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por
Arthur W. Pink
É triste ver tantos cristãos professos que parecem considerar a ira de Deus como
uma coisa pela qual eles precisam pedir desculpas, ou, pelo menos, parece que
gostariam que não existisse tal coisa. Conquanto alguns não fossem longe o
bastante para admitir abertamente que a consideram uma mancha no caráter
divino, contudo, estão longe de vê-la com bons olhos, não gostam de pensar
nisso e dificilmente a ouvem mencionada sem que surja em seus corações um
ressentimento contra essa idéia. Mesmo dentre os mais sóbrios em sua maneira
de julgar, não poucos parecem imaginar que há na questão da ira de Deus uma
severidade terrificante demais para propiciar um tema para consideração
proveitosa. Outros dão abrigo ao erro de pensar que a ira de Deus não é
coerente com a Sua bondade, e assim procuram bani-la dos seus pensamentos.
Pois bem, a ira de Deus é uma perfeição divina tanto como a sua fidelidade, o
Seu poder ou a Sua misericórdia. Só pode ser assim, pois não há mácula
alguma, nem o mais ligeiro defeito no caráter de Deus, porém, haveria, se Nele
não houvesse "ira"! A indiferença para com o pecado é uma nódoa moral, e
aquele que não odeia é um leproso moral. Como poderia Aquele que é a soma
de todas as excelência olhar com igual satisfação para a virtude e o vício, para a
sabedoria e a estultícia? Como poderia Aquele que é infinitamente santo ficar
indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua "severidade"(Rm.11:22)
para com ele? Como poderia Aquele que só tem prazer no que é puro e nobre,
deixar de detestar e de odiar o que é impuro e vil? A própria natureza de Deus
faz do inferno uma necessidade tão real, um requisito tão imperativo e eterno
como o céu o é. Não somente não há imperfeição nenhuma em Deus, mas
também não há Nele perfeição que seja menos perfeita do que outra.
Evidencia-se que a ira divina é uma das perfeições de Deus, não somente pelas
considerações acima apresentadas, mas também fica estabelecido claramente
pelas declarações expressas da Sua Palavra. "Porque do céu manifesta a ira de
Deus..."(Rm.1:18). "Manifestou-se quando foi pronunciada a primeira sentença
de morte, quando a terra foi amaldiçoada e o homem foi expulso do paraíso
terrestre; e depois, mediante castigos exemplares como o dilúvio e a destruição
das cidades da planície com fogo do céu, mas, especialmente pelo reinado da
morte no mundo todo. Foi proclamada na maldição da lei para cada
transgressão, e foi imposta na instituição do sacrifício. No capítulo 8 de
romanos, o apóstolo Paulo chama a atenção para o fato de que a criação inteira
ficou sujeita à vaidade, e geme e tem dores de parto. A mesma criação que
declara que existe um Deus, e publica a Sua glória, também proclama que Ele é
inimigo do pecado e o vingador dos crimes dos homens. Acima de tudo, porém,
do céu se manifestou a ira de Deus quando o Filho de Deus veio a este mundo
para revelar o caráter divino, e quando essa ira foi demostrada nos Seus
sofrimentos e morte, de maneira mais terrível do que por todas as provas que
Deus antes dera da Sua aversão pela pecado. Além disso, o castigo futuro e
eterno dos ímpios agora é declarado em termos mais solenes e explícitos do que
antes. Sob a nova dispensação há duas revelações dadas do céu, uma da ira, a
outra da graça"(Robert Haldane).
Mais: que a ira de Deus é uma perfeição divina está demostrado claramente
pelo que lemos nos Salmo 95:11: "Por isso jurei na minha ira que não entrarão
no meu repouso". Duas sãos as ocasiões em que Deus "jura": quando faz
promessas (Gn22:16), e quando faz ameaças(Dt.1:34). Na primeira, jura com
misericórdia dos Seus filhos; na Segunda, jura para aterrorizar os ímpios. Um
juramento é feito para confirmação: Hb.6:16. Em Gn.22:16 disse Deus: "Por mim
mesmo, jurei". NO Sl.89:35 ele declara: "Uma vez jurei por minha santidade".
Enquanto que no Sl.95:11 ele afirma: "Jurei na minha ira". Assim é que o grande
Jeová pessoalmente recorre à Sua "ira" como a uma perfeição igual à sua
"santidade": tanto jura por uma como pela outra! Ainda: como em Cristo
"...habita corporalmente toda a plenitude da divindade"(Cl.2:9), e como todas as
perfeições divinas são notavelmente manifestadas por Ele (Jo.1:18), por isso
lemos sobre "... a ira do Cordeiro"(Ap.6:16).
"Jubilai, ó nações (gentios), com o seu povo, porque vingará o sangue dos seus
servos, e sobre os seus adversários fará tornar a vingança..."(Dt.32:43). E ainda
lemos: "E, depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de
grande multidão, que dizia: Aleluia; Salvação, e glória, e honra, e poder
pertencem ao Senhor nosso Deus; Porque verdadeiros e justos sãos os seus
juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua
prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez
disseram: Aleluia..." (Ap.19:1-3). Grande será o regozijo dos santos naquele dia
em que o Senhor irá vindicar a sua majestade, exercer o Seu domínio
formidável, magnificar a Sua justiça, e derribar os orgulhosos rebeldes que
ousaram desafiá-lO.
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