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A Essência Do Evangelho de Paulo - Marcos Granconato
A Essência Do Evangelho de Paulo - Marcos Granconato
de Paulo
A essência do Evangelho
de Paulo
Marcos Granconato
ISBN: 978-85-98172-38-5
226 CDD
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Aspectos Introdutórios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Autoria, data e destinatários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Ocasião e propósito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
Contribuição para a doutrina cristã. . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1 - O EVANGELHO VERDADEIRO
E SUA SINGULARIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Saudações iniciais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
A ameaça de um outro evangelho. . . . . . . . . . . 20
A origem divina do evangelho. . . . . . . . . . . . . . . 25
2 - O EVANGELHO VERDADEIRO E
SUA INDEPENDÊNCIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
A unidade apostólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
A simulação de Pedro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
5 - O EVANGELHO VERDADEIRO E AS
VIRTUDES ESPIRITUAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99
Prejuízos do legalismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Uma corrida interrompida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
O amor é o cumprimento da lei. . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
A vida sob o controle do Espírito. . . . . . . . . . . . . . . 115
6 - O EVANGELHO VERDADEIRO E OS
DEVERES CRISTÃOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Cuidando dos outros e de si mesmo. . . . . . . . . . . 129
A colheita futura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
O que realmente importa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
OCASIÃO E PROPÓSITO
SAUDAÇÕES INICIAIS
GÁLATAS 1.1-5
1. Paulo, apóstolo enviado, não da parte de homens nem
por meio de pessoa alguma, mas por Jesus Cristo e por
Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos,
2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
3. A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do
Senhor Jesus Cristo,
4. que se entregou a si mesmo por nossos pecados a fim de
nos resgatar desta presente era perversa, segundo a vontade
de nosso Deus e Pai,
5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.
A UNIDADE APOSTÓLICA
GÁLATAS 2.1-10
1. Catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, dessa
vez com Barnabé, levando também Tito comigo.
2. Fui para lá por causa de uma revelação e expus diante
deles o evangelho que prego entre os gentios, fazendo-o,
porém, em particular aos que pareciam mais influentes,
para não correr ou ter corrido inutilmente.
3. Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi obrigado
a circuncidar-se, apesar de ser grego.
4. Essa questão foi levantada porque alguns falsos irmãos
infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que
temos em Cristo Jesus e nos reduzir à escravidão.
5. Não nos submetemos a eles nem por um instante, para
que a verdade do evangelho permanecesse com vocês.
36 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
A SIMULAÇÃO DE PEDRO
GÁLATAS 2.11-21
11. Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face
a face, por sua atitude condenável.
12. Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele
comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram,
afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram
da circuncisão.
13. Os demais judeus também se uniram a ele nessa
hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar.
14. Quando vi que não estavam andando de acordo com a
verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos:
“Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu.
Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como
judeus?
15. “Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’,
16. sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei,
mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também
cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em
Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei
ninguém será justificado.
17. “Se, porém, procurando ser justificados em Cristo
descobrimos que nós mesmos somos pecadores, será Cristo
então ministro do pecado? De modo algum!
18. Se reconstruo o que destruí, provo que sou transgressor.
19. Pois, por meio da Lei eu morri para a Lei, a fim de
viver para Deus.
O EVANGELHO VERDADEIRO E SUA INDEPENDÊNCIA 43
NT, Paulo diz que morreu para a Lei ao unir-se a Cristo em sua
crucificação. Essa é uma forma viva de dizer que morreu para
a Lei ao apropriar-se dos benefícios da morte de Cristo. Assim,
estar crucificado com Cristo é prender-se à cruz pela fé e, assim,
morrer para a velha vida com seus padrões e crenças vãs
(6.14). Lembremos que essas palavras provavelmente ainda
compõem a admoestação dirigida a Pedro que, com seu
procedimento, revelara um modelo diferente de vida.
Paulo prossegue explicando, ainda no v. 20, o sentido da
expressão “viver para Deus” (v. 19). Ele diz que, além de estar
morto para o antigo estilo de vida baseado na confiança na
Lei, tem agora seu “eu” totalmente dominado por Cristo. “Já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Aqui reside o
“segredo” de toda a piedade cristã. Esta não consiste de
obediência exterior a regras, como ensinavam os mestres
legalistas da Galácia, mas sim de um deixar-se dominar
totalmente por Cristo, de tal forma que o indivíduo desapareça,
inundado por uma onda de caráter transformado e santo (5.24).
Essa vida que implica morte para padrões antigos e inúteis;
essa vida que implica a renúncia de si próprio; essa vida que
consiste na construção do viver de Cristo em nós, só é possível
“pela fé no Filho de Deus”. Não há espaço nela para a confiança
nas obras pessoais. Aliás, admitir, como Pedro dera a entender,
que a justiça vem pela Lei, seria o mesmo que anular a graça
de Deus e afirmar a inutilidade do sacrifício de Cristo (21).
o evangelho e seu poder
3.
A MALDIÇÃO DA LEI
GÁLATAS 3.10-14
O FIM DA ESCRAVIDÃO
GÁLATAS 4.1-7
1. Digo porém que, enquanto o herdeiro é menor de idade,
em nada difere de um escravo, embora seja dono de tudo.
2. No entanto, ele está sujeito a guardiões e administradores
até o tempo determinado por seu pai.
3. Assim também nós, quando éramos menores, estávamos
escravizados aos princípios elementares do mundo.
4. Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei,
5. a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que
recebêssemos a adoção de filhos.
6. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de
seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.
7. Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser
filho, Deus também o tornou herdeiro.
74 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
PREJUÍZOS DO LEGALISMO
GÁLATAS 5.1-6
1. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto,
permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente
a um jugo de escravidão.
2. Ouçam bem o que eu, Paulo, lhes digo: Caso se deixem
circuncidar, Cristo de nada lhes servirá.
3. De novo declaro a todo homem que se deixa circuncidar,
que está obrigado a cumprir toda a Lei.
4. Vocês, que procuram ser justificados pela Lei, separaram-
se de Cristo; caíram da graça.
5. Pois é mediante o Espírito que nós aguardamos pela fé a
justiça, que é a nossa esperança.
6. Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem
incircuncisão têm efeito algum, mas sim a fé que atua pelo
amor.
100 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
“Escândalo” (skandalon)
´ significa, literalmente,
armadilha. É uma palavra usada no NT para fazer referência
ao incitamento ao pecado (Mt 16.23; 18.7; Rm 16.17). A partir
desse significado básico, o sentido se estende a ponto de
abranger qualquer coisa que cause repulsa ou reprovação.
Esse é o sentido adotado no v. 11. “Escândalo da cruz” é,
portanto, a indignação que a mensagem da cruz gera. De fato,
para o judeu, essa mensagem causava repugnância como algo
que induzia os outros ao erro, a tal ponto que incitava sua
oposição (1Co 1.23). Se Paulo pregasse a circuncisão, essa
repulsa deixaria de existir; o escândalo cessaria e com ele a
perseguição. Ora, a constante inimizade dos judeus contra
Paulo era a prova de que isso jamais tinha acontecido.
Naturalmente, acusações tão absurdas contra Paulo geravam
em seu íntimo a mais intensa indignação. Por isso, com mordaz
ironia, ele termina o parágrafo insurgindo-se abertamente
contra seus covardes caluniadores (12). O apóstolo se refere a
eles como pessoas que provocam tumulto e agitação. Em 1.7 e
5.10, os mestres judaizantes já foram descritos como pessoas
que perturbam. Agora, um outro verbo é usado (anastatow), ´
cujo sentido é semelhante. De fato, Paulo sugere que os mestres
legalistas eram instigadores de tumulto. Sendo assim,
ironicamente faz votos de que aqueles homens que eram tão
radicalmente afeiçoados à circuncisão, até o ponto de conduzir
a igreja à rebeldia, também fossem radicais na realização do
ritual, e se castrassem de uma vez por todas!10 Diziam que ele
pregava a circuncisão. Eis aí, portanto, a circuncisão que Paulo
prega! Que os mentirosos agora façam uso dela.
A reação de Paulo diante da mentira que tentava corromper
o evangelho e também sua própria reputação pode parecer
demasiadamente severa. No entanto, aprendemos na Escritura
que na defesa da verdade, ainda que deva predominar a
mansidão no coração dos seus expoentes (2Tm 2.24-25; 1Pe
3.15-16), há situações que exigem a tomada de atitudes mais
O EVANGELHO VERDADEIRO E AS VIRTUDES ESPIRITUAIS 113
controlar sua vida, é óbvio que sua obediência deve ser a ele
e não às normas da Lei Mosaica, como os mestres judaicos
têm lhes ensinado”.
De tudo isso se depreende o seguinte: há três influências
sob as quais é possível que um crente se coloque. Essas três
influências são: a Lei, a carne e o Espírito.13 Sob as duas
primeiras, o cristão jamais conseguirá agradar a Deus (Rm
7.9; 8.8) e, para desespero de Paulo, era exatamente a essas
duas que os gálatas se sujeitavam. Já a terceira influência, a
do Espírito, permanece a única sob a qual o crente pode
realmente fazer a vontade do Senhor (v. 16). Debaixo dela, a
força da carne é neutralizada e o cristão é capacitado
sobrenaturalmente a cumprir as justas exigências da Lei, da
forma como Deus requer (Rm 7.6; 8.4).
Nos vv. 19-21, o apóstolo apresenta uma lista da qual
constam quinze “obras da carne” específicas. Paulo pretende
mostrar vividamente o modo como as inclinações na natureza
pecaminosa se manifestam no dia-a-dia das pessoas que se
deixam dominar por ela. Fica claro aqui, antes de tudo, que a
carne induz à realização de certas obras e que essas obras
são facilmente identificáveis. O termo traduzido na NVI por
“manifestas” (fanera) indica que tais obras são praticadas
sem qualquer discrição, sendo expostas diante de todos numa
chocante demonstração de ausência de escrúpulos.
A lista de obras da carne pode ser dividida em quatro grupos
distintos de pecados. O primeiro deles abrange os pecados de
natureza sexual. Estes são: imoralidade sexual, impureza e
libertinagem (19). O termo traduzido por “imoralidade sexual”
(porneia)
´ abrange todos os tipos de relação sexual ilícita, desde a
´ sugere
fornicação até a prostituição. Já a “impureza” (akaqarsia)
a idéia de podridão no íntimo, ou seja, as más intenções na área
sexual ainda que também signifique imoralidade de um modo
geral. Quanto à “libertinagem” (aselgeia)
´ a palavra poderia ser
traduzida como “lascívia” (cf. ARA) ou “sensualidade”. Porém, o
120 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
orgulha por ser assim e até mesmo gaba-se dos ataques que,
cheio de ira, empreendeu contra seus semelhantes nesta ou
naquela ocasião.
O próximo item na lista de Paulo é “egoísmo”, que no texto
também aparece no plural (eriqeia). O vocábulo denota a
ambição egoísta, também mencionada em Tiago 3.14-16 como
a causa de tudo o que é ruim nas relações entre os homens. O
indivíduo que pratica esse pecado é aquele que faz as coisas
visando a glória pessoal, em detrimento dos interesses e bem
estar dos outros, chegando mesmo a desrespeitá-los (v. 26).
Para ele o cuidado e a promoção de si mesmo estão acima de
tudo e de todos (Fp 2.3-4).
Quanto às dissensões (dixostasiai), ´ são as divisões e
partidos que muitas vezes se insinuam até mesmo dentro das
´
igrejas (Rm 16.17). Já as facções (aireseis), referem-se a
conflitos de opinião (1Co 11.19). Da palavra grega que aparece
aqui surgiu o termo “heresia”, usado para descrever conceitos
doutrinários que causam cisma dentro da igreja.
A última palavra pertencente à terceira classe de pecados
´
alistados por Paulo é traduzida por “inveja” (fqonoi). Seu
significado é, basicamente, o mesmo atribuído a zhloj (Veja
acima).
O quarto e último grupo de obras da carne abrange os
pecados de desregramento que Paulo especifica mencionando
a embriaguez e as orgias (21).
´
A embriaguez (meqai) é o uso abusivo da bebida alcoólica.
O cristianismo não ensina a abstinência total do álcool (Jo
2.3-10; 1Tm 5.23)15, mas reprova a bebedice (Pv 20.1; Is 5.11-
12,22; 1Tm 3.2-3,8; Tt 2.3). Diferentemente da concepção
moderna, a Bíblia refere-se à embriaguez como um pecado
que impõe a quem o pratica a necessidade de arrependimento
(Rm 13.13-14) e não como uma doença pela qual o homem
não pode ser responsabilizado. Assim, Paulo alista a bebedice
entre as obras da carne, mais especificamente entre os pecados
O EVANGELHO VERDADEIRO E AS VIRTUDES ESPIRITUAIS 123
´
A lista de Paulo prossegue, e fé (pistij) é a palavra que
vem a seguir. Considerando, porém, que a fé é um elemento
básico nas relações do homem com Deus, constituindo-se no
fator que possibilita o início da vida cristã (Rm 5.1-2; Gl 3.2),
dificilmente Paulo, no presente contexto, incluiria a fé em Deus
na lista em pauta. Fé em Deus é raiz, não fruto. Por isso,
parece correto entender o termo usado por Paulo como
“fidelidade”, aliás, uma tradução perfeitamente possível. De
fato, a palavra pistij
´ é usada para descrever a pessoa
comprometida e leal (Rm 3.3; Tt 2.9-10). Assim, certamente
Paulo quer ensinar que o homem espiritual é alguém confiável,
incapaz de trair a verdade (especialmente a doutrinária) e fiel
nas suas relações com as pessoas. Os crentes da Galácia não
tinham essa virtude (1.6; 4.14-16).
:
´
com a mansidão (prauthj) que mencionou em 5.23.
Os crentes “espirituais”, ou seja, os responsáveis pela
recuperação de um irmão que pecou, não são pessoas livres
do perigo da queda. Por isso, Paulo se dirige, anda no v. 1, a
esses irmãos, orientando-os no sentido de evitar qualquer
tentação que os leve à prática do mal. Segundo Paulo, o crente
´ ficar atento, observar cuidadosamente
deve vigiar (skopew),
as circunstâncias ao seu redor e, dessa forma, detectar os
momentos, os lugares e as áreas em que a tentação pode
surgir para, então, evitá-la. Aliás, muitas vidas não teriam se
arruinado se tivessem sido mais cautelosas, detectando as
fontes de tentação e fugindo delas. Assim, os crentes, mesmo
os mais maduros (aliás, lembremos que Paulo se dirige
exatamente a esses aqui), não devem se expor ao perigo. A
vigilância é o preço que se paga pela pureza.
No v. 2 Paulo ensina que na igreja as pessoas devem levar
as cargas umas das outras. Carga (baroj) ´ sugere um peso
excessivo, difícil de carregar e capaz de prostrar quem está
sob ele. O contexto aqui aponta para os fardos que um irmão
carrega em decorrência de sua fraqueza moral e do pecado
em que caiu. Os gálatas, preocupados em observar aspectos
exteriores da Lei Mosaica, deixavam de lado o cuidado fraternal
(5.15,26). Paulo, então, oferece a eles, que tanto valorizam a
Lei, uma outra lei: a Lei de Cristo. De fato, o Senhor enunciou
aos seus discípulos um novo mandamento. Ele disse: “Um
132 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
A COLHEITA FUTURA
GÁLATAS 6.6-10
6. O que está sendo instruído na palavra partilhe todas as
coisas boas com aquele que o instrui.
7. Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o
que o homem semear, isso também colherá.
8. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá
destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito
colherá a vida eterna.
9. E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo
próprio colheremos, se não desanimarmos.
10. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem
a todos, especialmente aos da família da fé.
agora um novo homem, ele faz com que sua luz brilhe nas
trevas dos corações humanos, capacitando as pessoas a ver
a glória de Deus que está em Cristo. De fato, tanto para criar
quanto para salvar, Deus diz “haja luz!” É por causa desse
paralelo que o apóstolo, em Gálatas 6.15, chama o crente de
nova criação (Veja-se tb. 2Co 5.17).
Dentro da Nova aliança, portanto, a circuncisão é
absolutamente irrelevante (Rm 2.28-29; 1Co 7.19; Gl 5.6). Só
o livramento das trevas, com o conseqüente surgimento de
um novo homem é que importa. Paulo, aliás, expressa o desejo
de que a paz e a misericórdia de Deus estejam sobre todos os
que andarem conforme essa “regra” (16). A palavra usada
aqui (kanwn)´ tem o sentido de “padrão” ou “limite”. Desse
modo, o apóstolo deseja paz e misericórdia às pessoas que
adotam como princípio ou padrão de conduta a verdade de
que tudo o que importa é ser nova criação, gloriando-se nisso
e não em rituais exteriores. Refere-se, assim, àqueles que
encontram motivo de exaltação e base para o comportamento
dentro dos limites da verdade de que são nova criação, e não
buscam glórias além dessa fronteira (Fp 3.3), como faziam os
falsos mestres da Galácia.
O desejo de Paulo de que Deus abençoe os homens com
paz e misericórdia não se estende apenas aos que conheceram
a realidade da nova criação. Ele pede as mesmas bênçãos para
todo o Israel de Deus (16 in fine). Se a igreja precisava de paz
e misericórdia, considerando suas perturbações internas
(5.10,15) e os perigos externos (6.12), Israel também carecia
dessas bênçãos. Paulo via os judeus em geral como o povo de
Deus (Rm 9.3-5; 11.28), um povo para o qual Deus tem
reservado uma herança (Rm 11.25-27; Ef 3.6). Por isso, o fato
de rejeitar a circuncisão como requisito para a justificação
não significava desprezo pela nação israelita. De fato, o
apóstolo estava longe de menosprezar seu próprio povo.
Antes, sofria em face da sua incredulidade (Rm 9.1-3) e orava
O EVANGELHO VERDADEIRO E OS DEVERES CRISTÃOS 141
Aspectos Introdutórios
1
Os que situam a produção da carta em 48 d.C. vêem 2.1-10 como uma
passagem que se refere à visita de Paulo a Jerusalém, mencionada em Atos
11.27-30, e não ao Concílio de Jerusalém que, segundo essa corrente, estava
ainda prestes a acontecer quando a epístola foi escrita.
2
Na Epístola aos Gálatas, Paulo faz alusão ao seu trabalho naquelas regiões em
4.13-14.
3
Os destinatários, segundo parece, conheciam Barnabé, o companheiro de
Paulo em sua primeira viagem missionária (Cf. 2.1,9,13). Como já dito, essa
viagem abrangeu a região sul da Galácia.
2
Isso era especialmente importante porque, como se sabe, os falsos mestres da
Galácia estavam dizendo que o ensino de Paulo era contrário à doutrina dos
apóstolos de Jerusalém.
3
Tito foi, posteriormente, delegado de Paulo com a missão de administrar a
crise em Corinto (2Co2.12-13; 7.5-7). Ele também coordenou as igrejas de
Creta (Tt 1.5).
4
Como se sabe, os judaizantes entendiam que a circuncisão era fundamental
para que o homem fosse justificado. Veja 5.2-4, 6; 6.12-13, 15.
5
A atividade e ensino dos judaizantes de Jerusalém num tempo posterior mas
muito próximo da composição da Epístola aos Gálatas podem ser vistos em
Atos 15.1-2,5.
pendurado até o fim do dia como um sinal de que ali estava alguém que havia
morrido sob a maldição de Deus, por transgredir a Lei (Dt 21.22-23).
8
A habitação do Espírito no crente é uma bênção singular porque lhe confere
segurança de um dia ser plenamente resgatado (Ef 1.13-14), também prova
e testifica que ele pertence a Deus (Rm 8.9, 15-16), capacita-o a viver em
santidade (Rm 8.13-14) e enche sua vida de satisfação (Jo 7.38-39).
9
A palavra usada por Paulo pode significar “testamento”, isto é, a declaração
de última vontade. Também tem o sentido de contrato ou aliança. No versículo
em análise trata-se de uma declaração da vontade feita por Deus na qual
somente ele se obrigou, sem nada impor ao homem.
10
Deve-se lembrar que, à luz do v.17, a Lei só veio 430 anos depois de
estabelecida a aliança com Abraão.
11
Em Mateus 22.31-32, 41-45 vê-se que nosso Senhor também dava especial
atenção a aspectos gramaticais do texto bíblico.
12
A consciência de pecado existe mesmo naqueles que jamais conheceram a
Lei de Moisés (Rm 2.14-15). Porém, ela é muito limitada. Por exemplo: não
se sabe, por meio da mera “lei interior”, que a cobiça é pecado (Rm 7.7).
13
O ensino de que a Lei Mosaica foi dada com o propósito de refrear as
transgressões parece encontrar obstáculos no que Paulo ensina em Romanos
7.7-14. Ali aprendemos que a Lei, apesar de santa, justa e boa, estimula o
pecado na humanidade carnal. É verdade que, idealmente, o mandamento
seria dado para produzir vida (Rm 7.10). Seu objetivo real e prático, contudo,
foi outro, a saber: dar maior força ao pecado (Rm 7.12-13; 1Co 15.56).
14
Outros textos em que Paulo mostra apreço pela Lei são Romanos 3.31;
7.7,12,14; 8.4; 1Tm 1.8.
15
A frase “a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado” significa que o Antigo
Testamento declarou a transgressão de todos (Rm 3.9-19), demonstrando
que a Lei que foi dada a Moisés era incapaz de justificar e conceder vida.
3
A ausência de artigo antes da palavra “lei” no v. 5, sugere que Paulo não
tinha em mente aqui somente e Lei Mosaica, mas qualquer conjunto de
normas imposto ao homem.
4
Todos esses milênios compõem o período chamado de “tempos da ignorância”
(At 17.30).
5
Earle E. Cairns, em O cristianismo através dos séculos (São Paulo: Vida Nova,
1984. p. 29-36) afirma que a “plenitude dos tempos” em Gálatas 4.4 diz
respeito à preparação do cenário mundial de tal forma que contribuísse para
que a mensagem de Cristo tivesse o maior impacto possível. De acordo com
esse entendimento, Deus, ao longo dos séculos, foi preparando o ambiente
político, intelectual e religioso para que o advento do Messias ocorresse num
contexto que favorecesse a sua divulgação. O tempo em que tudo estava
pronto seria entendido como a “plenitude dos tempos”. No entanto, apesar
de não haver dúvidas de que Deus usou o ambiente instalado no século 1º
para favorecer a expansão da fé, é muito difícil que isso se relacione com o
sentido da expressão “plenitude dos tempos” pretendido por Paulo em Gálatas
4.4. O entendimento mais natural e simples, à luz inclusive do v. 2, é que a
expressão diz respeito apenas ao tempo em que soberanamente Deus julgou
necessário livrar o homem do jugo da lei, determinando que o período de
“tutela” não devia mais se prolongar.
6
Hipóstase, em grego, significa, essência ou natureza substancial. Na discussão
cristológica, contudo, esse termo é usado predominantemente com o sentido
de “pessoa”. Para conhecer melhor os contornos dessa matéria, é fundamental
que sejam estudados os quatro concílios ecumênicos da igreja antiga e,
especialmente, a Definição de Calcedônia. Uma leitura esclarecedora é
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001.
7
Aba é o termo aramaico para Pai.
8
Outras verdades sobre a habitação do Espírito Santo são as seguintes: ela é
dada aos que crêem (Jo 7.38-39; Gl 3.2); todos os crentes desfrutam dela
(1Co 12.13); ela se constitui numa das bases para a pureza sexual do cristão
(1Co 6.18-19); e ela é a garantia de que somos “propriedade” de Deus (Ef
1.13-14).
9
Em 1 Tessalonicenses 4.5, Paulo ensina que quem não conhece a Deus
também é escravo de desejos lascivos.
10
Na Igreja Antiga era pacífico o entendimento de que foram os demônios
que, em tempos remotos, haviam se manifestado aos homens apresentando-
se como deuses e dando origem às múltiplas formas de adoração pagã.
11
O proto-gnosticismo, filosofia pagã que ameaçou o cristianismo nascente,
acolhia com prontidão diversos preceitos judaicos (Cl 2.8, 16). Portanto, o
retorno à Lei também poderia ser facilmente interpretado como a adoção de
sistemas filosóficos pagãos.
12
É possível traduzir a palavra proteron
´ (próteron: “a primeira vez”) como
156 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO
realmente como um escravo adquirido por Cristo. Tendo agora um novo senhor,
não precisa mais viver sob o jugo da Lei.
19
Paulo tinha experiência própria desse fato (2.20). Note-se ainda que, em sua
vida, não somente o próprio eu carnal havia sido crucificado, mas também o
mundo com seus atrativos e apelos (6.14).
20
Veja-se em 3.2,5,14; 4.6; e 5.5 os fenômenos próprios dessa realidade.
Apêndice
1
Que a ameaça do judaísmo persistiu ainda no século II com força suficiente
para preocupar os mestres cristãos, pode-se ver em diversos escritos da
época. As cartas de Inácio de Antioquia, por exemplo, escritas por volta do
ano 107, refletem esse fato. Especialmente duas de suas epístolas, a dirigida
aos magnésios (Caps. 8-10) e a endereçada à igreja de Filadélfia (Cap. 6),
advertem os crentes a não se corromperem com práticas ou discursos
judaicos. Também a Epístola de Barnabé, datada de cerca de 135, revela
claramente o propósito do autor em demonstrar as distinções entre os
aspectos exteriores da religião do VT e a “nova lei” do cristianismo, o que
pode indicar que a ameaça do legalismo judaico ainda vigorava nos dias
em que essa carta foi composta. Preocupação semelhante se verifica na
Carta a Diogneto (c. 120), em que o autor, um dos primeiros apologistas
160 A ESSÊNCIA DO EVANGELHO DE PAULO