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INSTITUTO INTERDIOCESANO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

LUAN MOTTA DE OLIVEIRA

WELLINTON CORDEIRO DE PAULA

LEITURA HERMENÊUTICA DE ESDRAS

VITÓRIA – ES
2021
INSTITUTO INTERDIOCESANO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

LUAN MOTTA DE OLIVEIRA

WELLINTON CORDEIRO DE PAULA

LEITURA HERMENÊUTICA DE ESDRAS

Leitura hermenêutica do Livro Bíblico


Esdras, apresentado ao professor Dr.
Anderson Franklin Lustosa de Souza,
na disciplina Bíblia III, Pentateuco e
Históricos do Curso de teologia do
Instituto Interdiocesano de Filosofia e
Teologia.

VITÓRIA – ES
2021
INTRODUÇÃO

Os livros bíblicos, são palavras que fortalecem a nossa fé, por esse motivo faz-
se necessário um conhecimento a certa deles. A Bíblia divide-se em dois
testamentos Antigo e o Novo. Sabendo que o Novo foi feito se baseando no
antigo. E Antigo é um compilado de Livros Sagrados que Narram desde a
criação do mundo até a Encarnação de Cristo.

O Antigo testamento é divido em quatro grupos: Pentateuco, Históricos,


Sapienciais e Profetas. Os Livros Históricos ocupam a maior parte do Antigo
Testamento. Neles encontramos a História do Judaísmo e do Povo de Israel
que, praticamente, sempre esteve sob o domínio de algum império: Egito,
Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma. Apesar dos altos e baixos, a história
de Israel sempre foi pautada pela esperança.

Ao falar sobre esses livros, seguindo a ordem em que se encontram no cânon


da Bíblia Católica, desde a conquista da terra prometida até quase a época do
Novo Testamento, cabendo ressaltar que tais livros não se reduzem apenas a
relatos cronísticos de fatos, pois contém uma interpretação dos acontecimentos
a partir da fé.

Este presente trabalho, trata de uma análise hermenêutica de um desses livros


históricos: Esdras. Tendo como base o Próprio texto Bíblico, bem como alguns
altores que abordam e fizeram uma hermenêutica acerca do Livro.
1. O LIVRO DE ESDRAS

O livro de Esdras, a princípio, fazia parte de um único volume junto com


Neemias. O que podia ser observado na edição da septuaginta e até mesmo
nos textos massoréticos. Contudo, com Orígenes e mais tarde com São
Jerônimo aquilo era considerado um único livro fora divido em dois. Apesar da
divisão ter acontecido em ambiente cristão, os judeus a aceitaram no final da
Idade Média em aproximadamente 1448.

Sobre a redação do livro (Esdras-Neemias) há várias hipóteses. Muitos


estudiosos entendem que não se trata de uma redação única e nem de um
único autor, mas um processo longo, que em um primeiro momento partiu das
documentações sobre os primeiros anos do pós-exílio e que depois foi-se
acrescentado as partes referentes a Esdras e a Neemias. Por outro lado, há
quem defenda também que obra compreenderia originalmente 1-2 crônicas
mais Esdras 1,1-6,22, e as outras partes seriam acréscimos.

Tudo começou com o decreto de Ciro, rei da Pérsia, permitindo o retorno dos
judeus exilados na Babilônia. Após cinquenta anos de exílio, Ciro conquistou a
Babilônia em 539 a.C. Logo no início do seu governo, determinou que os
judeus que quisessem poderiam voltar para Judá. Com isso, inicia nova etapa
para o povo de Israel. É o início do período persa ou também chamado
“segundo templo”.

É bem aceito pelos estudiosos que o autor do livro de Esdras seja o mesmo de
1 e 2 Crônicas. Entretanto, não há acordo sobre a data da redação do livro, as
atribuições vão de 400 a.C. até o século II a.C. A hipótese mais indicada é de
que tenha sido escrito na época helenística, precisamente no século III a.C.
Esdras-Neemias foi compilado Focalizando o “Segundo Templo" (o templo
reconstruído depois do exilio babilônico), respira o mesmo ar que livro das
Crônicas. Pertence ao mesmo ambiente, o dos "fundadores do judaísmo"
depois do exilio babilônico.

A diferença de Crônicas, que é um comentário sobre os livros Samuel-Reis, o


livro Esdras-Neemias possui grande valor como documentação histórica
(sujeita a exame critico Oferece a oportunidade de assistir ao nascimento do
judaísmo étnico-religioso, rigorosamente segregado, que vai constituir, 400
anos mais tarde, o pano de fundo do Novo Testamento.

Ao escrever o livro o autor tinha a intenção de ressaltar a reconstrução política


de Judá e de Jerusalém como sede da teocracia, bem como a própria
constituição teocrática de Israel. No que se refere a inspiração do livro de
Esdras e de Neemias jamais houve dúvidas. Sua canonicidade é atestada
antes mesmo do Livro de Crônicas. O motivo de preceder Crônicas se dá pelo
fato do livro de Esdras preencher uma lacuna na história do povo eleito,
enquanto o conteúdo de Crônicas já é abordado pelos livros de Samuel de 1 e
2 Reis.

2. O PROBLEMA DA SUCESSÃO DAS MISSÕES DE ESDRAS

Umas das dificuldades que aparece em relação ao Livro de Esdras, é que nas
Sagradas Escrituras a missão de Esdras precede a de Neemias, então Esdras
teria realizado seu ministério no 7° ano do rei Artaxerxes, enquanto Neemias
teria feito sua missão no 20° ano do mesmo rei. Contudo, historicamente, a
crítica moderna considera improvável que tenha acontecido dessa forma.

Isso se nota em alguns pontos que o próprio texto bíblico nos apresentam tal
problema cronológico. Em primeiro lugar o livro Esdras aludi a uma muralha
física, quando no capitulo 9. versículo 9, o próprio Esdras agradece a Deus por
ter permitido a reconstrução das muralhas em Jerusalém e em Judá. Todavia,
as muralhas historicamente só foram reconstruídas no tempo de Neemias.

Outro argumento que reforça a aporia é que quando Esdras chega em


Jerusalém encontra a cidade exatamente da forma com que Neemias a deixou
quando completou seu mandato. Por fim, aparece ainda a questão dos
casamentos mistos, Neemias colocou uma lei branda, porém Esdras tomou
uma decisão radical. Levando a concluir que primeiro velo a lei de Neemias e
depois de Esdras, já que Neemias não alteraria ou abrandaria a lei do seu
suposto predecessor.

Diante da incoerência apresentada aparecem algumas soluções: uma delas


traz o dado de que houve 3 reis com o nome de Artaxerxes, e baseado nos
dados historiográficos pode-se levantar a hipótese de que Esdras e Neemias
teriam sido contemporâneos de reis diferentes, apesar de possuírem o mesmo
nome. Outra hipótese é de que a atividade de Esdras teria ocorrido no intervalo
entre as duas missões de Neemias por volta de 427/428 a.C ou 437/438 a.C.
Há ainda uma corrente teológica que afirma que colocar Esdras antes de
Neemias é uma intenção claramente eclesiástico-cultural com um intuito
apologético, isto é, redimensionar a atividade de Neemias.

Teologicamente a colocação de Esdras antes de Neemias se justifica por


Esdras ser uma figura sacerdotal e Neemias uma figura leiga, logo, a
predisposição dos livros se daria por uma questão hierárquica. Todavia, não se
há uma conclusão definitiva que estabeleça com precisão a resolução dessa
contradição histórica.

3. ESTRUTURA DO LIVRO E CONTEUDO TEOLOGICO

Podemos dividir o livro de Esdras em duas partes: os primeiros seis capítulos


tratam do retorno dos exilados e a reconstrução do templo, sob a liderança de
Zorobabel e Josué; os capítulos seguintes descrevem a organização da
comunidade, por conta de Esdras.

Capítulos 1-6: O livro de Esdras dá continuidade ao segundo livro das


Crônicas. Inicia com o decreto de Ciro, permitindo a volta dos exilados, com o
objetivo da reconstrução do templo e a reorganização do culto. O salmista
celebra esse retorno com o Salmo 126(125).

Os capítulos 3-6 praticamente narram o começo da reconstrução do templo e


sua dedicação (520-515 a.C.), sob a liderança de Zorobabel e Josué. Os
remanescentes se ofereceram para ajudar na construção do templo, mas não
foram aceitos. Percebemos a grande preocupação com o restabelecimento do
culto em Jerusalém: altar, templo, sacrifícios, oferendas. Mostra assim o quanto
era importante o culto, o altar e o templo no projeto dos repatriados. O templo
de Jerusalém tornou-se o legítimo lugar do culto, negando a legitimidade de
outros espalhados pelo interior.

Capítulos 7-10: Esdras ocupa o centro desses capítulos, é figura principal. Ele
é descrito como sacerdote especialista na lei de Deus. Chega a Jerusalém com
muitos poderes conferidos pelo rei persa. Tem principalmente a missão de
organizar a comunidade de Jerusalém sob a lei de Deus e levar ouro e prata
que o rei ofereceu ao Deus de Israel. Jerusalém será reconstruída porque lá é
a morada de Javé. A ida de Esdras para Jerusalém é vista como novo êxodo,
que aponta para nova etapa na história do povo de Deus. Visto como novo
Moisés, Esdras conduz os judeus da Babilônia para Jerusalém.

Os capítulos 9 e 10 traçam as medidas contra os matrimônios mistos. Os


repatriados não devem se misturar com o “povo da terra” nem com os povos
vizinhos. Ficam proibidos os casamentos com esses povos. As mulheres
estrangeiras casadas com repatriados eram expulsas, junto com seus filhos.
Essas medidas visam manter unida a comunidade dos que retornaram da
Babilônia com suas tradições religiosas. Por outro lado, essas normas excluem
o “povo da terra”, isolam os repatriados ao redor do templo de Jerusalém e
revelam a vitória política e religiosa dos repatriados sobre o “povo da terra”. É
uma violência e discriminação contra as mulheres.

Para fortalecer a raça pura, Esdras proíbe os casamentos mistos. Talvez essa
seja a mais importante e a mais dura de suas imposições, indo contra as
propostas do Deuteronômio, que exorta a amar e acolher os estrangeiros.
Algumas reações contra essa proposta surgem com algumas “novelas” dessa
época, principalmente o livro de Rute e Jonas. A lei da pureza étnica acaba
levando a comunidade a se fechar em si mesma, a desprezar outros povos e
outras religiões e cultivar o sentimento de superioridade.

4. CARÁTER HISTÓRICO

Sobre Esdras se possui dados escassos e incertos, sabe-se que ele era
sacerdote escriba, que não possuía funções diretamente administrativas.
Recebeu da corte Persa um encargo oficial. Em um primeiro momento o texto
dá impressão de Esdras ser um fanático, o que pode ser verdade em partes.
Era de temperamento ascético, um tanto rígido. Esdras fora o pai do judaísmo,
principalmente devido a reforma religiosa que trouxe, ligada a condenação dos
casamentos mistos e a purificação de Israel que é o único povo eleito, e não
deveria misturar-se com os pagãos.

Como temas centrais o livro traz 4 grandes pilares: A comunidade santa; a lei;
o templo; e os sacerdotes e levitas. A comunidade santa, Israel é o povo eleito,
os deportados que voltaram do exilio são o "resto" de Israel. O Senhor os
escolheu e os reintroduziu na terra prometida, como um segundo êxodo; A lei é
a bandeira de Israel, está no centro da vida do povo é o aspecto mais
importante da missão de Esdras a Torá como Lei mosaica a lei que regula toda
vida de Israel; O templo que é reconstruído e é aonde gira a vida da nova
comunidade dos repatriados. É sinal de que Deus ainda mora com seu povo;
Por fim, retrata as figuras do sacerdote e dos levitas que devem ser autênticos
quanto a descendência e dedicar-se ao culto divino o tempo todo, para
conservar o templo puro longe de profanações.

5. REFLEXÃO

O conteúdo histórico de Esdras se dá no pós-exílio até Macabeus, o livro


narrou a reconstrução do templo, a missão de Esdras com relação a lei do
povo de Israel, enfatizando a purificação do povo mediante a ruptura dos
casamentos mistos. O livro mostrou a grande importância que Esdras teve para
o judaísmo, buscando conservar a cultura, os costumes e a religiosidade
mediante o não se misturar com os outros povos. Todavia, tal atitude também
tem seus lados negativos, pois Israel se fechou em si mesma, se isolando das
culturas vizinha, não se abrindo a tolerância.

Esdras é retratado como herói, pois estava a frente da reconstrução do templo.


símbolo de máxima importância para os israelitas, além de trazer de volta a
força da lei, que é a fonte da vida e da santidade. A lei trazida por Esdras não é
uma lei farisaica imposta, apesar de muitas vezes parecer, mas foi proclamada
com desassombro para que tocasse o coração do povo que estava endurecido,
foi ofertada para trazer libertação e alegria a Israel. Enquanto a missão de
Neemias está voltada para o lado político e social, Esdras traz uma reforma
mais cultural e religiosa com base deuteronomista e com base na escola de
Ezequiel.

Portanto, não tem como se falar de judaísmo sem falar da figura de Esdras,
que junto com Neemias fizeram importantes mudanças na vida religiosa
judaica. A partir deles temos o judaísmo, que busca ser cada vez mais puro e
fiel as Palavras do Senhor.
REFERÊNCIAS

ABADIE, Philippe in ROMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN,


Christophe. Antigo testamento história, escritura e teologia. 2ª ed. -São
Paulo: Loyola, 2015.

BÍBLIA Sagrada. Bíblia Sagrada Tradução Oficial da CNBB. 3ª ed. Brasília:


Edições CNBB, 2019.

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