→ PAM (pressão arterial média) > 65 mmHg
→ PVC (pressão venosa central): 8-12 mmHg
→ Débito urinário > 0,5 ml/Kg/hora
• Transfusão de hemoderivados
A transfusão de hemoderivados deve ser individualizada. O risco
trombótico de reverter a anticoagulação deve ser ponderado contra o risco de
sangramento contínuo e, para isso, deve-se considerar as comorbidades
associadas e a condição hemodinâmica no paciente.
O uso de hemoderivados geralmente é indicado naqueles com choque
classe IV, ou seja, com perda sanguínea estimada em 30 a 40% da volemia.
Na HDA, recomenda-se a transfusão de hemácias para manutenção da
hemoglobina sérica em torno de 7 e 8 g/dL. Em pacientes com risco
aumentado de eventos cardiovasculares adversos no cenário de anemia
(doença arterial coronariana instável ou sangramento ativo contínuo), são
necessários níveis mais altos de hemoglobina, acima de 9 g/dL.
A transfusão de plaquetas, plasma fresco congelado e o uso de vitamina
K ou sulfato de protamina (antídoto da heparina) é controversa e deve ser
considerada nos pacientes em uso de antiagregantes plaquetários ou
anticoagulantes, com sangramento importante e risco de morte. Doentes com
sangramento ativo e plaquetas < 50.000 ou INR (international normalizated
ratio) > 2,0 devem ser avaliados para a transfusão de plaquetas ou plasma,
respectivamente. Em pacientes com HDA varicosa, o benefício dos agentes
pró-hemostáticos (plasma fresco congelado, concentrado de complexo de
protrombina e fator recombinante VIIa) é incerto.
• Drogas procinéticas
As drogas procinéticas, como a Eritromicina e a Metoclopramida,
aceleram o esvaziamento gástrico e permitem melhor visualização da
mucosa durante a EDA, reduzindo a necessidade de repetir o exame, porém
não alteram desfechos como transfusão sanguínea, tempo de internação e
necessidade de intervenção cirúrgica. A Eritromicina pode ser utilizada por
via intravenosa (3 mg/kg ou 250 mg em 100 mL de soro fisiológico 0,9%,
durante 30 minutos), iniciada 20 a 120 minutos antes da EDA nos pacientes
com suspeita de sangue e coágulos em grande quantidade no estômago.
• Antibiótico profilático
Nos pacientes cirróticos, o sangramento gastrintestinal é um fator de
risco para a ocorrência de infecção bacteriana, principalmente por
microrganismos gram-negativos, sendo as mais comuns a peritonite
bacteriana espontânea, infecção do trato urinário e pneumonia. O uso de
antibiótico profilático nesses casos, com ou sem ascite, reduz a incidência de
infecção, ressangramento, tempo de internação e mortalidade. Fatores
importantes na escolha de antibióticos incluem características individuais do
doente e padrões locais de resistência a antibióticos. Naqueles com cirrose
hepática avançada (Child-Pugh B ou C) ou com uso prévio de antibiótico
profilático e nos hospitais com alta prevalência de bactérias resistentes às
quinolonas, recomenda-se o uso da Ceftriaxona (1 g, intravenosa, de 24/24 h,
por 7 dias). Outras opções como o Norfloxacino (400 mg por via oral, de
12/12 h, por 7 dias) e o Ciprofloxacino (500 mg, de 12/12 h, por 7 dias)
também podem ser utilizadas naqueles que não apresentem os fatores de
risco listados acima.
• Drogas vasoativas
Nos pacientes com HDA varicosa, o uso de drogas vasoativas (Tabela 5)
como a Terlipressina, Vasopressina, Somatostatina e Octreotide levam à
constrição dos vasos mesentéricos e esplâncnicos e redução do fluxo
sanguíneo varicoso. Devem ser iniciadas imediatamente após suspeita
diagnóstica de HDA varicosa, antes mesmo da EDA, e mantidas por 2 a 5
dias.
A Terlipressina é a droga de escolha, por ter impacto sobre a mortalidade.
A dose recomendada é bolus de 1 a 2 mg, endovenosa, com manutenção a
cada 4 h de 1 a 2 mg, de acordo com o peso do paciente (1,0 mg até 50 kg;
1,5 mg entre 50 e 70 kg; 2,0 mg se mais de 70 kg). Deve ser iniciada antes
da endoscopia e mantida até que o sangramento tenha sido controlado por 24
horas, com duração estendida por 2 a 3 dias. Recomenda-se monitorização
da infusão em UTI pelo risco de angina, arritmias, hipertensão arterial e
isquemia vascular periférica, que podem ser precipitados pela droga.
A Vasopressina é um potente vasoconstrictor, porém sem benefícios na
redução da mortalidade, e seu uso está associado a eventos adversos graves
(isquemia miocárdica e mesentérica, arritmias, acidentes vasculares cerebrais
e hiponatremia), sendo restrita aos casos em que as outras drogas se
encontram indisponíveis. A posologia é 0,4 a 1,0 UI/minuto, endovenosa,
em bomba de infusão contínua.
A Somatostatina e a droga análoga, Octreotide, apresentam bom perfil de
segurança. A Somatostatina é administrada via endovenosa, em bolus de 250
mcg, seguido pela administração em bomba da infusão contínua de 250
mcg/h. O Octreotide apresenta dose inicial endovenosa em bolus de 50 mcg,
seguido da infusão contínua de 25 a 50 mcg/h.
250 mcg em bolus (até 3 250 mcg/h por Náuseas, vômitos 500 mcg/h nos
Somatostatina
vezes em 1h) até 5 dias e hiperglicemia pacientes graves
b. TRATAMENTO ENDOSCÓPICO
A EDA é de fundamental importância para identificar a causa do
sangramento e abordagem terapêutica, sendo o exame de escolha tanto para
diagnóstico quanto para tratamento. O momento ideal da realização e as
opções terapêuticas dependem da etiologia.
PREVALÊNCIA SANGRAMENTO
CLASSIFICAÇÃO
(%) RECORRENTE (%)
Ia – Sangramento em jato 10 90
• HDA varicosa
Nos pacientes com suspeita de HDA varicosa, a EDA deve ser realizada
nas primeiras 12 horas, após estabilização hemodinâmica, e em combinação
com o uso de droga vasoativa, com impacto na mortalidade. O exame
permite a identificação do sítio de sangramento e a instituição de terapia
hemostática, através de ligadura elástica, método preferencial, ou injeção de
substância esclerosante (escleroterapia com etanolamina ou cianoacrilato).
Ambos os métodos são altamente eficazes no controle imediato do
sangramento, com redução na taxa de recorrência. As varizes gástricas têm
menor risco de hemorragia (3 a 30%) do que as esofágicas, entretanto,
relacionam-se a sangramento mais grave, de difícil controle e maior
mortalidade (25 a 40%).
Após o sangramento varicoso, recomenda-se profilaxia secundária com a
associação de terapia endoscópica e uso de betabloqueadores não seletivos
(Propranolol/Nadolol), iniciada após o quinto dia do sangramento em
pacientes estáveis e sem contraindicação a essas drogas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 42 anos, hígido,
admitido na emergência com relato de epigastralgia, hematêmese e
melena iniciados há 4 horas. O paciente tem histórico de dor crônica em
região lombar, com uso frequente de anti-inflamatórios não esteroidais
(AINEs).
b. Ao exame: Orientado, descorado (1/4), hidratado, FC:108 bpm,
PA: 100 x 60 mmHg e eupneico. Abdome doloroso à palpação profunda
em epigástrio, sem sinais de irritação peritoneal. Toque retal com fezes
enegrecidas. P = 70 Kg. Aguardando exames e tempo de jejum para a
realização de endoscopia (última refeição há 5 horas).
c. Prescrição sugerida:
1. Jejum.
2. Cuidados gerais e sinais vitais.
3. Monitorização.
4. Balanço hídrico.
5. Suporte de O2 por cateter nasal a 2 L/min, se necessário.
6. Soro fisiológico 0,9% 1000 mL – 2000 mL, EV, em 1 hora.
7. Soro fisiológico 0,9% 500 mL + soro glicosado 50% 40 mL, EV,
28 gotas/minuto, de 6/6 h.
8. Dipirona 2 mL + água destilada 8 mL, EV de 6/6 h se dor ou Tax ≥
37,8°C.
9. Metoclopramida 10 mg – 2 mL + água destilada 8 mL, EV, até de
8/8 h, se náuseas ou vômitos.
10. Omeprazol 40 mg – 2 ampolas (80 mg) EV, em bolus.
11. Omeprazol 40 mg – 2 ampolas + soro fisiológico 0,9% 100 mL,
EV, em bomba de infusão contínua, 10 mL/h (8mg de
Omeprazol/h).
12. Hemocomponentes, se necessário (checar hemograma).
DICAS DO ESPECIALISTA
• A HDA é a principal emergência gastroenterológica. Apesar de
o sangramento cessar espontaneamente na maioria dos casos, é
necessário identificar e tratá-la adequadamente pelo risco de
ressangramento.
REFERÊNCIAS
1. Araujo SM, Alexandre ACS, Albuquerque APS. Achados endoscópicos em usuários
acometidos por hemorragia digestiva alta em situação de emergência. Rev Enferm UFPE on-
line. 2016; 10(5): 1674-700.
2. Sanyal AJ. Overview of the management of patients with variceal bleeding. UpToDate.
[Internet]; 2019. [acesso em 04 de maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-management-of-patients-with-variceal-
bleeding.
3. Barkun AN, Almadi M, Kuipers EJ, Laine L, Sung J, Tse F, et al. Management of
Nonvariceal Upper Gastrointestinal Bleeding: Guideline Recommendations From the
International Consensus Group. Ann Int Med. 2019; 171: 805-22.
4. Feldman M, Friedman LS, Brandt LJ. Tratado Gastrointestinal e Doenças do Fígado.
Tradução da 9. ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier; 2017.
5. Franchis R. Expanding Consensus In Portal Hypertension Report Of The Baveno VI
Consensus Workshop: Stratifying Risk And Individualizing Care For Portal Hypertension.
Hepatol. 2015; 63(3): 743-52.
6. Franco MC, Libera JED, Nakao FS. Proposta de modelo de atendimento da hemorragia
digestiva alta para o hospital universitário da UNIFESP/EPM. São Paulo; 2013.
7. Gerson LB, Fidler JL, Cave DR, Leighton JA. ACG Clinical Guideline: Diagnosis and
Management of Small Bowel Bleeding. Am J Gastroenterol, 2015; 110: 1265-87.
8. Grafnek IM, Dumonceau JM, Kulpers EJ, Lanas A, Sanders DS, Kurlen M, et al. Diagnosis
and Management Of Nonvariceal Upper Gastrointestinal Hemorrhage: European Society of
Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Guideline. Endoscopy. 2015; 47: a1-a46.
9. Holmes Jr DR, Sorajja P. Gastrointestinal bleeding in patients undergoing percutaneous
coronary intervention. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em 04 de maio de 2020].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/gastrointestinal-bleeding-in-patients-
undergoing-percutaneous-coronary-intervention.
10. Laine L, Jensen D. Management of Patients With Ulcer Bleeding. Am J Gastroenterol.
2012; 107(3): 345-60.
11. Mayorga CA, Rockey DC. Clinical Utility Of A Standardized Electronic Order Set For The
Management Of Acute Upper Gastrointestinal Hemorrhage In Patients With Cirrhosis. Clin
gastroenterol hepatol. 2013; 11: 1342-8.
12. Neumann I, Letelier LM, Rada G, Claro JC, Martin J, Howden CW, et al. Comparison of
different regimens of proton pump inhibitors for acute peptic ulcer bleeding. Cochrane
Database Syst Rev. 2013; (6): CD007999.
13. Porto CC. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
14. Rockey DC, Feldman M, Travis AC. Causes Of Upper Gastrointestinal Bleeding In Adults.
UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em 04 de maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/causes-of-upper-gastrointestinal-bleeding-in-adults.
15. Sachar H, Vaidya K, Laine L. Intermittent vs Continuous Proton Pump Inhibitor Therapy for
High-Risk Bleeding UlcersA Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Intern Med.
2014; 174(11): 1755-62.
16. Saltzman JR, Feldman M. Approach to acute upper gastrointestinal bleeding in adults.
UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 04 de maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-acute-upper-gastrointestinal-bleeding-in-
adults.
17. Saltzman JR, Feldman M. Overview of the treatment of bleeding peptic ulcers. UpToDate.
[Internet]; 2020. [acesso em 04 de maio de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-treatment-of-bleeding-peptic-ulcers?
source=related_link.
18. Velasco IT, Neto RAB. Medicina de Emergência. Abordagem Prática. 13. ed. São Paulo:
Manole; 2019.
19. Villanueva C, Colomo A, Bosch A, Concepción M, Hernandez-Gea V, Aracil C, et al.
Transfusion Strategies For Acute Upper Gastrointestinal Bleeding. N Engl J Med. 2013;
368(1): 11-21.
3.9
HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
Autores:
Isaac Nilton Fernandes Oliveira
Celso Carlos de Oliveira Filho
Lívia de Almeida Costa
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
DEFINIÇÕES
A hemorragia digestiva baixa (HDB) é classicamente definida como o
sangramento gastrointestinal que se origina distalmente ao ângulo de Treitz
(demarcação anatômica da junção duodeno-jejunal). Com o advento de
novos métodos endoscópicos, podemos subdividir a hemorragia digestiva da
seguinte forma:
- Pólipos adenomatosos
QUADRO CLÍNICO
A HDB pode se manifestar clinicamente das seguintes formas:
Pulso (bpm) Taquicardia leve 100-120 120 (filiforme) > 120 (filiforme)
DIAGNÓSTICO
O exame de escolha para a avaliação e diagnóstico de pacientes com
HDB é a colonoscopia. Naqueles que apresentam sangramento maciço, com
repercussão hemodinâmica, é necessária a realização de endoscopia
digestiva alta (EDA) como medida inicial. Caso esses métodos não
identifiquem o sangramento ou não possam ser realizados, por instabilidade
hemodinâmica ou hemorragia maciça, exames radiológicos auxiliam na
identificação da etiologia da HDB, como angiotomografia, cintilografia e
arteriografia (ou angiografia), sendo que a última apresenta vantagem em
permitir intervenção terapêutica.
Para pacientes com sangramento crônico não diagnosticado através de
EDA e colonoscopia, recomenda-se, posteriormente, repetir esses exames a
fim de identificar lesões não visualizadas em análise inicial. A avaliação de
intestino delgado, através da cápsula endoscópica ou enteroscopia, pode ser
indicada nos casos inconclusivos.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Endoscopia digestiva alta (EDA): Até 15% dos casos de HDB
podem ter como local de origem do sangramento o trato digestivo
alto, sendo indicada a realização de EDA nos pacientes que
apresentam melena ou hematoquezia volumosa com repercussão
clínica e instabilidade hemodinâmica ou naqueles com fatores de
risco para doença ulcerosa péptica ou hipertensão portal.
c. REPOSIÇÃO VOLÊMICA
A infusão de solução cristaloide isotônica (soro fisiológico 0,9% ou
ringer lactato) deve ser realizada através de dois acessos venosos periféricos
de grosso calibre ou, se não for possível, por meio de acesso venoso central,
objetivando manter pressão arterial sistólica acima de 100 mmHg. As
soluções coloides têm maior custo e não apresentam diferença na taxa de
mortalidade.
d. TRANSFUSÃO DE HEMOCONCENTRADOS
A transfusão de concentrado de hemácias é indicada se hemoglobina
(Hb) abaixo de 7 g/dL em paciente hígidos ou abaixo de 9 g/dL em idosos ou
naqueles com doenças cardiovasculares. A contagem de plaquetas deve ser
mantida acima de 50.000/mm3.
A hemostasia endoscópica deve ser considerada nos pacientes com o
índice normalizado internacional (INR) entre 1,5 e 2,5, antes de administrar
agentes de reversão da anticoagulação. Estudos recentes sugerem que INR
moderadamente elevado não aumenta a taxa de ressangramento, não
havendo benefício de uso rotineiro de plasma fresco ou vitamina K naqueles
que não estejam em uso de Varfarina. Nos pacientes em uso de
anticoagulante, a suspensão da medicação e a reversão do seu efeito deve ser
considerada para sangramento grave contínuo ou antes do procedimento
endoscópico naqueles com INR > 2,5.
g. CIRURGIA
O tratamento cirúrgico na HDB apresenta taxa de complicação em 60%
dos casos e mortalidade em 16%, sendo reservado para pacientes que
persistem hemodinamicamente instáveis após ressuscitação volêmica
agressiva ou com necessidade de transfusão de concentrado de hemácias
maior que 6 unidades, apesar das medidas intervencionistas endoscópicas ou
radiológicas.
É imporante determinar com cautela o sítio de sangramento previamente
à abordagem cirúrgica a fim de evitar ressecção extensa. Nos casos de HDB
persistente em que o foco não pode ser identificado por exames
complementares, a cirurgia de urgência é indicada.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente masculino, 67 anos, previamente hígido, é
admitido no pronto-socorro por apresentar enterorragia seguida de
lipotímia. Nega uso de medicações.
b. Exame físico: encontra-se hipocorado, FC de 120 bpm, PA de
100 x 70 mmHg (deitado) e PA de 80 x 50 mmHg (sentado). Abdome
flácido e indolor. Inspeção perianal sem alterações, com toque retal sem
lesões, apresentando sangue vivo em dedo de luva. Admitido na UTI e
aguardando resultado de exames laboratoriais e estabilidade clínica para
avaliação endoscópica. Qual é a prescrição ideal para o paciente nesse
momento?
c. Prescrição sugerida:
1. Jejum.
2. Suporte de O2 por cateter nasal a 2 L/min.
3. Soro fisiológico 0,9% 1000 a 2000 mL, EV, em 1 hora.
4. Soro fisiológico 0,9% 500 mL + Soro glicosado 50% 10 mL, 04
ampolas, EV, 28 gotas/minuto,
de 6/6 h.
5. Dipirona 2 mL + água destilada 8 mL, EV até de 6/6 h se dor ou
Tax ≥ 37,8°C.
6. Metoclopramida 10 mg – 2 mL + Água destilada 8 mL, EV, até de
8/8 h, se náuseas ou vô
mitos.
7. Monitorização.
8. Balanço hídrico.
9. Cuidados gerais e sinais vitais.
10. Após estabilização, iniciar preparo intestinal para a colonoscopia.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Paciente com HDB apresenta exteriorização do sangramento sob a
forma de hematoquezia, melena, enterorragia ou sangue oculto nas
fezes.
REFERÊNCIAS
11. Aoki T, Hirata Y, Yamada A, Koike K. Initial management for acute lower gastrointestinal
bleeding. World J Gastroenterol. 2019; 25(1): 69-84.
12. Chait MM. Lower Gastrointestinal Bleeding In The Elderly. World J Gastrointest Endosc.
2010; 2(5): 147-54.
13. Dent OF. Bowel Symptoms In An Apparently Well Population. Dis Colon Rectum. 1986;
29(4): 243-7.
14. Edelman DA, Sugawa C. Lower Gastrointestinal Bleeding: A Review. Surg Endosc. 2007;
21(4): 514-20.
15. Farrell JJ, Friedman Ls. Review Article: The Management Of Lower Gastrointestinal
Bleeding. Aliment Pharmacol Ther. 2005; 21(11): 1281-98.
16. Ghassemi KA. Lower GI Bleeding. Epidemiology and Management. Curr Gastroenterol
Rep. 2013; 15(7): 333-5.
17. Lhewa D, Strate L. Pros And Cons Of Colonoscopy In Management Of Acute Lower
Gastrointestinal Bleeding. World J Gastroenterol. 2012; 18(11): 1185-90.
18. Lima MAM, Libera Jr ED. Hemorragia digestiva baixa. In: Ambrogini Júnior O, et al.
Manual de gastroenterologia para clínicos e residentes. Rio de Janeiro: Editora Atheneu;
2018.
19. Longstreth GF. Epidemiology And Outcome Of Patients Hospitalized With Acute Lower
Gastrointestinal Hemorrhage: A Population-Based Study. Am J Gastroenterol. 1997; 92(3):
419-24.
20. Manning-Dimmitt LL, Dimmitt SG, Wilson GR. Diagnosis Of Gastrointestinal Bleeding In
Adults. Am Fam Physician. 2005; 71: 1339-46.
21. Moreira EF, Bittencourt PFS, Moreira PCF, Alberti LF. Hemorragia Digestiva Baixa. In:
Zaterka S, Eiseig JN. Tratado de Gastroenterologia da Graduação à Pós-graduação. 2. ed.
São Paulo: Editora Atheneu; 2016.
22. Oakland K, Chadwick G, East JE, Guy R, Humphries A, Jairath V, et al. Diagnosis and
management of acute lower gastrointestinal bleeding: guidelines from the British Society of
Gastroenterology. Gut. 2019; 68: 776-89.
23. Oakland K, Guy R, Uberoi R, Hogg R, Mortensen N, Murphy MF, et al. Acute lower GI
bleeding in the UK: patient characteristics, interventions and outcomes in the first
nationwide audit. Gut. 2018; 67: 654-62.
24. Osman D, Djibré M, Da Silva D, Goulenok C; group of experts. Management By The
Intensivist Of Gastrointestinal Bleeding In Adults And Children. Ann Intensive Care. 2012;
2(1): 46.
25. Pemberton JH. Colonic diverticular bleeding. UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em 09 de
abril de 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/colonic-diverticular-
bleeding.
26. Penner RM, Majumdar SR. Approach To Minimal Bright Red Blood Per Rectum In Adults.
UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em 09 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-minimal-bright-red-blood-per-rectum-in-
adults.
27. Perencevich M, Saltzman JR. Evaluation Of Occult Gastrointestinal Bleeding. UpToDate.
[Internet]; 2018. [acesso em 09 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-occult-gastrointestinal-bleeding.
28. Peura DA, Lanza FL. The American College Of Gastroenterology Bleeding Registry:
Preliminary Findings. Am J Gastroenterol. 1997; 92(6): 924-8.
29. Rockey DC, Ahn C, Melo SW. Randomized pragmatic trial of nasogastric tube placement in
patients with upper gastrointestinal tract bleeding. Investig Med. 2017; 65: 759-64.
30. Saltzman JR. Angiodysplasia Of The Gastrointestinal Tract. UpToDate. [Internet]; 2018.
[acesso em 09 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/angiodysplasia-of-the-gastrointestinal-tract.
31. Saltzman JR. Management and prevention of bleeding after colonoscopy with polypectomy.
UpToDate. [Internet]; 2019. [acesso em 11 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/management-and-prevention-of-bleeding-after-
colonoscopy-with-polypectomy.
32. Strate L. Approach To Acute Lower Gastrointestinal Bleeding In Adults. UpToDate.
[Internet]; 2018. [acesso em 09 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-acute-lower-gastrointestinal-bleeding-in-
adults.
33. Strate L. Etiology Of Lower Gastrointestinal Bleeding In Adults. UpToDate. [Internet];
2019. [acesso em 11 de abril de 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/etiology-of-lower-gastrointestinal-bleeding-in-adults.
34. Strate LL, Gralnek IM. Management of Patients with Acute Lower Gastrointestinal
Bleeding. Am J Gastroenterol. 2016; 111(4): 459-74.
35. Velasco IT, Brandão Neto RA, Souza HP, Marino LO, Marchini JFM, Alencar JCG.
Medicina de Emergência. Abordagem Prática. 13. ed. São Paulo: Manole; 2019.
36. Yamamoto H, Ogata H, Matsumoto T, Ohmiya N, Ohtsuka K, Watanabe K, et al. Clinical
Practice Guideline for Enteroscopy. Dig Endosc. 2017; 29: 519-46.
37. Zuccaro Jr G. Management Of The Adult Patient With Acute Lower Gastrointestinal
Bleeding. American College of Gastroenterology. Practice Parameters Committee. Am J
Gastroenterol 1998; 93: 1202-8.
4.1
DENGUE
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Luciana de Almeida Silva Teixeira
DEFINIÇÕES
• É uma doença febril aguda, de etiologia viral, que possui um
espectro clínico complexo e diverso. A maior parte dos pacientes
se recupera após evolução clínica leve/moderada e autolimitada;
uma pequena parte evolui para quadro grave, podendo levar a
óbito.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O agente etiológico é um vírus RNA de fita simples, arbovírus,
pertencente ao gênero Flavivirus e à família Flaviviridae.
Atualmente são conhecidos quatro sorotipos: DENV1, DENV2,
DENV3 e DENV4, disseminados por todo o território nacional,
sendo as epidemias associadas com a alteração do sorotipo
predominante. O período de incubação varia de 4 a 10 dias, sendo,
em média, de 5 a 6 dias.
QUADRO CLÍNICO
• Período de incubação: 4 a 10 dias.
• Fase febril: tem duração de 2 a 7 dias. Caracterizada por febre
alta, de início abrupto, cefaleia, mialgia, artralgia, dor retro-
orbitária e exantema .
• Sinais de alarme:
dor abdominal intensa e contínua
vômitos persistentes
sangramento de mucosa
• Classificação:
Dengue clássica: febre, entre dois e sete dias de duração, e duas
ou mais das seguintes manifestações: náusea, vômito, exantema,
mialgias, artralgia, cefaleia, dor retro-orbital, prostração.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Virológico: antes do 5º dia dos sintomas:
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
O manejo clínico é feito de acordo com o estadiamento da doença, ou
seja, a classificação de risco (grupos A, B, C e D) baseada nos sinais e
sintomas apresentados pelo paciente. Durante a evolução da doença, o
enfermo pode passar de um grupo a outro, em curto período de tempo. É
importante reconhecer precocemente os sinais de extravasamento plasmático
(sinais de alarme), para intervenção rápida com infusão de fluidos.
• Tratamento ambulatorial:
Hidratação oral:
Comprometimento respiratório.
• MEDIDAS PREVENTIVAS
Controle vetorial: combate aos focos de acúmulo de água, que
são potenciais criadouros do mosquito.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Dengue : diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança / Ministério
da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
das Doenças Transmissíveis. – 5. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 20 anos, sem
comorbidades, nega uso de medicação contínua. Relata que há três dias
iniciou quadro de febre alta (39°C), cefaleia intensa, mialgia difusa,
prostração e astenia. Procurou Hospital Universitário, pois evoluiu com
vômitos persistentes, dor abdominal intensa e petéquias pelo corpo.
b. Exame físico: regular estado geral, corada, desidratada (2 + /4 +),
acianótica, anictérica,
T = 38,5ºC, FR = 20 irpm, FC = 95 bpm, PA = 100 x 60 mmHg, prova
do laço positiva, pulmões limpos, ritmo cardíaco regular, abdome
globoso, flácido, sem visceromegalias, doloroso à palpação.
c. Exames complementares: Hemograma = hemácias: 4,88,
hemoglobina: 15,1, hematócrito: 45, leucócitos: 3.000, plaqueta:
60.000/mm3.
d. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de
Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: Ministério
da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da
Epidemiologia em Serviços. – 1. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
2. Ministério da Saúde (BR). Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança. 5. ed.
Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
3. Furlan NB, Tukasan C, Estofolete CF, Nogueira ML, Silva NS. Low Sensitivity Of The
Tourniquet Test For Differential Diagnosis Of Dengue: An Analysis Of 28,000 Trials In
Patients. BMC Infect Dis. 2016; 16(1): 1-7.
4. Chiaravalloti Neto F, Dibo MR, Barbosa AAC, Battigaglia M. Aedes albopictus (S) na região
de São José do Rio Preto, SP: estudo da sua infestação em área já ocupada pelo Aedes
aegypti e discussão de seu papel como possível vetor de dengue e febre amarela. Rev Soc
Bras Med Trop. 2002; 35(4): 351-7.
5. Oliveira KKD, Fernandes APNL, Moura SGF. Perfil de morbidade por patologias
infectocontagiosas entre crianças de 0 a 12 anos. FIEP Bull. 2012; 82: 203-10.
6. Martins FEP, Porto RS, Dias RV, Viana RS, Linhares MSC. Promoção à saúde no combate à
dengue em Sobral (CE): Relato de experiência. Sanare. 2015; 15(1): 112-8.
7. Queiroz ER. Dengue grave no Brasil central: aspectos clínicos e epidemiológicos.
[Dissertação - Mestrado em Ciências da Saúde]. Goiânia: Pontifícia Universidade Católica
de Goiás; 2016.
4.2
TUBERCULOSE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa, causada pela
Mycobacterium
tuberculosis, também chamada de Bacilo de Koch (BK), que afeta
preferencialmente os pulmões. Apresenta evolução clínica
insidiosa.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O BK é uma micobactéria aeróbica, intracelular, classificada
como Bacilos Álcool-ÁcidoResistente (BAAR), caracterizada
por multiplicação lenta.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Clínico-epidemiológico: indivíduo com tosse por 3 semanas ou
mais (sintomático respiratório) e/ou outros sinais e sintomas,
como febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento,
inapetência.
• Radiológico:
Indicado para todo paciente com suspeita clínica de TB
pulmonar.
Suspeita de TB extrapulmonar.
Imunodeprimidos.
Falência ao tratamento.
• Exame histopatológico:
Compatível: presença de processo inflamatório granulomatoso
(granuloma com necrose de caseificação).
TRATAMENTO
• Atenção básica (tratamento diretamente observado – TDO):
observação diária por um profissional da saúde.
< 50 kg 3 comprimidos
RH 150/75 mg comprimido em
Fase de manutenção (4 RH) 4
dose fixa combinada
> 50 kg 4 comprimidos
• Casos de retratamento:
Solicitar baciloscopia, TRM-TB, cultura e TS, iniciar o
esquema básico até resultado de exames.
• Indicações de hospitalização
Meningoencefalite tuberculosa.
Intolerância aos medicamentos anti-TB incontrolável
ambulatorialmente.
a. REAÇÕES ADVERSAS:
c. INVESTIGAÇÃO DE CONTATOS:
• Contatos sintomáticos:
Pesquisar TB ativa: baciloscopia do escarro, radiografia de
tórax.
Exames compatíveis com TB ativa: iniciar esquema básico
(RHZE).
d. TUBERCULOSE E HIV:
e. MEDIDAS PREVENTIVAS:
• A Busca ativa de sintomático respiratório por todos os serviços
de saúde.
• Tratamento da ILTB.
• Vacina BCG (bacilo de Calmette-Guërin): evita o
desenvolvimento das formas mais graves da doença em menores
de 5 anos de idade.
REFERÊNCIAS
1. Lopes AJ, Capone D, Mogami R, Tessarollo B, Cunha DL, Capone RB, et al. Tuberculose
extrapulmonar: aspectos clínicos e de imagem: Extrapulmonary Tuberculosis: Clinics And
Image Aspects. Pulmão RJ. 2006; 4(15): 253-61.
2. Ferri AO, Aguiar B, Wilhelm CM, Schmidt D, Fussieger F, Picoli SU. Diagnóstico de
tuberculose: uma revisão. Rev Liberato. 2014; 15(24): 105-212.
3. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
2016.
4. Ministério da Saúde (BR). Manual de recomendações para controle da tuberculose no
Brasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
5. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para o manejo da coinfecção Tb-HIV em
serviços de atenção especializada a pessoas vivendo com HIV/Aids. Brasília; 2012.
6. Bertoni TA, Takao EKH, Dias JRC, Svidzinski TIE. Paracoccidioidomicose e tuberculose:
diagnóstico diferencial: Paracoccidioidomycosis And Tuberculosis: Differential Diagnosis.
J Bras Patol Med Lab. 2010; 46(1): 17-21.
7. Jameson JL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Loscalzo J. Medicina interna de
Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.
4.3
HIV/AIDS
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Isabela Rodrigues de Oliveira
DEFINIÇÕES
• O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um vírus esférico,
pertencente à família Retroviridae, subfamília Orthoretrovirinae e
gênero Lentivirus, cujo núcleo é constituído por RNA de fita
simples.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Após cerca de 10 dias do contágio, ocorre a viremia, com
disseminação dos vírus na
corrente sanguínea e acometimento de tecidos linfoides, os quais
atuam como reservatórios virais latentes.
• Infecção aguda:
Assintomática ou Síndrome Retroviral Aguda (em cerca de
50% dos casos).
- Fase caracterizada por carga viral elevada, intensa resposta imune
celular e depleção rápida de linfócitos TCD4+.
- Anticorpos anti-HIV não são detectados (janela imunológica),
pois a resposta humoral é tardia (surgem após a fase aguda).
Fase prolongada.
• AIDS:
Fase mais avançada da infecção pelo HIV, caracterizada por
imunodepressão grave (TCD4+ < 200 células/mm3).
DIAGNÓSTICO
• Testes sorológicos (triagem e confirmatório):
Testes de triagem: Imunoensaio (ELISA) de 3ª ou 4ª geração
(janela imunológica de aproximadamente 15 dias); testes
rápidos.
TRATAMENTO
a. Situações de priorização de atendimento para início da
TARV – iniciar TARV com celeridade:
• Sintomáticos:
CTB ativa: para LT-CD4+ < 200, iniciar TARV na segunda
semana após o início do tratamento de TB. Para LT-CD4+ >
200, iniciar TARV ao final da oitava semana.
Manifestações clínicas atribuídas diretamente ao HIV:
Nefropatia associada ao HIV,
alterações neurológicas, cardiomiopatia associada ao HIV,
imunodeficiência avançada (doença definidora de AIDS) ou
moderada.
• Tuberculose ativa.
• Coinfecção HBV.
• Coinfecção HCV.
• Risco cardiovascular elevado (> 20%).
• Importante: na impossibilidade de obter contagem de LT-CD4+,
não se deve adiar o início do tratamento.
b. CLASSES DE ANTIRRETROVIRAIS:
• Inibidores de entrada:
Inibidores de Fusão: T20 (Enfuvirtida);
TERAPIA
SITUAÇÃO DOSE DIÁRIA OBSERVAÇÃO
ANTIRRETROVIRAL
c. OBSERVAÇÕES:
• Contraindicações ao uso do DTG: uso de Fenitoína, Fenobarbital,
Carbamazepina e Oxicarbamazepina.
• Indicações de Genotipagem:
Falha terapêutica com esquema inicial.
d. MONITORAMENTO:
e. PREVENÇÃO:
• Baseia-se na combinação de medidas preventivas: mudança
comportamental, uso de preservativos masculinos e femininos,
aconselhamento sobre HIV/AIDS e outras IST, incentivo à
testagem, PEP, PrEP.
c. Exames complementares:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST Aids e
Hepatites Virais. Manual técnico para o diagnóstico da infecção pelo HIV. 3. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2016.
2. World Health Organization. Consolidated Guidelines On The Use Of Antiretroviral Drugs
For Treating And Preventing HIV Infection: Recommendations For A Public Health
Approach. 2. ed. WHO Guidel. 2016; (June): 480.
3. Ministério da Saúde (BR). Nota informativa nº 007/2017 – DDAHV/SVS/MS. Brasília:
Ministério da Saúde; 2017.
4. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da
infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. Atualizado em 2015.
5. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-
exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília: Ministério da
Saúde; 2018.
6. Ministério da Saúde (BR). HIV: estratégias para diagnóstico no Brasil. Brasília: Ministério
da Saúde; 2010.
7. Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Recomendações para
vacinação em pessoas infectadas pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
8. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de DST e AIDS. Critérios de definição de
casos de AIDS em adultos e crianças. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.
9. CLSI. Criteria for Laboratory Testing and Diagnosis of HIV Infection; Approved Guideline.
CLSI document M53-A. Wayne: Clinical and Laboratory Standards Institute; 2011.
10. Miller LE. Laboratory Diagnosis of HIV Infection. In: Stevens CD. Clinical immunology
and serology: a laboratory perspective. 3. ed. Philadelphia: FA Davis Company; 2010.
11. UNAIDS/WHO Working Group on Global HIV/AIDS/STI Surveillance. Guidelines for
Using HIV Testing Technologies In Surveillance: Selection, Evaluation And
Implementation, 2009 update. Genebra: World Health Organization; 2009. 382 HIV/AIDS
12. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
2016.
13. Ministério da Saúde (BR). Nota informativa nº 10/2018 – DIAHV/SVS/MS. Brasília:
Ministério da Saúde; 2018.
14. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para o manejo da
infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde; 2018.
15. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para Profilaxia da Transmissão Vertical do HIV
e Terapia Antirretroviral em Gestantes. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
4.4
INFLUENZA
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Infecção viral que acomete as vias respiratórias, geralmente
autolimitada e benigna, durando aproximadamente sete dias.
Idosos;
Indígenas;
Imunossupressão;
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O vírus Influenza é um RNA vírus e se subdivide em três tipos
antigenicamente distintos: A, B e C.
QUADRO CLÍNICO
• Síndrome Gripal (SG): febre, tosse seca, odinofagia, coriza,
disfonia, mialgia, cefaleia e prostração, sem outro diagnóstico
específico, e geralmente com resolução espontânea em
aproximadamente 7 dias. Podem ocorrer sintomas gastrointestinais,
rouquidão e hiperemia conjuntival.
• Complicações: pneumonia bacteriana, sinusite, otite,
desidratação, piora de doenças crônicas, pneumonia primária por
influenza.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma: leucocitose, leucopenia, linfocitose.
b. Radiografia de tórax: infiltrado intersticial localizado ou difuso;
presença de área de condensação.
c. Reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-
PCR):
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Diagnóstico clínico-epidemiológico.
• Síndrome gripal: febre de início súbito, associada à tosse ou
odinofagia e, no mínimo, um dos seguintes sintomas: cefaleia,
mialgia ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico.
TRATAMENTO
a. Fosfato de Oseltamivir (Tamiflu®) – Indicações:
> 60 - 90 75 mg 12/12h
30 – 59 30 mg 12/12h
10 – 29 30 mg 24/24h
*Apenas três doses, uma após cada sessão de hemodiálise, considerando-se que, num período de cinco dias, serão realizadas
três sessões.
**Serão duas doses de 30 mg cada, considerando-se os dez dias, em que ocorrerão apenas duas sessões
de diálise.
Tabela 1. Oseltamivir (Tamiflu®) dose ajustada para Clearance de
creatinina.
Fonte: Guia de vigilância em saúde/Ministério da saúde 2016.
b. SRAG:
• Radiografia de tórax.
• Antibioticoterapia (suspeita de infecção bacteriana secundária):
Ceftriaxone ou Amoxicilina/clavulanato + Claritromicina ou
Azitromicina ou Quinolona respiratória IV por 7 a 10 dias.
c. MEDIDAS PREVENTIVAS
d. VACINAÇÃO
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Guia de vigilância em saúde/Ministério da saúde 2016.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 30 anos, comparece ao
hospital devido à tosse seca, rinorreia e mialgia, há quatro dias. Relatou
febre no dia anterior. Há um dia, apresenta dispneia e dor torácica
ventilatório-dependente. Nega doenças de base, uso de medicações,
tabagismo ou etilismo.
b. Exames físicos:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Protocolo de Tratamento de Influenza. Brasília: Ministério da
Saúde; 2015.
2. Organização Mundial da Saúde. WHO Guidelines for Pharmacological Management of
Pandemic
Influenza A(H1N1) 2009 and other Influenza Viruses. Genebra; WHO; 2010.
3. Martins HS, Neto RAB, Neto AS, Velasco IT. Emergências clínicas: abordagem prática. 10.
ed. Barueri: Manole; 2015.
4. Machado AA. Infecção pelo vírus Influenza A (H1N1) de origem suína: como reconhecer,
diagnosticar e prevenir. J Bras Pneumol. 2009; 35(5): 464-9.
5. Carneiro M, Trench FJP, Waib LF, Pedro FL, Motta F. Influenza H1N1 2009: revisão da
primeira pandemia do século XXI: H1N1 Influenza 2009: review of the first pandemic of the
XXI century. Rev Amrigs, 2010; 2(54): 206-13.
6. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
4.5
ENDOCARDITE INFECCIOSA
Autoras:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Endocardite infecciosa (EI): doença com repercussão
multissistêmica, decorrente de
infecção, geralmente bacteriana, da superfície endocárdica.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• 80% dos casos de endocardite infecciosa são causados por
estafilococos e estreptococos. Na América do Sul, os agentes
etiológicos mais comuns são: Staphylococcus aureus (mais
comum), Streptococcus viridans e Enterococos.
QUADRO CLÍNICO
• Os quadros clínicos são variáveis, dependendo do agente
causador, da presença ou ausência de doença valvar prévia e da
presença de próteses ou dispositivos intracárdicos.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma: leucopenia ou leucocitose, acompanhadas ou não
de anemia.
b. Proteína C-reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação
(VHS): elevadas.
c. Anticorpo citoplasmático de neutrófilos e complemento:
alterados na presença de vasculite associada a EI.
d. Ecocardiograma: método diagnóstico de escolha.
TRATAMENTO
• Antibioticoterapia combinada empírica precoce, de acordo com o
microrganismo suspeito, logo após a coleta das hemoculturas, com
ajuste após resultado dos testes de sensibilidade (de acordo com a
tabela 3)
Prótese valvar endocárdica (<12 meses após a cirurgia) ou endocardite associada a cuidados de saúde hospitalares e não
hospitalares
•
1 g (ampola) 2 g/dia EV ou IM 4
Ceftriaxona
•
500 mg (ampola) 30 mg/Kg/dia EV em 2 doses 4
Vancomicina
DURAÇÃO
Droga ApresentaçÃo Dose e via de administração
(SEMANAS)
VALVA NATIVA
Terapia alternativa:
• Daptomicina 500 mg (ampola) 30-60 mg/Kg/dia EV em 2-3 doses 4-6
VALVA PROTÉTICA
DOSE E VIA DE
DROGA APRESENTAÇÃO DURAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
500 mg (ampola) 200 mg/Kg/dia EV em 4-6 doses 4-6
• Ampicilina
+
DOSE E VIA DE
DROGA APRESENTAÇÃO DURAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
20 mg/mL, 40 mg/mL, 3 mg/Kg/dia EV ou IM 24/24h 2-6
• Gentamicina 80 mg/2 mL
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
REFERÊNCIAS
1. Habib G, Lancelotti P, Antunes MJ, Bongiorni MG, Casalta JP, Del Zotti F, et al. 2015 ESC
Guidelines for the management of infective endocarditis: The Task Force for The
Management of Infective Endocarditis of European Society of Cardiology (ESC) Endorsed
by: European Association for CardioThoracic Surgery (EACTS), the European Association
of Nuclear Medicine (EANM). Eur Heart J. 2015; 36: 3075-123.
2. Holland TH, Baddour LM, Bayer AS, Hoen B, Miro JM, Fowler Jr VG. Infective
endocarditis. Nat Rev Dis Pimers. 2016; 2: 16059.
3. Habib G, Erba AP, Iung B, Donald E, Cosnys B, Laroche C, et al. Clinical presentation,
aetiology and outcome of infective endocarditis. Results of the ESC-EORP EURO-ENDO
(European infective endocarditis) registry: a prospective cohort study. Eur Heart J. 2019; 40:
3222-33.
4. Tarasoutchi F; Montera MW; Ramos AIO, Sampaio RO, Accorsi TAD, Lopes ASSA, et al.
Atualização das diretrizes brasileiras de valvopatias: abordagem das lesões anatomicamente
importantes – Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2017; 109(6 Supl. 2):
1-34.
4.6
LEPTOSPIROSE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Doença infecciosa febril aguda, caracterizada por amplo espectro
clínico, podendo apresentar desde quadros assintomáticos e
oligossintomáticos até formas graves e fulminantes da doença.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Agente etiológico: bactéria espiroqueta, aeróbica obrigatória,
altamente móvel, com elevada capacidade de sobrevivência no
meio ambiente, pertencente ao gênero Leptospira.
QUADRO CLÍNICO
• Varia desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros
clínicos graves, com alta
letalidade.
c. SÍNDROME DE WEIL:
g. CONVALESCÊNCIA:
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Hospitalização imediata dos casos com sinais de alerta.
• Reposição volêmica adequada e cautelosa.
• Antibioticoterapia precoce: indicada em qualquer fase da doença;
porém, é mais eficaz na 1ª semana do início dos sintomas (ver
tabela 1).
1 g, intravenosa,
Ampicilina
FASE de 6 em 6 horas
TARDIA
2 g, intravenosa,
Ceftriaxona
de 24 em 24 horas
1 g, intravenosa,
Cefotaxima
de 6 em 6 horas
CONCLUSÃO
• Diagnóstico precoce, manejo clínico adequado e criterioso,
principalmente dos casos com sinais de alerta, com reposição
volêmica cautelosa, antibioticoterapia específica e precoce, suporte
ventilatório (ventilação mecânica nos casos de hipoxemia grave e
refratária), transfusão de hemoderivados e manejo renal, com uso
de diuréticos de alça e diálise precoce nos casos de IRA oligúrica,
são as medidas iniciais que influenciam diretamente na evolução
clínica e prognóstico do paciente, reduzindo significativamente a
letalidade.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Ministério da Saúde.3
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 45 anos, sexo masculino, gari,
previamente hígido, refere que há cerca de 8 dias teve início súbito de
febre, cefaleia, astenia, prostração, náuseas e mialgia mais acentuada
em panturrilhas, evoluindo com vômitos frequentes e icterícia. Refere
ainda tosse, dispneia e hemoptise, além de anúria há dois dias. Relata
contato físico com área alagada há cerca de 20 dias. Nega doenças
preexistentes, uso de medicamentos, alergias. Tabagista há 25 anos.
Etilista social.
b. Exame físico: mau estado geral, hipocorado, febril (38ºC),
ictérico (3 + /4 +), PA: 80 x 50 mmHg, FC: 110 bpm, FR: 40 irpm,
SatO2: 82% em ar ambiente. Ausculta respiratória: estertores
crepitantes em bases bilaterais. Abdome: fígado a 7 cm do rebordo
costal direito.
c. Exames complementares:
REFERÊNCIAS
1. HabibBernardi I. Leptospirose e saneamento básico. [Monografia - Especialização em Saúde
Pública]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2012.
2. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
3. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância em saúde. Volume único. Brasília: Ministério
da Saúde; 2016.
4. Ministério da Saúde. FUNASA (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica. vol II.
Influenza/Varíola. 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
5. Ministério da Saúde (BR). Leptospirose: diagnóstico e manejo clínico. Brasília: Ministério da
Saúde; 2014.
6. Ministério da Saúde (BR). Roteiro para a capacitação de profissionais médicos no
diagnóstico e tratamento da leptospirose – guia de bolso. Brasília: Ministério da Saúde;
2014.
7. Goldman L, Ausiello D. Cecil: Medicina. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
8. Longo DL, Kasper DL, Jameson JL, Hauser SL, Fauci AS, Loscalzo J. Medicina Interna de
Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.
9. Lopes AC. Tratado de clínica médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2016.
10. Souza VMM, Brant JL, Arsky MLS, Araújo WN. Avaliação do sistema nacional de
vigilância eepidemiológica da leptospirose – Brasil, 2007. Cad Saúde Colet. 2010; 18(1): 95-
105.
4.7
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR
AMERICANA
Autores:
Gabrielly Borges Machado
Ana Luiza Santos Pereira
DEFINIÇÕES
• Doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários do
gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas.
QUADRO CLÍNICO
• Leishmaniose cutânea localizada (forma clássica): lesão
ulcerada, única ou em pequeno número, indolor, ovalada, com
bordas bem delimitadas e elevadas, base eritematosa e
infiltrada, fundo granuloso. Podem ocorrer linfadenopatia regional
e linfangite nodular.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame parasitológico direto: pesquisa de amastigotas em
esfregaço da lesão ou
imprints de fragmento de tecidos do paciente. Primeira escolha para
confirmação
diagnóstica; porém, a probabilidade de encontrar o parasito é reduzida
com o tempo de evolução da lesão cutânea. Para coleta de amostra são
utilizadas as seguintes técnicas: escarificação, biópsia com impressão
por aposição e punção aspirativa.
b. Cultura para Leishmania: exame parasitológico que permite
identificar a espécie envolvida. Os fragmentos cutâneos da borda da
úlcera são inoculados em meios de cultivo. Deve ser mantida até um
mês para liberar resultado negativo.
c. Isolamento in vivo: exame parasitológico obtido pela
inoculação intradérmica de fragmentos processados da lesão em
hamsters. Pouco utilizado.
d. Teste intradérmico (Intradermorreação de Montenegro):
teste imunológico cutâneo que avalia a resposta imune celular prévia
contra a leishmania (hipersensibilidade celular retardada). Se positivo,
o teste pode indicar contato prévio, alergia ao diluente do teste ou
reação cruzada com outras doenças. Pode estar negativo em pacientes
fraco-reatores, imunossuprimidos ou início da infecção (4-6 semanas).
e. Testes sorológicos: ELISA (Ensaio Imunoenzimático) e
Imunofluorescência indireta (IFI), que detectam anticorpos
antileishmania (baixa sensibilidade).
f. Reação em cadeia da polimerase (PCR): teste molecular que
detecta o material genético do parasita em amostras de tecido
infectado. Altas sensibilidade e especificidade, principalmente se
associado a exames parasitológicos.
g. Exame histopatológico: visualização de formas amastigotas na
amostra.
h. Teste para HIV: indicado para todos os pacientes com LTA.
TRATAMENTO
As drogas leishmanicidas recomendadas para tratamento estão descritas
nas tabelas 1, 2, 3
e 4, a seguirem:
Apresentação: 81 mg Sb+/mL (cada frasco contém 5 mL)
Cutânea 15 mg Sb+/Kg/dia EV 20
Mucosa 20 mg Sb+/Kg/dia EV 30
Diluição: reconstituir o pó em 10 mL de água destilada para injeção. Para cada 1 mL da solução inicial
(reconstituída), adicionar 50 mL de soro glicosado a 5%.
Dose máxima diária: 50 mg/dia. Dose total acumulada: 25 a 40 mg/kg.
Infusão: 4 a 6 horas.
Efeitos adversos: reação de hipersensibilidade, febre, calafrios, cefaleia, náuseas, vômitos, hipocalemia,
insuficiência renal, hepatotoxicidade, anemia, flebite.
Contraindicações: insuficiência renal, hipersensibilidade à anfotericina B.
Monitoramento durante o tratamento: avaliação clínica e laboratorial (hemograma, função renal e hepática e eletrólitos) diária.
Diluição: reconstituir o pó em 12 mL de água destilada para injeção. Diluir cada 1 mL do frasco reconstituído (4 mg) em 1 a 19 mL de soro
glicosado 5%.
Dose total acumulada: 25 a 40 mg/kg (sem limite de dose máxima diária).
Infusão: 30 a 60 minutos.
Eventos adversos: febre, calafrios, dor no peito, taquicardia, hipotensão, mialgia, dor lombar. Suspender a
amamentação durante o tratamento.
Contraindicação: hipersensibilidade à substância ativa.
Monitoramento durante tratamento: avaliação clínica e laboratorial (hemograma, ele¬trólitos, função renal e
hepática) diárias.
4 mg/Kg/dia, em dias
Cutânea IM ou EV 3 a 10 aplicações
alternados
4 mg/Kg/dia, em dias
Mucosa IM ou EV 10 aplicações
alternados
Indicações: forma cutânea localizada causada por Leishmania guyanensis e forma cutânea difusa.
Infusão: lenta em 60 minutos.
Dose total acumulada: 2 g.
Eventos adversos: hipoglicemia, diabetes mellitus tardio (toxicidade sobre as células beta-pancreáticas),
pancreatite, arritmias e reações locais.
Contraindicações: diabetes mellitus, intolerância a glicose, gestação, lactação, insuficiência renal e hepática,
doenças cardíacas.
Monitoramento durante tratamento: função renal e pancreática, glicemia e eletrocardiograma semanalmente.
a. Pentoxifilina:
• Dose: 400 mg, via oral, três vezes ao dia após as refeições, por 30
dias.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, sexo masculino, branco, 26 anos, natural
e procedente de Paracatu – MG, solteiro, estudante, procura
atendimento médico referindo surgimento de lesões cutâneas indolores
em membro inferior direito e antebraço esquerdo há cerca de dois
meses. Nega doenças de base, uso de medicamentos, alergias,
tabagismo e etilismo.
b. Exames físicos:
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde: volume 3. 1. ed. atual. Brasília:
Ministério da Saúde; 2017.
2. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
2016.
3. Ministério da Saúde (BR). Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar. Brasília:
Ministério da Saúde; 2017..
4. Ministério da Saúde (BR). Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana.
2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.
4.8
LEISHMANIOSE VISCERAL
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• A leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, crônica, de
evolução insidiosa, potencialmente grave e fatal se não tratada.
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
• A LV é causada por protozoários tripanossomatídeos do gênero
Leishmania.
• No Brasil, a Leishmania (Leishmania) infantum é a principal
espécie envolvida.
a. Período inicial:
b. Período de estado:
DIAGNÓSTICO
• Clínico-epidemiológico.
• Exames complementares:
• Teste rápido: detecção de anticorpos contra o antígeno rK39;
• ELISA;
• Imunofluorescência indireta (IFI): reagente - títulos de
anticorpos a partir da diluição 1:80;
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
• Droga de escolha: Antimonial pentavalente.
• Alternativas: Anfotericina B Desoxicolato e Lipossomal.
• Antimonial Pentavalente (GLUCANTIME®):
Droga de escolha nas Leishmanioses.
• Anfotericina B Desoxicolato:
Dose recomendada: 1 mg/kg/dia (máximo de 3 g de dose
total). Deve ser reconstituída em 10 mL de água destilada; essa
solução deverá ser diluída em soro glicosado a 5% na proporção
de 1 mg para 10 mL.
• Anfotericina B Lipossomal:
Droga alternativa ao Antimonial pentavalente preferencial
(menor toxicidade).
a. CRITÉRIOS DE CURA:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, 20 anos de idade, sexo feminino, negra,
natural e procedente de Porteirinha-MG, reside em área urbana da
cidade. Deu entrada no setor de emergência do hospital apresentando
febre de 39ºC persistente há 1 mês, sem outras queixas.
b. Exame físico: regular estado geral, prostrada, hipocorada 3 + /4,
hidratada. Sinais vitais: FR: 28 irpm, FC: 136 bpm, Tax: 38,3ºC.
Abdome globoso, ruídos hidroaéreos positivos, indolor à palpação
superficial e profunda, à palpação macicez difusa, esplenomegalia a 8
cm do rebordo costal esquerdo, sem sinal de irritação peritoneal,
hepatomegalia a 6 cm do rebordo costal direito.
REFERÊNCIAS
1. Alvar J, Vélez ID, Bern C, Herrero M, Desjeux P, Cano J, et al. Leishmaniasis Worldwide
And Global Estimates Of Its Incidence. Plos One. 2012; 7(5): E35671.
2. Araujo AC, Gonçalves NNVM, Dantas-Torres F, Ferreira F, Horta MC. Visceral
Leishmaniasis In Petrolina, State Of Pernambuco, Brazil, 2007-2013. Rev Inst Med Trop
São Paulo. 2016; 58: 29.
3. Aronson N, Herwaldt BL, Libman M, Pearson R, Lopez-Velez R, Weina P, et al. Diagnosis
And Treatment Of Leishmaniasis: Clinical Practice Guidelines By The Infectious Diseases
Society Of America (Idsa) And The American Society Of Tropical Medicine And Hygiene
(ASTMH). Am J Trop Med Hyg. 2017; 96(1): 24-45.
4. Botelho ACA; Natal D. First Epidemiological Description Of Visceral Leishmaniasis In
Campo Grande, State Of Mato Grosso do Sul. Revi Soc Bras Med Trop. 2009; 42(5): 503-
8.
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de vigilância epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde;
2009.
6. Ministério da Saúde (BR). Manual de vigilância e controle da Leishmaniose visceral.
Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
7. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
8. Fu Q, Li S, Wu W, Hou Y, Zhang S, Feng Y, et al. Endemic Characteristics Of Infantile
Visceral Leishmaniasis In The People’s Republic Of Chi¬na. Parasites & Vectors, 2013;
6(1): 143.
9. Maciel DB, Silva TA, Gomes LI, de Oliveira E, Tibúrcio MG, de Oliveira RF, et al.
Infection With Leishmania (Leishmania) Infantum Of 0 To 18-month-old Children Living
In A Visceral Leishmaniasis-endemic Area In Brazil. Am J Trop Med Hyg. 2014; 91(2):
329-35.
10. Marzochi MCA. Visceral Leishmaniasis In Southern Rio de Janeiro State And The Risk Of
Propagation To São Paulo State, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop. 2016; 49(2): 147-9.
11. Monge-Maillo B, Norman FF, Cruz I, Alvar J, López-Vélez R. Visceral Leishmaniasis And
Hiv Coinfection In The Mediterranean Region. Plos Negl Trop Dis. 2014; 8(8): E3021.
12. Van Griensven J, Zijlstra EE, Hailu A. Visceral Leishmaniasis And Hiv Coinfection: Time
For Concerted Action. Plos Negl Trop Dis. 2014; 8(8): E3023.
13. WHO Expert Committee on the Control of the Leishmaniases, World Health Organization.
Control Of The Leishmaniases: Report Of A Meeting Of The Who Expert Committee On
The Control Of Leishmaniases. In: WHO. Control Of The Leishmaniases: Report Of A
Meeting Of The Who Expert Committee On The Control Of Leishmaniases. Genebra:
World Health Organization; 2010.
4.9
MENINGITE
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Processo inflamatório/infeccioso que acomete as meninges.
• As etiologias são diversas, podendo ser causada por bactérias,
vírus, e, mais raramente, fungos e parasitas (protozoários e
helmintos).
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
a. Bacteriana:
• Neisseria meningitidis.
• Streptococcus pneumoniae.
• Haemophilus influenzae.
• Outros: Mycobacterium tuberculosis, Listeria monocytogenes,
Staphylococcus aureus.
b. Viral:
QUADRO CLÍNICO
• Febre de início súbito, cefaleia, prostração, náuseas, vômitos,
hiporexia, mialgia, agitação, fotofobia.
• Exame físico:
Rigidez de nuca;
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Cultura (padrão-ouro) – líquido cefalorraquidiano (LCR),
sangue, raspado de lesões petequiais ou fezes.
b. Reação em cadeia da polimerase (PCR) – LCR, soro, sangue
total.
c. Aglutinação pelo látex – LCR e soro.
d. Contraimunoeletroforese (CIE) – LCR e soro.
Branca-leitosa ou
Cor ligeiramente Incolor Incolor ou xantocrômica Incolor, cristalino
xantocrômica
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
• Hospitalização dos casos suspeitos.
• Precaução respiratória para gotículas durante as primeiras 24
horas de antibioticoterapia.
a. MENINGITE BACTERIANA
Agente Intervalo Duração Via de
Antibiótico Dose
etiológico (horas) (dias) administração
Neisseria meningitidis 7 a 10
Streptococcus pneumoniae 10 a 14
Ceftriaxone 12 em 12
2g Endovenosa
Haemophilus influenzae 7 a 10
Enterobactérias 10 a 14
Pseudomonas Meropenem 14 a 21
Ampicilina
200 a 400
Listeria monocytogenes + 4a6 21 Endovenosa
mg/kg/dia
Ceftriaxone
MSSA (Staphylococcus
Oxacilina 2g 4 em 4 21 Endovenosa
aureus meticilina sensível)
c. MENINGITE FÚNGICA
d. QUIMIOPROFILAXIA
e. VACINAÇÃO
f. VACINAÇÃO DE BLOQUEIO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, sexo masculino, 23 anos, refere febre
não aferida há três dias, associada à cefaleia holocraniana intensa,
náuseas, vômitos, astenia e prostração. Refere piora do quadro há um
dia. Nega demais queixas. Nega doenças preexistentes, alergias e uso
de medicamentos. Nega tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas.
b. Exame físico: REG, consciente, orientado, hipocorado,
hidratado, febril (38,5º C), FC: 110 bpm, PA: 110/70 mmHg. Ausculta
pulmonar sem alterações, FR: 36 irpm. Presença de rigidez de nuca.
Sinais meníngeos presentes. Pupilas isocóricas e fotorreagentes,
ausência de déficits motores. Realizada punção lombar.
c. Exames complementares: Análise do LCR: aspecto turvo,
proteínas 120 mg/dL; glicose 35 mg/dL; leucócitos 500/mm3
(linfócitos 28%; monócitos 2% e neutrófilos 70%).
REFERÊNCIAS
1. Lopes AC. Clínica médica: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu; 2013.
2. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde: Protocolo de Vigilância Epidemiológica de
Meningites. Minas Gerais: Secretaria de Estado da Saúde; 2013.
3. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
2016.
4. Ministério da Saúde (BR). Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. ed. Brasília: Ministério da
Saúde; 2010.
6. Ministério da Saúde (BR). Meningite – vacinação. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
7. Secretaria de Estado de São Paulo - Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória, do
Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, Coordenadoria de
Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e Instituto Adolfo
Lutz (Laboratório de Vírus Entéricos). Meningites Virais. Rev Saúde Pública. 2006; 40(1):
65-70.
4.10
HANSENÍASE
Autores:
Isaias Nery Ferreira
Gabrielly Borges Machado
INTRODUÇÃO
A doença hansênica tem evolução lenta e se manifesta, essencialmente,
através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, como as lesões de pele e
de nervos periféricos, acometendo principalmente olhos, mãos e pés nos
quais o paciente apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais:
(ALVES, 2014; BRASIL, 2016).
CLASSIFICAÇÕES
1. Classificação clínica e operacional
Forma Classificação
Clínica Baciloscopia
clínica operacional
Forma Classificação
Clínica Baciloscopia
clínica operacional
TRATAMENTO
No esquema terapêutico padrão, os medicamentos são fornecidos em
cartelas individuais, que contem a dose mensal supervisionada e as doses
diárias auto administradas, existindo cartelas para PB e MB, adulto e
infantil, com as seguintes apresentações:
3. Esquemas terapêuticos
O tratamento é ambulatorial, utilizando esquemas terapêuticos
padronizados, de acordo com a classificação operacional.
Esquema terapêutico para casos paucibacilares – 6 cartelas
Rifampicina (RFM): dose mensal de 600 mg (2 cásulas de 300 mg) com administração supervisionada.
ADULTO
Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e dose diária de 100 mg autoadministrada.
Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg) com
administração supervisionada.
CRIANÇA
Dapsona (DDS): dose mensal de 50 mg supervisionada e dose diária de 50 mg autoadministrada.
Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e dose diária de 100 mg autoadministrada.
Terapêutica para casos MULTIBACILARES: 12 Cartelas
Clofazimina (CFZ): dose mensal de 300 mg (3cápsulas de 100mg) com administração supervisionada e dose
diária de 50 mg autoadministrada.
Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg) com
administração supervisionada.
Clofazimina (CFZ): dose mensal de 150 mg (3 cápsulas de 50 mg) com administração supervisionada e uma
dose de 50 mg autoadministrada em dias alternados.
Mensal 1-2
DAPSONA (DDS)
Diária 1-2
Diária 1,0
Obs: Os episódios de intolerância ou paraefeito dos medicamentos, encaminhar o paciente para centros de referência para mudança
do esquema terapêutico.
4. Reações Hansênicas
Os episódios ou surtos reacionais são episódios inflamatórios agudos, de
origem imunológica que ocorrem previamente, ao longo ou após o
tratamento. Exigem cuidado e tratamento imediato para evitar a instalação de
incapacidade e deformidade. Os surtos reacionais podem ser do tipo 1
(reação reversa) e do tipo 2.
4.1. REAÇÃO TIPO 1 – (ou reação reversa)
As lesões cutâneas antigas ficam mais eritematosas, edematosas e
dolorosas, e podem surgir lesões novas.
a. Reação Tipo 1
Iniciar prednisona utilizando a dosagem de 1 mg/Kg/dia ou
dexametasona 0,15 mg/Kg/dia em casos de doentes hipertensos ou
cardiopatas, conforme avaliação clínica.
Manter a poliquimioterapia se o doente ainda estiver em tratamento
específico, não reintroduzi-la em situação de alta.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Tratamento dos Episódios Reacionais
Fonte: Alves, E.D.; Ferreira, i.n.; ferreira, t. l. hanseníase: avanços e
desafios,2014.
Muitos nervos podem ser rapidamente Poucos nervos podem ser envolvidos, com
Comprometimento neural envolvidos ocorrendo dor e alterações alterações sensitivo-motoras de evolução mais
sensitivo-motoras. lenta.
Resposta a
medicamentos Excelente. Não pronunciada.
antirreacionais
4.4. CONTATOS:
Contatos familiares recentes ou antigos de pacientes MB e PB devem ser
examinados, independentemente do tempo de convívio. Tanto os contatos
familiares bem como os sociais (indivíduos que convivam ou tenham
convivido em relações familiares ou não, de forma próxima e prolongada)
devem ser avaliados durante cinco anos.
A vacina BCG-ID deve ser administrada nos contactantes examinados
sem presença de sinais e sintomas de hanseníase no momento da avaliação,
independente da classificação operacional do caso índice. (MINAS
GERAIS, 2016). Após analisar o histórico de vacinação pregressa, siga as
recomendações:
Esquema de Vacinação de contatos com o BCG
REFERÊNCIAS
1. Alves, E.D.; Ferreira, i.n.; ferreira, t. l. hanseníase: avanços e desafios. ceam/nespron-unb,
2014.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para Vigilância, atenção e eliminação da hanseníase
como problema de saúde pública. Brasília, 2016.
3. _____. Ministério da Saúde. Portaria GM?MS nº 3.125, de 07 de outubro de 2010. Aprova as
Diretrizes para Vigilância, Atenção e Controle da Hanseníase. Brasília, 2010.
4. MINAS GERAIS. Secretaria Estadual de Saúde. Atenção à Saúde do Adulto: Hanseníase.
Belo
Horizonte, 20016.
4.11
ROTINA APÓS EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL COM MATERIAL
BIOLÓGICO
Autores:
Gabrielly Borges Machado
Isabela Rodrigues de Oliveira
DEFINIÇÕES
• O risco de transmissão de agentes infecciosos após exposições a
materiais biológicos é variável.
a. MEDIDAS INICIAIS
• SEGUIMENTO LABORATORIAL:
Testagem de HIV no 1º atendimento, 30 e 90 dias após a
exposição.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 36 anos, sexo feminino, parda, casada,
profissional técnica de enfermagem, com esquema vacinal completo
para Hepatite B (1 série de 3 doses) e pesquisa de anticorpos anti-HBs
menor que 10 IU/mL, refere acidente com material perfurocortante
durante o trabalho, há 1 hora.
b. Exames complementares: Os dados sorológicos do paciente-
fonte eram HBsAg e Anti-HBC IgG reagentes. Diante da exposição ao
HBV em profissional não imune, foi indicada a profilaxia com a
Imunoglobulina hiperimune e a 1ª dose do novo esquema vacinal. Peso:
75 kg.
c. Prescrição:
REFERÊNCIAS
1. Cardo DM, Culver DH, Ciesielski CA, Srivastava PU, Marcus R, Abiteboul D, et al. A Case-
Control Study Of HIV Seroconversion In Health Care Workers After Percutaneous
Exposure. N Engl J Med. 1997; 337: 1485-90.
2. Panlilio AL, Cardo DM, Grohskopf LA, Heneine W, Ross CS. Updated U.S. Public Health
Service Guidelines For The Management Of Occupational Exposures To HBV, HCV, And
HIV And Recommendations For Postexposure Prophylaxis. MMWR. 2001; 50(RR-11): 1-
52.
3. Ministério da Saúde (BR). Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais.
Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial da União.
5. Ministério da Saúde (BR). Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-
exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília: Ministério da
Saúde; 2018.
6. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para atendimento e acompanhamento de
exposição ocupacional a material biológico: HIV e hepatites virais. Brasília: Ministério da
Saúde; 2004.
7. Ministério da Saúde (BR). Recomendações para terapia ARV em adultos e adolescentes.
Brasília: Ministério da Saúde; 2004.
8. Ministério da Saúde (BR). Exposição a Materiais Biológicos. Saúde do
Trabalhador/Protocolos de Complexidade Diferenciada 3. Brasília: Ministério da Saúde;
2011.
9. Ministério da Saúde do Brasil (BR). Recomendações para terapia antirretroviral em adultos e
adolescentes infectados pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
4.12
ACIDENTES POR ANIMAIS
PEÇONHENTOS
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Animais peçonhentos são animais que possuem estruturas
especializadas (dentes, ferrões) capazes de inocular seus venenos,
como cobras, escorpiões, aranhas, abelhas, lagartas, entre outros.
Os acidentes ofídicos, escorpionismo, araneísmo e os acidentes
com lagartas são os acidentes mais comuns na prática médica,
capazes de desencadear quadros moderados a graves. Têm
importância médica significativa devido à sua grande frequência e
gravidade.
a. ACIDENTE BOTRÓPICO:
c. ACIDENTE LAQUÉTICO:
d. ACIDENTE ELAPÍDICO:
• Ações do veneno: neurotóxica e miotóxica.
• Manifestações locais: discretas.
• Manifestações sistêmicas (decorrentes da ação neurotóxica):
fraqueza muscular progressiva, ptose palpebral, fácies miastênica,
mialgia difusa e dificuldade para deglutir.
TRATAMENTO
O tratamento consiste na administração imediata de soroterapia de
acordo com o tipo e a gravidade do acidente (ver tabela 1):
No de
Acidente Antiveneno Gravidade
ampolas
SAC (Soro
anticrotálico) ou Moderado: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia e
SABC (Soro 10
CROTÁLICO mioglobinúria discretas.
antibotrópico
e anticrotálico)
SAEla (Soro
Considerar todos os casos como graves pelo risco
ELAPÍDICO antielapídico 10
de insuficiência respiratória.
bivalente)
ESCORPIONISMO
• Manifestações locais e sistêmicas: decorrentes da ação de toxinas
presentes no veneno, que atuam nas terminações nervosas pós-
ganglionares.
Grave: manifestações clínicas da forma moderada e presença de uma ou mais das seguintes
manifestações: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese profusa, sialorreia intensa,
12
prostração, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar agudo e
choque
ARANEÍSMO
• Envenenamento causado por toxinas presentes no veneno de
aranhas peçonhentas, desencadeando alterações locais e
sistêmicas.
a. Loxoscelismo
b. Foneutrismo
c. Latrodectismo
• TRATAMENTO:
• O tratamento consiste em soroterapia intravenosa específica, com
base no tipo e gravidade do acidente (ver tabela 3).
Soro No de
Acidente Gravidade
antiaracnídico ampolas
Leve: dor local, edema, eritema, sudorese. -
2a4
Moderado: dor local intensa, sudorese, vômitos ocasionais,
SAA: Soro antiaracnídico
agitação psicomotora, hipertensão
FONÊUTRICO (Phoneutria, Loxosceles
arterial.
e Tityus)
• Latrodectismo:
Diazepan 5 a 10 mg para adultos, intravenoso, de 4 em 4 horas;
Gluconato de cálcio 10% de 10 a 20 mL para adultos,
intravenoso lentamente, de 4 em 4 horas; ou Clorpromazina: 25
a 50 mg para adultos, intravenoso, de 8 em 8 horas, se
necessário.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente, 45 anos, masculino, trabalhador rural,
previamente hígido, procura pronto-atendimento referindo acidente
ofídico causado por jararaca, em membro inferior direito, há cerca de
seis horas. Refere dor intensa no local da mordedura, associada a
eritema, edema intenso e calor local. Relata progressão do edema e
surgimento de equimose local. Refere ainda gengivorragia discreta.
Nega demais queixas. Diurese preservada. Nega doenças de base, uso
de medicamentos e alergias. Refere tabagismo e etilismo.
b. Exame físico: BEG, afebril, hidratado, FC: 80 bpm, PA: 120/80
mmHg, FR: 20 irpm, ausculta pulmonar e cardíaca sem alterações.
Presença de dois orifícios de inoculação em membro inferior direito,
associados a edema local importante com extensão para todo o
membro, calor e hiperemia, além de equimose. Ausência de síndrome
compartimental e abscesso. Gengivorragia discreta.
c. Exames laboratoriais: Tempo de Coagulação: 8 minutos
(normal: até 9 min, prolongado: de 10 a 30 min; incoagulável: > 30
min). Hemoglobina: 14; leucócitos: 14.000 com neutrofilia e desvio à
esquerda; plaquetas: 170.000; ureia: 40; creatinina: 0,9.
1. Dieta branda.
2. Soro antibotrópico 8 ampolas IV sem diluição, durante trinta
minutos.
3. Dipirona: 2 mL + água destilada 8 mL, EV até de 6/6 h se dor ou
Tax ≥ 37,8 °C.
4. Metoclopramida: 10 mg 2 mL + água destilada 8 mL, EV, até de
8/8 h, se náuseas ou vômitos.
5. Monitorização.
6. Manter membro elevado e estendido.
7. Notificação do acidente botrópico ao SINAM.
8. Cuidados gerais e sinais vitais.
9. Observação mínima de 6 a 12 horas.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Recomenda-se a observação mínima de 6 a 12 horas em todos os
casos de acidentes por animais peçonhentos.
• A indicação de soroterapia deve ser criteriosa, para se evitar a
administração desnecessária de soro nos casos de acidente sem
envenenamento.
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Manual de Controle de Escorpiões. Brasília: Ministério da
Saúde; 2009.
2. Cardoso JLC. Animais Peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e Terapêutica dos
Acidentes. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 2009.
3. Fundação Nacional de Saúde (BR). Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por
Animais Peçonhentos. 2. ed. Brasília: FUNASA; 2001.
4. Ministério da Saúde (BR). Situação Epidemiológica das Zoonoses de interesse para a Saúde
Pública. Boletim Eletrônico Epidemiológico. 2010;10(2).
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde;
2016.
4.13
COVID-19
Autora:
Gabrielly Borges Machado
DEFINIÇÕES
• Trata-se de uma nova infecção respiratória, de evolução aguda,
causada pelo novo coronavírus – coronavírus da Síndrome
respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), que acomete o trato
respiratório, potencialmente grave e fatal, apresentando elevada
transmissibilidade.
Tabagismo;
Obesidade;
Hipertensão arterial;
Imunossupressão;
Diabetes mellitus;
Neoplasia maligna;
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
• SARS-CoV-2 é um betacoronavírus descoberto em secreções
respiratórias de pacientes com pneumonia de causa desconhecida
na cidade de Wuhan, província de Hubei, China, em dezembro de
2019.
a. TRANSMISSÃO:
• A suscetibilidade é geral.
• Com relação à imunidade, não se sabe ainda se a infecção é capaz
de gerar imunidade permanente contra novas infecções.
QUADRO CLÍNICO
• Pode variar de quadros assintomáticos e manifestações clínicas
leves até quadros graves, com insuficiência respiratória, choque e
disfunção de múltiplos órgãos.
a. CASOS SUSPEITOS:
• SÍNDROME GRIPAL (SG): pelo menos dois dos seguintes
sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios,
odinofagia, cefaleia, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou
gustativos.
b. CASOS CONFIRMADOS:
DIAGNÓSTICO
a. CLÍNICO: quadro de Síndrome gripal (SG) ou SRAG.
b. LABORATORIAL:
• Teste molecular:
RT-PCR em tempo real (RT-qPCR) em amostras do trato
respiratório obtidas por meio de swab de nasofaringe e
orofaringe, coletadas até o 8º dia após o início dos sintomas;
de preferência, entre o 3º e o 7º dia.
Quimioluminescência (CLIA) ou
Eletroquimioluminescência (ECLIA);
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
• Não há, até o momento, tratamento antiviral específico.
• O tratamento baseia-se em medidas de suporte clínico, de acordo
com a gravidade do caso.
a. CASOS LEVES:
• Sintomáticos.
• Monitoramento a cada 24 a 48 horas, por 14 dias.
• Contatos domiciliares de paciente com SG: devem realizar as
medidas de distanciamento social por 14 dias.
b. CASOS MODERADOS:
• Oseltamivir empírico:
Todos os casos de SRAG até resultado de PCR para Covid-19
ou em casos confirmados de Influenza;
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Transmission of SARS-CoV-2: implications for infection
prevention precautions. World Health Organization. [Internet]; 2020. [acesso em
05/09/2020]. Disponível em: https://www.who.int/news-
room/commentaries/detail/transmission-of-sars-cov-2-implications-for-infection-
prevention-precautions.
2. World Health Organization. Clinical management of COVID-19: interim guidance. World
Health Organization. [Internet]; 2020. [acesso em 05/09/2020]. Disponível em:
https://www.who.int/publications/i/item/clinical-management-of-covid-19.
3. Colégio Brasileiro De Radiologia (CBR). Recomendações de uso de métodos de imagem
para pacientes suspeitos de infecção pelo COVID-19. São Paulo: CBR; 2020.
4. Centers for Disease Control and Prevention. People with certain medical conditions.
Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Centers for Disease Control and Prevention.
[Internet]; 2020. [acesso em 06/09/2020]. Disponível em:
https://www.cdc.gov/coronavirus/2019.
5. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância
Epidemiológica. Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo
Coronavírus 2019. Vigilância de Síndromes Respiratórias Agudas - COVID-19.
Brasília/DF: Ministério da Saúde; 2020.
6. Associação De Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Orientações sobre o manuseio do
paciente com pneumonia e insuficiência respiratória devido a infecção pelo Coronavírus
(SARS-CoV-2). Versão n. 3, 2020. São Paulo; AMIB; 2020.
7. Ministério da Saúde (BR). Orientações para manejo de pacientes com COVID-19.
Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/18/Covid19-
Orientac--o--esManejoPacientes.pdf. Brasília/DF: Ministério da Saúde; 2020.
5.1
CÓLICA NEFRÉTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Patrícia Vas Tostes Mendes
DEFINIÇÕES
A cólica renal aguda ou cólica nefrética é um sintoma que cursa com dor
intensa, sendo uma das principais procuras por atendimento médico em
pronto-socorro. Refere-se a um conjunto de sintomas que podem ter origem
em patologias intrínsecas ou extrínsecas, do foro urogenital ou ginecológico,
havendo a necessidade de descartar estas hipóteses durante a investigação de
um doente com a clínica referida.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A grande maioria dos casos (90%) de cólica renal ocorre devido a
cálculos urinários, causando obstrução ureteral (litíase urinária
obstrutiva). A dor é provocada pelo espasmo do ureter ao tentar
vencer o obstáculo obstrutivo, originando distensão uretérica,
pielocalicial e da cápsula renal.
QUADRO CLÍNICO
• Dor lombar intensa, de início súbito, sem posição ou movimento
atenuante, com irradiação dependendo da localização do cálculo
renal:
EXAME FÍSICO
• O exame físico, quando isolado, raramente direciona ao
diagnóstico.
b. Urina tipo I:
• Hematúria;
• Cristais no sedimento.
c. Urocultura: quando houver indicação para afastar quadro
infeccioso.
• Alta sensibilidade.
• Não usa contraste.
• Permite a visualização de cálculos de ácido úrico.
• Detecta cálculos com diâmetros < 1 mm.
• Evidencia cálculo ureteral ou sua passagem recente.
Tanto a leucocitose quanto a leucocitúria podem estar presentes, mas não
são patognomônicos de infecção do trato urinário. Essas alterações podem
ocorrer devido ao processo inflamatório provocado pelo fator obstrutivo;
portanto, sempre devem ser correlacionadas com os achados clínicos para
não se prescrever antibiótico indiscriminadamente.
Evitar solicitação de exames com contraste na crise aguda, como, por
exemplo, a urografia excretora.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico de cólica nefrética é clínico (anamnese e exame físico),
seguido de exames complementares descrito a seguir.
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• CRISE AGUDA:
Analgesia é prioridade para o controle da dor. Usam-se anti-
inflamatórios não esteroidais (AINEs) e opioides. A vantagem
dos AINEs é que eles diminuem o tônus do músculo.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente A. M. C., sexo masculino, 38 anos, dá
entrada no Pronto-Socorro com dor intensa em região lombar à
esquerda há 5 horas, de início súbito e irradiação para flanco esquerdo,
sem fator atenuante ou agravante, com piora há 2 horas, associada com
hematúria, náuseas e vômitos, porém sem disúria e febre. Paciente com
história prévia de nefrolitíase, com último episódio de cólica nefrética
com eliminação de um cálculo renal há 3 anos.
b. Exames físicos:
d. Prescrição sugerida:
DEFINIÇÕES
• Injúria renal aguda (IRA) é caracterizada por uma queda abrupta,
pelo menos em parte, e de curso reversível do Ritmo de Filtração
Glomerular (RFG), que, à luz da fisiopatologia, ocasiona a
retenção sérica de escórias do metabolismo nitrogenado pelos rins,
sendo os mais conhecidos a ureia e a creatinina. Essas alterações
cursam com a desregulação do volume extra/intracelular e
consequentes distúrbios eletrolíticos. Tais alterações, por meio de
vários critérios que têm sido adaptados e unificados, ajudarão na
conduta médica para o adequado manejo da injúria, segundo
quaisquer etiologias.
• Classificação clínica
I. anúrica total: 0 a 20 mL/dia
II. anúrica: 20 a 100 mL/dia
III. oligúrica: 101 a 400 mL/dia
IV. não oligúrica: 401 a 1200 mL/dia
V. poliúrica: 1201 a 4000 mL/dia
VI. hiperpoliúrica: > 4000 mL/dia
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Sepses.
• Choque circulatório.
• Queimaduras.
• Cirurgia de grande porte (não cardíacas).
• Contrastes radiopacos iodados.
• Desidratação.
• Idade avançada.
• Sexo feminino.
• Raça negra.
• Diabetes mellitus.
Foi tradicionalmente dividida em três grandes grupos por didática (a
priori), pois a abordagem deve ser hermética para que não se negligenciem
outras causas múltiplas que podem se sobrepor à causa de base, não
necessariamente do mesmo grupo:
a. IRA pré-renal:
• [Na ]
+
muito baixa (< 20 mEq/L).
URINÁRIO
b. IRA renal/intrínseca:
c. IRA pós-renal:
QUADRO CLÍNICO
• Cardiovasculares: hipervolemia (hipertensão leve), congestão
pulmonar (deverá haver estertoração pulmonar bilateral), derrame
pleural (DP), ascite, edema agudo de pulmão (EAP), insuficiência
respiratória aguda (IRpA), arritmias, desidratação e hipotensão
(desde o choque até a parada cardiorrespiratória (PCR)).
EXAME FÍSICO
• Sinais e sintomas da IRA dependem da causa e do grau de
comprometimento da função renal, sendo frequentemente
inespecíficos e mascarados pela doença de base. A observação de
sinais de hipovolemia e hipotensão arterial ou sinais de obstrução
do trato urinário auxiliam o diagnóstico diferencial de IRA pré ou
pós-renal. Deve-se procurar sinais associados com a etiologia e
complicações da IRA.
A presença de livedo reticular e microinfartos digitais podem sugerir
doença renal ateroembólica. Pacientes com dispneia, ortopneia, edema,
turgência jugular e estertoração pulmonar podem estar hipervolêmicos,
enquanto aqueles com fraqueza muscular ou paralisia ascendente podem
estar com Hiperpotassemia.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Ureia e creatinina séricas: estão sempre aumentados na IRA.
• Apenas vale ressaltar que os níveis de ureia sérica podem se
alterar em sangramentos gastrintestinais, dicas ricas em
proteínas, febre, traumas, processos infecciosos e
medicamentos, mais comumente os corticoides.
Hipercalcemia Neoplasia
* IIR: sódioURINÁRIO/creatininaURINÁRIA/creatininaPLASMÁTICA
f. Exames de imagem
Têm sua valia na busca de causas-base para a IRA. Podem ajudar a
topografar, tanto a nível anatômico quando histológico, qualitativa e
quantitativamente, as alterações parenquimatosas, o que é fundamental na
diferenciação de IRA e Doença Renal Crônica (há tempos chamada de
insuficiência renal crônica [IRC]).
DIAGNÓSTICO DE IRA
• História clínica compatível.
• Queda do débito urinário.
• Aumento de ureia e creatinina.
• Avaliando estes dados podemos nos guiar pelo fluxograma 1
apresentado a seguir;
TRATAMENTO
Idealmente dever-se-ia prevenir a vigência da IRA. Na sua instalação, o
cerne do tratamento é basicamente de suporte, reservando-se a Terapia Renal
Substitutiva (TRS) para casos particulares com lesão renal grave. Realizar a
terapia de suporte requer conhecimento prévio das principais complicações e
as indicações francas de TRS.
• Hipercalemia (K +
PLASMA > 6,5 mEq/L) refratária ou de rápido
aumento.
• Hipercalemia:
Restrição de potássio (ajustes na dieta do paciente).
Solução polarizante.
• Hipocalcemia:
Sintomas leves: carbonato de cálcio via oral.
• Hipervolemia:
Restrição rigorosa de sódio (< 3 g/dia).
Restrição rigorosa de água (< 1 L/dia).
• Hipermagnesemia:
Curso geralmente assintomático, acompanhando o manejo (ou
não) da hipercalemia.
• Hiperfosfatemia:
Restrição dietética (< 800 mg/dia).
• Hiperuricemia:
Costuma necessitar de terapia apenas na Síndrome da Lise
Tumoral.
• Acidose metabólica:
Manter BIC > 15 mEq/L e pH > 7,2.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Abordagem sindrômica na IRA.
Fonte: adaptado de Yu et al, 2007
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 56 anos, tabagista
crônico (1 maço/dia por 36 anos), sedentário, com diagnósticos prévios
de diabetes mellitus tipo II e hipertensão arterial sistêmica,
dislipidemia, síndrome metabólica e espondiloartrose, todas em
tratamento (metformina 850 mg VO 8/8h, glibenclamida 5 mg VO
12/12h, losartana potássica 50 mg VO 12/12h, atenolol 25 mg VO
12/12h, captopril 25 mg VO 8/8h, sinvastatina 40 mg VO/noite e,
eventualmente, AINEs para crises aguda de espondiloalgia,
respectivamente), necessitou, segundo indicação do seu médico
cardiologista, da realização de cateterismo pelo elevado risco
cardiovascular, dedutível pelas próprias morbidades citadas acima.
b. Exames físicos:
• Antes do procedimento eletivo, os sinais vitais estavam estáveis e o
paciente não apresentava quaisquer sintomas. Fora realizado o exame
sem intercorrências. Dezesseis horas após o procedimento e direta
transferência para leito em unidade de terapia intensiva, o paciente
começou a se queixar de mal-estar. Uma vez suspeitada injúria renal
aguda por contraste iodado, o médico intensivista prontamente solicitou
exames laboratoriais pertinentes.
c. Exames laboratoriais: CreatininaPLASMA: 3,0 mg/dL; UreiaPLASMA:
57 mg/dL; Sedimentoscopia urinária: cilindros granulosos e debris;
FENA: 1,9%; OsmU: 180 mOsm/Kg; Relação sérica (U/Cr) = 19; NIBP
(non-invasive blood-pressure): 110/60 mmHg; Na+PLASMA: 140 mEq/L;
K+PLASMA: 5.9 mEq/L. Diurese média calculada pelo volume em bolsa
SVD: 450 mL/dia; pHA: 7,25; ECG 12dN: espículas em ondas T.
d. Prescrição Sugerida:
• SE HIPERCALEMIA:
1. SG10% – 250 ml + 5 UI de insulina regular IV em 30 minutos
(repetir, à critério médico).
2. Polietilenossulfonato de cálcio (Sorcal®) – 1 envelope: diluir em
200 ml de água (VO) 8/8h até segunda ordem.
3. SF0,9% – 10 mL + Fenoterol (Berotec®) – 10 gotas: nebulização
por 15 minutos.
4. Bicarbonato de sódio: 1 mEq/kg de peso IV, lento até cada 4 horas
(corrigindo acidose e hipercalemia).
5. Gluconato de cálcio 10% – 1 amp (EV) lenta à critério médico.
• SINTOMÁTICOS:
1. Dipirona 1 ampola + AD 10 mL (EV) se dor ou febre.
2. Metoclopramida 1 ampola + AD 10 mL (EV) 8/8h se náuseas e/ou
vômitos.
3. Ranitidina 1 ampola (EV)/dia.
4. Oxigênio por cateter nasal a 3 L/min se SaO2 < 94%.
5. Monitorização cardíaca contínua.
6. Oximetria de pulso.
7. ECG 12 derivações 1/1h até segunda ordem.
8. PA não invasiva (NIBP).
9. Cuidados gerais 1/1h e comunicar anormalidades e monitorar
diurese.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Assegure-se de que o volume intravascular esteja expandido.
Mantenha pressão arterial média acima de 80 mmHg, hematócrito
acima de 30% e oxigenação tecidual adequada.
REFERÊNCIAS
1. Bellomo R, Ronco C, Kellum JA, Mehta RL, Palevsky P; Acute Dialysis Quality Initiative
workgroup. Acute Dialysis Quality Initiative workgroup. Acute renal failure - definition,
outcome measures, animal models, fluid therapy and information technology needs: the
Second International Consensus Conference of the Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI)
Group. Crit care. 2004; 8(4): R204-12.
2. Eknoyan G. Tubulointerstitial diseases and toxic nephropathies. In: Goldman L, Ausiello D.
Cecil textbook of medicine. 22. ed. Filadélfia: Saunders; 2004.
3. Yu L, Santos BFC dos, Burdmann E de A, Suassuna JHR, Batista PBP. Insuficiência renal
aguda. Braz J Nephrol 2007; 29 (Suppl 1).
4. Kellum JA, Ronco C, Mehta R, Bellomo R. Consensus development in acute renal failure:
the acute dialysis quality initiative. Curr opin crit care. 2005; 11(6): 527-32.
5. Lameire N, Van Biesen W, VanHolder R. Acute renal failure. Lancet. 2005: 365(9457): 417-
30.
6. Palevsky PM. Definition of acute kidney injury (acute renal failure). UpToDate. Literature
review current through: Jul 2020. | This topic last updated: May 26, 2020.
7. Pinto LMO, Martins HS. Insuficiência renal aguda e emergências dialíticas. In: Martins HS,
Velasco IT. Manual de Emergências Clínicas. Barueri: Manole; 2009.
8. Sinert R, Peacock JPR. Emergency Medicine: American College of Emergency Physicians.
In: Tintinalli JE, Kelen GD, Stapczynski JS. Acute renal failure. 6. ed. Missouri: Mosby;
2007.
9. Teixeira JCG. Distúrbios do metabolismo do potássio. Unidade de emergência: condutas em
medicina de urgência. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2011.
5.3
DISTÚRBIOS DE ÁGUA E SÓDIO
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Lucas Horta de Pádua da Silva
DEFINIÇÕES
• Nos adultos, a água corresponde a cerca 60% do peso corporal de
um homem adulto e 50% do peso de uma mulher adulta, sendo 2/3
localizados no compartimento intracelular e 1/3 no extracelular
(divididos em compartimentos intravascular e intersticial).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a. DISTÚRBIOS DA ÁGUA E SÓDIO
• Principais fatores de risco para os distúrbios de água e sódio
são: diarreia, vômitos, diabetes mellitus, hipocalemia,
hipercalemia, diabetes insipidus, tumores (hipotalâmico,
craniofaringioma, glioma, pinealoma ectópico), hemorragia,
trauma, inflamação neuronal, ingestão compulsiva de água, hiper-
reninemia etc.
• Fórmula da osmolaridade:
b. HIPONATREMIA
• Hiponatremia hipovolêmica: o estado hipovolêmico estimula a
liberação de ADH.
• Polidipsia primária.
• Potomania (consumo crônico excessivo de cerveja).
• Desnutrição.
HIPONATREMIA
QUADRO CLÍNICO
• Usualmente, até a concentração de 125 mEq/L de sódio, a
hiponatremia é assintomática.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: mucosas secas, olhos encovados, perda do turgor
cutâneo.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da hiponatremia leva em consideração a concentração de
sódio sérico [Na+] que se encontra abaixo do limite inferior da normalidade
(< 135 mEq/L). Requer análise clínica do paciente, podendo ser necessária a
dosagem de osmolaridade plasmática e urinária, sódio urinário e outros
exames para direcionar a causa do distúrbio hidroeletrolítico.
TRATAMENTO
O tratamento adequado da hiponatremia requer a consideração de
diversos fatores, como a velocidade de instalação, severidade e
sintomatologia.
a. Velocidade de Instalação:
Sabe-se que, em algumas situações em que a hiponatremia se desenvolve
em ambiente hospitalar (por exemplo, pós-operatório), fica mais difícil
determinar a duração desse distúrbio. Como após 48 horas de hiponatremia
os mecanismos adaptativos descritos acima já estão operantes, a prudência
indica tratar todos de forma devagar.
Hoje a recomendação é aumentar o [Na+] em < 10 meq/L nas primeiras
24 horas (ideal 6 a 8 meq) e < 18 meq/L nas primeiras 48 horas (evitar a
destruição da bainha de mielina em neurônios situados no sistema nervoso
central, especialmente na ponte – mielinólise pontina central).
b. Severidade:
Hiponatremias severas (< 115 meq/L) devem ser praticadas em ambiente
hospitalar, com prioridades em unidades fechadas, onde seja necessário um
controle frequente (por exemplo, de quatro em quatro horas) da natremia,
principalmente nas primeiras 24 horas de tratamento.
c. Sintomatologia:
Deve-se basicamente à velocidade de instalação e severidade.
Hiponatremias agudas e severas costumam ter sintomas que podem levar a
crises convulsivas (edema cerebral). Com isso, o [Na+] pode ser elevado em
até 2 meq/L/hr nas primeiras duas horas, até que aconteça uma melhora nos
sintomas. Logo após, a velocidade de correção deve ser reduzida para não
ultrapassar a recomendação de < 10 meq/L nas primeiras 24 horas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Algoritmo diagnóstico da hiponatremia.
Fonte: Adaptado de Riella MC, Pachaly MA, 2003
Fluxograma 2. Tratamento das hiponatremias.
Fonte: Adaptado de Riella MC, Pachaly MA, 2003
HIPERNATREMIA
A Hipernatremia é definida quando o sódio plasmático ultrapassa 145
mEq/L. Na hipernatremia, a transferência de água dos fluidos intracelulares
para os fluidos extracelulares provoca desidratação celular, especialmente
dos neurônios. Assim, como resultado, há desidratação cerebral, levando ao
estado de confusão mental e ao rebaixamento da consciência, podendo
causar hemorragia cerebral. Ademais, a hipernatremia é uma das causas do
estado hiperosmolar, o qual pode também ser ocasionado por ureia, glicose e
etanol.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Perda de água:
Perdas insensíveis (respiração e sudorese).
Hipodipsia.
Perda Gastrointestinais:
→ Vômitos, sondagem nasogástrica.
→ Diarreia osmótica (gastroenterite).
→ Catárticos osmóticos.
Perdas cutâneas.
→ Queimaduras.
→ Clima quente.
→ Exercício físico extenuante.
Sobrecarga de Sódio:
QUADRO CLÍNICO
• Desidratação.
• Fraqueza, sede intensa (polidipsia), confusão mental, convulsão.
• Poliúria, enurese, noctúria.
EXAME FÍSICO
As manifestações clínicas mais importantes do distúrbio de sódio são as
NEUROLÓGICAS.
Deve-se suspeitar de hipernatremia em qualquer paciente com alteração
do estado mental e história sugestiva de déficit de água ou aporte excessivo
de sódio.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Dosagem de Na+ urinário: concentrações entre 5 e 10 mEq/L
indicam concentração extracelular, enquanto concentrações acima de >
20 mEq/L indicam ganho de sódio ou natriurese.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• A estimativa clínica da volemia é essencial, devendo-se sempre
avaliar se o paciente encontra-se normovolêmico, hipovolêmico
(desidratado) ou com sinais de hipervolemia (hiperidratado,
hipertenso).
TRATAMENTO
• Independentemente da causa, a hipernatremia implica sempre um
déficit de água.
Salina a 0,45% 77 73
Glicose a 5% 0 40
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Algoritmo diagnóstico da hipernatremia.
Fonte: Adaptado de Riella MC, Pachaly MA, 2003
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente, 60 kg, sexo masculino, 50 anos, etilista
crônico, com histórico de TCE por queda da própria altura há 10 dias. É
admitido com quadro de confusão mental e relato de 3 crises
convulsivas, sendo a última há poucos minutos.
b. Exames Físicos:
• Reposição de sódio:
1 a 2 mEq/h – 3 horas – (solução de ataque)
0,5 mEq/ h – nas próximas 21 horas, completando reposição
em 24 horas.
Conversão: 360 / 17 = 21 g
210 mL de salina 3% já foram infundias em 3 horas, as próximas 21
horas deverão ser infundidos 490 mL de solução salina 3% (700 – 210 = 490
mL).
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
a. Hiponatremia
b. Hipernatremia:
REFERÊNCIAS
1. Afsari K. Central Pontine Myelinolysis. Annals Of Internal Med. 2002; 137(6): 137-553.
2. Barbosa AP. Distúrbios Hidroeletrolíticos. J Ped. 1999; 75(2): 223-33.
3. Braganca AC, Moyses ZP, Magaldi AJ. Carbamazepine Can Induce Kidney Water
Absorption By Increasing Aquaporin 2 Expression. Nephrol Dial Transplant. 2010; 25(12):
3840-5.
4. Cesar KR. Thiazide Induces Water Absorption In The Inner Medullary Collecting Duct Of
Normal And Brattleboro Rats. Am Physiol Soc. 1999; 277: 756-60.
5. Ingelfinger JR, Sterns RH. Disorders Of Plasma Sodium — Causes, Consequences, And
Correction. N Eng J Med. 2015; 372(1) :55-65.
6. Magaldi AJ, Seguro AC. A Possible Mechanism For Severe Symptomatic Hyponatremia
During Sibutramine Therapy. Am J Kidney Dis 2008; 52(6): 1197-8.
7. Moyses ZP, Nakandakari FK, Magaldi AJ. Fluoxetine Effect On Kidney Water Reabsorption.
Nephrol Dial Transplant. 2007; 23(4): 1173-8.
8. Riella MC, Pachaly MA. Princípios De Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos. 4. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
9. Verbalis JG, Goldsmith SR, Greenberg A, Schrier RW, Sterns RH. Hyponatremia Treatment
Guidelines 2007: Expert Panel Recommendations. The Am J Med. 2007; 120(11): 1-21.
10. Vieira N. Distúrbios Do Equilíbrio Hidroeletrolítico. Medicina, Ribeirão Preto. 2003; 36(2):
325-7.
11. Katz MA. Hyperglycemia-induced Hyponatremia - Calculation Of Expected Serum Sodium
Depression. N England Journal Of Medicine. 1973 out; 289(16): 843-844
5.4
DISTÚRBIOS DO METABOLISMO
DO POTÁSSIO
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Anna Luiza Souza
DEFINIÇÕES
O potássio é um íon que está, em sua maioria, concentrado no meio
intracelular (cerca de 120 a 150 mEq/L). Sua concentração plasmática gira
em torno de 3,5 a 5 mEq/L.
HIPOCALEMIA
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipocalemia:
• Perdas Renais:
Hiperaldosteronismo (tumor, hiperplasia de adrenais,
hipovolemia ou hipoperfusão renal): a aldosterona aumenta a
secreção potássica.
• Alterações genéticas:
→ Síndrome de Bartter: manifesta-se na infância e cursa com
hipocalemia + alcalose metabólica + hiper-reninemia +
hiperaldosteronismo + hiperplasia do aparelho justa glomerular +
hipomagnesemia (essa última é mais rara). Também resulta de
anormalidades na função tubular, primariamente no transporte de
cloreto de sódio na porção espessa da alça de Henle (ocorre,
portanto, uma discreta depleção de volume, seguida de ativação do
SRAA). Observação: hiperaldosteronismo + aumento do fluxo
distal (pelo defeito reabsortivo) = aumenta a secreção de potássio
e hidrogênio nos túbulos coletores, levando à hipocalemia e
alcalose metabólica.
→ Síndrome de Gitelman: cursa com os mesmos achados da
síndrome de Bartter, porém o defeito é no cotransportador sódio-
potássio do segmento inicial do túbulo distal.
QUADRO CLÍNICO
• Neuromusculares: fraqueza muscular, parestesias.
• Renais: concentração prejudicada, poliúria.
• Gastrintestinais: náuseas, íleo adinâmico.
• SNC: irritabilidade, letargia, coma.
• Cardíacos: arritmias tipo bigeminismo e/ou trigeminismo.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: fraqueza generalizada, torpor ou irritabilidade.
• Aparelho respiratório: hipoventilação (fraqueza da musculatura
ventilatória).
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Objetivos: Antes de fazer a reposição de potássio, assegurar um
débito urinário satisfatório. Na hipocalemia moderada (potássio
entre 2,5 e 3,0 mEq/L), a reposição deve ser feita opor via oral. Já
se a hipocalemia for grave (potássio menor que 2,5 mEq/L),
escolher a via endovenosa.
• Via endovenosa:
Aumenta-se a concentração de K+ nas soluções eletrolíticas
usais.
Observações:
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 53 anos, sexo masculino, mecânico,
tabagista e etilista crônico. Chega ao pronto-socorro com relato de
fraqueza muscular, diarreia aquosa volumosa, astenia e hiporexia.
Nega uso de medicamentos contínuos.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: PA 100 x 50 mmHg, FC 118 bpm, FR 20 rpm,
sudoreico, desidratado 2+/4+, normocorado, sem edemas.
Glasgow: 15.
c. Exames complementares: ECG: ritmo sinusal com QRS
estreito e onda T achatada. Exame laboratorial: Hb 11,5 g/dL;
leucócitos 11870 mm³; ureia 98,0 mg/dL; creatinina 1,7 mg/dL; K 2,4
mEq/L; Na 135 mEq/L; Mg 1,9 mg/dL.
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta livre.
2. Soro Fisiológico 0,9% (30 mL/kg): Corrigir o distúrbio primário
(diarreia) – tratar a desidratação.
3. Reposição de K+ 20 a 30 mEq/hora (40 mEq/hora é a velocidade
máxima).
4. (KCl 19,1% (IV): cada 1 mL tem 2,5 mEq de potássio).
5. Após a normalização do potássio, deve-se continuar a reposição
via oral por dias ou semanas:
HIPERCALEMIA
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipercalemia:
• Trimetoprim.
• AINEs.
• Insuficiência Adrenal:
Diminuição do efeito da aldosterona:
→ Doença renal: prejudica a secreção de renina.
→ Disfunção adrenal + crise addisoniana: altera a liberação de
aldosterona, salientada pela depleção de sódio.
→ Resistência tubular à ação da aldosterona.
• Redistribuição:
As acidoses promovem a entrada de íons hidrogênio em
excesso pelas células, levando a um movimento de potássio
para fora delas com o objetivo de manter a eletroneutralidade.
Uso de β-bloqueadores.
Intoxicação digitálica.
Exercícios extenuantes.
Administração de succinilcolina.
QUADRO CLÍNICO
• Neuromusculares: fraqueza muscular, paralisia flácida,
parestesias de face, língua, pés e mãos, irritabilidade muscular.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A história e o exame clínico são de suma importância para a condução
do diagnóstico de uma pressuposta hipercalemia, cuja comprovação
laboratorial é feita pela dosagem de potássio plasmático e/ou urinário, além
de exames complementares direcionados às etiologias suspeitas, conforme
citado anteriormente.
TRATAMENTO
• Via Endovenosa:
Gluconato de Cálcio 10%: dose 10 a 20 mL de início de 1 a 3
min por uma duração de 30 a 60 min. (estabilizador da
membrana celular dos cardiomiócitos – indicado em casos
de arritmia instalada).
• Via Oral:
Resina catiônica de troca: dose de 20 a 50 mg de início de 1 a
2 h por uma duração de 4 a 6 h. Essa via pode ser substituída
por 100 g dessa resina pela via retal com sorbitol.
• Via Inalatória
Salbutamol: dose de 10 a 20 mg de início de 30 min por uma
duração de 2 h.
• Observações:
Suspender medicamentos poupadores de potássio e tratar a
causa de base.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 82 anos, sexo feminino. Chega ao
pronto-socorro trazida por familiares com relato de prostração há 2
dias, oligúria e febre não termometrada. Paciente previamente
hipertensa, cardiopata, diabética e ex-tabagista. Faz uso regular de
Captopril 25 mg, Espironolactona 50 mg, Metoprolol 50 mg, Insulina
NPH 40 UI pela manhã.
b. Exames Físicos:
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta leve.
2. Soro Fisiológico 0,9% (25 a 30 mL/kg): Corrigir desidratação.
3. Gluconato de Cálcio a 10% 10 a 20 mL diluídos em 100 mL de
soro fisiológico ou em soro glicosado infundido em 2 a 5 min (em
casos de arritmia).
4. Repete-se o ECG. Caso persistam as alterações, pode-se repetir o
procedimento.
5. Glicoinsulinoterapia (solução polarizante): Insulina regular: 10
U para cada 50 gramas de glicose de 4/4 h (ficar atento a
hipoglicemia).
6. Inalação com β2 agonista Fenoterol ou Salbutamol: 10 gotas de
4/4 h.
7. Bicarbonato de sódio: 1 mEq/kg de peso IV lento de 4/4 h (é
pouco útil no caso de insuficiência renal, porém apresenta efeito
satisfatório em casos de acidose metabólica grave).
8. Diurético: Furosemida 1 mg/kg IV de 4/4 h.
9. Resinas de troca iônica: Sorcal 30 g diluído em 100 mL de
manitol a 10% ou 20% de 8/8 ou 4/4 h. Pode-se dobrar a dose se
necessário. Podem ser usadas via oral ou enema.
10. Diálise: a hemodiálise é mais eficaz que a diálise peritoneal. É
utilizada em hipercalemia associada à insuficiência renal e
refratárias às medidas clínicas anteriores.
11. Suspender medicações que causam hipercalemia – neste caso, a
Espironolactona e captopril.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Hipocalemia
O clinico deve basear o tratamento considerando se há urgência
para o paciente. Deve ter em mente as causas, e sua possível
reversão é um dos grandes objetivos. Deve definir se a causa
principal é uma translocação celular ou um déficit real de
potássio. O desequilíbrio acidobásico também deve ser
considerado. O clínico deve lembrar que a reposição de potássio
por via venosa é uma causa comum de hipercalemia intra-
hospitalar.
REFERÊNCIAS
1. Cavalcanti EF, Martins HSl. Clínica Médica: dos Sinais e Sintomas Ao Diagnóstico e
Tratamento. Barueri: Manole; 2007.
2. Évora PRB, Reis CL, Ferez MA, Conte DA, Garcia LV. Distúrbios do Equilíbrio
Hidroeletrolítico e do Equilíbrio Ácido-básico - Uma Revisão Prática. Medicina, Ribeirão
Preto. 1999; 32(4): 451-69.
3. Martins HS, Brandão Neto RA, Velasco IT. Emergências Clínicas: abordagem Prática. 3 ed.
São Paulo: Manole; 2007.
4. Netter F. Coleção Netter De Ilustrações Médicas: sistema Urinário. 2. ed. Rio De Janeiro:
Elsevier; 2014.
5. Riella MC, Pachaly MA. Metabolismo do Potássio. In: Riella MC. Princípios Da Nefrologia
E Distúrbios Hidroeletrolíticos. 5. ed. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
6. Barbosa AP, Sztajnbok J. Distúrbios Hidroeletrolíticos. J Ped, Rio De Janeiro. 1999; (Supl
2): 223-33.
7. Martins HS, Velasco IT. Manual de Emergências Clínicas. 8. ed. Barueri: Manole; 2013.
5.5
DISTÚRBIO DO METABOLISMO
DO CÁLCIO
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Felipe Silva de Oliveira
DEFINIÇÕES
• Usualmente, os níveis séricos de cálcio total são mantidos entre
8,8 e 10,4 mg/dL, e o cálcio iônico entre 1,10 mEq/L e 1,35
mEq/L.
HIPOCALCEMIA
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As principais causas de hipocalcemia:
QUADRO CLÍNICO
• Podem ser assintomáticos ou apresentar manifestações clínicas
que dependem do tempo da instalação do déficit e se
correlacionam com a hipomagnesemia. Normalmente não
aparecem até um cálcio sérico total de 7,0 a 7,5 mg/dL.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Eletrocardiograma (ECG): identificação de arritmias cardíacas
graves e/ou aumento do intervalo QT.
b. Dosagem de cálcio sérico total e iônico: comprovação
laboratorial do distúrbio.
c. Albumina sérica: na hipoalbuminemia, o nível de cálcio total
fica baixo, porém a fração biologicamente ativa permanece inalterada.
Nessa conjuntura, nitidamente, os sintomas de hipocalcemia não estão
presentes.
A correção matemática da calcemia poderá ser efetuada,
acrescentando-se 0,8 mg/ dL no nível de cálcio para cada grama de
albumina abaixo de 4 g/dL.
d. Dosagem dos níveis séricos de Calcitriol (vitamina), fósforo,
fosfatase alcalina e PTH intacto.
e. Marcadores de função hepática: ALT, AST, Bilirrubinas totais
e frações e coagulograma.
f. Função renal e íons: ureia, creatinina, potássio e magnésio.
DIAGNÓSTICO
A história e o exame clínico são de suma importância para a condução
do diagnóstico de uma pressuposta hipocalcemia, cuja comprovação
laboratorial é feita pela dosagem de cálcio total e iônico, além de exames
complementares direcionados às etiologias suspeitas, conforme citado
anteriormente.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Reposição de cálcio em casos sintomáticos:
Gluconato de cálcio (94 mg de cálcio elementar, 10 mL): 2
ampolas, por via venosa, em 10 a 20 minutos. Manter infusão
de 0,5 a 1,5 mg de cálcio elementar por kg por hora, durante 4
a 6h. Atenção: infusão rápida pode causar assistolia e
hiperfosfatemia, e deve-se corrigi-la primeiro por haver
risco de precipitação.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 39 anos, sexo feminino, no 11º pós-
operatório de uma tireoidectomia, deu entrada no pronto-socorro
apresentando quadro de rigidez muscular de início súbito associada à
disartria e trismo.
b. Exames Físicos:
HIPERCALCEMIA
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A primeira causa mais frequente de hipercalcemia é o
hiperparatireoidismo primário.
QUADRO CLÍNICO
• Formas leves: sintomas brandos, inespecíficos ou ausentes.
• Formas moderadas a graves: níveis séricos de cálcio acima de
12 mg:
EXAME FÍSICO
• Taquicardia (podendo apresentar taquiarritmias) e elevação da
pressão arterial sistêmica.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Eletrocardiograma (ECG): identificação de arritmias cardíacas
graves e/ou aumento do intervalo QT.
DIAGNÓSTICO
A história e o exame clínico são de suma importância para a condução
do diagnóstico de uma pressuposta hipercalcemia, cuja comprovação
laboratorial é feita pela dosagem de cálcio total e iônico, além de exames
complementares direcionados às etiologias suspeitas, conforme citado
anteriormente.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Objetivo: reduzir os níveis séricos de cálcio e, se possível, tratar
a doença de base. O tratamento reduz o cálcio sérico através da
inibição da reabsorção ou do aumento da excreção renal ou da
diminuição da absorção intestinal de cálcio. A escolha ideal de
tratamento depende da causa e da severidade da hipercalcemia.
Furosemida 20 a 40 mg EV;
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 68 anos, sexo feminino. Chega ao
pronto-socorro com relato de fraqueza muscular, vômitos, crise
convulsiva e rebaixamento do nível do de consciência. Familiar
informa que a paciente apresenta alteração na paratireoide, mas não
sabe relatar mais informações.
b. Exames Físicos
• Ectoscopia: PA 120 x 80 mmHg, FC 110 bpm, FR 20 rpm,
diaforética, hidratada, normocorada, sem edemas. Glasgow: 10.
c. Exames complementares: ECG: QRS estreito com onda p
visualizada e estreitamento do intervalo QT. Exame laboratorial: Hb
10,7 g/dL; leucócitos 8870 mm³; ureia 110,7 mg/dL; creatinina 2,21
mg/dL; k 4,2 mEq/L; Na 137 mEq/L; Mg 1,6 mg/dL; Ca sérico 13,7
mg/dL; PTH: 72 pg/mL; 25(OH)-vitamina D: 16 mg/dL.
d. Prescrição sugeridas:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Na hipocalcemia:
Em todos os casos, a suplementação oral de cálcio com 1 a 3
gramas de cálcio deve ser instituída. Os sais de cálcio são
administrados em doses fracionadas, e nos casos mais leves são
suficientes para a correção da hipocalcemia. O carbonato de
cálcio é o mais usado por ser o mais facilmente encontrado e o
mais barato. Cada grama de carbonato de cálcio fornece 400
mg de cálcio. Deve ser administrado com as refeições para
que ocorra a sua solubilização. As outras preparações de sais
de cálcio são o lactato, o Gluconato e o cloreto de cálcio.
• Na hipercalcemia:
Os diuréticos tiazídicos diminuem a excreção renal de cálcio e
aumentam sua reabsorção renal no túbulo distal, podendo,
algumas vezes, causar hipercalcemia. A persistência dessa
anormalidade aliada a um nível de PTH sérico normal ou
elevado após a suspensão do tiazídico sugere a presença de
hiperparatireoidismo primário.
REFERÊNCIAS
1. Riella MC. Metabolismo De Cálcio, Fósforo E Magnésio. In: Riella MC. Princípios De
Nefrologia E Distúrbios Hidroeletrolíticos. 4. ed. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan;
2003.
2. Guyton AC, Hall JE. Tratado De Fisiologia Médica. 11. ed. Rio De Janeiro: Elsevier; 2006.
3. Campos FS, Pinhati FR. O Controle Do Cálcio E A Hipocalcemia. Cad UNIFOA. 2013;
23(8): 77-85.
4. Porto CC. Exame Clínico: Bases Para A Prática Médica. 6. ed. Rio De Janeiro: Guanabara
Koogan; 2008.
5. Paula FJ, Foss MC. Tratamento Da Hipercalcemia E Hipocalcemia. Medicina, Ribeirão
Preto. 2013; 36: 70-4.
6. Dutra VF, Tallo FS, Rodrigues FT, Vendrame LS, Delascio RL, Lopes AC. Desequilíbrios
Hidroeletrolíticos Na Sala De Emergência. Rev Bras Clin Med. 2012; 10(5): 410-9.
7. Copês RM, Premaor MO, Zorzo P. Hipercalcemia: avaliação e princípios do tratamento.
Rev AMRIGS. 2013; 57(4): 328-34.
8. Sampaio EAS, Moysés RMA. Paratireoidectomia Na Doença Renal Crônica. J Bras Nefrol.
2011; 33(2): 31-4.
9. Azevedo M, Sales B, Maia L, Leal E. Interpretação Dos Testes De Função Tireoideana. In:
Vilar L (ed.). Endocrinologia Clínica. 3. ed. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
5.6
INTERPRETAÇÃO DA
GASOMETRIA ARTERIAL E
DISTÚRBIOS ÁCIDOS BÁSICOS
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Lucas Augusto Cecílio Chagas da Silva
DEFINIÇÕES
• Exame laboratorial realizado com amostras coletadas de sangue
arterial, o qual possui por objetivo avaliar a eficácia da troca de
gases pulmonares (gás carbônico e oxigênio), avaliar a integridade
do sistema de controle ventilatório, determinar os níveis
acidobásicos do sangue e monitorizar e avaliar a terapia
ventilatória em patologias respiratórias agudas e/ou crônicas.
PARÂMETROS VR
pH 7,35 a 7,45
PCO2 35 a 45 mmHg
SatO2 95-99%
BE -2 a +2 mEq/L
Glicose 60-100/dL
mais aparente?
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma: interpretando a gasometria arterial
Fonte: Adaptado Riella MC, Pachaly MA, 2003.
b. MECANISMOS COMPENSATÓRIOS
Como o pH plasmático depende diretamente da relação HCO3–/CO2, a
resposta compensatória de um distúrbio ácido básico (tabela 3) visa manter
essa relação o mais próximo possível do normal.
MECANISMO MECANISMO
DISTÚRBIO pH
PRIMÁRIO COMPENSATÓRIO
HCO3 acima do esperado: distúrbio misto (acidose respiratória com alcalose metabólica).
Acidose respiratória
HCO3 abaixo do esperado: acidose mista (respiratória e metabólica).
• Acidose metabólica
Por adição de ácido (AG aumentado/normoclorêmica):
acidose láctica, cetoacidose diabética, cetoacidose alcoólica,
jejum prolongado, azotemia devido a insuficiência renal aguda,
intoxicação por ácido acetilsalicílico.
• Alcalose metabólica
Responsiva a reposição de cloreto: vômitos e uso de cateter
nasogástrico para drenagem (HCl), diarreia crônica, uso de
diuréticos (depleção de K+), fibrose cística, correção de
hipercapnia crônica.
• Acidose respiratória
Aguda: acometimento do sistema nervoso central (TCE, coma,
intoxicações exógenas, síndrome de Guillain-Barré, miastenia
gravis), comprometimento osteomuscular torácico devido a
traumas (tórax instável, pneumotórax), edema pulmonar,
embolia pulmonar maciça, parâmetros inadequados de
ventilação mecânica.
• Alcalose respiratória
Aguda: febre e infecções sistêmicas, ansiedade, intoxicação por
salicilatos, AVE, altitudes elevadas, pneumopatias agudas,
atelectasia, parâmetros inadequados de ventilação mecânica.
• Casos especiais
Hipotensão/choque: quando em fase inicial, apresenta quadro
de acidose metabólica junto de alcalose respiratória. Já em fase
final tende a se tornar acidose mista.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 14 anos admitida em pronto-socorro de
Clínica Médica, relatando quadro de dor abdominal de início há 05 dias,
associado à turvação visual e queda do estado geral, com prostração e
vertigem. Relata que, concomitante às manifestações clínicas, houve
perda de peso de aproximadamente 5 quilos nos últimos 5 dias, com
poliúria. Paciente nega patologias pregressas ou uso de medicações de
uso contínuo.
BE: -18,6.
Interpretação Gasometria:
1°. Acidose Metabólica: pH < 7,35; HCO3< 22.
2°. Distúrbio Misto: PCO2 esperado: {HCO3} x 1,5 + 8
5,7 x 1,5 + 8: 16,5 +/- 2 - PCO2 encontrado: 13: Alcalose
Respiratória
3°. Calculo Ânion Gap: {Na} – {Cl} + {HCO3} = 141 –
114 + 5,7: 22 (cetoacidoses)
DICAS DO ESPECIALISTA
Neste capítulo, abordamos de forma prática a interpretação da gasometria
arterial. Seguem algumas dicas técnicas importantes sobre o procedimento
de coleta deste exame corriqueiro nas enfermarias e unidades de pronto-
atendimento.
a. PROCEDIMENTO:
• Higienizar as mãos.
Realizar desinfecção do frasco de heparina sódica com
Clorexidine alcóolico.
• Preparar ambiente.
Explicar para o paciente os riscos/benefícios e objetivos do
procedimento.
REFERÊNCIAS
1. Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio Ácido-base. Rev Fac Med Ribeirão Preto. 2008; 41(3):
301-11.
2. Pinto LMO, Martins HS. Insuficiência renal aguda e emergências dialíticas. In: Martins HS,
Velasco IT. Manual de Emergências Clínicas. Barueri: Manole; 2009.
3. Furoni RM, Pinto Neto SM, Giorgi RB, Guerra EMM. Distúrbios Do Equilíbrio Ácido-
básico. Rev Fac Ciên Méd Sorocaba. 2017; 12(1): 5-12.
4. Riella MC, Pachaly MA. Metabolismo Ácido-básico. In: Riella MC. Princípios De
Nefrologia E Distúrbios Hidroeletrolíticos. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
5. Rocco JR. Diagnóstico Dos Distúrbios Do Metabolismo Ácido-base. Rev Bras Ter Intensiva.
2003; 15(4): 184-92.
6. Lameire N, Biesen WM, VanHolder R. Acute renal failure. Lancet. 2005; 365(9457): 417-30.
7. Stefani SD, Barros E. Clínica Médica: Consulta Rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
5.7
SÍNDROME NEFRÓTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Rodolfo Pereira Espíndola
DEFINIÇÕES
A síndrome nefrótica caracteriza-se por proteinúria superior a 3,5 g/24h
no adulto ou maior do que 50 mg/kg/24h em crianças, além de
hipoalbuminemia e edema.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Podemos dividir as etiologias mais comuns da Síndrome nefrótica em
dois grandes grupos:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1- Fisiopatologia da síndrome nefrótica
Fonte: Riella MC, Pachaly MA, 2003.
QUADRO CLÍNICO
Os principais sinais e sintomas observados em pacientes com síndrome
nefrótica são:
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame de urina I: proteinúria nefrótica sempre presente,
cilindros granulosos; hematúria, leucocitúria e lipidúria podem ou não
estar presentes.
b. Proteinúria (urina 24 horas) ou Relação Proteína/creatinina:
proteinúria nefrótica (maior que 3,5g/dia em adultos ou > 50
mg/kg/24h em crianças - relação Proteína/creatinina > 3,5). Abaixo
destes valores a proteinúria é nefrítica.
c. Albumina sérica: Hipoalbuminemia geralmente abaixo de 3
g/dL que também integra a definição da síndrome.
d. Perfil Lipídico (Colesterol e Triglicérides): geralmente se
mostram elevados, mas isso não é definidor da síndrome.
Não havendo suspeitas evidentes das doenças de base, são comumente
solicitados os seguintes exames:
e) Glicemia;
f) Hemograma;
g) Exame parasitológico de fezes (associação com
Esquistossomose);
h) Pesquisa de anticorpos antinucleares;
i) Avaliação dos níveis de complemento;
j) Pesquisa de HBsAg e anticorpos anti-HBs e anti-HBc;
k) Pesquisa de anticorpos anti-HCV;
l) Pesquisa de anticorpos anti-HIV;
m) Exames específicos para outras doenças, de acordo com a
história e quadro clínico;
n) Exames para afastar neoplasias (principalmente em idosos).
o) Biópsia renal:
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado nos achados da história clínica, exames
complementares e anatomopatológicos. A presença dos sintomas clássicos
de edema (anasarca), proteinúria nefrótica quantificada e hipoalbuminemia
sugere síndrome nefrótica. A partir desta hipótese, a investigação da
etiologia definirá melhor o tratamento.
Afastando doenças de base que levam ao quadro de glomerulopatia
secundária com manifestação nefrótica, os achados histológicos ajudam
principalmente no diagnóstico das glomerulopatias primárias e confirmam
as secundárias, conforme apresentado na tabela 1.
Tipo Microscopia Imuno- Microscopia
histológico óptica fluorescência eletrônica
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Um homem negro previamente saudável, 40 anos, está sendo
avaliado por causa de uma urina espumosa associada a um edema
periorbital matutino e edema de tornozelos e dos pés. Ele ganhou 10
kg em duas semanas.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: sua pressão arterial é de 140 x 88 mmHg. O restante do
exame é normal, exceto pelo edema (cacifo 3+/4+), inelástico,
temperatura normal com pulsos pediosos presentes e simétricos.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Paciente não respondedor à terapia diurética deverá ter como
associação a albumina humana. A dose preconizada de albumina
humana 20% ou 25% (20 g ou 25 g/100 mL) é 0,5 g/kg de peso
infundida por via endovenosa em 1 hora, 2 a 3 vezes por dia. No
final da infusão de albumina, administra-se 1 a 2 ampolas de
furosemida 20 mg endovenoso para promover excreção de sódio e
aumento da diurese.
REFERÊNCIAS
1. Nachman PH, Jennette C, Falk RJ. Primary glomerular disease. In: Brenner BM. Brenner &
Rector’s The Kidney. 8. ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2008.
2. Schnaper HW, Robson AM, Kopp JB. Nephrotic Syndrome: Minimal Change Nephropathy,
Focal Glomeruloesclerosis, and Collapsing Glomerulopathy. In: Schrier RW (ed). Diseases
of the Kidney & Urinary Tract. 8. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007.
3. Polito MG, Moura LA, Kirsztajn GM. An overview on frequency of renal biopsy diagnosis
in Brazil: clinical and pathological patterns based on 9,617 native kidney biopsies. Nephrol
Dial Transplant. 2010; 25(2): 490-6.
4. Morales JV, Leal M, Lorentz A, Veronese FJ. Síndrome nefrótica primária em adultos:
estudo de coorte com seguimento de 17 anos. J Bras Nefrol. 2008; 30(supl): 47A.
5. Kodner C. Diagnosis and Management of Nephrotic Syndrome in Adults. Am fam phys.
2016; 93(6): 479-85.
6. CONITEC. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome Nefrótica Primária em
adultos. Protocolos e Diretrizes – CONITEC. [Internet]; 2019. [acesso em 20/05/2020].
Disponível em: http://conitec.gov.br/protocolos-e-diretrizes.
5.8
SÍNDROME NEFRÍTICA
Autores:
Robson Eugênio da Silva
Rodolfo Pereira Espíndola
DEFINIÇÕES
A síndrome nefrítica é caracterizada pelo início súbito de hematúria
dismórfica, edema, proteinúria subnefrótica, oligúria, hipertensão arterial
sistêmica e déficit da função renal, sendo a hematúria dismórfica um achado
que obrigatoriamente deve estar presente, associada a pelo menos uma das
outras anormalidades.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A incidência global estimada da doença é de 472.000 casos por ano, dos
quais 77% ocorrem em países em desenvolvimento. A incidência diminuiu
nas últimas décadas, possivelmente devido ao uso generalizado de
antibióticos associado a melhores cuidados de saúde e melhores condições
socioeconômicas e nutricionais.
A síndrome nefrítica é um processo inflamatório agudo que envolve os
glomérulos renais. Várias doenças podem se manifestar com síndrome
nefrítica. As causas são múltiplas, podendo ser divididas em infecciosas,
não infecciosas e sistêmicas.
QUADRO CLÍNICO
O processo inflamatório glomerular resulta em redução na taxa de
filtração glomerular (oligúria e/ou anúria), aumentando a pressão
hidrostática e retenção de sódio e água dentro dos vasos sanguíneos e
congestão, levando a:
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Edema de membrso inferiores com sinal do cacifo
(anasarca menos comum), edema periorbitário matinal (fácies
renal), pressão arterial ≥ 140 x 90 mmHg e taquicardia.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Exame simples de urina (EAS) e pesquisa de dimorfismo
eritrocitário: Hematúria dismórfica e cilindros hemáticos; proteinúria.
b. Proteinúria (urina 24 horas) ou Relação Proteína/creatinina:
proteinúria nefrítica (menor que 3,5g/dia em adultos ou < 50
mg/kg/24h em crianças - relação Proteína/creatinina < 3,5). Acima
destes valores, a proteinúria é nefrótica.
c. Dosagem de complemento C3, C4 CH50: baixos níveis séricos
de C3. Podem estar normais ou diminuídos o C4 e o CH50.
d. Cultura de orofaringe para SBHGA: pode corroborar o
diagnóstico ou apenas representar o estado de portador (não realizado
de rotina).
e. Dosagem de anticorpo antiestreptolisina O (ASLO): títulos
aumentados confirmam infecção recente, sendo que se elevam após a
infecção de orofaringe (não realizado de rotina).
f. Dosagem de anticorpo antidesoxirribonuclease B (DNase B):
títulos aumentados confirmam infecção recente de quadros de infecção
estreptocócica cutânea (não realizada de rotina).
g. Dosagem de ureia e creatinina: acompanhamento da função
renal.
h. Biópsia renal:
• Indicação:
História familiar de Nefropatia.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado nos achados da história clínica, exames
complementares e anatomopatológicos. A presença dos sintomas clássicos
de edema, hipertensão arterial e oligúria associados à EAS com hematúria
dismórfica, cilindros hemáticos, proteinúria subnefrótica, além de baixos
níveis séricos do complemento C3, sugere síndrome nefrítica. A partir desta
hipótese, a investigação da etiologia definirá melhor o tratamento.
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Menino de 6 anos é levado ao pronto-atendimento
devido a quadro de dispneia iniciado há uma hora. A mãe refere que
seu filho apresenta, há dois dias, edema bipalpebral, especialmente
pela manhã. Além disso, acha que ele está desidratado, pois tem
notado sua urina muito escura e em pouca quantidade. Na anamnese
dirigida, relata prurido estrófulo, especialmente em membros
inferiores, necessitando de tratamento com Cefalexina por dez dias no
mês passado.
b. Exames Físicos:
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta VO hipossódica.
2. Restrição hidrossalina.
3. Furosemida 20 mg/mL – 1mg/Kg/dose uma a duas vezes ao dia.
4. (Ajuste do diurético conforme melhora do edema – avaliação
clínica.)
5. Considerar o uso associado de outro anti-hipertensivo se não
houver controle pressórico adequado com dieta e o uso da
furosemida.
DICAS DO ESPECIALISTA
• O quadro de lesão renal aguda observado na GNPE é transitório e
de curta duração. Os casos mais graves podem cursar com uremia
e distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos próprios da LRA
(lesão renal aguda) e pode ser necessário tratamento dialítico.
REFERÊNCIAS
1. Abensur H. Especialidades Médicas-nefrologia. Rev Med. 2012; 91: 49-50.
2. Çamlar AS, Soylu A, Akil İ, Ünlü M, Coşkun Ş, Ertan P, et al. Henoch–Schonlein purpura,
post-streptococcal glomerulonephritis and acute rheumatic carditis after Group A β-
haemolytic streptococcal infection. Paediatr Int Child Health. 2018; 38(1): 73-5.
3. Barros RT, lves MAR, Kirztajn GM, Sens YAS, Dantas M. Glomerulopatias: Patogenia,
Clínica E Tratamento. São Paulo: Editora Sarvier; 2012.
4. Bingler MA, Ellis D, Moritz ML. Acute Post-streptococcal Glomerulonephritis In A 14-
month-old Boy: Why Is This Uncommon. Pediatr Nephrol. 2007; 22(3): 448.
5. Bozabali S, Bayraktar E, Kocabaş CN. Acute Rheumatic Fever And Acute Post-
streptococcal Glomerulonephritis Rarely Seen Together. Minerva Pediatr. 2017; 69(1): 83-
5.
6. Couser WG. Patogênese E Tratamento Da Glomerulonefrite - uma Atualização. J Bras
Nefrol. 2016; 38(1): 107-22.
7. Dagan R, Cleper R, Davidovits M, Sinai-Trieman L, Krause I. Post-infectious
Glomerulonephritis In Pediatric Patients Over Two Decades: Severity-associated Features.
Isr Med Assoc J. 2016; 18(6): 336-40.
8. Ilyas M, Tolaymat A. Changing Epidemiology Of Acute Post-streptococcal
Glomerulonephritis In Northeast Florida: A Comparative Study. Pediatr Nephrology. 2008;
23(7): 1101-6.
9. Jellouli M, Maghraoui S, Abidi K, Hammi Y, Goucha R, et al. Outcome Of Rapidly
Progressive Glomerulonephritis Post-streptococcal Disease In Children. Nephrol Ther.
2015; 11(6): 487-91.
10. Kari JA, Bamagai A, Jalalah SM. Severe Acute Post-streptococcal Glomerulonephritis In
An Infant. saudi. J Kidney Dis Transplant. 2013; 24(3): 546.
11. Kliegman RM, Stanton BMD, St Geme J. Nelson Textbook Of Pediatrics. Philadelphia:
Elsevier Health Sciences; 2011.
12. Kumar V, Abbas AK, Aster JC. Robbins And Cotran Pathologic Basis Of Disease.
Philadelphia: Elsevier Health Sciences; 2014.
13. Lopes AC. Tratado De Clínica Médica. São Paulo: Roca; 2009.
14. Mcintosh RM, Garcia R, Rubio L, Rabideau D, Allen JE, Carr RI, et al. Evidence For An
Autologous Immune Complex Pathogenic Mechanism In Acute Poststreptococcal
Glomerulonephritis. Kidney Int. 1978; 14(5): 501-10.
15. Rodriguez-Iturbe B, Haas M. Post-Streptococcal Glomerulonephritis. In: Ferretti JJ,
Stevens DL, Fischetti VA (eds). Streptococcus pyogenes: Basic Biology to Clinical
Manifestations [Internet]. Oklahoma City (OK): University of Oklahoma Health Sciences
Center; 2016.
16. Rodriguez-iturbe B, Musser JM. The Current State Of Poststreptococcal
Glomerulonephritis. J Am Soc Nephrol. 2008; 19(10): 1855-64.
17. Steer AC, Danchin MH, Carapetis JR. Group A Streptococcal Infections In Children. J
Paediatri Child Health. 2007; 43(4) :203-13.
18. Van Driel ML, De Sutter AI, Habraken H, Thorning S, Christiaens T. Different Antibiotic
Treatments For Group A Streptococcal Pharyngitis. Cochrane Database Syst Rev. 2013;
30(4): CD004406.
6.1
EXACERBAÇÃO DE ASMA
Autora:
Rafaela Boaventura Martins
DEFINIÇÕES
• Asma: doença pulmonar obstrutiva caracterizada pela inflamação
crônica das vias aéreas, com limitação variável ao fluxo aéreo. A
limitação ao fluxo aéreo é reversível espontaneamente ou com
tratamento.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• A EA geralmente ocorre em reposta à exposição a um agente
externo, conhecido como gatilho ou trigger. É um evento de grande
morbidade, com custo elevado para o sistema de saúde e associado
a absenteísmo na escola e no trabalho.
QUADRO CLÍNICO
• As manifestações usualmente ocorrem de forma gradual, com
deterioração clínica progressiva em um período de dias a semanas.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: avaliação do estado geral, nível de consciência,
habilidade em completar frases, grau de hidratação, palidez,
cianose, taquipneia (frequência respiratória > 30 ipm), taquicardia
(frequência cardíaca > 110 bpm), temperatura, saturação periférica
de oxigênio (SpO2).
EXAMES COMPLEMENTARES
A realização de exames complementares se aplica à avaliação do
diagnóstico diferencial, comorbidades e complicações.
Radiografia de tórax: indicada se exacerbação grave ou suspeita de
comorbidade/complicações, como pneumonia, insuficiência cardíaca e
pneumotórax. Não recomendada rotineiramente.
Gasometria arterial: sinais/sintomas de quadro grave, pico de fluxo
expiratório (PFE) < 50% do valor previsto, SpO2 < 93% e naqueles que não
respondem ao tratamento inicial. PaO2 < 60mmHg e/ou PaCO2 > 45 mmHg
indicam falência respiratória.
Hemograma: na suspeita clínica de infecção.
Eletrólitos: presença de comorbidade cardiovascular, uso de diuréticos
ou altas dose de B2-agonistas, especialmente se associados a corticoides
sistêmicos.
Avaliação da função pulmonar: fortemente recomendada, se possível, e
sem atrasar o início do tratamento. Medida do PFE ou do volume
expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) deve ser registrada e
utilizada como parâmetro de comparação com a função pulmonar prévia,
sendo útil na avaliação da resposta à terapia instituída. Deve ser reavaliada
em uma hora e periodicamente.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico da EA é essencialmente clínico. A realização de exames
complementares não é necessária na maioria dos casos atendidos nos
serviços de urgência.
A classificação da intensidade da exacerbação (Tabela 1) é
fundamental para definição do manejo do paciente, baseada em dados
clínicos (estado geral, sinais vitais e ausculta pulmonar) e funcionais
(espirometria ou medida do PFE).
Notas: MV: murmúrio vesicular. a: A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos, indica a
classificação geral da crise. b: Músculos intercostais, fúrcula ou esternocleidomastoideo.
Tromboembolia pulmonar
Bronquiolites
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Gotas (solução para nebulização, 5 mg/mL) 8-10 gotas (2,5-5 mg) a cada 20 min, por 3 doses
FENOTEROL
4-8 jatos, a cada 20 minutos, por 3 doses
Spray (100 mcg/jato)
Dose máxima: 10 jatos
• Sulfato de magnésio:
• Indicado nas exacerbações muito graves, sem reposta ao
tratamento usual.
• Pode ser utilizado na dose de 2 g (diluído em 50 mL de solução
fisiológica a 0,9%), infundida lentamente em 20 minutos, em
dose única, reduzindo a admissão hospitalar naqueles com VEF1
< 25-30% do predito.
• Não recomendado rotineiramente.
• Adrenalina:
• Indicada em associação à terapia padrão nos casos de EA
associada a anafilaxia ou angioedema, via intramuscular.
• Não recomendado rotineiramente.
• Oxigenioterapia com hélio:
• Pode ser considerada naqueles que não respondem à terapia.
• Não recomendada rotineiramente.
• Metilxantinas (aminofilina e teofilina):
• Não são recomendados rotineiramente; possuem pobre eficácia e
baixo perfil de segurança, com interações medicamentosas e
efeitos adversos cardiovasculares, neurológicos e
gastrointestinais.
• Antagonistas do receptor de leucotrieno:
• Sem evidência que suporte seu uso na exacerbação.
• Antibioticoterapia:
• Não há evidência que suporte o uso rotineiro de
antibioticoterapia no tratamento da EA a menos que exista forte
evidência de infecção pulmonar (febre, escarro purulento ou
evidência radiológica de pneumonia).
• Sedativos:
• Ansiolíticos e hipnóticos devem ser evitados devido ao efeito
depressor no sistema respiratório.
b. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Oxigenioterapia:
• A meta é manter a SpO2 93-95%, através de cânula nasal ou
máscara.
• Medidas gerais:
• Afastar possíveis exposições ambientais e ocupacionais a
alérgenos.
• Cessação do tabagismo.
• Vacinação anual contra Influenza. Orientar imunização contra
Pneumococo (uso sequencial da vacina 13-valente conjugada
seguida da vacina polissacarídica 23-valente, após 6 meses).
• Tratamento adequado de todas as comorbidades associadas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte : Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia 2012
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 23 anos, asmático, em
uso de formoterol + budesonida 12/400 mcg a cada 12 horas, há 3 dias
evoluindo com piora da dispneia associada a sibilos e tosse seca. Início
após quadro de resfriado comum. Nega febre.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: PA 100 x 70 mmHg, FC 103 bpm, FR 24 ipm, SpO 2
1. Jejum.
2. Inalação: SF 0,9% 3 mL + 10 gotas fenoterol + 40 gotas de
brometo de ipratróprio + 6L O2 ou ar comprimido a cada 20
minutos na primeira hora, via nebulizador.
3. Prednisolona 50 mg via oral, agora.
4. Reavaliação clínica e do PFE em 30 minutos.
5. Suporte de oxigênio para SpO2 > 92%.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A monoterapia com SABA não é mais indicada na asma.
• Para as crises domiciliares leves de EA, indica-se alívio com B2-
agonista de longa ação associado ao corticoide inalatório.
• Fique atento: nem tudo que “chia” é asma! Avaliar sempre os
diagnósticos diferenciais. Insuficiência cardíaca descompensada
(“asma cardíaca”) e doença pulmonar obstrutiva crônica
exacerbada são alternativas para casos de sibilos difusos; obstrução
brônquica por neoplasia e corpo estranho são diferenciais para
sibilos localizados.
REFERÊNCIAS
1. Schor N. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM-UNIFESP – Pneumologia. 2.
ed. São Paulo: Manole; 2014
2. GINA. Global Strategy for Asthma Management and Prevention Global Initiative For
Asthma (GINA). GINA. [Internet]. [acesso em 29 de junho de 2020]. Disponível em:
hhtp://www.ginasthma.org.
3. Edmonds Ml, Milan SJ, Camargo Jr CA, Pollack CV, Rowe BH. Early use of inhaled
corticosteroids in the emergency department treatment of acute asthma. Cochrane Database
Syst Rev. 2012; 12: CD002308.
4. Rodrigo GJ, Castro-Rodriguez JA. Anticholinergics in the treatment of children and adults
with acute asthma: a systematic review with meta-analysis. Thorax. 2005; 60: 740-6.
5. Griffiths B, Ducharme FM. Combined inhaled anticholinergics and short-acting beta2-
agonists for initial treatment of acute asthma in children. Cochrane Database Syst Rev. 2013;
8: CD000060.
6. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma. J Bras Pneumol. 2012; 38(supl 1): S1-46
7. Pizzichini MMM, Carvalho-Pinto RM, Cançado JED, Rubin AS, Cerci Neto A, Cardoso AP,
et al. Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia – 2020. J Bras Pneumol. 2020; 40(1).
6.2
DOENÇA PULMONAR
OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
Autor:
Gustavo Frazatto Medeiros de Miranda
DEFINIÇÕES
• DPOC: alteração pulmonar crônica caracterizada por bronquite
crônica e enfisema, que gera obstrução ao fluxo aéreo.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• Tabagismo: principal fator de risco (80 a 90% dos pacientes).
• Outros gases e fumaças (10 a 20%) – causas ocupacionais,
exposições: fogão a lenha, carvão ou queima de biomassa.
QUADRO CLÍNICO
• Nas fases iniciais, o paciente pode ser assintomático ou
apresentar tosse e expectoração crônicas. Com o tempo, surge
dispneia da doença, surge a dispneia, que é progressiva,
inicialmente aos grandes esforços (subir ladeira ou escada);
posteriormente, aos médios (trocar de roupa, tomar banho,
caminhar no plano) e pequenos (higiene pessoal, caminhar dentro
de casa, alimentar-se). Habitualmente, a dispneia surge depois
da tosse e expectoração. Por serem pacientes com mais de 40
anos e sedentários, frequentemente o cansaço é atribuído à idade
ou descondicionamento físico. A dispneia predispõe ao estilo de
vida sedentário, reduzindo a capacidade física e diminuindo a
realização das atividades diárias.
EXAME FÍSICO
• Normal na doença precoce.
• Tórax em tonel – aumento do diâmetro anteroposterior
(hiperinsuflação pulmonar).
• Ausculta pulmonar usualmente normal ou globalmente reduzida.
• Dessaturação na doença avançada.
• Baqueteamento não é esperado na DPOC, e quando presente
deve-se investigar outras patologias, como neoplasia e fibrose
pulmonar.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Espirometria: distúrbio ventilatório obstrutivo pós-
broncodilatador, caracterizado pela relação entre volume expiratório
forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada (VEF1/CVF)
menor que 0,70 (ou menor que o limite inferior da normalidade).
b. Exames de imagem: auxiliam a excluir outras doenças, como
bronquiectasias, câncer de pulmão e cardiopatias, além de avaliarem o
parênquima pulmonar.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O quadro clínico do paciente com DPOC está destacado no
Quadro 1.
Expectoração crônica
Predomínio diurno
Expectoração mucoide
DPN – Dispneia Paroxística Noturna; CVF – capacidade vital forçada; VEF1 – volume expiratório forçado no
primeiro segundo; IC – Insuficiência Cardíaca; Bd: Broncodilatador
Caminha mais devagar que pessoas da mesma idade ou quando anda no plano em seu próprio ritmo tem que
2
interromper a marcha para respirar
3 Interrompe a marcha após cerca de 100 metros ou após andar poucos minutos no plano
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Todos os pacientes
• Cessação do tabagismo é o principal modificador da doença.
Abordagem em todas as consultas, e encaminhamento para grupo
multidisciplinar quando o paciente apresentar dificuldade em
cessar o tabagismo. A exposição à fumaça de biomassa também
deve ser combatida.
d. EXACERBAÇÕES
Hipoxemia grave (PaO2 < 40 mmHg) e/ou acidose respiratória grave Início de novos sinais físicos
pH <7,25), apesar do oxigênio suplementar e ventilação não invasiva (por exemplo, cianose, edema periférico)
e. OXIGENOTERAPIA
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 68 anos, com
antecedente prévio de tabagismo, por 35 anos, tendo cessado há 4
anos. Refere piora da dispneia nos últimos meses, especialmente para
subir escadas e caminhar mais rapidamente. Nega piora da tosse ou
aumento/mudança da expectoração. Sem queixas gástricas ou nasais.
Sem uso de medicação atual, e com história de uma exacerbação no
último ano, com necessidade de uso de antibioticoterapia, sem
necessidade de internação. Vacinações atrasadas.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: Afebril, normocárdico, eupneico e normotenso.
SpO2: 93%. Aumento do diâmetro anteroposterior.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Atentar para a necessidade em utilizar corticoterapia inalatória
para pacientes com exacerbação frequente, asma associada ou
contagem de eosinófilos elevados e doença progressiva.
REFERÊNCIAS
1. Jardim J, Oliveira J, Nascimento O. II Consenso de DPOC da Sociedade Brasileira e
Pneumologia e Tisiologia. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Clínica Médica e
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia; 2004 (Suplemento).
2. Camelier AA, Winter DH, Jardim JR, Barboza CE, Cukier A, Miravitlles M. Alpha-1
antitrypsin deficiency: diagnosis and treatment. J Bras Pneumol. 2008; 34(7): 514-27.
3. Qiu S, Zhong X. Macrolides: a promising pharmacologic therapy for chronic obstructive
pulmonary disease. Ther Adv Respir Dis. 2016: 1753465816682677.
4. Vogelmeier CF, Criner GJ, Martinez FJ, Anzueto A, Barnes PJ, Bourbeau J, et al. Global
Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Lung
Disease 2017 Report. Am J Respir Crit Care Med. 2017; 195(5): 557-82.
5. Montes de Oca M, López Varela MV, Acuña A, Schiavi E, Rey MA, Jardim J, et al. ALAT-
2014 Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) Clinical Practice Guidelines:
questions and answers. Arch Bronconeumol. 2015; 51(8): 403-16.
6. GOLD. Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of COPD, Global
Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) 2020. GOLD. [Internet]; 2020.
[acesso em 22 de junho de 2020]. Disponível em:https://goldcopd.org/wp-
content/uploads/2019/11/GOLD-2020-REPORT-ver1.0wms.pdf.
6.3
TROMBOEMBOLIA PULMONAR
AGUDA
Autores:
Camila Melo de Oliveira Costa
Maíra Thomazini Rodrigues
Jaquelina Sonoe Ota Arakaki
DEFINIÇÕES
• Tromboembolia pulmonar (TEP) aguda: obstrução aguda da
circulação arterial pulmonar por coágulos sanguíneos, geralmente
provenientes da circulação venosa sistêmica, levando à interrupção
total ou parcial do fluxo sanguíneo pulmonar da área afetada.
ETIOPATOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
• A base fisiopatológica da doença se relaciona à tríade de
Virchow: estase venosa, lesão endotelial e estado de
hipercoagulabilidade. Fatores que determinam alguma alteração
em quaisquer um desses elementos aumentam a chance de o
indivíduo apresentar um evento tromboembólico venoso.
QUADRO CLÍNICO
• A doença caracteriza-se por uma grande variabilidade clínica,
além de sintomas e sinais pouco específicos.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: na maioria dos casos, o exame físico pode estar
praticamente normal. Cianose, estase jugular, aumento do tempo
de enchimento capilar e hipotensão arterial podem estar presentes
em casos mais graves.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Radiografia de tórax: os achados são inespecíficos e podem estar
ausentes em até 12% dos casos. Derrame pleural, atelectasias laminares,
sinais de oligoemia regional (sinal de Westmark), opacidades
pulmonares com base pleural (corcova de Hampton) e proeminência das
artérias pulmonares podem ser observados. É útil na avaliação de
possíveis diagnósticos diferenciais.
b. Eletrocardiograma (ECG): taquicardia sinusal é o achado mais
encontrado. Nos casos mais graves, sinais de sobrecarga de câmaras
direitas podem estar presentes, como o padrão “S1Q3T3” (presença
onda S em D1, onda Q em D3 e inversão de onda T em D3), desvio do
eixo para a direita, onda P pulmonale e bloqueio de ramo direito.
c. Gasometria arterial: presença de alterações de trocas gasosas,
como hipoxemia e hipocapnia secundária à hiperventilação. A ausência
dessas alterações, no entanto, não exclui o diagnóstico.
d. Biomarcadores cardíacos: troponina I, BNP e NT pró-BNP,
apesar de não serem úteis para o diagnóstico, possuem importância
durante a investigação de diagnósticos diferenciais, além de relevância
prognóstica, como veremos adiante.
e. D-dímero (DD): produto de degradação da fibrina, estará elevado
na TEP devido à ativação simultânea da fibrinólise durante a formação
dos trombos. Não é específico de TEV, sendo comum seu aumento em
situações como gestação, puerpério, doença vascular periférica,
neoplasia, período pós-operatório, insuficiência renal, sepse e outros
processos inflamatórios. Além disso, costuma apresentar níveis mais
elevados com o avançar da idade. Um resultado negativo associado à
probabilidade clínica baixa ou intermediária é capaz de excluir o
diagnóstico da TEP, sem necessidade de exames complementares. Em
pacientes com alta probabilidade clínica, outros exames serão
necessários e não é recomendada a dosagem do DD, uma vez que
mesmo negativo não exclui com segurança o diagnóstico, e seu
resultado positivo não contribui na investigação diagnóstica.
f. Ecocardiografia transtorácica: grande importância no
diagnóstico da TEP aguda com instabilidade hemodinâmica, uma vez
que os achados de sobrecarga ou disfunção do ventrículo direito (VD)
e/ou de hipertensão pulmonar podem ajudar no diagnóstico e na decisão
terapêutica. Um exame normal em um doente instável torna o
diagnóstico de TEP improvável. Além disso, possui importância na
estratificação prognóstica desses pacientes. A ecocardiografia à beira do
leito deve ser realizada precocemente na suspeita da TEP aguda de alto
risco.
g. Ultrassonografia com doppler venoso de membros inferiores
(US): apresenta boa sensibilidade e especificidade nos pacientes com
sinais e sintomas de TVP. Nos casos em que o DD for positivo, a US
poderá ser realizada como segundo passo da estratégia diagnóstica, caso
o paciente não apresente condições de realizar a angiotomografia de
tórax.
h. Angiotomografia computadorizada (angio-TC) de tórax: exame
de escolha na investigação da TEP aguda, com alta sensibilidade e
especificidade (98% e 94% respectivamente). Os aparelhos com
multidetectores contribuíram de forma significativa no diagnóstico das
lesões em artérias pulmonares segmentares e, especialmente, em ramos
subsegmentares (Figura 1). Outra vantagem do uso da angio-TC de
tórax é a possibilidade de avaliar o parênquima pulmonar e a circulação
pulmonar. Achados como aumento do tamanho das câmaras cardíacas
direitas, retificação ou desvio do septo interventricular em direção ao
ventrículo esquerdo, aumento do diâmetro do tronco e das artérias
pulmonares e o refluxo de contraste para o leito hepático podem estar
presentes, sugerindo disfunção cardíaca. Além disso, pode auxiliar na
procura por diagnósticos alternativos. As limitações do exame
encontram-se nos pacientes com doença renal ou naqueles alérgicos ao
contraste iodado.
Na imagem A, tem-se falha de enchimento desde a bifurcação do tronco da artéria pulmonar (à cavaleira) se estendendo
pelas artérias pulmonares (seta). Evidencia-se ainda dilatação do tronco da artéria pulmonar (3,1 cm) e pobreza vascular
bilateralmente. Na imagem B, veem-se falhas de enchimento concêntricas com pequeno halo de contraste associada à
dilatação do vaso acometido; obstrução parcial (setas) ou obliteração completa do vaso (ponta de seta). Na imagem C,
percebe-se a relação entre o diâmetro do ventrículo direito e esquerdo > 1, sugerindo aumento da pressão na circulação
pulmonar.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. Escores de probabilidade clínica e orientação de investigação
diagnóstica
Hemoptise 1 1
Intermediária 2-6 -
Alta ≥7 -
Ou
TEP provável ≥5 ≥2
Frequência cardíaca:
75-94 bpm 3 1
≥95 bpm 5 2
Hemoptise 2 1
Alta ≥11 ≥5
Ou
TEP provável ≥6 ≥3
TVP: tromboembolia venosa, TEP: tromboembolia pulmonar, bpm: batimentos por minuto.
Saturação de pulso de oxigênio > 94% Ausência de edema assimétrico de membros inferiores
Sexo masculino + 10 -
História de câncer + 30 1
f ≥ 30ipm + 20 -
T < 36°C + 20 -
(1) Um total de pontos para cada paciente é obtido somando-se a idade do paciente em anos e os pontos para cada preditor,
quando presente. 65 ou menos pontos: classe I (muito baixo risco); 66-85: classe II (baixo risco); 86-105: classe III (risco
intermediário); 106-125: classe IV (alto risco); > 125: classe V (muito alto risco).
(2) Um total de pontos para cada paciente é obtido através da soma de pontos. 0 pontos: baixo risco, 1 ou mais: alto risco.
Alto risco + + + +
Intermediário Alto - + + +
Baixo - - - -
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• O tratamento deve ser guiado de acordo com o risco de morte
nos primeiros 30 dias, conforme mencionado acima.
FIBRINOLÍTICOS
MEDICAMENTO DOSE
Alteplase (rtPA) 100 mg em 2 horas ou 0,6 mg/Kg (máximo 50 mg) IV, em 15 minutos
Estreptoquinase 1.500.000 UI IV em 2h ou 250.000 UI em 30 minutos, seguido por 100.000 UI/h por 12-24h
** (Re)iniciar heparina quanto TTPA estiver menor que duas vezes o valor normal.
ANTICOAGULANTES
MEDICAMENTO DOSE
Foundaparinax < 50 Kg: 5 mg/dia SC; 51-100 Kg: 7,5mg/dia SC; >100 Kg: 10mg/dia SC
MEDICAMENTO DOSE
80 UI/Kg (bolus IV), seguido de 18UI/Kg/h IV. Controle com TTPa a cada 4-6h para 1,5 a 2x o limite
HNF
superior da normalidade
Dose inicial de 5 a 10 mg/d VO, sendo a primeira tomada nas primeiras 24 horas do evento agudo,
Varfarina* simultaneamente ao uso da heparina. Ajuste de dose conforme o INR, com o objetivo de manter entre
2-3.
* A heparina deve ser mantida simultaneamente com a varfarina por pelo menos cinco dias e após dois dias consecutivos com
RNI adequado. Existe interação medicamentosa c com vários fármacos, havendo necessidade de maior vigilância, além de
interferência alimentar.
e. SITUAÇÕES ESPECIAIS::
DICAS DO ESPECIALISTA
• O padrão eletrocardiográfico “S1Q3T3”, apesar de muito
associado ao diagnóstico de TEP, tem baixa sensibilidade e pode
ser encontrado em outras situações relacionadas a cor pulmonale
agudo.
REFERÊNCIAS
1. Meyer G, Vicaut E, Danays T, Agnelli G, Becattini C, et al. Fibrinolysis For Patients With
Intermediate-risk Pulmonary Embolism. N Engl J Med. 2014; 370(15): 1402-11.
2. Agnelli G, Buller HR, Cohen A, Curto M, Gallus AS, Johnson M, et al. Oral Apixaban For
The Treatment Of Acute Venous Thromboembolism. N Engl J Med. 2013; 369(9): 799-808.
3. Schulman S, Kearon C, Kakkar AK, Mismetti P, Schellong S, et al. Dabigatran Versus
Warfarin In The Treatment Of Acute Venous Thromboembolism. N Engl J Med. 2009;
361(24): 2345-52.
4. The Einstein-pe Investigators. Oral Rivaroxaban For The Treatment Of Symptomatic
Pulmonary Embolism. N Engl J Med. 2012; 366: 1287-97.
5. The Hokusai-vte Investigators, Büller HR, Décousus H, Grosso MA, Mercuri M, et al.
Edoxaban Versus Warfarin For The Treatment Of Symptomatic Venous Thromboembolism.
N Engl J Med. 2013: 369(15): 1406-15.
6. Kearon C, Akl EA, Ornelas J, Blaivas A, Jimenez D, Bounameaux H, et al. Antithrombotic
Therapy For Vte Disease: Chest Guideline And Expert Panel Report. Chest. 2016; 149(2):
315-52.
7. Pollack Jr CV, Reilly PA, Eikelboom J, Glund S, Verhamme P, et al. Idarucizumab For
Dabigatran Reversal. N Engl J Med. 2015; 373(6): 511-20.
8. Konstantinides SV, Vicaut E, Danays T, Becattini C, Bertoletti L, Beyer-Westendorf J, et al.
Impact of Thrombolytic Therapy on the Long-Term Outcome of Intermediate-Risk
Pulmonary Embolism. J Am Coll Cardiol. 2017; 69(12): 1536-44.
9. Weitz JI, Lensing AWA, Prins MH, Bauersachs R, Beyer-Westendorf J, et al. Rivaroxaban Or
Aspirin For Extended Treatment Of Venous Thromboembolism. N Engl J Med. 2017; 376:
1211-22.
10. Konstantinides SV, Meyer G, Becattini C, Bueno H, Geersing GJ, et al. 2019 ESC
Guidelines for the diagnosis and management of acute pulmonaryembolism developed in
collaboration with the European Respiratory Society (ERS). Eur Heart J. 2020 Jan
21;41(4):543-603.
6.4
DERRAME PLEURAL
Autor:
André Bezerra Botelho
DEFINIÇÕES
• Derrame pleural: É definido como aumento de líquido no espaço
pleural e resulta do aumento da taxa de formação do fluido pleural,
redução de sua absorção ou, mais comumente, de ambos os
processos. Apesar de bastante comum e poder estar relacionado a
inúmeras etiologias, na prática clínica, poucas causas são
responsáveis pela maioria dos casos.
ETIOPATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• É estimado que o derrame pleural acometa cerca de 3.000 pessoas
por milhão. Existem variações importantes na incidência do
derrame pleural ao redor do mundo.
QUADRO CLÍNICO
• Os sintomas comumente encontrados são dor torácica do tipo
pleurítica (ventilatório-dependente), tosse e dispneia.
EXAME FÍSICO
• Aparelho respiratório: diminuição da expansão torácica, redução
do frêmito toracovocal, macicez ou submacicez à percussão e
diminuição do murmúrio vesicular restrito ao hemitórax
acometido.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Radiografia de tórax: a radiografia de tórax em incidência
posteroanterior (PA) e perfil é fundamental na investigação inicial,
sendo capaz de identificar derrames com volume de aproximadamente
200 mL. Os principais achados são: obliteração do seio costofrênico;
hipotransparência nas bases com formação de uma parábola com
concavidade voltada para cima (curva de Damoiseau). A radiografia
em decúbito lateral com raios horizontais (incidência de Laurell) pode
auxiliar no diagnóstico de derrames com pequenos volumes, na
indicação da toracocentese e na avaliação de complicações relacionadas
ao derrame. Nesta incidência, pode-se notar alteração da imagem
quando comparada a PA, correspondendo ao deslocamento do derrame
(nos casos não complicados) ao longo da superfície pleural lateralmente
(Figura 1).
b. Tomografia de tórax: possibilita melhor avaliação da pleura e do
parênquima pulmonar, além de auxiliar no diagnóstico de derrame
complicado (presença de espessamento e nodulações pleurais, além de
septações e loculações).
c. Ultrassonografia: serve como guia para toracocentese e biópsia,
além de reduzir os riscos de complicações relacionadas a estes
procedimentos. Possui elevada acurácia na avaliação de derrames
complicados, empiema e espessamento pleural.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
ETIOLÓGICA
• O diagnóstico é feito com a confirmação da presença de líquido no
espaço pleural através dos exames de imagem já citados.
Purulenta: empiema
DHL do liquido pleural > 2/3 o limite superior da normalidade do DHL sérico
Transudato Exsudato
Insuficiência cardíaca Neoplasia
- Serosite autoimune
Quadro 2. Causas de Derrame Pleural.
Fonte: Porcel 20151
TRATAMENTO
• O tratamento do derrame pleural consiste no controle da etiologia
de base. Eventualmente, medidas específicas podem ser adotadas.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
IC: insuficiência cardíaca.
*Sinais de alarme: presença de febre, dor, predomínio a esquerda, assimetria importante.
**Para pacientes em uso de diureticoterapia, a diferença entre albumina sérica
- albumina pleural ≤ 1,2 confirma o diagnóstico exsudato.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 68 anos, tabagista,
hipertenso, com relato de febre e tosse produtiva há 5 dias. Há 2 dias
passou a apresentar dispneia aos moderados esforços e dor ventilatório-
dependente.
b. Exames Físicos:
1. Dieta hipossódica.
2. Ceftrixone 1 g, IV, 12/12h.
3. Azitromicina 500 mg, VO, 1x/dia.
4. Enoxaparina 40 mg, SC, 1x/dia.
5. Oxigênio por cateter nasal, para manter SpO2 > 92%.
6. Fisioterapia respiratória.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A etiologia mais comum do derrame pleural é a insuficiência
cardíaca (IC).
DEFINIÇÕES
• PNEUMONIA: doença inflamatória aguda de causa infecciosa
que acomete as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar.
Pode ser causada por vírus, bactérias e, mais raramente, fungos e
parasitas.
EPIDEMIOLOGIA
• Incidência mundial de PAC: 16 a 23 casos por 1.000 habitantes.
Permanece como a segunda causa de hospitalização e a principal
etiologia infecciosa de óbito, com taxa de mortalidade de 41,7 por
100.000 habitantes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é o principal
patógeno causador de pneumonia, independentemente da idade,
com prevalência média de 27,3%. Outros agentes frequentes são o
Haemophilus influenzae e as bactérias denominadas atípicas,
representadas pelo Mycoplasma sp, Chlamydophila sp e
Legionella sp, responsáveis por 34% das pneumonias.
QUADRO CLÍNICO
• Manifestações respiratórias: tosse, expectoração, dispneia, dor
torácica ventilatório-dependente (na presença de derrame pleural),
febre e hipoxemia (desequilíbrio da relação ventilação-perfusão).
A tosse é o achado mais comum e está presente em até 80% dos
casos.
EXAME FÍSICO
• Inspeção: taquipneia, expansibilidade torácica reduzida.
• Palpação: frêmito toracovocal (FTV) aumentado; FTV abolido na
presença de derrame pleural associado.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Bioquímica: hemograma completo, ureia, creatinina, sódio,
potássio e glicemia.
b. Gasometria arterial: realizar apenas se a saturação periférica de
oxigênio (SpO2) na oximetria de pulso for menor que 90% em ar
ambiente, casos de insuficiência respiratória, ou se houver suspeita
de hipercapnia por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A
hipoxemia indica internação.
c. Sorologia para HIV: para pacientes com achados clínicos,
laboratoriais ou radiológicos atípicos (após esclarecimento e
consentimento do paciente).
Exames considerados, a depender da suspeita clínica e gravidade:
d. Proteína C Reativa (PCR): marcador inflamatório que avalia
resposta terapêutica e tem valor prognóstico. Níveis elevados ou à
ausência de queda de pelo menos 50% do seu valor inicial após o 3o dia
de tratamento antimicrobiano estão associados ao pior prognóstico ou
evolução para complicações.
e. Procalcitonina (PCT): marcador inflamatório com alta
sensibilidade, porém baixa especificidade para diferenciar infecção
bacteriana e viral. Tem valor prognóstico. Valores de PCT acima de
0,25 μg/L falam a favor do uso de antibioticoterapia, com maior
concordância quando acima de 0,5 μg/L. Valores abaixo de 0,1 μg/L
corroboram a não indicação de antimicrobiano. Redução dos valores
iniciais de 90% indicam interrupção no tratamento. Estudos
demonstraram redução do tempo de uso de antibióticos sem aumento da
mortalidade ou falha de tratamento baseado na dosagem seriada desse
marcador.
f. Toracocentese diagnóstica: solicitar na presença de derrame
pleural maior que 5 cm a partir do recesso posterior na radiografia de
tórax em perfil ou maior que 10 mm no decúbito lateral, ou ainda
quando há derrame loculado. Realizar toracocentese e analisar o líquido
pleural por meio de técnica bioquímica e microbiológica para excluir
empiema ou derrame parapneumônico complicado, os quais têm
indicação de drenagem torácica.
g. Broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia
transbrônquica: útil para pacientes sem resposta à terapêutica inicial
ou na presença de achados de imagem não compatíveis com
pneumonia.
h. Pesquisa de Bacilo Álcool-Ácido Resistente (BAAR) no escarro
e cultura para micobactérias: solicitar apenas em pacientes com
achados de imagem e história clínica compatíveis com tuberculose,
como lesões pulmonares escavadas, presença de nódulos
centrolobulares em árvore em brotamento.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a. Clínico:
c. Radiológico:
• Radiografia de tórax (nas incidências posteroanterior e perfil):
método diagnóstico inicial (surgimento de opacidade intersticial
ou consolidação). Auxilia na avaliação da gravidade
(identificação de comprometimento multilobar ou derrame pleural
associado), sugere diagnóstico diferencial (abscesso, tuberculose
e massa pulmonar) e também é útil para acompanhar a resposta ao
tratamento. Não é capaz de determinar o agente etiológico. Em
metade dos casos, a resolução completa das alterações radiológicas
ocorre em duas semanas após o início do quadro e, em seis
semanas, em dois terços dos casos. Idade avançada, doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), imunossupressão,
alcoolismo, diabetes e pneumonia multilobar associam-se
independentemente, com resolução mais lenta.
e. Diagnóstico Diferencial
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• PAC ambulatorial
• Tratamento domiciliar se houver garantia do uso do antibiótico
prescrito.
• Paciente hígido: uso de macrolídeo ou betalactâmico (β-
lactâmico) é a sugestão de escolha (Tabela 3).
• A cobertura antibiótica para patógenos atípicos nos casos de
PAC de menor gravidade ainda é controversa, e vários estudos
não mostraram vantagens com essa conduta. As recomendações
norte-americanas, europeias, britânicas e latino-americanas
diferem quanto ao tratamento dos casos ambulatoriais devido a
diferentes posições quanto à resistência antimicrobiana.
• A nova recomendação brasileira para o manejo de PAC de
2018 alega que, em nosso meio, os dados mais recentes apontam
que a resistência pneumocócica à penicilina não deve ser uma
preocupação para os casos menos graves, e sugere o uso de
monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeo para os
pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, sem uso recente
de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem
contraindicação ou história de alergia a essas drogas.
• Quanto aos macrolídeos, a recomendação brasileira ressalta que
a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas
de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso,
deveria ser preferida nos pacientes com DPOC.
• Pacientes sem comorbidades: evitar o uso das fluoroquinolonas
devido ao recente alerta da agência norte-americana Food and
Drug Administration sobre o potencial risco de efeitos colaterais
graves.
• Pacientes com comorbidades (DPOC, doença hepática ou
renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva,
alcoolismo ou imunossupressão), aqueles que fizeram uso de
antibióticos nos últimos três meses, ou provenientes de
regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é
superior a 25% (por exemplo, nos EUA e em alguns outros
países): β-lactâmico associado a macrolídeo ou
fluoroquinolona respiratória por pelo menos cinco dias são as
sugestões.
• Amoxicilina-clavulanato pode ser usada na suspeita de infecção
por gram-negativos (Klebsiella, Haemophilus), apesar de não
possuir maior atividade contra pneumococo e não cobrir germes
atípicos.
• COMPLICAÇÕES
• A maioria dos pacientes com PAC evoluem com boa resposta ao
tratamento, porém 10% a 24% dos pacientes internados e 7%
dos ambulatoriais podem apresentar uma resposta clínica
ineficaz.
• O fracasso terapêutico é fator prognóstico, com mortalidade em
torno de 40%. Espera-se uma melhora clínica progressiva nos
pacientes com PAC após 24 a 72 horas do início da
antibioticoterapia.
• Falência precoce: ocorre nas primeiras 72 horas e, geralmente,
está relacionada à gravidade da infecção primária (por
exemplo, evolução com choque séptico).
• Falência tardia: ocorre após 72 horas devido aos eventos
secundários (por exemplo, perinfecção nosocomial,
exacerbação de comorbidade). Assim, aqueles que não evoluem
bem devem ser investigados quanto aos diversos fatores, entre os
quais:
• Resistência bacteriana: presença de pneumococo de alta
resistência, estafilococo resistente ou Pseudomonas;
• Presença de patógeno não bacteriano (vírus, fungos,
micobactérias típicas ou atípicas);
• Erro relacionado ao antibiótico: antibiótico ou dose inadequada,
ausência de aderência ao tratamento;
• Complicações da pneumonia: derrame pleural complicado,
empiema, pericardite, endocardite, abscesso hepático ou esplênico,
pioartrite, meningite, entre outros – os achados clínicos serão
sugestivos da doença associada;
• Diagnóstico incorreto: considerar métodos diagnósticos
complementares;
• Descompensação de doenças de base (IAM, DPOC, AVC, edema
pulmonar);
• Presença de disfunção de órgãos, choque e evolução para
síndrome do desconforto respiratório agudo.
• PREVENÇÃO
• Os fatores de risco relacionados a PAC devem ser ativamente
procurados e removidos para evitar futuros eventos (Quadro 4).
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
c. Exames complementares:
d. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• As manifestações clínicas não diferenciam, de maneira confiável,
as diversas etiologias de uma pneumonia, mas existem algumas
pistas epidemiológicas e clínicas que devem ser levadas em
consideração na investigação etiológica da PAC:
• Pneumococo nas formas mais invasivas ou associadas ao
comprometimento sistêmico grave.
• Staphylococcus aureus em usuários de drogas injetáveis.
• S. aureus meticilino-resistente adquirido na comunidade (CA-
MRSA) nas formas de pneumonia necrotizante.
• S. aureus, grupo Enterobacteriaceae e Pseudomonas
aeruginosa após quadros de pneumonia viral, tratamento
prévio com antibiótico ou doenças pulmonares crônicas.
• Mycoplasma em quadros associados de miringite bolhosa,
anemia hemolítica (por crioaglutininas), artralgias.
• Legionella nos quadros de pneumonia grave associado a
hiponatremia, dor abdominal e diarreia em idosos.
• Agentes anaeróbios nos casos de pacientes com doença
periodontal grave; pneumonia necrotizante ou abscesso
pulmonar.
• Conhecer a epidemiologia local e o histórico de viagens do
paciente (por exemplo, fungos endêmicos, como Histoplasma,
Coccidioides, Blastomyces e Paracoccidioides spp; hantavírus) e
de exposições específicas.
• A melhora clínica da pneumonia dá-se precocemente, diferente da
resolução radiológica, que pode ocorrer após várias semanas. O
controle radiográfico após tratamento é importante,
principalmente em indivíduos tabagistas, pacientes acima de 50
anos e/ou portadores de DPOC, pelo alto risco nesse grupo de
câncer de pulmão. A imagem deve ser repetida dentro de 6
semanas, e a persistência da consolidação/opacidade sugere a
investigação com exames adicionais. Naqueles com persistência
dos sintomas clínicos ou achados anormais ao exame físico, a
radiografia de tórax de controle também está indicada.
REFERÊNCIAS
1. Correa RA, Lundgren FLC, Pereira-Silva JL, Frare e Silva RL, Cardoso AP, et al. Diretrizes
brasileiras para pneumonia adquirida na comunidade em adultos imunocompetentes. J Bras
Pneumol. 2009; 35(6): 574-601.
2. Prina E, Ranzani OT, Torres A. Community-acquired pneumonia. Lancet. 2015 ;386(9998):
1097-108.
3. Correa RA, Costa AN, Lundgren F, Michelim L, Figueiredo MR, Holanda M, et al.
Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade, 2018. J Bras
Pneumol. 2018; 44(5): 405-23.
4. Prina E, Ceccato A, Torres A. New aspects in the management of pneumonia. Crit Care.
2016; 20: 267.
5. Maciel R, Aidé MA. Prática Pneumológica. Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia (SBPT), 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017.
6. Pereira CAC, Holanda MA. Medicina Respiratória. São Paulo: Atheneu; 2015, v. 2.
7. Torres A, Sibila O, Ferrer M, Polverino E, Menendez R, Mensa J, et al. Effect of
corticosteroids on treatment failure among hospitalized patients with severe community-
acquired pneumonia and high inflammatory response. JAMA. 2015; 313(7): 677-86.
8. Wunderink RG. Corticosteroids for severe community-acquired pneumonia: not for
everyone. JAMA, 2015; 313(7): 673-4.
9. Faresin SM, Santoro IL, Llarges CM. Perfeito JAJ. Guias de medicina ambulatorial e
hospitalar da EPM-UNIFESP – Pneumologia. São Paulo: Manole; 2014, v. 2.
10. Lim WS, Baudouin SV, George RC, Hill AT, Jamieson C, Le Jeune I, et al. British Thoracic
Society guidelines for the management of community acquired pneumonia in adults. Thorax.
2009; 64(3): 1-55.
11. Woodhead M, Blasi F, Ewig S, Garau J, Huchon G, Ieven M, et al. Guidelines for the
management of adult lower respiratory tract infections. Clin Microbiol Infec. 2011; 17(6): 1-
59.
12. Ministério da Saúde (BR). Datasus. Ministério da Saúde. [Internet]. [acesso em 6 jun 2020].
Disponível em: www.datasus.com.br.
13. Martins MA, Morinaga CV, Oliveira JC, Ivanovic LF, Jorge MCP, Favarato MHS, et al.
Manual do residente de clínica médica. São Paulo; Manole; 2015.
14. Ewig S, Hendrik S, Torres A. Severity assessment in community-acquired pneumonia. Eur
Respir J. 2000; 16(6): 1193-201.
15. Lanks CW, Musani AI, Hsia DW. Community-acquired Pneumonia and Hospital Acquired
Pneumonia, Med Clin North Am. 2019; 103(3): 487-501.
6.6
PNEUMONIA NOSOCOMIAL
Autora:
Ana Carolina Lima Resende
DEFINIÇÕES
• Pneumonia nosocomial (PN): é definida como infecção do
parênquima pulmonar que ocorre 48 horas após a admissão
hospitalar, podendo-se subdividir em pneumonia adquirida no
hospital (PAH) ou pneumonia associada à ventilação mecânica
(PAV).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Os agentes etiológicos e a sensibilidade antimicrobiana das
bactérias podem variar de acordo com o perfil bacteriano
hospitalar, as características do paciente, o uso prévio de
antibióticos e o período de aquisição (precoce ou tardia). De modo
geral, na PN há prevalência etiológica de bacilos gram-negativos
(55% a 85% dos casos por Pseudomonas, Acinetobacter e
enterobactérias) e Staphylococcus aureus. Além disso, 30 a 70%
dos casos podem ter causa polimicrobiana.
QUADRO CLÍNICO
• O quadro clínico da PN é caracterizado por sinais e sintomas
relacionados à síndrome infecciosa.
ASSOCIADOS AO PACIENTE:
- Cirurgia torácica ou abdominal
- Idosos - Grande queimado
- Redução do nível de consciência - Politraumatismos
- Acidente vascular encefálico - Desnutrição
- Trauma cranioencefálico - Hipoalbuminemia
- Broncoaspiração - Comorbidades com disfunções orgânicas
- Tabagismo - Doenças imunossupressoras
- DPOC - Uso de drogas imunossupressoras
- SDRA - Pacientes institucionalizados
- Doenças pulmonares intersticiais
- Doenças neuromusculares
- Aspiração pulmonar
ASSOCIADOS À TERAPÊUTICA:
- Terapia antimicrobiana nos últimos 90 dias
- Resistência prévia à antibioticoterapia
- Hospitalização prolongada
- Decúbito inferior 30-45°
- Uso de bloqueador H2 ou antiácidos
- Hiperdistensão gástrica
- Uso de sondas (oro ou nasoenteral)
- Má higiene das mãos e equipamentos/dispositivos
- Higiene oral inadequada
- Necessidade de ventilação mecânica invasiva
Temperatura oC
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: alteração do estado geral, taquipneia, pode haver
sinais de choque séptico, a depender da gravidade do quadro
(como: hipotensão, taquicardia, aumento do tempo de enchimento
capilar), cianose, queda na saturação periférica de O2 (medida na
oximetria de pulso); pode ser observada ainda no paciente sob VM
a presença de secreção purulenta.
EXAMES COMPLEMENTARES
a. ANÁLISE LABORATORIAL
b. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA
c. ANÁLISE RADIOLÓGICA
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Linezolida 600 mg IV a cada 12h Cefepima 2 g a cada 8h ou Amicacina 15-20 mg/kg a cada 24h ou
Ceftazidima 2 g a cada 8h Gentamicina 5-7 mg/kg a cada 24h ou
OU Tobramicina 5-7 mg/kg a cada 24h
OU
Carbapenêmicos Polimixinas
Monobactâmicos
Aztreonam 2 g a cada 8h
As doses iniciais sugeridas na tabela devem ser modificadas em pacientes com disfunção hepática ou renal.
Piperaciclina + Tazobactam 4,5 g a cada Piperaciclina + Tazobactam 4,5g a Piperaciclina + Tazobactam 4,5g cada 6
6 horas cada 6 horas horas
OU OU OU
Levofloxacino 750 mg a cada 24h Levofloxacino 750 mg a cada 24h ou Levofloxacino 750 mg a cada 24h ou
OU Ciprofloxacino 400 mg cada 8h Ciprofloxacino 400 mg cada 8h
OU OU
Aztreonam 2 g cada 8h
*A cobertura para MSSA (Staphylococcus aureus meticilino sensível) deve ser feita com Piperacilina-tazobactam, Cefepima,
Levofloxacino, Imipenem ou Meropenem. Oxacilina, Nafcilina ou Cefazolina são preferíveis para o tratamento de MSSA, porém não
devem ser usadas no regime empírico de pneumonia hospitalar.
g. TEMPO DE TRATAMENTO
h. PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO
• Esse perfil de paciente vem se tornando cada vez mais comum nos
hospitais, devendo receber atenção especial, já que pode
apresentar PN relacionada a microrganismos pouco comuns ou
até mesmo por mais de um patógeno. Dessa forma, a terapêutica
deve ter um espectro ampliado, sendo analisada a possibilidade de
envolvimento pulmonar por vírus e fungos, através de métodos
diagnósticos específicos.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
PN: pneumonia nosocomial; EV: endovenoso; VM: ventilação mecânica; SDRA: síndrome do desconforto respiratório
agudo; MDR: multidrogarresistente; MRSA: S. aureus meticilino resistente; BGN: bacilo gram-negativo; UH: unidade
hospitalar.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente do sexo masculino, 70 anos, hipertenso (faz
uso regular de enalapril), encontra-se internado no quinto dia pós-
operatório de cirurgia para correção de fratura de fêmur. Nega história
de internação ou antibiótico recentes. Evolui clinicamente com
dispneia, tosse produtiva (expectoração amarelada) e febre (38,8°C).
Segue normotenso.
b. Ausculta pulmonar: com murmúrio vesicular reduzido, frêmito
aumentado, percussão maciça e estertores finos em base esquerda.
Eupneico, sem uso de musculatura acessória, SpO2 95% em ar
ambiente.
c. Exames complementares: Radiografia de tórax em incidências
anteroposterior evidenciando consolidação em base direita com
broncograma aéreo (não evidente em imagem pré-operatória);
leucocitose sem desvio à esquerda; PCR: 120 mg/L; sem disfunção de
órgãos.
d. Diagnóstico: paciente com sinais clínicos, laboratoriais e de
imagem compatíveis com pneumonia, a qual se desenvolveu a partir do
quinto dia de internação hospitalar. Trata-se de pneumonia nosocomial
tardia, sendo o tempo de internação o único fator de risco para germes
multirresistentes. Considerando que a unidade hospitalar em que o
paciente se encontra tem prevalência inferior a 20% de MRSA e
inferior a 10% de BGN, devemos iniciar esquema antimicrobiano
empírico para BGN, com uma droga antipseudomonas,
preferencialmente da classe dos betalactâmicos.
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• A PN possui elevada incidência, morbimortalidade e impacto
econômico em nosso meio, tornando-se um relevante problema de
saúde pública. Dessa forma, a prevenção desta patologia tem
extrema relevância.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes brasileiras para tratamento das
pneumonias adquiridas no hospital e das associadas à ventilação mecânica – 2007. J Bras
Pneumol. 2007; 33(Supl 1): S1-S30.
2. Kalil AC, Metersky ML, Klompas M, Muscedere J, Sweeney DA, Palmer LB, et al.
Management of Adults With Hospital-acquired and Ventilator-associated Pneumonia: 2016
Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America and the
American Thoracic Society. Clin Infect Dis. 2016; 63(1): 61-111.
3. Lanks CW, Musani AI, Hsia DW. Community-acquired Pneumonia and Hospital-acquired
Pneumonia. Med Clin North Am. 2019; 103(3): 487-501.
4. Klompas M. Prevention of Intensive Care Unit-Acquired Pneumonia. Semin Respir Crit Care
Med. 2019; 40(04): 548-57.
5. Corrêa RA. Pneumonia Adquirida no Hospital. Prática Pneumológica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2017.
6. Kelly DN, Martin-Loeches I. Comparing current US and European guidelines for nosocomial
pneumonia. Curr Opin Pulm Med. 2019; 25(3): 263-70.
7. Almirall J, Serra-Prat M, Bolibar I. Risk factors for community-acquired pneumonia in
adults: a review. Respiratory Infections. Clin Pulm Med. 2016; 23: 99-104.
8. Harris AM, Hicks LA, Qaseem A. Appropriate Antibiotic use for acute respiratory tract
infection in adults: advice for high-value care from the American College of Physicians and
the Centers for Disease Control and Prevention. Ann Intern Med. 2016; 164(6): 425-34.
9. Teixeira PJZ, Lisboa T. Pneumonia Adquirida no Hospital. Medicina Respiratória. 1. ed. São
Paulo: Atheneu; 2014.
10. Restrepo MI, Peterson J, Fernandez JF, Qin Z, Fischer AC, Nicholson SC. Comparison of
the Bacterial Etiology of Early-Onset and Late-Onset Ventilator-Associated Pneumonia in
Subjects Enrolled in2 Large Clinical Studies. Respir Care. 2014; 58(7): 1220-5.
11. Biasi A, Ísola AM, Gama AMC, Duarte A, Viana A, Serpa Neto, A. I Forum de Diretrizes
da AMIB e SBPT. Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecânica. 2013; 1-135.
12. Su LS, Meng K, Zhang X, Wang HJ, Yan P, Jia YH, et al. Diagnosing ventilator-associated
pneumonia in critically ill patients with sepsis. Am J Crit Care. 2012; (21): 110-9.
6.7
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
AGUDA
Autor:
Rodolfo Augusto Bacelar de Athayde
DEFINIÇÕES
• Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA) é a incapacidade
instalada ao longo de horas ou dias do sistema respiratório em
realizar adequadamente as trocas gasosas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Didaticamente, a IRpA pode ser dividida em 2 tipos, que podem
acontecer de maneira isolada ou em associação (Figura 1):
• Tipo I (Hipoxêmica) – PaO2 < 60 mmHg, com GA-a
aumentado;
• Tipo II (Hipercápnica) – PaCO2 > 50 mmHg, com GA-a
normal.
QUADRO CLÍNICO
• As manifestações clínicas incluem diversos sinais e sintomas,
conforme a causa da IRpA.
EXAME FÍSICO
• Ao exame físico, é importante observar se o paciente se encontra
visivelmente desconfortável e se apresenta alterações no nível de
consciência (de agitação à sonolência). Esses achados podem
orientar a necessidade de atendimento de emergência com eventual
suporte ventilatório invasivo.
EXAMES COMPLEMENTARES
O diagnóstico de IRpA é dado a partir de sinais de desconforto
respiratório e confirmado pela oximetria de pulso ou gasometria.
Outros exames complementares, solicitados de acordo com a hipótese
diagnóstica aventada, compreendem hemograma completo, proteína C
reativa, peptídeo natriurético cerebral (BNP), radiografia de tórax,
eletrocardiograma, tomografia computadorizada do tórax ou
angiotomografia (se há suspeita de embolia pulmonar), ecocardiograma,
dentre outros.
a. Oximetria de pulso: recurso muito útil por ser uma medida direta
e não invasiva da saturação periférica de oxigênio (SpO2), além de
oferecer resultado imediato, permitindo ser utilizada como forma de
monitorização contínua. Pode variar em até 2-3% quando SpO2 > 88%,
e por volta de 5% quando entre 88-70%, sendo menos acurado abaixo
deste nível. São fatores que podem interferir na leitura: má perfusão
periférica, anemia, arritmias cardíacas, temperatura do ambiente,
artefato de movimentação e presença de esmalte.
b. Gasometria arterial: apesar de ser um método mais invasivo em
comparação com a oximetria de pulso, é mais completa, pois, além de
estimar a PaO2 e a saturação arterial de O2 (SaO2), permite também a
avaliação da ventilação alveolar através da medida de PaCO2, assim
como suas implicações em termos de acidemia através da medida do
pH. Ainda, a partir dos níveis de bicarbonato, em casos de hipercapnia,
pode-se estimar o tempo de instalação do quadro. A gasometria arterial
também pode ser muito útil para definir a gravidade da insuficiência
respiratória hipoxêmica em pacientes que recebem oxigênio
suplementar.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Após definir a presença de IRpA, deve-se buscar sua causa.
• Uma ferramenta importante na elucidação dos mecanismos
relacionados ao quadro de IRpA é a avaliação do gradiente
alvéolo-arterial (GA-a) de O2, ou seja, da pressão alveolar de O2 e
da pressão arterial de O2. Ela se dá através da seguinte fórmula:
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• AVALIAÇÃO INICIAL
• Iniciar monitorização cardíaca, de pressão arterial e oximetria de
pulso.
• Se Glasgow < 9, instabilidade hemodinâmica ou risco eminente
de parada cardiorrespiratória (respiração agônica, bradicardia),
proceder imediatamente à intubação orotraqueal (IOT).
• Se não há tais riscos acima descritos, suplementar oxigênio com
o objetivo de manter a saturação em 92-94%. Para pacientes
hipoxêmicos crônicos retentores de CO2, os níveis de saturação
desejáveis de 88-92%;
• Em pacientes selecionados, pode-se utilizar dispositivos de
pressão positiva. Na suspeita de edema agudo de pulmão (EAP),
o uso de pressão positiva em um nível de pressão (CPAP –
Continuous Positive Airway Pressure) está indicado. Em
pacientes retentores de CO2, o uso de dois níveis de pressão (ou
VNI – Ventilação Não Invasiva - ou Bilevel) pode evitar
intubação.
• Pacientes com diagnóstico de DPOC e/ou suspeita de retenção
crônica de CO2 devem receber oxigênio suplementar com
cautela por risco de piorar o quadro de retenção e até de levar a
rebaixamento do nível de consciência por narcose. São múltiplos
os mecanismos propostos para explicar essa piora, como
inibição do centro respiratório pelo oxigênio, piora do distúrbio
V/Q através de inibição pelo oxigênio do mecanismo de
vasoconstrição hipóxica e por Efeito Haldane (a hemoglobina
tende a perder afinidade pelo CO2 quando há alta concentração
de oxigênio no sangue, fazendo com que aumente a PaCO2). A
suspeita de hipercapnia, entretanto, não deve impedir a
suplementação de O2 – apenas sugere redobrada cautela e maior
observação.
• Máscara Facial:
→ Quando são necessários altos fluxos de oxigênio, máscaras podem
ser acopladas a acessórios específicos como as válvulas de Venturi.
→ O uso dessas válvulas, geralmente de cor padronizada para cada
FIO2, permite ofertar FIO2 controladas de 24%-50% (Figura 2).
→ Máscaras não reinalantes com válvulas unidirecionais e reservatório
de oxigênio permitem ofertar FIO2 mais altas, chegando a 100%
(Figura 3).
(A) Princípio de funcionamento da válvula e como a mesma oferta FiO2.
(B) Vávulas de Venturi e suas diferentes FiO2. A FiO2 ofertada é descrita na máscara. Apesar de tendência à
padronização, nem sempre há correspondência entre fabricantes, devendo-se sempre checar o que é posto no dispositivo.
Critérios diagnósticos
OXIGENAÇÃO (PaO2/FIO2)
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 1. Algoritmo de avaliação da troca gasosa na presença de
hipoxemia.
Fonte: adaptado de Carvalho.7
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: paciente 60 anos, 70 Kg, portador de osteoartrose e
hipertensão arterial sistêmica, trazido por familiares ao PS devido ao
rebaixamento do nível de consciência. Ao exame, regular estado geral,
PA: 100 x 70 mmHg, FC: 58 bpm, FR: 8 ipm, SpO2 89% em ar
ambiente, sonolento, Glasgow 11, pupilas mióticas, murmúrio vesicular
fisiológico, sem ruídos adventícios.
b. Exames complementares: radiografia de tórax sem
anormalidades, exames laboratoriais normais e gasometria arterial: pH
7,25, PO2 50, PCO2 68, HCO3 26, BE +2,0, SatO2 90%.
1. Jejum.
2. Naloxona 0,2 mg EV agora e a critério médico.
3. Ventilação não invasiva com BiPAP – IPAP: 12, EPAP: 5,
Frequência respiratória 20 ipm – objetivar VT: 8 ml/kg/peso ideal
(coletar nova gasometria após 30 minutos da VNI).
4. Cabeceira elevada a 45º.
5. Monitorização contínua e manutenção de SpO2 92 a 94%.
DICAS DO ESPECIALISTA
• A oximetria de pulso é um excelente método não invasivo para
avaliação rápida de um caso, porém a gasometria arterial é
mandatória nos casos de IRpA, já que é capaz de avaliar causas
possíveis, condições associadas e efeitos da terapêutica.
• Bem aplicada, a VNI salva vidas e evita IOT. Porém, não deve ser
proteladora de condutas. Ao instituir o uso de VNI para
rebaixamento de nível de consciência em pacientes retentores
crônicos, a reavaliação contínua é mandatória. Caso não haja
melhora sustentada em um espaço de 90-120 minutos, proceder
com ventilação mecânica invasiva;
REFERÊNCIAS
1. Munson Healthcare. [Internet]. [acesso em jan 2020]. Disponível em:
https://www.munsonhealthcare.org/services/pulmonary-respiratory/respiratory-treatments-
therapies
2. Medscape. [Internet]. [acesso em jun 2020]. Disponível em:
http://img.medscape.com/fullsize/migrated/editorial/journalcme/2008/9172/ahrq.fig2.gif.
3. Intensive Care Society. Handbook of Mechanical Ventilation. A User’s Guide. Londres:
Intensive Care Foundation; 2015.
4. BaHammam AS, Singh TD, Gupta R, Pandi-Perumal SR. BaHammam AS, et al. Respir Care.
2018; 63(2): 227-37.
5. Reis, MAS. Sell, LC. Ventilação Mecanica Domiciliar. In Prática Pneumologica. Maciel, R.
Aide, MA. 2ª edição. Guanabara Koogam. Rio de Janeiro, 2017.
6. AMIB. Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecanica. 2013. Disponível em
https://www.amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2018/junho/15/Diretrizes_Brasileiras_
de_Ventilacao_Mecanica_2013_AMIB_SBPT_Arquivo_Eletronico_Oficial.pdf
7. Veoflo® High Flow Nasal Cannula Inc. Flexicare. [Internet]. [acesso em jun 2020].
Disponível em: https://www.flexicare.com/product/veoflo/
8. Thompson, B. T., Chambers, R. C., & Liu, K. D. (2017). Acute Respiratory Distress
Syndrome. New England Journal of Medicine, 377(6), 562–
572. doi:10.1056/nejmra1608077
9. Kallet RH. A Comprehensive Review of Prone Position in ARDS. Respir Care.
2015;60(11):1660-1687. doi:10.4187/respcare.04271.
10. Ferguson ND, Fan E, Camporota L, Antonelli M, Anzueto A, Beale R, et al. The Berlin
definition of ARDS: an expanded rationale, justification, and supplementary material.
Intensive Care Med. 2012; 38(10): 1573-82.
11. Carvalho CRR, Ferreira JC, Costa ELV. Ventilação Mecânica – Princípios e Aplicação. 1.
ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2015.
12. Carvalho CRR. Fisiopatologia Respiratória. 1. ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2005.
13. Martins HS, Pizzo V, Damasceno MCT. Insuficiência Respiratória Aguda e Ventilação
Invasiva. In: Martins HS, Brandão Neto RA, Scalabrini Neto A, Velasco IT. Emergências
clínicas : abordagem prática.10. ed. rev. e atual. Barueri, SP: Manole; 2015. Pp. 104-30.
14. Zampieri FG. Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo in Medicina intensiva :
abordagem prática. 2. ed. Barueri, SP: Manole; 2015.
15. The ARDS Definition Task Force, Ranieri VM, Rubenfeld GD, Thompson BT, Ferguson
ND, Caldswell E, et al. Acute Respiratory Distress Syndrome The Berlin Definition. JAMA.
2012; 307(23): 2526-33.
16. Amato MBP, Barbas CSV, Medeiros DM, Magaldi RB, Schettino GP, Lorenzi-Filho G, et al.
Effect of a protective-ventilation strategy on mortality in the acute respiratory distress
syndrome. N Engl J Med. 1998; 338(6): 347-54.
17. Amato MBP, Meade MO, Slutsky AS, Brochard L, Costa EL, et al. Driving Pressure and
Survival in the Acute Respiratory Distress Syndrome. N Engl J Med. 2015; 372(8): 747-55.
18. Slutsky AS, Brochard L. Mechanical Ventilation – Uptodate in intensive care medicine.
Berlin, Germany: Springer-Verlag; 2004:
19. Thompson BT, Chambers RC, Liu KD. Acute Respiratory Distress Syndrome. N Engl J
Med. 2017; 377(6): 562-72.
6.8
VENTILAÇÃO MECÂNICA
Autores:
Milena Tenório Cerezoli
Felipe Marques da Costa
DEFINIÇÕES
• A ventilação mecânica invasiva (VM) se caracteriza pelo
acoplamento do paciente a um ventilador mecânico.
DPOC exacerbada e crise asmática com fadiga respiratória PaO2 < 50 mmHg e pH < 7,25
b. CICLO RESPIRATÓRIO
• CICLOS CONTROLADOS
• Algumas variáveis também são controladas durante a inspiração
destes ciclos. São elas: tempo, fluxo, pressão ou volume ou
mesmo a combinação de duas ou mais destas.
• Assim, o ciclo dito controlado pode ser ciclado a volume (VCV,
do inglês Volume Controlled Ventilation), ou seja, quando muda
da inspiração para expiração após alcançar o volume corrente
estipulado, ou ciclado a tempo, como no modo pressão
controlada (PCV, do inglês Pressure Controlled Ventilation),
quando “cicla” ao atingir o tempo inspiratório fornecido.
• CICLOS ASSISTIDOS
• No ciclo assistido, o comando neural e a musculatura do sistema
respiratório do paciente estão ativos, e o ventilador faz o ajuste
da demanda do paciente, através de medidas regulares do fluxo
e/ou pressão em seu circuito. O parâmetro “sensibilidade”
deflagra a variação de fluxo ou pressão reconhecida pelo
ventilador como esforço muscular do paciente capaz de gerar um
ciclo respiratório (disparo).
• Da mesma forma, os ciclos assistidos também podem ser
ciclados a volume (volume assistido), a tempo (pressão
assistocontrolada), a fluxo (pressão de suporte) ou pelo drive
neural (NAVA).
• MODO PSV
• Este é um modo de ventilação mecânica espontânea, disparado e
ciclado pelo paciente. O ventilador mantém uma pressão de
suporte predeterminada e fixa nas vias aéreas, até que o fluxo
seja reduzido a um nível fixo de pico de fluxo inspiratório (dado
ajustável, geralmente 25% do pico de fluxo).
• Utiliza-se atualmente este modo quando o paciente apresenta
uma boa recuperação da doença de base e já apresenta drive
respiratório como desmame ventilatório, até a extubação.
• Este modo entrou em desuso nos últimos anos por trabalhos que
demonstraram haver um atraso no desmame ventilatório com a sua
utilização.
DICAS DO ESPECIALISTA
a. Metas e ventilação nas doenças obstrutivas (DPOC, asma):
• Baixo volume corrente (6 mL/Kg de peso predito)
• Baixa frequência respiratória (menor que 15 ipm)
• Maior tempo expiratório (relação I:E de 1:3 ou mais)
• Pressão de platô menor que 30 cmH O 2
de FIO2 na SDRA
REFERÊNCIAS
1. Holanda MA. Xlung. [Internet]; 2017. [acesso em 23 jun 2020]. Disponível em:
https://xlung.net.
2. Ouellette DR, Patel S, Girard TD, Morris PE, Schmidt GA, et al. Liberation From
Mechanical Ventilation in Critically Ill Adults: An Official American College of Chest
Physicians / American Thoracic Society Clinical Practice Guideline. Chest. 2017; 151(1):
166-80.
3. Schmidt, GA, Girard TD, Kress JP, Morris PE, Ouellette DR, et al. Liberation From
Mechanical Ventilation in Critically Ill Adults. Chest. 2017; 151(1): 160-5.
4. Carvalho CRR, Ferreira JC, Costa ELV. Ventilação Mecânica: Princípios e Aplicação. São
Paulo: Atheneu; 2015.
5. Barbas CSV, Ísola AM, Farias AMC, Cavalcanti AB, Gama AMC, Duarte ACM, et al.
Brazilian recommendations of mechanical ventilation 2013. Part I. Rev Bras Ter Intensiva.
2014; 26(2): 89-121.
6. Tobin MJ. Principles And Practice of Mechanical Ventilation. 3. ed. New York: Mcgraw-hill
Medical Publishing Division; 2012.
7. Borges JB, Carvalho CRR, Amato MBP. Ventilation Strategies for Acute Lung Injury and
Acute Respiratory Distress Syndrome. JAMA. 2008; 300(1): 39-43.
8. Chatburn RL. Classification of ventilator modes: update and proposal for implementation.
Resp Care. 2007; 52(3): 301-23.
9. Barbas CSV, de Matos GF, Pincelli MP, da Rosa Borges E, Antunes T, de Barros JM, et al.
Mechanical ventilation in acute respiratory failure: recruitment and high positive end-
expiratory pressure are necessary. Curr Opin Crit Care. 2005; 11(1): 18-28.
10. Carvalho CRR. Ventilação Mecânica. Volume I – Básico (Clínicas Brasileiras de Medicina
Intensiva). São Paulo: Atheneu, 2000. 8 v.
11. Carvalho CRR. Ventilação Mecânica. Volume II – Avançado (Clínicas Brasileiras de
Medicina Intensiva). São Paulo: Atheneu, 2000. 500 p. 9 v.
7.1
LÚPUS ERITEMATOSOS
SISTÊMICO (LES)
Autora:
Yanne Franca Montino
def.jpg DEFINIÇÕES
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença reumática
autoimune inflamatória, multissistêmica, crônica, de etiologia multifatorial,
caracterizada pela produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas do
próprio organismo e com manifestações clínicas flutuantes, apresentando
evolução e prognósticos variáveis.
• Hidralazina • D-penicilamina
• Procainamida • Metildopa
• Isoniazida • Quinidina
• Fenitoína • Interferon-alfa
• Clorpromazina • Anti-TNF
(etanercepte, infliximabe, adalimumabe)
Quadro 1.
Fonte: Adaptada, Merola JF Drug-induced lupus UpToDate. [Internet];
2020. Acesso 13/08/2020.
• ESPECÍFICAS:
• LÚPUS ERITEMATOSO CUTÂNEO AGUDO
A erupção cutânea em “asa de borboleta” ou eritema malar é a lesão
de pele mais característica do LES. Apresenta-se de forma aguda localizada,
eritematosa, elevada, por vezes pruriginosa ou dolorosa, em geral
descamativa, com edema, distribuição malar e dorso do nariz,
frequentemente precipitada pela exposição solar. A lesão poupa as pregas
nasolabiais devido a sua área fotoprotegida e flutua com a atividade da
doença. Precipitada por exposição solar, pode persistir por dias ou semanas,
facilitando o diagnóstico do LES e acompanha outras manifestações.
Erupção eritematosa generalizada precipita-se de maneira aguda em
áreas de exposição aos raios solares ou luz artificial fluorescente, tais como
região cervical, face e extremidades.
b. MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS
c. MANIFESTAÇÕES RENAIS
VI CLASSE GN esclerosante avançada Mais de 90% dos glomérulos estão esclerosados globalmente
d. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS
Mielopatia
Transtorno de movimento
Síndrome desmielinizante
Transtorno convulsivo
Meningite asséptica
e. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS
seta1
Se ausente, não classifique como LES
Se houver, aplique critérios aditivos
seta1
Não conte um critério se houver uma explicação provável que o LES.
A ocorrência de um critério em pelo menos uma ocasião é suficiente.
A classificação do LES requer pelo menos um critério
CRITÉRIOS
clínico e ≥ 10 pontos.
ADITIVOS
Os critérios não precisam ocorrer simultaneamente.
Dentro de cada domínio, apenas o critério ponderado
mais alto é contado para a pontuação total.
seta1
DOMÍNIOS E CRITÉRIOS DOMÍNIOS E CRITÉRIOS DE
PESO PESO
CLÍNICOS IMUNOLOGIA
Anticorpos antifodfolipides
Constitucional Anticorpos anti-cardiolipina OU
2
Febre Anticorpos anti-ß2GP1 OU
Anticoagulante do lúpus 2
Hematológico
Proteinas de complemento
Leocopenia 3
C3 baixo OU C4 baixo 3
Trombocitopenia 4
C3 baixo E C4 baixo 4
Hemólise autoimune 4
Neuropsiquiátrico
Anticorpos específicos para LES
Delírio 2
Anticorpo anti-dsDNA* OU
Psicose 3 6
Anticorpo anti-Smith
Apreensão 5
Mucocutâneo
Alopsia sem cicatrizes 2
Úlceras orais 2
Lúpus cutâneo OU discoide subagudo 4
Lúpus cutâneo agudo 6
Serosal
Derrame pleural ou pericárdico 5
Pericardite aguda 6
Músculo-esquelético
Envolvimento conjunto 6
Renal
Proteinúria > 0,5g/24h 4
Biópsia renal Nefretite lúpica ClasseII ou V 8
Biópsia renal Nefretite lúpica ClasseIII ou VI 10
PONTUAÇÃO TOTAL: Classifique como Lúpus Eritermatoso Sistêmico com uma
pontuação de 10 ou mais se o critério
de entrada for cumprido
Tabela 1.
Fonte: Adaptada Aringer M, Costenbader K, Daikh D, et al. 2019. ACR
classification criteria for systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheumatol
2019.
Fan > ou igual 1:80 em células HPe-2 ou teste equivalente em pelo menos 1 vez.
Lúpus cutâneo agudo Erupção malar ou erupção maculopapular generalizada observada por um clínico.
Lúpus eritematoso cutâneo subagudo observado por um médico*: Erupção cutânea anular ou
papuloescamosa (psoriasiforme), geralmente fotodistribuída.
Lúpus cutâneo ou Lúpus eritematoso discóide observado por um clínico*: Lesões cutâneas eritematovioláceas
discoide subagudo com alterações secundárias de cicatrizes atróficas, dispigmentação, muitas vezes
hiperceratose folicular/hematológica (couro cabeludo), levando à alopecia cicatricial no
couro cabeludo.
≥2 de 1-dor torácica pericárdica (normalmente aguda, pior com inspiração, melhorada pela
inclinação para a frente), 2- atrito pericárdico; 3- eletrocardiograma (ECG) com nova
Pericardite aguda
elevação de ST ou depressão PR, 4- nova ou aumento do derrame pericárdico em imagem
(como ultrassom, radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética)
Proteinúria> 0,5 g / 24 horas Proteinúria > 0,5 g / 24 horas em exame de proteinúria de 24h
Anticorpos antifosfolípides Anticorpos anticardiolipina (IgA, IgG ou IgM) em títulos médios ou altos ou anticorpos anti-
positivos beta-2GP1 positivos (IgA, IgG ou IgM ) ou anticoagulante lúpico positivo
trat.jpg TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Medidas Gerais
• O tratamento do LES objetiva o controle da atividade da doença,
prevenção de danos, minimizar complicações aos órgãos e
sistemas, reduzir toxicidade medicamentosa, orientar os pacientes
e familiares sobre o curso e gestão da doença, melhorar qualidade
de vida e aumentar sobrevida do paciente. O tratamento é
específico para cada paciente, conforme as manifestações clínicas,
gravidade, comorbidades associadas e atividade da doença.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Lúpus Musculoesquelético
• O tratamento depende da área acometida, extensão e gravidade da
doença. Com base no quadro clínico, os medicamentos AINS,
antimaláricos, corticosteroides e, se necessário, metotrexate,
leflunomida, azatioprina e belimumabe, podem ser utilizados.
• Comprometimento Pulmonar
• O acometimento das serosas (pleurite e pericardite) leves
responde bem ao AINH. Nos casos refratários ou graves, os
corticosteroides têm excelente eficácia. Nos casos ainda não
responsivos, a azatioprina 3 mg/kg/dia 1 a 2 doses pode ser
utilizada. A pneumonite aguda no LES e a hemorragia pulmonar
são complicações raras com indicação de pulsoterapia com
corticoide associada ou não a ciclofofanamida ou plasmaferese.
• Quadro hematológico
• A terapia de escolha é a prednisona em dose alta 0,5-1,0 mg/kg
VO, 1 vez, por dia durante 4 a 6 semanas, com redução posterior
se evolução positiva do quadro. A pulsoterapia com
metilprednisolona pode ser considerada nos casos mais graves.
Nos casos refratários, pode-se associar a azatioprina a
corticoterapia. Nas plaquetopenias leves > 50.000, geralmente não
é tratado, entretanto na plaquetopenia grave deve-se fazer terapia
com imunoglobulina associada com infusão de plaquetas. Quadros
de púrpura trombocitopênica idiopática podem ser tratados com
corticosteroides, imunossupressão imunoglobulina intravenosa,
rituximabe com ou sem esplenectomia. Para a púrpura
trombocitopênica trombótica está indicada aférese, esteroides e
rituximabe, sendo uma complicação com risco de morte em 1% a
5% dos casos.
• Comprometimento neuropsiquiátrico
• A terapia de eventos neuropsiquiátricos deve ser recomendada
para o tipo de manifestações clínicas apresentadas. A neuropatia
periférica responde bem a altas doses de glicocorticoide.
• Metrotrexato: 10 a 25 mg/semana
• Rituximabe: 1 g IV a cada quinzena
• Belimumabe: 10 mg/kg, dias 0/14/28 dias em seguida 1x por mês
precri.jpg EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 23 anos, p-60kg, portadora
de lúpus eritematoso sistêmico há 2 anos em acompanhamento regular
com reumatologista. Em uso de hidroxicloroquina 400 mg 1 cp ao dia.
Relata que após perda de ente querido, há 30 dias, iniciou com lesões
hiperemiadas em região de tronco, face, associadas à alopécia frontal.
Queixava-se de dor torácica e dor articular em punhos.
b. Exame Físico: artrite franca em punhos, presença de rash malar
em face, lesões descamativas e hiperemiadas em tronco. Alopecia não
cicatricial em fronte.
refere.jpg REFERÊNCIAS
1. Pinto MRC, B MB, Kakehasi AM. Artrite Reumatoide. In: Carvalho MAP. Reumatologia
Diagnóstico e Tratamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Ac Farmacêutica; 2014. Cap. 21. p. 303-
28.
2. Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019.
3. Hochberg MC. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
4. Wallace DJ, Gladman DD. Clinical manifestations and diagnosis of systemic lupus
erythematosus in adults. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível
em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-systemic-
lupus-erythematosus-in-adults.
5. Wallace DJ. Overview of the management and prognosis of systemic lupus erythematosus in
adults. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-management-and-prognosis-of-
systemic-lupus-erythematosus-in-adults.
6. Merola JF. Overview of cutaneous lupus erythematosus. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em 17/06/2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/overview-of-
cutaneous-lupus-erythematosus.
7. Klumb EM, Silva CAA, Lanna CCD, Sato EI, Borba EF, Brenol JCT, et al. Consenso da
Sociedade Brasileira de Reumatologia para o diagnóstico, manejo e tratamento da nefrite
lúpica. Rev Bras Reumatol. 2015; 55(1): 1-21.
8. Fanouriakis A, Kostopoulou M, Alunno A, Aringer M, Bajema I, et al. 2019 update of the
EULAR recommendations for the management of systemic lupus erythematosus. Ann
Rheum Dis. 2019: 78: 736-45.
9. Bertsias G, Ioannidis JPA, Boletis J, Bombardieri S, Cervera R, Dostal C, et al. EULAR
recommendations for the management of systemic lupus erythematosus. Report of a task
Force of the EULAR standing Committee for international clinical studies including
therapeutics. Ann Rheum Dis. 2008; 67: 195-205
10. Bertsias GK, Ioannidis JPA, Aringer M, Bollen E, Bombardieri S, Bruce IN, et al. EULAR
recommendations for the management of systemic lupus erythematosus with
neuropsychiatric manifestations: report of a task Force of the EULAR standing Committee
for clinical Affairs. Ann Rheum. Dis 2010; 69: 2074-82.
11. Mosca M, Tani C, Aringer M, Bombardieri S, Boumpas D, Brey R, et al. European League
against rheumatism recommendations for monitoring patients with systemic lupus
erythematosus in clinical practice and in observational studies. Ann Rheum Dis. 2010; 69:
1269-74.
12. Simard JF, Constembader KH. Epidemiologia e Classificação do Lúpus eritematoso
Sistêmico. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH.
Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 765-8.
13. James JA. Características do Lúpus pré-clínico. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS,
Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 769-
73.
14. Dvorkina O, Ginsler EM. Características clínicas do lúpus eritematoso sistêmico. In:
Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 774-85.
15. Kottyan L, Kelly JA, Harley JB. Genética do lupus. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen
JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p.
786-91.
16. Salmon JE. Pricop L, Pricop V. Imunopatologia do lúpus eritematoso sistêmico. In:
Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 792-805.
17. Wallace DJ. Tratamento do lúpus não renal e não do sistema nervoso central (SNC). In:
Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 833-9.
18. Hanly JG, Omisade A, Fisk JD. Tratamento do lúpus neuropsiquiátrico. In: Hochberg MC,
Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2016. p. 840-43.
19. Freire EAM, Souto LM, Ciconelli RM. Medidas de avaliação em lúpus eritematoso
sistêmico. Rev Bras Reumatol. 2011; 51(1): 75-80.
20. Galindo C, Veiga R. Características Clínicas E Diagnósticas Do Lúpus Eritematoso
Sistêmico: Uma Revisão. Rev Eletrôn Farm. 2011; 7(4): 1-13.
21. Bigolin, Silvane et al. Achados oculares e fundoscópicos em pacientes com lupus
eritematoso sistêmico. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, [s.l.], v. 63, n. 5, p.1-4, out.
2000. FapUNIFESP (SciELO).
22. Aringer M, Costenbader K, Daikh D, et al. 2019 European League Against
Rheumatism/American College of Rheumatology classification criteria for systemic lupus
erythematosus. Arthritis Rheumatol 2019;
23. ACR ad hoc Committee on Neuropsychiatric Lupus Erythematosus Nomeclature: Thr
American College of Rheumatology nomenclature and case definitions for
neurophsychiatrics lupus syndrome. Arthirits and Rheumatism, 1999;42:599-608
24. Weening JJ, D agate VD, Schwartz MM, Seshan SV, Alpesrs CE, Appel GB, et al. The
classification of glomerulonephirits in systemic lupus erythematosusrevisited. Kidney Int.
2004; 65 (2):521-30
7.2
SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE
(SAF)
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
É um distúrbio autoimune multissistêmico caracterizado por trombose
venosa e/ou arterial e/ou morbidade gestacional, associado à presença de
anticorpos antifosfolipídicos (aPLs) persistentes. Suas manifestações clínicas
são heterogêneas e caracterizadas pela trombose, que pode ocorrer em vasos
de qualquer calibre, e em qualquer órgão ou sistema, de forma abrupta ou
insidiosa. A prevalência é de 40 a 50 casos/100 mil pessoas. Acomete
adultos jovens e de meia-idade, com predomínio do sexo feminino. Pode ser
primária, sendo a causa mais comum de trombofilia adquirida, ou
secundária, como, por exemplo, em pacientes com lúpus eritematoso
sistêmico (LES), dos quais 10% a 15% apresentam manifestações clínicas de
SAF e 30-40% têm aPLs presentes. A presença de aPLs em indivíduos
assintomáticos ou com LES não confirma o diagnóstico de SAF; no entanto,
pode estar associada ao aumento no risco de trombose ou morbidade
gestacional.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Ainda não está totalmente estabelecida. O alvo do anticorpo anti-β 2 GPI
é a β2 GPI, uma proteína plasmática que se liga avidamente na superfície
fosfolipídica, mais ainda quando dimerizada pela ligação anticorpo-antígeno.
Em situações normais, seu domínio I está protegido do sistema imune.
Quando há lesão endotelial, a β2GPI se liga ao endotélio e sofre alteração
conformacional, expondo o domínio I. A ligação do anti-β2GPI e β2GPI
desencadeia a superexpressão de moléculas de adesão celular pró-trombótica
como E-selectina e fator tecidual. Além disso, suprime a atividade do
inibidor do fator tecidual, reduz a atividade da proteína C, libera citocinas
pró-inflamatórias e ativa o complemento, resultando no aumento da
formação de trombos. Alguns estudos sugerem que a anexina A2 e o
receptor ativador de plasminogênio tecidual também tenham papel
significativo; a superexpressão de glicoproteína IIb/IIIa e plaquetas podem
ter papel na interação pró-trombótica entre anticorpos antifosfolípides e
células endoteliais; ativação de neutrófilos (expressão de fator tecidual e
liberação de Netosis e interleucina 8); monócitos e micropartículas destes
expressam altos níveis de fator tecidual. Além disso, pode ocorrer um
aumento do tônus vascular, aumentando a susceptibilidade a aterosclerose,
perda fetal e dano neurológico (figuras 1 e 2).
A teoria mais aceita é a dos dois alvos. A presença isolada dos aPLs não
seria suficiente para o desenvolvimento de eventos trombóticos.
Primeiramente ocorreria um dano endotelial e, posteriormente, a
potencialização da formação do trombo (a beta 2-glicoproteína I não se liga
ao endotélio inativo). Potenciais fatores para o “segundo alvo” são:
infecções, tabagismo, imobilização prolongada, gestação e pós-parto, uso de
contraceptivo oral, terapia de reposição hormonal, neoplasias, síndrome
nefrótica, hipertensão, hiperlipidemia.
Na SAF obstétrica, um dos mecanismos é a ocorrência de trombose
uteroplacentária e a insuficiência vascular. Além disso, os anticorpos aPLs
parecem ter ação direta na função trofoblástica placentária, diminuindo a
viabilidade do trofoblasto, sincicialização e capacidade para invasão.
Acredita-se que ocorra também alteração da produção de hormônios e
ativação de receptores Toll like.
Painel A: anticorpos antifosfolípides são produzidos por células B; a ligação às superfícies aniônicas converte a β2GPI
fechada e não imunogênica em aberta e imunogênica.
Painel B: anticorpos antifosfolípides ligam-se a β2GPI imunogênica, resultando na ativação de célula endotelial,
complemento, plaquetas, neutrófilos, monócitos (incluindo o aumento de armadilhas extracelulares de neutrófilos -
NETosis). No painel B: coluna do meio, os anticorpos antifosfolípides promovem a formação de trombos; na coluna da
direita, os anticorpos interferem nos trofoblastos e células deciduais.
Painel C e D: mostram que através de múltiplos mecanismos, os quais não são exclusivos, os anticorpos antifosfolípides
resultam em inflamação, vasculopatia, trombose e complicações gestacionais.
Anticorpos antifosfolípides, produzidos pelas células B, favorecem a formação de trombo, através da ativação de monócitos,
neutrófilos, células endoteliais e plaquetas. Estes mecanismos favorecem um estado pró-coagulante, que é necessário, mas
não suficiente para trombose. A formação de trombos requer 2 processos: a presença de anticorpos antifosfolípides e
ativação do sistema complemento.
• aPLs induzem a expressão de fator tecidual em células endoteliais, monócitos, neutrófilos, através da
fosforilação de p38 MAPK e subsequente ativação do fator nuclear κβ.
• a interação aPLs com células endoteliais, através da ligação de β2GPI na superfície celular, induz estado
proinflamatório e pró-coagulante.
• há aumento da produção de interleucinas 1,6,8 e anti-TNFα, e aumento da adesão dos leucócitos, através de
moléculas de adesão, como VCAM-1, ICAM-1, e E-selectina. Além disso, há redução de óxido nítrico.
Siglas: AKT (proteína quinase B); AnxA2 (anexina A2); AnxA5 (anexina A5); aPL (anticorpos antifosfolípides); ApoER2
(receptor 2 apolipoproteina E); eNOS (oxido nítrico sintetase endotelial); GPIIb/IIa (glicoproteína IIb/ IIIa); HCQ
(hidroxicloroquina); ICAM-1 (molécula de adesão intercelular 1); IL (interleucina); mTORC (alvo de complexo rapamicina
de mamíferos); NAC (n acetilcisteína); NFκB (fator nuclear κB); NO (óxido nítrico); P (grupo fosforil); PDI (proteína
disulfido isomerase); PF4 (fator plaquetário); PI3K (fosfatidilinositol quinase 3); p38MAPK (proteína quinase ativada por
mitogênio p 38); RAPTOR (regulação associada a proteína de MTROC1); RICTOR (ligante insensível); ROS (espécies
reativas de oxigênio); TF (fator tecidual); TLR (receptores Toll-like); TNFa (fator de necrose tumoral alfa); TXB2
(tromboxane B2); VCAM- 1 (molécula de adesão celular vascular 1); XI (fator de coagulação XI); XIa (forma ativa do fator
de coagulação XI); b2GPI (beta 2 glicoproteína I).
QUADRO CLÍNICO
• Eventos trombóticos: são os marcadores da SAF, sendo os
eventos venosos mais comuns que os arteriais. O risco de trombose
venosa e arterial e/ou tromboembolismo está aumentado em
pacientes com anticoagulante lúpico positivo ou níveis moderados
ou altos de anticorpos anticardiolipina. Quando o paciente é
triplamente positivo, ou seja, apresenta os 3 anticorpos positivos, a
chance de recorrência dos eventos é maior. Considerando os
eventos venosos, a trombose venosa de membros inferiores é a
mais comum (ocorre em 20-30% dos pacientes com SAF),
entretanto, pode ocorrer o envolvimento pélvico, renal, pulmonar,
hepático, portal, axilar, subclávia, ocular, seios cerebrais, veia cava
inferior e veias superficiais. Já dentre os eventos arteriais, o
acometimento cerebral é o mais comum (acidente vascular
cerebral- AVC ou ataque isquêmico transitório); no entanto,
oclusão na retina, coronárias, renal e mesentérica podem estar
presentes. Eventos trombóticos recorrentes podem ocorrer em 5-
12% dos casos.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Critérios clínicos Critérios laboratoriais
Tabela 1.
Fonte: Fonte: Jesus GR, Jesus NR, Levy RA. Diagnóstico e critérios
obstétricos. In: Levy RA, Andrade D. Manual da Síndrome Antifosfolípide.
São Paulo: Segmento Farma; 2018: 9-16.
a. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
• Trombofilias hereditárias: história familiar positiva ajuda e guia
a realização de testes complementares. Dentre elas, há: fator V de
Leiden, deficiência de proteína C, S, antitrombina III, mutação de
protrombina
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Anticardiolipina: o achado de títulos baixos ou moderados pode
ser transitório e aparecer como consequência de infecções, por isso se
faz necessária a confirmação; títulos moderados a altos, principalmente
IgG, estão associados a manifestações clínicas. O IgM pode suceder
resultados falso-positivos, especialmente na presença de fator
reumatoide e crioglobulinas. Este teste não é influenciado pela
warfarina e heparina.
b. Anticoagulante lúpico: é o maior preditor de trombose e eventos
obstétricos. Vários métodos são utilizados para sua detecção devido a
sua natureza heterogênea. São necessários dois ou mais testes para
rastreio. A detecção é feita em etapas: primeira (é observado o
prolongamento do tempo de formação do coágulo in vitro; o
prolongamento indica a presença de um inibidor ou a deficiência de
fatores de coagulação), segunda (avalia a deficiência de fatores de
coagulação através da mistura de plasma do paciente com plasma
normal, ocorrendo a correção dos fatores necessários; na presença de
um inibidor, o teste permanece prolongado) e terceira (etapa
confirmatória; ocorre a adição de fosfolípides, que competirão com os
anticorpos aPLs, neutralizando a ação in vitro e corrigindo o tempo de
coagulação). O uso de heparina não fracionada, warfarina e outros
anticoagulantes orais gera resultado falso-positivo.
c. Anti-β2 glicoproteína I: aumenta susceptibilidade de eventos
trombóticos.
d. Exames de imagem e histopatológicos: citados anteriormente.
TRATAMENTO
a. Fase aguda de trombose: heparina de baixo peso molecular 1
mg/Kg de 12/12horas + anticoagulante oral (varfarina 5 mg/dia). Para
pacientes idosos, pode ser iniciada varfarina na dose de 2,5 mg/dia.
Depois de 4 a 7 dias, checar INR, com o objetivo de avaliar a suspensão
da heparina (caso INR esteja na faixa esperada: para eventos venosos
entre 2-3 e arteriais entre 2,5-3,5). Duração da anticoagulação: tempo
indeterminado
Sulfametoxazol
AINH Cimetidina Isoniazida
trimetropina
Folhas verdes: espinafre, brócolis, alface, couve, repolho Azeitona, cogumelos, tomate
Alimentos refogados ou processados em óleo Sopas que não sejam tipo creme
Maionese e temperos para salada, molho de tomate pronto Aves e peixes sem óleo
Fast-foods: hambúrguer, pizza, petiscos Lanches com pouca gordura e sem molhos
DICAS DO ESPECIALISTA
• Tripla positividade está associada à maior gravidade e elevado
risco trombótico.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente de 35 anos, sexo feminino, obesa, procura o
pronto-atendimento devido à dispneia há 1 dia, mesmo em repouso,
iniciada subitamente, negava tosse, negava coriza, negava febre, negava
obstrução nasal. Relatava também ter notado dor e aumento de volume
em membro inferior direito, com evolução de 3 dias, sem história de
trauma. Como antecedentes pessoais: ndn; antecedentes obstétricos: 1
gestação e 1 natimorto com mais de 10 semanas de gestação, feto
morfologicamente normal (na ocasião, não foi feita
investigação)/antecedentes familiares: ndn/ hábitos e vícios: negava
tabagismo/negava uso de medicamentos.
b. Exames complementares: radiografia de tórax sem alterações
significativas, eletrocardiograma taquicardia sinusal, ultrassonografia
venosa com doppler de membro inferior direito com sinais de trombose
e angiotomografia de tórax com sinais de TEP.
c. Hipóteses Diagnósticas: trombose venosa profunda e
tromboembolismo pulmonar/síndrome antifosfolípide (?).
d. Prescrição sugerida: Feita estratificação de risco de PESI: baixo
risco, sendo iniciada anticoagulação plena (enoxaparina 1 mg/kg
subcutâneo de 12/12horas) e marevan 5 mg/dia (considerando síndrome
antifosfolípide como hipótese diagnóstica e ausência de evidência com
relação ao uso de anticoagulantes orais diretos). Paciente permaneceu
internada até melhora clínica e meta terapêutica, INR entre 2-3.
Considerando obesidade com potencial gatilho para desfecho, paciente
foi orientada à realização de dieta, redução de peso e sobre importância
de atividade física. Além disso, foi orientada a fazer acompanhamento
com cardiologista para avaliação cardiovascular/metabólica
(dislipidemia/síndrome metabólica) e encaminhada para ambulatório de
Reumatologia, para complementar a investigação.
REFERÊNCIAS
1. Pinto Kamashita MA, Amigo MC. Síndrome antifosfolípide: aspectos gerais da patogênese,
diagnóstico e tratamento. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns
MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016; 139: 872-878.
2. Levy RA, Domingues V, Pacheco MS. Síndrome antifosfolípide. In: Carvalho MAP, Lanna
CCD, Bértolo MB. Reumatologia: Diagnóstico E Tratamento. 4 ed. São Paulo: Ac
Farmacêutica; 2014; 29: 474-484.
3. Balbi GGM, Danowski A. Fisiopatologia da Síndrome Antifosfolípide. In: Levy RA,
Andrade D. Manual da síndrome antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 1-8.
4. Tektonidou MG, Andreoli L, Limper M, Amoura Z, Cervera R, Costedoat-Chalumeau N, et
al. EULAR recommendations for the management of antiphospholipid syndrome in adults.
Ann Rheum Dis. 2019; 0: 1-9.
5. Ruiz-Irastorza G, Cuadrado MJ, Ruiz-Arruza I, Brey R, Crowther M, Derksen R, et al.
Evidence-based recommendations for the prevention and long-term management of
thrombosis in antiphospholipid antibody-positive patients: report of a task Force at the 13th
International Congress on antiphospholipid antibodies. Lupus. 2011; 20(2): 206-18.
6. Garcia D, Erkan D. Diagnosis and management of the antiphospholipid syndrome. N Engl J
Med. 2018; 378: 2010-21.
7. Schur PH. Pathogenesis of antiphospholipid syndrome. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso
em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/pathogenesis-of-
antiphospholipid-syndrome.
8. Noureldine MHA, Eldine WN, Khamashta MA, Uthman I. Insights into the diagnosis and
pathogenesis of the antiphospholipid syndrome. Semin Arthritis Rheum. 2019; 48(5): 860-6.
9. Funke A, Danowski D, Andrade DCO, Rêgo J, Levy RA. A importância de reconhecer
síndrome antifosfolípide na medicina vascular. J Vasc Bras. 2017; 16 (2): 140-9.
10. Canaud G, Bienaimé F, Tabarin F, Bataillon G, Seilhean D, Noël L, et al. Inhibition of the
mTORC pathway in the antiphospholipid syndrome. N Engl J Med 2014; 371: 303-12.
11. Mackworth-Young CG. Antiphospholipid syndrome: multiple mechanisms. Clin Exp
Immunol. 2004; 136: 393-401.
12. Fischetti F, Durigutto P, Pellis V, Debeus A, Macor P, Bulla R, et al. Thrombus formation
induced by antibodies to Beta 2 glycoprotein I is complemente dependente and requires a
priming fator. Blood. 2005; 106(7): 2340-7.
13. Arad A, Proulle V, Furie RA, Furie BA, Furie B. Beta 2 glycoprotein I autoantibodies from
patients with antiphospholipid syndrome are suficiente to potentiate arterial thrombus
formation in mouse model. Blood. 2011; 117(12): 3453-60.
14. Erkan D, Lockshin MD. What is antiphospholipid syndrome? Curr Rheumatol Rep. 2004;
6(6): 451-7.
15. Meroni PL, Raschi E, Camera M, Testoni C, Nicoletti F, Tincani A, et al. Endothelial
activation by aPL: A potencial pathogenic machanism for the clinical manifestations of the
syndrome. J Autoimmun. 2000; 15(2): 237-40.
16. Rashi E, Testoni C, Bosisio D, Borghi MO, Koike T, et al. Brief report role of the MyD88
transduction signaling pathway in endotelial activation by antiphospholipid antibodies.
Blood. 2003; 101(9): 3496-500.
17. Pengo V, Banzato A, Denas G, Jose SP, Bison E, Hoxha A, et al. Correct laboratory
approach to APS diagnosis and monitoring. Autoimmun Rev. 2013; 12(8): 832-4.
18. Shoenfeld Y, Blank M, Cervera R, Font J, Raschi E, Meroni PL. Infectious origin of the
antiphospholipid syndrome. Ann Rheum Dis. 2006; 65(1): 2-6.
19. Lockwood CJ, Lockshin MD. Antiphospholipid syndrome: Pregnancy implications and
management in pregnant women. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em xx]. Disponível
em: https://www.uptodate.com/contents/antiphospholipid-syndrome-pregnancy-implications-
and-management-in-pregnant-women.
20. Tong M, Viall CA, Chamley LW. Antiphospholipid antibodies and the placenta: a
systematic review of their in vitro effects and modulation by treatment. Hum Reprod Update.
2015; 21(1): 97-118.
21. Matrai CE, Rand JH, Baergen RN. Absence of Distinct Immunohistochemical Distribution
of Annexin A5, C3b, C4d, and C5b-9 in Placentas From Patients With Antiphospholipid
Antibodies, Preeclampsia, and Systemic Lupus Erythematosus. Pediatr Dev Pathol. 2019;
22(5): 431-9.
22. Samarkos M, Mylona E, Kapsimali V. The role of complement in the antiphospholipid
syndrome: a novel mechanism for pregnancy morbidity. Semin Arthritis Rheum. 2012;
42(1): 66-9.
23. Marder W, Knight JS, Kaplan MJ, Sommers EC, Zhang X, O’Dell AA, et al. Placental
histology and neutrophil extracellular traps in lupus and pre-eclampsia pregnancies. Lupus
Sci Med. 2016; 3(1): e000134.
24. Gysler SM, Mulla MJ, Guerra M, Brosens JJ, Salmon JE, Chamley LW, et al.
Antiphospholipid antibody-induced miR-146a-3p drives trophoblast interleukin-8 secretion
through activation of Toll-like receptor 8. Mol Hum Reprod. 2016; 22(7): 465-74.
25. Erkan D, Zuily S. Clinical manifestations of syndrome. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso
em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-of-
antiphospholipid-syndrome.
26. Cervera R, Piette JC, Font J, Khamashta MA, Shoenfeld Y, Camps MT, et al.
Antiphospholipid syndrome: clinical and immunologic manifestations and patterns of
disease expression in a cohort of 1,000 patients. Arthritis Rheum. 2002; 46(4): 1019-27.
27. Galli M, Luciani D, Bertolini G, Barbui T. Lupus anticoagulants are stronger risk factors for
thrombosis than anticardiolipin antibodies in the antiphospholipid syndrome: a systematic
review of the literature. Blood. 2003; 101(5): 1827-32.
28. Pengo V, Ruffatti A, Legnani C, Gresele P, Barcellona D, Erba N, et al. Clinical course of
high-risk patients diagnosed with antiphospholipid syndrome. J Thromb Haemost. 2010;
8(2): 237-42.
29. Cervera R, Khamashta MA, Shoenfeld Y, Camps MT, Jacobsen S, Kiss E, et al. Morbidity
and mortality in the antiphospholipid syndrome during a 5-year period: a multicentre
prospective study of 1000 patients. Ann Rheum Dis. 2009; 68(9): 1428-32.
30. Zuily S, Regnault V, Guillemin F, Kaminsky P, Rat AC, Lecompte T, et al. Superficial vein
thrombosis, thrombin generation and activated protein C resistance as predictors of
thromboembolic events in lupus and antiphospholipid patients. A prospective cohort study.
Thromb Res. 2013; 132(1): e1-7.
31. Forastiero R, Martinuzzo M, Pombo G, Puente D, Rossi A, Celebrin L, et al. A prospective
study of antibodies to beta2-glycoprotein I and prothrombin, and risk of thrombosis. J
Thromb Haemost. 2005; 3(6): 1231-8.
32. Lopes MRU, Danowski A, Funke A, Rêgo J, Levy R, Andrade DCO. Revisão de síndrome
do anticorpo antifosfolípide. Rev Assoc Med Bras. 2017; 63 (11): 994-9.
33. Balbi GGM, Domingues V, Signorelli F, Levy RA. Manifestações clínicas e critérios
classificatórios. In: Levy RA, Andrade D. Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo:
Segmento Farma; 2018.
34. Tektonidou MG, Varsou N, Kotoulas G, Antoniou A, Moutsopoulos HM. Cognitive deficits
in patients with antiphospholipid syndrome: association with clinical, laboratory, and brain
magnetic resonance imaging findings. Arch Intern Med. 2006; 166(20): 2278-84.
35. Francès C, Piette JC. The mystery of Sneddon syndrome: relationship with antiphospholipid
syndrome and systemic lupus erythematosus. J Autoimmun. 2000; 15(2): 139-43.
36. Hilton DA, Footitt D. Neuropathological findings in Sneddon’s syndrome. Neurology. 2003;
60: 1181-2.
37. Muscal E, Brey RL. Neurologic manifestations of the antiphospholipid syndrome:
integrating molecular and clinical lessons. Curr Rheumatol Rep. 2008; 10(1): 67-73.
38. Sanna G, Bertolaccini ML, Cuadrado MJ, Laing H, Khamashta MA, Mathieu A, et al.
Neuropsychiatric manifestations in systemic lupus erythematosus: prevalence and
association with antiphospholipid antibodies. J Rheumatol. 2003; 30(5): 985-92.
39. Cuadrado MJ, Khamashta MA, Ballesteros A, Godfrey T, Simon MJ, Hughes GR. Can
neurologic manifestations of Hughes (antiphospholipid) syndrome be distinguished from
multiple sclerosis? Analysis of 27 patients and review of the literature. Medicine
(Baltimore). 2000; 79(1): 57-68.
40. Theodoridou A, Settas L. Demyelination in rheumatic diseases. J Neurol Neurosurg
Psychiatry. 2006; 77(3): 290-5.
41. Avcin T, Cimaz R, Meroni PL. Recent advances in antiphospholipid antibodies and
antiphospholipid syndromes in pediatric populations. Lupus. 2002; 11(1): 4-10.
42. Zuily S, Domingues V, Suty-Selton C, Eschwège V, Bertoletti L, Chaouat A, et al.
Antiphospholipid antibodies can identify lupus patients at risk of pulmonary hypertension: A
systematic review and meta-analysis. Autoimmun Rev. 2017; 16(6): 576-86.
43. Espinosa G, Cervera R, Font J, Asherson RA. The lung in the antiphospholipid syndrome.
Ann Rheum Dis. 2002; 61(3): 195-8.
44. Zuily S, Wahl D. Pulmonary hypertension in antiphospholipid syndrome. Curr Rheumatol
Rep. 2015; 17(1): 478.
45. Denas G, Jose SP, Bracco A, Zoppellaro G, Pengo V. Antiphospholipid syndrome and the
heart: a case series and literature review. Autoimmun Rev. 2015; 14(3): 214-22.
46. Farzaneh-Far A, Roman MJ, Lockshin MD, Devereux RB, Paget SA, Crow MK, et al.
Relationship of antiphospholipid antibodies to cardiovascular manifestations of systemic
lupus erythematosus. Arthritis Rheum. 2006; 54(12): 3918-25.
47. Zuily S, Huttin O, Mohamed S, Marie PY, Selton-Suty C, Wahl D. Valvular heart disease in
antiphospholipid syndrome. Curr Rheumatol Rep. 2013; 15(4): 320.
48. Roldan CA, Gelgand EA, Qualls CR, Sibbitt WL Jr. Valvular heart disease as a cause of
cerebrovascular disease in patients with systemic lupus erythematosus. Am J Cardiol 2005;
95:1441.
49. Roldan CA, Gelgand EA, Qualls CR, Sibbitt WL Jr. Valvular heart disease by transthoracic
echocardiography is associated with focal brain injury and central neuropsychiatric systemic
lupus erythematosus. Cardiology. 2007; 108: 331-7.
50. Zuily S, Regnault V, Selton-Suty C, Eschwège V, Bruntz JF, Bode-Dotto E, et al. Increased
risk for heart valve disease associated with antiphospholipid antibodies in patients with
systemic lupus erythematosus: meta-analysis of echocardiographic studies. Circulation.
2011; 124(2): 215-24.
51. Chighizola CB, Andreoli L, de Jesus GR, Banzato A, Pons-Estel GJ, Erkan D; et al. The
association between antiphospholipid antibodies and pregnancy morbidity, stroke,
myocardial infarction, and deep vein thrombosis: a critical review of the literature. Lupus.
2015; 24(9): 980-4.
52. Amigo MC. What do we know about the cardiac valve lesion in the antiphospholipid
syndrome (APS)? Lupus. 2014; 23 (12): 1259-61.
53. Uthman IW, Khamashta MA. Livedo racemosa: a striking dermatological sign for the
antiphospholipid syndrome. J Rheumatol. 2006; 33(12): 2379-82.
54. Kawakami T, Yamazaki M, Mizoguchi M, Soma Y. Differences in anti-phosphatidylserine-
prothrombin complex antibodies and cutaneous vasculitis between regular livedo reticularis
and livedo racemosa. Rheumatology (Oxford). 2009; 48: 508-12.
55. Ehrmann S. Ein Gefaessprozess Bei Lues. Wien Med Wochenschr. 1907; 57: 777-82.
56. Criado PR, Rivitti EA, Sotto MN, Valente NY, Aoki V, Valente NYS, et al. Vasculopatia
livedóide: uma doença cutânea intrigante. An Bras Dermatol. 2011; 86(5): 961-77.
57. Bertolacini ML, Amengual O, Andreoli L, Atsumi T, Chighizola CB, Forastiero R, et al.
14th International Congresso n Antiphospholipid Antibodies Task Force. Reporto n
antiphospholipid syndrome laboratory diagnostics and trends. Autoimmun Rev. 2014; 13(9):
917-30.
58. Cervera R, Tektonidou MG, Espinosa G, Cabral AR, González EB, Erkan D, et al. Task
force on catastrophic antiphospholipid syndrome and non-criteria APS manifestations (I):
catastrophic APS, APS nephropathy and heart valve lesions. Lupus. 2011; 20(2): 165-73.
59. Uthman I, Khamashta M. The abdominal manifestations of the antiphospholipid syndrome.
Rheumatology (Oxford). 2007; 46(11): 1641-7.
60. Qi X, De Stefano V, Su C, Bai M, Guo X, Fan D. Associations of antiphospholipid
antibodies with splanchnic vein thrombosis: a systematic review with meta-analysis.
Medicine (Baltimore). 2015; 94(4): e496.
61. Zhu W, Wu Y, Xu M, Wang J, Meng Y, Gu Z, et al. Antiphospholipid antibody and risk of
retinal vein occlusion: a systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2014; 10(4):
e0122814.
62. Miserocchi E, Baltatzis S, Foster CS. Ocular features associated with anticardiolipin
antibodies:a descriptive study. Am J Ophthalmol. 2001; 131(4): 451-6.
63. Carbone J, Sánchez-Ramón S, Cobo-Soriano R, Seoane E, Aparicio MJ, Ruiz-Tíscar JL, et
al. Antiphospholipid antibodies: a risk factor for occlusive retinal vascular disorders.
Comparison with ocular inflammatory diseases. J Rheumatol. 2001; 28(11): 2437-41.
64. Espinosa G, Santos E, Cervera R, Piette JC, de la Red G, Gil V, et al. Adrenal involvement
in the antiphospholipid syndrome: clinical and immunologic characteristics of 86 patients.
Medicine (Baltimore). 2003; 82(2): 106-18.
65. Ramon I, Mathian A, Bachelot A, Hervier B, Haroche J, Boutin-Le Thi Huong D, et al.
Primary adrenal insufficiency due to bilateral adrenal hemorrhage-adrenal infarction in the
antiphospholipid syndrome: long-term outcome of 16 patients. J Clin Endocrinol Metab.
2013; 98(8): 3179-89.
66. Cervera R, Bucciarelli S, Plasín MA, Gómez-Puerta JA, Plaza J, Pons-Estel G, et al.
Catastrophic antiphospholipid syndrome (CAPS): descriptive analysis of a series of 280
patients from the “CAPS Registry”. J Autoimmun. 2009; 32(3-4): 240-5.
67. Tektonidou MG, Malagari K, Vlachoyiannopoulos PG, Kelekis DA, Moutsopoulos HM.
Asymptomatic avascular necrosis in patients with primary antiphospholipid syndrome in the
absence of corticosteroid use: a prospective study by magnetic resonance imaging. Arthritis
Rheum. 2003; 48(3): 732-6.
68. Lima F, Khamashta MA, Buchanan NM, Kerslake S, Hunt BJ, Hughes GR. A study of sixty
pregnancies in patients with the antiphospholipid syndrome. Clin Exp Rheumatol. 1996;
14(2): 131-6.
69. Branch DW, Silver RM, Blackwell JL, Reading JC, Scott JR. Outcome of treated
pregnancies in women with antiphospholipid syndrome: an update of the Utah experience.
Obstet Gynecol. 1992; 80(4): 614-20.
70. Di Prima FAF, Valenti O, Hyseni E, Giorgio E, Faraci M, Renda E, et al. Antiphospholipid
Syndrome during pregnancy: the state of the art. J Prenat Med. 2011; 5(2): 41-53.
71. Jesus GR, Jesus NR, Levy RA. Diagnóstico e critérios obstétricos. In: Levy RA, Andrade D.
Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 17-23.
72. Miyakis S, Lockshin MD, Atsumi T, Branch DW, Brey RL, Cervera R, et al. International
consensus statement on na update of the classification criteria for definite antiphospholipid
syndrome. J Thromb Haemost. 2006; 4(2): 295-306.
73. Ortel TL, Erkan D, Kitchens CS. How I treat catastrophic thrombotic syndromes. Blood.
2015; 126(11): 1285-93.
74. Cervera R. Catastrofic antiphospholipid syndrome (CAPS): update fromthe “CAPS
Registry”. Lupus. 2010; 19: 412-8.
75. Rosa RF, Nascimento IS, Ugolini-Lopes MR, Andrade D. Diagnóstico laboratorial. In: Levy
RA, Andrade D. Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018;
25-32.
76. Sciascia S, Amigo MC, Roccatello D, Khamashta M. Diagnosing antiphospholipid
syndrome: “extra-criteria” manifestations and technical advances. Nat Ver Rheumatol. 2017;
13(9): 548-60.
77. Bodnar M, Henneberg R, Frigeri HR, Silva PH. Diagnóstico laboratorial da síndrome
antifosfolípide. J Biotec Biodivers. 2012; 3(4): 108-16.
78. Doruk E, Ortel TL. Diagnosis of antiphospholipid syndrome. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/diagnosis-of-
antiphospholipid-syndrome.
79. Santiago MB. Manuseio das manifestações trombóticas arteriais. In: Levy RA, Andrade D.
Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 33-39.
80. Funke A. Tratamento venoso. In: Levy RA, Andrade D. Manual da Síndrome
Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 51-57.
81. Bates SM, Greer IA, Middeldorp S, Veenstra DL, Prabulos AM, Vandvik PO. VTE,
thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: Antithrombotic Therapy and
Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based
Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012; 141(2): e 691S-736.
82. Erkan D. The relation between antiphospholipid syndrome-related pregnancy morbidity and
non-gravid vascular thrombosis: a review of the literature and management strategies. Curr
Rheumatol Rep. 2002; 4(5): 379-86.
83. Gris JC, Bouvier S, Molinari N, Galanaud JP, Cochery-Nouvellon E, Mercier E, et al.
Comparative incidence of a first thrombotic event in purely obstetric antiphospholipid
syndrome with pregnancy loss: the NOH-APS observational study. Blood. 2012; 119(11):
2624-32.
84. de Jesús GR, Sciascia S, Andrade D, Barbhaiya M, Tektonidou M, Banzato A, et al. Factors
associated with first thrombosis in patients presenting with obstetric antiphospholipid
syndrome (APS) in the APS Alliance for Clinical Trials and International Networking
Clinical Database and Repository: a retrospective study. BJOG. 2019; 126(5): 656-61.
85. Toubi E, Kessel A, Rosner I, Rozenbaum M, Lorber M, Paran D, et al. Quinacrine added to
ongoing therapeutic regimens attenuates anticardiolipin antibody production in SLE. Lupus.
2003; 12(4): 297-301.
86. Sciascia S, Hunt BJ, Talavera-Garcia E, Lliso G, Khamashta MA, Cuadrado MJ. The impact
of hydroxychloroquine treatment on pregnancy outcome in women with antiphospholipid
antibodies. Am J Obstet Gynecol. 2016; 214(2): 273.e1-273.
87. Bertolaccini ML, Contento G, Lennen R, Sanna G, Blower PJ, Ma M, et al. Complement
inhibition by hydroxychloroquine prevents placental and fetal brain abnormalities in
antiphospholipid syndrome. J Autoimmun. 2016; 75: 30-8.
88. Ruffatti A, Tonello M, Hoxha A, Sciascia S, Cuadrado MJ, Latino JO, et al. Effect of
Additional Treatments Combined with Conventional Therapies in Pregnant Patients with
High-Risk Antiphospholipid Syndrome: A Multicentre Study. Thromb Haemost. 2018;
118(4): 639-46.
89. Nascimento IS, Ugolini-Lopes MR, Andrade D. Tratamentos emergentes. In: Levy RA,
Andrade D. Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 59-65.
90. Staub HL. Variantes clínicas e tratamento. In: Levy RA, Andrade D. Manual da Síndrome
Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 41-50.
91. Ferreira WHR, Sá GN, Carvalho JF. Algumas considerações para o paciente. In: Levy RA,
Andrade D. Manual da Síndrome Antifosfolípide. São Paulo: Segmento Farma; 2018; 67-76.
92. Cavazzana I, Andreoli L, Limper M, Franceschini F, Tincani A. Update on
Antiphospholipid Syndrome: Ten Topics in 2017. Curr Rheumatol Rep. 2018; 20(3): 15.
7.3
ARTRITE REUMATOIDE
Autora:
Yanne Franca Montino
DEFINIÇÕES
• Artrite reumatoide (AR) é uma doença sistêmica, autoimune e
inflamatória que acomete preferencialmente as membranas
sinoviais das articulações periféricas.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A etiologia da doença é desconhecida, porém, muitos estudos
avançaram considerando como principal fator genético no
desenvolvimento da doença o antígeno leucocitário humano HLA-
DRB1 e a detecção de anticorpos contra peptídeos citrulinados
cíclicos (anti-CCP).
QUADRO CLÍNICO
• A AR é bastante variável quanto à apresentação clínica, à
gravidade e ao prognóstico. Mais tipicamente, apresenta-se como
doença poliarticular simétrica de pequenas e grandes articulações,
com início gradual, caráter crônico e destrutivo.
EXAMES COMPLEMENTARES
• As provas de atividades inflamatórias como velocidade de
hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR) são os
marcadores mais utilizados para avaliar o grau de atividade da AR,
embora sejam desprovidas de especificidade.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico da AR é feito por meio da associação de
manifestações clínicas e os exames complementares (laboratoriais
ou radiográficos).
Paciente com pelo menos uma articulação com sinovite clínica definida (edema)*.
Sinovite que não seja mais bem explicada por outra doença.
1 grande articulação 0
Solorogia (0-3)
< 6 semanas
0
≥ 6 semanas
1
*Os diagnósticos diferenciais podem incluir condições tais como lúpus eritematoso sistêmico,
artrite psoriática e gota. Se houver dúvidas quanto aos diagnósticos diferenciais relevantes, um reumatatologista deve ser
consultado.
FR: fator reumatoide; ACPA: anticorpos antiproteínas e peptídeos citrulinados;
VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C reativa.
• Terapia medicamentosa:
• Uso de anti-inflamatório não hormonais (AINHs) e corticoides
• Os AINHs são utilizados para combate da dor e da inflamação. A
escolha do AINH deve ser individualizada, pois não há estudos
mostrando superioridade conhecida por qualquer fármaco dessa
classe. Deve-se ficar atendo a condições clínicas que possam ser
agravadas com uso dos AINHs, como: insuficiência cardíaca,
hipertensão arterial, doença gastrointestinal, insuficiência renal,
hepatopatias e distúrbios de coagulação.
• Entre os AINHs convencionais, pode-se citar: indometacina
(100-150 mg/dia), cetoprofeno (100-150 mg/dia), piroxicam e
tenoxicam (20 mg/dia), nimesulida (200 mg/dia), meloxicam (15
mg/dia), diclofenaco (100-150 mg/dia), celocoxib (200 mg/dia).
• Atualmente há evidências para indicá-los como participantes na
modificação do curso da doença em associação com as DMCD.
• É sugerido o uso de doses baixas (< ou igual 15 mg/dia) de
prednisona ou prednisolona. Devido a vários efeitos colaterais, o
tempo de uso deve ser abreviado ao menor possível. Se os
pacientes necessitarem de uso de glicocorticoides prolongado
(>3 meses), devem receber suplementação de cálcio (1500
mg/dia de cálcio elementar) e vitamina D3 (400-800 UI/dia).
Para pacientes em uso de concomitante de corticoide e AINH,
recomenda-se proteção gástrica com inibidor de bomba de
prótons. Uso de corticoide intra-articular deve ser feito a
qualquer momento do tratamento, porém uma mesma articulação
não deve ser infiltrada por mais de 3-4 ano.
• DMCD sintética
• Metotrexato - MTX
• É um imunomodulador cuja ação consiste na inibição da síntese
de DNA, RNA e proteínas devido à inibição da enzima
diidrofolato redutase. Atualmente, é o fármaco padrão no
tratamento da AR. Recomenda-se dose incial de 10-
15mg/semana, vo ou parenteral (IM ou SC). Caso não se observe
melhora ou controle da doença com a dose inicial, deve-se
aumentar progressivamente a cada 2-4 semanas até alcançar a
dose de 20-30 mg semana. Sugere-se a associação do MTX ao
ácido fólico na dose de 5-10 mg/semana 24-48 h após o MTX, a
fim de minimizar os efeitos adversos. Os efeitos adversos mais
frequentes incluem: náuseas, vômitos, mucosite, anemia,
neutropenia e elevação de enzimas hepáticas. O MTX está
contraindicado em pacientes com hepatopatia, etilismo,
insuficiência renal, supressão da medula óssea. A gestação e a
amamentação estão formalmente contraindicadas.
• Leflunomida - LEF
• É um agente imunomodulador que inibe a enzima diidroorotato
desidrogenase responsável pela síntese de pirimidina. Melhora a
atividade da doença e a qualidade de vida. A dose recomendada
é 20 mg/dia, mas podem ser usados 20 mg/dias alternados. Está
contraindicada em hepatopatas, insuficiência renal gestação e
amamentação. Os efeitos adversos incluem: vômitos, dor
abdominal, náuseas, alteração das enzimas hepáticas, exantema
cutâneo, alopecia reversível. Em casos de intoxicação, pode ser
usada a colestiramina, na dose de 8 g 3 x ao dia durante 11 dias.
• Sulfassalazina - SSZ
• Pertence ao grupo dos salicilatos e sulfamidas, e é desdobrada
pelas bactérias intestinais na sulfapiridina (tem vários efeitos
imunomodulatórios, como inibição de diversas funções
neutrofilícas e linfocitárias, quimiotaxia e inibição de
prostraglandinas). Usualmente utilizada na dose de 1-3 g/dia
VO.
• Os efeitos colaterais gastrointestinais constituem um fator
limitante (náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia). Está
contraindicada para pacientes alérgicos a salicilatos e a sulfas, e
em indivíduos com porfiria.
• Anti-TNF
• A inibição do TNF demonstrou ser efetivo para controlar a
atividade da AR. O TNF é uma potente citocina inflamatória
expressa em grande quantidade no líquido sinovial e soro de
pessoas com AR. É responsável pela liberação de outras
citocinas, como: IL-6, IL-1, IL-8 e estimula a produção de
proteases.
• Em termo de eficácia, não existem dados que permitam afirmar a
superioridade de qualquer um dos cincos agentes anti-TNF.
Devem ser usados preferencialmente associados ao MTX ou
outra DMCD sintética, pois o uso combinado mostrou-se um
rápido benefício no controle da atividade da doença quando
comparado com uso do anti-TNF como monoterapia.
• Infliximabe - IFX
• É um anticorpo monoclonal quimérico (humano-murino),
prescrito na dose de 3 mg/kg, endovenoso, seguido da mesma
dose nas segunda e na sexta semana e, depois, a cada 8 semanas
(0,2,6,8 semanas). Para pacientes que não responderam
satisfatoriamente, a dose pode ser aumentada para 5 mg/kg por
infusão, ou o intervalo entre as doses pode ser diminuído.
• Golimumabe - GOL
• O GOL é um anticorpo monoclonal humano anti-TNF
administrado na dose de 50 mg/ mês, via subcutânea.
• Etanercepte - ETN
• É uma proteína de fusão composta por uma região Fc da IgG e
um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF. Prescrita na dose
de 50 mg/semanal, subcutânea.
• Adalimumabe - ADA
• É um anticorpo humano contra TNF, prescrito para aplicação SC
na dose de 40 mg a cada 15 dias.
• Certolizumabe - CERT
• É um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF humanizado,
com alta afinidade ao TNF, conjugado a duas moléculas de
polietilenoglicol. Prescrita a dose de 400 mg a cada 2 semanas,
nas semanas, 0,2,4 e, após isso, na dose de 200 mg a cada 2
semanas ou 400 mg a cada 4 semanas.
• Rituximabe-RTX
• É um anticorpo monoclonal quimérico dirigido contra o linfócito
CD 20+. A dose administrada é de 1.000 mg em duas infusões
venosas em intervalo de 14 dias. Cada infusão deve ser
precedida de 100 mg de metilprednisolona endovenosa 60 min
antes e de 1 g de paracetamol e anti-histamínico, para diminuir a
gravidade e frequência de reações infusionais. É indicado para
pacientes com AR em atividade moderada a grave com falha à
terapêutica ao anti-TNF.
• Abatacepte - ABAT
• É uma proteína de fusão CTLA-4- IgG, que atua como inibidor da
coestimulação dos linfócitos T. É indicado para pacientes com AR
em atividade que tiveram falha à terapêutica com DMCD ou
agentes biológicos. Deve ser administrado como infusão venosa,
durante 30 min, na dose de 500 mg nos pacientes com menos de 60
kg, 750 mg em pacientes entre 60-100 kg, e 1.000 mg naqueles
com mais de 100 kg. A dose seguinte deve ser aplicada duas a
quatro semanas após a dose inicial e, depois, a cada 4 semanas. É
contraindicado em pacientes com doença pulmonar obstrutiva
crônica, pois pode exacerbar o quadro e aumentar os risco de
infecção.
• Tocilizumabe - TOCI
• É um anticorpo monoclonal humanizado que se liga ao receptor
de IL-6, inibindo seu efeito. Prescrito na dose de 8 mg/kg,
endovenoso, a cada 4 semanas.
• Pode ser usado como monoterapia, ou associado ao MTX ou
outras DMCD. Pode ocasionar plaquetopenia, neutropenia e
elevação de transaminases, os quais são efeitos adversos dose
dependentes. Aumenta o risco de infecção e elevação do
colesterol total e do LDL (lipoproteína de baixa densidade). É
indicado para pacientes que falharam com outras DMCD.
Quando o paciente entra em remissão sustentada, por mais de 6-12 meses
(baseando nos índices compostos de atividade de doença), pode-se tentar a
retirada gradual das medicações iniciando primeiramente os AINE, seguidos
de glicocorticoides, depois DMCD biológico, mantendo o uso de DMCD
sintético. Se houver piora da atividade da doença, deve-se reiniciar o
esquema terapêutico anterior e seguir as recomendações de dose inicial e de
ajuste de doses e troca de medicamentos indicadas no Protocolo.
Revisões periódicas devem ser realizadas para avaliar a eficácia do
tratamento e a monitorização de possíveis efeito adversos dos
medicamentos. O intervalo recomendado inicialmente é de 1-3 meses e, uma
vez atingindo a remissão da doença e atividade leve para pacientes com anos
de evolução da AR, os intervalos podem ser de 6-12 meses
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
*AINH: anti-inflamatórios não hormonais; MMCD: medicamentos modificados do curso da doença; MTX: metotrexato.
a Havendo contraindicação ao MTX, a sulfassalazina ou leflunomida podem ser empregadas. Antimaláricos
(hidroxicloroquina/cloroquina) em monoterapia podem ser considerados em quadros com baixo potencial erosivo.
b As combinações mais utilizadas no Brasil são: MTX + antimaláricos, MTX + leflunomida (com ou sem antimaláricos),
MTX + sulfassalazina (com ou sem antimaláricos).
c A meta do tratamento deve ser alcançar a remissão, conforme critérios ACR/EULAR ou, quando não for possível, a baixa
atividade da doença, avaliada por um dos índices compostos de atividade de doença.
d Não é recomendado o uso de um terceiro anti-TNF após falha das duas opções de anti-TNF.
e No Brasil, o rituximabe é recomendado, em combinação com MTX, para pacientes que tiveram resposta inadequada ou
intolerância a um ou mais anti-TNF.
f No caso de falha ou toxidade a um medicamento na terceira linha de tratamento, o próximo passo será trocar para outro
(MMCDb ou MMCDsae) listado nesse mesmo nível de complexidade, que não tenha sido previamente utilizado.
Fluxograma1: Fluxograma para tratamento da artrite reumatoide no Brasil.
Fonte: Vasconcelos.1
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: RBS, 52 anos, sexo feminino, há 4 meses queixa-se
de dores articulares progressivas que iniciaram em punhos,
metacarpofalangeanas e interfalangeanas das ambas as mãos, relatava
também vermelhidão e inchaço associado. Logo ao acordar, tem
dificuldade de movimentar as mãos, que parecem ficar duras,
melhorando após 1-2 horas.
b. Exame físico articular: punhos com flexão diminuída
bilateralmente, edema e dor em 3º, 4º e 5º interfalangeanas da mão
direita, e 4ª e 5ª interfalangeana da mão esquerda, além de presença de
pequeno nodúlo em interfalangeana do 5º dedo da mão esquerda.
Joelhos apresentavam inchados, quentes e dificuldade a flexão ativa e
passiva.
c. Exames complementares: fator reumatoide-64 (vr- <14), FAN
negativo, anticcp - 128 u/mL (vr- reagente> 10) pcr-70 mg/dL (vr- até
1,0 mg/dL), vhs- 55 mm/1h (vr-0-20 mm), sorologias para hepatite b/c
e HIV negativas.
d. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019.
2. Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
3. Matteson EL, Davis JM. Overview of the systemic and nonarticular manifestations of
rheumatoid arthritis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-systemic-and-nonarticular-
manifestations-of-rheumatoid-arthritis.
4. England BR, Mikuls TR. Epidemiology of, risk factors for, and possible causes of
rheumatoid arthritis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/0220]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/epidemiology-of-risk-factors-for-and-possible-causes-of-
rheumatoid-arthritis.
5. Venables PJW, BChir MB. Clinical manifestations of rheumatoid arthritis. UpToDate.
[Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-of-rheumatoid-arthritis.
6. Schur PH. Nonpharmacologic therapies and preventive measures for patients with
rheumatoid arthritis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/nonpharmacologic-therapies-and-preventive-measures-
for-patients-with-rheumatoid-arthritis.
7. Pinto MRC, B MB, Kakehasi AM. Artrite Reumatoide. In: Carvalho MAP. Reumatologia
Diagnóstico e Tratamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Ac Farmacêutica; 2014. Cap. 21. p. 303-28.
8. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezende-Fronza LS, Bertolo MB, et al.
Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite
reumatoide. Rev Bras Reumatol. 2012; 52(2): 152-74.
9. Gabriel S, Crowson CS. Epidemiology of, risk factors for, and possible causes of rheumatoid
arthritis. UpToDate. [Internet]. [acesso em 10 jun 2017]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/epidemiology-of-risk-factors-for-and-possible-causes-of-
rheumatoid-arthritis?source=search_result&search=Epidemiologia reumatoidea
artrite&selectedTitle=1~150.
10. Lovisi Neto BE, Jennings F, Barros Ohashi C, Silva PG, Natour J. Evaluation of the efficacy
of an educational program for rheumatoid arthritis patients. Clin Exp Rheumatol. 2009;
27(1): 28-34.
11. Masiero S, Boniolo A, Wassermann L, Machiedo H, Volante D, Punzi L. Effects of an
educational-behavioral joint protection program on people with moderate to severe
rheumatoid arthritis: a randomized controlled trial. Clin Rheumatol. 2007; 26(12): 2043-50.
12. Ferraz-Amaro I, Machin S, Carmona L, Gonzalez-Alvaro I, Diaz-Gonzalez F; EMECAR
study group. Pattern of use and safety of non-steroidal anti-infl amatory drugs in rheumatoid
arthritis patients. A prospective analysis from clinical practice. Reumatol Clin. 2009; 5(6):
252-8.
13. van Everdingen AA, Jacobs JW, Siewertsz Van Reesema DR, Bijlsma JW. Low-dose
prednisone therapy for patients with early rheumatoid arthritis: clinical effi cacy, disease
modifying properties, and side effects: a randomized, double-blind, placebo-controlled
clinical trial. Ann Intern Med. 2002; 136(1): 1-12.
14. Rozman B. Clinical pharmacokinetics of leflunomide. Clin Pharmacokinet. 2002; 41(6):
421-30.
15. Scott DL, Smolen JS, Kalden JR, van de Putte LB, Larsen A, Kvien TK, et al. Treatment of
active rheumatoid arthritis with lefl unomide: two year follow up of a double blind, placebo
controlled trial versus sulfasalazine. Ann Rheum Dis. 2001; 60(10): 913-23.
16. Kalden JR, Scott DL, Smolen JS, Schattenkirchner M, Rozman B, Williams BD, et al.
Improved functional ability in patients with rheumatoid arthritis: longterm treatment with
leflunomide versus sulfasalazina. J Rheumatol. 2001; 28(9): 1983-91.
17. Clark P, Casas E, Tugwell P, Medina C, Gheno C, Tenorio G, et al. Hydroxychloroquine
compared with placebo in rheumatoid arthritis. A randomized controlled trial. Ann Intern
Med. 1993; 119(11): 1067-71.
18. Aletaha D, Neogi T, Silman AJ, Funovits J, Felson DT, Bingham CO 3rd , et al. 2010
rheumtoide arthritis classification criteria: an American College of Rheumatology/ European
League Against Rheumatism collaborative initiative, Ann Rheum Dis. 2010; 69 (9):1580-8
7.4
ARTRITES AGUDAS
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
O sintoma de dor articular pode estar associado a várias doenças. Na avaliação inicial, é importante observar se
a dor é decorrente da articulação ou de alterações em partes moles.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Monoartrite aguda
Poliartrites inflamatórias
ARTRITE REUMATOIDE
OSTEOARTRITE INFLAMATÓRIA
QUADRO 1. ETIOLOGIA
Fonte : Adaptado de Helfegott2
A avaliação é feita através de: história completa; exame físico e exames complementares (imagem: radiografia,
ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância), de acordo com a avaliação; análise do líquido
sinovial (Tabela 1) e interpretação de tal exame (fluxograma 1); exames de laboratório (solicitados de acordo com
o quadro); biópsia sinovial (reservada para casos de monoartrite refratária, suspeita de infecções atípicas ou
tumores intra-articulares).
Amarelo
Cor Límpido Amarelo Amarelo opaco Vermelho
opaco/verde
Viscosidade Alta Alta Baixa Variável Variável
Leucócitos
< 200 0 a 2 mil > 2 mil > 20 mil Variável
cel/mm3
Polimorfonu-
< 25 < 25 > ou igual 50 > ou igual 75 50 a 75
cleares (%)
**Artrite inflamatória pode incluir artrite séptica. Artrite séptica gonocócica pode cursar com
a contagem de leucócitos baixa.
FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO
• Características:
• Primária ou secundária.
• É a causa mais comum de condrocalcinose.
• Está fortemente associada à idade (≥ a 65 anos) e, em alguns casos, a fatores hereditários.
• Manifestação: assintomática, sinovite aguda ou artropatia degenerativa; acomete notadamente joelhos,
punhos e quadris; é a causa mais comum de monoartrite em idosos.
• Cristais: romboides ou hastes com birrefringência positiva fraca à microscopia de luz polarizada.
• Quadro clínico:
• Latente ou assintomática: alteração radiológica (condrocalcinose: calcificação da cartilagem hialina
ou fibrocartilagem).
• Pseudogota: artrite aguda, mais comum em idosos, pode ocorrer febre; geralmente é monoarticular
(comum em: joelhos, punhos, ombros, cotovelos e tornozelos), autolimitada (duração de 1-3 semanas)
e pode coexistir com gota. Situações desencadeantes mais comuns: trauma articular, doença clínica
intercorrente, cirurgia, transfusão de sangue, lavagem articular.
• Pseudo-osteoartrite: joelhos, quadris, punhos, metacarpofalangeanas (2-3ª), ombros e
cotovelos/diferença com osteoartrite: locais pouco usuais para osteoartrite, como: punhos, cotovelos e
tornozelos, acometimento preferencial de compartimento medial de joelho, ausência de trauma ou
sobrecarga, inflamação mais proeminente, sobreposição de ataques agudos
• Pseudoartrite reumatoide (ocorre em 5% dos casos): poliarticular, não erosiva, + ou - sintomas
sistêmicos.
• Pseudo-neuropática: alterações degenerativas importantes (semelhantes a Charcot), sem alteração
neurológica.
• Outras: axial (síndrome do dente coroado, por exemplo), tendinite ou tenossinovite, bursite, tofácea
(articulação temporomandibular é a mais comum).
• Tratamento: tratamento da doença associada; redução de peso; calçado adequado; gelo; repouso; anti-
inflamatório tópico; exercícios de fortalecimento muscular. Na artrite aguda: 1 ou 2 articulações afetadas
(aspiração articular e infiltração de corticosteróide); duas ou mais articulações (AINES, glicocorticoide-
até 0,5 mg/Kg/d, ou colchicina - dose de 0,5 mg 3 vezes/dia no primeiro dia, seguido de 2x/dia até a
remissão). Artropatia crônica: AINE (na menor dose necessária) ou colchicina (0,5 a 1 mg/dia) ou
prednisona (no máximo 10 mg/dia); hidroxicloroquina e/ou metotrexato (segunda linha).
• Síndromes clínicas: depósitos cutâneos (achado assintomático; inflamação aguda ou crônica; ulceração
na pele; infecção secundária; necrose de pressão/ influência mecânica), periarticulares (achado; bursites
ou tendinites calcificadas; periartrites calcificadas primária ou secundária-familiar; disfunção articular) e
intra-articulares (um achado, sinovite aguda, osteoartrite grave ou artropatias destrutivas).
• *Síndrome do Ombro de Milwaukee: pacientes com mais de 70 anos, mulheres com histórico de dor
crescente, tumefação e perda da função articular; geralmente o lado dominante é acometido, embora 60%
possam evoluir para acometimento bilateral; a dor piora à noite e com movimentos; geralmente, há a
destruição do manguito rotador.
INFECCIOSAS
O possível papel de microrganismos externos (vírus, bactérias, fungos) como causa ou gatilho para artrite
inflamatória é complexo. A associação entre infecções e artrite pode ser dividida em 4 grupos: I (artrite séptica ou
infecciosa como causadora inicial), II (artrite pós-infecciosa com o antígeno bacteriano sendo encontrado na
articulação), III (artrite reativa com infecção originária do trato genitourinário ou gastrointestinal, mas sem a
detecção do microorganismo na articulação) e IV (artrite inflamatória desencadeada por microrganismo).
Atividade ocupacional com exposição a animais, baixo nível socioeconômico, abuso crônico
FATORES SOCIAIS
de álcool, uso de drogas endovenosas, promiscuidade
OUTROS FATORES Extremos de idade, hospitalização prolongada, uso de agentes biológicos, áreas endêmicas
Idosos Streptococcus
Imunocomprometidos, injeções
M. tuberculosis, M. kansasii, M. marinum, M. avium intracelular, M. fortuitum, M.
intra-articulares, artroscopia,
haemophilum, M. terrae, M. chelonae, Nocardia asteroides, Fungos .
HIV associado
Transmitida pela N. gonorrhoeae; pode afetar Recém-nascidos; adultos idosos; adultos com
orofaringe, ânus ou conjuntiva; predomínio em comorbidades: diabetes, artrite reumatoide,
mulheres e adultos sexualmente ativos. osteoartrite.
Fatores de risco: infecção mucosa
assintomática, múltiplos parceiros, uso de
drogas endovenosas, baixo nível
Características
socioeconômico, deficiência de complemento,
LES e anemia falciforme
Febre; poliartrite migratória (mais em joelhos, Monoartrite (joelho é mais comum em adultos
punhos, tornozelos, cotovelos e pequenas e o quadril, em crianças); poliarticular (em 10-
articulações); poliartralgia; monoartrite (rara); 20% dos casos); febre (em 40% dos casos);
tenossinovite assimétrica (até 68%); dermatite queda de estado geral; pode haver indício de
(75%): mácula ou pápula indolor, não outras infecções (pele, urina, por exemplo).
pruriginosa (membros inferiores e tronco,
poupa face e couro cabeludo).
Graves: endocardite, miocardite, defeitos de
Apresentação condução, pericardite, osteomielite,
piomiosite, hepatite, meningite, síndrome
respiratória do adulto, síndrome de
Waterhouse-Friderichsen
Características Gonocócica Não gonocócica
Bom Ruim
Mortalidade de 10-20%
Prognóstico A poliartrite séptica por estafilococo ou em
pacientes com artrite reumatoide, tem taxa de
mortalidade de 50%
OSTEOMIELITE
Quando a bacteria atinge o osso, sendo o agente mais frequente o S. aureus. O diagnóstico etiológico é feito
pelo isolamento do agente através da punção óssea ou de estruturas próximas. Investigação radiológica:
cintilografia óssea é a mais sensível.
8. Síndrome da linfocitose
infiltrativa difusa: aumento de
parótidas secundárias à infiltração
de linfócitos (T CD8), olho e boca
secos, artralgia, linfoadenopatia
generalizada. Pode afetar fígado,
pulmão, TGI, rins, timo e sistema
nervoso; homens com menos de 40
anos; FR, Anti-Ro e Anti-La são
negativos; tendem a ter uma
progressão lenta para AIDS.
Síndrome da reconstituição
imunológica: intensa reação e
inflamação tecidual, nas infecções,
desencadeada pela terapia
antirretroviral.
*FEBRE CHIKUNGUNYA
O vírus chikungunya (CHIKV) pertence à família Togaviridae, do gênero Alphavirus. A origem do nome vem
do makonde, um dos dialetos falados na Tanzânia, e significa “curvar-se para frente ou contorcer-se”, referência à
postura adotada pelo paciente devido às dores articulares. No Brasil, os principais vetores são o Aedes aegypti e o
Aedes albopictus, cujas fêmeas têm a capacidade de infectar seres humanos através da picada, momento em que
são inoculados vírus. Juntamente à saliva, ocorre a replicação viral e disseminação linfática, com acometimento de
órgãos-alvo.
O período de incubação do vírus é de 3 a 7 dias. A doença pode evoluir em 3 fases: aguda (até 14 dias;
sintomática em 80-97% dos pacientes, caracterizada por febre de início súbito, artralgia e/ou artrite com padrão
simétrico e poliarticular, acometendo punhos, mãos, tornozelos, pés; outros sintomas: astenia, mialgia-60-93%,
cefaleia-40-81%, náuseas/vômitos, diarreia, fotofobia, dor retroorbital, conjuntivite, dor axial, exantema
macular/maculopapular-34-50%/ com ou sem prurido cutâneo, edema de face e extremidades e linfadenopatia
cervical ou generalizada), subaguda (15 dias a 3 meses; ocorre em até 50% dos pacientes; há o predomínio de
sintomas articulares, como: artralgia/artrite, bursite, tenossinovite, rigidez matinal e astenia, com evolução
contínua ou intermitente) e crônica (acima de 3 meses; ocorre entre 14,4 a 87,2% dos pacientes; sob a forma de
queixas persistentes - 20-40% ou recidivantes - 60-80%; oligo ou poliartralgia de intensidade variável, geralmente
simétrica, notadamente em punhos, mãos, tornozelos e joelhos, associadas a rigidez matinal e edema articular;
alguns fatores foram associados à evolução crônica como: sexo feminino, > 40 anos, doença articular prévia,
comorbidades, doença articular importante na fase aguda).
CRITÉRIOS Início abrupto, febre > 38,5°c e artralgia/artrite intensa de início agudo, não
CLÍNICOS explicadas por outras condições médicas.
RNA = Ácido ribonucleico; PCR = Reação em cadeia de polimerase; PRNT = teste de neutralização por redução de placa;
chikv = chikungunya vírus.
A.1. Em situações de epidemia, diante de um quadro agudo de febre, artralgia/artrite intensa, com ou sem exantema, a
possibilidade de febre chikungunya deve ser fortemente considerada. No entanto, outras doenças febris agudas devem entrar
no diagnóstico diferencial, principalmente diante de casos graves ou atípicos. Concordância: 9,31 (DP ± 1,168); nível de
evidência.
A.2. Em pacientes com suspeita clínica de febre chikungunya na fase aguda, a avaliação laboratorial (hemograma, enzimas
hepáticas, creatinina, glicemia de jejum, VSH/PCR) deve ser decidida caso a caso, a depender das comorbidades e sinais de
gravidade. Concordância: 7,12(DP ± 3,5), nível de evidência.
A.3. A detecção do CHIKV deve ser feita apenas para os casos nos quais se faça necessária a confirmação diagnóstica na fase
aguda: casos atípicos, diagnóstico diferencial diante de formas graves de apresentação ou para definir estratégias de saúde
pública (suspeição de novos focos ou de casos pós-epidêmicos), para as quais o método de escolha é a PCR em tempo real,
deve essa ser solicitada na primeira semana de sintomas. Concordância: 9,19 (DP ± 0,834), nível de evidência.
A.4. Para os casos agudos de febre chikungunya, a sorologia para CHIKV (IgM e IgG) só deve ser feita nas formas atípicas
ou diante da necessidade de diagnóstico diferencial; deve ser solicitada a partir do décimo dia do início dos sintomas. Nas
formas crônicas, a solicitação da sorologia é recomendada para confirmação diagnóstica, mas não para o início do tratamento.
Concordância: 9,29 (DP ± 1,510); nível de evidência.
A.5. Autoanticorpos na fase crônica da febre chikungunya só devem ser solicitados mediante a necessidade de diagnóstico
diferencial com as doenças reumatológicas específicas, obedecendo-se aos consensos/diretrizes existentes. Concordância:
8,55 (DP ± 2,593); nível de evidência.
A.6. Na fase aguda e subaguda da febre chikungunya, a maioria dos pacientes não necessita de exames de imagens. Na fase
crônica, a radiografia simples deve ser solicitada na primeira consulta com o reumatologista, como avaliação estrutural inicial
ou de dano preexistente. Concordância: 9,70 (DP ± 0,651); nível de evidência.
A.7. A ultrassonografia musculoesquelética pode auxiliar na avaliação de alterações articulares e periarticulares em qualquer
fase da febre chikungunya. Na fase aguda, é o único exame de imagem que pode ser feito, a critério médico; é especialmente
útil no diagnóstico diferencial do edema de membros inferiores. Concordância: 9,29(DP ± 1,510); nível de evidência.
B. SITUAÇÕES ESPECIAIS
B.1. No tratamento das gestantes com febre chikungunya, deve-se levar em consideração o risco dos medicamentos para o
feto e, se indicados, analgésicos, prednisona/prednisolona e hidroxicloroquina podem ser usados. Concordância: 9,71 (DP ±
0,534); nível de evidência.
B.2. A febre chikungunya, por si só, não é indicação de parto operatório, devendo ser puramente obstétrica. O aleitamento
materno é permitido. Concordância: 9,67 (DP ± 0,547); nível de evidência.
B.3. Em idosos (> 60 anos) com febre chikungunya recomenda-se em todas as fases da doença, especialmente na fase aguda,
supervisão clínica rigorosa no que se refere ao uso de medicamentos, comorbidades e maior risco de complicações.
Concordância: 9,61 (DP ± 0,737); nível de evidência.
B.4. Crianças abaixo de dois anos devem receber atenção especial pelo maior risco de manifestações graves e atípicas,
particularmente ao acometimento do SNC. Concordância: 9,30 (DP ± 1,179); nível de evidência.
B.5. Recém-nascidos de mães com quadro clínico sugestivo de febre chikungunya próximo ao parto devem ficar sob
observação rigorosa nos primeiros cinco dias de vida. Deve ser feito uso racional de medicações para os que desenvolvem a
doença e manejo dos casos complicados em unidade de terapia intensiva. Concordância: 9,54 (DP ± 0,838); nível de
evidência.
B.6. Na fase aguda da febre chikungunya em crianças, o tratamento consiste em hidratação, analgésicos e antitérmicos; deve-
se evitar uso de salicilatos. Na fase crônica, sugere-se seguir as recomendações dos adultos, levar-se em consideração as
particularidades inerentes à faixa etária. Concordância: 9,48 (DP ± 0,785); nível de evidência.
B.7. Recomendamos atenção em pacientes com diagnóstico prévio de artrite reumatoide, espondiloartrites ou lúpus
eritematoso sistêmico, visto que pode ocorrer reativação ou exacerbação da doença de base. Concordância: 9,42 (DP ± 1,840);
nível de evidência.
TRATAMENTO
Orientar os casos suspeitos sobre medidas de proteção antivetorial: mosquiteiro, repelente, roupa de manga
comprida e calça, além de ações na residência visando impedir a proliferação do mosquito.
TRATAMENTO
C.1. Na fase aguda da febre chikungunya devem ser usados analgésicos comuns e/ou opioides fracos (em casos de dor intensa
ou refratária), devem ser evitados AINEs e salicilatos. Os corticosteroides (CE) não são recomendados nessa fase para as
manifestações musculoesqueléticas. Concordância: 9,31 (DP ± 0,8906). Grade: qualidade de evidência muito baixa.
TRATAMENTO
C.2. Na fase subaguda da febre chikungunya podem ser usados AINEs e/ou medicações adjuvantes para tratamento da dor
(anticonvulsivantes ou antidepressivos) nos casos refratários a analgésicos/opioides. Nos pacientes com dor
musculoesquelética moderada a intensa ou naqueles com contraindicações ao uso dessas medicações, é recomendado o uso de
prednisona ou prednisolona, na dose de até 20 mg/dia, devendo a redução ser feita de modo lento e gradual, de acordo com a
resposta do paciente. Concordância: 9,24 (DP ± 1,057). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.3. Na fase crônica da febre chikungunya, é recomendado o uso de analgésicos para alívio sintomático. Os opioides fracos
(codeína e tramadol) podem ser usados nos sintomas álgicos refratários ou intensos (EVA ≥ 7). Concordância: 9,57 (DP ±
0,741). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.4. Na fase crônica da febre chikungunya são recomendados os AINEs, devendo-se observar o contexto clínico, as
contraindicações e a resposta terapêutica. Concordância: 8,97 (DP ± 1,679). Grade: qualidade de evidência baixa a muito
baixa.
C.5. Na fase crônica da febre chikungunya, o corticosteroide por via oral pode ser usado para as queixas musculoesqueléticas
e neuropáticas, sendo recomendadas doses baixas (5 a 20 mg/dia de prednisona ou prednisolona). O tempo de uso pode variar
de seis a oito semanas, devendo a retirada ser lenta e gradual, devido ao risco de recidiva dos sintomas articulares.
Concordância: 9,24 (DP ± 1,154). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.6. Na fase crônica da febre chikungunya pode ser usado antimalárico, preferencialmente hidroxicloroquina, no tratamento
dos sintomas articulares, de forma isolada ou em associação com MTX ou SSZ. Concordância: 9,21 (DP ± 1,166). Grade:
qualidade de evidência baixa.
C.7. Em pacientes com febre chikungunya que evoluem para a fase crônica e apresentam quadro articular inflamatório na
dificuldade da retirada do CE, sugerimos preferencialmente MTX, nas doses de 10 a 25 mg/semana. Concordância: 9,43 (DP
± 0,858). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.8. Na fase crônica da febre chikungunya pode ser usada a sulfassalazina, na dose de 2 a 3 g/dia, isolada ou em associação,
especialmente em pacientes com contraindicação ou falha ao MTX. Concordância: 8,77 (DP ± 1,794). Grade: qualidade de
evidência baixa a muito baixa.
C.9. Terapia biológica pode ser prescrita após avaliação do reumatologista em pacientes com quadro articular inflamatório
crônico pós-infecção pelo CHIKV, refratário ao uso de CE e DMCDs, de acordo com as recomendações usadas para o
tratamento da AR ou EpA. Concordância: 8,97 (DP ± 1,267). Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.10. Durante a fase aguda, nos pacientes em terapia biológica para sua doença de base, recomenda-se a suspensão da
medicação. No entanto, nas fases subaguda e crônica, o tratamento pode ser mantido. Concordância: 8,97 (DP ± 1,884).
Grade: qualidade de evidência baixa a muito baixa.
C.11. São recomendadas intervenções de reabilitação em todas as fases da febre chikungunya como medida não
farmacológica complementar. Na fase aguda são indicadas condutas analgésicas e anti-inflamatórias, devendo ser evitado o
uso de calor; adicionalmente devem ser recomendadas educação do paciente, orientações posturais e terapia manual, além de
exercícios de leve intensidade. Nas fases subaguda e crônica, manter recomendações anteriores, pode ser incluído calor, além
de exercícios ativos livres, resistidos, proprioceptivos e aeróbicos, alongamento, terapia manual e fisioterapia aquática.
Concordância: 9,43 (DP ± 0,935). Grade: qualidade da evidência muito baixa.
QUADRO 9. TRATAMENTO
Fonte: Marques.90
ME, musculoesquelética; EVA, escala visual analógica; AINE, anti-inflamatório não esteroidal; HCQ, hidroxicloroquina
ME, musculoesquelética; EVA, escala visual analógica; AINE, anti-inflamatório não esteroidal; CE, corticosteroide; HCQ,
hidroxicloroquina; SSZ, sulfassalazina; DAIC, doença articular inflamatória crônica
ARTROPATIA TUBERCULOSA
EPIDEMIOLOGIA
A infecção por Mycobacterium tuberculosis ocorre pela inalação, ingesta de bactérias ou inoculação direta. O
acometimento musculoesquelético é responsável por 10-35% dos casos de tuberculose (tb) extrapulmonar.
QUADRO CLÍNICO
• Espondilite (Doença de Pott)
Disseminação hematogênica de um foco primário; a coluna é afetada em 50% dos casos, sendo a torácica e
lombar os locais mais frequentes; curso subagudo. Manifestações clínicas: dor local, perda de peso, febre baixa,
sudorese noturna, mal estar; insidioso (semanas a anos); paraparesia e paraplegia, proeminência espinhal ou
deformidade gibosa (cifose + escoliose). Imagem: alterações sugestivas de Tb (progressão lenta das lesões com
espaço discal preservado, envolvimentos de segmentos contíguos, grandes abscessos intraósseos e paravertebrais e
colapso vertebral). A RNM é o melhor exame (início: reabsorção de margens densas de placas terminais e
desmineralização, redução espaço discal, edema partes moles/ final: lesão lítica do corpo vertebral anterior,
colapso vertebral e cifose)
• Artrite Periférica
Geralmente monoarticular, crônica, insidiosa; mais comum afetar: quadris (mais comum), joelhos, costelas,
sacro e esternoclaviculares. Imagem: iniciais (aumento partes moles e derrame articular), tardias (erosões ósseas
periféricas, destruição articular com redução do espaço articular e osteoporose justa-articular: tríade de Phemister).
Recomenda-se TC, RNM e cintilografia para estabelecer o diagnóstico.
• Osteomielite
Acomete crianças e adultos; ocorre mais em fêmur e tíbia; apresenta-se como abscesso frio (edema, discreta
dor e eritema). Imagem: cavitações em 50% dos casos, lesões líticas com margens borradas, pouca esclerose óssea,
evolui com alargamento da diáfise.
• Artrite Reativa (Doença De Poncet)
Poliartrite de pequenas e grandes articulações +Tb extrapulmonar (geralmente linfonodal), sem evidência de
envolvimento direto da articulação; pode estar associada a febre e eritema nodoso; afeta jovens; responde bem a
AINE e com o tratamento para tuberculose.
• Paniculite
Apresenta-se como eritema nodoso + ou /- poliartrite
• Casos suspeitos
Paciente com Tb prévia, procedimentos invasivos, uso de biológicos, baixo nível socioeconômico,
comorbidades.
DIAGNÓSTICO
• Rastreio primário: PPD ou IGRA.
• Diagnóstico definitivo: demonstração do agente por semeadura, cultura ou técnicas moleculares. É
importante a realização de testes de sensibilidade de antituberculostáticos.
Ocorre após a Causada pela inalação de Leveduras Causada por Sporothrix Blastomyces Cryptococcus Coccidioides
inalação de Paracoccidioides brasiliensis do gênero qualquer Encontrado no solo, dermatitidis neoformans immitis e
esporos de Candida sp espécie do animais, vegetação Disseminação a posadasii
Causa fungos Histoplasma gênero em decomposição partir dos pulmões
capsulatum Aspergillus
Características
Entre 30-50 anos, Micose profunda, sistêmica e Doença de Paciente Atividades laborais Atividades l Uso de Atividades ao ar livre,
mais em mulheres. granulomatosa. paciente imunossuprimido, ao ar livre, aborais ao corticoesteróides, profissões que exijam
Evolução aguda e Aguda (afeta mais jovens) e a imunossuprimido, transplante de alcoolismo e doenças ar livre neoplasias aerossolização de solo
benigna ou crônica (mais homens, geralmente debilitado e com células-tronco, mieloproliferativas hematológicas, reativação de infecção
progressiva e grave. agricultores). períodos órgãos sólidos, sarcoidose, cirrose preexistente em
Na maioria dos casos Febre baixa, mal-estar, prolongados de neoplasia Inoculação por hepática e Aids imunossuprimido
é assintomática e linfonodomegalias, úlceras orais, internação. hematológica, trauma direto
autolimitada. deformidades, envolvimento Relatos pós- injeção intra- Infecta através do
Fatores de risco: pulmonar e outros. procedimentos articular de Arranhões ou trato respiratório
imunossupressão, > corticosteroides. mordidas de
54 anos, transplante roedores, gatos, cães, Contato com aves
renal, riscos cavalos e tatus urbanas,
ocupacionais excrementos e
(exposição a madeira apodrecida
excrementos de aves,
exploradores de
cavernas)
Diagnóstico
Geralmente os Formas leves a moderadas: Fluconazol 400 Debridamento Debridamento se Casos Exige Fluconazol: 400 mg a
sintomas articulares intraconazol 200 mg/dia por 9 a mg/dia por 6 clínico e necessário moderadamente debridamento ou mg/kg/dia por toda a v
são autolimitados. 18 meses semanas cirúrgico Itraconazol: severos ou graves: drenagem
*alternativa: sulfametoxazol 800 *alternativa: Medicamentos: 200 mg 2x/dia por anfotericina, Doença óssea severa:
Podem ser utilizados mg+trimetoprima 160 mg,2-3x/dia Anfotericina B Voriconazol (6 pelo menos 12 meses por 1 a 2 semanas Paciente com HIV e anfotericina B, e
anti-inflamatórios ou por 12-24 meses lipídica mg/kg IV 2 ou até meningoencefalite: posteriormente, flucon
corticóide via oral. (3-5 mg/Kg/dia) vezes/dia, Casos de melhora clínica, anfotericina B
Formas graves: anfotericina B por ou por 1 dia, acometimento seguida de deoxicolato
Tratamento 2 a 4 semanas deoxicolato (0,5- seguido de extenso ou não itraconazol (0,7 a 1 mg/kg/dia)
da doença: *alternativa: sulfametoxazol 0,7 mg/Kg/dia) 4 mg/kg respondedores a 200 mg 3x/dia, +
Leve a 800 mg por 2 semanas, durante pelo itraconazol: por 3 dias, seguido flucitosina
moderada: trimetoprima 160 mg, seguida por menos 7 dias, anfotericina por (100 mg/kg/dia
itraconazol 200 mg 3x/dia, fluconazol por seguido de dose 2x/dia, dividida em
VO 3 vezes/dia por 3 com pelo menos de completando-se 4 doses, por
dias; posterior 4 semanas manutenção pelo menos pelo menos
seguida de troca para via oral 12 meses 2 semanas,
200 mg intraconazol Observações: 200 mg/dia seguida de
2 vezes/dia mortalidade por 8 semanas). Moderadas: fluconazol
por pelo chega a 56%. Itraconazol itraconazol 200mg 400 mg/dia
menos Medidas de (não é a 3x/dia, por por pelo menos 8
12 meses, prevenção: primeira 3 dias, semanas
Tratamento Graves: controle do linha de seguido por e depois
anfotericina B diabetes, tratamento). 2x/dia, por profilaxia
lipossomal (3-5 vigilância de no mínimo secundária
mg/kg/dia IV durante cateteres, Anfotericina B 12 meses (200 mg/dia)
1-2 semanas); profilaxia para (alta taxa de Pacientes não
manutenção com pacientes mortalidade) imunossuprimidos e
itraconazol por 12 selecionados com acometimento
meses. SNC:
anfotericina B por
no mínimo 4
semanas
(condicionada a
negativação de
cultura para fungo
no líquor), seguida
de manutenção
fluconazol (
400 mg/dia por 8
semanas); sem SNC
(fluconazol 400
mg/dia por 6-12
meses)
QUADRO CLÍNICO
• Artrite:
• Mais grave e comum em adultos jovens; geralmente afeta grandes articulações (joelhos, cotovelos,
punhos e tornozelos), duração de dias a 1 semana, caráter migratório, resolutivo na maioria dos casos;
excelente resposta a anti-inflamatório não hormonal com remissão em 48-72 horas. Geralmente não
causa sequelas.
• Pode ocorrer sobreposição dos locais afetados, dando efeito aditivo.
• Artropatia de Jaccoud pode acontecer.
• Cardite:
• 40-91% dos casos.
• Aguda: sopros cardíacos, cardiomegalia, insuficiência cardíaca, derrame pericárdico, bloqueios
cardíacos, miocardite, pericardite. Achado mais comum é regurgitação mitral.
• Indolente subclínica - crônica: maior causa de doença valvular adquirida; na maioria dos casos ocorre
de 10 a 20 anos após o episódio inicial; pacientes com < 30 anos geralmente apresentam regurgitação
mitral pura, enquanto adultos de meia-idade, estenose mitral/válvula aórtica acometida em 20-30% dos
casos.
• A presença de insuficiência mitral e aórtica concomitantes, em um paciente sadio, é altamente
sugestiva de febre reumática.
• Nódulos subcutâneos:
• Superfícies ósseas ou tendões.
• Firmes, indolores e móveis, com duração de menos de 1 mês.
• Mais comuns em pacientes com história de cardite ativa prolongada.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação elevadas; leucocitose e leve anemia
• Antiesptreptolisina O (ASLO): em crianças >320 U Todd
• Antidexirribonuclease B: persiste elevado por tempo maior
• Ecodopplercardiograma: deve ser realizado em todos os casos suspeitos de febre reumática com a
finalidade de lesões vavulares silenciosas serem detectadas
TRATAMENTO
• Educação: orientar o paciente e responsáveis sobre a importância do tratamento precoce da doença,
sobre a necessidade de manutenção do tratamento e importância de manter a higiene oral devido ao alto
risco de endocardite infecciosa nestes pacientes. Mulheres em idade fértil devem receber orientações com
relação ao planejamento e contracepção. Vacinação anual de Influenza é recomendada.
Esquema dose
Cefalexina: 50-100 mg/Kg/dia 6/6h
Cefalosporina de 1ª geração Cefadroxila: 30 mg/Kg/dia 12/12h 10 dias.
20 mg/kg/dia 1 vez/dia.
Azitromicina Dose máxima: 500 mg/dia 5 dias.
• Artrite
O tratamento recomendado é o ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 80-100 mg/kg/dia (dividida em 4
tomadas), em crianças. Após 2 semanas de tratamento e com melhora do quadro clínico, reduzir dose para 60
mg/kg/ dia, por mais 4 semanas. Para adultos recomenda-se 4-8 g/dia, divididos em 4-5x/dia. Em caso de suspeita
de processo viral agudo: evitar ou suspender o uso de AAS. Como alternativa, tem-se naproxeno (para crianças:
dose de 10-20 mg/kg/dia, dividida em 2 tomadas, por 4 semanas; adultos: 250-500 mg 2x/dia).
• Cardite
• Cardite: recomenda-se prednisona 1-2 mg/kg/dia, via oral (ou o equivalente via endovenosa), por 2-3
semanas, dependendo da clínica e exame laboratorial, reduzir 20-25% da dose a cada semana (o
tratamento deve ter duração de ±12 semanas na moderada e grave e 4-8 semanas na leve).
• Cardite grave, refratária ao tratamento inicial ou naqueles que precisam de cirurgia emergencial:
pulsoterapia com metilprednisolona (30 mg/kg/dia endovenoso) em ciclos semanais.
• Controle de insuficiência cardíaca: diuréticos, restrição hídrica.
• Furosemida (dose de 1-6 mg/kg/dia) e espironolactona (dose de 1-3 mg/kg/dia).
• Estão indicados: os inibidores de enzima conversora de angiotensina (IECA), principalmente nas
situações de insuficiência aórtica importante (captopril 1-2 mg/kg/dia ou enalapril 0,5-1 mg/kg/dia);
digoxina (na presença de disfunção ventricular, confirmada pelo ecocardiograma ou de fibrilação
atrial), sendo recomendada a dose de 7,5-10 mcg/kg/dia em crianças e de 0,125-0,25 mg/dia em
adultos.
• Fibrilação atrial: considerar anticoagulação.
• Coréia
• Autolimitada (maioria dos casos).
• Leve a moderada: repouso em ambiente calmo; podem ser utilizados fenobarbital e benzodiazepínicos.
• Graves: hospitalização pode ser necessária. Em casos moderados a graves, o uso de prednisona na dose
de 1-2 mg/kg/dia, por 2 semanas, com redução gradualmente ao longo das próximas 2 a 3 semanas,
tem sido proposto. Para casos graves, a imunoglobulina e a plasmaférese também têm sido utilizadas;
no entanto, os dados são limitados.
• Os fármacos utilizados são:
• → Haloperidol 1 mg/dia em duas tomadas, aumentando 0,5 mg a cada três dias, até atingir boa
resposta (mais de 75% de remissão dos movimentos) ou dose máxima de 5 mg ao dia. Duração de 3
meses
• → Ácido valproico 10 mg/kg/dia, aumentando 10 mg/kg a cada semana até dose máxima de 30
mg/kg/dia.
• → Carbamazepina (7-20 mg/kg/dia)
b. Monitorização
• Objetivo: administração contínua de antibiótico para paciente portador de febre reumática prévia ou
cardiopatia reumática comprovada (reduzir recorrências da doença, a severidade de cardiopatia residual e
mortalidade).
MEDICAMENTO DOSE/VIA DE ADMINISTRAÇÃO INTERVALO
REFERÊNCIAS
1. Goldenberg DL, Sexton DJ. Septic Arthritis In Adults. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/septic-arthritis-in-adults.
2. Helfegott, SM. Monoarthritis in adults: etiology and evaluation. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/monoarthritis-in-adults-etiology-and-evaluation.
3. Mathew AJ, Ravindran V. Infections And Arthritis. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2014; 28(6): 935-9.
4. Balsa A, Martín-mola E. Artrites Infeciosas I: Artrites Bacterianas. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH.
Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 107: 643-651.
5. Bonfiglioli R. Artrites Piogênicas. In: Carvalho MAP, Lanna CCD, Bértolo MB. Reumatologia: Diagnóstico E Tratamento. 4. ed. São Paulo: Ac
Farmacêutica; 2014 ; 38: 586-590.
6. Sholter DE, Russell AS. Synovial Fluid Analysis. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/synovial-fluid-analysis .
7. Xavier JGA, Guimarães PIF. Artrites Microcristalinas. In: Carvalho MAP, Lanna CCD, Bértolo MB. Reumatologia: Diagnóstico E Tratamento.
4. ed. São Paulo: Ac Farmacêutica; 2014; 18: 258-272.
8. Rosenthal AK, Ryan LM, Mccarty DJ. Calcium Pyrophosphate Crystal Deposition Disease. Arthritis And Allied Conditions. 15. ed.
Philadelphia: Lippincott Willians & Eilkins; 2005.
9. Rosenthal AK. Update In Calcium Deposition Diseases. Curr Opin Rheumatol. 2007; 19(2): 158-62.
10. Abhishek A, Doherty M. Artropatia Associada A Cristal De Pirofosfato De Cálcio. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME,
Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 190: 1252-1262.
11. Machado NP. Doença por deposição de pirofosfato de cálcio. Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 64: 381-386.;
12. Rosenthal AK. Clinical manifestations and diagnosis of calcium pyrophosphate crystal deposition (CPPD) disease. UpToDate. [Internet]; 2018.
[acesso em XX]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-calcium-pyrophosphate-crystal-
deposition-cppd-disease.
13. Becker MA, Rosenthal AK. Treatment of calcium pyrophosphate crystal deposition (CPPD) disease. UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em
XX]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/treatment-of-calcium-pyrophosphate-crystal-deposition-cppd-disease.
14. Sanmarti R, Panella D, Brancos MA, Canela J, Collado A, Brugués J. Prevalence Of Articular Chondrocalcinosis In Elderly Subjects In A
Rural Area Of Catalonia. Ann Rheum Dis. 1993; 52(6): 418-22.
15. Zhang Y, Terkeltaub R, Nevitt M, Xu L, Neogi T, Aliabadi P, et al. Lower Prevalence Of Chondrocalcinosis In Chinese Subjects In Beijing
Than In White Subjects In The United States: The Beijing Osteoarthritis Study. Arthritis Rheum. 2006; 54(11): 3508-12.
16. Neame RL, Carr AJ, Muir K, Doherty M. UK Community Prevalence Of Knee Chondrocalcinosis: Evidence That Correlation With
Osteoarthritis Is Through A Shared Association With Osteophyte. Ann Rheum Dis. 2003; 62(6): 513-8.
17. Musacchio E, Ramonda R, Perissinotto E, Sartori L, Hirsch R, Punzi L, et al. The Impact Of Knee And Hip Chondrocalcinosis On Disability
In Older People: The Prova Study From Northeastern Italy. Ann Rheum Dis. 2011; 70(11): 1937-43.
18. Salaffi F, Carotti M, Guglielmi G, Passarini G, Grassi W. The Crowned Dens Syndrome As A Cause Of Neck Pain: Clinical And Computed
Tomography Study In Patients With Calcium Pyrophosphate Dihydrate Deposition Disease. Clin Exp Rheumatol. 2008; 26(6): 1040-6.
19. Zhang W, Doherty M, Pascual E, Barskova V, Guerne PA, Jansen TL, et al. Eular Recommendations For Calcium Pyrophosphate Deposition.
Part Ii: Management. Ann Rheum Dis. 2011; 70(4): 571-5.
20. Mcgonagle D, Tan AL, Madden J, Emery P, McDermott MF. Successful Treatment Of Resistant Pseudogout With Anakinra. Arthritis Rheum.
2008; 58(2): 631-3.
21. Couderc M, Mathieu S, Glace B, Soubrier M. Efficacy Of Anakinra In Articular Chondrocalcinosis: Report Of Three Cases. Joint Bone Spine.
2012; 79(3): 330-1.
22. Richette P, Ayoub G, Lahalle S, Vicaut E, Badran AM, Joly F, et al. Hypomagnesemia Associated With Chondrocalcinosis: A Cross-sectional
Study. Arthritis Rheum. 2007; 57(8): 1496-501.
23. Menkes CJ, Simon F, Delrieu F, Forest M, Delabrre F. Destructive Arthropathy In Chondrocalcinosis Articularis. Arthritis Rheum. 1976;
19(Suppl. 3): 329-48.
24. Mccarthy G. Doença De Deposição De Cristal De Fosfato De Cálcio Básico. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME,
Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 191: 1263-1270.
25. Loures MAAR. Doença por cristais de fosfato básico de cálcio. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 65: 387-391.
26. Yeoh N, Burton JP, Suppiah R, Reid G, Stebbings S. The role of the microbiome in rheumatic diseases. Curr Rheumatol Rep. 2013; 15(3): 314.
27. McLean MH, Dieguez JD, Miller LM, Young HA. Does the microbiota play a role in the pathogenesis of autoimmune disease? Gut. 2015;
64(2): 332e41.
28. Espinoza LR, Garcia-Valladares I. Of bugs and joints: the relationship between infection and joints. Reumatol Clin. 2013; 9(4): 229-38.
29. Dumond DC. Part II: principal evidence associating rheumatic diseases with microbial infection. In: Dumond DC (ed). Infection and
immunology in the rheumatic diseases. London: Beadsworth; 1976.
30. Garcia-De TI. Advances in the management of septic arthritis. Rheum Dis Clin N Am. 2003; 29(1): 61-75.
31. Newman JH. Review of septic arthritis throughout the antibiotic era. Ann Rheum Dis. 1976; 35(3): 198-205.
32. Margaretten ME, Kohlwes J, Moore D, Bent S: Does this adult patient have septic arthritis? JAMA. 2007; 297(13): 1478-88.
33. Barzilai O, Ram M, Shoenfeld Y. Viral infection can induce the production of autoantibodies. Curr Opin Rheumatol. 2007; 19(6): 636-43.
34. Goldenberg DL, Sexton DJ. Disseminated gonococcal infection. UpToDate. [Internet]; 2018. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/disseminated-gonococcal-infection.
35. Vieira RMRA, MontAlverne ARS. Artrite gonocócica. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 67: 397-400.
36. Fernandez RN, Neto FAB. Artrite séptica bacteriana não gonocócica e osteomielite. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK,
Radominski SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 66: 392-396.
37. Smith JW, Chalupa P, Shabaz HM. Infectious arthritis: clinical features, laboratory findings and treatment. Clin Microbiol Infect. 2006; 12(4):
309-14.
38. Tarkowski A. Infection and musculoskeletal conditions: infectious arthritis. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2006; 20(6): 1029-44.
39. Christian S, Kraas J, Conway WF. Musculoskeletal infections. Semin Roentgenol. 2007; 42(2): 92-101.
40. Ng LK, Martin IE. The laboratory diagnosis of Neisseria gonorrhoeae. Can J Infect Dis Med Microbiol. 2005; 16(1): 15-25.
41. Silva NA, Ximenes AC, Rêgo J. Artrites infecciosas de diversas causas. In: Carvalho MAP, Lanna CCD, Bértolo MB. Reumatologia:
Diagnóstico E Tratamento. 4. ed. São Paulo: Ac Farmacêutica; 2014 ; 39:591-605.
42. Andrade CAF. Manifestações articulares da sífilis. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 74: 433-437.
43. Talhari S, Cortez CCT. Sífilis. In: Focaccia R. Veronesi. Tratado de Infectologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu; 2009.
44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
45. Freemont AJ. Synovial fluid analysis e its place, usefulness, indications and potential relevant findings. Rheum Eur. 1995; 24: 69-71.
46. Vassilopoulos D, Calabrese LH. Aspectos reumatológicos de infecções virais. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME,
Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 110: 668-672.
47. Massabki PS. Manifestações articulares da infecção pelos vírus das hepatites B, C e HIV. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK,
Radominski SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 71: 418-422.
48. Calabrese LH, Naides SJ: Viral arthritis. Infect Dis Clin North Am. 2005; 19: 963-80.
49. Vassilopoulos D, Calabrese LH. Management of rheumatic disease with comorbid HBV or HCV infection. Nat Rev Rheumatol. 2012; 8(6):
348-57.
50. Inman RD. Rheumatic manifestations of hepatitis B virus infection. Semin Arthritis Rheum. 1982; 11(4): 406-20.
51. Pagnoux C, Seror R, Henegar C, Mahr A, Cohen P, Le Guern V, et al. Clinical features and outcomes in 348 patients with polyarteritis nodosa:
a systematic retrospective study of patients diagnosed between 1963 and 2005 and entered into the French Vasculitis Study Group Database.
Arthritis Rheum. 2010; 62(6): 616-26.
52. Medina-Rodriguez F, Guzman C, Jara LJ, Hermida C, Alboukrek D, Cervera H, et al. Rheumatic manifestations in human immunodeficiency
virus positive and negative individuals: a study of 2 populations with similar risk factors. J Rheumatol. 1993; 20(11): 1880-4.
53. Munoz-Fernandez S, Cardenal A, Balsa A, Quiralte J, del Arco A, Peña JM, et al. Rheumatic manifestations in 556 patients with human
immunodeficiency virus infection. Sem Arthritis Rheum. 1991; 21(1): 30-9.
54. Allroggen A, Frese A, Rahmann A, Gaubitz M, Husstedt IW, Evers S. HIV associated arthritis: case report and review of literature. Eur J Med
Res. 2005; 10(7): 305-8.
55. Zalavras CG, Dellamaggiora R, Patzakis MJ, Bava E, Holtom PD. Septic arthritis in patients with human immunodeficiency virus. Clin Orthop
Relat Res. 2006; 451: 46-9.
56. Reveille JD. The changing spectrum of rheumatic disease in human immunodeficiency virus infection. Semin Arthritis Rheum. 2000; 30(3):
147-66.
57. Maganti RM, Reveille JD, Williams FM. Therapy insight: the changing spectrum of rheumatic disease in HIV infection. Nat Clin Pract
Rheumatol. 2008; 4(8): 428-38.
58. Rynes RI, Goldenberg DL, DiGiacomo R, Olson R, Hussain M, Veazey J. Acquired immunodeficiency syndrome-associated arthritis. Am J
Med. 1988; 84(5): 810-6.
59. Berman A, Cahn P, Perez H, Spindler A, Lucero E, Paz S, et al. Human immunodeficiency virus infection associated arthritis: clinical
characteristics. J Rheumatol. 1999; 26(5): 1158-62.
60. McComsey GA, Tebas P, Shane E, Yin MT, Overton ET, Huang JS, et al. Bone disease in HIV infection: a practical review and
recommendations for HIV care providers. Clin Infect Dis. 2010; 51(8): 937-46.
61. Saag MS. HIV now firmly established in the Middle Ages. Clin Infect Dis. 2011; 53(11): 1140-2.
62. Moore TL, Syed R. Specific viruses that cause arthritis. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/viruses-that-cause-arthritis.
63. Nguyen BY, Reveille JD. Rheumatic manifestations associated with HIV in the highly active antiretroviral therapy era. Curr Opin Rheumatol.
2009; 21(4): 404-10.
64. Bourinbaiar AS, Lee-Huang S. The non-steroidal anti-inflammatory drug, indomethacin, as an inhibitor of HIV replication. FEBS Lett 1995;
360(1): 85-8.
65. Youssef PP, Bertouch JV, Jones PD. Successful treatment of human immunodeficiency virus-associated Reiter’s syndrome with sulfasalazine.
Arthritis Rheum. 1992; 356): 723-4.
66. Disla E, Rhim HR, Reddy A, Taranta A. Improvement in CD4 lymphocyte count in HIV-Reiter’s syndrome after treatment with sulfasalazine.
J Rheumatol. 1994; 21(4): 662-4.
67. Sperber K, Kalb TH, Stecher VJ, Banerjee R, Mayer L. Inhibition of human immunodeficiency virus type 1 replication by hydroxychloroquine
in T cells and monocytes. AIDS Res Hum Retroviruses. 1993; 9(1): 91-8.
68. Basu D, Williams FM, Ahn CW, Reveille JD. Changing spectrum of the diffuse infiltrative lymphocytosis syndrome. Arthritis Rheum. 2006;
55(3): 466-72.
69. Suhrbier A, La LM. Clinical and pathologic aspects of arthritis due to Ross River virus and other alphaviruses. Curr Opin Rheumatol. 2004;
16(4): 374-9.
70. Suhrbier A, Jaffar-Bandjee MC, Gasque P. Arthritogenic alphaviruses e an overview. Nat Rev Rheumatol 2012; 8(7): 420-9.
71. Costenbader KH, Karlson EW. Epstein Barr virus and rheumatoid arthritis: is there a link? Arthritis Res Ther 2006; 8(1): 204-10.
72. Hess RD. Routine Epstein Barr virus diagnostics from the laboratory perspective: still challenging after 35 years. J Clin Microbiol. 2004;
42(8): 3381-7.
73. Gartner BC, Hess RD, Bandt D, Kruse A, Rethwilm A, Roemer K, et al. Evaluation of four commercially available Epstein Barr virus enzyme
immunoassays with an immunofluorescence assay as the reference method. Clin Diagn Lab Immunol. 2003; 10(1): 78-82.
74. Paschale M, Clerici P. Serological diagnosis of Epstein Barr virus infection: problems and solutions. World J Virol. 2012; 1(1): 31-43.
75. Pereira HLA, Sauma MFLC. Manifestações musculoesqueléticas por parvovírus B19. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK,
Radominski SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019.
76. Young NS, Brown KE. Parvovirus B19. N Engl J Med. 2004; 350(6): 586-97.
77. Lunardi C, Tinazzi E, Bason C, Dolcino M, Corrocher R, Puccetti A. Human parvovirus B19 infection and autoimmunity. Autoimmun Rev.
2008; 8(2): 116-20.
78. Meyer O. Parvovirus B19 and autoimmune diseases. Jt Bone Spine. 2003; 70(1): 6-11.
79. Leirisalo-Repo M. Early arthritis and infection. Curr Opin Rheumatol. 2005; 17(4): 433-9.
80. Torok TJ. Parvovirus B19 and human disease. Adv Intern Med. 1992; 37: 431-55.
81. Cheung T, Wong WS. Parvovirus B19 associated arthritis. Hong Kong Bull Rheum Dis. 2009; 9: 8-11.
82. Harrison B, Silman A, Barrett E, Symmons D. Low frequency of recent parvovirus infection in a population-based cohort of patients with early
inflammatory polyarthritis. Ann Rheum Dis. 1998; 57(6): 375-7.
83. Danda D, Naina NV, Abraham M, Mathew AJ, Badika AK, Mathew J. Parvovirus B19 serology in early inflammatory polyarthritis e
experience from a tertiary core teaching hospital in south India. J Indian Med Assoc. 2010; 108(10): 677-8.
84. Caliskan R, Masatiloglu S, Aslan M, Altun S, Saribas S, Ergin S, et al. The relationship between arthritis and human parvovirus B19 infection.
Rheumatol Int. 2005; 26(1): 7-11.
85. Heegaard ED, Brown KE. Human parvovirus B19. Clin Microbiol Rev. 2002; 15(3): 484-505.
86. Mathew AJ, Goyal V, George E, Thekkemuriyil DV, Jayakumar B, Chopra A; et al. Rheumatic musculoskeletal pain and disorders in a naïve
group of individuals 15 months following a Chikungunya viral epidemic in south India: a population based observational study. Int J Clin Pract.
2011; 65(12): 1306-12.
87. Kurkela S, Manni T, Myllynen J, Vaheri A, Vapalahti O. Clinical and laboratory manifestations of Sindbis virus infection: prospective study,
Finland, 2002-2003. J Infect Dis. 2005; 191(11): 1820-9.
88. Mylonas AD, Brown AM, Carthew TL, McGrath B, Purdie DM, Pandeya N, et al. Natural history of Ross River virus-induced epidemic
polyarthritis. Med J Aust. 2002; 177(7): 356-60.
89. Naish S, Hu W, Mengersen K, Tong S. Spatio-temporal patterns of Barmah Forest virus disease in Queensland, Australia. PLoS ONE. 2011;
6(10): e25688.
90. Marques CDL, Duarte ALBP, Ranzolin A, Dantas AT, Cavalcanti NG, Gonçalves RSG. Recomendações da Sociedade Brasileira de
Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 1–Tratamento. Rev Bras Reumatol. 2017; 57(S2): 421-37.
91. Marques CDL, Duarte ALBP, Ranzolin A, Dantas AT, Cavalcanti NG, Gonçalves RSG. Recomendações da Sociedade Brasileira de
Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 2–Tratamento. Rev Bras Reumatol. 2017; 57(S2): 438-51.
92. Vijayan V, Sukumaran S. Chikungunya Virus Disease: An emerging challenge for the rheumatologist. JCR. 2016; 22(4): 203-11.
93. Krutikov M, Manson J. Chikungunya Virus Infection: an update on joint manifestations and management. Rambam Maimonides Med J. 2016;
7(4): 1-7.
94. Yap G, Pok KY, Lai YL, Hapuarachchi HC, Chow A, Leo YS, et al. Evaluation of Chikungunya diagnostic assays: differences in sensitivity of
serology assays in two independent outbreaks. PLoS Negl Trop Dis. 2010; 4(7): e753.
95. Uziel Y, Perl L, Barash J, Hashkes PJ. Post-streptococcal reactive arthritis in children: a distinct entity from acute rheumatic fever. Pediatr
Rheumatol. 2011; 9: 32.
96. Ayoub EM, Ahmed S. Update on complications of group A streptococcal infections. Curr Probl Pediatr. 1997; 27: 90-101.
97. Inman RD. Artrite Reativa. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2016 ; 112: 681-692.
98. Brasil. Ministério da Saúde. Poertaria SAS/MS nº 1150, de 11 de novembro de 2015. Protocolo Clínico E Diretrizes Terapêuticas - Artrite
Reativa - Doença De Reiter. Diário Oficial da União.
99. Handulay SS, Glynne SJ, Keat A. When is arthritis reactive?. Postgrad Med J. 2006; 82(969): 446-53.
100. YU David T. Reactive arthritis. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/reactive-
arthritis.
101. Chiereghin A, Ximenes AC, Keiserman M. Artrite reativa. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 28: 185-189.
102. Marquez J, Espinoza LR. Artrites infecciosas II: artrite micobacteriana, brucelar, fúngica e parasitária. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen
JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 108: 652-661.
103. Colmenero JD, Ruiz-Mesa JD, Sanjuan-Jimenez R, Sobrino B, Morata P. Establishing the diagnosis of tuberculous vertebral osteomyelitis.
Eur Spine J. 2013; 22(Suppl 4): 579-86.
104. Rajasekaran S. Natural history of Pott’s kyphosis. Eur Spine J. 2013; 22(Suppl 4): 634-40.
105. DeVuyst D, Vanhoenacker F, Gielen J, Bernaerts A, De Schepper AM. Imaging features of musculoskeletal tuberculosis. Eur Radiol. 2003;
13(8): 1809-19.
106. Guimarães MFBR, Kakehasi AM. Artrite e espondilite tuberculosa. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro
da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 68: 401-405.
107. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
108. Amaral Filho JC, Assis DR. Artrites fúngicas. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 70: 411-417.
109. Kauffman A. Pathogenesis and clinical manifestations of disseminated histoplasmosis. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/pathogenesis-and-clinical-manifestations-of-disseminated-histoplasmosis.
110. Kauffman A. Candida osteoarticular infections. UpToDate. [Internet]; 2017. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/candida-osteoarticular-infections.
111. Silva NA, Rêgo J. Manifestações musculoesqueléticas de doenças não reumáticas: doenças tropicais. In: Queiroz MV. Reumatologia-
fronteiras com outras especialidades. Lisboa: Edições Lidel-Edições Técnicas; 2001.
112. Monsignore LM, Martinez R et al. Radiologic findings of osteoarticular infection in paracoccidioidomycosis. Skeletal Radiol 2012; 41: 203-
8.
113. Azevedo PM, Pereira RMR. Febre reumática aguda. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia.
6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 111: 673-680.
114. Pereira, BAF, Belo, AR, Silva, NA. Febre reumática: atualização dos critérios de Jones à luz da revisão da American Heart Association –
2015. Rev Bras Reumatol. 2017; 57(4): 364-8
115. Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Diretrizes brasileiras
para diagnóstico, tratamento e prevenção da febre reumática da Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Arq Bras Cardiol. 2009; 93(3 supl 4): 1-18.
116. World Health Organization. Rheumatic Fever and Rheumatic Heart Disease: Report of a WHO Expert Consultation. Geneva: World Health
Organization; 2004.
117. Dajani A, Taubert K, Ferrieri P, Peter G, Shulman S. Committee on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease of the Council on
Cardiovascular Disease in the Young, the American Heart Association. Treatment of acute streptococcal pharyngitis and prevention of
rheumatic fever: a statement for health professionals. Pediatrics. 1995; 96(4 Pt. 1): 758-64.
118. Saxena A, Kumar RK, Gera RP, Radhakrishnan S, Mishra S, Ahmed Z. Consensus guidelines on pediatric acute rheumatic fever and
rheumatic heart disease. Indian Pediatr. 2008; 45(7): 565-73.
119. Carapetis JR, Brown A, Walsh W. National Heart Foundation of Australia (RF/RHD guideline development working group), Cardiac Society
of Australia and New Zealand. Diagnosis and management of acute rheumatic fever and rheumatic heart disease in Australia: an evidence-
based review. Australia: Heart Foundation; 2006.
120. Barlow JB, Marcus RH, Pocock WA, Barlow CW, Essop R, Sareli P. Mechanisms and management of heart failure in active rheumatic
carditis. S Afr Med J. 1990; 78(4): 181-6.
121. Silva NA, Pereira BA. Acute rheumatic fever. Still a challenge. Rheum Dis Clin North Am. 1997; 23(3): 545-68.
122. Illingworth RS, Lorber J, Holt KS, Rendle-Short J. Acute rheumatic fever in children: a comparison of six forms of treatment in 200 cases.
Lancet. 1957; 273(6997): 653-9.
123. Bywaters EG, Thomas GT. Bed rest, salicylates, and steroid in rheumatic fever. Br Med J. 1961; 1(5240): 1628-34.
124. Herdy GV, Pinto CA, Olivaes MC, Carvalho EA, Tchou H, Cosendey R, et al. Rheumatic carditis treated with high doses of pulse therapy
methylprednisolone. Results in 70 children over 12 years. Arq Bras Cardiol. 1999; 72(5): 601-6.
125. Camara EJ, Braga JC, Alves-Silva LS, Camara GF, Silva LAA. Comparison of an intravenous pulse of methylprednisolone versus oral
corticosteroid in severe acute rheumatic carditis: a randomized clinical trial. Cardiol Young. 2002; 12(2): 119-24.
126. Herdy GV. Pulse therapy (high venous of venous methylprednisolone) in children with rheumatic carditis. Prospective study of 40 episodes.
Arq Bras Cardiol. 1993; 60(6): 377-81.
127. Kasab AS, Fagih AMR, Shahid M, Habbab M, Zaibag AM. Valve surgery in acute rheumatic heart disease: one-to four-year follow-up.
Chest. 1988; 94(4): 830-3.
128. Pena J, Mora E, Cardozo J, Molina O, Montiel C. Comparison of the efficacy of carbamazepine, haloperidol and valproic acid in the
treatment of children with Sydenham’s chorea: clinical follow-up of 18 patients. Arq Neuropsiquiatr. 2002; 60(2-B): 374-7.
129. Genel F, Arslanoglu S, Uran N, Saylan B. Sydenham’s chorea: clinical findings and comparison of the efficacies of sodium valproate and
carbamazepine regimens. Brain Dev. 2002; 24(2): 73-6.
130. Paz JA, Silva CA, Marques-Dias MJ. Randomized double-blind study with prednisone in Sydenham’s chorea. Pediatr Neurol. 2006; 34(4):
264-9.
131. Garvey MA, Snider LA, Leitman SF, Werden R, Swedo SE. Treatment of Sydenham’s chorea with intravenous immunoglobulin, plasma
exchange, or prednisone. J Child Neurol. 2005; 20(5): 424-9.
132. Moraes AJP, Cavalcanti AS. Febre reumática. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019; 61: 362-368
133. Steer A, Gibofsky A. Acute Rheumatic Fever: treatment e prevention. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/acute-rheumatic-fever-treatment-and-prevention.
134. Zuhlke L, Cupido B. Management and prevention of Rheumatic Heart Disease. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em XX]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/management-and-prevention-of-rheumatic-heart-disease.
135. Gilbert DL. Sydenham chorea. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em XX]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/sydenham-
chorea.
7.5
GOTA
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Gota é uma desordem que se manifesta com um espectro de
características clínicas e patológicas, devido ao excesso de ácido úrico
sérico, o qual varia entre 6,8 a 7 mg/dL (considerado limite de solubilidade
de urato nos fluidos fisiológicos). Os cristais de urato monossódico (MSU)
saturados nos fluidos extracelulares podem se depositar nas articulações,
bursas, tendões, tecidos cutâneos e auriculares, e são detectados pelo exame
físico e/ou de imagem. Litíase renal, nefropatia parenquimatosa,
acometimento ocular e visceral também podem ocorrer.
É uma das doenças reumatológicas mais comuns em adultos de meia-
idade, notadamente no sexo masculino, e em mulheres após a menopausa (o
estrogênio e a progesterona estão relacionados à queda nos níveis de ácido
úrico sérico). Tem sido observado um aumento na prevalência de gota com o
avançar da idade, e os principais fatores envolvidos para tal incluem:
longevidade, uso de medicamentos, insuficiência renal crônica, hipertensão
arterial, obesidade e síndrome metabólica. Além disso, há evidência de
associação entre ácido úrico circulante e hipertensão, doença renal e risco de
eventos coronarianos. A história familiar está presente em até 40% dos
casos.
Os fatores de risco para hiperuricemia e gota são divididos em fatores
não modificáveis e modificáveis (Quadro 1).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O urato é o produto final de degradação da purina e seu nível depende da
dieta, da síntese endógena de purinas e de sua excreção (renal e intestinal),
além de sofrer influência de pH, temperatura, desidratação, entre outros.
A quantidade de urato ingerido diariamente é baixa e de pouca absorção.
Contudo, os níveis de urato são mantidos abaixo da sua concentração
máxima (6,8 mg/mL), através da excreção renal e intestinal. Quando sua
concentração máxima é ultrapassada, pode aumentar a chance de
cristalizações, sobretudo nas extremidades.
No processo de degradação, as purinas são convertidas em xantinas e, na
sequência, em ácido úrico. Esse composto orgânico é transformado em urato,
um sal orgânico que é produto final do metabolismo das purinas no
organismo (Figura 1). No rim saudável, 100% do urato é filtrado e 5-10% é
excretado, ao passo que, quando há alteração da função renal, 3-5% é
excretado. O processamento ocorre no túbulo proximal, onde transportadores
funcionam para reabsorção (URAT1, OAT4, OAT10, GLUT9), secreção
(NPT1 e 4, MRP, e OAT1, 2, 3) de ácido úrico. O sistema renal de excreção
de urato de pacientes com gota pode ser menos responsivo ao aumento do
ácido úrico sérico. O mecanismo de excreção intestinal do urato tem sido
menos estudado. Recentemente, foi observada perda de função de uma
bomba secretória ABCG2 como possível causa de hiperuricemia. A redução
no funcionamento da ABCG2 ocasiona redução da excreção extrarrenal e
aumento compensatório de eliminação de urato na urina (Figura 2).
O urato tem atividade pró-inflamatória e, ao ser fagocitado, estimula a
produção de citocinas inflamatórias, em particular a IL-1, causando uma
inflamação crônica. Geralmente essa inflamação mantém um equilíbrio entre
as citocinas pró-inflamatórias e os inibidores, levando a uma inflamação
subclínica, porém qualquer desequilíbrio pode desencadear uma crise aguda,
com intensa inflamação local (Figura 3).
A gota é consequência do aumento do ácido úrico sanguíneo, seja por
hiperprodução (corresponde a 10% dos casos), seja por diminuição da sua
excreção (90%), levando à sua deposição articular e/ou em tecidos moles
(quadros 2 e 3).
Há dois tipos de gota: a primária ou idiopática e a secundária. Na gota
primária, o paciente pode apresentar deficiência enzimática, que leva a um
aumento da síntese de ácido úrico ou, mais frequentemente, pode ocorrer a
diminuição da depuração renal do ácido úrico. Já a gota secundária é
decorrente do aumento do metabolismo das purinas ou por ação
farmacológica, que podem causar uma produção exacerbada de ácido úrico
ou uma diminuição na excreção renal.
1. PRPP-S (fosforribosil-pirofosfato sintetase)
2. HGPRT-ASE (hipoxantina-guanina-fosforribosil transferase)
3. ND (50 nucleotidase)
4. PNP (purina nucleotídeo fosforilase)
5. XO (xantina oxidase)
6. AMPD (AMP-deaminase)
7. ADA (adenilato deaminase)
8. APRT-ASE (amidofosforribosil transferase)
9. UO (urato oxidase)
10. Condições metabólicas com degradação de ATP
Desordens clínicas:
• Insuficiência renal crônica/Nefropatia por chumbo/Nefropatia Hiperuricêmica Familiar Juvenil/ Doença renal
cística medular/Doença renal glomérulo-cística.
• SLC2A9
• SLC22A12
• ABCG2
• SLC17A1
• SCL22A11
• PDZK1
• SCL16A9
Quadro3. Causas de hiperuricemia devido à diminuição do clearance renal
do ácido úrico.
Fonte: Gaffo.18
QUADRO CLÍNICO
A artrite gotosa consiste em períodos longos, assintomáticos, de
deposição de cristais de MSU nas articulações alternando com períodos de
monoartrite ou oligoartrite, evoluindo para gota tofácea crônica, onde pode
ser observada a deformidade óssea. A duração de cada estágio varia de
acordo com cada indivíduo.
Os estágios clínicos da gota são: hiperuricemia assintomática, gota
intermitente aguda, gota tofácea avançada e gota não clássica.
a. Hiperuricemia assintomática
Considerado um estágio precursor da gota, em que ocorre o aumento da
concentração de urato sérico, na ausência de qualquer manifestação clínica,
geralmente com duração de décadas. Estudos mostram que a hiperuricemia
persistente (acima de 9 ou 10mg/dL) é responsável por efeitos deletérios,
como: hipertensão arterial, insuficiência renal e doenças cardiovasculares.
As mudanças nas articulações e de partes moles, que irão desenvolver a gota,
ocorrem nessa fase e é importante salientar que nem todos os pacientes
hiperuricêmicos irão desenvolver gota.
b. Gota Intermitente Aguda
Ocorre por volta de 30 a 40 anos no sexo masculino e, no sexo feminino,
mais tarde, conforme notadamente a idade da menopausa. Geralmente, o
ataque é monoarticular e com sinais flogísticos intensos, mas pode ser
poliarticular em pacientes com doença de longa evolução. Em cerca de 90%
dos casos, a articulação mais acometida é a primeira metatarsofalangeana
(denominada como podagra), ou a do joelho. Outras articulações como
tornozelo, calcâneo e mediopé podem ser afetadas.
As crises são caracterizadas por dor severa, vermelhidão, calor, inchaço e
incapacidade para realização de movimentos, com pico do quadro dentro de
12-24 horas. Os sintomas aparecem subitamente, no período da noite e início
da manhã. O processo inflamatório pode se estender ao redor da articulação
e, ao final, pode apresentar descamação epidérmica. Geralmente, as crises
são autolimitadas e têm duração de poucos dias a semanas, e são seguidas de
períodos assintomáticos (momento em que há uma inflamação, porém de
baixo grau).
Esse processo agudo pode ser iniciado por fatores que modifiquem a
estabilidade dos cristais de MSU intra-articular; por exemplo: pH do líquido
sinovial, trauma da articulação, medicamentos, dieta, cirurgia, dentre outros.
Pode durar 3-4 anos ou um período superior a 20 anos.
c. Gota Tofácea Avançada
É caracterizada pelo aglomerado de cristais de monourato acompanhado
por inflamação crônica e destruição dos tecidos adjacentes. Tofos são
geralmente visíveis e palpáveis e podem estar presente na orelha,
articulação, tendão, bursa e esclera; são observados após alguns anos de
doença. O paciente mantém desconforto e algum grau de edema nas
articulações e evolui com poliartrite deformante ou mutilante, semelhante à
artrite reumatoide.
d. Gota Não Clássica
CRITÉRIO DE ENTRADA:
Passo 1: critérios de entrada (só se aplicam os critérios
Pelo menos 1 episódio de edema, dor e sensibilidade
de classificação abaixo se os critérios de entrada forem
articular ou em Bursa.
satisfeitos).
CRITÉRIO SUFICIENTE:
Passo 2: critério suficiente (se encontrá-lo já é gota;
Pelo menos 1 episódio de edema, dor e sensibilidade
não precisa prosseguir).
articular ou em Bursa.
+
Passo 3: prosseguir com os critérios de classificação
Presença de cristais de MSU em articulação
quando o critério suficiente não for encontrado.
sintomática ou bursa ou tofo.
Clínico
Categorias Escore
Padrão de envolvimento articular/bursa durante a crise. * Tornozelo ou mediopé (sem envolvimento 1
da primeira metatarsofalangeana).
* Envolvimento da 1 metatarsofalangeana (como parte
de um processo mono ou 2
poliarticular.
Características do episódio sintomático:
* Eritema na articulação afetada. * 1 característica.
* Não pode ser tocado ou pressionado. * 2 características.
* Dificuldade para deambular ou incapacidade para * 3 características. 1
utilizar a articulação. 2
3
Tempo de curso do episódio:
* Presença de 2 ou mais, independentemente do
tratamento anti-inflamatório: *1 episódio típico.
* Episódios típicos recorrentes.
• Tempo para dor máxima menor ou igual 1
24 horas. 2
Categorias Escore
Imagem
Categorias Escore
Observação: considerar valor zero se: não for feito exame de imagem e
não for feita a análise de líquido sinovial. Para valores de ácido úrico sérico
entre 4 e < que 6 mg/dL: considerar valor zero. Considerar gota se critério
suficiente presente ou escore total ≥ a 8.
b. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (QUADRO 5)
Artrite séptica/ Osteomielite Pseudogota Celulite
Quadro 5.
Fonte: Elaborado pela autora.
TRATAMENTO
O tratamento da artrite gotosa inclui tratamento farmacológico e não
farmacológico.
Quadro 6.
Fonte: Elaborado pela autora.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO
Obs.: em doença severa, pode ser usada associação (evitar: antiinflamatório não esteroidal com corticoide).
g. CONCLUSÕES
A artrite gotosa é uma doença que vem aumentando sua prevalência nos
últimos anos. Por ser uma doença que pode vir a se tornar debilitante,
diagnóstico e terapêutica corretos são importantes para uma melhor
qualidade de vida do paciente e maior produtividade no trabalho.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo masculino, 45 anos, obeso, sedentário,
apresenta-se ao pronto-atendimento, de madrugada, com quadro de
artralgia em articulação de primeiro pododáctilo direito, início súbito,
forte intensidade (EVA 10), com aumento de volume e temperatura,
sem história prévia de trauma. Relata ter abusado na feijoada e cerveja,
no dia anterior. Nega episódio prévio. Refere ser hipertenso, em uso de
hidroclorotiazida.
b. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Khanna D, FitzGerald JD, Khanna PD, Bae S, Singh M, Neogi T, et al. 2012 American
College Of Rheumatology Guidelines For Management Of Gout. Part 1: Systematic
Nonpharmacologic And Pharmacologic Therapeutic Approches To Hyperuricemia. Arthritis
Care Res. 2012; 64(10): 1431-46.
2. Neogi T. Clinical Practice: Gout. N Engl J Med. 2011; 364(5): 443-52.
3. Terkeltaub R. Update On Gout: New Therapeutic Strategies And Options. Nat Rev
Rheumatol. 2010; 6(1): 30-8.
4. Clarson LE, Hider SL, Belcher J, Heneghan C, Roddy E, Mallen CD. Increased Risk Of
Vascular Disease Associated With Gout: A Retrospective, Matched Cohort Study In The Uk
Clinical Practice Research Datalink. Ann Rheum Dis. 2014; 0: 1-6.
5. Trifirò G, Morabito P, Cavagna L, Ferrajolo C, Pecchioli S, Simonetti M, et al. Epidemiology
Of Gout And Hyperuricaemia In Italy During The Years 2005-2009: A Nationwide
Population-based Study. Ann Rheum Dis. 2013; 72(5): 694-700.
6. Brook RA, Kleinman NL, Patel PA, Melkonian AK. The Economic Burden Of Gout On An
Employed Population. Curr Med Res Opin. 2006; 22(7): 1381-9.
7. Ten KPM, Vonkeman HE, Van De Laar MA. Disability Due To Gouty Arthritis. Curr Opin
Rheumato. 2012; 24(2): 139-44.
8. Lottmann K, Chen X, SchadLich PK. Association Between Gout And All-cause As Well As
Cardiovascular Mortality: A Systematic Review. Curr Rheumatol Rep. 2012; 14(2): 195-
203.
9. Choi HK. Epidemiologia Da Gota. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME,
Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 1223-27
10. Nicholls A, Snaith ML, Scott JE. Effect Of Oestrogen Therapy On Plasma And Urinary
Levels Of Uric Acid. Br Med J. 1973; 1(5851): 449-51.
11. Sumino H, Ichikawa S, KandaT, Nakamura T, Sakamaki T. Reduction Of Serum Uric Acid
By Hormone Replacement Therapy In Postmenopausal Women With Hyperuricaemia.
Lancet. 1999; 354(9179): 650.
12. Hak AE, Choi HK. Menopause, Postmenopausal Hormone Use And Serum Uric Acid
Levels In Us Women - the Third National Health And Nutrition Examination Survey.
Arthritis Res Ther. 2008; 10(5): R116.
13. Hak AE, Curhan GC, Grodstein F, Choi HK. Menopause, Postmenopausal Hormone Use
And Risk Of Incident Gout. Ann Rheum Dis. 2010; 69(7): 1305-9.
14. Xavier JGA, Guimarães PIF. Artrites Microcristalinas. In: Carvalho MAP, Lanna CCD,
Bértolo MB. Reumatologia: Diagnóstico E Tratamento. 4 ed. São Paulo: Ac Farmacêutica;
2014 ; 258-272.
15. Pinheiro GRC. Revendo A Orientação Dietética Na Gota. Rev Bras Reumatol. 2008; 48(3):
157-61.
16. Bieber J, Terkeltaub RA. Gout: On The Brink Of Novel Therapeutic Options For An
Ancient Disease. Arthritis Rheum. 2004; 50(8): 2400-14.
17. Becher MA. Clinical Manifestations And Diagnosis Of Gout. UpToDate. [Internet]; 2017.
[acesso em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-
and-diagnosis-of-gout.
18. Gaffo AL. Clinical manifestations and diagnosis of gout. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-
and-diagnosis-of-gout?search=clinical-manifestations-and-diagnosis-of-
gout.%20Updated&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&displa
y_rank=2.
19. Richette P, Doherty M, Pascual E, Barskova V, Becce F, Castaneda J, et al. 2018 updated
European League Against Rheumatism evidence-based recommendations for the diagnosis
of gout. Ann Rheum Dis. 2020; 79(1): 31-8.
20. Mclean L, Dalbeth N. Etiologia E Patogênese Da Gota. In: Hochberg MC, Silman AJ,
Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier;
2016 ; 1228-39.
21. Dalbeth N, Merriman TR, Stamp LK. Gout. Lancet. 2016; 338(10055): P2039-52.
22. Terkeltaub R, Bushinsky DA, Becker MA. Recent Developments In Our Understanding Of
The Renal Basis Of Hyperuricemia And The Development Of Novel Antihyperuricemic
Therapeutics. Arthritis Res Ther. 2006; 8(Suppl 1): S4.
23. Bobulescu IA, Moe OW. Renal Transport Of Uric Acid: Evolving Concepts And
Uncertainties. Adv Chronic Kidney Dis. 2012; 19(6): 358-71.
24. Pascual E, Perdiguero M. Gout, Diuretics And The Kidney. Ann Rheum Dis. 2006; 65(8):
981-2.
25. Hyndman D, Liu S, Miner JN. Urate Handling In The Human Body. Curr Rheumatol Rep.
2016; 18(6): 34.
26. Köttgen A, Albrecht E, Teumer A, Vitart V, Krumsiek J, Hundertmark C, et al. Genome-
wide Association Analyses Identify 18 New Loci Associated With Serum Urate
Concentrations. Nat Genet. 2013; 45(2): 145-54.
27. Zhu Y, Pandya BJ, Choi HK. Comorbidities Of Gout And Hyperuricemia In The Us General
Population: Nhanes 2007-2008. Am J Med. 2012; 125: 679-87.
28. Lopes AC. Tratado De Clínica Médica. São Paulo: Roca; 2006.
29. Longo DL, Kasper DL, Jameson JL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina Interna De
Harrison. 18. ed. Porto Alegre: AMGH; 2013.
30. Batista JS, Wibelinger LM. Artrite Gotosa No Processo De Envelhecimento Humano. Rev
Kairós Gerontol. 2011; 14(4): 123-34.
31. Santos FD. Gota: Uma Revisão. Rev Med UFPR. 2016; 3(1): 25-31.
32. Pope RM, Tschopp J. The Role Of Interleukin-1 And The Inflammasome In Gout:
Implications For Therapy. Arthritis Rheum. 2007; 56(10): 3183-8.
33. Miguel C, Mediavilla MJ. Abordagem Actual Da Gota. Artigo De Revisão. Acta Med Port.
2011; 24(5): 791-8.
34. Edwards NL. Gota Clínica. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME,
Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016 ; 1240-44.
35. Talbott JH, Yu TF. Gout And Uric Acid Metabolism. New York: Stratton Intercontinental
Medical Book Corp; 1976. p. 119-32.
36. Mccarty DJ, Kohn NN, Faires JS. the Significance Of Calcium Phosphate Crystals In The
Synovial Fluid Of Arthritic Patients: The “Pseudogout” Syndrome. Ann Int Med. 1962;
56(5_Part_1): 711-37.
37. Lichtenstein L, Scott HW, Levin MH. Pathologic Changes In Gout: Survey Of 11
Necropsied Cases. Am J Pathol. 1956; 32(5): 871-95.
38. Burack DA, Griffith BP, Thompson ME, Jahl LE. Hyperuricemia And Gout Among Heart
Transplant Recipients Receiving Cyclosporine. Am J Med. 1992; 92(2): 141-6.
39. Braun WE, Richmond BJ, Protiva DA, Gifford Straffon Ra. The Incidence And
Management Of Osteoporosis, Gout And Avascular Necrosis In Recipients Of Renal
Allografts Functioning More Than 20 Years Treated With Prednisone And Azathioprine.
Transplant Proc. 1999; 31(1-2): 1366-9.
40. Poor G, Mituszova M. Saturnine Gout. Baillieres Clin Rheumatol. 1989; 3(1): 51-61.
41. Logan JA, Morrison E, Mcgill PE. Serum Uric Acid In Acute Gout. Ann Rheum Dis. 1997;
56(11): 696.
42. Schlesinger N, Norquist JM, Watson DJ. Serum Urate During Acute Gout. J Rheumatol.
2009; 36(6): 1287-9.
43. Fernandes EA, Bergamaschi SB, Rodrigues TC, Dias GC, Malmann R, Ramos GM, et al.
Aspectos Relevantes Do Diagnóstico E Seguimento Por Imagem Na Gota. Rev Bras
Reumatol. 2017; 57(1): 64-72.
44. Nalbant S, Corominas H, Hsu B, Chen LX, Schumacher HR, Kitumnuaypong T.
Ultrasonography For Assessment Of Subcutaneous Nodules. J Rheumatol. 2003; 30(6):
1191-5.
45. Smith EUR, Díaz-torné C, Perez-ruiz F, March LM. Epidemiology Of Gout: An Update.
Best Practice & Research Clinical Rheumatology 2010; 24(6): 811-27.
46. Bloch C, Hermann G, Yu TF. A Radiologic Reevaluation Of Gout: A Study Of 2,000
Patients. Ajr Am J Roentgenol. 1980; 134(4): 781-7.
47. Rettenbacher T, Ennemoser S, Weirich H, Ulmer H, Hartig F, Klotz W, et al. Diagnostic
Imaging Of Gout: Comparison Of High-resolution Us Versus Conventional X-ray. Eur
Radiol. 2008; 18(3): 621-30.
48. Martel W. The Overhanging Margin Of Bone: A Roentgenologic Manifestation Of Gout.
Radiology. 1968; 91(4): 755-6.
49. Thiele RG, Schlesinger N. Diagnosis Of Gout By Ultrasound. Rheumatology (Oxford).
2007; 46(7): 1116-21.
50. Pineda C, Amezcua-Guerra LM, Solano C, Rodriguez-Henríquez P, Hernández-Díaz C, et
al. Joint And Tendon Subclinical Involvement Suggestive Of Gouty Arthritis In
Asymptomatic Hyperuricemia: An Ultrasound Controlled Study. Arthritis Res Ther. 2011;
13(1): R4.
51. Balbir-Gurman A, Nahir AM, Braun-Moscovici Y, Soudack M. Sonographic Features Of A
Tophaceous Nodule. Isr Med Assoc J. 2005; 7(11): 746-7.
52. Dalbeth N, Collis J, Gregory K, Clark B, Robinson E, Mcqueen FM. Tophaceous Joint
Disease Strongly Predicts Hand Function In Patients With Gout. Rheumatology. 2007;
46(12): 1804-7.
53. Dalbeth N, Clark B, Gregory K, Gamble GD, Doyle A, Mcqueen FM. Computed
Tomography Measurement Of Tophus Volume: Comparison With Physical Measurement.
Arthritis Rheumatol. 2007; 57(3): 461-5.
54. Glazebrook KN, Guimaraes LS, Murthy NS. Identification Of Intraarticular And
Periarticular Uric Acid Crystals With Dual-energy Ct: Initial Evaluation. Radiology. 2011;
261(2): 516-24.
55. Mcqueen FM, Doyle A, Dalbeth N. Imaging In Gout - What Can We Learn From Mri, Ct,
Dect, And Us? Arthritis Res Ther. 2011; 13(6): 246.
56. Neogi T, Jansen Tl, Dalbeth N, Fransen J, Schumacher HR, Berendsen D, et al. 2015 Gout
Classification Criteria: An American College Of Rheumatology/European League Against
Rheumatism Collaborative Initiative. Arthritis Rheumatol. 2015; 67(10): 2557-68.
57. Mccarty DJ. Arthritis And Allied Conditions. 10. ed. Philadelphia: Lea & Febiger; 1985.
58. Terkeltaub R. Tratamento Da Gota E Da Hiperuricemia. In: Hochberg MC, Silman AJ,
Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier;
2016 ; 1245-51.
59. Spencer K, Carr A, Doherty M. Patient And Provider Barriers To Effective Management Of
Gout In General Practice: A Qualitative Study. Ann Rheum Dis. 2012; 71(9): 1490-5.
60. Reach G. Treatment Adherence In Patients With Gout. Joint Bone Spine. 2011; 78(5): 456-
9.
61. Harrold LR, Andrade SE, Briesacher BA, Raebel MA, Fouayzi H, Yood RA, et al.
Adherence with urate-lowering therapies for the treatment of gout. Arthritis Res Ther. 2009;
11(2): R46.
62. Rees F, Jenkins W, Doherty M. Patients With Gout Adhere To Curative Treatment Of
Informed Appropriately: Proof-of-concept Observational Study. Ann Rheum Dis. 2013;
72(6): 826-30.
63. Khanna D, Khanna PP, FitzGerald JD, Singh M, Bae S, Neogi T, et al. 2012 American
College Of Rheumatology Guidelines For Management Of Gout. Part 2: Therapy And Anti
Inflammatory Prophylaxis Of Acute Gouty Arthritis. Arthritis Care Res. 2012; 64(10): 1447-
61.
64. Richette P, Doherty M, Pascual E, Barskova V, Becce F, Castañeda-Sanabria J, et al. 2016
Updated Eular Evidence-based Recommendations For The Management Of Gout. Ann
Rheum Dis. 2016; 0: 1-14.
65. FitzGerald JD, Dalbeth N, Mikuls T, Brignardello-Petersen R, Guyatt G, Abeles AM, et al.
2020 American College of Rheumatology Guideline for the Management of Gout. Arthritis
Care Res. 2020; 72(6): 744-60.
66. Dalbeth N, Ames R, Gamble GD, Horne A, Wong S, Kuhn-Sherlock B, el al. Effects Of
Skim Milk Powder Enriched With Glycomacropeptide And G600 Milk Fat Extract On
Frequency Of Gout Flares: A Proof-of-concept Randomised Controlled Trial. Ann Rheum
Dis. 2012; 71: 929-34.
67. Dessein PH, Shipton EA, Stanwix AE, Joffe BI, Ramokgadi J. Beneficial Effects Of Weight
Loss Associated With Moderate Calorie/Carbohydrate Restriction, And Increased
Proportional Intake Of Protein And Unsaturated Fat On Serum Urate And Lipoprotein
Levels In Gout: A Pilot Study. Ann Rheum Dis 2000;59:539-43.
68. Choi HK, Atkinson K, Karlson EW, Willett W, Curhan G. Purine-rich Foods, Dairy And
Protein Intake, And The Risk Of Gout In Men. N Engl J Med. 2004; 350(11): 1093-103.
69. Choi HK, Atkinson K, Karlson EW, Willett W, Curhan G. Alcohol Intake And Risk Of
Incident Gout In Men: A Prospective Study. Lancet. 2004; 363(9417): 1277-81.
70. Choi HK, Willett W, Curhan G. Fructose-rich Beverages And The Risk Of Gout In Women.
Jama. 2010; 304: 2270-8.
71. Choi HK, Curhan G. Soft Drinks, Fructose Consumption, And The Risk Of Gout In Men:
Prospective Cohort Study. BMJ. 2008; 36(7639): 309-12.
72. Singh JA, Reddy SG, Kundukulam J. Risk Factors For Gout And Prevention: A Systematic
Review Of The Literature. Curr Opin Rheumatol. 2011; 23(2): 192-202.
73. Zhang Y, Chen C, Choi H, Chaisson C, Hunter D, Niu J, et al. Purine-rich Foods Intake And
Recurrent Gout Attacks. Ann Rheum Dis. 2012; 71(9): 1448-53.
74. Tsai YT, Liu JP, Tu YK, Lee MS, Chen PR, Hsu HC, et al. Relationship Between Dietary
Patterns And Serum Uric Acid Concentrations Among Ethnic Chinese Adults In Taiwan.
Asia Pac J Clin Nutr. 2012; 21(2): 263-70.
75. Zhang Y, Woods R, Chaisson CE, Neogi T, Niu J, Mcalindonte et al. Alcohol Consumption
As A Trigger Of Recurrent Gout Attacks. Am J Med. 2006; 119(9): 800.E13-8.
76. Roubenoff R. Gout And Hyperuricemia. Rheum Dis Clin North Am. 1990; 16(3): 539-50.
77. Dalbeth N, Wong S, Gamble GD, Horne A, Mason B, Pool B, et al. Acute Effect Of Milk
On Serum Urate Concentrations: A Randomised Controlled Crossover Trial. Ann Rheum
Dis. 2010; 69(9): 1677-82.
78. Dalbeth N, Ames R, Gamble GD, Horne A, Wong S, Kuhn-Sherlock B, et al. Effects Of
Skim Milk Powder Enriched With Glycomacropeptide And G600 Milk Fat Extract On
Frequency Of Gout Flares: A Proof-of-concept Randomised Controlled Trial. Ann Rheum
Dis. 2012; 71(6): 929-34.
79. Garrel DR, Verdy M, Petit CC, Martin C, Brulé D, Hamet P. Milk- And Soy-protein
Ingestion: Acute Effect On Serum Uric Acid Concentration. Am J Clin Nutr. 1991; 53(3):
665-9.
80. Zhang Y, Neogi T, Chen C, Chaisson C, Hunter DJ, Choi HK. Cherry Consumption And
The Risk Of Recurrent Gout Attacks. Arthritis Rheum. 2012; 64(12): 4004-11.
81. Faller J, Fox IH. Ethanol-induced Hyperuricemia: Evidence For Increased Urate Production
By Activation Of Adenine Nucleotide Turnover. N Engl J Med. 1982; 307(26): 1598-602.
82. Choi JW, Ford ES, Gao X, Choi HK. Sugar-sweetened Soft Drinks, Diet Soft Drinks, And
Serum Uric Acid Level: The Third National Health And Nutrition Examination Survey.
Arthritis Rheum. 2008; 59(1): 109-16.
83. Choi HK, Willett W, Curhan G. Coffee Consumption And Risk Of Incident Gout In Men: A
Prospective Study. Arthritis Rheum. 2007; 56(6): 2049-55.
84. Juraschek SP, Miller ER, Gelber AC. Effect Of Oral Vitamin C Supplementation On Serum
Uric Acid: A Meta-analysis Of Randomized Controlled Trials. Arthritis Care Res. 2011;
63(9): 1295-306.
85. Huang HY, Appel LJ, Choi MJ, Gelber AC, Charleston J, Norkus EP, et al. The Effects Of
Vitamin C Supplementation On Serum Concentrations Of Uric Acid: Results Of A
Randomized Controlled Trial. Arthritis Rheum. 2005; 52(6): 1843-7.
86. Choi HK, Soriano LC, Zhang Y, Rodriguez lLA. Antihypertensive Drugs And Risk Of
Incident Gout Among Patients With Hypertension: Population Based Case-control Study.
BMJ. 2012; 344: D8190.
87. Choi HK, Mount DB, Reginato AM. Pathogenesis Of Gout. Ann Intern Med. 2005; 143(7):
499-516.
88. Krishnan E, Baker JF, Furst DE, Schumacher HR. Gout And The Risk Of Acute Myocardial
Infarction. Arthritis Rheum 2006; 54(8): 2688-96.
89. Choi HK, Curhan G. Independent Impact Of Gout On Mortality And Risk For Coronary
Heart Disease. Circulation. 2007; 116(8): 894-900.
90. Soriano L, Rothenbacher D, Choi HK, Garcia Rodriguez LA. Contemporary Epidemiology
Of Gout In The Uk General Population. Arthritis Res Ther. 2011; 13(2): R39.
91. Derosa G, Maffioli P, Sahebkar A. Plasma Uric Acid Concentrations Are Reduced By
Fenofibrate: A Systematic Review And Meta-analysis Of Randomized Placebo-controlled
Trials. Pharmacol Res. 2015; 102: 63-70.
92. Ansquer JC, Dalton RN, Caussé E, Crimet D, Le Malicot K, Foucher C. Effect Of
Fenofibrate On Kidney Function: A 6-week Randomized Crossover Trial In Healthy People.
Am J Kidney Dis. 2008; 51(6): 904-13.
93. Krishnan E, Lingala B, Bhalla V. Low-level Lead Exposure And The Prevalence Of Gout:
An Observational Study. Ann Intern Med. 2012; 157(4): 233-41.
94. Choi HK, Atkinson K, Karlson EW, Willet WC, Curhan G. Obesity, Weight Change,
Hypertension, Diuretic Use, And The Risk Of Gout In Men: The Health Professionals
Follow-up Study. Arch Intern Med. 2005; 165(7): 742-8.
95. Roubenoff R, Klag MJ, Mead LA, Liang KY, Seidler AJ, Hochberg MC. Incidence And
Risk Factors For Gout In White Men. Jama. 1991; 266(21): 3004-7.
96. Bhole V, Vera M, Rahman MM, Kkrishnan E, Choi H, Epidemiology Of Gout In Women:
Fifty-two-year Followup Of A Prospective Cohort. Arthritis Rheum. 2010; 62(4): 1069-76.
97. Campion EW, Glynn RJ, Delabry LO. Asymptomatic Hyperuricemia. Risks And
Consequences In The Normative Aging Study. Am J Med. 1987; 82(3): 421-6.
98. Rathmann W, Funkhouser E, Dyer AR, Roseman JM. Relations Of Hyperuricemia With The
Various Components Of The Insulin Resistance Syndrome In Young Black And White
Adults: The Cardia Study. Coronary Artery Risk Development In Young Adults. Ann
Epidemiol. 1998; 8(4): 250-61.
99. Schlesinger N, Detry MA, Holland BK, Baker DG, Beutler AM, Rull M, et al. Local Ice
Therapy During Bouts Of Acute Gouty Arthritis. J Rheumatol. 2002; 29(2): 331-4.
100. Janssens HJ, Janssen M, Van De Lisdonk EH, van Riel PL, van Weel C. Use Of Oral
Prednisolone Or Naproxen For The Treatment Of Gout Arthritis: A Double-blind,
Randomised Equivalence Trial. Lancet. 2008; 371(9627): 1854-60.
101. Man CY, Cheung IT, Cameron PA, Rainer TH. Comparison Of Oral
Prednisolone/Paracetamol And Oral Indomethacin/Paracetamol Combination Therapy In
The Treatment Of Acute Goutlike Arthritis: A Double-blind, Randomized, Controlled Trial.
Ann Emerg Med. 2007; 49(5): 670-7.
102. Schumacher Jr HR, Boice JA, Daikh DI, Mukhopadhyay S, Malmstrom K, Ng J, et al.
Randomised Double Blind Trial Of Etoricoxib And Indometacin In Treatment Of Acute
Gouty Arthritis. BMJ. 2002; 324(7352): 1488-92.
103. Terkeltaub RA, Furst DE, Bennett K, Kook KA, Crockett RS, Davis MW, et al. High
Versus Low Dosing Of Oral Colchicine For Early Acute Gout Flare: Twenty-four-hour
Outcome Of The First Multicenter, Randomized, Double-blind, Placebo-controlled, Parallel-
group, Dose-comparison Colchicine Study. Arthritis Rheum. 2010; 62(4): 1060-8.
104. Alloway JA, Moriarty MJ, Hoogland YT, Nashel DJ. Comparison Of Triamcinolone
Acetonide With Indomethacin In The Treatment Of Acute Gouty Arthritis. J Rheumatol.
1993; 20(1): 111-3.
105. Man CY, Cheung IT, Cameron PA, Rainer TH. Comparison Of Oral
Prednisolone/Paracetamol And Oral Indomethacin/Paracetamol Combination Therapy In
The Treatment Of Acute Goutlike Arthritis: A Double-blind, Randomized, Controlled Trial.
Ann Emerg Med. 2007; 49(5): 670-7.
106. Swarup A, Sachdeva N, Schumacher HRJ. Dosing Of Antirheumatic Drugs In Renal
Disease And Dialysis. J Clin Rheumatol. 2004; 10(4): 190-204.
107. Terkeltaub RA, Furst DE, Digiacinto JL, Kook KA, Davis MW. Novel Evidence-based
Colchicine Dose-reduction Algorithm To Predict And Prevent Colchicine Toxicity In The
Presence Of Cytochrome P450 3a4/P-glycoprotein Inhibitors [Published Erratum Appears In
Arthritis Rheum. 2011; 63: 3521]. Arthritis Rheum 2011; 63(8): 2226-37.
108. Keenan RT, O’brien WR, Lee KH, Crittenden DB, Fisher MC, Goldfarb DS, et al.
Prevalence Of Contraindications And Prescriptionof Pharmacologic Therapies For Gout. Am
J Med. 2011; 124(2): 155-63.
109. Getting SJ, Lam CW, Chen AS, Grieco P, Perretti M. Melanocortin 3 Receptors Control
Crystal-induced Inflammation. Faseb J. 2006; 20(1): 2234-41.
110. Chen H, Mosley TH, Alonso A, Huang X. Plasma Urate And Parkinson’s Disease In The
Atherosclerosis Risk In Communities (Aric) Study. Am J Epidemiol. 2009; 169(9): 1064-9.
111. Weisskopf MG, O’Reilly E, Chen H, Schwarzschild MA, Ascherio A. Plasma Urate And
Risk Of Parkinson’s Disease. Am J Epidemiol. 2007; 166(5): 561-7.
112. Kim TS, Pae CU, Yoon SJ, Jang WY, Lee NJ, Kim JJ, et al. Decreased Plasma
Antioxidants In Patients With Alzheimer’s Disease. Int J Geriatr Psychiatry. 2006; 21(4):
344-8.
113. Abraham A, Drory VE. Influence Of Serum Uric Acid Levels On Prognosis And Survival
In Amyotrophic Lateral Sclerosis: A Meta-analysis. J Neurol. 2014; 261(6): 1133-8.
114. Stamp LK, Taylor WJ, Jones PB, Dockerty JL, Drake J, Frampton C, et al. Starting Dose Is
A Risk Factor For Allopurinol Hypersensitivity Syndrome: A Proposed Safe Starting Dose
Of Allopurinol. Arthritis Rheum. 2012; 64(8): 2529-36.
115. Reinders MK, Van Roon EN, Jansen TL, Delsing J, Griep EN, Hoekstra M, et al. Efficacy
And Tolerability Of Urate-lowering Drugs In Gout: A Randomised Controlled Trial Of
Benzbromarone Versus Probenecid After Failure Of Allopurinol. Ann Rheum Dis. 2009;
68(1): 51-6.
116. Reinders MK, Haagsma C, Jansen TL, Van Roon EN, Delsing J, Van De Laar MA, et al. A
Randomised Controlled Trial On The Efficacy And Tolerability With Dose Escalation Of
Allopurinol 300-600 Mg/Day Versus Benzbromarone 100-200 Mg/Day Inpatients With
Gout. Ann Rheum Dis. 2009; 68(6): 892-7.
117. Stamp LK, O’Donnell JL, Zhang M, James J, Frampton C, Barclay ML, et al. Using
Allopurinol Above The Dose Based On Creatinine Clearance Is Effective And Safe In
Patients With Chronic Gout, Including Those With Renal Impairment. Arthritis Rheum.
2011; 63(2): 412-21.
118. Lupton G, Odom R. Severe Allopurinol Hypersensitivity Syndrome. J Am Acad Dermatol.
1979; 72: 1361-8.
119. Arellano F, Sacristan J. Allopurinol Hypersensitivity Syndrome: A Review. Ann
Pharmacother. 1993; 27(3): 337-43.
120. Zineh I, Mummaneni P, LyndLy J, Amur S, La Grenade La, Chang SH, et al. Allopurinol
Pharmacogenetics: Assessment Of Potential Clinical Usefulness. Pharmacogenomics. 2011;
12(12): 1741-9.
121. Hande KR. Evaluation Of A Thiazide-allopurinol Drug Interaction. Am J Med Sci. 1986;
292(4): 213-6.
122. Chao J, Terkeltaub R. A Critical Reappraisal Of Allopurinol Dosing, Safety, And Efficacy
For Hyperuricemia In Gout. Curr Rheumatol Rep. 2009; 11(2): 135-40.
123. Hande KR, Noone RM, Stone WJ. Severe Allopurinol Toxicity: Description And
Guidelines For Prevention In Patients With Renal Insufficiency. Am J Med. 1984; 76(1): 47-
56.
124. Somkrua R, Eickman EE, Saokaew S, Lohitnavy M, Chaiyakunapruk N. Association Of
Hla-b*5801 Allele And Allopurinol Induced Stevens Johnson Syndrome And Toxic
Epidermal Necrolysis: A Systematic Review And Meta-analysis. BMC Med Genet. 2011;
12: 118.
125. Lee MH, Stocker SL, Anderson J, Phillips EJ, Nolan D, Williams KM, et al. Initiating
Allopurinol Therapy: Do We Need To Know The Patient’s Hla Status? Intern Med J. 2011;
42(4): 411-6.
126. Jung JW, Song WJ, Kim YS, Joo KW, Lee KW, Kim SH, et al. Hla-b58 Can Help The
Clinical Decision On Starting Allopurinol In Patients With Chronic Renal Insufficiency.
Nephrol Dial Transplant. 2011; 26(11): 3567-72.
127. Hung SI, Chung WH, Liou LB, Chu CC, Lin M, Huang HP, et al. Hla-b*5801 Allele As A
Genetic Marker For Severe Cutaneous Adverse Reactions Caused By Allopurinol. Proc Natl
Acad Sci Usa. 2005; 102(11): 4134-9.
128. Tassaneeyakul W, Jantararoungtong T, Chen P, Lin PY, Tiamkao S, Khunarkornsiri U, et
al. Strong Association Between Hla-b*5801 And Allopurinol-induced Stevens-johnson
Syndrome And Toxic Epidermal Necrolysis In A Thai Population. Pharmacogenet
Genomics. 2009; 19(9): 704-9.
129. Lonjou C, Borot N, Sekula P, Ledger N, Thomas L, Halevy S, et al. For The Regiscar
Study Group. A European Study Of Hla-b In Stevens-johnson Syndrome And Toxic
Epidermal Necrolysis Related To Five High-risk Drugs. Pharmacogenet Genomics. 2008;
18(2): 99-107.
130. Perez-ruiz F, Hernandez-Baldizon S, Herrero-Beites AM, Gonzalez-Gay MA. Risk Factors
Associated With Renal Lithiasis During Uricosuric Treatment Of Hyperuricemia In Patients
With Gout. Arthritis Care Res (Hoboken). 2010; 62(9): 1299-305.
131. Perez-Ruiz F, Calabozo M, Pijoan JI, Herrero-Beites AM, Ruibal A. Effect Of Urate-
lowering Therapy On The Velocity Of Size Reduction Of Tophi In Chronic Gout. Arthritis
Rheum. 2002; 47(4): 356-60.
132. Takahashi S, Moriwaki Y, Yamamoto T, Tsutsumi Z, Ka T, Fukuchi M. Effects Of
Combination Treatment Using Anti-hyperuricaemic Agents With Fenofibrate And/Or
Losartan On Uric Acid Metabolism. Ann Rheum Dis. 2003; 62(6): 572-5.
133. Reinders MK, Van Roon EN, Houtman PM, Brouwers JR, Jansen TL. Biochemical
Effectiveness Of Allopurinol And Allopurinol-probenecid In Previously Benzbromarone-
treated Gout Patients. Clin Rheumatol. 2007; 26(9): 1459-65.
134. Baraf HS, Becker MA, Gutierrez-Urena SR, Treadwell EL, Vazquez-Mellado J, Rehrig
CD, et al. Tophus Burden Reduction With Pegloticase: Results From Phase 3 Randomized
Trials And Open-label Extension In Patients With Chronic Gout Refractory To Conventional
Therapy. Arthritis Resther. 2013; 15(5): R137.
135. Gentry WM, Dotson MP, Williams BS, Hartley M, Stafford KR, Bottorff MB, et al.
Investigation Of Pegloticaseassociated Adverse Events From A Nationwide Reporting
System Database. Am J Health Syst Pharm. 2014; 71(9): 722-7.
136. Lipsky PE, Calabrese LH, Kavanaugh A, Sundy JS, Wright D, Wolfson M, et al.
Pegloticase Immunogenicity: The Relationship Between Efficacy And Antibody
Development In Patients Treated For Refractory Chronic Gout. Arthritis Res Ther. 2014;
16(2): R60.
137. Shen Z, Rowlings C, Kerr B, Hingorani V, Manhard K, Quart B, et al. Pharmacokinetics,
Pharmacodynamics, And Safety Of Lesinurad, A Selective Uric Acid Reabsorption
Inhibitor, In Healthy Adult Males. Drug Des Devel Ther. 2015; 9: 3423-34.
138. Sundy JS, Baraf HS, Yood RA, Edwards NL, Gutierrez-Urena SR, Treadwell EL, et al.
Efficacy And Tolerability Of Pegloticase For The Treatment Of Chronic Gout In Patients
Refractory To Conventional Treatment: Two Randomized Controlled Trials. Jama 2011;
306(7): 711-20.
139. Shannon JA, Cole SW. Pegloticase: A Novel Agent For Treatment-refractory Gout. Ann
Pharmacother 2012; 46(3): 368-76.
140. Sundy JS, Becker MA, Baraf HS, Barkhuizen A, Moreland LW, Huang W, et al. Reduction
Of Plasma Urate Levels Following Treatment With Multiple Doses Of Pegloticase
(Polyethylene Glycol-conjugated Uricase) In Patients With Treatment-failure Gout: Results
Of A Phase Ii Randomized Study. Arthritis Rheum 2008; 58(9): 2882-91.
141. Azevedo VF, Lopes MP, Catholino NM, Paiva ES, Araujo VA, Pinheiro GRC. Revisão
crítica do tratamento medicamentoso da gota no Brasil. Rev Bras Reumatol. 2017; 57(4):
346-55
142. Pinheiro GRC, Fuller R, Bernd R. Gota. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo
SK, Radominski SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole;
2019; 63: 376-380.
7.6
OSTEOPOROSE
Autora:
Yanne Franca Montino
DEFINIÇÕES
• Estima-se que cerca de 50% das mulheres e 20% dos homens com
idade igual ou superior a 50 anos sofrerão uma fratura devido à
osteoporose longo da vida. Aproximadamente 5% dos indivíduos
que apresentam fratura de quadril morrem durante a internação
hospitalar, 12% morrem nos 3 meses subsequentes e 20% morrem
no ano seguinte ao da fratura, conforme dados norte-americanos. A
osteoporose afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o
mundo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A doença pode ser classificada, com base em sua etiologia, em
primária e secundária. A primária é responsável por mais de 95%
dos casos de osteoporose em mulheres e 70% a 80% nos homens,
sendo a forma mais comum e diagnosticada na ausência de
doenças ou relacionada a outras condições que levem à diminuição
da massa óssea.
Glicocorticoides
Inibidores de aromatase
Lítio
Antirretrovirais
Orlistate
Rosiglitazona e pioglitazona
Contraceptivos: progesterona
Agonistas do GnRH
Imatinibe
Metotrexato
Diuréticos de alça
QUADRO CLÍNICO
• A osteoporose não apresenta sintomas, até que haja uma fratura.
• A fratura vertebral é a manifestação clínica mais comum na
osteoporose. A maioria destas fraturas é assintomática e
diagnosticada como achado incidental no raio X de tórax ou
abdominal (Figura 1).
EXAMES COMPLEMENTARES
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Segue abaixo os critérios densitométricos da OMS para avaliar o grau da
massa óssea (tabela 3)
Um diagnóstico clínico de osteoporose pode ser feito na presença de:
* Critérios estabelecidos para coluna lombar, colo do fêmur ou terço médio do rádio.
Fonte: Rosen.1
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Exercício físico
• A atividade física contribui para a redução do risco de fratura de
duas formas: primeiro, porque a força biomecânica que os
músculos exercem sobre os ossos é capaz de aumentar a
densidade mineral óssea; assim, exercícios com ação da
gravidade parecem desempenhar importante papel no aumento e
na preservação da massa óssea. Segundo, porque a atividade
física regular pode ajudar a prevenir as quedas que ocorrem
devido à diminuição de força muscular e alterações do
equilíbrio.
• Exercícios físicos supervisionados, principalmente que envolvam
fortalecimento de quadríceps, e exercícios com suporte do
próprio peso devem ser recomendados para pacientes na pós-
menopausa com diagnóstico de osteoporose ou osteopenia, pois
estão associados à redução do número de quedas.
• O cálcio e a vitamina D
• As mulheres na pós-menopausa que estão recebendo cálcio
adequado, preferencialmente por meio da dieta
(aproximadamente 1200 mg por dia), especialmente com o
consumo de leite e seus derivados, não precisam tomar
suplementos de cálcio.
• Mulheres com ingestão alimentar inadequada devem tomar
cálcio suplementar (geralmente 500 a 1000 mg/dia), em doses
divididas na hora da refeição, de modo que a ingestão total de
cálcio (dieta mais suplementos) se aproxime de 1200 mg/dia.
• A suplementação de cálcio não deve exceder 500 a 600 mg por
dose independentemente da preparação, visto que o
fracionamento aumenta a absorção.
• Existe uma controvérsia considerável sobre os efeitos dos
suplementos de cálcio no risco de doenças cardiovasculares, que
não foram confirmados.
• Em pacientes com osteoporose pós-menopausa, recomenda-se
dosar as concentrações plasmáticas da 25(OH)D antes de se
iniciar o tratamento.
• Em adultos com deficiência de vitamina D (25[OH]D < 20
ng/mL), recomenda-se a dose de ataque de 7.000 UI/dia ou
50.000 UI/semana por oito semanas, seguida da dose de
manutenção entre 1.000 e 2.000 UI por dia.
• A exposição solar da face, tronco e braços antes das 10 horas ou
após as 16 horas por no mínimo 15 minutos, 2-4 vezes por
semana, também é recomendada, salvo contraindicação
dermatológica.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
O tratamento medicamentoso está indicado para mulheres pós-
menopausa e homens 50 anos que apresentem:
• Terapia antirreabsortiva
• BISFOSFONATOS
• Entre os medicamentos que reduzem fraturas osteoporóticas, os
bifosfonatos são a classe com mais informações em termos de
segurança e efetividade, com estudos de até 10 anos de
seguimento publicados.
• São análogos sintéticos estáveis do pirofosfato. O seu efeito
principal consiste em suprimir a reabsorção óssea medida pelos
osteoclastos.
• Os efeitos adversos gastrointestinais frequentes são similares
para todos os bifosfonatos orais e não diferem em incidência do
grupo placebo. Fraturas atípicas de fêmur, apesar de raras, têm
sido associadas a uso prolongado de bifosfonatos.
• Tem sido referida a provável associação do tratamento com
bifosfonatos e a ocorrência de necrose avascular da mandíbula.
Trata-se de área de exposição óssea na região maxilofacial que
não cicatriza em um período de 8 semanas, após a identificação
por profissional de saúde e que ocorra em indivíduos
previamente expostos a bisfosfonatos e que não tenham recebido
radiação na região craniofacial. A prevalência é de
0,001%-0,1%. Antes de iniciar o tratamento com bisfosfonatos,
orienta-se boa higiene bucal e visitas odontológicas regulares;
entretanto, se o paciente necessitar de algum procedimento
invasivo como implante ou extração, deve-se atrasar a terapia
com bifosfonato por alguns meses até a cura completa da
mandíbula.
• Preocupações em relação à osteonecrose de mandíbula e fraturas
atípicas trouxeram à luz discussões sobre o tempo de tratamento,
considerando-se a duração de 5 anos de tratamento, o risco de
fraturas típicas em indivíduos com muito baixa massa óssea ou
que já sofreram fraturas osteoporóticas, permanecerá elevado, e
a suspensão da droga não parece ser melhor do que a sua
manutenção . Ainda não existe definição do tempo do chamado
“holiday”, e estudos mostram que o efeito protetor dos
bisfosfonatos é atenuado ao longo de 3-5 anos após sua
descontinuação (FLUXOGRAMA 1).
• Estudos sugerem que mulheres com osteoporose leve podem ser
capaz de suspensão do bifostonatos após 5 anos de terapia e
manter monitorização com DMO. Resumindo, não há, até o
momento, definição formal sobre o tempo de tratamento e o
intervalo sem droga.
• Os bisfosfonatos orais devem ser tomados em jejum, 30 a 60
minutos antes do café da manhã, com um copo cheio de água
para que tenham o máximo de absorção, e não deve deitar-se
após o uso do fármaco.
• Alendronato de sódio
• É um agente anticatabolizante que reduz a reabsorção óssea aos
valores existentes na pré-menopausa. Reduz em
aproximadamente 50% o risco de fraturas vertebrais, fraturas de
fadiga, de novas fraturas vertebrais, e de fraturas não vertebrais.
• As contraindicações incluem hipersensibilidade ao alendronato
ou a qualquer componente da fórmula, gravidez e lactação,
hipocalcemia, e insuficiência renal grave (DCE abaixo de 30
mL/min), bem como inabilidade dos pacientes para sentar ou
ficar em pé por pelo menos 30 minutos.
• Apresentação: alendronato 10 mg/dia ou alendronato 70
mg/semana, via oral.
• Risendronato de sódio
• O risedronato de sódio previne fraturas tanto em mulheres na
pós-menopausa como em homens com osteoporose estabelecida,
havendo evidência de sua efetividade na prevenção secundária
de fraturas vertebrais, não vertebrais e de quadril. Em pacientes
com perda de função renal preexistente, essa função deve ser
monitorada periodicamente, a cada 1-3 meses.
• Apresentação: risendronato 35 mg/semana, risendronato 150
mg/mensal, via oral.
• Ibandronato
• O ensaio BONE (oral Ibandronate Osteoporosis Vertebral
Fracture Trial in North America and Europeu) avaliou o efeito
de 2,5 mg de ibandronato oral e 20 mg em dias alternados
durante 12 doses a cada 3 meses. As fraturas clínicas vertebrais
também foram significativamente reduzidas; entretanto, as
fraturas não vertebrais, incluindo fraturas de quadril, não
sofreram redução em comparação com o placebo.
• Apresentação: ibandronato 150 mg/mensal via oral ou 3 mg por
via intravenosa a cada 3 meses.
• Ácido Zoledrônico
• É um bifosfonato intravenoso que foi aprovado em 2007. É uma
alternativa para pacientes que não toleram bifosfonatos orais. É
indicado para tratamento de osteoporose na pós-menopausa,
tratamento e prevenção de osteoporose induzida por
glicocorticoides em pacientes que deverão usar glicocorticoides
durante pelo menos 12 meses, tratamento da osteopenia em um
regime dose bianual, tratamento da doença de paget e aumento
da massa óssea de homens com osteoporose em um regime de
dose anual.
• Antes de iniciar o tratamento, o paciente deve ser avaliado
quando hipocalcemia, deficiência de vitamina D e insuficiência
renal.
• Estão frequentemente associados a uma reação de fase aguda
dentro de 24-72 h da infusão, que se apresenta por febre baixa,
mialgias e artralgias. O tratamento é realizado com antitérmicos,
que geralmente melhoram os sintomas e a recorrência nas
próximas infusões.
• Apresentação: ácido Zoledrônico 5 mg/EV anualmente
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO
FLUXOGRAMA 1.
Fonte: Radominski.9
• DENOSUMABE
• É um anticorpo monoclonal IgG2 totalmente humano, que se liga
seletivamente e com elevada afinidade ao RANKL e mimetiza o
efeito da osteoprotegerina no RANKL, reduzindo assim a
formação, função e sobrevivência dos osteoclastos, o que resulta
em diminuição da reabsorção óssea e aumento da densidade
óssea.
• É indicado para pacientes intolerantes ao bifosfonatos ou que
não respondem a outras terapias e naqueles com função renal
comprometida.
• O denosumabe pode ser utilizado na falha, intolerância ou
contraindicação aos bisfosfonatos orais e em situações especiais
em primeira linha de tratamento como em pacientes com função
renal comprometida.
• Antes de iniciar o tratamento o paciente deve ser avaliado
quando hipocalcemia, deficiência de vitamina D.
• Apresentação: Denosumabe 60 mg subcutânea a cada 6 meses.
• MODULADORES SELETIVOS DO RECEPTOR
ESTROGÊNICO
• Análogos do estrógenos, os moduladores seletivos do receptor
estrogênico (SERMs) mimetizam os estrógenos em alguns
tecidos e têm efeitos estrogênicos em outros. Representado pelo
Raloxifeno, é aprovado para prevenção e tratamento da
osteoporose em mulheres na pós-menopausa, diminuindo a
incidência de fraturas vertebrais, sem efeito sobre fraturas de
quadril.
• Diminui o colesterol sérico, não induz ao sangramento nem
proliferação endometrial e diminui consideravelmente a
incidência de câncer de mama.
• Os efeitos colaterais incluem: ondas de calor, câimbras em
membros inferiores, trombose venosa profunda e não deve ser
administrado em mulheres com risco elevado de acidente
vascular encefálico.
• Apresentação: Raloxifeno 60 mg/dia via oral.
• Terapia anabólica
• TERIPARATIDA
• Considerada uma droga anabólica, a teriparatida (PTH, humano
recombinante) está disponível nos Estados Unidos desde 2002.
O PTH é um polipeptídio de 84 aminoácidos secretado pelas
glândulas paratireoides em resposta a pequenas alterações no
cálcio sérico. Sua ação é estimular a reabsorção de cálcio nos
túbulos renais e a reabsorção óssea, mantendo as concentrações
de cálcio dentro de uma faixa estreita. A exposição crônica a
concentrações séricas elevadas de PTH (como visto com
hiperparatiroidismo primário ou secundário) resulta em
reabsorção óssea. No entanto, foi demonstrado que a
administração intermitente de PTH estimula a formação óssea
mais do que a reabsorção, pelo menos durante os primeiros 12
meses de tratamento.
• É recomendada para o tratamento da osteoporose pós-menopausa
em mulheres com alto risco de fraturas, com fraturas prévias ou
que tenham falhado ou sido intolerantes a outras formas de
tratamento para a osteoporose. Não está indicado para períodos
de tratamento superiores a dois anos. Pode ser indicada após
fratura atípica por uso de bisfosfonato.
• Efeitos colaterais incluem: câimbras, tonturas, hipercalcemia,
osteosarcoma.
• Apresentação: Teripatatida 20 mcg subcutânea/dia.
• ABALOPARATIDE
• É o análogo sintético da proteína relacionada ao PTH (PTHrP).
• Foi aprovada pelo FDA em 2017 para tratamento da osteoporose,
é indicada para pacientes com osteoporose grave e apresenta alto
risco de fratura (escore T de -3,5 ou menos, mesmo na ausência
de fraturas; escore T de -2,5 ou menos, mais uma fratura por
fragilidade); para pacientes intolerantes aos bifosfonatos ou que
tenham contra indicação relativas; para pacientes que tiveram
falhas no tratamento com outras terapias anteriores.
• Dose recomendada é 80 mcg SC/dia usado por, no máximo, 2
anos.
• ROMOSOZUMABE
• Romosozumabe é um anticorpo monoclonal antiesclerostina. A
esclerostina é produzida pelos osteócitos e inibe a formação
óssea. Conclui-se que a inibição da esclerostina deve melhorar a
função dos osteoblastos, melhorar a massa óssea e reduzir as
fraturas.
• Foi aprovado pela FDA em 2019 com base nos estudos, que
mostram uma redução de fratura vertebral e não vertebral.
• É indicado para pacientes com múltiplas fraturas por fragilidade,
pacientes com alto risco de fratura que não podem tolerar outras
terapias ou pacientes que falham em outras terapias.
• Não deve ser prescrito para mulheres com antecedentes ou
aumento de risco de IAM ou AVC.
• Dose recomendada: 210 mg SC 1 x por mês usado durante 1 ano.
Pacientes que usam agentes anabólicos devem usar um agente
antirreabsortivo (de preferência um bisfosfonato) após a
descontinuação, para preservar os ganhos na DMO alcançados
com o agente anabólico.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: MGR, 68 anos, sexo feminino, menopausa aos 50
anos, não fez reposição hormonal, esteve em consulta com
reumatologista para acompanhamento anualmente. Negava fraturas
prévias, uso de anticonvulsivantes ou heparina e relatava que ingeria
leite e seus derivados diariamente, mas não tinha hábito de exposição
solar. Trazia consigo uma densitometria atual e alguns exames de
sangue:
b. Exames complementares:
• Cálcio sérico - 8.5 mg/dL (vr- 8,4-10,2 mg/dL)
• Fósforo - 3,5 mg/dL (2,5-4,5mg/dL)
• Pth - 60 pg/dL (vr-15-65pg/dL)
• Vitamina d-25 OHD3 - 19 ng/dl (vr- 30-100 ng/dL)
• Densitometria óssea: L1-L4- -2,8 (T score)
Fêmur total -2,0 (T score)
c. Prescrição sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Khanna Rosen HN, Drezner MK. Clinical manifestations, diagnosis, and evaluation of
osteoporosis in postmenopausal women. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em
17/06/2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-
diagnosis-and-evaluation-of-osteoporosis-in-postmenopausal-women.
2. Vasconcelos JTS, Marques Neto JF, Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade
Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP: Manole; 2019.
3. Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
4. Pinto MRC, B MB, Kakehasi AM. Artrite Reumatoide. In: Carvalho MAP. Reumatologia
Diagnóstico e Tratamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Ac Farmacêutica; 2014. Cap. 21. p. 303-28.
5. Becker CB, Cohen A. Epidemiology and etiology of premenopausal osteoporosis. UpToDate.
[Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/epidemiology-and-etiology-of-premenopausal-
osteoporosis.
6. Rosen HN, Drezner MK. Overview of the management of osteoporosis in postmenopausal
women. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-management-of-osteoporosis-in-
postmenopausal-women.
7. Yu EW. Screening for osteoporosis. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 17/06/2020].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/screening-for-osteoporosis.
8. Rosen HN. Calcium and vitamin D supplementation in osteoporosis. UpToDate. [Internet];
2020. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/calcium-
and-vitamin-d-supplementation-in-osteoporosis.
9. Radominski SC, Bernardo W, Paula AP, Albergaria B, Moreira C, Fernandes CE, et al.
Diretrizes brasileiras para diagnóstico e tratamento da osteoporose em mulheres na pós-
menopausa. Rev Bras Reumatol. 2017; 57(S2): S452-S66.
10. Frax-Who Fracture Risk Assessment Tool [Internet]. WHO. [Internet]; 2017. [acesso em 29
jan 2017]. Disponível em: www.shef.ac.uk/FRAX/tool.jsp?lang=pt.
11. Black DM, Cummings SR, Karpf DB, Cauley JA, Thompson DE, Nevitt MC, et al.
Randomised trial of effect of alendronate on risk of fracture in women with existing
vertebral fractures. Fracture Intervention Trial Research Group. Lancet. 1996; 348(9041):
1535-41.
12. Black DM, Schwartz AV, Ensrud KE, Cauley JA, Levis S, Quandt SA, et al. Effects of
continuing or stopping alendronate after 5 years of treatment: the Fracture Intervention Trial
Long-term Extension (FLEX): a randomized trial. JAMA. 2006; 296(24): 2927-38.
13. U.S. Food and Drug Administration. Possible increased risk of thigh bone fracture with
bisphosphonates [Internet]; 2010. [acesso em 30 Jan 2014]. Disponível em:
http://www.fda.gov/NewsEvents/Newsroom/PressAnnouncements/ucm229171.htm.
14. Rosen HN. Calcitonin in the prevention and treatment of osteoporosis. UpToDate.
[Internet]; 2020. [acesso em 10 jun. 2017]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/calcitonin-in-the-prevention-and-treatment-of-
osteoporosis.
15. Rosen, Clifford J. Parathyroid hormone therapy for osteoporosis. UpToDate. [Internet];
2020. [acesso em 10 jun. 2017]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/parathyroid-hormone-parathyroid-hormone-related-
protein-analog-for-osteoporosis.
16. World Health Organization. Technical Report Series 843. Geneva: WHO; 1994.
17. Kanis JA, Melton LJ, Christiansen C, Johnston CC, Khaltaev N. The diagnosis of
osteoporosis. J Bone Miner Res. 1994; 9: 1137-41.
18. National Osteoporosis Foundation. Clinician’s guide to prevention and treatment of
osteoporosis. Washington, DC: National Osteoporosis Foundation; 2010.
19. Lewiecki EM, Gordon CM, Baim S, Leonard MB, Bishop NJ, Bianchi ML, et al.
International Society for Clinical Densitometry 2007 Adult and Pediatric Official Positions.
Bone. 2008; 43: 1115-21.
20. Kanis JA. Diagnosis of osteoporosis and assessment of fracture risk. Lancet. 2002; 359:
1929-36.
21. Kanis JA, Burlet N, Cooper C, Delmas PD, Reginster JY, Borgstrom F, et al. European
guidance for the diagnosis and management of osteoporosis in postmenopausal women.
Osteoporos Int. 2008; 19: 399-428.
22. Pinheiro MM, Reis Neto ET, Machado FS, Omura F, Yang JH, Szejnfeld J, et al. Risk
factors for osteoporotic fractures and low bone density in pre and postmenopausal women.
Rev Saúde Pública. 2010; 44(3): 479-85
7.7
FIBROMIALGIA
Autora:
Lenita Adriana Mazzi Gaino
DEFINIÇÕES
• É uma síndrome dolorosa crônica, caracterizada por dor
musculoesquelética generalizada, com período de evolução maior
ou igual a 3 meses, para a qual nenhuma outra causa alternativa
pode ser identificada, acompanhada de outros sintomas como
fadiga, sono não reparador, entre outros. Geralmente leva a um
comprometimento na qualidade de vida do paciente. A prevalência
é de 0,2 a 5% da população mundial, e no Brasil, de 2 a 5%.
Acomete mais mulheres, entre 25 a 65 anos; no entanto, crianças e
adolescentes também podem ser acometidos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
• Dor: difusa, generalizada e crônica, em pontada, queimação, peso
ou dor de “sensação de cansaço”, de moderada a forte intensidade
e que pode estar associada a sensação de edema e parestesias,
geralmente acometendo antebraços e mãos. A dor pode ocorrer ao
simples toque da pele ou com o uso de roupas apertadas. O
paciente pode associar o início da dor a evento de estresse, como
trauma físico ou psicológico. O paciente sente-se pior do que
quando se deitou. Podem ser encontradas outras dores, como:
cefaleia (ocorre em mais de 50% dos pacientes; migrânea ou
tensional), dor de garganta, dor torácica, dor abdominal (síndrome
do intestino irritável/ sintomas de refluxo gastroesofágico)/
pélvica; sintomas de urgência urinária; olho seco; fenômeno de
Raynaud; disfunção de articulação têmporomandibular; síndrome
das pernas inquietas.
EXAME FÍSICO
• É essencial fazer avaliação minuciosa do paciente, na tentativa de
buscar alterações sugestivas de fibromialgia ou outras doenças,
como neurológicas, reumatológicas.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O Colégio Americano de Reumatologia (ACR) publicou, em
1990, os critérios de classificação, que combinam: dor difusa (dor
abaixo e acima da cintura, nos lados direito e esquerdo, e em pelo
menos um segmento da coluna) por pelo menos 3 meses e a
presença de 11 de 18 pontos dolorosos, previamente especificados,
com uma sensibilidade de 88,4% e especificidade de 81,1%. O
questionamento aventado foi que os pacientes com fibromialgia
têm múltiplos pontos dolorosos em outras localizações. Em 2010,
o ACR publicou critérios preliminares para o diagnóstico de
fibromialgia, modificados em 2011 (tabelas 1 e 2), em que se
eliminam os pontos dolorosos e criam-se 2 índices, o Índice de dor
generalizada (IDG), que varia de 0 a 19, e a Escala de gravidade
dos sintomas (EGS), de 0 a 12 (tabelas 1 e 2). O diagnóstico de
fibromialgia é sugerido quando: IDG≥ 7 + EGS ≥ 5 ou IDG entre 3
e 6 + ESG ≥ 9, sendo que o quadro doloroso deve estar presente há
pelo menos 3 meses, sem outra causa que justifique a dor.
Depressão 0 1
TRATAMENTO
• Avaliação pré-tratamento (diagrama 1)
DIAGRAMA 1: AVALIAÇÃO PRÉ-TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pela autora.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente sexo feminino, 45 anos, com quadro de
dores difusas (“do fio de cabelo ao dedão do pé”), EVA 10, insônia,
sono não reparador, presença de sintomas depressivos, cefaleia
tensional, esquecimentos, falta de concentração, sensação de dormência
pelo corpo, episódios de diarreia (já investigado pelo proctologista, que
definiu como síndrome do intestino irritável), quadro iniciado após
separação. Ao exame físico: sem sinais inflamatórios articulares, sem
alteração de força muscular, sem restrições às amplitudes de
movimentos. Cálculo: IDGI 19 e EGS 11. Como hipótese diagnóstica:
fibromialgia (o diagnóstico é clínico!!). Solicitaria exames
complementares com a finalidade de excluir outras possíveis causas
para o quadro (provas inflamatórias, TSH, hemograma completo, CPK).
b. Prescrição sugerida:
1. Explicar sobre o que é a doença, como ela funciona, que não causa
inflamação ou deformidades; explicar sobre possibilidade de
melhora
2. Estimular a higiene do sono
3. Fazer um “acordo” com paciente: deve participar ativamente do
tratamento. Incentivar a realização de atividade física (procurar
definir qual atividade a paciente tem mais afinidade; iniciar e
aumentar progressivamente)
4. Encaminhar para acompanhamento psicológico/psiquiátrico: para
ajuste da parte emocional
5. Considerando insônia, dores difusas, quadro depressivo: iniciaria
antidepressivo tricíclico (age adequadamente no sono, fadiga,
emocional e dor)
REFERÊNCIAS
1. Claw DJ. Fibromialgia e síndromes relacionadas. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS,
Weinblatt ME, Weismns MH. Reumatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016; 80:443-
453.
2. Paiva ES, Martinez JE, Provenza JR. Fibromialgia. In: Vasconcelos JTS, Marques Neto JF,
Shinjo SK, Radominski SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri-SP:
Manole; 2019; 93: 566-573.
3. Goldenberg DL. Pathogenesis of fibromyalgia. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em xx].
Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/pathogenesis-of-fibromyalgia.
4. Sluka KA, Clauw DJ. Neurobiology of fibromyalgia and chronic widespread pain.
Neuroscience. 2016; 338: 114-129.
5. López-Solà M, Woo CW, Pujol J, Deus J, Harrison BJ, Monfort J, et al. Towards a
neurophysiological signature for fibromyalgia. Pain 2017; 158(1): 34-47.
6. Staud R. Abnormal pain modulation in patients with spatially distributed chronic pain:
fibromyalgia. Rheum Dis Clin North Am. 2009; 35(2): 263-74.
7. Arnold LM, Hudson JI, Hess EV, Ware AE, Fritz DA, Auchenbach MB, et al. Family study
of fibromyalgia. Arthritis Rheum. 2004; 50(3): 944-52.
8. O’Brien AT, Deitos A, Triñanes Pego Y, Fregni F, Carrillo-de-la-Peña MT. Defective
Endogenous Pain Modulation in Fibromyalgia: A Meta-Analysis of Temporal Summation
and Conditioned Pain Modulation Paradigms. J Pain. 2018; 19(8): 819-36.
9. Jensen KB, Kosek E, Petzke F, Carville S, Fransson P, Marcus H, et al. Evidence of
dysfunctional pain inhibition in Fibromyalgia reflected in rACC during provoked pain. Pain.
2009; 144(1-2): 95-100.
10. Julien N, Goffaux P, Arsenault P, Marchand S. Widespread pain in fibromyalgia is related to
a deficit of endogenous pain inhibition. Pain. 2005; 114(1-2): 295-302.
11. Montoya P, Sitges C, García-Herrera M, Rodríguez-Cotes A, Izquierdo R, Truyols M, et al.
Reduced brain habituation to somatosensory stimulation in patients with fibromyalgia.
Arthritis Rheum. 2006; 54(6): 1995-2003.
12. Salemi S, Aeschlimann A, Wollina U, Gay RE, Michel BE, Gay S, et al. Up-regulation of
delta-opioid receptors and kappa-opioid receptors in the skin of fibromyalgia patients.
Arthritis Rheum. 2007; 56(7): 2464-66.
13. Harris RE, Clauw DJ, Scott DJ, McLean SA, Gracely RH, Zubieta JK. Decreased central
mu-opioid receptor availability in fibromyalgia. J Neurosci. 2007; 27(37):10000-6.
14. Russell IJ, Orr MD, Littman B, Vipraio GA, Alboukrek D, Michalek JE, et al. Elevated
cerebrospinal fluid levels of substance P in patients with the fibromyalgia syndrome.
Arthritis Rheum. 1994; 37(11): 1593-601.
15. Harris RE, Sundgren PC, Craig AD, Kirshenbaum E, Sen A, Napadow V, et al. Elevated
insular glutamate in fibromyalgia is associated with experimental pain. Arthritis Rheum.
2009; 60(10): 3146-52.
16. Wood PB, Schweinhardt P, Jaeger E, Dagher A, Hakyemez H, Rabiner EA, et al.
Fibromyalgia patients show an abnormal dopamine response to pain. Eur J Neurosci. 2007;
25(12): 3576-82.
17. Mhalla A, de Andrade DC, Baudic S, Perrot S, Bouhassira D. Alteration of cortical
excitability in patients with fibromyalgia. Pain. 2010; 149(3): 495-500.
18. Valdés M, Collado A, Bargalló N, Vásquex M, Rami L, Goméz E, et al. Increased
glutamate/glutamine compounds in the brains of patients with fibromyalgia: a magnetic
resonance spectroscopy study. Arthritis Rheum. 2010; 62(6): 1829-36.
19. Foerster BR, Petrou M, Edden RA, Sundgren PC, Schmidt-Wilcke T, Lowe SE, et al.
Reduced insular γ-aminobutyric acid in fibromyalgia. Arthritis Rheum. 2012; 64(2): 579-83.
20. Harper DE, Ichesco E, Schrepf A, Hampson JP, Clauw DJ, Schmidt-Wilcke T, et al. Resting
Functional Connectivity of the Periaqueductal Gray Is Associated With Normal Inhibition
and Pathological Facilitation in Conditioned Pain Modulation. J Pain. 2018; 19(6): 635.e1.
21. Truini A, Tinelli E, Gerardi MC, et al. Abnormal resting state functional connectivity of the
periaqueductal grey in patients with fibromyalgia. Clin Exp Rheumatol. 2016; 34(2 suppl 6):
S129-33.
22. Fallon N, Chiu Y, Nurmikko T, Stancak A. Functional Connectivity with the Default Mode
Network Is Altered in Fibromyalgia Patients. PLoS One. 2016; 11: e0159198.
23. Martucci KT, Weber KA 2nd, Mackey SC. Altered Cervical Spinal Cord Resting-State
Activity in Fibromyalgia. Arthritis Rheumatol. 2019; 71(3): 441-50.
24. Kaplan CM, Schrepf A, Vatansever D, Larkin TE, Mawla I, Ichesco E, et al. Functional and
neurochemical disruptions of brain hub topology in chronic pain. Pain. 2019; 160(4): 973-
83.
25. Lerma C, Martinez A, Ruiz N, Vargas A, Infante O, Martinez-Lavin M. Nocturnal heart rate
variability parameters as potential fibromyalgia biomarker: correlation with symptoms
severity. Arthritis Res Ther. 2011; 13: R185.
26. Reyes del Paso GA, Duschek S. Responses to a comment on “autonomic cardiovascular
control and responses to experimental pain stimulation in fibromyalgia syndrome”. J
Psychosom Res. 2012; 72: 87.
27. Staud R. Peripheral pain mechanisms in chronic widespread pain. Best Pract Res Clin
Rheumatol. 2011; 25(2): 155-64.
28. Ge HY, Nie H, Graven-Nielsen T, Danneskiold-Samsøe B, Arendt-Nielsen L. Descending
pain modulation and its interaction with peripheral sensitization following sustained
isometric muscle contraction in fibromyalgia. Eur J Pain. 2012; 16(2): 196-203.
29. Üçeyler N, Zeller D, Kahn AK, Kewenig S, Kittel-Schneider S, Schmid A, et al. Small fiber
pathology in patients with fibromyalgia syndrome. Brain. 2013; 136(pt 6): 1857-67.
30. Oaklander AL, Herzog ZD, Downs HM, Klein MM. Objective evidencethat small-fiber
polyneuropathy underlies some illnesses currently labeled as fibromyalgia. Pain. 2013;
154(11): 2310-6.
31. Giannoccaro MP, Donadio V, Incensi A, Avoni P, Liguori R. Small nerve fiber involvement
in patients referred for fibromyalgia. Muscle Nerve. 2014; 49(5): 757-9.
32. Caro XJ, Winter EF. Evidence of abnormal epidermal nerve fiber density in fibromyalgia:
clinical and immunologic implications. Arthritis Rheumatol. 2014; 66(7): 1945-54.
33. Goldenberg DL. Clinical manifestations and diagnosis of fibromyalgia in adults. UpToDate.
[Internet]; 2020. [acesso em xx]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-fibromyalgia-
in-adults.
34. Wolfe F, Ross K, Anderson J, Russell IJ, Hebert L. The prevalence and characteristics of
fibromyalgia in the general population. Arthritis Rheum. 1995; 38(1): 19-28.
35. Ting TV, Barnett K, Lynch-Jordan A, Whitacre C, Henrickson M, Kashikar-Zuck S. 2010
American College of Rheumatology Adult Fibromyalgia Criteria for Use in an Adolescent
Female Population with Juvenile Fibromyalgia. J Pediatr. 2016; 169: 181.
36. Arnold LM, Bennett RM, Crofford LJ, Dean LE, Clauw DJ, Goldenberg DL, et al. AAPT
Diagnostic Criteria for Fibromyalgia. J Pain. 2019; 20(6): 611-28.
37. Walitt B, Čeko M, Khatiwada M, Gracely JL. Characterizing “fibrofog”: Subjective
appraisal, objective performance, and task-related brain activity during a working memory
task. Neuroimage Clin. 2016; 11: 173.
38. Elkana O, Falcofsky AK, Shorer R, Kalfon TB, Ablin JB. Does the cognitive index of the
symptom severity scale evaluate cognition? Data from subjective and objective cognitive
measures in fibromyalgia. Clin Exp Rheumatol. 2019; 37(Suppl 116): 51-7.
39. Wu YL, Huang CJ, Fang SC, Ko L, Tsai P. Cognitive Impairment in Fibromyalgia: A Meta-
Analysis of Case-Control Studies. Psychosom Med. 2018; 80(5): 432-8.
40. Fuller-Thomson E, Nimigon-Young J, Brennenstuhl S. Individuals with fibromyalgia and
depression: findings from a nationally representative Canadian survey. Rheumatol Int. 2012;
32(4): 853-62.
41. Ghiggia A, Romeo A, Tesio V, Tella MD, Colonna F, Geminiani GC, et al. Alexithymia and
depression in patients with fibromyalgia: When the whole is greater than the sum of its parts.
Psychiatry Res. 2017; 255: 195-7.
42. Galvez-Sánchez CM, Reyes Del Paso GA, Duschek S. Cognitive Impairments in
Fibromyalgia Syndrome: Associations With Positive and Negative Affect, Alexithymia, Pain
Catastrophizing and Self-Esteem. Front Psychol. 2018; 9: 377.
43. Carta MG, Moro MF, Pinna FL, Testa G, Cacace E, Ruggiero V, et al. The impact of
fibromyalgia syndrome and the role of comorbidity with mood and post-traumatic stress
disorder in worsening the quality of life. Int J Soc Psychiatry. 2018; 64(7): 647-55.
44. de Tommaso M, Federici A, Serpino C, Vecchio E, Franco G, Sardaro M, et al. Clinical
features of headache patients with fibromyalgia comorbidity. J Headache Pain. 2011; 12(6):
629-38.
45. Küçükşen S, Genç E, Yılmaz H, Sallı A, Gezer İA, Karahan AY, et al. The prevalence of
fibromyalgia and its relation with headache characteristics in episodic migraine. Clin
Rheumatol. 2013; 32(7): 983-90.
46. Scolnik M, Vasta B, Hart DJ, Shipley JA, McHugh NJ, Pauling JD. Symptoms of Raynaud’s
phenomenon (RP) in fibromyalgia syndrome are similar to those reported in primary RP
despite differences in objective assessment of digital microvascular function and
morphology. Rheumatol Int. 2016; 36(10): 1371-7.
47. Stranden M, Solvin H, Fors EA, Getz L, Helvik A. Are persons with fibromyalgia or other
musculoskeletal pain more likely to report hearing loss? A HUNT study. BMC
Musculoskelet Disord. 2016; 17(1): 477.
48. Bossema ER, van Middendorp H, Jacobs JW, Bijlsma JW, Geenen R. Influence of weather
on daily symptoms of pain and fatigue in female patients with fibromyalgia: a multilevel
regression analysis. Arthritis Care Res (Hoboken). 2013; 65(7): 1019-25.
49. Watson NF, Buchwald D, Goldberg J, Noonan C, Ellenbogen RG. Neurologic signs and
symptoms in fibromyalgia. Arthritis Rheum. 2009; 60(9): 2839-44.
50. Lodahl M, Treister R, Oaklander AL. Specific symptoms may discriminate between
fibromyalgia patients with vs without objective test evidence of small-fiber polyneuropathy.
Pain Rep. 2018; 3(1): e633.
51. Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MA, Goldenberg DL, Katz RS, Mease P, et al. The
American College of Rheumatology preliminary diagnostic criteria for fibromyalgia and
measurement of symptom severity. Arthritis Care Res (Hoboken). 2010; 62(5): 600-10.
52. Arora N, Gupta A, Reddy SB. Antinuclear Antibody and Subserology Testing in the
Evaluation of Fibromyalgia: A Teachable Moment. JAMA Intern Med. 2017; 177(9): 1369-
70.
53. Lesuis N, van Vliet J, Boers N, den Broeder N, Cats H, Hulscher ME, et al. The value of
routine creatine kinase and thyroid stimulating hormone testing in patients with suspected
fibromyalgia: a cross-sectional study. Rheumatology (Oxford). 2016; 55(7): 1273-6.
54. Maafi AA, Ghavidel-Parsa B, Haghdoost A, Aarabi Y, Hajiabbasi A, Masooleh IS, et al.
Serum Vitamin D Status in Iranian Fibromyalgia Patients: according to the Symptom
Severity and Illness Invalidation. Korean J Pain. 2016; 29(3): 172-8.
55. Viola-Saltzman M, Watson NF, Bogart A, Goldberg J, Buchwald D. High prevalence of
restless legs syndrome among patients with fibromyalgia: a controlled cross-sectional study.
J Clin Sleep Med. 2010; 6(5): 423-7.
56. Prados G, Miró E, Martínez MP, Sánchez AI, López S, Sáez G. Fibromyalgia: gender
differences and sleep-disordered breathing. Clin Exp Rheumatol. 2013; 31(6 suppl 79):
S102-10.
57. Staud R. Autonomic dysfunction in fibromyalgia syndrome: postural orthostatic
tachycardia. Curr Rheumatol Rep. 2008; 10(6): 463-6.
58. Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB, Bennett RM, Bombardier C, Goldenberg DL, et al. The
American College of Rheumatology 1990 Criteria for the Classification of Fibromyalgia.
Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum. 1990; 33(2): 160-72.
59. Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MA, Goldenberg DL, Häuser W, Katz RS, et al.
Fibromyalgia criteria and severity scales for clinical and epidemiological studies: a
modification of the ACR Preliminary Diagnostic Criteria for Fibromyalgia. J Rheumatol.
2011; 38(6): 1113-22.
60. Goldenberg DL. Initial treatment of fibromyalgia in adults. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em xx]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/initial-treatment-of-
fibromyalgia-in-adults.
61. Goldenberg, D.L. Treatment of fibromyalgia in adults not responsive to initial therapies.
UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em xx]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/treatment-of-fibromyalgia-in-adults-not-responsive-to-
initial-therapies.
62. Macfarlane GJ, Kronisch C, Dean LE, Atzeni F, Häuser W, et al. EULAR revised
recommendations for the management of fibromyalgia. Ann Rheum dis. 2017; 76(2): 318-
28.
8.1
TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO
Autores:
Breno Araújo Barbosa
Millena Nogueira Oliveira
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• HIC (Hipertensão Intracraniana): Síndrome neurológica
definida como aumento sustentado da pressão intracraniana (PIC)
acima de 20 a 22 mmHg após um intervalo de > 5-10 minutos ou
por medidas seriadas maiores que 22 mmHg em qualquer intervalo
de tempo em posição de decúbito. Deve-se excluir as causas que
sabidamente aumentam a pressão intracraniana, como tosse,
posição de Trendelenburg, manobra de Valsalva.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O Quadro mostra as principais causas e etiologias de Hipertensão
Intracraniana (HIC).
• Cascatas patológicas:
• Cascata despolarizadora: a queda da oferta de oxigênio
diminui a efetividade da bomba de Na+/K+ e ocorre redução do
potencial de ação, o que facilita a despolarização neuronal. Essa
é uma despolarização anóxica. A consequência são neurônios
em zona de penumbra, o que inicia uma acidose láctica
anaeróbia.
• Cascata vasodilatadora: O pH periarteriolar é regulador da
contratilidade da arteríola pré-capilar. A baixa do pH do líquido
extracelular, principalmente pelo acúmulo de CO2, promove
vasodilatação da arteríola pré-capilar (sistema de resistência) e
efusão de líquido do sistema vênulo-venoso e da
microcirculação (sistema de capacitância) para o tecido
encefálico. A vasodilatação, que a princípio possui um efeito
neuroprotetor, permite extravasamento de líquido para o tecido
cerebral, além de formar-se o brain swelling. A acidose altera a
autorregulação e aumenta o volume sanguíneo cerebral (VSC).
• Cascata bioquímica é subdividida em: subcascata inflamatória
e subcascata dos radicais livres. A acidose tecidual permite a
saída de íon K+ e entrada de Ca2+. Esse íon no meio intracelular
ativa a fosfolipase (FA2), que libera ácidos graxos poli-
insaturados, sendo um deles o ácido araquidônico, que sofre
ação da cicloxigenase (COX) e da lipoxigenase (LOX),
formando prostaglandinas (PG), tromboxane A2 (TA2) e
leucotrienos (LT). O TA2 faz vasoconstrição e agregação
plaquetária, que gera oclusão da microcirculação e, por
conseguinte, isquemia. A COX funciona adequadamente apenas
na presença de oxigênio. Com a baixa desse elemento, as células
da microglia liberam o superóxido, que, por sua vez, produz
radicais livres de oxigênio que oxidam as membranas celulares
por meio da peroxidação lipídica. Esses radicais, juntamente
com os leucotrienos, acabam com a devida função bioquímica
celular e a barreira hematoencefálica, o que causa edema
citotóxico e acentua o vasogênico, respectivamente, além de
anular a contratilidade da arteríola pré-capilar, o que aumenta o
inchaço encefálico hipervolêmico. As alterações metabólicas e
iônicas que levaram à morte celular na cascata bioquímica
provocam a subcascata inflamatória, que, através das
prostaglandinas, apresenta quimiotaxia para leucócitos, que
liberam mais citocinas inflamatórias e óxido nítrico, gerando
aumento da permeabilidade capilar e edema vasogênico.
Provocam também a subcascata dos radicais livres, causada pelo
metabolismo anaeróbio que consome ATP, que libera adenosina
como subproduto ao meio, agravando a vasodilatação.
a) CURVA DE LANGFITT
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O TCE tem várias classificações, entretanto, a mais utilizada e prática é a
Escala de Coma de Glasgow.
Ao estímulo verbal 3
ABERTURA
OCULAR
Ao estímulo doloroso 2
Ausente 1
Orientada 5
RESPOSTA Confusa 4
VERBAL
(MELHOR Palavras Inapropriadas 3
RESPOSTA)
Sons incompreensíveis 2
Ausente 1
Obedece a comandos 6
Localiza a dor 5
RESPOSTA
Retira o membro à dor 4
MOTORA
(MELHOR
Flexão anormal (Decorticação) 3
RESPOSTA)
Extensão anormal (Descerebração) 2
Ausente 1
Ausente -2
REAÇÃO
Unilateral -1
PUPILAR
Reativa Bilateral 0
CATEGORIA DEFINIÇÃO
Injúria difusa I (sem patologia visível) Sem patologia intracraniana visível na tomografia
Cisternas presentes, com desvio de linha média entre 0-5 mm, sem lesões
Injúria difusa II
> 25 mL
Injúria difusa IV (desvio da linha média) Desvio de linha média > 5 mm, sem lesões > 25 mL
TRATAMENTO
a) Objetivos do Tratamento: Prevenção de lesões neurológicas
secundárias e morte neuronal.
• MONITORIZAÇÃO
• Suporte Neurológico: O cuidado neurológico na unidade de
terapia intensiva se baseia em 4 avaliações: clínica, hemodinâmica,
metabólica e neurofuncional.
b) Ondas Intracranianas
As ondas pressóricas intracranianas geradas pelo polígono de Willis e
pelo parênquima encefálico possuem três componentes:
Sedação:
Bloqueador de (10 mg/mL):
canais de sódio 10 mg/mL 0,5-1,0 mg/kg EV
15-45 5-10
PROPOFOL e potencializa (frasco-ampola com Diluição (10 mg/kg)
segundos minutos
receptores do 50 ou 100 mL ou 20 mL + 230 mL de
GABA. seringa pronta com SG5% (concentração:
50 mL) 800 mcg/mL)
20 mg/mL Velocidade de
(frasco-ampola com infusão:
50 mL ou seringa 0,3-4,0
pronta com 50 mL) mg/kg/hora
1 mg/mL 20-600 mcg/kg/h
Agonista dos (frasco-ampola com 5 Diluição:
receptores do mL) e 5 mg/mL (50 mg/mL)
60-90 15-30
MIDAZOLAM GABA. (frasco-ampola com 3 30 mL + 120 mL SG
segundos minutos
Ativador de ou 10 mL 5%
canal de cloreto ou
SF 0,9%
Intermitente: 0,15-0,2
mg/kg a cada 40-60
min;
Bloqueador BIC: 0,03-0,6
2 mg/mL (ampolas 30-60 <1-2
Cisatracúrio neuromuscular não mg/kg/hora 30-60 minutos
com 5 mL ou 10 mL) segundos minutos
despolarizante Diluição: 1 mL + 20
Ml SF 0,9%; SG 5%
(concentração 0,1
mg/mL)
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Elaborado pelos autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: paciente do sexo masculino, motoboy, 25 anos, peso:
70 kg, vítima de acidente automobilístico (carro x moto), arremessado a uma
distância de 5 metros do local da colisão e com impacto em poste, há
aproximadamente 1 hora. Foi solicitado o resgate pelo SAMU. O paciente
encontrava-se desacordado, não verbalizava e não obedecia a comandos.
b) Avaliação Primária: A: Estabilização da coluna cervical com
prancha rígida e colar cervical, estabelecida via aérea definitiva por IOT
devido Glasgow 3, B: FR: 22 irpm, som claro pulmonar, murmúrio vesicular
fisiológico sem ruídos adventícios, C: FC: 100 bpm, PA: 110X70 mmHg,
sem hemorragias externas visíveis, D: Pupilas midriáticas, sem motricidade
distal, E: Normotermia, presença de escoriações pelo corpo.
c) Exame Complementares: TC de Crânio evidenciando cisternas
ausentes ou comprimidas, com desvio de linha média de 3 mm, sem lesões >
25 mL.
d) Prescrição sugerida:
1. Dieta Zero
2. Reposição volêmica – Manter euvolemia
3. Intubação Orotraqueal – Glasgow <8
4. Fentanil 15 ml (3 amp. 5 mL) + 250 ml SF 0,9% EV 8/8h
5. Propofol 14 mL + 236 ml SG 5% EV
6. Dipirona 1 mL + AD EV 6/6h se febre (T > 37,8ºC)
7. Elevação da Cabeceira 30-45º
8. Profilaxia de TEV (Compressor Pneumático Intermitente)
9. Controle glicêmico (140-180 mg/dL)
10. Controle da Natremia (Na: 135-145 mEq/L)
DICAS DO ESPECIALISTA
• O TCE é uma das principais causas de HIC.
• Para pacientes com TCE leve sem presença de fatores de risco e
assintomáticos podem ser prescritos analgésico e retorno se piora
do quadro.
REFERÊNCIAS
1. Carlotti JCG, Colli BO, Dias LA. Hipertensão intracraniana. Medicina (Ribeirão Preto.
Online). 1998; 31(4): 552-62.
2. Carney N, Totten AM, O’Reilly C, Ullman JS, Hawryluk GW, Bell MJ, et al. Guidelines for
the Management of Severe Traumatic Brain Injury, Fourth Edition. Neurosurgery. 2017;
80(1): 6-15.
3. Hutchinson PJ, Kolias AG, Timofeev IS, Corteen EA, Czosnyka M, Timothy J, et al. Trial of
Decompressive Craniectomy for Traumatic Intracranial Hypertension. N Engl J Med. 2016;
375: 1119-30.
4. Morgalla MH, Magunia H. Noninvasive Measurement of Intracranial Pressure via the
Pulsatility Index on Transcranial Doppler Sonography: Is Improvement Possible? J Clin
Ultrasound. 2016; 44(1): 40-5.
5. Joaquim MAS, Patriota GC, Bianco AM. Hemodinâmica da curva de Langfitt. Arq Bras
Neurocir. 2010; 29(2): 53-7.
6. Joaquim MAS, Patriota GC, Bianco AM. Isquemia encefálica, cascatas vasodilatadora e
alterações bioquímicas. Arq Bras Neurocir. 2010; 29(2): 58-63.
7. Chaddad-Neto FE, Rabelo NN, Santos BFO, Reguin Neto M, Oliveira E. Traumatismo
Craneoencefálico. Manual de Neurointensivismo da Beneficência Portuguesa. 2 ed. São
Paulo: Atheneu; 2014.
8. Joaquim MAS, Patriota GC, Bianco AM. Síndrome da reperfusão encefálica. Hipóteses
fisiopatológicas, bioquímicas e hemodinâmicas do fenômeno da hipoperfusão pós-
hiperemia. Arq Bras Neurocir. 2010; 29(2): 64-8.
9. Rabelo NN, Rabelo NN, Machado FS, Joaquim MAS, Junior LAAD, Pereira CU. Critical
analysis of sedation and analgesia in severe head trauma. Arq Bras Neurocir. 2016; 35: 135-
47.
10. Czosnyka M, Pickard JD. Monitoring and interpretation of intracranial pressure. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 2004; 75: 813-21.
11. Bayir H, Clark RSB, Kochanek PM. Promising strategies to minimize secondary brain
injury after head trauma. Crit Care Med. 2003; 31(1 Suppl.): S112-7.
12. Khan HR, Mason C, Mulcahy R. Clarithromycin culprit of benign intracranial hypertension.
Ann Indian Acad Neurol. 2015; 18(4): 475-7.
13. Bratton SL, Chestnut RM, Ghajar J. Brain Trauma Foundation; American Association of
Neurological Surgeons; Joint Section on Neurotrauma and Critical Care. Guidelines for the
surgical management of traumatic brain injury. Neurosurgery. 2006; 58(S3): S2-1.
14. Finfer SR, Vicent JL. Traumatic Intracranial Hypertension. N Engl J Med. 2014; 370: 2121-
30.
15. Ferreira CB, Bassi E, Lucena L, Carreta H, Miranda LC, Tierno, PFGM et al. Mensuração
da pressão intracraniana e desfechos em curto prazo de pacientes com lesão encefálica
traumática: uma análise de propensão pareada. Rev Bras Ter Intensiva. 2015; 27(4): 315-21.
16. Mangat HS, Chiu YL, Gerber LM, Alimi M, Ghajar J, Härtl R. Hypertonic saline reduces
cumulative and daily intracranial pressure burdens after severe traumatic brain injury. J
neurosurg. 2015; 122(1): 202-10.
17. Mendelow AD, Gregson BA, Rowan EN, Francis R, McColi E, McNamee P, et al. On
behalf of the STITCH (Trauma) Investigators – Early Surgery versus Initial Conservative
Treatment in Patients with Traumatic Intracerebral Hemorrhage (STITCH [Trauma]): The
First Randomized Trial. J Neurotrauma 2015; 32: 1312-23.
18. Hutchinson PJ, Kolias AG, Timofeev IS, Corteen EA, Czosnyka M, Timothy J, et al. Trial
of Decompressive Craniectomy for Traumatic Intracranial Hypertension. N Engl J Med.
2016; 375(12): 1119-30.
19. Morton R, Ellenbogen RG. Intracranial hypertension. In: Ellenbogen RG, Abdulrauf SI,
Sekhar LN, eds. Principles of Neurological Surgery. 3 ed. Philadelphia: Elsevier Saunders;
2012.
20. Wilson MH. Monro-Kellie 2.0: The dynamic vascular and venous pathophysiological
componentes of intracranial pressure. J Cereb Blood Flow Metab. 2016; 36(B): 1338-50.
21. Tai MLS, Sharma VK. Role of Transcranial Doppler in the Evaluation of Vasculopathy in
Tuberculous Meningitis. PloS one. 2016; 11(10): e0164266.
22. Gonzalez NR, Boscardin WJ, Glenn T, Vinuela F, Martin NA. Vasospasm probability index:
a combination of transcranial doppler velocities, cerebral blood flow, and clinical risk factors
to predict cerebral vasospasm after aneurysmal subarachnoid hemorrhage. J Neurosurg.
2007; 107(6): 1101-12.
23. Baldissin MM, Souza EM. ADHD and Cerebellar Vermis Tumor: DTI Analysis of an
Incidental Finding. Arq Bras Neurocir. 2016; 35: 239-43.
24. Jha SK. Cerebral Edema and its Management. Med J Armed Forces India. 2003; 59(4): 326-
31.
25. Esquenazi Y, Lo VP, Lee K. Critical Care Management of Cerebral Edema in Brain Tumors.
J Intensive Care Med. 2017; 32(1): 15-24.
26. Rabelo NN, Cariús C, Tallo FS, Lopes RD. Conduta nutricional no trauma para o clínico.
Rev Bras Clin Med. 2012; 10(2): 116-21.
27. Andrade AF, Marino R, Ciquini O, Figueiredo EG, Machado AG. Guidelines for
Neurosurgical Trauma in Brazil. World J Surg. 2001; 25: 1186-201.
28. Andrade AF et al. Mecanismos de lesão cerebral no traumatismo cranioencefálico. Revista
da Associação Médica Brasileira 2009;55(1):75-81.
29. Carney N et al. Guidelines for the management of severe traumatic brain injury.
Neurosurgery 2017; 80(1): 6-15.
30. Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões. Suporte Avançado de Vida no
Trauma (SAVT-ATLS). Chicago Press. 2014; 6: 148-73.
31. Longo D, Fauci AS, Kasper D, Hauser S, Jameson JL, Loscalzo J. Harrison: Principles of
International Medicine. 18 ed. New York: Mcgraw Hill; 2012.
32. Gentile JKA, Himuro HS, Rojas SSO, Veiga VC, Amaya LEC, Carvalho JC. Condutas no
paciente com trauma crânio encefálico. Rev Bras Clin Med. 2011; 9(1): 74-82.
33. Marmarou A, Fatouros PP, Barzó P, Portella G, Yoshihara M, Tsuji O, et al. Contribution of
edema and cerebral blood volume to traumatic brain swelling in head-injured patients. J
neurosurg. 2000; 93(2): 183-93.
34. Oliveira E, Lavrador JP, Santos MM, Lobo Antunes J. Traumatismo Crânio-Encefálico:
Abordagem Integrada. Acta Med Port. 2012; 14: 179-92.
8.2
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
Autores:
Breno Araújo Barbosa
Millena Nogueira Oliveira
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• TRM (Traumatismo Raquimedular): Traumatismo
raquiomedular (TRM) é a lesão da medula espinhal que provoca
alterações, temporárias ou permanentes, na função motora,
sensibilidade ou função autonômica. É caracterizado por uma
agressão, na maioria das vezes de força mecânica, que acarreta
lesão anatômica ou funcional à coluna vertebral e/ou à medula
espinhal ou raízes nervosas em qualquer dos seus segmentos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
CAUSAS DE TRM: Acidentes automobilísticos (30%), queda de
altura (20%), acidente por mergulho em água rasa (frequentes no verão)
(21%), ferimentos por arma de fogo (12%), acidentes esportivos (2%) têm
sido as principais causas de traumatismo raquimedular. O TRM ocorre
predominantemente em homens na proporção de 4:1, na faixa etária entre 15
e 40 anos. No Brasil, estimam-se 11 mil vítimas de TRM anualmente. O
coeficiente de incidência no Brasil é de 71 casos/milhão por ano. A região
Nordeste se destacou com 91 casos/milhão de habitantes, e a região Sul com
a menor incidência, 38 casos/milhão de habitantes.
QUADRO CLÍNICO
• Os sinais e sintomas mais comuns de TRM são: dor no pescoço
e/ou nas costas; dor ao movimentar o pescoço e/ou as costas; dor à
palpação da região posterior do pescoço e/ou da linha média das
costas; deformidade da coluna vertebral; paralisia, paresia,
dormência ou formigamento nas pernas ou braços em qualquer
momento após o acidente; sinais e sintomas de choque
neurológico: hipotensão com bradicardia, perda do controle
simpático, extremidades quentes, diurese normal; priapismo
(ereção peniana dolorosa); paralisia de diafragma, se atingir
cervical média e alta; hipoventilação por atingir músculos
intercostais, se atingir cervical baixa e torácica alta; respiração
abdominal e uso de musculatura acessória.
O quadro 1 resume as formas de acometimento medular e a suas
manifestações clínicas
SÍNDROMES MEDULARES
Lesão que ocorre quase exclusivamente na região cervical, com preservação da
Síndrome Centromedular sensibilidade sacral e maior debilidade dos membros superiores que dos membros
inferiores.
Lesão da medula sacral (cone) e das raízes lombares dentro do canal, que
usualmente resulta em arreflexia de bexiga, intestino e membros inferiores. Os
Síndrome do Cone Medular
segmentos sacrais podem ocasionalmente mostrar reflexos preservados; por
exemplo, o bulbocavernoso e os reflexos miccionais.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico é feito com base clínica e radiológica. A lesão
medular é classificada segundo a padronização internacional
determinada pela American Spinal Injury Association – ASIA;
assim, criou-se uma avaliação padrão para traumatismo
raquimedular baseada na sensibilidade e na função motora. É
composta por uma etapa compulsória, a qual fornece um escore, e
outra etapa opcional, que não faz parte da pontuação do escore,
mas que adiciona informações clínicas importantes do paciente. O
teste de sensibilidade é feito em pontos específicos: são testados 28
dermátomos predeterminados nos lados direito e esquerdo. Testam-
se a sensibilidade dolorosa (com um alfinete) e tato fino (toque
leve com algodão). A avaliação da sensibilidade postural e a
percepção de pressão ou dor profunda são consideradas opcionais
na avaliação da lesão medular. O exame motor compreende o
exame de dez músculos específicos nos dois lados do corpo.
L2 Flexão do quadril
L3 Extensão do joelho
L4 Dorsiflexão do pé
L5 Extensão do hálux
S1 Flexão plantar
Quadro 2.
Fonte : Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
C6 Dedo polegar
C7 Dedo médio
C8 Dedo mínimo
T2 Axila
T4 Mamilo
T6 Apêndice xifoide
T10 Umbigo
S1 Borda lateral do pé
Quadro 3.
Fonte : ATLS – Advanced Trauma Life Support 10ª Edição
C Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força inferior a grau 3.
D Incompleta - há função motora e maioria dos músculos tem força superior a grau 3.
E Normal
Quadro 4.
Fonte : Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
TRATAMENTO
• O tratamento de um TRM tem como objetivo imediato deter a
lesão, preservar e, se possível, restaurar funções neurológicas
afetadas, e, principalmente, evitar complicações secundárias.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente, 26 anos, advogado, masculino, vítima de
acidente automobilístico com capotamento há aproximadamente 30 minutos.
Foi solicitado o resgate pelo SAMU. Chega ao PS em prancha rígida e colar
cervical, verbalizando e queixando-se de que não consegue movimentar as
pernas.
b) Avaliação Primária: A: Via aérea pérvea, coluna cervical.
c) Prescrição sugerida:
1. Dieta Zero
2. Reposição Volêmica com Cristaloide – SF 0,9% ou RL
3. Dipirona 1 amp. + AD EV 6/6 horas
4. Bromoprida 10 mL + AD EV 8/8 horas
5. Omeprazol 20 mg VO 24/24 horas
6. Cateter Vesical de Demora se Bexigoma
7. Mudança de Decúbito de 2/2 horas
8. Sinais Vitais
9. Cuidados Gerais de Enfermagem
REFERÊNCIAS
1. Towsend C (org). Sabiston: tratado de cirurgia. 19 ed. Philadelphia: Elsevier; 2012.
2. Hadley MN, Walters BC, Aarabi B, Dhall SS, Gelb DE, Hurlbert RJ et al. Clinical
assessment following acute cervical spinal cord injury. Neurosurgery. 2013; 72(suppl_3): 40-
53.
3. Mello LR, Espíndola G, Silva FM, Bernardes CI. Lesado medular. Estudo prospectivo de 92
casos. Arq Bras Neurocir. 2004; 23(4): 151-6.
4. Rieder MM. Trauma raquimedular: aspectos epidemiológicos de recuperação funcional e de
biologia molecular. Tese [doutorado em Medicina: Ciências Médicas]. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2014.
5. Santos TSC, Guimarães RM, Boeira SF. Epidemiologia do Trauma Raquimedular em
Emergências Públicas no Município do Rio de Janeiro. [Internet]. [Acesso em 5 fev 2017].
Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/v16n4/15.pdf.
6. Campos MF, Ribeiro AT, Listik S, Pereira CAB, Andrade SJ, Rapoport A. Epidemiologia do
traumatismo da coluna vertebral. Ver Col Bras Cir. 2008; 35(2): 88-93.
7. Ning GZ, Wu Q, Li YL, Feng SQ. Epidemiology of traumatic spinal cord injury in Asia: a
systematic review. J Spinal Cord Med. 2012; 35(4): 229-39.
8. Pereira CU, Carvalho LFP, Santos EAS. Medical complications in traumatic spinal cord
injury: pulmonary, cardiovascular, genitourinary and gastrointestinal. Arq Bras Neurocir.
2010; 29(3): 110-7.
9. Pirouzmand F. Epidemiological trends of spine and spinal Cord injuries in the largest
Canadian adult trauma center from 1986 to 2006. J Neurosurg Spine. 2010; 12: 131-40.
10. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular. Brasília:
Ministério da Saúde; 2013.
11. Souza LC, Ortega MR, Ribeiro-Junior MAF. Trauma raquimedular e choque neurogênico:
manifestações incomuns de instabilidade hemodinâmica − como diagnosticar e tratar
corretamente. Rev Emerg Clín. 2010; 5(24): 87-9.
12. Vieira CAS, Mafra AA, Andrade JMO. Abordagem ao paciente politraumatizado-
protocolos clínicos. Belo Horizonte: Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais; 2011.
13. Parreira JG, Vianna AMF, Cardoso GS, Karakhanian WZ, Calil D, Perlingeiro JAG et al.
Lesões graves em vítimas de queda da própria altura. Rev Assoc Med Bras. 2010; 56(6):
660-4.
14. Defino HLA. Spinal Cord Injuries. Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: TRAUMA II. 1999
out/dez; 32: 388-400.
15. Smucker JD, Sasso RC. The evolution of spinal instrumentation for the management of
occipital cervical and cervicothoracic junctional injuries. Spine. 2006; 31(11S): S44-S52.
16. Walters BC, Hadley MN, Hurlbert RJ, Aarabi B, Dhall SS, Gelb DE, et al. Guidelines for
the Management of Acute Cervical Spine and Spinal Cord Injuries: 2013 Update.
Neurosurgery. 2013; 60: 82–91.
17. Todd JA, Kim D. Timing of surgical stabilization after cervical and thoracic trauma. J
Neurosurg Spine. 2005; 3: 182-90.
18. Morais DF, Melo Neto JS, Spotti AR, Spotti AR, Tognolla WA. Preditores de complicações
clínicas em pacientes com trauma raquimedular. Coluna/Columna 2014 abr/jun;13(2): 139-
42.
19. Pinto FCG. Manual de Iniciação em Neurocirurgia. 2 ed. São Paulo: Santos; 2012.
20. Kenney K, Diaz-Arrastia R. Review of Traumatic Brain and Spinal Cord Injury: Challenges
and Developments. JAMA Neurol. 2013; 70(10): 1333.
21. Carney N, Totten AM, O`Reilly C, Ullman JS, Hawryluk GW, Bell MJ, et al. Guidelines for
the Management of Severe Traumatic Brain Injury, Fourth Edition. Neurosurgery. 2017;
80(1): 6-15.
22. Pereira MEM, Araújo TCCF. Estratégias de enfrentamento na reabilitação do traumatismo
raquimedular. Arq Neuropsiquiatr. 2005; 63(2-B): 502-7.
23. Botelho RV, Daniel JW, Boulosa JLR, Colli BO, Farias RL, Moraes OJS, et tal. Efetividade
da metilprednisolona na fase aguda do trauma raquimedular - revisão sistemática dos ensaios
clínicos randomizados. Rev Assoc Méd Bras. 2009; 55(6): 729-37.
24. Barros FTEPD. Tratamento medicamentoso no traumatismo raquimedular. Rev bras ortop.
2000; 35(5): 143-6.
25. Gheno BA, Kantorski LP. A vida após o trauma raquimedular: o processo de reabilitação.
Ciên Cuid Saúde. 2008; 7(2): 1-2.
26. Veiga VC, Rojas SSO, Morais EAS, Santos ECA, Cruz OO, Marchesini AM, et tal.
Cuidados intensivos no traumatismo raquimedular. UTI NEURO, Unidade São Joaquim.
2009; 1-7.
27. Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York: Thieme Medical Publishers;
2016.
8.3
HIDROCEFALIA
Autores:
Millena Nogueira Oliveira
Breno Araújo Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• HIDROCEFALIA: Aumento da produção de LCR (líquido
cefalorraquiadiano) dentro dos ventrículos encefálicos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• A hidrocefalia é a doença mais comum tratada por neurocirurgiões
pediátricos e, segundo dados americanos, os gastos com essa
enfermidade giram em torno US$ 2 bilhões por ano. A prevalência
é de 1 para 1.000 nascidos vivos, porém deve ser maior em países
desenvolvidos. Na África subsaariana, o número de casos de
hidrocefalia na infância ultrapassa 200.000 por ano devido
infecções neonatais.
O quadro 1 mostra as causas de hidrocefalia congênita e adquiridas,
causas e mecanismo fisiopatológico.
HIDROCEFALIA MECANISMO
CAUSA
CONGÊNITA FISIOPATOLÓGICO
Estenose de Aqueduto
Obstrução no fluxo de LCR no III ventrículo Obstrução ventricular
Cerebral Congênito
HIDROCEFALIA MECANISMO
CAUSA
ADQUIRIDA FISIOPATOLÓGICO
Inflamatória
Infecção ou hemorragia subaracnoidea Cicatriz aracnoidea Disfunção do espaço
subaracnoideo
Infecção ou hemorragia subaracnoidea Cicatriz ependimária
Obstrução ventricular
Neoplasia
Tumor parenquimatoso cerebral Efeito de massa Obstrução ventricular
Tumor de medula espinhal Composição de LCR alterada Tumores com Disfunção do espaço
infiltração meníngea – ex.: tumor subaracnóideo
neuroectodérmico primitivo
Vascular
Malformação vascular Obstrução ventricular (ex.: malformação da Obstrução ventricular;
veia de Galeno; hipertensão venosa; diminuição da complacência
malformação arteriovenosa (MAV) venosa ou diminuição na
absorção de LCR
QUADRO CLÍNICO
• Intrauterina: O USG pré-natal é capaz de identificar
ventriculomegalia em fetos de idade gestacional de 18-20 semanas,
embora a hidrocefalia fetal tenha melhores resultados quando
diagnosticada no terceiro trimestre, em comparação com o
primeiro e segundo trimestre.
A tabela 1 mostra a classificação da Ventriculomegalia Fetal.
CLASSIFICAÇÃO DA VENTRICULOMEGALIA FETAL
COMPRIMENTO ATRIAL GRAU
< 10 mm Normal
>15 mm Grave-severa
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: Aumento da circunferência craniana.
• Exame físico neurológico: em pacientes com hidrocefalia
associado ou não a malformações, podem ser encontrados vários
achados, como suturas cranianas oblíquas, Sinal de Macewen –
som de pote rachando quando se percute sobre os ventrículos
dilatados, estrabismo horizontal divergente –, paralisia do sexto
par, “sinal de sol poente” – olhar paralisado para cima.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Amniocentese: Pesquisa de infecções congênitas em pacientes
com ventriculomegalia a USG ou RM fetal para Herpes-simplex,
rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus;
1) Cornos temporais >= 2 mm de largura, não sendo visíveis as fissuras silvianas e inter-hemisférica, nem os sulcos cerebrais
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico de Hidrocefalia é clínico e por exames de imagem:
Hidrocefalia ex-vacuo – alargamento dos ventrículos por perda de tecido cerebral (atrofia cortical)
Displasia septo-óptica
• Derivação (shunt).
• Desobstrução do Aqueduto de Sylvius – alta morbimortalidade
• Ablação do plexo coroide – não utilizada
O quadro 3 mostra os tipos de Derivação:
CLASSIFICAÇÃO DA VENTRICULOMEGALIA FETAL
TIPOS INDICAÇÃO
Derivação ventriculoperitoneal Técnica mais usada Ventrículo lateral → Cavidade
(DVP) peritoneal
Hidrocefalia comunicante -
Desvio lomboperitoneal Pseudotumor cerebral e fístula
liquórica
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fonte: Greenberg MS. Handbook of Neurosurgery, 8th ed. Nova York:
Thieme Medical Publishers; 2016.
DICAS DO ESPECIALISTA
• As doenças do sistema nervoso na infância são um diagnóstico de
grande impacto familiar, pelo fato de muitas estarem associadas a
déficits cognitivos, disfunções motoras e epilepsia.
• Além disso, muitos desses pacientes precisam de um tratamento
multidisciplinar (neonatologista, geneticista, obstetra, radiologista,
neurologista e neurocirurgião).
DEFINIÇÕES
O termo cefaleia se refere às dores que ocorrem em qualquer região da
cabeça e do pescoço. A cefaleia é uma das principais queixas tanto do
atendimento ambulatorial quanto do atendimento emergencial. Em
aproximadamente 2 a 4% dos atendimentos emergenciais, ela constitui a
queixa principal, seja como parte de um complexo de sintomas ou associada
a doenças em desenvolvimento. Na neurologia, é causa de 25% dos
atendimentos.1-6
As cefaleias podem ser divididas em primárias, que correspondem a 98%
das cefaleias, e secundárias. As cefaleias primárias são dores resultantes de
quadros disfuncionais, não sendo resultado de qualquer outra doença. São
cefaleias primárias: a cefaleia do tipo tensional, tipo mais comum; a
enxaqueca ou migrânea, segunda mais frequente; as cefaleias trigêmino-
autonômicas (em salvas, hemicrania paroxística etc.) e outras cefaleias
(primária da tosse, do exercício, associada à atividade sexual, por estímulo
frio etc.). As cefaleias secundárias (Quadro 1) são causadas por
anormalidades anatômicas, fisiológicas, inflamatórias e infecciosas.4,7,8
Cefaleias secundárias
Cefaleia atribuída a lesão ou traumatismo cranioencefálico e/ou cervical
EXAME FÍSICO
Na anamnese, são informações relevantes a idade do paciente e seu sexo.
É preciso caracterizar o tipo de dor, local, se uni ou bilateral, irradiação,
frequência, duração, intensidade, fatores desencadeantes, fatores de melhora
ou piora, sintomas que antecederam ou acompanham a dor, evolução,
histórico de traumas e procedimentos na região e uso de medicação.
Também se deve avaliar o histórico médico do paciente, indagando-o quanto
a doenças sistêmicas e histórico de cefaleias.9,10
O exame físico básico da cefaleia inclui a aferição de sinais vitais, exame
físico da cabeça e do pescoço, incluindo avaliação de artérias carótidas,
temporais e seus ramos, dos seios da face e das articulações
temporomandibulares, a realização de exame neurológico completo,
devendo-se avaliar os nervos cranianos, estado e nível de consciência,
resposta pupilar, força motora e a sensibilidade, reflexos tendinosos
profundos, marcha e equilíbrio e sinais de irritação meníngea. Também se
deve realizar fundoscopia com o objetivo de avaliar a presença de
papiledema.10-12
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais não são necessários na rotina, porém hemograma,
glicose sérica e eletrólitos podem oferecer auxílio na avaliação do quadro
secundário. A neuroimagem, incluindo tomografia computadorizada e
ressonância magnética, também não é sempre necessária. As bandeiras
vermelhas (Quadro 2) orientam a necessidade de solicitação de exames
complementares de neuroimagem, visto que indicam cefaleias secundárias.8-
14
Cefaleia
TC, RNM Hipotensão ou hipertensão intracraniana
posicional
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
a) CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL (CTT):
A cefaleia do tipo tensional compreende a cefaleia mais frequente, com
prevalência variando entre 30% a 78%, mais comum no sexo feminino (5:4),
com idade média de início entre 25 a 30 anos e máximo da prevalência entre
30 e 39 anos.7,8,15
A fisiopatologia da CTT ainda é inserta e a causa da dor permanece
controversa. A dor episódica parece ligada a mecanismos miofasciais
pericranianos, enquanto a dor crônica é ligada à sensibilidade das vias de dor
do sistema nervoso central, gerada por estímulos dolorosos prologados dos
tecidos miofasciais pericranianos.7,8,15
A CTT (Quadro 3) manifesta-se por dor do tipo aperto ou pressão, de
intensidade leve a moderada, bilateral (embora possa ocorrer episódios
unilaterais), que não afeta atividades diárias e não apresenta piora com
atividades físicas, com duração variável, podendo ocorrer por minutos a dias.
Não se associa a náuseas comumente. O paciente pode queixar-se de
fotofobia ou fonofobia raramente, contudo os sintomas não devem ocorrer
conjuntamente na forma crônica. Admite-se que ocorra náusea leve, porém
não deve haver vômito nem a ocorrência simultânea à fotofobia ou
fonofobia. Possui relação com estresse, falta de sono e má alimentação;
ocasionalmente, também com álcool e menstruação. Na palpação craniana,
pode ser encontrado dolorimento pericraniano, caracterizando as cefaleias
tensionais associadas com dolorimento craniano (subtipos). Ela pode ser
caracterizada como episódica infrequente (ocorrência < 12 dias/ano),
episódica frequente (ocorrência ≥12 e <180 dias/ano) ou crônica (ocorrência
≥180 dias/ano).1,7,10,15-17
Diante de um diagnóstico de CTT crônica, deve-se excluir diagnósticos
diferenciais como bruxismo, estrabismo não corrigido, sinusite crônica,
hipertensão intracraniana idiopática, desordens psiquiátricas, disfunções
osteoarticulares da coluna cervical e cefaleia secundária ao uso excessivo de
medicação.1,15,17
Critérios diagnósticos da cefaleia do tipo tensional
Ao menos 10 episódios de cefaleia em < 12 dias/ano (episódica infrequente), em ≥12 e <180 dias/ano (episódica frequente),
≥180 dias/ano (frequente)
Dor intensa, unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal Dor intensa, unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal
durando 15-180 min se não tratada durando de 2-30 minutos
Ao menos uma das características:
1. Um dos seguintes sinais ou sintomas homolaterais
a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
b. congestão nasal e/ou rinorreia
c. edema palpebral
d. sudorese frontal e facial
e. miose e/ou ptose
2. Agitação ou inquietude
Frequência entre 1 crise a cada 2-8 dias Frequência entre 1 crise a cada 2-8 dias
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO DAS CEFALEIAS SECUNDÁRIAS
Nas cefaleias secundárias, deve-se buscar o alívio da cefaleia, realizando
a pesquisa das causas. No geral, a reidratação deve ser evitada, exceto
quando houver vômitos recorrentes ou outro indicativo de desidratação.11,30
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
Fluxograma 2. Manejo das cefaleias na emergência.
Fonte : Friedman. 21
DICAS DO ESPECIALISTA
• Cefaleias nem sempre atendem aos critérios rígidos de
diagnóstico; portanto, deve-se ter cuidado na avaliação das
cefaleias primárias.
REFERÊNCIAS
1. May A. Hints on Diagnosing and Treating Headache. Dtsch Arztebl Int. 2018; 115(17): 299-
308.
2. Lee VME, Ang LL, Soon DTL, Ong JJY, Loh VWK. The adult patient with headache.
Singapore Med J. 2018; 59(8): 399-406.
3. Stovner LJ, Hagen K, Jensen R, Katsarava Z, Lipton Rb, Scher AI, et al. The global burden
of headache: a documentation of headache prevalence and disability worldwide.
Cephalalgia. 2007; 27(3): 193-210.
4. Ahmed F, Parthasarathy R, Khalil M. Chronic daily headaches. Ann Indian Acad Neurol.
2012; 15
(Suppl 1): S40-S50.
5. Goadsby PJ. Primary headache disorders: Five new things. Neurol Clin Pract. 2019; 9(3):
233-40.
6. Goldstein JN, Camargo CA Jr, Pelletier AJ, Edlow JA. Headache in United States emergency
departments: demographics, work-up and frequency of pathological diagnoses. Cephalalgia.
2006; 26(6): 684-90.
7. Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS). The
International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia. 2018; 38(1): 1-
211.
8. GBD 2016 Headache Collaborators. Global, regional, and national burden of migraine and
tension-type headache, 1990-2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease
Study 2016. Lancet Neurol. 2018; 17(11): 954-76.
9. Chinthapalli K, Logan AM, Raj R, Nirmalananthan N. Assessment of acute headache in
adults - what the general physician needs to know. Clin Med (Lond). 2018; 18(5): 422-7.
10. Clinch CR. Evaluation of acute headaches in adults. Am Fam Physician. 2001; 63(4): 685-
92.
11. Giamberardino MA, Affaitati G, Costantini R, Guglielmetti M, Martelletti P. Acute
headache management in emergency department. A narrative review. Intern Emerg Med.
2020; 15(1): 109-17.
12. Donohoe CD. The role of the physical examination in the evaluation of headache. Med Clin
North Am. 2013; 97(2): 197-216.
13. Do TP, Remmers A, Schytz HW, Schankin C, Nelson SE, Obermann M, et al. Red and
orange flags for secondary headaches in clinical practice: SNNOOP10 list. Neurology. 2019;
92(3): 134-44.
14. Micieli A, Kingston W. An Approach to Identifying Headache Patients That Require
Neuroimaging. Front Public Health. 2019; 7: 52.
15. Chowdhury D. Tension type headache. Ann Indian Acad Neurol. 2012; 15(Suppl 1): S83-
S88.
16. Ahmed F. Headache disorders: differentiating and managing the common subtypes. Br J
Pain. 2012; 6(3): 124-32.
17. Jensen RH. Tension-Type Headache - The Normal and Most Prevalent Headache.
Headache. 2018; 58(2): 339-45.
18. Bendtsen L. Drug and Nondrug Treatment in Tension-type Headache. Ther Adv Neurol
Disord. 2009; 2(3): 155-61.
19. Freitag F. Managing and treating tension-type headache. Med Clin North Am. 2013; 97(2):
281-92.
20. Robbins MS, Lipton RB. The epidemiology of primary headache disorders. Semin Neurol.
2010; 30(2): 107-19.
21. Friedman BW, Grosberg BM. Diagnosis and management of the primary headache disorders
in the emergency department setting. Emerg Med Clin North Am. 2009; 27(1): 71-viii.
22. Bigal M, Bordini C, Speciali J. Protocolos para tratamento da cefaleia aguda, em unidade de
emergência. Medicina (Ribeirao Preto Online). 1999; 32(4): 486-91.
23. Schürks M, Buring JE, Kurth T. Migraine features, associated symptoms and triggers: a
principal component analysis in the Women’s Health Study. Cephalalgia. 2011; 31(7): 861-9.
24. Andress-Rothrock D, King W, Rothrock J. An analysis of migraine triggers in a clinic-based
population. Headache. 2010; 50(8): 1366-70.
25. Puledda F, Messina R, Goadsby PJ. An update on migraine: current understanding and
future directions. J Neurol. 2017; 264(9): 2031-9.
26. Speciali JG, Fleming NRP, Fortini I. Cefaleias primárias: dores disfuncionais. Rev. dor.
2016; 17(Suppl1): 72-4. doi: 10.5935/1806-0013.20160053.
27. Kelman L. Pain characteristics of the acute migraine attack. Headache. 2006; 46(6): 942-53.
28. Bahra A. Primary Headache Disorders: Focus on Migraine. Rev Pain. 2011; 5(4): 2-11.
29. Kowacs F, Roesler CAP, Piovesan EJ, Sarmento EM, Campos HC, Maciel Jr JA, et al.
Consensus of the Brazilian Headache Society on the treatment of chronic migraine. Arq.
Neuro-Psiquiatr. 2019; 77(7): 509-20.
30. Filler L, Akhter M, Nimlos P. Evaluation and Management of the Emergency Department
Headache. Semin Neurol. 2019; 39(1): 20-6.
31. Oliveira FAA, Sampaio Rocha-Filho PA. Headaches Attributed to Ischemic Stroke and
Transient Ischemic Attack. Headache. 2019; 59(3): 469-76.
32. Pereira JL, de Albuquerque LA, Dellaretti M, de Carvalho GT, Vieira G Jr, Rocha MI, et al.
Importance of recognizing sentinel headache. Surg Neurol Int. 2012; 3: 162.
33. Marcolini E, Hine J. Approach to the Diagnosis and Management of Subarachnoid
Hemorrhage. West J Emerg Med. 2019; 20(2): 203-11.
34. Keedy A. An overview of intracranial aneurysms. Mcgill J Med. 2006; 9(2): 141-6.
35. Griffiths MJ, McGill F, Solomon T. Management of acute meningitis. Clin Med (Lond).
2018; 18(2): 164-9.
36. Tacon CL, Flower O. Diagnosis and management of bacterial meningitis in the paediatric
population: a review. Emerg Med Int. 2012; 2012: 320309.
37. Brouwer MC, Tunkel AR, van de Beek D. Epidemiology, diagnosis, and antimicrobial
treatment of acute bacterial meningitis. Clin Microbiol Rev. 2010; 23(3): 467-92.
38. Engelborghs S, Niemantsverdriet E, Struyfs H, Blennow K, Brouns R, Comabella M, et al.
Consensus guidelines for lumbar puncture in patients with neurological diseases. Alzheimers
Dement (Amst). 2017; 8: 111-26.
8.5
DOENÇAS VASCULARES
CEREBRAIS
Autores:
Leidiane Santos Ribeiro
Josué da Silva Brito
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
O acidente vascular cerebral (AVC) consiste em um déficit neurológico,
focal ou global, abrupto, que persiste por mais de 24 horas, causado por
alterações do fluxo sanguíneo.1 Atualmente, é a segunda causa global de
morte, apesar da redução da prevalência que houve nas últimas décadas.2
De acordo com a etiologia, o quadro pode ser classificado como acidente
vascular cerebral isquêmico (AVCi) ou acidente vascular cerebral
hemorrágico (AVCh), sendo esse produto do extravasamento sanguíneo para
o tecido nervoso, gerando déficit no suprimento, e aquele resultado da
interrupção do fluxo por obstrução ou redução do débito sanguíneo. O AVCi
é responsável por mais de 80% dos quadros, porém causa menor número
absoluto de mortes.2-4
O AVCh, por sua vez, compreende duas entidades distintas: a hemorragia
intraparenquimatosa (HIP) e a hemorragia subaracnoidea (HSA).3,5
Um déficit neurológico focal de origem isquêmica com duração inferior a
24 horas é dito ataque isquêmico transitório (AIT). Nessa entidade, não há
infarto cerebral. A duração é normalmente inferior a uma hora, em média 8
minutos no território vertebrobasilar e 14 no carotídeo. A maioria dos casos
cursa com melhora clínica na primeira hora.5
Tabagismo
Diabetes Mellitus
Abuso de drogas
Sedentarismo
Obesidade
Uso de anticoncepcionais
Doença coronariana -
Coagulopatias
Sexo feminino
AVE prévio
Negros e latino-americanos
FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia do AVCi envolve diferentes processos desencadeados
pela supressão da oferta de oxigênio e nutrientes aos neurônios. O
esgotamento das reservas energéticas do sistema nervoso leva à
despolarização de neurônios, resultando no aumento de receptores de
glutamato e consequente aumento intracelular de cálcio. O cálcio age como
segundo mensageiro, desencadeando a ativação de proteases, lipases e
nucleases, enzimas que possuem como produtos as espécies reativas de
oxigênio, que danificam membranas celulares, materiais genéticos e
proteínas, levando, por conseguinte, à morte celular. A falha energética
também é responsável pela alteração do fluxo de iônico e início de processo
inflamatório. Há perda de potássio e ganho de sódio, cloreto e cálcio,
desencadeando o edema citotóxico. Há também, posteriormente, com maior
duração e menor reversibilidade, edema vasogênico. Ele é resultante do
aumento da permeabilidade das células endoteliais, um outro marco da
isquemia. Essa disfunção da barreira hematoencefálica permite a passagem
de macromoléculas e, consequentemente, o aumento do volume do fluido
extracelular e da pressão intracraniana.3,13,14
A obstrução vascular gera alterações a nível estrutural e funcional. Como
consequência da isquemia, surge uma área de infarto cerebral, que possui
perfusão de 10 a 18 mL/100 g/min, com falhas estruturais e funcionais
inconversíveis (local em que ocorre necrose), e uma área de penumbra
isquêmica (parcialmente irrigada), que possui a função prejudicada sem ou
com pouca alteração estrutural. Ela é extremamente lábil, e uma pequena
demora na reperfusão tecidual provoca apoptose, anexando a área de
penumbra ao núcleo de tecido neuronal infartado.14,15
O AVCh, além dos efeitos causado pela interrupção do suprimento
vascular, causa danos pelo efeito irritante que o sangue possui sobre o
parênquima vascular e sobre a vasculatura e também pelo aumento da
pressão intracraniana, que pode gerar a restrição do fluxo sanguíneo
cerebral.3,13,14
QUADRO CLÍNICO
a) ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO:
O encéfalo é vascularizado pelas artérias carótidas internas e vertebrais.
As carótidas internas originam as artérias cerebrais anteriores e médias e a
artéria oftálmica, relacionada à alteração visual monocular. As artérias
vertebrais originam a artéria basilar, que dá origem às artérias cerebrais
posteriores, cerebelar superior, posteroinferior, anteroinferior e superior.15,16
As artérias cerebrais anteriores suprem a cápsula interna, parte do núcleo
caudado, do hipotálamo, bulbo, tratos olfatórios, lobo frontal. Os sintomas
da obstrução envolvem paralisia e paresia do membro inferior mais
significante do que a do membro superior, sinais de frontalização, desvio do
olhar conjugado, alteração de cognição e comportamento.15-17
As artérias cerebrais médias vascularizam a face superolateral de cada
hemisfério. Vascularizam as áreas motora, somestésica, de Broca e de
Wernick (no hemisfério dominante); portanto, parte do lobo frontal, lobos
temporais e parietais. Os sintomas de obstrução envolvem parestesia,
hipoestesia, paresia, disartria, síndrome piramidal contralateral, desvio do
olhar conjugado (ipsilateral), paralisia facial e dos membros (contralateral),
sendo mais intensa no membro superior em relação ao inferior, desvio da
rima labial, afasia de Broca, isto é, uma condição na qual há alteração
motora da fala, e/ou afasia de Wernicke, na qual há fala fluente, porém com
palavras incorretas ou sem sentido.15-17
O AVC da artéria lentículo-estriada, artéria responsável pela
vascularização da cápsula interna e que se origina da artéria cerebral média,
resulta em síndrome piramidal, causando; portanto, sincinesias, sinal de
Babinski, hiperreflexia, espasticidade e hiper-reflexia profunda.15-17
Já um AVC carotídeo resulta em afasia (hemisfério dominante) ou
negligência (hemisfério não dominante), hemianopsia homônima
contralateral, declínio motor e sensorial contralateral de face e membros
superiores e inferiores e desvio ipsilateral do olhar conjugado.16,17
As artérias cerebrais posteriores irrigam o lobo occipital e a face inferior
do lobo temporal. Vascularizam a substância negra, pedúnculos cerebrais,
parte do hipotálamo, hipocampo e núcleos do tálamo. Os sintomas da
oclusão incluem hemianopsia homônima, agnosia visual, distúrbios de
leitura, ataxia, alexia, agrafia, prosopagnosia e até cegueira nas obstruções
bilaterais. Pode haver rebaixamento da consciência e déficit sensorial. No
geral, não há paralisia.15-18
A oclusão da artéria cerebelar superior tem como manifestações a ataxia
de marcha, cefaleia, náuseas, vômitos, vertigem, inabilidade ipsilateral,
disartria, nistagmo ipsilateral, síndrome de Horner ipsilateral (ptose pálpebra
discreta a moderada, miose, anidrose e hiperemia facial).16,17
O AVC da artéria cerebelar posteroinferior resulta na síndrome de
Wallenberg, na qual há redução da sensibilidade dolorosa e térmica
ipsilateral da face e contralateral em tronco e extremidade facial, disfagia,
nistagmo, diplopia, mioclonia do palato ipsilateral, síndrome de Horner
ipsilateral.16,17
A obstrução do fluxo da artéria cerebelar anteroinferior causa surdez
súbita, vertigem, vômito, zumbido, disartria, fraqueza facial ipsilateral,
ataxia ipsilateral de membros, podendo ainda prejudicar a sensibilidade
térmica e dolorosa.16,17
Já uma oclusão vertebrobasilar significante resulta em morte ou
incapacidade grave, podendo gerar ataxia, disartria, alterações dos nervos
cranianos, déficit visual, quadriplegia, coma e até, raramente, a síndrome do
encarceramento.16,17
b) HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA:
A hemorragia intraparenquimatosa possui sintomas de acordo com os
locais acometidos (Quadro 2) e o tempo de evolução, sendo mais
comumente acometidos os núcleos da base, principalmente o putâmen.
Contudo, ocorrem também sintomas inespecíficos como cefaleia, náuseas e
vômitos. Muitas vezes, apenas os sintomas não vão permitir a diferenciação
entre o AVCi e o AVCh.19-21
Hemiparesia contralateral
Desvio do olhar conjugado ipsilateral
PUTÂMEN Descerebração/decorticação
Pupilas mióticas
Respiração de Cheyne-Stokes
Cefaleia
Rigidez nucal
NÚCLEO CAUDADO Alterações neurocomportamentais
Diminuição do estado da memória
Diminuição do estado de alerta
Hemiparesia contralateral
Afasia/negligência
TÁLAMO
Desvio do olhar conjugado para baixo
Pupilas mióticas
Local hematoma Quadro Clínico
Tetraparesia.
Pupilas puntiforme.
PONTE Hipoventilação.
Desvio do olhar conjugado para o lado no qual há o déficit
Evolução rápida para coma
c) HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA:
As cefaleias correspondem em até 2% dos atendimentos realizados pelos
departamentos de emergência. Cerca de 1% das cefaleias são manifestações
da hemorragia subaracnoidea.8,9
O quadro possui uma incidência que varia de 2 a 25 casos por 100.000
habitantes, sendo as maiores incidências encontradas no Japão e na
Finlândia.8,9 No geral, estima-se que a incidência atual é por volta de 7,9
casos a cada 100.000 habitantes.22
A hemorragia subaracnoidea manifesta-se por cefaleia de grande
intensidade, excruciante, que atinge a máxima intensidade em segundos,
sendo descrita como a pior cefaleia da vida, geralmente acompanhada de
náuseas e vômitos. Também pode ser acompanhada por dor cervical,
convulsões, perda transitória da consciência, hemiparesia, perda do campo
visual, fotofobia, diplopia, movimentos extraoculares anormais, disartria,
disfagia, ataxia e comprometimento de nervos cranianos.8-10
d) PIORA SECUNDÁRIA NOS ACIDENTES VASCULARES:
Tanto no AVCh quanto no AVCi pode haver deterioração do nível de
consciência de pacientes inicialmente alertas. A piora nas primeiras 3 horas é
ligada a expansão de hematoma. A piora entre 24 a 48 horas é ligada a piora
do edema cerebral. A progressão do edema também pode levar a
deterioração durante a segunda e terceira semanas após o início da
hemorragia. No AVCi, as causas de deterioração incluí a transformação
hemorrágica, isquemia recorrente, hipertensão intracraniana, além de crises
convulsivas, distúrbios hidroeletrolíticos, infecções e edema.23-25
DIAGNÓSTICO
O AVC é facilmente diagnosticado mesmo em ambiente pré-hospitalar.
São fortes indicativos o surgimento súbito dos sintomas e a procura rápida
de serviço de saúde, alteração de fala, fraqueza muscular de face ou
membros, vertigem e cefaleia severa.26
Na recepção do paciente suspeito, é recomendado o uso da escala de
AVC do National Institute of Health (NIH). É uma forma simples e rápida de
identificar e quantificar déficits neurológicos. Desta forma pode-se
acompanhar de maneira objetiva a evolução do paciente. A escala avalia
nível de consciência, orientação, resposta a comandos, melhor olhar
conjugado, campos visuais, paralisia facial, função motora, ataxia dos
membros, sensibilidade, melhor linguagem, disartria e extinção ou
desatenção.26
Muitas condições apresentam sintomas semelhantes ao AVC e precisam
ser descartadas, como síncope, crise epiléptica, uremia, hipoglicemia ou
hiperglicemia, neoplasia ou abcesso no SNC, distúrbio psiquiátrico, trauma,
encefalite, distúrbio eletrolítico, meningite, intoxicação aguda, insuficiência
hepática, hematoma subdural etc. Para cefaleia em trovoada, inclui cefaleia
sentinela, trombose venosa central, dissecção arterial cervical, apoplexia
pituitária, cisto coloide, estenose do aqueduto, feocromocitoma etc. A
avaliação inicial complementada pela neuroimagem permite que esses
diagnósticos sejam descartados.7-9,27
A tomografia computadorizada (TC) sem contraste (Quadro 3) é o
método mais frequentemente utilizado no manejo do AVC, possuindo
sensibilidade próxima de 100% nas primeiras horas. Ela é preferida por ser
amplamente disponível, fácil de utilizar e pela velocidade mais célere de
realização do exame. Nem sempre, contudo, os sinais de isquemia são tão
evidentes no método, sendo necessário de dois a sete dias para o
reconhecimento, em alguns casos. Para HSA, há uma redução significativa
da sensibilidade a partir de 24-48 horas, sendo necessários outros métodos
de imagem.8-10,26,27
A ressonância magnética (RNM) permite o reconhecimento precoce (< 6
horas) da isquemia, possui maior sensibilidade para o reconhecimento de
malformações arteriovenosas, neoplasias, processo infeccioso ou
inflamatório. Trata-se, contudo, de um exame de alto custo e baixa
disponibilidade, além de não poder ser realizada em pacientes que possuem
marca-passos e implantes metálicos.27,28
GERENCIAMENTO DO AVC
Idealmente, a avaliação médica do paciente deve ocorre nos primeiros 10
minutos, e a avaliação do neurologista, nos primeiros 15 minutos. Na
recepção do paciente com AVC, deve-se indagar quanto a antecedentes
cardíacos, doença arterial periférica, medicamentos de uso contínuo, abuso
de álcool e drogas ilícitas, convulsões, enxaqueca, trauma e gravidez. É
preciso averiguar a hidratação, oxigenação, frequência e ritmo cardíaco,
realizar ausculta cardíaca e respiratória. O exame de fundo de olho pode
auxiliar no diagnóstico de quadros hemorrágicos.27,31,32
Deve-se avaliar o paciente através da escala de coma de Glasgow e
através da escala de AVC do NIS. Essa avaliação deve ser periódica.31-34
São exames essenciais hemograma, coagulograma, níveis sanguíneos de
potássio, sódio, creatinina, ureia, glicemia, marcadores de necrose cardíaca.
A partir das particularidades de cada caso, radiografia torácica, teste de
gravidez, exame toxicológico, enzimas canaliculares hepáticas e marcadores
de necrose hepática devem ser solicitados. Em caso de convulsão, o
eletroencefalograma é indicado. Exames como eletrocardiograma,
ecocardiograma e doppler de carótidas e artérias vertebrais são úteis no
estabelecimento de diagnósticos diferenciais.31-34
É necessário que a TC seja realizada de forma mais precoce possível.
Preferencialmente, ela deve ser solicitada já na admissão ao hospital. A
exclusão de AVCh permite prosseguir com a conduta específica para AVCi.
31-34
Recomendações
A glicemia deve ser mantida entre 140 a 180 mg/dL através de insulina, caso necessário.
GLICEMIA
A hipoglicemia (glicemia < 60 mg/dL) deve ser tratada.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
AVALIAÇÃO DO PROGNÓSTICO
Existem diversas escalas e escores para avaliação do prognóstico do
paciente com AVC e auxílio na tomada de decisão. Para o AIT, há o escore
ABCD e o ABCD2. Para o AVCi, utiliza-se o ASPECTS (Alberta Stroke
Program Early CT Score). Para HIP, emprega-se o escore ICH (intracranial
hemorrhage). Já para HSA, há diferentes métodos, sendo geralmente
utilizadas a escala de Fisher modificada, a escala da World Federation of
Neurological Surgeons e a escala de Hunter-Hess.36,43-51
a) ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO:
Os escores ABCD e ABCD2 (Quadro 7) forram criados para quantificar
o risco de AVCi em curto prazo após um AIT. Pontuação inferior ou igual a
3 pontos são de baixo risco (risco < 7% em 90 dias), já a pontuação superior
a 3 pontos apresenta alto risco de AVC (risco de cerca de 25% em 90 dias).
Pacientes com AIT devem receber aspirina (150 a 300 mg) e, se de alto
risco, devem ser investigados de forma abrangente. Para todos, deve-se
estabelecer profilaxia secundária.43,51
Fraqueza unilateral 2
(Clinical symtoms) Sintomas
Comprometimento da fala 1
≥ 60 minutos 2
(Duration of TIA) Duração
10-59 minutos 1
Figura 1. Aspectos.
Fonte: Prasad, Bhatt.43,44
c) HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA:
O escore ICH (Quadro 8) avalia o risco de mortalidade em 30 dias por
HIP. Sua pontuação varia entre 0 a 6 pontos. A mortalidade é,
respectivamente, para cada pontuação: 0%, 13%, 26%. 72%, 97%, 100% e
100%. 46
Dado clínico Achado Pontuação
3-4 2
Glasgow na admissão
5-12 1
Dado clínico Achado Pontuação
Idade ≥ 80 anos 1
Hemoventriculo Sim 1
Cefaleia moderada a severa, rigidez nucal, sem déficits neurológicos exceto por
II 2-10%
paralisia de nervos cranianos.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
O paciente que possui um AVC deve, dentro de uma semana, ser avaliado
quanto aos fatores de risco modificáveis, incluindo HAS, DM, tabagismo,
estenose da artéria carótida, fibrilação atrial e arritmias, e doença cardíaca
estrutural.34,43
O paciente vítima de AVCi deve receber profilaxia secundária com AAS
ou clopidogrel. Esses medicamentos, contudo, não devem ser
combinados.31,34
Deve-se buscar controlar a pressão arterial do paciente e a dislipidemia.
Os pacientes devem ser tratados com estatinas, a depender do risco
cardiovascular. Deve-se estimular mudança de hábitos de vida: interrupção
do tabagismo, exercícios físicos por ao menos 30 min/dia, redução do
consumo de lipídios e carne vermelha, redução do peso corporal, redução da
ingestão de sal e de álcool.34,43
DICAS DO ESPECIALISTA
• Até que se prove o contrário, todo déficit neurológico agudo deve
ser tratado como se ele se tratasse de um AVCi.
• Apesar da permissão para que a trombólise seja feita até 4,5 horas,
os resultados mais promissores ainda estão nas primeiras 3 horas
de sintomas.
INTRODUÇÃO
Estima-se que a prevalência mundial de epilepsia ativa esteja em torno de
0,5%-1,0% da população1 e que cerca de 30% dos pacientes sejam
refratários, ou seja, continuam a ter crises, sem remissão, apesar de
tratamento adequado com medicamentos anticonvulsivantes.2
Desse modo, o conhecimento desse tema é de extrema importância para a
prática médica atual e futura.
DEFINIÇÕES
De O termo “epilepsia” denota qualquer distúrbio caracterizado por
convulsões recorrentes não provocadas. Uma convulsão é um distúrbio
transitório da função cerebral devido a uma descarga neuronal paroxística
anormal no cérebro.
Pacientes com convulsões recorrentes provocadas por uma causa
prontamente reversível, como abstinência de álcool ou drogas, hipoglicemia,
hiperglicemia ou uremia, não são considerados epiléticos.3
Uma síndrome epilética é definida como um distúrbio epilético
caracterizado pela presença de sinais e sintomas complexos que definem
uma condição epilética única. Os sinais e sintomas podem ser clínicos
(história, idade de início, tipos e modos de aparecimento das crises, natureza
progressiva ou não e achados neurológicos e neuropsicológicos) e achados
de exames complementares, como eletroencefalograma (EEG), estudos de
neuroimagem, mecanismos patofisiológicos e bases genéticas.4
PREVALÊNCIA
Há poucos estudos epidemiológicos confiáveis sobre epilepsia no Brasil.
Se considerarmos hipoteticamente a prevalência de epilepsia como sendo
igual à descrita na cidade de Porto Alegre, ou seja, 16,5/1.000 casos de
epilepsia ativa, o que significa mais de três vezes a prevalência em países
desenvolvidos, teríamos atualmente um número próximo a 2.500.000
pessoas com epilepsia no Brasil.5
DIAGNÓSTICO
É essencial que os pacientes sejam acompanhados por uma testemunha
que possa descrever os episódios em detalhes. O diagnóstico é
fundamentalmente clínico e envolve a realização de anamnese detalhada,
visando à caracterização de eventos nos primeiros anos de vida (eventos
precipitantes iniciais) que poderiam ser implicados na gênese das crises e de
outros antecedentes pessoais e familiares. O EEG é usado como um suporte
do diagnóstico, sendo importante para a correlação eletroclínica e a
caracterização do tipo de epilepsia. Estudos de neuroimagem, como
tomografia de crânio e, principalmente, ressonância magnética (RM) do
encéfalo, são importantes na determinação do tipo da lesão epileptogênica.
Estudos funcionais, como a tomografia por emissão de fóton único e a
tomografia por emissão de pósitrons, podem ser utilizados na definição da
zona epileptogênica, ou seja, a região geradora das crises.6
Epilepsia benigna da infância - Crises ocorrem em crianças - O diagnóstico se baseia em - Fármacos de primeira escolha:
com pontas rolândicas previamente hígidas critérios clínicos e EEG. (7) carbamazepina e oxcarbazepina
- Trata-se do tipo mais comum - Sintomas sensitivos e/ou * Levetiracetam, topiramato e
de epilepsia focal idiopática, motores envolvem: face, intensa lamotrigina possuem eficácia
podendo corresponder a até 20% sialorreia, podendo evoluir para semelhante.
das epilepsias da infância. (7) uma crise unilateral tônica, - Nos pacientes com
- O início das crises ocorre clônica ou tônico-clônica, com recorrências noturnas
geralmente entre 2 e 13 anos, alternância entre os dimídios. frequentes, benzodiazepínicos
com pico por volta dos 9 anos, - As crises ocorrem são uma opção.
havendo um discreto predominantemente durante o - Tratamento medicamentoso
predomínio no sexo masculino. sono ou logo após o despertar. nem sempre é necessário.
(8) (7)(9) - Todos os pacientes evoluem
com remissão completa das
crises.
- Familiares devem encorajar a
criança a ter uma vida normal.
(7)(9)(10)
Epilepsia occipital benigna da - As crises epilépticas são - O diagnóstico se baseia em - Por apresentar risco baixo de
infância de início precoce tipo semiologicamente critérios clínicos e EEG. recorrência de crises, o uso de
Panayiotopoulos caracterizadas por: alterações - O EEG registra atividade de FAE deve ser ponderado.
- síndrome idade-relacionada, comportamentais, irritabilidade, base normal e a presença de - Quando optado por tratamento
que ocorre em ambos os sexos, agressividade, fenômenos descargas de onda aguda na contínuo, indicar carbamazepina
apresenta forte componente autonômicos, palidez cutânea, região occipital. Um terço das ou oxcarbazepina, fenobarbital,
genético e é a segunda epilepsia cianose labial, náusea, vômito e crianças apresenta EEG normal. valproato de sódio ou
parcial benigna mais frequente desvio dos olhos e da cabeça de - A RNM-E deve ser realizada topiramato. (10)(11)(12)
da infância. As crises ocorrem forma conjugada, alterações para afastar lesões estruturais
entre 2 e 8 anos, com pico aos 5 visuais e amaurose ictal. em córtex posterior e deve ser
anos. (10) - As crises podem apresentar normal nesta síndrome.(11)(12)
- As crises são pouco frequentes curta duração ou evoluir com
e muitos pacientes apresentarão EME tipo parcial. (11)
somente um evento durante toda
a vida. O exame neurológico é
normal e não há
comprometimento do DNPM.
(11)(12)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Epilepsia occipital benigna da - Manifestações clínicas mais - O EEG apresenta atividade de - Os FAE indicados são
infância de início tardio tipo comuns: auras visuais, seguidas base normal e descargas de onda carbamazepina, oxcarbazepina,
Gastaut ou não de hemigeneralização ou aguda em córtex posterior, topiramato, valproato de sódio e
- É considerada uma síndrome generalização. predominando nas regiões levetiracetam.
rara, idade-relacionada, que - As crises geralmente ocorrem occipitais, ora à direita, ora à - O prognóstico costuma ser
afeta ambos os sexos e tem forte em vigília. esquerda. São descritos ritmos favorável, com remissão
componente genético. (13) - Sintomas visuais como rápidos na faixa beta em córtex completa das crises após 2 a 4
Tem idade de início entre 2 e 17 Hemianopsias, perda parcial ou posterior. anos. (10)(15)
anos, com pico entre 7 e 9 anos. total da visão; A RNM-E deve ser realizada
(10) - Fosfenos ou alucinações para afastar lesões estruturais,
visuais elementares e devendo ser normal. (15)
alucinações visuais complexas;
- Ilusões visuais, como
palinopsia, micropsia, macropsia
e metamorfosopsia;
- Visão de pontos coloridos,
luses piscando, círculos ou
pequenos animais. (14)
Epilepsia neonatal familiar - Crises iniciam entre segundo - EEG apresenta achados O tratamento medicamentoso
benigna e terceiro dias de vida. São inespecíficos, podendo ser deve ser realizado com
- Síndrome rara, autossômica semiologicamente classificadas normal ou apresentar fenobarbital, valproato de sódio
dominante, devido à mutação de como: clônicas, tônicas focais paroxismos epileptogênicos com ou divalproato de sódio, por
genes relacionados aos canais de ou generalizadas, apneias e morfologia de espícula e curto período, devendo ser
potássio voltagem-dependente. crises com fenômenos espícula-onda generalizadas. descontinuado após,
(10)(16) autonômicos. - A ressonância nuclear aproximadamente, 6 meses. (10)
- O exame neurológico é magnética do encéfalo (RNM-E) (16)
normal em praticamente todas não demonstra alterações
as crianças. (10)(16) significativas. (10)(16)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Epilepsia do lobo temporal - Clinicamente, a síndrome da - Os achados do EEG podem ser - Remissão espontânea das
- A epilepsia do lobo temporal ELT se manifesta por crises mais difusos e em 20% dos crises ocorre em 10% a 18% dos
(ELT) é a principal causa de tônicas, mioclônicas e casos abaixo dos 12 anos são casos.
crises epilépticas intratáveis em espasmos infantis, sendo raras encontradas descargas fora do - As crises epilépticas são
adultos. Em crianças, a esclerose as crises parciais complexas, as lobo temporal e 40% dos casos refratárias e pode-se observar
mesial temporal (EMT) isolada quais, quando presentes, apresentam alterações interictais morbidade cognitiva.
tem sido descrita em 15% a 43% caracterizam-se por poucos bitemporais ou na região - Tratamento cirúrgico em
dos casos de ELT (17)(18), sendo automatismos, sendo raras as medioposterior do lobo crianças tem prognóstico
mais comum acima dos 5 anos. posturas distônicas. (22)(23) temporal. semelhante ao observado em
(19) - O registro ictal, embora possa adultos, não havendo
- Abaixo dos 5 anos, lesões ser caracterizado pelo clássico justificativas para se protelar a
neocorticais como tumores, ritmo teta-hipocampal, indicação cirúrgica ante a
malformações do evidencia com frequência ritmos determinação da refratariedade
desenvolvimento cortical são mais difusos. (23)(24) clínica. (18)(24)(25)(26)(27)
mais frequentemente
observadas, podendo ou não se
associar à EMT. (20)(21)
Doença Sinais / Sintomas Diagnóstico Tratamento
Síndrome de Rasmussen - A apresentação clínica mais - O diagnóstico final da - O único tratamento que leva à
- É uma doença rara, adquirida, comum é a de crises epilépticas encefalite de Rasmussen baseia- remissão das crises epilépticas é
progressiva, de etiologia focais motoras esporádicas em se em critérios clínicos, EEG e a cirurgia e, na maioria das
desconhecida, que acomete um uma criança previamente de imagem, sendo muitas vezes vezes, a ressecção ou
hemisfério cerebral. (28) hígida. necessário realizar biópsia desconexão de todo o hemisfério
- Caracteriza-se pela presença de - Esta evolui para a fase 2 ou cerebral para sua confirmação. é indicada.
crises focais motoras muito fase aguda caracterizada pela - Os achados histopatológicos - No entanto, o tratamento
frequentes ou contínuas, presença de epilepsia parcial são nódulos microgliais, com ou cirúrgico pode levar à instalação
hemiparesia e hemiatrofia contínua, hemiparesia e déficits sem neuronofagia, infiltrado de déficits neurológicos
cerebral progressivas (29) cognitivos progressivos. celular perivascular, necrose importantes, particularmente
- Sintomas têm início por volta - A terceira fase caracteriza-se giral, perda neuronal e gliose. quando a doença envolve o
pela estabilização do quadro (30)(31)(32)(33)(34)(35) hemisfério dominante para a
dos 6 anos de idade. (31)
neurológico, mas ainda com linguagem, sendo necessário
crises epilépticas refratárias. protelar o procedimento.
Hemiparesia pode ser o Nesses casos são indicados
sintoma inicial da doença. tratamentos alternativos com
- Pacientes com sintomas corticosteroides, imunoglobulina
iniciados mais tardiamente humana e tacrolimo. (30)(31)(32)
podem apresentar-se com crises (33)(34)(35)
parciais complexas ou TCGs
esporádicas que posteriormente
evoluem para o quadro típico
de epilepsia parcial contínua.
Distúrbios de linguagem e
comportamento e retardo
mental são observados na
evolução da síndrome. (31)(32)
(33)(34)(35)
Síndrome de Doose - As crises são mioclônicas, - O EEG é inicialmente normal, - O tratamento deve incluir
- Também denominada epilepsia astáticas ou mioclono-astáticas, mas surge alentecimento e valproato de sódio, divalproato
mioclono-astática, está levando a quedas com traumas desorganização da atividade de de sódio, topiramato,
classificada entre as síndromes de repetição. base e descargas polimórficas lamotrigina e benzodiazepínicos.
epilépticas generalizadas - Outros tipos de crises como as generalizadas com acentuações Há relatos de bons resultados
criptogênicas ou sintomáticas, crises de ausência, crises focais. com etossuximida,
sendo frequente o polimorfismo atônicas e crises TCGs - Em parte dos pacientes, é levetiracetam, primidona,
de crises. Sua incidência é frequentemente estão presentes. possível identificar o “ritmo de ACTH, corticoides orais e
estimada em 1 caso para cada - Alguns pacientes apresentam Doose”, constituído por acetazolamida.
10.000 nascidos vivos, EME de repetição, com crises atividade teta, monomórfica, de - Dieta cetogênica é reservada
correspondendo a 1 a 2% de sutis que se manifestam por média amplitude e com projeção aos casos refratários.
todas as epilepsias iniciadas na torpor ou apatia, mioclonias nas regiões parietais - O prognóstico é muito
infância. É mais comum no sexo irregulares e quedas sutis da bilateralmente. (10)(37)(39)(40) variável, havendo desde casos
masculino. (10)(37) cabeça. (38) com remissão completa dos
- Tem idade de início geralmente sintomas e controle das crises,
entre 2 e 5 anos, com pico de até evoluções com crises
incidência aos 3 anos, ocorrendo refratárias e severo
em crianças previamente comprometimento do DNPM.
hígidas. A herança é poligênica Episódios de EME com crises
e pode haver ocorrência familiar tônico-vibratórias e EME
em até 37% dos casos. (38) mioclônico sugerem pior
prognóstico. (39)(40)
Epilepsia ausência da infância - As crises de ausência têm - O EEG que demonstra um - Os FAE geralmente levam ao
- A epilepsia ausência da início ao redor de 6 a 8 anos e padrão típico de descargas de controle completo das ausências,
infância (EAI) é a epilepsia caracterizam-se por espícula-onda generalizada com estando indicados valproato de
genética generalizada mais comprometimento abrupto e frequência de 3 a 4 Hz. O sódio, divalproato de sódio,
frequente da infância. Embora completo da consciência, com registro deve apresentar etossuximida ou lamotrigina.
acometa ambos os sexos, é mais duração de poucos segundos. A atividade de base normal, - Em casos refratários, a
frequente no feminino, tem forte crise termina com recuperação podendo ocorrer atividade delta associação de benzodiazepínicos
componente genético e ocorre completa e abrupta da rítmica intermitente em regiões pode ser necessária. (10)(42)
em crianças neurologicamente consciência. occipitais, que é considerado um
hígidas. (10) - São reconhecidos sete tipos marcador eletrográfico de
distintos de crises de ausência melhor prognóstico.
típica: - A RNM-E não demonstra
- (a): crise de ausência com anormalidades. (10)(41)
prometimento da consciência;
- (b): crise de ausência com
componente clônico discreto;
- (c): crise de ausência com
componente atônico;
- (d): crise de ausência com
componente tônico;
- (e): crise de ausência com
automatismos;
- (f): crise de ausência com
fenômenos autonômicos;
- (g): formas mistas (10)(41)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Epilepsia com Ausência - Crises de ausência típica com - EEG: atividade de base normal - Tratamento: doses elevadas da
Mioclônica abalos mioclônicos bilaterais e e complexos de espícula-onda associação etossuximida e
- A epilepsia com ausências contração tônica dos ombros, generalizados, ritmados a 3 s. valproato.
mioclônicas é uma síndrome braços ou pernas, associado a Resposta à terapêutica pode não Outras drogas: fenobarbital,
relativamente rara, com descargas eletrográficas ser satisfatória; deterioração benzodiazepínicos, lamotrigina.
predomínio no sexo masculino, síncronas com complexos cognitiva. (10)(44) (10)(44)
sendo familiar em 20% dos ponta-onda 3Hz.
casos. A idade de início é entre - A contração muscular envolve
os 11 meses e 12 anos, com pico a musculatura facial e proximal
aos 7 anos, ocorrendo algum dos membros superiores
grau de retardo mental em até - 2/3 casos: crises tônico-
45% dos casos. (43) clônicas generalizadas e crises
de queda. (10)(44)
Epilepsia mioclônica juvenil - As crises mioclônicas - O EEG registra atividade de - Orientações detalhadas a
- Está classificada entre as predominam ao despertar e nas base normal e descargas de respeito dos fatores
epilepsias e síndromes primeiras horas da manhã e são espícula, espícula-onda, desencadeantes são consideradas
epilépticas generalizadas ativadas pela privação de sono, poliespícula e poliespícula-onda parte essencial do tratamento.
idiopáticas idade-relacionadas, ingestão de bebidas alcóolicas, generalizadas e com acentuação - Os principais FAE indicados
sendo considerada a síndrome fadiga física e distúrbios em córtex anterior. são valproato de sódio,
epiléptica generalizada de emocionais. - O achado de espículas focais divalproato de sódio e
natureza genética mais frequente - As crises mioclônicas podem ou multifocais durante o sono é lamotrigina. Clonazepam é
da adolescência, com incidência ser acompanhadas por CTCG habitual nas epilepsias eficaz, mas deve ser considerado
anual entre 0,5 e 6,3:100.000. (em 90% dos casos) e crises de generalizadas idiopáticas. fármaco de adição. Topiramato e
Ocorre em indivíduos ausência (em 15% dos casos). - Prova de fotostimulação é zonizamida podem ser utilizados
neurologicamente hígidos e - Como as mioclonias são obrigatória durante o EEG, uma após falha dos fármacos de
compromete ambos os sexos, muito breves, não há alteração vez que praticamente metade primeira linha. Carbamazepina,
com predomínio no feminino. do nível de consciência e estas dos pacientes apresenta. (45)(46) oxcarbazepina, fenitoína,
- As crises têm início ao redor podem ser desencadeadas por (47) vigabatrina e gabapentina podem
de 14 a 16 anos, sendo estímulos luminosos (epilepsia provocar EME mioclônico e de
caracterizadas por mioclonias fotossensível). (10)(45)(46)(47) ausência. (10)(46)(47)
bilaterais, simétricas, ocorrendo
de forma isolada ou em salvas e
predominando nos membros
superiores. (10)(45)(46)
Síndrome de Dravet - As crises iniciam no primeiro - O EEG cursa com alterações - Por se tratar de uma síndrome
- Também denominada epilepsia ano de vida e progressivas, podendo ser epiléptica com crises
mioclônica severa da infância ou semiologicamente são normal nas fases iniciais. polimórficas, a escolha dos FAE
epilepsia mioclônica grave do classificadas como clônicas, Evolutivamente, há deve ser dirigida aos tipos de
lactente, corresponde a uma comprometendo metade do desorganização e alentecimento crises predominantes.
síndrome epiléptica rara, com corpo e podendo evoluir para da atividade de base e, em Fenobarbital, valproato de sódio,
discreto predomínio no sexo CTCG, com ou sem febre. metade dos casos, surgimento de divalrpoato de sódio,
masculino e etiologia genética. - Posteriormente, associam-se ritmo teta síncrono, com benzodiazepínicos, topiramato,
Ao redor de 75% dos pacientes crises mioclônicas frequência de 4 a 5 Hz, nas etossuximida e zonizamida
apresentam mutação no gene generalizadas ou fragmentadas, regiões central e parietal. podem ser utilizados.
SCN1A, que codifica a tônicas, CTCG e ausências - Descargas de espícula, Carbamazepina, fenitoína e
subunidade alfa-1 dos canais de atípicas, geralmente tendo febre espícula-onda, poliespícula e lamotrigina devem ser evitados,
sódio. (10)(49)(50) como gatilho. poliespícula-onda são devido a relatos de agravamento
- A epilepsia tem registradas ora em projeção das crises. Associação de
comportamento refratário e é generalizadora ora com padrão valproato de sódio, stiripentol e
acompanhada por estagnação e multifocal. clobazam parece ser efetiva em
regressão do DNPM, distúrbio - A RNM-E é normal na maioria uma parcela significativa destes
do comportamento, dos pacientes, podendo haver pacientes.
hiperatividade, impulsividade e alterações inespecíficas como - Casos refratários podem se
transtorno do espectro autista. atrofia cerebral. (10)(49)(50) beneficiar de dieta cetogênica.
- Esclerose medial temporal (10)(51)
está presente em 2 a 70% dos
pacientes. (10)(49)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de Landau-Kleffner - Crises epilépticas não são - O EEG registra descargas de - ACTH e corticoides orais são
- Também denominada critério obrigatório para o onda aguda nas regiões eficazes em alguns pacientes.
síndrome da epilepsia-afasia, é diagnóstico da SLK, embora temporais, com ocasional - Valproato de sódio, divalproato
considerada uma síndrome estejam presentes em até 80% predomínio à esquerda. de sódio, topiramato e
epiléptica pouco frequente. O dos casos. Em metade dos Descargas extratemporais benzodiazepínicos podem
diagnóstico ocorre entre 3 e 7 pacientes, a crise convulsiva também podem estar presentes e auxiliar na terapia de
anos de idade e há predomínio antecede a afasia. As crises são uma parte significativa destes antiepiléptica de manutenção.
no sexo masculino. (10) ativadas pelo sono NREM, pacientes apresenta espícula- - Etossuximida é indicada em
predominando crises parciais, onda contínua durante o sono, o casos de crises de ausência
CTCG, ausências atípicas e, que agrava a morbidade refratária.
mais raramente, mioclonias neurologia. - Levetiracetam pode ser
epilépticas. - A RNM-E pode ser normal, utilizado em associação.
- Afasia receptiva está presente apresentar achados inespecíficos Fenobarbital e fenitoína são
em todos os pacientes e sua como atrofia cerebral ou contraindicados devido relatos
causa não é totalmente alterações estruturais específicas de agravamento das crises e
conhecida. como malformações do EME.
- Alterações funcionais desenvolvimento cortical e - O envolvimento de área
decorrentes da presença de lesões destrutivas. (10)(53)(54)(55) eloquente impede a realização de
descargas epileptogênicas nas procedimentos cirúrgicos
redes neuronais responsáveis visando ressecção cortical.
pela linguagem falada são - Cirurgias paliativas como a
identificadas como causa direta transecção subpial múltipla de
dos distúrbios do Frank Morrell podem ser
comportamento verbal. indicadas em casos
- Atividade epiléptica intensa selecionados. (10)(52)(53)(54)
no lobo temporal esquerdo
parece contribuir para o
estabelecimento de uma
encefalopatia hipometabólica,
que se manifestaria por
alterações no comportamento
verbal e social.
- Afasia receptiva é seguida por
afasia de expressão e mutismo.
Distúrbios do comportamento e
transtorno do espectro autista
ocorrem em praticamente 80%
destes pacientes e costumam
perdurar por toda a vida. (10)(52)
(53)(54)(55)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de Lennox-Gastaut - A SLG é definida pela tríade: - O EEG registra descargas de - O tratamento geralmente não
- As crises têm início antes dos crises atônicas, tônicas e onda aguda nas regiões resulta em controle satisfatório
8 anos de idade, com pico entre ausência atípica. Em fases mais temporais, com ocasional das crises e a evolução com
3 e 4 anos. avançadas é comum a presença predomínio à esquerda. EME tônico ou de ausência
-A SLG está classificada entre de crises parciais complexas, Descargas extratemporais atípica é comum.
as epilepsias e síndromes parciais simples e crises tônico- também podem estar presentes e - Carbamazepina e fenitoína
epilépticas generalizadas clônica generalizadas (CTCG). uma parte significativa destes podem exacerbar crises de
sintomáticas - Dois terços dos pacientes pacientes apresenta espícula- ausência atípica e mioclônicas,
- É mais frequente no sexo apresentarão EME não onda contínua durante o sono, o havendo relatos de EME
masculino. convulsivo de ausência atípica que agrava a morbidade mioclônico induzido por estes
- A etiologia é estrutural ou em algum momento e metade neurologia. FAE. Valproato de sódio,
metabólica na maioria dos dos pacientes apresentará - A RNM-E pode ser normal, divalproato de sódio,
pacientes, embora sejam “crises de queda” com apresentar achados inespecíficos benzodiazepínicos, lamotrigina,
relatados casos criptogênicos de mioclonia maciça seguida de como atrofia cerebral ou topiramato e rufinamida são
menor morbidade neurológica. crise tônica generalizada. alterações estruturais específicas indicados, geralmente sendo
(10)(56)(57) - Severo comprometimento do como malformações do necessária politerapia.
DNPM, cognitivo e intelectual desenvolvimento cortical e Levetiracetam pode ser utilizado
é a regra, além da associação lesões destrutivas. (10)(53)(54)(55) em associação a outros FAE.
com distúrbios do - O EEG apresenta as clássicas - Procedimentos cirúrgicos
comportamento, hiperatividade, descargas de espícula-onda lenta paliativos como cirurgias
agitação psicomotora e (com frequência inferior a 3 desconectivas, calosotomia e
impulsividade. Comorbidade Hz), generalizadas, ocorrendo utilização de estimulador do
com transtorno do espectro em uma atividade de base nervo vago (terapia VNS)
autista é frequente e o moderada a acentuadamente podem ser úteis em pacientes
diagnóstico diferencial deve ser desorganizada e alentecida. O refratários. Ressecções corticais
estabelecido com as síndromes registro do ritmo recrutante focais são indicadas em casos
de West, Dravet, Doose e epiléptico generalizado (surto de específicos e criteriosamente
epilepsia parcial benigna atividade rápida com frequência selecionados. Capacetes
atípica (síndrome pseudo- de 10 a 20 Hz, de média protetores podem reduzir o risco
Lennox). (10)(56)(57)(58) amplitude) é frequente durante o de traumatismos cranianos. (56)
sono. Devido à elevada (60)(61)
intensidade das descargas e a
intensa desorganização
eletrográfica, a distinção entre o
traçado interictal e ictal pode ser
impossível.
- A RNM-E complementa a
investigação etiológica, sendo os
achados radiológicos muito
variados, incluindo lesões
estruturais decorrentes de
hipóxia perinatal, malformações
cerebrais, displasias e distúrbios
de migração neuronal. RNM-E
de alta resolução é capaz de
identificar pequenas displasias
em pacientes com SLG
previamente classificados como
criptogênicos, bem como a
tomografia por emissão de
pósitrons (PET-scan) pode
identificar áreas de
hipometabolismo em pacientes
com RNM-E normal. (56)(58)(59)
(60)(61)
DOENÇA SINAIS / SINTOMAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO
Síndrome de West - Destacam-se lesões cerebrais - O EEG demonstra o clássico - Desde 1958 utiliza-se ACTH
- A síndrome de West decorrentes de asfixia perinatal, padrão interictal de hipsarritmia, no tratamento da síndrome de
corresponde à encefalopatia malformações cerebrais, caracterizado por atividade de West. Efeitos colaterais como
epiléptica mais frequente do alterações do desenvolvimento base alentecida e desorganizada, aumento da pressão arterial,
primeiro ano de vida, sendo cortical e complexo esclerose com descargas polimórficas de osteoporose, imunossupressão
definida pela clássica tríade: (a) tuberosa. O prognóstico é onda aguda, espícula, transitória e alterações de
crises epilépticas de espasmos; reservado, havendo severo poliespícula, espícula-onda e resposta adrenocortical podem
(b) atraso do DNPM e (c) atraso do DNPM e deterioro poliespícula-onda mescladas por limitar seu uso em algumas
padrão de hipsarritmia no EEG. cognitivo em 95% das crianças. ondas lentas de elevada crianças.
(10)(64) Uma das principais hipóteses amplitude (acima de 200 - Diversos estudos relatam
- Há predomínio no sexo fisiopatogênicas relaciona os microvolts), sendo marcante a eficácia de corticoides orais,
masculino, com incidência espasmos na síndrome de West ausência de concordância de como a prednisona, sendo
variando entre 1,4 e 2,5% das a um aumento na liberação do fase nos surtos de descargas e a considerado uma alternativa ao
epilepsias da infância e entre 2 e neuropeptídio-CRH ativação durante as fases iniciais ACTH. O risco de recorrência
3,5 em 10.000 nascidos vivos. (corticotrofina) no sistema do sono NREM. das crises após a suspensão do
(65) límbico e em regiões do tronco - São descritos cinco padrões corticoide oral é
encefálico. (10)(64) variantes da hipsarritmia: significativamente superior ao
(a) hipsarritmia com aumento da ACTH.
sincronização inter-hemisférica; - Vigabatrina é considerada FAE
(b) hipsarritmia assimétrica; de primeira linha,
(c) hipsarritmia com particularmente nos casos
anormalidades focais secundários à complexo
consistentes; esclerose tuberosa. Ácido
(d) hipsarritmia com episódios valproico e benzodiazepínicos
de atenuação de voltagem podem ser indicados em casos
generalizada; específicos.
(e) hipsarritmia com atividade - Em pacientes refratários às
lenta bilateral de elevada medicações habituais, podem ser
voltagem e assíncrona. A RNM- indicados topiramato,
E auxilia na definição etiológica lamotrigina, imunoglobulinas
da síndrome. (10)(65)(66) endovenosas e dieta cetogênica.
Epilepsia do lobo temporal - As crises epilépticas focais - O EEG de escalpo interictal - De modo geral, para as crises
mesial sem comprometimento da pode demonstrar anormalidade focais, a carbamazepina e
- Corresponde a consciência são bem típicas na não epileptiforme caracterizada oxcarbazepina são drogas de
aproximadamente 60% dos ELTM associada à esclerose por alentecimento intermitente primeira linha para crises
casos de ELT. Alta prevalência e mesial. nas faixas teta e delta sobre as parciais simples, parciais
elevada proporção de pacientes - O tipo de crise mais frequente regiões temporais mésio-basais. complexas ou secundariamente
com crises epilépticas refratárias se apresenta como uma - generalizadas.
ao tratamento medicamentoso. sensação de mal-estar Alguns pacientes apresentam - A fenitoína é classificada de
(69)(70)(71) epigástrico ascendente, EEG interictais repetidamente primeira linha para crises
algumas vezes caracterizada normais, não excluindo o parciais simples ou
como dor, opressão ou frio na diagnóstico de ELTM. Os secundariamente generalizadas.
região epigástrica ou torácica. registros ictais podem ser Clobazam, divalproato,
classificados quanto ao início lamotrigina e valproato são
- Os pacientes podem das crises eletrográficas em considerados de primeira linha
referir sensações dismnésticas focal, regional, lateralizado e como adjuvantes da
como deja vu ou jamais vu, ou bilateral ou difuso. carbamazepina e fenitoína. (76)
ainda medo súbito, e mais (77)(78)
raramente alucinações - O diagnóstico da esclerose
gustatórias e olfatórias. mesial pela RM se traduz por
diminuição do volume ou
- Crises autonômicas, como aumento do sinal hipocampal
piloereção, palpitação e nas seqüências ponderadas em
dilatação pupilar, podem T2, podendo ser acompanhados
também ocorrer. de modificação no formato e na
-O estrutura interna do hipocampo.
comprometimento da A atrofia hipocampal pode ser
consciência é caracterizado por unilateral ou bilateral, mais
graus variados de redução da comumente ela é assimétrica.
reatividade e responsividade ao - Anormalidades extra-
ambiente e aos vários tipos de hipocampais incluem, dentre
estímulos. Pode-se observar outras, a presença de atrofia ou
automatismos oroalimentares e aumento de sinal da amígdala, e
manuais com ocasional postura lobo temporal como um todo,
distônica contralateral ao com dilatação do corno temporal
hemisfério cerebral de origem do ventrículo lateral. (73)(74)(75)
das crises. (71)(72)(73)(74) (76)
• EME é uma crise epiléptica com duração maior ou igual a 30 minutos ou repetidas crises de duração menor,
porém sem recuperação da consciência entre as crises.
B) DIAGNÓSTICO
• O diagnóstico clínico não oferece dificuldades quando há manifestações motoras evidentes. Entretanto, sem
manifestações motoras ou com sinais motores sutis, o diagnóstico pode ser muito mais difícil.
• O EEG é fundamental para este diagnóstico e para seguimento, especialmente naqueles pacientes com EME
refratário e em coma induzido.
• É recomendado um exame clínico minucioso à procura de infecções sistêmicas, exame neurológico, avaliação
do fundo de olho, punção de veia calibrosa e coleta de material visando à realização dos seguintes exames
laboratoriais: hemograma, VHS, PCR, glicemia, dosagem de sódio, potássio, cálcio, fósforo e magnésio, dosagem
sérica de anticonvulsivantes (se o paciente fizer uso de tais drogas), função hepática e função renal, gasometria
arterial, urina rotina e screening toxicológico no sangue e na urina.
• Exames de imagem serão necessários para o diagnóstico de tumores, acidentes vasculares, abscessos,
hematomas etc. Havendo febre, evidência de otite, mastoidite ou infecção em quaisquer outras estruturas da face
ou rigidez de nuca, está indicada a realização de uma punção liquórica.
• Recomenda-se ainda solicitar eletrocardiograma ou o uso de monitor cardíaco e EEG tão logo seja possível.
C) tratamento
• As medidas gerais são tão importantes quanto as farmacológicas específicas. O paciente deve permanecer em
leito com grades ou proteção lateral para que se evitem as quedas e traumatismo craniano. Durante a fase clônica,
deve-se inserir uma cânula de Guedel entre os dentes, prevenindo mordeduras e lacerações na língua. Deve ser
constantemente aspirado para evitar aspiração e pneumonia aspirativa. Os sinais vitais e a temperatura devem ser
monitorados frequentemente e as vias aéreas, mantidas desobstruídas, de modo a garantir uma ventilação
adequada. Sempre que necessário, deve-se proceder à intubação orotraqueal e oxigenação para prevenir a
ocorrência de hipóxia.
• Na impossibilidade da obtenção rápida dos níveis de glicose sanguínea, sugerimos iniciar por infusão
intravenosa de 40 a 60 mL de glicose a 50% para adultos e 2 mL/kg de glicose 25% para crianças, ainda que haja
história de diabetes mellitus, com o duplo intuito de impedir lesões neuronais decorrentes da hipoglicemia e
interromper o EME se esta for sua etiologia. Caso ocorra a hiperglicemia, poderá ser facilmente corrigida após a
checagem dos resultados dos exames laboratoriais. Simultaneamente à infusão de glicose, devem ainda ser
injetados 100 a 250 mg de tiamina por via endovenosa (EV) em pacientes com história de etilismo, e de 50 a 200
mg de piridoxina em crianças menores de 18 meses de idade para o teste diagnóstico de uma condição metabólica
rara, porém tratável com piridoxina, a dependência de piridoxina.
• As drogas mais eficientes na fase aguda do EME são os benzodiazepínicos. Como não há disposição no Brasil
de lorazepam, que tem meia-vida mais longa e é a droga indicada para o tratamento inicial do EME, inicia-se com
diazepam. O diazepam é usado em bolus e sem diluição, inicialmente na dose de 10 mg em adultos (não
ultrapassar 40 mg) e 0,2 a 0,3 mg/kg em crianças, não excedendo a velocidade de infusão de 2 a 5 mg/min em
adultos e 1 mg/kg/min em crianças. Os principais efeitos colaterais são depressão da consciência e depressão
respiratória. O controle do EME pode ser obtido entre 1 e 10 minutos após a administração do diazepam.
• Quando o acesso venoso se encontra difícil, na sala de emergência, pode-se ministrar as DAE utilizando as vias
retal ou nasal. O diazepam pode ser aplicado por via retal, facilmente em crianças, sem diluição na dose de 0,3
mg/kg, infundindo através de um cateter bem fino de O2. Outra via prática em pronto-socorro é a nasal. O
midazolam pode ser instilado através de uma seringa de insulina em adultos (5-15 mg) e em crianças na dose de
0, 15 a 0,3 mg/kg.
• A fenitoína deve ser utilizada na sequência, mesmo que as crises já tenham sido abortadas, em função da alta
probabilidade de recidiva delas devido à curta meia-vida dos benzodiazepínicos. A dose de ataque de fenitoína
para adultos e crianças é de 15-20 mg/kg, em bolus, de preferência sem diluição. Caso seja necessário, pode ser
diluída em água destilada (AD), utilizando equipos de soro com filtros para a remoção dos grumos de
precipitação. A velocidade de infusão não deve ultrapassar 50 mg/min em adultos, 25 mg/min em crianças e 20
mg/min em pacientes idosos. Os principais efeitos colaterais são arritmias cardíacas e hipotensão arterial. O
controle do EME pode ser esperado entre 10 a 30 minutos da sua administração.
• Nos casos resistentes, pode-se utilizar doses adicionais de diazepam até a dose total de 30 a 40 mg em adultos e
0,4 a 0,5 mg/kg em crianças, enquanto se aguardam os efeitos da infusão da fenitoína. Em crianças, esta
sequência poderá ser modificada para fenobarbital em substituição à fenitoína, solução aquosa, e deve ser usado
na dose de 10 a 20 mg/kg EV com a velocidade de infusão de 100 mg/min. Em altas doses, os efeitos colaterais
esperados são hipotensão arterial, depressão respiratória e depressão da consciência.
REFERÊNCIAS
1. Banerjee PN, WA. H. Epilepsy: a comprehensive textbook 2008. Philadelphia: Wolters
Kluwer Lippincott Williams & Wilkins; 2008.
2. Kwan P, Brodie MJ. Early identification of refractory epilepsy. N Engl J Med. 2000; 342(5):
314-9.
3. Papadakis M, McPhee S, Rabow M. CURRENT Medical Diagnosis and Treatment. 59. ed.
California: Editora McGraw-Hill Education / Medical; 2019
4. Bertolucci P, Ferraz H, Félix E, Pedroso JL. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da
UNIFESP-EPM. 1. Ed. São Paulo: Editora Manole Ltda; 2011
5. Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. 2. ed. São Paulo: Editora
Atheneu; 2003.
6. Engel Jr. J. ILAE Commission Report A proposed wagnostic scheme for people with
epileptic seizures and with epilepsy: report of the TLAE Task Force on Classification and
Terrninology. Epilepsia. 2001; 42(6): 796-803.
7. Tassinari CA, Rubboli G, Michelucci R. The epilepsy syndromes of childhood. In: Hopkins
A, Shorvon S, Cascino G. Epilepsy. 2 ed. London: Chapman & Hall; 1995. p. 395-422.
8. Loiseau P, Duché B, Loiseau J. Classification of epilepsies and epileptic syndromes in two
different samples of patients. Epilepsia. 1991; 32(3): 303-9.
9. Miziara CSG. Epilepsias focais benignas. In: Epilepsia: infância e adolescência. São Paulo:
Lemos, 2003. p. 63-75.
10. Liberalesso P. Manual de Diagnóstico e Tratamento das Epilepsias na Infância. 1. ed.
Curitiba: UTP; 2010.
11. Caraballo R, Cersósimo R, Fejerman N. Panayiotopoulos syndrome: a prospective study of
192 patients. Epilepsia. 2007; 48(6): 1054-61.
12. Demirbilek V, Dervent A. Panayiotopoulos syndrome: video-EEG ilustration of a typical
seizure. Epileptic Disord. 2004; 6(2): 121-4.
13. Gastaut H. A new type of epilepsy: benign partial epilepsy of childhood with occipital
spikes-waves. Clin Electroencephalogr. 1982; 13(1): 13-22.
14. Caraballo R, Koutroumanidis M, Panayiotopoulos CP, Fejerman N. Idiopathic childhood
occipital epilepsy of Gastaut: a review and differentiation from migraine and other
epilepsies. J Child Neurol. 2009; 24(12): 1536-42.
15. Grosso S, Vivarelli R, Gobbi G. Late-onset childhood occipital epilepsy (Gastaut type): a
family study. Eur J Pediatr Neurol. 2008; 12(5): 421-6.
16. Costa JC, Nunes ML, Fiori RM. Convulsões no período neonatal. J Pediatr (Rio J). 2001;
77(Supl.1): S115-22.
17. Harvey AS, Berkovic SF, Wrennall JA, Hopkins IJ. Temporal lobe epilepsy in childhood:
clinical, EEG, and neuroimaging findings and syndrome classification in a cohort with new-
onset seizures. Neurology. 1997; 49(4): 960-8.
18. Bocti C, Robitaille Y, Diadori P, Lortie A, Mercier C, Bouthillier A, et al. The pathological
basis of temporal lobe epilepsy in childhood. Neurology. 2003; 60(2): 191-5.
19. Bourgeois BF. Temporal lobe epilepsy in infants and children. Brain Dev. 1998; 20(3): 135-
41
20. Duchowny M, Levin B, Jayakar P, Resnick T, Alvarez L, Morrison G, et al. Temporal
lobectomy in early childhood. Epilepsia. 1992; 33(2): 298-303.
21. Blume WT, Girvin JP, McLachlan RS, Gilrmore BE. Effective temporal lobectomy in
childhood without invasive EEG. Epilepsia. 1997; 38(2): 164-7.
22. Ng YT, McGregor AL, Wheless JW. Magnetic resonance imaging detection of mesial
temporal sclerosis in children. Pediatric Neurol. 2004; 30(2): 81-5
23. Kramer U, Carmant L, Mikati MA. Electroencephalographic discharges of temporal lobe
seizures in children and young adults. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1998; 107(5):
353-60
24. Mohamed A, Wyllie E, Ruggieri P, Kotagal P, Babb T, Hilbig A, et al. Temporal lobe
epilepsy due to hippocampal sclerosis in pediatric candidates for epilepsy surgery.
Neurology. 2001; 56(12): 1643-9.
25. Kotagal P, Tuxhorn I. Epilepsy surgery in tuberous sclerosis and other phakomatoses. In:
Paediatric epilepsy syndromes and their surgical treatment. London: John Libbey; 1997. p.
371-6
26. Danielsson S, Rydenhag B, Uvebrant P, Nordborg C, Olsson I. Temporal lobe resections in
children with epilepsy: neuropsychiatric status in relation to neuropathology and seizure
outcome. Epilepsy Behav. 2002; 3(1): 76-81.
27. Dlugos DJ. The early identification of candidates for epilepsy surgery. Arch Neurol. 2001;
58(10): 1543-6.
28. Rasmussen T, Olszewski J, Lloydsmith D. Focal seizures due to chronic localized
encephalitis. Neurology. 1958; 8(6): 435-45.
29. Thomas P, Zifkin B, Ghetau G, Delande O. Persistence of ictal activity after functional
hemispherectomy in Rasmussen syndrome. Neurology. 2003; 60(1): 140-2.
30. Bien CG, Granata T, Antozzi C, Cross JH, Dulac O, kurthen M, et al. Pathogenesis,
diagnosis and treatment of Rasmussen encephalitis. A European consensus statement. Brain.
2005; 128: 454-71.
31. Granata T, Gobbi G, Spreafico R, Vigevano F, Capovilla G, Ragona F, et al. Rasmussen’s
encephalitis: early characteristics allow diagnosis. Neurology. 2003; 60(3): 422-5.
32. Bien CG, Widman G, Urbach H, Sassen R, Kuczaty S, Wiestler OD, et al. The natural
history of Rasmussen’s encephalitis. Brain. 2002; 125(Pt 8): 1751-9.
33. Vining EPG. Rasmussen´s syndrome. In: Kotagal P, Luders HO (eds.). The epilepsies:
etiologies and prevention. San Diego: Academic Press; 1999. p. 283-88.
34. Piatt Jr JH, Hwang PA, Armstrong DC, Becker LE, Hoffman HJ. Chronic focal encephalitis
(Rasmussen syndrome): six cases. Epilepsia. 1988; 29(3): 268-79.
35. Terra-Bustamante VC, Machado HR, dos Santos Oliveira R, Serafini LN, Souza-Oliveira C,
Escorsi-Rosset S, et al. Rasmussen encephalitis: long-term outcome after surgery. Childs
Nerv Syst. 2009; 25(5): 583-9
36. Iannelli A, Guzzetta F, Battaglia D, Iuvone L, Di Rocco C. Surgical treatment of temporal
tumors associated with epilepsy in children. Pediatr Neurosurg. 2000; 32(5): 248-54.
37. Neubauer BA, Hahn A, Doose H, Tuxhorn I. Myoclonic-astatic epilepsy of early childhood-
-definition, course, nosography, and genetics. Adv Neurol. 2005; 95: 147-55.
38. Dulac O, Plouin P, Chiron C. “Benign” form of myoclonic epilepsy in children.
Neurophysiol Clin. 1990; 20(2): 115-29
39. Doose H, Gerken H, Leonhardt R, Völzke E, Völz C. Centrencephalic myoclonic-astatic
petit mal. Clinical and genetic investigation. Neuropediatrie. 1970; 2(1): 59-78.
40. Kelley SA, Kossoff EH. Doose syndrome (myoclonic-astatic epilepsy): 40 years of
progress. Dev Med Child Neurol. 2010; 52(11): 988-93.
41. Gibbs FA, Davis H, Lennox WG. The electro-encephalogram in epilepsy and in conditions
of impaired consciousness. Arch Neurol Psychiatry. 1935; 34(6): 1134-48.
42. Glauser TA, Cnaan A, Shinnar S, Hirtz DG, Dlugos D, Masur D, et al.; Childhood Absence
Epilepsy Study Group. Ethosuximide, Valproic Acid, and Lamotrigine in Childhood
Absence Epilepsy. N Engl J Med. 2010; 362(9): 790-9.
43. Rubboli G, Gardella E, Capovilla G. Idiopathic generalized epilepsy (IGE) syndromes in
development: IGE with absences of early childhood, IGE with phantom absences, and
perioral myoclonia with absences. Epilepsia. 2009; 50(suppl. 5): S24-S28.
44. Yacubian E. Proposta de Classificação das Crises e Síndromes Epilépticas. Correlação
Videoeletrencefalográfica. Rev Neurociências. 2002; 10(2): 49-65,
45. Camfield CS, Striano P, Camfield PR. Epidemiology of juvenile myoclonic epilepsy.
Epilepsy Behav. 2013; 28(Suppl 1): S15-7.
46. Jain S, Tripathi M, Srivastava AK, Narula A. Phenotypic analysis of juvenile myoclonic
epilepsy in Indian families. Acta Neurol Scand. 2003; 107(5): 356-62.
47. Murthy JM, Rao CM, Meena AK. Clinical observations of juvenile myoclonic epilepsy in
131 patients: a study in South India. Seizure. 1998; 7(1): 43-7.
48. Aicardi J, Goutières F. Encépalopathie myoclonique neonatal. Rev EEG Neurophysiol.
1978; 8: 99-101.
49. Siegler Z, Barsi P, Neuwirth M, Jerney J, Kassay M, Janszky J, et al. Hippocampal sclerosis
in severe myoclonic epilepsy in infancy: a retrospective MRI study. Epilepsia 2005; 46(5):
704-8.
50. Mulley JC, Nelson P, Guerrero S, Dibbens L, Iona X, McMahon JM, et al. A new molecular
mechanism for severe myoclonic epilepsy of infancy: exonic deletions in SCN1A.
Neurology. 2006; 67(6): 1094-5.
51. Chiron C, Dulac O. The pharmacologic treatment of Dravet syndrome. Epilepsia. 2011;
52(Suppl.2): 72-5.
52. Campos JG, González de Guevara L. Landau-Kleffner syndrome. J Pediatr Neurol. 2007;
5(2): 93-9.
53. Caraballo RH, Cejas N, Chamorro N, Kaltenmeier MC, Fortini S, Soprano AM. Landau-
Kleffner syndrome: a study of 29 patients. Seizure. 2014; 23(2): 98-104.
54. Guevara-Campos J, González de Guevara L. Sindrome de Landau-Kleffner: análisis de 10
casos en Venezuela. Rev Neurol. 2007; 44(11): 652-6.
55. Valvo G, Baldini S, Retico A, Rossi G, Tancredi R, Ferrari AR, et al. Temporal Lobe
connects regression and macrocephaly to autism spectrum disorders. Eur Child Adolesc
Psychiatry. 2016; 25(4): 421-9.
56. van Rijckevorsel K. Treatment of Lennox-Gastaut syndrome: overview and recent findings.
Neuropsychiatr Dis Treat. 2008; 4(6): 1001-19.
57. Camfiel PR. Definition and natural history of Lennox-Gastaut syndrome. Epilepsia. 2011;
52 (Suppl.5): 3-9.
58. Arzimanoglou A, French J, Blume WT, Cross JH, Ernst JP, Feucht M, et al. Lennox-Gastaut
syndrome: a consensus approach on diagnosis, assessment, management, and trial
methodology. Lancet Neurol. 2009; 8(1): 82-93.
59. Crumrine PK. Management of Seizures in Lennox-Gastaut syndrome. Pediatric Drugs.
2011: 13(2): 107-18.
60. Ferlazzo E, Nikanorova M, Italiano D, Bureau M, Dravet C, Calarese T, et al. Lennox-
Gastaut syndrome in adulthood: clinical and EEF features. Epilepsy Res. 2010: 89(2-3): 271-
7.
61. You SJ, Lee JK, Ko TS. Epilepsy surgery in a patient with Lennox-Gastaut syndrome and
cortical dysplasia. Brain Dev. 2007; 29(3): 167-70.
62. Engel Jr J. A proposed diagnostic scheme for people with epileptic seizures and with
epilepsy: report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia. 2001;
42(6): 796-803.
63. Engel Jr J. Report of the ILAE classification core group. Epilepsia. 2006; 47: 1558-68
64. West WJ. On a peculiar form of infantile convulsions. Lancet. 1841; 1: 724-5.
65. Commission on Pediatric Epilepsy of the International League Against Epilepsy: Workshop
on Infantile spams. Epilepsia. 1992; 33: 195.
66. Brunson KL, Eghbal-Ahmadi M, Baram TZ. How do the many etiologies of West syndrome
lead to excitability and seizures? The corticotropin releasing hormone excess hypothesis.
Brain Dev. 2001; 23(7): 533-8.
67. Wheless JW, Gibson PA, Rosbeck KL, Hardin M, O’Dell C, Whittemore V, et al. Infantile
spasms (West syndrome): update and resources for pediatricians and providers to share with
parents. BMC Pediatr. 2012; 12: 108.
68. Sharma NL, Viswanathan V. Outcome in West syndrome. Indian Pediatr. 2008; 45(7): 559-
63.
69. French JA, Williamson PD, Thadani VM, Darcey TM, Mattson RH, Spencer SS, et al.
Characteristics of medial temporal lobe epilepsy: I. Results of history and physical
examination. Ann Neurol. 1993; 34: 774-80.
70. Engel JJvNP, Rassmussen TB. Outcome with respect to seisures. In: Engel JJ, editor.
Surgical treatment of the epilepsy. New York: Raven Press; 1993. p. 609-21.
71. Babb TLB WJ. Pathological findings in epilepsy. In: Engel JJ, editor. Surgical treatment of
the epilepsy. New York: Raven Press; 1987: 511-4.
72. Kim WJ, Park SC, Lee SJ, Lee JH, Kim JY, Lee BI, et al. The prognosis for control of
seizures with medications in patients with mri evidence for mesial temporal sclerosis.
Epilepsia. 1999; 40: 290-3.
73. Stephen LJ, Kwan P, Brodie MJ. Does the cause of localisationrelated epilepsy influence the
response to antiepileptic drug treatment? Epilepsia. 2001; 42: 357-62.
74. Kobayashi E, Lopes-Cendes I, Guerreiro CA, Sousa SC, Guerreiro MM, Cendes F. Seizure
outcome and hippocampal atrophy in familial mesial temporal lobe epilepsy. Neurology.
2001; 56:166-72.
75. Andrade-Valença LP, Valenca MM, Ribeiro LT, Matos AL, Sales LV, Velasco TR, et al.
Clinical and neuroimaging features of good and poor seizure control patients with mesial
temporal lobe epilepsy and hippocampal atrophy. Epilepsia. 2003; 44: 807-14.
76. Williamson PD, French JA, Thadani VM, Kim JH, Novelly RA, Spencer SS, et al.
Characteristics of medial temporal lobe epilepsy: II. Interictal and ictal scalp
electroencephalography, neuropsychological testing, neuroimaging, surgical results, and
pathology. Ann Neurol. 1993; 34: 781-7.
77. Jackson GD, Connelly A, Duncan JS, Grunewald RA, Gadian DG. Detection of
hippocampal pathology in intractable partial epilepsy: Increased sensitivity with quantitative
magnetic resonance t2 relaxometry. Neurology. 1993; 43:1793-9.
78. Cendes F, Andermann F, Dubeau F, Gloor P, Evans A, Jones-Gotman M, et al. Early
childhood prolonged febrile convulsions, atrophy and sclerosis of mesial structures, and
temporal lobe epilepsy: An mri volumetric study. Neurology 1993; 43:1083-7.
79. Betting LE, Kobayashi E, Montenegro MA, Min LL, Cendes F, Guerreiro MM, Guerreiro
CAM. Tratamento de epilepsia: consenso dos especialistas brasileiros. Arq. Neuro-Psiquiatr.
São Paulo. Dez. 2003;61(4):1045-70.
80. Garzon Eliana. Estado de mal epiléptico. J. epilepsy clin. neurophysiol. 2008; 14(suppl.2):
7-11.
81. Garzon E, Fernandes RMF, Sakamoto AC. Analysis of clinical characteristics and risk
factors for mortality in human status epilepticus. Seizure. 2003; 12: 337-45.
82. Shorvon SD. Emergency treatment of status epilepticus. In: Shorvon SD (ed). Status
epilepticus: its clinical features and treatment in children and adults. Cambridge: Cambridge
University Press; 1994, 175-312.
83. Kälviäinen R. Status Epilepticus treatment guidelines. Epilepsia. 2007; 48(suppl 8): 99-102.
84. Kumar A, Thomas PB. Intravenous midazolam for treatment of refractory status epilepticus.
Crit Care Med. 1992; 20(4): 483-7.
85. Claasen J, Hirsch LJ, Emerson RG, Mauyer SA. Treatment of refractory status epilepticus
with pentobarbital, propofol, or midazolam: a systematic review. Epilepsia. 2002; 43(2):
146-53.
86. Mackenzie SJ, Kapadia F, Grant IS. Propofol infusion for control of status epilepticus.
Anaesthesia. 1990; 45: 1043-5.
87. McBurney J.W, Teiken PJ, Moon MR. Propofol for treating status epilepticus. J Epilepsy.
1994; 7(1): 21-2.
88. Rosseti AO. Which anesthetic should be used in the treatment of refractory status
epilepticus? Epilepsia 2007; 48(suppl 8): 52-5.
89. Kahriman M, Minecan D, Kutluay E, Selwa L, Beydoun A. Efficacy of topiramate in
children with refractory status epilepticus. Epilepsia. 2003; 44(10): 1353-6.
90. Towne AR, Garnett RN, Waterhouse EJ, Morton LD, DeLorenzo RJ. The use of topiramate
in refractory status epilepticus. Neurology. 2003; 60: 332-4.
91. Silva-Filho HF, Martinez JVL, Palmini A, Gutierrez LCV, Veedu HK. Uso do topiramato
em status epilepticus. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2004; 10(3): 159-61.
8.7
MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA
Autores:
Millena Nogueira Oliveira
Breno Araújo Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA: Possui um amplo
espectro de acometimento do neuroeixo, desde alterações císticas
até agenesias.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Dentre as malformações, os cistos de aracnoide são as
malformações císticas mais comuns do SNC. A sua incidência é 5
por 1.000 nascidos vivos. Corresponde a aproximadamente 1%
das lesões císticas intracranianas. Dentro das desordens da
neurolação, a mielomeningocele é a mais comum. Sua incidência
nos EUA é de 0,2-0,4/1000 nascidos vivos.
Craniossinostose
Encefalocele
Malformação de Dandy-Walker
Hamartomas hipotalâmicos
Síndrome de Klippel-Feil
Cisto neuroentérico
TRIGONOCEFALIA Metópica
PLAQUIOCEFALIA Lamboidea
- Craniorraquisquise
DEFEITOS DA
- Anencefalia
NEURULAÇÃO
- Mielomeningocele
Cranianas
- Microcefalia
- Hidranencefalia
- Holoprosencefalia
DEFEITOS
- Lissencefalia
PÓS-NEURULAÇÃO
- Porencefalia
- Agenesia de Corpo Caloso
- Síndrome de Dandy-Walker
- Macroencefalia (Megalencefalia)
Tipo Sutura acometida
- Diastemeatomielia
ESPINAIS - Diplomielia
- Hidromielia/Siringomielia
EXAME FÍSICO
O exame físico de paciente com malformações deve ser completo
(exame físico geral e segmentar), pois a maioria delas apresenta outros
distúrbios embriológicos subjacentes (ex.: cardiopatia, pneumopatias).
• Ectoscopia: Aumento da circunferência craniana, alterações no
crânio – craniossinostose, fácies sindrômicas (Síndrome de
Crouzon – disostose craniofacial; Síndrome de Apert –
acrocefalossindactilia; Síndrome de Kleeblattschadel), baixa
implantação dos cabelos, pescoço curto, macrocefalia,
microcefalia, sindactilia, pé torto.
EXAMES COMPLEMENTARES
• USG: Sinal do limão – presente em muitos casos de
mielomeningocele, avaliar a fraqueza de membros inferiores. Esse
sinal é caracterizado pela concavidade do osso frontal próximo à
sutura coronal devido à hipotensão liquórica. Presença de
ventriculomegalia avaliada por meio da medida do átrio do
ventrículo lateral maior que 10 mm. Presença do sinal da banana
(cerebelo em forma de banana) está presente quando há herniação
de estruturas da fossa posterior. Esses achados estão relacionados
com mielomeningocele.
• TC de Crânio
• RNM de Neuroeixo
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO DA HIDROCEFALIA
REFERÊNCIAS
1. McDowell MM, Blatt JE, Deibert CP, Zwagerman NT, Tempel ZJ, Greene S. Predictors of
mortality in children with myelomeningocele and symptomatic Chiari type II malformation.
J Neurosurg Pediatr. 2018; 21(6): 587-96.
2. Heuer GG, Moldenhauer JS, Scott Adzick N. Prenatal surgery for myelomeningocele:
review of the literature and future directions. Childs Nerv Syst. 2017; 33(7): 1149-55.
3. Cavalheiro S, da Costa MDS, Mendonça JN, Dastoli PA, Suriano IC, Barbosa MM, et al.
Antenatal management of fetal neurosurgical diseases. Childs Nerv Syst. 2017; 33(7):
1125-41.
4. Gaitanis J, Tarui T. Nervous System Malformations. Continuum (Minneap Minn). 2018
February; 24(CHILD NEUROLOGY): 72-95.
5. Bunduki V, Zugaib M. Atlas of Fetal Ultrasound. Nova York: Springer International
Publishing AG; 2018.
8.9
SEDAÇÃO E ANALGESIA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• Hodiernamente, é alarmante a quantidade de pacientes internados
na UTI, visto que esses estão internados por diversas doenças.
Todavia, o que é mais comum entre os pacientes na UTI é a
presença de emoções como ansiedade, nervosismo, medo, tristeza,
dentre outras. Ademais, na maioria das vezes, em consonância a
essas emoções, há também a dor física, em virtude de algum
trauma real ou potencial.
DEFINIÇÕES
a) Analgesia
• É a anulação da sensibilidade à dor sem provocar a cessação da
sensibilidade das demais propriedades sensitivas, e sem perda de
consciência.1
b) Sedação
CLASSIFICAÇÕES / TIPOLOGIAS
a) Sedação
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) Dor
• Ansiedade pré-operatória. 4
QUADRO CLÍNICO
a) DOR
A definição geral de dor é uma experiência sensorial e/ou emocional
desprazerosa, relacionada a uma lesão real independente de sua etiologia e
natureza ou a um dano potencial a algum tecido.6
O mecanismo neurofisiológico da dor está representado no Fluxograma
1.
• Dor aguda
• Surge com uma lesão ou injúria, e substâncias algogênicas são
produzidas localmente e dispersas, de modo que estimula as
terminações nervosas (nociceptores) de fibras amielínicas ou
mielínicas finas. Caso essa dor se prolongue por um determinado
período significativo, em virtude da ativação de diversas vias
neuronais nesse intervalo de tempo, faz com que ela se altere de
aguda para crônica. Isso em consonância com fatores biológicos,
psicológicos e sociais.6
• Dor crônica
• Não está relacionada com a permanência ou surgimento de
modificações neurovegetativas (sinais de alerta), já que ela não é
um sintoma, e sim a persistência da doença. Por exemplo, esse
tipo de dor não acaba após a cura da lesão.6
• De acordo com a literatura, a dor crônica perdura por um tempo
mínimo de dois meses.6
• Sua constância e sua duração prolongada são responsáveis por:
alterações no sono, em atividades físicas, baixa autoestima,
pensamentos negativos ou suicidas, modificações das relações
familiares, de trabalho e de lazer.6
A “dor é o quinto sinal vital”, uma vez que os quatro sinais vitais são: pulso, pressão arterial,
temperatura e frequência respiratória. Diante dessa consideração, percebe-se a real importância
da compreensão das dores dos pacientes, posteriormente, poderá executar a analgesia ou
sedação ideal para tal paciente.
• Escala unidimensional:
• Escala verbal numérica.
• Escala visual numérica (EVN).
• Escala visual analógica (EVA).
• Escala de faces.
• Escala de categoria de palavras (escala de descritores verbais).
• Escala comportamental.9
• Escala multidimensional:
• Inventário de McGill.
• Breve inventário de dor.
• Escala de Oswestry. 9
• Relaxada 1
EXPRESSÃO • Parcialmente contraída, como abaixamento palpebral 2
FACIAL • Completamente contraída (olhos fechados) 3
• Contorção facial 4
CONFORTO • Tolerante 1
COM O • Tosse; porém, tolerante à ventilação mecânica na maior parte do tempo 2
VENTILADOR • Brigando com o ventilador 3
MECÂNICO • Sem controle da ventilação 4
Tabela 2. Valores correspondentes às descrições da escala comportamental.
Fonte: Gouvêa.9
• Inventário De Mcgill
→ São descritores fragmentados em quatros grupos:
• Sensorial discriminativo.
• Afetivo motivacional.
• Avaliativo cognitivo.
• Miscelânea.12
• Escala de Oswestry
→ É uma ferramenta doença-específica a fim de avaliar as desordens da
coluna. São avaliados dez critérios com seis alternativas de resposta
para cada.13
→ Para cada seção de seis afirmações, o ponto total é 5. Caso a primeira
afirmação seja marcada, o ponto é 0. Caso seja o último, o ponto é 5.
As afirmações intermediárias são pontuadas conforme este ranque.
Caso mais de uma afirmação seja assinalada em cada seção, deve-se
escolher o maior ponto. Se todas as 10 seções forem completadas, a
pontuação é calculada da seguinte forma: se deu 16 pontos totais,
uma vez que são 50 os pontos possíveis, 16/50 x 100= 32%. Se uma
seção não for marcada, a pontuação é calculada da seguinte forma,
conforme o exemplo de pontuação máxima de 16: 16/40 X 100=
35,5%. O autor sugere arredondar a porcentagem para um número
inteiro.13
→ Leitura dos resultados:
• 0% a 20% - incapacidade mínima.
• 21%a 40% - incapacidade moderada.
• 41% a 60% - incapacidade intensa.
• 61% a 80% - aleijado.
• 81% a 100% - inválido.13
→ Leitura dos resultados no pós-operatório:
• O% a 20% - excelente.
• 21% a 40% - bom.
• 41% a 60% - inalterado.
• > 60% - piora.13
→ Seção 1: Intensidade da dor.
Sem dor no momento
→ Seção 3: Pesos.
Posso levantar coisas pesadas sem causar dor extra
A dor me impede de levantar coisas pesadas, mas dou um jeito, se estão bem posicionadas, e.g., numa mesa
A dor me impede de levantar coisas pesadas, mas dou um jeito de levantar coisas leves ou pouco pesadas se
estiverem bem posicionadas
→ Seção 4: Andar.
A dor não me impede de andar (qualquer distância)
Fico na cama a maior parte do tempo e tenho que me arrastar para o banheiro
→ Seção 6: De pé.
Posso ficar de pé pelo tempo que quiser sem dor extra
Posso ficar de pé pelo tempo que quiser, mas sinto um pouco de dor
→ Seção 7: Sono.
Meu sono não é perturbado por dor
A dor não altera minha vida social, exceto por impedir que faça atividades de esforço, como esportes etc.
TRATAMENTO
a) RECOMENDAÇÕES DE ANALGESIA NA UTI
• AINEs:
• Possuem atividade analgésica, antipirética, uricosúrica e anti-
inflamatória. São recomendados no tratamento de dores de
intensidade: pequena e média. Cabe ressaltar que esses fármacos
são pouco eficazes quando se trata de dores neuropática. Além
disso, os AINES amenizam a precisão do uso de opioides; em
decorrência disso, os efeitos colaterais relacionados ao uso de
opioides.17-21
• Ademais, os AINES podem ser mais tóxicos nos neonatos, de tal
maneira a provocar anormalidades hepáticas, renais, cardíacas
(retenção hídrica), intestinais e plaquetárias. Além disso, existe
relatos de casos sobre sangramento gastrointestinal e de
nefropatia e elevação de sangramento pós-operatório
(cetorolaco) em crianças.22
• É importante retratar que aspirina é pouco administrada para
neonatos, em virtude da sua duradoura eliminação, da chance de
afastamento da bilirrubina da albumina, da não agregação
plaquetária e da possibilidade de causar a Síndrome de Reye.23,24
A seguir na Tabela 13 está a representação dos AINES mais utilizados na
pediatria com suas respectivas doses.
Agente farmacológico Doses de administração
• Opioides:
• Em casos de dor intensa, principalmente pós-operatório ou pós-
traumatismo, os opioides potentes de ação curta são os agentes
mais recomendados e utilizados. Além disso, esses agentes são
muito eficazes em tratamentos de dores crônicas, como geradas
por neoplasias malignas, problemas de falcização e artrite
reumaoóide em crianças e adolescentes.25-30
• Podem ser utilizados em neonatos e ainda possuem muitas vias
possíveis de administração, tais como: VO, IM, IV, via retal,
transdérmica, sublingual, epidural, intratecal, intraventricular ou
intra-articular. A vantagem de se fazer IV durante a operação é
porque diminui a precisão de anestésicos e possibilita analgesia
pós-operatória.31-33
• A seguir na Tabela 14 está a representação dos principais
opioides utilizados em UTI e suas especificações.
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
Analgesia ++
MORFINA Intravenosa, subcutânea
Entre 2-4h Sem diluição Sedação + Depr. Resp
(2 MG) AMP 2 ML 2 mg/bolus
+
Analgesia +++
2 Frascos + NaCl
FENTANIL (50 MCG/ML) Entre Intravenosa 25 a 100 Sedação + Depr. Resp
0,9% 80 mL (10
FRASCO 10 ML 30-60 min mcg/ bolus +++
mcg/mL)
*Contexto-sensitivo
Analgesia +++
REMIFENTANIL Equivalente ao Intravenosa 0,2-0,7 1 frasco + SG 5%
Sedação + Depr.Resp
(2 MG/5 ML) período de infusão mcg/kg/h 95mL (4 mcg/mL)
+++
*contexto sensitivo = à medida que se aumenta o tempo de infusão contínua, aumenta-se a meia-vida.
FENTANIL 0,01 -
METADONA - 5
OXICODONA - 20
Obs.: A verificação de correspondência é feita considerando a mesma unidade de medida; por exemplo: 1. tramadol 100 mg
EV = tramadol 300 mg VO.14
Tabela 15. A correspondência de doses de opioides.
Fonte: Okada.15
3 Muito agitado Conduta agressiva, puxa ou remove tubos de cateteres, agressivo verbalmente
-3 Sedação moderada Movimentos e abertura ocular ao estímulo verbal, mas sem contato visual
• Escala de Ramsay
• É uma escala subjetiva usada para fins de analisar o grau de
sedação de pacientes, principalmente em UTI. Permite evitar
níveis de sedações exacerbados ou insuficientes.37
A seguir na Tabela 17 está a representação da Escala Ramsay.
Grau Descrição Do Paciente
GRAU 1 Ansioso e agitado
Analgesia 0
LORAZEPAM Enteral (EN), Via oral
Entre 12 - 16 horas Não se aplica Sedação + +
(1 MG) (VO)
Depr.Resp +
Analgesia 0
IV (Intravenosa), IM
MIDAZOLAM Sedação +++
Entre 1,5-2,5 horas (intramuscular) 1 a 5 Sem diluição
(15 MG) AMP 3 ML Depr. Resp +++
mg/bolus
*Contexto-sensitivo
Analgesia 0
Sedação +++
MIDAZOLAM 5 amp + NaCl 0,9%
Entre 1,5-2,5 horas IV, IM 1 a 5 mg/bolus Depr. Resp +++
(50 MG) AMP 10 ML 200mL (1 mg/mL)
Hipnótico Amnésia
Ansiolítico
Analgesia 0
DIAZEPAM Entre 14-60 horas IV 2 a 10 mg/ Bolus Sem diluição Sedação ++
Depr. Resp ++
Analgesia 0
CLONAZEPAM
Entre 19-42 horas EN, VO Não se aplica Sedação ++
2,5 MG/ML FRASCO
Depr. Resp +
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
*contexto sensitivo = à medida que se aumenta o tempo de infusão contínua, aumenta-se a meia-vida.
• Neurolépticos
A seguir na Tabela 19 está a representação dos principais neurolépticos
administrados em UTI.
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
IV (Intravenosa), IM Analgesia 0
HALOPERIDOL
Entre 14-26 horas (intramuscular) 2,5 a 20 Sem diluição Sedação +
(5 MG) AMP 1 ML
mg/ bolus Depr. Resp 0
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
HALOPERIDOL Analgesia 0
Enteral (EN), Via oral
(2 MG/ML) Entre 14-26 horas Não se aplica Sedação +
(VO)
FRASCO 20 ML Depr. Resp 0
Analgesia 0
RISPERIDONA 0,5 mg 2x/dia, podendo
Entre 3-20 horas Não se aplica Sedação +
(1, 2, 3 MG) progredir até 3 mg
Depr. Resp 0
Analgesia 0
OLANZAPINA* 2,5 mg 2x/dia, podendo
Entre 21-54 horas Não se aplica Sedação +
(2,5, 5, 10 MG) progredir até 20 mg/dia
Depr. Resp 0
• Alfa-2 agonistas
A seguir na Tabela 20 está a representação dos principais alfa-2-agonistas
administrados em UTI.
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
1 amp + 48 mL de
NaCl 0,9% em
DEXMEDETOMIDINA (200 Analgesia +
Entre Até Bomba de infusão
MCG) Sedação +
2 horas 1,4 mcg/kg/h contínua (BIC) ou
AMP 2 ML Depr. Resp 0
Bomba de Seringa
(BS) (0,4 mcg/mL)
• Outros sedativos
A seguir na Tabela 21 está a representação de outros sedativos
administrados em UTI.
Período de Meia- Vias de Administração
Drogas Solução Padrão Efeitos
Vida e Doses
Analgesia 0
Sem diluição em
PROPOFOL Sedação +++
IV (intravenosa) 50 a acesso central Acesso
(10 MG/ML) Entre 30-60 minutos Depr. Resp +++
100 mcg/kg/mi n periférico - diluir 1/1
AMP 10 ML Hipnótico
com SG5%
Amnésia
Analgesia 0
AMITRIPTILINA IV, IM 2-3 mg/kg/ bolus
Entre 10-50 horas Não se aplica Sedação +
(25 MG) COMPRIMIDOS 1-4 mg/kg/h
Depr. Resp 0
2 frascos +
IV Coma barbitúrico: 10
40 mL ABD Analgesia 0
THIONEMBUTAL (1 G) PÓ mg/kg/30mi n 5
Entre 5,5-26 horas (20 mL em cada Sedação +++
LIOFILIZADO mg/kg/3h Manutenção:
frasco) + NaCl 0,9% Depr. Resp +++
1-3 mg/kg/h
160 mL
PIC 0 ou -
PPC 0 ou -
CMRO2 0
FSC 0
PAM -
MORFINA
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC -
Sedação -
Analgesia +++
BENZODIAZEPÍNICO PIC 0 ou +
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC 0 ou --
PAM --
Agente Intensidade
Propriedade
Farmacológico de efeito
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia +
PIC 0 ou --
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC 0 ou --
PAM --
PROPOFOL
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia -
PIC --
PPC 0 ou -
CMRO2 -
FSC --
PAM --
BARBITÚRICO
Ação epiléptica +
Prevenção PIC +
Sedação ++
Analgesia -
CURARE PIC 0 ou -
PPC 0
CMRO2 0
FSC 0
PAM 0
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC +
Agente Intensidade
Propriedade
Farmacológico de efeito
Sedação +
Analgesia +
PIC 0 ou -
PPC 0
CMRO2 -
FSC -
PAM 0
ETOMIDATO
Ação epiléptica 0
Prevenção PIC +
Sedação +++
Analgesia -
PIC 0 ou +
PPC 0
KETAMINA CMRO2 0
FSC ++
PAM -
• Contraindicações da DIS:
• Em pacientes que estão usando bloqueadores neuromusculares.
• Em pacientes dependentes de drogas psicoativas, manifestações
de abstinência. Geralmente ocorre 6 horas após a interrupção.
• Em casos de uso para controlar convulsões e agitações.
• Em casos de isquemia do miocárdio anterior (24 horas).
• Em casos de elevação de pressão intracraniana.40
g) QUAIS SÃO AS MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS
POSSÍVEIS PARA REDUZIR O ESTRESSE E ANSIEDADE DOS
PACIENTES?
A seguir no Quadro 6 está a resposta da pergunta acima.
São as execuções de técnicas de relaxamento, como:
1. Musicoterapia;
2. Psicoterapia
Exemplos de procedimentos
Caso Descrição do tratamento
cirúrgicos relacionados ao caso
específico neurocirúrgico indicado
específico
REFERÊNCIAS
1. Oliveira CC, Maugin C, Oliveira ECF, Melo FDP, Silva FCA, Dias FEJ, et al. A dor e o
controle do sofrimento. Rev Psicofisiol. 1997; 13(1): 1-26
2. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 1.670/03. Sedação profunda só
pode ser realizada por médicos qualificados e em ambientes que ofereçam condições seguras
para sua realização, ficando os cuidados do paciente a cargo do médico que não esteja
realizando o procedimento que exige sedação. Diário Oficial da União. Jul 2003, Seção I,
Pg. 78
3. UFTM. Protocolo de sedação e analgesia: Unidade de terapia intensiva - Adulto. Uberaba:
Hospital De Clínicas; 2015.
4. Menezes MGV, Ribeiro CJN, Nascimento FS, Alves JAB, Lima AGCF, Ribeiro MCO. Dor
pós-operatória e analgesia em pacientes submetidos a pinçamento de aneurisma cerebral sem
ruptura. Rev Dor. 2017; 18(1): 27-31.
5. Bandeira RA, Gomes LO, Bezerra AJC, Duarte JA. Correlation between preoperative anxiety
and acute postoperative pain in elderly patients submitted to transvesical prostatectomy. Rev
Dor. 2017; 18(4): 291-7.
6. Sallum AMC, Garcia DM, Sanches M. Dolor agudo y crónico. Acta paul. enferm. 2012;
25(1): 150-4.
7. Lago P, Molon ME, Piva JPP. Abstinência e delirium em uti pediátrica. In: Piva JPP, Garcia
PCR. Medicina Intensiva Pediátrica. Rio de Janeiro: Editora Revinter; 2015. p. 1127-52.
8. Kraychetea DC, Sakata RK, Lannes LOC, Bandeira ID, Sadatsune EJ. Dor crônica
persistente pós-operatória: o que sabemos sobre prevenção, fatores de risco e tratamento?.
Rev Bras Anestesiol. 2016; 66(5): 505-12.
9. Gouvêa AL. Avaliação e mensuração da dor: Programa de educação continuada em
fisiopatologia e terapêutica da dor. Instituto Central HCFMUSP. 2016. 36 p.
10. Drummond JP. Dor aguda: Fisiopatologia, clínica e terapêutica. São Paulo: Atheneu; 2000.
11. Ministério da Saúde (PT). Direcção-Geral da Saúde. Circular Normativa nº 9/DGCG de
14/6/2003. A Dor como 5º sinal vital. Registo sistemático da intensidade da Dor. Lisboa:
Ministério da Saúde; 2003.
12. Martinez J E, Grassi DC, Marques LG. Análise da aplicabilidade de três instrumentos de
avaliação de dor em distintas unidades de atendimento: ambulatório, enfermaria e urgência.
Rev Bras Reumatol. 2011; 51(4): 299-308.
13. Ghizoni MF, Sakae TM, Felippe EBA, Souza BC, Danielli L, Padão DL. Application of the
Oswestry Scale in patients with degenerative lumbar spine underwent arthrodesis. Arquivos
Catarinenses de Medicina: AMB; 2019.
14. Barros JEF. A epidemiologia do coma e alterações do estado de consciência no Vale do
Paraíba. São Paulo: FAPESP; 2009.
15. Okada M, Teixeira MJ, Miyaji KT. The treatment of pain in pediatrics. Rev Med (São
Paulo). 2001; 80(ed esp Pt 1): 135-56.
16. SPDM. Protocolo: Protocolo de sedação e Analgesia. Hospital São Paulo; 2017.
17. Ready LB, Edwards WT. Management of acute pain: a pratical guide. Seattle: IASP
Publications; 1992.
18. Ding W, White PF. Comparative effects of ketorolac, desocine and fentanyl as adjuvants
during outpatient anesthesia. Anesthes Analg. 1992; 75: 556-71.
19. Insel PA. Analgesic-antipyretics and antiinflamatory agents; drugs employed in the
treatment of rheumatoid arthritis and gout. In: Gilman AF, Rall TW, Nies AS, Taylor P.
(eds). The Pharmacological basis of therapeutics. 8.ed. New York: Pergamon Press; 1990. p.
638-81.
20. Moote C. Efficacy of nonsteroidal anti-inflammatory drugs in the management of
postoperative pain. Drugs. 1992; 44(Suppl. 5): 14-30.
21. Vetter T, Heiner E. Intravenous ketorolac as an adjuvant to pediatric patient-controlled
analgesia with morphine. J Clin Anesth. 1994; 6: 110-3.
22. Judkins JH, Dray TG, Hubbell RN. Intraoperative ketorolac and posttonsillectomy bleeding.
Arch. Otolaryngol Head Neck Surg. 1996; 122: 937-40.
23. Baral J. Aspirin and Reye syndrome. Pediatrics. 1988; 82: 135-6.
24. Hurwitz ES, Barrett MJ, Bregman D, Gunn WJ, Pinsky P, Schonberger LB, et al. Public
Health Service Study of Reye’s Syndrome and Medications. JAMA. 1987; 257: 1905-11.
25. Bonica JJ. Postoperative pain. In: Bonica JJ. (ed). The management of pain. 2. ed.
Philadelphia: Lea & Febiger; 1990. p. 461-80.
26. Jaffe JH, Martin WR. Opioid analgesics and antagonists. In: Gilman AF, Rall TW, Nies AS,
Taylor P. (ed). The pharmacological basis of therapeutics. 8. ed. New York: Pergamon Press;
1990. p. 485-521.
27. Joshi GP. Postoperative pain management. Int Anesthesiol Clin. 1994; 32: 113-26.
28. Modig J. Respiration and circulation after total hip replacement surgery. Acta Anaesthesiol.
Scand., 20:225, 1976.
29. Shapiro BS. The management of pain in sickle cell disease. Pediatr Clin North Am. 1989;
36: 1029-45.
30. Collins JJ, Berde CB. Management of cancer pain in children. In: Pizzo PA, Poplack DG.
(ed). Principles and practice of pediatric oncology. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1997. p.
1183-99.
31. Leavens ME, Hill CS Jr, Cech DA, Weyland JB, Weston JS. Intrathecal and intraventricular
morphine for pain in cancer patients: initial study. J Neurosurg. 1982; 56: 241-5.
32. Joshi GP, McCarroll SM, Cooney CM. Intra-articular morphine for pain relief after knee
arthroscopy. J. Bone Joint Surg. 1992; 74-B: 749-51.
33. McGrath PA, Cohen DE, Foweler-Kerry S, McIntoshi N. Controlling children’s pain: a
practical approach to assessment and management. In: Campbell JN. (ed). Pain and updated
review. Seatle: IASP Committee on Refresher Courses; 1996. p. 157-70.
34. Ely E, Truman B, Shintani A, Thomason JW, Wheeler AP, Gordon S, et al. Monitoring
Sedation Status Over Time in ICU Patients: Reliability and validity of the Richmond
Agitation-Sedation Scale (RASS). JAMA. 2003; 289(22): 2983-91.
35. Namigar T, Serap K, Esra AT, Özgül O, Can AO, Aysel AK, et al. Correlação entre a escala
de sedação de Ramsay, escala de sedação-agitação de Richmond e escala de sedação-
agitação de Riker durante sedação com midazolam-remifentanil. Rev Bras Anestesiol. 2017;
67(4): 347-54.
36. Strøm T, Martinussen T, Toft P. A protocol of no sedation for critically ill patients receiving
mechanical ventilation: a randomised trial. Lancet. 2010; 375(9713): 475-80.
37. Barr J, Fraser GL, Puntillo K, Ely EW, Gélinas C, Dasta JF, et al. Clinical practice
guidelines for the management of pain, agitation, and delirium in adult patients in the
intensive care unit. Crit Care Med. 2013; 41(1): 263-30.
38. Kress JP, Pohlman AS, O’Connor MF, Hall JB. Daily interruption of sedative infusions in
critically ill patients undergoing mechanical ventilation. N Engl J Med. 2000; 342(20): 1471-
7.
39. Rabelo NN. Análise crítica da sedação e analgesia no traumatismo crânio-encefálico grave.
São Paulo: Instituto de ensino e pesquisa do Hospital Sírio Libanês; 2014.
40. Nassar Jr AP, Park M. Sedation protocols versus daily sedation interruption: a systematic
review and meta-analysis. Rev Bras Ter Intensiva. 2016; 28(4): 444-51.
41. Teixeira MJ. Dor crônica. In: Nitrini R. (ed). Condutas em neurologia - 1989-1990. São
Paulo: Clínica Neurológica; 1989. p. 143-8.
42. Teixeira MJ. A lesão do trato de Lissauer e do corno posterior da substância cinzenta da
medula espinal e a estimulação elétrica do sistema nervoso central para o tratamento da dor
por desaferentação. [Tese -Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo; 1990.
8.10
COMA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• Infelizmente, é enorme a quantidade de pessoas que entram no
estado de coma, seja porque sofreu acidente, por infecção, efeito
tóxico de substâncias, dentre outras causas.
CONCEITO/DEFINIÇÃO GERAL
a) Coma
EPIDEMIOLOGIA
O coma é um dos distúrbios neurológicos mais recorrentes em pacientes
que chegam aos Prontos-Socorros.2
• Coma estrutural
• Lesão supratentorial unilateral, causada por:
→ Tumor.
→ Abcesso.
→ Trauma cranioencefálico.
→ Infarto extenso.
→ Hematomas, em destaque o subdural.5
• Lesão supratentorial bilateral, causada por:
→ Encefalite.
→ Gliomatose.
→ Trauma cranioencefálico.
→ Hidrocefalia.
→ Infarto talâmico bilateral.5
• Lesão infraorbital, causada por:
→ Tumor.
→ Oclusão da artéria basilar.
→ Acidente vascular encefálico.
→ Mielinólise pontina.
→ Hemorragia pontinha.5
• Coma metabólico
• Desordens metabólicas, causadas por:
→ Hipoglicemia.
→ Hiperglicemia.
→ Hiponatremia.
→ Hipernatremia.
→ Hipercalemia.5
• Desordens orgânicas, causada por:
→ Uremia.
→ Encefalopatia hepática.
→ Hipercapnia.
→ Hipotireoidismo.
→ Doença de Addison.5
• Agentes exógenos, causados por:
→ Drogas.
→ Inalação de gases.
→ Hipotermia.5
• Causas psiquiátricas, causadas por:
→ Coma psicogênico.5
b) ANATOMIA ASSOCIADA AO COMA
c) FISIOPATOLOGIA
• O nível de consciência é subordinado à ativação do córtex pelo
Sistema Reticular Ativador Ascendente. Dessa maneira, o
comprometimento do estado de consciência surge com, pelo
menos, disfunção do SARA, disfunção do córtex cerebral ou as
duas disfunções. A fim de que o córtex comprometido gere
redução do nível de consciência, é essencial que a área de
abrangência da lesão seja difusa nos dois hemisférios cerebrais.
Distúrbios cognitivos específicos como afasia, apraxia e agnosia
são decorrentes de lesões isoladas.7
A seguir está representado na Figura 1 o mecanismo que desencadeia o
coma.
QUADRO CLÍNICO
• O coma é um estado em quse o paciente é incapaz de responder
aos estímulos externos, além de que não pode ou há dificuldade
para despertar o paciente, uma vez que houve comprometimento
em relação à consciência, de tal modo que não responde ou há uma
dificuldade significativamente expressiva. Assim, percebem-se
alterações no nível de consciência (grau de alerta comportamental)
e do conteúdo de consciência (humor, memória, crítica e
linguagem), sendo essas duas alterações as que são levadas em
conta durante a análise clínica.6
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O coma é caracterizado como uma apresentação clínica em que o
paciente tem ausência de vigília e do estado consciente de si e do ambiente
externo. O coma possui muitas etiologias; sendo assim, há a necessidade de
excluir algumas delas, conforme o contexto do caso clínico, para identificar
se a causa é neurológica ou tóxico-metabólica. Além disso, os outros
critérios para diagnosticar um paciente com coma é:
a) História natural e patológica pregressa do paciente:
2 Olhos fechados mas abrem com estímulo auditivo forte (loud voice)
→ Resposta motora:
A seguir na Tabela 2 está representado a resposta motora da escala Four.
4 Faz sinal de OK com as mãos, fecha o punho, ou “sinal de paz”
3 Localiza a dor
→ Respiração:
• Padrão respiratório. 13
• Coma estrutural
• É qualificado por lesões, as quais comprimem, movem ou
desfazem o SRAA.5
• Coma metabólico
• É qualificado por uma disfunção cerebral difusa mediante um
comprometimento dos processos metabólicos ou orgânicos do
cérebro.5
Além dessa classificação, o coma ainda se diferencia em:
TRATAMENTO
O tratamento deve ser individualizado para cada etiologia. Contudo, há
informações que devem ser tratadas:
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
• Foi trazida pelo filho que mora com ela. Após conversa com o
filho dela, foi adquirida uma história patológica pregressa de
doença coronariana, diabetes mellitus do tipo 2 e depressão. Ela
usa Metformina, Amitriptilina, Venlafaxina e AAS.
REFERÊNCIAS
1. Silva SC, Silveira LM, Alves LMM, Mendes IAC, Godoy S. Percepções reais e ilusórias de
pacientes em coma induzido. Rev Bras Enferm. 2019; 72: 818-24.
2. Pires HHG. Sedação, analgesia e delirium no adulto: Protocolo Núcleo De Protocolos
Assistenciais Multiprofissionais. Uberaba: HC-UFTM/Ebserh; 2018.
3. Vieira AM, Parente EA, Oliveira LS, Queiroz AL, Bezerra ISAM, Rocha HAL.
Characteristics of deaths of hospitalized patients in Intensive Care Unit of a tertiary hospital.
J Health Biol Sci. 2019; 7(1): 26-31.
4. Levy DE, Caronna JJ, Singer BH, Lapinski RH, Frydman H, Plum F. Predicting outcome
from hypoxic-ischemic coma. JAMA. 1985; 253(10): 1420-6.
5. Andrade AF, Carvalho RC, Amorim RLO, Paiva WS, Figueiredo EG, Teixeira MG. Coma
and other consciousness disorders. Rev Med (São Paulo). 2007;86:123-31.
6. COMA E MORTE ENCEFÁLICA - PDF Download grátis [Internet]. Disponível em:
https://docplayer.com.br/14086511-Coma-e-morte-encefalica.html.
7. Stavale M. Bases da terapia intensiva neurológica: Fisiopatologia e Princípios terapêuticos, 2.
ed. Vila Mariana: Editora Santos; 2011.
8. Rabelo NN, Rabelo NN, Brito JS, Tallo FS. Manejo do coma na sala de emergência. In:
Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Lopes AC, Tallo FS, Lopes RD, Vendrame LS
(orgs). PROURGEM Programa de Atualização em Medicina de Urgência e Emergência:
Ciclo 12. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2019. p. 11–41. (Sistema de Educação
Continuada a Distância, v. 3).
9. Misas MM, Milá ZS, Expósito OI. Coma. Medisur. 2006; 11(1): 45-51.
10. Grille P. Alteraciones del estado de conciencia en la sala de emergencia. Arch Med Interna.
2013; 35(3): 85-92.
11. Traub SJ, Wijdicks EF. Initial diagnosis and management of coma. Emerg Med Clin North
Am. 2016; 34(4): 777-93.
12. Wolf CA, Wijdicks EF, Bamlet WR, McClellanel RL. Further validation of the Four score
coma scale by intensive care nurse. Mayo Clin Proc. 2007; 82(4): 435-8.
13. Sanvito WL, Pinto LR, Gagliardi RJ, Guedes MBLS. Avaliação prognóstico-evolutiva dos
doentes em coma mediante os reflexos oculares. Arq Neuro-Psiquiatr. 1978; 36(2): 120-6.
14. Calderaro M, Adoni T. Coma e alteração no estado de consciência. MedicinaNet. [Internet];
2008. Disponível em:
https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1174/coma_e_alteracao_no_estado_de_
consciencia.htm
15. Berger JR. Clinical approach to stupor and Coma. In: Neurology in clinical practice. 4. ed.
Philadelphia: Butterworth Heinemann; 2004.
16. Laranjeira R, Nicastri S, Jerônimo C, Marques AC. Consenso sobre a Síndrome de
Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento. Braz J Psychiatr. 2000; 22(2): 62-71.
17. Fernández-Carrión F. Síndrome de abstinéncia en UCIP. Madrid: Sociedad y Fundación
Española de Cuidados Intensivos Pediátricos; 2013.
18. Frank LS, Harris SK, Soetenga DJ, Amling JK, Curley MAQ. The Withdrawal Assessment
Tool-1 (WAT-1): an assessment instrument for monitoring opioid and benzodiazepine
withdrawal symptoms in pediatric patients. Pediatr Crit Care Med. 2008; 9(6): 573-80.
19. Harris J, Ramelet AS, van Dijk M, Pokorna P, Wielenga J, Tume L, et al. Clinical
recommendations for pain, sedation, withdrawal and delirium assessment in critically ill
infants and children: an ESPNIC position statement for healthcare professionals. Intensive
Care Med. 2016 Jun;42(6):972-86.
20. Lago P, Molon ME, Piva JPP. Abstinência e delirium em uti pediátrica. In: Piva JPP, Garcia
PCR. Medicina Intensiva Pediátrica. Rio de Janeiro: Editora Revinter; 2015. Cap 50, p.
1127-52.
21. Souza N. Abstinência, tolerância e dependência às drogas. In: Carvalho WB, Souza NS,
Souza RL. Emergência e terapia intensiva pediátrica. São Paulo: Atheneu; 2004. Cap 94. p.
701-3.
22. Ista E, de Hoog M, Tibboel D, Duivenvoorden HJ, van Dijk M.Psychometric evaluation of
the Sophia Observation withdrawal symptoms scale in critically ill children. Pediatr Crit
Care Med. 2013; 14(8): 761-9.
8.11
DELIRIUM
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Maycon Cristian Gomes de Paula
Isadora Dias Moreira
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
• O termo delirium foi vagamente descrito por Hipócrates por volta
de 460-366 a.C, sendo um dos primeiros transtornos neurológicos
conhecidos.3
CONCEITO/DEFINIÇÃO GERAL
a) DELIRIUM
Generalização Personalização
CLASSIFICAÇÕES / TIPOLOGIAS
a) Delirium subsindrômico
• Esse tipo pode ser visto em diversos cenários, até após a alta
hospitalar.6,7
Obs.: Segundo alguns autores, como Jackson et al, reconhecem apenas a
existência de dois subtipos psicomotores de delirium, o hiperativo e o
hipoativo.3,13,14
EPIDEMIOLOGIA
• Acredita-se que o número de casos seja subdiagnosticado por dois
motivos:
• falta de um processo fisiopatológico claro;3
• lentidão de muitos profissionais em aplicar métodos diagnósticos
validados.3
• Não é uma condição comum, sendo que entre 30%-40% dos casos
é reversível. Entretanto, acarreta grandes despesas aos serviços de
saúde, pois aumenta a debilidade e a perda de função, bem como a
morbimortalidade dos pacientes:
• demanda um custo anual de $164 bilhões.3
• A prevalência varia entre 9% e 80%. Dependendo da alocação do
paciente, as taxas mais baixas são encontradas no ambiente
ambulatorial (apenas 2%).15
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ETIOLOGIA
Encefalopatias tóxico-metabólicas
Crises epilépticas
• Drogas
• Status cognitivo • Abuso de álcool
• Demência • múltiplas drogas psicoativas
• Declínio cognitivo • terapia com múltiplas drogas
• História de delirium
• Depressão
• Morbidades coexistentes
• Status funcional • Doença grave
• Dependência funcional • Múltiplas condições clínicas coexistentes
• Imobilidade • Doença hepática ou renal crônicas
• Nível de atividade baixo • Acidente Vascular Cerebral (AVC)
• História de quedas • Doença neurológica
• Distúrbios metabólicos
• Fratura ou trauma
• Doença terminal
• Prejuízo sensorial • Infecção pelo HIV
• Déficit visual
• Déficit auditivo
• Doenças intercorrentes
• infecções
• complicações iatrogênicas
• Drogas
• hipóxia
• sedativos hipnóticos
• choque
• narcóticos
• febre ou hipotermia
• drogas anticolinérgicas
• anemia
• tratamento com múltiplas drogas
• desidratação
• déficit nutricional
• alterações metabólicas
• Ambiente
• admissão ao CTI
• restrição motora
• uso de sonda vesical • Privação de sono prolongada
• múltiplos procedimentos
• dor
• estresse emocional
• álcool • sedativos
• cocaína • opioides
• alucinógenos • fenciclidina e associadas
• canabinoides • hipnóticos e ansiolíticos
• anfetaminas e relacionadas • demais substâncias inalantes
• anfetaminas e associadas
• álcool (Delirium Tremens)
• sedativos
• demais substâncias
• hipnóticos e ansiolíticos
• analgésicos • antimicrobianos
• antiasmáticos • cardiovasculares
• anestésicos • antiparkinsonianos
• anti-histamínicos • corticosteroides
• anti-hipertensivos • relaxantes musculares
• anticolinérgicos (in. psicotrópicos) • anticonvulsivantes
b) FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas gerais e específicas de cada tipo de delirium
estão sintetizadas no quadro 12.
Delirium
• Início agudo e flutuações nas alterações de atenção e consciência
• Desorientação
• Déficit de memória
• Distúrbios do ciclo circadiano
• Perturbação perceptiva (vê o desconhecido como conhecido).
• Alteração do humor
OBS.:
• As manifestações se diferenciam, a depender da forma de delirium. Apesar de existir a classificação em todos os
subtipos citados no início do capítulo, grande parte dos autores classificam esse distúrbio apenas em hipoativo,
hiperativo e misto.
Delirium hipoativo
• Letargia
• Redução da função psicomotora
• Diminuição da motilidade
• Alteração do apetite
• Perda da concentração
• Distúrbio do sono
OBS.:
• É comum passar despercebido pelos cuidadores e médicos
• Subtipo catatônico
• É uma apresentação extrema dos sinais e sintomas da forma hipoativa
Delirium hiperativo
OBS.:
• Raramente passa despercebido pelos cuidadores e médicos
• Subtipo catatônico
• É a manifestação extrema da forma hiperativa
• Relacionado ao uso de fármacos simpaticomiméticos
• Pode evoluir em síndrome hipermetabólica e óbito
Delirium misto
• História completa.
• obtida por entrevista com familiares, cuidadores e amigos.
• auxilia a distinguir distúrbio mental de delirium.3,19,20
• Exame do estado mental. 3,19,20
PREVENÇÃO DE DELIRIUM
Há estudos que demonstram que a abordagem multifatorial com
fundamento de identificar e controlar os fatores de risco para o delirium
podem reduzir os casos dessa doença em cerca de 30 a 40%. A prevenção é
fragmentada em não farmacológica e farmacológica.10,11
a) Não farmacológica
• analgésicos.10-13
TRATAMENTO
• A abordagem terapêutica do delirium possui como propósito
central o tratamento tanto dos sintomas quanto da etiologia
subjacente ao delirium.
a) CURIOSIDADE
CONCLUSÃO
• A compreensão da etiopatogênese de delirium é de extrema
importância para os médicos, a fim de proporcionar um
diagnóstico diferencial exato ao paciente e implementar a melhor
proposta terapêutica a ele.
REFERÊNCIAS
1. Cummings JL, Mega MS. Neuropsychiatry and behavioral neuroscience. New York: Oxford
University Press; 2003.
2. Burns A, Gallagley A, Byrne J. Delirium. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2004; 75: 362-7.
3. Setters B, Solberg LM. Delirium. Prim Care. 2017;44(3):541-559.
doi:10.1016/j.pop.2017.04.010. Moreira Filho AA, Oliveira VK. Diferenças entre delírio,
delirium e delirium tremens. ABCMED. [Internet]; 2019. Disponível em:
https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-
doencas/1332248/diferencas+entre+delirio+delirium+e+delirium+tremens.htm.
4. Caine ED, Grossman H, Lyness JM. Delirium, dementia, and amnestic and other cognitive
disorders and mental disorders due to a general medical condition. In: KaplanHI, Sadock BJ.
(eds). Comprehensive textbook of psychiatry. 6th ed. Baltimore: William & Wilkins; 1995.
p. 705-44.
5. Peterson J, Pun BT, Dittus RS, Thomason JW, Jackson JC, Shintani AK, et al. Delirium and
its motoric subtypes: a study of 614 critically ill patients J Am Geriatr Soc. 2006; 54(3):
479-84.
6. Peritogiannis V, Bolosi M, Lixouriotis C, Rizos DV. Recent insights on prevalence and
correlations of hypoactive delirium. Behav Neurol. 2015; 2015: 416792.
7. Francis J, Young GB. Diagnosis of delirium and confusional states. UpToDate. [Internet];
2015. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/diagnosis-of-delirium-and-
confusional-states.
8. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders.
5th ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 2013.
9. Francis J. Delirium and acute confusional states: Prevention, treatment, and prognosis.
UpToDate. [Internet]; 2014. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/delirium-
and-acute-confusional-states-prevention-treatment-and-prognosis.
10. National Institute for Health and Care Excellence - NICE. Delirium: prevention, diagnosis
and management (CG103). [Internet]; 2020. Disponível em:
https://www.nice.org.uk/guidance/cg103/resources/delirium-prevention-diagnosis-and-
management-pdf-35109327290821.
11. Maldonado JR. Delirium pathophysiology: An updated hypothesis of the etiology of acute
brain failure. Int J Geriatr Psychiatry. 2018; 33(11): 1428-57.
12. Wilber ST, Ondrejka JE. Altered Mental Status and Delirium. Emerg Med Clin North Am.
2016; 34(3): 649-65.
13. Jackson TA, Wilson D, Richardson S, Lord JM. Predicting outcome in older hospital
patients with delirium: a systematic literature review. Int J Geriatr Psychiatry. 2016; 31(4):
392-9.
14. Frontera JA. Metabolic encephalopathies in the critical care unit. Continuum (Minneap
Minn). 2012; 18(3): 611-39.
15. Pisani MA, Murphy TE, Van Ness PH, Araujo KLB, Inouye SK. Characteristics associated
with delirium in older patients in a medical intensive care unit. Arch Intern Med. 2007; 167
(15): 1629-34.
16. Gonçalves M. Psiquiatria na Prática Médica: Delirium. Psychiatry on line Brasil. 2015; 20:
1-5.
17. Inouye SK, Bogardus ST Jr, Williams CS, Leo-Summers L, Agostini JV. The role of
adherence on the effectiveness of nonpharmacologic interventions: evidence from the
delirium prevention trial. Arch Intern Med. 2003; 163: 958-64.
18. Wong CL, Holroyd-Leduc J, Simel DL, Straus SE. Does This Patient Have Delirium? Value
of Bedside Instruments. JAMA. 2010; 304(7): 779-86.
19. Lagoeiro B. Como realizar diagnóstico de delirium. Portal Pebmed. [Internet]; 2018.
Disponível em: https://pebmed.com.br/como-realizar-o-diagnostico-de-delirium/.
20. Sharon K. Inouye, Sidney T. Bogardus, Jr, Peter A. Charpentier LL-S. A Multicomponent
Intervention to Prevent Delirium in Hospitalized Older Patients. N Engl J Med. 1999; 340:
669-76.
21. Hshieh TT, Yue J, Oh E, Puelle M, Dowal S, Travison T, Inouye SK. Effectiveness of multi-
component non-pharmacologic delirium interventions: A Meta-analysis. JAMA Intern Med.
2015; 175(4): 512-20.
22. Zdanys KF, Steffens DC. Sleep Disturbances in the Elderly. Psychiatr Clin North Am. 2015;
38(4): 723-41.
23. Radtke FM, Franck M, Lendner J, Krüger S, Wernecke KD, Spies CD. Monitoring depth of
anaesthesia in a randomized trial decreases the rate of postoperative delirium but not
postoperative cognitive dysfunction. Br J Anaesth. 2013; 110(1): 98-105.
24. Yu A, Wu S, Zhang Z, Dening T, Zhao S, Pinner G, et al. Cholinesterase inhibitors for the
treatment of delirium in non-ICU settings. Cochrane Database Syst Rev. 2018; 6(6):
CD012494.
25. Nagaraj G, Burkett E, Hullick C, Carpenter CR, Arendts G. Is delirium the medical
emergency we know least about? EMA - Emerg Med Australas. 2016; 28(4): 456-8.
26. Overshott R, Vernon M, Morris J, Burns A. Rivastigmine in the treatment of delirium in
older people: A pilot study. Int Psychogeriatrics. 2010; 22(5): 812-8.
27. Huang J. Delirium. Manual MSD Versão para Profissionais de Saúde. [Internet]; 2018.
Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-
neurol%C3%B3gicos/del%C3%ADrio-e-dem%C3%AAncia/delirium.
8.12
ENCEFALOPATIA METABÓLICA
Autores:
Maycon Cristian Gomes de Paula
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Isadora Dias Moreira
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
• A encefalopatia metabólica refere-se a alguma doença encefálica
que modifica a função do encéfalo devido a algum distúrbio ou
doença metabólica, ou seja, sem envolver alteração estrutural
propriamente dita.1-3
• Causa
- Hipertensão arterial maligna (HAM)
- Elevação súbita da pressão com disfunção de órgão-alvo.
- (PAS ≥ 180 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg)
• Normalmente é reversível.
Encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) 6-10
• Causa
- Isquemia por hipoperfusão cerebral resultando em lesão intraparenquimatosa.
• Pode ser irreversível.
Encefalopatia traumática 33-35
• Causa
- Lesão cerebral associada a intoxicações químicas
• Substâncias que provocam lesões químico-tóxicas ao sistema nervoso
- Pesticidas, solventes, antibióticos (como cefalosporinas, quinolonas e carbapenêmicos), anticonvulsivantes
(lamotrigina, alprazolam, vigabatrina, topiramato e ácido valproico), álcool, cocaína, neurolépticos, aciclovir,
compostos orgânicos voláteis e hidrocarbonetos.
- Anatomia das fibras nervosas, redução do metabolismo das espécies reativas de oxigênio e elevada taxa
metabólica do tecido nervoso.
• É uma síndrome neurológica de causa autoimune. Normalmente não gera modificações na glândula
tireoide.
• Pode ter relação com lúpus eritematoso sistêmico (LES), diabetes mellitus tipo 1 e síndrome de
Sjögren.
• Alteração do estado de consciência por acúmulo de substância tóxica no sangue; por exemplo,
amônia, que atingem o cérebro.
• Pode surgir gradualmente ou de forma súbita.
• Classificado em:
• Tipo A
→ causada por insuficiência hepática aguda.
• Tipo B
→ causada por bypass portossistêmico na ausência de doença hepática intrínseca.
• Tipo C
→ causada por cirrose.
→ Esse tipo foi subdividido em:
• Episódica
- paciente previamente hígido do enfoque neuropsiquiátrico.
• Persistente
- existência constante e sem interrupção de sinais e sintomas da encefalopatia hepática.
• Mínima
- condição pré-clínica da encefalopatia hepática em que o paciente expressa menos resposta em testes
neurológicos, contudo sem alteração do estado mental ou outras anormalidades.
Encefalopatia urêmica 22-26
• Causada por insuficiência renal aguda ou crônica com depuração de creatinina inferior a 15 mL/min.
• Origem multifatorial que inclui distúrbios hormonais, estresse oxidativo, retenção de metabólitos,
desequilíbrio entre neurotransmissores tanto excitatórios quanto inibitórios e distúrbio do metabolismo
intermediário.
EPIDEMIOLOGIA 39
• Ocorre em 10%-40% dos pacientes hospitalizados com mais de 65
anos, sendo que essa idade é o ponto de inflexão da curva
ascendente.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA40
b) ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA40
c) ENCEFALOPATIA DE HASHIMOTO 40
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas da Encefalopatia Metabólica estão sintetizadas
no quadro 2.
Encefalopatia metabólica
• EEG.
• Lentificação ou supressão da reatividade e do ritmo.
• Potencial de evocação somatossensorial.
• Exames de imagem.
a) ESPECIFICIDADES DE CADA ETIOLOGIA 40-43
• Encefalopatia hipertensiva
• Papiledema
• Exsudatos hemorrágicos à fundoscopia
• Alteração do nível de consciência
• Nistagmo
• Paralisia do VI par craniano
• Turgência jugular
• Estertores crepitantes na ausculta pulmonar
• Cefaleia
• Encefalopatia hipóxico-isquêmica
• Não há testes laboratoriais para confirmação diagnóstica
• A anamnese e exame físicos são definitivos
• Exames de imagem são inconclusivos: desde normais até edema
cerebral difuso (Quadro 3).
• Podem ser observadas hemorragias intraparenquimatosas e
intraventriculares
• RNM e estudos de perfusão e difusão podem ser úteis
TC RNM
• Entre 4 e 5 horas após o insulto, mostra: hipoatenuação de estruturas de • Ponderada em T2 pode mostrar
substância cinzenta profunda hiperintensidade e edema na região afetada
• Nas primeiras 24 horas, mostra hipoatenuação de gânglios basais e tálamo 24 horas ou mais depois do insulto (Figura
• Perda da diferenciação entre substância cinzenta e branca pode ser 1).
observada
• Nos casos mais severos, pode-se observar hipoatenuação da substância
branca, gerando o ´´Sinal reverso´´.
• Encefalopatia de Hashimoto
• Seu diagnóstico é discutido no Quadro 4.
EXAME EXAMES
LÍQUOR TC
FÍSICO LABORATORIAIS
• Encefalopatia hepática
• A classificação é feita com base nos Critérios de West-Haven
(Tabela 1).
Critérios de West-Haven
Redução da atenção.
I Leve perda de atenção Adição e subtração Tremor ou Flapping discreto
prejudicadas
Desorientado.
Flapping evidente.
II Letárgico Comportamento
Disartria
inadequado.
Rigidez muscular.
Desorientação completa.
III Sonolento porém responsivo Clônus.
Comportamento bizarro
Hiperreflexia
• Encefalopatia Urêmica
• O diagnóstico é debatido no Quadro 5.
Exame Exames Diagnósticos
Neuroimagem
físico laboratoriais diferenciais
• Nistagmo • Dosagem de ureia sérica e de • Intoxicação por drogas • Frequentemente normal
• Papiledema fármacos que poderiam • Infecções • Acometimento bilateral simétrico ou
• Torpor contribuir para o quadro • AVE assimétrico de núcleos da base (Figura 3)
• Clônus • TC: Hipoatenuação
• Hiperreflexia • RNM: Regiões de prolongamento em T1 e
• Flapping T2
• Encefalopatia de Wernicke-Korsakoff
• Os achados que sugerem essa condição, bem como seus
diagnósticos diferenciais estão no Quadro 6.
Exame Exames Diagnósticos
RNM contrastada
físico laboratoriais diferenciais
TRATAMENTO
• É específico para cada tipo de encefalopatia (Quadro 7).
TIPOS DE
TRATAMENTO
ENCEFALOPATIA
• Manutenção de vias aéreas, ventilação, circulação e pressão sistólica (caso necessário, usar
drogas vasoativas).
• Todas as convulsões devem ser tratadas, inclusive aquelas diagnosticadas apenas pelo
ENCEFALOPATIA
eletroencefalograma.
HIPÓXICO-
• Para não causar hipoperfusão cerebral em virtude da vasoconstrição, não pode hiperventilar o
ISQUÊMICA (EHI)
paciente.
• É benéfico reduzir o metabolismo cerebral; sendo assim, a hipotermia em torno de 3 a 4 graus
abaixo da temperatura corpórea permite isso.
TIPOS DE
TRATAMENTO
ENCEFALOPATIA
• Antibióticos como Neomicina, Rifaximina e Vancomicina são eficientes para diminuir a amônia
produzida pelo cólon, sendo que todos esses fármacos devem ser administrados via oral, com o
intuito de limpar a flora intestinal e reduzir a produção de amônia.
• Tais medicamentos devem ser associados à Lactulose 20 mL VO ou enema de Lactulose (300
mL + 700 mL de água destilada por via retal) com a meta de estimular uma maior conversão de
amônia em amônio, além de elevar a população de lactobacilos que não produzem amônia e
ENCEFALOPATIA
maior incorporação desta pelas bactérias locais.
HEPÁTICA (EH)
• Regular as doses com o objetivo de 3 evacuações pastosas por dia.
• A busca pela redução da tumefação cerebral deve ser sempre feita.
• Não descartar a possibilidade de transplante de fígado.
• Os pacientes em Grau III ou IV devem ser imediatamente intubados.
• Cabe ressaltar que níveis arteriais de amônia superiores a 200 g/dL elevam a pressão
intracraniana e levam à herniação encefálica.
ENCEFALOPATIA
• Analisar e tratar de maneira especializada as consequências do trauma.
TRAUMÁTICA
ENCEFALOPATIA
• Deve-se neutralizar o agente desencadeante, independentemente de qual seja.
TÓXICA
PREVENÇÃO
• Para encefalopatias metabólicas, em geral incluem:
• Acompanhamento multidisciplinar constantemente
• Dieta saudável
• Atividade física
• O tratamento de determinadas doenças hepáticas, evitar a
ingestão de álcool em excesso e o uso de drogas injetáveis pode
precaver muitas doenças hepáticas.44,45
• A rifaximina adicionada à lactulose é o agente mais estudado
para conservar a remissão em pacientes que já vivenciaram pelo
menos uma ocorrência de EH ao longo do tratamento com
lactulose após o episódio inicial.46
• A utilização de um complexo multivitamínico é recomendado,
embora não existam dados concretos sobre os benefícios de
suplementos vitamínicos e minerais. A suplementação de zinco é
considerada no tratamento de EH.44,45
REFERÊNCIAS
1. Aggarwal M, Khan IA. Hypertensive crisis: hypertensive emergencies and urgencies. Cardiol
Clin. 2006; 24(1): 135-46.
2. Healton EB, Brust JC, Feinfeld DA, Thomson GE. Hypertensive encephalopathy and the
neurologic manifestations of malignant hypertension. Neurology. 1982; 32(2): 127-32.
3. Setters B, Solberg LM. Delirium. Prim Care. 2017; 44(3): 541-59.
4. Pancioli AM. Hypertension management in neurologic emergencies. Ann Emerg Med. 2008;
51(3 Suppl): S24-7.
5. Sandok BA, Whisnant JP. Hypertension and the brain: Clinical aspects. Hypertension. New
York, NY: McGraw-Hill; 1983. p. 777-91.
6. Rivkin MJ. Hypoxic-ischemic brain injury in the term newborn. Neuropathology, clinical
aspects, and neuroimaging. Clin Perinatol. 1997; 24(3): 607-25.
7. Shankaran S, Laptook AR, Ehrenkranz RA, Tyson JE, McDonald SA, Donovan EF, et al.
Whole-body hypothermia for neonates with hypoxic-ischemic encephalopathy. N Engl J
Med. 2005; 353(15): 1574-84.
8. Berger R, Garnier Y. Pathophysiology of perinatal brain damage. Brain Res Brain Res Rev.
1999; 30(2): 107-34.
9. Depp R. Perinatal asphyxia: assessing its causal role and timing. Semin Pediatr Neurol. 1995;
2(1): 3-36.
10. Gluckman PD, Wyatt JS, Azzopardi D, Ballard R, Edwards AD, Ferriero DM, et al.
Selective head cooling with mild systemic hypothermia after neonatal encephalopathy:
multicenter randomised trial. Lancet. 2005; 365(9460): 663-70.
11. Papile LA, Rudolph AM, Heymann MA. Autoregulation of cerebral blood flow in the
preterm fetal lamb. Pediatr Res. 1985; 19(2): 159-61.
12. Brusa L, Panella M, Koch G, Bernardi G, Massa R. Hashimoto‘s encephalopathy presenting
with musical hallucinosis. J Neurol. 2003; 250(5): 627-8.
13. Mocellin R, Walterfang M, Velakoulis D. Hashimoto‘s encephalopathy. CNS Drugs. 2007;
21(10): 799-810.
14. Ferraci F, Bertinato G, Moretto G. Hashimoto‘s encephalopathy: epidemiologic data and
pathogenetic considerations. J Neurol Sci. 2004; 217(2): 165-8.
15. Sechi G, Serra A. Wernicke’s encephalopathy: new clinical settings and recent advances in
diagnosis and management. Lancet Neurol. 2007; 6(5): 442-55.
16. Kesler A, Stolovitch C, Hoffmann C, Avni I, Morad Y. Acute ophthalmoplegia and
nystagmus in infants fed a thiamine-deficient formula: an epidemic of Wernicke
encephalopathy. J Neuroophthalmol. 2005; 25(3): 169-72.
17. Romero-Gomez M. Role of phosphate-activated glutaminase in the pathogenesis of hepatic
encephalopathy. Metab Brain Dis. 2005; 20(4): 319-25.
18. Córdoba J, Mínguez B. Hepatic Encephalopathy. Semin Liver Dis. 2008; 28(1): 71-80.
19. Ferenci P, Lockwood A, Mullen K, Tarter F, Weissenborn K, Blei AT. Hepatic of the
working party at the 11th World Congresses of Gastroenterology, Vienne 1998. Hepatology.
2002; 35(3): 716-21.
20. Shawcross DL, Damink SW, Butterworth RF, Jalan R. Ammonia and hepatic
encephalopathy: the more things change, the more they remain the same. Metab Brain Dis.
2005; 20(3): 169-79.
21. Hawkins RA, Jessy J, Mans AM, Chedid A, DeJoseph MR. Neomycin reduces the intestinal
production of ammonia from glutamine. Adv Exp Med Biol. 1994; 368: 124-34.
22. Ueda K, Takada D, Mii A, Tsuzuku Y, Saito SK, Kaneko T, et al. Severe thiamine
deficiency resulted in Wernicke’s encephalopathy in a chronic dialysis patient. Clin Exp
Nephrol. 2006; 10(4): 290-3.
23. Biasioli S, D’Andrea G, Feriani M, Chiaramonte S, Fabris A, Ronco C, et al. Uremic
encephalopathy: an up gating. Clin Nephrol. 1986; 25(2): 57-63.
24. Biasioli S. Neurologic aspects of dialysis. In: Nissenson A, Fine R. (eds). Clinical dialysis.
New York: McGraw-Hill Professional; 2005. p. 855-76.
25. Brouns R, De Deyn PP. Neurological complications in renal failure: a review. Clin Neurol
Neurosurg. 2004; 107(1): 1-16.
26. Moe SM, Sprague SM. Uremic encephalopathy. Clin Nephrol. 1994; 42(4): 251-6.
27. Singh S, Kumar A. Wernicke encephalopathy after obesity surgery: a systematic review.
Neurology. 2007; 68(11): 807-11.
28. Hack JB, Hoffman RS. Thiamine before glucose to prevent Wernicke encephalopathy:
examining the conventional wisdom. JAMA. 1998; 279(8): 583-4.
29. Sechi G, Serra A. Wernicke’s encephalopathy: new clinical settings and recent advances in
diagnosis and management. Lancet Neurol. 2007; 6(5): 442-55.
30. Kesler A, Stolovitch C, Hoffmann C, Avni I, Morad Y. Acute ophthalmoplegia and
nystagmus in infants fed a thiamine-deficient formula: an epidemic of Wernicke
encephalopathy. J Neuroophthalmol. 2005; 25(3): 169-72.
31. Alcaide ML, Jayaweera D, Espinoza L, Kolber M. Wernicke’s encephalopathy in AIDS: a
preventable cause of fatal neurological deficit. Int J STD AIDS. 2003; 14(10): 712-3.
32. Critchley M. Medical aspects of boxing, particularly from neurological standpoint. Br Med
J. 1957; 1(5015): 357-62.
33. Areza-Feregyveres R, Caramelli P, Nitrini R. Encefalopatia traumática crônica do boxeador
(dementia puglistica). Rev Psiq Clin. 2004; 32(1): 17-26.
34. Jafari SS, Maxwell WL, Neilson M, Graham DI. Axonal cytoskeletal changes after non-
disruptive axonal injury. J Neurocytol. 1997; 26(4): 207-21.
35. Meydani M. Antioxidants and cognitive function. Nutr Rev. 2001; 59(8 Pt 2): S75-S82.
36. Rasmussen H. Risk of encephalopathy amongst retired solvent- -exposed workers. J Occ
Med. 1985; 27(8): 581-5.
37. Savolainan H. Some aspects of the mechanisms by which industrial solvents produce
neurotoxic effects. Chem Biol Toxicol. 1977; 18(1): 1-10.
38. Shanshan W, Zongwang Z, Tom D, Sai Z, Gillian P, Jun X, et al. Cholinesterase inhibitors
for the treatment of delirium in non-ICU settings. Cochrane Database Syst Rev. 2018; 6:
CD012494.
39. Berisavac II, Jovanović DR, Padjen VV, Ercegovac MD, Stanarčević PD, Budimkić-
Stefanović MS, et al. How to recognize and treat metabolic encephalopathy in Neurology
intensive care unit. Neurol India. 2017; 65: 123-8
40. Damiani D, Laudanna N, Barril C, Sanches R, Borelli NS, Damiani D. Encephalopathies:
etiology, pathophysiology, and clinical management of some major forms of disease
presentation. Rev Bras Clin Med. 2013; 11(1): 67-74
41. Angel MJ, Young GB. Metabolic encephalopathies. Neurol Clin. 2011; 29(4): 837-82.
42. Bathla G, Hegde AN. MRI and CT appearances in metabolic encephalopathies due to
systemic diseases in adults. Clin Radiol. 2013; 68(6): 545-54.
43. Hadjihambi A, Arias N, Sheikh M, Jalan R. Hepatic encephalopathy: a critical current
review. Hepatol Int. 2018; 12(Suppl 1): 135-47.
44. Vilstrup H, Amodio P, Bajaj J, Cordoba J, Ferenci P, Mullen KD, et al. Hepatic
encephalopathy in chronic liver disease: 2014 Practice Guideline by the American
Association for the Study of Liver Diseases and the European Association for the Study of
the Liver. Hepatology. 2014; 60(2): 715-35.
45. Bajaj JS. Review article: the modern management of hepatic encephalopathy. Aliment
Pharmacol Ther. 2010; 31: 537.
46. Aleixo SDS. A rifaximina no tratamento da encefalopatia hepática. [dissertação – mestrado
em Medicina]. Covilhã: Universidade da Beira Interior; 2010.
47. Carvalho Teresa, Real Helena. Papel da Tiamina Presente nas Leguminosas na Prevenção e
Progressão da Doença de Alzheimer. Nutrícias. 2015; (24): 18-23.
48. Vilstrup H, Amodio P, Bajaj J, Cordoba J, Ferenci P, Mullen KD, et al. Hepatic
encephalopathy in chronic liver disease: 2014 Practice Guideline by the American
Association for the Study of Liver Diseases and the European Association for the Study of
the Liver. Hepatology. 2014; 60(2): 715-35.
49. Sussman NL. Treatment of Overt Hepatic Encephalopathy. Clin liver dis. 2015; 19(3): 551-
63.
50. Caine ED, Grossman H, Lyness JM. Delirium, dementia, and amnestic and other cognitive
disorders and mental disorders due to a general medical condition. In: Kaplan HI, Sadock
BJ., (eds). Comprehensive textbook of psychiatry. 6th ed. Baltimore: William & Wilkins;
1995. p. 705-44.
51. Frontera JA. Metabolic encephalopathies in the critical care unit. Continuum (Minneap
Minn). 2012; 18(3): 611-39.
8.13
SÍNDROMES DEGENERATIVAS
Autores:
Jonas Silva Paes
Maycon Cristian Gomes de Paula
Nícollas Nunes Rabelo
DEFINIÇÕES
As doenças neurodegenerativas estão previstas para ultrapassar o câncer
como segunda causa de morte mais frequente entre os idosos por volta de
2040.1
Dessa forma, o conhecimento desse tema é de extrema importância para
a prática médica atual e futura.
As doenças neurodegenerativas são um grupo dentro de síndromes
degenerativas caracterizadas por morte neuronal excessiva e prematura em
regiões focais e/ou comprometimento de estruturas associadas. Isto resulta
em atrofia focal das regiões afetadas do sistema nervoso. Esta atrofia focal
regional e específica é uma marca característica da patologia macroscópica
e da neuroimagem de doenças neurodegenerativas.2
O presente capítulo tratará de apresentar, inicialmente, as principais
síndromes neurodegenerativas não demenciais. As síndromes
neurodegenerativas envolvidas com a demência serão o alvo de estudo de
outro capítulo.
• Sinais motores
• Parkinsonismo pouco responsivo à levodopa
• Ataxia cerebelar
• Sinais piramidais
• Instabilidade precoce e quedas (dentro de 3 anos após o início da doença)
• Progressão rápida (sinal de cadeira de rodas) apesar do tratamento dopaminérgico (dentro de 5 anos após o
início da doença)
• Distonia Orofacial ou discinesia atípica espontânea ou induzida por levodopa que afeta principalmente os
músculos orofaciais, parecendo ocasionalmente com o risus sardonicus do tétano cefálico.
• Distonia axial:
→ Síndrome de Pisa (distonia axial subaguda com forte flexão lateral tônica do tronco, cabeça e pescoço) ou
camptocormia grave precoce
• Antecolis desproporcional: Queixo no peito, pescoço só pode ser passivo e forçado a ser estendido à sua
posição normal com dificuldade; apesar da severa flexão crônica do pescoço, a flexão em outros lugares é
menor.
• Tremor irregular: postura mioclônica irregular ou tremor de ação das mãos ou dedos.
• Disartria: Tremores atípicos, disartria aguda e gravemente hipofônica ou gravemente aguda.
c) Tratamento 7
• Outras terapias:
• Fisioterapia;
• Terapia de fala;
• Terapia ocupacional;
• Gastrostomia endoscópica percutânea (raramente necessária na fase tardia);
• Fornecimento de cadeira de rodas;
• Pressão positiva contínua nas vias aéreas (raramente traqueostomia) para estridor inspiratório.
DICAS DO ESPECIALISTA
A atrofia multissistêmica é sinucleinopatia (por causa da deposição de
sinucleína). A sinucleína também pode se acumular em pacientes com
doença de Parkinson, atrofia autonômica pura ou demência com corpos de
Lewy. Sinucleína é uma proteína celular neuronal e glial que pode se
agregar a fibrilas insolúveis e formar corpos de Lewy.5,7
A Atrofia de Múltiplos Sistemas possui três variantes clínicas:8 Atrofia
Olivopontocerebelar, Degeneração Estriatonigral e Síndrome de Shy-
Drager:
B) diagnóstico 13,14
• A suspeita diagnóstica tem como base o quadro clínico, a história familiar e os achados laboratoriais (a
creatinina quinase sérica é 100-200 vezes superior ao nível normal).
• A biópsia muscular mostra características distróficas e existe uma ausência completa da proteína distrofina.
• Os estudos genéticos demonstram deleções e duplicações frame-shift, ou mutações nonsense no gene DMD.
c) Tratamento 14
Embora não haja tratamento específico, prescreve-se o uso de deflazacort diariamente para pacientes > 5 anos de
idade que não estão mais ganhando, ou estão perdendo, habilidades motoras.
O efeito desses fármacos ocorre tão cedo quanto 10 dias após o início da terapia; o pico da eficácia ocorre em 3
meses e persiste por 6 meses. O uso a longo prazo melhora a força, atrasa a idade em que se perde a deambulação
em 1,4 a 2,5 anos, melhora os testes funcionais cronometrados, melhora a função pulmonar, reduz complicações
ortopédicas, estabiliza a função cardíaca e aumenta a sobrevida em 5 a 10 anos.
• Início
• Ansiedade
• Alterações do sono
• Fadiga
• Alterações de humor
• Dificuldade de memória
B) diagnóstico 4,17
• Alterações do eletroencefalograma, com surtos pseudoperiódicos e ondas trifásicas.
• Exame do LCR e neuroimagem podem mostrar pleocitose discreta.
• RM mostra hipersinal nos núcleos da base.
c) Tratamento 4,17,18
Apesar de relatos bem-sucedidos do tratamento com Risperidona, a doença é inexoravelmente fatal, acarretando
óbito em menos de um ano, na maioria dos casos.
B) diagnóstico 2,20
• Testes eletrodiagnósticos devem ser realizados para verificar evidências de doenças de transmissão
neuromuscular e desmielinização;
• RM cerebral: é indicada para excluir lesões estruturais, quando não houver evidência clínica na
EMG de fraqueza dos nervos cranianos.
• Testes laboratoriais: realizados para identificar causas tratáveis. Esses exames incluem hemograma
completo, eletrólitos, creatinina quinase e exames de função tireoidea.
B) diagnóstico 2,20
• Anticorpos de glicoproteína associada à antimielina são associados com uma neuropatia motora desmielinizante,
a qual pode se assemelhar à esclerose lateral amiotrófica.
• A coleta de urina de 24 h é realizada para verificar a presença de metais pesados em pacientes que podem ter
sofrido exposição a eles.
• Punção lombar pode ser feita para excluir outras doenças clinicamente suspeitas; se os níveis de leucócitos ou
proteínas estão elevados, um diagnóstico alternativo é provável.
c) Tratamento 2,20
• A base do tratamento para pacientes com ELA é a intervenção no momento oportuno para controlar os sintomas.
• A abordagem com equipe multiprofissional auxilia o paciente a enfrentar a incapacidade neurológica
progressiva.
• Nenhum fármaco oferece benefício clínico substancial para os pacientes com ELA. Entretanto, o riluzol pode
proporcionar melhoria limitada da sobrevida (2 a 3 meses), e a edaravona pode retardar o declínio da função até
certo ponto.
• Os seguintes fármacos podem ajudar a reduzir os sintomas:
• Para a espasticidade, baclofeno
• Para cãibras, quinina ou fenitoína
• Para reduzir a produção de saliva, fármacos anticolinérgicos potentes (p. ex., glicopirrolato,
amitriptilina, benztropina, triexifenidil, hioscina transdérmica, atropina)
• Para aspecto pseudobulbar, amitriptilina, fluvoxamina ou uma combinação de dextrometorfano e
quinidina
ESCLEROSE MÚLTIPLA
As A esclerose múltipla (EM) pode ser definida como uma doença
desmielinizante, autoimune e inflamatória, de etiologia desconhecida, do
sistema nervoso central (SNC). A prevalência da Esclerose Múltipla no
Brasil é baixa. Estudos conduzidos em diferentes cidades brasileiras
demonstraram distribuição heterogênea da EM no território nacional, com
taxas que variam de 1 a 15:100.000 habitantes.4,21
A EM é mais comum no sexo feminino e em pacientes de origem
caucasiana. Doença de adulto jovem, é mais frequente entre 20 e 40 anos de
idade, sendo rara acima dos 60 anos.4,21
A EM apresenta quatro formas clínicas:
B) diagnóstico 22
Um desses critérios:
• ≥2 ataques e evidência clínica objetiva de
1 lesão.
• DIS: ataque clínico adicional implicando local
diferente do SNC
• DIS: ≥ 1 lesão sintomática ou assintomática de
T2 em ≥ 2 áreas do SNC: medula periventricular,
justacortical/ cortical, infratentorial ou medular.
Informações Adicionais Necessárias para fazer o diagnóstico
Apresentação Clínica
de EM
Um desses critérios:
• 1 ataque e evidência clínica objetiva de
≥2 lesões.
• DIT: ataque clínico adicional
• DIT: presença simultânea de lesão de ressonância
magnética típica da EM, sintomática ou
assintomática, que aumenta e não melhora em
comparação com a varredura basal (sem levar em
consideração o tempo de varredura basal).
• Bandas Oligoclonais específicas para Fluido
Cerebrospinal.
Um desses critérios:
• 1 ataque e evidência clínica objetiva de
1 lesão.
• DIS: ataque clínico adicional implicando local
diferente do SNC
• DIS: ≥ 1 lesão sintomática ou assintomática de
T2 em ≥ 2 áreas do SNC: medula periventricular,
justacortical/ cortical, infratentorial ou medular.
E
Um desses critérios:
• DIT: ataque clínico adicional
• DIT: presença simultânea de lesão de ressonância
magnética típica da EM, sintomática ou
assintomática, que aumenta e não melhora em
comparação com a varredura basal (sem levar em
consideração o tempo de varredura basal).
• DIT: por T2 novo ou lesão de ressonância
magnética comparada à varredura basal
• Bandas Oligoclonais específicas para Fluido
Cerebrospinal.
A compressão da medula causa paresia espástica gradual, parestesias ou ambas, nas mãos e nos pés; pode haver
hiper-reflexia. Os déficits neurológicos podem ser assimétricos, não segmentares e agravados por tosse ou
manobra de Valsalva. Após trauma, pessoas com espondilose cervical podem desenvolver uma síndrome medular
central ( Síndromes da coluna vertebral).
Eventualmente, podem se desenvolver atrofia muscular e paralisia flácida nas extremidades superiores no nível da
lesão, com espasticidade abaixo desse nível.
A compressão das raízes nervosas causa dor radicular precoce; posteriormente, pode haver fraqueza, hiporreflexia
e atrofia muscular.
Espondilose cervical decorrente de osteoartrite, especialmente se o canal cervical tiver estenose congênita, pode
levar à estenose do canal e desenvolvimento de osteófitos, que podem comprimir a medula ou raízes nervosas.
B) DIAGNÓSTICO 22,24
Nas lesões medulares compressivas de qualquer natureza, o diagnóstico precoce é imperativo para prevenção de um
déficit neurológico irreversível, pois, com o tratamento da lesão causadora da compressão, pode ocorrer completa
reversão do quadro.
C) TRATAMENTO 21,22
Para os pacientes com comprometimento medular, em geral, é necessária a laminectomia cervical; uma
abordagem posterior pode aliviar a compressão, mas deixa os osteófitos compressivos anteriores e pode provocar
instabilidade da coluna e cifose. Assim, cada vez mais se utiliza uma abordagem anterior com fusão espinhal.
Os pacientes que apresentam apenas radiculopatia podem tentar tratamento não cirúrgico com AINE e um colar
cervical macio; se este tratamento for ineficaz, pode ser necessária a descompressão cirúrgica. As indicações de
descompressão cirúrgica são a dor intratável e o comprometimento da medula espinhal.
MIELITE TRANSVERSA
A mielite transversa é a inflamação das substâncias cinzenta e branca,
em um ou mais segmentos adjacentes da coluna vertebral, em geral
torácicos.
As causas incluem Esclerose Múltipla, neuromielite óptica, inflamação
autoimune ou pós-infecciosa, vasculite e certos fármacos.
A mielite transversa aguda é mais comumente decorrente de esclerose
múltipla, mas pode ocorrer com vasculite, LES, síndrome antifosfolipídica,
outras doenças autoimunes, SLE, infecções por micoplasma, doença de
Lyme, sífilis, tuberculose ou meningoencefalite viral ou em pacientes que
usam anfetaminas, heroína IV, antiparasitários ou antifúngicos. A mielite
transversa ocorre com neurite óptica na neuromielite óptica.
Em geral, quanto mais aguda a progressão, pior o prognóstico. A dor
sugere inflamação mais intensa. Cerca de um terço dos pacientes se
recupera, um terço mantém alguma fraqueza e urgência urinária e um terço
permanece confinado ao leito e incontinente. 13, 25
a) Sinais e sintomas 13,25
Pode ocorrer:
• Dor cervical
• Dor nas costas
• Dor na cabeça
• Aperto em faixa no tórax ou no abdome
• Fraqueza
• Formigamento
• Dormência nos pés e nas pernas
• Dificuldade na micção
Os déficits podem evoluir durante mais vários dias até a mielopatia sensorimotora transversa completa, causando:
• Paraplegia
• Perda de sensação abaixo da lesão
• Retenção urinária
• Incontinência fecal
**Ocasionalmente, as sensações proprioceptiva e vibratória são preservadas, pelo menos no início.
A síndrome costuma reincidir em pacientes com esclerose múltipla, LES ou síndrome antifosfolipídica.
B) diagnóstico 13,25
O diagnóstico da mielite transversa é sugerido por mielopatia sensorimotora transversa com déficits segmentares.
O diagnóstico requer RM e análise de LCR. A RM tipicamente mostra edema da medula espinhal se a mielite transversa
está presente e pode ajudar a excluir as outras causas tratáveis de disfunção da coluna vertebral (p. ex., compressão da
medula espinhal). O LCR, em geral, contém monócitos, discreta elevação do conteúdo de proteínas e elevação do índice
IgG (normal: ≤ 0,85).
Teste para um marcador de IgG na neuromielite óptica (NMO-IgG) — um autoanticorpo que tem por alvo a proteína
aquaporina-4 do canal de água dos astrócitos — é altamente específico e ajuda a distinguir neuromielite óptica de
esclerose múltipla.
Os exames para verificar as causas tratáveis devem conter radiografia de tórax; PPD; sorologia para micoplasma, doença
de Lyme e HIV; velocidade de hemossedimentação; AAN e VDRL no sangue e no líquor. A história pode sugerir um
fármaco como agente causal.
O diagnóstico diferencial da mielite transversa abrange outras mielopatias transversas decorrentes de deficiências
nutricionais (p. ex., deficiência de vitamina B12, ácido fólico, zinco ou cobre), insuficiência vascular e tumores
intraespinhais.
Realiza-se RM do cérebro: a EM ocorre em 50% dos pacientes com lesões brilhantes (hiperintensas) periventriculares
múltiplas em T2 e em 5% dos pacientes nos quais essas lesões estão ausentes.
c) Tratamento 21,22
• Corticoides intravenosos podem diminuir o edema e a inflamação na coluna vertebral e reduzir
a atividade do sistema imunológico. Esses medicamentos podem incluir:
• metilprednisolona ou dexametasona (geralmente administrados por 3 a 7 dias e, às vezes,
seguidos por um período de redução gradual).
*Também podem ser administrados para reduzir ataques subsequentes de mielite transversa em
indivíduos com distúrbios subjacentes.
• Plasmaférese pode ser usada para pessoas que não respondem bem aos esteroides intravenosos.
• A imunoglobulina intravenosa (IgIV) é um tratamento que se pensa redefinir o sistema imunológico. O IgIV é uma
injeção altamente concentrada de anticorpos reunidos em muitos doadores saudáveis que se ligam aos anticorpos que
podem causar o distúrbio e removê-los da circulação.
• Medicamentos antivirais podem ajudar as pessoas que têm uma infecção viral da medula espinhal.
• Os medicamentos podem tratar outros sintomas e complicações, incluindo incontinência, contrações
musculares dolorosas chamadas espasmos tônicos, rigidez, disfunção sexual e depressão.
REFERÊNCIAS
1. Lilienfeld DE, Perl DP. Projected neurodegenerative disease mortality in USA ,1990-2040.
Neuroepidemiol. 1993; 12: 219-28
2. Adams RD, Victor M. Principles of Neurology. 4th ed. Health Professions Division, New
York, NY: McGraw-Hill Information Services Company; 1989: 35-77, 334-346, 488-500,
921-67.
3. JPND research. What Is Neurodegenerative Disease? [Internet]. [acesso em 27 mar 2020].
Disponível em: https://www.neurodegenerationresearch.eu/what/.
4. Bertolucci P, Ferraz H, Félix E, Pedroso JL. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar
da UNIFESP-EPM. 1. ed. São Paulo: Editora Manole Ltda; 2011.
5. Low P. Atrofia multissistêmica. Manual MSD. [Internet]; 2017. [Acesso em 23 mar 2020].
Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/disturbios-
neurologicos/sistema-nervoso-autonomo/atrofia-multissistemica-mas.
6. Yoshida M, Sone M. Mechanism of neuronal degeneration of multiple system atrophy. Brain
Nerve. 2009; 61(9): 1051-60.
7. Wenning GK, Colosimo C, Geser F, Poewe W. Multiple system atrophy. Lancet Neurol.
2004; 3(2): 93-103.
8. Atrofia de Múltiplos Sistemas. Biblioteca Virtual em Saúde [base de dados online].
[Internet]; 2019. [Acesso em 24 mar 2020]. Disponível em: http://decs.bvs.br/cgi-
bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgi-
bin/decsserver/decsserver.xis&previous_page=homepage&task=exact_term&interface_lang
uage=p&search_language=p&search_exp=Atrofia%20de%20M%FAltiplos%20Sistemas.
9. Atrofia olivopontocerebelar: relato de dois casos com ênfase à análise anatomopatológica.
[Internet]; 2019. [Acesso em 24 mar 2020]. Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-
bin/wxislind.exe/iah/online/?
IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=
200663&indexSearch=ID.
10. Degeneração Estriatonigral. Biblioteca Virtual em Saúde [base de dados online]. [Internet];
2019. [Acesso em 24 mar 2020]. Disponível em: http://decs.bvs.br/cgi-
bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgi-
bin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page=homepage&interface_lang
uage=p&search_language=p&search_exp=Degenera%E7%E3o%20Estriatonigral.
11. Sindrome-de-Shy-Drager. Biblioteca Virtual em Saúde [base de dados online]. [Internet];
2019. [Acesso em 24 mar 2020]. Disponível em: http://decs.bvsalud.org/cgi-
bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=Sindrome-de-Shy-Drager.
12. Quinlivan R [Orphanet]. Distrofia Muscular de Duchenne. [Internet]. [acesso em 25 mar
2020]. Disponível em https://www.orpha.net/consor/www/cgi-bin.
13. Bertolucci PHF. Guia de Neurologia. São Paulo: Manole; 2010.
14. Gloss D, Moxley RT 3rd, Ashwal S, Oskoui M: Practice guideline update summary:
Corticosteroid treatment of Duchenne muscular dystrophy: Report of the Guideline
Development Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology. 86: 465-
72, 2016.
15. Gambetti P. Doença de Creutzfeldt Jakob. Manual MSD. [Internet]; 2017. [Acesso em 23
mar 2020]. Disponível em https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/disturbios-
neurologicos/doencas-prionicas/doenca-de-creutzfeldt-jakob-dcj
16. Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. 2. ed. São Paulo:
Editora Atheneu; 2003.
17. Gambetti P, Kong Q, Zou W, Parchi P, Chen SG. Sporadic and familiar CJD: Classification
and characterisation. Br Med Bull. 2003; 66(1): 213-39.
18. Ruiz M, del Agua E, Piñol-Ripoll G. Psychosis as debut of sporadic Creutzfeldt-Jakob
disease. Rev Psiquiatr Salud Ment. 2019; 12(2): 131-3.
19. André C. Demência Vascular Dificuldades Diagnósticas E Tratamento. Arq Neuro-
Psiquiatr. [online]. 1998; 56:498–510.
20. Rubin M. Esclerose lateral amiotrófica. Manual MSD. [Internet]; 2018. [Acesso em 24 mar
2020]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/ptpt/profissional/disturbios-
neurologicos/disturbios-do-sistema-nervoso-periferico-e-da-unidade-motora/esclerose-
lateral-amiotrofica-ela-e-outras-doencas-do-neuronio-motor-dnms.
21. Murray T. Multiple sclerosís: the history of a disease. Nova York: Demos Medical
Publishing; 2005.
22. Papadakis M, McPhee S, Rabow M. CURRENT Medical Diagnosis and Treatment. 59. ed.
California: Editora McGraw-Hill Education / Medical; 2019.
23. Thompson AJ, Banwell BL, Barkhof F, Carroll WM, Coetzee T, Comi G, et al. Diagnosis
of multiple sclerosis: 2017 revisions of the McDonald criteria. Lancet Neurol. 2018; 17(2):
162-73.
24. Rubin M. Espondilose cervical e mielopatia cervical espondilótica. Manual MSD.
[Internet]; 2018. [Acesso em 24 mar 2020]. Disponível em:
https://www.msdmanuals.com/ptpt/profissional/disturbiosneurologicos/disturbios-da-
coluna-vertebral/espondilose-cervical-e-mielopatia-cervical-espondilotica.
25. Rubin M. Mielite transversa. Manual MSD. [Internet]; 2018. [Acesso em 24 mar 2020].
Disponível em: https://www.msdmanuals.com/ptpt/profissional/disturbios-
neurologicos/disturbios-da-coluna-vertebral/mielite-transversa-aguda.
8.14
SÍNDROMES DEMENCIAIS
Autores:
Maycon Cristian Gomes de Paula
Jonas Silva Paes
Nícollas Nunes Rabelo
INTRODUÇÃO
Segundo Lane,1 em 2017 já havia 44 milhões de pessoas diagnosticadas
com demência ao redor do mundo. Esse número cresce ano após ano de
forma acelerada.
Por isso, dominar esse assunto é fundamental para a prática médica hoje
e principalmente, com o envelhecimento populacional, no futuro.
DEFINIÇÕES
• Síndrome caracterizada pelo declínio cognitivo/comportamental
que:
- compromete atividades sociais e profissionais do indivíduo.
- não depende de alterações da consciência.
EPIDEMIOLOGIA
Estima-se que, após os 65 anos de idade, esse valor dobre a cada cinco
anos.2,3 Esse fato possui as seguintes explicações:
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Exige comprovação de comprometimento cognitivo e funcional.
a) AVALIAÇÃO COGNITIVA
• Causas tóxico-metabólicas
Essa etiologia se encaixa nas causas reversíveis da manifestação e pode
ser dividida em dois grandes grupos (Fluxograma 2).2
Fluxograma 2. Grupos De Demências Tóxico-Metabólicas.
Fonte: Nitrini 2
Considerações:2
• As manifestações podem apresentar variações na população idosa.
• Quadros carenciais sempre devem chamar atenção em alcoólatras,
doentes crônicos, histórico de cirurgias gástricas prévias e em
indivíduos anoréxicos/deprimidos.
• É necessário interrogar especificamente sobre as medicações que
podem estar associadas, umas vez que os pacientes podem
omitir/esquecer que fazem uso contínuo.
• As causas tóxico-metabólicas estão mais associadas ao Delirium, que
ocorre de forma mais aguda e causa maior rebaixamento de
consciência. Esses quadros, entretanto, podem estar superpostos ao de
demência.
• Depressão
Deve fazer parte do diagnóstico diferencial.2,5-7
d) DOENÇAS COM COMPROMETIMENTO ESTRUTURAL DO
SNC
• Demências primárias
• Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer foi inicialmente descrita como uma demência
degenerativa que incidia em uma faixa etária pré-senil (antes dos 65).2
→ Hoje, essa condição é a principal causa de demência, sendo
responsável por 50% a 75% dos casos diagnosticados (Quadro 1).
→ É imprescindível suspeitar em casos com déficit cognitivo nessa
faixa etária.1
a) Sinais e sintomas
b) Diagnóstico
Envolve:
• Entrevista clínica e a realização do Miniexame do Estado Mental
• Descartar outras causas de demência por meio de exames laboratoriais e de neuroimagem
• A neuroimagem pode evidenciar atrofia cortical em áreas de associação, como na região parieto- occipital e na
região medial do lobo temporal, principalmente na região hipocampal.
• O exame do líquor apresenta níveis baixos de beta-amiloide e a altos de proteína tau. Além disso, é possível
descartar outras causas de demência
c) Tratamento
Sinais cardinais:
• Tremor
• Rigidez
• Bradicinesia
Outros:
• Anormalidade e instabilidades posturais
b) Diagnóstico
Critérios necessários para diagnóstico de DP: Bradicinesia e pelo menos um dos seguintes sintomas:
• Rigidez muscular;
• Tremor de repouso (4-6 Hz) avaliado clinicamente;
Critérios negativos para DP (sugestivos de outras formas de parkinsonismo):
• História de acidente vascular cerebral (AVC) de repetição;
• História de trauma craniano grave
• História definida de encefalite
• Crises oculogíricas
• Tratamento prévio com neurolépticos
• Remissão espontânea dos sintomas
• Quadro clínico estritamente unilateral após 3 anos
• Paralisia supranuclear do olhar
• Sinais cerebelares
• Sinais autonômicos precoces
• Demência precoce
• Liberação piramidal com sinal de Babinski
Critérios de suporte positivo para o diagnóstico de DP (três ou mais são necessários para o diagnóstico):
• Início unilateral
• Presença do tremor de repouso
• Doença progressiva
• Persistência da assimetria dos sintomas
• Boa resposta à levodopa
• Presença de discinesias induzidas por levodopa
• Resposta a levodopa por 5 anos ou mais
• Evolução clínica de 10 anos ou mais
c) Tratamento
Epidemiologia
• Segunda demência neurodegenerativa mais comum, somente atrás do da Doença de Alzheimer.
• Sanford et al afirmam que essa doença começa a se manifestar entre 70 e 85 anos.
Sinais e sintomas
• Estágios 1 e 2: disfunção autonômica e olfatória
• Estágios 3 e 4: distúrbios motores e do sono
• Estágios 5 e 6: disfunção cognitiva e emocional
Diagnóstico
Além da interferência em atividades diárias, 2 ou mais características:
• Flutuações da cognição (chegando até em quadros de delirium)
• Alucinações visuais
• Parkinsonismo
• Distúrbios de sono
Tratamento
• Ainda não existe tratamento farmacológico específico para essa condição
Doença de Huntington2,14
Definição e epidemiologia
• Se trata, também da demência genética mais frequente no mundo.
• Estima-se que a prevalência seja próxima de 4-10 casos a cada 100 mil habitantes no ocidente.
Sinais e sintomas
• Movimentos coreicos
• Distonia
• Mioclonia
• Bradicinesia
• Rigidez e anormalidades posturais
• Atrofia muscular
Diagnóstico
• História clínica + sinais e sintomas.
• O diagnóstico de certeza só é possível por meio do teste genético.
Tratamento
• Não há cura para essa doença.
• Recomenda-se uma abordagem multidisciplinar para melhor conduzir a evolução da doença, podendo reduzir a
velocidade de progressão e o impacto dos sintomas na vida da pessoa.
• São divididos em diversos fenótipos clínicos, que se diferem pelas diferenças nas regiões afetadas pelo acúmulo
de proteína tau.
• O principal fenótipo é o frontotemporal.
Sinais e sintomas
• Apatia
• Dificuldades executivas
• Mudança de personalidade
• Sintomas motores aparecem somente na fase mais tardia
Diagnóstico
• Início esporádico e que tenha acontecido depois dos 40 anos, além de evolução progressiva.
• Deve-se excluir outras causas para os sintomas.
• A neuroimagem é amplamente usada para auxiliar o diagnóstico clínico.
Tratamento
• Por enquanto não há tratamento que modifique a evolução da doença.
Tabela 3. Aspectos de outras demências primárias.
Fonte: Nitrini, Wang, Sanford, Olney, Bertolucci, Ghosh, Armstrong, Lopez,
Ali.2,8,10,12-17
• Demências secundárias
• Demência vascular
→ O´brien et al18 afirmam que 15% dos casos de demência no mundo
são associados a essa causa, sendo que 15-30% das vítimas de AVE
desenvolvem a manifestação cerca de 3 meses depois do ocorrido e
20-25% desenvolvem no longo prazo (Quadro 2)
→ Existem diversos tipos de demência vascular (Quadro 3).
→ É a segunda principal causa de demência2,19 (Quadro 4).
→ Estima-se que a demência por causa cerebrovascular corresponda a
17 milhões dos casos de demência no mundo, gerando custos anuais
de até 200 bilhões de dólares.19
→ A associação com a doença de Alzheimer é comum,2 porém em mais
de 75% dos casos a demência ocorre por causa vascular, não
descartando, obviamente, causas neurodegenerativas nem a
combinação de ambas as etiologias.18
Fatores de risco
Oclusão de artérias que nutrem locais estratégicos, como tálamo, cápsula interna e cabeça do núcleo caudado.
• Oclusão/estenose de artérias críticas
Demência por hipoperfusão (hipóxico-isquêmica)
Lesões do parênquima por transtornos hemorrágicos, como coagulopatias, aneurismas, malformações arteriovenosas,
angiopatia amiloide hereditária.
Sinais e sintomas
Depende da intensidade e da localização do evento.
De forma geral, o quadro é:
• Declínio cognitivo que pode mimetizar a Doença de Alzheimer
• Déficit de memória, linguagem e praxia
• Perda de habilidade para atividades laborais e diárias
• Depressão
• Apatia
• Psicose
• Alucinações
• Sinais motores de AVE, como distúrbios de marcha, hiperreflexia, Sinal de Babinski e Postura de Wernicke-
Mann, por exemplo.
• Déficit sensitivo
• Paralisia facial
Diagnóstico
Tratamento
Engloba medidas de:
• Prevenção de novas lesões cerebrovasculares.
• Intervenções farmacológicas sobre sintomas específicos.
• Inibidores de acetilcolinesterase podem ser usados com melhora do declínio cognitivo.
• Retiradas de drogas desnecessárias ou que aumentam risco de novo episódio.
• Medidas que melhorem a qualidade de vida e adaptação do paciente, como fisioterapia, aconselhamento dos
familiares e cuidadores, reestruturação e adaptação do ambiente.
• Tumores
→ Comumente as neoplasias podem causar declínio cognitivo em idosos
(fluxograma 4).2
→Estima-se que, em 2050, pelo menos 30% tenha mais de 65 anos.
→ Apesar de terem surgido evidências estatísticas da relação entre o
câncer e doenças neurodegenerativas na última década, esses
resultados não são encarados com tanta relevância porque ambas as
doenças são relacionadas ao envelhecimento. Há grande risco de viés
nessa associação.22
Fluxograma 4. Mecanismos de relação entre câncer e demência.
Fonte: Nitrini, Ganguli, McWilliams, Van der Willik 2,22-24
As relações ainda não são claras e alguns estudos chegam, até mesmo, a
apontar menor prevalência de alguns tipos de cânceres em pacientes com
Alzheimer e Parkinson.22-24
• Infecções
→ A demência de etiologia infecciosa varia de acordo com a idade,
sendo mais incidente na população com menos de 50 anos2 (Quadro
5).
→ O mecanismo dessa associação se dá devido ao fato de que a
inflamação crônica leva a um processo neurodegenerativo que resulta
em declínio cognitivo.25
A) Sinais e sintomas
Dados que sugerem demência de etiologia infecciosa:
• Idade inferior à senil
• Perfil neuropsicológico com predomínio de:
• Apatia e lentidão dos processos mentais
• Antecedentes de doenças venéreas ou de promiscuidade sexual
• Toxicomania
• Imunodeficiência
b) Diagnóstico
Como em outras infecções do SNC, é feito pela interpretação de:
• História clínica
• Exame do líquido cefalorraquidiano
• Neuroimagem
Além disso, pode-se destacar a importância da eletroforese de proteínas e a biópsia cerebral (quando todos os métodos
não invasivos forem inconclusivos).
• H. Pylori
• Borrelia burgdorferi
• Citomegalovírus
• HSV 1 e 6
• EBV
Outra doença relacionada à demência é a Neurossífilis.2 Apesar da
grande redução no número de casos entre as décadas de 1980 e 1990, a
doença voltou a ter crescimento no número de casos;26 por isso, deve-se
considerar a hipótese da doença sempre em casos de declínio cognitivo e
alterações comportamentais.2,27
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
Medidas que melhorem:
• Qualidade de vida
• Adaptação do paciente
Por exemplo:
• Fisioterapia Motora
• Tratamento com fonoaudióloga e psicóloga
• Aconselhamento dos familiares e cuidadores
• Reestruturação e adaptação do ambiente
b) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Objetivo: Aliviar sintomas envolvidos na síndrome. Fármacos capazes
de regredir ou reduzir a velocidade de evolução dos processos que levam à
demência estão sendo estudados, porém nenhum demonstrou real eficácia
para esse propósito11,28 (Tabela 4).
Além de tratar tremores, reduz flutuações Dose inicial: 250/25 mg por dia dividida
Levodopa/carbidopa
motoras em duas administrações
Além de tratar tremores, reduz flutuações 200/50 mg por dia dividida em pelo menos
Levodopa/benserazida
motoras duas administrações
DICAS DO ESPECIALISTA
a) CONDUTA DIANTE DO CASO SUSPEITO DE
NEUROSSÍFILIS (Fluxograma 5)
REFERÊNCIAS
1. Lane CA, Hardy J, Schott JM. Alzheimer’s disease. Eur J Neurol. 2018;25(1): 59-70.
2. Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. 2. ed. São Paulo: Editora
Atheneu; 2003.
3. Garre-Olmo J. Epidemiology of Alzheimer’s disease and other dementias. Rev Neurol. 2018;
66(11): 377‐86.
4. Campbell WW. DeJong – O exame neurológico. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2007.
5. Ménard C, Hodes GE, Russo SJ. Pathogenesis of depression: Insights from human and rodent
studies. Neuroscience. 2016; 321: 138‐62.
6. Malhi GS, Mann JJ. Depression. Lancet. 2018; 392(10161): 2299-312.
7. Casey DA. Depression in Older Adults: A Treatable Medical Condition. Prim Care - Clin Off
Pract [Internet]. 2017; 44(3): 499-510.
8. Wang J, Yu JT, Wang HF, Meng XF, Wang C, Tan CC, et al. Pharmacological treatment of
neuropsychiatric symptoms in Alzheimer’s disease: A systematic review and meta-analysis.
J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2015; 86(1): 101-9.
9. Storstein OTA. Epidemiology of Parkinson’s disease Diagnosis of PD. J Neural Transm.
2017;(1).
10. Sanford AM. Lewy Body Dementia. Clin Geriatr Med. 2018; 34(4): 603‐15.
11. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria conjunta nº 10, de 31 de Outubro de 2017. Aprova o
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença de Parkinson. Diário Oficial da
União.
12. Olney NT, Spina S, Miller BL. Frontotemporal Dementia. Neurol Clin. 2017; 35(2): 339-74.
13. Bertolucci PHF. Guia de Neurologia. São Paulo: Manole; 2010.
14. Ghosh R, Tabrizi SJ. Clinical features of huntington’s disease. Adv Exp Med Biol. 2018;
1049: 1-28.
15. Armstrong MJ. Progressive Supranuclear Palsy: an Update. Curr Neurol Neurosci Rep.
2018; 18(3): 1-9.
16. Lopez G, Bayulkem K, Hallett M. Progressive supranuclear palsy (PSP): Richardson
syndrome and other PSP variants. Acta Neurol Scand. 2016; 134(4): 242-9.
17. Ali F, Josephs K. The diagnosis of progressive supranuclear palsy: current opinions and
challenges. Expert Rev Neurother. 2018; 18(7): 603-16.
18. O’Brien JT, Thomas A. Vascular dementia. Lancet [Internet]. 2015; 386(10004): 1698-706.
19. Smith EE. Clinical presentations and epidemiology of vascular dementia. Clin Sci. 2017;
131(11): 1059-68.
20. Rodríguez García PL, Rodríguez García D. Diagnóstico del deterioro cognitivo vascular y
sus principales categorías. Neurologia. 2015; 30(4): 223-39.
21. André C. Demência vascular. Dificuldades diagnósticas e tratamento. 1998; 56: 498-510.
22. Ganguli M. Cancer and dementia. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2015; 29(2): 177-82.
23. McWilliams L, Farrell C, Grande G, Keady J, Swarbrick C, Yorke J. A systematic review of
the prevalence of comorbid cancer and dementia and its implications for cancer-related care.
Aging Ment Heal. 2018; 22(10): 1254-71.
24. Van der Willik KD, Schagen SB, Ikram MA. Cancer and dementia: Two sides of the same
coin? Eur J Clin Invest. 2018; 48(11): 1-12.
25. Lim SL, Rodriguez-Ortiz CJ, Kitazawa M. Infection, systemic inflammation, and
Alzheimer’s disease. Microbes Infect. 2015; 17(8): 549-56
26. Spiteri G, Unemo M, Mårdh O, Amato-Gauci AJ. The resurgence of syphilis in high-
income countries in the 2000s: a focus on Europe. Epidemiol Infect. 2019; 147: e143.
27. Mukku S, Safal SS, Pritam R, Nashi S, Nagarathna C, Pt S, et al. Neurosyphilis presenting
as rapidly progressive psychosis & dementia – A forgotten entity. Asian J Psychiatr. 2019;
40: 103-6.
28. Hartmann PB. Tratamento na demência por corpos de Lewy: sintomas neuropsiquiátricos.
Portal Pebmed. [Internet]; 2017. [acesso em 04 abril de 2020]. Disponível em:
https://pebmed.com.br/tratamento-na-demencia-por-corpos-de-lewy-sintomas-
neuropsiquiatricos/.
29. SMID J. Demências. MedicinaNet. [Internet]; 2008. [acesso em 23 Março de 2020].
Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/imagens/20081110031116.gif.
8.15
MORTE ENCEFÁLICA
Autores:
Mateus Gonçalves de Sena Barbosa
Maycon Cristian Gomes de Paula
Nícollas Nunes Rabelo
CASO CLÍNICO
a) Anamnese e HMA:
JFC, masculino, 72 anos, hipertenso em uso de Losartana 50 mg,
tabagista, aposentado, (50 anos-maço). Deu entrada no serviço inconsciente.
Segundo a filha, BFC, há 2 semanas o pai começou a referir cefaleia
holocraniana pulsátil, constante e sem fatores de alívio, associada a vômitos
e náuseas. Hoje pela manhã, a dor se tornou muito mais intensa, associada à
hemiplegia completa à direita e afasia. Devido à piora progressiva, ela
decidiu levar o pai ao atendimento médico.
b) Interrogatório dos sistemas:
Os diversos sistemas sofreram modificações, uma vez que os sistema
nervoso e respiratório foram cessados.
c) Desenvolvimento neuropsicomotor:
Paciente com crescimento e desenvolvimento pertinente à idade.
d) Procedentes médicos:
JFC é hipertenso há 30 anos e faz uso contínuo de Losartana 50 mg, não
possui alergias medicamentosas, alimentares e ambientais; nega outras
doenças e uso de outras medicações. Ademais, nunca passou por
internamentos e cirurgias, conforme as informações passadas pela BFC em
relação ao seu pai.
e) Histórico familiar:
BFC relata pelo seu pai que há casos de hipertensão arterial nos pais do
paciente; a mãe de BFC possuía aneurisma cerebral; não há casos de
diabetes mellitus, neoplasias e infecções sexualmente transmissíveis.
f) Evolução:
Paciente foi atendido pelo serviço de urgência, sedado e posto em
ventilação mecânica.
A Tomografia Computadorizada evidenciou um aneurisma roto de artéria
cerebral média direita, associada à hemorragia intraparenquimatosa e
subaracnoidea Fisher IV (Figura 1).
Parâmetro Valores
Parâmetro Valores
Temperatura corporal
38,6° C
(esofagiana, visceral ou retal)
PCO2 35 mmHg
Tabela 1. Registro dos dados vitais do paciente JFC após 48 horas na UTI.
Fonte: Tabela ilustrativa de autoria própria.
INTRODUÇÃO
• O protocolo de morte encefálica (ME) é um processo
sistematizado, comprovado cientificamente, ético e indispensável a
fim de dar o diagnóstico correto, se realmente ocorreu morte
encefálica ou não.
DEFINIÇÕES
• É definida como a perda integral e irreversível das funções do
encéfalo, ou seja, cessação irrecuperável de todas os papéis
funcionais de competência cortical, de tronco encefálico e do
cerebelo.
EPIDEMIOLOGIA
• Maioria das vítimas são homens (56,3%) com mediana de idade
51,5.1
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
• Traumatismo cranioencefálico
• Acidente vascular cerebral (AVCH /AVCI)
• Tumores cerebrais primários
• Anóxia cerebral (pós-parada cardiorrespiratória, afogamento)
• Hipoglicemia
• Intoxicação exógena 5,6
• Importância:
• Estabelecer o plano terapêutico e evitar terapias inúteis
• Oferecer informações concretas aos familiares
• Reduzir custos e otimizar a ocupação de leitos da UTI
• Apresentar a possibilidade de doação de órgãos à família
1º PASSO | Excluir outras condições que podem interferir no exame.
Os fatores que interferem (fluxograma 2) e que não interferem
(fluxograma 3) estão sintetizados nos fluxogramas.
• Eletroencefalograma
• Doppler Transcraniano
• Arteriografia Cerebral de 4 vasos
• Tomografia por emissão de fóton único (SPECT)
• Tomografia por emissão de próton (PET)
• Potenciais Evocados somatossensitivos (PESS)
Qualquer um destes exames:
• eletroencefalograma;
• doppler Transcraniano;
• arteriografia cerebral de 4 vasos;
Acima de 2 anos • tomografia por emissão de fóton único
(SPECT);
• tomografia por emissão de próton (PET);
• potenciais Evocados somatossensitivos
(PESS).
Qualquer um destes exames:
• eletroencefalograma;
• doppler transcraniano;
De 1 ano a 2 anos incompletos
• arteriografia cerebral;
• cintilografia cerebral.
OBS.: caso for EEG, deve realizar dois EEGs com intervalo de 12 horas
entre o primeiro e o segundo.
Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico Parâmetros clínicos para o início do diagnóstico
Tempo de observação para que seja iniciado o Tempo de observação para que seja iniciado o diagnóstico
diagnóstico
• Mínimo de 6 horas.
• Não havia.
• Quando a causa for encefalopatia.
• Hipóxico-isquêmica, a observação deve ser de
24 horas.
1) Exames clínicos, realizados por médicos 1) Dois exames clínicos, por médicos diferentes, especificamente
diferentes, e exames complementares, realizados em capacitados para confirmar o coma não perceptivo e a ausência de função
intervalos de tempos variáveis; do tronco encefálico;
2) Os exames complementares devem demonstrar: 2) um teste de apneia;
ausência de atividade elétrica cerebral, ausência de 3) um exame complementar que comprove a ausência de atividade
atividade metabólica cerebral ou ausência de encefálica. Este exame deve comprovar: ausência de perfusão sanguínea
perfusão sanguínea cerebral. encefálica, ou ausência de atividade metabólica encefálica ou ausência de
atividade elétrica encefálica.
1) Decreto nº 2.268/97 (revogado pelo Decreto nº 1) Será considerado especificamente capacitado o médico com um ano de
9.175/17) estabelecia que um dos dois médicos experiência no atendimento de pacientes em coma e que tenha
confirmadores da morte encefálica deveria ser acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de morte
neurologista. encefálica, ou que tenha realizado curso de capacitação para determinação
2) Mesmo decreto estabelecia que nenhum desses de morte encefálica.
médicos poderiam fazer parte da equipe de 2) Um dos médicos especificamente capacitado deverá ser especialista em
transplante. uma das seguintes áreas: medicina intensiva, medicina intensiva
pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina de
emergência.
3) Nenhum desses médicos poderá fazer parte da equipe de transplante.
FINALIZAÇÃO DO PROTOCOLO13,15
O esquema para finalizar o protocolo estão no fluxograma 7.
Fluxograma 7. Finalização do protocolo de ME
Fonte: Brasil, Moura 13,15
DICAS DO ESPECIALISTA
a) Passos técnico-legais para finalizar o protocolo de morte
encefálica4,7,15,20
Os passos estão esquematizados no algoritmo 8.
Fluxograma 8. Algoritmo de condutas técnico-legais na ME
Fonte: Kirshen, Morsch, Moura, Caruso 4,7,15,20
Observações:
CONCLUSÃO
• O protocolo de ME é constituída de um conjunto de critérios e
procedimentos que devem ser assegurados e realizados
integralmente para obter um resultado fidedigno e real do paciente,
uma vez que é um protocolo seguro, ético e sistematizado
cientificamente.
REFERÊNCIAS
1. Kock KS, Santana MG, Da Silva SC, Andrade SB, Dos Santos EN. Epidemiological profile,
organic and electrolytic dysfunction in potential donors of organs tissues of a hospital of the
south of Brazil. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2019; 64(2): 100-7.
mai./ago. 2019
2. Dell Agnolo CM, de Freitas RA, Toffolo VJ, de Oliveira ML, de Almeida DF, Carvalho MD,
et al. Causes of organ donation failure in Brazil. Transplant Proc. 2012; 44(8): 2280-2.
3. Peris A, Lazzeri C, D’Antonio L, Bombardi M, Bonizzoli M, Guetti C, et al. Epidemiological
changes in potential heart donors after brain death: a retrospective 15 year cohort study.
Intern Emerg Med. 2019; 14(3): 371-5.
4. Kirschen MP, Francoeur C, Murphy M, Traynor D, Zhang B, Mensinger JL, et al.
Epidemiology of Brain Death in Pediatric Intensive Care Units in the United States. JAMA
Pediatr. 2019; 173(5): 469-76.
5. Freitas RAD, Agnolo CMD, Benguella EDA, Donoso LMB, Ferreira EC, Pelloso SM, et al.
Diagnóstico de muerte encefálica en víctimas de accidentes: análisis del proceso. Enfermería
Global. 2018; 17(2): 107-30.
6. Carvalho LFAD, Affonseca CDA, Guerra SD, Ferreira AR, Goulart EMA. Severe traumatic
brain injury in children and adolescents. 1st ed. Rev Bras Ter Intensiva. 2007; 19(1): 98-106.
7. Morsch JA. Protocolo de Morte Encefálica: Conceito, Atualizações e Regras do Brasil.
Morsch. [Internet]; 2020. Disponível em: https://telemedicinamorsch.com.br/blog/protocolo-
de-morte-encefalica.
8. Schein AE, Carvalho PRA, Rocha TS, Guedes RR, Moschetti L, Salvia JCL, et al. Avaliação
do conhecimento de intensivistas sobre morte encefálica. Rev bras ter intensiva. 2008; 20(2):
144-8.
9. Silva SC, Silveira LM, Alves LMM, Mendes IAC, Godoy S. Percepções reais e ilusórias de
pacientes em coma induzido. Rev Bras Enfermagem. 2019; 72(3): 857-64.
10. Rabello GD. Coma e estados alterados de consciência. In: Nitrini R, Bacheschi LA. A
Neurologia que Todo Médico Deve Saber. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2015.
11. Tannous LA, Yazbek VMDC, Giugni JR. Manual Para Notificação, Diagnóstico de Morte
Encefálica e manutenção do potencial doador de órgãos e tecidos. 3. ed. Curitiba:
SESA/SGS/CET; 2018.
12. Neto JAC, Ferreira RE, Assad IM, Santos IA, Breder SD, Paula LCD, et al. Atualização dos
critérios diagnósticos de morte encefálica: aplicação e capacitação dos médicos. Rev Bras
Ter Intensiva; 2019; 31(3): 303-11.
13. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 2173/2017. Diário Oficial Da
União; 2017. 50-275.
14. Moura E. Protocolo de Morte Encefálica: conheça os conceitos e saiba aplicar. Portal
PebMed. [Internet]; 2019. [acesso em 24 abril 2020]. Disponível em:
https://pebmed.com.br/protocolo-de-morte-encefalica/.
15. Moura LC, Silva VS. Manual do núcleo de captação de órgão: Iniciando uma comissão
intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplante: CIHDOTT. Barueri, SP:
Minha Editora; 2014.
16. Tannous La, Yazbek Vmdc, Giugni Jr. Manual para notificação, diagnóstico de morte
encefálica e manutenção do potencial doador de órgãos e tecidos. 2. ed. Curitiba:
SESA/SGS/CET; 2016.
17. Luccas FJC, Braga NIO, Silvado CES. Recomendações técnicas para o registro do
eletrencefalograma (EEG) na suspeita da morte encefálica. Arq Neuro-Psiquiatr. 1998;
56(3B): 697-702.
18. Garrett MP, Williamson RW, Bohl MA, Bird CR, Theodore N. Computed tomography
angiography as a confirmatory test for the diagnosis of brain death. J Neurosurg. 2018;
128(2): 639-44.
19. Kramer AH, Roberts DJ. Computed tomography angiography in the diagnosis of brain
death: a systematic review and meta-analysis. Neurocrit Care. 2014; 21(3): 539-50.
20. Caruso R, Franke C, Ruling RK. Morte Encefálica: Da identificação à manutenção do
potencial doador de órgãos e tecidos. GET-RS. 2017. 48 p.
21. Bashshur RL. Telemedicine and Health Care, Telemed J E-health. 2002; 8(1): 5-12.
22. Agarwal S, Warburton EA. Teleneurology: is it really at a distance? J Neurol. 2011; 258:
971-81.
23. Campos C, Caudevilla E, Alesanco A, Lasierra N, Martinez O, Fernández J, et al. Setting up
a telemedicine service for remote real-time video-EEG consultation in La Rioja (Spain), Int J
Med Inform. 2012; 81(6): 404-14.
24. Craig JJ, McConville JP, Patterson VH, Wootton R. Neurological examination is possible
using telemedicine. J Telemed Telecare. 1999; 5(3): 177-81.
25. Teixeira RKC, Gonçalves TB, Silva JAC. A intenção de doar órgãos é influenciada pelo
conhecimento populacional sobre morte encefálica. Rev Bras Ter Intensiva. 2012; 24(3):
258-62.
9.1
INVESTIGAÇÃO INICIAL DAS ANEMIAS
Autores:
Giovana Aparecida Rufino
Yala Maria de Oliveira Figueiredo
Aline Bonora de Oliveira
DEFINIÇÕES
• Anemia é definida pela redução da massa eritrocitária circulante com consequente queda da
concentração de hemoglobina (Hb) e/ou hematócrito (Ht), tornando a capacidade de
carreamento de oxigênio insuficiente para suprir as necessidades fisiológicas teciduais. É
uma condição clínica extremamente comum com etiologias, manifestações clínicas e
tratamento distintos. Valores normais do eritrograma estão representados nas Tabelas 1 e 2.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os sintomas da síndrome anêmica são relacionados à redução do transporte de oxigênio tecidual e
são mais intensos nas anemias mais graves e de instalação mais rápida. De maneira geral, o paciente
queixa-se de fadiga, astenia, vertigem ou hipotensão postural, indisposição, sonolência, cefaleia
holocraniana, redução da tolerância aos esforços, dispneia, som pulsátil nos ouvidos, palpitações,
podendo apresentar descompensação de comorbidades cardiovasculares, cerebrovasculares ou
pulmonares. Os sintomas são sempre mais exuberantes em casos associados à hipovolemia, como em
sangramentos agudos e vultuosos. Importante questionar na anamnese sobre perdas macroscópicas de
sangue (trato gastrointestinal, geniturinário, ciclo menstrual), dieta e hábitos alimentares,
comorbidades e medicamentos em uso. O exame físico pode auxiliar no diagnóstico da etiologia da
anemia e deve ser realizado com cautela (Tabela 3). De forma geral, encontramos palidez
cutaneomucosa diretamente proporcional à gravidade da anemia. Icterícia e esplenomegalia chamam
atenção para causas hemolíticas. A concomitância de linfadenomegalias e outras citopenias ao
hemograma pode indicar causas medulares, infecciosas ou neoplásicas e merecem investigação mais
detalhada.
ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO
• Existem várias metodologias para a investigação etiológica da anemia, e o primeiro
questionamento que devemos fazer é o seguinte: “Por que este paciente está anêmico?”. Os
motivos do aparecimento podem estar relacionados a defeitos na cinética da produção ou
alterações morfológicas. Tais condições podem envolver perdas sanguíneas macroscópicas
ou ocultas, aumento da destruição dos eritrócitos por hemólise hereditária ou adquirida,
redução da produção dos eritrócitos por déficits carenciais ou doenças primárias da medula
óssea como leucemia aguda, anemia aplásica, mieloma múltiplo e síndrome
mielodisplásica.
• De acordo com a cinética de produção, a anemia pode ser causada por redução da produção
de hemácias ou eritropoese ineficaz (reticulocitopenia – anemia hipoproliferativa) ou
aumento da destruição das hemácias ou perda sanguínea aguda (reticulocitose – anemia
hiperproliferativa). As principais etiologias de cada grupo estão na Tabela 4.
b. Anemias Normocíticas
Podem ocorrer por deficiências nutricionais combinadas (ferro + cobalamina ou ferro + ácido
fólico) que podem estar presentes, por exemplo, em pacientes submetidos a cirurgias bariátricas,
etilistas e portadores de gastrite atrófica imunológica.
Doença renal crônica pode comprometer a produção de eritropoetina (EPO) e, consequentemente,
a eritropoese, gerando anemia diretamente proporcional à doença renal de diversos graus de
intensidade com níveis séricos de EPO normais no início do quadro. Insuficiência cardíaca pode
gerar anemia normocítica nos estágios avançados por mecanismos somatórios (congestão hepática e
esplênica, inflamação, decréscimo da função renal por hipoperfusão, redução da absorção de
vitaminas essenciais por congestão de alças intestinais).
A anemia hemolítica é normocítica na maioria das vezes com elevação da desidrogenase lática
(DHL), reticulocitose, aumento dos níveis de bilirrubina indireta e queda da haptoglobina sérica,
como será abordado no capítulo seguinte. O teste de Coombs direto (teste de antiglobulina direto) é
reagente em mais de 95% dos casos de anemia hemolítica autoimune; se negativo, vale investigar
anemias hemolíticas hereditárias, especialmente se o quadro for crônico ou recidivante (defeitos de
membrana, enzimopatias ou hemoglobinopatias). Teste de Coombs direto negativo com hemólise e
presença de esquizócitos no sangue periférico levantam a hipótese de anemias microangiopáticas
(síndrome hemolítico-urêmica, púrpura trombocitopênica trombótica, coagulação intravascular
disseminada, por exemplo).
Distúrbios tireoideanos, bem como infecção por HIV ou HCV, também devem ser investigados
nos pacientes com anemia normocítica.
Pacientes hospitalizados antes não anêmicos podem desenvolver anemia multifatorial por
sangramentos ocultos, inflamação, infecção grave, coleta recorrente de amostras para exames
laboratoriais, hemodiluição por hidratação vultosa, perdas sanguíneas por procedimentos invasivos
ou cirurgias. Nestes casos, o VCM costuma ser normal.
Disfunções medulares podem gerar anemia normocítica. Essas condições incluem mieloma
múltiplo, aplasia pura de série vermelha (anemia associada à reticulocitopenia intensa), leucemias
agudas, (aparecendo normalmente com bicito ou pancitopenia e evidência de blastos no sangue
periférico), leucemias crônicas com alterações adicionais como leucocitose e trombocitose, a
depender do subtipo, síndrome mielodisplásica (anemia isolada ou outras citopenias com alterações
displásicas na hematoscopia) e mielofibrose (com dacriócitos no sangue periférico).
A causa mais prevalente dessa classe de anemia é a deficiência de cobalamina (vitamina B12) ou
ácido fólico (vitamina B9), etiologias da anemia megaloblástica. Este é um grupo distinto de anemia
com alterações morfológicas bem estabelecidas, pancitopenia em alguns casos e assincronia de
maturação núcleo-citoplasmática. Sem as vitaminas essenciais citadas, a produção de ácidos
nucleicos fica prejudicada levando à lentificação da divisão nuclear e formas megaloblastoides. A
deficiência de cobalamina, por interferir na mielinização inicial, pode gerar manifestações clínicas
neurológicas ou neuropáticas.
Alterações clonais da medula óssea podem causar anemia macrocítica, tais como síndrome
mielodisplásica, doenças linfoproliferativas, anemia aplásica ou aplasia pura de série vermelha,
necessitando da avaliação do hematologista para o diagnóstico.
Macrocitose leve pode ocorrer em casos de reticulocitose (VCM do reticulócito é maior que o da
hemácia madura), hepatopatias, distúrbios tireoideanos, abuso de álcool ou uso de algumas
medicações como hidroxiureia, alopurinol, zidovudina, entre outras. Na avaliação do esfregaço
sanguíneo periférico, as alterações eritrocitárias auxiliam muito o diagnóstico (policromatofilia ou
policromasia é equivalente a reticulóticos; células em alvo sugere hepatopatia, hemoglobinopatias ou
síndrome mielodisplásica).
De forma geral, as anemias são altamente prevalentes na prática clínica, e a avaliação correta
reflete diretamente no diagnóstico e tratamento eficazes.
Tabela 3. Principais etiologias conforme os grupos de anemia de acordo com a cinética de produção
Fonte: Adaptação Leung, UpToDate.
DICAS DO ESPECIALISTA
REFERÊNCIAS
1. WHO. Haemoglobin concentrations for the diagnosis of anaemia and assessment of severity. Vitamin and Mineral Nutrition
Information System. Geneva: World Health Organization; 2011.
2. Leung LLK. Aproach to the adult with anemia. UpToDate, [Internet]; 2020. [acesso em 30 jun 2020]. Disponível em
https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-anemia.
3. Vieth JT, Lane DR. Anemia. Hematol Oncol Clin North Am. 2017; 31; 1045-60.
4. Deloughery TG, Asia S. Microcytic Anemia. N Eng J Med. 2014; 371(14): 1324-31.
5. Ford J. Red blood cell morphology. Int J Lab Hemat. 2013; 35: 351-7.
9.2
ANEMIA FERROPRIVA
Autores:
Patrícia Vas Tostes Mendes
Daniela Passos Garcia Campos
Iracema Esteves
DEFINIÇÕES
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Fisiológicas: aumento da demanda nas fases de crescimento e desenvolvimento, gestação, menstruação, doadores
crônicos de sangue, atletas
Ambientais: redução da ingesta por má nutrição ou condições financeiras inadequadas
Redução da absorção: gastrectomia, cirurgia bariátrica, infecção por Helicobacter pylori, doença celíaca,
gastrite atrófica, doenças inflamatórias intestinais
TGI: esofagite, gastrite erosiva, úlceras, doença diverticular, angiodisplasias, neoplasias benignas ou malignas
(principalmente neoplasia de cólon), hemorroidas, verminoses
TGU: menorragia, hematúria, hemoglobinúria
HPN: anemia hemolítica intravascular, hemólise microangiopática, ou hemodiálise
Sangramentos sistêmicos constantes
TGI: trato gastrointestinal; TGU: trato geniturinário; HPN: hemoglobinúria paroxística noturna; AINE:
antiinflamatório não esteroidal; TMPRSS6: serinoprotease transmembrana 6.
QUADRO CLÍNICO
• Os sintomas mais frequentes incluem palidez cutaneomucosa, fadiga, dispneia aos esforços
e cefaleia. Habitualmente, o paciente tem alopecia, glossite, estomatite, queilite angular,
síndrome das pernas inquietas, pele seca e áspera, vertigem, redução da tolerância aos
exercícios e baixa produtividade no trabalho.
• Taquicardia, dispneia aos esforços leves, sopro sistólico e angina aparecem com valores
mais baixos de hemoglobina. Pode haver na deficiência grave de ferro síncope, coiloníquia,
perversões alimentares.
EXAME FÍSICO
• Ectoscopia: palidez cutaneomucosa, pele seca ou áspera, glossite atrófica com perda de
papila da língua, queilite angularis, coiloníquia, alopecia, síndrome das pernas inquietas.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• A anemia ferropriva é, na grande maioria das vezes, microcítica (VCM baixo), hipocrômica
(HCM reduzido), com RDW elevado. Os leucócitos geralmente estão normais e as
plaquetas podem estar normais ou discretamente aumentadas (estímulo de megacariócitos
pela eritropoetina). Reticulócitos estão normais ou reduzidos na deficiência extrema de
ferro.
• Níveis séricos de hepcidina e receptor solúvel de transferrina seriam muito úteis, mas ainda
não estão disponíveis na prática clínica.
ÍNDICE DE SATURAÇÃO DE
< 16%
TRANSFERRINA
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• O ferro heme (diretamente absorvido) advém de carnes, principalmente vermelha. A dieta
pode complementar o tratamento da deficiência de ferro, mas é improvável que suprima a
deficiência. A ingestão recomendada de ferro diário é de 8 mg para homens adultos e 18 mg
para mulheres que menstruam.
• Inibidores da absorção de ferro, como cereais, chá e café, devem ser consumidos em
horários distantes da reposição oral medicamentosa.
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
A etiologia da ferropenia deve ser obrigatoriamente diagnosticada e resolvida.
• O tratamento deve ser mantido por 3 meses após a normalização dos estoques, ou seja, após
normalização dos níveis séricos de ferritina (meta de 50 a 100 ng/mL). Se o paciente não
responde ao tratamento, é necessário rever o diagnóstico, a adesão e se existe má absorção
associada, especialmente por doença celíaca ou presença da bactéria Helicobacter pylori.
• A forma disponível no Brasil é o sacarato de hidróxido férrico, cuja dose deve ser
administrada em ambiente hospitalar, em infusão IV lenta, por 60 minutos, de uma a três
vezes na semana, com intervalos mínimos de 48 horas e não ultrapassando 300 mg em cada
dose. O cálculo da dose total de reposição é feito da seguinte maneira:
Dose total = Deficiência de hemoglobina (Hb desejada conforme sexo e idade do
paciente - Hb atual em g/dL) x Peso corporal (em kg) x 2,3 + 500 a 1000 mg (quantidade
de ferro para reposição dos estoques).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso Clínico: Mulher, 70 Kg, Hb 6,8 g/dL, alvo 12 g/dL.
b. Prescrição Sugerida:
(12-6,8) x 70 x 2,3 + 500 =
5,2 x 161 + 500 =
837,2 + 500 =
1.337,2 mg = 1.300 mg (dose total a ser reposta)
• A ampola de sacarato de hidróxido férrico tem 100 mg. A infusão IV deve ser realizada na
dose máxima de 300 mg por aplicação, em 60 a 90 minutos, duas a três vezes na semana,
com intervalos de 48h entre as administrações.
• Neste exemplo: Sacarato de hidróxido férrico 100 mg/5 mL 2 ampolas + SF 0,9% 250mL –
Administrar em 60 minutos, EV, duas vezes por semana (7 vezes).
DICAS DO ESPECIALISTA
• Preste atenção pois a dosagem do comprimido de ferro oral é diferente das dosagens de
ferro elementar que ele contém. Ex.: sulfato ferroso de 325 mg contém 65 mg de ferro
elementar.
• A via de escolha de reposição é sempre a oral, a não ser nas particularidades citadas acima.
• Reposição de ferro em pacientes com hipoferritinemia e sem anemia instalada é
questionável, a não ser que haja algum sintoma.
DEFINIÇÕES
A anemia da doença inflamatória (anemia da inflamação ou anemia de doença crônica) é
prevalente em pacientes com condições subjacentes que causem ativação inflamatória prolongada ou
intensa como doenças neoplásicas, infecciosas, reumatológicas. Recentemente, a lista de doenças
relacionada a esta anemia incluiu também diagnósticos como doença renal crônica, insuficiência
cardíaca congestiva, doença pulmonar crônica e obesidade. Tais condições levam a um processo de
ativação imune e produção de citocinas inflamatórias que interferem na eritropoese e reduzem a
sobrevida das hemácias.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A anemia da inflamação é a segunda causa mais frequente de anemia sendo superada somente
pela anemia ferropriva. É a anemia mais comum em pacientes hospitalizados, principalmente em
idosos e pacientes com doença crônica conhecida (Quadro 1).
Infecções
Doenças imunomediadas
Doenças inflamatórias
Obesidade
Anemia do idoso
Outros fatores que podem acentuar a anemia em pacientes internados e em estado crítico incluem
perda sanguínea por flebotomias constantes para exames, sangramentos gastrointestinais acentuados
por anticoagulação, uso de sondas nasoenterais e medicações que promovem erosões
gastroduodenais. Perda sanguínea em hemodiálise, hemólise e hemodiluição também são
contribuintes.
Fluxograma 1. Fisiopatologia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
QUADRO CLÍNICO
O paciente geralmente tem uma doença conhecida (infecções, neoplasia, doença inflamatória
intestinal, renal crônica, doença autoimune) ou ainda não diagnosticada e apresenta-se com anemia
normocítica na maioria das vezes.
A anemia desenvolve-se gradualmente nos primeiros 30 a 90 dias da doença em atividade e
costuma ser leve a moderada, a menos que exista um fator concomitante que possa agravar o quadro.
O paciente costuma queixar-se mais de sintomas relacionados à doença de base. A sintomatologia
relacionada a anemia inclui astenia, palidez, dispneia, palpitações, confusão mental, redução no
desempenho cardiovascular.
Pode-se correlacionar a intensidade e persistência da anemia a um marcador de gravidade e
progressão da doença subjacente, podendo ser útil para monitorar o curso da doença e a eficácia do
tratamento. A anemia da inflamação tende a melhorar com o tratamento da doença de base quando
esta é reversível.
EXAME FÍSICO
Os achados gerais da anemia envolvem palidez cutaneomucosa, taquipneia e taquicardia,
rebaixamento de nível de consciência e sopro sistólico em foco aórtico nos casos mais graves. É
importante observar lesões cutâneas ou articulares, sinais de artrite, turgência de jugulares, edema de
membros inferiores, estertores finos pulmonares que podem sinalizar alguma doença subjacente
como causa da anemia.
a. Parâmetros laboratoriais:
• Receptor solúvel da transferrina e razão do receptor solúvel sobre a ferritina normais (ainda
não disponíveis na prática clínica).
A anemia da inflamação pode coexistir com outras anemias, como megaloblástica e ferropriva,
hemólise e inibição na eritropoiese causada por medicamentos ou toxinas, devendo-se pesquisar e
avaliar concomitância destas condições.
A anemia ferropriva associada nestes casos pode ser multifatorial, relacionada a situações
frequentes em doentes crônicos, tais como: perda sanguínea crônica do trato gastrointestinal ou
genitourinário, presente em neoplasias; em perdas crônicas durante procedimentos como a
hemodiálise e coletas de exames laboratoriais frequentes, além de outras situações, como
desnutrição. Caso tenha associação com anemia ferropriva, as hemácias podem ser microcíticas e
hipocrômicas e a ferritina pode estar normal, porém raramente acima de 100 ng/mL. O receptor da
transferrina encontra-se aumentado na anemia ferropriva e a medula óssea mostra baixo estoque de
ferro tanto nos macrófagos como em eritroblastos.
A distinção entre anemia da inflamação e ferropriva nem sempre é clara, mas, se não houver
infecção associada, pode-se tentar prova terapêutica com suplementação de ferro. A punção
aspirativa de medula óssea pode ser útil na avaliação de outros diagnósticos diferenciais,
principalmente na suspeita de doença hematológica primária, infiltração neoplásica ou infecção
impactando na eritropoiese (por exemplo, leishmaniose visceral), sendo útil também para
quantificação do ferro medular. Outros diagnósticos diferenciais incluem anemias sideroblásticas,
mieloftise por infiltração de medula óssea e síndromes mielodisplásicas.
TRATAMENTO
Consiste no tratamento da doença de base com o objetivo de corrigir os mecanismos envolvidos
no desenvolvimento da anemia. Tratamentos simultâneos se baseiam em agentes estimuladores da
eritropoiese, como eritropoietina e darbepoetina, e suplementação de ferro quando indicado.
a. Reposição de ferro: terapia adjuvante isolada ou em associação com a eritropoietina. Deve-
se suplementar ferro a fim de manter a ferritina acima de 100 ng/mL e a saturação de transferrina
> 20%. É calculada a dose necessária de acordo com o peso do paciente e o déficit de ferro
estimado. Dá-se preferência por reposição endovenosa, visto que a absorção gastrointestinal
costuma estar prejudicada em situações inflamatórias crônicas, porém pacientes com deficiência
de ferro e inflamações leves podem obter benefício com reposição oral de ferro.
b. Eritropoietina: Geralmente indicada quando anemia sintomática com Hb < 10g/dL, sendo
útil principalmente naqueles com dosagem de eritropoietina < 500mU/mL.
• Dose inicial 50-100 U/kg SC, ou 4.000 U/dia no adulto, uma a três vezes por semana, por
oito a doze semanas. Deve-se monitorar a hemoglobina a cada duas semanas até obter a
resposta desejada. Caso não ocorra resposta terapêutica eficaz (aumento de Hb > 1 g/dL em
quatro semanas), pode-se aumentar a dose em 25% a cada quatro semanas até atingir a dose
de 300 U/kg. Se a Hb aumenta mais de 1g/dL em duas semanas, deve-se reduzir a dose em
25%.
• Dose alternativa de 30.000 a 40.000 U SC uma vez por semana. Pode ser aumentada para
60.000 U SC uma vez por semana se não houver resposta em quatro semanas.
• A dose equivalente de darbepoetina utilizada pode ser de 60 a 100 mcg/semana ou 300 mcg
a cada três semanas. Como a darbepoetina tem uma meia-vida maior, podendo resultar em
estimulação excessiva e prolongada, há preferência no uso da eritropoietina.
• Efeitos adversos incluem hipertensão, cefaleia, prurido, náuseas, artralgia, edema e eventos
tromboembólicos.
d. Condições especiais:
• Doença renal crônica: eritropoietina recombinante (4000 U/frasco) 50-100 U kg/peso, três
vezes por semana, intravenoso (IV) em 1-2 min ou subcutâneo (SC). A dose inicial pode ser
aumentada em 25 UI/kg de cada vez com intervalos de quatro semanas. Utilizar ferro
intravenoso, se necessário (se ferritina <100 ng/mL, saturação de transferrina < 20%), para
melhorar a resposta à terapia com eritropoietina visando a uma Hb próxima de 10 g/dL.
Pode-se usar darbepoetina alfa IV ou SC com dose inicial de 0,45 mcg/kg por semana e
ajustar a dose conforme resposta clínica.
• Neoplasia: eritropoietina recombinante (4000 U/frasco) 150 U/kg SC três vezes por
semana. Há também a alternativa de usar darbepoetina 500 mcg SC a cada três semanas.
Geralmente iniciada em pacientes com anemia relacionada à quimioterapia quando Hb < 10
g/dL. Deve avaliar-se cuidadosamente o risco de eventos tromboembólicos nestes
pacientes, já que agentes estimulantes da eritropoese aumentam a chance de trombose.
Deve-se usar a menor dose possível para aumentar a hemoglobina somente o suficiente para
evitar ou reduzir a necessidade transfusional. Descontinuar se não houver resposta em seis a
oito semanas (aumento de Hb > 1g/dL e redução de necessidade transfusional).
• HIV: eritropoietina recombinante (40000 U/frasco) 100 U/kg SC três vezes semana, até o
máximo de 300 U/kg três vezes por semana.
Novas terapias alvo-específicas como anticorpos monoclonais anti-IL-6, por exemplo, já estão
sendo estudadas. O reconhecimento da anemia da inflamação e o tratamento da causa de base são
pontos cruciais no sucesso do manejo desses pacientes, visto que a cura da doença inflamatória
subjacente costuma resultar na resolução da anemia da inflamação.
DICAS DO ESPECIALISTA
• Iniciar eritropoetina somente se Hb < 10 g/dL com anemia sintomática. Atenção para os
efeitos adversos da medicação. Descontinuar se Hb > 11 g/dL ou se não houver resposta
após oito a doze semanas.
REFERÊNCIAS
1. Goodnough LT, Schrier SL. Evaluation and management of anemia in the elderly. Am J Hematol. 2014; 89(1): 88-96.
2. Weiss G, Ganz T, Goodnough LT. Anemia of inflammation. Blood. 2019; 133(1): 40-50.
3. Stauder R, Valent P, Theurl I. Anemia at older age: etiologies, clinical implications, and management. Blood. 2018; 131(5):
505-14.
4. Tonia T, Mettler A, Robert N, Schwarzer G, Seidenfeld J, Weingart O, et al. Erythropoietin or darbepoetin for patients with
cancer. Cochrane Database Syst Rev. 2012; 12: CD003407.
9.4
ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
Autores:
Cristiano Martins Trindade
Iara Baldim Rabelo
Celso Arrais
DEFINIÇÕES
As anemias megaloblásticas constituem um grupo de anemias macrocíticas cujo desenvolvimento
ocorre devido à síntese ineficaz de DNA nas células precursoras hematopoéticas. Desta forma,
ocorrem alterações morfológicas que culminam com apoptose intramedular. Isto acontece devido à
deficiência de cobalamina (Vitamina B12) e/ou folato (Vitamina B9).
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O quadro a seguir (Quadro 1) divide as várias causas da anemia megaloblástica de acordo com a
vitamina em deficiência.
HIV Hemodiálise
O estoque de cobalamina é mais duradouro que o do ácido fólico, bem como existem diferenças
marcantes entre o metabolismo dessas vitaminas:
a. Cobalamina:
b. Ácido fólico:
• Absorção: jejunal
• Necessidade diária: 400 mcg/dia no adulto, podendo chegar a 500 e 600 mcg na lactação e
gravidez, respectivamente.
QUADRO CLÍNICO
• Sinais e sintomas gerais: palidez, astenia, palpitações, fadiga, vertigem, dispneia aos
esforços, amenorreia. A icterícia pode ocorrer por hemólise intramedular e extravascular.
Nos pacientes com anemia perniciosa existe risco aumentado de câncer gástrico e outras
doenças autoimunes podem coexistir, especialmente tireoidite de Hashimoto. Deficiêcias
crônicas de ácido fólico podem aumentar o risco de neoplasias de cólon.
EXAME FÍSICO
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma/esfregaço de sangue periférico: anemia, bicito ou até pancitopenia com VCM
elevado na maioria das vezes; existem anisocitose, poiquilocitose (predomínio de macrovalócitos)
e eritroblastos circulantes. A presença de neutrófilos hipersegmentados (5% dos neutrófilos
contados no esfregaço de sangue periférico contendo cinco segmentações ou 1% com seis ou mais
segmentações) associada ao aumento de DHL (desidrogenase lática) favorece o diagnóstico.
c. Dosagem sérica de Vitamina B12: valores inferiores a 200 pg/mL sugerem deficiência;
valores entre 200 e 300 necessitam de complementação laboratorial com dosagem de ácido
metilmalônico e homocisteína sérica. Valores acima de 300 pg/mL, embora tornem menos
prováveis, não descartam o diagnóstico de deficiência.
d. Dosagem sérica de ácido fólico: valores inferiores a 2 ng/mL indicam deficiência, e acima
de 4ng/mL indicam estoques normais. Nos casos duvidosos, a dosagem sérica de homocisteína
elevada com níveis séricos de ácido metilmalônico normais favorecem o diagnóstico.
TRATAMENTO
a. Deficiência de Vitamina B12: para o tratamento parenteral (intramuscular) com ampolas de
1000 mcg, administrar uma ampola por dia na primeira semana, seguida de reposição semanal até
correção da deficiência (três a quatro semanas); após, manter uma ampola a cada dois a três
meses. Para ampolas de 5000 mcg, iniciar com uma ampola três vezes na semana (em dias
alternados, por exemplo), seguida de uma ampola semanal (três a quatro semanas) com
manutenção a cada três a seis meses, a depender da etiologia da deficiência.
A reposição oral pode ser feita com drágeas de 1000 a 2000 mcg (a de 5000 mcg é encontrada
com mais facilidade no Brasil) por dia, mas deve ser reservada para casos mais leves ou para
manutenção após melhora clínica com o medicamento parenteral.
A anemia megaloblástica secundária à deficiência de vitamina B12 responde ao tratamento com
reticulocitose em aproximadamente cinco dias do início do tratamento e geralmente ocorre a correção
da hemoglobina com quatro a seis semanas.
Tratamento de Anemia perniciosa, ou qualquer deficiência de B12 causada por má absorção,
precisa ser mantido por toda a vida.
Anormalidades neurológicas graves devem ser tratadas agressivamente com injeções diárias
por uma semana e depois fazer tratamento semanal até estabilização. A gravidade e a duração dos
sintomas neurológicos antes do tratamento predizem o prognóstico; sintomas neurológicos que não
cedem seis meses após o início da reposição provavelmente não melhorarão. Deve-se sempre
procurar outra causa se houver progressão dos sintomas após correção adequada da vitamina B12.
b. Deficiência de ácido fólico: a deficiência de folato é normalmente tratada com ácido fólico
oral (400 mcg a 1000 mcg por dia) por um a quatro meses ou até que haja evidências laboratoriais
de recuperação hematológica. Em caso de deficiência de ácido fólico, antes de se iniciar o
tratamento, deve-se assegurar a existência de níveis adequados de vitamina B12 e, em caso de
deficiência dessa, deve-se realizar a administração conjunta de ambas as substâncias, uma vez que
o tratamento exclusivamente com ácido fólico, em pacientes com deficiência de vitamina B12,
pode levar a um agravamento das manifestações neurológicas.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Mulher de 80 anos com história de um ano de parestesias em membros
inferiores, queda do estado geral e piora cognitiva progressiva.
c. Exames complementares: Hb: 8,4 g/dL, VCM: 110 fL, hipersegmentação de neutrófilos,
vitamina B12 diminuída (182 pg/mL), TSH normal, tomografia de crânio normal e endoscopia
com gastrite atrófica confirmada por biópsia.
d. Prescrição Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Embora a grande maioria das anemias megaloblásticas sejam macrocíticas, o VCM pode
variar de 100 a valores maiores que 130fL. Um VCM normal não descarta anemia
megaloblástica com ou sem deficiência concomitante de ferro.
• Os pacientes com anemia perniciosa têm risco maior de câncer gástrico e devem realizar
endoscopia digestiva alta a cada um a dois anos mesmo sem sintomas gástricos.
• Compartilhe a possibilidade diagnóstica com seu paciente e lance mão do teste terapêutico
com reposição de cobalamina e ácido fólico concomitantes até as dosagens séricas e os
demais exames etiológicos ficarem prontos!
REFERÊNCIAS
1. Means RT, Fairfield KM. Clinical manifestations and diagnosis of vitamin B12 and folate deficiency. UpToDate. [Internet];
2020. [acesso em 29 jun 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-
of-vitamin-b12-and-folate-deficiency.
2. Means RT, Fairfield KM. Causes and pathophysiology of vitamin B12 and folate deficiencies. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em 29 jun 2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/causes-and-pathophysiology-of-vitamin-
b12-and-folate-deficiencies. Acesso em 29.06.2020.
3. Means RT, Fairfield KM. Treatment of vitamin B12 and folate deficiencies. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 29 jun
2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/treatment-of-vitamin-b12-and-folate-deficiencies.
4. Green R, Allen LH, Bjorke-Monsen AL, Brito A, Guéant JL, et al. Vitamin B12 deficiency. Nat Rev Dis Primers. 2017; 3:
17040.
5. Wang H, Li L, Qin LL, Song Y. Vidal-Alaball J, Liu T. Oral vitamin B12 versus intramuscular vitamin B12 for vitamin B12
deficiency (review). Cochrane Database Sys Rev. 2018(3); CD004655.
9.5
ANEMIAS HEMOLÍTICAS
Autores:
Lays Fernandes Mesquita
Fernanda Aparecida Tranches
Iara Baldim Rabelo
DEFINIÇÕES
• Anemia Hemolítica (AH) ocorre devido à redução da meia-vida dos eritrócitos (120 dias)
por destruição prematura nos meios intra ou extravasculares. A anemia se instala quando a
velocidade de hemólise supera a capacidade da produção eritrocitária. A condução do caso
dependerá diretamente da etiologia da hemólise.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Existem várias etiologias e classificações de anemia hemolítica, sendo as principais:
• Hiperesplenismo
• Trauma mecânico (hemólise do corredor, hemólise por valva metálica)
• Microangiopatias (coagulação intravascular disseminada, hipertensão acelerada maligna,
HELLP síndrome, síndrome hemolítico-urêmica, púrpura trombocitopênica trombótica)
Outra classificação das anemias hemolíticas envolve o local de destruição das hemácias:
d. Hemólise Extravascular: as hemácias são destruídas por macrófagos do baço, fígado, medula
óssea e linfonodos. Seguem as principais causas:
• De forma geral, os pacientes apresentam sinais e sintomas de acordo com o grau da anemia e
com o tempo de instalação, podendo apresentar fadiga, astenia, dispneia aos esforços,
taquicardia, palidez cutânea, icterícia leve, esplenomegalia (graus variados), urina
acastanhada (em casos de hemoglobinúria).
EXAME FÍSICO
• Variável de acordo com a etiologia e grau de anemia:
• Palidez Cutânea
• Icterícia leve
• Esplenomegalia
• Taquipneia
• Taquicardia
• Presença de sopro na ausculta cardíaca
EXAMES COMPLEMENTARES
a. Hemograma completo: anemia hemolítica geralmente é normocítica ou macrocítica nos casos
de reticulocitose intensa. Leucocitose ou leucopenia podem aparecer em casos de infecção ou
sepse. Neutropenia em pacientes com coagulação intravascular disseminada e anemia podem
indicar leucemia promielocítica aguda; linfocitose, por sua vez, pode associar-se à doença
linfoproliferativa como causa secundária de AHAI. Trombocitopenia associada à anemia
hemolítica pode indicar síndrome de Evans (púrpura trombocitopênica idiopática associada à
AHAI), CIVD ou microangiopatias trombóticas (púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome
hemolítico-urêmica)
f. Teste de antiglobulina direto (TAD): positivo em 95% dos casos de AHAI; realizado quando
a hemólise é confirmada para determinar se é de natureza imune. O exame demonstra que a
imunoglobulina G (IgG) e/ou complemento (geralmente C3d) está ligado à membrana dos
eritrócitos. Em algumas situações, também podem ser encontradas IgM e IgA.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O diagnóstico de anemia hemolítica deve ser aventado nos pacientes com sinais e sintomas
de anemia, hemograma com níveis de hemoglobina baixos associado à reticulocitose (típicos
nesses casos, mas não específicos), provas de hemólise alteradas e esfregaço de sangue
periférico compatível.
• A história clínica detalhada e os achados ao exame físico podem sugerir etiologia específica
(Quadro 2).
TRATAMENTO
a. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
b. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• Nos casos de AHAI, a terapia recomenda uso de corticoide sistêmico 1-2 mg/kg/dia
(prednisona ou prednisolona), podendo também realizar pulsoterapia com metilpredinisolona
nos casos mais graves. A resposta global (Hb > 10,5 g/dL) ocorre entre duas a três semanas
em 80% dos casos, mas 40% apresentam recidiva. Após classificação da resposta, a redução
gradativa do corticosteroide deve seguir a velocidade de 10 mg/semana até a dose de 20
mg/dia. Nesta fase, reduzir 5 mg/semana e observar recidivas. A redução pode ser feita
alternando-se as doses diariamente (exemplo abaixo).
• Estudos mostram terapia com anti-CD20, rituximabe na dose de 375 mg por metro quadrado
de área de superfície corporal, associado a corticoide sistêmico com resposta superior a
monoterapia isolada. Se o rituximabe não estiver disponível, o corticosteroide deve ser
utilizado como primeira linha e, em casos de recidiva, rituximabe pode ser utilizado com
respostas semelhantes à esplenectomia. Baixas doses de rituximabe (100mg por semana por
quatro semanas) têm tido ótimos resultados com menores custos.
• Esplenectomia está descrita na literatura como possível tratamento de segunda linha, com
resposta em 70% dos pacientes a curto prazo e recidivas que variam entre 30-40%
• 30-50% dos pacientes, em casos graves, apresentam boa resposta ao uso de Imunoglobulina
Humana IV.
Pacientes em uso de corticosteroides devem receber terapia com inibidor da bomba de prótons pelo
maior risco de úlcera gástrica ou duodenal, bem como profilaxia de osteoporose. Devem, também, ter
pressão arterial e glicemia monitorizadas.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Mulher, 42 anos, 80 kg, referindo cansaço progressivo, palidez cutaneomucosa,
icterícia com evolução de duas semanas. Nega comorbidades conhecidas e uso de medicações
contínuas.
b. Exame físico: palidez 3+/4+, icterícia 1+/4+, levemente taquicárdica, sem sopros cardíacos.
Traube maciço.
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Anemia com instalação aguda dos sintomas sem sangramentos macroscópicos e com
reticulocitose pode ser hemólise!
• Avaliar o valor absoluto dos reticulócitos (entre 20.000 e 100.000/mm3) em vez do relativo é
mais fidedigno.
• Casos suspeitos com TAD negativo devem ser referenciados para realização de eluição ácida
de autoanticorpos em serviços especializados de imuno-hematologia.
REFERÊNCIAS
1. Brodsky RA. Diagnosis of hemolytic anemia in adults. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 30 jun 2020]. Disponível em:
https://www.uptodate.com/contents/diagnosis-of-hemolytic-anemia-in-adults.
2. Mohandas N. Inherited hemolytic anemia: a possessive beginner’s guide. Hematology. 2018; 377-81.
3. Hill A, Hill QA. Autoimmune hemolytic anemia. Am Soc Hematol. 2018; 382-9
4. Brodsky RA. Warm autoimmune hemolytic anemia. N Engl J Med. 2019; 381: 647-54
9.6
ANEMIA FALCIFORME
Autores:
Andressa Peloso Rabelo
Martha Mariana Arruda
Iara Baldim Rabelo
INTRODUÇÃO
Doenças falciformes são doenças hereditárias causadas por uma mutação pontual num gene da
cadeia β da hemoglobina que leva à substituição de ácido glutâmico por valina na superfície externa
da cadeia β. Quando a mutação ocorre em homozigose (com o nome de anemia falciforme), há
ausência de cadeias β normais e a consequente formação de hemoglobina S (HbS). Quando há
heterozigose de HbS associada a outros defeitos no gene da cadeia β da hemoglobina (β-Talassemia,
HbC, HbD, HbG etc.), ocorre mudança na apresentação clínica e as condições passam a ser
chamadas de doenças falciformes.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O evento central da fisiopatologia da doença é a polimerização da HbS. Quando o tetrâmero
formado por HbS está desoxigenado, ocorre alteração da arquitetura do eritrócito, alterando sua
flexibilidade e promovendo desidratação celular. A reoxigenação das moléculas de hemoglobina
desfaz os polímeros e a hemácia retoma seu formato original. Ciclos repetidos de falcização e retorno
à morfologia normal lesam permanentemente a membrana eritrocitária, fazendo com que a hemácia
se torne rígida e falcizada sob qualquer tensão de oxigênio.
A vasoclusão, obstrução pré-capilar pelas hemácias falcizadas, gera inflamação, aumentando o
número de interações adesivas entre eritrócitos, leucócitos e células endoteliais. A oclusão
microvascular não é permanente e o fluxo sanguíneo é constantemente restabelecido, o que acaba
gerando lesão tecidual, já que a alternância entre isquemia e reperfusão leva à liberação de espécies
reativas de oxigênio. Além disso, ocorre aumento da expressão de moléculas de adesão nas células
endoteliais, produção de citocinas e leucocitose. Hemólise também é um importante pilar na
fisiopatologia da anemia falciforme. O sistema reticuloendotelial destrói prematuramente as
hemácias que já foram danificadas de forma definitiva pelos ciclos de falcização, e a hemólise
intravascular responde por cerca de 30% da hemólise total. Hemoglobina livre no plasma consome
óxido nítrico, molécula responsável pelo relaxamento da musculatura lisa vascular e inibidora da
ativação e agregação plaquetária e da formação de mediadores pró-inflamatórios, proliferativos e
pró-oxidantes no endotélio vascular. A redução de sua concentração é responsável pela importante
disfunção endotelial e pelo estado pró-trombótico observados nas doenças falciformes.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
a. Hemograma: queda moderada da hemoglobina e do hematócrito; leucócitos normais ou
elevados à custa de neutrófilos, plaquetas normais ou elevadas.
QUADRO CLÍNICO
As manifestações clínicas da anemia falciforme não estão presentes no nascimento devido à alta
concentração de hemoglobina fetal (HbF). Com o declínio da concentração de HbF e aumento da
concentração de HbS, as hemácias falcizadas já são vistas em esfregaços de sangue periférico aos três
meses de idade e os primeiros sinais de anemia hemolítica podem surgir por volta dos quatro meses.
Dependendo da herança genética, a quantidade de HbS no eritrócito pode ser variável, assim
como o quadro clínico, havendo desde portadores assintomáticos a indivíduos com internações
hospitalares recorrentes devido às complicações da doença. A mais comum é a crise vasoclusiva,
predominando em ossos e articulações e levando, muitas vezes, à internação para receber analgesia
parenteral, além de, quando muito recorrentes, levar a lesões de órgão-alvo.
O quadro clínico é basicamente composto de anemia geralmente com hemoglobina entre 7 e 10
mg/dL, icterícia devido à hemólise crônica à custa de bilirrubina indireta e asplenia funcional na vida
adulta devido a microinfartos esplênicos durante a infância. O indivíduo irá apresentar quadros
pontuados por crises álgicas recorrentes devido à vasoclusão, além de lesões de órgãos-alvo que
serão pormenorizados nos próximos tópicos.
a. MANIFESTAÇÕES AGUDAS
• Crises vasoclusivas:
Episódios de crises vasoclusivas ou simplesmente crises de dor são associadas a aumento da
morbidade e até da mortalidade quando acontecem três ou mais vezes ao ano. A dor é de forte
intensidade, latejante ou em pontadas, geralmente em membros inferiores, joelhos, braços, peito e
menos comumente no abdome; não há sinais objetivos ao exame físico que a expliquem. Podem ser
desencadeadas por estresse emocional, ingestão de álcool, infecção, desidratação, hipoxemia e
mudança climática. A maioria das crises não tem um fator precipitante identificável, mas é
obrigatória a investigação de foco infeccioso. O paciente deve ser avaliado à admissão e
periodicamente após o início do tratamento analgésico, até o alívio completo do quadro. O tratamento
consiste em ANALGESIA e HIDRATAÇÃO. As drogas utilizadas na analgesia são divididas em não
opioides (dipirona, paracetamol, antiinflamatórios não esteroidais – AINEs, agentes tópicos e
corticosteroides), opioides e adjuvantes. Deve-se associar analgésicos de várias classes, como
paracetamol (0,3 a 0,6 g até 4 em 4 horas), dipirona (1 g até 4 em 4 horas) e morfina (ataque de 0,1
mg por kg IV a cada 20 min até controle álgico ou sedação e manutenção oral ou subcutânea de 4 em
4 horas). Medidas voltadas para reduzir a morbimortalidade da doença falciforme, como vacinação
estendida, antibioticoterapia profilática em crianças, uso de Hidroxiureia e regime de transfusão
crônica, geralmente têm o potencial de reduzir a frequência das crises.
• AVC:
O acidente vascular encefálico é a segunda maior causa de óbito em portadores de anemia
falciforme, e os eventos vasculares cerebrais são extremamente heterogêneos. Podem ocorrer
acidentes vasculares encefálicos (AVE), ataques isquêmicos transitórios (AIT) e infartos cerebrais
silenciosos, sendo que esses últimos levam a importante prejuízo neurocognitivo. Os sinais e
sintomas não diferem daqueles apresentados por indivíduos saudáveis. Os eventos isquêmicos
ocorrem mais na infância e após os 30 anos, enquanto os de natureza hemorrágica ocorrem na faixa
etária dos 20 aos 29 anos, muito relacionados à doença de Moyamoya (hiperproliferação de
circulação colateral a partir de uma artéria cerebral estenosada). O tratamento com hidroxiureia é
pilar da profilaxia.
No déficit neurológico agudo (AVC isquêmico, AIT), o tratamento deve ser instituído através de
pronta hemotransfusão de troca com objetivo de reduzir a HbS < 30% em, no máximo, até 2 horas
após a chegada ao hospital.
• Sequestro esplênico:
Sequestro esplênico pode ser definido como queda súbita nos níveis de hemoglobina (20% do
basal) acompanhada por aumento da reticulocitose com sinais de hipovolemia. No adulto com
anemia falciforme, não costuma ocorrer sequestro, pois é frequente a fibrose esplênica secundária a
múltiplos infartos após os 5 anos de idade. Os pacientes devem ser vacinados contra pneumococo,
hemófilo e meningococo, assim como devem receber profilaxia com penicilina na primeira infância.
Priaprismo:
Urgência urológica que corresponde a ereção involuntária e dolorosa, impedindo a drenagem
sanguínea do pênis. O tratamento é realizado através de analgesia vigorosa e hidratação, havendo
casos em que há necessidade de aspiração percutânea do corpo cavernoso ou shunt. Quando muito
persistente e recorrente, a profilaxia deve ser feita com estrógenos, Hidroxiureia ou, em alguns casos,
hemotransfusão de troca seriadas visando manter HbS < 30-50%. O quadro pode levar à impotência
sexual permanente se não devidamente tratado.
Crise aplásica:
Complicação desencadeada pela infecção pelo Parvovírus B19, que leva à supressão transitória da
produção eritropoietina, que tem potencial de gerar anemia grave em pacientes portadores de
hemólise crônica, dependentes de reticulocitose para manutenção da hemoglobina. Os pacientes
apresentam febre, dispneia, taquicardia e reticulocitopenia. O quadro geralmente é transitório e
pacientes sintomáticos devem ser submetidos à transfusão sanguínea simples.
b. COMPLICAÇÕES CRÔNICAS
Diversos órgãos e sistemas são afetados na anemia falciforme. O coração sofre as consequências
de um estado crônico de alto débito cardíaco secundário à anemia, que provoca alterações
morfológicas e fisiológicas, como septo interventricular espessado e massa ventricular esquerda
aumentada. O impacto dessas alterações cardíacas não foi bem elucidado, mas postula-se que elas
possam contribuir para a alta incidência de morte súbita observada nesses pacientes. Necropsias já
evidenciaram infartos do miocárdio sem evidência de lesões obstrutivas ou ateroscleróticas em
artérias coronárias, e a explicação parece residir em demanda aumentada de oxigênio pelo miocárdio
e associada à capacidade limitada de carreamento desse gás.
A microvasculatura pulmonar é suscetível a complicações importantes, que podem ser agudas
(englobadas na STA) ou crônicas, sendo essas últimas representadas por anormalidades na função
pulmonar, hipoxemia crônica, hipertensão pulmonar, fibrose intersticial difusa e cor pulmonale. A
hipertensão pulmonar decorre do consumo de óxido nítrico, trombose in situ e embolia. É verificada
em até 11% dos doentes e é fator de risco independente para morte. Os sintomas não são específicos
e incluem dispneia crônica, dor torácica, pré-síncope, tolerância diminuída a atividades de vida diária
e exercícios. O diagnóstico é estabelecido através de ecocardiografia transtorácica com doppler ou
cateterização de artéria pulmonar por arteriografia. Outras desordens respiratórias observadas em
indivíduos com anemia falciforme são asma, distúrbios do sono e fibrose pulmonar.
Envolvimento renal também é comum. Hiperfiltração (taxa de filtração glomerular > 130
mL/min/1,73 m2 em mulheres e > 140 em homens) parece ser o primeiro passo na história natural da
nefropatia falciforme, sendo observada em até 90% dos pacientes adultos. Microalbuminúria acomete
50% dos pacientes adultos e tem sido utilizada como marcador precoce de evolução para
glomerulopatia. Cerca de 20% desenvolvem algum grau de insuficiência renal sintomática. Outras
complicações observadas são hematúria, diabete insípido nefrogênico, hipertensão, síndrome
nefrótica, necrose papilar e infarto renal.
Os olhos podem apresentar lesões em todas as suas câmaras e são possíveis complicações:
glaucoma, por obstrução da malha trabecular que impede o escoamento do humor aquoso; retinopatia
proliferativa falciforme, em virtude da neoangiogênese pela retina isquêmica; hemorragia vítrea,
resultado do estresse mecânico nos delgados neovasos que crescem da retina em direção à câmara
vítrea; e descolamento de retina, como sequela de retinopatia avançada.
Na verdade, nenhum leito vascular escapa das consequências da falcização eritrocítica. Ocorrem
ainda necrose avascular de ossos (cabeças do fêmur e do úmero parecem ser mais afetadas), úlceras
de membros inferiores, osteomielite, osteopenia e osteoporose, todas decorrentes da associação de
vasoclusão, hemólise e isquemia tecidual. Crianças falciformes apresentam um marcante atraso de
crescimento e desenvolvimento. A altura normal é alcançada na idade adulta, enquanto o peso
permanece inferior ao observado em indivíduos sem a doença. A maturação sexual também é
atrasada. Nutrição hipossuficiente, função endócrina anormal (hipogonadismo primário,
hipopituitarismo e insuficiência hipotalâmica) e, principalmente, aumento das necessidades calóricas
devido ao elevado gasto energético.
Por fim, não se deve esquecer do impacto que o estresse de viver com uma doença crônica pode
trazer aos indivíduos e que pode resultar em isolamento social, baixa autoestima, relacionamentos
familiares problemáticos, rotina diária comprometida com redução da qualidade de vida, estratégias
inadequadas de enfrentamento da dor, ansiedade, depressão e comprometimento neurocognitivo.
TRATAMENTO
• US com doppler transcraniano: dos 2 aos 16 anos de idade, para estabelecer o risco de
ocorrência de AVC.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 27 anos, portador de anemia falciforme,
medicação, dá entrada no PS com quadro de dor intensa em região de MMII de forte intensidade,
tipo latejante. Refere quadro semelhante há cerca de 1 ano.
b. Exames Físicos:
c. Exames complementares: Hb: 9,8 mg/d, leucócitos totais: 13.500, neutrófilos 10.000;
bilirrubina indireta: 1,5; DHL: 400.
e. Prescrição sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
Hidroxiureia constitui terapia que modificou a história natural da doença, reduzindo
significativamente morbidade e mortalidade, devendo ser oferecida para todos os pacientes com
Anemia Falciforme.
Transfusão simples é indicada em casos de anemia grave (exemplo: com hemoglobina < 5 g/dL
ou queda de 20% da hemoglobina basal), crise hemolítica, crise de sequestro esplênico ou crise
aplásica. A transfusão de troca é indicada na profilaxia primária ou secundária do AVC, e é primeira
escolha em caso de priapismo, síndrome torácica aguda e colestase intra-hepática falciforme. Trata-se
de flebotomia (nos moldes da doação de sangue) intercalada com transfusão de hemácias, com o
objetivo de baixar a HbS para 30-50%. Este procedimento também pode ser realizado por
processadoras automatizadas.
REFERÊNCIAS
1. Carden MA, Little J. Emerging disease-modifying therapies for sickle cell disease. Haematologica. 2019; 104(9): 1-10.
2. EWare R, de Montalembert M, Tshilolo L, Abboud MR. Sickle cell disease. Lancet. 2017; 390(10091): 311-323.
3. Piel FB, Steinberg MH, Rees DC. Sickle cell disease. N Engl J Med. 2017; 376(16): 1561-73.
4. DeBaun MR, Jordan LC, King AA, Schatz J, Vichinsky E, Fox CK, et al. American Society of Hematology 2020 guidelines
for sickle cell disease: prevention, diagnosis and treatment of cerebrovascular disease in children and adults. Blood Adv.
2020; 4(8): 1554-88.
5. Vichinsky EP. Overiew of the clinical manifestations of sickle cell disease. UpToDate. [Internet]; 2020. [acesso em 30 jun
2020]. Disponível em:https://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-clinical-manifestations-of-sickle-cell-disease.
9.7
NEUTROPENIA FEBRIL
Autores:
Thiago Xavier Carneiro
Amanda Lopes Maia Rodrigues
Daniel Macêdo do Nascimento
DEFINIÇÕES
• A neutropenia é definida por uma contagem absoluta de neutrófilos menor que 1000
células/mL (ou /mm3), neutropenia grave menor que 500 células/mL e neutropenia profunda
ou muito grave, menor que 100 células/mL.
• A febre em pacientes neutropênicos é caracterizada como uma única temperatura oral maior
ou igual a 38,3°C ou uma temperatura de pelo menos 38,0°C mantida por mais de 1 hora.
Não há descrição exata para temperatura axilar.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
QUADRO CLÍNICO
• Os sinais e sintomas podem ser pouco expressivos ou ausentes nos pacientes neutropênicos
febris. Alguns achados mais comuns incluem: disúria, diarreia, dor abdominal, alterações
cutâneas, corrimento vaginal, calafrios e odinofagia. O histórico médico detalhado do
paciente deve ser avaliado, incluindo tratamento antibiótico recente, histórico cirúrgico,
comorbidades subjacentes e exames microbiológicos positivos passados.
EXAME FÍSICO
EXAMES COMPLEMENTARES
• Outros locais de cultura, como urina, trato respiratório, fezes ou feridas cutâneas, podem ser
solicitados de acordo com a clínica.
• A radiografia de tórax pode ser indicada se houver sinais e sintomas de infecção respiratória.
• Pacientes com síndrome gripal sugestiva de influenza, diante da sazonalidade local, devem
coletar swab de nasofaringe. Em alguns casos, pode ser considerado um painel viral
expandido para detecção de outros vírus respiratórios.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• O julgamento clínico deve ser o principal indicador para selecionar pacientes candidatos ao
tratamento ambulatorial. O índice da Associação Multinacional de Cuidados de Suporte em
Câncer (MASCC; Tabela 1) e o escore de Talcott’s (Tabela 2) são instrumentos para auxiliar
na avaliação inicial.
• O Índice Clínico de Estabilidade para Neutropenia Febril (CISNE; Tabela 3) pode ser
utilizado para determinar risco maior de complicações dentre pacientes com tumores sólidos,
os quais tenham sido submetidos à quimioterapia de média ou alta itensidade.
• Pacientes infectados por patógenos gram-negativos resistentes à fluoroquinolonas e beta-
lactâmicos/cefalosporinas devem ser tratados em regime hospitalar, com esquemas baseados
em carbapenêmicos, em geral com múltiplas doses ao dia. Da mesma forma, pacientes
suspeitos ou infectados por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA),
Enterococo resistente à vancomicina (VRE) ou Stenotrophomonas maltophilia devem ser
considerados para tratamento hospitalar.
• Algumas medidas devem ser adotadas para pacientes candidatos ao tratamento ambulatorial:
avaliações frequentes nos primeiros três dias, em casa ou no hospital; contato telefônico
diário para monitoramento da temperatura; e retornos frequentes para dosagem da contagem
de neutrófilos e plaquetas, avaliando a recuperação medular.
• Deve ser considerada admissão hospitalar diante dos seguintes eventos: ausência de
defervescência após 2-3 dias da terapia antimicrobiana empírica; recorrência da febre após
período de defervescência; novos sinais ou sintomas de infecção; impossibilidade de manter
medicação oral; necessidade de mudança no esquema antimicrobiano inicial; e/ou testes
microbiológicos identificando agentes resistentes ao esquema antimicrobiano vigente.
Critérios Pontuação
Ausência de desidratação 3
Sintomas moderados 3
Grupo Características
Variáveis Pontuação
Mucosite estágio ≥ 2 1
Baixo risco: 0 pontos; risco intermediário: 1-2 pontos; alto risco: ≥ 3 pontos.
TRATAMENTO
• A primeira dose da terapia empírica deve ser administrada em até uma hora da apresentação
inicial do paciente ao serviço.
• Pacientes ambulatoriais: terapia empírica oral com fluoroquinolona (ciprofloxacino ou
levofloxacino) em associação com amoxicilina/clavulanato (ou clindamicina para pacientes
alérgicos à penicilina).
• O tratamento inicial com vancomicina e outros antibióticos eficazes contra cocos gram-
positivos não é recomendado como tratamento antibiótico empírico padrão. No entanto,
esses agentes podem ser considerados se houver suspeita de infecção relacionada ao cateter,
infecção de pele ou tecidos moles, pneumonia, instabilidade hemodinâmica ou resistência a
antibióticos.
• O esquema inicial proposto pode ser modificado em pacientes com forte suspeita de infecção
pelos seguintes microrganismos resistentes aos antibióticos (ex.: pacientes com infecção
documentada prévia por tais microrganismos), pacientes instáveis e pacientes com cultura
suspeita para infecção por esses agentes.
• Suspeita de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA): incluir adição precoce
de vancomicina, linezolida ou daptomicina (na ausência de suspeita de pneumonia)
• Suspeita de enterococo resistente à vancomicina (VRE): adicionar linezolida ou
daptomicina.
• Suspeita de bactérias gram-negativas produtoras de beta-lactamase de espectro estendido
(ESBL): uso precoce de carbapenêmicos.
• Suspeita de Klebsiella pneumoniae produtoras de carbapenemase (KPC): adição de
polimixina-colistina ou tigeciclina.
• Terapia antifúngica empírica é recomendada para pacientes que continuam com febre
persistente de causa não identificada após 4 a 7 dias de tratamento com antibióticos e que
apresentam neutropenia com expectativa de duração superior a 7 dias. No entanto, existem
dados insuficientes para determinar qual agente antifúngico é mais apropriado.
• O tratamento é necessário até que o paciente fique afebril por pelo menos 48 horas,
clinicamente estável, com resolução da neutropenia (pelo menos 500 neutrófilos por
microlitro) e tenha hemoculturas negativas. Para pacientes com infecções documentadas, a
duração do tratamento pode ser decidida pelo organismo e pelo local da infecção. Os
antibióticos mais utilizados nos pacientes ambulatoriais e internados estão nas Tabelas 4 e 5.
Fluoroquinolonas - -
Levofloxacino 250, 500 ou 750 mg (cp) 500 – 750 mg, 1 vez ao dia
Licosaminas - -
Cefalosporina de
- -
4º geração
Carbapenêmicos - -
Penicilinas + inibidores
Pó para solução injetável 2 g/250 mg
de Betalactamase: 2 - 4g, EV, de 8/8h
e 4 g/500 mg
Piperacilina-tazobactam
Aminoglicosídeos - -
* Efeitos colaterais: nefrotoxicidade (praticamente todas as classes de antibióticos citadas necessitam de ajuste de dose
de acordo com a função renal), neurotoxicidade (imipenem, amicacina, polimixina B), citopenias (aminoglicosídeos,
carbapenêmicos, piperacilina- tazobactam), distúrbios hidroeletrolíticos (hipernatremia e hipocalemia, no caso de
piperacilina-tazobactam), colite pseudomembranosa (vancomicina), síndrome do homem vermelho (vancomicina).
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 61 anos, 70 kg, internado no 7° dia após 1° ciclo de
quimioterapia para tratamento de leucemia mieloide aguda. Evoluiu há 1 dia com febre, dispneia e
confusão mental, além do surgimento de múltiplas equimoses pelos membros.
b. Exames Físicos:
• Ectoscopia: regular estado geral, confuso, pouco contactante, PA 100 x 60 mmHg, FC 130
bpm, FR 25 rpm, Tax 39,2°C, Sat O2: 92% extremidades frias, sudoreico, pulso fraco, tempo
de enchimento capilar de 3 segundos.
d. Prescrição sugerida:
1. Dieta zero
2. O2 inalatório em máscara de alto fluxo
3. SF 0,9% 2 L- Fazer EV em CVC
4. Concentrados de Hemácias 2U filtradas e irradiadas EV
5. Concentrados de Plaquetas 7U filtradas e irradiadas EV
6. Cefepime 2 g – Fazer EV de 8/8h
DICAS DO ESPECIALISTA
• A febre não deve ser o único parâmetro a ser considerado para iniciar antimicrobianos. Da
mesma forma, pacientes estáveis, com boa evolução não devem ter o tratamento ampliado
simplesmente porque ainda estão com febre. O desaparecimento da febre pode ser tardio em
alguns casos.
• A descoberta do agente infeccioso é fundamental. Adequado serviço de microbiologia para
bactérias e fungos pode estar vinculado a adequado tratamento do paciente. Pacientes com
quadro pulmonar podem precisar de lavado broncoalveolar para determinação diagnóstica.
• Pacientes em tratamento empírico, com melhora clínica e sem febre podem ter seu
tratamento suspenso com 7 a 10 dias, mesmo que ainda neutropênicos.
REFERÊNCIAS
1. Taplitz RA, Kennedy EB, Bow EJ, Crews J, Gleason C, Hawley DK, et al. Outpatient Management of Fever and
Neutropenia in Adults Treated for Malignancy: American Society of Clinical Oncology and Infectious Diseases Society of
America Clinical Practice Guideline Update. J Clin Oncol. 2018; 36(14): 1443-53.
2. Klastersky J, de Naurois J, Rolston K, Rapoport B, Maschmeyer G, Aapro M, et al; ESMO Guidelines Committee.
Management of febrile neutropaenia: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2016; 27(suppl 5): v111-v18.
3. NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology. Prevention and Treatment of Cancer-Related Infections, version 2. 2017.
National Cancer Comprehensive Network website. [Internet]; 2017. [acesso em 27 set 2017]. Disponível em:
www.nccn.org/professionals/physician_gls/PDF/infections.pdf.
4. Freifeld AG, Bow EJ, Sepkowitz KA, Boeckh MJ, Ito JI, Mullen CA, et al; Infectious Diseases Society of America. Clinical
practice guideline for the use of antimicrobial agents in neutropenic patients with cancer: 2010 update by the Infectious
Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2011; 52(4): e56-e93.
9.8
INDICAÇÕES E REAÇÕES
TRANSFUSIONAIS
Autores:
Carlos Eduardo E. Velano
Hugo Edgar Silva
DEFINIÇÕES
• Principais indicações:
• Anemia aguda associada à hipovolemia com perda sanguínea estimada acima de 30%,
após ressuscitação volêmica com cristaloide.
• Perdas sanguíneas com hemoglobina abaixo de 7 g/dL ou abaixo de 8 g/dL em pacientes
portadores de cardiopatia ou hipóxia (avaliação individual).
• Pré-operatório se hemoglobina abaixo de 8 g/dL em casos de cirurgias cardíacas,
ortopédicas e em pacientes coronariopatas.
• Portadores de talassemia major ou hemoglobinopatias em situações emergenciais (como
transfusão de troca em isquemias graves na anemia falciforme, por exemplo).
• Pacientes em químio ou radioterapia com anemia sintomática.
• Eritrocitoaférese.
A Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB) recomenda atualmente a adoção de
estratégias restritivas de transfusão de hemácias em relacão à estratégia liberal, que não é indicada até
o nível de hemoglobina de 7 g/dL para pacientes adultos hospitalizados com estabilidade
hemodinâmica, incluindo pacientes críticos.
• Indicações:
→ Deficiência de um ou mais fatores de coagulação; congênita ou adquirida, em pacientes
com sangramento ativo (quando não se tem fator de coagulação industrializado disponível).
→ Hemorragia ativa por deficiência de fatores de coagulação devido à insuficiência
hepática.
→ Pacientes que serão submetidos a procedimentos invasivos ou cirúrgicos com INR
superior a 1,5 ou relação de TTPa superior a 1,2.
→ Sangramento intenso relacionado ao uso de anticoagulante oral (warfarina) que coloque
em risco a vida do paciente.
→ Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ou coagulopatia consumptiva com sangra-
mento ativo.
→ Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e Síndrome Hemolítico-urêmica (SHU).
A dose deve ser de 10 a 20 mL/kg dia, dividida em três infusões. Não está indicada transfusão de
PFC em casos de imunodeficiências adquiridas ou congênitas, como expansor volêmico ou para
reposição de proteínas.
• CRIOPRECIPITADO
• Obtido através do plasma fresco congelado, o crioprecipitado possui em sua constituição
Fator VIII, Fator de von Willebrand, Fator XIII, fibrinogênio e fibronectina.
• A principal indicação é a reposição de fibrinogênio em pacientes com hipofibrinogenemia
adquirida ou hereditária (níveis abaixo de 100 mg/dL), especialmente se existe
hemorragia associada.
• Atualmente existem produtos industrializados específicos para a deficiência de Fator VIII
(Hemofilia A) e Fator de von Willebrand, não sendo necessária a transfusão de
crioprecipitado nesses casos.
• A dose depende da gravidade do sangramento, variando de 1 unidade a cada 7ou 10 Kg
de peso corporal por dia.
• Indicações profiláticas:
→ Transfusão profilática está indicada em falências medulares quando as plaquetas estão
menores que 10.000/mm3, mesmo na ausência de sangramento ativo ou se as plaquetas
estiverem menores que 20.000/mm3 associadas à infecção, estado crítico ou necessidade de
procedimentos invasivos.
→ A dose profilática geralmente não ultrapassa 7 unidades de CP randômicas (obtidas a partir
de sangue total) ou uma unidade de plaquetas por aférese.
• Indicação terapêutica:
→ Transfusão terapêutica está indicada em situações de trombocitopenia (independentemente
do valor) caso haja sangramento por esse motivo. A dose habitual é de um CP para cada 10
kg de peso do paciente ao dia ou uma unidade de plaquetas por aférese.
→ Não está indicada transfusão de CP em casos de púrpura pós-transfusional, púrpura
trombocitopênica idiopática, púrpura trombocitopênica trombótica ou hiperesplenismo,
salvo raras indicações após avaliação do hemoterapêuta.
b. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
• A manifestação clínica depende do tipo de reação transfusional, mas sintomas que chamam
a atenção para esta ocorrência são:
• Febre (definida como elevação de 1° C na temperatura corpórea em comparação à
temperatura antes da transfusão) ou calafrios.
• Hipertensão ou hipotensão.
• Alterações respiratórias – dispneia, taquipneia, hipóxia e sibilos.
• Alterações cutâneas – prurido, urticária, edema localizado ou generalizado.
• Choque distributivo sem febre e/ou calafrios pode ser o dado mais importante de anafilaxia.
• Hematúria, queda da hemoglobina e alteração de lactato desidrogenase, haptoglobina e
bilirrubina indireta indicam hemólise.
IMUNE
TARDIA IMUNE
Aloimunização Eritrocitária
Aloimunização HLA
Imunomodulação
NÃO IMUNE
Sobrecarga Volêmica
IMEDIATA Contaminação Bacteriana
Hemólise não imune
Hipocalcemia
Hipotermia
NÃO IMUNE
TARDIA
Hemossiderose
Doenças Infecciosas
Febre, Tremores,
Enviar amostra
Calafrios, Hidratação
para o Banco de Seguir
Hipotensão, (manter
Sangue; repetir rigorosamente
REAÇÃO Taquicardia, Dor diurese
1:38.000 a testes imuno- todas as normas
HEMOLÍTICA (tórax, local da 100 mL/h).
1:70.000 hematológicos, preconizadas
AGUDA infusão, abdome, Cuidados
cultura do desde a coleta até
flancos), de terapia
componente e a transfusão.
Hemoglobinúria, I. intensiva.
do receptor.
Renal e CIVD.
Afastar hemólise
Antipiréticos Pré-medicação
e contaminação
no caso de com antipiréticos
bacteriana. Enviar
REAÇÃO calafrios é questionável.
Febre, Calafrios, amostras para o
FEBRIL NÃO 0,5 – 1% intensos. Produtos
Tremores. Banco de Sangue;
HEMOLÍTICA Meperidina se desleucocitados
repetir testes imuno-
refratariedade para casos
hematológicos,
dos tremores. recorrentes.
cultura da bolsa.
A maioria
Prurido, urticária,
das reações é
REAÇÃO eritema, pápulas, Pré-medicação
benigna e pode
ALÉRGICA tosse, rouquidão, com anti-
1 – 3% Não se aplica cessar sem
LEVE OU dispneeia, sibilos, histamínico
tratamento. Se
MODERADA náuseas e vômitos, (Difenidramina).
moderada, usar
hipotensão e choque.
Difenidramina.
SINAIS e INVESTIGAÇÃO MANEJO
REAÇÃO PREVENÇÃO
SINTOMAS COMPLEMENTAR CLÍNICO
Instituir
Prurido, urticária,
cuidados
eritema, pápulas, Componentes
REAÇÃO de terapia
rouquidão, tosse, 1:20.000 a Dosar Anticorpo anti celulares lavados
ALÉRGICA intensiva
broncoespasmo, 1:50.000 IgA ou deficientes em
GRAVE (Epinefrina, anti-
hipotensão e IgA
histamínicos
choque.
e corticoide)
Afastar sobrecarga
Qualquer
de volume, RHA
insuficiência Não há
e contaminação
respiratória aguda unanimidade.
1:5.000 – bacteriana. RX tórax
relacionada à Suporte Evitar
TRALI 190.000 de Ecocardiograma
transfusão respiratório. uso de
transfusões Pesquisa de Ac
(até 6 h após) PFC de
anti- leucocitário
com ou multíparas.
doador e/ ou
sem febre.
receptor.
Dispneia, cianose,
SOBRECARGA taquicardia, Suporte de O2 e Aliquotar o
<1% Rx Tórax
VOLÊMICA hipertensão, diuréticos. hemocomponente.
edema pulmonar.
Seguir
Oligossintomática. Inspeção visual do rigorosamente
Terapia de
HEMÓLISE NÃO Atenção à presença plasma e todas as normas
suporte se
IMUNE de hemoglobinúria urina do paciente. preconizadas da
necessário.
e hemoglobinemia. TAD negativo. coleta à
transfusão.
Diminuir
Desconforto, o tempo Aquecer o
calafrios, queda da de infusão. hemocomponente
temperatura, Aquecimento (GV ou PF) se
HIPOTERMIA arritmia cardíaca e Não se aplica. dos glóbulos previsto acima de
sangramento por vermelhos e/ou 15 mL/kg/hora
alteração da plasma. Terapia por mais de
hemostasia. conforme as 30 min.
intercorrências.
REFERÊNCIAS
1. Lopes AC. Tratado de clínica médica. 2. ed. São Paulo: Roca; 2009.
2. Hauser SL, Kasper DL, Braunwald E, Longo DL, Fauci AS, Jameson J, et al. Harrison. Medicina interna. 17. ed. Rio de
Janeiro: Amgh Editora; 2008.
3. Szczepiorkowski MZ, Dunbar MN. Transfusion Guidelines: When To Transfuse. Hematology Am Soc Hematol Educ
Program. 2013; 2013: 638-644.
4. Silvergleid JA. Approach To The Patient With A Suspected Acute Transfusion Reaction. UpToDate. [Internet]; 2020.
[acesso em 29.06.2020]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-patient-with-a-suspected-
acute-transfusion-reaction.
5. Carson JL, Guyatt G, Heddle NM, Grossman BJ, Cohn CS, et al. Clinical Practice Guidelines From the AABB -Red Blood
Cell Transfusion Thresholds and Storage, JAMA. 2016; 316(19): 2025-35.
6. Harrison P, Subcommittee on Platelet Physiology. The use of platelets in regenerative medicine and proposal for a new
classification system: guidance from the SSC of the ISTH. J Thromb Haemost. 2018; 16(9): 1895–900.
7. Storch EK, Custer BS, Jacobs MR, Menitove JE, Mintz PD. Review of current transfusion therapy and blood banking
practices; Blood Rev. 2019; 38: 100593.
10.1
SURTO PSICÓTICO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Álvaro Tavares de Figueiredo
Renata Paola Parenti Freitas
Juliane de Souza Cavazzana
DEFINIÇÕES
• Surto psicótico: a inferência de que se trata de um surto psicótico requer, antes de mais
nada, saber reconhecer que a psicose está manifestada quando há um prejuízo notável do
contato com a realidade, podendo se dar de várias formas, como, por exemplo, nos delírios e
nas alucinações, incluindo-se ainda comportamentos desorganizados ou qualquer atitude por
parte do paciente que denote tal distanciamento ou ausência de juízo crítico da realidade.
• Ilusão: consiste na percepção deformada de um objeto real e presente. Por exemplo, uma
criança olha para uma toalha de banho (objeto real) pendurada na porta do seu quarto
(presente) e enxerga ou imagina uma figura monstruosa que lhe impele choros pela mãe na
madrugada.
• Alucinação: aqui a percepção já é clara e bem definida de um objeto sem a presença dele,
mas com a convicção da sua existência no ambiente. Por exemplo, um adolescente sozinho
no seu quarto escuta (percepção clara e bem definida) uma voz no mesmo cômodo (ausência
do objeto estimulante) dizendo frases depreciativas que o incitam a se automutilar.
QUADRO CLÍNICO
EXAMES COMPLEMENTARES
• Deve-se ter precaução adicional quando se trata do primeiro surto ou quando o paciente não
tem diagnóstico prévio, bem como quando o quadro teve início abrupto e/ou o exame físico
apresenta sinais de provável etiologia orgânica.
Exames laboratoriais
Ureia e creatinina
Exames de imagem
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
• Alguns dados nos ajudam a direcionar o diagnóstico em dois grandes grupos: as psicoses
orgânicas e as psicoses funcionais, conforme detalhado no Quadro 2.
TRATAMENTO
a) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO
• Abordar o paciente utilizando linguagem clara e direta, apresentando conteúdos concretos:
isso não significa tentar trazer o sujeito à realidade de modo brusco, assumindo uma atitude
de confronto direto, mas sim uma comunicação empática o suficiente para se tentar um
diálogo, ou, no mínimo, uma contenção verbal.
b) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• No primeiro surto psicótico, com ênfase especial à esquizofrenia por esta ser o protótipo
clínico das psicoses, tanto em termos de epidemiologia (1% da população mundial) como
pela rica apresentação clínica de sintomas psicóticos, existe uma tendência maior para o
aparecimento de efeitos colaterais extrapiramidais (ECEs). Daí a razão pela qual se costuma
iniciar a terapia antipsicótica em doses mais baixas quando comparada com doses em
pacientes crônicos, bem como a preferência pela monoterapia (durante a primeira crise ou
reagudização em pacientes com diagnóstico prévio) até que sejam feitos os ajustes de doses
em um momento posterior à abordagem do paciente na urgência, se necessários.
• Os benzodiazepínicos também são medicamentos que podem ser utilizados juntamente com
o AP, também via oral (por exemplo, clonazepam 2 mg, lorazepam 2 mg, alprazolam 1 mg,
diazepam 10 mg), principalmente quando se quer obter efeito sedativo, pois, dependendo do
antipsicótico escolhido e da dose administrada, nem sempre este será alcançado.
FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
b. Exame físico: PA - 140/80 mmHg, FC - 110 bpm, FR - 24 ipm, SpO2 - 99% em ar ambiente,
temperatura axilar: 37°C.
d. Prescrição sugeridaa:
9. Risco de heteroagressividade
11.
Solicito HMGc, urina (qualitativa), ureia, creatinina, sódio e potássio séricos.
a
Prescrição sugerida: trata-se de um modelo. Cada caso clínico na prática médica traz suas peculiaridades, o
que indica a necessidade de abordagens individualizadas.
b
Antipsicótico que ao longo do tratamento terá sua dose aumentada de forma escalonada (50 a 100 mg a cada 4
dias, em média), a fim de alcançar dose antipsicótica eficaz (frequentemente a partir de 400 mg).
DICAS DO ESPECIALISTA
• Não desconsiderar a tolerância (ou não) aos efeitos colaterais extrapiramidais (ECEs), como
acinesia, a acatisia e distonias, além de outros efeitos colaterais que não correspondem a
ECEs, como galactorreia, constipação intestinal e xerostomia.
• Mulheres com alterações menstruais: dar preferência para APs com menor probabilidade de
hiperprolactinemia e consequente galactorreia, como quetiapina e o haloperidol.
• Em cardiopatas, ter cautela no uso de APs que mais frequentemente prolongam o intervalo
QT, como a quetiapina e a clozapina.
• No caso de pacientes gestantes, se possível, evitar o uso de qualquer AP no primeiro
trimestre de gestação; se necessário, o AP mais indicado é o haloperidol, que, apesar de
aumentar o risco de ECEs no recém-nascido (RN) pela sua alta potência, minimiza os efeitos
colaterais maternos, principalmente os efeitos anticolinérgicos, anti-histamínicos e
hipotensores.
REFERÊNCIAS
1. Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
2. Quevedo J, Carvalho AF, Kapczinski F. Emergências Psiquiátricas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
3. Crossley NA, Constante M, McGuire P, Power P. Efficacy of atypical v. typical antipsychotics in the treatment of early
psychosis: meta-analysis. Br J Psychiatry. 2010; 196(6): 434-9.
4. Lieberman JA, Stroup TS, McEvoy JP, Swartz MS, Rosenheck RA, Perkins DO, et al. Effectiveness of Antipsychotic Drugs
in Patients with Chronic Schizophrenia. New England Journal of Medicine [Internet]. N Eng J Med. 2005; 353(12): 1209-
23.
5. Cordioli AV, Gallois CB, Isolan L. Psicofármacos: consulta rápida. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2015.
6. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas. 2 ed. Vol. 2. Brasília:
Ministério da Saúde; 2013.
7. Robinson DG. Pharmacological Treatments for First-Episode Schizophrenia. Schizophr Bull. 2005; 31(3): 705-22.
8. Dalgalarrondo P, Dantas CR, Benzato CEM, Pereira MEC. Delírio: características psicopatológicas e dimensões
comportamentais em amostras clínicas. J Bras Psiquiatr. 2003; 3(52): 191-9.
9. Del-Bem CM, Rufino ACTBF, Azevedo-Marques JMD, Menezes PR. Diagnóstico diferencial de primeiro episódio
psicótico: importância da abordagem otimizada nas emergências psiquiátricas. Rev Bras Psiquiatr. 2010; 32: S78-S86.
10. American Psychiatric Association. DSM-IV-TR: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4. ed. rev. Porto
Alegre: Artmed; 2002.
11. Hasan A, Falkai P, Wobrok T, Lieberman J, Glenthoj B, Gattaz WF, et al. World Federation of Societies of Biological
Psychiatry (WFSBP) Guidelines for Biological Treatment of Schizophrenia, part 1: update 2012 on the acute treatment of
Schizophrenia and the management of treatment resistance. World J Biol Psychiatry. 2012; 13(5): 318-78.
12. Collerton D, Perry E, McKeith I. Why people see things that are not here: a new perception and attention deficit model for
recurrent complex visual hallucinations. Behav Brain Sci. 2005; (28): 737-94.Beherendt RP, Young C. Hallucinations in
Schizophrenia, sensory impairment and brain, disease: a unifying model. Behav Brain Sci. 2004; (7): 771-830.
13. Takeuchi H, Susuki T, Uchida H, Watanabe K, Mimura. Antipsychotic treatment for Schizophrenia in the maintenance
phase: a sistematic review of the Guidelines and algorithms. Schizphr Res. 2012; 134(2-3): 219-25.
14. Fusar-Poli P. Predicting Psychosis. Arch Gen Psychiatry. 2012; 69(3): 220-9.
15. Barlow DH, Durand VM. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Boston: Cengage Learning; 2017.
10.2
RISCO DE SUICÍDIO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Renata Paola Parenti Freitas
Juliane de Souza Cavazzana
Álvaro Tavares de Figueiredo
INTRODUÇÃO
O suicídio é o resultado de uma interação de fatores genéticos, psicológicos e socioambientais,
podendo levar desde lesões graves e incapacitantes até a morte.
A vida moderna trouxe com ela novas formas de sofrer e de adoecer. A falta de tempo e a
preocupação com resultados satisfatórios e rápidos deu espaço para as relações líquidas com vínculos
frouxos. Vivemos um momento em que a angústia e as frustrações são inaceitáveis e, logo que
aparecem, precisam ser substituídas pela felicidade instantânea. As fugas sucessivas do afeto
angustiante dão espaço para a sensação de vazio, empobrecimento afetivo e perda de sentido. Como
consequência, tem aumentado o número de pessoas que enxergam o suicídio como forma de acabar
com o sofrimento. Para algumas, a falta de sentido para a experiência de viver pode ser dada de forma
muito precoce, e, se não houver apoio familiar e preparo adequado dos profissionais de saúde para a
abordagem, o número de desfechos negativos tende a aumentar.
DEFINIÇÕES
• Suicídio: Morte por lesão, envenenamento ou sufocamento quando houver evidência de que
a lesão foi autoinfligida e de que o falecido pretendia se matar.
• Ideação suicida: Pensamentos de servir de agente para a própria morte, podendo variar em
gravidade (tipo de plano de suicídio e grau de intenção suicida).
• 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, e o número de tentativas é 20 vezes maior.
Estima-se que a cada 40 segundos uma pessoa cometa suicídio no mundo.
• As tentativas de suicídio são mais frequentes entre mulheres; porém, homens apresentam
mais sucesso (utilização de meios mais letais).
AVALIAÇÃO DO RISCO
• Embora as escalas de avaliação do risco de suicídio não possuam precisão diagnóstica, são
importantes auxiliares no manejo da situação.
TRATAMENTO
• O plano terapêutico a ser elaborado vai depender da avaliação do risco realizada durante a
entrevista, podendo levar à indicação de internação ou de seguimento ambulatorial; e
levando-se em conta a hipótese diagnóstica de base.
• Indicadores de internação:
• Paciente psicótico sem continência familiar
• Tentativa com uso de método violento
• Persistência de ideação suicida com baixo suporte social e familiar
• Impulsividade e agitação importantes
• Falha de tratamento ambulatorial
• Possibilidades de liberação para tratamento ambulatorial:
• A tentativa de suicídio foi uma reação a um evento estressante
• Planejamento, método e intenção são de baixa letalidade
• Suporte familiar e social estável
• Posvenção:
O termo posvenção, atribuído a Edwin Shneidman, em 1968, é baseado em intervenções para
cuidar dos sobreviventes enlutados, cuidadores e prestadores de cuidados de saúde. Tem como
objetivo desestigmatizar o suicídio e ajudar no processo de recuperação.
O comportamento suicida pode ser desencadeado após a experiência da perda de um ente querido
por suicídio. Cada suicídio tem impacto na vida de pelo menos outras seis pessoas, e o impacto social,
psicológico e financeiro para a família é imensurável. Por isso, é tão importante identificar transtornos
de humor, estresse pós-traumático, entre outros, nos familiares e tratar efetivamente em serviço
apropriado.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Na abordagem em ambiente de urgência e emergência, podem ser realizadas medicações para
aliviar os sintomas que acompanham a ideação suicida, como sintomas de alteração do humor,
ansiedade, sintomas psicóticos, impulsividade ou agressividade. A escolha do medicamento e a via de
administração dependerá do sintoma, da aceitação e da condição física do paciente:
Fonte: Autores.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a. Caso Clínico: T.A.V. C. A., 46 anos, sexo feminino, trazida pelo SAMU após tentativa de
suicídio por intoxicação exógena com 20 comprimidos de Levomepromazina 25 mg após discussão
com irmão e mãe. De início foi realizado exame clínico, lavagem gástrica e carvão ativado,
ficando, após o procedimento, em observação. Paciente se encontrava sem acompanhante e
sonolenta, referindo que há 3 semanas iniciou quadro de tristeza, anedonia, avolição, insônia,
diminuição do apetite, pensamentos de morte com ideação suicida. Faz acompanhamento
ambulatorial há 10 anos, com hipótese diagnóstica, referida por ela, de depressão. Faz uso de
Sertralina 100 mg/dia, Carbonato de Lítio 600 mg/dia, Clonazepam 2 mg/dia, e tem retorno com
Psiquiatra agendado para a semana seguinte. Não apresenta comorbidades clínicas. Mora com a
mãe e o irmão, que é usuário de drogas. Relata que o ambiente familiar é bastante conturbado e que
desde que o irmão foi morar lá se sente muito angustiada. Já teve 2 internações psiquiátricas
prévias, por tentativa de suicídio. Nestas ocasiões, segundo o seu relato, avisou aos familiares que
desejava morrer e que iria se matar. No momento da entrevista, a paciente permanece com ideação
suicida; porém, sem planejamento.
b. Conduta Sugerida:
DICAS DO ESPECIALISTA
• Nunca dar menor importância para tentativas menos letais de suicídio; elas indicam que há
um sofrimento e que a pessoa precisa de ajuda.
• Em caso de internação, é sempre importante que o paciente seja conduzido por ambulância
do hospital ou município, e nunca por meios próprios..
• Nunca liberar o paciente que tentou suicídio e que mantém ideação suicida sem contato com
familiares ou pessoas de confiança do paciente.
REFERÊNCIAS
1. Alvarez A, Moreira S. O Deus Selvagem. São Paulo: Companhia das letras; 1999.
2. American Psychiatric Association. Practice Guideline for the Assessment and Treatment of Patients With Suicidal Behaviors.
In: American Psychiatric Association. APA Practice Guidelines for the Treatment of Psychiatric Disorders: Comprehensive
Guidelines and Guideline Watches. 1. ed. Arlington: APA Publishing; 2006.
3. O’Carroll PW, Berman AL, Maris RW, Moscicki EK, Tanney BL, Silverman MM. Beyond the Tower of Babel: a
nomenclature for suicidology. Suicide Life Threat Behav. 1996; 26(3): 237-52.
4. Jarema M. Are we able to evaluate suicide risk? Psychiatria Polska. 2018; 52(1): 7-19.
5. National Action Alliance for Suicide Prevention: Transforming Health Systems Initiative Work Group. Recommended
standard care for people with suicide risk: Making health care suicide safe. Washington, DC: Education Developmente
Center, Inc; 2018.
6. Sousa GS, Santos MSP, Silva ATP, Perrelli JGA, Sougey EB. Revisão de literatura sobre suicídio na infância. Ciênc Saúde
Coletiva. 2017; 22(9): 3099-110.
7. Minayo MCS, Cavalcante FG. Tentativas de suicídio entre pessoas idosas: revisão de literatura (2002/2013). Ciênc Saúde
Coletiva. 2015; 20(6): 1751-62.
8. Ahmedani BK, Simon GE, Stewart C, Beck A, Waitzfelder BE, Rossom R, et al. Health Care Contacts in the Year Before
Suicide Death. J Gen Inter Med. 2014; 29(6): 870-7.
9. Runeson B, Odeberg J, Pettersson A, Edbom T, Jildevik Adamsson I, Waern M. Instruments for the assessment of suicide
risk: A systematic review evaluating the certainty of the evidence. Abe T, organizador. PLOS ONE. 19 de julho de
2017;12(7): e 0180292.
10. Bertolote JM, Mello-Santos CD, Botega NJ. Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica. Rev
Bras Psiquiatr. 2010; 32(suppl 2): S87-95.
11. Associação Brasileira de Psiquiatria, Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. Suicídio: informando para prevenir.
Brasília: CFM/ABP; 2014.
12. World Health Organization. Mental and Behavioural Disorders Team. Preventing suicide : a resource for general physicians.
Geneva: World Health Organization; 2000.
13. Wilkinson ST, Ballard ED, Bloch MH, Mathew SJ, Murrough JW, Feder A, et al. The effect of a single dose of intravenous
ketamine on suicidal ideation: a systematic review and individual participant data meta-analysis. Am J Psychiatry. 2018;
175(2): 150-8.
14. Erlich MD, Rolin SA, Dixon LB, Adler DA, Oslin DW, Levine B, et al. Why We Need to Enhance Suicide Postvention:
Evaluating a Survey of Psychiatrists’ Behaviors after the Suicide of a Patient. J Nerv Ment Dis. 2017; 205(7): 507-11.
15. World Health Organization. Preventing suicide: a global imperative. Geneva: World Health Organization; 2014.
16. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de Psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11. ed. Porto
Alegre: Artmed; 2017.
17. Barbisch D, Koenig KL, Shih FY. (2015). Is There a Case for Quarantine? Perspectives from SARS to Ebola. Disaster Med
Pub Health Prep. 2015; 9(5): 547-53.
10.3
ATAQUES DE PÂNICO
Autores:
Valéria Garcia Caputo
Juliane de Souza Cavazzana
Renata Paola Parenti Freitas
Álvaro Tavares de Figueiredo
INTRODUÇÃO
• Caracterizados como ataques súbitos de ansiedade, os Ataques de Pânico, embora mais prevalentes
no Transtorno de Pânico (TP), ocorrem em outros Transtornos Psiquiátricos, além de poderem
acometer pessoas sem nenhum diagnóstico psiquiátrico prévio.
• Dentre os atendimentos no setor de Emergência devido à dor torácica, mais da metade deles são
atribuídos a causas não cardíacas, estando associados a diagnósticos de ansiedade, pânico ou causa
desconhecida. Nos diversos cenários de atendimento, em que os sintomas apresentados podem se
confundir e se sobrepor, tornam-se necessárias estratégias de abordagem adequadas para as
situações em que os níveis de ansiedade se elevam de forma a causar sofrimento mental insuportável
ao paciente.
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, embora seja uma situação frequentemente atendida no cenário médico, faltam dados da
literatura específicos sobre a prevalência dos Ataques de Pânico na população além do contexto de Transtorno
de Pânico.
FISIOPATOLOGIA
• A amígdala, estrutura envolvida na regulação e manifestação do medo, por estar ligada às áreas
corticais pré-frontais reguladoras das emoções, área orbitofrontal e cingulado anterior, é responsável
por integrar informações sensoriais e cognitivas, através de ligações específicas entre
neurotransmissores e seus receptores. Quando hiperexcitada, estimula outras estruturas
neuroendócrinas, produzindo respostas agudas, adaptativas às ameaças identificadas, as quais,
quando em excesso ou de forma repetida, poderão trazer prejuízos para o organismo submetido a
elas a longo prazo, como ilustra a Figura 1.
Figura 1. Regulação da amígdala e suas repercussões.
Fonte: Elaborado pelos autores.
QUADRO CLÍNICO
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V), um ataque de
pânico caracteriza-se por surto abrupto (a partir de estado calmo ou ansioso) de medo ou de desconforto
intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro ou mais dos seguintes sintomas:
SINTOMAS FÍSICOS
01 Palpitações, coração acelerado ou taquicardia.
02 Sudorese.
03 Tremores ou abalos.
05 Sensações de asfixia.
10 Parestesias.
11 Desrealização ou despersonificação.
SINTOMAS COGNITIVOS
12 Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13 Medo de morrer.
Nota: sintomas específicos da cultura (por exemplo, tinido, dor na nuca, gritos ou choro descontrolado)
podem ser vistos, mas não devem ser contabilizados como um dos quatro sintomas requeridos. Após um pico,
o paciente pode permanecer ansioso ou calmo e ter outro pico novamente.
• Ainda de acordo com o DSM-V, os ataques de pânico passam a ser um especificador e definem-se
com sintomas limitados, esperados e não esperados da seguinte forma:
• Com sintomas limitados: os ataques satisfazem todos os outros critérios, mas têm menos de quatro
sintomas físicos e/ou cognitivos.
• Com sintomas esperados: existe um sinal ou desencadeante óbvio, como as situações em que eles
geralmente ocorreram.
• Com sintomas inesperados: não há gatilho ou desencadeante óbvio no momento da ocorrência (p.
ex., quando em relaxamento ou durante o sono).
MANEJO CLÍNICO
• Uma anamnese atenta para detalhes, dentro da apresentação global do quadro, e exame físico
realizado adequadamente contribuem para o estabelecimento do vínculo inicial, assegurando ao
paciente que sua queixa está sendo valorizada, levando à identificação de condições clínicas e
comorbidades que porventura estejam descompensadas, ao raciocínio diagnóstico e à escolha do
tratamento adequado a ser instituído, ainda que diante de limitações situacionais e do ambiente.
• Ao assumir uma postura que demonstra interesse e cuidado para com a condição que conduziu o
paciente ao atendimento, o médico transmite confiança, ferramenta fundamental de absoluta
relevância terapêutica.
• Alguns pontos são muito importantes e devem ser considerados na anamnese, pois, quando
presentes, indicam que é muito provável estarmos diante de um paciente apresentando um ataque de
pânico. São eles:
• A idade do paciente está entre 18 e 45 anos?
• O início dos sintomas foi abrupto?
• Sua evolução foi rápida?
• Naquele momento, está com medo de perder a sanidade mental ou o controle da situação?
• Está com medo de morrer?
• Está passando por algum problema atualmente ou passou por algo traumático recentemente?
• Tem esses sintomas quando está mais longe de ambientes em que se sente confortável?
• Tem comportamentos evitativos?
• Tem medo de desfechos catastróficos para situações imaginadas?
CONDIÇÕES CLÍNICAS
IAM, EAP e pericardites.
Aneurisma de aorta.
Angina.
Insuficiência coronariana.
Arritmia cardíaca.
Disfunções vestibulares.
Crises convulsivas.
Abstinência.
Hipoglicemia.
Feocromocitoma.
Hipertireoidismo.
Hiperparatireoidismo.
DPOC e asma.
USO DE SUBSTÂNCIAS
Simpaticomiméticos (cafeína, metilfenidato).
Crises serotoninérgicas.
Cocaína.
Anfetaminas.
Maconha.
Anticolinérgicos.
CONDIÇÕES PSIQUIÁTRICAS
Ansiedade persistente.
Ataques com sintomas limitados.
Outros episódios paroxísticos.
Fobia social.
Fobia específica.
TOC e TEPT.
Transtornos somatoformes.
Transtornos de personalidade.
IAM: infarto agudo do miocárdio; EAP: edema agudo de pulmão; DPOC: doença pulmonar obstrutiva
crônica; TOC: transtorno obsessivo-compulsivo; TEPT: transtorno do estresse pós-traumático.
EXAMES COMPLEMENTARES
De acordo com as hipóteses levantadas, após avaliado o risco cardíaco, alguns exames podem ser
solicitados para descartar etiologia orgânica, sendo que a realização destes exames fica a critério do médico,
segundo seu raciocínio dentro dos possíveis diagnósticos diferenciais.
a. ECG.
b. Hemograma.
c. Glicemia capilar.
d. Dosagem de cálcio.
f. Eletrólitos.
h. Toxicológico.
i. TSH, T4.
j. CPK.
k. Exames de Imagem.
• O grupo medicamentoso mais amplamente utilizado para situações agudas, devido a sua eficácia,
início de ação e baixa toxicidade, são os benzodiazepínicos. Os mais frequentemente utilizados,
disponíveis e estudados em nossa prática são: Alprazolam, Bromazepam, Clonazepam, Diazepam e
Lorazepam. Embora sejam os medicamentos de escolha, algumas situações devem ser consideradas
quando da sua prescrição, quais sejam:
1. Como ocorre com todas as substâncias psicoativas, o efeito dos benzodiazepínicos pode ser
intensificado pelo álcool, portanto, caso um paciente tenha feito ingesta de álcool, seu uso não é
recomendado.
2. A questão da drogadição e o risco de desenvolver uso abusivo deve ser considerado.
3. Se associados a medicamentos de ação central, seu efeito sedativo pode ser intensificado.
4. Em relação à gestação, no primeiro trimestre, o diazepam e o clonazepam devem ser evitados e
poucos relatos asseguram o uso de lorazepam e alprazolam. Na lactação, deve ser evitado o uso de
diazepam, clonazepam, lorazepam e alprazolam.
0,5 -1 mg/dia 1,5 -3 mg/dia. 5-10 mg/dia. 1-6 mg/dia. 2-3 mg/dia
máx em 24h: 10 máx em 24h: 18 mg máx em 24h: 60 máx em 24h: 8 mg máx em 24h: 4 mg
DOSAGENS mg mg
ALPRAZOLAM BROMAZEPAM DIAZEPAM CLONAZEPAM LORAZEPAM
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
Realizada a abordagem proposta, caso haja a necessidade de manter o paciente sob observação para
melhor elucidação do caso, aguardar tempo de remissão dos sintomas. Pensando numa possível internação,
sugerimos a prescrição abaixo:
a) Prescrição sugerida:
DICA DO ESPECIALISTA
• A ausência de anormalidades clínicas ou benignidade dos achados não é suficiente para tranquilizar
o paciente nessa condição, uma vez que ele continua sem respostas diante dos sintomas. Por isso,
desde o primeiro episódio, é importante não contribuir para que ele vá embora mais confuso e
apreensivo sobre a causa não esclarecida da sua patologia. Sendo assim, a psicoeducação contribuirá
significativamente para o esclarecimento do paciente e sua aproximação dos mecanismos que o
acometem, e deve ser feita desde que o profissional que o atenda possua recursos para realizá-la.
REFERÊNCIAS
1. AlvarezAmerican Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed; 2014.
2. Farris SG, Brown LA, Goodwin RD, Zvolensky MJ. Panic Attack History and Smoking Topography. Drug Alcohol Depend. 2017;
171: 84-90.
3. McDevitt-Petrovic O, Kirby K, Shevlin M. The Prevalence of Non-Cardiac Chest Pain (NCCP) Using Emergency Department (ED)
data: A Northern Ireland Based Study. BMC Health Serv Res. 2017; 17: 549.
4. De Jonge P, Roest AM, Lim CCW, Florescu SE, Bromet EJ, Stein DJ, et al. Cross-national Epidemiology of Panic Disorder and Panic
Attacks in the World Mental Health Surveys. Depress anxiety. 2016; 33(12): 1155-77.
5. Johnson PL, Federici LM, Shekhar A. Etiology, triggers and neurochemical circuits associated with unexpected, expected, and
laboratory-induced panic attacks. Neurosci Biobehav Rev. 2014; 46: 429-54.
6. Ballenger JC, Burrows GD, DuPont Jr RL, Lesser IM, Noyes RJC, Pecknold JC, et al. Alprazolam in panic disorder and agoraphobia:
results from a multicenter trial. I. Efficacy in short-term treatment. Arch Gen Psychiatry. 1988; 45(5): 413-22.
7. Bandelow B, Michaelis S, Wedekind D. Treatment of anxiety disorders. Dialogues Clin Neurosci. 2017; 19 (2): 93-107.
8. Beaudry P, Fontaine R, Chouinard G. Bromazepam, another high-potency benzodiazepine, for panic attacks. Am J Psychiatry. 1984;
41(3): 464-5.
9. Brown LA, LeBeau R, Liao B, Niles AN, Glenn D, Craske MG. A comparison of the nature and correlates of panic attacks in the
context of Panic Disorder and Social Anxiety Disorder. Psychiatry Res. 2016; 235: 69-76.
10. Cordioli AV, Gallois CB, Isolan L. Psicofármacos: consulta rápida. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.
11. Dunner DL, Ishiki D, Avery DH, Wilson LG, Hyde TS. Effect of alprazolam and diazepam on anxiety and panic attacks in panic
disorder: a controlled study. J Clin Psychiatry. 1986; 47: 458-60.
12. Moylan S, Staples J, Ward SA, Rogerson J, Stein DJ, Berk M. The efficacy and safety of alprazolam versus other benzodiazepines in
the treatment of panic disorder. J Clin Psychopharmacol. 2011; 31(5): 647-52.
13. O’BrienC. Benzodiazepine use, abuse, and dependence. J Clin Psychiatry. 2005; 66: 28-33.
14. Pailhez G, Majó A, Córcoles D, Ginés JM, Arcega JM, Castaño J, et. al. Clinical observation, pharmacotherapy and referral on
discharge of patients with anxiety disorder in a psychiatric emergency service. Actas Esp Psiquiatr. 2015; 43(1): 8-15.
15. Pollack MH, Otto MW, Tesar GE, Cohen LS, Meltzer-Brody S, Rosenbaum JF. Long-term outcome after acute treatment with
alprazolam or clonazepam for panic disorder. J Clin Psychopharmacol. 1993; 13: 257-63.
16. Rosenbaum JF, Moroz G, Bowden CL. Clonazepam in the treatment of panic disorder with or without agoraphobia: a dose-response
study of efficacy, safety, and discontinuance. Clonazepam Panic Disorder Dose-Response Study Group. J Clin Psychopharmacol.
1997; 17(5): 390-400.
17. Scweizer E, Pohl R, Balon R, Fox I, Rickels K, Yeragani VK. Lorazepam VS. Alprazolam in the treatment of panic disorder.
Pharmacopsychiatry 1990; 23(2): 90-3.
18. Stahl S M. Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016.
19. Su VY-F, Chen Y-T, Lin W-C, Wu L-A, Chang S-C, Perng D-W, et. al. Sleep Apnea and Risk of Panic Disorder. Ann of Fam Med.
2015; 13(4): 325-30.
20. Tesar GE, Rosenbaum JF, Pollack MH, Otto MW, Sachs GS, Herman JB, et al. Double-blind, placebo-controlled comparison of
clonazepam and alprazolam for panic disorder. J Clin Psychiatry. 1991; 52(2): 69-76.
21. Thibaut F. Anxiety disorders: a review of current literature. Dialogues Clin Neurosci. 2017; 19(2): 87-8.
22. Valença AM, Nardi AE, Nascimento I, Mezzasalma MA, Lopes FL, Zin W. Double-blind conazepam VS placebo in panic disorder
treatment. Arq Neuropisiquiatr. 2000; 58 (4): 1025-9.
23. Baldaçara L, Diaz AP, Leite V, Pereira LA, Dos Santos RM, Gomes Júnior VP, et al. Brazilian guidelines for the management of
psychomotor agitation. Part 2. Pharmacological approach. Braz J Psychiatry. 2019; 41(4): 324-35.
24. Blaya C, Lucca G, Bisol L, Isolan L. Diretrizes Para o Uso de Psicofármacos Durante a Gestação e Lactação: Psicofármacos:
Consulta Rápida. Porto Alegre: Artmed; 2005.
25. Pollard CA, Lewis LM. Managing panic attacks in emergency patients. J Emerg Med. 1989; 7(5): 547-52.
11.1
CERATITES
Autores:
Mylena Maíssa Cunha Simões
Ayeska Terra Cardoso
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
Ceratite é a inflamação da córnea, podendo ser causada por agentes infecciosos, traumas, doenças
autoimunes, dentre outros. A sua incidência varia de acordo com cada tipo, sendo a mais comum a
infecciosa e a mais grave a por bactérias, variando a agressividade a depender da virulência do
microrganismo e da integridade da córnea.
A córnea é a parte mais externa do olho, sendo altamente inervada pela primeira divisão do nervo
trigêmeo, e não é vascularizada. Seu diâmetro médio é 11,5 mm na vertical e 12 mm na horizontal,
tendo espessura média de 0,5 mm. A córnea é dividida em 5 camadas: epitélio, camada de Bowman,
estroma, membrana de Descemet e endotélio, sendo o epitélio a sua camada mais externa e tendo
grande capacidade de repitelização, que ocorre entre 7 a 10 dias. Se a ceratite atingir o estroma,
possivelmente ocorrerá a úlcera. Esta poderá deixar cicatrizes que causarão opacidade corneana
permanente e até perfuração ocular.
Tratando-se do Brasil e de seus dados epidemiológicos, estudos apontam como o grupo mais
acometido por ceratites bacterianas e fúngicas os homens na sexta década de vida. Importante
ressaltar que o contato com meio rural, fumo, álcool, cirurgia ocular recente e trauma ocular são
fatores de risco com significância estatística em muitas cidades, sendo as regiões mais quentes e
úmidas as de maior frequência.
DEFINIÇÕES
A) CERATITES INFECCIOSAS
• CERATITE SUPURATIVA
Ocorre comumente devido ao uso contínuo e incorreto de lentes de contato decorrente de má
higienização e suporte de armazenamento inadequado. É caracterizada pela intensa produção de pus
resultante da inflamação.
A infecção é possibilitada pela lente, que pode romper o tecido epitelial e favorecer a adesão dos
agentes infecciosos à córnea. Os agentes infecciosos são as bactérias (Pseudomonas) e os
protozoários, especificamente Acanthamoeba.
A ceratite por Acanthamoeba é uma infecção ocular grave que, apesar dos recentes progressos no
diagnóstico e tratamento, ainda provoca prolongada morbidade e perda da acuidade visual.
A infecção ocorre devido à grande presença desses agentes no meio ambiente, principalmente
colonizando os estojos das lentes e as soluções salinas que servem para a higienização. Os principais
sinais e sintomas são fotofobia, hipópio (pus na câmera anterior), dor ocular intensa, opacidade
corneana e diminuição da acuidade visual.
O diagnóstico é feito a partir do raspado ou biópsia corneana à procura dos agentes infecciosos
evidenciados pelo exame anatomopatológico, que mostrará o infiltrado de polimorfonucleados e a
hipervascularização. O tratamento que envolve as bactérias é o mesmo das ceratites bacterianas.
Já em relação à infecção por protozoários (Acanthamoeba), o esquema terapêutico consiste no
uso tópico de Sulfato de neomicina 0,35%, 1 gota de 4/4h, por 15 dias, ou Isotionato de Propamidina
0,1% (Brolene colírio®), 1 gota de 4/4h, por 15 dias, ou Clorexidina 0,02%, 1 gota de 1/1h, por 3
dias e a manutenção de 4/4h por até 3 meses. Corticoides tópicos podem ser avaliados após melhora
clínica.
Há ainda a opção do uso do antibiótico subconjuntival ou sistêmico na presença de
comprometimento escleral ou intraocular.
• Ceratite Traumática
É causada pela exposição a agentes nocivos, na maioria acidentais, que causam a inflamação da
córnea. Pode ser causada por agentes químicos (fármacos, solventes, ácidos, bases, álcoois), térmicos
(soldas, exposição a luz ultravioleta), de exposição (fechamento inadequado das pálpebras pós
trauma ou por proptose), elétrica, por lente de contato e por corpo estranho (presença de ciscos,
sementes ou areia).
O desenvolvimento da lesão é diretamente proporcional à exposição, à duração, à quantidade e à
penetração ao agente causador. Tem grande incidência nos meios laborais, pois por vezes o EPI
(equipamento individual de proteção) não é utilizado. Os casos mais comuns são queimaduras por
solda, eletricidade e agentes químicos, sendo responsável por 48 a 65% dos casos de úlcera de córnea
nos países em desenvolvimento.
De modo geral os sintomas consistem em dor intensa, lacrimejamento, sensação de corpo
estranho, edema palpebral, midríase, hiperemia conjuntival e fotofobia. O diagnóstico é feito a partir
da história do trauma, exame ectoscópico (com eversão palpebral) e biomicroscopia. A ceratite por
corpo estranho geralmente é única e unilateral, já as ceratites térmica, elétrica ou química tendem a
ser bilaterais, porém assimétricas. Nas queimaduras químicas, a base é a mais grave devido à
bioquímica da córnea.
O tratamento geral se inicia com a limpeza ocular com soro fisiológico em abundância com cerca
de 8 a 10 litros, assim como o uso de lubrificante e pomada repitelizante. O uso de colírio de
antibióticos como a ciprofloxacino 0,35% pode ser feito em casos de secreção purulenta e hiperemia
conjuntival persistente.
Na ausência de corpo estranho, está indicada a oclusão ocular com pomada repitelizante por 24h e
após o uso dos medicamentos acima citados. Nos casos de ceratite por lente de contato, pode ser
administrado topicamente colírio de Diclofenaco de sódio 1% (Maxilerg®) ou Cetorolaco 0,5%
(Cetrolac®) de 6/6h, por 7 dias, para alívio da dor.
Pode-se utilizar no momento do atendimento colírio anestésico, como Cloridato de
Proximetacaína 0,5% (Anestalcon®) ou Tetracaína 10 mg e Fenilefrina 1 mg (Anestesico®) 1 gota,
para alívio da dor. Não é recomendável a prescrição destes anestésicos, visto que o uso rotineiro pode
gerar úlceras ésteres posteriormente.
Em casos de presença de corpo estranho, o oftalmologista deve ser contatado para fazer a retirada
do mesmo na Lâmpada de Fenda. Não é aconselhado fazer a retirada do corpo estranho a “olho nu”,
apenas a lavagem com soro fisiológico e a prescrição de colírio lubrificante, pois a retirada sem a
aparelhagem necessária pode deixar restos de metal no olho e ocasionar úlcera e posterior perfuração
corneana.
Também não é recomendável utilizar pomada repitelizante sobre o corpo estranho (antes de retirá-
lo), apenas o uso de óculos escuros ou um curativo oclusivo.
Enquanto nas ceratites por exposição deve-se indicar o uso de lubrificante, pomada repitelizante e
a oclusão do olho, usando gazes e esparadrapo por 24h, em pacientes acamados ou em CTI deve-se
fazer este procedimento rotineiramente. Tal tratamento é indicado na grande maioria dos casos, com
melhora significativa dos sintomas e da ceratite.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente 23 anos, sexo feminino, usuária de lentes de contato gelatinosas. Chega
a unidade de pronto-atendimento referindo que esteve em viagem recente e esqueceu seu estojo de
lentes de contato, então dormiu uma noite com as lentes e no outro dia durante o banho as deixou
expostas sobre a pia do banheiro, reutilizando-as mais tarde. Cerca de 6 horas depois do uso
iniciaram os sintomas: dor, sensação de corpo estranho, fotofobia, vermelhidão ocular, turvação
visual e secreção mucopurulenta . Observado ao exame clinico: edema palpebral, hiperemia
conjuntival e secreção mucopurulenta.
c) Prescrição Sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Abud TB, Di Zazzo A, Oliveira LA, Sousa LB. Doença do Enxerto-versus-hospedeiro ocular: Revisão. Rev Bras Oftalmol.
2019; 78(1): 65-70.
2. Marta A, Silva N, Carneiro N, Neves MM, Gomes M, Oliveira L. Estudo epidemiológico das queratites infecciosas
internadas num centro hospitalar terciário - revisão de 5 anos. Rev Bras Oftalmol. 2019; 78(6): 370-4.
3. Souza TK. Interação entre Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e Acanthamoeba polyphaga. [Dissertação
– Mestrado]. Porto Alegre: Curso de Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
2016.
4. Alves MJ. Estudo de fungos melanizados em amostras ambientais de áreas rurais do Amazonas e avaliação da sua relação
com os fungos melanizados causadores de micoses. [Dissertação – Mestrado]. Manaus: Curso de Biologia de Agentes
Infecciosos e Parasitários, Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia C, Universidade Federal do Amazonas; 2015.
5. Sena CCLV. Vírus Linfotrópico de Células T Humana tipo 1 (HTLV-1) e sua associação com a Ceratoconjuntivite Seca no
Município de Salvador/ Bahia. [Tese – Doutorado]. Salvador: Programa de Pós-graduação em Medicina e Saúde Humana,
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Universidade Federal da Bahia; 2015.
6. Ataíde LN. Manifestações extra-articulares da artrite reumatoide: revisão bibliográfica. [Monografia – Especialização].
Salvador: Curso de Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia; 2014.
7. Carvalho CN. Caracterização Dos Polimorfismos Genéticos Da Resposta Th17 Na Síndrome De Sjogren Secundária A
Artrite Reumatoide. [Tese – Doutorado]. Recife: Curso de Odontologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Federal de Pernambuco; 2014.
8. Martins JRB. Avaliação do desempenho de colírio usando soro alogênico e fatores de crescimento derivados de plaquetas
em cultura de células do anel córneo-escleral. [Dissertação – Mestrado]. Botucatu: Faculdade de Medicina de Botucatu,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 2014.
9. Nozela WSO. Manifestações oftalmológicas em pacientes com infecção pelo vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1
(HTLV – 1). [Tese – Doutorado]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia, 2014.
10. Nunus TET. Interação entre Acanthamoeba castellanii e Fusariumsolani:um possível problema no contexto da ceratite.
[Dissertação – Mestrado]. Porto Alegre: Curso de microbiologia Agrícola e do Ambiente, Instituto de Ciências Básicas da
Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2014.
11. Cunha CPCM. Novos sistemas farmacêuticos para administração ocular: estado da arte. [Dissertação -Mestrado]. Porto:
Curso de Farmácia, Faculdade Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa; 2013.
12. Fulgencio G, Saliba JB, Fialho SL, Cunha Jr AS. Sistema de liberação contendo ciclosporina 20 para o tratamento de
ceratoconjuntivite seca: estudo preliminar. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72(4): 232-6.
13. Marujo FI, Hirai FE, Yu MCZ, Hofling-Lima AL, Freitas D, Sato EH. Distribuição das ceratites infecciosas em hospital
terciário no Brasil. Arq Bras Oftalmol. 2013; 76(6): 370-3.
14. Vola ME, Moriyama AS, Lisboa R, Vola MM, Hirai FE, Bispo PJM, et al. Prevalence and antibiotic susceptibility of
methicillin-resistant Staphylococcus aureus in ocular infections. Arq Bras Oftalmol. 2013; 76(6): 350-3.
15. Morais FV. Infecção por Pseudomonas aeruginosa. Acad Ciênc Tecnol Científ. 2012; 2(4): 1-12, 2012.
16. Tanure MAG, Rocha FMR. Trauma ocular por explosão acidental de disco compacto. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71(5):
322-4.
17. Zanella JFP. Acanthamoeba spp. em ambientes hospitalares e acadêmicos do Rio Grande do Sul. [Tese – Doutorado].
Caxias do Sul: Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, Universidade de Caxias do Sul; 2011.
18. Fonseca EC, Arruda GV, Rocha EM. Olho seco: etiopatogenia e tratamento. Arq Bras Oftalmol. 2010; 73(2): 197-203.
19. Kanski JJ. Oftalmologia Clínica: Uma abordagem sistemática. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008.
20. Sano FT, Dantas PE, Silvino WR, Sanchez JZ, Sano RY, Adams F, et al. Trends in the indication for penetrating
keratoplasty. Arq Bras Oftalmol. 2008; 71(3): 400-4.
21. Tan DT, Janardhanan P, Zhou H, Chan YH, Htoon HM, Ang LP, et al. Penetrating keratoplasty in Asian eyes: the
Singapore corneal transplant study. Ophthalmology. 2008; 115(6): 975-82.
22. Flores VGC, Dias HLR, Castro RS. Indicações para ceratoplastia penetrante no Hospital das Clínicas – Unicamp. Arq
Bras Oftalmol. 2007; 70(3): 505-8.
23. Beckingsale P, Mavrikakis I, Al-Yousuf N, Mavrikakis E, Daya SM. Penetrating keratoplasty: outcomes from a corneal
unit compared to national data. Br J Ophthalmol. 2006; 90(6): 728-31.
24. Obeid WN, Araujo R, Vieira LA, Machado MAC. Ceratite bilateral por Acanthamoeba: relato de caso. Arq Bras Oftalmol.
2003; 66(6): 876-80.
25. Freitas D, Alvarenga L, Lima ALH. Ceratite herpética. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(1): 81-6.
26. Oliveira PR, Resende SM, Oliveira FC, Oliveira AC. Ceratite fúngica. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(1); 75-9.
27. Teixeira MF, Almeida Jr GC, Rodrigues ML, Kamimoto PS, Kashiwabuchi LK. Resultados e indicações de ceratoplastias
penetrantes realizadas por médicos em treinamento, num país em desenvolvimento. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(6): 557-
61.
28. Alves MR, Andrade BBA. Úlcera de córnea bacteriana. Arq Bras Oftalmol. 2000; 63(6): 495-8.
11.2
CELULITE PRÉ-SEPTAL E PÓS-SEPTAL
Autores:
Isabella Ferreira Melli
Pedro Henrique Bernardo de Mendonça
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
A celulite orbitária bacteriana constitui um quadro infeccioso agudo com risco vital para os
tecidos moles da região orbitária. Globalmente, divide-se em duas situações: celulite periorbitária ou
pré-septal, localizada anteriormente ao septo orbitário, e celulite orbitária ou pós-septal, quando
instalada posteriormente ao septo. A celulite pré-septal tem maior incidência na população e possui
melhor prognóstico mediante o tratamento médico adequado. A celulite pós-septal é mais rara, porém
possui maior risco de complicações, incluindo cegueira e meningite. Ambas podem estar presentes
em qualquer idade, sendo mais comumente encontradas em crianças.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A) ETIOLOGIA
Várias são as causas que podem evoluir para tal patologia, sendo não raramente secundárias a
eventos muitas vezes já instalados (Quadro 1), porém o mecanismo mais comum é a disseminação
por contiguidade a partir de uma rinossinusite.
QUADRO CLÍNICO
A celulite pré-septal, assim com a pós-septal, apresenta sintomas comuns de acometimento dos
tecidos moles periorbitários, apresentando eritema, edema, calor, sensibilidade palpebral e quemose
(edema conjuntival). O quadro clínico da pré-septal limita-se aos tecidos moles externos, não
apresentando acometimento orbitário, diferenciando-se assim da pós-septal.
A celulite pós-septal deve ser suspeitada se estiverem presentes os sinais orbitários que incluem a
oftalmoplegia dolorosa, proptose, acuidade visual reduzida, defeito pupilar aferente e diplopia. A
celulite pós-septal apresenta pior prognóstico e pode evoluir de forma fulminante com complicações
severas que incluem a trombose do seio cavernoso, abscessos intracranianos, meningite e cegueira.
Ocasionalmente, a pré-septal pode cursar com febre, prostração e leucocitose, embora sejam mais
pronunciadas na celulite pós-septal.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito por meio dos sinais clínicos de acometimento orbitário já citados associados
a exames complementares e laboratoriais.
Os achados dos exames laboratoriais, hemograma completo e proteína C reativa (PCR)
evidenciam um processo infeccioso com leucocitose e aumento do PCR.
A tomografia computadorizada (TC) de órbita e dos seios da face deve ser solicitada na presença
de celulite orbitária. Na imagem, é possível observar adensamento da gordura retrobulbar e
opacificação dos seios da face, sendo o método radiológico de eleição para o diagnóstico e
acompanhamento. Na impossibilidade de realização da TC, o raio-X simples dos seios paranasais
pode ser útil, pois podem estar presentes sinais sugestivos de sinusite, que é a principal causa de
celulite orbitária.
TRATAMENTO
O tratamento inicial depende da etiologia bacteriana relacionada à maioria dos casos de celulite
pré e pós-septal.
Na celulite pré-septal, usa-se antibioticoterapia via oral associada a AINEs e compressa quente. Já
na celulite pós-septal inicia-se, com antibiótico de amplo espectro com ação contra germes gram +,
gram -, anaeróbios, produtores de beta-lactamase.
Opta-se por antibiótico endovenoso nos casos de celulite pós-septal e/ou necessidade de
drenagem do abscesso.
Na celulite pré-septal, usa-se cefalosporina de 2ª geração (cefuroxima de 8/8 horas) ou
amoxicilina + ácido clavulânico (Clavulin® 500 mg de 8/8 horas), ambos VO por 7 a 10 dias,
associado a AINEs (Nimesulida® 100 mg de 12/12 horas) VO por 5 dias, além de compressa morna.
Na celulite pós-septal em adultos, a 1ª escolha é:cefalosporina de 3ª geração (Ceftriaxone®) 2 g
EV de 12/12 horas + oxacilina (Nafcillin®) 2 g EV de 6/6 horas. A 2ª escolha é amoxicilina com
clavulonato 1 g 8/8 horas, e a 3ª escolha é levofloxacino 500 mg EV/dia + clindamicina 600 mg EV
8/8 horas. Em casos de alergia a penicilina, usa-se vancomicina 1 g EV 12/12 horas. Pode-se fazer
uso de ceftadizime + metronidazol também.
Em crianças, faz-se o uso de Ceftriaxone® 100 mg/kg/dia EV de 12/12h + oxicilina 200
mg/kg/dia EV de 6/6 horas, e a 2ª escolha é amoxicilina com clavulonato 100 mg/kg/dia EV de 8/8
horas. Em casos de alergia a vancomicina, deve-se utilizar 40 mg/kg/dia EV de 8/8h.
Tanto em adultos quanto em crianças o tratamento varia de 3 a 21 dias, dependendo do estado
clínico do paciente.
Caso não haja melhora no tratamento clínico de 48 a 72 horas e a TC do paciente evidenciar
abscesso ou apagamento da gordura orbitária ou espessamento da musculatura, ou o paciente
apresentar limitação dos movimentos oculares, proptose, baixa acuidade visual, diplopia, deve-se
iniciar o tratamento cirúrgico com drenagem de abscesso. Se comprovada a etiologia bacteriana por
germe anaeróbio, associa-se o metronidazol com as demais.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: A.C.S, 12 anos, sexo feminino, deu entrada no serviço de emergência,
queixando-se de dor em olho esquerdo, hiperemia conjuntival e edema em região periorbitária de
início há 3 dias. Negava uso de medicações orais e colírios. De antecedentes patológicos referiu
quadro de rinossinusite prévia. O médico, após a avaliação, suspeitou de conjuntivite e iniciou colírio
c lubrificante ocular (Lacrifilm®) e compressas geladas.
Após 48 horas, a paciente retornou ao hospital apresentando piora do quadro clínico, referindo
“olho para fora”, com dor à movimentação ocular, baixa acuidade visual em olho esquerdo e piora do
edema palpebral.
• Ectoscopia do lado esquerdo: Edema palpebral intenso (superior e inferior), com sinais
flogísticos, proptose, oftalmoplegia dolorosa e hiperemia conjuntival.
• Acuidade visual: Olho direito: 20/20. Olho esquerdo: 20/80.
c) Hipótese diagnóstica: Celulite Pós-Septal à esquerda secundária à rinossinusite.
e) Prescrição Sugerida:
• Celulite pós-septal:
1. Dieta oral branda.
2. Scalp salinisado.
3. Ceftriaxone 2 g EV, 12/12 horas por 7 dias.
4. Oxacilina 2 g EV, 6/6 horas por 7 dias.
5. Nimesulida 100 mg VO, 12/12 horas por 5 dias.
6. Dipirona® 500 mg, VO 6/6 horas, se houver dor.
7. Compressa morna,4x dia, por 15 mim.
8. Sinais vitais de 6/6h.
• Celulite pré-septal:
1. Amoxicilina + ácido clavulânico 500 mg, 8/8 horas, por 7 a 10 dias.
2. Nimesulida 100 mg VO, 12/12 horas por 5 dias.
3. Analgésico (Paracetamol ou dipirona) VO, 6/6 horas, se houver dor.
4. Compressa morna.
REFERÊNCIAS
1. Cruz AAV, Demarco RC, Valera FCP, Santos AC, Anselmolima WT, Marquezini RMS. Complicações orbitárias da
rinossinusite aguda: uma nova classificação. Rev Bras Otorrinolanringol. 2007; 73(5): 684-8.
2. Akçay E. Preseptal and orbital cellulitis. J Microbiol Infect Dis. 2014; 2014; 4(3): 123-7.
3. Kanski JJ. Órbita: Celulite orbitária bacteriana. In: KANSKI JJ. Oftalmologia Clínica: Uma abordagem sistemática. 8. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. p. 87-9.
4. Monteiro G, Dias A, Teixeira E, Pereira J, Santos E, Laranjo G, et al. Celulite Periorbitária e Orbitária: casuística de 11
anos. Nascer e Crescer. 2013; 22(3): 158-61.
5. Cruz AAV, Demarco RC, Valera FCP, Santos AC, Anselmolima WT, Marquezini RMS. Complicações orbitárias da
rinossinusite aguda: uma nova classificação. Rev Bras Otorrinolanringol. 2007; 73(5): 684-8.
6. Sampaio CM, et al. Estudo clínico de celulite orbitária e pré-septal na infância. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(3): 203-6.
7. Belfort Jr R, Belfort Neto R. Urgências Oftalmológicas. In: Lopes AC, Guimarães HP, Lopes RD.
PROURGEN/SEMCAD: Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Porto Alegre: Artmed; 2007.
8. Silva V, Leite AL, Pedrosa C, Marques E. Celulite orbitária e periorbitária. Revisão de 16 anos de crianças internadas no
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Saúde Infantil. 2011; 2(33): 76-80.
9. Bento RF, Matayoshi S. Doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta: Afecções oculares infecciosas. In: Goldman L.
Cecil: Medicina Interna. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014.
10. Hauser A, Fogarasi S. Periorbital and Orbital Cellulitis. Pediatr Rev. 2010; 31(6): 242-9.
11. Vital Filho J (comp.). CBO: órbita, sistema lacrimal e oculoplástica. 3. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica – Guanabara
Koogan; 2014.
11.3
CONJUNTIVITES
Autores:
Henrique Araújo Cenci
Neiffer Nunes Rabelo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
A conjuntivite corresponde a uma “inflamação da conjuntiva”, membrana mucosa transparente que
recobre a superfície do globo ocular até o limbo e a superfície interna das pálpebras. Pode ser de
origem infecciosa ou não infecciosa, podendo ter como agente causal bactérias, vírus e até processos
alérgicos.
Constitui uma queixa recorrente da atenção básica, sendo a causa mais frequente de “olho
vermelho”, sendo considerada a doença ocular mais comum, equivalente a 25% de todo o atendimento
emergencial oftalmológico. Afeta todas as faixas etárias e classes socioeconômicas, e apresenta
predomínio dos 20 aos 29 anos.
O quadro clínico geralmente cursa com hiperemia conjuntival, lacrimejamento, ardência e
fotofobia, e seu tratamento se baseia em medidas para evitar proliferação, uso de lubrificantes e
antibióticos quando necessários. Se não tratada adequadamente, pode evoluir com acometimento
corneano e, em algumas ocasiões, levar à cegueira.
A incidência de conjuntivite bacteriana, em comparação à de etiologia viral, é notavelmente
menor, estimada em 135 casos a cada 1000, sendo a viral responsável por 80% do total de casos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
a) ETIOLOGIA
A conjuntivite pode ser causada por agentes tóxicos ou mecânicos, por alergias ou mesmo por
microrganismos, incluindo vírus, bactérias e parasitos, podendo ser dividas em infeciosas (viral e
bacteriana) e não infeciosas (alérgicas e não alérgicas).
As afecções bacterianas podem ser dividas em hiperaguda (24h), aguda (até três semanas) e
crônica (após três semanas), sendo a aguda a de maior relevância e a qual constitui uma doença
comum, geralmente autolimitada e ocasionada pelo contato direto do olho com secreções ou objetos
infectados, dentre estes toalhas, cosméticos, lentes de contato. Os microrganismos mais comuns são S.
pneumoniae, S. aureus, H. inflkuenzae e M. catarrhalis, e os outras representam uma minoria de casos,
geralmente graves, como nesseria gonorrhaene, clamídia e neisseria meningitidis. Em crianças, a
doença é comumente causada por Haemophilus Influenzae, S. pneumoniae e M. catarrhalis.
A conjuntivite viral constitui o tipo mais comum, e sua transmissão é bastante similar à bacteriana,
porém bastante contagiosa devido à capacidade da partícula viral de se manter viva, facilitando o
surgimento de epidemias. Seu contagio ocorre de forma semelhante ao vírus da gripe, sendo o
adenovírus o principal agente etiológico (90% dos casos).
Já a conjuntivite alérgica é definida como uma resposta de hipersensibilidade por exposição a
alérgenos, e sua gravidade se relaciona à intensidade da resposta inflamatória, à idade do paciente e
aos fatores genéticos e geográficos. Alguns subtipos de alergia ocular são descritos: rinoconjuntivite
alérgica, ceratoconjuntivite vernal, ceratoconjuntivite atópica e a conjuntivite papilar gigante.
Por fim, temos as conjuntivites não infeciosas e não alérgicas, a química, a conjuntivite decorrente
de trauma e as conjuntivites secundárias a outras patologias, como colagenoses e síndrome de Reiter.
b) FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da inflamação conjuntival está relacionada ao agente causal, em que a
vasodilatação acarretara dano endotelial, através do aumento da permeabilidade, gerando quemose,
diminuição da transparência do tecido e por estímulo de terminações nervosas sensoriais uma
hipersecreção.
QUADRO CLÍNICO
a) Conjuntivite bacteriana
Na conjuntivite bacteriana, o quadro clínico evolui de maneira abrupta, com descarga purulenta
abundante, hiperemia conjuntival, queimação, pálpebras aderidas e baixa visão. Pode ser
acompanhada ainda por edema palpebral e dor ocular à palpação. Importante reforçar que o
envolvimento ocular é geralmente bilateral e assimétrico, embora um olho possa ser afetado 1-2 dias
antes do outro.
Uma forma bastante específica de conjuntivite bacteriana é a ocasionada pela Clamidia tracomatis,
que ocorre no adulto geralmente por transmissão sexual, através do contato da secreção genital ao olho
e, em crianças, é usualmente associada ao parto normal e más condições de higiene. Essa infecção se
inicia com uma conjuntivite subaguda, com comprometimento uni ou bilateral, junto à secreção
mucopurulenta, podendo cronificar e persistir por 3 a 12 meses. Algumas reinfecções de alguns
sorotipos podem acabar ocasionando o traucoma, doença que cursa com folículos na conjuntiva tarsal
e limbar superior, que se não tratadas adequadamente evoluem para as fases tardias da doença,
surgindo áreas de fibrose na conjuntiva tarsal (“Linha de Arlt”) . Esta conjuntivite pode ocorrer no
recém-nascido entre o 5° ao 10° dia de vida após o parto normal, cursando com hiperemia conjuntival
intensa, edema palpebral, secreção mucopurulenta e pode estar associado com doenças sistêmicas,
como pneumonia e otite.
A ceratoconjuntivite gonocócica é causada pela Neisseria Gonorrhoae, que invade o epitélio
corneano através de contato secreções genitais maternas contaminadas. Essa patologia se desenvolve
após 2 semanas de nascimento, se caracterizando por um edema palpebral bilateral, papilas
conjuntivais com pseudomenbranas, adenomegalia, quemose e secreção profusa, purulenta e copiosa.
Se não tratada adequadamente, pode evoluir para uma úlcera corneana, podendo evoluir com
perfuração.
b) Conjuntivite viral
O quadro clínico da conjuntivite viral pode apresentar-se isoladamente ou concomitantemente a
sinais e sintomas sistêmicos associados a infecção por Adenovírus, Herpes vírus (Herpes simples e
Herpes do tipo 3) e HIV. De uma forma geral, quando desencadeada pelo adenovírus, manifesta-se
com hiperemia conjuntival, secreção hialina, aglutinação palpebral matinal, fotofobia, reação folicular,
sensação de queimação ou areia nos olhos bilateral, associados a sintomas de resfriado como tosse
matinal e congestão nasal. O segundo olho costuma ficar envolvido dentro de 48h até uma semana
após o primeiro, e geralmente ocorre a piora dos sintomas entre 3-5 dias, melhorando gradualmente
em 1-2 semanas. Nos casos de infecção por herpes simples, os sintomas oculares geralmente são
unilaterais, podendo estar acompanhados de lesões vesiculares. Diferentemente da afecção bacteriana,
a linfadenomegalia pré-auricular está presente em até 90% dos casos.1,7,8,12
c) Conjuntivite Alérgica
A conjuntivite alérgica pode se apresentar como um sintoma isolado ou compor uma reação
alérgica generalizada, com sintomas em outros segmentos corporais. As queixas principais incluem
prurido intenso, fotofobia, secreção hialina e olho vermelho, e a maioria dos pacientes contém história
prévia de atopia ou apresenta quadros alérgicos com rinite ou bronquite associados. O quadro
geralmente é bilateral, assimétrico e não contagioso, podendo seu curso ser agudo ou crônico. Na
conjuntivite alérgica aguda, costuma haver edema palpebral muito importante, quemose exarcebada,
lacrimejamento e prurido.
O quadro clínico pode variar de intensidade conforme o subtipo da alergia ocular. A conjuntivite
sazonal é a mais frequente dos tipos, sendo integrada a fatores externos, como poeira e pólen, tem
intensidade de leve a moderada, sem envolvimento corneano; a conjuntivite vernal ou primaveril é
encontrada, principalmente, no sexo masculino, dos 5 aos 15 anos, e está associada a outras
manifestações alérgicas, seus sintomas usualmente são mais severos, encontrando hipertrofia papilar e
nódulos limbares de Trantas e úlcera em escudo. A conjuntivite atópica é a mais rara, podendo
acarretar severo dano ocular e geralmente tem acometimento cutâneo, e está associada a asma ou
outras manifestações alérgicas. A conjuntivite papilar gigante é aquela induzida mecanicamente,
frequentemente relacionada ao uso de lentes de contato gelatinosas e próteses oculares,
caracterizando-se pela presença de papilas tarsais gigantes.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico das conjuntivites é clínico, fundamentado na anamnese do paciente e no exame
biomicroscópico, geralmente com o auxílio da lâmpada de fenda, em que se observa inflamação
conjuntival associada a outros achados. Para o esclarecimento etiológico pode-se usar PCR, Elisa,
microscopia direta, biópsia conjuntival, teste de provocação conjuntival com alérgenos e dosagem
sérica de IgE-específica, isolamento de cultura, testes rápidos virais, porém são poucos utilizados no
dia a dia, sendo restrito a casos mais graves, epidemias e pesquisas.
a) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Os principais diagnósticos diferenciais das conjuntivites constituem as causas de olho vermelho,
dentre estas as uveítes e crises agudas de glaucoma. Nessas situações, observa-se aumento da pressão
intraocular, baixa acuidade visual, presença de células inflamatórias na câmara anterior, além de
quadro de dor ocular, quadros que fogem as alterações comumente encontradas nas conjuntivites,
somente em casos excepcionais.
TRATAMENTO
a) Conjuntivite bacteriana
O tratamento das conjuntivites bacterianas fundamenta-se na utilização de antibióticos, mas não se
deve esquecer de medidas para evitar a proliferação da bactéria, como: higiene ocular com SF 0,9% e
lenço descartável, trocar fronhas e toalhas de rosto, lavar as mãos após manuseio de colírios, uso de
óculos escuros, além de atestado médico de 5 a 7 dias. Deve-se dar preferência por antibióticos
tópicos, sendo utilizadas as quinolonas ciprofloxacino (Maxiflox®), gatifloxacino (Zymar®),
moxifloxacino (Vigamox®)) ou aminoglicosídeos tobramicina (Tobrex®)) 4 a 5 vezes ao dia,
associadas aos lubrificantes (Lacrifilm®, Systane UL®, Hyabak® e Optive®) e compressas frias. Se
houver processo inflamatório muito intenso, o uso de corticoides tópicos também pode ser indicado
associado (Maxiflox-D, Tobradex®, Zypred®, Vigadexa).
Em algumas situações, faz-se necessário um tratamento alternativo, graças à característica própria
do seu agente etiológico. Exemplos disso são os recém-nascidos com ceratoconjuntivite gonocócica
que necessitam ser internados e submetidos à cultura da secreção, uso de antiobiótico (Ceftriaxona 25-
50 mg por kg, não excedendo 125 mg por 7-10 dias), além de uso de colírio de Gentamicina, de 3/3h,
por 10 dias; em adultos deve ser realizado com antibioticoterapia sistêmica e tópico adjuvante, usando
preferencialmente Ceftriaxona na dose única de 1g IM. Adultos com conjuntivite por clamídia
precisam fazer uso de pomada de tetraciclina (4x ao dia por 6 semanas) ou macrolideos por via oral
(Azitromicina 1 g em dose única ou eritromicina 500 mg 12/12hrs por 14 dias).
Em todos os casos de conjuntivite neonatal com suspeita de infecção gonocócica ou por clamídia
devem ser coletados raspado conjuntival para exame laboratorial e devem ser preferencialmente
referidos à oftalmologia.
b) Conjuntivite viral
A conjuntivite viral não apresenta tratamento específico, geralmente a resolução é espontânea em 2
semanas, porém há benefícios com uso de lubrificantes(Lacrifilm®, Hyabak®, Systane UL® e
Optive®.) de 4 a 6 vezes ao dia para alívio dos sintomas, uso de óculos escuros para alívio da
fotofobia, evitar uso de lentes de contato. O uso de AINES e analgésicos em casos de desconforto
intenso por edema palpebral e linfadenopatia pré-auricular pode ocorrer.
Antibióticos tópicos não estão indicados e não protegem contra infecção secundária, inclusive
podem ser tóxicos e causar alergia. Uso do corticoide tópico (dexametasona) também não deve ser
usado devido ao aumento da replicação viral, ao aumento do tempo de doença e por piorar a
conjuntivite por herpes caso não tenha sido diagnosticada. Usar somente em casos de membrana
(secreção de fibrina aderida em tarso) e infiltrados corneanos.
c) Conjuntivite Alérgica
As medidas iniciais nos casos mais simples incluem controle ambiental do agente causal,
compressas frias e uso de lubrificantes, podendo lançar mão de corticoides e anti-histamínicos. Nos
casos moderados, podem ser usados colírios anti-histamínicos (Patanol- S® ou Lastacaft®) 1x/dia, no
período de maior prurido, e antialérgicos sistêmicos durante as crises agudas (Loratadina 10 mg de
12/12h ou Descloferinamida 2 mg de 8/8h). Já os corticoides tópicos (Maxidex® (dexametasona) ou
Pred Fort® (predinisolona) de 6/6h, por 7 dias, devem ser reservados para o controle das
exacerbações, lembrando sempre de realizar o desmame.
O não tratamento ou o tratamento inadequado dos quadros de conjuntivite alérgica pode levar a
complicações como: úlceras corneanas, opacidades corneanas, ceratocone, catarata, perda das partes
laterais das sobrancelhas e cílios, predisposição às ceratites herpética, fúngica e infeção palpebral por
estafilococos.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: A.C.F, 47 anos, sexo feminino, dona de casa, chega ao pronto-socorro
queixando-se de hiperemia conjuntival, secreção purulenta, ardência e fotofobia em olho direito, que
se iniciou há um dia. Refere que seu filho iniciou quadro semelhante há dois dias. Nega baixa
acuidade visual e dor ocular. Afirma não fazer uso de correção, não ser portadora de nenhuma doença
de base e não ter história prévia de patologia ocular.
d) Prescrição Sugerida:
• Uso Ocular:
1. Ciprofloxacino + Dexametasona (Maxiflox-D®) colírio -------------------------------- 1frasco.
Pingar uma gota em cada olho 4 em 4 horas por 7 dias.
2. Lacrifilm® ou Systane UL® ou Hyabak® ou Optive® colírio ------------------------------- 1
frasco.
Pingar 1 gota nos 2 olhos de 4 em 4 horas por 15 dias.
REFERÊNCIAS
1. Kanski JJ, Bowling B. Oftalmologia Clínica: Uma abordagem sistêmica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
2. Soares AS, Adam Netto A, Soares AS. Análise da prevalência de conjuntivite no atendimento emergencial do serviço de
oftalmologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina nos anos de 2004 a 2008. Revista Acm.
2010; 39(2): 50-5.
3. Alfonso SA, Fawley JD, Lu XA. Conjunctivitis. Prim Care: Clin Off Pract. 2015; 42(3): 325-45.
4. Pereira FB, Frasson M, D’Almeida AGZB, Almeida A, Faria D, Francis J, et al. Perfil da demanda e morbidade dos
pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70(4):
238-42.
5. Sammarco GN, Grion DL, Silva GC, Andreatta LB, Bergamo W. Análise Epidemiológica Da Conjuntivite Viral Após
Estratégias De Controle Em Pompéia-Sp. Sabios: Rev Saúde e Biol. 2014; 9(1): 6-10.
6. Marback PMF, Freitas D, Paranhos Jr A, Belfort Jr R. Aspectos clínicos e epidemiológicos da conjuntivite alérgica em
serviço de referência. Arq Bras Oftalmo. 2007; 70(2): 312-6.
7. Borowsky C, Bellini LP. Atualização no diagnóstico e tratamento das conjuntivites. Rev Amrigs. 2007; 3(51): 222-5.
8. Barbosa Jr JB, Regatieri CVS, Paiva TM, Benega MA, Ishida MA, Correa KO, et al. Diagnóstico de conjuntivite adenoviral
pelo RPS Adenodetector®. Arq Bras Oftalmol. 2007; 70(3): 441-4.
9. Passos AF, Agostini FS. Conjuntivite neonatal com ênfase na sua prevenção. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70(1): 57-67.
10. Geraldini M, Chong Neto HJ, Riedi CA, Rosario NA. Epidemiology of ocular allergy and co-morbidities in adolescents. J
Pediatr. 2013; 89(4): 354-60.
11. Skevaki CL, GalaniI E, Pararas MV, Giannopoulou KP, Tsakris A. Treatment of viral conjunctivitis with antiviral drugs.
Drugs. 2011; 71(3): 331-47.
12. Yannof J, Duker JS. Disorders of the conjunctiva and limbus.In: Yannof J, Duker JS, eds. Ophthalmology. 2nd ed. Spain:
Mosby; 2004.
13. Gerstenblith AT, Rabinowitz MP. Manual de Doenças Oculares Do Wills Eye Hospital: diagnóstico e tratamento no
consultório e na emergência. 6. ed. São Paulo: Artmed; 2015.
14. Azari AA, Barney NP. Conjunctivitis: a systematic review of diagnosis and treatment. JAMA. 2013; 310(16): 1721-9.
11.4
EDEMA PALPEBRAL
Autores:
Emerson Alexandre de Sales Junior
Bruna Sá Eduardo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
INTRODUÇÃO
As pálpebras são estruturas especializadas com componentes anatômicos únicos. Sua espessura
varia de 700 μ a 800 μ, sendo a pele da pálpebra a mais delgada do corpo. Em suas margens,
localizam-se os cílios, juntamente com as glândulas de Zeis e Moll. Têm a função de proteger o olho e
proporcionar conforto ocular contra a luz, além de uniformizar a lágrima sobre a face exposta do globo
ocular.
Edema palpebral é o acúmulo anormal e excessivo de líquido no seu espaço intersticial, resultado
de um desequilíbrio das pressões hidrostática e oncótica.
Sua etiologia é variável, podendo ser de origem alérgica, infecciosa ou inflamatória. É importante
sempre conhecer a causa, para realizar o tratamento específico para cada caso.
Além de tratar a causa base, o uso de anti-inflamatórios e analgésicos é importante para alívio dos
sintomas, como dor e dificuldade visual.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O edema palpebral é um achado clínico, que norteia o diagnóstico e está presente em várias
patologias, locais ou sistêmicas, ocorrendo devido a um acúmulo excessivo de líquidos nos tecidos
palpebrais em razão do aumento da permeabilidade capilar local. É válido ressaltar que a pálpebra
possui a pele aderida frouxamente aos tecidos subjacentes, facilitando a formação de edema.
O edema pode ser precipitado pela exposição ao pólen, picada de insetos (véspulas, vespas e
abelhas), por medicamentos (IEC’s e AINES) ou alimentos (peixes, crustáceos e chocolate), o que leva
a uma liberação de mediadores inflamatórios locais e altos títulos de IgE, tendo sua manifestação com
início repentino e uni ou bilateral, frequentemente acompanhado de edema conjuntival (quemose) e
prurido intenso; neste caso, descrevemos como edema alérgico ou angioneurótico.
A dermatite de contato é uma condição idiopática que gera uma resposta inflamatória tardia, a qual
cursa com edema palpebral. Acontece após a primeira exposição a algum cosmético, soluções para
lentes de contato, colírios (atropina e sulfas) e pomadas, ocasionando o fenômeno de
hipersensibilidade. É facilmente evitada, distanciando-se dos fatores atópicos.
A patologia de origem renal é um evento com repercussão de nível sistêmico, em que ocorre
acúmulo de líquido no organismo, e possui como característica principal o aparecimento do edema
palpebral matutino, sendo um edema frio (por retenção líquida), sem sinais logísticos e que diminui
nos decúbitos prolongados.
Alterações endócrinas sistêmicas devido à disfunção da glândula tireoidiana a longo prazo podem
cursar com mixedema palpebral bilateral, sem sinais flogísticos e sem relação com o decúbito. A
doença de Graves cursa com edema palpebral devido à deposição de mucopolissacarídeos na órbita.
QUADRO CLÍNICO
Cada etiologia se descreve com um achado clínico típico. Tratando-se das causas locais, as
principais são a conjuntivite alérgica e as dermatites de contato.
A conjuntivite alérgica é uma reação de hipersensibilidade mediada pela degranulação de
mastócitos em resposta à ação da IgE. A patologia se apresenta com um edema palpebral
(principalmente na pálpebra inferior), e tem como principal sintoma o prurido ocular e periocular. É
evidenciado também hiperemia conjuntival, lacrimejamento, coriza, prurido nasal e espirros.
A utilização de cosméticos frequentemente leva a dermatites de contato, em que encontramos
lesões eritematosas, papulovesiculosas, vesicular (principal achado), eritema, descamação, exsudação
e crosta associados ao edema palpebral.
O acometimento bilateral refere muitas vezes a um quadro sistêmico, podendo estar associado a
distúrbios renais, endócrinos ou possuindo origem autoimune.
A oftalmopatia de Graves é conhecida como doença tireoidiana ocular de origem autoimune e que
ameaça a boa acuidade visual, havendo uma hipertrofia e aumento do volume da gordura orbitária,
com acúmulo de imunocomplexos antitireoglobulina nos músculos extraoculares, resultando em
proptose. Sua fase aguda é caracterizada, na maioria das vezes, pelo acometimento bilateral, com
hiperemia palpebral, dor, quemose, diplopia, embassamento visual e hiperemia conjuntival.
A síndrome nefrótica é uma outra causa de edema palpebral; contudo, neste caso, gera um edema
palpebral matinal devido à hipoproteinemia que leva a uma diminuição da pressão oncótica do plasma,
com redução da reabsorção do líquido intersticial. O lúpus eritematoso discoide é uma afecção
autoimune que provoca danos simétricos nas pálpebras inferiores, causando madarose, descamação,
eritema, telangectasias e, principalmente, o edema palpebral.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é feito de acordo com a causa desencadeante do edema. Como as causas sistêmicas
precisam ser abordadas de maneira distinta, será abordado aqui apenas sobre o edema palpebral de
origem local.
A conjuntivite alérgica apresenta quadro clínico sugestivo (prurido) e história pessoal e familiar de
quadros de atopia, se há associação com outras patologias alérgicas, como asma, rinite e dermatite
atópica.
Para dermatites de contato, é preciso associar o quadro clínico com uma possível causa e, a partir
disso, pode ser necessária a realização de testes de contato para identificar o fator causal, sendo este o
padrão-ouro. Na dermatite de contato alérgica, durante o teste de provocação, observa-se a erupção
eczematosa, e raramente há urticárias ou lesões morbiliformes. Na dermatite de contato irritativa,
observam-se bolhas, úlceras e necrose.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Das causas alérgicas, é importante saber que o edema alérgico agudo (causado por picada de
insetos ou medicamentos, por exemplo) é um edema súbito, indolor e depressível. A dermatite de
contato apresenta edema e eritema palpebrais, comumente associado a descamação e prurido. A
dermatite atópica, além do edema palpebral, se apresenta com espessamento, descamação e fissuras
verticais da pele da pálpebra e geralmente está associada a blefarite estafilocócica e madarose.
As causas infecciosas de edema palpebral são inúmeras. Neste capítulo, iremos tratar das mais
comuns na prática clínica. O herpes zóster oftálmico cursa rash maculopapular, desenvolvimento
progressivo de vesículas, pústulas e ulceração com descamação, sempre unilateral e respeitando a
linha média da face. O herpes simples evolui com grupos de pequenas vesículas que se rompem,
formando crostas em seguidas. Impetigo são máculas eritematosas que rapidamente evoluem para
vesícula e bolha, que ao se romperem produzem crostas amarelo-douradas. A erisipela, como sinais
típicos, apresenta uma placa subcutânea bem definida, eritematosa e endurecida, e, quando o
envolvimento palpebral é primário, geralmente é mais grave, podendo determinar contratura
secundária. A fasceíte necrotizante é uma necrose que evolui muito rapidamente, cursando com edema
e eritema que evoluem para formação de bolha e descoloração negra da pele.
Importante citar aqui o Hordéolo, que é uma infecção estafilocócica de estruturas da pálpebra, e o
Calázio, que é a cronificação do hordéolo, quando esse já se apresenta indolor e sem outros sinais
flogísticos.
TRATAMENTO
Importante ressaltar que o tratamento dos edemas palpebrais sempre se baseia em tratar a causa
base da patologia desencadeante.
Nas etiologias alérgicas, a parte mais importante do tratamento está em afastar o agente causal,
seja ele pó, ácaro, produtos químicos, entre outros. Pode-se iniciar o uso de agentes antes histamínicos
como Loratadina 10 mg de 12/12 horas ou Prometazina 01 ampola (50 mg/2 mL) intramuscular,
transferindo para via oral o tratamento logo que possível.
Quando a causa for infecciosa, combater o microrganismo se torna o objetivo do tratamento.
Considerando que o agente microbiano mais comum dessas infecções é o S. aureus, pode ser
empregada a Ceftriaxone 1 g endovenosa ou intramuscular de 12/12 horas ou a Cefalexina 500 mg de
06/06 horas, geralmente por 7 a 10 dias. A escolha da via de administração da medicação varia de
acordo com a gravidade do caso.
Para as outras causas de edema palpebral, relacionadas a distúrbios renais, endócrinas e outras
causas sistêmicas, o tratamento visa ao controle da causa de base.
O uso de anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos como Dipirona e Paracetamol pode ser
feito para controle da dor, caso ela exista.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) A.S.R., sexo feminino, 16 anos, procurou pronto-atendimento devido a episódio de febre
associado a dor e edema periorbitário. Na ocasião, foi diagnosticada com celulite periorbitária, sem
indícios clínicos de acometimento pós-septal. Foi prescrito à paciente tratamento oral com
Amoxicilina + Clavulanato.
Em três dias a paciente retorna com piora do estado geral, persistência da febre e lesão com
sangramento, crostas escuras profundas e tumoração com aspecto necrótico.
d) Prescrição Sugerida:
1. Dieta Branda
2. Ceftriaxona 1 g EV 12/12 horas
3. Dipirona 1 g EV 06/06 horas se dor ou febre
4. Cetoprofeno 100 mg IM 24/24 horas
5. Sinais Vitais
REFERÊNCIAS
1. Rocha AS, Cabral PG, Souza GD, Souza LRQ. Aspectos radiológicos na avaliação da Oftalmopatia de Graves: uma revisão
de literatura. Revista de Medicina e Saúde de Brasília. 2019; 7(2): 236-44.
2. Dassi N, Garcia C, Silva R, Castro Júnior C. Síndrome nefrótica paraneoplásica e linfoma de Hodgkin: relato de caso. Relato
de caso. Resid Pediátr. 2018; 8(2): 96-8.
3. Leonardo FHL, Anabuki M, Gonçalves ACP. Bilateral periorbital necrotizing fasciitis: case report. Arq Bras Oftalmol.
2018; 81(3): 239-41.
4. Ferreira ACZ, Junqueira J, Zanini F, Silva MS, Freitas D, Mallozi MC, et al. Fatores associados a alergias oculares em
crianças atendidas em serviço especializado. Arq Asma Alerg Imunol. 2018; 2(3): 357-63.
5. Morato AA, Silva GPC, Galvão LR, Baratz KACP, Marinho VFW. Relato De Caso: fasceíte necrosante da pálpebra. Rev
Méd Minas Gerais. 2018; 28: 1-5.
6. Kanski JJ. Oftalmologia clínica: Uma abordagem sistemática. 8. ed. Rio de janeiro: Elsevier; 2016.
7. Emerick MFB, Rodrigues MMT, Pedrosa DMAS, Novaes MRCG, Gottes LBD. Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise
Epidérmica Tóxica em um hospital do Distrito Federal. Rev Bras Enferm. 2014; 67(6): 898-904.
8. Ferreira BIALS. Dermatites: Diagnóstico E Terapêutica. Braz J Surg Clin Res. 2013; 5: 22-6.
9. Palermo EC. Anatomia da região periorbital. Surg Cosm Dermatol. 2013; 5(3): 245-56.
10. Fraga J, Sá A, Cândido C, Pinto JP, Dias F. Miosite orbitária numa criança. Nascer e Crescer. 2012; 21(1): 28-32.
11. Fraga J, Sá A, Cândido C, Pinto JP, Dias F. Miosite orbitária numa criança. Nascer e Crescer. 2012; 21(1): 28-32.
12. Martins LEAM, Reis VMS. Imunopatologia da dermatite de contato alérgica. An Bras Dermatol. 2011; 86(3): 419-33.
13. Bezerra HL, Santos GIV. Tracoma em pacientes com conjuntivite alérgica. Arq Bras Oftalmol. 2010; 73(3): 235-9.
14. Yanoff M, Duker JS. Oftalmologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
11.5
GLAUCOMA AGUDO
Autores:
Andréia do Couto Morais
Andressa Mayumi Matucuma
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
DEFINIÇÕES
O glaucoma é a segunda causa de cegueira e a primeira causa de cegueira irreversível em todo o
mundo. Quando ocorre de forma aguda, é uma importante causa de urgência oftalmológica. Essa
patologia, também denominada glaucoma agudo primário (GAP), cursa com um rápido período de
evolução, podendo acarretar danos oculares irreversíveis.
O quadro clínico normalmente é de início abrupto, com baixa acuidade visual (BAV), forte dor
ocular e pupila em média midríase e pouco reativa. Esses sintomas podem ser acompanhados com
queda do estado geral, náuseas e vômitos.
Por se tratar de uma Urgência, o tratamento tem como objetivo interromper a crise o quanto antes,
com o objetivo de diminuir a dor, a PIO (pressão intraocular) e o dano ao disco óptico (DO), devendo
ser utilizada terapia clínica.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O GAP pode se apresentar de forma aguda, subaguda e crônica. Apenas a forma aguda é
considerada uma Urgência, cursando quase sempre com PIO elevada, sendo o principal fator
desencadeante da lesão neuropática glaucomatosa.
Dentre os principais fatores de risco, estão: idade (55-70 anos), ascendência asiática, história
familiar, sexo feminino, hipermetropes, ângulo iridocorneano estreito, íris em plateau e
pseudoesfoliação.
A doença glaucomatosa age atingindo o DO com perda de células ganglionares da retina,
causando lesão neuropática.
Os sintomas do glaucoma agudo ocorrem devido à rápida elevação da PIO, que pode causar uma
disfunção temporária das células do endotélio corneano e isquemia transitória da retina.
Normalmente, a crise ocorre em pacientes com glaucoma de ângulo fechado, devido à dificuldade
na drenagem do humor aquoso, onde o principal mecanismo envolvido é o bloqueio pupilar,
ocorrendo geralmente em indivíduos acima de 60 anos e em hipermetropes (devido ao estreitamento
da câmara anterior).
Isso ocorre porque, com o passar da idade, o cristalino sofre modificações estruturais como
aumento da sua espessura, se aproximando da íris. Assim, ela causa um estreitamento do ângulo
iridocorneano, podendo levar a um fechamento total da filtração, levando à crise aguda em pacientes
que já possuem uma predisposição. O fator desencadeante desse bloqueio pupilar é causado por
estresse e medicamentos capazes de aumentar a PIO ou fechar o seio camerular, como:
anticoagulantes, derivados da sulfa, agentes adrenérgicos, colinérgicos e anticolinérgicos.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico cursa com sintomas clássicos como dor ocular intensa e retro-orbitária, náusea,
podendo gerar vômitos, cefaleia (em geral hemicraniana e ipsilateral), fotofobia, lacrimejamento,
visão de halos coloridos e visão turva. Também é possível observar sinais como hiperemia
conjuntival, pupilas em média midríase e pouco reativa, diminuição da acuidade visual, PIO elevada
(geralmente maior que 40 mmHg), câmara anterior (CA) rasa, abaulamento periférico da íris,
fechamento angular, reação de CA, olho endurecido (pétrio) à palpação digital e edema corneano. Na
grande maioria dos casos, o glaucoma agudo ocorre unilateralmente.
EXAME FÍSICO
O exame físico deve ser muito minucioso e sempre bilateralmente.
Baixa Acuidade visual – diminuição súbita Pressão intraocular elevada (geralmente maior que 40
mmHG).
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico é clínico, através da anamnese e exame físico. A anamnese deve ser detalhada,
avaliando os fatores de risco, como hipermetropia, histórico familiar, eventos que possam ter
precipitado a doença, uso de colírios midriáticos. Deve-se avaliar histórico oftalmológico, como
problemas de retina, cirurgias ou tratamento com laser recentes prévios e uso de medicamentos (p.
ex., adrenérgicos ou anticolinérgicos tópicos e topiramato ou sulfa orais). À biomicroscopia, é
possível observar: hiperemia conjuntival, atrofia setorial de íris, pupila dilatada não responsiva,
sinéquias posteriores, epífora, cristalino em Glaukomflecken (opacidade capsular ou subcapsular
anterior associada a fechamento angular primário agudo). À fundoscopia: aumento da escavação do
DO, edema do DO com congestão venosa e/ou hemorragia em chama de vela associados. Ao realizar
a tonometria, a PIO estará aumentada, geralmente maior que 40 mmHg.
TRATAMENTO
a) FECHAMENTO ANGULAR AGUDO
Imediato:
• Obs.: Deve ser usado na dose de 500 mg VO e continuar com 250 mg a cada 8 horas, até
nova avaliação oftalmológica.
• Posologia: Manitol a 20% via IV: de 1,5 a 2 g/kg de peso (80 a 100 gotas/minuto) ou
glicerina 50% gelada VO: 1,5 g/kg de peso.
Posologia: 1 gota de 15 em 15 minutos por 3 vezes, depois de hora em hora nas primeiras três
horas e depois de 6/6 hs.
Obs.: Há uma controvérsia quanto ao uso desse agente colinérgico, pois, por causar miose e
aumentar a drenagem do humor aquoso no trabeculado, é usado em algumas formas de glaucoma,
porém, paradoxalmente, pode estimular GAP por ação da anteriorização do diafragma
iridocristaliniano, obtendo um fechamento angular completo capaz de reduzir a drenagem pela via
uveoescleral, podendo ser um agravo para os pacientes com ângulo estreito. Na maioria das vezes, é
utilizado apenas quando a PIO está menor que 40 mmHg.
• Analgesia e antieméticos, se necessários, são utilizados em doses terapêuticas para que não
afetem a pressão dos olhos, como: DIPIRONA® 1 ampola ou 1 cp de 6/6 hs e PLASIL® 1
ampola ou 1 cp de 8/8 hs.
Obs.: A iridotomia se faz após a crise, nunca na crise, e é realizada nos dois olhos. Esse
tratamento consiste em uma pequena perfuração na íris na porção superior, permitindo assim a
passagem do humor aquoso através da íris.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente 66 anos, sexo masculino, aposentado, vai ao pronto-socorro relatando
dor ocular intensa de início súbito no olho direito, associado a náusea, cefaleia hemicraniana,
fotofobia, lacrimejamento e diminuição da acuidade visual em olho direito.
Paciente refere que é hipermetrope e em última consulta com oftalmologista foi visualizado
catarata em ambos os olhos.
Nota-se também hiperemia conjuntival e midríase pupilar. Refere ter diagnóstico prévio de
glaucoma, porém nunca o tratou adequadamente.
b) Exame físico: À biomicroscopia (olho direito): pupila em média midríase pouco fotorreativa,
íris com atrofia setorial e edema corneano.
À fundoscopia (olho direito): retina aplicada, DO róseo, escavação 0.7 x 0,8 e brilho macular
preservado.
Após 1h, reavaliar os sintomas, como dor, náusea, cefaleia e a PIO. Se houver melhora dos
sintomas e o quadro estiver estável, dar alta hospitalar e encaminhar ao Oftalmologista com urgência,
prescrevendo:
• Via Oral:
1.Diamox 250mg – frasco. Tomar 1 comprimido de 6/6h, por 7 dias.
• Uso Ocular:
1.Glaucotrat® ou Combigan® – frasco. Pingar 1 gota no olho direito de 12/12h.
DICAS DO ESPECIALISTA
Em todo paciente que der entrada no pronto-socorro com queixa de cefaleia intensa, unilateral,
dor retro-orbitária, com náusea ou vômito, referindo fotofobia e lacrimejamento, deve-se suspeitar de
Glaucoma agudo. Lembrando sempre como diagnóstico diferencial crise de Enxaqueca e Hipertensão
intracraniana.
REFERÊNCIAS
1. Vivero CA, Moncaleano OF. Claves para el diagnóstico y manejo del glaucoma agudo para médicos generales y de
urgencias: Revisión De Tema. Univ Méd Bogotá. 2013; 54(4): 536-42.
2. Lim AK, Giaconi JA. Primary vs. Secondary Angle Closure Glaucoma. Am Acad Ophthalmol. [Internet]; 2020. [acesso
em]. Disponível em: https://www.google.com/search?
q=2.+Annie+K.+Lim%2C+MD+%2C+JoAnn+A.+Giaconi%2C+MD+et+Primary+vs.+Secondary+Angle+Closure+Glau
coma.+American+Academy+Of+Ophthalmology&oq=2.%09Annie+K.+Lim%2C+MD+%2C%E2%80%89+JoAnn+A.+
Giaconi%2C+MD+et+al.+Primary+vs.+Secondary+Angle+Closure+Glaucoma.+American+Academy+Of+Ophthalmolog
y&aqs=chrome.69i57.19371329j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8.
3. Caprioli J, Coleman AL. Intraocular Pressure Fluctuation: A Risk Factor for Visual Field Progression at Low Intraocular
Pressures in the Advanced Glaucoma Intervention Study. Ophthamol Retina. 2008; 115(3): 1123-29.
4. Damasceno EF, Resende R. Glaucoma secundário a drogas. In: Almeida HG, Dias JFP, (eds). Glaucoma, Rio de Janeiro:
Cultura Médica – Guanabara Koogan; 2000 p. 265-70.
5. International Council of Ophthalmology. I Diretriz para Tratamento Ocular do Glaucoma.California: International Council
of Ophthalmology; 2016.
6. Espíndola RF, Teixeira FC, Yamakami IM, Silva HRF, Freitas JAH. Análise dos conhecimentos básicos sobre urgências
oftalmológicas em plantonistas não-oftalmologistas. Arq Bras Oftalmol. 2006; 9(1):11-5. 7.
7. Gerstenblith AT, Rabinowitz MP. Manual de Doenças Oculares do Wills Eye Hospital: diagnóstico e tratamento no
consultório e na emergência. 6. ed. São Paulo: Artmed; 2015.
8. Gouveia EB, Gouveia GB, Martinez CAAB. Fármacos que induzem glaucoma agudo: Artigo de Revisão. Rev Bras Clín
Méd. 2010; 8(3): 238-45.
9. Kanski JJ. Oftalmologia Clínica: Uma abordagem sistemática. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008.
10. Kanski JJ. Sinais em oftalmologia: Causas e diagnósticos diferenciais. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012.
11. Lauretti CR, Lauretti Filho A. Glaucomas. Medicina, Ribeirão Preto. 1997; 30: 56-65.
12. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. São Paulo: Roca; 2006.
13. Malta RFS. Glaucoma de ângulo estreito. In: Susanna Junior RS. Glaucoma. Manual do Conselho Brasileiro de
Oftalmologia. São Paulo: Cultura Médica - Guanabara Koogan; 1999. p.123-44.
14. Medeiros FA. Angle-Closure Glaucoma Associated With Ciliary Body Detachment in Patients Using Topiramate. Arch
Ophthalmol. 2003; 121(2): 282-5.
15. Mérula RV, Cronemberger S, Diniz Filho A, Calixto N. Análise morfométrica comparativa entre olhos com glaucoma
agudo primário e olhos contralaterais. Arq Bras Oftalmol. 2008; 71(3): 321-7.
16. Pierre Filho PTP, Carvalho Filho JP, Pierre ÉTL. Bilateral acute angle closure glaucoma in a patient with dengue fever:
case report. Arq Bras Oftalmol. 2008; 71(2): 265-8.
17. Sociedade Brasileira de Glaucoma. II Consenso Brasileiro de Glaucoma Primário de Ângulo Fechado, 2012. [Internet].
[acesso em]. Disponível em: https://docs.google.com/viewer?url=https%3A%2F%2Fwww.sbglaucoma.org.br%2Fwp-
content%2Fuploads%2F2020%2F06%2Fconsenso04-v2.pdf.
18. Stangler F, Prietsch RF, Fortes Filho JB. Glaucoma agudo bilateral em paciente jovem secundário ao uso de topiramato:
relato de caso. Arq Bras Oftalmol. 2007; 70(1): 133-6.
19. Tavares IM, Mello PAA. Glaucoma de pressão normal. Arq Bras Oftalmol. 2005; 68(4): 565-75.
11.6
HERPES ZÓSTER OFTÁLMICO
Autores:
Camila Ishii Iguma
Bruna Bonzi
Carolina Schuwartz Tannus Belisário
INTRODUÇÃO
O Herpes Zóster Oftálmico (HZO) é uma doença neurocutânea causada pelo vírus Varicela zoster,
pertencente à família do herpes vírus. O herpes zóster é responsável por cerca de 1% de todas as
doenças de pele e sua incidência anual estimada é de 2,2 a 3,4 por 1.000 habitantes. O ramo oftálmico
do nervo trigêmeo é o segundo mais acometido (10 a 20%), ficando atrás somente do segmento
torácico, que é responsável por cerca de 50% dos casos.
Ao contrário da varicela, o HZO raramente acomete crianças sadias e se desenvolve mais
frequentemente em idosos e imunocomprometidos. Apresenta-se com lesões vesiculares em hemiface
que evoluem para formação de crostas, tendo a dor intensa como principal característica.
É importante iniciar o tratamento precocemente com antivirais e sintomáticos e orientar o paciente
quanto às complicações, pois é uma doença que determina grande morbidade e pode trazer prejuízos à
visão e à qualidade de vida do paciente.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A infecção primária causada pelo vírus Varicela zoster é chamada de Varicela, conhecida como
“Catapora”, doença exantemática típica da infância. Após a resolução desse quadro inicial, o vírus
permanece latente em gânglios dos nervos sensitivos, e por reexposição ou reativação do vírus cerca
de 20% desses pacientes desenvolvem herpes zóster. Quando o ramo oftálmico do nervo trigêmeo é
acometido, dá-se o nome de Herpes Zóster Oftálmico.
O mecanismo de reativação é desconhecido, mas acredita-se que a queda da imunidade celular seja
um fator determinante, o que explica o maior acometimento de idosos e imunocomprometidos.
Pacientes jovens com HZO recorrente devem ser investigados em relação às imunodeficiências,
principalmente o HIV, podendo ser uma manifestação inicial e precoce da doença.
QUADRO CLÍNICO
O HZO possui vários sintomas e sinais clínicos, podendo atingir todos os tecidos oculares e seus
anexos. As manifestações clínicas iniciais são dor e parestesias (formigamento, agulhada, sensação de
peso) ao longo do dermátomo acometido unilateralmente, podendo ser acompanhada de febre, mal-
estar e cefaleia. Após 3 a 4 dias dos pródromos, surgem erupções cutâneas eritematosas ou
maculopapulares que evoluem para vesículas seguidas de crostas, sendo comum o achado de exantema
pleomórfico (lesões em vários estágios evolutivos) que podem persistir por cerca de 3 a 4 semanas.
A complicação mais comum é a neuralgia pós-herpética, caracterizada por dor intensa que persiste
por 30 dias após o desaparecimento do exantema. Acomete mais mulheres e maiores de 70 anos e,
apesar de ter resolução espontânea em alguns casos, ainda é a principal causa de dor debilitante
intratável em pacientes idosos.
O HZO pode trazer ainda complicações mais específicas, a depender das estruturas que forem
acometidas. Algumas são: edema palpebral, ectrópio, conjuntivite, episclerite, esclerite, ceratite,
uveíte, catarata, glaucoma, vitreíte, hemorragia vítrea, retinite e descolamento de retina.
O surgimento de lesões cutâneas no dorso do nariz é chamado de sinal de Hutchinson e, quando
presente, indica 71 a 86% de chance de acometimento ocular.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
O diagnóstico do herpes zóster basicamente é feito pelos achados clínicos da doença. Utilizamos
exames complementares quando existe dúvida no diagnóstico.
A detecção direta do vírus e a detecção indireta de anticorpos específicos são os exames
complementares mais usados para auxílio no diagnóstico. O exame citológico do raspado das
vesículas cutâneas também pode ser utilizado.
Algumas patologias possuem características semelhantes ao HZO e, por isso, fazem diagnóstico
diferencial, como: eczema herpético, impetigo contagioso, dermatite por contato, exantema associado
ao enterovírus, erupções por drogas e picada de insetos.
TRATAMENTO
O tratamento do HZO é baseado no uso de drogas antivirais, que visam reduzir a replicação viral e
a chance de disseminação sistêmica do vírus. Além disso, se usado nas primeiras 72 horas após o
início dos sintomas, pode reduzir a incidência e a gravidade das complicações oculares e da neuralgia
pós-herpética. As opções disponíveis no Brasil são: Aciclovir (Zovirax®) 800 mg VO 5 vezes/dia por
7 a 10 dias, Fanciclovir (Penvir®) 500 mg VO 3 vezes/dia por 7 dias e Valaciclovir (Valtrex®) 1 g VO
3 vezes/dia por 7 dias. Apesar de ter a posologia mais fácil, o alto custo do Valaciclovir limita sua
ampla utilização, sendo muito usado na prática o Aciclovir, com mesma eficácia e custo mais baixo.
As formas endovenosas de antivirais estão reservadas para imunocomprometidos, pacientes com
doença grave ou impossibilidade de medicação por via oral, podendo ser utilizado Aciclovir 10
mg/kg/dose EV de 8/8 horas por 10 a 14 dias.
O tratamento sintomático é fundamental devido à dor intensa no local acometido. Podem ser
usados anti-inflamatórios não hormonais tópicos, como Cetoprofeno gel (Profenid®) 25 mg, aplicando
sobre a região afetada 3 a 4 vezes/dia, além de medicações orais como Dipirona, Paracetamol e anti-
inflamatórios não hormonais, isolados ou em combinação com opioides fracos, como Codeína ou
Tramadol. Dores mais intensas e refratárias aos tratamentos convencionais podem ser tratadas com
opioides mais potentes, como Morfina (Dimorf®) 15 a 30 mg VO de 6/6 horas.
Os antibióticos ficam restritos aos casos de infecção bacteriana secundária de pele e pneumopatias
bacterianas associadas, podendo ser usadas associações de Betalactâmicos (Penicilina ou
Cefalosporina) e Clindamicina.
Em caso de neuralgia pós-herpética, está indicado o uso de anticonvulsivantes, como
Carbamazepina (Tegretol®) 200 mg VO 2 vezes/dia, aplicação tópica de creme de Capsaicina 0,025 a
0,075% de 4/4 horas e compressas geladas. Antidepressivos tricíclicos, Gabapentina e Pregabalina
também mostraram boa eficácia no controle da dor na neuralgia pós-herpética.
Ao observar o sinal de Hutchinson, diminuição da acuidade visual ou hiperemia conjuntival, o
paciente deve ser encaminhado ao Oftalmologista, a fim de diagnosticar e tratar corretamente as
possíveis lesões oculares. Lubrificantes oculares podem ser prescritos, como Optive® ou Systane® 1
gota 4 a 6 vezes/dia.
Pacientes com HZO podem transmitir a doença, por isso deve-se evitar o contato com pessoas
susceptíveis, principalmente gestantes e imunossuprimidos, até que todas as lesões tenham evoluído
para a formação de crostas.
b) Exame Físico: exantema pleomórfico em hemiface direita com lesões acometendo dorso de
nariz (Sinal de Hutchinson), hiperemia ocular em olho direito associada a edema palpebral, secreção
mucoide em fundo de saco conjuntival.
d) Prescrição Sugerida:
• Uso Local:
Compressas frias
Profenid® gel 25 mg – aplicar fina camada sobre a região afetada 4x/dia
• Uso Ocular:
Systane-UL® - pingar 1 gota em olho acometido de 4/4h
• Uso Oral:
Tramal® 50 mg VO 3x/dia por 5 dias
Valaciclovir 1g VO 3x/dia por 7 dias
REFERÊNCIAS
1. Yanoff M, Duker JS. Oftalmologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
2. Kanski JJ. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistêmica. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008.
3. Hokazono K, Oliveira M, Moura FC, Monteiro MLR. Síndrome do ápice orbitário causada por herpes zóster oftálmico:
relato de caso e revisão da literatura. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68(5): 304-8.
4. Fano MY, Estrada AYC. Herpes Zoster Oftálmico: Presentación de un caso. Rev Haban Cienc Méd. 2015; 14(1): 43-8.
5. Carrusca C, Machado R, Albuquerque C, Cunha F. Herpes zoster como primeira manifestação de infeção por vírus varicela-
zoster numa criança saudável. Nascer e Crescer. 2016; 25(1): 38-41.
6. Bandeira F, Roizenblatt M, Levi GC, Freitas D, Belfort Jr R. Herpes zoster ophthalmicus and varicella zoster virus
vasculopathy. Arq Bras Oftalmol. 2016; 79(2): 126-9.
7. Sanz PB, Quintana GJL, Martin GI. Manejo del episodio agudo de herpes zoster y la neuralgia post-herpética. Medifam.
2002; 12(3): 27-39.
8. Arce ME, Rivero RE, Miranda HT. Enfoque multidisciplinario en el tratamiento del herpes zóster oftálmico. Rev Cubana
Med Gen Integr. 2010; 26(4): 727-31.
9. Hamrah P et al. Unilateral Herpes Zoster Ophthalmicus Results in Bilateral Corneal Nerve Alteration. Ophthalmology. 2013;
120(1): 40-7.
10. Tran KD, Falcone MM, Choi DS, Goldhardt R, Karp CL, et al. Epidemiology of Herpes Zoster Ophthalmicus.
Ophthalmology. 2016; 123(7): 1469-75.
11. Hoang-Xuan T, Büchi ER, Herbort CP, Denis J, Frot P, et al. Oral Acyclovir for Herpes Zoster Ophthalmicus.
Ophthalmology. 1992; 99(7): 1062-71.
12. Ghaznawi N, Virdi A, Dayan A, Hammersmith KM, Rapuano CJ, Laibson PR, et al. Herpes Zoster Ophthalmicus:
Comparison of Disease in Patients 60 Years and Older Versus Younger than 60 Years. Ophthalmology. 2011; 118(11): 2242-
50.
13. Andrade FMX, Bezerra FM, Santos MS, Araujo MEXS. Clinical profile and ophthalmologic manifestations of Herpes
Zoster Ophthalmicus. Rev Bras Oftalmol. 2019; 78(3): 170-4.
14. Ting DSJ, Ghosh N, Ghosh S. Herpes Zoster Ophthalmicus. BMJ. 2019; 364: 5234.
15. Cohen E. Incidence Rate of Herpes Zoster Ophthalmicus. Opthalmology. 2020; 127(3): 331-2.
16. Tuft S. How to Manage Herpes Zoster Ophthalmicus. Comm Eye Health. 2020; 33(108): 71-2.
11.7
HORDÉOLO E CALÁZIO
Autores:
Paula Denoni Gomes
Rayssa Tavares
Rebecca Martins Oliveira Tannus
INTRODUÇÃO
O Hordéolo é uma inflamação aguda, supurativa e nodular das pálpebras. Pode ocorrer por
comprometimento do folículo piloso, das glândulas de Zeis e Moll (Hordéolo externo ou terçol) ou
das glândulas de Meibomius (Hordéolo interno).O principal agente etiológico é o Staphylococcus
aureus.
Geralmente ocorre mais em crianças e adolescentes, devido às alterações hormonais, mas pode
acometer qualquer faixa etária.
Calázio é uma inflamação crônica lipogranulomatosa das glândulas de Zeis ou Meibomius, mais
comum em mulheres e pode ter associação com baixas ametropias.
O tratamento varia desde compressas mornas e uso de antibióticos até a excisão cirúrgica, em
alguns casos de calázio.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A obstrução e/ou infecção aguda das glândulas de Zeis ou das glândulas de Meibomius pelo
Staphylococcus aureus leva ao surgimento do hordéolo. O espessamento anormal das secreções das
glândulas meibomianas leva à obstrução não infecciosa, causando extravasamento de material
lipídico irritante nos tecidos moles das pálpebras com inflamação granulomatosa focal, ocasionando
a formação do calázio.
QUADRO CLÍNICO
Inicialmente, o hordéolo é caracterizado pelo aparecimento de hiperemia palpebral, aumento da
sensibilidade, dor no bordo palpebral e prurido. Posteriormente, pode evoluir para a formação de
abscesso focal, edema e endurecimento local. Tais sintomas têm duração de aproximadamente 7 a 14
dias. Geralmente ocorre a drenagem espontânea do abcesso, tanto o interno quanto o externo, não
sendo aconselhável o paciente tentar fazer a drenagem manual (apertando), e não é usual o
oftalmologista fazer esta drenagem ambulatoriamente, estando essa situação reservada a casos
específicos.
Quando a inflamação persiste por mais de duas semanas (em alguns casos, 4 semanas), surge o
calázio, que é a cronificação do hordéolo, tendo como característica a formação de uma nodulação,
sem sinais flogísticos e geralmente indolor. Depois da formação do calázio, este geralmente não
aumenta de tamanho e dificilmente reduz.
DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
A abordagem inicia-se com anamnese detalhada, em busca de sinais e sintomas oculares
característicos. O diagnóstico é clínico.
A diferenciação do hordéolo para o calázio se dá pela evidência de sinais inflamatórios agudos,
dor e tempo de evolução.
Não é necessário solicitar exames complementares adicionais para o diagnóstico, que pode ser
realizado pelo oftalmologista ou pelo clínico geral.
a) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Existem afecções que fazem diagnóstico diferencial com hordéolo e o calázio, sendo as mais
comuns: blefarite, celulite pré-septal, trauma, dermatite de contato, canaliculite, granuloma
piogênico, carcinoma sebáceo e/ou carcinoma basocelular.
TRATAMENTO
O tratamento baseia-se em:
• Recomendar uso de compressas mornas por 15 minutos, 4 vezes ao dia, com massagem
suave sobre a lesão.
• AINEs sistêmicos durante 05 dias, se dor e/ou edema palpebral intenso, também podem ser
utilizados.
O calázio dificilmente regride por completo, sendo necessária a avaliação cirúrgica nesses casos.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: RSO, sexo masculino, 15 anos, procura PS sem serviço de oftamologia,
queixando-se de surgimento de tumoração, hiperemia, secreção purulenta e dor em pálpebra superior
direita há 5 dias. Nega trauma, nega prurido ocular e nega alteração da acuidade visual.
b) Exame Físico: Presença de edema palpebral leve, hiperemia e tumoração externa com
drenagem de secreção em olho direito. Não apresentou alterações à ectoscopia em olho esquerdo.
c) Prescrição Sugerida:
• Uso Ocular:
1. Ciprofloxacino 0,2% + Dexametasona0,1% colírio (MAXIFLOX-D® ou CYLOCORT®)
colírio - 1 fr.
2. Pingar 01 gota no olho (acometido) de 6/6h, por 14 dias.
3. Ciprofloxacino 0,2% + Dexametasona 0,1% pomada (MAXIFLOX-D® ou CYLOCORT®)
pomada - 1 tubo.
REFERÊNCIAS
1. Cruz AAV, Chahud F, Guimarães FC. Patologia dos Anexos oculares: Simpósio: Oftalmologia para o clínico. Rev Fac Med
Ribeirão Preto e do Hospital das Clínicas da Fmrp, Ribeirão Preto. 1997; 30(1): 36-51.
2. Ministério da Saúde (BR). Protocolos da unidade de emergência. Hospital São Rafael, Monte Tabor, Ministério da Saúde.
10. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
3. Figueira L, Torrão L, Dinis AS, Palmares J. Antibioterapia na Superfície Ocular: Superficie Ocular Externa. Antibioterapia
Ocular. Porto/Portugal: Medesign; 2010.
4. Gerstenblith A, Rabinowitz MP (ed.). Pálpebras: Calázio/Hordéolo. In: Mason EM (coord.). Manual de Doenças Oculares
do Wills Eye Hospital: Diagnóstico e tratamento no consultório e na emergência. 6. ed. Porto Alegre: Artmed; 2015. p.
137-8.
5. Matayoshi S. Inflamação, Infecção e Infestação Palpebral: Edema, Palpebral Alérgico. In: CBO, Conselho Brasileiro de
oftalmologia (org.). Série Oftalmologia Brasileira: Órbita, Sistema Lacrimal e Oculoplástica. 3. ed. Rio de Janeiro:
GEN/Cultura Médica; 2013. p. 274.
6. Nascimento MF, Wanzeler ACV, Sousa RLF, Satto LH, Padovani CR, Schellini SA. Chalazion and demographic
characteristics of patients in a population sample. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74(4): 222-4.
7. Adam Netto A, Rolim APQ, Müller TPS. Prevalência de doenças palpebrais no serviço emergencial de oftalmologia do
Hospital Universitário da Universidade federal de Santa Catarina. Arq Catarin Med. 2006; 35(4): 64-9.
8. Kanski JJ, Bowling B. Pálpebras: Infecção bacteriana. In: Kanski JJ, Bowling B. Oftalmologia Clínica: Uma Abordagem
Sistêmica. 8. ed. São Paulo: Elsevier, 2016. p. 31.
9. Kanski JJ, Bowling B. Oftalmologia Clínica: Uma Abordagem Sistêmica. 8. ed. São Paulo: Elsevier; 2016.
10. Rocha MNAM, Ávila M, Isaac DLC, Oliveira LL, Mendonça LSM. Análise das causas de atendimento e prevalência das
doenças oculares no serviço de urgência. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71(6): 380-4.
11. Silva FG, Tavares Neto J. Avaliação dos prontuários médicos de hospitais de ensino do Brasil. Rev Bras Educ Méd. 2007;
2(31): 113-26.
12. Sousa SJF. Doenças Oculares Externas: Simpósio: Oftalmologia para o Clínico. Rev Fac Med Ribeirão Preto e do Hospital
das Clínicas da Fmrp. 1997; 30(1): 52-5.
13. Sperandio AMG.Promoção da saúde ocular e prevenção precoce de problemas visuais nos serviços de saúde pública. Rev
Saúde Pública. 1999; 33(5): 513-20.
11.8
TRAUMA DE ÓRBITA
Autores:
Neiffer Nunes Rabelo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
Marcelo Paraiba Cavalcanti
INTRODUÇÃO
O trauma de órbita é uma frequente causa de fratura óssea, lesão de tecido mole e neurovascular. A
órbita pode sofrer lacerações, perfurações e contusões.
O trauma pode ter diferentes padrões de fraturas, que devem ser avaliados após a estabilização
hemodinâmica. Ter conhecimento do mecanismo do trauma é importante para prever a gravidade da
fratura, assim como a precaução de infecções, hemorragias e investigação de corpo estranho.
EPIDEMIOLOGIA
A órbita é uma cavidade piramidal, quadrangular e composta por 7 ossos.
O teto da órbita é formado pela lâmina orbitária do osso frontal e asa menor do osso esfenoide. O
teto da órbita une-se à parede medial na sutura frontoetmoidal ao nível da lâmina cribiforme e a base
da fossa craniana anterior.
A parede medial, parede mais fina da órbita, é formada pela asa menor do osso esfenoide, lâmina
orbitária do etmoide, osso lacrimal e processo frontal da maxila.
A lâmina papirácea separa a cavidade orbital dos seios etmoidais.
O assoalho da órbita repousa sobre o seio maxilar e é formado pela face orbitária da maxila,
zigomático e pelo processo orbitário do osso palatino.
A parede lateral é formada pela asa maior do osso esfenoide e pelo osso zigomático. Essa fratura
raramente causa alteração volumétrica da órbita.
A fratura da órbita está correlacionada em 16% de todas as fraturas faciais e é mais comum em
adultos jovens. A colisão de veículos automobilísticos é o mecanismo mais comum em adultos e
trauma relacionado ao esporte em crianças e adolescentes. Fraturas tipo blow-out são mais comum de
fratura da órbita.
QUADRO CLÍNICO
A anamnese bem realizada é essencial nestes casos, devendo especificar o mecanismo do trauma,
força, tempo do trauma, duração e se houve hemorragias ou saída de algum tecido. Na inspeção
clínica, é fundamental avaliar edemas, hematomas e a presença de Enoftalmia (diminuição do globo
ocular). No exame Oftalmológico podemos observar diminuição da acuidade visual, perda da
mobilidade ocular, diplopia, defeito pupilar absoluto ou relativo, anisocoria e alteração na pressão
intraocular.
Nos casos de trauma orbitário, é essencial solicitar a tomografia computadorizada (TC) de crânio
e órbita para o diagnóstico definitivo de fraturas, que atualmente é o padrão-ouro. Os principais
achados tomográficos são: abaulamento ou deslocamento da parede medial da órbita, fratura óssea
com ou sem deslocamento e atenuação de partes moles e coleção de ar ou níveis hidroaéreos visíveis
dentro da órbita.
TRATAMENTO
Após estabilização hemodinâmica, deve ser solicitada avaliação com a equipe indicada. Lesões
concomitantes são comum, e a avaliação oftalmológica, otorrinolaringológica, bucomaxilo e
neurocirúrgica é necessária.
A cantotomia, tratamento para hematoma retrobulbar, é uma condição semelhante a uma síndrome
compartimental e deve ser realizado pelo médico clínico ou cirurgião assistente na urgência, pois o
atraso nesta conduta pode ocasionar cegueira irreversível. Procedimento indicado quando o olho se
encontra tenso secundário a uma síndrome compartimental. É realizado sob anestesia local, com uma
tesoura, realize uma incisão cantolateral no sentido horizontal.
Fraturas complexas devem ser abordadas imediatamente. Os demais pacientes com fraturas de
órbita sem acometimento do zigomático devem ter avaliação oftalmológica antes do procedimento
cirúrgico.
O uso de corticoide e descompressão do canal óptico em casos de neuropatia óptica traumática não
é indicado, assim como em casos TCE – Trauma Crânio Encefálico.
EXEMPLO DE PRESCRIÇÃO
a) Caso Clínico: Paciente de 20 anos vai ao pronto-socorro após sofrer um acidente
automobilístico no qual não estava com sinto de segurança. Refere dor e inchaço em hemiface
esquerda e dor à movimentação ocular.
(A) Não há restrição à infraversão. (B) Sem restrição à lateroversão. (C) Sem restrição à medioversão. (D)
Restrição ao fazer supraversão, devido ao encarceramento do reto inferior. (E) TC em corte coronal
demonstrando a fratura do assoalho da órbita com encarceramento do reto inferior.
Figura 1. Paciente com encarceramento do reto inferior esquerdo, pela fratura do assoalho da órbita.
Fonte: Elaborado pelos autores.
d) Prescrição Sugerida:
REFERÊNCIAS
1. Lozada KN, Cleveland PW, Smith JE. Orbital Trauma. Semin Plast Surg. 2019; 33(2): 106-13.
2. Kholak O, Hammer DA, Schlieve T. Management of Orbital Fractures. Atlas Oral Maxillofac Surg Clin North Am. 2019;
27(2): 157-65.
3. Moe KS, Murr AH, Wester ST. Orbital Fractures. Facial Plast Surg Clin North Am. 2018; 26(2): 237-51.
4. Chukwelebe S, Hografe C. The Diagnosis and Management of Facial Bone Fractures. Emerg Med Clin North Am. 2019;
37(1): 137-51.
5. Delpachitra SN, Rahmel BB. Orbital fractures in the emergency department: a review of early assessment and management.
Emerg Med J. 2016; 33(10): 727-31.
6. Cole P, Kaufman Y, Hollier L. Principles of facial trauma: orbital fracture management. J Craniofac Surg. 2009; 20(1): 101-
4.
7. Midyett FA, Mukherji SK. Imagem da Órbita. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
8. JA Nerad. Techniques in Ophthalmic Plastic Surgery. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010
9. Levin LA, Beck RW, Josepho MP, Kraker SSR. The International Optic Nerve Trauma Study Group. Ophthalmology. 1999;
106(7): 1268-77.
Table of Contents
Capa
Créditos
Sumário
Apresentação
Autores e colaboradores
01 - Módulo de Cardiologia
1.1 ELETROCARDIOGRAMA
1.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
1.3 DISLIPIDEMIAS
1.4 SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
1.5 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA
1.6 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA
1.7 TAQUIARRITMIAS
1.8 BRADIARRITMIAS
1.9 Parada Cardiorrespiratória e RESSUSCITAÇÃO
1.10 FEBRE REUMÁTICA
1.11 ANTICOAGULANTES
02 - Módulo de Endocrinologia
2.1 Cetoacidose diabética
2.2 ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR
2.3 INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA
2.4 CRISE TIREOTÓXICA
2.5 COMA MIXEDEMATOSO
2.6 CORTICOIDES – DOSES E EQUIVALÊNCIAS
2.7 CONTROLE GLICÊMICO INTRA-HOSPITALAR
03 - Módulo de Gastroenterologia
3.1 ASCITE
3.2 ABDOME AGUDO
3.3 Diarreia Aguda
3.4 DOENÇA CALCULOSA DAS VIAS BILIARES
3.6 PANCREATITE AGUDA
3.7 ENCEFALOPATIA HEPÁTICA
3.8 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
3.9 HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
04 - Módulo de Infectologia
4.1 DENGUE
4.2 TUBERCULOSE
4.3 HIV/AIDS
4.4 INFLUENZA
4.5 ENDOCARDITE INFECCIOSA
4.6 LEPTOSPIROSE
4.7 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
4.8 LEISHMANIOSE VISCERAL
4.9 MENINGITE
4.10 HANSENÍASE
4.11 ROTINA APÓS EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL COM
MATERIAL BIOLÓGICO
4.12 ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS
4.13 COVID-19
05 - Módulo de Nefrologia
5.1 CÓLICA NEFRÉTICA
5.2 INJÚRIA RENAL AGUDA
5.3 DISTÚRBIOS DE ÁGUA E SÓDIO
5.4 DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DO POTÁSSIO
5.5 DISTÚRBIO DO METABOLISMO DO CÁLCIO
5.6 INTERPRETAÇÃO DA GASOMETRIA ARTERIAL E
DISTÚRBIOS ÁCIDOS BÁSICOS
5.7 SÍNDROME NEFRÓTICA
5.8 SÍNDROME NEFRÍTICA
06 - Módulo de Pneumologia
6.1 EXACERBAÇÃO DE ASMA
6.2 DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
6.3 TROMBOEMBOLIA PULMONAR AGUDA
6.4 DERRAME PLEURAL
6.5 PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE
6.6 PNEUMONIA NOSOCOMIAL
6.7 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA
6.8 VENTILAÇÃO MECÂNICA
07 - Módulo de Reumatologia
7.1 LÚPUS ERITEMATOSOS SISTÊMICO (LES)
7.2 SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE (SAF)
7.3 ARTRITE REUMATOIDE
7.4 ARTRITES AGUDAS
7.5 GOTA
7.6 OSTEOPOROSE
7.7 FIBROMIALGIA
08 - Módulo de Neurocirurgia/Neurologia
8.1 TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
8.2 TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
8.3 HIDROCEFALIA
8.4 CEFALEIAS
8.5 DOENÇAS VASCULARES CEREBRAIS
8.6 SÍNDROMES EPILÉTICAS
8.7 MALFORMAÇÕES NA INFÂNCIA
8.9 SEDAÇÃO E ANALGESIA
8.10 Coma
8.11 DELIRIUM
8.12 ENCEFALOPATIA METABÓLICA
8.13 SÍNDROMES DEGENERATIVAS
8.14 SÍNDROMES DEMENCIAIS
8.15 MORTE ENCEFÁLICA
09 - Módulo de Hematologia
9.1 INVESTIGAÇÃO INICIAL DAS ANEMIAS
9.2 ANEMIA FERROPRIVA
9.3 ANEMIA DA INFLAMAÇÃO
9.4 ANEMIA MEGALOBLÁSTICA
9.5 ANEMIAS HEMOLÍTICAS
9.6 ANEMIA FALCIFORME
9.7 NEUTROPENIA FEBRIL
9.8 INDICAÇÕES E REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
10 - Módulo de Psiquiatria
10.1 SURTO PSICÓTICO
10.2 RISCO DE SUICÍDIO
10.3 ATAQUES DE PÂNICO
11 - Módulo de Oftalmologia
11.1 CERATITES
11.2 CELULITE PRÉ-SEPTAL E PÓS-SEPTAL
11.3 CONJUNTIVITES
11.4 EDEMA PALPEBRAL
11.5 GLAUCOMA AGUDO
11.6 HERPES ZÓSTER OFTÁLMICO
11.7 HORDÉOLO E CALÁZIO
11.8 TRAUMA DE ÓRBITA