2. Precondições Socioculturais para o aparecimento da psicologia como ciência no século XIX a) A experiência da subjetividade privatizada (Reforma, Descartes, Renascimento) b) Constituição e desdobramentos da noção de subjetividade na Modernidade c) A crise da Modernidade e da subjetividade moderna em algumas de suas expressões filosóficas (Iluminismo, Kant, Romantismo, Nietzsche) d) Sistema mercantil e individualização (produção para a troca, especialização, a vida como barganha e troca, Marx e mercado de trabalho - perda dos vínculos com os meios de produção. Trabalhador livre. Perda de apoios e meios de sustentação. Desamparo. e) Ideologia liberal iluminista, romantismo e regime disciplinar (Liberal Iluminista: igualdade, liberdade, fraternidade, Romantismo: liberdade de ser diferente.
IDEOLOGIA LIBERAL: Todos são iguais, mas têm interesses próprios
IDEOLOGIA ROMANTICA: Todos são diferentes, mas almejam uma comunicação universal (gênio, artes, etc.)
f) A crise da subjetividade privatizada ou a decepção necessária
Contestação da subjetividade privatizada. Desconfiança das experiências. A liberdade e a diferença são ilusões. Combate aos movimentos operários. Força e presença das disciplinas. Crises, lutas e guerras em função do individualismo. Indústria mecanizada baseada na produção de massa. Percepção de que liberdade e a individualidade são ilusões. Perplexidade. Terreno para a psicologia científica. Necessidade de recorrer a técnicas de previsão e controle. Ordem social. Psicologia aplicada.
3. A prática científica e a emergência da psicologia como ciência
a) Conhecimento científico: privacidade e diferença (preocupação com a ciência, posição do sujeito, experiências empíricas - visão de domínio sobre a natureza - aprofundamento da experiência subjetiva privatizada - liberdade, versus necessidade de objetividade para obter o conhecimento verdadeiro. Francis Bacon - ídolos do conhecimento: fatores subjetivos e individuais que se colocam entre a ciência e o conhecimento verdadeiro, como expectativas em relação a resultados, diferenças entre as individualidades dos observadores de fenômenos, etc. O homem deve deixar de ser o cientista mas também se torna objeto de conhecimento. Conhecer e domar a subjetividade para garantir avalidade intersubjetiva dos achados - objetividade - conhecer para dominar.
4. Os projetos de psicologia como ciência independente
a) O projeto de Wundt - 1832 - 1920 (psicologia: intermediária entre ciências da natureza e da cultura. Da psicologia experimental fisiológica à psicologia social. OBJETO: experiência imediata (tal como se dá, antes de conhecê-la). MÉTODO: I) experimental: pesquisa dos elementos fisiológicos e físicos do ambiente II) comparativo: análise dos fenômenos culturais - linguagem, religião, mitos, etc. CAUSALIDADE PSÍQUICA: síntese criativa de fenômenos = psique. CRIA 2 PSICOLOGIAS: I) psicologia fisiológica experimental: causalidade psíquica não é aprofundade - ligação com ciências físicas e fisiológicas; II) psicologia social ou dos povos: processos criativos em que a causalidade psíquica aparece com mais força - estudar por meio de seus produtos socioculturais. UNIDADE PSICOFÍSICA. b) O projeto de Titchener 1867 - 1927 (discípulo de Wundt. OBJETO: experiência de um organismo dependente de seu sistema nervoso. Busca de justificativas fisiológicas para a vida mental. Perda da autonomia da psique. PARALELISMO PSICOFÍSICO: o fisiológico explica o mental. MÉTODO: observação e experimentação. Auto-observação com objetividade em situações controladas de laboratório (introspecção experimental). c) A psicologia funcional. J Dewey (1859 - 1952), J. Angel (1869-1949), H. A Carr (1873 - 1954). Oposição a Titchener mas ainda colocando a psicologia no campo das ciências naturais. OBJETO: estudar processos, operações e atos psíquicos como formas de interação adaptativa. PRESSUPOSTO: biologia evolutiva. Adaptação das características orgânicas e comportamentais ao ambiente. Operações e processos mentais são instrumentos de adaptação. MÉTODO: variado. Auto-observação e estudo dos comportamentos adaptativos. d) O Comportamentalismo J.B Watson (1878- 1958). Completa oposição à Titchener. OBJETO: NÃO É A MENTE, MAS O COMPORTAMENTO EM SI. MÉTODO: observação e experimentação de comportamentos publicamente observáveis, evitando a auto-observação. Correntes anteriores criaram condições favoráveis para o seu desenvolvimento apesar de serem opostos. Negação da experiência imediata. Negação do paralelismo psicofísico. Negação da unidade psicofísica. Foco no comportamento. Abolição da auto-observação. O sujeito do comportamento é apenas um organismo. Não existe interesse na experiência do indivíduo. CONTROLE DO COMPORTAMENTO e) Projetos de psicologia e condições de produção. (Condições - revisão: I) experiência subjetiva privatizada II) crise da experiência subjetiva privatizada - o sujeito não é tão livre como julga nem tão único como crê. O comportamentalismo nega a experiência imediata mas não a compreende.O comportamentalismo deixa de lado a vivência para tentar identificar as forças biológicas e ambientais que controlam o comportamento, enquanto as psicologias humanistas procuram captar as vivências na sua intimidade e privacidade. f) A psicologia da Gestalt. Estrutura, totalidade. Koffka, etc. (OBJETO: experiência imediata. MÉTODO: fenomenológico. Descrição ingênua dos fenômenos tais como aparecem na consciência, antes de análise. DESCOBERTA: todos os fenômenos da percepção, problemas, afetividade, etc. são vividos pelos sujeitos sob forma de estruturas. Buscam demonstrar o caráter estrutural dos fenômenos da experiência. Transpor e relacionar a experiencia imediata com o mundo físico e fisiológico. ISOMORFISMO. Reconhecimento da experiência imediata. Preocupação de relacionar esta experiência com a natureza física e biológica e valores socio-culturais. g) Comportamentalismo diferenciado; beaviorismo radical de Skinner (1904-1990). Não rejeita a experiência imediata. Tenta conhecer sua origem gênese e natureza. Estudar em que condições a experiência subjetiva privatizada se desenvolve. O mundo privado de cada um é uma construção social. Para Skinner as experiências subjetivas não tem nada de imediato: são sempre construídas. Reconhecimento da experiência a partir de um ponto de vista social. A noção moderna de sujeito cai por terra com Skinner. A crença de que a nossa consciência é causa determinante de nossas ações deveria ser tratada como último preconceito ou ignorância após a queda das religiões. Colonização social do íntimo. h) A psicologia cognitivista de Piaget e a psicanálise freudiana. Piaget (1896-1980). Freud (1856-1939). O que une estes dois autores é a perspectiva de estudar a gênese do sujeito levando em conta sua experiência imediata mas não apenas. “Do ser biológico ao ser social”. Piaget. Ex-biólogo. MÉTODO CLÍNICO. Procura entender a experiência imediata das crianças. FREUD. MÉTODO PSICANALÍTICO. Formado em neurologia. Falta de explicação neurológica para os pacientes histéricos. Inexistência de lesões orgânicas. Articula um evento corporal ao universo representativo da pessoa. Conflito de tendências contraditórias geram neurose. Retorno do simbólico reprimido como sintoma, sonho, ato falho, etc. A consciência não percebe o desejo em questão. O OBJETO DA PSICANÁLISE É O INCONSCIENTE. O eu não é a totalidade do psiquismo. Retorno ao Romantismo? Teoria racionalista que se defronta com os limites do representável. Técnica de interpretação do sentido oculto dos relatos de pacientes. Metapsicologia: transcendência da experiência imediata. i) A psicologia tornou-se possível como ciência independente num bojo de uma crise. A experiência imediata só pode ser alnalisada se for ultrapassada, superada, o que acaba juntando a psicologia com a Biologia e a Sociologia.
5. O psicólogo: funções e mitos. A psicologia é um ingrediente de nossa cultura. As ideias
psicologicas se tornaram veiculo de um hiperindividualismo. Isto vai de encontro com a ideia da psicologia como ciência.