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MANUAL DE PESQUISA

QUALITATIVA
A contribuição da teoria da argumentação

Maria Carda-n o

/bEDITORA
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0 5 rnétod05 lado ao s ma is . (cap . 6), d edic ado a an álise da d 'li\ q
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A pesquisa qualitativa
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A pri e representaç -,
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se ntadas· repro duç o·es e as obat ório ' consi·derando -as fontes (1Ua ' eeteri,
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s d d ar uma resposta e l aquente. A se gunda s1.mptc
P q sã o c apaz anális e a três passos: seg"' 111ca. 1 O que é a pesquisa qualitativa?
gunt as a ue _ de toda s a s operações de
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du a o , '"enta .
v ç _ da s relações. E nc erra o cap i tulo uma refie"- Çao,
ça_ 0 le a à re e . divid uaç ao "ªº A pergunta que dá o título a este parágrafo é ao mesmo tempo inevitável e
qualificaçã o m . sobre dois dispositivos de confi gura çã o dos resu\sobte incômoda. É inevitável porque, na comunicação cientifica, é de bom-tom ofere­
. especial .
. auva, . o id lados
a escnta, em esquisa quaht
a meta, fora e o tip eal. cer ao leitor uma definição do próprio objeto. É incômoda porque a ela se gos­
ro mi sso r es para a p . .
ma.is P taram as pnmeiras versões d taria de responder ao final do percurso, podendo-se contar com a ilustração de
anu·gos leram e comen
Alguns colegas e e C ioffi , Ann a1.1Sa Fn.. sma, Mi. chele Ma este um adequado número de exemplos; mas é ainda mais incômoda porque impõe
b l h . Carlo Capello, Mich el . . nocch·1 ao leitor o suplício de uma reproposição de coisas já conhecidas pela maioria.
tra º·
. d e Pellegrino ' Francesca Sa1.ivotu,. G10vanni Semi , Andtea'
a
Antone lia Meo D a Vl Por uma coisa e outra (abstração e banalidade) peço vênia.
dos eles o meu agradecimento, junta mente com
Sorrnano e v·ivi:ana Sapp a. A to . . caçõe Voltando à pergunta a partir da qual se movem essas reflexões: "O que é
n -0 er acolh ido sempre e mtegral mente as suas mdi s. 1
as desculpas por a t
a ,
dívida
.
especia . l pe l a . a pesquisa qualitativa?", não se pode deixar de observar que o caminho mais
_ a Nicol P nnofi no tenh o um one n taç ão que curto para responder a isso é o que conduz à linha de fronteira que separa a
Em re1açao a a
- . ha esposa
d argumentaçao. Obnga . do a- mm
soube me dar no tem.tório a teori a da pesquisa qualitativa da quantitativa. Uma vez chegados ali, a resposta parece
ezes que correu para o omputado r para ler fr�ses ou pági- óbvia: no campo da pesquisa quantitativa usam-se os números, a matriz de da­
Carla, por todas as v �
nas sobre as qu a is eu t inha d úvidas a respeito de s �a clareza ._ Obngado , .enfim, dos, a estatística, no da pesquisa qualitativa pode-se dispensar isso. A maior
à colega Luciane Prado Kantorski que me encoraJOU e apmou no proJ eto de qualidade desse gênero de definição é a parcimônia, a qual talvez se deva o
traduzir este manual pa ra o público brasileiro. seu relativo sucesso. Trata-se, todavia, de uma definição que - ao menos to­
m�da sozinha - resulta largamente insatisfatória. Podemos entrar no território
da p,esquisa qualitativa certos de não fazer "encontros desagradáveis", não nos
bateremos em números e complicados modelos estatísticos, mas pouco pode­
mos saber sobre qual paisagem se abrirá aos nossos olhos. Também. é verdade
que, às vezes, essa garantia é mais do que suficiente. Assim é, por exemplo, para
um número não pequeno de estudantes que decidem se aventurar na .pesquisa
qualitativa - para uma prova ou para a preparação do trabalho de conclusão
de curso - principalmente para evitar números e estatística1 • lsso, todavia, não
torna mais pregnante a definição de pesquisa qualitativa até aqui proposta. De
forma geral, considero que na linguagem científica a utilização de definições
baseadas na figura retórica da litotes, uma perífrase que conota um objeto come
negação do seu contrário lMortara Garavelli, 1988: 178-1801, seja fortementi

:----
cr. glossário
.
1. Sobre esse ponto convergem as observações de dois metodologistas de diferentes ori.entaçõc
Ricolfi [1997a: 11-14] e Silverman (2000-trad. it., 2002: 39-41].

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con1rain<licada. O seu uso leva - ~uitas ~~z.e s involunt~riamente - a um reflexo
deni gratório que não favorece a mtehgibihdade daqmlo que nos propom guiada seguindo dois caminhos: o da simplificação do objeto e o da redução da
d · · ~ a extensão do domínio observado. O caminho da simplificação do objeto é típico
definir (o definiendum) e, no caso em exame, po e constltmr um obstácul ,
comunicação entre as duas comun~dades de cientis~as soci~is, ~s "qualitativ~s~ da pesquisa qualitativa , de modo particular nas pesqu isas baseadas no uso da
e os "quantitativos ". Em síntese, dizer que a pesqmsa quahtat1va é outra co· pesquisa por amostragem na qual indivíduos , isolados <lo seu contexto de vida
em relação à pesquisa quantitativa ajuda muito pouco na individuação das s Isa cotidiano, são chamados a responder a alguns ques itos utilizando uma forma de
e . , .d Uas interlocução predefinida, que deliberadamente d elimita as modalidades com as
p eculiaridades que, mesmo mostran do-se de ionna mais mt1 a quando sobre 0
pano de fundo é colocada a pesquisa quantitativa, tem a sua própria autonotni quais cada sujeito pode expressar o pró prio ponto de vis ta . Ao contrário , a p es-
De qualquer forma, antes de pross~guir à sua ilustra?ão cabe antecipar um tem: quisa qualitativa segue o caminho da redução da extensão do domínio observado ,
a focalização sobre poucos casos, dos quais se propõe a individuar e representar
qu e terá um desenvolvimento mais amplo em segmda. A pesquisa qualitativa
os mínimos detalhes. Essa estratégia de pesquisa coloca o pesquisador diante de
mais que um continente que - coeso e unido - olha com severidade a fronteir '
uma quantidade definitivamente rica de indícios [Ginzburg, 1979] a partir dos
qu e o separa da terra dos quantitativos , é um arquipélago feito de ilhas distintasª
quais interpretar os fenômenos sociais para os quais dirigiu a própria atenção .
ligadas entre si por - ora tênues, ora mais intensas - "semelhanças de família ':
/sensu Wittgenstein , 1953] .
Reduzidas ao essencial, estas semelhanças podem ser relacionadas a dois 1.2 ... harmonizada com as características dos objetos aos quais se aplica
tra ços m etodológicos fortes que reencontramos em todas as ilhas que compõem São muitas as molduras teóricas dentre as quais foram realizados estudos e
o a rquipé lago da pesquisa qualitativa: a utilização de uma forma de observação pesquisas qualitativas, do interacionismo à fenomenologia , da etnometodologia
mais próxima do próprio objeto de estudo [Clifford, 1997 - trad. it., 1999: 73], à sociolinguística. De qualquer forma, é possível identificar um traço unificante,
declin ada e m modalidades que - em última instância - são configuradas pelas a representação dos fenômenos sociais como processuais e contingentes. A estas ca-
ca rac terís ticas do contexto empírico , em um registro que, de forma sintética, racterísticas, processualidade e contingência , adaptam-se as técnicas de pesqui-
pode se r rotulado como sensibilidade ao contexto 2 . Vejamos em detalhe em que sa qualitativa, fazendo-as próprias durante todo o processo de pesquisa ou , em
co ns is tem esses dois traços comuns. outras palavras, "permanecendo fiel à natureza do objeto em estudo" [Matza,
1969: 5]. As raízes desta última disposição podem ser encontradas nas palavras
de dois dos pais da pesquisa qualitativa , Herbert Blumer e Erving Goffman. Em
1.J Uma forma de observação mais próxima ...
Interazionismo simbolico, Blumer define as peculiaridades metodológicas da pes-
O prim eiro traç o que une as técnicas de pesquisa qualitativa tem a ver com a quisa social como segue.
ndo çüo d e um estilo de p esquisa que prefere o aprofundamento do detalhe à re- Reconhecendo que a metodologia abraça todas as partes importantes
co ns t ru ç;io do todo, os estudos intensivos (sobre um pequeno número) aos ex- da pesquisa científica, quero agora afirmar e destacar um ponto ainda
mais importante. Cada parte da ação da pesquisa científica - e, portan-
1c11s ivos (sobre um g rande número) . Com essa escolha metodológica a p esquisa
to , toda a ação - está sujeita à verificação do mundo empírico e deve
q u:ditali va resp o nd e d e forma específica a uma exigência geral que recobre o ser convalidada por meio de um teste de tal tipo . A realidade existe no
int e iro do mfni o d a p esquisa social, aquela de guiar a complexidade dos fenô - mundo empírico e não nos métodos usados para estudá-lo; deve ser
me n os cm es tudo . Es ta complexidade, ao menos em parte , pode ser atribuída à descoberta examinando-o e não na análise ou na elaboração dos mé-
prox imi d:Hlc ont o lógi ca entre observador e objeto observado 3 , é normalmente todos usados para o seu exame. Os métodos são meros instrumentos
desenvolvidos para identificar e analisar o caráter resistente do mundo

2. 1111 \ ',11 1111i1·r i11 Sn(ia / Sc irn cc Rcscarcli , Barbara Czarniawska [2004 : 44] escreve: "If th ere is
,1 11<· _1;1' 11.-r.11 rulc ('11 li clcl rcscarch it is that ali techniques must be context sensitive ". inimagináveis diferenças entre os exemplares que a espécie humana considera idénti cos, nuanças
completamente inesperadas. De forma análoga , se na redação dos tratados de ci ências humanas
l , ·,h , 1,'·111 1,h "''·i.1i~, cli fcrcnt rmcnt e do que ocorre nas ciências naturais, o observador e 0
se dedicassem as rochas, com toda probabilidade, as infinitas nuanças que caracterizam a nos,.1
· ,hJt' l•' .,h,c1Y.1.J,, cnmp:1 rt ilh:1111 a mesma natureza, e isso permite ao observador evid enciar os cultura seriam reduzidas a poucos traços. Os indivíduos talvez fossem distinguidos, princip:i l-
1. 1• ' " · -1 pr, u li:111,l;:i lks, :b diferenças que separam os diversos objetos em estudo muito mais fa-
mente, _em razão da sua (irracional) motilidade e, talvez , da sua capacidade de res istir aos agent ,·~
' dm, nl r ,!,, qu r ,,,·,,rrr com,, ohscrl'ador em·olvid o no estudo de obj etos mais distantes no plano atmosfencos. O conceito de cultura teria como pontos de referência apenas aq uil o que d1, pú.: d,·
,, ni,,:,,.i. ,,. •1, H' J'll1lr111 cr .1s n,ch:1;; ou :1s panícul as subat ômi cas. Se na redação dos tratados de alguma forma de dureza, de materialidade; cultura - para o observador roc ha - seria n::ida rn;ii" ,1 ,,
~··· 11•11: , l 'drd11 ,1 , ,·m, n.,,, t,~p. ,,,h1p.o d::i . pécic humana. mas as rochas, muito provavelmente que hoje nós definimos cultura material.
' ' .. ,, h.i- ,''· t.1.!,,1 11s 1.1 b qnrh , Pj.~m :is seriam pint adas com cores mais vívidas, emergiriam
empírico e, enquanto tal, o seu valor está apenas na sua ~apacidade de ua peculiar interatividade e na sua sensibilidade ao
conseguir desempenhar essa tarefa. Ness~ se1~udo essencial os pmcedi- esse traço mostra-s e na S
111enlos utiliz ados em cada â111bito da pesquisa o enlfjica devenam e devem contexto de uso . _. _ .
ser avaliados em lennos de sua relação, ou não, com a natureza do mundo .
A mteratlVI . -d a d e mo stra-se de forma particularmente muda. . nas tecmcas. de
empírico esllldado: se isso que explicam.' ou como indi~am a natureza uisa mais usadas, principalmente a obse1:ação paruc~pante, a entre~sta
do mundo empírico, corresponder efeuvamente à realidade [Blumer, p~sq . focal o uso dessas técmcas pressupoe que o pesqmsa-
discursiva e o grupo · d - · "
1969 - trad. it., 2008: 60, itálico meu] . - b ervação e na interlocução coordenan o os propnos mo-
dor prossiga na o s .
. ,, das pessoas que participam do estudo . Esses moVImentos,
A parte da citação colocada em itálico qualifica e~cazmente o segundo_traço vunentos com os . _ - d
, aque Ies mi'ni·mos que se registram na mteraçao
e taro b em . entre
. _ . entreVIsta
. d o e
da pesqu isa qu alitativa: a harmonização dos pr~cedimentos ~e ~onstruç~o do · d [S rmano 2008] são em grande parte impreVIsiveis, impon o ao
dado às c.: arac lerísticas do objeto ao qual se aplicam, a submissao do metodo entreVIsta or o , ' - - - d fl ·b ·t·d d
pesqmsa · d ora d"1scip · 1·ma da flexibilidade
. . A mesma solicitaçao
_. e . exi 1 1 a e
às peculiaridades do contexto empírico ei~1 estudo. Es~e último aspecto, a sub- - e se de análise da documentação empinca fornecida por essas
miss,io ao contexto empírico qu e o pesqmsador expenmenta emerge de forma repropoe-se na 1a . - d
, ·
tecmcas d e pesqui·sa . Aqui O texto - as notas de_campo ou , as transcnçoes
_ as
_
ainda mais nflida a partir da definição dada por Goffman da observação partici-
entrevistas -, cuja forma e , frequentemente, CUJOS conteudos sao prog~amatI-
panl e, a técnica de pesquisa qu e, mais do que outras, incorpora as peculiarida- . dos (na- 0 se oferecem aos suJ· eitos _em .estudo frases feitas ou
camente mespera .
dc.:s da a bordage m qualitaliva . ropriados de comportamento no qual se inspirar), resiste tenazmen-
É uma técnica que, ao que me parece, prevê a coleta de dados submeten- mo d e Ios ap _. fi . ·b·i·d d
te a qualquer método preconcebido de analise. O que de m como sens1 i i a e
do a si mesmo, o próprio co1po, a própria personalidade e a própria situa- ao contexto refere-se em modo quase exclusivo aos procedimentos de _coleta,
çcio social ao conjunto de contingências que caracterizam um conjunto
ou melhor, de construção da documentação empírica. Em uma pe~qmsa por
de indivíduos assim que se pode física e ecologicamente penetrar o seu
amostragem, como se sabe, pede-se ao entrevistado_r para pronunciar as p~r-
espectro de resposta à sua situação social, de trabalho, étnica, entre
outras - ou em outros termos, de estar próximos a eles enquanto res- guntas que compõem o questionário , com o mesmo nt~o e a mesma en_tona çao
pondem ao que a vida faz a eles [Goffman, 1989 - trad. it., 2006: 109]. independentemente da pessoa que está à sua frente: o mtelectual expenente ou
o trabalhador rural semianalfabeto. A pesquisa qualitativa, ao contrário, mo-
Tanto Blumcr quanlO Goffman apontam para um traço que, no plano ve-se compacta na direção oposta : as formas de interlocução e as estratégias
lll l'!Odo ló,r ico une todas as técnicas de pesquisa qualitativa: a prioridade de observação devem se adequar às características dos sujeitos aos quais se
d o ob je to ~so b~c o m éwdo. Ainda que com algumas importantes diferenças aplicam. A forma de conduzir uma entrevista ou de participar de uma interação
ck gra·u. para Lodas as téc nicas de p esquisa qualitativa o caminho queº_ pes- social como observador mudará ao alterar o contexto , de forma por vezes dra-
q ui s;1d )r percorre para e ncontrar uma resposta às próprias perguntas e, em mática. A respeito disso, recordo a minha primeira entrevista em Gran Burrone,
ultim;t ;11Hi lisc, d e finida em aco rdo ou em resultado dos comportamentos dos uma comunidade rural na qual, sobretudo com o tempo bom, era comum ver os
suj ci1os para os quais dirigiu a pró pria atenção ... Em outras palavras: não elfos - assim se chamam os membros da comunidade - desempenhando as suas
.:-.il ;is pess oas c hamadas a participar de uma pesquisa qualitativa que devem atividades cotidianas (lavar roupas, cuidar da horta, preparar a comida) sem
:t lapl:H" o próprio comportamento ao méwdo usado para verificá-lo ; é a~tes roupas [ Cardano, 1997a] . Pois bem, a minha primeira entrevista realizou-se
L) '(H\ldrio o q ue n orm a lme nte ocorre'. No plano das práticas de pesqmsa , em um cenário no mínimo não convencional. Eu e Matteo estávamos sentados
na soleira de um pequeno galpão para armazenamento de feno: Matteo vestido
-f. :\111,i,1 .1q11i :i cri mol ogü do termo "método '': e;,,.-pressão de origem grega, formada pelo subs-
apenas com suas botinas, eu com uma roupa mais convencional, munido de um
t.mm·,, ,,, \ "caminho") t' pela preposição µerá , que nesse caso significa "com". Portanto, en- microfone que apontava em direção ao rosto barbudo do meu interlocutor. Tudo
111,11(\~i Mn rn tl' t1 ,onj unro sign ifica "caminho com [a qual] " [Gasperoni e Marradi, 1996: 624) . isso acontecia sob o olhar divertido de numerosos transeuntes, que não perdiam
. r,,,fr ,;cr \\ r1l c,msidc1~u o que ocorre nos dois contextos de estudo mais comuns para a pesquisa a oportunidade de deixar - gravado também em fita magnética - os seus com en-
qu.m1t r,11tn: a p,·sq ni:-.1 por amostragem e o experimento. Na pesquisa por amostragem as pessoas tários sarcásticos. Talvez um contexto mais tranquilo tivesse sido mais oportu-
:1H<''1 ·l.lcl.ls dr,·rm reconstruir o semido do que é pedido a elas contentando-se com a sóbria e
no, mas temo que um pedido meu nesse sentido não teria sido aceito .
p.hlr,,mz.~da fornrnlaç.'i o dos quesir os proposta pelo entrevistador. Em seguida pede-se para os
nrrrY1't,1d,1, cxprc., ,arcm a sua resposta relacionando-a a uma das categorias predefinidas proje- A esses poucos traços comuns - de qualquer forma suficientes para m arcar
t,lll. J lo pr~qu1 1d r [. ohrc esses remas. cf. Gobo. 1997]. No caso do experimento os sujei tos a diferença em relação à pesquisa quantitativa - acrescentam-se outros, próprios
,k, ·n , ,,,, r. r ,,u om pr tir om pc,,;.soas escolhidas pelo pesquisador e, com poucas exceções, das diversas ilhas que compõem o arquipélago da pesquisa qualitati va . A ilu tra-
,k, .'m (.1:t' 1 , níh m, l , prC'\ist ),- pel o desenho do estudo.
ção deIes prossegu l·re,· mais adiante , depois de
. ter reconstruído
. um dos niuitos . . · d co ntex to social que se to rna possível construir um relato
. . mapa s desse território. Antes ' porem, de um determma o di - .
poss1ve1s . . parece-me oportuno
. enfrenta
. 1
.
narrauvo . dos processos causai ·s, de colocar em um continuum acromco os nexos _
-
uma questao 1·mportante que se refere
. aos obJetivos desse estilo
. de pesquisa 0
, ll
· · - s valorizando O caráter múltiplo e co ntingente da causaçao
pelo menos aos objetivos que eu atribuo a ela e que conslltuem as bases sobre entre eventos e açoe , _ __ . ]6
social · [
Bec k er, 1998 - trad · it ·, 200 /: / t -88·' Hammersley, 2008 . 80ss . . .
as quais se apoia este manual. - me ta teo·n·cas invocadas para defender..a legitimidade da pesquisa
As razoes .
. . m uma das maiores obj ecões dmg1das - naquele momento
quahtat1va contestava , . . d
2 Por que fazer pesquisa qualitativa? e am · da hOJe · - a- pesquisa qualitativa , a sua presumida
. . (cf. infra, cap. 2)
. rncapaodade
. _ .e
roduzir teorias gerais. Essa peculiaridade, d1z1a-se, respon_de as restnçoes ep1s-
Uma pergunta como esta, a partir da qual se move este parágrafo "Por que ptêm1cas. d 1ta
º das pe Jo ob,iJ eto das ciências soC1a1S que autonza exclus1Vamente a
• . • . ,
fazer pesquisa qualitativa? ", torna-se pertinente som~nte ~ partir ~os anos de - de aco rdo com Merton , de teorias de med10 _alcance,
e1ab oraçao, . _sens1Ve1s as
1960, quando nos Estados Unidos - o país onde a soc10logia conqmsta a maior . ·dades dos contextos empíricos a .que faz
pecu 1ian . em
. referencia e nao . cegas
. em.
institucionalização - o outro modo de fazer pesquisa, baseado na pesquisa por frente às descontinuidades sociais e cultura1s , amquiladas pelas teonas umversa1s.
amostragem , constitui o método canônico de fazer pesquisa (mainstream me- A terceira classe de razões, as razões ético-políticas , reconhecia a capacidade
thod) . Antes disso, durante o período áureo da Escola de Chicago, entre os anos da pesquisa qualitativa - diferente , nesse aspecto , ~a pesquisa _quantitati.va - de
de 1920 e de 1930, a oposição versava sobre o que e não o como do estudo e se dar voz às diversas formas de alteridade, fazendo obJeto dos prop1:os _estudos su-
expressava na contraposição entre estudos extensivos (realizados com métodos jeitos marginais, periféricos e permitindo a eles expressarem a propna diferença
estatísticos) e estudos de caso (realizados com uma pluralidade de métodos de com as próprias palavras, reproduzidas nas monografias de pesqmsa sob a forma
pesquisa; cf. Platt [I 996]) . de amplas citações .
Nos anos de 1960 tornou-se fundamental justificar, aos olhos da comunida- No seu conjunto essas argumentações versavam sobre a maior capacidade
de científica e dos financiadores, a utilização de um estilo de pesquisa que não da pesquisa qualitativa de fornecer uma representação não parci~l (ou s_e~a , c~-
se baseava no uso do questionário e na análise estatística das respostas que paz de incluir os sujeitos marginais) e mais precisa possível atraves da ut1hzaçao
esse dispositivo fornecia . A reivindicação da legitimidade de outro modo de de técnicas de pesquisa quantitativas.
fazer pesquisa baseava-se em três tipos de razões: metodológicas, metateóricas, Em tempos recentes, a legitimidade desta vocação , a de uma representação
ético-políticas. precisa dos fenômenos sociais, foi contestada, atacando , ora as suas raízes epis-
No plano metodológico a pesquisa qualitativa era defendida enfatizando têmicas, ora os seus fundamentos metodológicos; negando , ora a possibilidade
uma maior precisão na representação do ponto de vista dos participantes obtida de construir uma representação dos fenômenos sociais, ora de poder fazer isso
com técnicas como a observação participante e a entrevista discursiva. Para ter com precisão utilizando um método tão pouco ortodoxo, como aquele próprio
acesso ao ponto de vista dos indivíduos, ao modo pelo qual definiam a situação, da pesquisa qualitativa.
a utilização de perguntas padronizadas, incapazes de se adaptar à especificidade É comum encontrar em Scrivere le culture [Clifford e Marcus, 1986 - trad.
dos diferentes interlocutores, e a obtenção de respostas lacônicas nem sempre it., 1997] a primeira sistemática expressão do ataque epistêmico à vocação re-
associadas a comportamentos arraigados, eram definidas como inadequadas. ferencial (a sua capacidade de representar uma obra, as vidas das pessoas para
Com esses limites a utilização de técnicas de coleta de dados capazes de solicitar as quais dirigiu a atenção) da etnografia e, por extensão, da pesquisa qualitativa .
discursos mais articulados (é o caso da entrevista discursiva), capazes de ligar o Scrivere le culture, como é sabido, reúne as reflexões amadurecidas no curso de
qu e as pessoas dizem ao que fazem (é o caso da observação participante), pode- um seminário na School of American Research, de Santa Fé, no Novo México ,
ri a resolver. E é somente graças a uma profunda compreensão do ponto de vista realizado em 1984 e dedicado à "construção do texto etnográfico". Participaram
ci os participantes - dizia-se então - que se torna possível elaborar explicações
adeq uadas dos comportamentos sociais. A isso se acrescentava uma segunda li-
6. Essas peculiaridades mostram-se de modo mais claro colocando-se lado a lado essa cLiss~ de
nh a argumentativa qu e focalizava a atenção sobre a capacidade das técnicas de explicações causais àqu elas elaboradas com as técnicas mais comuns e mai s co nvc nci on .1 is
pesquisa qualitativa de representar a dimensão processual dos fenômenos socíai~ de pesquisa quantitativa. A forma canônica de explicação causal , baseada no modelo de rcgrc , -
de forma mais adequada do que o que seria possível à pesquisa quantitativa. E são, admite que as variáveis independentes ajam sobre a variável dependen te simulca 1t't1 1r1 .-r1 :,
compondo uma "história" sem tempo, que se completa no instante em qu e tod us º" 1.ll,> r ·, , ,11.
0rn rn 1c graças - dizia-se - a uma observação mais próxima, de longa duração, sais relevantes estão presentes simultaneamente.
do seminário dez estudiosos, com diversas formações disciplinares, empenha.
dos na desconstrução do texto etnográfico e, de modo geral, de todo o process de configurar essa experi ência se m fazer uso de qualquer artifício retórico , to-
7
que "do campo conduz ao texto " [p. 15]. Esse importante exercício analític~ das as representações dos fen ômenos sociais são de qualquer fonna distorcidas •
forneceu um conjunto variado de conclusões que - diversamente entendidas . Mais tarskianos que Tarski , os autores de Scri vere le culture consideram que lá
interpretadas - terminaram por constituir o coração do ataque pós-modernist e onde ocorre a perfeita correspondência entre rea lidade e representação, cada
à vocação de produzir representações precisas dos fenômenos sociais, para pro~ representação seja necessariamente "inven ção ". A partir disso, um conjunto de
duzir conhecimento sobre o mundo. A partir do reconhecimento de específicos consequências que foram plenamente desenvolvidas na etnografia pós-moderna
dispositivos retóricos em cada monografia etnográfica os autores de Scrivere le que , tendo reconhecido a impossibilidade de ser Deus (preocupante concessão
culture se convencem do "caráter construído e artificial das análises culturais " à epistemologia realista .. .) e de dispor de uma linguagem perfeita capaz de re-
[Clifford, 1986a - trad. it., 1997: 24] , chegando assim a negar à escrita etnográ- presentar as coisas do mundo sem alterar o seu perfil, considerou necessário
fica qualquer pretensão referencial. As etnografias tornam-se nada mais do que renunciar ao empenho epistêmico de produzir conhecimento sobre o mundo
"fingimentos" [p. 29], isoladas nesse gênero pela sua inevitável incompletude e [Hammersley, 2008: I35ss. J.
parcialidade (nos dois sentidos dados em francês por partia[ e partiel). Ao objetivo epistêmico da "verdade " ou, mais laicamente, de uma repre-
Não há mais um lugar (o topo de uma montanha) a partir do qual ter sentação precisa das coisas do mundo, substituem-se aqueles da sinceridade , da
uma visão total dos mundos de vida humanos; não há um ponto de beleza e da solidariedade. Ao longo do primeiro itinerário , à impossibilidade de
Arquimedes sobre o qual contar para representar o mundo [p. 46] . dispor de uma representação precisa do mundo toma lugar a autodescrição -
precisamente sincera - do observador: a autoetnografia. A esse respeito vale a
A crítica pungente de Scrivere le culture teve indubitavelmente algum efeito pena perguntar-se por que a representação da experiência pessoal do pesquisa-
benéfico, obrigando todos nós a refletir sobre os processos de construção do sa- dor deve ser menos epistemicamente problemática que a de outros objetos? Por
ber etnográfico e, de modo geral, do saber construído com técnicas de pesquisa que os problemas de parcialidade, incompletude, de distorção dos dispositivos
qualitativa. Vale a pena, entretanto, discutir algumas das premissas - saber etno- retóricos devem deixar de existir dirigindo o olhar em direção a si próprio ou -
gráfico ora explícitas, ora implícitas - a partir das quais se move "aquele maldito como dizem os críticos - em direção ao próprio umbigo? Com o ideal estético
livro ", como o definiu o próprio Marcus. da beleza deixa-se o território da ciência pelo da arte, e, no caso da ema-grafia, da
A primeira premissa entrevê-se na citação referida mais acima: aquilo que literatura. Ao ideal de "verdade" tomam lugar os da verossimilhança e da elegân-
os autores de Scrivere le culture nos convidam a renunciar é uma concepção do cia, perseguidos sem a obrigação de um enraizamento (no sentido que Glaser
conhecimento que, por ser realmente tal, deve ter acesso à totalidade, quer di- e Strauss [1967] atribuem ao adjetivo grounded) na documentação empírica. A
zer, à essência dos fenômenos. Renunciar a tudo isso não comporta, no entanto, ausência dessa condição - lida como expressão opressora do "culto do método"
abandonar os objetivos cognitivos menos pretensiosos sugeridos por Boudon. (method-o-centrism) [Ellis et aL, 2008: 326] 8 - leva muitas vezes ao que Gary
Alan Fine define como "etnografia especulativa", entendida como um método
Contrariamente a uma ideia largamente difundida, a finalidade da ati-
vidade científica não é explicar o real - que, enquanto tal, é incognos- de fazer pesquisa no qual o que se observa no campo é usado como ponto de
cível, ou pelo menos cognoscível apenas segundo modalidades meta- partida a partir do qual se move na elaboração de frágeis construções teóricas.
físicas-, mas responder a perguntas sobre o real [Boudon , 1984 - trad. O can:iin~o da solidariedade, contraposto, de acordo com Rorty [ l 99 l J, àque-
it., 1985: 238/ . le mais cmza da objetividade, prevê a substituição dos objetivos epistêmicos
por objetivos éticos ou políticos: haja vista a impossibilidade de representar o
A renúncia a uma "visão total dos mundos de vida humanos", a uma repre-
mundo, que ao menos se possa mudá-lo, favorecendo aqueles que se encontram
se nlação exaustiva daquela "coisa" misteriosa que chamamos cultura [Matera,
em situação de desvantagem na sociedade. Esta disposição, que Hammersley
2004, cap . 11, em vantagem da mais circunscrita ambição em responder, de [2008: 175-176) define como "ativismo", merece - obviamente - toda a nossa
a~o rdo com Hammersley [2008: 50, 135] a alguma pergunta sobre o real, torna
a 111 ~0'. nplerude das etno-grafias mais o sinal de uma aguda consciência episte- 7. A distorção, entretanto, parece se atenuar quando a representação das culturas é confiada ao
mo logica do que o de uma debacle na representação das coisas do mundo. "etnógrafo nativo", capaz de "níveis de compreensão mais profundos" [Clifford 1986a - trad it
1997: 32-33]. , . .,
A scgu_n da _premissa refere-se a algo que, com certa insatisfação, definirei
omo maxnnalismo . Refiro-me à disposição pela qual, dada a impossibili- 8. No ensaio escrito a várias mãos, citado no texto, Arthur Bochner observa: "! call method-o-cen-
trism an oppressive doctrine that disciplines and punishes those who would want to experi ment
la dc de olhar O mundo com "o olho de Deus" [Denzin e Giardina, 2008: 29] e wllh somethmg new and different under the sun" {Ellis et ai., 2008: 326) .
_ R entender se a emografia e, de modo geral , a pesquisa qualitati -
aprovaçao. esta . . . - d b. . d hos experim entais quando o tratam ento nã o é definido de forma unív~ca
' .· .. d is em consonã11c1a com a pe1segu1çao esses o Jeti vos"
a sena a anv1c1a e ma 1 . . '-, ese n l 2008· 3-6] Por último, a so li citação de uma plena transparen-
v,' . sobre O que de diferente de um con 1ec1mento detalh ad !Hammers ey, · · d l l · ·
não menos re 1evante, . . . _ . o . d d,·mentos que também podem se r julga os pe os e1gos , ignora a
' d e fundar a eficácia de um projeto que se p10poe a modificá- lo? eia os proce , . . f f · ·d ·
do mune1o po e s . . - , · de qu alquer boa pesquisa qua lttauva e de ato az como tr a
fundamentos metodológicos da pesquisa qualitativa à su~ dunensao Leonca
O ataque ao S . _ . . ' " interpreta ção sociológica com a dada pelo senso comum. _ ._
capacidade de fornecer representações precrsas do~ fenomenos socra1s, provéni o qu e foi dito até aqui oferece matéria suficiente à desco nstrn çao da cn?ca
de um contexto completamente diferente , o MoV1mento de Pesqmsa Baseada radical à pesquisa qualitativa , atacada por frentes opos tas - _a pós-modernis ta
em Evidências (evidence based research movement) . Trata-se de um movimento · · · ta - na sua vocação de construir
e a neopos1t1v1s . . repres entacoes
, .- adequadas . _ dos
.
que se afirmou nos países de língu~ inglesa: sustentado por numerosas ~gên- fenômenos sociais. Isso, no entanto , não coincide com a negaçao da pertmencra
cias públicas, que se propõe a exercitar um ngo~oso controle sobre a qualidade das objeções surgidas à margem do debate sobre a cri~e da representação e no
da pesquisa social , principalmente tendo em vista o uso ~os seus resultados contexto do Movimento de Pesquisa Baseada em Evidencias. As duas lmhas ar-
para a realização de políticas sociais .. Os ~romoto.res do ~o~imento de Pesquisa gumentativas convergem em romper o otimisn:'o - às vezes ingê_nuo - da 1~ade
Baseada em Evidências propõem aplicar a pesqmsa quahtat1va os mesmos pro- áurea das origens, mostrando como a adequaçao na represe ntaçao_dos fenome-
cedimentos de validação utilizados nas disciplinas biomédicas: padronização nos sociais não provenha mecanicamente da adoção de um especifico esttl~ de
e procedimentação dos modos de medição, tlials randomizados e, sobretudo, , pesquisa, mas requeira um particular empenho crítico , que passa pela ana lise
"transparência " de todo o processo de pesquisa, passível de avaliação também das concretas práticas de pesquisa e da defesa, adequadamente argumentada , ela
pelos leigos. Não se trata - é necessário dizer isto agora - de uma simples dis- solidez das conclusões que elas fornecem.
puta metodológica: o que está em jogo, ao menos nos países de língua inglesa, é
0 financiamento da pesquisa, que, nesta base, para de ser regido pelos preceitos
3 Ilhas no arquipélago: um mapa das técnicas de pesquisa qualitativa
de uma espécie de "mecenato " para seguir a lógica mais urgente do "investimen-
to", para o qual se financiam as mesmas pesquisas a partir das quais se espera, Individualizados os traços que unem as ilhas do arquipélago, a utilização de
por assim dizer, um retorno em termos de resultados; resultados que se querem uma observação mais próxima, que extrai a própria medida do objeto ao qual se
robustos, além de relevantes [p. 4 J. Do que foi dito mais acima não se admira aplica, resta esclarecer as diferenças que intercorrem entre elas. De maneira aná-
constatar como a preocupação pelos ataques provenientes do "Movimento de loga ao que já se fez para os traços comuns, as especificidades ele cada técnica de
Pesquisa Baseada em Evidências" seja particularmente viva entre os promoto- pesquisa serão individualizadas com a intenção de colocar em evidência as suas
res do pós-modernismo. A ameaça, entretanto, não é circunscrita àqueles terri- virtudes epistêmicas, a sua - diferente - capacidade ele representar diferentes
tórios , mas recobre o mais amplo território da pesquisa qualitativa, envolvida pontos de vista da realidade social e de fazer isso com maior ou menor precisão .
em estudos que têm como objeto os serviços sanitários e educativos, a avaliação Os critérios que parecem mais promissores para esse propósito são três.
das políticas públicas [Pawson e Tilley, 1997], onde - talvez justamente - pode O primeiro considera as condições de produção ela documenta ção empírica,
ser solicitado que esclareça o seu próprio valor agregado. mais precisamente o papel do pesquisador - a sua agência (agency) [Potter,
Dito isso , de qualquer forma, parecem oportunas algumas considerações 2002 : 539, 541] - na geração da experiência a partir da qual extrairá os ma-
críticas sobre as teses - apenas ocasionalmente balbuciadas na Itália - do Movi- teriais empíricos submetidos a análise. Esse critério distingue dois tipos de
mento de Pesquisa Baseada em Evidências. Antes de tudo , vale a pena convidar documentação empírica e identifica - ainda que de maneira não automática
os paladinos dos triais randomizados e da padronização dos procedimentos de (cf. infra) - o mesmo número ele conjuntos de técnicas de pesquisa que estão
medida a uma reflexão pontual sobre os limites dessas supostas panaceias; isso na base de sua produção .
na pesq uisa social [Pawson e Tilley, 1997], mas não apenas ali. Johan Galtung, A distinção, amadurecida no contexto da análise da conversação, opõe dados
cm um velho manual de metodologia da pesquisa, sustenta com argumentos gerados pela intervenção do pesquisador (dados provocados) a dados naturais
muito ólidos qu e "dar sapatos tamanho 39 a todos é, sim, dar a todos a mesma ou, de acordo com Potter [p. 540], "naturalistas ", cuja disponibilidade não de-
coisa , mas com efeitos diversos " [Galtung, 1967: 116]; diversos em razão da pende ela intervenção do pesquisador. Ao primeiro caso pertencem, por exemplo ,
dimensão do pé que deverá calçar aquele sapato. De forma análoga, nos triais as gravações cios telefonemas com os quais os cidadãos solicitam a intervenção
r:1 nc.J omi zados a capacidade de controle dos fatores de confusão está longe de ela polícia; ao segundo, o registro (ou a transcrição) de uma hipotética entrevista
rr en a, assim co mo in cert a é a eloquência dos resultados obtidos com esses

33
com o operador que recebe os telefonemas. Jonathan Potter [1997 ·
1
2002: 541] oferece um critério simples e eficaz para separar os dois ·d 18 -l 'lg
o "teste do cientista social morto" (dead social scientist~ test). o testeºll1 íti ias: assim) pr?vide~cio:1 a documentação daquele ano memorável com algum tipo
separnr ?s dois. tipos de da~os ~i~otizando que o cientista social que se Pet rr1 ite de relatóno. Nos nao esttvemos lá e os dados que teriam alimentado a nossa re-
a analisa-los seJa, por uma mfehc1dade, atropelado no trajeto que O conrº Põe construção dos eventos, as notas de campo, não foram redigidos por ninguém. A
próprio local ~e trab~lho - no caso em exame - ao posto policial eleito ll 2. elo comunidade - ignara da nossa sorte - celebrou, de qualquer forma, 0 seu décimo
lugar_da pesqm:ª· Pois bem, nesse caso o primeiro tipo de dados, os telefonco1111, aniversário: os fenômenos soei.ais que nos propúnhamos a observar aconteceram
recebidos no dia da morte do desafortunado estudioso, de qualquer fo e,11as de qualquer forma. E é nesse registro que podemos entender a matriz naturalista
na. grava d o, porque a sua gravaçao- e- requen.d a pe 1o regu 1amento daquelrn1a se. da observação participante: que se recorra ou não a isso, as interações sociais que
policial. Inversamente, o segundo tipo de dados, a gravação da entrev· e Posto nos propomos a representar acontecem de qualquer forma, o que evidentemente
_ . ista c não poderíamos dizer de uma entrevista discursiva, de um grupo focal ou de um
operador responsavel pela tnagem dos telefonemas não poderia ser re . 0111 o
' a 1izado9 experimento de campo, técnicas que ativam interações sociais que não acontece-
A exte~são dessa ~fic~z distinção a~ mais a~p!o conjunto de materiais ell] i ·. riam sem a presença do pesquisador.
~os .fome~idos pela~ te~mcas de p~qmsa qualitativa que não têm nas gravaç~ s~ Além disso, é necessário esclarecer, de acordo com Ten Have [2002: 528],
aud10 e VIdeo - a propna forma eleita, requer uma série de mediações que im _ como a distinção entre os dois tipos de dados seja de natureza metodológica e
uma fidelidade mais ao significado profundo do que ao sentido literal da distºe'.11 não ontológica. Isso porque o status de dados naturalistas ou dados gerados pela
. . - . io E . 1 " d . . . inçao intervenção do pesquisador de qualquer material empírico não pode ser esta-
ong1nana . m partlcu ar o teste o cientista social morto", referido mais acima
peca por falta de sensibilidade quando se procede ao seu uso com técn 1· d' 1 belecido de forma independente a partir do contexto analítico dentro do qual é
cas e inscrito. Isso faz com que, por exemplo , se por algum evento fortuito o nosso
pesquisa que, como o shadowing a observação participante e a observação natu-
ralista, procedem à representação do objeto ao qual se aplicam através da redação sociólogo tivesse chegado um instante antes ou um instante depois na trajetó-
ria do carro que o atropelou [tenho em mente o belo filme de Peter Howitt, De
de notas de campo, constituídas, de acordo com Sperber [1982], por uma peculiar
caso com o acaso (Sliding Doors), de 1998] e, tendo-o evitado , tivesse tido como
mistura de "reproduções" dos discursos roubados e de sínteses interpretativas das conduzir a entrevista programada, a gravação de áudio daquela preciosa inte-
cenas a que se assistiu. Tentemos imaginar - munidos de todos os amuletos ne- ração discursiva teria se prestado, por assim dizer, a um duplo uso. Lida para
cessários - que temos a intenção de conduzir uma etnografia focalizando a n ossa reconstruir a experiência ou as vivências do operador telefõnico, teria sido ins-
atenção sobre as formas rituais com as quais uma comunidade religiosa celebra crita no registro dos dados gerados pela intervenção do pesquisador; lida como
o décimo aniversário da própria constituição. Estamos prontos, com cadernos de J documento da relação entre entrevistado e entrevistador, teria sido inscrita no
anotações, gravadores e fundos necessários para uma permanência na comuni- registro dos dados naturalistas u.
dade por doze meses. Lamentavelmente, um carro nos atropela, obrigando-nos a Dito isso, em todos os casos em que o uso de uma técnica de pesquisa é vol-
um longo período de internação em um hospital e um igualmente longo período tado à construção de uma representação do fenômeno a que se aplica (e não ao
de reabilitação que nos restitui à normalidade. De qualquer forma os doze m eses exame da relação social construída com o seu uso), o critério proposto permite
que tínhamos imaginado de passar em comunidade nos viram em outro lugar e separar duas famílias de técnicas de pesquisa, as que geram as interações sociais
nesse caso, diferentemente do que aconteceu com os registros dos telefonema, para as quais dirigem a atenção e as que se propõem a dar explicação sobre as
para o posto policial, ninguém (imaginemos que as coisas tenham acontecido interações sociais não ativadas pelo pesquisador e que aconteceriam de qual-
quer maneira - ainda que de formas diferentes 11 - embora nenhum estudioso
1
decidisse dirigir a sua atenção para elas.
9. O exemplo referido no texto é inspirado pelo clássico estudo de Emanuel Schegloff sobre as
gravações dos telefonemas recebidos pela polícia [Fele, 2007: 11 l. 11. Um procedimento análogo permite a passagem do status de dados gerados pe.la inte rvenção
10. Trata-se de uma distinção cujas raízes podem ser provenientes da oposição baconiana entre do pesquisador ao de dados naturalistas a materiais empíricos, como aqueles obudos com L'.ma
experiência observa tiva e experiência provocada. Bacon, no Novum Organum [ 1620], opõe e 0 ;-1 pesquisa por amostragem ou um grupo focal , quando a atenção desloca-se sobre as form as assu-
dena hierarquicamente dois modos de conhecer a natureza, uma modalidade "passiva", baseacl midas pela conversação nos dois contextos interativos, a pesquisa por amostragem e O gru po focal
na interpretação da natureza assim como se mostra aos olhos do cientista, e uma moda!Jda~ ' [Speer, 2002 : 512].
12. O inciso alude à possível perturbação do contexto observado, que pode ser atribuíd a à prescn ·-1
.. ativa" , baseada na antecipação da natureza solicitada com o experimento. Em Potter e, d~ mod~1
geral, nos contextos teóricos dentre os quais essa distinção recebe a maior atenção, o da anah:edos do pesquisador. Este, com a sua presença no campo, ora como observador, ora co~o memhr,, bo 11 ,1
fide ou como espectador, pode induzir mudanças nas relações soc1a1S que se propoe a rcprc,eni.u
conversação e o da psicologia discursiva, a hierarquia de valor se inverte em vantagem dos d 1

obtidos minimizando a agência do pesquisador.


. d ·cnicas de pesquisa qualitativa
ma rnxononua as te . . , . ícu la a distinção e ntre as técnicas de pes quisa
Figura 1.1 U O terceiro e último c nte n o arbt . - que acompanha o se u uso. A perturba-
:.. Sim Observação participante Shado wing
d atureza da pe rtur acao L3 -r
em razão a n . ese nte intera ti va ou observativa . 1em-se
Utilização da /
Dados ção poderá estar ause_nte oud, se prque os ,s uJ·eitos e nvo lvidos no estudo es tão
naturalistas interlocução - observauva to a vez -
/~ Não
Observação naturalista
Aná lise das conversações
Observação de documentos naturais
pertur b açao d .. 'd eles pelos p esquisadores e por essa razao
conscientes das atenções_ 1ng1 as at m ento Ao co ntrário te~-se perturbação
dºfi rópno compor a . ,
/ podem mo i car o ~ . l enca dopesquisador - não percebido como
. t" a quando e a s1mp es pres , d
intera iv d . d zir alteracões no comportamento os outros
10 u
Tipo J O contexto observa o a · .d.
de dados ta - n . lo fato de estar entre eles ( fazemos quase con iana-
produzidos / ~ Interativa
Experimentos de campo resentes s1mp 1esmente pe 'lh
p ' . - · d se tipo d e perturbacão todas as vezes que comparn amos
mente expenencia es - - . l
h ·das ou desconhecidas uma breve permanencia no e eva-
~ -- ~, com pessoas con ec1 . . . d t . . cas a
dor) . Esse critério institui a distinção qu e organiza o tem~ono as _ecm
Dadas Perturba ção Entrevista discursiva . d · depende a producão de dados gerados p ela mtervençao dopes-
provocados Grupo focal partlí as quais
· d d
, .
trabalho de campo a todas as outras técnicas e pesqmsa .
d · o
Jogos quisa or, opon o o . . d -
.to' rio O das técnicas a partir das quais depende a pro u çao
Observativa Observação de documentos solicitados seu uso no ou tro tern , . lh .
pelo pesquisador (diários, biografias etc.) de dados naturalistas , permite também traçar com mai o r detalhe as seme anças
e as diferenças que ora aproximam , ora afastam as diferen tes formas de observa-
Ao rimeiro caso, como mostra a figura 1.1, pertencem as técnicas de pes-
quisa c:mo
O experimento de campo, a entrevista discurs~:ª. e o grup~ focal, e,
ção da interação social (cf. infra) .
o us~ conjunto desses três critérios permite a individualização de quatro
ao lado dessas, os jogos e a observação de textos, como dianos, autob10grafias,
solicitados pelo pesquisador. Ao segundo caso pertence a. ~bservação partici - famílias de técnicas, como ilustrado na figura 1. 1 .
pante, 0 shadowing, a observação naturalista, ao lado da analise da conversação Neste volume a atenção recai sobre três técnicas mais difundidas de pesqui-
e da obsenração de documentos naturais. sa qualitativa: a observação participante , a entrevista discursiva e o gn1po focal.
A distinção proposta - cabe salientar - é entendida aqui em uma acepçã o Das outras técnicas referidas na figura 1.1 explico brevemente no que segue.
que não atribui um estatuto privilegiado a uma ou out~a ~lasse ~e ~adas e de ..,. O "shadowing" é uma técnica de observação da interação social que faz
técnicas de pesquisa: cada uma tem pontos positivos e limites propnos, que se referência a um indivíduo que o pesquisador "segue como uma sombra" . Se-
mostram em relação aos objetivos cognoscíveis do estudo dentro do qual são guindo o sujeito em estudo, o pesquisador experimenta as interações sociais em
aplicadas e às restrições éticas que recaem sobre a sua realização. que ele se envolve; além disso, dialogando com ela/ele o observador pode extrair
O segundo critério, aplicado ao conjunto das técnicas que fornecem dados na- elementos úteis para a interpretação das interações, da sequência de encontros
turalistas, qualifica-as em razão da utilização da interlocução, uma prática com a de que é testemunha.
qual nos propomos a acessar o sentido que os indivíduos colocam nas ações que o A presença do observador facilita a ruptura do "comportamento natural"
pesquisador tem como observar ou às quais participa. A relevância da interlocu ção
[Schütz, 19601, torna possível ao sujeito em estudo observar as próprias rotinas
emerge com clareza nas observações do antropólogo Dan Sperber, referidas a seguir.
cotidianas de um ponto de vista crítico, como se as olhasse com os olhos de um
É impossível descrever bem um fenômeno cultural, uma eleição , urna
missa ou um jogo de futebol , por exemplo, sem levar em conta a ideia
que fazem disso aqueles que dele participam; ora as ideias não se B. A distinção proposta retira inspiração do trabalho de Erika Cellini [2008] , que distingue dois
observam, compreendem-se intuitivamente e não se descrevem, in ter- tipos de perturbação: involuntária e intrusiva. A perturbação é involunlária "quando é devida à
pretam-se [Sperber, 1982 - trad. it., 1984: 19-20]. mer~ presença do pesquisador na cena" [p. 76]. Isso acontece, p. ex., no caso de um a observação
parncipante coberta ou naquele de uma observação naturalista realizada em um lugar públi co,
O acesso à "definição da situação" [Thomas e Znaniecki 1918-1920] que P· =x.,_na _sala de _espera ele um consultório médico. A perturbação intrusiva é, ao contrário, aqu e-
aco mpanha as açõ:s ~ara as quais dirigimos a atenção, àquele mundo inter- la . propna ela al!vidade da observação enquanto tal" e tem origem a partir da consci ência <l s
no , a que faz ref~rencia a Introdução deste volume, feito de comportamen tos, SUJellos observados, das atenções do pesquisador [p. 78]. A distinção é relevante, mas os tcrm n -
usados _pa~a representá-la me parecem inadequados: ambos os tipos de perturbação sáo, cm mi -
crcn ç~s, v~lorcs, intenções e significados colocados na ação, é possível apen as nha opm,'.ªº' sep .'.nlrus1vos, seja involuntários; por isso preferi substituir à dup la .. involunun.l
atra\'cs da mt erlocuçào , do diálogo. mtrus1va aquela mterattva/observa tiva".

3fi
. , . ica de observação entre as mais (talvez a mais) .
O hadow111g e uma tecn . . , . in.
outro. s quisador segue como uma sombia o propn o su1·e· diferentes da pesquisa científi ca, es tão disponíveis em gra~ações de áudio e às
sivas Normalmente o pes . . llo
tru · . . por alº11mas semanas, impondo-lhe a sua presença]) vezes também víd eo . A esse respeito , as transmissões teleV1s1vas, em parucular
or alguns dias, as vezes o . . . . or
P . d. afastando-se apenas quando ele so 11citar exphcttament os talk show , oferecem materiais ricos e facilmente acessíveis. Ao mesmo caso
sete, oito horas por ia, . e.
erten cem as conversações gravadas, acessíveis ao pesquisador através de uma
e
Isso raz com que essa técnica possa ser aphcada apenas em. alguns contextos
. apenas quando O indivíduo sobre o qual o pesqmsador faz referê,1 ~specífica negociação com os seus proprietários. É o rnso do estudo de Sacks
d e pesquisa, . . . . . - sobre os telefon emas gravados pelo Center for the So ent1fic Srudy de Los Ange-
oa para obse rvar a interação
. . soCial seJa
_ . capaz de tolerar
. a presença
. mtrusiva
. do
les, aos quais o es tudioso teve acesso , com a autorização dos responsáve is pelo
pesquisador, quer pelas suas caracte1'.s~icas pessoais, quer pel_o tipo d: atividade
serviço. A condição de naturalidade ate nua-se. sem . contudo , deixar de exis tir,
que permite que O pesquisador partICipe. ~ ~so do shadowmg ~reve, norma].
nos estudos nos quais o pesquisador negocia previamente com os participantes
mente, a combinação sucessiva de duas atividades: a observaçao e o diál ogo
a gravação das suas interações verbais , para depois fugir da atenção deles (cf.
[Fletcher, 1999: 39-44 l.
infra, cap. 6) . A análise desses materiais realiza-se normalmente sobre transcri-
Envolvido na observação , o pesquisador segue o sujeito em estudo adotan- ções detalhadíssimas das interações discursivas e com o uso de procedimentos
do, tanto quanto possível, uma posição disfarçada, que não prevê a sua partici- analíticos cuja complexidade impõe aqui uma referência exclusiva à literatura
pação ativa nas interações, nos diálogos que trava a pessoa a quem faz sombra. pertinente [Ten Have, 1999- em ital. , Fele 2007 : 132-1381 .
o diálogo segue às sessões observa tivas, e é nessa fase do trabalho de campo que ..,. A observação naturalista é uma técnica de pesquisa concebida para
é oferecida ao pesquisador a oportunidade de cobrar do participante o sentido observar a interação social no seu fazer co tidiano , limitando ao máximo pos-
das ações de que foi testemunha, de solicitar juízos, avaliações sobre as práticas sível a perturbação que pode se r atribuída à presença do pesquisador no cam-
que o envolveram . No shadowing encontramos assim combinados e comprimi- po. Trata-se, dito de outra maneira , de uma forma de observaç ão deliberada-
dos os traços da observação participante e naturalista (cf. infra) , e da entrevista mente não participante , na qu al o pesquisado r procura se tornar a proverbial
discursiva. As peculiaridades dessa técnica de pesquisa podem ser individuali- "mosca na parede" que vê, sem que os o utros se apercebam do seu olhar, da
zadas na consistente perturbação observativa e interativa que induz [p. 42], e sua específica atenção pelo que acontece ao seu red or. Patrícia e Peter Adler
na parcialidade do acesso consentido à interação social, parcial no duplo sentido identificam na não intervenção ( non in terv enti on ism ) o tra ço distintivo da
dado pela língua francesa : partiel, de uma só parte; partia!, do ponto de vista de observação naturalista.
uma parte. O shadowing pode ser aplicado como técnica autossuficiente ou em Tradicionalmente, a observação se caracterizou pela não intervenção.
combinação com outras técnicas de pesquisa. Duas pesquisas, ambas realizadas Os observadores não manipulam nem estimulam os seus sujeitos, nem
dentro de organizações produtivas, oferecem uma eficaz ilustração das potencia- dirigem a eles questões de pesquisa, não atribuem tarefas ou induzem
lidades e dos limites do shadowing: o estudo de Joyce Fletcher (1999], envolvida deliberadamente es tímulos especilicos. Essa fo rma de proceder contra-
em fazer sombra a seis engenheiras, e o de Attila Bruni, Sílvia Gherardi e Barbara põe-se claramente, seja ao uso de entrevistas co m questionários, seja
Poggio [2005], que por uma semana inteira seguiram como uma sombra os em- às várias formas de gestão da interação que dão aos pesquisadores a
possibilidade de colocar em campo novas ideias, seja à utilização de
presários de cinco empresas diferentes 14 .
experimentos nos quais os pesquisadores preparam um setting estru-
.,. A análise das conversações é um procedimento de pesquisa que se pro- turado dentro do qual podem manipular algumas condições, com o
põe a estudar "as produções verbais na interação entre falantes " [Fele, 2007: objetivo de medir a covariância de outras. Os observadores, simples-
9] . Essa corrente teórico-metodológica toma forma a partir dos anos de 1960 meme, seguem o fluxo dos eventos. Os comportamentos e a interação
com os estudos pioneiros de Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jeffer- continuam como o fariam sem a presença do pesquisador, não interrompi-
dos pela intrusão [Acller e Adler, 1994: 378, itálico meu] .
son. No plano metodológico, a análise das conversações prevê a obtenção das
gravações de áudio de conversações naturais, que tomam forma no curso das A opção naturalista, a escolha de não intervir nem participar da interação
ati'.'idades cotidianas. A condição de naturalidade é respeitada, para todos os ~m e~tudo, impõe ao pesquisador limitar a própria atenção aos comportamentos
efeitos, quando o pesquisador tem acesso a conversações que, por finalidades imediatame~~e observáveis, sem poder contar com a cooperação dos participan-
tes, com O dialogo com eles, para ter acesso ao sentido que eles colocam nisso .
14· Em português pode-se consultar o estudo de Carvalho, Silva e Focinho [2009] sobre o sha- Sob esse perfil a observação naturalista apresenta numerosos pontos de contato
dowmg de estudantes do ensin 0 d· ·
secun ano que acompanharam um profissional durante um ia
d· com a observação participante encoberta, ou seja, realizada por um pesquisa-
de trabalho .

38
39
dor que realiza o )Jróprio csllld.o c_lc fon:1a ~n cógnit~ (c.f. infra , c~p. 3) . Ocorr ,
, ianLo uma importante d1fe1ença cnt1c uma tecmca e out1a de lJes . t,
nO e11 , . . . . qll1s sempre é evidenciado e ai nda mais raramente em um registro que respeite o
Enquanto na observação paruc1pantc cn cobe1ta o pesqmsador procurará ~.
· lades d e pai·uc1paçao
veitar todas as 01Jortu111c · · - que 111e seJai11 · o fereciclas
· ªPro. seu esta tuto de técni cas de construção da doc umenta ção empíri ca (cf. infra,
' . . . • , C0 111 ca p. 6). A observação de do cum entos naturais é feita então para coincidir, ora
intenção ele adquirir um conhcc1mento, o mais profundo poss1vel, cio cont a
. - . 1· . d C)([ o co m a sua co leta - a coleta de cartas , de artigos de jornal ou qualquer outra
social em estudo; no caso da obse1vaçao natrn a 1sta . o. pesquisa or procur
. a,..a se coisa-, ora com a sua análise. Em ambos os casos é deixada à so mbra a ope-
esquivar das i'.1teraçõ~s que,, observa: : 1:1 tal se_nt~do e. exempla~-~ e~tudo de Jc[! ra ção intelectual qu e diferencia essas técnicas de observação como técnicas de
Nash sobre ª. 'comumdade dos usuar.1~s .de ombus mtennumc1pms, qu e lllili. construção da do cum entação empírica , a crítica do documento, um passo qu e
zarn esse me10 de transporte pa1:a se dmgu ao traba.l ho . Na~h conduz O estudo precede a análise desses materia is e que indica as margens de erro , o gra u de
tornando-se ele mesmo um V1aJante, mas de um tipo partICular: um viaJ· incerteza das conclusões que o pesquisador poderá tirar. A questão se co loca
. . . . an te
que esta distant e, que quase sempre esta olhando e que nunca mtervéin 11 em toda a sua importância na pesquisa histórica onde foi maio r o esfo rço para
discussões e nas interações d~ comunidad~ s.obre rodas (community on wheel~s disciplinar o exercício dessa atividade critica: a esse res peito são eloquentes as
Nash descreve o papel assumido entre os viaJantes da Metropolitan Tulsa Iii·ail S1t. palavras de Marc Bloch.
Authority nos termos referidos a seguir. O policial mais ingênu o também sabe que a palavra elas testemunhas
Foi feito o possível para evitar o encontro com os viajantes, mas ei não é necessariamente digna de crédito , embora nem sempre co nsi-
alguns casos isso foi impossível. Apesar disso, a maior parte das obse: ga extrair desse conhecimento teó rico as devidas consequências. Da
vações foi realizada usufruindo das vantagens do envolvimento passi- mesma forma , há muito tempo nos apercebemos ele que não se podem
vo, por exemplo, viajando em ônibus e observando os encontros dos aceitar cegamente todos os testemunhos históricos. Uma experiência
tão velha quanto a humanidade nos ensinou isto: muitos textos que-
outros. Imediatamente após descer do ônibus, eu redigia as minha
rem parecer de uma época ou de uma proveniência diferente ela real,
notas da forma mais completa possível. A duração das viagens, nor-
nem todos os relatos são verídicos e os mesmos vestígios materiais
malmente, era breve, entre 15 e 30 minutos, e lembrar o que eu tinha
podem ser falsificados [Bloch, 1949 - trac\. it. . 1969: 81 ].
observado era uma tarefa relativamente simples [Nash, 1975: 123].
A crítica do documento , mais propriamente a "crítica das fontes ", versa na
A escolha de reduzir ao mínimo a intervenção do pesquisador faz com que história sobre duas questões: a autenticidade da fonte e a credibilidade do in-
esse tipo de pesquisa tenda a privilegiar o estudo dos lugares públicos [Lyn Lo- formante [Topolski, 1973 - trad. it. , 1975, cap. 18] . Para o histórico que, nor-
fland, 1998], terreno eleito dos estudos de Erving Goffman [ 1971]. malmente, tem acesso ao próprio objeto exclusivamente através da observação
11>- A observação de documentos naturais, sejam eles textos ou artefa- de documentos naturais, é de fundamental importância dispor de todos os ele-
tos , constitui o coração do trabalho de pesquisa de historiógrafos e arqueól o- mentos empíricos e extraempíricos, úteis para estabelecer se, e em qual medi-
gos, uns envolvidos com os textos empoeirados conservados em um arquivo, da, as informações contidas em um documento podem ser consideradas como
outros com os restos da cultura material das civilizações do passado. Esse boas. As mesmas considerações se aplicam também à observação documentária
modo de fazer pesquisa pode ser proveitosamente utilizado também para o realizada pelo sociólogo e, de modo geral, pelo cientista social. Nesse caso tam-
estudo das sociedades contemporâneas. Portanto, o sociólogo também pode bém é necessário submeter o documento a um exame crítico que , no interior
se envolver, com a sensibilidade e em parte também com os instrumentos do do horizonte epistemológico em que se move a pesquisa, estabeleça a área de
historiógrafo e do arqueólogo, na análise, ora de textos, ora de artefatos . Na autenticidade , ou seja, o sistema de perguntas a que o documento é capaz
de responder eloquentemente.
pesquisa social, entretanto, são poucas as pesquisas baseadas exclusivamente
na observação de documentos naturais. Mais frequente é a utilização dessa Na pesquisa social o exemplo mais notável (ainda que controverso) de es-
técnica em combinação com outras, ora nas fases, por assim dizer, instrutórias tudo baseado no emprego de documentos naturais é constituído pelo monu-
cio processo de pesquisa , ora nas fases mais maduras, como complemento útil mental II contadino polacco in Polonia e in Ame,·ica, publicado em cinco volumes
para a mterpretação dos materiais empíricos à disposição. É o que acontece, por William Thomas e Florian Znaniecki [1918-1920] . Para reconstruir a ex-
periência dos imigrantes poloneses , Thomas e Znaniecki fizeram uso de uma
p~r exemplo , na quase totalidade das pesquisas etnográficas: aqui a observa-
coleção de 754 cartas, dirigidas ou provenientes de imigrantes poloneses nos
ao de.cl~crn~ei:tos naturais constitui frequentemente o primeiro instrumen to
Estados Unidos. Os dois estudiosos tomaram posse desses materiais utilizando
de sonah zaçao a cultura hóspede e acompanha - muitas vezes - todas as fases
uma inserção em um jornal, no qual prometiam uma recompensa (entre 1(1 e
do trabalho de campo. No entanto, o uso dessas técnicas de observação nen1

10
a
15
. les uma ou mais cartas . A esses 1naterj
m envrnsse a e . l 1 <11~ . . . ·u·ca Rosenham estava convencido de que as categorias
20 centavos ) a .que .d tir dos arquivos de um Jorna po onês (G , · da psiqu1atna cn . d ·d b
c1ass1co
foram acrescen ª
t dos os obu os a pai
) r alguns arqmv
. os paroquiais e um reato auto iogra,·rit,a.
l . b
. . d
I b seassem apenas em medida re uzi a so re
, de e doença menta se a
0 sociais e_ s~u ue em muitos casos , a atribuição do status de doente a um
zela Zwiazlwwy ' P~ WI d I Wisznienski. A esse estudo clássico eu gosto ,1
· polones a e< . .r . lll dados obJeuvos e q , re uma construção social. Em particular, Rosenham se
de um Jovem . 'd fi . . nente menos, a University oJ Anzonas Ga rba · d' ·d O fosse quase semp
centar um que e e muva1 1· . f . 1· ge m 1v1 u d fi . - do diagnósáco de doente mental contém mais as caracte-
acres d d' d . observação de um pecu iar a1te ato. o ixo. R.ea] ergunta se na e mçao
p . ·ect um estudo e ica o a d d \. p . d · tes ou as dos lugares nos quais se encontram, o contexto - em
'º) , 1b
zado com a co a oraçao
- de um numerosíssimo grupo e estu antes, esse estnd
. . d o
rísncas os pacien . , . d
· t'tui'ção psiquiátrica - onde é aplicado o diagnosuco . Para respon er
.. . os consumos dos residentes na area examma a de forni gera1uma ms I , . d ' b -1· o ·t
Permltm qua 1I6 car . . d a a essa pergunta Rosenham
idealiza um experimento, no mm1mo, ia o ico. i o
. . .. . d _
. . . d as armadilhas que comumente mcorrem as pesqmsas e mar rfeitamente sãos pediram para serem mtemados dmgm o se
obJenva, evitan o h b' l d . · co 1aboradores s ,eus Pe ' . ·d
. . pede às pessoas de relatar o que a nua mente a qu1rein
hetmg nas quais se . , , . . . . d' _ e a doze hospitais distribuídos em cinco diferentes cidad~s do~ E~tados U~1 os,
consomem. Essas Ci.ladas dizem respelto ' como e faol nnagmar, as istorçoes da hospitais diferentes entre si quanto às dimensões, ao _carater pubhc~ ou pnvad~,
memória e ao desejo social de algumas condutas. Chamadas a descrever os seus ao perfil científico: avançados versus atrasados. Os 01to pseudopaci~ntes ~onst:-
consumos habituais, as pessoas podem fazer um relato impreciso e deliberada. tuíam um grupo diversificado ; entre eles havia um estudante de _psicologia, tres
mente seletivo, baseado na omissão de consumos socialmente não desej áveis psicólogos, um pediatra, um psiquiatra e u~a. d_o na de :asa. De~01s de_agenda~em
(p. ex., bebidas alcoólicas, material pornográfico e outros) e s?~re o superdi. horário por telefone, os pseudopacientes dmgiam-se a recepçao e ah se queixa-
mensionamento do consumo de produtos que conferem prestig10 a quem faz vam de "ouvir vozes", ou seja, de terem alucinações auditivas verbais, comumente
uso deles. Pois bem, todos esses problemas são eliminados no estudo dos resí- entendidas como o principal sintoma positivo de uma das patologias mais severas:
duos, que documentam, ainda que de forma incompleta, o que foi consumido 1 a esquizofrenia. Essa, com a declaração de uma profissão diferente daquela de-
e, por vezes, também quando . A eloquência desse tipo de estudo é, contudo, sempenhada, era a única mentira dos oito pseudopacientes. Interpelados, relata-
contrabalançada por algumas considerações éticas sobre a legalidade de uma vam sobre a sua vida, sobre a sua família de forma verdadeira, apresentando uma
intromissão tão profunda na esfera de vida dos indivíduos e sobre esse aspecto imagem de si de absoluta normalidade. Todos os oito foram internados e, apesar
o debate na comunidade científica permanece aberto. de, uma vez chegados ao setor, terem imediatamente interrompido a encenação,
..,. O experimento de campo. Tipicamente usado na pesquisa quantitativa, foram retidos por mais tempo , para depois terem alta - todos indistintamente -
o experimento, em particular a sua versão de campo, também tem um uso no com o diagnóstico de "esquizofrenia em remissão" 16 . Até durante a internação os
contexto da pesquisa qualitativa, na qual a atenção recai mais sobre o controle \ oito simuladores conánuaram com a redação de notas etnográficas, inicialmente
dos significados do que sobre o das variáveis; na qual, além do acertamento de de forma encoberta, depois abertamente; o que suscitou suspeitas, não da equipe
relações causais, é relevante qualificar o como daquele nexo, desenvolver, de acor- sanitária, mas dos outros internados que os reconheceram como simuladores. Os
do com Becker, um relato narrativo dos processos causais, capaz de colocar em oito pesquisadores puderam então experimentar as consequências de ser são em
um continuum diacrônico os nexos entre eventos e ações, de valorizar o caráter um lugar insano. Não contente com esse resultado, Rosenham projetou uma con-
múltiplo e contingente da causação social [Becker, 1998- trad. it., 2007: 77-88] . traprova. Comunicou à equipe médica de um hospital que conhecia a pesquisa
A versão q_ualita~va do ex_perimento prevê, não diferentemente do experimento \ de Rosenham e considerava impossível que erros assim macroscópicos pudessem
de laboratono, a mtroduçao do contexto em estudo de uma específica forma de acont~cer entre as ~uas paredes, "que nos sucessivos três meses, um ou mais pseu-
p_enurbação: de um "estímulo" ao qual segue a observação das suas consequên- do~acientes tentana~ ser admitidos ali". Disse, mas não fez. Pois bem, naquele
cias, do~ efeitos, de formas absolutamente relacionáveis a um estudo etnográfico. penodo, dos 193 pacient~s admitidos no hospital observado por Rosenham, 41
O expenmento de campo, por definição, não prevê a possibilidade de exercitar ne- foram declarad_os _como simuladores pela equipe. O experimento de Rosenham ,
nhum controle sobre as chamadas variáveis terceiras, das quais podemos nos limi- com todos_ os _hm1tes metodológicos que o contradistinguem - o primeiro d e to-
tar~ quando possível - a tomar nota do impacto. A ilustração mais eloquente des- dos, a ausencia de um grupo d l b ·
e contra e em am os os expenmentos - forn ece
ta tecmca de pesquisa é constituída pela pesquisa de David Rosenham [1973] , um \ ªd~esa~ d~ tud~ u~ r~sultado digno de nota , relativo à fragilidade epist~mica do
iagnostico psiqmatnco.

15. Sobre essa modalidade de aquisição da do - ..


de '·documentos naturais" de carta d [ cumentaçao empmca, em particular sobre o estatu to
um fone debate na comunidade d s, e ª'. 0
sohcnadas pelo pesquisador, abre-se nos anos de 1930
os soCJo 1ogos.
16. Os oito simuladores foram retidos ele 7 a 52 dias nos h
com urna duração média de internação de 19 dias .
. . . .
os p1ta1s aos quais trn ham se di n ~ ~'

42
ccbidos para observar a interação 50 .
. - cedimentos con . . . : c:1a1
~ os Jogos sao pro .
. _
. . E um J.
e-expenmenta1s. n 1
ºªº
" .
os sujeitos em estudo interag
e111
. . - A câ mera tende a seguir quem toma a palavra
verbais e não verbais da ilnt~raçao. anorârni cas ou planos gerais [p. 42] . Para
em condrçoes quas " . . _ ,, q.ue at1ibm, a cada um, um papel e u111 ob· tomada se euva com p - . d
. d. ões de um roteno r . .]e. e al terna essa . . o ncebidos para captar a logrca os pro-
seguindo as m rcaç . fi rocedimento nos termos re1endos a segu . cada grupo são propostos treds Jogos , .c ção e divisão do trabalho e a liderança.
. ir Brnsch1 de ne esse p . . 11 .
ovo a persegu · _ . de pesquisa para observar as auv1dades de cessos de decisão, as formas e orga niza
0 J·000 e um sistema . . lln1
Estes são os "roteiros" dos três jogos:
ru O que esenvo ve determinadas tarefas.. Ele se 1eahza através e1a
d .
O
1 de náufragos recé m-desembarcados em uma
g P. _ d . . t efas por parte do pesqmsador e a sua execução
defimçao e tais ar
em um am b1.ente a1·t'ficial
1
. . .
_ por parte dos part!opantes.
. . O pesquisad or
,
. " • _
i) Ilha: Voces s~o um o ! QTU

ilha deserta. Voces pudera ·1 • q


O
ver ue existem árvores, animais, frutas. A terra
O que vocês fazem ?" Com essas in-
limita-se a estabelecer as regras e o contexto , para o iest~, os panic1. . róxima está a 200 qu1 ometros. . . .
_ . ara se expressar e quase sempre, eles tem consc iêii mais p d I o orupo em posicão e o de1xa livre para Jogar,
pantes sao 11vres P ' . . . - formações o con utor co oca " . .
. de serem observados (e J·ulgados).
eia . A tecmca aphca-se. a pequenos limitando-se a fixar e fazer respeitar um tempo de Jogo .
desenvolvimento de um Jogo pode, esquematicamente, ser - • 1 de televisão à disposicão por uma semana. O
grnpos. 0 .) - d " · ii) TV: "Voces tem um cana . ,
relacionado à combinação de sete passos: _1 p~eparaçao o :oterro" en1 - fazem 7 " A situação prossegue como acima.
relação ao objetivo científico; ii) deter~maçao dos _procedimentos de que voces ·
... ) F to· "Foi pedido a vocês que apresentem o seu gn1po para uma reporta-
observação e registro das informações; Ili) or?arnzaçao do _Jogo , através
m rº · ·fica com dez imacrens . Escolham as fotos ". Como acima [p . 44] .
da predeterminação das condições observatrvas (laboratono, número gem otogra o _
de participantes e seu recrutame~to, ~~servadores) ; 1v) c~nduçã? do ~ Concluo com algumas breves considerações sobre a observaçao d~ do-
jogo; v) coleta das infom1ações; vi) _anahse ~a .documentaçao empmca; cumentos solicitados pelo pesquisador. Nesse âmbito _entram a produçao de
vii) controle dos resultados em relaçao ao objetivo [Brusch1, 1999: 459 ] textos ou de imagens diretamente solicitadas pelo ~es_q msador para extrair ~es-
ses materiais elementos úteis para responder às propnas perguntas de pesqmsa.
· 0 0S, a observação da interação social
N os J0 _
é realizada
. .
de forma seme-_
0 Trata-se de procedimentos que estão longe de ser difuso~ , mas que , no entanto ,
lhante _ ao menos em parte - à da observaçao naturalista. o ~~servador _n ao
podem fornecer, sozinhos ou em sinergia com outros,_importantes cont:1b~1-
participa da interaç~o social provoc~da pel~ jogo, e observa sujeitos cons~1en-
ções. A solicitação de produção de textos baseia-se , multas vezes , na reqms1?ª.º
tes da sua atenção. A observação da mteraçao segue, por vezes, a reahzaçao de
apresentada aos participantes para redigirem um diário que exphq~e suas. at~Vl-
entrevistas individuais (estruturadas ou guiadas) com os sujeitos. dades cotidianas. Um exemplo nesse sentido (referido no cap. 6) e const1tmdo
Um dos exemplos mais interessantes de aplicação dessa técnica de pesquisa pelo estudo de Felicity Thomas [2006] realizado na região Caprivi, no nordeste
é constituído pelo estudo realizado por Alberto Melucci nos anos _de 19~0 sob re da Namíbia. Thomas dirigiu sua atenção para a experiência elas pessoas afetadas
quatro movimentos coletivos da área metropolitana de Mil~º: mais preo~amen- por HIV e sobre quem cuida delas em um contexto no qual a prevalência dessa
te sobre quatro áreas de movimento 17 : o movimento femm1sta , o movm~ento patologia alcança a estarrecedora cota de 43%. Thomas solicitou a sete pessoas
ambientalista, o movimento da juventude e o movimento da nova consoenoa afetadas pelo HIV, com seus respectivos cuidadores, para redigir um diário sobre
[Melucci, 1984: 26]. A pesquisa propõe-se a reconstruir as "lógicas de ação" as suas experiências cotidianas, por um período que oscilava entre um e seis
[p. 35] dessas diferentes "áreas do movimento" e, com esse objetivo, recorrer meses. De forma análoga é possível pedir para os participantes produzirem um
a um conjunto de procedimentos empíricos, entre os quais alguns jogos. Um filme ou uma série de fotografias que retratem o seu mundo, a sua experiência,
grupo de cada área de movimento, identificado com base em considerações teó- as fontes dos seus tormentos, a partir elo ponto de vista deles.
ricas, participa dos jogos. Melucci descreve as características do setting assim: É evidente que na leitura desses materiais é necessário levar em conta as
os grupos são convidados a participar de uma série de sessões em um ambiente características do processo que levou à sua constituição , caracterizado por
adequadamente predisposto. O setting é uma sala de reuniões normal, com as óbvios filtros, seleções, guiadas pela percepção elos participantes do que é
cadeiras em semicírculo e uma câmera móvel para a gravação de vídeo, carrega- lícito e conveniente dizer de si mesmo a um estranho. Os materiais obtidos
da no ombro por um operador. Um pesquisador guia a sessão sentando-se ern podem ser usados também para iniciar uma entrevista discursiva, focalizada
frente ao grupo , enquanto outros dois , visíveis ao grupo, mas fora do campo nos textos ou nas imagens fornecidas ao pesquisador, oferecendo a este último
da câmera, exercem a função de observadores, respectivamente, dos aspectos a possibilidade de uma posterior investigação sobre o sentido colocado nesses
materiais por quem os produziu [Zimmerman e Wieder, 1977].
17· .. Um lll()\'imcnto é uma ação coletiva que manifesta um conflito através da ruptura dos limi tes
de rnmpaubihdade do s1s1ema de referên cia em qu e se situa a ação" [Melucci, 1984: 25].

44 45
. ode se r relacio nada à "argumentação proléptica"
ca. A forma desse d1scursdo p mentação na qual a sequência de movimentos
2 2009] · um tipo e argu
[Wa 1ton , '. . d d1·scussão crítica é apresentada apenas por um
. lé · onst1tut1vos e uma ·d
0 desenho da pesquisa qualitativa
d ia ucos c diferentes graus de eficácia - cons1 era
. l (o proponente) que - com -
inter ocutor - . entos e se prepara para contestá-los com espec1-
as objeções aos propnos argum
ficas contra-argumentações2. .
- dessa arcrumentação não é , entretanto , confinada as duas eta-
A construçao o - · d nh d
as do trabalho de pesquisa consideradas. Antes pelo contrano : o ese o a
p . - que esse último permite elaborar crescem, por
pesqmsa e a argumentaçao _
. d. ·unto com a pesquisa , podendo contar com uma longa sequen-
A expressão "pesquisa social" designa um ~~rti_cular tipo d~ a_gir estratégico ass1m izer, J
.
1· fl ·b ·1·d d d
d aJ·ustes , viabilizados pela pecu. tar ex1 1 1 a e a
eia de pequenos e gran es
com O qual O pesquisador abre-se a uma expenencia com ~ ob3et1vo de elabora; . qua 1·1ta t·1va. Com esses aJ·ustes , a pergunta .a parnr
pesqmsa _ da qual se move o
uma resposta (e às vezes mais de uma) a uma perg~n~~ rela_uva a u~ determin ado ão empírica que permite a articulaçao de uma resposta e
estu d o, a d ocu mentaç . _ .
fenômeno social1 . Fazem parte desse processo dois movimentos que, ern uin - ·a resposta ligam-se reciprocamente com uma exaudao sempre maior,
primeira aproximação, podemos colocar respectivamente no início e no fim d~ a propn ' · 88] d. ·1 "
tomando, de acordo com Becker (1998 - trad. 1t. , 2007 : , o 1a ogo entre
trabalho de pesquisa: a prefiguração dessa experiência e, quando tudo é concluí- dados e ideias" sempre mais rico .
do, a sua reconstmção. Nos manuais de metodologia das ciências sociais _ ao
Neste capítulo examinarei o trabalho de reconstrução dessa argument~ção
menos naqueles que consultei - é comum reservar a expressão desenho da pes- nos momentos inicial e final do trabalho de pesquisa, deixando para examinar
quisa apenas para o trabalho de prefiguração do percurso que o pesquisador se
0 trabalho dirigido ao seu aperfeiçoamento nos capítulos dedicados ao trabalho
propõe a percorrer, para fornecer, com as palavras de Larry Laudan, "respostas de campo e à análise da documentação empírica. Prosseguirei examinando pri-
aceitáveis a perguntas interessantes" [apud Agnoli 1997: 12]. Nos ensaios que meiramente o momento da prefiguração para depois passar ao da reconstrução.
reúnem a síntese da experiência realizada pelo pesquisador, a expressão "dese-
nho da pesquisa" assume também outro significado. Desenho da pesquisa de-
signa, nesses materiais, a reconstrução - mais lógica do que cronológica [Fleck 1 A prefiguração
1935] - do-processo de pesquisa, a sua "história natural", entendida como a Na fase de prefiguração do desenho da pesquisa, a argumentação persuasi-
sequência dos movimentos que levaram aos resultados do estudo. va, da qual se inicia a traçar o perfil, percorre três momentos: i) a especificação
Tanto em um caso quanto no outro, essas descrições do processo de pesqui- da pergunta (ou das perguntas) a que o estudo pretende responder e a qualifica-
sa mostram - ao menos aos meus olhos - os traços da argumentação persuasi· ção da sua relevância; ii) a individuação do contexto empírico que permite ar-
va. Propõem-se a persuadir a -comunidade científica de referência das razões de ticular uma resposta à pergunta (ou às perguntas) de pesquisa e a defesa da sua
interesse da pergunta cognitiva e da adequação dos "movimentos" - em um caso adequação; iii) a descrição do método (entendido, de acordo com a etimologia
prefigurados, no outro, reconstruídos - concatenados para elaborar a própri" desse termo, como "caminho com o qual") usado para elaborar uma resposta às
resposta. Além disso, propõem-se a defender a solidez, primeiramente esperada perguntas do estudo 3 .
e ~epois atestada, das conclusões a que se chega. Seja na forma de prefiguração, A prefiguração do percurso de pesquisa desempenha duas funções funda-
seJa na forma de reconstrução, o discurso que constitui o desenho da pesquisa mentais. Coloca à disposição do pesquisador um guia flexível que lhe permitirá
se configura como uma antecipação dialética das objeções à plausibilidade dos compreender o alcance dos movimentos que vão compor o seu percurso de pes-
resultados do estudo e à legit~midade da sua extensão (à sua predicação referiei" quisa e também, ou melhor, especialmente, daqueles que se afastarão do plano
ª. casos afins não estudados) que se considera que possam chegar pelo auditó· original de viagem. A prefiguração do percurso de pesquisa, organizada em um
no de referênc·a1 l e texto que normalmente tem por titulo algo que soa como projeto ou plano d a
, norma mente uma específica porção da comunidade cien tín·

l. É cvidemc a semelhança entr d fi · -


colfi 11ara O qual unia . e ª _e m_çao propoS ta no texto e aquela elaborada por Luca Ri· 2. Em um outro registro, considerações análogas são desenvolvidas por Bruschi [2005: 25ss.].
, pesquisa ernpmca e uma " - d 1
pcrgunt:is sobre a realidade" !Ricolfi, 1997b: 19 ].sucessao e operações para produzir respostJS. 3. Sobre a etimologia do termo "método" cf. nota 4 do cap. I.

46
pesquisa é, além disso , o que permite ao pesquisador obter a autoriza _
a realização do seu estudo por parte do próprio tutor ou orientado/ ~~o Pa,a
acontece, p . ex., para os trabalhos de conclusão de cursos de graduação e O %t estudos - e são a maior parte - que se movem a partir de uma pergunta que
de doutorado) ou os fundos de pesquisa necessários à sua realização Aou lese\ frequentemente define os próprios contornos no campo e muito raramente é ex-
que tornam financiáveis um projeto de pesquisa nem sempre são dita~la s raz\\ , pressa na forma canônica das afirmações co ndicionais "se A, então B". Possuem
pela qualidade do projeto de pesquisa. No entanto é difícil negar que à s ªPen<\, esse perfil todos os estudos que se propõem a responder a uma pergunta sobre o
de outras condições, a solidez argumentativa de um projeto tornam~ · Pati dac1t como de um específico processo social, o âmbito no qual a pesquisa qualitativa,
.
o seu fi1nanciamento. n Ho
· isso,
. .
vepmos em d eta 111e como se compõe
ls provãv
' e1
de acordo com]ennifer Mason [2002: 1, 136], dá o melhor de si5.
movimentos delineados mais acima. m os tres No panorama dos objetivos epistêmicos comurnente atribuídos à pesquisa
qualitativa , ao lado das pesquisas concebidas para verificar uma hipótese e a ou-
tras desenhadas com o objetivo de fornecer, para um especí6.co processo social,
1.1 Pergunta e contexto empírico urna aprofundada "explicação semântica" [Abbott, 2004 - trad. it., 2007 : 11-15],
existem estudos que perseguem objetivos mais ambiciosos e que se aproximam
A definição de pesquisa social com a qual se abre este capítulo a d . perigosamente do essencialismo contra o qual Boudon nos coloca em guarda6 •
. d . , . 1 d l
como um npo e agir estrateg1co, vota o à e aboração de respostas pl
es1gna
. . Trata-se, na maioria das vezes, dos estudos etnográficos que se propõem a descre-
aus1ve,s
l
a perguntas re evantes. Esse modo de entender a pesquisa social, que d el · . ver uma cultura, a capturar de forma completa e exaustiva a sua complexidade.
. . . - . imua
os seus o b~~t~vos ep1stem1cos e, a~ mesmo tem~~, estende a gama das p ergun- De fato, na maioria das vezes, esse gênero de estudos vê-se obrigado a um radical
tas que, legnunamente, podem onentar essa at1V1dade cognitiva, decorre dire- redimensionamento dos próprios objetivos, oferecendo nada mais do que uma
tamente das reflexões de Raymond Boudon, reunidas em II posto del disordin e resposta a um conjunto compacto de perguntas. Resta - isto sim - a "retórica" da
no qual lemos: ' reconstrução exaustiva do perfil daquela "coisa" misteriosa que chamamos cultu-
ra [Ma tera, 2004, cap . l], que - em minha opinião - atrapalha mais do que ajuda.
Contrariamente a uma ideia largamente difundida, a finalidade da ativi- De acordo com Martyn Hammersley [2008, esp. 50 e 135], considero mais pru-
dade científica não é explicar o real - que, enquanto tal, é incognoscível, \ dente abandonar esta "retórica" para perseguir o mais modesto , mas seguramente
ou ao menos cognoscível apenas segundo modalidades metafísicas - , mas mais realista, objetivo de responder a alguma pergunta sobre o perfil da cultura
responder a perguntas sobre o real [Boudon, 1984- trad. it. , 1985: 238) .
em estudo, como, por exemplo, a organização do tempo em um sanatório [Roth,
A consideração de Boudon, que faço minha, enquanto toma distância das 1963] ou a experiência do sagrado em uma comunidade rural [Cardano , 1997a] .
concepções essencialistas do conhecimento científico, autoriza um modo de
questionamento da realidade não confinado exclusivamente ao controle d e hi- \ p. ex., o desejo da raposa de Esopo de comer uvas e a constatação da impossibilidade de alcançá-
P?teses deduzidas.ª _partir de ~ma teoria. Esta última liberalização, por assim -las. A presença de elementos cognitivos em conflito gera tensão , ou melhor, pressões que tendem
dizer, toma a defimçao boudomana plenamente aplicável ao domínio da pesqm- a eliminar a dissonãncia ou, pelo menos, a evitar o seu aumento: a raposa de Esopo alcança esse
objetivo persuadindo-se ele que o cacho de uvas inalcançável está podre. À procura de elementos
sa qualitativa, no qual o questionamento dos fenômenos sociais assume form as empíricos para sustentar a própria teoria, Festinger individuou no estudo do grupo guiado pela
diferentes. Ao lado dos estudos concebidos explicitamente para verificar uma Senhora Keech uma oportunidade imperdível ele colocá-la à prova_ Os pesquisadores conseguiram
hipótese - em tal sentido é emblemática a etnografia de Leon Festinger e cole- infiltrar-se no grupo - incognitamente - para seguir os seus acontecimentos até e além da noite
da presumida partida na astronave proveniente de Clairon. Pelo relato, a astronave não chegou ,
gas sobre um grupo milenista [Festinger, Riecken e Schachter, 1956] 4 - existem \ e às 4:45h, depois ele pouco menos de cinco horas de tormento , os seguidores da Senhora Keech
tomaram conhecimento , por meio dela própria, do conteúdo de uma mensagem recebida de Clai-
4. Festinger e colegas realizaram um estudo sobre uma seita apocalíptica de uma cidad e da região ron com a qual se dizia que a devota espera deles , que havia durado toda a noite, havia 'ºdifu ndido
dos ~an~es lagos, que na monografia torna-se Lake City. A guia do grupo, Marian Keech (esie tanta luz" a ponto de dissuadir Deus elo propósito de destruir o mundo .
t~mbem e um nome fantasia), em contato com alguns "seres superiores" do Planeta Clairon, ha- 5. Mason [2002: 1 J observa a esse respeito como a pesquisa qualitativa pode contar com uma
via_ formulado a funesta profecia pela qual Lake City e uma vasta área do território circunstanie "incomparável capacidade de elaborar argumentos convincentes sobre como as co isas funcionam
seriam submersas por uma inundação no dia 21 de dezembro de 1954. Além disso, a profecia em específicos contextos"_
afirmava que o dia anterior ao cataclismo, à meia-noite em ponto uma astronave alienígena co· \ 6 . Com "explicação semãntica" Abbott [2004] entende um procedimento que tem na traduç,\c
locaria _0 grupo a salvo. Feslinger, que tomou conhecimento da e~istência desse grupo por meio o próprio paradigma. Uma explicação é semãntica quando opera uma tradução do kn0mcn. ~m
de un~ J?rnal , naquele período estava elaborando o esquema analítico de uma das mais relevantes exame - um ritual, um sistema de crenças, uma prática cotidiana - de uma esfera pouc, Lim1h.1r
aquisiçoes da psicologia cognitivista, a teoria da dissonância cognitiva. Essa teoria - à qual apena_s a uma mais familiar, inscrevendo-o (como talvez diria Geertz) no interior de uma m,1\dur., tl°\,n, .1
podem os fazer men ção - ocupa-se em dar e:>..l)licação sobre os processos com os quais os ind i,'1· que coloca em evidência as suas peculiaridades.
duas enfrentam o conflito entre diversos '·elementos cognitivos" que habitam a mente deles.

48
uma pesquisa qualitativa propõe-se a elab
, a pergunta a que . , _ , Ota .
Em smtese, . 10 e rma de uma h1potese, mas nao e essa a u· . <l . e ro õe a considerar as variações de forma e de con-
0 de assumir a . ll1c
uma resposta P ta que se propõe principalmente a dar explic , a narranvas de doença que s p - p da orientação relicriosa dos doentes . A terceira
, · . é uma pergun aça , d desses discursos em razao . , d d
forma 1egiuma , e •
do como de um ienomeno
social sem pretender captar a sua essência , exp! 0
, Icar

:e~lt~ma heurística aditiva , cuja relação decorre da adoção dtnovos :;eto os _/
uisa ou de novas molduras teóricas , ocorre, por exemp o , qu:n1 o na ana I-
a sua totalidade. . . pesq . , . dá ria_ de um conjunto de narra u vas de doença
rgunta tão definida possa Justificar o empenho , n orn e tanto pnmana quanto secun d
Para qu e uma pe . . , , . d . . ia 1, s .- . . do um modelo narratológico pouco ou nada utilizado nos estu os
uma pesquisa quahtat1va, e necessano po er atnbu 1r à r sep uu 1IZa . · ·
mente oneroso, d e , . [ es, . d u quando as narrativas dos doentes sepm mscntas em
um valor de relevância teorético ou pragmanco Marshall e Ro até agora rea 11za os o . f
posta espera d a f s- uma moldura teórica_ por exemplo, a teoria da escolha rac10nal ~ que se a ~sta
sman,1999 .. 34ss · ]7· É em torn o desse aspecto, que. toma . orma a argumentaç-ao da uelas tradicionalmente utilizadas nesse setor de estudo . Tudo 1ss~ para dIZer
com a qual se defende, primeiramente o proposlto, depois os resultados da Pró,
u~ a defesa da relevância teórica da própria pergunta de pesquisa nao _requ_e r o
pria pesquisa . ql · to de um estudo que deverá necessariamente passar, por assun d12er,
A relevãncia teorética de uma pesquisa refere-se à capacidade dos resul- p ane3amen d · di ·d -
aos anais da própria disciplina. O que se requer é a mais mo esta m v1 uaçao
tados, primeiro esperados, depois obtidos, de oferecer uma contribuição ao do contexto teórico dentro do qual a resposta à nossa pergunta resulta eloquen-
co nhecimento dos fenômenos sociais. O alcance dessa contribuição pode ser te, e a qualificação da direção dessa propriedade.
legitimamente compreendido dentro de um corpus teórico consolidado , corno A relevância pragmática de uma pergunta refere-se à capa~idade da resposta
acontece, por exemplo , para todos aqueles estudos guiados pelo que An drew que se espera que oriente a solução ou , também, apen~s ~ ma1S eficaz represen-
Abbott define "heurísticas aditivas ", procedimentos baseados na simples adi- tação de um problema social. Poderá ter essa caractensnca um estudo sobre a
ção de resultados, de aquisições teóricas ou empíricasª. Entram nesse gênero experiência da própria patologia e sobre as estratégias de enfrentamento das
os estudos cuja contribuição diz respeito à complementação de um determi - dificuldades cotidianas que ela comporta realizado sobre - por exemplo - os
nado corpus teórico com a adição de nova documentação empírica, de novas pacientes afetados por distúrbio bipolar com o objetivo de acrescentar à sua
dimensões anal íticas, ou de materiais empíricos adquiridos com novos m éto- compliance farmacológica a aceitação das prescrições farmacológicas propostas
dos de pesquisa ou lidos dentro de uma nova moldura teórica . A prim eira a eles. Esquematicamente pode-se dizer que o primeiro tipo de relevãncia, teóri-
es péc ie de heurística aditiva, baseada na adição de novo material empírico, ca, considera a utilidade do estudo para as ciências sociais; o segundo tipo , prag-
pode ser aplicada em um estudo que, por exemplo, proponha-se a oferecer u ma mática, considera a utilidade do estudo para a sociedade. A figura 2.1 ilustra a
con tri buição à corrente de estudos sobre as narrativas de doença [Kleinmann, relação que pode haver entre as duas formas de relevância.
1988; Hydén , 1997; Bury, 2001] com o repertório das narrações de doença co-
letadas entre as pessoas afetadas por uma patologia, por exemplo, uma doença Figura 2.1 Relevância teórica e relevância pragmática de uma pergunta de pesquisa
rara, nun ca apresentada anteriormente. A segunda heurística aditiva, a adição
de um a nova dimensão analítica, ocorre, por exemplo, em um estudo sobre as Relevância pragmática
Sim Não
7. Movcnd_o-sc a partir de uma perspectiva epistemológica diferente daquela adotada n este traba-
lho, os pol11 ólogos Gary King, Robert Keohane e Sidney Verba [ 1994: 14-19] desenvolvem , sobre Sim Caso 1 Caso 2
0 Relevância teórica
lema da relevância, reílexóes análogas às referidas no texto, para o qual se remete.
8 . Uma fo rma indire1a de legitimação desse tipo de procedimento provém de Howard Becker, que Não Caso 3 Caso 4
cm 1 trn rr/ 11 dei mcSli crc escreve: "não podemos nunca descartar um argumento somente porque
al_gu ém Já 0 _esrud ou. De faro - eis um truque útil - quando ouvirem alguém ou vocês m esm os,
dizer que nao deveríamos estudar uma cena coisa porque já foi feito signific~ que chegou o mo-
A situação mais promissora é aquela representada pelo caso 1, no qual a
rrnrcq
cni o opor'.u no parn começar a trabalhar nisso. Já foi feito' é, de qu~lquer forma algo que se di z
uc n1 cnH.n1e, pnncipalm ente aos es d . ' _ pergunta de pesquisa resulta relevante , seja do ponto de vista teórico, seja do
, rn1i do fa· er isso fiila, . bJ · tu antesª procura de um argumento para a tese. 'Nao tem
L • • , 10 recem-pu 1eou um
<'m u m grave erro · a con · . d
t' b . , .
. ar ,go so re ISSO... Observações desse tipo baseiam-se
ponto de vista pragmático. O caso 4 designa as situações nas quais a pergunta
ao me-nos nào de .mane,·'r'a1coçabo . e qu e as COJsas com o mesmo nome sejam todas iguais. Não o são, não justifica a realização de uma pesquisa social cujos resultados não parece m
via, pon anto estuda ' · ,f · ·fi a promissores nem para a sociologia nem para a sociedade. Os casos 2 e 3 ilus-
.1h,ol11 1amcn1" a me. ma coi·sa º ' r ª mesma COISa requentemente não s1gni e .
. , .,penas a 1go que as pess d .d . h ,
[lkckrr, JQC/R - 1rad. il. . 200?: 1 IS].· oas ec1 iram e amar com o mesm o n ome tram pesquisas caracterizadas por uma específica assimetria entre as duas fo ntes

51
. . ue deve ser expressa, mas que , no entanto 1 _
- · ma ass1metna q , ia0
de rdev~noa, u . 1 . realização do estudo projetado. ário e possível a relevância teórica e/ou pragmá-
const1tU1 um obstacu o a . - . . b com todo o empen h o necess
- eia do própno estudo sao ute1s as o servações d . cio próprio trabalho. .
S0 bre a defesa da.dre 1evan -á citado J trucchi dei mestiere.
. B l e
d
Howar . _ 'Becker reuni
istir à obJeçao - que, se
as no 1 .
ec <er exorta a .
.
serve de alauma coisa, caractenzou multos dos l11e
b . • . d .
l c,

lls
nca
A pergunta a partIT
.
:a l move o estudo sugere o contexto empínco no
qua se osta pertinente. Em termos absolutamente
qual se admite poder ~ _ter u~a res~ finido como o lugar no qual o observador
s t ta a relevância da pergunta do p1 opno estu o cons1derad gerais, o contexto emp1_nco ~o e serntee com os seus obietivos cognosciveis e/ou
es tudos _ que con es _ d " a
. da qual é improvável 1
se esperar a so uçao e um a experiênoa mais coere
. verdadeiro po de fazer
J
"banal", a partir . . .
. . . d Goffmann , "onde a acão
O lugar para dizer a maneira e . está". .Esse.
problema ,, [B ec ker, 1998 _ trad · 1t. • 2007: .118] . No. .mesmo
. sentido, o conviLe
pragmaucbos. 1 ~r - não constitui o objeto da pesquisa. Referindo-se à propna
. . . b.
a res1stIT as o ~e ço-es que contestam o carater penfenco
. dos casos escolhidos lugar - ca e esc arec " ·1 ão estu
.d d . ntífica Clifford Geertz observa como os antropo ogos n -
. · srudo· movimentos sociais que não nveram sucesso; faculdades e
pe1o propno e · b. - . comum ~.l e _c1e (tn·bos' cidades bairros . ..) estudam nos vilarejos" [Geertz, 1973 -
hospitais menores, empresas que nã_o prosperaram, mas tam_ em falenc1as que damos V1 areJOS , ' ' li d ·
d · l987: 61]!0. Essa consideração - obviamente - se ap ca a to a pesquisa
não tiveram O caráter da espetaculandade [p. 120-121]. Em lmha a essas consi-
tra · it:fi• a qualquer que seJ·a a formação disciplinar de quem se empenha na sua
derações, Becker observa o que segue. etnogra c , . · d · · d · -
. - com algum pequeno ajuste - ao mte1ro orrumo a pesquisa qua
Portanto: reconheçam que os seus pares frequentemente julgam a ini. rea lizaçao, e - . 1· s·ma
. · Seguindo como uma sombra um empresário , não e a sua persona 1s 1
11tanva.
portância de um problema de pesquisa com base em critérios que não . d .d d G.
experiência Oobjeto exclusivo das n~s~as teorizaçõe:: _serV1mo-nos . a Vl a e 10:
têm nenhum valor científico, critérios que vocês podem não aceitar.
. Pautasso e de outros empresanos e empresanas para refletir - por exem
Conscientes disso, ignorem os julgamentos ditados pelo senso comum vann l . h dº p .
e tomem as suas decisões [p. 120) . plo _ sobre a relação entre gênero e empresariado [Brum: G erar 1 e o_gg10,
2005]. É este último o objeto do nosso estudo, desenvolV1do em um conjunto
A exo rtação de Becker é seguramente oportuna, principalmente pela for- de lugares que são as empresas e os contextos de vida das pessoas chamadas para
ma como encoraja a inovação ; isso, no entanto, não o exime de uma obriga- participar do nosso estudo. De forma análoga, cond~zindo ~m grupo ~ocal em um
tória análise crítica. Becker diz o que diz no final de uma carreira científica Centro de Saúde Mental, não é esse específico serV1ço o objeto excluszvo das nos-
de sucesso: I trucchi del mestiere é o livro de um afirmado sociólogo publicado sas análises. E ainda, reunindo as narrações de doença de pacientes terminais in-
perto do septuagésimo aniversário do seu autor. É até fácil reconhecer como ternados em um hospice, não é este hospice nem a particularíssima experiência dos
sobre esse testemunho recaia um bias de seleção [King , Keohane e Verba, nossos interlocutores a constituir o objeto exclusivo do nosso exercício analítico.
1994: 28]. Trata-se do testemunho de um estudioso que levou ao sucesso A individuação do contexto empírico passa através da interpretação, por
estudos que, no momento em que foram projetados , podiam contar com bem assim dizer, da sugestão fornecida pela pergunta de pesquisa, mais precisamente
poucos apoiadores. A voz de estudiosos mais obscuros , condenados à mar- da qualificação do tipo de contexto a partir do qual é razoável se esperar uma
gi nalidade , exatamente pela mesma obstinação que levou Becker ao sucesso, resposta pertinente às próprias perguntas de pesquisa, como é apresentado es-
não obtém - necessariamente - a mesma audiência. A moral, por assim dizer, quematicamente a seguir.
qu e posso extrair de tudo isso vai em duas direções. A primeira faz própria Pergunta -> Tipo de contexto -> Contexto empírico
a exortação de Becker para não circunscrever à única solução de "quebra- ca-
beças" [sensu Kuhn, 1970] o próprio trabalho de pesquisa , sem, entretanto , A definição do tipo de contexto contribui à especificação da pergunta e -
considerar esse tipo de atividade como completamente desprovida de valor9. contextualmente - à delimitação do alcance dos resultados esperados, da exten-
A segunda_ev'.dencia a necessidade, para cada pesquisa e, portanto , também e são do seu alcance. Pergunta e alcance das respostas sofrem um posterior ajuste
talvez , mais amda para aquelas que se propõem em contracorrente a defend er na fase conclusiva do processo , aquela que leva à individuação elo contexto
empírico elo qual o pesquisador experimentará 11 .
9. Kuhn 11 970] distinguedua d l"d d d f .. .
eia normal prooride g . d s mo ª 1 ª. es e azer cienc1a: normal e revolucionária. A ciên·
10. Seguem na mesma direção as observações de Martyn Hammersley e Paul Atkinson, que ex-
m:is qne se ªJ)r~scnta1~1:11 0ª11
P1ºcnrtum paradigma compartilhado que orienta a solução dos proble·
· ' o a momento·' probl_emas que assumem tipicamente
· · pressam a oposição apresentada por Geenz com a dupla conceituai setlinglcase: "a setting is a
4ur brn -cabc, as. ()uando os pr 0bl a forma de named_context in which pheno mena occour that might be studied from any number of anglcs:
" emas que a comumd ªde c1enu
rclan nnados ao 11 aradi<>iiia de . í _ .
· ·fi ca deve enfrentar não são mais
·
o , 1e crenc1a quandO . a case 1s those phenomena seen fro m a particular angle" [Hammersley e Atkinso n, l 99 5: -+ 1].
1 n do dr rrisr, de ciê ncia rcYoluc· .. ' d emergem especificas "anomalias" abre-se um
, 1irrn,111,·o de rrprrsrntar e rcso] , 10nana,bl urame o qu ªI emerge um novo paradioma, um mo do
· ' er os pro emas de pesquisa. b
n. o equivalente dessas operações na pesquisa por amostragem é normalmente definid o. rcsp.: ·-
llvamente, como definição do conceito e definição operacional dos casos.
o modo no qual essas três etapas são perco1Tidas assume forrn .
. d . as d1c
em razão ora da pergunta d e pesqmsa, ora a onentação metodol · . eren
. ogica tl1
quisador, ora de fatores completamente contmgentes. No estudo d do~
mite, no entanto, definir de forma mais compl eta a sua natu reza. Lester e Tritter
Fine da cultura da cozinha (culina,y life), dos traços constitutivos doe Ga1y A}·
. . trab~11 qr propõem-se a reconstruir a experi ência das pessoas acometidas por um distúrbio
cozinha de um restaurante, nos s.eus aspec tos orgamzac1onais e esté . " 10 , 1 psiquiátrico severo, detendo-se sobre o modo no qual essa condição influencia a
. d . . d. .d ticos "'
de contexto apropna o e 1me Jatamente ev1 ente: a cozinha de urn , o tip vida delas. Além disso, os autores propõem-se a colocar à prova a capacidade da
st
{Fine , 2009] . Outro caso é o da minha pesquisa sobre a experiênci ~e aur;i 11 / teoria da deficiência, especificamente do modelo social de deficiência, de explicar
0
da natureza, na qual a individuação do lugar onde realizar O estudo r: sagi-aq: de forma eloquente as peculiaridades dessa experiência 13_ O estudo baseia-se na
laboriosa atividade de qualificação do tipo de contexto mais apropriad quereu UlJi, realização de 18 grupos focais implementados na sede de seis serviços públicos,
l997a] . Nessa que foi a minha primeira experiência de pesquisa quat [Carctan0 envolvendo pacientes e profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) na discus-
·- . d o sagra d o d a natureza em contex t ltativa , Pro.
pus-me a representar a expenencia são, primeiramente em grupos separados, e, após, conjuntamente. Lester e Tritter
a dimensão cognitiva dessa peculiar disposição fosse associada à dirn~s n?s % ~ prosseguiram primeiramente individuando as áreas da região das West Midlands
para as quais dirigiriam a sua atenção. Selecionaram, especificamente, seis terri-
portamental, fosse obrigada a uma consonância com O plano das . . nsao con1.
. praticas c . . tórios em razão de dois critérios: o nível de privação de elementos essenciais ao
nas. Isso para exclmr do estudo as formas por assim dizer falsas d Otrd1a.
. _ ' ' e sacra!' . desenvolvimento cultural, social e psíquico do individuo e a densidade dem o-
da natureza, nas quais as declaraçoes de um compromisso em di - , lZaçao
- d reçao a nat gráfica. Dentro dos seis territórios individuados deram início ao recrutamento
nao ecorram comportamentos - por exemplo nos consumos d ure2a dos pacientes e profissionais da saúde, ativando, em primeiro lugar, alguns infor-
·1 · . . ' e, e modo
nos est1 os de vida - consequentes. Alem disso para poder com d geral mantes-chave (key informants) pertencentes a organizações de voluntariado e, em
. . _ . , preen er os tra .
de uma d ISpos1çao abertamente em confhto com as pressões cultu · d . ço: segundo lugar, enviando urna carta a toda população pertinente, com o convite
d d , raIS ominant .
entro o pais no qual eu pretendia realizar o estudo a Itália consid · e: para participar do estudo [p. 654-656]. No estudo de Lester e Tritter a passagem
d· · · . h _ . . , , , ere1 opon un 0
mg1r a mm a atençao para md1V1duos que podiam extrair a parti·r d 0 do tipo de contexto, constituído por pacientes e profissionais da saúde da região
'Ih d ' compar. das West Midlands, passa através da escolha, primeiramente dos seis territórios
ti amento e uma mesma experiência do sagrado da natureza element - .
· 1 ·· - r ' os ute15 envolvidos e, depois, das pessoas chamadas para participar dos grupos fo cais.
para a sua egmmaçao e 1ortalecimento. Decidi portanto estudar uma " · ·
·· " ( b ' , mmona Em todos os três casos examinados a passagem da pergunta a partir da qual
a uva ~m _~ra naquele momento não a tivesse rotulado nesses termos) cons ti tuí-
da por mdividuos que viviam a própria experiência de forma integral , unindo as / se move cada pesquisa ao contexto empírico de cujo estudo se espera uma res-
crenças aos comportamentos, e faziam isso com o apoio - ou a vigilância - de ou- posta é mediado por uma escolha, uma escolha que - por razões qu e esclarecerei
tras .pessoas movidas pela 1nesma d 1spos1çao.
. · - De tu d o isso
· melhor a seguir - podemos definir estratégica. Em todas as três pesquisas consi-
resultou a qualificação
elo llpo de contexto uma c ·d d 1· , d deradas, os casos foram escolhidos em razão da sua capacidade de fornecer urna
. , omum a e, a ias, uas, cada uma das quais chamada!
para ilustrar as duas forma d ·- · d resposta eloquente à pergunta a partir da qual se move cada estudo, de oferecer
, . s e expenencia o sagrado da natureza salientadas: uma adequada sustentação empírica à argumentação com a qual cada pesquisa
uma ecolog1ca e outra esot · · 12 d · o d
enca . s 01s estu os que comparei têm em com um dará conta, da cultura da cozinha , da sacralização da natureza , ela experiência
um traço metodológico qu ·
· . . . e une a ma10r parte das etnografias e que qualifica a da doença mental.
passagem da md1V1duaçâo d 0 · d
.. tipo e contexto ao trabalho de campo a escolha/ A mesma lógica rege a concatenação de cada uma das práticas de pesquisa
d os casos em IJmcos a . . . . . '
d F d P Ia os quais dmg1r a atenção: quatro restaurantes no estudo que se sucedem no estudo dos casos pré-escolhidos. No meu estudo sobre a
e me, uas comunidades no meu caso.
sacralização da natureza eu havia me proposto a explicar as disposições éticas
No es tudo realizado po H I L e espirituais em relação à natureza em duas comunidades: a comunidade de
-- . d d r e en ester eJonathan Tritter [2005] sobre a expe·
n cncrn a oença m ental s 0 b í
. . .· ., . ' re ª onna na qual as pessoas afeta das por uma seve· Damanhur e a dos elfos de Gran Burrone* [Cardano , 1997a)1 4 . A reconstru ção
J a pato 1og,a ps1qmatnca con . .
r)art ir da qL1a l se 111ove O estuVldvem com a sua diferença, a passagem da p ergunta a
O à I'd 'fi - . d0 13. O modelo social de deficiência move-se a partir da distinção entre impairment e disabil ity. Nesse
à arr ictila a· o d enti caçao do contexto empírico apropn a
' e uma resposta - d contexto teórico com impainnent entende-se alguma diferença física ou psíquica que é traduzida em
:i mo. 1ngrm _ qtic r . _ pre~e uma operação - a definição de um plano e
1
I . . disability para efeito das modalidades de aceitação dessa diferença no contexto social.
• , 101ma unente 1dênn·
ca aque as exammadas m ais acima, per· 1
,
1 * Cf. cap. 3, nota 7.
14. Sobre peculiaridades metodológicas desse estudo re torno no capítulo 3, dedicado à obser-
1~· . nhrr n tr111,1 d.1 ilu'> traç.io ,·t1llilrri mais adian . . . . . . dJ
.11.~u mcn1 :1(.H) por mr10 do r xr 111 lo IP I Je no ambuo de uma discussão mais anahoca J vação participante.
P rrc m:m e Olhrcchts-T,·1Pr:1 1 O,.Q _ tr-,rl ;, 1 O.QQ · 170-383 ·
.. . d rado nas duas comunidades foi realizada consid
da expenenc1a o sag 1, d d era11c1
as práticas cotidianas dos meus 1ospe es, as quais part· . o. Na pesquisa oportunista mostra-se - de modo particularmente e~dente -
antes d e tu d o, . d. .d l fi lc1 )
. . , . Cada ato observativo m iV1 ua con gurou - na rea11·d 1ej um traço que, de forma menos caricata , reencontramos na quase totahdade das
em vanos 01ve1s. . . . ade
. a de participar de um ntual em um V1lareJO, em vez dos trab , esquisas qualitativas, a progressiva adaptação da pergunta ao perfil do contex-
uma esco lha . . . d . . , a1h0 p -1 · d
, que se desenvolviam em outro vilareJo; a e assistir as aulas de f· s to empírico do qual podemos experimentar. Um traço , este u tun?, que _ec~rre
agnco 1as . . tsic
,r·ca na terça-feira em vez de sexta. A partir do material empírico ob . q do que podemos definir como a principal peculiaridade da pesqmsa quahtanva:
eso te 1 . . , t1c]
de ois de escolhas como essas e de mmtas outras amda, extrai, por assim di o a harmonização dos procedimentos de construção do dado às características do
a minha interpretaçao a expenenc1a o sagra o nas uas comum ades ze,,
p - d · - · d d d · d objeto ao qual se aplicam e a submjssão do método às pec~li_aridades do conte~-
. . h . d d , con. to empírico ao qual ele se aplica (cf. supra, cap. 1). O m1c10 desse processo e,
fiando na capacidade das redes, que se lenvamente tm a Joga o, e me fon
.d d d . lecer em alguns casos, atribuível à resistência, por assim dizer, do objeto aos nossos
uma pesca que, por variedade e numerosi a e e peixes, permitisse sust
. . . - . entar objetivos cognoscíveis. Na pesquisa social, a aquisição da documentação em-
com boas razões as mmhas mterpretaçoes, respectivamente, do sagrado ec J· 1

, · 15 O 0- pírica necessária à elaboração do saber comp~rtilh~d?. dentro da ~omunidade


gico e do sagrado esotenco .
científica depende em medida consistente da d1spomb1hdade do objeto em coo-
A individuação do contexto empírico no qual realizar o estudo a . perar, da disponibilidade em cooperar das pessoas a quem pedimos para partici-
, . . ' ss1111
como a composição de cada uma das praticas de pesqmsa no seu inter·lüt par dos nossos estudos. Pois bem, essa disponibilidade pode ser negada, e é isso
configuram escolhas cuja adequação cria problemas que na literatura meto. que acontece quando o acesso ao lugar que tínhamos considerado , por hipóte-
dológica são comumente rotulados como "generalização entre casos" e "ge. se, apropriado para os nossos objetivos nos é negado ou quando algumas das
neralização dentro do caso" [Gomm, Hammersley e Foster, 2000, cap . 5] A pessoas que tínhamos convidado para participar de um grupo focal ou de urna
um exame crítico desses temas (a começar pela consideração dos termos mais pesquisa baseada na coleta de narrativas autobiográficas declinam o convite. No
apropriados para designá-los) é dedicado o parágrafo sucessivo (par. 1.2). primeiro caso nos cabe escolher entre a renúncia ao estudo que tínhamos pro-
Aqui, no entanto, resta esclarecer uma última questão relativa à escolha do jetado (queria estudar a experiência espiritual de um grupo neoxamãnico, mas
caso em estudo. Mais acima, a propósito da forma na qual ocorre a passagem nenhum daqueles de quem me aproximei me deu permissão, portanto, renuncio
dos nossos três "estágios": a elaboração da pergunta, a individuação do tipo de ao estudo) e a redefinição da pergunta de pesquisa, endereçada desta vez em
contexto que promete uma resposta eloquente e, por último, a imersão em um direção a um tipo de contexto acessível, que seja o máximo possível afim àquilo
específico contexto empírico, eu tinha referido a possibilidade de um início sobre o qual, inicialm~nte, tínhamos pensado em nos deter (p. ex., um grupo
relacionado ao filão da bruxaria moderna ou Wicca)t 6 _ No segundo caso , a falta
completamente contingente do processo. Isso acontece tipicamente naqu elas
de alguns dos casos para os quais tínhamos proposto dirigir a atenção impõe a
que são rotuladas, talvez de forma pouco generosa, como pesquisas "oportu-
redefinição do conjunto das perguntas a que a base empírica a nossa disposição
nistas" [Riemer, 1977] . Entra nessa categoria o estudo de Julius Roth, Time-
permite fornecer respostas eloquentest 7 . O mesmo processo de adaptação - nes-
lables [1963], dedicado à reconstrução da vida cotidiana dos pacientes inter-
nados em um sanatório . O final da adolescência e os primeiros anos da vida
16. O limite da disponibilidade em cooperar das pessoas envolvidas nos nossos estudos faz-s e
adulta de Roth foram assinalados por repetidos ataques de tuberculose que
obviamente mais premente quando o custo da cooperação é mais alto. É o caso dos estudos qu e
lhe impuseram longos períodos de hospitalização . Uma dessas internações foi utilizam o shadowing, a observação participante e as técnicas de pesquisa baseadas na utilização
necessária perto da obtenção do seu doutorado pela Universidade de Chicago, da interlocução - a entrevista discursiva e o grupo focal - usados de forma repelida com os mes-
em 1954. Encorajado por Everett Hughes e David Riesman, Roth decide , por mos sujeitos. Essa situação, relatam Hammersley e Atkinson [ 1995: 371, motivou Everett Hughes
a declarar, entre o sério e o cômico, que "o pesquisador deveria eleger como problema de pesquisa
as~im dizer, tirar proveito da experiência que as suas precárias condições de aquele para o qual o contexto a que tem acesso é o lugar ideal para a elaboração de uma solução ".
saude impunham a ele, realizando um estudo sobre a vida cotidiana em uin 17. Como veremos melhor mais adiante, essa forma de proceder encontra uma correspondênci:1
sanatório . É evidente como nesse caso a ordem dos fatores é invertida: a vida ~1~na de nota no trabalho de análise crítica do documento próprio da historiografia . A esse respei rn
impô~ ª Roth a _imersão em um específico contexto empírico que ele decide e uul a noção de "área de autenticidade" de um documento, usada por Jerzy Topolski [ 1973 - trad.
ll., 1975: 501] para indicar a "soma daquelas perguntas (problemas) que aquela base de dados t' c:1-
elegei _como º~J eto do próprio estudo, extraindo daquela e:Kperiência a per- paz de responder de forma verdadeira" . Com a falta (ou a substituição) de alguns dos interlo urorc,
g11n1 a a qual Tnnctabl cs fornece uma resposta eloquente. escolhidos para serem incluídos na nossa amostra, o documento que se obtém a partir d:1 Lr:i nscn ·.1.1
das nossas entrevistas ou das sessões de grupos focais levadas a tem10 se rá capaz de responda Lk
forma eloquente a um conjunto de quesitos que dependerão de forma co nsis1cnrc dos c·,rnr.:tul,), d,,
15. ,\ mt1 afo1.1 rrh1iYJ ~o pt i~c us d . . . . Ir'' nosso corpus textual, das vozes e do perfil dos locutores que vão co mpô- lo.
1 ,l,hn~1c,n / M.1 L . a a no tex to e msp1Tada nas refle xões de Anhur Stan .
. . guc iambém as pesqui sas q11
.. _ contra d 1s un . . . . . ('
definitivamente vil ruoso . . .d d :la pesquisa quahta11va, a t cstn ção procurar: cone o risco de não enco nt rar. F .
se caso A flex:1b1h a e l -
m sem obstácu Ios. ' ·aixa de ferramentas, aquela d permit o indi car o estudo de Kund - e por esta última r _ _
prossegue . o111põc111 a sua e , . .d d d t: a co mo um exe \ azao que nao me
ai sobre as técnicas que c . . . d ração às pecuhan a es os con ' rn p O a seguir.
que rec d istemau ca a ap . . _d b ·
mensuratio ad rcm , e u111a s_ . . ente com a dehbeia a a ertura é\o
uma . aplicam Jtmtam . 1.2 Escolha dos casos e amostragem
textos empíricos aos quais se ~ .' que a base empínca que_ sustentará o
1
inesperado, às n~u d anças ;.fil
de rota fa,:.elll com
.
.
ue não se ajusta completamente aque e prc.
.
O exame da relação entre pergu t d
n a e pesqu
trabalho de anáhse tenha um pe qd E base empírica, esse docum ento (cf a considerar a questão da escolha do tsa e contexto empíri.co levou-nos
. - to do es tu o. ssa l . - · que expenment ·
figurado com o p 1anepmen . t s eloquentes apenas a a gumas Per- que se compoe, um conjunto , ou rnelh ar . um caso , as partes de
derá Comecei respos a . . . . or, uma amostra d . d . l
nota 17), portanto, po . _ ·ficada_ da nossa ongmana pergun ta de textos , d e arte fatos ou de eventos A . _ . e tn tVlc uos , de gntpos
' - - - mais bem espec1 . . . ex1crenc1a des lh '
guntas, a uma nova, e1 sao • . t lvez também a alguma outra pergunta à primeiramente, a partir de evidentes e . _ <::> sa esco a tem ori.gem
. 1 uns dos seus e1e1tos e a d x1genoas práticas· - d ,
de pesqmsa, a a g do planejamento do estu o . tudo a uma o b servação mais próxima - . ' · nao se po e submeter
1não se havfa pensado no curso . . , e necessan o escolh
todo suficientes para elaborar uma respo t , er as pan_es daquele
qua . . ferir um outro cammho de harmomzação s a as nossas per\!unt [H
Por comp letude é necessano re ·1 d d f Atkinson,1995:41] 19 .Emoutraspalavr <::> as arnmersley e
. . Trata-se do percurso l ustra o e orma as, essa escolha normal . l.
t e contexto emp1nco. com o objetivo - nem sempre explícito _ de est d ' ~ente e rea 1zada
entre pergun ª . da no seu estudo para a Tech. No apêndice meto- · · b ·d en eras afirmacoes extraídas dos
exemplar por G1de0In Kun ~ sua monografia [Kunda, 1992 - trad. it., 2000: matena1s o tJ. os no campo ao tipo de contexto d 0
'
l -
qua os casos os indivíduos
· '
d 0 Jóoico com O qua encerra os textos, os arte f atos que experimentamos faz em 20 D f ' . '
o chegou a Tech impelido principa 1mente por u m . h - ' parte . e ato, 1sso em que
l71-286] 0 autor narra como . todos nos nos empen amos e o estudo de alouns casos p . h. 1 .
. . : 1 ltura das grandes empresas amencanas e pe 1o desejo . · . d ._ .
s1to de extrair, a partir a _expenencrn
b ar cu ares com o propo-
adqui.rida com a, ob servaçao - mais . prox1ma
. .
genenco mteresse pe a cu .
. ·todo etnográfico Kunda transcorre um ano na empresa l
dos mesmos, e ementas ute1s para satisfazer aquela "asp ·rac·
de colocar a prova o me · . . . . ' . 1 .ao a genera 1 a d e,,
· l.d
, autor_ foi somente depois de ter deixado o campo que mIC1ou [Boudon e Bourncaud, 1982 - trad. it. , 1991: 489] típk a da sociologia.
mas - coni essa o .
1

a se d efi mr · a pergu nta para a qual encontrar uma resposta . Assim se expressa
Também quando o sociólogo analisa um fenômeno si nou!ar (trate-se
Kunda a esse respeito: "Ao longo do ano transcorrido n~ campo_ e apesar d os de um grupo de bandidos, de um episódio histórico ou d e uma carac-
conselhos que eu havia recebido, não fui capaz de defimr consCientemente o terística singular de uma sociedade), o seu objetivo raramente é o de
que estava procurando " [p. 283 J. A delicadeza com que Kunda apresenta ~o dar explicações do seu objeto na sua singularidade, mas de interpre-
leitor a reconstrução do próprio estudo contribuiu para uma ampla celebraçao tá-lo com o mesmo critério de uma realização singular de estruturas
mais gerais [p. 494] .
de um estilo de pesquisa no qual a elaboração de um desenho da pesquisa , o
empenho para uma reflexão teórica e metodológica antes da entrada em campo é Na pesquisa quantitativa, ou melhor, na variante dessa forma de fazer pes-
percebida como um inútil fardo que impede a livre-manifestação da criatividade quisa mais difundida , a pesquisa por amostragem21 , a exigênci.a de estender o
do pesquisador. Isso, com toda probabilidade, aconteceu além das intenções d o
próprio Kunda , campeão involuntário daquele indutivismo radical defendido
19. Ao inteiro processo de construção de uma represemação dos fenômenos sociais pode, talvez, ser
pela grounded theo,y, uma abordagem metodológica que sugere aproximar-se d o estendido o que Amartya Sen [1986: 404 e 424] diz da descrição: \ !\ descrição não é ape~as uma
campo fazendo tabula rasa de qualquer noção teórica [ Glaser e Strauss , 196 7 - questão de observação e relato do que foi observado; ela comporta o exercício ~ talvez dihctl - da
trad . ir., 2009: 91] 18• seleção [ ... ). Pode ser proficuamente considerada como a escolha de um subconJunto ª pamr de um
conjunto de proposições possíveis". _
Os acontecimentos de Kunda prestam-se a uma dupla leitura. De um lado ·
20. Até os mais tenazes opos1tores dos processos e e exten
l são do alcance quer por razoes
' d .l
docu menta também como os mais desencorajantes momentos de impasse d e . d h .· f ndamentado e o alcance aqm o que
epistêmicas (não é possível nenhum npo e con eClmento u _ l ' · as (os fenômenos
st ct·
1 d0 ) quer por razoes onto ogic
uma pesquisa qualitativa podem ser superados com tenacidade e uma boa d o se é desprovido de fundamento não po d e ser e en .' _ . d de superar os limites de
. l . d termmaçao que tmpe e
le imag inação sociológica. Além disso, fingegneria della cultura ilustra, diria d e sociais são caracterizados por uma ra d ica m e d . A esse respeito me permito subscre-
1
um conhecimento singular), de fa to fazem amplo uso]· ,~ es ortamento dos interpretativistas
o nna ig ua lmente nítida, os riscos que decorrem da falta de tematízação de u m a ·t1· [2000· 210 . 0 comp -
ver as observações de Malco l m Wi iams · ·d· d idade vitoriana com relaçao a
ergun ra de pesquisa, porque, como diz um velho ditado, quem não sabe o que . - . . 1·1 o das classes me ias a ,.
com relação à generahzaçao e s1m ar ª t adnütem uma coisa ou outra .
f m mas raramen e
sexo . Sabem que se faz, eles mesmos O aze ' _ d ultados obtidos em labor;n · ·
. . o ual a extensao os res . .d d' . ,.
21. Diferente é o caso do expenmento para q . tos da teoria da probabilt ·1 · ~ J-
. . . . li.;c di)S c:1s11s nbscrvndos
. . . . i:1r11r d:1 .111,1 . . 1 ) .. 1 .' . e ra zão da pou ca atra ri idacl r el a solucão prol..,.,!11·11s11·ca.
_ d corre d o fa to de que
. .1. . 1·hh,,t.1d,1:-- ,l J . .. ._ C' dt 11H1l ú gCt,l , .-1 ICoi··
.. lrrn1,l(', 1:- · . . .. I,..; :111H1:- 11 •1· • . 1~
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.1 l • . j . '() (l 1··1·1'l'C
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- j)L'l"lllll0 - 111 C cJi <..,{' 1 clll muitos casos a cloquenc1a elas unidad es p"r".,
• • . º .,s qu.:t ·rs d trtg1mos
0
. .- . .
a ate ncao
1'l"l'•'t1id:1UII 1: .llll l . • t ·11· L '1lllll'\(ll 1-:-jll'l' t l l ' dcn va .1ustam cnte
, . ntri cidad e l) U . de modo gera
da s ua. exce . l. da ua capac t- ·
11l . 1•~1ll' thili1!,1, 1l' , qt ll' 11·1qt
.
.1 p ... 1 ' . . ,1lw;C11·s p11ss1,·l't> .
l
. .::
I· ,cncrali:::aç-ào cstat1 s tica , <'1
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~fcrcccr um apoio a argum enra cào que \' '111105 co nstruindo não pela
,l llll'lh1)l l •L . . , . , "lll1Íll'11l , ,1 C ,l /.,: . .· .. ). sua r1p1 c1Jadc,· mas
d pela s ua r an 1cularidacle [Maso n. 2002 [23-12 -r·. 8ar bour.
.. ·1u ·di1 :1tt,·,1 (>IL ,. - . tn"'- r;uors . J\ p11mc11 a dcco1
N.1 p1·:-q111:--.1 ' . . ... ·I ic l11 n11·rn1:-- )1l11 . - , . b. . . 2007: _53 1· A rn a_ c~uação _da solucão e talf tica permanece ta mbem quando
. . r · 'l' p,·1-.·,,111" 1 . tili -·iç;Hl dL t1m,1 o sc1va,·ã
1r1·1.1nll', n.ll' p.1 i , , .. j,.1 L 11:di 1;111,·;1. ;1 u ,_, - . ·. I· . ... . n se dcc1de rcnun ~ta r a prin cipal que tão em jogo. aquela da representatividade.
. . , ,·iirid,idr d:1 p1 :-qu · 1 . , lirn cnsncs adcqu.:1c ,1s p.11 ,1 ga para urar prove ito exclusivam ente do procedimenr o u ·ddo para co nsegui-la.
rc d:1 L:-p1 i 1 . . ... .1·I L'lll :111111:--rr:1:-- l 1l e , -. .b -
. . . .1-1111 111 1pr:1th ·" . . _ , 1 c.;tud(). De l,Ho, s.1 e-se qu e., 14
a esco lha casual dos casos O prémio que denv d.i escol ha ca uai cl~s ca-
111:11 :- 111,l:\ .. . j . )·1(11lll'l](l:-- l 11 . . "
.. , ·1in1·11i,·:1s n1hu:-:1 :1.:-- i 11:- 1. , l ·. . , c111 11cq uc11 :1s ,rn10s tras, igual a sos em es tudo tem a ver com a ausência de biase de decão : esco[h1do à
r.t1tlll 1:-- • . ·tlil llÍ\'(lS )t!S l'l,1 -:--l '
. . ,1· 11"11'11' d11:-- cs1ud11:- q11. . . . ·1<.l·1111cntc un1::1 Mdcm d e grand eza cegas, os casos não podem ser se lecionados em razão da ·ua capac1clade ele
n1.111 . l. .. 1 · el e ;1pni:\1lll, . '
·ti, de u111:1 <"t' t1l1't1 :1 i , i,1:-, :--. . . . , -1im:11ivas co m uma margem cl l'. suportar uma tese preestabel ec ida para a qual se quer encontrar confirmacào .
Ili, . . .·. ) ·ll"I t!:11:111111 l:--
inkri11r :1q11cl:1s 111·cc:--:--,u t.1. 1· ..' ·. .. .... d·i 1101 Jula çãü cm estudo, el e uni a Se, por exemplo , com a real ização de um número ionificativo de entrevi tas
,; . . . I · nm:t 1111111 ,11111.1 · . _ .
cn\1 t,1kr:1w l· . 111 ~11111 ( l . - te isso se ja poss1vel - nao co nstit ui discursivas, eu quisesse dem onstrar que todos os apoiadore de um determi-
· " " 1-111111,·:1 - po~tn qt ·, ·
;t11h1:;1r:1qur :;rp rcpr1. ' l ., . 10 drscjávcl. Essa, que é a segu nda nado partido se caracterizam por um perfil moral ao meno duv1do. o. ba ta-
, , tl1· i111 ·tl t1ucr f1rn11a um i1 JJt '" . . . ria prosseguir recorrendo aos inscritos daquele partido entre o hóspedes da
:-,Cllljll'l l '
prisões nacionais 25 . Entretanto , sobre peque nos nu mero a utilização de urna
,- . . . .·. 1, irohahilitl~;1ia :.1 atribuição ci os casos ao, escolha casual das instâncias a serem observadas dificilmente pode levar a re-
1 . , .• 1 l " l<l ,, ,t llOll,l ( ,l 1 . d
d,iqu.-lr, ,Lt t,'<'I 1.11 •1 •1T:~11111 ' 11 · 1 · · -.. . . 1 ·li·un:ida rnndomização), é a Leona a argum cn- sultados apreciáveis . Em um estudo etnográfico. a ideia de e colher ao acaso ,
. · , j· · 111milc (tJ.lt.l·~C(:tt ' ' ]
,:rnp1is ,·:xpa11ncn1. 11 , 1 ' ' l( . . d .. .· . . iior analogia /Perclman e Olbrec lls-Tyteca por exemplo, os momentos ele interação social , as ocasiões rituai ou. mais
· · 1 · I· J·c111nçw 01 ,1crou nro ' · '
t.K:h1. , m p.n11n 1·11 :t .e.u m.,1 11) · ·. ., . ·tcrisão dos resultados. O raciocínio .por analogia,
1
- t> 1 it 1o~o- )l) l. J OS. que .1po1.1 :i ex , _ _ . . simplesmente, os lugares físicos para os quais dirigir a ate nção , dificilmente
1' ' - ir.1, : ... .' ... l _-.. ·1· d, - dr e ·1rutura e o que apoia a extensao dos exnos do expen-
l .b,·.1<ln n:1nt<11n111,h' i 1 ,11111 !I li i~ ~ • . • . 1 poderá fornecer resultados dignos de nota26 . O que funciona. ao con trário , é
mrnt , _ Jl()nn:1lm,·111c r-.·:ili::id,> wm pouros c:isos - ao mars amplo conLexto sooa . .
um procedimento de escolha das instâncias a serem observadas que es tá longe
ll. E,· cl'í!,lllll'll lt'. r:;pc,·i:il mcntc sr es tamos disposros a co locar entre p~rênteses o eqmvalen t~
de ser casual, mas orientado estrategicamente pelo quesito a que se pretende
:ll' qur iw estudo d.: casu .: niwl:tdo como "gcncralizaçáo dentro do caso IGomm, Hamm ersle)
. fosta. 2l\ 1L): lll~-11 l J. :\ s pessoas cn\·ol\'idas em uma pesqmsa por amostrag~m oferecem. fornecer uma resposta e pelas indicações que eme rgem a partir das preceden-
f'.tr,l ,.,d.tum dn, q1t'Siws prnposws :i elas, uma entre as possíveis respostas que estao, ~or ass1111 tes experiências observativas.
b:r. no seu r,·pw ,,ri,'. :\ rscolha recai sobre aquela oferecida pelo entrevistador em razao d~ um
ú'njum de f.i wn.·s comingemcs. que do da percepção do entrevistador ao conteúdo das noti cias
lid.~ s0brc· o prt>pritl jom:il. Com a entre\ista. o que fazemos é equivalente ao que, na esteira dos 24. Casualidade e representatividade, co mo se sabe, náo são sinônimas De uma urna com l.000
.mWíL'S d.: TI, Q 11a11n1111 Soci,ry [Zohar e \larshall, 1994], podemos definir "redução do pacote bolinhas, das quais 300 são pretas e 700 sáo brancas, com um procedimenw ngorosamente_ c_asual
'.: ,,nd.,s·· p.u:1 um objew quamistico: consideremos como estado do caso sobre a propri edade posso extrair uma amostra de 10 bolinhas todas brancas: uma amoStra casual .(cup probabiltda~e
1e nt>s interessa medir. um dos seus estados possÍ\·eis. Esse problema, quando é enfrentado , tem de extração é igual a pouco menos de 3%), mas certamente náo representanva. Sobre a relaçao
lipi , meme uas soluções: uma omológica, outra estatística. A solução ontológica consiste em entre casualidade e representatividade de uma amostra , cf. Marradi 1199?1.
:idmilir a cs abilidade dos comportamentos, reduzindo , com isso, o número de estados possíveis . K h V ba [1994 · 1J6 ] observam a esse respeito como a utilizaçáo de um pro-
25 . Kmg, eo ane e er ' . - . mar res onsüvel pela i11Lrodução de biases,
à r:li: . :\. soluç:io estatística postula um processo de balanceamento dos erros de coleta de dad os cedimento casual ele seleção elos casos possa ate se LO ' lp d· ·a·vel dependente. Supo-
a~buírns_à contingência das II medidas (para II igual à dimensão da amostra) : se a resposta de _ d m base nos va ores a van
1
especialmente do bias de se eçao os casos co ' . . t do -obre três casos que sobre a
Gi01·anm e -mais mtolerame" do que o devido por efeito da leitura do jornal pouco antes da · ·ssemos rea 11zar um es u ~ '
nhamos - observam os autores - que quise d'f t . alto médio e baixo. Escolhendo
en rrensra, as co15as aj ustam-se com Paulo, que forn eceu uma resposta "menos intolerante" qu e ·t três valores 1 eren es. ' ,
,, de\ldo variável dependente em exame, ad 1111 em ' b ·.· el dependente observados na
. porque . ele ainda não tinhª ]·d ·
1 0 o JOma 1ou porque os eventos do dia que precederam a . d (
uma amostra de duas umda es n = - , os '
J) valores so re a vanav
l
.
·c1· . me·ct 1·0 e baixo· alto e baixo. Pois
entrensta o dISpuseram de forro d'f
, b- , . . _d
_ .
· ª 1 ereme em re 1açao a Gwvanni. Sobre esse tema são úteis as
. . .- b. ções· a w e me 10 , ' ' -
amostra recairão em uma destas u es com ma ·. .l omprometiclos pelo bias de seleçao
·nt~rc:asaçoe~ e Perelman e Olbrechts-Tyteca [1958 - trad. it., 1989:309-312 J em mérito à relação - f ece dados chstorc1c os, c b
, pessoas e as suas ações e · bem, esse procedimento d e se 1eçao orn ' d bre apenas um extremo, ora so re 0
elação entre a pessoa e as suas· ~ pa(rdtlcu 1ar as ressalvas sobre a legitimidade de compa rar a sobre os valores da variável dependente (concentra os ora so
açoes a qual os ato 1· · · )
rela ão entre um obieto e as suas .dd s mguist1cos , sem dúvida, fazem parte outro da sua gama) . . CI l McClintock, Diane Brannon e
J propne a es. . h f01. sugerido por rnr es . ·bt· . .
3. 'ma efic az e compacta ilustração da solu ão es . . 26. Ainda que singular, esse ca min ° .
es de um ensa10 que, a J
·ulgar pelas medidas b1 wmemcas
,· llma amostra retirada de uma po
1
_ fiç . tallSl!ca para o problema do grande nú mero Steven Maynard-Moody [197 9] , autor _ ssado despercebido.
·onranan (1992: 302 -304 ]. pu açao nua pode ser encontrada em Cicchitelli, Herzel e (acessível via "Publish or Perish"), parece nao ter pa
teórica mais apropriada Pa
· a mo !d u ra ta.
Squ isa qualitativa, - 0 do alcance dos resultados d
to da pe d extensa e mente pela noção de "transferibilidade" el b d
No contex_ . ·d de dos processos e s a teoria da argumentação a ora a por Egon G b y L.
1 g1um1 a b'I"dade ma · ·A coln , e pela de "saturação teórica " d u a e vonna m-
sustentar a e_ . teoria da proba 1 1 '1h dos casos e de amostragem l ' parte a proposta rnetod 1· · d B
do nao e a de esco a 10 Glaser e Anselm Strauss, a grounded theory E . . o og1ca e arney
um estu . er os procedimentos a-o está implícita - pelo menos n . . fi · xammare1 essas duas propostas
1.dei·a .de dmscrev!dura da teona . d rgumentac d 1. . o meto d o log1cas no nal deste parágrafo princip I .
aª . · tes reflexões meto o og1cas sob . ' ª mente com a mtenção de mos-
interior a mo . das mais recen d d' d te trar os pontos d e contato entre os seus postulad ld . .
de ver - em muitas ·fi 1ente no capítulo e ica o a amos- . . .. . os e a mo ura teonca proposta
meu mo do . . . espec1 can nestas pagmas, a margem, considerarei os limites que recaem so bre ca da uma
o tema. Em/ m,cchi dei ,nefist1 e1e, procedimento como segue. delas. Antes d e entrar
B ker de ne esse 1 . .no assunto , é oportuno aprese n tar a escoIh a termmo . og1-
1
. .
tragem , Howard ec . ti o de sinédoque, na qua propomos que a Par. ca adotada. .nestas
. . pagmas.. Para descrever O processo do qua1 estamos nos ocu-
A amostragem e um P lação de uma organização ou de u"' pando, ut1hze1
s de uma popu . , . . '" . ate aqm a expressão
" . "extensão do alcance". Exc lm· a ut1·1·1zaçao -
te que estu damo d . a sensata O todo da qual e retirada A do termo mais c_o ~um _de g~neraltzação" pela sua estreita ligação _ ao menos
te e maneir • ·
sistema represen ' . stiwída por argumentações destinadas a no plano das praticas d1scurs1vas - com a teoria da probabilidade e da inferên-
· · d mostragem e con e .
log1ca a a . d ue a sinédoque funciona porque io1 elaborada cia. Excluí igualmente a utilização da noção proposta por Guba e Lincoln de
persuadir os leitores eq d · 2007· 89]
de forma defensável [Becker, 1998 - tra . It. , . . "transferibilidade" visto que é caracterizada por um conjunto de referências teó-
_ . . . d argumentação é aqui mais do que evidente. Bec- ricas e metodológicas - relacionado principalmente à "descrição densa" (thick
A referencia a teona a . . 'd ( . . description) - que delimitam o seu uso [Guba, 1981 ; Guba e Lincoln, 1982] . À
cida figura retórica, a sme oque ou pa, s p1 o toto),
ker serve-se de uma con11e . l d f d procura de uma expressão neutra, descartei também "extrapolação" proposta
agem e qualifica o discurso com o qua e en e-se a
para descrever a am Ostr . · d G ff por Alasuutari, porque ambas as suas acepções, a matemática de previsão do an-
.d
sua so l1 ez como uma b arnumentação persuasiva. No ensa10 e eo Payne .
e damento de uma função além dos limites na qual é conhecida, e a própria da crí-
Malcolm Williams, Generalizatíon ín Qualitative Resea'.·ch , os_auto_res'. depois de tica literária, de eliminação de uma frase do texto no qual é inserida, carregam
terem ilustrado as razões que tornam inaplicáveis a lógica da mferencia estatísti- um leque de significados que não considero coerentes. A preferência acordada
ca à pesquisa qualitativa [Payne e Williams, 2005 : 3061 salie~tam a necessidade para a extensão do alcance decorre, além da sua neutralidade teorética, também
de outra lógica, ancorada no raciocínio ordinário e estendida para sustentar da capacidade de expressar - em um nível maior de generalidade - todas as
a plausibilidade das inferências propostas com vistas a diferentes auditórios. noções até aqui examinadas, generalização, transferibilidade, extrapolação , que
Ainda mais evidente é a referência à teoria da argumentação na última edição resultam variantes específicas da noção mais geral. Extensão do alcance, por úl-
do manual de Jennifer Mason que apresenta três estratégias de amostragem na timo, parece-rp.e um rótulo apropriado para expressar a "moderação" na genera-
pesquisa qualitativa. Uma delas, a orientada ao objetivo da representativida- lização invocada por Payne e Williams [2005]. Em sintonia com esses últimos,
de, é rapidamente afastada sustentando a sua inadequação ao contexto a que interpreto essa ideia de moderação não como um sinal de fraqueza que surge
Mason dedica a sua atenção. As outras duas lógicas de amostragem - estra tégi- do confronto com a m<1is aparentemente robusta generalização estatística, mas
ca e ilustrativa [Mason, 2002: 123-127] - sobrepõem-se com particular exati - como um sinal de uma específica sensibilidade metateórica ou, se preferirmos,
dão, às duas for'.nas de argumentação por meio do exemplo contido no Trattato ontológica,.para a qual se considera que a sociologia possa legitimamente cons-
deli argomentaz1011e de Cha1m Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, sobre o qual truir formas de saber local, de acordo com Merton, teorias de médio alcance,
nos deteremos mais ad1'ante · U111 exp , 11c1to
· · e mc1s1vo
· · · exercrc10
· · de mscn
· ·çao
- da que necessa~iamente delimitam o alcance dos nossos processos de extensão do
am ostragem
_ na pesquisa 1· . · · .
qua 1tat1va no mtenor da moldura da teoria da argu- saber produzido momento a momento.
mentaçao, elaborado por u d. .
. 1 . _ b. ma estu. wsa CUJas competências versam sobre este As razões que tornam a teoria da argumentação uma das molduras teóric~s
n 11111 0 am 11 0 é const'l 'd I b - mais apropriadas para dar forma aos processos de extensão do seu alcance s_ao
Bad and th e Pdrs1•a . 1 ud1 o pelo tra _alho de Ester Som1 [2010], The Good, the
· • s,ve, o qua extrai mai d I - as mesmas que tornam o seu uso profícuo no mais amplo contexto da pesqmsa
desenvolvidas a seguir. s e um e emento para as reíl exoes
qualitativa. Essas razões, ilustradas na Introdução a este volume, ref~rem-se ao
:\_jusri ficada re1·eição da gen 1. _ estatuto epistêm1co · dos matena1s · · ·empmcos
·· usados na. pesquisa
. social. e a sen-
J"
[rndcr a prcrrnsões · era 1zaçao estar15 f . d
..
de exi _ d
cnsao o alcance d
Ica como dispositivo para e-
fi - . sibilidade às características do contexto que une as tecmcas de pesqmsa qua 1-
l
e a u11 lrza ão de !reni cas de . . as a rmaçoes construídas a traves t ção persuasiva Antes de mostrar
· • pesqmsa quahta( - I tatíva e o desenvolvimento de uma argumen a · _ .
cm·nJ,·,men ro no ca 111 ,0 da 1 . d iva nao eva, necessariamente, ao _ d !ver essa fun çao, mteressa-mc
. 1 eona a aroume t - . . como a teoria da argumentaçao possa esenvo .
n c,rrrrn ao n1cno. duas ahcr11 . d.b n açao. Na literatura rnetodolóa1ca . . d lado a lado , a teona da argumen-
anvas 1anas d b eVIdenciar como os dois contextos co 1oca os
b e nota, representadas respec tiva-
r considerados como recipr
- possam se b b ·J·d d o,
bilidade, nao . teoria da pro a I i a e , seJ·a
·a da pro ba . " Sep a b a meio do exemplo , a lógica da co mparação desempenh fu d
a um pape I n amental
tação e a reon no "água e o1eo . - resentar um sa er a partir 1 - d ·
quer na se leçao os casos, quer na construção da argumentaçao - concebida .
camente d e
·í
1
rentes, co1
ão elas ocupam-
se em
.
iep b. .
] Com esse o ~et1vo , ta 11t
ce ora'
l
. da argumentaç , 2001 · Haenn1 , 2009 . 1· . o Para esten d er o a cance .de um '
conJ·unto de afirmaç-oes, ora para 1.1ustrar de forma
teona . (Walton, , . .· 5 acordos pre nnmares en t 27
. ões incertas - necessa1 IO . te completa_os seus conteudos
. . Prosseguirei ilustrand · ·
o pnme1ramente a f unçao
- de
wfonnaç m outro campo, sao_ . de discurso . Em uma d isp uta o construçao do conhecimento , para depois passar à segund fu - d
m quanto e . . d dois npos . d s . a nçao o argumento
em u te e o destinatano os d r com um conJunto e premissas por me10 do exemplo, a representação do conhecimento.
o proponen concor a . r
. ·J tores devem ao menos s pressupostos aceitos Perelinan e 1
mte1 ocu . verdades e ao . d - d
ferem aos fatos , as 989 69 78] e após, am a o onus a pro
qu e se re _ rad. it. , 1 : - ' - I.2.1 O exemplo como instrumento para a construção do conhecimento
Olbrechts-Tyteca, 1958 t . de proposição que podem ser usados fVa11
O
as regras da d.iscussão e upo] A dos de natureza semelhante tainbén, A extensão do alcance das afirmações fornecidas pelos casos em estudo ou , em
va, . 1999· 389 . cor
Eemeren e Houtlosser, ·_ b b. . ti·ca o problema proposto pelo cava- outras palavras, a extensão do alcance da resposta às perguntas a partir das quais
.. ntaçao pro a 11is . . -
são necessanos na argume d ser a J·usta div1sao das apostas entre dois se move a pesquisa além dos casos estudados, assenta-se, de acordo com Rosaline
. . p J sobre qua I eva . Barbour [2007: 53], na aquisição de um adequado "potencial comparativo", sobre a
leiro de Mere a asca , t'da pode ser reso!VJ.do apenas acordando
. npem a sua par l ' . . possibilidade de colocar à prova a solidez do "conhecimento" [sensu Wtller, Ruchatz
jogadores que mterroi .. . . _ ,, Assim pode-se pensar que seJa JUs to di-
. 1·fi do de Justa so 1uçao ·
1 , e Pethes, 2007] <que nos propomos a estender, colocando lado a lado um conjunto
quanto ao s gn 1Ca _ d b b'l'dade de vitória de cada jogador, assim co 1110
·d· t em razao a pro a 1 1 finito de contextos identificados estrategicamente em razão da sua eloquência (Ma-
v1 ,r a apos ~d . t que toda a aposta deva ser entregue ao jogador que - no
se pode cons1 erar JUS o . . h d · . . son, 2002: 123-124 J. Imaginemos, por exemplo, que queremos reproduzir na Itália
. ·d í i interrompida - unha as ma10res c ances e viton a
momento em que a pai tJ. a o . . o estudo de Fine [2009] sobre as cozinhas dos restaurantes, considerando quer os
(Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1958 - trad. it., l 989: 273] . Tanto_ a teon~ d a ar- aspectos organizacionais, quer os estéticos da preparação dos alimentos. A elabora-
- to a teori·a da probabilidade oferecem uma soluçao convm cente ção do desenho do estudo, em particular a escolha dos restaurantes para os quais di-
gumentaçao quan . . . .
à antítese entre procura de uma verdade absoluta e renun~ia a ess~ mesma ideia rigir a atenção, não poderá deixar de considerar a extensão esperada dos resultados
de verdade, 0 estatuto epistêmico das afirmações produzidas sera em um caso que teremos como obter. Quais são as nossas ambições? Pretendemos chegar a uma
provável, em outro, verossímil, colocando-se, cada um a sua maneira, no interior reconstrução do trabalho em cozinha que possa ser referido à totalidade dos restau-
daquele continuum ideal cujos extremos definem os polos da antítese. rantes italianos? Pensamos que seja demais e consideramos razoável poder falar elo-
A defesa da extensão do alcance das afirmações produzidas com uma pesquisa quentemente apenas da cozinha piemontesa. Aqui, contamos em poder cobrir toda
qualitativa, os procedimentos que Gomm, Hammersley e Foster [2000, cap . 5] a gama de bares e restaurantes, da taberna de uma pequena cidade ao restaurante
definem como "generalização entre casos" e "generalização dentro do caso", celebrado pelos maiores guias enogastronômicos. A decisão sobre esses aspectos
encontra, na argumentação por meio do exemplo, um entre os modelos mais efi- do desenho move-se, necessariamente, a partir de um preliminar conhecimento do
cazes. No capítulo dedicado ao fundamento dado pelo caso particular, Perelm an contexto, ao menos de um conjunto de "pressupostos" [Perelman e Olbrechts-Ty-
e ~lbrech1s-Tyteca [1958- trad. it. , 1989: 370-392] atribuem ao argumento por teca, 1958 - trad. it., 1989: 74-781 que se tomarão parte das premissas da argu-
n~e, ~ do exem?I? três funções específicas: a generalização de uma regra, a sua ilus- mentação que sustentará os resultados do estudo e delimitará a sua plausibilidade.
Poderemos admitir, por exemplo, com base nos resultados fornecidos por outros
uaçao_ e' por ultimo , o uso 1101·n1a t·1vo d o exemp Io, concebido. para mCitar
. . a 11rn · -
taçao, ou melhor a adoção d ·fi estudos, que os aspectos organizacionais do setor de bares e restaurantes italianos
r:. _ ' e um especi co modo de ser. Esta última função , de 2
ed111caçao moral não tem impo1·t· sejam independentes do tipo de cozinha, piemontesa, trentina, calabresa ou outra ª.
. b_ d ' . . ancia para os nossos objetivos; portanto , irei me
de1c1 so ie as uas pnmeiras reí Admitiremos, ao contrário, também aqui confortados pelos resultados de um ou
1 l d
ol~1er1 vos por uma recente c;mri~~~ ~ ª as e~ modo mais apropriado aos nossos
rc11rc1 da Já refenda monogr fi d
qua li ficam estas dt:as fun ç - ªª
tº d: Willer, Ruchatz e Pethes [2007] , que
e s~er Sonn [2010]. WilJer, Ruchatz e Pe th es
" - t " coração da proposta metodológica de
2 7. O preceito metodológico da comparaçao constan e , .
oes, respecavament " Glaser e Strauss, a grounded theory, é aqui plenamente valonzado. .
e ··represen tação do conheci· ,, e, construção do conhecimento d senha vai depender obviamente
mento . Estas d f - 28. A plausibilidade dos resultados de um eS tU dO com esse e d d
J<; pnnnpa ,s lóo, as de amo L _ • uas unçoes podem ser sobrepostas . _ d - rtir da qual se move: se o postu Ia o e
1 ti s ragem propnas d . . da capacidade de sustentar as obJeçoes ª presunçao ª pa - d t'po de cozinha regional 1ur
1
< a<; - 0 1110 Ja menci onado _ po J ·r ª pesquisa qualitativa apresenta· 1·rre Ievancia
- · das diferenças
· que separam os restaurantes em. razao o
f d d ·gualmente infunda la san
, 11..11 r enmier Mas fJOO ' caracteriza a sua oferta - um traço de contexto - resultassem un ª º· t ' ' •
' - <'.l~.tca e a . n os1raocm ilu I on - 2: 123-127], a amostrageI11
. ra11va. Em amb _ a extensão do alcance dos resultados.
as as acepçoes do ;::ira11m en to por
desempenhado pelo pesquisador envolvido no planejamento do próprio estudo,
enquanto as contra-argumentações a que se propõe a responder tomam forma
a partir da prefiguração das objeções que poderiam ser provenientes da comu-
nidade científica à solidez das conclusões a que aspira e à legitimidade da sua
extensão. Consideremos de novo a hipotética reprodução , na Itália, do estudo
de Gary Alan Fine. A aproximação da pergunta de pesquisa aos objetivos de
extensão do alcance das respostas que se espera obter definirá os contornos da
argumentação proléptica. Para a sua elaboração será necessário considerar as
objeções mais importantes que poderiam ser apresentadas ao estudo e que po-
derão ser prefiguradas no modo ilustrado a seguir3 1.
Visto que quero falar dos restaurantes italianos, é razoável esperar-se
que mais de uma pessoa possa dizer "há restaurantes e restaurantes",
ou seja, que a organização do trabalho em cozinha vai variar em razão
de um conjunto de fatores dos quais deverei considerar na elaboração
do desenho do estudo.
Alguém poderá dizer: "a organização do trabalho de cozinha varia com
a escala do restaurante: um restaurante com no máximo dez mesas
organizará o seu trabalho de forma diferente com relação a um com
cinquenta ou mais mesas. Se não se considera esse aspecto, os resulta-
dos não podem aspirar à extensão".
Alguém mais poderá acrescentar que também faz diferença o tipo de
públic0-alvo, de clientela a que preferencialmente o restaurante se di-
rige. Aqui as diferenças de contexto passam pelos valores que compa-
recem na conta ou pelo número de estrelas atribuídas ao restaurante.
Quem apresenta essa observação acrescentará que, se não se considera
esse aspecto, os resultados não podem aspirar à extensão.
Por último, alguém poderá chamar a atenção sobre a localização do
restaurante, distinguindo os restaurantes que têm sede em uma grande
cidade dos localizados em pequenas ou médias cidades. Também nesse
caso se dirá que, se não se considera esse aspecto, os resultados não
pode~ aspirar à extensão.
Para não se encontrar, por assim dizer, desorientado diante de objeções
desse tipo, o pesquisador irá se preparar prefigurando a aquisição dos m:te-
riais empíricos necessários para elaborar as necessárias contra-argume~taço~s,
com as quais poderá sustentar algo que soará como: "Como v~, co_nsiderei 0
aspecto que considera relevante (dimensão, público-alvo, locahzaçao), e com
base nas comparações realizadas a esse respeito estou autorizado a eS t ender os
resultados obtidos".

. .. d stas objeções constituído pelo estudo


31. A rigor deveríamos imaginar um h1potet1co ª1vo e .' d (de-
- . 1d O d ho que podenamos rotu1ar com 0 o
caracterizado pela menor elaboraçao passive ese~ ' d. - d do desenho do es Ludo é
- d t do de f me a con 1çao 0
senh o-zero). No caso da repro d uçao O es u . nte escolhido e...xclusivamr111e
· fena
sans · por um estudo de convemencia
·- · , rea.lizado em um restaura ,
em razão da facilidade de acesso para o pesquisador.
, .tllt' r . ,n,tili l.1d o . 11 . i, l,' 111 t l 11, . 1 1 1
· ,ni ·. " · · ,t. 11 ,11 t· 11· ·u 1n ir .1 111 il i.:a ·, u dl' u111 :1
.,,,t·
t.
·tlr '. I
_
' t'lnJ' ,IL I ·.'I \
.
l )u llll' il 1t1r 11·11• - , , ,
• • ,1 1 l t 111 .11· 11 lli1d ,1... . o t nu -; d,1 prnva
• ,c:-Lt ·,1, ~ 111d c n·i· 11r h ..
:- 11 ,1 rck,·.111 c1.1 ,1 1 . .
t 111 . . . ' '-, () l t ljl l { 111 ., ... J)l't ) lll\ lVl' . V P l ta 11d, 1 ;\
qur:-1 ,h) n u ·1.tl l.i dr lunrr ,i ·:h, d., pl.iu..; rhil1dadc do L' 11nlH· L· 1mrnt P L'"lL' 11dldu
5-t' ll .11 ·.rn ' C p11d c sn uril ,·,,1··r·r '
1 •ni• r:-cl.1re rr..r t'
· , L r um:1 no ·;11 1. ,1 L1• "a rca L1L'
,utrnt kidndc em u:s 1 c n1 rr os his11 ri 1),1nfn._ 1,. 1. _ r .
• _ _ l '' .. _ ~ . . · . 0' · · '- '- 1l l O1S1\l ,lllll l'lltL1
1 Z aprü -
pt'Slll ct 0 ~ l ri ll ltm t' nl o:-- lt t tll C l lo clo c um cntti e " ckli11c ·u mo a "-;o rna
. }tt rh,
l l.H
11rr,,un1as
' · r ~
(prohlcm , - .) ltt e· ',q ll t.:·!·,.1 l l·,tl 1a rlinte l' c 1paz de r, ponckr
. ..
de forrn n ,·crcbck trn [Topnl skr . 1()7J - tra 1. it .. l. l)r : 5 lll . Podemo di zer
l1nc ú CLHljttnlo dns º?jr~ô- a pre cnt.1 las na argum cnt.1·üo que guia a esco lha
dt1S c ,s os c~n eSlUdo mrltvldtta a "area lc autcnti ciclaclt:" cios ma te riai s emp1ri-
ros aos quais cn~cre ça m no no 50 exemplo . os re taura nte, nos quais reali zar
0 estudo . ou sep , 0 OnJttnto da pergu ntas ~ts quais esse ultimo · ·ão capaz es
de fornecer uma respos ta plausivcl n. Se. a des pei to de tudo, o cstucl io o q ue
haYia apresentado a objeção sobre a releváncia , para as práticas o rganizacio-
nais da cozinha de um res taurante. do progre ·so da calvície elo chef , nutrisse
ainda alguma curiosidade a esse respeito. não poderia encontrar uma respos ta
plausí el ao seu tonnento se a amostra sobre a qual o est udo foi realizado não
tivesse apresentado a questão - obviamente sutil - elo cabelo.
A segunda implicação , a prática, leva a uma reflexão so bre os processos que
podem tomar mais eficaz a constrnção de uma argumentação proléptica com

=:_;"~'fc~~:~'~i~:::~~li:~~~,:!:',:~:re~:e~r::
as finalidades que aqui estabelecemos. A literatura que consultei conve rge em
.::--:~ -= - 4

:_;~·-~
idenúficar na elaboração de um conjunto de perguntas criticas o instrumento
que, melhor do que outros, pode servir a esse objetivo [Walton, 2009: Godden
e Walton, 2007; Sorm, 2010]. Para cada esquema argumentativo, e o argumen-
.-;_-__-_--;:-r·-~-= -:.. : _;;=:.;_ ~-~~lo- m base em urna argumentação prolép tica e to por meio do exemplo é um desses , é possível individuar um conjunto de

::~:~~-:::~::;~::'i;;~;~ ~~~~:~~:~==:';.:
-:. ; :: - :-.i ~;:~.:::: - '.:.:-:-c r..,c-r-:"":e;:1 " ~;a p --:usibilidadi 3. Oi o de outra fo rma
1
perguntas críticas a que é legítimo atribuir duas funções: permitir uma avalia-
ção pontual da cogência do esquema argumentativo e oferecer um guia - um

a·:-::2 a..·.::i . :::z. ri:::: : ~ -:__') S;;"°,K: r _:-.Y->.!.± ·') 1 ::m \"al on w mmon knawledge) que 34. Os argumentos que chamamos em causa - ora a qualidade do cabelo do chef, ora o tamanho
dos seus sapatos - identificam uma forma es pecífica de falá cia argumentativa : a falácia
:;;~ z ::-..:.:..-:.::·.:2·J _'J -:25 :::~~-:o rd.e-,an "5. wm as quais nos con fronta m os .
de pertinência .
:--:f::=::-.:: ·.-r: ·, : r.,_ -,~:-::::r:t;.; :-:r,:-0 uç.ão do c:s udo de Fine n a Itália, cer- , 35. Essa perspectiva mostra relevantes pontos de contato com a noção de "theoretical inference"

rn;fF:lffJtl~~t: J]:i,f1Ii~tt~~;f~ffi]'.
;:~~
tlaborada por Gomm, Hammersley e Foster [2000] para dar conta de uma modaliclacl~ ele exten-
são do alcance das afirmações elaboradas a partir de um estudo de caso e, por extensao, ele uma
pesquisa qualitativa. A inferência teo rética é definida pelos três estudiosos nos termos refenclos
a ~eguír. "A inferi:ncia teo rética permite tirar co nclusões sobre o que acontece sem~re.' ou sobre
11
1> qu<: acont<:c<: com dada probabilidade, em específicas situações teoret1camente clefrmdas 1.. : 1

,A,jr: ti v<J de uma pesquisa ori entada a ti rar concl usões baseadas na inlerência teo rél!GJ co11s1~tr
· · - ·' ,· -
t111 td<:ntíf, car um conjunto de relaçoes entre vanavcrs que "
s·'o Lmivcrs·lis
' '. no scnudo. que _. ~e . mo~-.
. ·1·
lrorrr <:m qual,•utr lugar t JJ'I qut a'> co ne rçc es i:spccr tc,K
., las ocorn rn
' '' ·1 iJandadc de wd;i:, ,I!> 11111 r.1~

., • ' 1 · F ·1 ·r obsc rv·u11 como L'S~:l 1111H1;111,1.ll 1
':ondir,u1:<i" 1fJ. J 03J. A prupó'>ilo , (101111n , ll a111rncrs cy e os e •. ' _. . . ,
. 1 • · ll'lltal CUJOS n :~ ll 11:1( 1IJS ..,, 11> 1 ... t, !1 1111 1, ,-..
1n f1·n:11, ía l trnha " pr(>prío parad ígrna 11 0 m~to ( 0 cx p<.: rill ' · • • I'
r,,,ní:JJ alfrn do lah11rat órío den rro dn qua l fora111 obrido~ urili w lltln 11111 pro 'L'L inwn t,i (j ll · '"
" . "" ",: ' ." ~,.. . / ~ , . ~'- ,. . .. '
, ..,.,,.,,, •. ' .... . aíu.,,a c:omplctarnc111i: cJ qu ·lt aquí de~ ·rí1.o.
r
_ d una argumentação cogen tc
açao c t , .
. ,, ara a fonnu l . _ de suporte mnes1co à es. .,. Pertinência . A pe rtin ência das premiss d
. . d . as e uma argumentacão prolépti-
d aóa1co - P , l · na funçao , dd W
"instrumento pe ªº 007: 280]. Esta u u1 . 2003 , apud Go en e a lton, ca ou se_Ja, o con.iunto as proposi ções qu e i d " .d
' I . .
· _
n lVl ua m as comparaçoes neces-
fGodden e Walton, 2 t tiva [Walton e Reed, or u111 conjunto compac to de sárias a tornar eg1t1~ada extensão dos res ul tados esperados , é medida em rela-
colha da linha argumedns:nvolvida eficazmente~ os requisitos de cogência de ç. ão à pergunta a part1r . a qual se move O es tud o. Esse aspecto e. eV1denc1
.. .
ado de
de ser e rac10na1s . [ forma pontual p or Jenmfer Mason [2002 · 132J qu . b
2007: 280 1, Pº . dizer tornam ope . . ci·a e suficiência Godden e . _ , . . . · , e a esse respeito o serva: "por
. por assun ' . .d d perunen cada dec1sao em mento a amos tra voce deveria se pergun tar se es tas pessoas ou
quesitos que, _ os de aceitab1h a e,
uma argwnentaçao, . esta pessoa d ocumento ou es tes documentos es te
. 277] . . . núcleo de quesitos convida . . . , este
. . .. . , ou es tes exemp Iares d e
Walton, 200 7· . s o prnne!íO . expenenc1a tem a possibihdade de lhe d12 er aquilo que v oce- qu er sa ber " . Tiu d o
. b"J "dade das prenussa . 1 d s e pressupostos que gmam a
,... Aceita 1 1 to de postu a O . isso pode ser ex?resso de forma mais compacta pela seguinte fo rmu lacão qu e
.d ar conJ·unto compoS d remissas a partir das quais se m ove identifica a terceira pergunta crítica: ·
a cons1 er O parte as P d"
_ dOs casos e que se tornam d mografia dos restaurantes 1stin-
se1eçao • . N0 exemp Io a e . I d 3) Os casos c~nsidera~os oferecem elementos úteis para elaborar uma res-
entação prolepuca. d de irrelevância e postu a os d e
a argu m d - postu 1a os . . posta ao quesito a partir do qual se move a pesquisa?
·mos dois tipos de postu Iª os. stulado que decreta a 1rrelevancia
gw . . ·a pertence o po . .,. Suficiência. Suficientes devem se r as razões qu e, movendo-se a partir
relevância. A primeira.
caregon
pelos restaura
ntes seJ·a ela piemontesa, trentin a
, ' das premissas de uma argumentação, motivam a adesão às suas consequ ências.
do tipo de cozinha propoS ª _ d t nização do trabalho de preparação
odulaçao a orga . Tudo isso, em uma linguagem não técnica , pode ser expresso com a noção de
calabresa ou outra, na m d· • ·a ·ndividuam um conJunto de fatores
. lados e re 1evanc1 1 . _ força da argumentação. Sob esse perfil a força de uma argumentação pro léptica,
dos alimentos. Os poSW . _ d t abalho em cozinha: a d1mensao do res-
d J a oraamzaçao o r elaborada para defender a legitimidade da extensão dos resultados esperados,
capazes de mo u ar_ _b (a des vs pequenos e médios centros) e o número
taurante, a sua locahzaçao bran . depende essencialmente da eloquência dos casos considerados, dos casos que
de estrelas que lhes são atribuídas. . constituem o componente empírico das premissas a partir das quais se move a
. · d t l dos os que decretam a irrelevância de um contexto argumentação. Desse ponto de vista é possível distinguir duas configurações
Dos dois npos e pos u a , .
· - l ue ao menos diretamente - podem atacar com ma10r diferentes de casos, em razão da qualificação de que podem dispor, quer pelas
comparativo sao aque es q - . . ..
força a cogência da argumentação. A_implausibihd~de _dessa classe de p_ostula- relações que o desenho da pesquisa institui entre elas, quer pela relação qu e é
1
dos determina um sensível enfraquecimento da cogencia da argumentaçao p ro- instituída entre os casos em estudo e outros conjuntos qualificados de casos. A
léptica e, portanto, da legitimidade da extensão dos resultados do estu~o. Se, qualificação dos casos modula a sua eloquência, acrescentando a força das argu-
por exemplo , fosse precisamente ao longo das linhas que separam as diversas mentações que os incluem nas suas premissas. Nisso é possível reconhecer uma
cozinhas regionais que se mostrassem as maiores diferenças organizacionais no semelhança relevante com a noção de leverage, de capacidade de alavancagem
trabalho de cozinha, o fato de isso não ter sido levado em conta (p. ex., dirigin - proposta por King, Kehoane e Verba [1994: 29], que se refere à capacidade dos
do a atenção apenas para os restaurantes piemonteses) só pode mutilar o valor casos em estudo de "explicar o máximo possível com o mínimo possível".
do estudo. Os postulados de relevância criam menos problemas; descobrir qu e • Suficiência com casos pouco qualificados. Comecemos pela primeira con-
uma fonte de variação não é tal constitui, de qualquer forma , um progresso na figuração, aquela constituída por casos pouco qualificados, onde é útil distinguir
36
~qui~ição de conhecimento. Ao contrário, o que cria problema é a falta de te rna- dois percursos diversos de extensão do alcance, entre os casos e dentro do caso .
tizaçao de um fator de contexto relevante. Se, por exemplo , no curso do estudo O primeiro percurso obriga o pesquisador a justificar a extensão do alcance da
surgisse
. de forma inesperada
. . que as .d 11erenças
·e que mais ·
contam na orgamzaçao · - resposta às perguntas a partir das quais se move a pesquisa além dos casos estu-
~o trab~lho em cozmha dizem respeito à fonna da propriedade do resta uran te dados. A extensão dos resultados obtidos na hipotética réplica da etnografia de
uma dimensão não interceptad . . .
.d . d
ons1 e, a o enfraquece s · 1
ª no nosso exerc1c10), o fato de isso não ter s ido Gary Alan Fine (cf. supra) dos restaurantes envolvidos no estudo a um mais am-
ode mos obter as p . . endsive mente a eloquência do estudo. A partir d isso plo conjunto de casos análogos (os restaurantes italianos, piemonteses, turi~eses,
nme1ras uas perguntas críticas: de um bairro específico de Turim) entra nessa categoria. Aqui a eloquênci~ dos
l) Em razão da pergunta de . , casos estudados e, com isso, a força da argumentação que defende a extensao do
citos e implícitos) a partir d/e~;tsa, os P0st ulados de irrelevância (exph-
2) Em razão da p d q se move ª argumentação são legítimos? Gomm Hammersley e Foster [2000,
erguma e pesquisa os 0stu l 36· Os dois percursos coincidem com aque1es rotu lados por , ,, _
cobr<' m os rrincipais aspec tos d f : P adas de relevância adotad os " " 1· - dentro do caso . Pelas razoes expostas
cap. 5J como "generalização entre casos e genera IZaçao _ " - d 1 . ,.
o enomeno em estudo? · 1· - " · · preferida a expressao extensao o a cance .
mais acima (cf. par. 1.2) ao termo "genera IZaçao e aqui
obcrtura - não necessai-·
rali e1e c . 1;:i _
depende dO g . relevantes. Se, po1 cxcn1 pln faz referên cia à teoria da argumentação , a indicação mais cô ngrua é a deJennifer
·sperac1os, ara uvas . ,
los resulta dos e íi ,uraçücs coi11P' tes dizem respeito - conjunta Mason 120? 2 : J 36 1, ~arn ª qual O núm ero de casos para os quais dirigir a aten-
alcance ( das con rg · ·taun1n ) -
' 1 oniogêneo - a os nossos rcs ' e:dios v.~ . grane1es ' ao nün1c1·c ção "deven~ ser sufic ientemente grande para permitir co mparações eloquentes
rnen1e , 1 ntes par, ·nos e 111 1· - ( l
tendo em vi st a ª p_ergunt~ a partir da qual se move a pesquisa , mas não tão
.s co111pan1çõcs r~ evt restaurantes (peque J estrcl.1s) , à loc~ izaçao grande\
,1 1c -à di111cnsao( OS I · (1 estrela vs. 2 ou . de configuraçoes comparati va grande para torna r impossi~e l a análise de detal.hes e nuanças referidas a algum
111cn f·ridas acc s . I' )·onúf11eJO \
de cs1rcl.1s ~-?;~ ~ ·s pequenas e rnéc r;1s , ira a (,gura 2.2.
cidades vs. cic,1c (. . , 1 ·1 oi(<l, corno 1110s
aspecto específico do material empírico". Essas indi cações estão resumidas nas
duas perguntas críticas que seguem .
1 ,. . n:sulrn ,gu,1 . 1 " 4) Em razão dos objetivos de exte nsão do alcance dos resultados esperados,
para co Jll 1 · . '·rico estudo so Jrc a cu ltura d·,
n u111 h1potc , o grau de cobertura das configurações comparativas rele vantes é adequado 7
. ·onfrontadas r1
2 ( onfigurnçoc~ ( 5) Para cada uma das configurações comparativas apresentadas é possível
Figur:t 2.
cozi11ha" excluir com boas razões que o caso ou os casos selecionados não identificam
Restaurantes
Grandes situações especiais ou anôma las, inadequadas para ilustrar as suas peculia-
Pequenos e médios Com 2 ou ridades?
Com 1
Colll 2 ou 3 estrelas
( OIT11 1 estrela Para a segunda modalidade de extensão do alcance , aquela que se move das
e trela 3 estre élS
configuração 3 Configuração 4- partes do caso observadas aci caso na sua inteireza, é útil a distinção proposta
o,~lgurJçil~,--con flguraçã o 2 por Gomm, Hammersley e Foster [2000: 108-111] entre as dimensões sincrôni-
En1 cld,1cles µequr.n,1s~ -
e rnécflüS - configuração 7 Configuração 8 ca e diacrônica dessa fprma peculiar de sinédoque. Esses aspectos mostram-se
--;;nguraç,~o 5 configuração 6
E111 grJncics cid,1dcs Co de forma particularmente nítida no trabalho etnográfico , mas caracterizam -
·- ainda que de forma diferente - a produção de documentação empírica baseada
no emprego de todas as outras técnicas de pesquisa qualitativa. Imaginemo-nos
_ . • c. traç:õcs varia em razão cio número e da
. Hll"'l da!> orto con11g 1 ' h novamente às voltas com uma etnografia do trabalho em cozinha, desta vez, po-
() grau t 1t.· co bt l • ' . a cada uma delas. Em lin a geral ,
ltc1cnigc1H ,e,ic t os ·: · _
.
.. 1. 1, d - nsns cons1c1erac1os par, ' .
. d é necess,üio poder exclmr que o
a
rém, estamos às ~oltas com cozinha de um navio de cruzeiro, enorme e cheio
i·ir·1 mela tuna das conhguraçocs apresenta as . . ~ 1 . 1 de gente, da qual nos propo:µios a estudar as peculiaridades organizacionais e
1• ' _ d · 1. (fiquem situações especiais ou anoma as, mac e-
raso ou os casns cstll ac1os ic en 1.1 . 17 • do ode ser obtido rno- estéticas no breve tempo de,um cruzeiro de 15 dias. Sozinhos no nosso trabalho
quadas para i/11srrar as suas pecuhandacles . Esse iesu lLa p de campo e com pouco tempo à disposição , seremos obrigados a escolher os
vendo pnr assim dizer, individual ou simultaneamente, duas alavancas. Pode-se lugares e os tempos da nossa imersão culinária. Não poderíamos estar na segun-
prossc~uir acrcsccniando o número e a heterogeneidade cios casos chamad os da-feira de manhã nos locais da cozinha que se ocupam da preparação dos doces
parn ilustrar cada configuração. Pode-se acrescentar a eloquência de cada caso e naqueles - distantíssimos - o~de se prepara o peixe. De forma análoga não
convocado para ilustrar cada configuração, documentando a sua tipicidade. A poderíamos observar o trabalho dos chefs encarregados dos doces nas segun-
possibilidade de documentar a tipicidade de um caso - como será dito melhor das-feiras de manhã e também nas outras manhãs do cruzeiro, porque a ação se
a seguir (cf. infra, par. 1.2.2) - assenta-se na disponibilidade de fontes inde- desenvolve também em outros lugares. Vamos nos colocar, portanto , o proble-
pendentes que, movendo-se a partir de uma pontual descrição do domínio em ma da "generalização diacrônica" e da "generalização sincrônica". ~scolhe~~o
exame, permitam uma definição suficientemente precisa dos traços capazes de ou, se preferirmos, fazendo uma amostragem de tempos e lugares, e necessano
tornar típico o caso convocado. dispor de elementos suficientes para fornecer uma,imagem completa~ente elo-
Diferenrcmente do que acontece para a pesquisa quantitativa, aqui não se quente. Se, por exemplo, no nosso navio o cardápio prevê d_oces so~st_ic_ados na
1e111 uma fórmula capaz de fornecer um número à fatídica pergunta: "De quan- terça-feira e no sábado, e doces mais comuns nos outros dias, se h~1tasse~os
e · e no sábado , podenamos urar
ios cas~s de~ ser a ~inha amostra? "39 No terreno no qual nos movemos , que a nossa observação à área de d oces na terça-1eira
-
conclusões impróprias sobre a vocaçao este ica ' t' dos chers
:J · •
observados nos pou-
.
17. :\ludo aqui a ourra acepção da arg - . . d eparação dos doces, por assim
º· ~q11cl,1 roncchicln omo. u1~cn1açao por meio do exemplo apresentada neste cap11u- cos momentos no qual quebram a rouna a pr . d
. . . ins1rnmc1110 e representação do conhecimento. esses é poder dispor e um
dizer prêt-à-porter. O que acontece em casos com 0 ..
R. ( nmo cl,m m.1is adianrr, a solução oferecida " - ' · -d strategicamente para permltlr a
, ·.lo 1ro11r.1 " /(, /a,cr r Strauss 19,)7 d . para esse problema a partir da noção de satu inventário de tempos e de lugares construi os e
. · , ' - Ira . 11 ., 2009· 9]-92] . 1 ez
e drm,m, pnr ,s,o sr rorna realmeni r i·r· . · apresenta mullos problemas, ta v
e1 1c11contar com ela.
73
. ossa pergunta de pesqu·
. busta a n .- . isé\ ri ais [Powcll , 1985: xxi]. Appl e Press é urna pe
,J ucntc e 10 . riain 111a1~ opo1 tunas Pod · 30
1.
empregados; puhli ca menos de cem li vros qu ena ec itora na qual trabalham
osW ( oq , . - uc plll ecc e. . · · PI ao an o. quase exclusivamente de
. de unu1 rcsp t s cnncil:, q ciências soc1a1s. um Press . é uma grande edtt ora , conta com ma .ts de 400 em-
eh1boraçao
. esses ;1spcct 0 ' s as pergun .1
,,sos elll estudo oferece111 ,,.1
:i • . . . - ., nos e" . l '- e. pregados;. _ .a cadda ano publica mais de 400 livTos , re 1aciona
· d os as. c1.enc1as
. . sooa1s ..
Puunr 1 soar assun. s d1s "I1llc1socs nt·1 a parttr da qua se lllov,,. e às CJencias o comportamento.
.d A hipótese qu e gu ia
· o tra baIh o de Powell e. a
r - e KlllPº ' d · pergu ' '- é\
ó) os Jugarc:, rcspLin er a de uma homogene1 ade nos processos decisionais qu e persiste · a1-em das d·. 1reren-

mentos su fic1entes para Juoarcs e os tempos das "in1 ças


. . que
. sep.aram_ os profissionais
. _ do. secrmento
o do merca d o ed.Hona · l para o qua1
-a7 · queos to f e1 . ding1u a. atençao. Essa h1potese grna a escolha do s d01·s casos - max1mamente ·
pcsqu1:, . -.·,cs par:1 e:,.c1uu · 11talas tais para ornecer tnfo
bo:15 ra-v
n f:x1stem ~- q[uaçõeS especiais . ão de uma resposta à pergunta ].
. . ou ano , dissíme1s - e corrobora os resultados a que chega O estudo.
-~~ .. Cl1nfigt1rdn - . t s à eiabo1::tÇ a A força desse tipo de desenho depende , obv1·am en te, nao - do numero
· de
SOl - . . ~' en[eS (0111 \ JS ,l ' , 3J
n1,1çoesad1Hrg casos comparados, mas do seu perfil , ou melhor, da relação que oco rre entre
qu 1se more a Pcsqu1s:1 : .1 rorça da argumentaçao - proléptic
seu perfil e a _pergunta
. a _partir da qual se move a perguntaH , . A apro x1maçao
· -
·ncia com casos qua ~ d
p,uur d. ·1 !'ficados. .-1 1 a 0
ance dos resultados de um estudo e dos casos o maximo possivel dissímeis confere particular solidez aos tracos
•-b·d
Su fi CJC ~ s10 o aIc 1·fi d (
p1ra defender a extt n , 1·-ação dos casos qua I ica os cf. ina1s que- de qualquer forma - os unem . A sua persistência é lida , de forma cons~r-
conCl i ,1quando •
se wrna pu')ss1vel a ull fi dal l.
quer pelas re1açoes - que o desenho
vadora, como o sinal da irrelevância causal dos fatores que marcam a distân-
:i.mp ia , Ira amp II ca '
1 d 1
. ) cuJ·a eloqutnc1a resu elação que é insutm'd a entre os casos
.
cia entre os casos observados; de forma menos conservadora, como O indício
ac1m.1 1 quer pe Ia r
da pesqu1SJ insumi entre e es, ualificados de casos. A elevada capacidade de de uma regularidad~ transcontextual. A primeira lei tura leva , por exemplo,
em esrudo e outros conJunws ~ h Verba 1994: 29] desses casos depende a sustentar que as diferenças na estrutura organizacional, nas políticas e nas
. ) [Kmª Keo ane e , , .
al:nancagem (lcuragc º ~ . t nor de desenhos logteo-comparattvos práticas editoriais que separam a Apple Press da Plum Press, não contam na
essenc1al men te da sua . mscnçao d no . moniparação
e dos casos mais . distantes
. (most determinação das escolhas editoriais, cuja variabilidade não se pode excluir,
. . . rei quatro e1es. a.c dos casos mais semelhantes (most sunilar
..\qm. exarruna . mas se ocorre, é a outra coisa que deve ser atribuída . A segunda leitura, mais
0 audaz, leva a identificar as homogeneidades dos processos decisionais indivi-
;rr.
di»crc11c . • dcsio-11
S)Stcms b. ,
) a comparaça
d cn'ri·co (baseado no argumento da dupla hie-
. d ·911) 0 desen110 o caso . . . duados por Powell como uma especificidade do segmento de mercado a que
s_,scm15 esi., 'd _ ntrário-!O Os quatro procedimentos mdividuados
rarquia) 1 Apple Press e Plum Press pertencem. A extensão do alcance dos resultados
. ' o uso· o exemp 1 mparação o co entre. poucos casos, como np1camente . . acon- obtidos com esse tipo de desenho comparativo baseia-se em um conjunto de
se ap11cam, seJa pe a co adas seJ·a pela comparaçao _ entre os casos de uma
tece nas emogra fias Compar , . postulados, nem sempre explícitos que , na perspectiva adotada nes tas páginas ,
amostra, como acontece tipicamente nos estudos baseados no uso de entrevistas configuram-se como premissas da argumentação proléptica. Esses postulados
discursivas ou de grupo focal. referem-se à natureza do processo que liga os fatores usados para marcar a
Uma das mais eficazes ilustrações do desenho baseado na comparação dos distância entre os casos comparados (estrutura organizacional, políticas e prá-
casos mais distantes é constituída pelo estudo de Walter Powell, Gettíng into ticas editoriais) e os traços ou o traço que os une (a decisão sobre a publicação
Prinl [1985 , apud Platt, 1988: 15-16]. Powell propõe-se a reconstruir os proces- de um volume) . Acredita-se que os estados opostos dos casos em relação aos
sos através dos quais, na editoração acadêmica, chega-se à decisão de publicar fatores que os definem como maximamente distantes (p. ex. , o caráter light da
um volume. Com esse objetivo realiza uma etnografia comparada sobre duas estrutura organizacional da Apple, contraposto à organização mais complexa
e~itoras ac~dêmicas, a Apple Press e a Plum Press, unidas por uma sólida posi - da Plum) devam ser considerados como, virtualmente, os mais capazes de mo-
çao financeira ~ pel~ público ao qual se dirigem; mas separadas por profundas dificar o perfil elos casos em relação aos traços que os unem (a decisão sobre
difere nças relauvas a estrutura organizacional, às políticas e às práticas edi to· a publicação de um volume). Em outras palavras, acredita-se que todos os es-
tados intermediários entre os casos considerados opostos entre si (p. ex., uma
estrutura organizacional no meio do caminho entre a essencialidade Apple e a
39. Juntas, as duas perguntas expressam i 1 . . . - Jl
l 351, "critério das circunstâncias esp .. "gu~ m_e~t: crnenos propostos por Sorm [20 10: 1 · complexidade Plum) tenham um impac to mais limitado sobre o traço que une
40 O ,. ecia1s e cnteno do período crítico".
. s quatro desenhos examinados no texto . -
nr r Vrrha f 1994], podemos definir Lem em comum o que, de acordo com King, Keoh~
'.'·ja, pr·rrni1 crn "explicar o máximo p co~ol e1evada "capacidade de alavancagem" (l everage) ; ou 41. Para um aprofundam ento sobre os primeiros desenhos comparativos_ apresentados nestas pá-
OSSIVC com o mí . ·n M
r11 1c nu 1ros proccdirncn1 osalém d 1 ·1 mmo possível" [p. 29] , É razoável jn, ag11 ' ginas, most different systems des ign e most similar systems design, cf. F1deh [1998: 123-132].
lim·1.ri ª Jum~ r os rna i~conhecidos
' aquc es 1 ustracios nO lexto , tenham essa característi ca . Aqui· rie
1 1 75
. , ao menos entre aqueles de que Lenho conhecimento-
ue o pracesso qu e gera . as rcgt1 )<1 ,
,,cred11a-se q sttido. Em ouu as palavr'.'I J.O) Em razão do tipo de an álise a qu e se propõe submeter a docum en-
d sso " em e «s
tudo;2 Além I ' um nos casos . ada deva ser atribuída ' tação empíri ca, o núm ero e a dis tância rec íproca entre os casos com-
os em es ejtl coJJl J obse 1v ao
os c~s s m1nscon1extua1sd~ de transcontexL_ua heterogêneos qu e, por exe111plo parados são adequad os para s us tentar a so lid ez e a exte nsib ilidade das
rida e ue a regulan ª os generanvos ) relevância a um fator r ' regularidades esperadas 7
exclui-se q . d rnecan1sm A pie Press , 0-
1
de openiçao e eJJl esrudo (a P . 1
onaD, para fazer o mesmo 110 o es tudo de Carla Eastis [1998 J, Organi zational Oi versity and the Produ cti on
moe o dos casos . roa111zac d . .· · ) 43
r . çam em um (a estruw1a oº ( ráticas e 1to11a1s . of Social Cap~tal, oferece um~ eficaz ilustração do dese_nho compa rativo baseado
io1ne ião ,níluente
1
tro fator as p
wlado como Press) para um ou mo esse tipo de desenho p05 _ na comparaçao dos casos mais semelhantes (most similar sy stems design). Easns
(a plum ·ebater co . b ropõe-se a colocar à prova a solidez de uma tese , sustentada por uma farta fila
0 urro caso ' d te é oportuno I bém para pesqmsas aseada
d P assar a ian ' fi13 s mas tam s ~e estudiosos e especialistas, pela qual a taxa de participação nas mais diversas
Antes e _ nas nas e1nogra ' C 1 técnicas que preveem a c0 11 5 _
sa ser adotado nao ap~iscursivas ou grup~ oca , sistentes. Um estudo sobre a formas de associacionismo se traduz em um crescimento do capital social, ofe-
de entrevistas b, muito con d recendo com isso uma válida contribuição ao fun cionamento das instituições
no uso s às ,·ezes talll em nuns à releitura a própria tra-
. de amostra , d s traços co1 democráticas. Para contestar esta difusão, ou melhor, es ta espécie de "natura-
truçao . etado para ,nd1v1 uar o d levou à desconversão, poderia ser
apostasia, proJ de vlfa a que . lização" [sensu Moscovici, 1976] das teses de Putnam, elaboradas a partir do
, b gráfica antes do ponto b. áficas de apóstatas provementes de
Jetona JO ões auto wgr r h estudo das formas de associacionismo desenvolvidas na Itália [Putnam, 1993],
ado solicitando as narraç . d ferentes entre si. Os 1atores c ama-
rea 112 irima,s os mais 1 . a autora realiza uma etnografia comparada, dirigindo a atenção para dois coros
,greJas senas, grupos esp distantes wrejas, seitas, grupos espmtuais ativos em uma cidadezinha norte-americana. A escolha desse tipo de associação
, maximamente , º 1
dos para opor como · . d tre aqueles que, razoave mente - ou responde a específicas exigências teóricas: trata-se de associações caracterizadas
r md1v1dua os en .
devenam, nesse caso, se _ , 'd"s da literatura pertinente -, deveriam na maioria das vezes por ligações horizontais que oferecem aos seus membros
md1cacoes extrai " .
melh or, com base nas · , ado de fé Portanto, poder-se-ia p ensar oportunidades frequentes de interações face a face. Esses últimos são dois tra-
1 d1ferentes do propno pass ·
sugenr eI!uras _ d ,, cterizadas pela máxima liberdade de pro- ços a que Putnam atribui especial capacidade em gerar capital social. As duas
expenenc1as e ie cara . . . -
em comparar . d. 1 tes· cultos ora de matriz 1uda1co-cnsta, ora associações, semelhantes na localização e no tipo de atividade proposta, o canto
fessar com formas mais 15c1p man . , . 1· .
de matnz onenta l,. 1greps trad,·c1·011 a1s ao lado de novos movimentos re 1g10sos coral, mostram relevantes diferenças que a autora evidencia fazendo referência à
As perguntas críticas que seguem resume m as observações referidas teoria das contingências organizacionais. Eastis que - tomamos co nhecimento a
partir do ensaio - participou desse tipo de atividade artística , segue em paralelo
mais acima.
e por quatro meses as atividades dos coros que, como pseudônimo , tornam-se
8) É plausível considerar maximamente distantes os casos colocados em
o Collegium Musicum e o Community Chorus. O Collegium Musicum é o coro
comparação 7 Dito de outra forma , os fatores usados para marcar a sua dis-
do Departamento de Música da universidade local pela qual é financiado, é diri-
tância recíproca são relevantes?
gido por um acadêmico e se compõe de vinte coristas ligados ao ambiente aca-
9) As premissas na base do confronto entre os casos maximamente distantes dêmico. Na temporada seguida por Eastis, o concerto para o qual o Collegium
colocados em comparação são plausíveis? Especificamente: se prepara prevê música sacra extraída do repertório de um compositor flamen-
9.1) É plausível o postulado que atribui às características que contradis- go do século XV, com trechos em latim e em francês. O Comrnunity Chorus é
tmguem e separam os casos colocados em comparação, as maiores poten- uma associação sem fins lucrativos, fundada pela rádio local, que se sustenta
cialidades na determinação de possíveis diferenças entre eles? Em outras principalmente na capacidade de arrecadação de fundos dos seus membros. No
palavras , l , ·
'. . 'e_ egitnno considerar como potencialmente irrelevantes em de- Chorus cantam oitenta pessoas das mais diversas proveniências, reunidas por
1e1mmar diferenças dignas d d . .
·d d . e nota, esta os sobre as características ev1den- nada mais do que O amor pela música. Enquanto que ao Collegium aderem
C1a as no estu o d1ferentes da l Ob
que es servados nos casos analisados? exclusivamente brancos com uma sólida preparação musical; no Chorus encon-
9.2) E· plaus,vel,
, '
para os casos com ar d . ' tram-se , lado a lado, brancos, afro-americanos e hispânicos, atraídos, além da
dade dos mecanismos ge . . P ª os, o postulado de homogene1-
conrextua is esperadas?
---- - . _ __
- ne1at1vos respon , . l
saveis pe as regu la ridades erans-
música, também pelas oportunidades de socializar, e m~diamen~e menos com-
petentes no canto e na leitura da música que os própnos homologos do coro
acadêmico. Na temporada objeto de observação etnográfica, 0 programa p~ra .º
Tr:11,1-<.r. dr fnnn:1 r ,rnnida d
' , o pressuposto de 1· . qua l Chorus estava se preparan do compreen dia . trechos extraídos ,
de musi
..
cais
_
l .,r.1 im1 .iprnfuncl.1111,·111 0' 1 mcandade.
o ire estes lemas cf. Kin como Camelot e My Fair Lady, com trechos exclusivamente em lingua mgle.,, ·
g, Keohanc e Verha 11 Q0 4 · o 1-04 ).
a associações
- · volun tárias e produção de capital social . Es pect·r,1camente EastLs
.
st
propõe-se ª mo rar co.mo ª um processo , o associacionismo , não correspo nda
Sempre e em todas as circunstâ ncias o outro , a general tLaçao
·- - d e ca plta . .
· soCla
1 1
Esse desenho comparativo, assim· como ilus trado mais
O · acima
· . e, co nce b.d
1 o
com o obj,etivo de co~figurar ,uma condição na qual o êxito esperado pelo pes-
quisador e ª!tament,e improvav~l, conforme Eckstein [ 1975: 1191 . Aqui. o que
é altamente improvavel é. 0 surgimento de diferenças . quando, no caso da com-
paração entr~ casos maximamente dissímeis, era O urgimento de ho mogenei-
dade(s). As diferenças observadas na comparação de casos maximamente seme-
lhantes são interpretadas como prova da ausên cia de urna relacão determinística
entre as propriedades apresentadas. Especificamente, 0 desvio ,da ·' regra., [ ensu
Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1958 - trad. it. , 1989: 370ss.J em ao menos um
dos casos observados, no caso de Eas tis a falta de incremento de capital social
entre os músicos do Collegium, equivale à formula ção de uma a.firmaçào exis-
tencial "existe uma associação que não promove para os seus membros O cresci-
mento de capital social", que falsifica a afirmação universal "todas as associações
promovem o incremento de capital social para os próprios membros"44 . A força
dessas conclusões assenta-se, além da precisão das observações, na possibilidade
de sustentar o caráter não idiossincrático dos casos comparados, de excluir a
presença de uma particular mistura , de uma singular combinação de atributos
constitutivos da exceção que - de fato - confirma a regra. Sobre esse aspecto
a etnografia de Eastis é particularmente eficaz em mostrar a normalidade, por
assim dizer, das práticas sociais que caracterizam os dois coros comparados.
Também a propósito desse desenho comparativo é necessário observar como
o seu uso não seja limitado à etnografia, mas possa inspirar também estudos ba-
seados em amostras, não muito grandes, mas consistentes como aquelas usadas
com a entrevista discursiva ou o grupo focal. O modelo de comparação entre casos
semelhantes inspira - na realidade - boa parte dos procedimentos de análise da
documentação empírica aplicada a conjuntos homogêneos de casos ou, de forma
geral, de textos. Voltando ao exemplo do estudo das narrativas de desconversão,
seria possível imaginar dirigir a atenção para uma particular experiência espiri-
tual, por exemplo, a apostasia da comunidade de Damanhur, objeto de um recente
estudo meu realizado com Nicola Pannofino [Cardano e Pannofino, 2015] . A
'
comparação das narrativas autobiográficas poderia servir ao objetivo de mostrar
como a leitura convencional da experiência da apostasia como demonização
integral do próprio passado de crenças possa ser contestada - de fato , os re-
sultados preliminares elo estudo vão nessa direção - pelos testemun~~s de ex-
-damanhurianos que conservaram, em alguns casos, um habi~us. esp~ntual que
une o seu modo de ser no mundo de hoje ao que os contrad15tmgmu qua nd º

. . fi - · sal ilustrada no texto reproduz, como


44. A relação entre afirmação ex1stenc1al e a umaçao umver
é evidente, a epistemologia popperiana [Popper, 1934 1·

79
J,
. , . oil'illlj;l(Jt5 tl. 1, l);ini;rnlrnr.
. .,
Também Por
. ) ··d , , C'Ss
·11 i dcniç.h' ;i:, •• ,e; ·tlt' ;1q11t dc-"t rn o, i as sao lrri -J <' llt·.
'\pfl'SSJl',ltll ,1 -" · , , 111 sidcr;1~ oc · · ' e l1 i 1d
l. , e;, ~ , ,,ltl, ,1 5 Ll <I
senho, nti qlll-l -_t- . _<; . ,. A lógica que '-U hfílz .:i <'"-~<'
. _ T!'uni:15 dtllt,l. · . , 111 c scmrlh,1111cs os casos coJ , ·a ao argumenro d d r,,' de' d"·,"' 11 11, 1 ,, de ie,-
rr (crcnc1
cm ln'=> Pl t- . J , .. . nia.x1n1a1J1t . . · :1 . º e, a upa 1 hierar · , 111111 ·1 1'_11 ·1•· 11 ~etl!'
_
1 ,1L1:
. q,·d l\1ns1m 1.1 1 . . ,, ;is difcrc11ç,1s I cs1c ua1s que rlclu e .1 ·
]9)8 - lrnu . ll .. 1989: 356 - Jó·•I r-
11 E p!.nt. . J . utrJ lt11 IJ1,,. ·
· , Dtl O <1C O ,
os s 1
Cp ·r·
11ma cspec1 1ca considcraçà< _h
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t , ( l i - [1·1r,· l
te ,J r._u1 ll'1 1l1 111 ,, 1., .1, .. , ·
cm c\1 111 p.ir,h;;1o: ·J J·. e; irrclcl'antcs: ~- . .· . l ll re a ci . '· ,t par ir d,:
, . . 111,1 fJtl( ,L , J , . seu mr en or mna d1s1inção rn1 1 n11ur ,1 d.1 r,·J/1d:1de qu , .
nnq odcm sli Ll · _ comp:i rados e eglllmo sus tentar _ · r:. . re cu a- clJ ,•,i · I·, _ c1n 111u1n11
· , ·fil dl1s caSl1-" r . . qllc Espec JJlca me11te. adota- e um are açào de e., l l ..l o 11 e11t,,
I . · d, 11 - li ,
, 1cr,1rqt11.1s
, Em ra::io dc1 pt1 ··r :1 iribu1das a ,ato1 es aciden tais . ~1
1- , d <; J]i1l1 poSSíHll ~l ' . ' ati-1b . enlre o qu e se observa em um a h·1erarqu,dPe111 1-.0 .11..1l 11al1d.1dc . irr-, 11111 1 •.
· , . nvcr,,1
d'h ·nç;1s cSp, ra :1. .A.·
115 ambutos de um ou de todos O
t11,
na outra /p. 357). 1 a Retórica d -\ ·. o tp1e ·e f rr~11rnL· p11drr 11h,nv tr
t_Ll .. , c,1,cc1fica comb1na, .10 L e s caso, - fi d e · rt tn tele · · , .. 1 '
n·1s a 1 111,• · ·
- . 1 comparaçao:
. ,
- b
"
traça~ e 1ca_z essa ~elação, quando ·e lê: 'E. ./ l-º,:'. v~·
rnc p111r:1r urna dti ._
coloci dº-" Cil . a que se propoe su meter a doe tambem o e o que e mais fá cil" ( li (b)· e pc , n el P que L ' rn ,11: dilicil .
. d · de ana11se un1 199]) ) . 5e o controle manipulati,·o fi . 18- [0 _ {.jll /h-[ LP f·t·
13 ) Em rnzao i np~ distância recíproca entre os cas os en, _ _ ,1 t: \ruP1rlc .
. · . 0 numero e a . . coi . d rm,1-,e c,1 l 0 . f .
ração cmpmca. d sustentar a solidez e a extensrbilidad d11 · 1 nas comunidades terapêuticas enr· . .. . - qu<1m o e mat · diltul.
. do. rn,n dtnd·1 oco ,
parados são adeq ua os para e as , faltem tais dificuldades ou se · . . . ' · rrcra o, rn otn .tp, onde
. . . . Ja . nas outra . tnst nuic i . I · . . .
difrre ncas esperadas? ,. sigam exphc1tamen1e O obje tivo de r-1 _, l e. u L ur.i que r .w prr-
· . _. . . desenho do caso cntico, a comparação d . e ,lÇOt:S . ,ll1 m:1'\1 rt1t1 (1 - ·1 , ·I ,
·ro d1spo:,1u, o. 0 es1o entre profisswnais e usuário . '~ "l . p<1nt,ma ,

Com O tercei . . . 0 lógico ou melhor, retórico. O desenho do ·


d lano empmco para , . caso O desenho do caso crírico ai· d· r
ca-se o P .
· · baseia-se na UtJ 1i-aça 0
, ._ . de uma forma peculiar de exemplo, o exern 1
. ,, Po
1 . -
.
. . cm ,1 ,orma ilustrada nia1s ,te im,1, n,1(1uai ,
cond1çao esperada (o surgnncnro do conr ro l - . ) h
rn.rn ,pu 1ati vo o . trva-:- l· cm urn
·
cnuco . d menta da '·dupla hierarqma [Perelman e Olbrechts-1': . contexto (uma comu111dacle tcrapcutica ) n·t• c1tt"I . , h b .
hiera uizado. pane o argu !) - · " ,l su.1 pro a ,1te 1ac 1r resulta
rq _ d. 39· 374. 356-364]. Trata-se de um desenho não muir extremamente modesta, pode ass umir t·imbcm t , r
teca, 19JS -tra. 11.. 19 · . . .. . . o . d d ' uu r.t ,orma, oposta «quda n :a-
. b·io mma a no estu o de SharJJ · Nc sa' eoº une" J, 1·orma o caso cnt1rn 1ncl 1v1c!ua um
comum no am 1 das cie·ncias sociais ' que se mostra . _adequado
. a 1de1a de cri··
ticidade que O inspira; para a sua ilustração ~arei refere~cra ao estudo de Victor contexto no qual uma condição indescJ·ach , • tem a m··i .. ·.s <1· lta pro ba1L·1 · Jatf r elt· ,,n
J1 ,e
Sharp [1975). Soâal [(llllrnl i11 rhe Th erapeutzc Commumty. ex~ressa. ~ esse _caso é po_ssívcl relac ionar um estudo dos anos de l lJ60 qu . hoic
sena associado a categoria das pesquisa baseadas no uso de 111 ' todos mi:,to:s
Sharp se propõe a documentar como, dentro de todas as instituições de
(~ualitativos e quantitativos), a excele nte pesquisa dt: John H. Go lcltho rpe, Da-
cura. estabeleça-se - na prá1ica - uma fomia de controle manipulativo sobre vid Lockwood, Frank Bechhofer e Jennifer Platt, Clct,s · opt:r 1iu e sucieca opul ·11-
os usuários. que tem as próprias raízes no que é definido "trabalho in terpreta- ta [Goldthorpe et aL , 1969) . Os estudiosos se propuseram a submeter a ·ontrole
tiro .. da equipe. Com trabalho interpretativo Sharp entende o processo com o uma tese apresentada próximo da diminuiçáo do conse nso da classe perd ri:1 ao
qual cada aspwo da dda dos usuários é relacionado ao paradigma terapêutico / partido trabalhista nos primeiros anos da década de l 950, a do aburguesamento
dos profissionais, e isso fa: com que. por exemplo, a solicitação de um usuário da classe operária. O estudo é rea lizado no dist rito industria l de Luton qu '. com
para trocar uma cédula pelas moedas necessárias para utilizar o telefo ne seja base na teoria que Goldthorpe e colegas se propunham no\'ament ::i ont srnr.
interpretada como um inegárel sinal da sua contínua dependên cia dos p rofissio- tinha a mais alta probabilidade de apresentar os sintomas do abu rguesamen-
to da classe operária. Esses sintomas rn1o foram obsern1dos, e iss au to rizou
nais [p. 1~5} . Parn_ colocar~ prora a d.ifusão desse processo de disciplinam~n lo,/I
Sharp decide dmgir a atençao para um dos contextos terapêuticos que , mais do Goldthorpe e colegas a afirmar que, se nem em Luwn a mucl:mça de Yalores. e
comportamentos previstos pela teoria do ;iburguesamenw cl:i c!:isse operana
que ~ualquer outro, propõe-se a contestar o modelo hierárquico, piram idal das
relaç~e~ cnrre pr~fissionais e usuários, a comunidade terapêutica. Especifica·
menrt '. Sharp a~ahsa uma comunidade de reinsercão social (haljway Jzousc) para . . - - - . - _- e-. - . · ~ irnp,it'-se a mostrar L"L'lllO também em um
sas nova-10rqu111as do setor de wup:i~ tl muun,b. -- 1 r . . . , . i
C.\·pac1emes psiquiátrico ·d d · de ' . . . . • . ., .· . ..1-1-t 'l'l'S en,11,1m1cb rt'~td tem de qu.1 1quer onna
. fi _ s, consi eran o como, também naquele contexto on con1exto
. . carac1enzado por lo11e como11l 11c1:1 , ,b ' ' í.
. _ , . 1 _ _ ... i,; 0 rnnteXtli 110 qual LJ __ __ . _1. . . . _
1 rea tza o propno es
a a nnaçao de formas de co tr l
m )d J·d·
1 d d . _
< ª a e e mteraçao toma fonna45_
,
° . , J ss.1/
n e marupulativo era altamente improvave , e
msendas (embt'llded) em especihc,ts ie açoes ~l1tta ._
.
. - ..J ,
tudo, baseado na combmaça_o u t' uw ei ' _ ~
. . b·~ , .- "tnoor-ífirn tem um perfil tal
. ,·15 t·15-d1 ·curs1va~eo~,n :iç,10 c o ' '
. _ _ -. ·• sobre .1quelas económicas (" th1s
. 1 . , ,. lê 1cT1chs l't' 1açor~~oc1,11 ~ '
. .

.
que 1orna altamente 11nprovave ª pin a 1 • . ' .• ., ·ibout embcddedness" [p. 38)). Uzz,
, . , . 1· ·I IO ·':'\' l!lllll l' COllJtClllrc, f:5 IO' '1 loaica subjacente ao seu esrn d
1s thus a conservattve settmg lll w lJC 1 t . • . . °
- . . • . .. . ., lo " ISO crrw:o, mas, e1e ,1 ' ' º . .
nao faz referencia cxphclla a noç,w e e,· L . e esta indicação bibhografica.
-f5. _l,'mC\ cmp/0 mais recrnrede estudo . ., . , . , con,· o !Orna relacionável a 1al desenho. Devoª 51iecn evm · '
. .. ,, ,,~ ~i ...... , . 1. n-. . . . . . . _quahtatno relac10nadoaodesenhodo casocnt1co e rc- /
. ., ,, ,,n1 P
tar que não teria se apres
. se susten . c11 t
~ ·tíori po ,a .
d fatores pred1sponemes à Sín l élcJo
. wdo. a1º' quais os e to
1 via se apresen dutivos, nos 4~ ll1e
1ª ntextos pro videntes · 15) É legítimo considerar críti co O caso e d .
ern outros co eram menos e depende , antes de tudo d 0 · l b b'l'd m eS tu o, ca ractenzado quer pela
mais a ta pro a 1 1 ade de mostrar a c d' _ . d . '
uesamento gumenro . · ' ac baixa probabilidade de mostrar a condiço_n içao md eseJada, quer pela mais
do aburg . . ade desse tipo ~e ~r e da hierarqma. Se existem boas ra _o,·_ ao espera a?
A plaus1b1hd dOr da leg1tin11dad_ da afirmação de formas de e0 Zoes 16) A criticidade do caso em estudo (o d
e ao re · 1 dizer, 11tt ! . .. u os casos em estu do) é tal que
do que ocorrr ue o risco, por ass1n diferente em duas classes de institui , o e / sustente l . . .dade da sua
_ a p aus1b1l1dade das conclusões es pera das e a 1eg1tnm
para sustenta q repartido de fon11 a exposta ao risco é eloquen te1 Çoe ,
. 1 uvo sep - menos 11e
extensao_. aos casos
_ _ que fazem parte da out ra 1erarqu1a aque la da qual o
h' · (
mampu _a I se das instiru1çoes - c·cas então a conclusão que d 11 le caso cntICo nao e parte)?
d ua1s a c as d d terapeu 1 , _ ecot
as q d pelas comum a es d ser considerada plaus1vel. Além d te
resenta a ua po e . . Iss . O último .caso ,.o. do exemplo. contrário , extrai a pro·pn·a co ge- nc1a
· da ass1me-
·
re P nto da dupla h1erarqt - d roporcionalidade sep lmear ou ao o, tna entre venficab1hdade e fals1ficabilidade de uma afi rmaçao - umversa
· l: e- su fi -
do argume relaçao e P . - I ' ll1e,
. ecessano estipular que a poder excluir que sep poss1ve - ficando ciente - ao menos
_ _ ,, formalmente - uma só afirmação eX1·ste , - · 1do upo
ncia · "EXJste_·
en lh r deve-se hd , d e llo
os umfom1e. Ou me O ' . . ções menos empen a as a e1esa das p . um A que nao e B para contestar a afirmação universal "Todos os A são B". Os
n , ue em insutu1 ·e ler,
exemplo de Sharp- q nipulativo possa se mam1estar em I11ed·d desenvolvimentos da filosofia da ciência da segunda metade do século XX nos
. os o contro Ie ma - . 47 I a
roganvas dos usuan d as comunidades terapeuucas . persuadiram do caráter, que está longe de ser decisivo , do e,'<emplo ao contrário,
dO ue o obsen'a o n
menos mtensa q rudo baseado em uma representativa amo . ao qual é legítimo solicitar não a falsificação de uma teoria, mas a solicitação
d enho em um es st1a
O uso desse es . 1 es problemas. O que cada caso representará se . para uma sua articulação 49 . A isso se acrescenta o fato de que nas ciências sociais
- resenta parucu ar ra
de casos nao_ap d' _ rítica submetida a controle. Se, por exemplo dec as afirmações genuinamente universais são bem poucas; a maioria das vezes 0
a instância da con ,çao e . - · d ' l-
um . d d Sharp nas comumdades terapeuncas e uma grand que é afirmado tem um alcance mais limitado, tanto no tempo quanto no espaço
díssemos repeur o estu O e . I e
social. Entretanto, também na moldura traçada mais acima, o exemplo contrário
. . l Turim e pretendêssemos contmuar envo vendo profissio-
c1dadc, por exemp o, ' . · · d' 'd d
. . . d s rn·nra comunidades terapeuucas m tVI ua as - querendo constitui um dispositivo cuja força argumentativa de qualquer forma supera
na1s e usuanos a . /
exagerar- em noventa grupos focais: três para cada comumda~e t~rapêutica dos àquela do mero caso particular não qualificado de outra forma (cf. mais acima).
quais um apenas com os usuários, outro apenas com os profis~10~~1s e um tercei- O planejamento de um estudo baseado na pergunta de um exemplo ao contrário
ro com profissionais e usuários, cada trio de grupo focal consutuma uma instân- pode guiar eficazmente a articulação de uma teoria de médio alcance ou mais
cia da condição crítica submetida a controle48 . modestamente, pode contribuir à especificação das condições às quais a ";egra"
As perguntas críticas que podem ser extraídas do que foi dito mais acima estabelecida pela teoria não é observada. O estudo de Eastis sobre os dois co-
são apresentadas a seguir. ros, além da riqueza do desenho, na realidade fornece um eloquente exemplo
14) É legítima a hierarquia insrituída dentro do domínio em estudo? Espe-
contrário que se opõe à afirmação que quer uma regular e estável relação entre
cificamente, com relação às consequências ora indesejadas, ora esperadas, associacionismo e capital social.
é legítimo esperar-se diferenças apreciáveis entre uma hierarquia e outra ? A força do exemplo contrário assenta-se na possibilidade de sustentar como
o que é observado não seja atribuído a uma configuração anômala, inusitada de
46. Para uma apresentação critica d0 d d G ld h eventos. Imaginemos, permitindo também o prazer do paradoxo , que o desafio à
Venturini 1201! ). ' eSlu O e O t orpe e colegas, cf. Cardano, Manocchi e
47. Mais acima mencionei como ai ins do . . .
também nos desenho- com . gtb 5 traços distmt1vos do caso crítico estejam presentes 49. No texto coloquei implicitamente o argumento do contraexemplo no contexto do falsifica-
. , parauvos aseados n - cionismo popperiano para o qual uma teoria falsificada pela aceitação da afirmação base que a
mais semelhantes: emambo· . ª comparaçao de casos ora mais distantes, ora
,, o surgimento
ou uma diferença - sugeria a ~ . . _. da co fi - '
n guraçao menos provável - uma semel1rnnça contradiz [Popper, 1934 - tracl. it. , 1970: 74ss.J. Um primeiro redimensionamento do alcance das
, ;01ílon, a sua pennanê . .- . afirmações em conílito com um enunciado teórico apresenta-se nas reflexões de um aluno ele Po-
48. A propôsito, 0 estudo d Sh r . ncia em cond1çoes menos críucas.
tados menos claros. idcmificando
e arp 101 reproduz tdo por Michael Bloor f1986 J que obteve resu 1- pper, Imre Lakatos, que propõe a superação da versão ingênua do falsificacionismo, em um falsifi-
s10na1s cacionismo sofisticado que, de fato, atribui às afirmações em conflito com uma teoria a capacidade
__ <, 1isuanos
· ,
nao relac10nadasnaaocomumdade
d l a •
erapcuuca '
examinada imerações entre P1ºfiis· de solicüar a sua articulação [Lakatos, 1978] . As objeções mais fones à cogência epistêmica do
de_.,,a nature,a C d mo e1o do cont ro Je mampulativo Entretanto resu Ita dos
. - • omeci os por um esttid b
mats 11m1tada D O aseado n d h · ' - a contraexemplo fazem alavancagem sobre a tese da teoreticiclade da observação [Hanson, ~ 9_581
J menor poss1b 1~cumentar como o controle man o _esen o do caso crítico, têm uma cogencJ, que, de fato, faz cair O requisito da independência entre - chremos aqw - o exemplo contrano e
u;~
l1m1trs des-e ;~~~e se manifestar não susc1t~pula11vo de fato não se manifesta ond e não 1~1:
l lSrnho, a cs1rc11a dependê pan1cular mclignaçào. Nisso se percebe um eo
o argumento a que se contrapõe. Para uma introdução clara a esses temas, cf. Loll1 l1998, esp.
cap. 4-8] .
ncia da 5ua rloqurnc1a aos resullados em pínco,
83
- d conhecimento
·n c:;trum e nto para a
re presentaçao 0
O exemplo como i rimeiro lugar, ao
J.2. .2 ão a referência ao caso particu lar serv~~:: :específicos" (Ma-
. ·cs<;a acep ç , "como as coisas [uncionam em co n , os mais apropria-
J mostrar t·d d aso ou os cas ,
ohjrt i o ; ~ I 1. utili zando para es:a ~-na t a -en~ cdefesa da adequação d?s casos
c,on , 200 d com as circunstanu as. E e da experiência do sa-
d acor O mplo o como '
dos, e a ilustra r esse como. por exe .· . . mostra plenamente o
escolhidos par [C dano. 19 97.a ], que esse d1spos1nvo .
da natureza ar . .i
a ra do t uvo ' -
é> róprio estatuto argumen a . l .dos nesse processo de representaçao
p A escolha d o caso ou dos c~s;s env:r: de considerações , ora teóricas, ora
do conhecimento P?de ser gurn a .ª ~~ando a seleção dos casos é guiada a p_ar-
empíricas. Neste ~turno cí::~;tl: sº~:;a das escolhas possíveis pode ser reduz1~a
U·r de consideraçoes emp . . º - por ,assim dizer' convocados em razao
. l 5 quais os casos sao ,
a duas vanantes pe a d . . . d d e O primeiro ob.jetivo, a representa-
. . .d de ora a sua at1p1c1 a . d
ora da sua up1c1 a . determ·1nado domínio é típi.co , pod e ser confia o a um
d ·t que em um , . · · u
ção aqm º. ti.fi adamentc ( c.f. infra) - con s titu i uma esp eoe de m1n1atur:º.
caso que - JUds I e . plo domínio do qual faz parte. A lógica na base dos ois
. mo O mais am · d
nucrodc?s _.a mesma· fornecer urna visão geral do domín io em estu o por
1mentos e ' · - d ·1
pro_ced uma imaoem compacta. O segun do objetivo, a representaçao aqui_ o
me10 e b · . b m relaçao
ue é atípico, vê a atenção recair sobre o caso ou so re os casos qu e, co
; um conjunto relevante de traços, apresentam valores extre11:o_s , por exemplo ,
os mais altos ou os mais baixos da gam a observável n o d om1n10 em estudo . A
radicalização dessa instância leva a dirigir a aten ção p ara o caso ou para os casos
desviantes, concebíveis como o dobro , a antítese dos casos típi.cos. Tanto em um
caso quanto no outro, a tipicidade ou a a tipicidade d os casos objeto de estudo
deve ser documentada por fontes indep endentes , a testada por estudos empíri-
cos que, movendo-se a partir de uma precisa descri.ção do domínio em exame ,
permitam uma definição suficientemente precisa dos traços capazes de torna1
um ou n1ais casos, respectivamente, típico ou atípico. Essa função pode ser de·
sempenhada seja por estudos extensivos, baseados na utilização de técnicas d1
pesquisa quantitativas, seja pelo compêndio - tecnicamente meta-análise (e!
infra, cap. 6, par. 2) - de estudos qualitativos realizados sobre o domínio sobr
o qual se pretende dirigir a atenção [Noblit e Hare, 19881.
Voltemos, depois de um longo jejun1, às cozinhas de Gary Alan Fine. lmag
nemos, ele novo, que nos obs tinen1os e1n reproduzir na Itália um estudo sobre
organização elo trabalho nas cozinhas dos restaurantes. Imaginemos além d i
so ' ' .
~ ue antes ele nos algum colega tenha realizado um estudo extensivo s ol~
51. Portant - ,·ct -
estatut 0 o, _e e, l ente que nao me permito acolher as objeções de Schellens que n eo·am
. , genuinamente argumentativo à ilustração [Schellens 1985 apud Sorm 20 10· 1 -/ . , \ \
gi ca apresentada I t , - - l l . ' ' , . -l . :
ilustrativ 10. exto e poss1ve re acwnar o procedimento de amostragem n u c ~L\ , }n 1 .
' a ou evocat1va[Mason,2002: 126-127] . ~i • '- tl
o setor de restaurantes realizando nada menos que cinco mil ei mpleta-
' llrcvi . .- o de uma regr a, co
os chefs de outros tantos restaurantes, adotand o uma lógica de ani St;i, , - aínda que limitada à modesta d~~~::ç:té aqui é possível extrair as
- . . 1d Ostra ',,.
Pecável que prevê urna representaçao
. _
pioporcwna os restaurai
, . 1tcs e
gr,11 ·
1r, P;retensôeS', d d . Em si ntonia com o que fo
da sua dimensão, da : u~ pos1ça~ geografic~ e d~s estrelas conferidas a n1 ta~:, infun a as. - .
mente riti cas indi cada abarxo . dos para representar
los guias enogastrononncos. Alem disso, imagmemos - exageran do ele, p, rgu ntas c . _ u dos casos usa
pe . . ·dade/atipic1dade do caso o - fundam e n tad as em
também de uma detalhadíssima metaetnografia qu e resuma nad - di ,h, 19) A upw . . do qual fazem parte sao
. d' d . . a incn ,,,. ·dades do con texto
vinte etnografias realizadas por estu 10sos e 1enome em tantos ou os qu, as pecu li an . ' lidas 7
rantes da Itália. A análise desses materiais nos permitirá dispor de tros re,,au bases empíricas suficien temente so . · dades do caso em estudo por meio
realmente detalhado das fonnas d e orgamzaçao 21
. qUaur,
. - d o tra b alho nas couni 20) A decisão de representar as _pec~ha_n apoia em um conhecim ento su-
restaurantes italianos. A partir· daqm· po d enamos
· nos mover em dir nha_ s dr,; d específica msrancia se
. . . . 'b t . eçao ao da ilustração e u~a todo ue a parte propõe-se a represenrar 7
tudo de um ou mais casos t1p1 cos, CUJOS atn u os e - se tivermos sor
endereços nos venham sugeridos pela documentação empírica em 110 te - cujo;
De forma análoga poderíamos decidir dirigir a atenção para alguns e~~o Pücie, '
e~ ficientemente preciso do q
A segunda variante na seleção : os c~so_s ~/;::e h dos em funcão d e um a repre-
em co nsiderações teóricas ,
sentaçãO do conhecimento. ba:::S aer;:~'.pa identificação. por assim_ ~ er, ~O
casos desviantes, identificados, também nesse caso a partir da rica qua~u_ente,
apoia-se em um percurso ~:s casos út~is aos nossos o bjetivos e a ind1V1dua çao
de materiais empíricos em nosso poder. Essa documentação empírica lldad,
. . e, Cüll] J papel, do pe~l do cas:~l~or sa tisfaz os requisitos teóricos id entificados . A essa
05 procedimentos adotados para identificar os casos, quer típicos, qu er at · . ea.
1 1 do caso empmco que fi l'dades didáticas - pode ser relacionad o o m eu
constituirão uma das premissas da argumentação proléptica com a qual n P co1 oria - ao menos com na i ' 1 . . fiz m en ção
fenderemos das potenciais objeções críticas a adequação dos casos seleci os de. categ fC d 1997a] sobre a sacralização da natureza, ao qua Jª
onados estu~º ·as ;a~:'deste capítulo. A ideia a par tir da qua l se iniciou o estudo era
o mesmo procedimento opera nos processos concebidos para ilustrar t" 1 ;i::1~e milenarismo laico, extraída dos es tudos de Léger e Hervieu [ 1983] so-
cidad_e ou atípicidade _dentro do . caso. Vale lembrar aqui o controverso est~~~ b;e as comunidades apocalípticas do sul da França. O es tudo nasceu , po_rta ~to ,
de Chfford Geertz [19 /3 - trad. 1t. , 1987: 399-449] sobre a cultura balinesa, no/ como continuação e ao mesmo tempo ex tensão do program a d e pesqmsa os
qual a briga dos galos "é uma grande metáfora da organização social balinesa'I dois sociólogos franceses. Especificamente, p ropus-me a confrontar ~ntre elas
fCrapanzano, 1986- trad. it. , 1997: 108]52• Também nesse caso a individuação duas diferentes expressões do milenarismo, uma religiosa e outra _laica . ~~m
de uma parte do caso em estudo para ilustrar os traços do todo não pode pres- esse objetivo prossegui, primeiramente, com a definiç ão d o pe rfil ideal-_u_p1co
das duas formas de milenarismo, que através da elaboração teórica admmram
cindir de uma precisa reconstrução daquele todo e da exposição detalhada das
um contorno mais nítido , o do catastrofismo. Depois de identificadas as duas
razões que tomam a sinédoque proposta apropriada.
formas de catastrofismo em um registro teórico , fui à procura dos casos sobre os
Não é raro encontrar, na literatura metodológica ou em algumas rnonogra- 1 quais realizar o estudo. Teriam se tornado casos as expressões culturais que ti-
fias, referências às noções de tipicidade ou de atípicidade do caso em estudo vessem mostrado a mais estreita semelhança com o tipo ideal, respectivamente,
sustentadas por argumentações diversas das - estritamente empíricas - exposrns de catastrofismo laico e catastrofismo religioso . A consulta à literatura per-
~ai~ acima. Dado que, para mim, é difícil imaginar como, sem um~ clara refr·/ tinente, juntamente com algumas entrevistas com informantes-chave, guia-
rencia a um quadro geral - traçado com qualquer técnica de pesqmsa: quah ta· ram-me à individuação dos contextos empíricos que , prima Jacie , pareceram
mais promissores. O encontro com os casos em carne e osso me persuadiu,
tiva ou quantitativa -, seja possível sustentar a tipicidade ou a atípicidade di,
antes de tudo, da necessidade de uma reformulação da minha pergunta de pes-
caso particular em estudo; considero que estudos com tal estrutura apresentem
quisa. De fato, enquanto não encontrei particulares dificuldades para encontrar
uma correspondê~cia entre o tipo ideal de catastrofismo religioso e o caso que
52 · O expe d.iente usa do por Geertz para resumir os traços da cultura balinesa é su bmeu·do a ur 1118
?ud_esse representa-lo - as Testemunhas de Jeová se impuseram imediatamente
crítica pungente no ensaio de Vincent Crapanzano f1986 - trad. it. , 1997: 106], no qual se r ª mmha atenção - não fui igualmente afortunado para a versão laica do catas-
"N- Ob b. - , [ · lo do en
ao stante asam 1çoes 1enomenológico-hennenêuticas em II gioco profondo O lltu . d
saio dedicado às brigas de galos em Bali] não há nenhuma' tentativa de entender os nauvos_ '. ~:~::rno . _M ovendo-me na esteira do trabalho de Léger e Hervieu, fui à procura
ponto de vi·sta dos nauvos.
·
Geertz não sustenta com nenhuma prova verificável as atribu1çor1 variante do catastrofismo na área cultural da ecologia profunda [sens
Naess 1973]
d . - - çõeS I' d - . u
e mtençoes, as afirmaçoes de subjetividade, as declarações de experiência. As suas constru . di t . fi ' , on e, no entanto, nao encontrei posições coerentemente catas-
construçõ. ~ -de conscruçoes - parecem _pouco mais. do que projeções, ou pelo menos c~n fusoes,
,,_ ro icas. Portanto, reformulei a minha pergunta de pesquisa, movendo-me do
ua ubJellVJdade com aquela dos nanvos, ou, mais precisamente, dos nativos con st ruido5
catastrofismo à sacralização da natureza 53 . Com essa redefi . _
pesquisa, dirigida a obter disposições, ao menos aparentem~llçao da Pei-
~ ·vamente formal que õem a solicitar.
deliberadamente

fi1z correspon d er uma qualificação mais precisa do perfil idente , n1en0 s glt1 . o exc1us1 e se prop 'fico
. 1t<t,, d ern urn reg1str . do estudo qu d .-nínio espect
eonsi d erei oportuno representar a experiência do sagrado dea 1-ui:Jzco . iac1· ~· estu o . ubstanc1a 1 cada ouL a
do 1ta 1. c;1sos ern nta O dornínlO s fato de que para . _ de tratamento,
textos nos quais . a dimensao
. - cogmt1va
. . d essa peculiar . disposiç-a I1atu
e
. es e<ll,O·'
teza não 1eva ern ,conecessáno . con siderar O' rias ou o das ms · titu1coes
,_ mais espeCl' fi c os
.
d imensão ao ios 111 ' tanto , e . - es vo 1unta quesitos ue
comportamental, ou seja, fosse obrigada a uma cons _ se asso . l o~ Entre d das assoc1aço , confrontar com , . s propostas e q
onanci c1ac1 d estu o, O l . ca devera se ntas cnuca d gu
no d as práticas cotidianas. Isso para exc luir d o estudo as fonn a co 111 i, e tação pro éptl . ueleto das pergu liaridades a ar -
e I d as, Por
ia sas e sacralização da natureza, nas quais às declarações de
uin e0
o))J
assü11 d· ;
t;:
ªrgurnen
ue re
vestem de su
bstãnc1a o esq
ce Tu
d ·sso em sintonia co
o 1 ·
. m as pecu
l ção a
. 0 advertia:
1ss
com a natureza não decorram comportamentos - por exemplo n1p, t1. h . q gram o seu aI can · d Aristóteles, que com re ª d gurnento do qua1
, nos co 01 ,,,1,. 1nte , . a -á eles e m torno o ar l
d e modo geral, nos estilos de vida - conseguintes. Além disso p 11su · "1/ entação retone 1 d , ecessário admitir que e . , . político ou de qua -
.
ber os traços d e uma d 1spos1çao . - b ' ara Pod 1110s t m Antes de tu o e n . l um rac10omo dos ou
a ertamente em conflito com a er Per f r e raciocinar, seJa e e tos relativos, ou to
s Press - Cc se deve ª1ª ·r os argumen d · r con-
rais dominantes, considerei oportuno dirigir a minha atenção para.111 d· 0 es cuh · gênero é necessário possui h deles não se po e nra )
lh lVid u. quer ' -o se tem nen um ' le 1991 l
podiam extrair, a partir d o comparti amento da mesma experiên . llosq,, muitos; se realmente na b-l.396a (cf. Aristote ' ·
, . . l .. _ eia do "t . 11 (b)· 21-22 , 1 .395
da natureza, elementos ute1s a sua eg1t1maçao e fortalecimento A sagrad clusões (Retonca , · . ·ma pennite uma
esco Ih 1. d'1ng1r
. . a atençao
- para d uas comum.d a d es constituídas. por. inct·Partir . daquui1 _ • • categorias conceituai . ·s , formulada mais _ d aCI ,
s resultados ob n·dos
. . , . .- . d e . l 1· lVidu 0 A referencia as d' tos de extensao o
viviam a propna expenenc1a e torma mtegra , 1gando as crenças s que . _ d. ional sobre os proce 1men _ d finnações ou da sua
e . . . - aos co111 ons1deraçao a ic . A l d da extensao as a . ,
tamentos, e o taz1am com o apo10 - ou a supervisao - de outras pess Por. c squisa qualitativa. o a O . d n· tos mais acima, e
oas 1110 .d i com uma pe cedimentos esc
pela mesma disposição. Ao longo desse percurso - que a minha re vi as tação realizadas com base nos pro . d. de migração do saber
. 1· h .. . constru . represen - f nna por ass1m izer, .
talvez tenha torna d o mais mear - c egue1 a comurudade de Damanh . Çao ssário fazer mençao a outra O ' T de uma transferênc1a
. . . ur e a d. nece - utros contextos. rata-se
elfos de Gran Burrone que, entre as que VIS1te1 (permaneci em outras qu o, do contexto da sua construçao ª 0 " .. ,, d ue são compostas: con-
'd d ) d' · " · - atro co. . - · firmações mas aos tiJO1os e q
mum a es , correspon iam com ma10r exatidao" ao perfil ideal-típico do que não diz respeito asª ' d ..- s" lsensu Becker 1998 -
. . . .. . - s casos . l . omias de mo o gera1 1magen ,
aos quais sohc1te1 ilustrar o como da sacralizaçao da natureza. ceitos, npo ogias, taxon ' f _ nos sociais Essa operação,
d 1·t 2007: 2lss.] úteis para representar os enome ·
A partir da reconstrução proposta surge claramente a lógica dos dois tem. tra · -,
desprovida de qualquer tensão inferencia1, rea iza-se o a
r t d s as vezes que os sen-
plos: a identificação do perfil ideal-típico dos casos em estudo e a associação de tidos conceituais elaborados no contexto de uma pesquisa são usados p~ra dar
d.ois casos a eles, duas comunidades que aproximavam as suas características impulso a outros estudos ou para organizar os materiais empí1?-co_s que ah foram
Ja melhor forma possível. Crucial nesse tipo de percurso é a eloquência, por obtidos. Quando, por exemplo, utilizamos a metáfora dramaturg1ca de Goffman
1ssim dizer, do sentido teórico que guia a escolha dos casos. Aquilo do qual se [1959] para descrever a vida cotidiana de uma comunidade espiritual como um
ropõe a ilustrar o "como" deve recair sobre um âmbito da pesquisa social em contínuo vai e vem entre palco e bastidores, ou quando utilizamos o conceito
orno do qual se disponham nós problemáticos relevantes, enfrentando os quais de "anarquia ordenada", elaborado por Evans-Pritchard l 19401, para descrever
razoável esperar-se progressos, o máximo possível, fecundos, se não no plano a atividade científica em algum dos nossos departamentos, a única restrição que
a teoria social, ao menos no das categorias conceituais que permitem a sua pesa sobre essas transferências conceituais é a da fecundidade heurística. Guian-
ri culação. Sobre esses aspectos versam as últimas perguntas críticas. do-nos para "ver algo como algo" lsensu Wittgenstein, 1953 - trad. it., 1967:
280], esses conceitos nos mostram algo de interessante? Ajudam-nos a elaborar
2 J) A relevância da configuração teórica da qual nos propomos a ilustrar ª5
os nossos materiais empíricos permitindo-nos "explicações semânticas" lAbbott
pe ulia ridades in vivo está suficientemente documentada?
22 ) A co rrespondência entre a configuração teórica individuada e O con·
ºº
2 4
~ trad. it., 2007: 11-151, traduções capazes de contribuir à nossa com~
p~eensao dos fenômenos sociais aos quais os aplicamos? A liberação das r estrí.-
texto empíri co escolhido para representá-la é sustentada com argumentos çloel~ que pesam sobre os processos inferenciais não equivale entretanto ao t 'l p
/aro. e co n vincentes? 1 e e icença que G Al F d fi . , ' t
. - a cons· tiva" ·1 ary _ an me e mu eficazmente como "etnografia espe uh. -
st1
' um e o, mais de escrita do qu d · '
:\. v111tc e d uas p erguntas críticas propostas neste parágrafo gmam _ dos
e.mpírica é lamenta l b . e e pesquisa, no qual a documenta ,:\ '
, , a a\'a lia ão da argumentação proléptica que s~, ~:~pa da seJeçao ve mente su menda à sustenta - d - ·
t.eóricas [Fine 2003· 45· S 11· çao e precanas co nstn . 't.
t , · , assate 1, 2009: l 73ss l Um .
ro contexto, os conceitos de , . ·. a vez 1mportadn~ ' tn '" .
vem mostrar a propna adequa ' ã o a d).
1
l L l (1 t' 1 •\ , ..
empírica à qual se aplicam. Se empregarmos a noção de "anarquia orct . te a plausi-
para descrever as reuniões de trabalho de um grupo de pesquisa de ei,ac)~, umentativas com as quais se defendem, respecnvamen ~utras a-
' Vetí
muito provavelmente, confrontar-nos com a presença de um moder d ª'••os as linhas arg . . .dade de extensão dos próprios resultados ou, em
0
Pl
. 1 a or %e' biJidade ~:ii~;~~%\erna e a validade externa de um ~stud_o_- ~t~:i~: ~:t:~=ã~
apresenta os temas em discussão, concede e tira a pa avra aos presentes·
. . , e der Javras,: ºbTdade atribui o ônus da prova, relauva a leg1um1 a l" d -
d er com argumentos convincentes as razões pe las quais o instrumento . e11,
, l , r. teo,-; à trans1en 11 leitor a qu em - animado por algum fervor genera 12a o
que elaboramos, a noção de anarqma, de qua que, ;onna, mostra-se ade u ·•eo I
dos resultado:,a:~mpanhe os resultados do estudo que está sob os seus ol~~~
Portanto , se não há a necessidade de defender as razões com base na ünpq ada11. I
, , 0 ttaç- propõe-se qu xto ue envia ao que recebe [Gomm, Hammersley e Fos~e~, 20 ,
de uma categoria conceituai do domímo que as viu nascer a um outro n - ao
' l d h ,
n ecessidade de mostrar as razões qu e ah - no ugar e c egada - tornam 1 ª0 h·ªa desde o cdonfte c1·oqna se o leitor dispuser de todos os elementos necessanos para
- r 1eut" 102]. , ,Tu bre
o un ti s por
a legitimidade da extensão esperada e se as suas expecta va , -
ticamente fecundo o seu uso. Concluo este longo paragra10 sobre a exten _ Is,
. 1· .
alcance do saber fornecido por uma pesqmsa qua 1tat1va com o exame d
sao d
o 1
::o
decidir qualquer - foram adequadamente prefiguradas por quem realizou_o
as du umad;, No caso em que faltem uma coisa ou outra , ou pior, ambas, a extensao
propostas metodológicas mais acreditadas apresentadas n esse terreno , a elab as 1
eSlU ri·sco uma aposta tão incerta quanto aquela de Pascal, mas talvez
da por Egon Guba e Yvonna Lincoln, conhecida como "transferibilidade" e ora. torna um , d l · t
se deve a Barney Glaser e Anselm Strauss, conhecida como "saturação teór~;.~e
se menor remuneração em caso de sucesso, Se , na fase e p anepmen
com uma direção da extensão esperada pelo leitor · - f · - d o
°
de-
nao 01 temat12a a, se
do estu do, a d d · l
- 0 foi estrategicamente orientado à obtenção de um a equa o potencia
h
sen o na ·b 'd l ·
L23 As noções de transferibilidade e saturação teórica ivo e se não se tomou nota de tudo isso , a carga atn m a ao e1tor se
comparat . , . . b. .
torna realmente onerosa, Este deverá reconstrmr a postenon os eventuais o _~ en-
A noção de transferibilidade (transferability) é elaborada por Guba e li . f
vos à extensão acariciados pelo autor do estudo , deverá reconstruir as ~remissas
coln como uma alternativa à generalizaç~o estatística, i~adequada para a pe:,/ que O autorizam a defender a extensão dos resultados na direção desejada: _real-
quisa qualitativa fGuba, 1981 ; Guba e Lrncoln, 1982; Lmcoln e Guba , 2000]. mente um trabalhão! Não é mais simples pedir ao autor do estudo que considere
Como alternativa, os dois estudiosos propõem adotar os procedimen tos infe, desde o início, a partir da elaboração do desenho da pesquisa [Payne e Williams,
rendais de senso comum sobre a "generalização naturalista" [Lincoln e Guba 2005: 296,305] , a direção e o alcance dos processos de extensão dos resultados
2000: 36-38] , Os procedimentos de extensão do saber d e senso comum ba: esperados, em vez de pedir ao leitor que avalie a cogência da argumentação que
seiam-se na instituição de relações de semelhanças relacionadas ao raciocínio dá conta de um e de outro aspecto? Com isso quero dizer que a solução pro-
por analogia (cf. nota 29) , Portanto , é com base na instituição de relações de posta com a noção de transferibilidade é uma solução parcial. Se , por um lado ,
semelhan ça entre o contexto "que envia " (sending) e aquele "que recebe" (recei- descreve bem o que deve fazer a comunidade científica quando é chamada para
ving) qu e o saber é transferido de um ao outro [p , 40] , O que torna possível e expressar uma opinião sobre a legitimidade da extensão dos resultados de um
fundam entada a transferência do saber de um contexto ao outro é a disponibili- estudo, ou seja, avaliar a solidez das argumentações que a defendem; por outro ,
dade para ambos de uma "descrição densa" (thick description), ou seja, de uma oferece bem poucas indicações a quem projeta e realiza um estudo, Aquilo que
descrição pormenorizada do seu perfil 55 , s~gere _- estuda de forma aprofundada o teu objeto e fornece uma descrição par-
ticularizada dele - é sacrossanto , mas talvez ainda um pouco vago.
Dado qu e, como se sabe, a elaboração de uma descrição pormenorizada,
de nsa, do contex to em estudo constitui o êxito natural de qualquer boa pesquisa O problema para o qual a noção de saturação teórica pretende fornecer uma
quali 1a 1i va, a solução proposta por Guba e Lincoln termina por fazer coincidir sol~ção é um dos mais espinhosos, ou seja, o de estabelecer - além de qualquer
~acioc_ínio duvidoso - quão grande deve ser a nossa amostra para garantir a ela -
oraç_ao de conclusões plausíveis, cujo alcance possa ser legitimamente es ten di-
4. '-ohrr esse lema voliarei no capítulo dedicado à análise dos materiais empíricos, com uma dº alem d I"1 - d
os mnes os casos estudados. Glaser e Strauss consideram qu e a res-
rrílexfo , obre a adequação dos disposirivos metafóricos usados para representar os fe nôn:r.n~ posta a essa pergu t - f
ona t para 0 ~ quais dirigimos a atenção. Com esse objetivo me servirei das categorias anahrira_ na nao possa ser ormulada ex ante , antes d e prossegu ir co m
ª co1eta. da doeu mentaçao - , ·
empmca, De quantos casos , por exemplo d e q u anta"
propn\ta por Mary I lcsse l l 966 I para dar coma dos processos de elaboração de modelos e ana ent revistas n , , L"
1,)~a, n.1 <1/1 11 ia na turais. ente d ecessnamos para chegar a conclusões robustas, é algo qu e p o dem o._
J · - . ·buídaª apo' sn er a~enas através da análise da documentação empírica que entr•'\' 1· t l
· H r a norào dr drscnça o densa (tl11ch dcsc1iptio11 ), cuja paternidade deve ser atn a
1
entrevista b - . ' ... ., ·
,ilhrn R\ lr , .f c;C'm z IJQ71 _ trad. i1. , 1987: 41 -47] . Para uma crítica pungente à proPºd
m 1 .J,,b~" ;i dr C r ,· , iz implt i1a (realmrn1 e mu ito implícita) na noção de tlú ch descriptJ Oll ,
recebe ?
, '
remos md1ca -
temos, E a partu da análise da documenta ão em11iricJ 1ll .
b , l
H,1mm ·r 1 ,, , 2()11s 1 ,1p 1 çoes so re o numero - prosseguindo co m o cxcmpll _ 1, .._
J 1
entrevistas que nos permitem elaborar uma teoria adequadanle . volve - , adi-
_. . llte , · mísnca que ª en
(grounded) na documentação empmca. No texto constttutivo de c11,aiz 7· 541 ir al ém da pauna . nados de qualquer
. . . U111a d· <ltj1 Bar b our (200 · ' ser menc10
populares abordagens à pesquisa quahtat1va, La scoperta dei la gr; as 111 acordo corn tros talvez menores , que merecem . ça- o do pesquisador de ter
ounded l/ie % se ou , . - nma convie
(The Discovery of Grounded Theo1y ), lemos: ,, cionam- f da mas ainda assim , m d d fatores completamen-
0 A pro un , • , . d depen er e
O critério para decidir quando interromper a amostr · fortnª· d estado de saturação teonca po e - írica . em primeiro lugar,
. age111 ]) alcança o od tes da qualidade da documentaçao emp . s' obre o nosso traba-
um dos grupos_ rel evantes_par~ u'.na categor~a é a saturação tt~ caq, . depen en podem recair
mesma categona. Saturaçao sigmfica que nao são enco . º' 'cau te in ele as restrições de acesso que . rmitem ter acesso
. com base nos quais . desenvolverntt .ados dad ' 0 e com · ténca e me pe
comparativos adicionais 11 o cads , esquisa5ª. Se eu estudo uma seita eso d rtodoxia a saturação -
, ])IOp ( 1
da categoria. A força de ver casos semelhantes, o pesquisad edadt, lho e P fi mente ancora os na O '
- , . d l or JJod exclusivamente aos devotos rme minemos - será alcançada rapidamente , mas
fi ar.' com. base na documentaçao
,
emp1nca a qua dispõe qu
, e a ca 11.
eco
seja qual for o modo no qual a ~xacolocar em discussão as nossas ideias, e que
está saturada. Ele fara de tudo para procurar grupos que . legar,,
máximo possível a d1versi. 'dad e d os d ad os apenas para estes tend ªill somente porque o caso que po ;azer bem o nosso trabalho, está atrás de uma
. ar cen 0 qu eríamos tanto encontr~r para 59 Isso se liga a outra condição , típica
que a saturação esteja basea d a na mais vasta gama possível d O dt - s permitem atravessar . d
relativos à categoria [Glaser e Strauss, 1967 - trad it 20 09 e dadoi
. ., : 9l J56. Porta que nao no . .
· quahtativa a cooperacao
- da população em estu o no
d
no contexto a pesquisa _' . . . do estudo Penso em particular
Antes de entrar no mérito da noção de saturação é conveniente espe . d l -o dos casos que vao paruopar . . d.
. ,. 'd O c11ica1 process~ed~;:::s de amostragem bola de neve ou aos que contam com as m I-
contexto dentro do qua l esse proce d rmento e msen o. s autores destac
0
- · · , ·1 f d d·
valor da comparaçao como instrumento utr a un amentar - rgo isso ao ªlllo ni
a:s t:Sºde informantes-chave para a seleção dos casos, como a am~stragem por
modo - a plausibilidade dos resultados de um estudo. Isso, juntamente ct ; tcação (nomination) . Em todos esses casos a chegada à cond1çao de _s~tura-
11
- t 'ri·ca é ditada prioritariamente pela heterogeneidade das redes social~ dos
o convite para uma avaliação em curso da qualidade dos próprios materia: çao eo . - d - tu do
· ·t s de cuJ·a cooperação nos utilizamos e pela loca 11zaçao o no a par
empíricos fMason, 2002: 135], é seguramente ·o aspecto mais precioso da sua SUJel O l · d ·d '
qual acessamos à mesma. Se, por algum imperscrutáve m?t~vo , ec1 1ssei:nos
proposta 57. Portanto , Glaser e Strauss convidam a prosseguir na coleta da do.
estudar os consumos culturais da classe média urbana e dec1d1ssemos fazer isso
cumentação empírica guiados pelo farol da "comparação constante " e de sus
envolvendo em uma entrevista discursiva uma amostra de sujeitos selecionados
pender a _coleta da d~c~me~taç_ão ~mpírica q~an~o , por assim dizer, a utilidadrl com a técnica da amostragem bola de neve , a idade, o estado civil , o lugar de
secundána da n + m-esnna mstancra observatrva e nula .
residência e o rendimento do entrevistado Alfa que inicia a bola de neve, assim
O problema aqui é particularmente o contráp.o do que atribuí à proposta como a rede da relação da qual faz parte, determinarão de forma consistente o
de Guba e Lincoln . Se a solução transferibilidade atribuía inteiramente ao leitor/ perfil dos sujeitos incluídos na amostra e , consequentemente, a rapidez com a
a tarefa de estabelecer se as coisas estavam indo na direção certa; aqui , comi qual será dada a oportunidade de alcançar - qualquer que seja o modo no qual
saturação teórica, essa responsabilidade é atribuída inteiramente, e de fo rm.; a examinemos - a condição de saturação teórica [Mason, 2002: 1421 .
que está longe de ser transparente, ao pesquisador, ao qual é confiada a tarefadi
decidir se a condição de saturação teórica foi alcançada ou não. A isto, que éo
maior limite da noção de saturação teórica - a ausência, de acordo com Gue 5i,
Bunce e Johnson [20061 de uma clara definição operacional que permita, de 5
8d Uma involuntária ilustração de como o caso pode levar à saturação de uma categoria teórica
~~sse ser encontrado em Guest, Bunce eJohnson [2006]. Os três estudiosos propõem-se a ilustrar
56. Consid erei oportuno modificar a tradução do texto original proposta na edição organiz~d: em iaa passo, º. p_r~cesso de saturação teórica elas categorias usadas em uma pesquisa realizad~
por Amonio Strati na parte evidenciada em itálico. No texto original lê-se: "As he sees s,nii ;, reu a r:;;u~:ç~~g~:1al ~~br: ~ma am?stra de _60 _mulheres. A análise de todo corpus textual requ e-
· . · sawraie
111 rances over and over the researcher becomes empirícally confident that a category !,5 "obrem o número d . cod1?os CUJa geraçao e Ilustrada eficazmente em um gráfico que indica
f Glaser e trauss, 1967: 61) . A tradução transforma "becomes empirically confident em ueli em grupos Je c;:~º;ª::igenclas pelas entr:vistas realizadas momento a momento, reagrupadas
ª ccrrcza empírica", solução que marca um compromisso epistemológico mais forte do que aq nenhuma categor,·a g codmostra que o set1mo pacote de entrevistas (de 37 a 42) não sugen·u
que se obtém a partir da versão original do texto .
·
57. Menos convmcenr e parece ao contrário o convite ã cobertura de toda a gama
de uni {en~
·
·girJ
, marcan o com isso a conqu · t d
~: três ?ªcotes sucessivos de entrevistas (de 43 ; \ ;. ;ec~;
tegona cada um, ou seja, solicitando a r - '
ª1;~~
d. -
:e saturação teórica. Entretanto,
' e 55 a 60) sugenram uma nova
- ' ' estraie de saturação teórica [p. 66-67) . p oduçao de novas categonas após a obtenção cio estado
mrno, 50 111 ,ao qu r configura apenas uma das possíveis declinações da amostragem · di
( f . . a pan1r
· !-.llpra. pa1. 1.2). Especifi camente, para obter uma resposta eloquente às perguntas _ Jpe!i.i' ~9. No texto aludo à sugestão de Becker [1998 - trad .
qua,~se move uma pcsq111sa cm alguns casos pode ser mais eficiente concentrar a atença 0 ar o caso que pode colocar em dúvida as suas i·de,·as . '~·, 2007 : ~ 112] que nos convida a ''idenrifi -
ohrr l,1:"uma, porçbrs da gama dos fenômenos em estudo. e ir procura- o" .
. lhe fornecerão,
1h g enhe1ras que
1.3 O método . _-es da sua relevân cia, individ mbra o tra balho de seis mu eres en ento uma "história subver-
· a e as 'ª"-º llact como uma soseus exemplos fu gazes de co mpor~: a de,s aparecer, mostram-se .
De fi m.da a perrrunta
t>
de pesqms_
. ·t1·air os elementos .fi
· ·ncia ex
para respond era.0
expressa nos ueles atos comumente conde~a ue tiveram por teatro
_ .da foi-111a.
mp
o contexto e írico de cuja ex-pen e . a requ
d esquis . er ainda a quah _ cação siva" na qual aq i·a de ações podem ser relac tonadas as q Laud Humphreys
ela· apre fi guração do percurso . de Ponstruça-0 da documentaçao empinca . a qua.1 da categor d · se ocupou
À segun . úblicos de St. Louis e os qua1s h s 1975]. Para Hum-
'
dessa expenen ' .. eia das técmcas e c
d a orgamza _ . ção do trabalho da
- . cozinha de ll111 os banhetr~:o~ersa etnografia , Tearoom Tr~e [Hum~mrl~r a sintaxe de uma
se preve. u t'lizar
1 · Decidi . estu ardeles que pelas suas caractenst1cas . pode111 111e
restaurante, individue, quatro borar uma resposta adequada as ~mhas pergun,
oferecer a oportunidade de ela dO7 Entrevisto o pessoal de cozmha dos quatro
no estu ·_ . de grupos foca1s.
_

· 7 Recorro a- o bservaç-
na sua ~on sava antes de tudo reconstrmr, por ass1 1·
phreys;::~:::ação social específica do universo mas;::~~:
' encontro erótico ,
de envolvimento
fo!ma cenário , consumado rapidame~te , serr_: ne~ [ 1 J 60 Razões teoréticas,
tas.. Como prossigo agora ma sene ao nao mer l
b ·gação em duas pa avra .
s · "sexo mstantaneo P· · h .
taurantes? Envolvo-os em u . heiros e lavadores de pratos a vida de h . dividuar nos ban e1ros
res ·1h do com cozm ou o n ' -. induziram Hump reys a rn
Participante, comparo an - ·o, Responder a essas p erguntas equivale a. mas, sobretudo ,_ pragmaucas~a ueles transformados em tearooms , conforme _ª
d mpo necessan . - -
cozinha por to o o te . - . d estudo. Nao basta, porem, urna resposta públicos - partlcula~mente a ;n lófona - o contexto mais apropriado aos pro-
o metodolog1co o - . . " E.
prefigurar o percurs . " "faço observaçao paruc1pante . n ecessário linguagem da comumdade g y gHurnphreys realizou o seu estudo, leis severas
. «r entrev1stas ou - - l ·1· ' b. · Nos anos em que · · m
seca, do npo 1aço . _ mas quais sera poss1ve uti 1zar a técnica prios o ~euvo~. d encontro e, igualmente, muitos daqueles que part1c1~a_va.
.d ar as cond1çoes co 1· .
também,. consi. ) er d esqmsa . pre-esco
_ lhida e, especialmente, . exp 1c1tar as razões puniam esse tipo ed temendo pela própria imagem pública e pelo eqmhbno
(ou as tecmcas e P_ epistêmico e pragmático . faziam-n~ e~d:er::i~i~r Por razões diferentes daquelas individuadas pelo es-
ue a tomam apropnada no p ano 1 . - -.
q A avaliação da adequaçao - epistêmica passa pela cons1deraçao • . cntica de dois dadprdópr:ie;~her també~ aqui, especialmente , é inconcebív el - ao menos nos
. . e mais
0 pnrne1ro · o-b' 'l·o diz respeito à congruencia entre a pergun- tu o d e 1970 - imaginar
' .
realizar .
entreVIstas ou grupo foca l·, po der contar com o
aspectos.
ta de pesqmsa . e o contex to empírico , de um lado,. e. a. técnica _de p esquisa d' _, de anos ea hi·pote' ticos diários nos quais os frequentadores dos
acesso _ tearooms
. deposita-
outro. Na pesqmsa· sooa · 1ocorre frequentemente .dmgir . a atençao em 1reçao_ a vam as suas emoções. São igualmente excluídas todas as tecmcas que prev~e~
açoes,
- 1ormas
r de m· teraça- 0 , processos sociais fugid10s
_ , quer porque subtra1dos 0 conhecimento, por todos ou alguns dos participantes do estudo , dos obJet1-

da consciência de quem contribui à sua construçao, quer porque quem neles se vos do pesquisador. Portanto , dadas as finalidades cognitivas de Hu~phre~s ,
0
empenha deseja manter em segredo o próprio envolvimento. Um ex emplo do único caminho praticável - prescindindo, por ora, de qualquer cons1deraçao
primeiro tipo de interação social nos é oferecido pelo estudo de Joyce Fletcher ética - não podia ser outro que o da observação participante encoberta. Nos
[1999 J Disappea,ing Act - Gender, Powe1; and Relational Practice at Work . Como doze banheiros públicos em que realizou a sua pesquisa, o estudioso assumiu o
indica eloquentemente o título da monografia, Fletcher se propõe a documentar duplo papel de guardião e voyeur (como guardião, avisava os presentes da even-
um conjunto de práticas organizacionais cruciais e, ao mesmo tempo , invisíveis: tual chegada de policiais; corno voyeur, observava as relações sexuais impessoais
61
práticas relacionais que permitem "manter juntos" os membros de uma organi- que aconteciam nos tearooms) . Nos dois exemplos referidos mais acima, as
zação, promover formas de mutualidade que garantam a autorrealização p essoal restrições colocadas conjuntamente pela pergunta e pelo contexto empírico à
(mutual empowering) . Essas atividades fundamentais - observa Fletcher - desa- técnica de pesquisa mostram-se de forma particularmente evidente ; entretanto,
pa:e_cem não p_ela sua ineficácia, mas porque são associadas àquele conjunto de
praticas orgamzacionais, chamadas soft, femininas em conflito com o m odelo 6
hegemõnico do trabalho organizacional. Além do mais essas práticas d esapa- 0. A
tum edição
sobre do estudo
a questão de Humphreys a que fa ço referência é a de 1975, dotada de um post scrip-
ética.
recem também nas prát' d. · ' as
. 61 laud Humph · d · fi
mulheres mduzida (icas 1Scurs1vas
l · de quem é o seu principal promotor, e
· reys e uma as mais controversas guras da sociologia contemporânea. A mo-
. ' Movendo-ses ª azer
a p conr dmo com aquele mesmo regime discursivo qu- nografiacont
que reúne
as opnme. . . asperas - ·os principais
b resultados
·· . da. sua tese de doutorado ' Tearoom Trade' foi obiJ eto de
Fletch · d . ar ir essas premissas - que aqui não discunremos es1era
r pnvada
. roversias
d h so re a legnmudade. ética de um estudo que violava tão profundamente ".,
er so po e exclun a utiliz - d - . · ou meiros
o grupo focal b d . ~çao e tecmcas como a entrevista discursiva . . e mais . enos. .omossexua1s.
. . 1
Humphreys é, ao mesmo tempo, conhecido como um dos pr ·_
' asea as na sohrnaç - 0 d d. l JO·
nal das mulheres fi - b ª e -iscursos nos quais o trabalho re ac.
(adot·ivos ) nos anos
ergicose at1v1stas d dos direitos. civis dos gays. Casado e com dois fil h 1s,
f . pebl·a defesa
cara su rnerso o - . . ·dia- Própr· . out m dque 01. pu. 1ca ada sua monografia , laud Humphreys fez em seglt .,d..,.,
no esse conjunto d .. · que e ut11e observar no seu fazer coll io coming
e praticas; decidir .. · do os acont ec1mentos
. ,e·um ·fios pnme1ros
h aca êmicos a declarar-se abertamente homosse xual. - <.,1.nrt·
' portanto, ut1hzar o shadowing, segwn Galliher' uvvayane
, ienu ecose
Brekus D ·d K umanos desse· controverso
1 . estudioso, cf. a bela biografo de J" h
94 profeta da homossexuahdade . av1e da sociologia
eys, com o (2004).
tnu o pamcularmeme eloquente: Laud Hurn nhre\'1
1
dl' formn lllt' l\O~ rigorosn, :1~ mr~mas restri çi r rTrne n~ sobre qu a lqti<'i-
sn l'mptrirn. l\1rtnntn. \' fnnd nmrnlAl na frt. e de prefi gura f.lo do de, _Pi·,111 1, • 1 · a observação leva à segunda dim ensão da adequação prag:máúca ,
pesquisa iniciar uma rr ll cxilo qu e. e !lnClui n\ ª~término ci o cs ttid i~ )<ll hll 1/;1 Essa u_d11mdc do estudo aos pad rões éticos da comun idade cie ntífica de refe-
rda·üo cntn: 1 c1:~un1a. cont ex to cmpíri O e téc mcas ~lc pesqui sa, clah·~0 h1·1· ,1 nforrnr a · d . · Una
;i co. Itália _ não sei dizer se po r sorte ou azar - não exr.ste uma 15cip
um,1 l'Spc c1fi :t :irgumcntnç:io o m a qunl se ._ustentarao as raz ôcs qu e l1 l<111i111 rêncra. Jl ªo le os aspectos éticos da pesquisa socialõ!_ Restrições e obstácu los en-
apropriad,1 a t cnirn de pesqui sa pr -escolhida e se conLes tarào as J) or,1~111 quc con r e na maioria das vezes quando o nosso trabal ho de pesqmsa · a p enas se
º ~s·1 ntram-s . ·d d · tífi
objcçõc cpistêmica- ao seu emprego. · · vci1 / e0 . a ou entra nos domínios cont ro lados po r o u tras co m um a es c1e n -
aproxrm d . . lid d
O ,rc>und :r1 e to rrhtivo à adequação cpis têmica do percurso or exemplo, quando o âmbito de es tud o é o da sa úde ou a cnnuna a e ,
- .::- . •. , • - . . - - . ni etoct .
oico prcfic>urad o refere-se :'\ rclaçao entre a documentaçao em1)1n ca 0 b . o/o. cas, pncentes respectivamente , a médicos e juristas. As coisas funcionam de
~ ~ ' • • , . • _ . Lida , ~m , .
pwccdiment os de amtli e n que sera submeuda . E necessano qu e a do e 01 r ma diferente no exterior, especificamen te nos países de ltn gua inglesa . nos
,ar . :e
Laç:'lo empírica tenh, as caracterís ticas requeridas pelo procedimento d eun1en. uais a supervisão dos aspectos éticos da pesquisa é atribuíd a a co m itês esp ec w-
. . e anl 1

que 11 s propom s a utilizar. Se, por exemplo, em um estudo proj etad a 1st ~05 aos quais compete a emissão de uma autorização cios estudos dedicad os a os
O
obi ci\'O de coletar. através da utilização de entrevistas discursivas as co111 o chamados temas sensíveis e à atenta supervisão do seu d esenvo lvim en to. A a u-
J • . . . ' narra .
de doença expressas por uma amostra de pacientes psiqmátricos n Çoes sência de comitês éticos, obviamente , não exclui a ques tão é tica qu e d e q ual quer
. . · - ' os Pro [onna deve ser enfrentada na prefiguração cio desenho da pesquisa, não ap e nas
séssemos a analisar a ordem na qual os eventos autob10graficos suced Pu-
. ein-se 1
narração (os nossos mterlocutores começam contando sobre a sua in·( · . na porque a adequada solução de alguns graves problemas éticos traduz-se em um
.
abrem a narração co m o surgimento da doença mental?) , deveríamo
ª~~
ou avanço mais seguro do estudo também no plano es tritamente epistêm icoó3 _
. . d - s necc
sarrameme recorrer a uma modalidade de con uçao da entrevista a mais s- Antes de díscuúr os aspectos éticos que são necessários tematizar na prefi-
I1
possível. Ou seja, deveríamos preferir a entrevista livre à entrevista guiad " 1e gmação do desen_h~ de pesquisa é oportuna uma rápida menção às duas princi-
in~ra, cap. 4), limitando-~os_ª .iniciara n_a rração com um pedido do tipo: "~~~~ pais_~ol~uras teoncas dentro das quais toma m forma . A primeira abordagem,
tarra que me contasse a h1storra da sua V1da, começando por onde quiser" . a ut1htansta,
. enfrenta os problemas éticos levantados por u ma pesquisa · socia· 1
. . . _ _ . . d , pa1a
depo1s circunscre,·er a nossa mten1ençao ao umco apo10 o discurso d · considerando, em um balanço ideal , os custos e os b ene [·1c10s
· que acompan h am
. . , e1xando . _
64
os nossos mterlocutores livres para elaborar o seu discurso no modo qu . a sua reahzaçao_ . Nessa perspectiva, uma pesquisa é eticamente admissível se
. e cons,.
derem mais oportuno. Também por esse aspecto, já na versão de prefiguração os custos morais suportados pelas pessoas .d
0 . d . d' . _ envo 1VI as no estudo do enoano
d~enho da pesquis~ deverá expor as razões que tornam as técnicas de consu~- associa o a iss1mulaçao da própria identidade de . ' . 0
coberta, à agressão à imagem públi d . . pesqmsador na pesqmsa en-
çao_do dado apropnadas à análise a que será submetido, apropriadas à articu- ca os participantes, derivados da publicação
laça_o d_e uma respos_ta à per~unta de pesquisa, visto que para a sua elaboração
as tecmcas de pesqmsa segmrão o percurso indicado. ~2. Rosaline Barbour, do observatório de um dos . .
eucos esteve entre os mais consistentes (Re · U p~1s)es nos quais o desenvolvime nto dos comitês
do A av~liação d_a adequação_pra~ática do percurso de pesquisa prefi gura- nota_: frequentemente os comitês éticos nã~n~o : o . chama a a tenção para um aspecto digno de
refere se ª do 15 aspectos: a avahação crítica da viabilidade do estudo e à quahtauva e isso, em muitos casos . . n ecem muno bem as peculiaridades da .
acenta consideração das · l' - -. d (Barbour 2007· 71) A. ' preJud1ca a sua capacidade de form 1 . 1 pesquisa
d , . . imp icaçoes eticas o estudo . Trata-se, antes de tudo, uer , . . . isso acrescenta , de forma mais " u a r JU gamentos sensatos
eª'ª 1iar se e em quais cond· - ( . - . !iat~tie re_una pesquisadores qualitativos, fazer me:;~ngente: Em_u~ contexto informal qual-
d _ içoes epistemicas e éticas) podemos ter acesso à
ocumentaçao empírica nec - . . . . 63 AI . apfüxonantes e até mesmo relatos ele horror" [p. ~º7fos comnes encos produz certamente
cada _ d essana aos nossos obJetlvos. Refiro-me aqui à cleh· .. em disso, é oportuno levar e .
questao o acesso e de d l , bhcaçào do pró . m conta o fato de que e . .
nível adeq d d ' _mo O gera , a obtenção - quando necessária - do
ua o e cooperaçao d estudo, especifi~;~~l~:~~~~~ti·celapsesquisa é subordinada à p::~\\~:;:;; tdaes f1e·nntde macio_nais a pu-
nosso estudo E as pessoas a quem pedimos para participar do 64 ' concretament d d er a encidad d
· sse aspecto é pa t' l - n· .Ao registro utilirarista também . . e a ora as para esse objetivo. e o
do percurso de . r icu annente relevante quando a prefiguraçao
pesqmsa torna-se 0 111st· Hual (conjlict methodolo e possivel relacionar a aborda e - .
ciamentos necessa· . . . rumento com o qual obter os finan· ge,n perseguem intencio g)'{ [Marzano , 2006: 70-73]. Os estudi~~ m propna da metodologia con-
. nos a rea 1izaç- d .
impecável pela relev - . d ao e um estudo. Um projeto de p es qwsa tsrnuições, justificando :ªp~~eme o ~taque à reputação , à credibi~td~~e ~e re,ferem a essa aborda-
anc1a a pergu t l _ . . ds racos ou, de modo . pna açao como ditada or b· . e e a guns indivíduos o
e a ad equa ção das te· . d n ª - ª e oquencia dos casos selecw na 0 lllais alto é invocadogeral , de J~istiça social. Também n~sse :;et1vos de proteção dos sujeitos mai~
cn1cas e pesq · _ _
mente concluído se msa - nao pode ser financiado ou segura 1
i . . o contexto em - . . . . ia ~;~~t;~g;sl~i° é possív~ª;:1;~~;:~~a: ~:; :~: causdaclos às pe~~a~ ::~~~l::::r~ de um objeti vo
orma eti ca mente ad · - pmco md1v1duado não é acessível de un ,
m1ss1vel diversos h vez também a arrogância do ento_ e_~ampo de David Rosenha ma pesquisa . A
ospttais psiquiátricos l' . saber ps1quiatnco, expondo . m , que mos trou os
96 em e isunguir os sãos dos doente [Ra mcapac1dade da equ ipe dr
. s osenham , 19 73 ).
dos resultados , até à forma mais severa ~e sofrimento, são com pensad ·d d de ser inter-
benefícios que os conhecimentos fornecidos pelo estudo oferece111 , os Jlci . focal - a oportulll a e -
. . _ k . a so . 11 ma entrevista ou de um gru~o . , u nome também na gravaçao
no seu conJ·unto6s_ A segunda abordagem, d e mspiraçao antiana , co <:1eq <1rj 1 curso de u urn pseudônimo , que subst1tmrda od se uso de técnicas de pesquisa
·d h b· . 11test a <1 ,1 l do corn - deve ser a a ao -
O
g umentação utilitarista à raiz e. consi era queb nen - um ~e t1vo. pod e JUStfi
. pe Ia . 566 Particular atençao s quais as inforrnaçoes
t.
uso de um indivíduo como mew paraª sua O tençao. Essa posição 111 . 1 Ce1r 1 dos co!ó;;o f~cal, os jogo~ e a entrevis_ta e:e~Je~~ : o apenas ao grupo ~e
d · · · , ais r d ,
é normalmente invocada para a proteção e SUJeltos particulannent
.- .
ª
e vu1 ,
ica1 com~ os sujeitos envolVIdos toma_~ se d do67 A questão é crucial
veis como as crianças as pessoas com de fi ciencia, as pessoas qu e conv · nett reiau~as ªmas a todos aqueles que part1C1para1:1 ~ estud s ~o uso da interlocu-
, 1 f d 1 lVe111
distúrbios de aprendizagem, com qua quer orma e ma m ental e da colJi 1 pesa~~;ª; utilização dessas téc~icas1· de ~esdqeu~: e:::~:sobre temas chamados
em fim de vida [Barbour, 200 7: -s]/ · s Pessaa, qu po serve a rea 1zaçao .
ção dentro de um g~d a sexualidade os comportamentos cons1dera os_ . es-
d d

Qualquer que seja O registro adotado para abordá-los , o trabalho. d / , · como a sau e, ' strições eticas
sens1ve1s, , difícil impor aos nossos interlocutores as re
impõe que se enfrentem alguns problemas éticos e se defenda a soluçã~ ~an1p0 viantes. Dado que~ dor - impomos ao nosso trabalho, o problema de~e ser
1 _ como pesqmsa tud que deverao ser
zada na prefiguração do desenho de pesquisa. O primeiro, ao menos em P0ti. que , d seleção dos casos para envo 1ver no es o . .
0
temporal , refere-se à denominação do estudo usada para tomar contato rdeni enfrentado atravdes a nhecidos ouJ·á ligados entre si por relações de sohdaneda-
. . A - , . 1 <:0111 a, . ocamente esco , . d'
pessoas a quem pediremos para part1C1par. questao e crucia quando a at . rec1pr . na qual serão envolvidos não podera preJU icar.
recai sobre grupos ou populações cuja diferença alimenta práticas de dis:;Çao de que a pesqmsa , . b 'd
-ncia das modalidades de uso da documentação empmca O U ª
nação social. A esse respeito, Rosaline Barbour faz referência a uma pes •
11111
A transpa re · 1- · 1· o pes-
. , . d t . . quisa ·sa constitui um aspecto crucial do contrato 1mp icito que 1ga
sobre obesidade que teve a persp1~acia e apresen ar aos part1c1pantes como um com a pesqm ,, b · nada
. d aos participantes A maioria das vezes esse "contrato aseia-se em _
estudo sobre a gestão do peso (wezght management). Apenas mais tarde Barbour qmsa or · , , f t
mais do que um acordo de cavalheiros (gentlemens agrement), requentemen e
descobre como foi feliz a solução adotada, dado que os termos "obeso" e "obe. reforçado pela confiança entre uns e outros que se consolida no curso do traba_lho
sidade" eram considerados ofensivos pela maior parte das pessoas entrevistadas de campo. Em alguns casos, novamente, a maior parte das vezes que as pesqmsas
[p. 75]. Não se trata aqui, assim como em casos análogos , de uma mera questão enfrentam temas sensíveis, o contrato assume um aspecto mais formal, configu-
de marketing da pesquisa, de uma estratégia dirigida simplesmente para reduzir rando-se ao modelo das disciplinas biomédicas do consenso informado. Nesses
o número das pessoas que declinam o convite para participar do es tudo. Pelo casos a participação no estudo é precedida pela comunicação por escrito, a cada
contrário, é necessário fornecer aos nossos interlocutores a oportunidade de um dos participantes, das modalidades nas quais as informações obtidas serão
definir-se de outra forma , de construir, no contexto da entrevista, uma imagem usadas e pela indicação dos compromissos assumidos a esse respeito pelo grupo
de si capaz de desafiar os processos sociais de estigmatização. Um resultado que, de pesquisa que se referem, normalmente, à proteção da privacidade dos partici-
obviamente, não deve ser induzido pela moldura teórica e relacional moldada pantes, ao acesso aos dados reservado exclusivamente ao grupo de pesquisa e ao
pela pesquisa, para ficar simplesmente uma opção possível, por exemplo , aquela rec_onhecimento do direito de cada participante de pedir a qualquer momento que
de poder se definir "gordo e bonito" [Monaghan, 2005 J. as m~ormações a seu respeito sejam suprimidas dos materiais empíricos e/ou das
Às condições de participação no estudo estão relacionados outros dois as· ?ubhcações sucessivas. A praxe comum prevê que o documento que contém essas
pectos relevantes do ponto de vista ético: a proteção da privacidade e a tra~s mformaç~~s, assinado pelo responsável da pesquisa, seja assinado também por
parência das modalidades de uso da documentação empírica obtida . A proteçao cada part1c1pante em duas cópias, uma das quais é deixada com ele.
da privacidade normalmente é perseguida garantindo, no texto que reunirá 01
resultados da pesquisa, a substituição dos nomes das pessoas envolvidas no
66. Essa medida, observa Barbour [2007· 78] . b . . .
estudo e dos que identificam a organização o grupo a instituição à qual per· quais a identificação d . . . . . '. e o ngatona quando lidamos com pessoas para as
' ' , · fosr Imaginemos ex po e con~tltmr um sen_o impedimento à realização dos seus projetos de vida
tencem, por nomes de fantasia. Essa garantia pode ser estendida tambem ª
entrevistam~tp· ara.,pqude os sohcttantes de asilo não pretendem ser identificados no país no qual o~
de coleta dos dados, oferecendo aos nossos interlocutores - por exemplo, nr o er contar com as prerr t" d
de refugiado político em . . ?ga ivas que ecorrem do reconhecimento do status
67 C . outro pais, em dneçao ao qual têm intenção de se dirigirem
· om entrevista em gru O d . ·
6 • . .
5· A referencia no texto aos sofnmentos sofridos pelos suJ·eitos envolvidos em urna p br· e5qt1 iY entrevistador inter ela cad p enten o _aqm u_ma forma pouco comum de interlocução na ual o
entrevistando os e~tudantesª udm dos propnos mterlocutores na presença de todos os ou;ros qp ev
soc,a · e· uma fasa
· 1. nao l hipérbole
· , a esse respeito basta pensar no clássico experimento 50 bre a0
, 1idJ dos . e uma turma um de c d h ' · -~-,
dttn ,a a autoridade de Stanley Milgram [1974] e, ainda mais, ao experimento de prisão surtU mo! proprios colegas. Recorre-se a essa estr;té ia de a a v~z, c amados il responder na presença
realizado por Philip Zimbardo [2007] . dadas pela pressão normativa do grupo. g pesqmsa quando se pretende obter resposta .
Outro aspecto do perfil ético do estud o diz respeito a e
.. . ,, e· r. 0 111 0 s
Melucci, respectivamente, d_efi nem r:_torn o JUsto Ja_ir rctun i ) e "r · Prall!c .. . . .d ente estrn turados , o
[Spradley, 1980: 24; Meluco, 1984: 3 1 e 41 }. A qu estao co nce rn e cs111lli1:I' 431 vale tamhém para os desenhos mais n g1 am - . a
/2005_: ~ de laborató ri o. a pesquisa por amos trage m. tipicos da pesqU1s,
qual as pessoas que participaram do estudo poderão pan iciIJar 1 ª~ ni ou(i (J cxpcnrn e_nt Porém o que é específico da pesquisa qualitativa é a atitude em ~e-
· . ªl11 bc1 11 ~,
sultados que ele fornece. Esse aspecto , 0 bviam ente relevante cl 05 qu~ntt~:,;:~vios en~re a prefiguração e a realização da pesquisa . Se na pesqu~:
. l'fi ~~ ª t
estudos nos quais o pesqmsador qua 1 ca-se como tal e expli .
cita os
s Par<! Jaçao ~ . s desvios co nfiº11ram- e. na maioria das vezes. afastamentos '
1
_ __. e. de n egociaç-ao co ,11P06pi'10,'
objetivos, pode ser apresentado na fase de contato
ú
ntttat1 va esse o
qua a ue confere solidez aos resultados esperados. então erros e amos
d t a
r-
sos interlocutores quando se pede a eIes para pa1t1opar d o nosso s n0. norrnd q edida de especificacão do modelo analítico na pesquisa quahtanva
. , . . - d - estudo ~ ·1
do isso acontece.. a resmm çao torna-se uma voz o contrato ünrJl lC . · Qu<l".,.
· llo g-ero ' e m ·gnificado.
' ·
Ao lado dos desvios que. de forma ana oga ao que
ocor-
tem outro si · - · d lt d s
liga aos nossos interlocutores e que devemos honrar com específi cas 1111 _ _que. lln, esquisa quantitativa. enfraquecem o es tatuto ep1stemico os resu a 0
ad hoc. Ou se3·a não podemos pensar em poder cumprir essa ob . ciativa
, . - . . . nga à . '
:~~~!- são assim todas as red uções inesperadas e indesejadas do acesso aos
plesmente com a pubhcaçao da monografia que 1eu111ra os resultad ç O s,ilJ locais do caso em estudo ou aos casos da nossa amostra - ocorrem desv10s que
- dd , . os do coincidem com específicos increme ntos da precisão dos nossos proced1mentos
trabalho. Também quando nao abor a a nas iases preluninares do nos~,
exiaência de saber "que fim levaram" todas aquelas entrevistas ou tod eSludo, , de coleta e análise de dados. Em uma pesquisa etnográfica aprendemos, por
b ~ aq1 assim dizer, a medir o nosso objeto de forma se mpre mais precisa. fazendo uso
dias transcorridos a observar e tomar notas frequentemente surge 11 Ue e,
o curso d de procedimenws que se aperfeiçoam pelo caminho 8 . De forma análoga,_ em
pesquisa, e O fornecimento de uma resposta parece-me obrigatório em raz · a
0 um estudo baseado na utilização de entrevistas discursivas ou grupos focais, a
tempo que os nossos interlocutores dedicaram à realização do nosso t b ª do
ra alho fonnulação das nossas perguntas cresce em precisão, movendo-se de uma en-
Uma última ~uestão que ~~rece_ ser considerada diz respeito à considera a trevista a outra, de um grupo focal a outro, extraindo de cada experiência in-
do impacto emonvo que a part1c1paçao no estudo pode ter sobre os partic· ç u dicações pontuais de como fazer melhor nas sucessivas. Isso leva a qualificar
. . 1pan1es
Também nesse caso o problema coloca-se pnnc1palmente para estudos que en. um dos traços distintivos da pesquisa qualitativa, a sua flexibilidade , mas não
frentam temas sensíveis, para os quais pode ser oportuno prever um momemodr como aversão às regras do método, total submissão à incerteza dos eventos que
debriefing no final da entrevista ou do grupo focal que suscitaram a sua discussão se sucedem no campo, mas como um recurso qu e permite promover a precisão
[Barbour, 2007: 82}. Ou seja, é necessário oferecer aos participantes - individual do trabalho de pesquisa, ditada pela vocação à mensuratio acl rem das técnicas de
pesquisa, ligada à vigilante consciência metodológica que decorre desse modo
ou coletivamente - a oportunidade de considerar a experiência suscitada pela par- 69
de operaçã0 - Tudo isso torna o desenho da pesquisa qualitativa, e consequen-
ticipação no estudo, dispondo-a na justa moldura emocional, criando ad hocum
temente~ argumentação persuasiva que ele comporta, algo que surge no curso
contexto relacional capaz de conter e diminuir as tensões acumuladas. da ?es~~Isa, e ~~e - sobretudo - se aperfeiçoa passo a passo, tornando sempre
Os nós éticos que deverão ser desatados no curso da pesquisa são apenas em/ ;nais solido~ dialogo e~t~e teoria e_~locumentação empírica, sempre mais coe-
parte prefiguráveis, ou melhor, são ainda menos do que aqueles que recaem so ente ª relaçao entre ~bJetivos cog111t1vos e instrumentos metodolóaicos usados
bre os aspectos epistêmicos do estudo. Isso faz com que não se possa deixar dr/ p~ra ª sua obtenção. A análise desse processo de aperfeiçoamento~ das opera-
concordar com Ryen quando sustenta que "os dilemas éticos que se apresenw çoes que o tomam possível é dedicado o parágrafo a seguir.
no campo devem ser resolvidos situacional e frequentemente de forma instinti
va" [Ryen, 2004: 232 , apud Barbour, 2007: 86]. Isso, no entanto, não torna d 2 A reconstrução
uma reflexão preliminar sobre as implicações éticas do estudo, que permite u,n.1
A reconstrução do percurso de pes uis . l
qualificação mais pontual da sua viabilidade e uma eficaz definição dos aspecl(IÍ persuasiva, delineada na fase de fi q -a e o ugar no qual a argumentação
relacionais que a sua realização comporta. tituição dessa argumentação conpre guraça? do estudo, chega ao final. À cons-
Com isso concluímos a análise crítica do primeiro aspecto do desenho ºJ - ' correm, seJa o aperfeiçoamento das premissas
pesquisa, a prefiguração do percurso através do qual esperamos elaborar uJIIJ
68. A uma reflexão especifica sobr , ,
respoS ta às perguntas que dão impulso ao nosso estudo . A prefiguração do per: Et11ogrcifia e riflessività p le esses traços do trabalho etnográfico é dedicado o m .
curso de pesqu · · , . ncre1ii 69 , ara o qua se remete [ Cardan o 2001 5 1] eu ensaio
_. is~ antecipa, apenas de forma parcial e sumana, as co 11,,1 . A express" . , , par. . .
313 ] )ar . ao mensuratw ad rem é usada por Hans Geor
ratic~s. de pesqmsa ~u_e se sucederão, primeiro no campo e depois no trabacl: t, 1 a caracterizar a natureza do trabalh . . g Gadamer [ 1960 - trad. it., 1990: 308
e analise dos matenais empíricos, e isso, como observa Alessandro Br"' 1 ex10 sobre o seu in1érprete. o mterpretallvo , o reconhecimento da prioridade d ~
apresentadas no curso do planejamento do e_st udo, ~~ja ª introdu ção
argumentações sustentadas pela documentaçao empmca obtida no de 110v . ara o método , do qual se toma pos-
ca111p as Considerações a~áloga~ v~e~ ::re~:ta adequação em relação à pergunta
A prefiguração do percurso de pesquisa é elaborada - como ÍOi . o.
uando tudo e cone ui o mo tempo reconhecer
a definição da pergunta , a individuação do contexto empírico adeVtSLo 'c0"'
. . l'fi - . . q11act ·•1 ~:~e~q':iisa e ao co~t:~~ em;~r~:fi~~/::::a~~;~::dão a área de a~ten~ic;-
fornecer uma resposta e por ultimo, com a qua l caçao epistemica e o Par 0
, b . d. Prag . a os limites que contn~ ~ . de modo geral , o "grau de incerteza [Kmº,
do método. Todos esses aspectos rece em, por assnn izer, a últin . i11a.u c d documentaçao empmca e, . d onsrrução
. O . 1a P1n a
na fase de reconstrução do desenho de pesquisa. prosseguimento d Cela.d, dade a V, b 1994: 31-33] que recai sobre os procedrmentos e e
· d 1
de campo faz com que a pergunta a partir a qua se move a pesqu . °
trab alho ' J<eohane e er a, , . 7!
do e sobre os de analise . r
,. , b 'd Isa u do da fi d d étodo e a sua e1e-
à documentação empmca que, passo a passo, e o t1 a sempre com . º ª·se 1• disso a aproximação entre o uso pre gura o o m . < .
• · d t d
cisão . Pertinência e relevanc1a. . a pergun ª e nem-se,fi
_
d maior
· e Pre.
e e uma c01sa . A ;:a ão ;ferece elementos úteis, seja para reconhecer os limites ?ºs ms-
deve dar conta a versão defirutiva da argumentaçao que as sustenta O ºUtra uv~:tos çde pesquisa, seja para delinear, em um registro quase expenrnent~1,
de campo conduz ainda à quah·ficaçao - d efi muva
· · d O perfil dos casos· trabª1ho tru . ·dades do obieto. Há alguns anos realizei um estudo sobre a relaçao
.d 1 em est as pecu 1ian J d e: . d ma
No caso mais simples O do estudo esta be1ec1 o em um ugar (p. ex Ud 0_ entre trabalho e distúrbio psíquico_[Cardan~, 20?5 J. O estu o razia parte e u _
, . d' d ·, urnaes
uma comunidade uma empresa, os Jar ms e um parque público) . Cola, uisa-intervenção e foi concebido para 1dentificar os fatores capazes d~ pro
, ,. . . d ' a aqu1s·1 .
da documentação empmca pertinente pemute enten er melhor que 1 çao ~~:era inserção no trabalho dos pacientes psiquiátricos no contexto da cidade
.. . - N ugar se
aquele para O qua 1 d mg1mos a atençao. o caso, um pouco mais com Ja de Turim. Com esse objetivo foram coletadas as histórias de vida de uma peq~e-
I
um estudo baseado na seleção de uma amostra de indivíduos, a cone~ e~o, de na amostra de pacientes psiquiátricos, as quais foram adicionadas as narraçoes
r
trabalho de campo nos rornecera , -
a versao comp leta d o seu d esenho A Usao. do dos seus familiares e, para aqueles que estavam empregados, os testemunhos dos
·. 1· . b . 1 b . pecuhan
dade da amostragem na pesqmsa qua ttauva, a su stancra a ertura do fi · chefes e dos colegas. As entrevistas foram realizadas por dois entrevistadores, um
. J . , per I d
amostra [Miles e Huberman, 1985: 37 , CUJO contorno e aperfeiçoado e ª/ pesquisador social e um paciente psiquiátrico que - reconhecido corno tal pe-
m curso
através do que se aprende no campo [Mason, 2002: 127], faz com que los nossos interlocutores - devia ajudá-los na reconstrução das suas passagens
um pouco antes da conclusão do trabalho de escrita tome-se disponíve;~enas biográficas mais dolorosas com um, às vezes explícito, outras vezes implícito,
plena qualificação 7°. Em alguns casos, na realidade, é justamente nas fases sua "comigo também aconteceu . . . " Juntamente com o resto do grupo de pesquisa ,
avança das de ana·1·1se da d ocumentaçao - empmca,. . quan d o o que surge do exam maise projetei o envolvimento de cinquenta pacientes psiquiátricos em duas entrevistas
do corpus textual é colocado preto no branco na monografia que reunirá 05 re- intervaladas uma da outra por um breve lapso de tempo (de um a dois meses).
sultados mais importantes do estudo, que pode aparecer a necessidade de uma A amostra, composta por pessoas com idade compreendida entre 18 e 50
r ·d h d . d anos,
complementação da amostra, de um novo plano de amostragem, "a secondstaue 101 esen a a segum o a lógica do desenho "caso-controle" d d
·d · 1· . , usa o nos estu os
sampling" [Barbour, 2007: 73]. Portanto, a argumentação proléptica que defe~- epi emw ogicos com O objetivo de submeter a controle uma hipótese eziológica 72 .
de a eloquência da amostra, que define a "área de autenticidade" dos materiais
empíricos obtidos, ou seja, o conjunto das perguntas que podem fornecer uma 71. Sobre a noção de "grau de incerteza " .
resposta plausível [Topolski, 1973- trad. it., 1975: 5011, que circunscreve o âm- ba, voltarei infra. ' propoS ta por Gary Kmg, Robert Keohane e Sidney Ver-

bito dentro do qual essas respostas podem ser estendidas, é formulado definiti· 72. O desenho de caso-controle é amplamente a licad . .
concebido para submeter a controle uma h' . p o nos estudos ep1dem10lógicos nos quais é
v~mente ~a fase de reconstrução do desenho, quando todos os seus ingredientes · l - rpotese causal A h · · '
~-re açao entre a exposição a um fator específico de ris . rpotese, normalmente, diz respeito
sao d~fimdos na qualidade e na quantidade. É, ainda, nessa fase do trabalho de enc1a/e uma patologia, como, para continuar o e ~o, p. ex. ,_ a fumaça de cigarro, e a inci-
~esqmsa que se torna possível apresentar de forma mais completa uma resposla exemp o adotado são recrutados entre os su ·e· xemp o, o carcmoma de pulmão . Os casos no
as pergunt ·· 1 os controles são escolhidos de r 1 J Itos afetados pelo carcinoma de pulma-o
as cnticas re ativas ao desenho da amostra (sobre as quais nos detive· çã 1orma ta que repre . , enquanto
mos supra, par. 1.2).
;~~:~e::::t~;:;:~~;~s;;;r:s:!~o~~:/~1:a~~~~~:~~E::e::~:~~:ten~~:s~:e~~!;fou~:
e Norell, 1993: 6t;;~ d~crdir sobre a relação causal entre fumo e nos controles serão extraídas
70. A valorização desse modo de . i· quiátricos (temporari . o estudo referido no texto foram cons~;;rcmoma de pulmão [Ahlbom
to entrelaçamento entr operaçao na construção da amostra, um modo que prevê o estre representativa de p _amente) excluídos do mercado de trabalh rados casos os pacientes psi-
e co Ieta e anális d d ·ores
contributos da grounded ti e ª ocumentação empírica, constitui um dos ma, .. A
comparação entre
acrentes psiqu· · · o, e controles -
ratncos, mas os pacientes si . . . , nao uma amostra
que recae m sobre a regr dieoiy !G 1a~er e Strauss, 1967]. Isso independentemente dos lirnitl'l concebida para ident~tos e controles, entre pacientes empr: a~~Iatncos que estão empregados
par. 1.2.3). ª e suspensao do processo, o princípio da saturação teórica (cf. supri. fatores responsáveis q car ~a configuração das trajetórias bio!áfi s e dacientes desempregados, é

.
' uer a part1c1pação, quer da exclusão d cas os nossos interlocutores s
10)
o mercado de trabalho .
p
__ Jrnd·, com o propósito não de subi
. . Stl-:l C t:i CSL11 • ' • .· _ . ll q (' .
Nicssc c:1so. porr111. a ,nno. r, 1·dadcs cxplorato1ias, ou SeJa, con1 o 1 l1111-
. (cf supra ca p. J ) faz co m que não se tenha ape nas um modo - 0
1 111 .1s co111 ,na , d. . b'
hipótese a contro e. ·
to de fon1111!ar uma u
b a rdaçJo entre 1stur 10 psíquico
1 ·pótcsc so rc · .
. ss.]. Concordaram com a reali zação d ' ah()
j)l \)
Pt),i.
e ltab l
d.
se:~_hca rn · ' ' fi
de condu zir um a entrevista , um grupo foca l ou de faz er_et~ogra _a, mas
ccr se tenham di versos modos , cada um co m pre rrogati vas e lim_1tes propnos.
· 1 Verba 1994. 141 - e . a seg
lKino.:,, Keo 1anc e ·e 21 mu liic rcs . Para nove casos nao 101 possív"'l ct·
'- is1) ll11. qu_e d' ça-o da técni ca de pesquisa adotada , a relação observanva dentro da
da enrre,ista 20 homens f d 111 cnto em um caso pela morte de un1 °t e]~ A 111 1ca orma contribuem de form a relevante à esrru tu raçao - da e loquencia
- ·
serunda entre,ista de apro un ª n,a~ semanas depois da realização dPacie11t, ua 1tolna f , . - d .
.:, 1 ·mento a1gu o Pr' ' q teriais empíricos qu e forn ecem. Na qualdicaçao de um coro - o t1po
de que tomamos con ieo _ . asos a segunda entrevista não acontece 1_111ci. dos ma . d . l . - d
. u dia ueles estudados por Eastis (cf. supra , par. 1.2) - on enta o a e evaçao as
Os outro~ oito e
ro colóqmo. para • el dos nossos interlocutores em prossegu·. 11te daq etências de cada corista mais do que à constm ção de uma perfo rmance
.d.d . 1ov1V recusa . 11 co1 comp _ . . if h
da dec1 1 a e men . eira entrevista. Pela análise da primeira . 11a de suscitar intensas emoçoes entre o publico , faz d erença termos c e-
- · · ·ada com a pnm e un·1
colaboraçao mJCI .to pacientes e pelas razões com as quais O ca capdaz a essa conclusão guiados pelo juízo do diretor do coro, pelas opiniões
. \izada com esses 01 conVi ~ o . d
enrrev1.Sta rea d . d c\inado nos convencemos que a recusa dev . le recolhidas entre os músicos , pela competente participação em u~ ensa10 o
ir no estu o e e ' eria s
para prossegu d tran!rimento não suficientemente reduzido pel er coro ou nos ensaios de toda a temporada. Esses elementos , eviden tem ente
'b ·da ao profun o cons .:, , d d a Pre diferentes entre si, têm origem a partir do mesmo tipo de experiência do obje-
atn m . d ·ente dos sofrimentos e as errotas sofridas A ·
sença do enrreY1.Sta or-paci ' · · Panir to de estudo , a observação participante, mas a sua capacidade de sustentar a
. 1 . ·tes do instrumento entreVJsta , ao menos os seus lü111.
disso emergrram os 1ID1 1n Al - d ' les cogência da conclusão para a qual são convocados como provas empíricas é
.. . acometidos pela doença menta . em isso , surgiu b
com os sujeitos malS . d'fi ld , so igualmente diferente. A partir daqui vê-se a necessidade de fornec er, na fase de
a forma de um mvo . 1untário ex-nenmento
·r
de campo, a . 1 cu
. _ . .
ade. e a. dor dessas
reconstrução do desenho da pesquisa, um relato detalhado do modo em que
pessoas de falar de si·
, uma dor que as reucencias do
. pnme1ro coloquio e a recLisa
cada uma das técnicas de pesquisa utilizadas foi abordada, em sintonia com as
do segundo documentaram com dramática eficácia.
indicações formuladas - ainda que a partir de uma perspectiva epistemológica
Ao lado desses aspectos relativos à adequação epistêmica do método, na fase diferente daquela adotada neste volume - por David Altheide e John Johnson
de reconstrução do desenho da pesquisa torna-se ainda possível um balanço [1994: 489], para os quais os pesquisadores são obrigados a "fundamentar as
sobre a sua adequação pragmática. Superadas as considerações críticas sobre a suas interpretações e os seus resultados com um relato reflexivo relativo a si
viabilidade do estudo (cf. supra, par. 1.3) , abre-se o espaço para uma completa próprios [como instrumentos de pesquisa] e aos processos constitutivos da
74
reflexão sobre os aspectos éticos. As soluções adotadas para os problemas prefi- sua pesquisa" . Esse relato desempenha uma fun ção análoga à expressa na
gurados (p . ex., a proteção da privacidade), assim como as elaboradas para en- pesquisa quantitativa pela definição operacional: indica à comunidade cien-
frentar os dilemas inesperados fornecidos pelo trabalho de campo, podem agora tífica o modo no qual o pesquisador "mediu" o próprio objeto, mostrando ,
ser avaliadas e, tanto quanto possível, defendidas pela sua adequação. JUntam~nte ~os pont?~ fortes, também os limites elo percurso metodológico
Até aqui vimos o aperfeiçoamento das argumentações traçadas na prefigu- percornd_o. E ne~es~ano .~sclarecer - prosseguindo no jogo analógico _ que
ração do percurso de pesquisa. Quanto à complementação da argumentação na p~sqmsa quahtat1va a definição operacional" apresenta-se apenas na con-
persuasiva que sustenta o trabalho de pesquisa, os lugares atravessados di zem clusao do trabalho de pesquisa, constituindo-se mais como um resultado do
respeito à eloquência da documentação empírica e aos seus limites, indicados que como um ~ispositi~o disciplinar que organiza o seu modo de operaçã 0 1s_
de forma compacta pelo "grau de incerteza" das conclusões que sustenla. A O rela_to refle~~vo per~He uma qualificação diferencial do poder probante do
qualificação da eloquência, lato sensu, da documentação empírica está inti- matenal empmco obtido, a sua capacidade de nos conduzir, de forma mais ou
menos segura em d. - · .
mamente ligada à reconstrução da concreta indicação do método de pesquisa d , ueçao a resposta as nossas perguntas. Voltando a Eastis 0
us~do e, de modo geral , da relação observativa estabelecida com o próprio ~o er p~obante dos indícios que levam a qualificar um coro como orientado
I
objeto A flexibilid d d · · ·o ade e_v~çao das competências de cada cantor varia se extraídos do juízo_ que
· .
dos procedimentos ª e os metodos qualitativos, a constante harmonizaça
de con t - d d . . uai ª mnimos não desinteressado - elo maestro do coro, ou da observação mais
s ruçao o ado as características do obJeto ao q
74 . A moldura epi l 1· · d
proJ)ost . d " s e_mo og1ca entro da qual Altheide ejohnson [1994: 489] elaboram a pró .
73. Um limi te talvez insuperável colocand 0 . . relação ª eª 0 realismo analítico" pn a
de confiança construida . aquele Upo de mterlocução dentro de urna de 75 · Sobre esse tem . . ·
·d
Sau e Mental às quais os .com uma congru · · ento
ª pamcipação nas atividad es do Departarn 11 111 reflexivo e . a iemeto a dois cios meus trabalhos obsessivamente dedicados ao tema do 1
omo mstrumento pa - d b. . . re at
c,iudo e1nográfi co. pacientes se remetem, portanto , inserindo as entrevistas den tro de 2001 , 2014]. ra a construçao a o Jet1v1dade da pesquisa qualitativa [Cardano,
- - - -- - - -

P róxima
. ' repetida e competente (e Eastis
. nos assinala com um parêntese a
competência de ex-corista) dos ensa10s de toda a temporada . St1a

o poder probante da documentação empírica pode ser acrescentadO


teriormente através da sua inserção em um desenho argumentativo que Po~,
além da defesa das conclusões fornecidas pelo estudo, também uma corn Prev,.
com as principais explicações/interpretações alternativas do fenômeno t ª raçà,J
e d . d. Prese
tado. A argumentação, nesse caso, assume a 1 orma e uma 1sputa virtual 11 ·
qual apenas um orador tem a responsabilidade de mostrar as boas razões · tia
sustentar a própria tese e as razões da tese contrária, mostrando com o a dPara
mentação empírica obtida lhes oferece um suporte menos robusto 76 . ºc:u.
O último elemento da argumentação extrai, por assi!Il dizer, os fios das
um,
flexões críticas desenvolvidas mais acima, chegando à qualificação sin tética re.
tiVO
"grau de incerteza" [King, Keohane e Verba, 1994: 31-33], que caracteriz do
ada1
conclusões a que chega o estudo. Trata-se de um juízo que leva em cont/ as
mesmo tempo, as condições às quais o pesquisador pôde e·x perimentar O
prio objeto e a qualidade do diálogo instituído "entre dados e ideias", en~t
'tº nsti
obs•
o o
documentação empírica e a moldura teórica na quaJ é inscrita, [Becker, 1998 ~ vol,
trad. it., 2007: 88]. Na pesquisa quantitativa essejuízo ,é formulado u tilizand em
os instrumentos da teoria da probabilidade, e é expresso 0ra ?ºS intervalos do pró
confiança referidos a uma estimativa (p. ex., a cota de con~ensos ao panid e
de oposição expressa por m ± n %), ora na significatividade dos parâmetros d~ (cf.
um modelo estatístico. Na pesquisa qualitativa a mesma função pode ser desem. pel;
penhada utilizando a teoria da argumentação, com instrumentos talvez menos do
compactos, mas nem por isso menos eficazes. rep

soe
aqt
de
ric1
19~
pai
urr
Ai
pa1
un
761. _
Is:º' qdueHé um traço da retórica clássica, resulta em conformidade com as indicações meto· qu
d o og1cas e ans Georg Gadamer [1960 d · ·
_ - tra · It., 1990], para o qual o trabalho interpretauvo
requer que se mostre nao apenas as razõ . .
também aquelas ue consider . es que to~nam apropnada a mterpretação proposta, m~s
. d
tutivo b ~ am madequadas as mterpretações alternativas· "De fato é consu· l.
o sa er nao apenas O julg t d · ' .
a exclusão do não correto" 4~men o e a1go_com~ certo, mas também, e pela mesma r~zao,
espantalho" ou se · fifp. lJ. Em tudo isso e necessário evitar a chamada "falácia do ªº

, Jª, o con namento da comp - , , · ze5
de desafiar realmente a inte reta ão ro araçao as umcas fracas alternativas, incap~ 2.
explicações excluídas. rp ª·
ç p Pºst para tornar realmente fortes as interpretaçoe
9
co

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