Você está na página 1de 252

DOUT R I NAS

400 PERGUNTAS
400 RESPOSTAS

William C a ie y Taylor
1’rulossor do Doutrinas e Religiões
no
ínsüfufo do Treinamento Cristão

RIO DE JANEIRO — 1952


HOMENAGEM
à memória de

D O N A A N N A L UT HER B A G B Y
Pioneira sem par, educadora pelo

exemplo, no lar, em colégios estáveis,

e nas igrejas batistas brasileiras;

missionária bíblica e mãe de


missionários, forte e firm e na

doutrina, com a doçura espiritual

conveniente em seu testemunho, cujas


palavras vibrantes e alegres sôbre

a doutrina e a experiência da

providência divina, muito influenciaram


e estimularam, em São Paulo,

em 1918, meu ministério no


Brasil, daí em diante.
ABREVIATURAS
Gôn. — Gênesis I I Cor. — II Coríntios
íx. — Êxodo Gál. — Gálatas .
Lev. — Levítico E f. — Efésios
Núm. — Números Fil. — Filipenses
Deut. — Deuteronômio Col. — Colossenses
Jos, — Josué I Tess. — I Tessalonicenses
Jui. — Juizes II Tess. — II Tessalonicenses
I Sam. — I Samuel I Tim. — I Timóteo
II Sam. — II Samuel II Tim. — II Timóteo .
I Crôn. — I Crônicas Filem. — Filemom
II Crôn. — II Crônicas Heb. — Hebreus
Ead. — Esdras I Ped. — X Pedro
Noem, — Neemias II Ped. — II Pedro
Sal. — Salmo Jud. — Judas
Prov. — Provérbios Apoc. — Apocalipse.
Ecl. — Eclesiastes A.C. — Antes de Cristo
Is. — Isaías D.C. — Depois de Cristo
Jer. — Jeremias Com. — Comentário
Ez. — Ezequiel Ep. — Epístola
Dan. — Daniel Ev. — Evangelho
Os. —■Oséias LXX — Septuaginta
Am. — Amós. Ms — Manuscrito (s)
Ob. — Obadias N. T. — Novo Testamento
Jon. — Jonas V. T. — Velho Testamento
Miq. — Mlquêias Pág. — Página
Hab. — Habacuque Vers. Bras. — Versão Bra­
Soí. — Sofonias sileira
Ag. — Ageu Ver. Al. — Versão Almeida
Zac. — Zacarias Vers. Sept. (ou LXX) *— Ver­
Mal. — Malaquias são Grega do V. T.
Mat. — Mateus hebraico, a Septuaginta.
Marc. — Marcos Vers. Im. Bíb. — Versão da
Luc. — Lucas Imprensa Bíblica.
A t. — Atos Vers. Al., Ed. Bras. Rev. —
Rom. — Romanos Versão Almeida, Edição
I Cor. — I Coríntios Brasileira Revista.
PR EFÁCIO

Êste livro visa auxiliar as investigações dos que


desejam saber o que a Bíblia ensina sôbre esta® ver­
dades reveladas. N ão se interessa no estudo das teo­
rias contraditória® aeumuladas pelos séculos de con­
trovérsia religiosa. Estas teorias surgiram, freqüen-
temente, mais da especulação filosófica da moda, do
que de uma singela interpretação da Palavra de
Deus. A esta nos restringimos.
Meu livro anterior, «Crem os», que é do Curso de
Estudos da União Geral das Senhoras A uxiliar à
Convenção Batista Brasileira, é pressuposto para o
uso desta série de Lições. Por isto não se repete aqui
o resumo do cristianismo bíblico que ali é dado. N essa
base, investigamos outras vinte doutrinas cristãs,
sentindo-se, naturalmente, a falta de muitas outras
verdades importantes e vitais. A escolha, porém,
destas vinte não foi arbitrária, mas visa o benefí­
cio prático de obreiros cristãos e das igrejas a que
êles irão servir, em lealdade a Cristo.
Devo acrescentar uma palavra sôbre o método
de ensino, caso o livro chegue a ser usado em outras
classes além das minhas. Procuro ensinar o aluno,
e não meramente ensinar a matéria, que há suficien­
te em muitas das lições, para os alunos que dese­
jam, e são capazes de assimilar mais e melhor a ver­
dade discutida. Seja-lhes permitido acumular o má­
ximo, no seu pensamento e vida. Mas, ao aluno que
menos assimilar, não será exigido decorar o texto,
as muitas referências bíblicas e os pontos da expo­
sição da doutrina.
*
Decorar não é educar-de, pois tal
8 DOUTRINAS
educação evaporar-se-á, com o inevitável esqueci­
mento que os anos trazem na vida. O alvo é a cui­
dadosa leitura, demorada ou repetida, a meditação,
a associação de idéias para ajudar a memória e o tes­
temunho pessoal do que se assimilou no espírito. Se­
ria motivo de tristeza para mim, e, sem dúvida, de
aborrecimento para os estudantes, se qualquer pro­
fessor usasse estas lições para o exercício forçado
da memória da classe. O livro não é catecismo, nem
segue êste método. Aproveita o método de pergun­
tas e respostas tão largamente usado hoje em dia
pelo rádio, nas mesas redondas e nos Congressos da
Mocidade e de educação popular.
Somente depois de três anos de estudo e ensino,
com a cooperação de classes dedicadas e inteligen­
tes, é que entrego ao público batista estas lições em
doutrina, reconhecendo sua natureza elementar. Por
quaisquer sugestões dos interessados serei grato,
afim de melhorar subseqüentes edições.
Devo à gentil senhorita M aria Emília da Rocha
valiosas sugestões sobre a linguagem. Grato por
esta mui competente revisão, assumo, todavia, tôda
a responsabilidade por quaisquer senões que porven­
tura ainda haja nestas páginas, pedindo perdão pelas
deficiências de estilo e expressão. Testifico aqui mi­
nha gratidão a Deus e às consagradas dirigentes do
Instituto de Treinamento Cristão pelo alto privilégio
espiritual de ser professor num educandário tão aben­
çoado e notável.

W illiam Carey Taylor,

Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1952.


Í NDI CE
Páginas
P refá cio.......................................................................... 7

CAPÍTULO I
A Doutrina da Eternidade e da Vida Eterna .. .. .. .. 11

CAPÍTULO II
A Doutrina do Arrependimento .. .. ................ . .. .. 21

CAPÍTULO m
A Doutrina da A d o çã o ............................... ................... 29

CAPÍTULO IV
A Doutrina da Bíblia Acerca de Si Mesma .. .. .. .. 35

CAPÍTULO V
A Doutrina da Justificação .............................................. 44

CAPÍTULO VI
Várias Doutrinas Bíblicas de F é .................................... 56

CAPÍTULO V II
A Doutrina do Batism o................................................... 7(1

CAPÍTULO V III
A Doutrina das Boas Obras............................................. 83

CAPÍTULO IX
A Doutrina da Morte de C risto ..................................... 90

CAPÍTULO X
A Doutrina da Graça de Deus 110
CAPÍTULO XI
A Doutrina Batista Sobre o Lugar de Jesus Cristo no Seu
Cristianismo......................... .................. ... ., .. 120

CAPÍTULO XII
A Doutrina da Santificação....................... ................. ♦ 141

CAPÍTULO X III
A Doutrina do Espírito Santo.................... ................ 154

CAPÍTULO XIV
A Doutrina do Reino de D eu s............................... .... 171

CAPÍTULO XV
A Doutrina da Igreja .. .. ...............................*. ♦. 184

CAPÍTULO XVI
A Doutrina da Ceia do Senhor................................... 198

CAPÍTULO XVII
A Doutrina do Ministério Oficial das Ig re ja s ............ 212

CAPÍTULO XVIII
A Doutrina do Inferno................................................. 225

CAPÍTULO XIX
A Doutrina do Céu . * ., . * ....................................... 235

CAPÍTULO XX
A Doutrina dos Motivos que Regem e Impulsionara a
Vida Cristã............................. .............................. 243
CAPÍTULO I
A DOUTRINA DA ETERNIDADE E DA
VIDA ETERNA
. v^UJ dj Jtu A Jii X üiitUN ;

. E* a era tôda da existência de Deus, sem princípio e sem


fim. Na linguagem de Moisés, «desde a eternidade até a
eternidade tu és Deus», Sal. 90:2 (Cito a Vers. Bras. nesta
lição). «Deus a habita», Is. 57:15.

2. QUAL E’ O VALOR ESPIRITU AL DA IDÉIA?

Dá perspectiva. «Ensina-nos a contar os nossos dias»,


é a súplica do homem que é cônscio das supremas realida­
des . *«Tudo que Deus fez é apropriado a seu tempo, também
pôs no coração deles a idéia da eternidade», Ec. 3:11. ffl
a trigésima vez que Salomão emprega a palavra «tem po»
nos onze versículos que assim se concluem. Então êle falou
urna vez na eternidade. Mas Deus arraigou a idéia em nos­
sos espíritos. Rege a vida. Jesus não usava meros epítetos,
pois não era frívolo em falar. Mas êle chamou «louco» o ho­
mem que fez planos sòmente para esta vida fugaz, Luc.
12:13-21. De fato, as palavras «o louco» são usadas nas Es­
crituras 111 vêzes; e louco (adj.) e loucura se empregam
39 e 71 vêzes, respectivamente, e loucamente 12 vêzes. Ora,
a marca saliente da doutrina bíblica acêrca da loucura, é
esta: a loucura espiritual é ausência ou mesquinhês de vi­
são. Nada vê senão o tempo fugaz, porque fecha os olhos
à eternidade. E* a falta de panorama muiti-secular; é o in-
diferentismo às consequências indeléveis do pecado. E* a
cegueira ao juízo constante que Deus providencialmente ad­
ministra na vida atual e ao juízo além da morte. E’ pen­
sar que a vida consiste em possuir coisas. No pensamento
de Jesus, o louco dos loucos é quem considera, em seus pla­
nos de vida, só o tempo e não a eternidade. Nós somos ci­
dadãos da eternidade, arautos do eterno. O próprio nome
de Deus na versão Moffatt, é «The Etem al», e, em versões
12 DOUTRINAS
francesas, é «L'E tem el». E Jesus Cristo é «o mesmo ontem,
hoje e para sempre», Heb. 13:8.

3. SE ORDENARMOS NOSSAS VIDAS NO TEMPO PE LA


PERSPECTIVA D A ETERNIDADE, ISSO NAO REDU­
Z IR A ’ ESTA V ID A N A TE R R A A FU TILID A D E ?
Vêde a história, pois a «história é boa mestra» — se
tão sòmente tiver discípulos. Moisés é autor da primeira Es-
crituara citada, mas êle termina a mesma sublime peça com
a oração: «Estabelece tu sôbre nós as obras das nossas
mãos, sim a obra das nossas mãos, estabelece-a». E êle vê
a vida humana «de geração em geração». «Apareçam aos
teus servos as tuas obras, e a tua glória sôbre os seus fi­
lhos» Sal. 90:16, 17. Foi prejudicial à atuação de Moisés
nesta vida a idéia de eternidade, no seu coração ? Antes foi
tôda a sua fonte de coragem e iniciativa. Abraão é o herói
primacial de três religiões, as três mais poderosas na vida
humana — o judaismo, o cristianismo e o maometismo. Foi
um peregrino quem assim empolgou os séculos. E Jesus é
a suprema resposta. Êle encarnou e personificou o Eterno,
e assim descortinou para nós os supremos valores da vida.

4. N A PERSPECTIVA D A ETERNIDADE, CRESCE OU


D IM IN U I O VALO R DESTA V ID A N A TE R R A ?
Cresce imensuràvelmente. «A piedade» é a reverência,
0 culto e o serviço de Deus. «A piedade para tudo é útil, por­
que tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser»,
1 Tim. 4:8. O estável merece respeito. A eternidade eno­
brece o homem, é parte notável da real dignidade humana.
Aumenta a culpa de tôda a injustiça que porventura surja
entre os homens, e avisa que, embora prevaleça por um pra­
zo pela fôrça, há de ser julgada nesta vida e eternamente.
São a baixeza, a cegueira moral e a impaciência que am­
bicionam depressa seus fins, sem tomar os meios que são
morais, legítimos e ordeiros, embora vagarosos, progressi­
vos e graduais. Quem ferve de violência revolucionária,
para logo abolir tôda injustiça humana, e inaugurar a Uto­
pia, fica furioso ao lembrar-se de que é eternamente respon­
sável a Deus pela violência dos meios com que almeja obter
seus fins absolutos. A eternidade santifica fins e meios e
os julga e julgará pelas consequências, durante e depois des­
A DOUTRINA DA ETERNIDADE E DA VIDA ETERNA 13
ta vida. Sejamos testemunhas do eterno, ao bem do tempo
e da vida na terra, e em lealdade ao eterno, em nós mesmos
e em Deus.

5. QUE NATUREZA DEU DEUS AO HOMEM CRIADO


A SUA IMAGEM?
Imortal. «Para sempre» é frase a meditar, pois se acha
muitas vezes na Palavra de Deus. Evita existência sem
perspectiva, sem panorama, sem seriedade, sem duas vidas.
A sobrevivência de bons e maus além desta vida, além da
morte, é afirmada na Escritura. E ainda mais, é pressupos­
ta em todo o horizonte moral do V. e do N .T . Em outra
vida, todos os homens, e tôdas as nações, tôdas as raças e
todos os tempos serão julgados «segundo as suas obras»,
Rom. 2:3-16; Apoc. 20:11-15. «Eterno» é a palavra que des­
creve o estado dos bons ou dos maus após a morte, Mat.
18:8; 25:41, 46; I I Tes. 1:8, 9, etc.

6. MAS A BÍBLIA NAO DIZ QUE SO’ DEUS «POSSUI A


IMORTALIDADE» ?
Diz, em I Tim. 6:16. Isto quer dizer que só o Criador
sempre teve, tem e terá aquela imortalidade absoluta, sem
princípio e sem fim, infinita, e por êle doada aos homens no
sentido que êle tiver determinado e em grau finito e deri­
vado. Por Jesus Cristo, diz Paulo, e nêle, «subsistem tôdas
as coisas», inclusive nossa personalidade imortal. «Assim
está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito em alma vi-
vente; o último Adão em espírito vivificante», I Cor. 15:
45. Nossa imortalidade é derivada do Criador Jesus e por
êle subsiste. E é Jesus quem nos declara que não tem fim
nossa existência. Êle «tirou à luz a imortalidade», provan­
do-a pela sua ressurreição. E’ verdade especial do evange­
lho.

7. ENTÃO, POR QUE A BÍBLIA CONTÉM TAO POU­


CAS VÊZES A PA LA V R A «IM ORTALIDADE»?

Porque é mais um têrmo filosófico que religioso ou es­


piritual. Eternidade é o ponto de vista da Escritura, não
mera continuidade da existência, como abstração filosófica.
Mas o têrmo e seus congêneres se acham em Rom. 2:7; I
14 DOUTRINAS
Cor, 15:53, 54; I Tim. 1:16, 17; I I Tim, 1:10, e o destino
eterno de crentes e incrédulos é muitas vêzes ensinado, de
várias maneiras. O fato de tôda a vida humana estar en­
caixada na eternidade, mesmo aqui na terra, dá solene res­
ponsabilidade a nossos anos debaixo do sol. E* dupla res­
ponsabilidade, para o tempo e a eternidade.

8. QUE QUALIDADE DE VID A TEM O CRENTE EM JE­


SUS CRISTO?
“ Vida eterna” . Jesus falou da vida eterna em João 3:15,
16; 4:14, 36; 5:24, 30; 6:27, 40, 47, 54, 68; 10:28; 12:25, 50;
17:2, 3; Mat. 19:16, 29; Mar. 10:30; Luc. 18:30. Paulo ensinou
a vida eterna em Rom. 2:7; 5:21; 6:22, 23; Gál. 6:8; I Tim.
1:16. 6:12, 19; Tito 3:2; 3:7. João ensinou-a em João 3:36;
I João 1:2; 2:25; 3:15; 5:11, 13, 20; Judas, no v. 21 de sua
Epístola. A Ep. aos Hebreus fala de “ salvação eterna”, 5:9;
“ juízo eterno”, 6:2; “ redenção eterna” , 9:12; “ eterna heran­
ça», 9:15; «aliança eterna», 13:20. Afirmam essas vozes de re­
velação que a vida do crente é eterna agora e depois da mor­
te, indiscriminadamente. E' de uma só peça. Já estamos nas
realidades da salvação quando estamos em Cristo pela fé. “ O
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus” . E se
alguém não recebeu de Jesus vida eterna, não recebeu dêle
vida espiritual de espécie alguma. E a única vida que Deus
dá pela graça.

9. NAO E' POSSÍVEL QUE A PALAV R A “E TE R N A ” TE­


NH A REFERÊNCIA ÀS QUALIDADES DA VEDA E NAO
À SUA DURAÇAO
Inclui ambas as idéias, duração sem fim e qualidades
espirituais. Aliás, uma vida que não seja estável, não tem
boas qualidades. Vida instável e fugaz não é boa ém sen­
tido moral e espiritual. E* a permanência desta vida que
permite sua expansão e aprofundamento. A perseverança
é o lado exterior do que é, no interior, a vida eterna.
»
10. COMO SALVAGUARDOU JESUS SUA REVELAÇAO
DE QUE A V ID A DO CRENTE E ’ E TE R N A?
Não a limitou a uma palavra, ou a uma só maneira de
falar. Afirmou-a positivamente e negou o contrário da
A DOUTRINA DA ETERNIDADE E DA VIDA ETERNA 15
idéia. «Para sempre», «para todo o sempre», «pelos sécu­
los dos séculos», e frases semelhantes afirmam também a
doutrina da vida eterna, e a palavra « nunca» rejeita tôda a
possibilidade de negá-la. «Eu lhes dou a vida eterna» —
positivamente doutrinou Jesus. «E nunca perecerão» — ne­
gativamente confirma a verdade. E, no original, estas ne­
gações, usadas em fortificar o ensino desta verdade, são as
mais fortes >de que seja capaz a nobre língua grega, tendo
esta Escritura duas palavras negativas, outras têm três, e
uma tem cinco. Pois em Heb. 13:5, Deus diz: «Eu absoluta­
mente não hei de jamais te abandonar nem irei jamais te
desamparar nunca». Não podemos traduzir a inesgotável
riqueza da doutrina, mas podemos crer a veracidade divina.
Pois Deus faz questão desta doutrina. file insiste na sua
veracidade mais sobre isto do que qualquer outra verdade
de que me lembro, em tôda a Escritura. E' a essência do
Evangelho, como se vê em João 3:16. «Quem não crê a
Deus, o tem feito mentiroso, porque não tem crido no tes­
temunho que Deus dá de seu Filho. Êste testemunho é que
Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho»,
I João 5:10-20. Mas nosso Deus ainda vai além. file jura.
Jura por si mesmo. Se o crente não tem esta certeza e se
gurança, Deus é perjuro e assim mesmo se classifica, Heb.
6:17-20.

11. COMO PODE ALGUÉM NEG AR D O U TRINA TAO


PRECIOSA E COM T A N T A C LAREZA A F IR M A D A
POR JESUS?

Exatamente como a Serpente enganou a Eva, negando


a veracidade de Deus e impondo com uma lógica sedutora
uma doutrina oposta e contraditória. Em meu livrinho, «A
Vida do Crente E' Eterna», examino todos êsses subterfú­
gios da lógica humana que está em revolta contra esta ver­
dade de Cristo. A Bíblia não está ’em guerra civil entre suas
partes. Objeções não anulam revelações divinas da verda­
de. A fé é dócil diante do ensino daquêle que acatamos como
Mestre.

12. QUAIS AS FÕRÇAS RELIGIOSAS N A CRISTAND A-


DE QUE SE OPÕEM A ESTA SUPREMA BÊNÇÃO
D A SALVAÇAO DE JOAO 3:16, ISTO E ’, QUE O
16 DOUTRINAS
CRENTE NO FILH O «N ÃO PEREÇA MAS TENH A
V ID A E T E R N A » ?

Tôdas as seitas «católicas» negam esta verdade. Se o


crente tem a vida eterna, nada vale o altar, a imagem, o pa­
dre, o confissionário, o purgatório, a missa, qualquer outro
sacramento, o tesouro de mérito, etc. Roma, pois, odeia esta
verdade, pois destrói de vez seu domínio sôbre a alma. Vá­
rias denominações protestantes também negam a revelação
dada por Jesus neste sentido.' Os sabatistas, metodistas, e
tôdas as denominações que fazem depender nossa salvação
e segurança de grande mistura de graça e obras, ensinam
a fácil perda da salvação. Os presbiterianos, os congrega-
cionalistas e os darbistas concordam com os batistas nesta
verdade.

13. MAS SE A SALVAÇÃO FOSSE PERDIDA, PODERÍA


SER OBTIDA SEGUNDA, TERCEIRA OU Q U ARTA
VEZ ?

A Bíblia diz que não. Se o Calvário não valeu quando


seu Cristo nos salvou, estaria esgotado. Seria preciso nova
crucificação. E no pecador haveria insuperável dificuldade.
Não seria possível renová-lo para o arrependimento que lhe
trouxe a vida, Heb. 6:6. As duas doutrinas refletem duas
mentalidades. Uma não pode conceber que Cristo realmente
é quem salva e já fez tôda a obra redentora. Seja o que
fôr sua profissão, essa doutrina repousa na idéia de o ho­
mem salvar-se a si mesmo pelas obras. Cessando o mérito
humano, com as obras salvadoras, acabou-se a salvação.
Roma é mais coerente nisto do que essas denominações pro­
testantes, porque não admite existir a salvação até passar­
mos duas vidas, esta e o purgatório, e entrarmos na vida
eterna numa terceira existência, lá no céu. Mas a doutrina
genuinamente evangélica reconhece que só Cristo salva.
Portanto é salvação eterna, salvação do crente, salvação de
vez e para sempre. Jesus afirma que o crente «tem a vida
eterna, e não entra em juízo; pelo contrário, já passou da
morte para a vida», João 5:24. Rom. 5-8 é tesouro riquíssi­
mo das mesmas verdades.

14. QUE SUBTERFÜGIO DA FILO LO G IA TEREMOS DE


A DOUTRINA DA ETERNIDADE E DA VIDA ETERNA 17
E N F R E N T A R P A R A D E FEN D ER E TE S TE M U N H A R
E S TA VERD AD E DE JESUS CRISTO?
A manobra de usar a etmologia da palavra para negar
seu sentido bíblico. E ’ uma trica predileta do êrro. Decom­
põem a palavra original em partes, como o desmembramen­
to de um corpo: uma porção de pernas, mãos, olhos, nervos,
ossos, músculos e veias não são um corpo. Se êste prédio
fosse reduzido de novo a um montão de areia, cal, pedra,
madeira, ferro e barro, não seria a sede do Instituto de
Treinamento Cristão: seria uma demolição. E quem reduz
uma palavra às suas partes etimológicas componentes de­
moliu a palavra. Guardai êste princípio na memória, para
a defesa de muitas verdades. Uma palavra de Jesus signifi­
ca para nossa orientação doutrinária e vida espiritual, exa-
tamente o que significou nos lábios de Jesus, quando profe­
rida, ou nas Escrituras dos apóstolos quando entrou na re­
velação da Palavra de Deus. O contexto esclarece o texto
e suas palavras. Inimigos desta verdade ambicionam redu­
zir a palavra eterna à sua mera etimologia. E* traduzida
eterno porque significou isto nos lábios de Jesus. Assim tes­
tificam os que mais conhecem a língua do original, A . T.
Robertson, M offatt e inúmeros outros. Eterno significa per­
pétuo, sem fim . Mas a palavra vem do substantivo que quer
dizer uma era, época; então, alegam, o adjetivo trataria de
coisa que durasse por essa época, e não para sempre. Para
os efeitos desta doutrina, nada influi. As «épocas» são mui­
to mais que a vida humana. E a vida da salvação que duras­
se por esta época evangélica já se teria prolongado 2.000
anos. Já abrange esta vida e o céu. Já não há perigo de
perda dos salvos no céu. Essa remota possibilidade é dimi­
nuta ainda muito mais pelo fato de que o grego deliberada-
mente prolonga o alcance do substantivo «época» pelo plu­
ral — «época das épocas», traduzido, «século dos séculos»,
e «eternamente» ou nunca, quando negativo. A língua do
povo foge de abstrações. Um século composto, não de cem
anos, mas de cem séculos, já é virtualmente a eternidade.
Uma época tão grande que suas divisões de relógio são tô-
das épocas é a eternidade. Portanto, quando olhamos para
os fatos da etimologia da palavra eterno nenhum apôio ve­
mos para nenhuma doutrina falsa. Tôdas as palavras se de­
finem pela significação adquirida com o uso até o momento
em que são pronunciadas. A senda da etimologia é tortuo­
ia DOUTRI NAS
sa, comprida, confusa e, às vêzes, apagada. Não precisa­
mos correr essas léguas de filologia duvidosa para alcançar
o sentido. Eis ãi seu sentido claro, nos dizeres de Jesus.
Corresponde a «para sempre», positivamente; negativamen­
te, o crente «nunca perecerá». O que é sinônimo dessas
idéias significa eterno.

15. ESTA VERDADE E ’ SAN TIFIC AD O R A ?


Segundo a oração pontificai de Jesus, toda a verdade
da Palavra de Deus santifica, João 17:17. Esta doutrina
contribui para a paz do crente, a estabilidade moral, a cer­
teza intelectual, a apreciação da grandeza e glória da sal­
vação e do evangelho, o conforto na tribulação e o fervor
evangelistico. Era a pregação constante de Spurgeon,
Truett e todos os melhores e maiores pregadores do evan­
gelho puro. Promove a humildade, destruindo a base da
soberba farisaica de confiança em si e em suas próprias
obras. A Bíblia defende a doutrina contra todos os que se
opõem e a proclama com certeza'precisamente para promo­
ver a santidade. Grande santidade surge sòmente de uma
grande salvação.

16. E’ POSSÍVEL TESTEMUNHARMOS D A E T E R N ID A ­


DE, VIVERMOS A V ID A E T E R N A DE F E ’ EM CRIS­
TO, CANTARM OS A E SPE R AN Ç A DO EVANGELHO,
E ANIM AR-NO S UNS AOS OUTROS COM OS M OTI­
VOS QUE SÃO DE ORDEM E TE R N A ? OU ISSO JUS­
T IF IC A AS IDEOLOGIAS M A T E R IA L IS T A S EM
C LASSIFIC AR O CRISTIANISM O DE ÓPIO E A C U ­
SA-LO DE CU ID AR SO’ D A V ID A ALEM, A B AN D O ­
NANDO OS OPRIMIDOS A SUA M ISÉ R IA AQ U I
NESTE MUNDO?
A fôrça moral, do progresso político e social, do avan­
ço geral da civilização e *do bem-estar humano depende de
motivos. Cristo apela a todos os motivos lícitos. «O amor
de Cristo nos constrange», «é derramado em nossos cora­
ções pelo Espirito Santo, que nos foi dado». O exemplo de
Cristo nos empolga. Solicitado a consentir num reino políti­
co, revolucionário, econômico, êle tornou, desde sua tentação
para isso pelo diabo até o seu processo perante Pilatos:
«Meu reino não é dêste mundo». E' por ser super-mundano,
A DOUTRINA DA ETERNIDADE E DA VIDA ETERNA 19
invisível, espiritual que o reino de Cristo abençoa, salva,
santifica e red im e. P a ra ôlevar o homem na sociedade, Jesus
usa o m otivo de medo. M ostra a quem temer, M at. 10:26-
33. O temor de Deus é o princípio da sabedoria, da moral e
da segurança da sociedade. E Jesus prom ete largo ga la r­
dão nesta vida e eternamente pela fidelidade. H á também
santo contágio no bem, que produz a doutrina apostólica de
imitação. Nunca houve quem sacasse tantos recursos de
motivos como Jesus. Assim êle impulsiona a natureza rege­
nerada para a «a lta vocação» e fa z que seja sol e luz, mes­
mo entre os que ainda não foram regenerados. E ’ calúnia
dizer que o evangelho do eterno tenha olvidado esta vida.
A própria vida eterna é nossa por toda a vida cristã na te r­
ra. O crente tem duas pátrias, e a celestial não prejudica
a terrestre. Antes é sua suprema força salutar. E ’ a mina
de motivos morais, sociais e transform adores. N ão perca­
mos a confiança em Jesus, Êle sabe dirigir seu reino na ter­
ra pelas normas eternas do «reino dos C É U S ».

17. F A L A N D O D E MEDO, SE O C R E N T E «N U N C A P E ­
R E C E R A ’» E T E M C E R T E Z A D E Q U E « N A D A D E
C O N D E N A Ç Ã O H A ’ P A R A OS QUE ESTÃO EM
C R IS TO J E S U S »; COMO E ’ QUE S E N T IR A ’ OS M O ­
T IV O S S A L U T A R E S D E M E D O ?

O crente tem castigos do mal que estão muito mais


perto dêle do que o inferno. Portanto, constituem m otivo
mais urgente e da atualidade. Medo de ofender a Jesus —
eis o que fe z Pedro romper em pranto oriental, Luc. 22:62.
Medo da majestade ofendida de Deus — «C ontra ti, contra
ti só pequei», Sal. 51:4. Medo de fica r sem a alegria da sal­
vação, Sal. 51:12. Medo de levar os inim igos de Deus a
blasfemar, como Davi, I I Sam. 12:14. Medo de perder o g a ­
lardão da fidelidade, I I João 8; I Cor. 3:14; M at. 5:12;
10:41; A poc. 22:12. Medo de castigo nesta vida, I Cor. 11:
31; Jonas 1:9. Pasm a ouvir a irreverência com que vozes
ousadas ridicularizam hoje em dia precisamente os motivos
que Jesus sempre usou. São corolários da sua verdade da
vida eterna. Operam nesta vida. São proveitosos agora e
para a eternidade toda em que entramos aqui quando cre­
mos e fomos salvos.
20 DOUTRINAS
18. F A Z P A R T E DO S A L U T A R TE M O R DE DEUS N O S ­
SO M EDO DOS H O M E N S OU A H E S IT A Ç A O DE
T E S T IF IC A R E S T A V E R D A D E IM P O P U L A R , T A O
O D IA D A P E L A M E N T E C A R N A L ?

São opostos o temor de Deus e o medo dos homens. Um


exclui o outro. Demos sempre testemunho ao evangelho de
João 3:16 — o crente sendo o possuidor da vida eterna, e
certo de nunca perecer. N ão gastemos tempo e força de
nervos em argumentos de bate-boca. Estudemos como cum­
prir o ideal: «M as santifica! nos vossos corações a Cristo
como Senhor, estando sempre prontos a dar uma resposta
a todo aquêle que vos pedir razão da esperança que há em
vós, más com mansidão e tem or», I Ped. 3:15.

19. Q U A L A D IF E R E N Ç A E N T R E T E S T E M U N H O E A R ­
G UM ENTAÇÃO ?

A testemunha afirma, testifica, esclarece, responde, mas


não precisa ter a última palavra. N ão busca a vitória ver­
bal. Sabe fa la r. Sabe calar. O silêncio, às vezes, após o tes­
temunho, vale mais que a discussão calorosa. Fica na me­
mória o dito e a maneira em que fo i dito e esta tem muito
valor também. E tudo isto se aplica a muitas outras ver­
dades que estudaremos no resto dêste curso.

20. COM Q U E H IN O S PO D EM O S A L I A R A M Ü S IC A
S A C H A E A D O U T R IN A D A E S C R IT U R A S A G R A ­
D A SÔBRE IS T O ?
E ’ bom cantar todas as verdades. Esta tem rico quinhão
no Cantor Cristão. Entra na fibra das idéias dos hinos: 20,
34, 37, 49, 73, 75, 154, 199, 202, 203, 208, 209, 243, 244, 314, 317,
323, 324, 328, 344, 345, 346, 349, 351, 353, 354, 356, 357,
359, 361, 362, 364, 366, 367, 371, 372, 375, 376, 377, 378, 393,
402, 404, 406, 407, 409, 425, 471, 476, e muitos outros. Satu­
remos nosso espírito com êste forte e glorioso testemunho
de fé e cantemos a mesma consolação a todo crente desa­
nimado. Doutrina cantada é suave, como doutrina que se
vive é invencível.
C APÍTU LO II

A DOUTRINA DO ARRE­
PENDIMENTO
1. H A ’ PO SSIBILID AD E DE SALVAÇÃO SEM O A R R E ­
PEN D IM EN TO ?
Nenhuma, Luc. 13:3.

2. POR QUE?
Porque Cristo salva do pecado, Mat. 1:21. E o arre­
pendimento é a parte humana da experiência da graçá sal­
vadora, em relação aos nossos pecados. Ninguém é salvo,
ninguém jamais foi salvo, ninguém será salvo sem o arre­
pendimento do pecado e a fé viva no Salvador. São as duas
coisas exigidas no evangelho para alcançar a salvação.
4

3. QUEM DISSE?

Jesus, Mar. 1:15, e Paulo, A t. 20:21 (o arrependimento,


não «a conversão», que é tradução errada e indesculpável);
Pedro, A t. 11:18; 10:43; 15:7, 9. João Batista como o Pre­
cursor, Mat. 3:1; João 1:6, 7; A t. 19:4; os apóstolos, Mar.
6:12; João 4:1, 2; duas formas da Grande Comissão, Luc.
24:47; Mar. 16:15; e Heb. 6:1.

4. Q U AL VEM PRIM EIRO, O ARR E PE N D IM E N TO OU


A F E ’?

Vede as Escrituras. Sempre o arrependimento é antes


da fé. A ordem é invariável e sem exceção. E, em Mat.
21:32, Jesus fala em arrepender para crer. E ’ a ordem psi­
cológica, também. O arrependimento é o diagnóstico do pe­
cado, feito pelo Espírito Santo e aceito na consciência do pe­
cador. A fé, em seguida, é a aceitação do remédio, Jesus,
pelo pecador, convicto do seu pecado. A fé salvadora é im­
possível, antes do arrependimento ou sem êle, pois ninguém
corre ao médico, sem avaliar que está doente e 'em perigo.
22 DOUTRI NAS
5. O A R R E PE N D IM E N T O O LH A P A R A O PASSAD O ?
Sim, olha. 1) Para nossos pecados, A t. 8:22 e as Es­
crituras já citadas. 2) Para nossas obras mortas, isto é, a
nossa vida em pecado e morte espiritual, Heb. 6:1; E f.
2:1-5. Tudo que o pecador faz, mesmo «boas obras», reli­
gião, ritos, rezas, mérito par ganhar a salvação, constitui
apenas «obras mortas »e delas tem de arrepender-se, aban­
doná-las e mudar sua mentalidade a respeito. 3) Para a
pregação que ouviu, Mat. 12:41. 4) Para a benignidade de
Deus, Rom. 2:4. 5) Para a longanimidade divina, I I Ped.
3:9. 6) Para as Escrituras que ouvimos, Luc. 16:30, 31.
Tudo isso, o arrependimento contempla. São motivos ou
considerações que Deus propõe para influenciar esta mu­
dança fundamental em nosso pensamento, e mesmo em nos­
so ser pensante.

6. O A R R E P E N D IM E N T O O LH A P A R A O FU TU R O ?
Sim. Olha para o futuro, contempla verdades e realida­
des que Deus revelou como motivos, e ainda medita no que
se propõe como a vida do homem salvo. Olha também:
1) Para a vida, A t. 11:18. 2) Para a remissão dos pecados,
Luc. 24:47. 3) Para a salvação, I I Cor. 7:10. 4) Para co­
nhecer a verdade, I I Tim . 2:25. 5) Para frutos dignos des­
ta nova mentalidade transformada, Mat. 3:8; Luc. 3:8-14.
6) Obras dignas, A t. 26:20. 7) Para o batismo obediente,
Mar. 1:4 — o batismo cuja condição e característica era
o arrependimento, o qual consegue a remissão dos pecados,
antes do batismo, A t. 2:38 «Arrependei-vos, e cada um de
vós seja batizado em nome de Jesus Cristo», por causa da
remissão dos vossos pecados que vosso arrependimento con­
segue — é a idéia desta passagem, interpretada evangèli-
camente. A ordem da experiência é: arrependimento, fé
salvadora, salvação e a obediência do salvo, num batismo
bíblico, que proclama a salvação antes obtida pela graça.
8) O reino de Cristo na vida dos regenerados, Mat. 3:2 e
João 3:3. 9) Para dar glória a Deus, Apoc. 16:9. 10) O dia
de juízo final, A t. 17:30, 31. Todos êstes elementos do futu­
ro estão no panorama do arrependimento, bem orientado
pelo estudo da Bíblia, A razão porque grandes intérpretes,
como o dr. A . T , Robertson, em A t. 2:38, traduzem esta
preposição «por causa de», é simplesmente porque freqüen-
A DOUTRINA DO ARREPENDIMENTO 23
f emente significa isto. E ’ a preposição usada quando se diz
bue os ninivitas se arrependeram «com a pregação de Jo-
nas», Luc. 11:32. Era à vista da pregação de Jonas que
vieram a arrepender-se. Pois bem. Com a mesma preposi­
ção e no mesmo sentido, podemos traduzir A t. 2:38 evan-
gèlicamente: Cada um de vós seja batizado à vista da re­
missão (conseguida no arrependimento) — e não: «seja ba­
tizado para obter a remissão», que é o sacramentalismo
anti-evangélico. Esta passagem poderia ser traduzida de
modo a não contradizer João 3:16 e inúmeras outras pro­
messas ãp vida eterna ao crente.

7. Q U A L A P A R T E DO E S P IR IT O SAN TO EM NOSSO
A R R E P E N D IM E N T O ?
E ’ a convicção do pecado, João 16:8-11. O Espírito vem
influenciar o pecador para a salvação, convencendo-o: 1) «de
pecado porque não crê». E ’ o supremo pecado, pela majesta­
de da pessoa ofendida, Jesus, e porque recusa o remédio
para o mal de que o pecador sofre, o sangue de Jesus sendo
o único remédio, mas rejeitado pela incredulidade. 2) da
justiça porque Cristo, na sua ressurreição e ascensão e
volta ao Pai, mostra assim que sua morte é aceita por Deus
como a justiça de que necessitamos e por ela somos justifi­
cados mediante a fé. 3) do juízo porque no Calvário, Sata­
nás foi julgado e vencido, aguardando seu banimento final.
E* a mensagem do Espírito ao pecador, gravada na cons­
ciência dêle, e resultando na salvação, pelo arrependimento
e mediante a fé em Jesus. Todo crente recebe o Espírito
Santo, que o regenera quando crê, e habita nêle eternamen­
te. Se é isto que o Espírito Santo quer dizer ao pecador, en­
tão nós devemos dizer estas verdades também, quando evan-
gelizamos, para tornar possível a obra do Espírito pela con­
vicção tríplice que êle quer operar. Paulo acrescenta: « A
tristeza segundo Deus opera o arrependimento para a sal­
vação, da qual ninguém se arrepende», I I Cor. 7:10.

8. QUE QUER D IZE R A R R E P E N D IM E N T O ?

Mudança fundamental da mente, do ser pensante: nova


mentalidade. Esta mudança inclui nosso juízo, razão, von­
tade, emoções, consciências, afetos, memória, imaginação e
pensamento. E ’ um termo quase o equivalente de regenera­
24 DOUTRINAS
ção. João não repete em seu evangelho o que os outros ci-/
tam a respeito do arrependimento. Mas acrescenta o que Je-j
sus disse de regeneração. E ’ essencialmente a mesma dou­
trina, senão que a regeneração abrange a natureza total e
o arrependimento põe sua ênfase sôbre a mente.

9. O A R R E P E N D IM E N T O E ’ DEVER, OU G R AÇ A OU­
TO R G A D A PO R DEUS?
/f
Ambos. E ’ dever porque Deus o manda, E z. 18:30-32.
E* graça divina, porque Deus o dá — «Deus deu o arrepen­
dimento para a vida, A t. 11:18, no caso de Cornélio, no de
Zaqueu, no meu e no vosso caso. Sendo efeito da graça
divina, devemos render-nos a Deus para êle nos mudar a
mente. Esta rendição é o arrependimento mesmo. O que
Deus exige, Deus dá. Êste princípio é bem ilustrado na pa­
rábola das bodas, M at. 25. Requisito de sentar-se à mesa
era trajar «vestido de núpcias.» Mas o Rei dava esse traje.
Logo, o convidado que não se valeu da veste nupcial, livre­
mente outorgada, estava sem -desculpa. Jesus assim ensina
que aquilo que Deus exige, Deus dá, se consentirmos em
aceitar sua graça. Deus deu o arrependimento, Cornélio o
aceitou, o sentiu e conformou-se com o seu significado, no
íntimo e na vida.

10. PO R QUE N E M SEM PRE A CONDIÇÃO DE A R R E ­


PE N D IM E N T O E ’ D IT A EXPRESSAM ENTE E A
S A LV A Ç Ã O E ’ P R O M E T ID A N A CONDIÇÃO DE F E ’ ?
E ’ porque a fé é a última etapa da salvação. Quem crê
tem a vida eterna. Exigida a fé, já foi exigido tudo que vem
antes da fé: ouvir o evangelho, ter no íntimo a convicção do
pecado, a tristeza para com Deus, o arrependimento. Quan­
do é mencionada somente a fé, é pressuposto tudo que vem
antes da fé. A fé, neste caso, abrange seus antecedentes na
experiência da salvação.

11. U M A C R IA N Ç A P R E C IS A DE A R R E P E N D IM E N T O
P A R A SER S A L V A ?
Sim. Mas a criança se arrepende dos seus pecados de
criança, não de crimes perversos. E a mudança é mais leve,
suave, e às vêzes tão voluntária e espontânea que nem re­
A DOUTRINA DO ARREPENDIMENTO 25
gistra choque na memória, como a conversão do pecador
duro lhe causa. E em crianças que foram criadas no temor
de Deus e no conhecimento do evangelho, a fé em Jesus é
mais saliente, às vêzes, que os passos que quase inconseien-
í,emente as conduziram à fé salvadora.

12. SE EU NÃO ME LEMBRO D A OCASIÃO DE M IN H A


SALVAÇÃO, COM A D A T A F IX A , COMO POSSO TE R
A CERTEZA DE ME H A V E R ARREPEND ID O ?
Pela vossa atitude agora. Os que se arrependem têm
a atitude descrita acima, sôbre o pecado. Se eu tenho ago­
ra esta atitude, é que Deus me deu esta graça, esta nova
mentalidade. Também sei, verificando se sou crente, pois
antes da fé sempre veio o arrependimento. Nem o arrepen­
dimento hem a fé são capazes de evaporar. São permanen­
tes na vida. E podemos saber, agora mesmo, se nós temos
a atitude para com o pecado, que Deus produz na salvação.
Estamos contra o pecado ? Procuramos vencê-lo ? Resisti­
mos à tentação? Nosso apoio é sincero ao bem e à vontade
de Deus? Cremos realmente em Cristo como Salvador? Nos­
sa atitude perene é a melhor prova do arrependimento e da
fé.

13. H A ’ SÕMENTE UM AR R E PE N D IM E N TO N A V ID A ?
Sim e não. Há só um para a salvação, e se fosse pos­
sível desfazer êste arrependimento, nunca seria possível
fosse êle renovado, Heb. 6:6. Mas, depois da salvação, e
no seu gôzo, há motivos de arrependimento cada vez que pe­
camos; e tanto indivíduos como igrejas devem se arrepen­
der quando ofendem a Deus ou aos homens, I I Cor. 7:2;
Apoc. 2:21; 3:3, 19; Lue. 17:3,4.

14. COMO E ’ QUE O AR R E PE N D IM E N TO A F E T A M AIS


A V ID A ? No pensamento. Deus quer mudar o pensa­
mento do pecador e seu próprio ser pensante. O que não
presta no pecador são precisamente seus pensamentos. Es­
tes governam a vida, produzem atos, costumes, hábitos. «A s ­
sim como o homem pensa em seu coração, assim êle é».
Vêde Is. 55:6-9. O arrependimento, sim, é profunda revo­
lução mental no pecador. Quando a mente dêste já* se en­
26 DOUTRINAS
cheu de seus próprios pensamentos que Deus não lhe deu, o
homem fàcilmente muda a conduta, sem modificar seu pen­
samento. Isso não é arrependimento. E* comparado à por­
ca que foi lavada, mas voltou ao lodaçal, ou ao cão que vol­
tou ao seu vômito. Nenhuma mudança íntima se efetuara.
Porém, a mudança da mente rege o pensamento, e êste os
atos. Logo o arrependimento é a causa sobrenatural cujo
efeito natural é a mudança de vida. Se quisermos transfor­
mar a vida humana, o lugar de principiar é com o pensamen­
to, a mentalidade. Deus assim faz.

15 COMO PO D IA JOAO B A T IS T A B A T IZ A R IM E D IA T A ­
M ENTE, SE E X IG IA FRUTOS COMO PR O V A DO A R ­
R EPEN D IM EN TO ?
Vêde os frutos exigidos, L u c. 3. Eram evidências de
sinceridade que podiam ser manifestadas na presença de
João e de todos, imediatamente.

16. P A R A QUEM E' O A R R E PE N D IM E N TO M A IS D I­


F ÍC IL ?
Para o fariseu, cheio de confiança em seu próprio juí­
zo e na sua justiça própria. Jesus disse que os publicanos e
as meretrizes entraram no reino mais fàcilmente do que os
fariseus. O pródigo se converteu, seu irmão fariseu, não!
E ’ por isso que, às vêzes, os filhos dos crentes são os incré­
dulos mais duros, os impenitentes mais tenazes, em seus
pensamentos de não render-se a Jesus. Estudai a Parábola
do Fariseu e do Publicano, na qual Jesus, virtualmente, en­
sina a justificação pelo arrependimento, Luc. 18:9-14.

17. NAO PODEMOS A P R E S E N T A R O EVANG ELH O DE


MODO M A IS AG R AD ÁVE L, OM ITINDO E S TA E X I­
GÊNCIA ?
Seria a falsificação do evangelho e nos tornaria réus
do anátema divino, Gál. 1:7, 8. Removeria a ofensa da cruz,
que pretende sacrificar o mundo para nós e nós para o
mundo. Não é matéria em que devamos agradar aos ho­
mens. Deus os quer mudar, raiz e fruto, pensamentos e atos
e o próprio ser que pensa e assim age, Gál. 5:11; 6:14; 1:10.
Deixemos o evangelho ficar na sua pureza.
A DOUTRINA DO ARREPENDIMENTO %1
18. E ’ PO SSÍVEL ARREPEND ER-SE NA H O RA D A
MORTE ?

Sim. O bandido crucificado com Jesus era blasfemo, ao


começar a crucificação, crente de tarde, e habitante do pa­
raíso com Jesus, antes da noite. Porém, foi a sua primeira
oportunidade. O dr. Jayme de Andrade diz que trabalhou
aqui no Hospital do Pronto Socorro, quando jovem médico,
e falou do evangelho a muitos acidentados, e nenhum se
converteu. Dores e confusão mental e drogas não produzem
um estado mental que conduz a atitudes espirituais. E mui­
tos que fingiram arrepender-se por terror, voltaram alegre­
mente ao pecado, quando passou o seu pavor. Assim diz a
história de tais casos.

19. DE QUE D O U TR IN A DE A R R E PE N D IM E N TO E ’ O
A P O C A LIP S E U M A EXPOSIÇÃO?
Do arrependimento que Cristo exige de suas igrejas.
Pois igrejas também pecam e devem se arrepender. Tole­
ram membros, às vêzes, cuja vida ou doutrina perniciosa é
duplo motivo de arrependimento, da parte do membro e da
igreja, Apoc. 2:5, 16, 21, 22; 3:3, 19. E I I Cor. 7:9, 10;
12:21, como a Primeira Epístola aos Coríntios, apresentam
a necessidade de arrependimento da parte das igrejas. E ’
assim que se evita ou se cura uma grande apostasia.

20. QUAIS AS D IFERENÇAS E N TR E O ROM ANISM O


E O EVANGELHO, NO TO C AN TE AO A R R E P E N D I­
M ENTO?

1) Na tradução da Bíblia, até um padre superior, como


Figueiredo, traduz o original arrependimento e arrepender-
se: 49 vêzes — fazer penitência; uma vez — «pesa-me»;
cinco vêzes — arrepender-se, arrependimento Assim Roma
eliminou quase totalmente do Novo Testamento a verdade
fundamental de arrependimento (a mudança sobrenatural
da mente) e, em segundo lugar, introduziu o êrro fatal de
penitência (algo que se faz e que afeta, principalmente, as
emoções). Isso é uma traição do evangelho, impossibilitan­
do a salvação. 2) Sendo a penitência algo que se «fa z», fica
subordinada ao confissionário, ao padre e ao sacramento da
confissão. O pecador perde sua «competência da alma» pe­
28 DOUTRINAS
rante Deus e, em lugar de ir a Deus (arrependimento para
com Deus) por intermédio do único Mediador (ninguém vem
ao Pai senão por m im ), limita-se a vir a outro pecador, bus­
cando absolvição e paz. 3) Penitências, para o católico co­
mum, são frívolas: — rezar Padre-Nossos, cuja repetição
vã é pecado e desobediência a Jesus, Mat. 6:5-13, Ave-
Marias, etc. Ou são ascetismo cruel, interminável e destrui­
dor da vida, como em certas ordens monásticas flagelantes.
O testemunho de ex-padres é sentirem os próprios «v ig á ­
rios» (título realmente roubado a Cristo) a futilidade das
penitências impostas, pois o pecador sempre volta confes­
sando a mesma coisa. Sua mente não mudou, como Deus
exige, no evangelho do arrependimento. Pensai de outros
erros e conseqüências dessa monstruosa falta do romanismo
e meditai na paz e nas bênçãos que Cristo dá aos que en­
tram no seu reino pelo arrependimento e pela fé salvadora
em Jesus.
C A P IT U L O III

A DOUTRINA DA ADOÇÃO
1. Q U A N T A S VÊZES E N C O N TR A M O S A PALAVRA
ADOÇÃO NO NOVO T E S T A M E N T O ?

Somente cinco: Rom. 8:15, 23; 9:4; Gál. 4:5; E f. 1:5.


Mas não é insignificante o ensino. De forma alguma. A
palavra congênere, regeneração, só se encontra duas vezes,
Mat. 19:28 e Tito 3:5, e em Mateus trata-se da terra e não
do crente.

2. Q U A L A R E L A Ç Ã O E N T R E A S D U A S P A L A V R A S ?

A regeneração define a experiência do novo nascimen­


to. E* o ato de «serem feitos filhos de Deus» os que creem
no nome de Jesus, recebendo-o como seu Salvador pessoal,
na linguagem de João 1:12, 13. A adoção, porém, é um as­
pecto jurídico, forense da filiação sobrenatural do crente.
E ’ a sua posição legal na fam ília de Deus. Por todos os mo­
tivos do direito celestial, o crente é filho legítimo de Deus,
mediante a fé.

3. TÔDAS ESSAS CINCO P A S S A G E N S TRATAM DA


F IL IA Ç Ã O DO C R E N T E ?

N ão. Uma se refere à posição do Israel antigo no pla­


no divino. Deus tratou o povo escolhido como filho, herdei­
ro e sacerdote, e «servo sofredor de Jeová». Primeiramente
de Israel se escreveu: «D o E gito chamei meu Filho», M at.
2:15; Os. 11:1. Coube a Jesus todos os títulos de Israel, e
êle realizou o que os profetas prometeram mas que era im ­
possível para Israel segundo a carne cumprir. Todavia, en­
tre as nações, Israel era para Deus qual filho predileto e a
isso Paulo se refere, mencionando como uma das glórias do
seu povo: «a adoção», isto é, a colocação de filho a que a
nação chegou, no regime da teocracia, Rom. 9:4.
30 DOUTRINAS
4. QUE QUER D IZER ADOÇAO?
Significa a decisão divina que outorga ao crente em Je­
sus a posição de filho na família de Deus. No ato jurídico
de adoção de filhos, Deus é, a uma, Juiz e Pai, Juiz na de­
cisão jurídica, Pai na real intimidade paterna.

5. MAS QUE V A LO R T E R A ’ P A R A NÔS U M A DECISÃO


JURÍDICA D A P A R T E DE DEUS?

A lei de Deus não é ficção, mas é o reflexo de sua pró­


pria natureza. Êle, por meio do sacrifício de seu Filho no
Calvário, tem de ser «justo e o justificador daquele que tem
fé em Jesus», Rom. 3:26. A justificação é decisão divina
e jurídica, declaração judicial do reto Juiz: «Nada de con­
denação há para os que estão em Cristo Jesus», Rom. 8:1.
E a adoção é igualmente a decisão jurídica que, além da
«justificação do ímpio» que se converte (Rom. 4:5), lhe
concede, na família de Deus, a posição legal de filho, her­
deiro de Deus e co-herdeiro de Cristo, Rom. 8:17.

6. SERA’ QUE O CRENTE F IC A SCV N E S TA POSIÇÃO


JURÍDICA DE F ILH O ?

Não. Entra a outra doutrina, a regeneração, que é a


real transmissão da natureza de Deus ao crente, no novo
nascimento, I I Ped. 1:4. São duas fases preciosas da mes­
ma salvação.

7. A ADOÇAO A T IN G E A P E N A S NOSSOS ESPÍRITO S?

Não. Inclui o corpo também. Em Rom. 8:23, lemos:


«Nós mesmos que temos as primi cias do Espírito gememos
em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção de
nosso corpo». Cristo redime tôda a personalidade humana,
corpo ’e alma. O corpo do crente é tão santo como seu es­
pírito. Deus nos manda apresentar nossos corpos em «sacri­
fício vivo, santo», Rom. 12:1. Mas aqui não alcançamos se­
não «as primíeias do Espírito», quando cremos. Teremos
progresso e fruto e poder e vocação e dons do Espírito na
vida cristã na terra, e a perfeição e a glória imaculada no
céu, na glorificação, Ora, o triunfo final da graça redentora
de Jesus será a ressurreição dos nossos corpos. Quando o
A DOUTRINA DA ADOÇÃO SI
corpo e o espírito forem reunidos afinal, será completa em
Deus a personalidade toda. Ao corpo também pertence, no
l>lano de Deus, a adoção de filhos. Não vamos ficar meio-
redimidos, mas totalmente salvos, na vitória final. Glorio­
sa verdade!

K. QUE CO NTRASTE FÊZ PAU LO , EM ROM. 8:15?


O contraste entre o «espírito de escravidão» e o «espí­
rito de adoção de filhos pelo qual clamamos: Aba, P a i». O
escravo serve por medo, por necessidade, por posição infe­
rior e imposta. O filho clama: Aba (linguagem íntima da
criança, na própria língua de Jesus) Pai (como que dupla­
mente filho, na linguagem nossa e de Jesus). Jesus usou o
mesmo contraste: «Já vos não chamarei servos porque o ser­
vo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chama­
do amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho
feito conhecer», João 15:15. Tudo isso transforma todo o
espírito de nossa vida e atividade cristã.

9. COMO SABEMOS ISSO?


Não fica em mera teoria. O Espírito Santo nos dá a
certeza da relação que gozamos: «O mesmo Espírito testi­
fica com o nosso espírito que somos filhos de Deus», Rom.
8:15. Notai que isso segue imediatamente depois da primei­
ra menção, no Novo Testamento, da adoção.

10. Q U AL A D IFE R E N Ç A E N TR E OS CRENTES A N TE S


DE CRISTO E AGORA, N A P L E N A LUZ DO E V A N ­
GELHO ?
A Epístola aos Gálatas expande a doutrina desta dife­
rença. O crente, nos dias dos patriarcas, salmistas e profe­
tas, era filho, mas filho na menoridade. O crente, porém,
hoje em dia, é filho em pleno gôzo de sua maioridade.

11. COM QUE F IG U R A ILU STR O U P A U LO A D IF E ­


RENÇA ?
Com a metáfora do filho na menoridade, que tinha de
sujeitar-se à disciplina, correção, contróle e direção de um
velho escravo, em casa ’e em caminho para a escola. Êsse
32 DOUTRINAS
escravo, nas famílias abastadas, era chamado o «aio» ou
«pedagogo» (que quer dizer: condutor de crianças). Paulo
diz que o judeu crente estava debaixo da Lei, como a criança
era subordinada ao aio por tôda a sua menoridade. Mas
Cristo remiu os que estavam debaixo da Lei, «afim de re­
cebermos a adoção de filhos» — e filhos agora em plena
maioridade, livres, orientadores de si mesmos na família de
Deus, pelo Espirito enviado a nossos corações, Gál. 4:5, .6.
Até essa redenção ser consumada no Calvário, os crentes
judeus estavam «guardados debaixo da L e i . . . de maneira
que a Lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo.. .
Mas depois da fé, já não estamos debaixo do aio», Gál*
3:23-25. «Porque todos sois filhos (em plena maioridade,
agora, na graça revelada) pela fé em Cristo Jesus».

12. E Q U AL O S IN A L DESSA M AIO RID AD E DE FILHOS


EM P L E N A ÉPOCA E V A N G É LIC A ?
E ’ o batismo. Somos filhos pela fé. O sinal da filiação
é o batismo. O jovem romano vestia-se como menino, na
menoridade. Mas no dia de sua maioridade êle, alegremen­
te, vestiu a toga virilis, veste de homem responsável. Lar­
gou o velho aio. A ge como homem livre. Assim o crente é
filho pela fé. A toga de sua maioridade é o batismo: «por­
que todos quantos foram batizados em Cristo, já vos reves­
tistes de Cristo». Em nossa profissão de fé, tomamos Cris­
to por toga, símbolo e evidência de nossa maioridade de fi­
lhos segundo a adoção que pela graça nos coube. E ’ a con­
tribuição especial da Ep. aos Gálatas para a doutrina da
filiação do crente. Filho pela fé: profissão, perante o pú­
blico, dessa filiação em plena maioridade evangélica, pelo
batismo. A fé nos faz filhos: o batismo professa simbòli-
camente o fato e a maioridade que é envolvida na posição
bendita.
Agora mostrarei algumas diferenças e algumas simi­
laridades entre a adoção humana e a divina, pois Deus nos
ensina por comparações com que somos familiares.

13. Q U AL A P R IM E IR A D IFE R E N Ç A ?
E* esta: Deus não escolhe seus filhos por considerações
de mérito. Um casal que porventura quisesse tirar de um
orfanato e adotar um menino, examinaria bem suas qualida-
A DOUTRINA DA ADOÇÃO 33
Uos boas, saúde, caráter, e disposição. Deus «justifica os
ímpios», veio em Jesus para «buscar e salvar os perdidos».
Como médico, êle cura os doentes, não os sãos e bons, e ado­
ta os que em nada merecem esta filiação. E ’ da graça di­
vina nossa adoção.

14. E A SEGUNDA D IF E R E N Ç A ?

E ’ que o pai adotivo humano não pode mudar o gênio


c a natureza do filho que adota. Deus pode e Deus o faz.
A í entram a doutrina e a experiência da regeneração e da
santificação, outras fases da salvação.

15. E A O U TR A D IF E R E N Ç A ?

E ’ que o pai humano pode desherdar o filho. Deus nun­


ca desherdou nenhum filho que tinha adotado. Dá-lhes vida
eterna, e diz: «Nunca hão de perecer», João 10:28. E Jesus
prometeu: «Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o
lançarei fora», João 6:37.

16. E Q U A L A P R IM E IR A S IM IL A R ID A D E E N TR E A
ADOÇAO H U M A N A E A D IV IN A ?

E ’ que Deus adota quem ainda não é seu filho. E ’ toli­


ce adotar quem jã é filho. O incrédulo não é filho de Deus.
«Filhos pela fé», diz Paulo, «salvos pela graça», Gál. 3:26;
E f. 2:3. A teoria da universal paternidade divina e filiação
humana é o mais grave dos erros.

17. M AS A E S C R ITU R A NAO E N S IN A QUE TODOS OS


HOMENS SÃO FILH O S DE DEUS?

Em um sentido, sim, em outro, não. Em Atenas, Paulo


nos chamou «geração de Deus», A t. 17:28. E Lucas diz que
Adão era «filho de Deus», em sentido natural, pela criação
divina do homem em sua imagem e semelhança. Mas no
sentido de filiação espiritual, regeneração e adoção, somen­
te o crente é filho de Deus. Jesus dividiu a raça em «filhos
de Deus» e «filhos do diabo», João 8:44. E João repete isto:
I João 3:8. Aos crentes é dado «serem feitos filhos de
Deus». Ninguém nasce salvo: somos «feitos filhos de Deus
pela f é » .
34 DOUTRINAS
18. ENTÃO, Q U A L A SEGUNDA S IM ILA R ID A D E ?
E ’ que Deus corrige, disciplina e castiga seus filhos,
como faz o pai humano, para torná-los filhos melhores e
mais dignos do nome, Heb. 12:6, 7. «O Senhor corrige o
que ama e açoita a qualquer que recebe por filho».

19. Q U AL E ’f POIS, A TE R C E IR A S IM ILA R ID A D E ?


E ’ que o filho vai pará a casa do Pai. Depois de adota­
do, o órfão não fica no orfanato. Jesus disse: «N ão vos
deixarei órfãos», João 14:18. Jã dissera: «N ão se turbe o
vosso coração. . . vou preparar-vos lugar... na casa de meu
Pai há muitas moradas». O filho vai para a casa de quem,
em amor, lhe tenha dado a adoção de filho.

20. COMO E' QUE E STA D O U TR IN A SE M A N IF E S T A


N A V ID A E N A MORTE?
Na vida, a filiação do crente se manifesta em que êle
seja parecido com o Pai. E ’ da natureza do filho ser pareci­
do com o Pai. E, na morte, esta certeza glorifica a morte,
a esperança e todo o porvir. E ’ a suprema diferença entre
o católico e o crente. O crente não tem acanhamento de ir
diretamente para o céu. Vai para a casa de seu Pai. Isso
explica a gloriosa morte de tantos crentes que deixam pas­
mados os espectadores romanistas que nada sabem desta es­
perança dos filhos de Deus. Santidade e segurança na vida,
certeza e esperança gloriosa na morte, são as marcas da
realidade, em nossa «adoção de filhos» que Deus nos deu.
CAPÍTULO IV
A DOUTRINA DA BÍBLIA ACÊRCA
DE SI MESMA
.1. QUAIS OS NOMES DADOS A B ÍB LIA OU AS SUAS
PARTES, N A SUA PR Ó PR IA LINGUAGEM ?
Diversos e em sentidos que variam com os contextos di­
ferentes: 1) A Lei, que frequentemente é o Velho Testamen­
to inteiro, mas pode ser apenas a legislação de Israel, ou
mesmo o Decálogo, ou o Pentateuco, ou qualquer versículo
do V. T. (Lei, neste caso, significa revelação, não apenas
legislação). 2) A Lei e os Profetas. 3) A Lei, os Profetas
r. os Salmos. «Os Profetas» não são divididos na Bíblia na
base física do tamanho do livro, como em nossa frase, Pro­
fetas Maiores e Profetas Menores. A divisão se fazia entre
os profetas anteriores que eram os historiadores de Israel
(Josué a Crônicas) e os profetas posteriores que davam as
revelações escritas que se agrupam no fim do nosso V . T .
I ) Os Evangelhos, Os Atos dos Apóstolos, As Epístolas e o
Apocalipse. 5) As Escrituras — 52 vêzes no N . T . acerca
do V . T . , e duas vêzes sôbre seus próprios escritos; e se usa
/i fórmula: «Está escrito» umas 75 vêzes em citar o V. T .
r i u o N . T . 6) Os Oráculos de Deus ou de Vida, A t. 7:38;
Kom. 3:2; Heb. 5:12; I Ped. 4:11 — na Vers. Bras. 7) As
Tradições Apostólicas, I Cor. 11:2 (traduzido: preceitos ou
ensinos). Geralmente, porém, o N . T. usa êste termo em
sentido mau — «as tradições dos homens». 8) A Palavra de
Deus, a Palavra da verdade, «o livro», «o livro de Jeová»,
-o livro da lei», «a espada do Espírito», etc.

2. E ’ CLARO E IN D U B ITÁV E L QUE A ESCRITURA E'


POR SI MESMA CHAM ADA A P A L A V R A DE DEUS?
Sim. Jesus disse: «Se a lei chamou deuses àquêles a
quem a palavra de Deus foi -dirigida (e a Escritura não pode
ner anulada)», João 10:35. Lei aqui é Salmo 82:6. Portan-
ln, Lem seu sentido largo no V . T . e significa revelação di­
vina, não propriamente legislação. Êste Salmo é chamado
36 DOUTRINAS
a palavra de Deus, e a declaração geral é feita por Jesus,
nesta conexão, de que a Escritura não pode ser anulada.
Logo êste Salmo é Lei (revelação), é Palavra de Deus, e ê
Escritura — sinônimos usados a respeito da Bíblia de Jesus,
sendo esta declaração genérica sua profunda doutrina da
Escritura como a Palavra de Deus.

3. QUE FATO A S S IN A L A E X TR AO R D IN AR IAM E N TE


A ID ENTID AD E D A P A L A V R A DE DEUS COM AS
P A L A V R A S DE JESUS E DOS AUTORES D A B ÍB LIA ?
E ’ o fato de que tantas vêzes a Palavra é as palavras, e
as palavras são a Palavra. Notai em João 5:38 «sua pala­
vra »; em v. 39, «Examinai as Escrituras»; em v. 47, «m i­
nhas palavras»; em Luc. 4:22, «as palavras da graça»; em
v. 32, «a sua doutrina, a sua palavra». Também João 8:20,
«palavras»; 8:31, «permanecer na minha palavra»; 8:47,
«Quem é de Deus ouve as palavras de Deus». E ainda João
12:47, 48, «as palavras.. . as palavras.. . a palavra». Ou­
tra vez, João 14:22, 23 onde «guardar a palavra» de Cristo
é guardar «suas palavras». E João 17:8, «as palavras que
tu me deste»; e vs. 6, 14, 17, 20, onde a revelação dada por
Jesus é «a palavra».. . «a verdade» para todo o sempre. A
Palavra é «as palavras». As Escrituras (palavras escri­
tas) são «a Palavra». Cada vez mais, através do N . T .,
cresce o uso da frase «a Palavra de Deus». O Apocalipse,
por último, é «a Palavra» e «as palavras», 1:2; 22:18, 19.

4. NO VELHO TESTAMENTO, A P A L A V R A E ’ TAMBÉM


ID E N T IF IC A D A COM AS P A L A V R A S DOS PRO FE­
TA S ? E* muito comum, I I Sam. 23:2, 3; Sal. 19 e 119; é
a fórmula profética: «a palavra do Senhor veio», Jer. 1:2
(que são «as palavras» de sua profecia, vs. 1). «Eis que po­
nho as minhas palavras na tua boca», 1:9. E* assim, em ge­
ral, na história dos profetas e de João Batista, Luc. 3:2.
Isto se repete constantemente por todo o V . T.

5. E ’ VERAZ A TE O R IA DOS PADRES DE QUE A


«IG R E JA » E ’ M AIS V E LH A DO QUE A B ÍB L IA E
PRODUZIU A B ÍB LIA ?
E ’ falso, evidentemente. Jesus tinha as Escrituras e
A DOUTRINA DA BÍBLIA ACÊRCA DE SI MESMA 37
com elas se conformou em tudo. A Bíblia de Jesus continha
os livros todos de nossas Bíblias, desde Gênesis a Malaquias.
Jesus e seus apóstolos pregaram de textos tirados desta Bí­
blia. Era, para êles, como é para nós, a Palavra de Deus. E
todo o cristianismo se baseou nesta pregação. As igrejas
surgiram, uma a uma, do evangelho — e não vice-versa. E
o evangelho que as produziu veio da Bíblia de Jesus.

6. M AS ÊSTE E V AN G E LH O F O I O R A L A N T E S DE ES­
CRITO, N A O E ’ ?
Nos dias de Abraão, sim, Gál. 3:8. Mas o evangelho
que está no V . T . foi pregado por João Batista, Jesus e
Paulo. E sua Palavra oral se tornou a Palavra escrita, o
Novo Testamento, que significa a Nova Aliança, em sua
forma literária. Logo o evangelho de justificação pela fé,
Gên. 15:6; Rom. 4; Gál. 3, e o evangelho segundo Isaías,
A t. 8:30-35 e o evangelho nos Salmos, Rom. 4:6-8; A t.
13:32, 33, e muito mais, era a substância da pregação, des­
de o início do ministério de João Batista e por todo o pri­
meiro século cristão. Êste evangelho identificou-se com a
mensagem da encarnação e do Calvário, incorporou-se na
pessoa e na redenção de Jesus Cristo, e tomou sua forma
final nos Evangelhos e no ensino das verdades do mesmo
evangelho no resto do N . T.

7. Q U A L A D IF E R E N Ç A E N T R E A PALAVRA ORAL
DE DEUS E A E S C R IT A ?
Nenhuma, salvo na maneira em que o testemunho é
dado. E' a mesma verdade revelada. Daí procede nossa re-
pudiação das tradições dos homens e o cristianismo corrom­
pido que as reproduz e segue. João 3:16 falado e escrito é a
mesma verdade, o mesmo evangelho. Mas as tradições dos
homens repudiam, corrompem, falsificam e contradizem a
Escritura, que é a tradição dos profetas, de Cristo e do cír­
culo apostólico. Vejamos!
A tradição mosaica, no Decálogo, proíbe fazer ou usar
imagens no culto. A tradição clerical enche os templos com
imagens. A tradição dada sôbre o ministério por Paulo diz:
«Convém que o bispo. . . seja m arido». A tradição papal a
contradiz e impõe o celibato. A tradição de Pedro proíbe
que o ministério «tenha domínio sôbre a herança de Deus»,
38 DOUTRINAS
I Ped. 5:3. O clero instituiu, em rebeldia, a tradição auto­
crática e totalitária do romanismo, e quer dominar tudo e
a todos. O clero manda não comer carne na sexta-feira.
Paulo ensina que tais tradições são «a doutrina dos demô­
nios», I Tim. 4:1-3. A s tradições dos homens, da «lei canô­
nica», dos «credos ecumênicos», da «Suma» de Tomás de
Aquino e de outros «Santos Padres da Igreja » contêm mi­
lhares de contradições da tradição única que veio -de Deus,
a revelação historiada nas Escrituras Sagradas. « A doutrina
dos apóstolos» em que o primitivo cristianismo «perseverou»,
sim, «a fé que foi uma vez para sempre entregue aos san­
tos», foi pregada oralmente no primeiro século e escrita no
N . T . A única legítima tradição oral tornou-se a tradição
escrita.

8. COMO SE C H A M A A D O U T R IN A D A B ÍB L IA ACÊR-
CA DE SI M ESM A?
A inspiração da Escritura. Isto significa coisa muito di­
ferente da palavra inspiração na linguagem popular. A qua­
lidade de inspiração que deu às Escrituras sua natureza, au­
toridade e origem divina, de modo que seja realmente a Pa­
lavra de Deus, pode ser afirmada unicamente da Bíblia. N e­
nhum outro escrito é inspirado neste sentido. Nossas pa­
lavras podem ser inspiradoras, mas nunca são inspiradas,
no sentido da magna verdade que Paulo ensinou em I I Tim.
3:16. «Tôda a Escritura divinamente inspirada é proveito­
sa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir
em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e per-
feitamente instruído para tôda a boa obra». O têrmo usado
por Paulo quer dizer que Deus como que respirou nas pró­
prias páginas da Bíblia as palavras da sua revelação por
intermédio de seus autores.

9. F O I FE ITO ISTO M E C A N IC A M E N TE COMO UM


A V IA O ESCREVE NO A R P A L A V R A S DE P R O P A ­
G A N D A EM F U M A Ç A ?
Não. De forma nenhuma. Tôda a personalidade do
profeta é ativa e criadora do escrito. E > na união do Autor
divino com o autor humano que surge, por êste, a Palavra
de Deus. O que é escrito é tão real, genuíno e humano como
se Deus não existisse. E 5 mais humano por Deus guiar o
A DOUTRINA DA BÍBLIA ACÊRCA DE SI MESMA 39
autor à expressão mais natural da mensagem. Nada é tão
natural como o sobrenatural, como vemos em Jesus, o per-
feito homem e o Verbo de Deus; e na Escritura, a perfeita
Palavra de Deus na linguagem do povo.

10. TEMOS SEM PRE AS PR Ó PR IA S P A L A V R A S DE


CRISTO OU DO VELH O TE STA M E N TO C ITA D A S
NO NOVO?
Não. O Novo Testamento cita o Velho em resumo, ou
segundo a Tradução dos Setenta (em grego), ou no sentido
do hebraico original, ou em teor. O mesmo se verifica quan­
to às palavras de Jesus, que variam de Evangelho em Evan­
gelho. Os autores se contentam com o serem exatos, de
acordo com os seus propósitos. Suas palavras merecem con­
fiança, e a superintendência do Espírito nos deu esta certeza
dentro do natural estilo e do saber com que produziram sua
Escritura. A Escritura é como Jesus, na união perfeita do
humano e do divino na sua unidade. As palavras são ade­
quadas para transmitir a verdade revelada. Assim as pa­
lavras humanas inspiradas são a Palavra de Deus.

11. Q U A L A D O U T R IN A B A T IS T A A R E SPE ITO ?


E ’ geralmente declarada nos seguintes têrmos: «Cremos
que as Escrituras Sagradas foram escritas por homens di­
vinamente inspirados e que são um rico tesouro de instru­
ção celestial; que têm Deus como seu verdadeiro autor e a
salvação dos homens como seu fim ; que todo o seu conteúdo
é a verdade sem mescla de êrro; que revelam os princípios
pelos quais Deus há de julgar-nos; e que por isso são e con­
tinuarão sendo, até ao fim do mundo, o verdadeiro centro
da união cristã, e o padrão único infalível pelo qual a con­
duta humana, os credos e as opinões devem ser julgados».
Isto resume o ensino da Bíblia sôbre si mesma.

12. Q U AIS AS TRÊS M AG N AS P A L A V R A S N A D O U TR I­


N A D A B ÍB L IA ?
Revelação, inspiração e iluminação. Deus se revelou na
criação, na providência, na história, especialmente em Is­
rael, supremamente em Cristo, e na vinda do Espírito San­
to, e revelou o sentido de tudo isto nas Escrituras Sagra­
40 DOUTRINAS
das. Esta Revelação tomou sua forma literária na Bíblia, o
Espírito Santo exercendo tamanha influência sobre os au­
tores que sua palavra é a Palavra de Deus. Esta atividade
do Espírito que nos deu a Bíblia é chamada inspiração. Nes­
te sentido, o têrmo nunca se usa de meros escritos humanos,
alheios à revelação. A iluminação é o ato do Espírito que
nos ajuda a entender a Bíblia e aplicá-la à vida.

13. O NOVO TESTAM ENTO REFERE-SE AOS SEUS L I ­


VROS COMO ESCRITU RAS?

Sim. Pedro assim classifica as Epístolas de Paulo, I I


Ped. 3:16. E Paulo classifica Luc. 10:7 como Escritura, I
Tim. 5:18. O Novo foi acrescentado ao Antigo, para leitura
pública nas igrejas, I Tes. 5:21; Col. 4:16; Apoc. 1:3 (o
ledor público); 2:7, 11, etc. A história cristã do segundo sé­
culo confirma isto.

14. QUANDO F O I COMPLETADO O CANON D A ES­


C R ITU R A ?

Quando Deus deu o último livro da Bíblia por inspira­


ção. Os vários livros foram trocados pelas igrejas e gradu­
almente alcançaram circulação geral em manuscritos gre­
gos. Só com a invenção da imprensa, tomou a Bíblia a fo r­
ma de um livro só. E' realmente uma biblioteca de 66 livros
e assim se considera a si mesma. A própria palavra Bíblia
quer dizer Livros. E ’ biblioteca, não um livro só, e assim
circulava.

15. A IN SPIR A Ç Ã O ESTENDE-SE AS TRADUÇÕES?

Não. O original é inspirado. As traduções são respon­


sabilidade humana. Deus costuma responsabilizar aos ho­
mens. Em geral, as traduções transmitem, em tese, a men­
sagem. Convém ter diversas traduções, pois ajudam o estu­
do e a interpretação. E não há ramo de investigação e es-
fôrço humano que tenha recebido tanta erudição, cultura e
perícia em seu serviço como a tradução da Bíblia, já em
mais de mil línguas. O ensino da tradução é inspirado, até
onde fôr fiel ao original.
A DOUTRINA DA BÍBLIA ACÊRCA DE SI MESMA 41
16. COM QUE E SPIR ITO DEVEMOS L E R NOSSAS B Í­
B LIA S ?

Paulo assim deu o ideal: «levando cativo todo o enten­


dimento à obediência de Cristo», I I Cor. 10:5. E foi da sua
palavra que Jesus falou quando declarou: «E conhecereis
n verdade e a verdade vos libertará», João 8:32.

17. COMO PODEMOS P R O V A R QUE AS ESC RITU RAS


SAO P A R A A L E IT U R A U N IV E R S A L ?
O V . T . é uma constante repetição para Israel: «A s ­
sim diz o Senhor». Lede Deut. 6:1-9 e os louvores da lei
(revelação) nos Salmos 19, 119, etc. A primeira Epístola
de Paulo foi I Tess. e notai com quanta insistência, até con-
jurando-os, êle manda, pela autoridade divina, «pelo Senhor
vos conjuro que está epístola seja lida a todos os santos ir­
mãos», I Tess. 5:27. Aliás as Epístolas são dirigidas aos
santos, nunca ao clero. Somente em F il. 1:1 lemos: «Paulo
e Timóteo a todos os santos em Cristo Jesus que estão em
Filipos, com os bispos e diáconos». A leitura é para TODOS.
Os membros da igreja ficam em primeiro lugar e os oficiais
são uma consideração secundária, se bem que importante.
Mas tanto a Bíblia como a sua igreja os regem, não vice-
versa. Várias das Escrituras eram, desde o princípio, Epís­
tolas circulares: Efésios, Tiago, Colossenses (4:16), Hebreus,
Gálatas, Coríntios («com todos os que em todo lu g a r .. . » ) ,
Romanos (para várias igrejas em Roma e cada indivíduo
crente) e o Apocalipse. Quando o Novo Testamento diz:
«Quem lê, atenda», antes «entenda», Mat. 24:15; Apoc. 1:3,
não tem em mente nossos dias de livros impressos. Antes
fala do leãor público. Tanto nas sinagogas como nas igre­
jas, a leitura pública das Escrituras era parte central do
culto e o ledor, nesses pontos apocalípticos, devia fazer a
devida explicação da linguagem mística a todo o povo. Por
isso a bênção é para um que lê e todos os que ouvem. A
Bíblia foi para todos até que Roma produziu a Idade das
Trevas, quis escondê-la e, finalmente, perdeu-a em língua
morta. A Reforma ressuscitou a Bíblia e, de novo, deu-a ao
povo, no vernáculo, em cada país, depois que as Escrituras
impressas, especialmente o Novo Testamento grego de Eras­
mo, despertara os reformadores.
42 DOUTRINAS
18. QUE S IG N IF IC A O F A T O DE QUE TEMOS N A B Í­
B L IA R E V E LA Ç Ã O PR O G R E S S IV A P R E S E R V A D A ?
Jesus explicou: «Ainda tenho muito que vos dizer, mas
vós não o podeis suportar agora. Mas quando vier aquele
Espírito de verdade, ele vos guiará em tôda a verdade»,
João 16:12, 13. O ensino de Jesus que temos nos Evange­
lhos é apenas «o que Jesus começou a ensinar», A t. 1:1. Por
quarenta dias êle abriu as mentes dos seus apóstolos à in­
terpretação cristã do Velho Testamento e lhes «deu man­
damentos pelo Espírito Santo», A t. 1:2. O resto do Novo
Testamento é tôda a verdade que êle prometeu revelar pelo
Espírito.
Como o Novo Testamento mostra revelação progressi­
va, assim, e muito mais, o Antigo. Meditai na diferença do
conteúdo da revelação dada a Adão e as concedidas a Eno-
que, Noé, Abraão, Moisés, Davi, Isaías e Jeremias. E ’ pro­
gresso segundo a capacidade dos recipientes e as fases do
reino de Deus em que êles se achavam.

19. A B ÍB L IA A N U L A SUAS P A R T E S C AD U CAD AS PO R


M OTIVO DE R E V E LA Ç Ã O PO STE R IO R ?
Sim, indubitavelmente. Jesus, no Sermão do Monte, re­
pudiou a lei de Moisés em vários pontos, o divórcio, por
exemplo. O culto do templo foi revelação, para Israel, em.
seu tempo teocrático. Deus abandonou o regime quando ras­
gou o véu do santuário no dia do Calvário, e o destruiu 40 anos
depois, na queda de Jerusalém. Cristo, na cruz, como o efei­
to da redenção aí revelada, fez o regime mosaico caducar e
desaparecer, Heb. 8:13. E riscou a lei das ordenanças leví-
ticas « e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz», Col.
2:14. Portanto, a lei não é o padrão de nossa vida: «N in ­
guém vos ju lg u e». . . «ninguém vos domine a seu bel pra­
zer» com questões de comer ou beber segundo a dieta mo­
saica ou os dias de festa ou de lua nova ou dos sábados, que
são «sombras. . . » , v s . 16-18. A Bíblia repudia as partes ca­
ducadas da Bíblia, as partes que não são da plenitude de
Cristo. E' como a roupa que usamos quando éramos bebês.
«Logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de
menino», I Cor. 13:11. Assim os apóstolos, na plenitude de
revelação, acabaram com as revelações provisórias e pre­
paratórias e nacionais de Israel e deram a revelação ple-
A DOUTRINA DA BÍBLIA ACÊRCA DE SI MESMA 43
oa e final de Jesus e do Espirito. Nunca devemos, pois, citar
textos de todas as partes da Bíblia sem ver seus respectivos
contextos e ver se se aplicam agora à vida cristã.

20. ISTO D IM IN U I O V A L O R DO V E LH O T E S T A M E N ­
TO P A R A NOSSO PR O V E ITO E S P IR IT U A L ?
Absolutamente não. O Velho Testamento é de perma­
nente valor e autoridade, como história da revelação pro­
gressiva, como literatura das nossas devoções, como ilus­
tração de princípios eternos na vida de homens e nações, na
profecia messiânica, no evangelho que contém, na sabedoria
o santidade, como caminho que educa no progresso da mo­
ral e nos anima por êste progresso e em mil outras manei­
ras. Em uma coisa o Novo Testamento repudia e anula par­
te do Velho Testamento: é a lei mosaica, o ritual, o culto, o
altar, os sacrifícios, o sistema sabático, a dieta e tudo mais
no terreno da lei e cerimônias. O que era permanente na lei
moral, Cristo e o N ovo Testamento repetem, com a nova
autoridade de nosso Senhor, M at. 28:18. E* lícito usar a
Bíblia de Jesus em reforçar a vontade de Jesus, por exemplo,
no segundo dos dez mandamentos. Mas não estamos debaixo
da lei (de Moisés) mas sim, sob a lei de Cristo. O sabatis-
mo é um esforço de impor de novo a lei sobre a cerviz dos
crentes. E os padres e os reformadores procuram doutrinar
a continuidade de certos elementos da lei mosaica no cristia­
nismo . Assim, fazem crer que a circuncisão continua no
batismo infantil, o sábado judaico no «sábado cristão», a
Assembléia Nacional de Israel na Ig re ja Nacional de um
país, unida com o Estado, sacerdotes de Israel em sacerdotes
de Roma, Moscou e Cantuária, presbíteros de Israel no
presbiterianismo de governo oligárquico, a páscoa na ceia
do Senhor, jubileu judaico em jubileu papal, e as festas ju­
daicas em festas do «Calendário da Ig r e ja ». Tudo isso é
falso, nocivo, prejudicial. A v iv a o que Cristo matou. R ea­
firm a o que a cruz anulou. Reinicia o que o N ovo Testa­
mento acabou. Sigamos nossa Bíblia, inclusive suas reve-
Jações finais que anularam revelações parciais e provisó­
rias anteriores, que nunca vingaram senão nos estreitos con­
fins da vida de Israel segundo a carne. Resta-nos a lei de
(histo e tôdas as riquezas da inspiração da Palavra de Deus.
CAPITULO V

A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
1. ONDE N A B ÍB L IA COMEÇOU A D O U TRIN A D A JUS­
TIFICAÇÃO ?

Em Gên. 15:6. Abraão «creu no Senhor, e foi-lhe impu­


tado isto por justiça». Leia-se Rom. 4; Heb. 11:8-17 e
Gál. 3:6-29. Nesta Escritura se afirma que, na linguagem
que acabo de citar, Deus «anunciou primeiro o evangelho a
Abraão». E Paulo acrescenta que o evangelho é mais an­
tigo assim, por 430 anos, do que a lei de Moisés. A lei,
pois, foi um parêntese aberto na história do evangelho, para
um povo pequenino, num país diminuto, para fins especiais.
Mas o evangelho é plano de Deus para a salvação pela fé e
se acha no coração do livro de Gênesis e deu eterna justiça
ao maior herói do V . T ., Abraão. Deus nunca mudou o
plano de salvação. « A êste dão testemunho todos os pro­
fetas, de que todos os que nêle crêem receberão o perdão
dos pecados pelo seu nome», A t. 10:43. Assim pregou
Pedro a Cornélio e ao primeiro auditório de gentios evan-
gelizados na história cristã. E pregou-lhes o mesmo evan­
gelho de Abraão, e dos demais crentes, nos dias da profe­
cia de Israel. Não há e nunca houve outro evangelho. Sôbre
qualquer outro é pronunciado o «anátema» de Paulo, Gál.
1:8, 9. E’ o evangelho da Bíblia inteira, do Gênesis ao Apoca­
lipse, o único evangelho. Os textos de todos os sermões de Je­
sus e dos Doze e de Paulo se acham no Velho Testamento.

2. JA’ HOUVE SALVAÇAO SEM JESUS? Absolutamente


não. Jesus é quem nos diz: «Abraão vosso pai, exultou por
ver o meu dia, e viu-o e alegrou-se», João 8:56 (lede os vs.
30 a 58). Notai: não disse nosso Mestre que Abraão previu
o dia de Jesus, mas que o viu. Jesus era contemporâneo de
Abraão. Visitou-o, como Anjo da Aliança, foi de encontro
a sua fé em Deus. Salvou-o; justificou-o, deu-lhe a justiça
da fé; despertou-lhe o sentimento da ressurreição. Era seu
Amigo e Companheiro na peregrinação. Fez de Abraão o
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 45
erente-padrão, o crente-mor, o pai de todos os crentes, de
sorte que aquêle que é de fé é filho de Abraão, Gál. 3:7.
Moisés viu o Invisível (Jesus) e ficou firme, Heb. 11:27.
Êle teve «por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que
os tesouros do Egito», v. 26. Jesus era a Rocha cujas águas
refrigeraram a Israel no deserto, I Cor. 10:4. Êle era, para
os olhos da fé, cada sacrifício nos altares do tabernáculo e
do templo, sim, e desde os dias de Abel. E' «o Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo.. . Se alguém tem ou­
vidos, ouça», Apoc. 13:8, 9. A suprema realidade é sempre
Jesus, o mesmo no ontem do Velho Testamento, no hoje do
Novo Testamento e para o sempre de tôda a eternidade. E'
êle, o eterno Verbo da revelação de Deus, que foi a esperan­
ça dos profetas — não o regime cerimonial de Moisés. «O
justo pela sua fé viverá» diz Habacuque (2:4) — fé no Pro­
metido que era o Contemporâneo de todos os profetas.

3. MAS NAO FO I PRO M ETID A JUSTIÇA AO QUE CUM­


PRISSE A L E I?
Sim. Indubitàvelmente. A o que cumprisse a lei, tôda a
lei, em letra e espírito, e em todos os dias de sua responsa­
bilidade, sem nunca ofender em sentido mínimo. Uma só
ofensa, porém, fura essa justiça própria. «Porque qualquer
que guardar tôda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se
culpado de todos», Tiago 2:10. Paulo mostra que não é o
mero adepto do legalismo, a saber, aquêle que confia na
justiça própria por meio da conformidade pessoal com a
lei, que é justificado pela lei. E ’ quem pratica tôda a lei,
em tudo e sempre. Êsse viverá dela: «Mas os que praticam
a lei hão de ser justificados», Rom. 2:13. «Ora Moisés des­
creve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer
estas coisas, viverá por elas», Rom. 10:5; Deut. 20:12, 13.
Fazer é viver — eis a lei. Crer é viver — eis o evangelho.
Viver, então fazer — eis o fruto do evangelho, resultado da
vida eterna mediante a fé!

4. QUE SIG N IFIC A A P A L A V R A IM PO R TA N TE : JUS­


T IF IC A R ?
Na Bíblia, quer dizer: declarar judicialmente livre de
condenação perante a lei divina: «Nada de condenação há
para os que estão em Cristo Jesus», Rom. 8:1. Não é o que
46 DOUTRINAS
a etimologia latina da palavra indica: fazer justo. Nenhuma
Escritura foi dada em latim. O Novo Testamento original
é literatura grega. E a palavra grega vertida justificar
significa: declarar justo. E' decisão de um juiz, declarando
justo um acusado. Agora, pois, é livre de condenação.
A Igreja de Roma, apegando-se à etimologia latina da
palavra justificar, em seu uso popular, ensina que a justifi­
cação consiste em fazer que o homem seja justo. Leva esta
vida e o sofrimento do purgatório para conseguir tanto. Logo
adiam a justificação consumada para além desta vida e do
purgatório, numa terceira vida. O evangelho, porém, desde
Gênesis, ensina que Deus declara justo o crente. Perante
Deus, o Juiz, êle é tido como se nunca tivesse cometido pe­
cado, e Deus não lhe consente imputar o pecado, Rom. 4:8;
e esta decisão de Deus se dá no começo da sua vida cristã,
em consideração ünicamente de sua fé em Cristo, crucifica­
do por causa de nossos pecados e ressuscitado por causa de
nossa justificação, Rom. 4:25. E a vida assim começada em
Cristo é eterna. /
O eminente Thayer define: justificação — «Nos escri­
tos de Paulo tem uma significação peculiar, contrário ao
ponto de vista dos judeus e dos cristãos judaizantes.. . o
estado aceitável a Deus que cabe ao pecador mediante a fé
pela qual êle abraça a graça de Deus que se lhe oferece na
morte expiatória de Jesus Cristo». E o verbo recebeu dêle
esta definição: «justificar — julgo e declaro justo, aceitá­
vel perante Deus.. . que julga e declara serem aceitáveis e
justos diante dêle e, portanto, dignos de receberem o perdão
de seus pecados e a vida eterna, quantos depositarem em
Cristo sua fé ».

5. QUE ELEM ENTOS DE FE ' H A V IA NOS SACRIFÍCIOS


QUE O CRENTE IS R A E L IT A F A Z IA SÔBRE O
ALTAR?
Êle sentia o pêso de seu pecado constante e ia confès-
sando-o e pedindo perdão. No ato de confessar seus peca­
dos sobre a cabeça de um substituto, embora fosse mero ani­
mal, êle creu no princípio vicário da cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo. O pecado confessado como que passou do réu
para o substituto. Perdoado e restaurado ao favor divino pela
experiência, êle era santo, membro do povo peculiar de Deus,
separado do mundo e para Deus. Também se ilustrou no al-
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 47
lar o fundamental princípio da redenção: «Sem derramamen­
to de sangue não há remissão», Heb. 9:22. Não é o valor
intrínseco do sangue, como substância material, que apaga
de nossa conta o pecado. Mas é porque «o sangue é a vida»,
Deut. 12:23; é o princípio de sacrifício e substituição, uma
vida oferecida em lugar de outra vida. «Se o sangue de tou­
ros e bodes, e a cinza de uma novilha espargida sôbre os
imundos os santifica quanto à purificação da carne, quanto
mais o sangue de Jesus Cristo, que pelo Espírito eterno se
ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas
consciências das obras mortas para servirdes ao Deus
vivo», Heb. 9:13,14. Todo sacrifício no altar de Israel pro­
fetizou de Jesus e do Calvário, nosso único altar. E mos­
trou ainda outro princípio: o do sacerdócio, o mediador en­
tre o pecador e Deus por meio do sacrifício vicário. Jesus
é nosso único Mediador, único Sacrifício, e o Calvário nos­
so único altar, I Tim. 2:5. Para o crente israelita, era pos­
sível um glorioso evangelho, composto de elementos genuínos
de uma fé vital. Esta experiência dos judeus gradualmente
criou nêles a esperança messiânica, cada vez mais clara.
E o vulto do divino Filho, Servo Sofredor, Sacrifício, Substi­
tuto, Sacerdote, Rei, Emanuel, Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo, vai tomando a forma e as feições de Je­
sus. Ora as realidades desta fé e sua genuína comunhão com
Deus se expressam nos Salmos e nos profetas com uma
profundeza clara que nos deixa atônitos. Jesus ordenou sua
vida e morte pela planta dos sacrifícios vicários do Velho
Testamento, sua Bíblia. Essa vida religiosa de Israel era
um modus vivendi de fé — fé expressada em símbolos pra­
ticados, «sombras das coisas futuras», Col. 2:17. Quem efe-
l.uasse apenas a parte material e física dos sacrifícios, pere­
cería na sua incredulidade — Israel segundo a carne. Quem
penetrasse, com sua fé, no sentido real dos sacrifícios era
<rente — Israel segundo o espírito. Todos os profetas repu­
diam e condenam a futilidade de meros sacrifícios nos alta­
res; de nada valem além do ato físico. Todos os profetas
apoiam os sacrifícios como a maneira divinamente prescri­
ta de expressar, orientar e estimular a fé. E’ a fé pessoal
que faz a -diferença: «O justo viverá de sua fé». A Epístola
aos Hebreus é o comentário sôbre o Pentateuco.

ti. SEMPRE A P A L A V R A JU STIFIC AR SIG N IFIC A DE­


C LA R A R JUSTO, ABSOLVIDO, QUITE, ISENTO DE
DOUTRINAS
CONDENAÇÃO E N U N C A S IG N IF IC A T O R N A R U M A
PESSO A JU S T A ?
Isso mesmo. Vejamos casos. « A sabedoria é justifica­
da por seus filhos», M at. 11:19. Quer dizer que ela é vindi-
cada, declarada e provada justa, na vida de pessoas sábias.
«Os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João,
justificaram a Deus», Luc. 7:29. Claramente não tornaram
Deus justo, mas vindicaram, declararam Deus justo, apoia­
ram a Deus no ato do batismo e reconheceram-lhe a justa
autoridade em vidas submissas. «V ós sois os que vos justi­
ficais a vós mesmos diante dos homens», Luc. 16:15, isto
é, vos declarais justos. E ’ assim, em geral, na Escritura.

7. Q U AIS A S C IR C U N S T Â N C IA S QUE A C O M P A N H A M
AS A F IR M A T IV A S D A JU STIFIC AÇ ÃO N A L IN G U A ­
GEM D A B ÍB L IA ?
A palavra de Deus afirma que os homens são «ju stifi­
cados pela fé», Gên. 15:6; Hab. 2:4; Rom. 5:1, etc.; «jus­
tificados gratuitamente pela sua graça», Rom. 5:18; «jus­
tificados em nome do Senhor Jesus e no Espírito do nosso
Deus», I Cor. 6:11 (erradamente traduzido «pelo E spírito»);
«justificados em Cristo», Gál. 2:17; «justificados pelas
obras», Tiago 2:21, 24, 25, etc. Negativamente, ninguém
é justificado «pelas obras da lei», Rom. 3:20, 28; Gál. 2:16;
«pela lei ninguém será justificado», Gál. 3:11. Vejamos em
que sentido somos justificados pela graça, pela fé, pelo san­
gue, no nome de Cristo, em Cristo, no Espírito, pelas pala­
vras, pelas obras e estudemos o motivo da Escritura afir­
mar, na Ep. de Tiago, a justificação pelas obras, e negar
a justificação pelas obras, várias vêzes, nos escritos de
Paulo.

8. DE QUEM E ’ A JU STIÇ A QUE OBTEMOS P E L A F E ’ ?


E’ de Deus, por Cristo. Não é nossa, afirma o Novo Tes­
tamento repetidas vêzes: Rom. 9:30-33; 10:3-6; Gál. 2:21;
F il. 3:9; Tito 3:5, e a parábola de Jesus sobre «o fariseu e
o publicano», Luc. 18:14. Cristo, para nós, «fo i feito por
Deus sabedoria e justiça e santificação e redenção — aque­
le que se gloria, glorie-se no Senhor», I Cor. 1:31. A justiça
que nos justifica é chamada «o dom da justiça.. . por um
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 49
nó, Jesus Cristo», Rom. 5:17. E* chamada «a justiça de
Deus», isto é, a justiça que Deus exige, dá e aceita, Rom.
1:17; 3:5, 21, 22, 25, 26; 10:3; I I Cor. 5:21; F il. 3:9. E ’ cha­
mada «a justiça da fé», da fé salvadora em Cristo crucifica­
do e ressuscitado, Rom. 4:11, 13; 9:30; 10:6, 10; Gál. 5:5;
Fil. 3:9; Heb. 11:7. Há uma razão porque Jesus disse:
-xSe a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de
tnodo nenhum entrareis no reino dos céus», Mat. 5:20. E ’ o
seguinte: se nós tivéssemos de ser mais religiosos, mais
cuidadosos nos pontos finos da moral e do culto, mais asce­
tas, sim, pessoas mais beatas do que os escribas e fariseus,
que eram a fina flor do judaismo, então todos seríamos per­
didos. Não é isso. Precisamos de outra qualidade de justi­
ça, não mais justiça própria, exterior, cerimonial, legalista,
mas uma justiça inteiramente diferente, íntima, espiritual,
espontânea, em seu controle da vida. Esta justiça Deus dá,
c Paulo a explica melhor, em sua base vicária, depois de
consumada sua razão de ser, no Calvário. Assim, Deus jus­
tifica «o ímpio», Rom. 4:5 —■ «o publicano» da parábola,
o bandido do Calvário que foi com Jesus para o céu sem
mérito, sacramento, igreja, ou ritual algum. Justifica a Ra-
abe, a meretriz, e a todos os crentes. Deus olha a Cristo e
nos «declara justos», nêle e por êle, justos e aceitáveis se­
gundo a Nova Aliança. Somos justos pela fé agora. No céu
seremos «justos aperfeiçoados», Heb. 12:23. Deus, em le­
aldade e justiça ao Cristo crucificado, morto em nosso lu­
gar, nos trata como se fôssemos agora «justos aperfeiçoa­
dos», como afinal o seremos, como se fôssemos o próprio
Cristo, nosso Substituto. Deus «o fêz pecado por nós, para
que nêle fôssemos feitos justiça de Deus», I I Cor. 5:21.

9. CO M PARAND O A JU STIÇ A JU S TIF IC A D O R A DO


C R E N TE À ÁRVO RE D A VID A, QUE S IG N IF IC A
SERMOS JUSTIFICAD O S « G R A T U IT A M E N T E P E L A
SU A G R A Ç A », Rom 3:24; Tito 3:7?

A graça é raiz desta árvore da vida, a origem de tôda


a justificação. O favor imerecido de Deus nos dá esta jus­
tiça de Cristo, gratuita e judicialmente, e faz tudo que seja
necessário para que Deus nos perdoe, nos dê a adoção de
filhos, nos justifique uma vez para sempre, nos conceda a
vida eterna e nos conduza até ao céu onde seremos «justos
50 DOUTRINAS
aperfeiçoados». E ’ a fonte inexaurível de salvação em todas
as suas fases, E f. 2:8.

10. E QUE SIG N IFIC A , N E S T A ÁRVO RE D A VID A,


SERMOS JUSTIFICADOS PE LO SANGUE DE CRIS­
TO, Rom. 5:9?
Êle é o tronco. Sua obra redentora surgiu da graça de
seu coração compassivo, e é o tronco que sustenta toda a
árvore da vida. Tudo vem da raiz (a graça) e passa pelo
tronco (o sangue de Cristo, o oferecimento de si mesmo em
nosso lu g a r). O lenho do Calvário, ocupado por Cristo em
nosso lugar, é árvore de vida eterna para nós.

11. A IN D A N E SSA ÁRVORE D A V ID A, QUE LU G A R


TEM A FE\ EM NOSSA JU STIFIC AÇ ÃO ?
São os galhos que estendem o sustento do tronco a tudo
mais e por êle distribuem toda a dádiva da raiz e da natu­
reza desta vida, desde sua origem na graça de Deus e me^
diante o Cristo crucificado. A fé nos liga a Cristo. Êle é
a videira, o tronco, nós as varas, unidas à vida dêle. Somos
a extensão do tronco, para produzir os frutos.

12. E, N A M ESM A FIG U R A, QUE S IG N IF IC A SERMOS


JUSTIFICADOS «E M O E S PIR ITO SAN TO », I Cor.
6 :11 ?
Êle é a seiva que corre da raiz a toda a árvore, vivifi-
ca-nos e mantém em nós, em grau cada vez maior, por todo
o tempo e na eternidade, esta vida eterna e espiritual cuja
base é a justificação pela fé. A justificação assim se asso­
cia com a regeneração e a santificação e afinal nos glorifi­
ca no céu. Tôda a Trindade, pela graça do Pai, pelo sangue
do Filho, pela seiva vital do Espírito, age no crente para
salvar eternamente.

13. E QUE A C R E SC E N TA SERMOS JUSTIFICADOS «E M


O NOME DO SENHOR JESUS», I Cor. 6:11?
O «nome», no pensamento bíblico, é a pessoa e o que
a mesma pessoa vale, significa, representa. E ’ o que vale
a assinatura no cheque. No banco do céu, o nome de Jesus
nos garante a validade de tôdas as promessas do evangelho.
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 51
Receberemos o prometido. Temos disto tôda a certeza e se­
gurança .

14. A IN D A N A ÁRVORE D A VID A, QUE S IG N IF IC A


«JU STIFIC AÇ ÃO DE V ID A », Rom. 5:18?
Mostra que tôda a árvore é viva e dá vida. A justifi­
cação não é mera abstração teológica, dogma eclesiástico,
sistema filosófico. E ’ da substância da vida eterna. E ’ da
mercê divina. E ’ realidade espiritual. E ’ a garantia de que
o que Deus decide a nosso respeito no céu terá curso em nos­
sa vida diária através do tempo e da eternidade. E ’ a união
do objetivo e do subjetivo na psicologia da salvação. E ’ o
nexo entre o Calvário e a experiência cristã.

15. EN TÃO N A ÁRVORE D A VID A, QUE LU G A R T E R A ’


A VERD AD E QUE DIZ: «P O R TU AS P A L A V R A S
SERÁS JUSTIFICADO E PO R TU AS PALAVRAS
SERÁS CONDENADO», Mat. 12:37?
%

Nossas palavras têm o valor que, na árvore, têm as fo ­


lhas. Indicam a natureza. A árvore como que respira a at­
mosfera do seu meio ambiente pelas folhas. Manifestam que
qualidade de árvore é e ministram sombra, refrigério, fo r­
mosura encantadora, e dizem se a árvore é viva ou morta.
Nossas palavras têm êste valor em nossa religião. Expressam
a fé. N a mais evangélica das Epístolas, Paulo associa a fé
com sua palavra de testemunho: «Com o coração se crê para
justiça e com a boca se faz confissão para (ou: acêrca de) a
salvação», Rom. 10:10. E ’ o mesmo teor do v. 9: «Se com
a tua boca confessares ao Senhor Jesus e em teu coração
creres que Deus o ressucitou dos mortos, serás salvo».
A té aqui, a justiça é invisível a nós, visível aos olhos
de Deus. O justo Juiz nos declara justos, aos seus olhos,
pela graça invisível do seu eterno amor; pelos efeitos invi­
síveis do sacrifício do Cristo; pela fé invisível que surge em
nossos corações; no Espírito invisível que, do princípio ao
fim dá vida eterna do crente, preside tôda a nossa salvação;
e pelas secretas e invisíveis garantias que o nome de Jesus
representa no céu onde sempre faz intercessão por nós. E'
justificação de vida, «em Cristo», Gál. 2:17. Mas esta justi­
ça que nos é dada se torna evidente na vida também. As
palavras de nossa confissão e testemunho nos «declaram
52 DOUTRINAS
justos», manifestam a justiça da vida que há em nós. Agora
isso se faz visivelmente, pois uma palavra escrita, se vê;
ou se faz audivelmente, pois uma palvra falada se ouve. E,
tangivelmente, perante o mundo, nossa confissão em pala­
vras — e todas as nossas palavras revelam o que somos, o
que cremos e o que testemunhamos — nos «declaram jus­
tos» ou nos declaram condenáveis. Aqui o verbo justificar,
que sempre significa declarar justo, mostra perante os ho­
mens o efeito da nossa salvação, como as folhas identificam
a árvore..

16. E A IN D A , N A ÁRVO RE D A V ID A , QUE QUER D I­


ZER SERMOS «JU STIFIC A D O S P E L A S O BRAS»,
Tiago 2:21, 24, 25?
E ’ comparável ao fruto da árvore. Somos justificados
sem boas obras, à parte absolutamente de tôda a considera­
ção de nossa justiça e de nossas boas obras, mas por uma
fé viva, ativa, operosa, frutífera e santificadora, que pro­
duz boas obras depois da salvação. Estas boas obras são,
pois, o fruto da árvore da vida; declaram visivelmente pe­
rante o mundo a nossa justiça íntima, vindicam nossa pro­
fissão de fé, justificam o próprio Deus em nos ter salvo pela
graça. Os romanistas e espíritas fazem das boas obras a
raiz da salvação. E ’ virar a árvore de cabeça para baixo.

17. M AS A B ÍB L IA A SSIM N ÃO SE C O N TR AD IZ?


Absolutamente não. Pois quando a Bíblia fala de ser­
mos justificados pelas obras, nos escritos de Paulo, fala de
um sentido da palavra, mas Tiago usa outro sentido da mes­
ma palavra, obras. Igualmente a palavra fé tem dois senti­
dos diferentes nas Epístolas de Tiago e de Paulo. Em Tia­
go a fé que não justifica é a mera crença dos judeus: «há
um só Deus», Tiago 2:19. «Também os demônios o crêem»,
diz Tiago. Neles, ou em nós, esta mera crença das verdades
da Bíblia não justifica a alma.
Também «obras» tem sentido bem diferente em Paulo
e Tiago. As «boas obras» no pensamento de Tiago são a pa­
ciência, 1:2, sua «obra perfeita», a atitude mansa para com
a Palavra, 1:21; cumprir a Palavra, v . 22; o domínio da lín­
gua, 1:26; 3:1-12; a vida social caridosa, 1:27; isenção da
vida corrupta do mundo, 1:27; «o bom trato» que mostre as
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 53
obras «em mansidão de sabedoria», 3:13, a qual é primeira­
mente pura, depois pacifica, moderada, cheia de misericór­
dia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora
o fruto da justiça se semeia na paz», 3:17, 18. Para Paulo
«o fruto do Espírito é: caridade (amor cristão), gozo, paz,
longanimidade, benignidade, fé, mansidão, temperança»,
Gál. 5:22. E Paulo ensina isto como elemento vital na ex­
periência cristã até mais urgentemente do que Tiago. Foi
Paulo quem escreveu o Salmo do amor santo e operoso do
bem, I Cor. 13.

18. M AS NAO DIZ PA U LO QUE NAO SOMOS SALVOS


OU JUSTIFICADOS P E L A S OBRAS?
Sem dúvida e muitas vêzes e com grande ênfase. As
boas obras, porém, que o apóstolo enfrenta e repudia como
alheias à justiça que nos é dada em Cristo, são o legalismo,
atos cerimoniais, formalidades, justiça própria, jejuns, ho-
locaustòs, dias santos, rezas, esmolas, sabatismo, romarias,
circuncisão, e toda a religiosidade para inglês ver. E' pre­
cisamente o que o católico inclui nas suas boas obras me­
ritórias — sacramentos, rezas, esmolas, jejuns, etc.; é o
que o espírita pratica para mérito — caridade e atos me­
ritórios dos louvores humanitários. Portanto, Paulo repu­
dia todos os sistemas de mérito humano e Tiago repudia to­
dos os sistemas de mera crença intelectual de verdades ou
dogmas. Sigamos a dupla revelação de Tiago e Paulo.

19. P A R A C LA R E Z A NO CASO, QUAIS AS OBRAS DE


A B R A Ã O E R A A B E QUE TIAG O A F IR M A TÊ-LOS
JUSTIFICADO ?
E ’ pergunta sensata e reveladora. Abraão foi justifi­
cado pela fé quando creu em Deus e na promessa que Deus
lhe deu, antes de Isaque nascer. Mas Abraão foi «justifica­
do pelas obras» associadas com a obediência que êle deu a
Deus em prontificar-se a oferecer, em sacrifício vivo, seu
filho amado. Isto se deu uns 20 ou 30 anos depois que o pa­
triarca fôra justificado pela fé. Da mesma maneira, Raabe
creu e se uniu espiritualmente ao Israel de Deus, quando
aceitou os enviados para espiar a fortaleza de Jericó. Mas
cia foi justificada pelas obras na terrível e angustiada de­
cisão que fêz de aliar-se com Jeová e seus enviados, embora
54 DOUTRINAS
isto fosse a causa da morte de sua própria cidade. Isto é
fé manifestada em um ato que era de vida ou morte, em que
ela arriscou tudo pela sua fé. Assim se vê que as obras da
Epístola de Tiago são o supremo heroísmo da história de
Israel, as decisões que a fé faz para cumprir sua natureza
e índole. São os frutos da árvore da vida. Assim declaram
justos os crentes. Provam, perante Deus e os homens, a rea­
lidade da justiça e da fé. Até Deus disse, depois de Abraão
oferecer Isaque: «A gora sei.. .», Gên. 22:12. A fé fora pro­
vada

20. A QUE CONCLUSÃO CHEGAREMOS, POIS, À LUZ


DESSAS VERD AD ES?

A Bíblia nem mente nem se contradiz. Tomemos por


veraz sua repetida negação de que seja possível ser justo
ou salvo pelas obras. De outra forma, temos de eliminar
Paulo de nossa religião e a Parábola do Fariseu e do Publi-
cano, e o Evangelho de João, com suas promessas de vida
eterna ao crente. Isto é certo e inabalável.
Avaliemos o sentido diferente de fé e obras em Tiago^
pois Paulo e Tiago nos falam de assuntos diferentes com o
mesmo vocabulário, fenômeno aliás bem comum na Bíblia.
Palavras variam em sentido, em contextos diferentes. P o­
rém, usam o verbo justificar no mesmo sentido. A graça,
a morte expiatória de Jesus, a fé, o Espírito Santo, o nome
de Cristo, a vida, a união com Cristo, são as invisíveis e su­
premas realidades de justiça espiritual. E estas realidades
nos são dadas. Elas nos declaram eternamente justos pe­
rante Deus.
Após a salvação, nossa palavras em confessá-la, teste­
munhá-la e manifestá-la, e as nossas boas obras de ativida­
de espiritual, nos declaram justos, perante os homens, pro­
vam a Deus e aos homens as realidades de nossa salvação;
e, qual fruto numa árvore, justificam tudo que seu nome e
sua natureza tenham prometido.
O católico, o espírita e o fariseu fazem uma salada mix-
ta de graça, morte de Cristo, fé (crença), Espírito Santo
(alcançado por água benta ou caridade exterior), obras mor­
tas e palavras rezadas ou recitadas em repetir, qual papa­
gaio, credos, catecismos ou Ave-Marias e Padre-Nossos para
ganhar mérito. Um pouco de tudo, mais o purgatório, ser­
A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO 55
ve para comprar a justificação, a ser gozada num terceiro
mundo afinal. O evangelho afirm a a eterna salvação e jus­
tiça do crente, ao princípio da vida cristã. Não é uma sala­
da em que são misturadas muitas coisas, cortadas e mor­
tas. E ’ árvore de vida. A graça, o sangue, o Espírito Santo,
a fé, a vida, a união com o Salvador, as palavras da boca
que o confesse, e o fruto da vida santa e operosa em boas
obras espirituais são vivamente unidos como raiz, tronco,
seiva, galhos, folhas e frutos de uma só vida santa e santi-
ficadora. Pois na Bíblia a justiça que nos é dada é seguida
pela santificação, «sem a qual ninguém verá ao Senhor»,
Heb. 12:14,
C A P ÍT U L O VI

VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS


DE FÉ
1. E ’ C O M U M V E R N A B Í B L I A V Á R IO S S E N T ID O S D A
M ESM A PALAVRA?

D e certo. A p alavra Deus se usa com o nome do Deus


verdadeiro e de tôdas as falsas divindades. H á Jesus C risto
e Jesus Justo, C ol. 4:11; e em g re g o Josué e Jesus são o
mesm o nom e. Isra el era o nome de Jacó, das doze tribos de*
seus descendentes, como nação, das -dez tribos que se re v o l­
taram sob Jeroboão, do povo reunido após o cativeiro, e do
«Is r a e l de D eus», G ál. 6:16, o qual abrange os judeus sal­
vos, mas tam bém inclui os crentes gentios, R om . 2:28, 29;
F il. 3:3. L e i é p alavra que indica o D ecálogo, o Pentateu-
co, o V ellio Testam ento todo ou qualquer versículo dêle, o
ensino de Jesus, um princípio, um m andam ento ou qualquer
expressão de autoridade. A p óstolo, anjo, tem plo, etc ., são
p alavras usadas com vários sentidos, ou referências a coi­
sas bem diferentes, na B íblia. Assim , pois, v a ria tam bém ,
e muito, a sign ificação da palavra fé . Sejam os inteligentes
a respeito do uso do vocábulo na B íblia, em contextos di­
feren tes .

2. Q U A L O S E N T ID O P R I N C I P A L ?

«O justo v iv e rá de sua f é » . A p rim eira v e z que o verbo


crer é usado na Bíblia, é no caso de A b ra ã o crer e ser jus­
tifica d o pela sua fé, Gên. 15:6. A fé salvadora sign ifica a
fé-con fian ça em Jesus C risto. E ’ uma relação pessoal entre
o pecador arrependido e o Salvador em quem ele espera e
crê . E m João 1:12, receber a Jesus é crer em seu nom e. E '
nascer de Deus. A fé salvadora é a atitude de con fiar em
C risto crucificado p ara nos salvar; é o apêgo de nossos espí­
ritos a Jesus, o Salvador v iv o e tod o-su ficien te. V êde M a t.
8:10; Luc. 7:50; A t. 15:9; 16:31; Rom. 1:16, 17; 5:1; Gal. 3:
26; E f. 2:8; I I T im . 1:12; H eb. 10:22, 39, e nas E scrituras
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÉ 57
de João. Alguns dizem que em Gên. 15:6 e Hab. 2:4, a pa­
lavra deve ser traduzdia fidelidade> e não fé. E ’ falso e in­
sensato. No caso de Abraão, a palavra é verbo. Indica fé-
confiança na grande promessa e em Deus, que a fez. Não
é matéria de fidelidade, mas de fé. Isso toda a Bíblia afirma.
Em Hab. 2:4 também a atitude é de fé, segundo o contex­
to, confiança no prometido porque confia-se em Deus: «P or­
que a visão é ainda para o tempo determinado, e até o fim
falará, e não mentirá. Se tardar, espera-o, porque certa­
mente virá, não tardará». E' a fé-confiança em Deus e sua
promessa em que confia o justo pela fé, e nesta confiança
vive.

3. QUE E ’ «A FE ' QUE U M A VEZ FO I ENTREGUE AOS


SANTOS» ?
A «fé uma vez para sempre confiada aos santos», como
traduz a Vers. Bras., é a soma da doutrina cristã, a verda­
de revelada, o ensino total do Novo Testamento, a teologia
da Bíblia aplicada à vida pelo Espírito Santo, seu Autor e
Revelador. Sem dogmatismo, acho provável que esta qua­
lidade de fé é o sentido da palavra em Luc. 18:8; A t. 6:7;
13:8; 16:5; Gál. 1:23; E f. 4:5, 13; Fil. 1:27; Col. 1:23; 2:5,
7; I Tim. 3:9, 13; 4:1; 5:8, 12; 6:10, 21; I I Tim. 2:18; 3:8;
4:7; Tito 2:2; 3:15; Jud. 20. Chegou um dia em que Judas
achou que era mais urgente defender a fé do que escrever
da salvação, v. 3. E seu mandamento para «pelejar» ou
«batalhar» pela fé imutável é fortíssimo — epiagonizar, ago­
nizar (lutar) intensamente, diz o grego. Se permitirmos que
seja minada e destruída a fé evangélica, não será mais pos­
sível evangelizar. Pois a fé é o evangelho e tôdas as demais
verdades que Deus nos revelou na sua Palavra.

4. QUE SIG N IFIC A A FÊ-CRENÇA?


E' nosso ato e atitude de crer a verdade ou tôdas as
verdades desta «fé (em sentido 3) que foi uma vez para
sempre entregue aos santos». E' nosso apoio intelectual à
verdade revelada. Fé na verdade, I I Tess. 2:13, é essencial
à fé salvadora, no sentido de que é preciso crer os fatos do
evangelho e do plano de salvação antes que se possa ser
salvo pela fé-confiança em Jesus. Minha crença é que Je­
sus salva. Os demônios também têm esta crença, Tiago
58 DOUTRINAS
2:19. A crença da verdade não efetua nossa salvação, mas
é necessária. Com esta crença intelectual acêrca de Jesus,
eu estou em condição de crer nêle e ser por êle salvo. Ba­
seando-me nesta crença dos fatos do evangelho, eu confio
em Jesus. Esta fé-confiança é salvadora. Assim tenho
crença de que Fulano é bom médico. Não me cura a cren­
ça. Mas se, assim pensando, eu confiar meu caso ao dr.
Fulano, serei curado por êle. E ’ fé-confiança; alcança o mé­
dico e seu remédio, e experimenta a salvação resultante.
Nunca confundamos com a fé salvadora em Jesus Cristo,
a crença em dogmas, catecismos, credos ou mesmo na pró­
pria Bíblia e suas doutrinas. O objeto da fé-crença é a ver­
dade. O objeto da fé-salvadora é uma pessoa e seu nome é
Jesus. «Com o coração se crê para a justiça» — crendo em
Cristo, fé-confiança. Com o intelecto aceitamos, retemos,
apoiamos e mantemos crenças bíblicas. Todo o sagaz livro
jesuíta do Padre Leonel Franca, « A Psicologia da Fé», gira
sôbre êste assunto. Êle faz um contraste entre a fé-crença
em dogmas romanistas e a fé-confiança em Jesus Cristo.
N ega que esta seja salvadora; afirma que a crença nos dog­
mas de Roma é a única fé que tem parte (uma pequenina
parte, aliás) na salvação oferecida pelo romanismo a seus
fiéis. Não sejamos romanistas em nossa idéia de fé salva­
dora. E ’ vital que não sejamos confusos aqui e que tiremos
essa confusão das mentes dos romanistas.
Isto explica outra verdade. As crenças acertadas podem
vir antes do arrependimento. A Biblia não está errada na
sua invariável ordem de «arrependimento e fé ». Enganados
e errados são os que ensinam a ordem reversa, fé e arre­
pendimento, na salvação, ou que advogam a confusão ou o
indiferentismo no assunto. E ’ fundamental (Heb. 6:1) «o
arrependimento de obras mortas e a fé em Deus». E ’ a or­
dem da revelação e da experiência cristã.
Esta fé-crença, a aceitação e o apôio intelectual da ver­
dade, se menciona em Mat. 9:28 (crer um fa to ); M ar. 11:
31 (a crença no testemunho do Batista); Luc. 1:20 (des­
crença na palavra de Gabriel); João 2:22 (crença na Escri­
tu ra); 5:46 (acreditar no ensino de Moisés); 11:26 («Crês tu
isto ? » — verdade que Jesus afirmara; A t. 27:25 (Paulo
afirmando sua crença na veracidade de D eu s). Jesus sabia
perfeitamente distinguir entre a mera crença a seu respei­
to, que o acatava como Mestre, e a fé salvadora que con-
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÉ 59
fiava em sua pessoa, como o Cristo de Deus. Vêde João
2:23-25, e os discípulos que não creram, João 6:64.

5. QUE E> A F E ’ QUE PA U LO , EM ROM. 14:22, M A N ­


DOU G U A R D A R EM SEGRÊDO?
E ’ uma opinião ou teoria. Trata-se do problema se de­
vemos, ou não, fazer algo que esteja no terreno duvidoso.
E* matéria de escrúpulos, questão de conduta. Incluir uma
porção de escrúpulos na crença e nas regras de conduta é
a marca de ser «irmão fraco», com sua «fraca consciência»,
I Cor. 8:11, 12. Não queremos, contudo, ser gente «sem es­
crúpulo». H á um meio áureo real: é não ter, pessoalmente,
escrúpulo nenhum em mera questão de inocentes costumes,
mas, ao mesmo tempo, não ofender desairosamente pessoas
sinceras que tenham erguido tais escrúpulos, em regras de
vida e doutrina de conduta. Dois capítulos clássicos tratam
desta qualidade de fé — Rom. 14 e I Cor. 8. juntamente
com muitas outras Escrituras. Conheço bons crentes que se
ofendem com a idéia de tomar café, chá, Coca-cola, etc. Re­
cusam escrever o título « R e v .» nas cartas (mas usam o tí­
tulo Sr. que é o nome de Deus — Senhor). Condenam o ba-
ton, cabelo curto, comprar jornal no domingo, andar de bon­
de no domingo, acender fogo no domingo, tomar parte em
atlética escolar ou inocentes brinquedos. Outros se escanda­
lizam se seus irmãos seguem modas várias, comem carne
ou tomam remédios, etc. E ’ preferível ser forte nos princí­
pios da moral e da espiritualidade. Ter mil escrúpulos nega­
tivos é ser «irmão fraco». E nem sempre «um irmão fra ­
co» pode ou deve impor sua vontade sobre a vida alheia.
Há casos em que é tirania. Então a mente pública acha ri­
dículo e reage com desdém e energia. Porém, há casos em
que o escrúpulo já se fêz lei. Neste caso é que Paulo manda:
«Tem-na em ti mesmo diante de Deus», Rom. 14:22; isto é,
embora crendo ser o escrúpulo insensato, cala-te. Fica com
a tua opinião diante dos olhos de Deus, mas não provoques
celeuma sobre coisa que não seja matéria da verdade.
O motivo disto é o seguinte: «Tudo que não é de fé é
pecado». Quando alguém deliberadamente faz o que sua
consciência condena, está procurando pecar, mesmo que o
ato não seja realmente pecado. Sua vontade era de pecar
e, em seu propósito, é pecador, mesmo na inocência. Pois,
o motivo é fator saliente no pecado. Se eu fôr a uma co­
60 DOUTRINAS
munidade que pensa ser pecado beber café, não beberei
café ali. Pois «tudo que não é de fé é' pecado». Missioná­
rios em terras pagãs recusam permitir que seus filhos brin­
quem com bonecas, pois o público supõe que são «ídolos».
Sabem que bonecas não são ídolos, mas fazem calar essa.
fé por causa -da superstição pagã.
No testemunho da verdade se diz: «cri: por isso falei»,
I I Cor. 4:13. Mas, em terreno de escrúpulos, podemos di­
zer: «C ri: mas por causa de consciências fracas, ainda pou­
co iluminadas ou libertadas, eu rne calei. Fica a minha fé,
neste caso, um segrêdo entre mim e Deus». Isto pode ser
nobreza de caráter. Um grande cão das montanhas tinha o
costume de dar um salto sôbre certo abismo. Mas, quando
acompanhado pelo cachorrinho de estima da casa de seu
dono, tomava outro rumo, pois o pequeno animal não seria
capaz de um salto tão grande e, fatalmente, cairia no abis­
mo. O cão guiava o cachorrinho por outra senda, sem abis­
mo a saltar. Parece que nós podemos ser tão cuidadosos
com os nossos companheiros como aquêle cão. Não quero
ter vida cristã inferior à conduta de um cachorro.

6. H A ’ U M A D O U T R IN A DE F E ’ S A N T IF IC A D O R A ?
Sim. Jesus disse a Paulo: «santificados pela fé em
mim», A t. 2ô:18. A fé salvadora em Cristo também nos uni­
fica com ele e nos separa e dedica para o mesmo Senhor.
Confiar nêle para salvar deu novo rumo à minha vida: se­
parou-me para Jesus. A fé iniciou e registrou na consciên­
cia a nossa separação para Cristo.

7 . Q U A L E ’ A FÉ ' QUE E’ A V IT Ó R IA SÔBRE O MUNDO ?


O apóstolo João diz: «Todo aquêle que crê que Jesus é
o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquêle que ama ao que
o gerou também ama ao que dêle é nascido. Nisto conhece­
mos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a
Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque êste é o
amor (lendo o que está na margem, W . C . T . ) de Deus, que
guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos
não são pesados. Porque todo o que é nascido de Deus, ven­
ce o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa
fé. Quem é que vence o mundo senão aquêle que crê que
Jesus é o Filho de Deus?», I João 5:1-5. Por êste contexto
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÉ 61
vemos que a fé que vence o mundo é a nossa fé salvadora,
a fé em Cristo, aceitando-o como Cristo, o Filho de Deus, e
como quem manda em nossas vidas. São três os elementos
desta fé que é a vitória sobre o mundo: 1) fé em Cristo;
2) tomá-lo como o Filho de Deus; e 3) amá-lo de tal modo
que se tenha prazer em obedecer. Notai bem esta verdade,
pois, atualmente, o movimento para arrastar os batistas para
o pentecostismo, sob o pretexto de que isso daria um aviva-
mento nacional unionista, tem uma idéia bem diferente da
de João. Êsses propagandistas da «vida vitoriosa» ensinam
que é uma «segunda bênção», «o batismo do Espírito San­
to», um estado que não é de todos os que nasceram de novo.
Mas, essa falsa «vida vitoriosa» olha para dentro. E ’ uma in-
trospecção exagerada; pois, neste caso, a pessoa fica triste­
mente sugestionada por essa preocupação consigo mesma.
E' um cristianismo falso, de espiritualidade espúria. A fé
salvadora é o novo nascimento e é a vitória sôbre o mun­
do. E* Jesus que venceu o mundo. A fé que vence o mundo,
pois, não é uma segunda fé, posterior. Mas é nossa fé em
Cristo, nossa primeira fé. Jesus não chamou os crentes es­
friados de Éfeso (Apoc. 2) a uma «segunda bênção», uma
outra etapa da salvação. Chamou-os para voltar ao seu
«primeiro am or». A vida vitoriosa é nossa primeira fé e
primeiro amor, não é nenhuma «segunda bênção», de fogo
fátuo e glorificação de si mesmo e de seus próprios feitos e
perfeição.
Só temos a palavra vitória 5 vêzes no N . T .. Em M a t.
12:20, consiste em conservar vivo um «morrão que fume­
ga». Três vêzes a vitória é a ressurreição de Jesus, I Cor.
15:54, 55, 56. E aqui, a vitória é a salvação pela fé e as per­
manentes atitudes oriundas dessa fé, a qual nos fêz nascer
de Deus na suprema vitória sôbre o mundo. Fé salvadora,
fé santificadora e fé vitoriosa, pois, são a mesma fé, a pri­
meira fé, com que coopera o primeiro amor — não a «se­
gunda bênção». Todo crente genuíno já ganhou em Jesus
a vitória sôbre o mundo. A gora usêmo-la em guardar os
seus mandamentos e fazer-lhe a vontade. Quando nos tor­
namos de Jesus e nêle permanecemos pela fé salvadora, so­
mos dêle e participantes de sua vida e sua vitória perene
sôbre o mundo. A vitória do soldado raso é que vença seu
general. «Êles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela
palavra do seu testemunho e não amaram as suas vidas até
62 DOUTRINAS
a morte», Apoc. 12:11. Eis a fé que é vida vitoriosa. E ’ a
fé fundamental que salva, santifica e orienta a vida tôda.

8. Q U A L A N A T U R E Z A D A F E ’ QUE NOS DEU O R O L


DOS HERÓIS D A FE', EM H E B . 11?
E ’ a fé para servir, para peregrinar, para viver sacri-
ficialmente, para ser fiel, custe o que custar. Vêde como foi
operosa, 11:33-39. Desta fé, que crê as promessas de Deus
e confia nele para nos tornar eficazes e operosos em seu ser­
viço, lemos em Heb. 11; João 14:12; I Cor. 13:7; I Tim .
2:15; A t. 6:5, 8; 11:24; I Cor. 12:9 (é um dom sobrenatu­
ral esta fé ); I I Cor. 5:7; 8:7; Gál. 5:6, 22; E f. 6:16, 23;
F il. 1:25; 2:17; Col. 2:5; I Tess. 1:3, 8; 3:2, 5, 6, 7, 8, 10;
5:8; I I Tess. 1:3, 4, 11; I Tim . 6:12; Apoc. 2:19. Esta é a
fé com que vivemos, depois de salvos. E ' a dependência em
Deus em cada transe da vida para querer e fazer a divina
vontade.

9. E S T A D E P E N D Ê N C IA EM DEUS IN C L U I A F E ' COM


QUE SU PO RTAM O S A D O E N Ç A E SU PLIC AM O S A
CURA?
Precisamente. Há muitos casos contemporâneos em que
o crente pede a cura de sua moléstia sem usar remédio e é
curado. Há muitos outros casos em que usa remédios pres­
critos por médicos competentes e sente a mesma fé em
Deus par obter a cura por estes meios. Não limitemos a
Deus, nem taxemos de pecado o uso de remédios. Não é fa l­
ta de fé o uso de meios. Antes é o emprêgo natural dos dons
de Deus. O Espírito guia às vêzes de um modo, às vêzes de
outro. Sigamos a orientação que êle dá a cada indivíduo.

10. E' D E V E R C RISTÃO QUE TE N H A M O S F E ’ E M OU­


T R A S PE SSO AS?
A Escritura ensina que sim. Paulo louva em Filemom
a «fé que tens para com o Senhor Jesus e para com todos;
os santos», v. 5. E ’ proibida que a fé em Jesus seja asso­
ciada com sentimentos aristocráticos e discriminação de es­
pírito de classe, Tiago 2:1-5. O crente desconfiado é réu de
uma falta de fé . Não houve em Jesus atitude mais admi­
rável do que a sua grande fé nos homens que êle remiu. E
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÉ 63
.sua fé em nós se mostra na vocação que nos deu. Ninguém
é pessoa de grande fé, se vive desconfiada de seus irmãos.
Viver confiadamente na comunhão cristã, socialmente, e em
nossas igrejas onde cada um é membro, é fase de fé que de­
vemos cultivar no Espírito Santo. Nosso êxito como crentes
depende de nossa capacidade de crer em outros, trabalhar
com outros nesta fé mútua, e pela fé estimular outros a em­
preendimentos para Cristo. N ada nos fortifica mais do que
saber que alguém confia em nós e espera de nós grandes
coisas. Esta fé fo rtific a a outros e torna nossa vida útil em
grau especial. O mandamento que Jesus mais repetiu foi:
«N ão tem as». E, se não vamos ter medo, a alternativa é fé,
confiança em Deus e também nos homens, nos jovens, nos
novos crentes e nos inexperientes, para que ganhem experi­
ência. E ’ santa categoria de fé social. O amor «tudo crê»,
I Cor. 13:7.

11. D EVEM O S T E R F E ’ N A S IG R E J A S ?

N ão para a salvação. Mas como meios e canais de ser­


virmos juntos a Cristo e ao mundo, sim. E ’ outro aspecto
de fé em nossos irmãos. E ’ vida dos membros do corpo. O
cristianismo bíblico é uma religião de indivíduos salvos que
trabalham em igrejas bíblicas. Crer isto, e assim agir, é v i­
tal para preservar o cristianismo de Cristo. O Espírito San­
to crê nas igrejas. «Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o
que o Espírito diz às ig re ja s ». Disse-lhes, de fato, grande
parte do N . T ., e mostra-lhes sua fé, na linguagem do A p o ­
calipse . Sao classificadas, essas igrejas, como candelabros
de ouro, a despeito das faltas de cada uma. Se Deus pode
confiar às igrejas tamanha responsabilidade, nós podemos
crer na sua capacidade sob o Espírito Santo para tudo que
Deus lhes propõe de missão e utilidade no seu reino. Se
Cristo amou a igreja, basta ao discípulo que seja como seu
Senhor.

12. D EVEM O S L IM IT A R N O S S A F E ’ A U M A SO’ IG R E ­


JA, A D E Q U E F A Z E M O S P A R T E ?
N ão. Isso é bairrismo. Paulo fo i inspirado pelo Espí­
rito para expor a grande doutrina da cooperação das ig re ­
jas, em I Cor. 16 e I I Cor. 8, 9. Essa cooperação nasce da
graça de Deus e resulta na glória de Cristo, I I Cor. 8:2, 23.
lá DOUTRINAS
A s igrejas cooperam por meio de seu mensageiros, reuni­
dos em convenções, que servem à causa comum por juntas e
instituições por estas dirigidas. Estes mensageiros são a
glória de Cristo, diz a Palavra de Deus, pela cooperação que
promovem que enche o mundo de emprêsas benditas, fruto
desta fé na ação unida em causas comuns. Nosso progresso
batista abrange fé no indivíduo, confiança nas igrejas e vi­
são das possibilidades da cooperação das igrejas. Nada me­
nos, é uma fé bíblica para empreendimentos comuns.

13. COMO F O I QUE O VELH O JACO’ M AN IFE STO U


SU A F E ’ ?
«Adorou, encostado à ponta de seu bordão», Heb. 11:21.
Todo culto em espírito e verdade é uma forma de fé. Real­
mente, foi também em culto, como crentes, que manifesta­
ram sua fé Abel, Heb. 11:4; Abraão, v. 17; Isaque, v. 20
e Moisés, v. 28. Convém notar de quantas maneiras a fé
em Deus se tornou operosa, neste rol dos crentes antigos.
Culto e sacrifício são elementos de fé em Deus, para comu­
nhão e poder; e, mesmo na velhice e fraqueza, o crente ado­
ra ao seu Criador e Pai.

14. QUE E ’ UM HOMEM DE FE»?


Confia em Cristo para sua salvação; crê as verdades da
Bíblia; toma a sério as promessas de Deus; ora em confi­
ança; serve em fé; nutre fortes convicções do dever; não
despreza ou escandaliza, nem exalta escrúpulos de uma
consciência fraca, exigente e dominadora; tem visão dos
campos, da seara, da falta de obreiros e da sua chamada pes­
soal para servir; não é desconfiado, mas, sim, tem fé em seus
irmãos; sua fé opera êm amor fraternal, em união com ou­
tros, na sua igreja, e dá o seu máximo de apôio, de mordo­
mia e de esforço na cooperação das igrejas e nas emprêsas
e instituições que daí resultam; vê o invisível; adora em es­
pírito e verdade, até na velhice; é peregrino; cumpre a cha­
mada divina na sua vida; usa os dons que o Espírito lhe
deu; exerce sempre vigorosa mordomia de tudo que é e que
tem; anda na carreira que Cristo lhe escolheu sem adotar
outro meio de vida, pois esta seria carreira rival; tem fé em
si mesmo para realizar os propósitos de Deus na sua vida
mediante os recursos que Cristo outorga; domina sua inte-
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÊ 65
ligência e a canaliza na senda da verdade e vontade de Deus;
ativa-se pelo amor de Cristo que nos constrange. «Tudo
erê». Um crente pode ser homem de fé, em todos êsses sen­
tidos e deve ser. «O justo V IV E R A ’ de sua fé » — e de acor­
do. Todos os salvos são homens de fé. São homens de gran­
de fé, se creem e assimilam as grandes verdades reveladas
e vivem na fé vital para servir. São grandes homens de fé,
se individualmente sentem e manifestam estas muitas qua­
lidades de fé, ativas na vida depois da salvação. São pode­
rosos na fé se cumprem sua missão e chamada, na sua pró­
pria igreja e nas esferas em que ela coopera no vasto reino
de Deus. Aliás, sua fé é a fôrça de seu caráter em tudo.

15. QUE OUTROS SENTIDOS DE FE ’ ENCO NTRARE­


MOS N A B ÍB L IA ?

Recapitulemos.
Já enumeramos 1) a fé salvadora, a confiança em Cris­
to; 2) «a fé que foi uma vez para sempre entregue aos san­
tos», a doutrina total da Palavra de Deus; 3) a fé intelectual
que é nossa crença na verdade revelada; 4) a fé que se deve
calar, isto é, nossa convicção de que certa praxe é mero es­
crúpulo de consciência fraca, mas agimos de modo a não
escandalizar, sacrificando nossa liberdade em prol de um ir­
mão fraco; 4) a fé salvadora em Cristo, em seu aspecto es­
tável, é vencedora do mundo, sendo nossa vida vitoriosa por
meio de nossa união com Cristo; 6) a fé para servir, obede­
cer, adorar, lutar, firm ar caráter, perseverar, morrer ou viver
pela verdade e vontade de Deus, ver o invisível, andar com
Deus, exercer a mordomia, fazer tudo que se menciona no
rol dos heróis da fé, em Heb. 11; 7) a fé quando cremos,
que é a esperança de resultados porque cremos que Deus
existe e atende às nossas orações; 8) a fé em Deus para dar
a tranquildiade no sofrimento, ou para curar o doente, usan­
do o remédio tomado ou qualquer recurso da providência
que lhe aprouver; 9) a fé otimista em nossos irmãos —* o
oposto do vício mental e espiritual de viver desconfiado;
10) a fé-confiança em nós mesmos, debaixo de Deus e na
possibilidade de ouvir a chamada divina e usar os dons que
o Espírito nos deu; 11) a fé em nossa própria igreja, pastor
e membros; 12) a fé cooperadora na vida coletiva das igre­
jas que consultam por mensageiros que são «a glória de
66 DOÜTKI NAS
Cristo» e promovem as emprêsas denominacionais funda­
das e mantidas por essa fé comum. Indubitàvelmente há ou­
tros sentidos ou exemplos de fé. Realmente todas as fases,
atividades e pontos -de vista do crente são projeções de sua
variada fé. Há fé que remove as montanhas. Cristo assim
fala, mas nunca deu exemplo, ao pé da letra. Portanto, o
sentido é evidentemente uma figura. E ’ a confiança em
Deus para a visão do desejável e o empreendimento determi­
nado, embora pareça impossível. «N ós somos especialistas
em fazer o impossível». Isto é fé, com vasto panorama. E ’
como farol de luz giratória, que lança bem longe seus raios
em tôdas as direções.
Paulo diz que um dos dons do Espírito é a fé, I Cor. 12:
9. Aqui a fé parece significar a visão que descortina vastos
horizontes de oportunidade cristã, para si e para outros, e
desperta em todos uma confiança contagiosa que os anima
a trabalhar juntos na mesma tarefa. Assim a visão que
Paulo teve da Macedônia arrastou consigo Lucas, Silas e T i­
móteo na evangelização da Europa e na extensão do reino
para novas províncias.

16. Q U A L O ÊRRO D A ID É IA D A R B IS T A DE «H O M ENS


DE FÉ », «MISSÕES DE FÉ », «IN S T IT U IÇ Ã O DE
F É »?
O mais famoso advogado dessas idéias darbistas de fé,
foi o eminente filantropo alemão George Muller, fundador
de famoso orfanato na Inglaterra. Em geral as idéias que
ligam seu nome com a concepção «indenominacional» ou
«interdenominacional» — realmente anti-denominacional —
de fé são sete: 1) Que o cristianismo não deve ser organi­
zado e que a única igreja é a «Ig re ja Mística», a comunhão
de todos os salvos. Sem negarmos esta comunhão, os ba­
tistas crêem também em igrejas bíblicas e biblicamente or­
ganizadas. As igrejas do N . T . eram, e são, organizações
congregacionais, tendo membros, culto público, oficiais, dis­
ciplina, mordomia, correspondência e cooperação com outras
igrejas. Tudo isso é parte da fé uma vez entregue aos san­
tos, e o darbismo é, neste sentido, uma fé deficiente e par­
cialmente falsa e nociva. 2) Que os obreiros não devem ter
salários. Mas isto é franca rebeldia contra o ensino e man­
damento de Jesus, Luc. 10:7; I Tim . 5:18. Nisto teremos de
escolher se vamos seguir a Muller ou a Cristo. 3) Que nun­
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÊ 6?
ca o crente deve contrair dívida. Mas Cristo mandou em­
prestar. Empréstimos tornam-se dívidas, M at. 5:42, até
que sejam pagos. 4) Que a contribuição deve ser particu­
lar, lançada numa caixa ou gazofilácio. Mas isto é do juda­
ísmo, não do cristianismo. N a primeira igreja, os crentes
püblicamente fizeram suas coletas, depositaram suas ofer­
tas aos pés dos apóstolos, que dirigiam os cultos. Não de­
vemos nos envergonhar de contribuir. E ’ ato de culto.
5) Que não deve haver coletas nas igrejas. Mas Paulo diz
que deve haver, I Cor. 16:1. 6) Que a fé notável consiste em
alguém isolar-se da cooperação das igrejas e, de modo exi-
bicionista, se salientar, como «homem de fé » . Então o di­
nheiro do povo se desvia das igrejas e da cooperação bíbli­
ca destas, e vai para esse indivíduo. T) Que é pecado ser
sectário e, portanto, não deve haver denominações, ou vida
missionária e beneficente numa base denominacional. Onde
o darbismo cresce, a lealdade a Cristo diminui, na vida e
cooperação de igrejas bíblicas. O darbismo e os batistas são
concepções antagônicas. A fé, como os batistas a manifes­
tam nestas várias maneiras, tem sido mil vezes mais frutí­
fera do que na seita darbista. Aliás não é sectarismo obe­
decer a Cristo, mas sim, desobedecer à sua Palavra. O dar­
bismo é uma seita principalmente inglêsa. Gostam de cha­
mar-se «Irm ãos» ou «Irm ãos de Plym outh» (cidade da In­
glaterra) . Esta pequena seita tem tido inúmeras divisões
sectárias, uma das quais era chefiada por George Muller.
Penetram no meio batista e se opõem aos pastôres do nosso
ministério, às igrejas blblicamente organizadas, ao seu sus­
tento e a outras doutrinas. Devemos ser inteligentes a res­
peito, e resistir à sua entrada nas igrejas batistas, e à sua
semeadura de confusão e anarquia em nosso meio. Cuidado
com todas as denominações «indenominacionais» e com to­
dos aquêles que são contrários ao cristianismo organizado
segundo o N . T .

17. QUE PODEMOS D IZE R SÔBRE A FE* COMO C R I­


TÉ R IO D A E S T IM A P R Ó P R IA ?

Paulo nos informa: «P ela graça que me foi dada digo


a todo aquêle que está entre vós que não pense de si mais do
que convém pensar, mas dirija a sua atenção para pensar
sàbiarriente, conforme a medida de fé que Deus repartiu»
(Vers. Bras. de Rom. 12:3). A fé impõe limites na estima
68 DOUTRI NAS
própria- « A ciência incha», I Cor. 8:1. A fé regula a men­
talidade, «levando cativo todo o entendimento à obediência
de Cristo», I I Cor. 10:5. O real conhecimento é humilde, e
o melhor é motivado pela fé em Deus. Qual a extensão, as
dimensões, altura, largura e profundeza, a temperatura da
minha fé em Deus, e sua saúde, fôrça e capacidade? Eis o
diagnóstico de minha condição. Cada crente vale quanto
vale sua fé em Deus, em todos os sentidos. E ’ o critério da
estima própria. Julguemo-nos por êste critério, não pela in-
chação de uma cultura artifical e fugaz.

18. COMO PROPÕE O MESMO C A PÍTU LO O U TRA VEZ


A F E ' COMO CRITÉRIO ?
Em v. 6. O exercício de nossos dons depende «da me­
dida da fé ». A convicção, crença e confiança de que sou
chamado para uma dada tarefa cristã é o critério das mi­
nhas possibilidades do uso e da expansão dêsses dons na car­
reira que Deus me marcou. E' o critério divino, para todos
os crentes, em tudo.

19. SE A FE' E ’ D A D A POR DEUS, SEGUNDO A M E ­


D ID A SO BERANA DE SUA VO NTAD E E CHAM ADA,
QUE R E SPO N SAB ILID AD E TENHO EU NO CASO?
Deus dá os dons, a chamada para usá-los, a carreira a
seguir, a fé para realizar tudo, E f, 2:8; Rom. 12:3, 6; I
Cor. 12:9 (vs. 4-11). Sentindo em nós a fé, cumpramos
tôda a sua significante visão. E se se nos antolha uma tare­
fa que seja maior que nossa fé, peçamos mais fé e maior.
«Senhor, aumenta-nos a fé», Luc. 17:5 (Vers. B ras.)

20. A F E ’, N E S TA R IC A VARIED AD E, E ’ MÓVEL A D E ­


QUADO D A V ID A CRISTA IN T E IR A ?
Precisamente. «Nêle (no evangelho) se descobre a jus­
tiça dê Deus, de fé em fé, como está escrito: Mas o justo v i­
verá da fé», Rom. 1:17. A Ep. aos Romanos tem por as­
sunto a justiça: a sua ausência nos gentios (cap. 1) e nos
judeus (cap. 2 ); a justiça objetiva, no sangue de Jesus
(cap. 3); os casos históricos de justiça alcançada pela fé —
Abraão e Davi (cap. 4 ); a justiça objetiva e seus resultados
subjetivos (caps. 5 e 6); a relação da justiça e da lei (cap.
VÁRIAS DOUTRINAS BÍBLICAS DE FÊ 69
7); a experiência na justiça subjetiva por intermédio do Es­
pírito Santo (cap. 8 ); a justiça da providência na história
de Israel vindicada (caps. 9-11); a justiça prática (cap.
12); a justiça cívica e social (cap. 13); a justiça nas rela­
ções fraternais (cap. 14); a justiça beneficente (cap. 15);
e a justiça nas relações pessoais da amizade (cap. 16).
Pois, para cada aspecto da justiça de Deus, na vida e
nos destinos dos homens, corresponde um aspecto congêne­
re da fé. Essa justiça é «de fé em fé ». Avança de uma ca­
tegoria de fé a outras. E' progressiva e alcança maiores ho­
rizontes. Sempre a fé é o móvel humano. Todo o pêndulo
da salvação oscila «de fé em fé » — não de fé para obras,
para o batismo, para sacramentos, para a igreja, para os
sacerdotes, para o ritual — mas «de fé em fé » . A graça de
Deus, do centro à circunferência, é «de fé em fé ». O poder
de Deus na vida, de alto a baixo, é «de fé em fé ». A santifi­
cação, do princípio ao fim, é «de fé em fé ». A origem e o
progresso da experiência cristã, é «de fé em fé ». Do novo
nascimento para tôda a força moral e crescimento ético, é
«de fé em fé ». Não há bênção divina na vida espiritual do
homem que não corresponda à fé, no beneficiário. «Tudo é
possível ao que c r ê » .
C A P ÍT U L O V II

A DOUTRINA DO BATISMO
1. S A L V A ?

Franca, categórica, e absolutamente, não! Nem salva,


nem ajuda salvar, nem preserva a salvação. «P ela graça
sois salvos, por meio da f é . . . é dom de Deus. Não vem das
obras» (E f. 2:8, 9 ). Imediatamente, alguém pensará: Então
por que é dito: «Quem crer e fôr batizado será salvo», M ar.
16:16? E* dito porque é fato: Quem crer e fôr casado tam­
bém será salvo. E quem crer e fôr brasileiro será salvo.
E ' normal crer e fazer muito mais — tôda a vida cristã.
Mas é quem crê que tem a vida eterna; a ordem é fé, salva­
ção, batismo. E isto se prova quando se declara a condição
sem a qual ninguém pode ser salvo. Nunca se diz «Quem não
fôr batizado não será salvo». Aqui seria cabível tal Escritu­
ra, se fosse a verdade. A o sacramentalista, ela fa z falta.
Portanto, o erudito jesuíta, Leonel França, no seu livro, « A
Reforma, a Igreja e a Civilização», inventou a parte que lhe
fazia falta. Citou falsamente M ar. 16:16, como dizendo:
«Quem crer e fôr batizado será salvo, mas quem não crer E
N A O FÕR B A T IZ A D O será condenado». Forjicou a parte em
maiúsculas. Jesus recusou dizer: «Quem não fôr batizado não
será sarvo». E' falso. Êle salvou um homem na cruz sem ba­
tismo. Todos os crentes — batizados ou não batizados, ba­
tistas ou não batistas — são salvos, João 3:16; Rom. 1:16;
Sal. 2:12: A t. 10:43, etc. Há verdades que fazem parte do
evangelho, são essenciais às boas novas de salvação. O arre­
pendimento e a fé salvadora são tais verdades. E há verda­
des que fazem parte do ensino da vida cristã que deve vir de­
pois da salvação, na vida cristã obediente. O batismo é dessa
segunda classe de verdades: é essencial para o testemunho da
verdade revelada e a obediência a Jesus Cristo. Paulo decla­
ra que batizar não faz parte de evangelizar, I Cor. 1:17. Vem
depois. E' para os evangelizados, o primeiro ato público da
vida cristã normal,
A DOUTRINA DO BATISMO 71
2. O BATISM O E' SAC R AM E N TO ?
Não há tal palavra no cristianismo da Bíblia. Velhas ver­
sões de padres inseriram, inlquamente, essa palavra paga em
E f. 5:32, a respeito do casamento. Tendo conquistado assim
o casamento para o domínio do clero, inventaram mais seis
províncias do domínio clerical e chamaram-nas os sete sacra­
mentos. O têrmo veio do militarismo da Roma pagã. Não
faz parte da Bíblia, e várias novas traduções de padres o
abandonaram, mesmo em E f . 5:32. Depois de galgar a altura
autocrática que queriam, jogaram fora a escada pela qual
haviam trepado para sua posição de supremacia ilícita sõbre
a grei. Porém o evangelho não sacramentalista é glória do
povo batista.

3. QUE E ’ O BATISM O ?
O ato que Jesus praticou, submisso ao Batista, no Jor­
dão, e que administrou aos seus novos discípulos por intermé­
dio dos apóstolos, (João 4:2), e que incorporou, pela Grande
Comissão, no cristianismo puro e obediente, até sua segunda
vinda, é a imersão. N a sua língua, Jesus usou exatamente a
palavra imersão, im ergir, imerso. O que a palavra significa­
va nos seus lábios, é o que êle mandou. E os lugares, as des­
crições do ato, e seu simbolismo bíblico estão de acôrdo com o
ato e com o que significa a palavra original. Mesmo sem tra­
duzir o vocábulo batizar, e com muitos rodeios sectários nas
versões feitas por aspersionistas (Figueiredo, Almeida, e a
Versão Brasileira), o ato do batismo é assim descrito: «Des­
ceram à água (entraram dentro da água, diz o grego), A t.
8:38, tanto quem batizou como o batizando; o ato era um se-
pultamento simbólico e uma ressurreição metafórica, Rom.
6:4; Col. 2:12; «sairam da água» depois, A t. 8:38: Mat. 3:16;
Mar. 1:10. Nenhuma tradução pode esconder o fato de que
Jesus foi imerso e mandou o mesmo batismo que recebera, de
que os apóstolos o preservaram em doutrina e prática e de
que o Novo Testamento nos transmite esta verdade.

4. P A R A QUEM E> O B ATISM O ?


Ünicamente para os que se arrependerem dos seus peca­
dos e creram no Salvador, Mar. 1:4, 5; 16:16; A t. 2:41; E f.
4:5 (TJma fé, antes do único batism o); Heb. 6:2 (notai a or-
72 DOUTRINAS
dem ); A t. 8:12; 10:47 com 15:9; Gá-1. 3:26, 27 (onde a fé
traz regeneração e o batismo é o «revestir» do recém-nascido
em Cristo, sua profissão pública da filiação que a fé salvado­
ra lhe trouxe), etc. O batismo bíblico é o batismo dos crentes.

5. E OS BATISM OS DE «C A S A S » E R AM TAM BÉM B A ­


TISMO DE CRENTES?

Sim, sem possibilidade de dúvida. Já nos dias de Jesus


na terra vemos uma «casa» que era unânime na sua fé, João
4:53. Outros casos, pois, de famílias unânimes na fé e uni­
das no batismo não nos devem surpreender. Há cinco casos
desta natureza; (1) Cornélio. Já antes de ouvir o evangelho,
Cornélio era «piedoso e temente a Deus», «COM TÔDA A
SUA C A S A ». E todos se arrependeram. Todos creram.
Toda a casa foi salva. Todos se encheram do Espirito Santo.
E todos foram batizados. A t. 10:2; 11:14, 15, 18; 15:9. (2) A
casa de Lídia, A t. 16:15. Não há prova nenhuma de Lídia ser
casada. E' provável que sua casa eram seus escravos. Seja
como fôr, eram «irmãos», A t. 16:40. (3) A casa do carce­
reiro, A t. 17:33, 34. Êste versículo claramente afirma tanto
a fé como a alegria de «tôda a sua casa» e o v. 32 mostra que
essa fé veio depois de Paulo e Silas pregarem ao carcereiro
«e a todos os que estavam em sua casa». (4) Crispo, de Co-
rinto, creu no Senhor «com tôda a sua casa», A t. 18:8. O
testemunho sôbre todos os batismos em Corinto é; «creram e
foram batizados». (5) Entre estes também foi a casa de Es-
téfanas, I Cor. 1:14, 16; 16:15, 17. Mas, como sempre, a Bí­
blia categoricamente afirma a salvação de todos na referida
família, antes do seu batismo, pois o apóstolo chama a fam í­
lia de Estéfanas «as primícias da Acaia», isto é, os primeiros
convertidos na Grécia. Êle era um dos pastores daquele povo,
segundo parece, e nada é mais comum do que ver tôda a fa ­
mília de um pastor ser crente, batizados todos depois de cre­
rem. E' coisa comum também ver famílias inteiras batiza­
das juntas. Já vi famílias inteiras nas águas batismais e o
Novo Testamento, em todos os cinco casos desta natureza, não
está historiando nada incrível ou fora do comum. Já histo­
riou o caso, citado acima, de uma família tôda crente, João
4:53,
A DOUTRINA DO BATISMO n
6. M AS JESUS B ATIZO U C R IA N Ç A S ?
A Bíblia diz claramente que Jesus batizou discípulos,
João 4:1. Se quaisquer crianças têm fé salvadora e se arre­
penderam entre os discípulos de Cristo, o batismo lhes é na­
tural e obrigatório, mas nunca antes de serem discípulos.
Mas Jesus, pessoalmente, nunca batizou ninguém. O
ato foi administrado por ordem e autoridade dêle, em seu
nome, portanto, mas por intermédio dos seus apóstolos,
João 4:2. Se Jesus nunca batizou pessoa alguma, então êle
nunca batizou qualquer criança.

7. QUE QUER DIZER, E N TÃ O : «D E IX A I OS MENINOS,


E NAO OS ESTORVEIS DE V IR A M IM ; PORQUE
DOS T A IS E ’ O REINO DOS CÉUS», Mat. 19:14?
Quer dizer exatamente o que diz. Deixai os meninos
V IR pessoalmente para Jesus. E* ato voluntário dêles. Je­
sus os recebe e salva. «Aquêle que vem a mim não terá
fome; e quem crê em mim nunca terá sêde... O que vem
a mim, de maneira nenhuma o lançarei fo r a .. . Ninguém
pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trou xer.. .
Ninguém pode vir a mim se por meu Pai lhe não fôr conce­
dido». V ir é crer, como se vê nestas palavras de Jesus em
João 6:35, 37, 44, 65. «Vinde a m im ... tomai o meu jugo
sôbre vós», é o universal convite de Jesus, Mat. 11:28-30.
V ir é crer. Milhões de crianças assim têm vindo a Jesus e
foram salvas. Deixai-as vir. Não as enganeis com a idéia
de que ser carregada a uma pia de água batismal é vir a
Jesus. As duas coisas são bem diferentes. O batismo infan­
til é o pecado que mais impede as crianças do mundo de v i­
rem a Jesus. Já foram incorporadas em falsas greis ecle­
siásticas antes que sejam capazes de virem a Jesus e serem
salvas. E nunca ninguém as evangeliza. E' uma parte vital
e histórica da missão dos batistas evangelizar êsses milhões,
ludibriados na infância e convidá-los a vir a Jesus e ser
salvos da «obra morta» do batismo infantil e dos demais
pecados.

8. AS C R IA N Ç A S QUE M ORREM N A IN F Â N C IA SAO


SALVAS, SEM O BATISM O IN F A N T IL ?
Sim. A Igreja de Roma inventou dois mundos, o pur-
74 DOUTRI NAS
gatório e o limbo; e negaria eternamente «a visão inefável»
a bilhões de criancinhas, por falta de umas gotas de água
batismal. A doutrina batista proclama que tôdas as crian­
cinhas que morrem na infância são salvas pelo sangue de
Jesus, a divina propiciação pelo mundo inteiro, I João 2:1
—■ crianças de pagãos, judeus, ateistas, católicos e do resto
da raça humana. São membros de uma raça decaída pelo pe­
cado original, participantes de sua depravação hereditária
e inata. Mas nunca pecaram e a redenção universal de Je­
sus lhes vale para a purificação de suas imperfeições la­
tentes, de sorte que, as criancinhas que morrem antes de
chegar aos anos de responsabilidade são salvas. As que v i­
vem e voluntàriamente pecam, desenvolvendo sua natureza
corrupta, serão julgadas segundo seus feitos, podendo ser
salvas pèla fé. Hão de resolver sua atitude na vida.

9. O BATISM O IN F A N T IL REGENERA?
Pereça a idéia. E ’ vil superstição. Invadiu o cristianis­
mo com a onda de paganismo e de sua filosofia, que produ­
ziu a Idade das Trevas. Tôdas as corrupções do romanismo
nasceram da fonte original da idéia da regeneração pelo ba*
tismo. «Nascer da água e do Espírito» não se referiu ao
batismo, João 3:5. A regeneração é uma dupla graça — pu­
rifica o espírito como a água purifica o corpo e dá vida. O
novo nascimento é nascer do Espírito. Nascer não é simbo­
lismo de batismo, que antes fala de sepultura e ressurreição,
Col. 2:12. Jesus disse isso a Nicodemos, que era velho, não
criança, e culpou-o por não entender a doutrina do novo
nascimento, pelo Velho Testamento, do qual era «m estre».
Logo não se tratava de batismo, porque o batismo não é as­
sunto tratado no Velho Testamento. Mas a regeneração é:
Jer. 31:31-34; Ez. 18:31 e 36:26, 27. Como mestre, devia
ter visto seu simbolismo na «N ova Aliança» de Jeremias e
Ezequiel. Os católicos negam ter havido batismo cristão no
mundo durante a vida de Jesus na terra. Pois bem. Se Je­
sus exigiu de Nicodemos nascer da água batismal, e se o
batismo não existia, então exigia dêle o impossível. Mas a
primeira metade de João 3 ensina a necessidade de um novo
nascimento e a segunda parte do discurso ensina como ter
êsse novo nascimento e a vida eterna que sempre o segue.
E' crer. E' assim que se nasce da água e Espírito, de uma
só vez, crendo em Jesus, como êle exigiu de Nicodemos em
A DOUTRINA DO BATISMO 75
João 3:15. Não divorciemos da doutrina da necessidade do
novo Nascimento (João 3:1-8) a doutrina do meio do novo
nascimento (João 3:9-15). Nicodemos pergunta: «Como
pode ser isto ?» Jesus não deixou a pergunta sem resposta.
«Isso» (o novo nascimento) «pode ser» pela « fé » que dá «a
vida eterna», João 3:14-15. Reduzir o novo nascimento a
uma pia, um padre e um pequerrucho, numa cerimônia pagã,
é trágico. Pois se água batismal regenera, ninguém irá
buscar a regeneração pela fé quando chegar à idade de crer
e ser salvo. Já foi arrolado na igreja, como regenerado, sem
seu consentimento ou responsabilidade, pelo batismo infantil.

10. O B ATISM O IN F A N T IL P R O T E S T A N T E P R E S E R V A
ÉSSE S A C R A M E N T A LIS M O CRU, M ECÂNICO E
PAGÃO?
Depende da seita protestante. As grandes Igrejas N a ­
cionais da Europa, sejam «ortodoxas», «católicas» ou pseudo-
evangélieas, preservam a superstição da regeneração batis­
mal, tais como os anglicanos, os luteranos, e algumas Ig re ­
jas Reformadas Nacionais (mas não as do tipo presbiteria­
n o ). A doutrina popular das Igrejas Metodistas, Presbite­
rianas, etc., em desculpa do batismo infantil ensina que a
criança nasce salva, e, visto que o batismo é para os salvos,
então, deve ser para as criancinhas recém-nascidas, pois são
salvas pelo primeiro nascimento. E ’ a teoria popular nas
Américas, onde não há Igreja Nacional Protestante em ne­
nhum país e nem se conserva o sacramentalismo de Lutero
e Henrique V I I I e quejandos.

11. E* V E R D AD E QUE A C R IA N Ç A N ASC E S A L V A ?


Nada mais falso e anti-evangélico. Se a criança nasce
salva, então dispensa a regeneração, o novo, o segundo nas­
cimento. Neste caso, Jesus enganou-se em dizer: «O que é
nascido do Espírito é espírito», João 3:6. Isso tem de ser
abandonado e em seu lugar se pregará: «O que nasce da
carne já é espírito e já se acha no reino, sem regeneração».
Logo é salvo sem fé e sem nascer de novo. Jesus enganou-
se quando disse que não se pode ver o reino sem um segun­
do nascimento. A criança já estaria no reino ao nascer.
Bastaria educá-la e conservá-la no reino e na Igreja, sem
nunca esperar que se perca e assim venha a precisar da sal-
76 DOUTRINAS
vação. Acho isso pior que o romanismo. Ambas são idéias
totalmente falsas e perniciosas, que negam a veracidade de
Jesus Cristo, precisamente numas raras verdades que êle re­
forçou pelo duplo «A m ém »: «Amém, A m ém » — ou «em
verdade, em verdade» — «vos digo». A gora mesmo no Bra­
sil há uma vasta campanha para arrolar e educar na «Ig r e ­
ja » a criançada tôda, sem regeneração alguma. Serão uma
«Ig r e ja » sem regeneração entre os filhos de seus membros
que foram ludibriados por essa falsa doutrina. O fato é que
ninguém nasce salvo. Como é que essa salvação desaparece
tão depressa na depravação universal da raça? Como é que
logo todos precisam de ser salvos outra vez? Como é que a
Biblia nunca diz isso, se era verdade quando a Bíblia foi
escrita? A resposta é que tal doutrina não havia entrado no
mundo quando a Bíblia foi escrita. E' novidade, bem moder­
na. E* um subterfúgio para escapar da doutrina batista e
seus efeitos sôbre a consciência. Muitos protestantes viram
a falsidade da doutrina romanista, luterana, anglicana, etc.,
da regeneração batismal. Então haviam de ser batistas?
Para evitar isso, mudou-se a doutrina popular do batismo
infantil, dizendo-se: «N ã o . Os batistas têm razão de dizer
que o batismo infantil não regenera. Mas já temos outra
teoria. Vamos dizer que a criança nasce salva. Então quem
tem o mais, pode ter o menos. Já está- no reino, sem o novo
nascimento. Vamos batizá-la, arrolá-la na Igreja e educá-
la no catecismo. Assim passará sua vida inteira sem jamais
perder a salvação inata». A emenda é pior do que o soneto.
Destrói o evangelho totalmente. Não hã duas salvações,
uma pelo primeiro nascimento e outra pelo segundo. N in­
guém é salvo até nascer de novo, pela fé pes&oal. « A sal­
vação é necessária para o batismo: nunca o batismo é ne­
cessário para a salvação», dizia o amado pregador Truett.
Isso, sim, é evangelho e é o único evangelho. Gál. 1:7-9.

Í 2 . PO R QUE NOSSOS P A IS DO TE M PO D A R E F O R ­
M A P R O T E S T A N T E FO R A M CH AM AD O S A N A B A -
T IS T A S ?
Porque batizaram milhares de católicos e protestantes.
N a infância tinham êstes recebido o pseudo-batismo dado
a tôda a população européia ao nascer. Os que evangeliza-
ram êsses perdidos e, depois da conversão, os batizaram,
eram taxados de rebatizadores («a n a » — outra vez — «ba-
A DOUTRINA DO BATISMO n
lis ta s »). Era falso. O ato que os convertidos repudiaram
nunca fo i batismo. Receberam o único batismo — há um
só — depois de crer. Batizar genuinamente as vítimas de
um batismo espúrio é dar-lhes seu primeiro, último e único
batismo.
Calvino conseguiu que Serveto fosse queimado v iv o .
Hubmaier também foi queimado vivo, na Áustria, e sua es-
pôsa afogada no Danúbio segundo uma lei: «Que merget,
m ergatur» — «Quem imerge, seja imerso,» afogado. Lutero
e Henrique V I I I e os papas estavam em guerra entre si, mas
todos se uniram a queimar, afogar, torturar, e banir os ana-
batistas. Foram aniquilados sem misericórdia. Somos f i ­
lhos indignos de nobres pais, se não formos fiéis às doutri­
nas pelas quais derramaram o seu sangue. Em 1928, o D r.
Rushebrooke e outros líderes internacionais da Aliança Ba­
tista Mundial, lançaram flores no rio Danúbio onde Mme.
Hubmaier fôra afogada por causa de sua fé, depois do m ar­
tírio do seu marido. Assim se celebrou o quarto centenário
do m artírio do nobre casal.

13. TÔ D A A IM E R S Ã O E ’ B A T IS M O ?
Um dos muitos ensinos propositados dos Atos dos Após­
tolos (cap. 19) é revelar que nem tôdas as imersões são ba­
tismos válidos. Paulo imergiu uns doze homens que nunca
foram salvos antes de serem evangelizados por êle. « A sal­
vação», disse Truett, «é sempre necessária para o batismo».
Essa gente nunca havia ouvido da existência do Espírito
Santo, logo nada sabia do evangelho do novo nascimento, pre­
gado por João, por Jesus e pelos apóstolos. Há uns
200.000.000 de «ortodoxos» no mundo. Todos foram imer­
sos três vêzes na infância. São 600.000.000 de imersões e
nenhum batismo. Sabatistas também praticam a imersão,
mas não são evangélicos. Crêem na salvação pelas obras.
Nenhuma imersão é melhor do que a doutrina de que faz
parte. Repudiada a doutrina, deve ser repudiada a imersão
que a professou.

14. QUAND O , POIS, E* U M A IM E R S Ã O B A TIS M O B Í­


B LIC O ?
Todo batismo genuíno é imersão, mas nem tôda imersão
é batismo genuíno. Todo homem é bípede, mas nem todos
78 DOUTRINAS
os bípedes são homens. Pinguim é bípede, também a g a ­
linha. O batismo é imersão e muito mais, pois é uma im er­
são especial de pessoas salvas pela fé, feita «em decência
e ordem», em lealdade às verdades e ao simbolismo do Novo
Testamento, para entrar numa igreja bíblica, pela sua auto­
ridade e consentimento e pela administração de seu pastor
ou de outro pastor, com motivos bíblicos pelo ato. O ba­
tismo é ato social, não individual; é espiritual, não mágico
ou sacramental; é bíblico, não segundo a tradição dos ho­
mens; é obediente em ato, motivo, doutrina e propósitos e
na igreja em que se entra. Não nos contentemos com menos,
porque «os mandamentos de Deus não são penosos», I João
5:3. Observemo-los com amor, inteligência e espitualidade.

15. QUEM E' QUE D E VE B A T IZ A R ?


O pastor da igreja ou um seu colega, devidamente au­
torizado, que o substitua. Em tempos pioneiros, o pastor
que era missionário ou evangelista batizava os primeiros
conversos e os organizava em igreja. Depois, se consultava
a igreja. Nós vemos, no Novo Testamento, primeiramente
êstes pioneiros. Para principiar, Deus P ai enviou João Ba­
tista. Nenhum outro batizava ou foi autorizado a batizar.
Jesus e os doze apóstolos foram batizados por João, A t.
1:21-22, João 15:27. Deus, o Filho, batizou mais que João,
usando seus doze apóstolos para efetuar os batismos, João
4:1, 2. Deus, do céu, comissionou Ananias, pastor em Da­
masco, provàvelmente, para batizar Paulo. Filipe, o evange­
lista nacional da Palestina batizou o eunuco etíope, os sa-
maritanos, etc. como parte de seu ministério missionário.
Paulo batizou as primíeias só, I Cor. 1:14-16; 16:15. Então
outros pastores tomaram conta da tarefa. Nunca o Novo
Testamento historia um batismo à tôa, a não ser êsses ca­
sos que foram repudiados por Paulo em Êfeso, A t. 19. Ba­
tismo não é ato de desenfreado individualismo. Sempre há
autorizado administrador. Nem saia qualquer um a batizar
qualquer outro, a esmo. E ’ fora de ordem.
Ovelhas são gregárias: formam rebanhos; e o dirigen­
te do rebanho é o pastor. A s igrejas bíblicas são repúbli­
cas espirituais; têm seus presidentes, Rom . 12:8; I Tess.
5:12. O presidente de uma democracia é o oficial de função
executiva. A g e em nome da grei, nas cerimônias públicas.
O ministério tem autoridade, não sôbre as igrejas, para as
A DOÜTRINA DO BATISMO 79
dominar, mas sob as igrejas, para administrar atos públicos.
0 coletivos.

1G. QUEM JU L G A A A C E IT A Ç A O DE M EM BRO S?


A Ig reja que os conhece. João examinou todos os pre­
tendentes e rejeitou muitos. Jesus batizou sòmente discí­
pulos. Pedro apelou aos outros crentes vindos de Jope, na
casa de Cornélio, e defendeu-se, com o testemunho dêstes,
perante a Ig re ja de Jerusalém, A t. 10:23, 47; 11:12. A Ig r e ­
ja de Jerusalém julgou também a validez do trabalho em
Samaria e Antioquia, por enviados especiais. Paulo man­
da: «A o que está enfermo na fé, recebei-o, não em conten­
das sôbre dúvidas», Rom. 14:1. Assim, a igreja é juiz da
entrada e da pessoa que entrou. Exerce disciplina. A boa
disciplina exige o contrôle da porta da entrada e da porta
de saída de membros. «N ã o julgais vós os que estão dentro?»,
1 Cor. 5:12. «Se não escutar a igreja, considera-o como
gentio e publicano», M at. 18:17. Então, sôbre a igreja na
disciplina e na direção dos membros, Jesus faz uma das de­
clarações mais fortes da Bíblia inteira: «Tudo o que ligardes
na terra será ligado no céu e tudo o que desligardes na ter­
ra, será desligado no céu», (melhor: terá sido lig a d o ... des­
ligado), M at. 18:18. A autoridade de uma igreja é vasta.
E, se dá para desligar um membro da igreja, dá igualmente
para ligá-lo à grei, pelo voto democrático. A própria «Gran­
de Comissão» fa z do batismo uma responsabilidade plural
e social. A mesma entidade deve: 1) fazer discípulos de tô-
das as nações; 2) batizar os discípulos; e 3) educá-los em
tudo que Cristo mandou. E ' maior tarefa do que cabe a um
indivíduo. Só é cabível à instituição que durará até o fim
do mundo, a igreja local, munida de amplo ministério para
tão sublime alvo, na cooperação de tôdas as tais igrejas que
cumprem a tríplice ordem de Cristo.

17. M A S N A O E R A F IL IP E U M D IÁCO NO Q U AN D O B A ­
TIZ O U O EU NU CO E T IO P E ?

Absolutamente não t O diaconato é tarefa local, em


grande parte financeira e caridosa, A t. 6. Mas o etíope não
foi batizado em Jerusalém. Filipe já era evangelista, que
é eminente ministro da palavra, consagrado pela imposição
das mãos de um presbitério, E f. 4:11; I Tim . 4:14. Filipe
80 D O U T R IN A S
deixara seu ofício local, na Igreja de Jerusalém. Tornou-se
evangelista nacional da Palestina, residindo na sua capital
política, Cesaréia. O batismo nunca foi dado à tôa. Faça­
mos tudo em decência e ordem, sob o controle das igrejas e
por seu ministério. Nossos missionários e evangelistas ba­
tizem até constituir igrejas. Depois dividam a responsabili­
dade e ajam sob as igrejas, que é a maneira bíblica de de­
senvolver o trabalho cooperador das igrejas de Deus.

18. M ERECEM C O N F IA N Ç A OU R E S PE ITO ESSAS P I N ­


T U R A S DO B ATISM O DE JESUS QUE O R E P R E ­
S E N T A M COMO N U OU Q U ASE NU, DE P E ’ N U M A
Á G U A R A S A , COM JOAO F O R A D A Á G U A E D E R ­
R A M A N D O SÔBRE A C AB E Ç A DE JESUS UM L Í ­
QUIDO QUE S A I DE U M A C O N C H A?
Nem confiança nem respeito merecem. São falsas em
vários sentidos. 1) Todas essas pinturas são muito poste­
riores ao tempo de Jesus. O Mestre não deixou retrato.
Nada sabemos de suas feições. E' a imaginação dos artis­
tas medievais, ignorantes da história bíblica. 2) O batismo
evidentemente já fôra efetuado, antes da cena historiada na
pintura. João e Jesus estão quase nus. Quem tira a roupa
para aspergir umas gotas de água na testa? Seria loucura.
A ausência de roupa é prova de que o batismo já fôra efetua­
do e estão saindo. Confirma isto o advento da pomba, que
só veio sobre Jesus depois de seu batismo, Mat. 3:16; M ar.
1:10. Quando a pomba apareceu, Jesus já «saiu da água,
viu os céus abertos e o Espírito que como pomba descia so­
bre êlej>. 3) Assim é claro que a pintura é da descida do
Espírito depois do batismo, o qual já fôra consumado. As
investigações do eminente historiador, dr. John T . Chris-
tian, narrados em seu livro clássico sôbre «O Batismo na
A rte e na Escritura», confirmam que os artistas primitivos
pintavam o crisma, a unção com óleo, não o batismo. No
tempo dêsses pintores, o crisma era administrado logo de­
pois do batismo. E é isso que tais pinturas representam. O
liquido é evidentemente óleo, não água, em algumas telas
mais antigas. 4) Portanto, essas supostas pinturas do ba­
tismo de Jesus nada têm com seu batismo, senão que mos­
tram pela quase completa ausência de roupas, que já fôra
praticada a imersão por João, o Imêrsador. Nessa arte ori­
ginal, Jesus está em água até as coxas. Mas degeneraram
A DOUTRINA DO BATISMO 81
as imitações até que João ficou fora dágua, e Jesus quase
fora. W pintura segundo a falsa doutrina do crisma. A ig ­
norância moderna mudou o assunto, a cena e a significação
de tudo. Não esperemos verdade bíblica na arte medieval.

19. SE O B A T IS M O N A O S A L V A , E N T Ã O Q U A L E> SEU


V A L O R E S IG N IF IC A D O ?
E ’ o valor da obediência do crente ao seu Salvador e Se­
nhor. E ’ o testemunho dos grandes atos da sua redenção. A
sepultura prova a realidade da sua morte, e, desfeita pela
ressurreição, prova a validez e suficiência da morte reden­
tora para os seus fins contemplados no evangelho. E* o va ­
lor do amor a Cristo — guardar suas palavras. W o valor de
um voto de santidade, garantindo «andar em novidade de
vid a». E 9 uma expressão de nossa esperança da ressurrei­
ção, em corpos de glória semelhantes ao de Jesus. E* a toga
da nossa maioridade em Cristo, Gál. 3:27, em que, qual jo ­
vem romano que revestia a nova vestidura da sua cidadania,
a toga, no dia de sua maioridade, nós nos «revestimos de
Cristo» em cerimônia simbólica. H á muitos valores e sen­
tidos do batismo sem que fin ja ser o que não é — a regene­
ração .

20. Q U A IS OS EM PREGOS F IG U R A D O S DO B A T IS M O ?
H á um só batismo, E f. 4:4. Deus o instituiu por men­
sageiro especial, João Batista. A Trindade o apoiou no ba­
tismo de Jesus, no Jordão. Jesus o adotou de João, em seu
ministério público e batizou mais que João. Êle incorporou
êste batismo na Grande Comissão e, sem solução de conti­
nuidade, o mesmo batismo é o que Cristo manda até a sua
segunda vinda. E ' o batismo literal, obediente, bíblico e úni­
co, para todo o sempre, M at. 28:18-20.
Agora, como qualquer outro têrmo, o batismo é pala­
vra que pode ser usada metaforicamente, como sinal de
abundância de qualquer outra coisa na vida. Assim obedece
às leis da linguagem metafórica. Dêste modo, o Novo Tes­
tamento fala do batismo em fogo, que se refere ao inferno,
M at. 3:10, 12. Fala do Calvário como um batismo de angús­
tia, Luc. 12:12. O martírio de Tiago e João seria um ba­
tismo de sofrimento, M ar. 10:38, 39. O dilúvio era um ba­
tismo de separação entre dois mundos, o ante-diluviano e o

D - 6
82 DOUTRINAS
novo mundo purificado, I Ped. 3:23. A travessia do M ar
Vermelho foi um batismo de Israel na nuvem e no mar. O
mar era como caixão — águas ao redor, e por cima a nuvem
era a tampa do caixão. Israel ficou sepultado nesse caixão
simbólico, morto para a velha vida do Egito e ressuscita­
do para a novidade da sua peregrinação, em lealdade a M oi­
sés, tipo de Cristo, o Legislador único do seu povo, I Cor.
10:2. O batismo é a favor dos mortos, I Cor. 15:29, uma.
ressurreição simbólica, profetizando a ressurreição fin a l.
E há a profecia de que Jesus, logo depois da sua ascensão,
havia de batizar a prim itiva igreja e seus apóstolos no Es­
pírito Santo, no dia de Pentecostes. Todos esses empregos
da palavra batismo são figurados. Não são outros batismos,
literalmente. H á um só batismo, mas há muitos usos meta­
fóricos da palavra. N ão há confusão, no Novo Testamento.
Nós ainda acrescentamos outros: batismo de fogo (na pri­
meira batalha de um soldado), etc., e tc .. Mas nenhum em­
prego metafórico acrescenta outro sentido literal. Para todo
o sempre, há «um só batismo» literal, obediente, bíblico,
cujo estudo nos ocupa nestas páginas.
Com êste batismo Deus se agradou de associar, de al­
gum modo, quase tôdas as doutrinas e pessoas e experiên­
cias do cristianismo. E ’ em nome da Trindade. E* entrada
numa igreja. E ’ cheio de simbolismo moral e espiritual.
Olha ao Calvário, ao túmulo vasio de Jesus, e ao fim do mun­
do e à nossa ressurreição simbólica, na salvação e à ressur­
reição literal no fim do mundo. Identificou Jesus como o
Messias. Veio do céu. E ’ a ponte na Grande Comissão, entre
o início do discipulado e sua educação em tôda a vontade
de Cristo. E ’ um dos elementos da unidade cristã. E a his­
tória cristã prova que a doutrina espiritual do batismo (não
sacramento e sem superstição) preserva o evangelho na sua
pureza e o cristianismo em lealdade ào Senhor Jesus e ao
N ovo Testamento.
CAPITULO VIII

A DOUTRINA DAS BOAS OBRAS


1. Q U AL E' A ÊNFASE SU PREM A DO NOVO T E S T A ­
M ENTO SÔBRE AS BOAS OBRAS ?

Não salvam. «Pela graça sois salvos.. . NAO DE


OBRAS», E f. 2:9. Não justificam. «Nenhuma carne será
justificada diante dêle pelas obras da lei», Rom. 3:20. Não
ajudam a justificar ou salvar. «O homem é justificado sem
as obras da lei», Rom. 3:28. A salvação se realiza num
terreno: as obras se praticam em outro terreno. Nunca os
confundamos. As nossas obras não entram em conta, para
a salvação, mas somente para disciplina nesta vida (H eb .
12:5-11; I Cor. 11:31, 32) e galardão no céu (I Cor. 3:8-15),
pois Paulo diz: «Deus imputa a justiça sem as obras», e, ao
crente, «não imputa o pecado», Rom. 4:6, 8. Em Gál. 2:16.,
o apóstolo nega três vezes que na justificação entram em
consideração as obras da lei.

2. COMO C H AM A O EVANGELHO ESTES DOIS TE R ­


RENOS ?
Graça e Obras. «Mas se é por graça, já não é pelas
obras; de outra maneira, a graça já não é graça», Rom.
11:6. A palavra evangélica G RAÇ A significa favor divino,
gratuitamente outorgado, sem mérito do pecador, mas se­
gundo o mérito e a obra redentora de Cristo, com toda a
energia divina suficiente para consumar a salvação do cren­
te, no tempo e na eternidade. A salvação está no terreno
da graça: as boas obras estão no terreno da religião, da vida
cristã, da obediência, da santidade. Naquêle terreno as
obras não têm valor; neste, têm muito valor.

3. QUAL E ’ A OBRA QUE TEM TODO O V A L O R N A


SALVAÇAO ?
E ’ a obra redentora de Cristo —• o Calvário, consuma­
do na ressurreição do Salvador. N a salvação, e para tôda
84 DOUTRINAS
a sua eficácia, há «U M N O M E » —• e nenhum outro, A t.
4:12; um só ato de justiça; e «um só» que outorga «O DOM
D A J U S T IÇ A »; e «a obediência de um» fa z abundar a
graça, Rom. 5:17-19. Portanto, no céu, como visto no livro
final da Bíblia, os redimidos cantam louvores somente ao
Cordeiro que foi morto, e ao valor eterno e infinito do seu
sangue. Ora, «a obra de Deus», em nossa experiência, que
corresponde à obra redentora de Cristo, «é esta: Que creiais
naquêle que êle enviou,» João 6:29.

4. COMO DESCREVE P A U L O O ESTAD O DO HOMEM


QUE PR O C U R A SER JU STIFICAD O , EM P A R T E OU
E M TUDO, P E L A S O B R AS?

«Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais


pela lei: da graça tendes caído», Gál. 5:4. O terreno de
Cristo e sua graça é bem separado do terreno de lei e obras
de justiça própria. O que estiver neste terreno é separado;
já foi separado, diz o grego. Pondo-se no processo de justi­
ficar-se continuamente pelas obras, já se distanciou de
Cristo, que opera no terreno da graça. «D a graça tendes
caído». Isto não quer dizer que eram salvos e perderam a
salvação. Quer dizer que cairam, como ladrão que tenha su­
bido a uma janela por escada quebrada e caído da janela,
sem ter entrado. E não se estranhe a palavra ladrão, pois
Jesus classifica como «ladrão e salteador» todo aquêle que
procura penetrar no seu rebanho sem entrar pela única por­
ta de salvação, que é Cristo, o Bom Pastor, que deu sua
vida pelas ovelhas e lhes dá a vida eterna, João 10:1, 28.
Em contraste com êsses legalistas «insensatos e fascinados»,
Gál. 3:1, «nós pelo espírito (melhor: Espírito, como o texto
de Nestle — W . C . T . ) da fé aguardamos (melhor: aguar­
damos da fonte da fé, procedente de fé — W . C . T . ) a espe­
rança da justiça», v. 5, logo após Gál. 5:4 e em deliberado
contraste. A versão da Imprensa Bíblica verte bem: «Sepa­
rados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da
graça decaistes. Enquanto nós pelo Espírito, aguardamos
a esperança da justiça que provém da fé » . O legalista e o
crente estão em terrenos diferentes e opostos. Não há con­
fusão. Ninguém biblicamente confunde ou procura unir lei
e Cristo, obras e graça, para obter salvação e justiça di­
vina.
A DOUTRINA DAS BOAS OBRAS 85

5. QUE DIZ A V E L H A A L IA N Ç A , A L E I?

«Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, -dizendo:


O homem que fizer estas coisas viverá por elas», Rom. Í0:
5. citando Lev. 18:5. Justiça pelas obras só poderia caber a
quem estivesse dotado de absoluta perfeição sem um só peca­
do na vida. «Porque qualquer que guardar tôda a lei e tro­
peçar em um só ponto, tomou-se culpado de todos», Tiago
2:10. Contrastai a Nova Aliança, Heb. 10:16-18, de «um
único sacrifício pelos pecados», v. 12, nunca repetido.

6. SE NAO E N TR A M AS NOSSAS OBRAS N A CONTA


DE JUSTIÇA, P A R A A SALVAÇÃO, Q U AL E> O TE R ­
RENO DO V A LO R DAS BOAS OBRAS, N A RE LIG IÃO
C RISTÃ ?
Somos salvos, não PE LA S OBRAS, mas «P A R A AS
BOAS OBRAS», E f. 2:9, 10. Somos salvos «sem as obras»,
por uma fé salvadora que efetua, em primeiro lugar, a sal­
vação e, em segundo lugar, as boas obras, como fruto da
salvação e da fé que opera por amor, Gál. 5:6 (Vers. Im .
Bíbl. ) . Primeiro, a salvação; depois as boas obras.

7. COMO A FIR M O U PA U LO E STA D U P L A VERDADE


A TITO ?
1) «N ão pelas obras de justiça que houvéssemos feito,,
mas segundo sua misericórdia, nos salvou» — a magna ne­
gação pelo evangelho, repudiando a doutrina humana de
auto-salvação, Tito 3:5-7. 2) «F iel é a palavra, e isto quero
que deveras afirmes, para que os que creem em Deus pro­
curem aplicar-s'e às boas obras: estas coisas são boas e pro­
veitosas aos homens», v. 8. Não é auto-salvação, por jus­
tiça própria, o terreno em que boas obras têm valor, mas em
proveito de outros e por ser inerentemente boas e desejá­
veis. É ainda: «Os nossos aprendam também a aplicar-se
às boas obras, nas coisas necessárias, para que não sejam
infrutíferos», v. 14. Na esfera de fruto, no proveito social
e na bondade de caráter firmado, as boas obras são a carrei­
ra do crente, em coisas necessárias, isto é, na vida que Deus
manda e rege — não a vontade dos homens ou a moda re­
ligiosa do meio ambiente.
86 DOUTRINAS
8. JESUS E N SIN O U ESTAS DUAS VERD AD ES?

Sim. Ensinou a primeira nas parábolas de o Fariseu e


0 Publicano (Luc. 18) e na do Bom Pastor (João 10) e em
sua denúncia do farisaismo, Mat. 5:20; Luc. 11:39, etc.
Também ensinou a segunda na parábola dos Dois Devedo­
res, Lu c. 7 :40-50, etc.

9. QUEM E ’ O PAD RAO DE BOAS OBRAS P A R A O


DISCÍPULO DE CRISTO?

Seu M estre. «Tenho-vos mostrado muitas boas obras


procedentes de meu P a i» (as que Paulo chama, portanto,
«necessárias»), João 10:32. «Basta ao discípulo ser como
seu Mestre», Mat. 10:25. O Novo Testamento tem uma boa
doutrina de imitação: de Cristo, I Cor. 11:1; de Deus, E f.
5:1; de Paulo, I Tess. 1:6; I Cor. 4:16; 11:1; I I Tess. 3:7-9;
da fé notável de líderes pioneiros, Heb. 13:7; das igrejas,
1 Tess. 2:14; dos herdeiros das promessas, Heb. 6:12. Todo
o Sermão do Monte é para os discípulos — não para o mun­
do, diretamente, Mat. 5:1. Notai a correta tradução e ên­
fase de João 9:4 — «E* necessário que façamos (nós e Je­
sus) as obras daquele que me enviou, enquanto é dia: vem
a noite. . . » «Aquêle que crê em mim, fará as obras que eu
faço e as fará maiores do que estas», João 14:12. Nossa vida
e operosidade seguem e continuam a vida e operosidade de
Jesus e a expandem, em obras maiores.

10. A B ÍB L IA E S PE C IFIC A BOAS OBRAS DAS M U LH E ­


RES CRISTÃS?
Sim e muitas e freqüentemente. «E la me fêz uma boa
obra», disse Jesus de Maria. Judas achou superior a carida­
de, mas o amor a Cristo é muito mais do que a caridade,
I Cor. 13. Maria manifestou a devoção de modo simbóli­
co e social. Para Jesus, simbolizou seu embalsamamento
para o túmulo, tão próximo. E esta boa e custosa obra teve
seu louvor e defesa pública e tem seu memorial multi-secu-
lar garantido aonde o evangelho fôr pregado, Mar. 14:6-9.
Eis uma lista de boas obras de viúvas que haviam de ser
obreiras sustentadas pelas igrejas: criou filhos, exercitou a
hospitalidade («O ra Jesus amava a M arta» — não só a es­
tudiosa Maria, mas a hospitaleira Marta, João 11:5), lavou
A DOUTRINA DAS BOAS OBRAS 87
os pés dos santos (elemento servil cie hospitalidade, como
Jesus, no cenáculo), socorreu os aflitos, praticou tôda boa
obra», I Tim. 5:10. Vêde A t. 9:36, 39, e muitos exemplos
em tôda a Bíblia.

11. COMO C LA SSIFIC A M P A U LO E PEDRO AS BOAS


OBRAS D A M U LH E R C R ISTÃ?

São o enfeite de seu espírito, a formosura da santidade,


o embelezamento do caráter, sempre a última moda celes­
tial. «O enfeite delas não seja o do exterior, no frizado dos
cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestidos,
m as. . . no incorruptível traje de um espírito manso e quie­
to, que é precioso diante de Deus», I Ped. 3:3-5. Isto não
é proibição de enfeites. Se houvesse tão estranhável exi­
gência, seria clara, direta e categórica. Insiste que o supre­
mo adômo é o espírito, não o exterior, mas o que Deus vê
e acha precioso. «Que as mulheres se ataviem em traje ho­
nesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com
ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a
mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas
obras», I Tim . 2:9, 10. O adorno supremo da serva de
Cristo são boas obras, não enfeites. Mas a linguagem de
Paulo e Pedro visa conservar os enfeites exteriores secun­
dários e subordinados ao caráter e bom gôsto. Não se usa
forma definitiva de proibição. Ocupemo-nos do ideal dos
dois apóstolos.

12. AS BOAS OBRAS DEVEM SER E V ID E N TE S?


As que são particulares, não; as que são sociais, sim.
O Sermão 'do Monte proibe ostentação. Exige esconder o
jejum, se alguém quer jejuar, Mat. 6:18. O cristianismo não
tem jejum coletivo. A quaresma é pagã, em origem e espí­
rito. Também exige esconder oração particular, no quarto,
com a porta fechada, M at. 6:6; e proibe orar prolongada-
mente ou rezar (repetir orações fix a s ). Ainda exige que,
na esmola, de pessoa para pessoa, não saiba a mão esquer­
da o que dá a mão direita, v. 2. Mas as boas obras sociais
e cooperadoras, e de culto, contribuição e caráter, -devem ser
evidentes. Como serão os adornos da mulher, se não forem
conhecidos por outros? A té escravos tinham obrigação de
«adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador», Tito 2:10. O
88 DOUTRINAS
Sermão do Monte manda que nossas boas obras sejam como
cidade iluminada e elevada, ou candeia em velador, «para
que os homens vejam as vossas boas obras e glorifiquem á
vosso Pai», Mat. 5:14-16. Vede I Tim. 5:25.

13. DEVEMOS T E R ZÊLO E EN TU SIASM O P E L A S BOAS


OBRAS ?
Sim —- ser «ricos em boas obras», aplicar-nos a isto, I
Tim . 6:18; Tito 3:8,14, e ser incansáveis, I Cor. 15:58,
prontos para toda boa obra, Tito 3:1.

14. Q U A L A A T IT U D E E X IG ID A NO M IN IS T É R IO
N E STE SE N TID O ?
«Faze-te a ti mesmo um exemplo de boas obras», Tito
2:? (Vers. R ra s .).

15. Q U A L O L IV R O DE BOAS OBRAS?


A Bíblia. «Tôda a Escritura» visa a dupla perfeição do
crente, «para que o homem de Deus seja perfeito e perfei-
tamente instruído para tôda obra boa», I I Tim . 3:17. E ’
parte da educação do crente.

16. E ’ LÍC ITO IN C E N T IV A R OUTROS A BOAS O BRAS?


E' dever — mas sem métodos mundanos ou comerciais,
sòiriente segundo a «doutrina de imitação» e a estímulo do
exemplo e da exortação: «E consideremo-nos uns aos ou­
tros para nos estimularmos à caridade (o amor cristão —•
W . C . T . ) e às boas obras, não deixando a nossa congrega­
ção», Heb. 10:24, 25. Vida nas igrejas ensina e estimula
êste dever e oferece oportunidades melhores para pô-lo em
prática.

17. N AO PODE O ESTADO F A Z E R TUDO QUE DEVE


SER FE ITO P A R A O CID AD ÃO ?
Nunca. «Am arás o teu próximo com a ti mesmo». O
Estado é entidade abstrata. Não ama. As boas obras não
são apenas materiais: são espirituais e manifestam comu­
nhão e espírito cristão. Dai a César o que é de César. Mas
a Deus, primeiro, e ao próximo, em segundo lugar, demos
A DOUTRINA DAS BOAS OBRAS 89
<> amor leal e sua expressão em todas as maneiras oportu­
nas e morais. Feliz é o Estado que tem servidores que amam
os seus semelhantes e praticam boas obras.

18. Q U AL A M ELHOR PROVISÃO DE DEUS P A R A A


A B U N D Â N C IA DE BOAS OBRAS?
E ’ o ministério espiritual, em igrejas bíblicas. «Se ãl-
guém aspira ao episcopado (pastorado de igreja — W . C.
T . ) deseja uma obra boa», I Tim. 3:1 (Vers. B ra s.). À
própria carreira pode ser tôda uma obra boa, se é governa­
da por êste espírito. Há mais ênfase sôbre boas obras nas
Eyjstolas Pastorais do que em qualquer outra parte da Bí­
blia. Vêde as Escrituras já citadas. O púlpito é amigo de
tôda a benevolência, santidade e altruismo.

19. BOAS OBRAS G ENU ÍNAS SAO N A T U R A IS OU SO­


B R E N A TU R A IS ?
Sobrenaturais, pois «somos feitura dêle, criados em
Cristo Jesus para as boas obras», E f. 2:10. Há mil boas
obras que Deus ordena nas quais o incrédulo nunca pensou.
E Deus quer o espírito íntimo, com a manifestação exte­
rior. «Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade», Fil. 2:13.

20. Q U AL A «BÊNÇÃO», QUE PÕE EM SEU LU G AR


DEVIDO TODO O ASSUNTO DE BOAS OBRAS?
Heb. 13:20, 21. «Ora, o Deus de paz, que pelo sangue
do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Se­
nhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfei­
çoe em TÔDA BOA OBRA, para fazerdes a sua vontade,
operando em vós o que perante êle é agradável por Cristo
Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Am ém ».
CAPITULO IX

A DOUTRINA DA MORTE DE
CRISTO
1. QUE E ’ O E V A N G E LH O ?

«Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escri­


turas, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo
as Escrituras», I Cor. 15:1-8. «Nada me propus saber entre
vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado», I Cor. 2:2. A
pessoa do Salvador é metade do evangelho. Sua morte re­
dentora é a outra metade. Quem elogia a Jesus não prega
o evangelho. E ’ verdade dupla: 1) Quem Jesus Cristo é;
2) e o que êle fêz, faz e fará para salvar o pecador que se
arrepender do pecado e crer. O evangelho é nova — não
programa, nem idealismo ou lei ou religião, nem ideologia,
ou ética ou sociologia ou moralismo. E ’ nova — a suprema
nova, notícia de atos e fatos, e das verdades a seu respeito.
Tem de ser «segundo as Escrituras» ou não é o evangelho,
pois só nas Escrituras temos os fatos e a revelação divina
do que significam.

2. JESUS CRISTO D E LIB E R A D A M E N T E D IRIG IU -SE


P A R A A CRUZ DO C ALVAR IO , SEGUNDO ÊLE A
IN T E R P R E T O U D U R A N T E SEU M IN IS TÉ R IO E DE­
POIS D A S U A RESSURREIÇÃO, LU C . 24:6-9, 25-27,
44-46, ETC ?
Sempre com toda a coerência, sem vacilação nenhuma.
Seu batismo antecipadamente reproduziu, em ato simbólico,
sua sepultura e ressurreição. Sua tentação firmou-lhe o
propósito de não seguir outro rumo, cobiçando um reino
deste mundo. Jesus fêz proverbialmente, a exposição do seu
evangelho redentivo, quando disse; «derribai êste templo
e em três dias o levantarei», João 2:19. A í êle deliberada-
mente anunciou que, para os crentes, êle seria o que o
templo fôra para os judeus ■
— o Santo dos Santos, onde en­
contrariam Deus revelado, a expiação do pecado e o per-
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 91
dão. Êles «derribaram» o templo do seu corpo no Calvário.
Partiram o véu de sua carne. Deus, simultaneamente, ras­
gou o véu do Santo dos Santos cerimonial, mostrando o tem­
plo terrestre abandonado e repudiado. Sua presença e sal­
vação, em Jesus crucificado, é aberta e accessível a todos,
sem altar, sacrifícios ou sacerdotes humanos, Heb. 6:19;
9:3-15; 10:19-22. Jesus era hebreu dos hebreus, e sabia essa
linguagem muda do templo, altar e sacrifícios desde a sua
mocidade. O Calvário é, e sempre foi, a Epístola aos He­
breus dramatizada, antes de tomar forma literária, sendo
Jesus o inteligente Ator. Êle sabe que é o Templo, já no
começo de seu ministério; e, por tôda a vida, caminhou para
nosso único altar, «fora do arraial», Heb. 13:10-13. Os «três
dias» são a sexta-feira, o sábado e o domingo, da cruz, do
túmulo selado e da ressurreição. Jesus sabia dêste plano
divino tão bem nos primeiros dias do seu ministério, como
sabe agora. Êle não nos redimiu por acaso, à tôa, acidental­
mente ou como lembrança da última hora. Nasceu para
morrer. Era o Cordeiro pascoal para si e para o Batista.
Sua mente iluminada e reverente viu tudo que estava pro­
gramado na profecia; e, por esta norma revelada, sua vida,
morte e ressurreição foram sempre pautadas, Mat. 26: 24,
54; João 18:11. Em João 3:14, Jesus previu sua morte, como
a essência do evangelho. João 3:14 vem antes de João 3:15
e 16. Moisés e Elias falaram do Calvário (seu «Êxodo» do
qual o Êxodo redentivo da escravatura egípcia era apenas
tipo), confirmando em Jesus seu destino de Redentor, pela
sua transfiguração. Logo depois, êle começou a série de
revelações dos fatos aos apóstolos, Mat. 16:21, 22. Não ter
esta idéia de sua missão já era motivo de ser identificado
com o diabo, Mat. 16:23. Jesus, cada vez mais resoluta­
mente se moveu para a cruz, mentalmente, João 6:53-58;
7:33; 8:20, (já conhecia sua «hora») e vs. 21-28; 10:11, 16-
18, 36; 11:25; 12:7; Mat. 26:12, 13, e fisicamente, Mar. 11:
32-34, na jornada final para Jerusalém.

3. P A R A R E A L IZ A R E STA MORTE REDENTORA, JE­


SUS E R A SEMPRE SENHOR D A SITUAÇÃO,* A G IN ­
DO SEGUNDO O P LA N O D IVIN O E ETERNO D A R E ­
DENÇÃO ?
Sim. Êle o afirma repetidas vêzes por todo o caminho
para a Cruz. Chegando em Betânia na sexta-feira antes da
92 DOUTRINAS
sua paixão, descansou no sábado. N o domingo teve sua.
marcha triunfal de Rei em seu reino. Fêz-se Senhor da sua
Capital. N a segunda-feira, como reformador (o único R e­
formador que queremos, Heb. 9:10) êle purificou a côrte
dos gentios, mostrando-se Senhor do seu templo, expulsan­
do os vendilhões e acabando com a feira de gado. N a ter­
ça-feira, a cada passo do longo dia, era senhor da situação,
e o chicote de sua boca era mais cortante do que o chicote
de cordas nas costas do gado no dia anterior. Enfrentou
todos os elementos notáveis do judaísmo e os silencoiu pe­
las suas respostas, que ainda orientam bem a vida. Não há
libelo mais terrível do que Mat. 23, o sermão contra os in­
telectuais e aristocratas religiosos do seu povo. Fala com
suprema autoridade. Após êsse dia de vastas controvérsias,
dia que começou com a maldição da figueira estéril (Is­
rael segundo a carne), Jesus não se sentia exausto, mas deu-
se a uma noite social e festiva, na casa de Simão, ex-lepro­
so, talvez por êle curado. Não disse: «Oh! Pedro, Marta,
Maria, João, Bartolomeu! Eu vou morrer sexta-feira. Vamos
jejuar. Vamos ter pranto e maratona de oração. Vamos ob­
ter o poder assim para aquela hora, por épocas tristonhas
e longa humilhação». Não. Êle não matou ou diminuiu a
alegria da vida social. Estava banqueteando com os seus,
cada noite, mesmo na última noite, até quase na hora em
que foi preso, estabelecendo uma nova ceia, na qual disse:
«N ão se turbe o vosso coração». Era Senhor do futuro: «F a ­
zei isto em memória de M im ». Quarta-feira, parece êle ter
passado com seus amigos, em descanso. Quinta-feira é o
dia da Páscoa, a festa da pátria, o 7 de setembro de seu
povo, dia de lavar os pés dos discípulos, da ceia e do dis­
curso de João 14. Sexta-feira começou, talvez, com a saída
dos Doze, Jesus e os Onze, do Cenáculo, à meia noite. O
Salvador principiou o Dia do Calvário com as gloriosas pa­
lavras de João 15, 16, e 17. Convido cada um a ler João
14-17, como revelação do espírito de Jesus. Parando ao
fim de cada pensamento expressado, dize a ti mesmo: «Quem
falou isso havia de morrer em menos de 24 horas — e mor­
te de cruz». Todavia, fala em conforto e paz, e de «fazerem
os discípulos maiores coisas que êle». Morre, mas não os
deixa órfãos. Vai e volta. E ’ senhor da situação a cada
passo.
Longe de sentir-se mártir, fracassado, impotente ou de­
siludido, Jesus se declara o Precursor na Casa do Pai, João
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 93
14:3; Heb. 6:30, Caminho, Verdade e Vida, a Videira de que
eles eram varas, Seriam futuras testemunhas dêle, João
14-16, pois êle sabe que é o Senhor do porvir. Êle enviará
a Terceira Pessoa da Divindade do céu, para seu advento, no
Dia de Pentecostes, João 15:26, 27. Com os apóstolos, e em
oração ao Pai, todo o panorama dos séculos, e dos futuros
crentes, na terra e no céu,e a glória original que gozara
com o Pai, estão diante dos seus olhos. Mas chegou o dia
do Calvário; é sua suprema G LO RIA — João 12:27-28;
17:1, 2.
Quando começou sua agonia, em Getsêmane, êle é se­
nhor da situação a cada passo e em todas as circunstâncias.
E ’ o guarda enquanto os apóstolos dormem e descansam,
Mat. 26:45, 46. Êle enfrenta a Judas sem irritação e «não
lança em rosto» a sua perfídia, Mat. 26:50; Luc. 22:48. O
General Judas na hora do seu triunfo, tem a coorte romana
(1000 solados, imperiais) seu Coronel («tribuno»), a ofi­
cialidade do templo e Sinédrio, e a multidão do povo, arma­
da. Mas temem a Jesus. Sabem do seu poder miraculoso.
Jesus tem poder de encorajá-los a prendê-lo, e duas vêzes,
João 18:5-8. Animou-os a virem e o tomarem preso, manie-
tando-o, mas afastou-os de prender seus discípulos, João
18:8. E ’ Senhor de soldados e turba. E ’, neste momento, côns-
cio de ser o Senhor de 72.000 anjos de poder celestial. Mat.
26:53. E esta certeza de absoluto poder é calmamente afir­
mada perante o Sinédrio, Mat. 26:64; perante Pilatos,
João 19:10, 11; e perante a multidão que simpatiza com êle
na Via Dolorosa e no Gólgota, Luc. 23:27, 31, 35, 48, 49. As
sete palavras da cruz o mostram em perfeito domínio de si,
das circunstâncias, do plano de salvação, do paraíso de
Deus e da eternidade. Roga a favor dos soldados o perdão,
Luc. 23:34. Salvou um criminoso, aliás «mesmo na cruz
Jesus salvou uma alma, sim, na cruz êle salvou todos os
salvos,» diz A . T . Robertson. Era o Senhor de sua mãe e
do discípulo amado, unindo as suas vidas como mãe e filho.
Na cruz, separado de Deus, arcou com o pêso do pecado do
mundo, e fêz expiação. Manifestou sua humanidade na sêde
da sua agonia. Manifestou sua divindade na redenção «con­
sumada». Mostrou sua filiação e certeza. «N as tuas mãos
entrego meu espírito». O sacrifício que nos resgatou ia
tornar-se o Sacerdote do crente. Heb. 10:12-14, 19-22.
Os silêncios de Jesus são notáveis também. Nos seis prc-
cessos, três perante os judeus e três perante as autordiades
94 DOUTRINAS
civis (Pilatos, Herodes e outra vez P ilatos), êle se calou
«com o ovelha perante seus tosquiadores». Mas ajudou ao
próprio Sinédrio a condená-lo pela blasfêmia, fazendo-se
Deus e Messias, como ajudara aos soldados a prendê-lo,
M ar. 14:56, 59, 60-64. Sempre está presente, na sua vonta­
de, sua missão de Salvador. Êle conservou a Pedro através
da sua queda e conversão, Luc. 22:31-34, operou essa con­
versão com um olhar, vs. 61 e 62.

4. NO D IA DO C A L V Á R IO E S T A ID É IA DE S A L V A Ç Á O
P E L A CRUZ SO’ E S T A V A N O P E N S A M E N T O DE
JESUS E N Á O N A M E N T E D E O U TR O S?

N ão. Antes empolgou a todos. Aparece, como o côro


entre as estrofes de um hino, o clamor de grupo após gru­
po: «S A L V O U A O U T R O S ». Todos estão pensando em sal­
vação: Todos testificam que Jesus já fôra o A u tor da sal­
vação. «Os príncipes zombavam: aos outros salvou, salve-
se a si mesmo, se êste é o Cristo, o escolhido -de Deus».
«Tam bém os soldados escarneciam. . . : Se tu és o Rei dos
Judeus, salva-te a ti mesmo». Os m alfeitores blasfemavam:
«S e tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós». E um de­
les se arrependeu, creu e foi salvo, deveras. A multidão hos­
til passeava, para cá e para lá, gritando: «A h ! tu que der-
ribas o templo e em três dias o edificas, salva-te a ti mesmo»,
Luc. 23:35, 37, 39; Mar. 15:29, 30, 31. A inteira assistência, uma
vez passado o processo político perante as autoridades civis,
não liga a mínima importância à idéia de ser Jesus rival a
César, ou agitador, ou revolucionário. Todos estão pensan­
do em salvação, em um de quem testificam unânimes que é
salvador. «S A L V O U ». A cruz era um desafio à veracidade
de Jesus. Todos têm isso em mente. Ninguém o olvidou. E
três vêzes, naquêle dia mesmo, êle «salvou »: provavelmente
a Simão, o Cireneu, que lhe levou a cruz, ao m alfeitor con­
vertido, e ao centurião que presidiu a cena e que «D E U
G L Ó R IA A D E U S » e testemunho de que Jesus era «ju sto»
e o «F ilh o de Deus». E ra fé, Luc. 23:47. E 3000 daqueles
inimigos, ou observadores da cruz, foram convertidos num
só dia, pelo sermão de Pedro no dia de Pentecostes. BaIva-
ção foi o pensamento que a todos empolgou durante a cru-
cifixão. E Deus o confirmou com os prodígios do dia, Luc.
23:44, 45, 48, e em seguida, Heb. 2:4.
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 95
5. OS PRÓPRIOS EVANG ELH O S ASSIM S A L IE N T A M
A M ORTE DE JESUS?

De modo notável. São apenas 4 dos 27 livros do Novo


Testamento, mas, em ordem, são números 1, 2, 3, e 4; e no
espaço ocupado, constituem quase a metade da Escritura
apostólica. E a semana da crucifixão e da ressurreição é
o tema de 10 das 24 páginas de Marcos, de 10 das 40 de Lu­
cas, de 13 das 37 de Mateus e de 12 das 30 de João. Dois
dos quatro nem mencionam seus 30 anos de vida antes do
ministério público. Êste é o assunto de metade de cada um
dos evangelhos, pois revela a interpretação que Jesus mes­
mo deu à sua pessoa e à sua morte e à salvação. E a me­
tade dedicada à morte nos revela que a morte é o propósito
da encarnação, esclarecendo pelos fatos a majestade da pes­
soa e o valor e mérito da m orte. Ora, as Epístolas e o Apo­
calipse dão igual proeminência à morte de Cristo, na dou­
trina, que os Evangelhos dão na história.

6. A MORTE DO SENHOR E ’ D O U T R IN A À P A R T E D A
SU A RESSURREIÇÃO ?
Não. São de uma só peça, constituindo a única reden­
ção. O grego original de Rom. 4:25 diz: «Êle foi entregue
por causa de nossos pecados e foi levantado do túmulo por
causá de nossa justificação». Ambos os verbos estão na voz
passiva, falando da agência divina; e duas vêzes a mesma
preposição aparece com êsses verbos passivos — «por cau­
sa de». Êle cumpriu na morte o evangelho de Is. 53. Deus
judicialmente aceitou a morte do Filho como a solução do
problema de nosso pecado, e outorgou a plena e eterna jus­
tificação do crente. A ressureição consumou a oferta de Je­
sus de si mesmo em nosso lugar, e demonstrou que Deus
aceitou esta oferta, sacrifício, oblação e preço de resgate
e redenção, como valendo tudo quanto fosse necessário para
nossa salvação instantânea e eterna. Esta decisão do Juiz
divino fêz com que Deus pudesse ser «justo e justificador da­
quele que tem fé em Jesus». Rom. 3:26. A decisão divina
de justificar pelo sangue de Jesus foi a causa do ato divino
de levantar o Salvador do túmulo. A decisão do justo Juiz,
englobada na morte e na ressurreição, passa a registar-se
em nosso favor quando cada um crê no Salvador, e assim
96 DOUTRINAS
começa a vida eterna. Êste aspecto da morte do Senhor é
chamado «forense,» às vezes com grande desdém dos escar-
necedores do evangelho da graça, por tratar-se da decisão
judicial de Deus no foro de sua justiça. Mas Deus é Juiz não
só na condenação, mas na salvação, pois a justificação pela
fé é o âmago do evangelho, Rom. 1:17. E justificar significa
declarar justo, judicialmente, livre de condenação, R dm .
8:1. Não significa fazer justo, que é o êrro supremo do ro-
manismo.
Tais escarnecedores dizem que Deus sempre amou o
mundo e nada foi necessário para fazê-lo amar ao pecador.
Não há dúvida, e disso nenhum crente da Bíblia jamais dis­
cordou. O Calvário todo é a exposição cósmica do amor de
Deus; e Jesus, como Cordeiro de Deus, foi morto antes da
fundação do mundo, em seu valor perante Deus e no efei­
to de sua morte. Frotelou-se assim a solução garantida do
problema do pecado e da justificação, Rom. 3:25, (Vers.
B ras., e tc . ) . O amor de Deus fêz no Calvário o essencial
para que Deus pudesse fazer o que seu amor ditava no co­
ração divino — «ser justo e justificar». Se o Calvário não
foi uma necessidade divina, foi crueldade divina. E Paulo
assim declarou a Pedro, em Gál. 2:21 — «Cristo morreu fü-
tilmente», se, de fato, qualquer alternativa fosse possível.
A ira de Deus, da qual Cristo nos salva, I Tess. 1:10, não
é incompatível com seu amor, pois é o amor ultrajado que
ainda busca salvar o ingrato.
Outras doutrinas forenses do evangelho são a adoção,
a justificação, a propiciação, e uma fase da doutrina da
santificação, tudo na redenção que fo i feita «de uma vez» e
para sempre.

7. Q U AIS A S A L T E R N A T IV A S PR O PO STA S?
São várias, e de duas classes. 1) Uma classe de alterna­
tivas toma outros aspectos do Calvário, genuínos, porém se­
cundários, ou pedagógicos, ou incidentais, e os expande de
modo a eclipsar a verdade evangélica do sangue remidor.
Dizem que Jesus é o nosso Exemplo. E ’ verdade, exposta
vivamente pelo apóstolo Pedro, I Ped. 3:18; 2:21-24. Mas
fazer uma coisa «fú til», supérflua ou desnecessária, não é
exemplo bom. Se Jesus morreu na linha do dever, foi exem­
plo a imitar. A linha do dever dêle era no terreno do Sacri­
fício e Sacerdócio. Nossa linha de dever é de fé e interces-
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 91
são. Podemos imitar-lhe a fidelidade, a paciência e a per­
severança. Mas isto não fa z de nenhum de nós Messias ou
M ediador. A morte da cruz é apresentada como anulando
a Lei e suas cerimônias, Col. 2:14; como derrubando o
muro de separação entre judeu e gentio, E f. 2:14, 15; como
nos lavando no sangue do Cordeiro; como purificando a
Ig re ja Geral, E f. 5:26, e resgatando uma igreja local, A t.
20:28; como 'dando o simbolismo da ceia do Senhor e do ba­
tismo, I Cor. 11:26 e Rom. 6:3; como tema dos coros ce­
lestiais do Apocalipse; como inspirando a mentalidade altru-
ística e humilde. F il. 2:5; como despertando a gratidão, a
devoção e muitas outras atitudes nobres. Mas tudo isso
nasce do sentido supremo e fundamental do Calvário. Não
eram sua razão de ser, nem existem em independência da
redenção ob jetiva.
2) Outras alternativas são falsas idéias de Jesus e de
sua significação para o universo. Os cinemas ganham di­
nheiro anualmente com seu film e «O M ártir do G ólgota».
O próprio título é falso e nocivo. Jesus não foi m ártir. Não
fo i revolucionário derrotado. Nunca incentivou o povo a
desordens, revoltas, ou violências. Nunca esteve tão seguro,
certo, calmo e vencedor como o fo i na semana de sua «g ló ­
ria » na cruz.
Se alguém ambiciona mera religião de mártir, esqueça-
se de Jesus e tome F rei Caneca ou Tiradentes como seu
ideal. São mártires nacionais, e mártires de democracia.
H á duas vastas diferenças entre o Filho de Deus e os m ár­
tires — Sócrates, Savanarola, Huss, Hubmaier, Lincoln,
Gandhi, etc. A primeira diferença é na pessoa. Todos ês-
ses eram apenas homens, pecadores, sem excepção. Nenhum
morreu na capacidade em que Jesus morreu por nós; e, por
causa desta diferença abismai, nenhum ressuscitou. A outra
diferença é que êles eram carregados de seus próprios peca­
dos e não morreram para expiar o pecado do mundo. Não
eram sêres divinos ou cósmicos, e não foram feitos pecado
por nós, para que nós fôssemos feitos a justiça de Deus ne­
les. Jesus nada teve de mártir, na sua morte. E nenhum
m ártir participou da missão de Jesus Cristo.
Schweitzer e outros representam Jesus como apocolip-
tista desiludido, que se resignou à cruz quando não viu ou­
tra possibilidade. E* mania raeionalista e fantástica, que
só se consegue defender e propagar após, primeiramente,
mutilar os Evangelhos, removendo sua substância, que con-

D — 7
% DOUTRINAS
tradiz tão nefanda incredulidade a cada passo. Nenhuma
outra concepção de Jesus vinga senão a de Deus, o Verbo,
e do homem perfeito, Mediador entre Deus e os homens, em
relação eficaz com o problema do pecado no universo.

8. SE JESUS T IN H A C E R T E Z A D E S U A R E S S U R R E I­
ÇÃO E V IT Ó R IA , E D A E F IC Á C IA R E D E N T O R A D A
S U A M ORTE, PO R QUE CHOROU E A N G U S TIO U -S E
EM G E TS Ê M A N E E C LA M O U N A CRUZ SEU «B R A ­
DO D E D E R E L IT O »? «P O R QUE T A IS A T IT U D E S
H IS T R IÔ N IC A S ? »

(Pergunta textual que re c e b i). Minha resposta foi:


«Ê le chorou porque doeu-lhe sua paixão redentora». Era
mais que seu organismo físico poderia suportar, sem o au­
xílio angélico, Luc. 22:43. Sua agonia super-humana lite­
ralmente rompeu-lhe o coração físico, segundo o diagnósti­
co de eminentes médicos que estudaram os fenômenos. O
corpo não serviu mais para registrar e expressar o sofrimen­
to do espírito. Jesus comparou sua morte às «dôres de par­
to», João 16:21, com que trazia «muitos filhos para a glória»,
Heb. 2:10, «com grande clamor e lágrim as», Heb. 5:7. « A
mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza». Por
que? N ão sabe que isso passa, e que terá logo em seus bra­
ços o filho amado? Sim, mas chora porque a experiência lhe
dói. T er filhos não é vida de atriz de palco. Ora, as dores
de Jesus eram humanas e super-humanas, dores da mente e
da alma. Ser feito pecado lhe causou muito mais horror do
que teria causado à sua santa mãe entrar na vida de bordel
ou manicômio. «Hom em de dores» alheias, «levando os nos­
sos pecados em seu corpo no madeiro», o horror da expia-
ção ecoou em todos os confins de seu infinito espírito. Ainda
ecoa no Espírito intercessor com «gemidos indizíveis», Rom.
8:26. São mentes frívolas e superficiais as que não pene­
tram além da tona materialista dos fatos. São as únicas ca­
pazes de escarnecer dos sofrimentos daquêle que nos amou
e entregou-se a si mesmo por nossos pecados. Contemple­
mos mais o Calvário, em suas divinas realidades, e enten­
deremos melhor a hediondez de nossos pecados, e o que cus­
tou a Jesus o nosso resgate.

9. PODE DEUS M O R R E R ?
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 99
Certamente que sim. «O Verbo era Deus». E não po­
dia ser Deus intermitente. Se era Deus em qualquer momen­
to, era sempre o eterno Deus. Não há Deus provisório, pas­
sageiro, por um prazo. Se Deus pode nascer, na encarnação,
pode morrer no Calvário. M orrer não é nem cessação de
existência, nem aniquilamento do ser, nem mudança de per­
sonalidade. E ’ passar de uma fase de existência para outra,
pela porta da morte. Deus o Filho passou da cruz para o
paraíso de Deus, onde aguardou no céu seu companheiro no
Calvário, de poucas horas de fé, Luc. 23:43; Heb. 4:14;
9:24. Feito o sacrifício, o sumo sacerdote entrou no Santo
dos Santos com o sangue, para fazer expiação pelos peca­
dos do povo. Jesus, pois, entrou no céu, no momento da
morte, e apresentou a Deus seu sacrifício vicário, expiató­
rio, de uma vez; e sempre intercede por nós, como sacer­
dote, Rom. 8:34, rogando em nosso favor o valor e benefí­
cio de sua morte. Em tôda a plenitude de sua pessoa divi-
no-humana o Salvador morreu em nosso lugar.

10. H A ’ V A L O R E S P IR IT U A L OU M E R ITÓ R IO N A P A N ­
T O M IN A D A «S E M A N A S A N T A » E DO «S E N H O R
M O R TO » E DE TODO O E X AG E R O E E X P L O R A ­
ÇÃO DOS ASPE C TO S S E N T IM E N T A IS , FÍSIC O S E
M A T E R IA IS DOS S O FR IM E N TO S DE JESUS?

Valor espiritual não há. Existe abundância de êrro fa ­


tal, cerimonialismo, sacramentalismo, sacerdotalismo, ritual
inventado pelos homens, e corrupção espiritual e doutrinária
do cristianismo revelado. Vejamos:
1) Tôdas as semanas da vida são santas. Pertencem a
Deus. Se alguém deve cinquenta e dois mil cruzeiros e dá
para pagar m il cruzeiros, fica liquidada a dívida? E como
piora a situação se a cédula, mesmo de mil cruzeiros, é falsa!
2) Não há «Senhor M orto» desde que Jesus saiu do tú­
mulo. Chamar os milhões de cristãos nominais para essa
fábula é voltar para as trevas exteriores.
3) A Quaresma é um jejum fictício e de ostentação,
«jejum gordo» de mundanismo, e turismo, e ociosidade em
feriados artificiais que paralizam a vida coletiva sem razão.
Jesus proibiu jejum anunciado. Se alguém sente o impul­
so de jejuar, faça-o secretamente. Tôda quaresma é uma re­
belião contra a autoridade de Jesus, no Sermão do Monte,
100 DOUTRINAS
como o são igualmente rezar e ostentar esmolas para ga ­
nhar aplauso e mérito, M at. 6:3, 7, 17, 18.
4) Todo o sistema de dias e meses e períodos «santos»
é proibido no cristianismo. O Novo Testamento não só ig ­
nora o N atal como festa eclesiástica, a quaresma, a «^em a­
na Santa», o mês de Maria, de «São João», de Santana, etc.
e os «Anos Santos» comercializados pelos papas, como con­
dena tudo isso. «Como tornais outra vez a esses rudimen­
tos fracos, e pobres, aos quais de novo quereis servir?
Guardais dias, e meses, e tempos e anos. Receio de vós, que
não haja trabalhado em vão para convosco», Gál. 4:9-11.
De novo o apóstolo chama «rudimentos do mundo» as re­
gras sobre o comer e o beber «ou por causa dos dias de fes­
tas», Col. 2:16,20. Quase todos os «dias de festa» do roma-
nismo são pagãos em origem e espírito. O crente tem um
dia santo, «o dia do Senhor», mas P R IN C IP IA , com Deus,
tôdas as semanas, pois todas as semanas são santas. Quem
paga a Deus uma semana santa no ano, e isso em moeda
falsa, quando deve 52 semanas santas ao Senhor Vivo, traz
à memória a velha pergunta de Malaquias: «Acaso rouba­
rá o homem a Deus» ?
5) A exaltação do tristonho, do bizarro, do superficial,
das imagens horrorosas, da música estridente de «Stabat
M ater», da arte e escultura escravizadas ao serviço da su­
perstição, das chagas, e das noites em claro, seguidas por
bailes de «A lelu ia » e pela volta ao mundo, à carne e ao car­
naval, ano após ano, é a bancarrota da fé e religião. N a
própria semana da crucifixão, Jesus não fê z nada disso, nem
jamais deu licença a quem quer que seja para incorporar
todos êsses elementos estranhos no cristianismo bíblico, que
os não tem e não os admite.
6) A mensagem da cruz é o único evangelho. Não é
meramente a moda por uma semana. E ’ mensagem de gló ­
ria e alegria, não de exploração eclesiástica das chagas. A s
sete palavras da cruz são matéria para sermões e medita­
ção constante. «L on ge de mim o gloriar-me a não ser na
cruz de nosso Senhor Jesus Cristo» — tôdas as semanas e
o ano inteiro.

11. A B ÍB L IA S A L IE N T A O SO FR IM E N TO FÍS IC O DE
JESUS ?
Nunca, em nenhuma página. A maravilha dos Evangè-
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 101
lhos é sua objetividade, sem par em tôda a literatura. Não
taxam Judas de traiçoeiro, Pilatos de covarde, Anás de po­
litiqueiro eclesiástico, Caifás de sanguinário, Herodes de as­
sassino do Batista ou os soldados romanos de brutais e
cruéis. Quase não usam adjetivos. Igualmente não salien­
tam as chagas como objetos de especial adoração ou votos.
O corpo de Jesus era parte de sua personalidade, com
a mente, a alma — o espírito humano, em fim, e sua natu­
reza divina. Teve seu lugar na morte redentora — lugar
proporcional ao lugar que ocupava na sua pessoa e vida.
E ’ importante, mas não para eclipsar o resto de sua pessoa
e natureza. «Levando êle mesmo em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro... e pelas suas feridas fostes sa­
rados», I Ped. 2:24. Notai o contraste: «êle mesmo», a pes­
soa total, «em seu corpo», naturalmente a parte de sua pes­
soa que seria a esfera da morte, a qual era, por sua vez, o
oferecimento de si mesmo a Deus, como oblação e sacrifí­
cio por nossos pecados, com todo o infinito valor de sua
pessoa.
O sofrimento físico de Jesus era pouco, em tôda a sua
vida. Morreu aos 33 anos, em pleno vigor de uma encar­
nação perfeita. Não consta nem dor nem doença em sua
vida, depois da infância. As dôres e doenças que êle sentiu
eram alheias, «as nossas dores e enfermidades,», Is. 53:4.
Também nunca recebeu, que eu saiba, golpe de dedo huma­
no contra si, até a manhã do dia do Calvário. Banquetea-
ra com os seus até meia noite. O Getsêmane não durou se­
não pouco tempo. Era sofrimento intenso mas breve. Não
o reduziu à magreza e miséria das pinturas medievais. A
coroa de espinhos, os açoites e flagelos, os cravos nas mãos
e pés, a febre, a sêde, o sofrimento moral, a vergonha que
êle «desprezou», Heb. 12:2, fazem uma agonia tremenda,
mas terminou no mesmo dia em que começou. Há homens
no campo de batalha e nos hospitais, e nos casos de cânccr,
artrite e outras moléstias, que sofreram, e sofrem, num só
dia, muito mais, fisicamente, do que Jesus sofreu no dia do
Calvário. E pensai nas deshumanas torturas usadas na «li­
quidação» de muitos em terras totalitárias. O Novo Testa­
mento não exagera êsses sofrimentos, nem lhes dá a supre­
ma virtude na morte que nos redime.
E não são apenas as seitas católicas que dão ao sofri­
mento corpóreo de Jesus valor desproporcional. Protestan­
tes que lhes acompanham na «Semana Santa» e nas suas su-
102 DOUTRINAS
perstições, e que pregam como o clero, são réus da mesma
falsificação do cristianismo e exploração do sentimentalis-
mo fácil do povo. Fui ouvir famoso pregador metodista na
minha terra, em 1945. Êle pregou sobre a cruz. De tal ma­
neira pintou seus horrores físicos, que um soldado forte fu­
giu da reunião. Em frente de mim estavam sentadas umas
senhoras. A mão de uma dessas ouvintes segurava o en­
costo do banco e me parecia que suas unhas pintadas iam
cravar-se na madeira do banco. Temia eu que ela tivesse
um ataque ali. Acho detestável semelhante pregação. Nada
tem dessa objetividade dos Evangelhos em sua história, dou­
trina e interpretação da morte do Salvador. «Cristo mor­
reu SEGUNDO A S E S C R IT U R A S » — eis o evangelho ge­
nuíno, não segundo o exagêro e exploração de elementos da
história que as Escrituras não salientam fora da sua pro­
porção veraz na narrativa. E' materialista, supersticiosa e
anti-bíblica toda a exaltação de Jesus Cristo como mártir,
por uns poucos dias e então o abandono e esquecimento dêle,
o resto do ano eclesiástico, até passar outro Carnaval.

12. NAO S E R IA E S T A D O U T R IN A DO C A LV Á R IO U M A
EVOLUÇÃO PO STERIO R F A B R IC A D A PELO S
APÓSTOLOS DEPOIS D A RESSU RREIÇÃO A F IM DE
R A C IO N A L IZ A R A M ORTE DE SEU M E STR E ?
O racionalista, e o ateista diriam que sim. Mas o crente
vê que a racionalização, no caso, parte dos tais. Fogem dos
fatos da história, narrada com tão sublime objetividade pe­
las testemunhas oculares. Inventam a teoria para evitar
crer os fatos. Longe de tal teoria ser veraz, esta doutrina
da cruz, no progresso da revelação, evoluiu séculos antes de
Cristo na profecia, nos tipos bíblicos, no sistema sacrificlal
de Israel e na «plenitude dos tempos» em que veio o Filho
do Homem.
Isaías profetizou do Calvário. O jovem Salomão Gins-
burg*, em seu lar de judeu ortodoxo, perguntou; «D e quem
fala o profeta quando diz: Êle foi ferido pelas nossas trans­
gressões e moído pelas nossas iniquidades» ? A única respos­
ta que êle recebeu foi pesado sôco no rosto e silêncio abso­
luto. Pois, para judeu e modernista, dói admitir a única res­
posta possível a essa pergunta, que é uma só palavra; Je­
sus. Êles dizem que, na profecia de Isaías, o Servo Sofredor
é Israel. Mas Isaías não diz isso. Para o profeta «olhando
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 103
nós para êle, nenhuma beleza víamos para que o desejásse­
mos». Eis Israel. «Como um de quem os homens escondiam
o rosto, era desprezado, e não fizemos dêle caso algum».
Eis Israel! «N ós o reputámos por aflito, ferido de Deus e
oprimido». Eis Israel nacional. Israel não morreu. Está lá
na Palestina hoje, e nas eleições de Nova Iorque. «E ngor­
dou e deu coice». Mas êste Servo Sofredor «fo i cortado da
terra dos viventes... derramou a sua alma na m orte. . . e
puseram a sua sepultura com os ímpios e com o rico na sua
m orte». E ’ Jesus, não Israel. Jesus sim, «nunca fêz injus­
tiça, nem houve engano na sua bôca». Isso não descreve a
Israel. Só Jesus é êsse Servo Sofredor. Pois é morto e se­
pultado mas ainda aparece na vida humana, operoso. «Com
seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a mui­
tos, porque as iniquidades dêles levará sôbre si». (João 17:3),
São as feições de Jesus; fases de sua história na encarnação
e depois. E o Morto se torna Sacerdote. Porque depois da
encarnação, a vida imaculada, a morte no Calvário, a se­
pultura com o rico e a ressurreição dentre os mortos e o va­
lor jurídico dessa morte para a decisão forense de Deus em
justificar, eis que o Servo Sacrificado em morte expiatória
ainda funciona como Sacerdote: «pelos transgressores in­
tercede» .
Isaías sabe o segrêdo do poder e da eficácia da morte
que tudo vale. Não foi acidental, imprevista, ou casual.
«Todavia ao Senhor agradou moê-lo. . . quando sua alma se
puser por expiação do pecado. . . » Eis, ó adepto da panto­
mina da «Semana Santa», o segrêdo do Calvário. Não é,
principalmente, o sofrimento do corpo partido por espi­
nhos, açoites, cravos, e espada romana. Sua A L M A é que
sofre, para a expiação do pecado alheio. Sua alma divina-
humana, seu espírito de Verbo-homem, sua pessoa, que a
uma vez é pessoa da Santíssima Trindade e humilde filho
de Maria nazarena, sua alma divina, majestosa, celestial,
e eterna se pôs por expiação do pecado. O infinito valor da
pessoa do Servo Salvador faz com que a oferta de si mes­
mo em nosso lugar, como nosso Sacrifício e Substituto, va­
lesse tudo quanto fôsse necessário para fazer a redenção
de dez mil raças decaídas como nós. Lêde a intercessão co­
letiva da primeira igreja no mundo, em A t. 4:24-31, em ora­
ção inspirada, e vereis a inspiração de Is. 53 calar perfeita-
mente na interpretação apostólica inspirada da morte do
Messias de nossa raça. A evolução revelada desta verdade
104 DOUTRINAS
era de uma velhice multi-secular quando Isaías escreveu de
Jesus. João Batista, voltando à Páscoa, diz: «E is o Cordei­
ro de Deus que tira o pecado do mundo». E o dr. A . T .
Robertson diz que o Precursor declarou isso de Jesus, à
luz de Is. 53. Paulo é o elo nessa corrente de evangelho re­
velado através dos séculos; «Cristo, nossa páscoa, foi sacri­
ficado por nós», I Cor. 5:7. A palavra «Páscoa» significa:
1) O dia de sacrificar o cordeiro pascoal, 2) a semana intei­
ra de festa e 3) o próprio cordeiro sacrificado. Evidente­
mente é isto aqui — Cristo, nosso Cordeiro de Deus, nosso
sacrifício na cruz. Não há «Páscoa», no sentido de festa ou
de «semana santa», no cristianismo. E ’ festa do judaísmo,
morta na cruz, Col. 2:14. Caducou a festa, no Calvário, e
ficou eternamente precioso, para nós, o Cordeiro, nossa pás­
coa única.
E sem jamais evoluir além do Calvário, eis que todo o
entusiasmo celestial, na Visão de Patmos, é ainda por êste
Cordeiro e seu sangue. Ninguém no céu canta de outro re­
médio do pecado, de outro segredo da salvação de todos os
remidos, mas somente do sangue do Cordeiro. De igreja,
clero, sacramentos, caridade, boas obras, do tesouro de mé­
rito dos santos, da mediação da «Rainha do Céu» ou de pe­
cados purgados nos fogos do Purgatório, ninguém canta no
céu, como tendo parte na salvação. «Milhões de milhões e
milhares de milhares» de sêres celestiais cantam: «Digno é
o Cordeiro» de tôda a nossa mordomia. E os redimidos lhe
entoam louvores, mesmo «o Cântico de Moisés e do Cordei­
ro», pois Moisés primeiramente fêz do sangue do Cordeiro
pascoal o tipo do Calvário, por que todo o céu rompe em ale­
luias. Os glorificados foram comprados para Deus por êste
preço, Apoc. 5:9, e os vivos na terra «venceram pelo sangue
do Cordeiro», Apoc. 11:12. Êste Cordeiro enche todo o hori­
zonte do reino de Deus no universo, de Moisés a João, do
Sinai a Patmos, de um «êxodo» ao outro. «O Cordeiro foi
morto desde a fundação do mundo», Apoc. 13:8. Logo não
há evolução na doutrina desta verdade, a não ser no sentido
de sua progressiva revelação através do Velho Testamento.

13. QUE G R AN D E SERMÃO JESUS PREGOU SÔBRE O


C A L V Á R IO ?
O sermão de João 6. Mostra como vivemos de sua mor­
te e nos nutrimos do Calvário. Comer e beber sua carne e
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 105
sangue não é «a missa». Se há alguma coisa na Bíblia que
corresponda à missa, é a ceia do Senhor; e esta nem existia,
nem fôra profetizada nem podia ser compreendida como o
sentido dêste sermão. O sermão volta para o simbolismo
cerimonial e os tipos do Velho Testamento, a Páscoa, o Maná,
e o beber miraculoso da água da «Rocha que os seguia, a
qual Rocha era Cristo», I Cor. 10:4. Deve ser pregado
hoje. Deve-se pregar êste sermão de Jesus ao menos tan­
tas vêzes quantas se prega sôbre o Sermão do Monte, pois
João 6 é puro evangelho e bem claro. Vivemos do Cristo
morto. Desta morte, assimilada pela fé, nutrimos a vida
cristã sempre. E ’ sermão vital em nosso meio ambiente.

14. QUAIS OS DOIS EFEITOS M ARAVILHOSOS, CO­


M ENTADOS PO R BENJAM IM W A R FIE LD , D A MOR­
TE DE JESUS, CONSUM ADA N A SUA RESSU RREI­
ÇÃO?
Primeiro, um grupo de judeus, todos rigorosos mono-
teístas, deram-se com crescente entusiasmo à adoração de
um outro Judeu, seu Amigo, que assumiu em seus pensa­
mentos todo o valor de Deus. E, em segundo lugar, dentro
de poucas gerações, o costume humano multi-secular de fa ­
zer sacrifícios de animais em altares, simplesmente desapa­
receu da terra. Não teve mais utilidade nos cultos humanos
Deveras, maravilhosos fatos. Cristo vencei

15. A MORTE DE JESUS DESFEZ A QUEDA DO HO­


MEM, RESTAURANDO-O AO ESTADO QUE OCU­
P A V A ANTES?
De forma nenhuma. 1) A salvação não cria no homem
outro estado de inocência. «Se vós sendo máus» — eis como
Jesus classificou os próprios apóstolos, Luc. 11:13. Deus
«justifica o ímpio», Rom. 4:5. Não há inocência em ne­
nhum de nós. 2) Adão e Eva estavam debaixo da lei, e caí­
ram por uma só ofensa. Nós não estamos debaixo da lei, e
nenhuma ofensa nos é imputada, Rom. 6:14; 4:5-8. Isto não
é difícil de entender. E ’ difícil de crer, se temos nossas ca­
beças cheias do romanismo, de salvação pelas obras, idéia
que enche nosso meio ambiente. Nunca é imputada ao cren­
te uma ofensa. Fica por conta de Cristo, paga já com o pre­
ço do Calvário. Não estamos dependendo de nossa fidelida­
106 DOUTRINAS
de para nos salvar ou conservar-nos salvos. Tudo é de gra­
ça, do princípio ao fim . 3) Assim tem razão quem disse:
«N ós ganhamos em Cristo muito mais do que perdemos em
A dão». O regime é outro, ínteiramente diferente. Vêde Rom.
5 e seus quatro «muito mais», sôbre os quais Moody tanto
pregava. Nossa salvação toda é «o dom pela g r a ç a »...
«dum só homem, Jesus Cristo», v. 15,... «por um só ato de
justiça» (o C a lv á rio )... «pela obediência de um», v . 18.

16. Q U A L A R E LA Ç Á O DO C A L V Á R IO COM O M A ­
LIG N O ?
A guerra perene entre o Príncipe dêste mundo e o nos­
so Príncipe da paz chegou à sua batalha decisiva no Calvá­
rio. Suponhamos que Satanás, que nunca deixou de tentar
a Jesus na sua humanidade, conseguisse que nosso Senhor
pecasse em Getsêmane, nos seus seis processos, no caminho
para a cruz ou na crucifixão. Se dissesse uma só palavra
errada, se reagisse em uma só maneira excessiva, se tives­
se um só pensamento menos digno, já teria de fazer expia-
ção de suas próprias imperfeições. Não seria nosso Salva­
dor. No Gólgota, o diabo assaltou, com tôdas as suas fo r­
ças infernais, a personalidade total de Jesus. A s três horas
das trevas, diz Carroll, eram trevas diabólicas. Isto a Es­
critura não afirma, mas afirma outros fatos. «O príncipe
dêste mundo se aproxima, e nada tem em mim», João 14:30.
«Esta é a vossa hora e o poder das trevas», Luc. 22:53. O
diabo é o supremo mestre do medo. Jesus lhe tirou esse im ­
pério, Heb. 2:14, 15. O Calvário foi o julgamento do rival
de Jesus, João 16:7, 8, 11. De fato, Rom. 8:3 deve dizer o
que significa o grego: «julgou o pecado, na carne», pois na
carne do Salvador, Deus julgou o pecado do mundo. Os sé­
culos A . C . aguardaram este julgamento, R om . 3:25.

17. QUE P A R T E D A D O U T R IN A DO E S P IR IT O S A N ­
TO F O I E S P E C IA L M E N T E R E V E L A D A PO R JESUS
EM R E LA Ç Á O AO C A L V Á R IO ?
E ’ que a missão do Espírito seria especialmente para
«convencer o mundo» de três coisas: 1) O pecado de não
ser crente. O incrédulo rejeita o Médico, e repudia o seu re­
médio. E' o supremo pecado e fatal, João 16:8, 9. 2) O espí­
rito convence de justiça porque Jesus foi para o Pai, v. 10.
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 107
Sua presença com o Pai faz que êle possa rogar em nosso
benefício todo o valor de sua morte. 3) Convence do juízo
porque Satanás foi julgado e sentenciado, no Calvário. E ’
réu que aguarda a execução da sentença. Devemos coope­
rar com o Espírito, pelo nosso testemunho desta tríplice ver­
dade do Calvário. Êle «depende de nós para encher o mundo
dêste tríplice testemunho.

18. COMO PODIA DEUS CONDENAR A TODOS OS HO­


MENS QUE ERAM FATORES N A MORTE DE SEU
FILHO, E JULGAR O PECADO E O PR ÍN C IPE
DÊSTE MUNDO, NO CALVÁRIO, E AO MBSMO TEM ­
PO FAZE R D A MESMA MORTE O MEIO D A SAL-
VAÇÁO ?
E ’ que Deus «escreve direito por linhas tortas», as da
livre vontade humana. Há veneno que serve de remédio e
antídoto do mesmo veneno. O segredo de Butantã é também
o segredo do Calvário, A t. 4:28.

19. O CALVÁRIO FO I UM A NECESSIDADE P A R A A


NOSSA RECONCILIAÇÃO COM DEUS?
Sim. Se não fôsse, não teria acontecido. Foi «propicia-
ção», em seu valor para com Deus, Rom. 3:25. Paulo nos
ensina que até o Calvário, Deus podia apenas protelar o
juízo do pecado. Agora pode perdoar de vez e eternamen­
te ao pecador. A primeira menção da doutrina da reconci­
liação no Novo Testamento é Rom. 5:10, 11. «Sendo ini­
migos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu F i­
lho ... pelo qual agora alcançamos (já recebemos — o grego
diz, W .C .T .) a reconciliação». Esta reconciliação é estado
consumado pelo Calvário. A paixão redentora e objetiva de
Cristo fez o necessário, a propiciação, tornando possível a
Deus receber o pecador e movendo o pecador a receber a
reconciliação. Notai a linguagem: Deus recebe a propicia­
ção; o pecador «recebe» a reconciliação. E* outorgada. Não
é êle que a consumou ou concedeu a Deus. Nosso consenti­
mento é operado pelo Espírito, no arrependimento e na fé.
A fé a recebe, como estado consumado, já conseguido com
Deus pela morte de seu Filho e agora oferecida ao pecador.
Vêde o sentido igualmente forense do têrmo êm Rom. 11:
15, em outra conexão. E em I I Cor. 5:18, 19, vemos outra
108 DOUTRINAS
vez a reconciliação consumada, oferecida ao pecador pela
pregação do evangelho. E ’ possível porque Deus não está
imputando o pecado, porque «fê z pecado» a Cristo na cruz,
v . 21. E' simplesmente falsa a pregação modernista de que
Deus não precisava de propiciação, e que o único obstáculo
à reconciliação, em qualquer tempo, era sõmente o pecador.
Essa transação de fazer Cristo o pecado, para fazer de nós
sua justiça, afim de assim não nos imputar os nossos peca­
dos, era preciso para Deus oferecer no evangelho a recon­
ciliação e para nós a recebermos pela fé . E quando Paulo
diz que, sendo reconciliados pela morte de Cristo, somos sal­
vos pela sua vida, não se trata da vida de 33 anos que Jesus
viveu na terra, mas da sua ressurreição e vida sacerdotal,
que roga em nosso favor o que eternamente vale o Calvário.

20. F R A Q U E J A O E V A N G E L H O D ESSA RED EN Ç ÃO


O B JE TIV A PO R SER M E T A F Ó R IC A A L IN G U A G E M
U S A D A A SEU R E S P E IT O ?

Não é sensato pensar assim. «M etáforas não andam


de gatinhas», disse alguém. Ensinam sua verdade principal, e
o resto da linguagem metafórica é mera roupagem figura­
da. Os nacionalistas acham que a parábola do Filho Pródi­
go ensina que todos os homens são filhos de Deus e que a
morte de outro Filho não é mister para nos reconciliar com
Deus, pois não é mencionada. E ’ procurar fazer a parábola
andar de gatinhas. Geralmente uma parábola ensina uma
só verdade, e a da história do Filho Perdido é uma das três
que explicam porque Jesus recebia pecadores. O ensino não
vai além, para dar valor detalhado à roupagem da história.
Ora, resgate, compra, preço, Fiador (título de Jesus),
etc. é linguagem comercial. Justificar, adotar, tribunal, ad­
vogado, Mediador, Acusador (titulo de Sataná-s), juízo,
condenação, não imputar,* e tais frases é terminologia de
tribunais, linguagem forense. Redimir, vendido, «eis a escra­
va resgatada», etc. são figuras de escravatura. Bôdas, ami­
go do noivo, veste nupcial, virgens sábias ou néscias, etc.
são figuras do casamento oriental. Sacerdote, sangue, sa­
crifício, Cordeiro de Deus, «fo ra do arraial», páscoa, altar,
incenso, oblação, absolvição, etc., é linguagem cerimonial
judaica. O prof. A . T . Robertson escreveu que a doutrina
da substituição está nas próprias preposições gregas. Par-
A DOUTRINA DA MORTE DE CRISTO 105
tiu do sentido físico destas preposições — «em lugar de»,
«sôbre», etc.
Dizendo isso, destruímos a força da doutrina da morte
de Cristo? De modo nenhum. O povo entende linguagem
figurada melhor do que idéias abstratas. Nossos hinos mos­
tram essa predileção. E ’ genuína. Perguntar, pois, a quem
Cristo pagou o preço da nossa redenção, ou de quem éramos
cativos, ou como sangue lava, ou semelhantes disparates é
falta de juízo. Discutir se Jesus pagou a Deus ou ao diabo
ou à Lei o preço de sua morte é irreverência e insensatez.
E ’ linguagem figurada comercial. Mas tirada a metáfora,
não se perde o fato. Não foi compra em balcão algum. Mas,
assim, entendemos que Jesus fêz na cruz tudo que seria we-
cessário, para todos os efeitos, na salvação do crente. E a
variada e riquíssima linguagem que enche a Bíblia acerca
dêste supremo evangelho mostra seus muitos aspectos reais
no tempo e na eternidade, suas relações inevitáveis com to­
das as pessoas da Trindade, com a Lei de Deus, com a re­
velação, a Bíblia, com o Maligno è com os homens.
«Corning events cast their shadows before», diz Shak-
espeare. (Eventos vindouros lançam adiante de si as suas
sombras). Assim o Calvário lançou suas sombras em tôdas
as páginas do Velho Testamento, em tipos, profecia, cerimô­
nias e evangelho. E êste evangelho da promessa tornou-se
história, que enche o Novo Testamento, pois o evangelho é
NO VA, a boa nova da morte de Jesus Cristo.
C A P IT U L O X

A DOUTRINA DA GRAÇA
DE DEUS
1. EM QU EM VEM O S A G R A Ç A ?

N a Trindade. «O Deus de tôda a graça», ( I Ped, 5:10)


é o «P a i das luzes» de quem desce «do alto tôda boa dádi­
va, todo dom perfeito», Tiago 1:17. E ’ o Pilho, «cheio de
graça e de verdade», João 1:14; A t. 15:11. E ’ «o Espírito
da graça», Heb. 10:29. Nosso Deus rege o universo, do «tro ­
no da graça», Heb. 4:16. O Senhor «resiste aos soberbos;
dá, porém, graça aos hum ildes».. . «dará graça e glória»,
Tiago 4:6; Sal. 84:11. N êle Paulo descobriu tôda a sufi­
ciência, e não é de admirar, pois lhe dissera: « A minha gra ­
ça te basta», I I Cor. 12:9.

2. COMO E N R IQ U E C E U A L IN G U A G E M O R IG IN A L DO
N O VO T E S T A M E N T O E S T A D O U T R IN A ?

E ’ que há, no grego, um verbo que corresponde ao subs­


tantivo graça. Jesus, Lucas, Pedro e Paulo usam êste ver­
bo: Luc. 7:21, 42, 43; A t. 3:14; 25:11; Rom . 8:32; I Cor.
2:12; Gál. 3:18. Aliás, há dois verbos desta natureza e raiz.
O segundo é usado da mãe do Salvador: «S alve! agraciada»,
Lucas. 1:28. O anjo lhe disse: «Achaste graça», v. 30. Ela
sabia que foi salva pela graça, pois começou seu Salmo: « A
minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito sê ale­
grou em Deus, meu Salvador», Luc. 1:46, 47. O mesmo ver­
bo a outra das duas vêzes que se acha no N . T ., trata da
nossa salvação tam bém : « . . . para louvor da glória de sua
graça que êle nos concedeu gratuitamente no A m a d o ».
Estas duas traduções são da Versão Almeida, Edição Brasi­
leira R evista . A té aqui verificamos que a graça vem da
Trindade e que tanto M aria como nós fomos salvos pela g ra ­
ça. Assim unimo-nos com a mãe do Salvador em louvor
desta graça.
A DOUTRINA DA GRAÇA DE DEUS 111
:s. Q U A L A M A IS A N T IG A F A S E D A G R A Ç A S A L V A ­
DORA, N O T O C A N T E À N O S S A S A L V A Ç Ã O ?

Foi a eterna escolha predestinaclora de Deus que nos de­


terminou salvar. A Bíblia não submete esta revelação ao cri­
tério de nossa lógica carnal, mas anuncia o fato, para a nos­
sa fé . «Reservei para mim sete mil varões que não dobra­
ram os joelhos ‘diante de Baal. Assim, pois também, agora
neste tempo ficou um resto (Is . 6:13 — Vers. B ra s .), se­
gundo a eleição da graça», Rom . 11:4, 5. «Como também
nos elegeu nêle, antes da fundação do mundo, para que fôs­
semos santos. . . e nos predestinou para filhos de adoção por
Jesus C r is to ...», E f. 1:4,5. Nossa escolha de Cristo é tam ­
bém essencial para a salvação, mas a eleição divina é pri­
meira. Cito apenas Jesus como testemunha: «E u bem sei
os que tenho escolhido», João 13:18. «N ã o me escolhestes
vós a mim, mas eu vos escolhi a vós», João 15:16. «E u vos
escolhi do mundo», v . 19. «M anifestei o teu nome aos ho­
mens que do mundo me deste: eram teus, e tu mos deste, e
guardaram a tua palavra», João 17:6. Nós vemos a dupla
escolha de noivos consumada no casamento. N egar a Deus
o direito e o fato de escolha, é reduzi-lo a um nível mais
baixo do que o noivo mais ingênuo. N egar a predestinação
é negar a Deus o direito e a capacidade de fazer planos.
Não temos um Deus de palanque que faça suas decisões de­
pois de ver o que nós vamos fazer. Genuinamente escolheu,
«antes da fundação do mundo»; genuinamente predestinou
fins e meios. Genuinamente incluiu nestes o livre arbítrio
humano e tôdas as suas escolhas. F a z tudo cooperar «se­
gundo o seu propósito», Rom. 8:28-30, «desde a eternidade»,
S a l. 90:2, pois «dantes conheceu.. . predestinou. . . cha­
m o u ... ju stificou ... glorificou» o crente. Vede E f. 1:4-6;
A t. 18:10.

4. Q U A L A S E G U N D A A T IV ID A D E DA GRAÇA EM
N O SSA S A L V A Ç Ã O ?
E ’ a chamda eficaz. Há duas chamadas de que a Escri­
tura fala. Um a é a chamada universal, sincera e urgente
do evangelho. «Muitos são chamados, mas poucos escolhi­
dos», M at. 20:16; 22:14. Contrastai as vastas multidões que
ouvem a chamada do evangelho, mas nunca há neles respos­
ta íntima. Não se regista a chamada no fundo de seu espí­
112 DOUTRINAS
rito. Não resulta na salvação, que é a dupla e mútua escolha
do Salvador e do pecador que se arrepende e crê. Há uma
chamada eficaz, feita nos corredores da alma pelo Espírito
regenerador, em conexão com sua tríplice convicção do pe­
cado, João 16:7-11. E* a chamada que Paulo assim descre­
ve: «e me chamou pela sua graça», Gál. 1:15. E ’ uma rica
doutrina, geralmente negligenciada, ou eclipsada pela cha­
mada universal de lei ou evangelho ou a chamada para o
ministério ou para qualquer outra carreira cristã, ^êde
Rom. 1:6; 8:28, 30; I Cor. 1:2, 9, 24, 26; Gál. 1:6 (vos cha­
mou na graça, Vers. Im. B íb .); E f. 1:18; 4:1, 4 (um dos
elementos da unidade do Espírito); Heb. 3:1; 9:15; I Ped,
1:18; 2:9; 5:10, etc.

5. QUE DIZ O E VAN G ELH O SÔBRE O UTRAS FASES


DE SALVAÇAO, Ü N IC A E T O TA LM E N TE P E L A
G R AÇ A ?
Em geral, a Escritura afirma isto da salvação: E f.
2:8-10; Rom. 5:15; João 1:17; I Cor. 1:4; A t. 15:11, etc.
Somos justificados pela graça, Tito 3:7; Rom. 3:24 (notai
a dupla ênfase, gratuitamente pela sua graça) . Jesus in­
cluiu o perdão: «Um certo credor tinha dois devedores, um
devia-lhe quinhentos dinheiros e outro cinquenta. E NAO
TENDO ÊLES COM QUE PA G A R , perdoou-lhes (outorgou-
lhes graça) a ambos», Luc. 8:41, 42. Logo disse a uma
grande pecadora: « A tua fé te salvou». Todas as referên­
cias nesta lição reforçam e aumentam tais considerações.
Vê de A t. 18:27.

6. Q U A L A R ELAÇ AO E N TR E A G RAÇ A E A S BOAS


OBRAS N A V ID A C R ISTA?
A graça é a causa: as boas obras, o efeito «Porque so­
mos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras,
as quais Deus preparou para que andássemos nelas», E f.
2:10; Tiago 4:6.

7. Q U A L O ASPECTO ED U CATIVO D A G R AÇ A DE
DEUS EM NOSSO E SPÍR ITO E V ID A ?
Paulo expõe a Tito: « A graça de Deus se manifestou
salvadora a todos os homens, EDUCANDO-NOS para que,
A DOUTRINA DA GRAÇA DE DEUS 113
renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no
presente século, sensata, justa e piamente. . . » (lêde o res­
to), Tito 2:8-14, Vers. A l., Ed. Bras. Rev. A graça não
terminou sua atividade quando nos salvou. Estabelece no
coração e consciência do crente uma escola do Espírito, edu-
cando-nos. Significa tanto educar como disciplinar. «Que
tens tu que não recebeste?» pergunta Paulo aos Coríntios.
Nossa educação em saber a vontade de Deus, praticar o bem,
e viver na santidade operosa, tudo procede da graça de Deus.
A suprema educação é de Deus, pela sua graça.

8. A GRAÇA E’ V A R IÁ V E L ? CRESCE N A V ID A
V ID A CRISTA?
Sim, pois «todos nós recebemos da sua plenitude e gra­
ça por graça» (graça sôbre graça, a graça usada dando lu­
gar a nova abundância da graça), João 1:17. E Pedro nos
exorta: «Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor
e Salvador, Jesus Cristo», I I Ped. 3:18. O menino Jesus
«crescia em sabedoria, e em estatura e em graça para com
Deus e os homens», Luc. 2:52. A graça para êle, não era
salvadora, mas sim educadora, reveladora progressivamen­
te de sua própria natureza e missão, e adequada para sua
vida, nas suas crescentes responsabilidades divinas e huma­
nas. Jesus aprendeu — até na cruz. «Ainda que era Filho,
aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu», Heb. 5:8.
Não a aprendeu como um desobediente que se converteu em
obediente, mas como quem cresce de menos experiência para
mais, entra em novas capacidades e realizações. Se Jesus
devia crescer e aprender e educar-se na graça, quanto mais
nós?
9. ALÊM DE SALVAR, EDUCAR, DESENVOLVER E D I­
RIG IR EM BOAS OBRAS O INDIVÍDUO, QUE FA Z A
GRAÇA DE DEUS NAS IGREJAS?
«Irmãos vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às
igrejas da Macedônia». Se a graça de Deus pode agir em
muitas igrejas livres, autônomas e cooperadoras, sem Igreja
Nacional ou Católica a exercer domínio sôbre elas, sem hie­
rarquia ou oligarquia para subjugá-las, parece que os ho­
mens poderiam se agradar dessas igrejas de que Deus tanto
se agradou. Sua graça naquelas igrejas fêz com que: 1) «A
D — 8
114 DOUTRINAS
sua profunda pobreza abundou em riquezas de sua genero­
sidade». 2) «Deram voluntàriamente». O eminente dr.
Carroll traduziu Sal. 110:3 — «o teu povo serão voluntá­
rios no dia do seu poder». Êste poder manifesta a graça de
Deus, operosa no coração e vida do crente, e nas igrejas
compostas de crentes. 3) Deram «acima do seu poder». P a­
rece quase incrível. 4) Deram-se a si mesmos primeiramen­
te ao Senhor. Depois era fácil a mordomia pessoal. 5) Su­
plicaram a Paulo o privilégio e a oportunidade de cooperar
com as igrejas de quatro províncias romanas, a favor de
igrejas pobres em outro continente. 6) E enviaram mensa­
geiros para representá-las nesta cooperação. 7) Assim o
que a graça de Deus principiou, e levou avante, consumou-
se «na glória de Cristo», I I Cor. 8. A cooperação de igre­
jas bíblicas é a força mais santa e salutar na história do
cristianismo biblicamente organizado.
10. Q U AL E' A RELAÇÃO E N TR E A G RAÇ A DE DEUS
E O M IN ISTÉ R IO D A P A L A V R A ?
E* «palavra da graça», A t. 20:24, 32. Intima, profun­
da, perene, pessoal, coletiva e progressiva é a relação do mi­
nistério da Palavra e a graça de Deus. O ministério é uma
dádiva do Cristo ressuscitado para suas igrejas, E f. 4:7-16.
De fato, Cristo «deu dons aos homens», em geral, pelo seu
ministério numeroso e versátil, vs. 7, 11, visando o traba­
lho total de Cristo e seu corpo. Por isso há apóstolos para
inaugurar a era cristã, profetas para a revelação ’e doutri­
na, evangelistas para o evangelismo itinerante, e pastores-
mestres para as igrejas, pois rebanhos são o correspondente
a pastores. Sim, a graça é dada a cada um — pastor, lei­
go, mulher cristã, criança crente, «segunda a medida do
dom de Cristo», v. 7. Cada crente tem um dom, uma chama­
da e missão, e a graça adequada, e o ministério oficial am­
plifica e aplica esta verdade geral ao seu caso especial. Pau­
lo considera sua carreira (A t. 20:24) como «uma dispensa-
ção da graça de Deus». O dr. W .O . Carver traduz: «mor*
domia da graça de Deus, que está em mim, caminhando-se
para vós» ( « the grace of God in me on its way to you» ) , E f .
3:2; e em vs. 7, 8 êle declara: «Do qual (o evangelho) fui
feito ministro pelo dom da graça de Deus. . . me foi dada
esta graça de anunciar... as riquezas incompreensíveis de
Cristo». Ninguém é digno de estar no ministério. E* da
A DOUTRINA DA GRAÇA DE DEUS 115
graça divina. E é especialmente indigno quem não tenha
êste espírito.

11,. COMO SE E X P L IC A U M A V ID A C R IS TA N O T Á V E L
EM S A N TA O PERO SID AD E ?

A graça de Deus é o segrêdo. Paulo, falsa modéstia à


parte, afirmou que êle sozinho efetuou mais que todos os
doze apóstolos originais juntos. Eis o segrêdo: «P ela gra­
ça de Deus eu sou o que sou; e a sua graça para comigo não
foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos êles; toda­
via, não eu, mas a graça de Deus que está comigo», I Cor.
15:10. Tôda a operosidade espiritual é fruto da graça. O
resto é energia da carne, sem valor permanente no reino de
Deus.
12. Q U A L E ’ A D O U T R IN A D A G R A Ç A D IV IN A N A
V ID A DOM ÉSTICA DOS CÔNJUGES?

«Co-herdeiros da graça da vida», I Ped. 3:7. Os pais


são para seus filhos, debaixo da graça de Deus, o que o Cria­
dor foi para Adão e Eva. Todo namoro, noivado, casamento
e estabelecimento de familias deve obedecer a êste santo
critério. O matrimônio é união comparável às mais santas
relações entre Cristo e os redimidos, E f. 5. Lêde meu folhe­
to, distribuído pelo Departamento da Mocidade, sôbre «O
sexo é dom de Deus». Outrossim, a atitude reverente pela
vida, a moderação nas instituições domésticas, e a mútua
consideração dos cônjuges, o profundo sentimento de res­
ponsabilidade moral por todo filho que nasça no lar, tem vi­
tal relação com a espiritualidade. Pois Pedro continua:
«para que não sejam impedidas as vossas orações».

13. COMO P E N E TR O U A D O U T R IN A D A G R A Ç A E M
TE R R E N O S DE SO C IAB ILID AD E , C A M A R A D A G E M
E C O R TE SIA ?
N a saudação cristã. O hebreu dizia: «P a z», ao encon­
trar-se com o conhecido. Jesus, ressuscitado e reunido com
seu povo dizia: «P a z seja convosco». A saudação cristã fi­
cou: «Graça e paz», Rom. 1:7 — «ambos os têrmos usados
em pleno sentido teológico. E* o comêço de um costume do
116 DOUTRINAS
sociabilidade fraternal, avançando além das frases comuns,
no progresso da civilização, quando cada homem estranho
fôra considerado possível inimigo» (Com. de Sanday e Head-
lam, sobre Rom. 1:7, resumido). A saudação reflete a men­
talidade .

14. A P A L A V R A G R A Ç A E V O LU IU E M VÁR IO S SEN ­


TIDOS ?

Sim. Por isso, não é seguro definir palavras pela sua


etimologia. Crescem. Têm de ser definidas pelo seu uso no
tempo, lugar, literatura, circunstâncias e contextos, cada
vez. N a Grécia, o têrmo graça significava favor baseado em
mérito, caráter ou feitos, ou qualidades simpáticas. Tornou-
se vocábulo que indica favor não merecido, mas livremen­
te outorgado. Chegou a indicar a atitude que corresponde
ao favor «graças», gratidão. Esta é um dos mais pode­
rosos motivos cristãos. «Mas graças a Deus que nos dá a
vitória por nosso Senhor Jesus Cristo», I Cor. 15:57. A gra­
ça se sente nas palavras, E f. 4:29.
15. Q U A L A SEDE D A GRAÇA NA E X P E R IÊ N C IA
C R IS TÃ ?
O coração, o ser invisível, movido por emoções e afetos
que o. Espírito desperta. «Cantando ao Senhor com graça
em vosso coração», Col. 3:16. Por isto não devem cantar,
no coro de uma igreja, incrédulos ou mundanõs de mera be­
leza de voz. « A vossa conversação seja sempre com graça
e condimentada com sal» (Vers. Mato Soares de Col. 4:6;
E f. 4:29). Graça aqui é mais que «agradável». E ’ a quali­
dade que desperta no ouvinte a aceitação, mesmo que seja
desagradável, pela fôrça de personalidade. Notai: 1) «Com
o coração se crê para justiça», Rom. 10:9, 10. 2) «A provei­
tou muito aos que pela graça criam», A t. 18:27. A graça
age no coração, produzindo a fé salvadora. Isto faz com
que se possa dizer: «Minha graça», possessão pessoal, bên­
ção contagiosa, fonte artesiana cujas águas refrigeram
muitas almas sedentas: «Porque vos retenho em meu cora­
ção, pois todos vós fostes participantes da minha graça»,
F il. 1:7. A graça divina até toma a forma de graças — vir­
tudes doadas pelo Espírito Santo à vida cristã: a graça da
A DOUTRINA DA GRAÇA DE DEUS 117
liberalidade, I I Cor. 8:1, 6; vários dons da graça, Rom.
12 : 6- 8 .
16. E ’ V IS ÍV E L A G RAÇA N A V ID A ?
Lucas diz que sim. Barnabé, contemplando a vida da
Igreja de Antioquia, «viu a graça de Deus, e se alegrou»,
A t. 1:23. Nós não sabemos uma só palavra dita por Láza­
ro. Mas veio muita gente, olhou a Lázaro e saiu crendo em
Jesus, João 12:10, 11. Pelo menos com os olhos do coração,
nós devíamos discernir a graça de Deus na vida alheia, E f.
1:18. Paulo a discernia em Corinto: «Tendo de vós sauda­
des, por causa da excelente graça de Deus que em vós há»,
I I Cor. 9:14.
17. E XISTE UM «ESTADO DE G R A Ç A »?
O católico romano acredita que a graça de Deus reside
em água benta ou batismal e que, automàticamente ( ex ope­
re operato é a frase clerical), o batismo infantil tem o po­
der de introduzir a criancinha inconsciente e irresponsável
em «estado de graça», condição em que seria possível a êle
procurar salvar-se pelas obras, pelos sacramentos, pelo au­
xílio do clero e da igreja, e pelo purgatório. Tal «estado de
graça» é como licença da prefeitura permitindo edificar,
mas o proprietário fornecendo seus próprios materiais, mão
de obra e tudo, na construção. A licença nada construirá.
Eis, porém, o estado de graça do crente: «Sendo pois
justificados pela fé temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo, pelo qual também temos entrada pela fé a esta
graça na qual estamos firmes», Rom. 5:1, 2. Nossa entra­
da no estado evangélico da graça é pelo Senhor Jesus e pela
fé. Esta fé já nos justificou, antes de praticarmos uma só
obra aceitável a Deus. E estamos firmes. Não é a instabili­
dade fútil e frágil do «estado de graça» católico-romano.
«N a graça de Deus temos vivido no mundo», I I Cor. 1:12.
Assim Jesus «em graça nos deu uma eterna consolação e boa
esperança», I I Tess. 2:16. Esta graça estável é ligada com
o propósito eterno de Deus, I I Tim. 1:9; Tito 3:7; I Ped.
5:12; Heb. 13:9.

18. ÊSTE FA V O R DE DEUS IN C L U I A ID É IA DE


PODER?
1X8 DOUTRINAS
Sim. Toda a energia divina acompanha a graça e o
propósito de Deus. O Espírito Santo, em nossa luta, não é
mero espectador de palanque ou de arquibancada, torcendo
por nós enquanto lutamos com nossas próprias fôrças. Êíle
reside em nós e dá força divina para a vitória. A graça é
entronizada. Não é mera abstração — é Jesus Cristo, agin­
do . «Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça
para que possamos.. . achar graça, afim de sermos ajuda­
dos em tempo oportuno», Heb. 4:16. « A minha graça te
basta», I I Cor. 12:9. «Davam com grande poder testemu­
nho . . . e em todos êles havia abundante graça» — poder e
graça, notai. P or isso, Barnabé, Paulo e Silas foram «enco­
mendados à graça de Deus para a obra contemplada, A t.
14:26; 15:40. Uma parte do poder desta graça opera na P a ­
lavra, A t. 20:32; I I Tim . 2:1; outra parte no pregador, e
outra no ouvinte, A t. 16:14; Luc. 4:22. E ’ inadequada a
antiga definição da graça: «O favor imerecido de Deus».
E mais — é o favor de Deus, na salvação e vida cristã, ou­
torgado, livremente, sem mérito humano, e com energia di­
vina suficiente para a realização do propósito que Deus tem .
Burton define: «fa v o r divino, contrário ao merecimento hu­
m ano». E Thayer: « A bondade misericordiosa que Deus ou­
torga, exercendo sôbre a alma sua santa influência, conver­
tendo-a, e aumentando nela a fé, o conhecimento e o afe­
to e acendendo nela as virtudes cristãs». Ou, em relação ao
Calvário: «o plano da graça divina pela qual o perdão do
pecado e a eterna salvação ficam outorgados aos pecadores,
em consideração aos méritos de Cristo, que são o objeto da
fé » . O Deus que dá seu favor, dá também o poder necessá­
rio no caso. «Aquêle que em vós começou a boa obra a aper­
feiçoará até o dia de Jesus Cristo», F il. 1:6.
19. M A S A V O N T A D E H U M A N A N A O E ’ F A T O R NO
CURSO D A O PE R A Ç A O D A GRAÇA EM N O SSA
V ID A ?

Certamente que sim. N o casamento, nas firm as comer­


ciais, e quando dois motoristas se passam na estrada, duas
vontades se unem, como em toda cooperação. P or que não
também na vida cristã? Ambas as vontades fazem sua li­
vre escolha, sem que urna possa violar o livre arbítrio da ou­
tra. O homem pode resistir, ultrajar e rejeitar a proferida
graça de Deus; ou, mesmo depois da salvação, diminuir sua
A DOUTRINA DA GRAÇA DE DEUS 119
força na vida, no caráter e na operosidade. Isto nunca anu­
la a salvação, que é de vez e eterna, R om . 6:23, mas cria
os problemas da ovelha errante que o Bom P astor tem de
buscar e tra zer de novo à g re i. «A ten tan do diligentem ente
por que ninguém seja faltoso da graça de Deus», diz a nova
Versão Alm eida, de H eb. 12:15. E ' o parcial em pobreci­
mento do crente genuíno, porém m orn o. «Retenham os a
gra ça pela qual sirvam os a Deus», H eb. 12:28. A gra ça tem
esta função, como salva, justifica, educa, santifica, etc.
N ossa vontade é fa to r em reter esta influência ativa da g r a ­
ça, na vida serviçal. Clareza de doutrina ajuda. «N ã o faço
nula a graça de Deus», Gál. 2:21, diz Paulo ao censurar a
confusão vacilante de P edro. «E x o rta v a m que perm aneces­
sem na graça de Deus», A t . 13:43, decisão de novos cren­
tes. Creiamos estas Escrituras sem descrer nas outras.

20. A G R A Ç A P A R E C E , À S V Ê Z E S , S E R T U D O IS T O ,
NOM E G E R A L DAS BÊNÇÃOS D A SA LV A Ç A O E
D A P R Ó P R IA E R A C R IS T A ?

Precisam ente — todo o fa v o r poderoso de Deus na vida,


I P ed . 1:10; 5:12, prom etido na p rofecia m essiânica. Somos
«dispenseiros da m ultiform e graça de D eus» ( de m uitas co ­
res, ao pé da le tr a ), I Ped. 4:10; 1:13. Quão sign ifican te é
que as últim as palavras de nossa B íblia são: « A g ra ça de
nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. A m é m ».
CAPÍTULO XI

A DOUTRINA BATISTA SÔBRE


O LUGAR DE JESUS CRISTO NO
SEU CRISTIANISMO
1. Q U AL A SU PR E M A PE R G U N T A ?

«Que pensais vós do Cristo?» Mat. 22:42. Eis a supre­


ma pergunta. Enfrenta a tôdas as religiões, em contraste
com o cristianismo, e divide o cristianismo nominal em de­
nominações de variados pontos de vista.
Há um cristianismo original, puro, perfeito e revelado.
E ’ o cristianismo dado no Novo Testamento por aquele que
é o «Autor e Consurnador da fé ». O Espírito Santo deu, pre­
servou e perpetuou no Novo Testamento o testemunho li­
terário dêste cristianismo original, o cristianismo de Cristo.
Manter diante de nós o alvo dêste cristianismo revelado,
cujo autor é Jesus Cristo, repudiando tôda mistura de tra­
dições humanas, é a marca do povo batista.

2. Q U AL A A T IT U D E TO M AD A PELOS VÁRIOS R A ­
MOS DO CATOLICISM O P A R A COM ÊSTE C R IS T IA ­
NISMO DE CRISTO?
Católicos romanos, Ortodoxos gregos (com suas várias
sedes em Moscou, Atenas, Varsóvia, Sofia, Belgrado, Istam­
bul ou Constantinopla, Nova Iorque, Paris, etc), Anglo-Ca-
tólicos, umas Igrejas Católicas nacionais, as antigas seitas
Católicas orientais e os «Velhos Católicos» que são os vários
ramos do catolicismo, francamente confessam que sua re­
ligião é mistura de três elmentos. O primeiro é o cerimonia-
lismo do Velho Testamento, que são precisamente as par­
tes da Lei que Jesus revogou e anulou no Calvário, Col. 2:
14. O segundo é a Escritura Sagrada, com a referida falta
de critério na sua interpretação, em péssimas versões, es­
pecialmente a Vulgata, sem o devido respeito ao texto ori­
ginal, e com acréscimos de muita literatura apócrifa que
não é da Bíblia de Jesus. E o terceiro é a «tradição» de ho-
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 121
mens. O Senhor Jesus diz que êste elemento é tão repreen­
sível que anula o valor de todo culto que tenha êsse defei­
to «Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são pre­
ceitos dos homens», M at. 15:9.
3. E COMO R E A G IU O PR O TE S T A N T IS M O D IA N T E DO
C R IS T IA N IS M O DE CRISTO ?
Os anglicanos e muitos outros protestantes justificam
a «evolução» do cristianismo que se deu nos primeiros qua­
tro séculos, aceitando como dogmas os credos dos concílios
daquêles tempos. Mas por que êsse limite arbitrário? Quase
todo o mal -da Idade das Trevas já entrou, em germe, no
segundo século. Os Reformadores apenas reformaram o ro-
manismo. Não voltaram ao cristianismo do Novo Testamen­
to. Decidiram «reter o batismo infantil» e outra bagagem
doutrinária e cerimonial que trouxeram consigo quando sai-
ram de Roma. «Êles sairam do romanismo, mas há muito
romanismo que não saiu d eles.». Os batistas acham me­
lhor o cristianismo de Cristo, segundo o Novo Testamento;
muito melhor do que êsse romanismo reformado.

4. Q U A L A A T IT U D E T O M A D A PE LO S B A T IS T A S ?
E ’ bem diferente e característica; pois a voz batista quer
o cristianismo de Cristo, sem mistura de evolução eclesiás­
tica, filosófica ou credal. Basta o Novo Testamento, a au­
toridade do Senhor vivo, o Salvador onipresente com suas
igrejas e a iluminação e o poder do Espírito Santo. Anela­
mos reter os fatores que criaram o cristianismo que Jesus
e seus apóstolos deixaram como herança imutável dos sé­
culos. Nosso alvo é o cristianismo essencial, original e per­
pétuo, a união da verdade e da vontade de Jesus Crsito na
vida santa de seu povo, em igrejas como êle quer. E ’ nossa
doutrina -de Cristo que nos distingue de outros cristãos e de
outras religiões.

5. POIS, QUE S IG N IF IC A «C R IS T O »?
Para saber o que pensar de Cristo, temos de entender
êsse título messiânico. «C risto» é o título do Salvador, como
o Sacerdote, o Rei e o Profeta que Deus ao cristianismo deu,
como seu Fundador. A própria palavra significa «M essias»;
122 DOUTRINAS
Cristo (grego) e Messias (hebraico) significam o mesmo:
o Ungido. Era o costume, em Israel, ungir com óleo o sacer­
dote, o rei e o profeta. Jesus, como o Cristo, tem esta tri­
pla coroa. E ’ o Sacerdote que se oferece a si mesmo como
o sacrifício único, jamais repetido, que tira o çecado do
mundo, o Rei da consciência e Soberano absoluto em seu
reino espiritual. E ' o «P ro fe ta » de quem Moisés e João B a­
tista falaram . Profeta é órgão de revelação divina. Jesus,
pois, é o Revelador de Deus, da verdade, da vontade divina,
da salvação, e do destino.
Assim o batista espiritual pensa do Cristo e, genufie-
xo em espírito, o adora: e, amando-o anela dar-lhe a obedi­
ência perfeita e a vida. Grandes são nossas imperfeições,
-confessamos, mas o «C risto» é perfeito. E* o Sacerdote, o
R ei e o Profeta que nos convem.

6. E ' ÊSTE O CRISTO D A N O SSA B ÍB L IA ?


O «C risto» é o traço de união entre a Profecia e o Evan­
gelho e as Epístolas, e entre as Epístolas e a final Revela­
ção, a da segunda vinda do Salvador. Há continuidade na
revelação progressiva que Deus deu. O auge, o zênite, o
ponto final é Jesus. «Havendo Deus antigamente falado
muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais pelos profe­
tas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo F ilh o. . . O H er­
deiro de tudo, por quem também fê z o mundo, o resplendor
de sua glória, a expressa imagem da sua essência, o susten-
táculo de tôdas as coisas pela palavra do seu poder.. , mais
excelente do que os anjos. . . O’ Deus, o teu trono subsis­
t e . . . » Assim a primeira apologia do cristianismo do Cristo,
a Epístola aos Hebreus, apresenta o Autor e Consumador
da nossa fé.

7. POIS, QUE P E N S A IS DE CRISTO, VÕS, OS B A T IS ­


TAS?
A resposta batista constitui nossa fé, nossa vida, nossa
missão, nossa inefável alegria e gozo eterno. Vasto e múl­
tiplo é nosso pensamento de Jesus Cristo. Rege e cria o nos­
so cristianismo em todos os sentidos. Há* 150 títulos e nomes
revelados de Jesus, nas Escrituras, que seguem em lista al­
fabética, no fim desta lição. Ora, cada um dêstes 150 títu­
los e nomes de nosso Salvador testifica algum especial va-
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 123
lor em Jesus Cristo, que é assim salientado, e êste valor se
traduz em doutrina e vida. A chave do universo e do pen­
samento é Jesus, que criou o primeiro cristianismo e deu a
verdade como a lâmpada da mente humana.
8. QUE P E N S A IS DE CRISTO COMO R E VE LAD O R ?
O profeta prometeu o Cristo. O apóstolo o testemunhou
e interpretou em história e doutrina e há perfeita unidade
no Cristo do Velho e no do Novo Testamento, no Cristo da
história e da experiência, no Cristo da mente e do coração,
no Cristo da apologética e do evangelho. Sem solução de
continuidade, a revelação progrediu como Deus quis, até
que viesse o Revelador. Êste manifestou a Deus porque é
Deus, eternamente, na sua encarnação redentora e na sua
glória, com toda a autoridade no céu e na terra. E ’ de ver
o vasto e medonho abismo que existe entre êste Cristo real
e o pobre «Senhor M orto» da «Semana Santa» e o «M eigo
Nazareno» do intelectual soberbo e condescendente, os Cris­
tos de pau e pedra, de cabelo comprido e feições efeminadas
dos altares e oratórios, o Cristo sentimental das devoções de
beatas e pietistas. «Porque foi do agrado do Pai que tôda a
plenitude nêle habitasse», Col. 1:19 — e é do nosso agrado
também. «O Cristo» — tema do Velho Testamento, espe­
rança de Israel antes do Calvário, o Cristo da Promessa, eis
o nosso Cristo. Não há Novo Testamento sem o Velho Tes­
tamento. «Porque primeiramente vos entreguei o que tam­
bém recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segun­
do as Escrituras, e que foi sepultado e que ressuscitou ao
terceiro dia, SEGUNDO AS E SC R ITU R AS», I Cor. 15:3.
Cristo e o Velho Testamento caem juntos ou juntos ficam
de pé. O Evangelho é «segundo as Escrituras», ou não exis­
te. O «Cristo», aquêle que Moisés, Davi, Isaías e Malaquias
anunciaram, é o nosso Salvador, o Cristo também de João
Batista, de Lucas, de Paulo e João, os apóstolos do amor.
E ’ igualmente «Cristo em vós, esperança da glória», Col.
1:27.

9. QUE P E N S A IS A IN D A DE CRISTO COMO O S A L ­


VAD O R?
Nesta capacidade êle é a verdadeira Verdade, o único
Caminho — «Ninguém vem ao Pai senão» por êle — é a
124 DOUTRINAS
Vida que, em união conosco, nos dá a vida eterna que ele é.
O apóstolo Pedro c autoridade acatada no Brasil. Ouvi-o:
«Ê le é a pedra» — pois não pensemos que Pedro é a pedra,
quando o nega — «e em nenhum outro há salvação, porque
também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre
os homens, pelo qual devamos ser salvos», A t. 4:11,12. Je­
sus Cristo realmente salva, não apenas nos torna salváveis,
em condições de salvar-nos a nós mesmos, total ou parcial­
mente, ou em conjunto com sacramentos, igrejas ou padres.
Em certos ramos de vida comercial, há sócios que
constituem uma Sociedade Anônima na praça, mas não há
companhia de Salvadores, chamada Jesus e Companhia,
Salvadores dos homens, S. A . Jesus não tem sócio em sal­
var. E ’ êle que salva, faz tôda a obra de salvação. Salva
de vez e eternamente. Salva nas suas próprias condições,
nos têrmos que êle propôs no evangelho — o arrependimen­
to e a fé. Salva, pois, o crente. «Aquele que crê em mim tem
a vida eterna», êle o afirma repetidas vêzes.
Em negócios desta vida, os homens compram certos ob­
jetos, pagando o preço em prestações — e os enganados
pensam em comprar a salvação, pagando por prestações.
O batismo infantil é a primeira prestação. Seguem sacra­
mentos e mais sacramentos, caridade, boas obras, genufle-
xoes perante imagens, rezas, romarias, cinzas depois do
Carnaval, jejuns, quaresmas, semanas santas, festas, dias
santos que Deus nunca santificou, superstições, tradições
dos homens, exorcismos do diabo, «doutrinas de demônios»,
na frase do irmão Paulo de Tarso — a vida tôda se passa
em pagar tais prestações para comprar a salvação, depó­
sitos de méritos no tesouro da Igreja. Mas ninguém con­
segue pagar tôdas as prestações. Morre cada vez mais en­
dividado, e ainda vai pagando prestações no fogo do Pur­
gatório — lugar desconhecido por completo a Jesus e seus
apóstolos. Os parentes pagam missas e indulgências, em
intenção de quem ainda compra sua salvação nos fogos pur-
gatoriais — mau negócio, pagar para tirar alguém de um
lugar onde não está, porque o lugar não existe. Afinal,
quando já seu nome é esquecido e ninguém mais compra-
lhe missas no balcão eclesiástico de mérito, êle arde até «p a­
gar o último ceitil» e salta para a salvação no céu em uma
terceira vida. Tudo isso é fábula, de infantilidade perver­
sa. Jesus aqui salva, e agora. A primeira coisa que acontece
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 125
na vida cristã é a salvação. E' o novo nascimento, o comêço
da vida eterna, «o dom gratuito de Deus».
«N ão há outro nome» ■ — nem há dois Salvadores. Não
é Jesus e a igreja, ou Jesus e Maria, ou Jesus e os sacra­
mentos, ou Jesus e Eu, ou Jesus e. . . e . . . ninguém. Só Je­
sus, sem sócio, sem par, faz tôda a obra de salvar. Os re­
midos no céu lhe cantam louvores e aleluias, e nenhum ou­
tro nome associam com Jesus. E* o único nome no céu como
é o único debaixo do céu, dado entre os homens, em quem
há esta urgência de salvação. O Pai salva, mas só por Je­
sus. O Espírito testifica de Jesus. A própria Trindade nêle
age como o único, o Divino Salvador.

10. QUE P E N S A IS DE CRISTO COMO DEUS O F ILH O ?


O fato mais estupendo do primeiro século cristão é isto:
judeus purificados uma vez para sempre da idolatria pelo
cativeiro, monoteístas tenazes e estritos, principiaram a ado­
rar a um outro judeu, seu amigo e companheiro, como Deus,
Senhor e Salvador. Com tanta convicção e certeza fizeram
isto, que arrastaram consigo milhões de outros, de tôdas as
línguas e raças e tribos, para também adorá-lo, no mesmo
tenaz monoteismo. Ao mesmo tempo se alegraram nêle
como homem e irmão. Isso é um fenômeno que espanta, des­
perta investigação e convence. E nós também intransigen­
tes no mesmo monoteismo da fé, caímos aos pés de um ju­
deu, crucificado e ressuscitado, e exclamamos: «Senhor meu
e Deus meu!»
E ’ o cristianismo de Cristo. Não é que Jesus fosse um
cristão. Nunca o foi, pois não é criatura o Criador. O cris­
tão é pecador, salvo por Jesus. «O Cristo» é Deus, Criador,
Detentor da autoridade e da providência divina. «Porque
nêle habita corporalmente tôda a plenitude da divindade»,
Col. 2:9. Assim nós pensamos do Cristo. E* o Verbo. Esta­
va com Deus. Fêz-se homem, sem desistir de ser Deus.
«Cheio de graça e verdade», armou sua tenda em nossa hu­
manidade genuína e total. Jesus era, e é, mais homem do que
aquêle que escreve estas linhas ou quem as lê. Em simples
unidade pessoal êle era, é, e eternamente será esta qualidade
de Cristo e Salvador. Assim amamos ao Senhor com nossas
mentes.
126 DOUTRINAS
11. Q U E P E N S A IS DE C R IS T O COM O M E S T R E ?
« A h », diz alguém : «E* aí que nós o exaltam os — com o
M estre. Ê le é o m aior dos filósofos, o prim eiro dos educa­
dores, o m ahatm a dos mahatmas. A êle cabe o assento cen­
tra l e superior, no meio das figu ras eminentes da cultura
do esp írito. E ’ o D etentor de todos os su p erla tivos». Essa
condescendência de meros superlativos é a irreligião de in­
telectuais, frívola, irreverente, incrédula. Dão ocos elogios
a quem pede dêles a rendição incondicional de arrependi­
mento (mudança de m entalidade) e fé (confiança em Jesus
crucificado para s a lv a r ). Nosso Cristo nem pede elogios, nem
acolhe meros admiradores, nem admite posição m eram ente
central entre os preclaros pecadores que se distinguiram
mentalmente em nossa raça. Jesus não é filósofo nem ja ­
mais proferiu uma palavra de filosofia, pois a filosofia é es­
peculação; mas Jesus revela, por ser Deus e ser homem
p erfeito. Pode revelar por ser o que revela. Pode ensinar por
ser a Verdade que expõe e proclam a. Sua pessoa é a gran­
de e infinita realidade que é a substância, o centro e a cir­
cunferência da Verdade. Depende de quem Jesus é para que
êle m ereça confiança como o M estre da vida e da eternida­
de, sem solução de continuidade. M uitos soberbos falam de
Jesus como o «D ivin o M estre», mas não aceitam o que êle
ensinou, nem respeitam o evangelho que pregou, nem admi­
tem por um instante a verdade que êle revelou, nem obedecem
à autoridade que exerce no terreno da m ente. O único mes­
tre dos tais é seu próprio eu. Só buscam umas frases de
Jesus para ju stificar suas próprias idéias e vontade e p ro­
paganda. «D esperta tu que dormes e Cristo te ilu m inará».
Muitos dêsses aduladores de Jesus são como quem vai a
uma lo ja de ferragen s e busca uns ganchos ou pregos em
que pendurar objetos de seu uso. O Sermão do M onte é a
principal lo ja de ferragen s onde vão escolher uns ganchos
bronzeados em que pendurar as idéias de sua propaganda.
O pacifista escolhe o gancho de uma interpretação literal e
crua da linguagem hiperbólica de Jesus que êle quer explo­
ra r. Todo propagandista cobiça o nome do M estre Jesus ao
seu lado, adepto da nova idéia que se advoga, da novel ideo­
logia . Lem os que Jesus é comunista, é pacifista, é revolu­
cionário, é socialista, é filósofo, é m ártir, é pedagogo, é
tudo, menos Salvador, Deus, Senhor, e Juiz etern o. Toda
propaganda quer arvorar Jesus como bandeira, mas a ban-
A DOUTRINA BATISTA SÒRRE... CRISTIANISMO 127
deira das suas manias, das suas idéias fixas, da sua novida­
de efêmera e fugaz, da sua grei econômico-político-socioló-
gica. Como Herodes, vestem Jesus do manto real e lhe dão
o trono de Mestre e querem ver o m ilagre da retórica de sua
boca. Mas ele só consente ser o Mestre de quem, em plena
fé, lhe consente ser o discípulo.
12. COMO E ’ QUE ACATAM OS A JESUS COMO O
M E S TR E ?
E* em aceitar o que êle ensina. Para os batistas, o Cris­
to é o Mestre que ensinou a verdade, tôda a verdade e nada
senão a verdade. Seu ensino é sua doutrina, pois doutrina
é ensino estável. Sua doutrina é imutável, como êle é o
mesmo hoje, ontem e pará^sempre. Jesus não ensina uma
coisa hoje e o contrário amanhã. Daí o valor perpétuo da
Bíblia, que é sua Bíblia também, a Palavra de Deus. Nós
o adoramos e por isto lhe acatamos o ensino. Êle não acei­
ta a adulação de incrédulos, mas somente a leal adoração
do crente. «N ã o quereis vir a mim para terdes a vida. Eu
não recebo glória de homens. Como podeis vós crer, rece­
bendo honra uns dos outros e não buscando a honra que vem
só de Deus», João 5:40-44. Mesmo o Sermão do Monte é
doutrina, M at. 7:28, 29. O espírito anti-doutrinário é o
Anti-Cristo, em franca propaganda contra Cristo como Mes­
tre do seu povo, a Verdade, o Verbo. Jesus não aceita o
assento central entre os catedráticos, os mahatmas e os f i ­
lósofos . Êle recusa rebaixar-se para essa cátedra central
entre os falíveis e falazes. Pilatos também fêz Jesus central
— em seu sangue na cruz, entre dois bandidos. Sua posição
é única, não central.
«Que pensais do C risto?» ó filósofos, livres pensadores,
escravos das ideologias fugazes, filhos do momento, sem
eternidade? E ’ a tua ruína, sr. Filósofo, confiar na especu­
lação e não em Deus revelado, que é Jesus Cristo! A s vidas
dos filósofos, terminando quase sempre em desespêro, lou­
cura, ou suicídio, é o adequado comentário da vaidade fútil
de suas filosofias.
Ninguém há, que tendo Jesus como Mestre, vá pôr nos
lábios do Filho de Deus palavras ou idéias de propaganda
de um professorado hodierno. Nós reverentemente vamos
para Jesus e deixamos que êle escolha os assuntos do seu
ensino, ouvimos as doutrinas da sua revelação, e acatamos
128 DOUTRINAS
a m oral da sua lei, os princípios do seu reino, a nova do seu
evangelho, a sua interpretação de sua Bíblia e sua projeção
de sua verdade no N ovo Testamento e lhe votamos plena
lealdade em tudo. E ’ fá cil abrir o N ovo Testamento e ver a
m atéria das muitas doutrinas, profunda moral, princípios
sublimes do seu rein o . N ada omitamos, nada acrescente-
mos, tenhamos tudo íntegro, coeso, harmonioso eip suas
partes, destinado à fé universal e perene, até onde os homens
consentirem ser seus «discípulos. Discipulado é o nome do
cristianismo de Cristo M estre. «Id e, fa zei discípulos de to ­
das as nações, batizando-os. . . ensinando-os». O cristianis­
mo é uma educação na doutrina do Salvador, assimilada na
vida, e testemunhada a outros em constante atividade mis­
sionária. «S e võs permanecerdes na minha palavra, verda­
deiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e
a verdade vos libertará», João 8:31, 32. N ão decapitemos
essa sentença. Conserve-se tudo. A única liberdade, e a
única verdade libertadora dos grilhões do êrro e do pecado
é a palavra de Cristo M estre. Se vamos ter Cristo como o
nosso Mestre, terem os de matricular-nos em cursos que êle
ensina.

13. Q U E P E N S A IS D E C R IS TO COMO S E N H O R ?

Que autoridade tem êle sobre nossas mentes? R ege o


nosso pensamento. E ra louvável a atitude de Paulo em «le ­
va r cativo todo o entendimento à obediência de Cristo»,
I I Cor. 10:5. Ê le é o Senhor de nossas mentes.
Como Senhor, Jesus deu quase duzentos mandamentos
para orientar seu cristianismo. Quem quiser pode estudá-
los no N ovo Testam ento ou em meu livro «Os Mandamentos
de Jesus». Êle os impõe sôbre o cristianismo com tôda a au­
toridade no céu e na terra, e manda ensiná-los aos discípulos
batizados, através de todos os séculos. E ’ a m atéria per­
manente de sua vontade. «Que queres que eu faça, Senhor?
Fala, Senhor, teu servo ouve» — e obedecerá. A autoridade
de Jesus Cristo é plena e final em tudo — na moral, influ­
ência social, e mordomia em todos os sentidos.

14. Q U E D IR E IT O S T E M JESUS C R IS TO EM SUA


P R Ó P R IA R E L IG IÃ O ?
Meditemos e decidamos. Vamos fu rtar o nome dêle e
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 129
usá-lo para fachada de um sistema por nós inventado? E ’
sincero isso? E' leal? Vencerá*? Merecerá o respeito de
quantos forem capazes de discernir a fraude? «P o r que me
chamais, Senhor, Senhor, e náo fazeis o que d igo ?» Luc.
6:46. E ’ pergunta razoável e serve para desmascarar muitos
fingimentos. Os batistas creem que Jesus Cristo tem todos
os direitos. Se outros querem estabelecer religiões, então
exerçam seus dons e direitos nesse sentido, mas chamem sua
religião pelo seu nome ou por um nome que acharem melhor,
mas não roubem o nome de Cristo, ou do cristianismo, para
idéias e práticas com que ele nunca compartilhou. Jesus é
quem manda em sua casa, e manda nos assuntos que êle
quer. Não muda de assunto de acordo com as manias da
cultura mundana — camaleão que muda de cores cada se­
mestre, de cidade em cidade, de escola em escola. O batis­
ta leal crê, com todas as veras de sua alma, que é a Jesus
que cabe o direito de dizer o que é o ato do batismo, para
quem é, por quem é administrado, e quais as suas condições
exigidas, a que conduz, e ainda seus simbolismos e suas ver­
dades. A doutrina do batismo não é questão de quanta água
é necessária — o ato determinado por Cristo resolve isso —
mas, sim, de quanta autoridade tem Jesus no seu próprio
cristianismo, para seus próprios discípulos e seguidores. E
a mesma verdade rege todas as decisões que fazemos sobre
as igrejas, a ceia do Senhor, a doutrina e a prática do cris­
tianismo bíblico apostólico. A máxima deslealdade a Cris­
to é dizer que «não há diferença» entre a verdade e o êrro,
entre a obediência e a desobediência, entre a doutrina de
Cristo e do Novo Testamento de um lado, e as tradições
dos homens, do outro. De todas essas meras tradições hu­
manas Jesus solenemente afirma: «E m vão me adoram, en­
sinando doutrinas que são mandamentos de homens», M ar.
7:7. Isso nulifica tudo nos credos, catecismos e livros de or­
dem ou culto, quer dos católicos, quer dos protestantes, que
seja meramente de origem humana, fora do Novo Testa­
mento .

15. QUE P E N S A IS DE CRISTO COMO A Ú N IC A C AB E ­


ÇA DO SEU POVO?
Jesus é a única cabeça. Abaixo as demais cabeças de
greis — papas, reformadores e o individualismo desenfrea­
do. A pior cabeça de todas é o infalível Eu. Reine Cristo

D —- 9
130 DOUTRINAS
em sua casa. Seja sua doutrina, preservada por seus após­
tolos no ensino do N ovo Testamento, a nossa doutrina úni­
ca e total, e vivam os assim em tudo. E ’ alvo infinito, final
e eterno.
Certo frade holandês passou meses no Seminário do
Norte, no Recife, como hóspede, investigando assuntos re­
ligiosos. Êle nunca se converteu. Voltou para sua ord(em
monástica. Qual a razão? Disse êle: «N ã o posso ver como
se pode admitir mais de uma cabeça numa religião» — e
optou ter o papa por essa única cabeça. Ilusão descrente e
fatal, mas é exatamente o motivo cabal por que um batista
nunca poderá ceder ao papa lugar algum no cristianismo.
Pois se êle é «a única cabeça», Jesus fica expulso do seu
próprio cristianismo. Ou se o papa e Cristo, ambos, são ca­
beças, então o tal cristianismo é um monstro de duas cabeças.
F oi observada uma tartaruga com duas cabeças: uma bri­
gava com a outra para ter monopólio da comida. Assim é
o monopólio papal do cristianismo. A cabeça em Roma rea­
ge contra a cabeça legítim a no céu. O libelo de Paulo so­
bre semelhante sistema é: «N ã o ligado à cabeça», Col. 2:19.
Onde há cabeça humana em uma religião, a religião é dessa
cabeça e não de Jesus. Onde Jesus é a cabeça, não há ho­
mem que tenha êsse monopólio de autoridade e direção. Os ba­
tistas mantêm o Senhor Jesus como única cabeça, e é por isto
que repudiam o papado, os prelados, os padres, e as oligarquias
eclesiásticas. Jesus é a cabeça de todo homem, I Cor. 11:3;
de cada igreja bíblica, I Cor. 12:27; do universo, em prol de
sua Ig re ja Geral, E f. 1:22, 23, e desta Ig re ja também. E ’
uma vasta doutrina, com muitos corolários inevitáveis. N e ­
nhum «Senhor M orto» é cabeça de coisa alguma. O Senhor
vivo é realidade sublime, na experiência espiritual genuína,
em todas as suas funções de cabeça pessoal e coletiva, para
os crentes.
16. QUE S IG N IF IC A S E R JESUS C H A M A D O «O CO R­
P O », E M L IN G U A G E M M E T A F Ó R IC A ?
A figu ra de corpo, aplicada a Jesus, se acha em Col.
2:17 —• «Ninguém vos julgue pelo comer ou pelo beber, ou
por causa dos dias de festa, ou de lua nova, ou dos sábados,
que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cris­
t o ». Naturalmente, não é ao pé da letra que se fala de Je­
sus, ou como cabeça ou como corpo. N o sentido em que
seja cabeça, êle não é corpo: e no sentido em que seja corpo,
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 131
não é cabeça. Linguagem figurada, figurativamente se in­
terpreta. Aqui o contraste é entre o corpo e as sombras que
lança. O corpo é a realidade. As cerimônias da religião,
seus símbolos de dias ou de atos, não passam de sombras.
A sombra nada é: não sustenta pêso, não carrega valores
nem vale para alimentar, curar, ou educar. Profunda li­
ção. A realidade, o corpo, é de Cristo. As cerimônias do
cristianismo formal são lançadas por êle. O batismo é som­
bra da sua sepultura e ressurreição. A ceia é sombra de
seu corpo e seu sangue redentivo. O domingo é sombra da
ressurreição — mas nada disso salva. Toda a realidade,
graça, fôrça e salvação é de Cristo. Êle é o corpo: o ritual
é mera sombra.
17. N E S T A M ESM A CONEXÃO, Q U A L O V A L O R DE
JESUS CRISTO COMO REFO RM AD O R D A R E V E ­
LAÇ ÃO PRO G RESSIVA EM QUE ÊLE E N TR O U E
QUE COM PLETOU?
Lemos em Heb. 9:10 (seguindo a tradução da margem)
— «dons. . . sacrifícios.. . manjares, bebidas e várias ablu-
ções è justificações da carne, IM PO STAS ATE* AO T E M ­
PO D A R E F O R M A ». Todo o sistema mosaico já ia cadu­
cando, quando esta Epístola foi escrita, tãrvez em 66-68, nas
vésperas da destruição de Jerusalém e do templo. A senten­
ça divina contra o regime judaico foi dada no dia do Cal­
vário, quando Deus rasgou o véu do Santo dos Santos. O
cumprimento desta sentença veio 40 anos depois com o fim
da teocracia sacerdotal de Israel. Assim Jesus reformou a
revelação. A lei cerimonial de Moisés foi revelação divina
para Israel, até a vinda de Jesus. N a sua cruz Jesus aboliu
o inteiro regime levítico. E ’ a reforma que êle fez, anulando
a Velha Aliança e inaugurando a Nova Aliança, em pleno
v ig o r .
Eis o que fêz nosso Reformador: «Havendo riscado a
cédula que era contra nós nas suas ordenanças. . . a tirou
do meio de nós, cravando-a na cruz», Col. 2:14. Isso abran­
ge também o inteiro sistema de sábados, v. 16. O judaismo
total foi varrido inteiramente do reino de Deus. Isso fêz
nosso Reformador, na grande Reforma do Calvário, teste­
munhada e esclarecida no Novo Testamento. Jesus é o nos­
so Reformador. Não queremos outro. Os reformadores pro­
testantes, e o clero de Roma, recusaram a Reforma de Je­
sus. Dizem que não havia solução de continuidade na histó-
132 DOUTRINAS
ria da Ig re ja . A teocracia de Israel e a «Ig r e ja Cristã» é
a mesma coisa, na opinião protestante. A circuncisão ape­
nas mudou-se para o batismo infantil, a páscoa para a eu­
caristia, o sacerdócio judaico para sacerdotes paramentados
cristãos, o governo dos presbíteros em Israel para govêrno
presbiteriano hoje, aspersões levíticas para uma aspersão
erradamente chamada batismo, o sábado judaico para o sá­
bado cristão, a união de Ig re ja ê Estado em lugar da Teo­
cracia, o ano eclesiástico em lugar do ano de festas de Is ­
rael, altares lã e cá como centros de culto, Ig re ja Nacional
em lugar da nacional Congregação de Israel, a fam ília a uni­
dade religiosa, depois de Cristo como antes, etc., etc.
Os batistas votaram seguir a Reform a de religião que
fê z nosso Reform ador Jesus. E ? nosso único Reformador.
N ão somos protestantes, e não queremos dar nova validez
a todas essas ordenanças que Jesus «cancelou» no Calvário
— não fazem parte do cristianismo de Cristo nem tem subs­
titutos. O Cristianismo de Cristo é o «vinho novo em novos
odres» — é tudo novo, espírito e forma, interior e exterior,
experiência e expressão simbólica, igrejas, batismo, ceia e
tudo, M ar. 2:22.
Nunca digamos que tôdas as denominações evangélicas
são a mesma coisa. Os batistas insistem em os direitos de
Cristo em seu próprio Cristianismo. Isto muitos outros lhe
negam, doutrinando essas tradições de papas e reformadores
que invalidam o culto, assim prestado em desobediência e
falsa doutrina.

18. QUE PO SIÇ ÃO O C U PA A G O R A JESUS, P A R A CO­


NOSCO, E M R E L A Ç Ã O Ã QUE JOÃO B A T IS T A
OCUPOU P A R A COM JESUS?
Precursor. Como João veio preparar a entrada de Je­
sus na terra, este foi preparar-nos lugar, mesmo nossa en­
trada no céu, João 14:1-4; «Jesus nosso Precursor, entrou
por nós» além do véu, e esta esperança temos como «ânco­
ra da alma, segura e firm e», Heb. 6:19, 20. Que sublime cer­
teza e alegria cristã!

19. Q U E V A L O R E S R E G IS T A A E P ÍS T O L A A O S HE-
BREU S P A R A NOSSO S A L V A D O R ?

A palavra chave da Epístola é «m ais excelente», 1:4;


A DOUTRINA BATISTA SÔ BRE... CRISTIANISMO 133
ou «m elhor», 6:9; 7:7, 19, 22; 8:6; 9:23; 10:34; 11:16, 35, 40;
12:24. N o cristianismo, tudo é melhor do que no judaismo
que Jesus, nosso Reformador, aboliu, «cancelou» e «rem o­
veu » inteiramente. Assim Jesus é o Filho superior a anjos
que deram a lei; outorga melhor descanso que Josué; é Se­
nhor em sua casa, sendo Moisés apenas servo; é melhor Sa­
cerdote, melhor Sacrifício, sob melhor Aliança, sendo m e­
lhor Mediador, «grande Pastor das ovelhas». A leitura desta
Epístola expande para novos horizontes nosso entendimento
do lugar de Jesus no seu cristianismo.

20. E ’ NOSSO D E V E R C O N H EC ER, E M G R A T A A D O -


R A Ç A O , TU D O QUE E STE S T ÍT U L O S , N O M E S E
R E V E LA Ç Õ E S D E C R ISTO N A E S C R IT U R A T E S T I­
F IC A M DOS V A L O R E S D E JESUS C R IS TO N O SEU
C R IS T IA N IS M O P U R O ?

Precisamente. A nossa santificação se realiza por «cres­


cer na graça e no C O N H E C IM E N T O de nosso Senhor Jesus
Cristo», I I Ped. 3:18. A Bíblia o revela com 150 títulos de
valor no cristianismo. Cresçamos em conhecê-lo em todos
estes aspectos do seu divino caráter e amor redentivo. Esta
é a doutrina de Cristo, segundo a Escritura, como revelada
em seus nomes. (Como apêndice, damos uma lista dêsses
títulos e seu sentido evangélico)

T ÍT U L O S E V A L O R E S QUE JESUS C R IS TO T E M NO
C R IS T IA N IS M O REVELAD O

O A lfa , da revelação divina — A poc. 1:8, 11; 21:6; 22:13.


O Am em — I I Cor. 1:20; A poc. 3:14.
A A rca da Aliança — Apoc. 11:19; 21:22.
A A rvore da Vida — Apoc. 2:7; 22:2, 14.
O Segundo Adão — I Cor. 15:45.
O Apóstolo — Heb. 3:1.
O Au tor da Salvação — Heb. 2:10; 5:9.
Nosso Advogado com o Pai — I João 2:1.
A Aurora do A lto — Luc. 1:78.
O A u tor da F é — Heb. 12:2.
A Ancora da A lm a — Heb. 6:19.
134 DOUTRINAS
O A n jo do Senhor — Êx. 3:2; Jui. 13:15.
O Anjo da face — Is, 63:9.

O Bispo de nossas almas — I Ped. 2:25.


O Brago do Senhor — Is. 51:2; 53:1.
O Bem-aventurado e único Senhor — I Tim . 6:18.
Os Bodes Expiatórios da cerimônia de L e v . 16:5-34.

O Cristo de Deus — Luc. 2:26; 9:20.


O Capitão de nosa salvação — Heb. 2:10.
O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo — João
1:29, 36.
A Cabeça da Ig re ja — E f. 5:32; Col. 1:18.
A Cabeça do Universo em prol da Ig re ja — E f. 1:22.
O Conselheiro — Is . 9:6.
O Conselheiro de Deus — Zac. 13:7.
O Consumador da fé — Heb. 12:2.
O Comandante — Is. 55:4.
A Consolação de Israel — Luc. 2:25.
O Condutor do Povo — M at. 2:6.
O Cetro Real — Gên. 49:10,
O Caminho — João 14:6; Heb. 9:8.

O Dono de tudo, sendo nós seus mordomos — (as parábolas


da m ord om ia).
Deus — João 1:1.
Deus bendito para sempre — Rom . 9:5.
Senhor Deus Todo-Poderoso — A poc. 15:3.
Deus forte — Is. 9:6.
O Verdadeiro Deus — I João 5:20.

Emanuel (Deus conosco) — Is. 7:6; M at. 1:23.


A Escada de Jacó, que liga céu e terra — Gên. 28:12;
João 1:51.
O Escolhido de Deus (E leito) — Is . 42:1.
A DOUTRINA BATISTA SÒBRE... CRISTIANISMO 135
A Estrela Brilhante da manhã — Apoc. 22:16.
O E U SOU — Êx. 3:14; João 8:58.

O Filho de Deus — João 1:49; Luc. 1:35.


O Filho de D avi — M at. 9:27.
O Filho do homem — João 5:27; 6:27.
O Fiador de melhor aliança — Heb. 7:22.
O Filho do Altíssim o — Luc. 1:32.

A Geração de D avi — Apoc. 22:16.


O Governador de Israel — M iq. 5:2.
O Grande Sumo Sacerdote — Heb. 4:14.
A Glória de Jeová — Is. 40:5.
O Guia — M at. 2:6.

O Herdeiro de tôdas as coisas — Heb. 1:2.


Jesus Cristo, Homem — I Tim . 2:5.
Homens de dores e experimentado nos trabalhos — Is. 53:3.

I
Intercessor por nós — Rom . 8:34.

Jesus — salva seu povo dos pecados — M at. 1:21.


Jeová — justiça nossa — Jer. 23:6.
O Juiz de Israel — M iq. 5:1.
O Juiz do mundo — A t . 17:31.
O Juiz dos vivos e mortos — A t. 10:42; I I Tim . 4:1.
Nossa justiça — I Cor. 1:30.

Ünico Legislador, único Juiz — Tiago 4:12; Is. 33:22.


O Leão da tribo de Judá — Apoc. 5:5.
O Libertador Poderoso — Luc. 1:59.
136 DOUTRINAS
A Luz do mundo — João 8:12.
O Libertador — R om . 11:26.
M

O único M ediador entre Deus e os homens — I T im . 2:5.


O M ensageiro da A lian ça — M al. 3:1.
O M estre de nossas mentes — João 13:13.
O M onarca de nossas consciências — Jud. 4; I T im . 6:15.
O Messias — João 1:41.
O M aravilhoso — Is . 9:6.
O M aná — João 6:32-35.
O Mediador de um N ovo Testamento — H eb. 9:15.

O N azareno — M at. 2:23.


O N om e que é sobre todos os nomes — F il. 2:9; A t . 5:28,41.

O ôm ega da revelação — A poc. 1:8; 21:6; 22:13.


O Outro Consolador, A lte r E go do Espírito Santo — João
16:14.
A Oblação única, nunca repetida e que tira o pecado —■
H eb. 10:14, 18.
A Ovelha Muda diante dos seus tosquiadores — Is . 53:7, 8;
A t . 8:32.

O Bom Pastor — João 10.


O Príncipe da P a z — Is . 9:6.
O Paráclito no céu — João 14:6; I João 2:1.
O Prim ogênito de M aria — M at. 1:25.
O Prim ogênito dentre os mortos — Col. 1:28.
O Prim ogênito dos mortos — A p oc. 1:5.
O Prim ogênito entre muitos irmãos — Rom . 3:29.
O Prim ogênito de tôda a criação — Col. 1:15.
O Sumo Pastor — I P ed . 5:4.
O Princípio da criação de Deus — A p oc. 3:14.
O P ão da Vida —■ João 6:35, 38.
A Principal Pedra A n gu lar — I Ped. 2:6.
A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 137
A Porta das Ovelhas — João 10:7.
O Pai da eternidade — Is. 9:6.
O Primeiro — Apoc. 1:17; 2:8.
Nosso Precursor no céu — Heb. 6:20.
Príncipe e Governador dos povos — Is. 55:4.
O Possante de Jacó — Is. 60:16.
Nossa Páscoa — I Cor. 5:7.
O Príncipe da Vida — A t. 3:15.
O Príncipe dos reis da terra — Apoc. 1:5.
O Profeta — Luc. 24:19; João 7:40.

Q
R
O Renôvo — Jer. 23:5; Zac. 3:8; 6:12.
O Rei da Entrada Triunfal — Mat. 21:5.
O Rei de Israel — Jer. 1:40.
O Rei dos Judeus — Mat. 2:2.
O Rei dos Santos — Apoc. 15:3.
O Rei dos Reis — I Tim . 6:15; Apoc. 17:14.
O Rei da justiça, Rei da Paz — Heb. 7:2.
Resgate — Mar. 10:45; I Tim. 2:6.
O Redentor —■ Jó 19:25; Is. 59:20; 60:16.
A Ressurreição e a Vida — João 11:25.
A Rocha espiritual de refrigério a Israel no deserto — I
Cor. 10:4.
A Raiz de Davi — Apoc. 22:16.
A Raiz de Jessé — Is. 11:10.
O Reformador que aboliu o provisório e preparatório no Ve­
lho Testamento e, pelo seu ensino e seu Espírito, nos
deu o Novo Testamento — Heb. 9:10; Mat. 5:17-20, e
vs. 27-32; 33-37; 38-42; 43-48; Col. 2:14, 16, 17;
Heb. 7:12.
A Rosa de Saron — Cânt. 2:1.
O Revelador do Pai — João 14:9; Mat. 11:21.

O Salvador do mundo — João 4:42.


O Santo Ser — A t. 3:14; Sal. 16:10; Luc. 1:35.
Nossa Santificação — I Cor. 1:30.
O Santo de Deus — Mar. 1:24.
138 DOUTRINAS
O Santo de Israel — Is. 41:14.
O Senhor da Glória — I Cor. 2:8.
O Senhor de todos — ■ A t . 10:36.
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo — I I Ped. 2:20; 3:18.
O Servo Sofredor — Is. 41:2; 53:13.
O Sol da justiça — M al. 4:2.
A Serpente levantada — João 3:14.
O Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque — Heb.
5:6, 10; 6:20; 7:1-21.
O Sacrifício único e eficaz — Heb. 9:26; 10:12.
O Substituto sobre quem Deus fêz cair as nossas iniquida-
des — Is. 53:4-6; I I C or. 5:21; I Ped. 2:24.
O Santuário de Deus — João 2:18-22.

A Testemunha fiel — Apoc. 1:5; 2:14.


Testemunha aos povos — Is. 55:4.
O Templo dos redimidos no céu — Apoc. 21:22.

O Unigênito do Pai — João 1:14.


Unigênito Deus — João 1:18.
Unigênito Pilho — João 3:16; Sal. 2.
O Ungido (Cristo) como Profeta, Sacerdote, Rei — A t. 4:
27; 10:38; Heb. 1:19.

A Verdade — João 14:6.


A Vida — João 14:6.
O Verbo — João 1:1.
A Vide Verdadeira — João 15:1.
O Verdadeiro Deus — I João 5:20.
A Vida Eterna — I João 5:20.
O Verbo de Deus — A opc. 19:13.
O Verbo da Vida — I João 1:1.
O Véu — Heb. 10:20.

N a sua própria língua a primeira letra da palavra Cristo é X.


A DOUTRINA BATISTA SÔBRE... CRISTIANISMO 139
Z

O Zelador das igrejas — Apoc. 1:3.

Alguns dêstes nomes ou títulos do Salvador são, tècni-


camente falando, tipos, como o maná. Outros, são elementos
de profecia messiânica, ou de interpretação do trabalho de
Cristo antes de sua encarnação. E há muitos outros tipos
de Cristo — é nosso Josué, de Hebreus 4; Isaque daquele sa­
crifício do Monte Moriá, outros patriarcas e os reis de Is­
rael, e Israel mesmo, às vêzes.

A G R U PAN D O OS NOMES

Fases da natureza de Cristo são indicadas pelos títulos:


Deus, Verbo, Filho Unigênito, Pai Eterno, Filho de Deus,
Filho do homem, Homem, Emanuel, etc.
Sua humanidade é salientada pelos títulos: Homem,
Primogênito de Maria, Filho de Davi, Geração de Davi, H o­
mem de dores, Jesus, Messias, Nazareno, Primogênito entre
muitos irmãos, o Profeta, o Sacerdote, o Rei, etc.
Sua autoridade divina é salientada por frases e títulos
como: Senhor, ünico Legislador, Mestre (que é muito mais
que professor), Reformador, Revelador, A Verdade, A lfa e
ômega, Autor da Fé e seu Consumador, a Cabeça da Ig re ­
ja, o Conselheiro, o Comandante, o Guia, o Pastor, o Juiz,
o Profeta, a Testemunha Fiel, etc.
Que significa Jesus para nossa salvação, é indicado pe­
los títulos e nomes: Jesus, Salvador, Cordeiro de Deus, bo­
des expiatórios, oblação, sacrifício, páscoa, Servo Sofredor,
o Caminho, o Intercessor, nossa Justiça, o Libertador pode­
roso, ünico Mediador, o Mensageiro da Aliança, o Mediador
de um Novo Testamento, o Pão da Vida, a Vida, a Vida
Eterna, a Porta das Ovelhas, a Principal Pedra Angular,
Nosso Precursor no céu, o Resgate, o Redentor, Nossa San­
tificação, a Serpente levantada, o Sacerdote segundo Mel-
quisedeque, o Substituto, o Véu, o Cristo etc.
O lugar de Jesus no universo é indicado pelos títulos:
Deus, Senhor, Verbo, Pai das luzes, o Criador, a Cabeça do
Universo, EU SOU, a Escada de Jacó, o Herdeiro de tôdas
as coisas, o Juiz do mundo, a Luz do mundo, o Maravilho­
so, Témplo dos redimidos no céu, etc.
140 DOUTRINAS
O que Jesus fo i para Israel, e agora é para o Israel de
Deus que se compõe de todos os salvos (R o m . 2:28, 29; F il.
3:3; G ál. 6:16; H eb. 12:18-24, e t c .) se vê nos seguintes t í­
tulos: Messias, Cristo, o P rofeta, o Sacerdote, o Hei, o Ser­
vo Sofredor, a Consolação de Israel, o Cetro real, o Filho
do homem (não m ero filho de um homem, pois Jesus é «n as­
cido de m u lh er»), mas o grande título messiânico para Is ­
rael, com toda a glória das visões de Daniel, é: O F IL H O
DO H O M E M nenhuma referên cia tendo a frase para a
m era origem humana do Messias; o Juiz de Israel, o Leão
da tribo de Judá, nossa Páscoa, o Possante de Jacó, a R a iz
de D avi, a R a iz de Jessé, o Reform ador, a Rosa de Sarom,
o Santo de Israel, o Ungido, etc.
Os títulos que indicam o que Jesus é para suas ig r e ­
jas bíblicas e para com a Ig r e ja Geral (sentido m etafórico
da palavra ig re ja e que abrange todos os salvos de tôdos os
séculos, como destinados a congregar-se com Cristo no
c é u ): a Cabeça do U niverso para a Ig re ja , o Zelador dos
candieiros de ouro, o Bispo, o Sumo P astor (há muitos pas­
tores sob sua chamada e direção), a P ed ra Angular, o Se­
nhor, o Dono, o ünico Legislador, o Reform ador, a T este­
munha Fiel, o Profeta, etc.
O que estes títulos do Senhor revelam sôbre sua m orte
redentora no C alvário se v ê nas frases: Cordeiro de Deus,
Oblação, Servo Sofredor, Sacrifício, S acerdote. Os bodes
expiatórios, Fiador, Messias, Páscoa, R esgate, A Serpente
levantada, Salvador, Substituto, o Santuário de Deus, o
Véu, etc.
E m erece ainda muito estudo o que os nomes de Cristo
revelam sôbre sua missão como revelador, verdade, nosso
exemplo, seu reino (o domínio que êle tem na vida dos re ­
generados e as grandes realidades que êle produz em nossa
vida cristã ), o mundo, a ressurreição, o véu, etc.
C A P ÍT U L O X II

A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO
1. A S A N T IF IC A Ç Ã O E ’ P A R T E V IT A L D A D O U TR IN A
E E X P E R IÊ N C IA C R IS TÃ ?

Sim, indubitavelmente. «Esta é a vontade de Deus, a


vossa santificação», I Tess. 4:3. «Segui a paz com todos, e
a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor», Heb.
12:14. O apóstolo Paulo escreveu de «salvação, em santifi­
cação do Espírito e fé na verdade», I I Tess. 2:13. Vemos,
pois, que a santificação faz parte da experiência de ser sal­
vo, sem a qual nunca veremos em paz a face do Senhor, que
é a vontade de Deus para nossa vida; e deve ser diligente­
mente seguida por cada um de nós por tô-da a vida na terra.

2. A S A N T IF IC A Ç Ã O E> D O U T R IN A B A T IS T A ?

Sim, é uma das doutrinas fundamentais das igrejas ba­


tistas, uma em que pomos mais ênfase, e cujos aspectos
práticos cultivamos em lares, igrejas e indivíduos, no púlpi­
to e na literatura e na fé pessoal. Nossos «A rtigos de fé »
resumem assim o que os batistas, em geral, ensinam a res­
peito

AC Ê R C A D A S A N T IF IC A Ç Ã O : 20

«Cremos que a santificação é o processo pelo qual so­


mos feitos participantes da santidade de Deus, segun­
do a sua vontade; que ela é uma obra progressiva que
começa na regeneração, e que é levada avante nos
corações dos crentes pelo poder e operação do Espíri­
to Santo, o Confortador e o Penhor da herança eter­
na, e pelo uso contínuo dos meios designados, especi­
almente a Palavra de Deus, exame próprio, abnegação
própria, vigilância e oração».

3. Q U A L A P R IN C IP A L D IF E R E N Ç A E N TR E E S T A E
O U TRAS D O U TR IN A S DE S A N T IF IC A Ç Ã O ?
142 DOUTRINAS
E ’ nas palavras: «processo», «progressiva, «contínuo».
São palavras que esclarecem a diferença entre doutrina ba­
tista e o ensino de muitos outros grupos. A santificação
sempre começa na regeneração, nunca numa «segunda bên­
ção» subsequente. E ’ a experiência de todos os crentes, não
apenas de uma casta emocionada, numa vida de beatas, ou
de extremistas de qualquer outra espécie.

4. ONDE SE V IV E E S T A V ID A S A N T A ?
Nas igrejas bíblicas é que se acha a vida cristã normal,
no uso dos «meios designados», já mencionados acima. E'
a vida santa, de obediência a Cristo, na comunhão e ativi­
dade da igreja de que alguém é membro. Quem nos procu­
ra desviar desta vida santa e operosa, quer nos explorar, e
nos tentar para aventuras que só findarão em escândalos ou
em desilusão e castigo divino. Não houve em nossos dias
um homem mais santo é operoso do que o grande mestre da
Bíblia, o dr. Sampey. Disse-me êle: «Se um homem não é
bom cristão em sua própria igreja, onde é membro, não é
bom cristão em lugar nenhum». Deus fêz igrejas precisa­
mente para serem o campo de treinamento na santidade.
Desviar-nos da vontade divina aí, é repudiar a própria dou­
trina do Novo Testamento sobre a vida santa.

5. E S T A D O U T R IN A B A T IS T A DE S A N T IF IC A Ç A O E’
C O M P LE T A E D A ’ S A L U T A R E S R E S U LTA D O S ?

Não enxergo na vida religiosa deste século, ou' de qual­


quer outro, uma doutrina de santificação tão completa ou
de fruto maior, mais doce e madura. A doutrina batista de
santidade magnífica tôda a Trindade: muitas outras dou­
trinas a respeito só falam no Espírito Santo e fazem com
que seja eclipsado Jesus Cristo. Esta doutrina abrange to­
dos os crentes, não apenas um pequeno grupo especial, emo­
cionado e às vêzes sugestionado, confundindo a energia da
carne com o poder do Espírito. A doutrina verdadeira de
santificação envolve a vida cristã inteira, não apenas uma
segunda obra de graça, per saltum! Sendo que a verdade é
o meio e a esfera da santidade, a doutrina batista insiste
em que tôda a doutrina bíblica é boa, santificadora, prática
e salutar. «Tôda a Escritura é útil» — não meramente uns
ensinos prediletos que um grupo determine classificar de
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 143
«fundamentais». Deus não nos autorizou separar entre as
verdades e os deveres que ele impõe à conciência pela reve­
lação. Tudo tem seu fim ; para êste é essencial. E há santi­
dade em crer tudo que Deus nos revelou para crer, e em fa ­
zer tudo que nos ordenou em Jesus Cristo, pessoalmente, ou
no Novo Testamento, pela agência dos seus apóstolos, ins­
pirados pelo Espírito Santo.

6. QUE S IG N IF IC A A S A N T IF IC A Ç Ã O ?

E ’ a separação do crente em Jesus Cristo, por obra e


graça do Espírito Santo, para Deus, mediante a verdade e
a consagração. Suas duas idéias supremas são separação e
dedicação. Ambas são positivas — separar-nos totalmente
para Deus, em cumprimento do seu propósito em nossas v i­
das, segundo a Palavra.

7. N Ã O H A ’ TA M B É M ASPE C TO S N E G A T IV O S D A S A N ­
T IF IC A Ç Ã O ?

Sim, há atitudes inevitavelmente negativas. A santi­


dade reage contra a carne (a natureza não regenerada, ine­
rente a todos os homens, crentes e incrédulos, por pertence-
rermos à raça decaída e depravada de Adão — natureza
esta que não é destruida pela regeneração mas necessita de
ser «m ortifiçada» por tôda a vida cristã), contra o mundo
(a vasta comunidade humana sem Deus, juntamente com
suas atitudes, seus modos de pensar e agir, suas filosofias
de especulação intelectual, ideologias, e religião só para esta
vida), e contra o diabo (que estimula a carne e rege o mun­
do) . A santificação, pois, é obra da Trindade, e nos põe ao
lado de Deus, em seu conflito com o mal e no estabelecimen­
to do seu reino.

8. Q U A L O N O M E DO POVO D E DEUS QUE E X P R E S ­


S A E M A N IF E S T A O F A T O D A S A N T IF IC A Ç Ã O
COMO E LE M E N T O D A S A L V A Ç Ã O DE TODOS OS
CRENTES, P R E S E N T E D U R A N T E TÔDA. A V ID A
C R IS T Ã DE TODOS OS S A LV O S ?
O grande nome do povo de Deus é SA N TO S. Descreve
os que são de Deus assim no Velho Testamento como no
Novo Testamento. Por Moisés, Deus afirmou: «Vós me se-
144 DOUTRINAS
reis um reino sacerdotal ’e povo santo», Ê x. 19:6. Ana, mãe
de Samuel, cantou: «Os pés dos seus santos guardará»,
I Sam. 2:9. Salomão orou: «O s teus santos se alegram do
bem», I I Crôn. 6:41. V inte e uma vêzes os Salmos falam
de «Santos», e até da «congregação dos santos», três vêzes,
Sal. 89:5, 7; 149:1. Salomão, de novo fala de Deus guardar
o caminho dos santos, P ro v . 2:8. E Daniel e outros profe­
tas falam também dos santos do seu tempo e dos das eras
messiânicas que predizem. Vêde ainda L ev. 11:44. («sereis
santos, porque eu sou s a n to »); 19:2; 20:7; Núm . 15:40; E z.
36:38, etc. E, no N ovo Testamento, as Epístolas são endere­
çadas a igrejas que são compostas ünicamente de «santos».
Mateus, Marcos, Lucas, João, Ananias, Paulo, Pedro, Judas,
e a Epístola aos Hebreus adicionam suas vozes ao sublime
coro da Trindade e dos profetas, em dar ao povo de Deus o
nome de santos, nosso ideal, nosso espírito e nosso destino.

9. QUE E ' U M S A N T O ?

E ' qualquer crente genuíno, separado para Cristo.

10. Q U A IS A S PE R V E R SÕ E S P O P U L A R E S DO TÊ R M O ?
São três. 1) Roma canoniza alguns, para serem obje­
tos de culto nos seus altares, intercessores nos céus, media­
dores entre Deus e os homens. Chama-os «S ão», «Santo»,
«S a n ta ». O Mediador é um só; é idolatria, segundo a lei
moral, fa zer genuflexões ou dar culto a imagens; e os santos
do cristianismo genuíno não são meros defuntos. Todo cren­
te é santo, e o papa não tem voz alguma nisto. O Espírito
Santo é quem santifica, quando cremos e depois, progressi­
vamente, nesta vida. N ão é tarefa que seja cabível a uma
Congregação da Cúria Romana no Vaticano. Aquêle pre-
claro intérprete das Escrituras, o dr. A .T .R ob ertson , reco­
menda aos pastores e aos crentes todos que deixemos dêsse
romanismo mental que diz: «S ã o » Pedro, «S ã o » Paulp, etc.
«N ã o existe a mínima autoridade nos manuscritos (do N ovo
Testamento na língua origin al) que nos autorize a dizer:
São Mateus, um costume católico romano observado por al­
guns protestantes». (W O R D P IC T U R E S I N T H E N E W
T E S T A M E N T , Vol. 1, p ág. X I V ) . Nossos santos são vivos,
não defuntos canonizados. 2) O segundo sentido errado do
têrmo o fa z significar: imaculado, perfeito, sem pecado. A
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 145
palavra não quer dizer isto, mas sim a separação para Deus.
Todo o perfectionismo ou pentecostalismo é um cristianismo
falsificado, neste ponto, como veremos adiante. Ofende a
Deus. 3) Uma idéia popular, no mundo e entre os crentes
mundanos, é que «santo» significa tristonho, hipócrito, as­
cético, inimigo da alegria, «santinho», «beata», «santarrão».
E ’ uma caricatura. Jesus é o ideal que o homem santo al­
m eja seguir, e há em Jesus uma perfeita naturalidade. Era
amigo dos homens, sabia brincar com as crianças, gostava
de acompanhar os pescadores, banquetear com os festivos e
peregrinar com os felizes. A Bíblia diz que Deus o «ungiu
com óleo da alegria acima de seus companheiros», Heb. 1:9.
Temos de manter a palavra SAN TO no seu sentido que foi
firmado no Novo Testamento. E ’ o nome de todos os cren­
tes: significa que são de Deus. «N ão sou meu» — «eu per­
tenço ao bom Jesus».

11. QUANDO COM EÇA A NO SSA S A N T IF IC A Ç Ã O ?

N a fé. «N a regeneração», diz o artigo da fé citado aci­


ma. Que ensina a Bíblia? A firm a isto também. Jesus dis­
se o mesmo a Paulo quando o salvou e chamou, lá fora de
Damasco, sendo suas últimas palavras, na ocasião: «os santi­
ficados pela fé em m im », A t. 26:18. Paulo indagou a um
grupo em Éfeso: «Recebestes vós já o Espírito Santo Q U A N ­
DO C R E S TE S ?», A t. 19:2. Quem não recebe o Espírito
Santo quando se torna crente, nunca o recebe. Não há fé
sem o Espírito Santo e não há no coração de ninguém o E s­
pírito Santo sem f é . Entram na salvação no mesmo ins­
tante: são os elementos divino e humano na experiência da
graça redentora. Portanto, Paulo admoesta aos gálatas:
«Tendo começado pelo (grego — no) Espírito», não devem
ser desviados para o cerimonialismo dos judaizantes. Nossa
vida cristã começa na obra do Espírito Santo em nós. Ele
nos visita e produz primeiramente a convicção do pecado,
por não sermos crentes em Cristo, João 16:9; então, por seu
poder, nos constrange ao arrependimento e à fé, que consti­
tuem o lado humano da salvação. Tudo é acompanhado e
realizado pela obra simultânea da regeneração. Recebemos
submissos, a uma vez, a Deus como Pai, a Cristo como Sal­
vador e ao Espírito Santo que nos regenera. A Trindade
não é dividida, para ser recebida em parcelas. Quem tem o
Filho tem o Pai e o Espírito; e «quem tem o Filho, tem a vida

D — 10
146 DOUTRINAS
eterna», de que o Espírito é o Autor divino, em união com
os nossos espíritos. A doutrina de que o Espírito é recebido
numa segunda etapa da salvação, está em êrro fundamen­
tal; desviou-se do evangelho na sua pureza, e está ludibri­
ando os incautos que repudiam a Bíblia e seguem semelhan­
te ê rro .

12. Q U A L A R E L A Ç Ã O D E CRISTO COM Ê S TE A S P E C ­


TO D E S A N T IF IC A Ç Ã O QUE E ’ IN S T A N T Â N E O E
C O N T E M P O R Â N E O COM A R E G E N E R A Ç Ã O E COM
A F E ’ SALVAD O RA?
E* grande e muita, em todos os sentidos. A união com
Cristo é notável doutrina do N ovo Testamento, é obra do
Espírito em nós, e é dom da graça, recebida na salvação de
quem crê em «Jesus Cristo, o qual para nós fo i feito por
Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção», I Cor.
1:30. A base objetiva da santificação é Cristo, a favor de
nós, no Calvário, Êle «se santificou» (separou-s'e e dedicou
sua pessoa divino-humana afim de ser o sacrifício indispen­
sável para a expiação dos nossos pecados, para que Deus
pudesse ser «justo e o justificador daquêle que crê em Je­
sus») . Assim Jesus visou que nós, unindo-nos com êle e as­
similando pela fé o valor e as realidades do seu sacrifício,
também fôssemos santificados. E isto Êle declarou na sua
oração pontificai, em João 17:17. O valor eterno deste sa­
crifício santificado nos é dado, uma vez para sempre, quan­
do cremos. E ' contemporânea esta fase de santificação com
a regeneração e a justificação, e a Epístola aos Hebreus, es­
pecialmente, ensina esta verdade: «O que santifica (é Jesus,
segundo o contexto) como os que são santificados, são todos
de um, por cuja causa não se envergonha de lhes chamar
irm ãos». «N a qual vontade temos sido santificados pela
oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma v e z ». «Porque
com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são
santificados» — nossa perfeição tôda é Cristo, assim cohio
êle é fe ifo para nós «justiça, santificação e redenção, para
que, como está escrito: Aquêle que se gloria, glorie-se no
Senhor». Acautelai-vos «dos que andam dizendo: «Eu, eu,
e u .. . eu não pequei por dez anos, dez lustros, ou mesmo
dez m inutos». Essa atitude de gabar de si é pecado e vai­
dade humana. «A Q U Ê L E QUE SE G L O R IA , G LO R IE -SE
NO S E N H O R »! M agnificai o Cordeiro ê seu sacrifício no
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 147
Calvário. «P o r isso também Jesus, para santificar o povo
pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta». Repito:
«tem os sido santificados pela oblação do corpo de Jesus
Cristo, feita uma vez», e assim somos tanto justificados,
como santificados, em nossa posição diante de Deus em
Cristo, U M A V E Z P A R A S E M PR E . E ’ por isso que dizemos
que a santificação começa pela fé, nesta fase instantânea de
valor eficaz e eterna perante Deus, do sacrifício de Cristo
por nós. Lêde Heb. 2:11; 9:13; 10:10; 14; 13:12. Nunca
aceiteis uma doutrina falsa de santificação em que Cristo
esteja eclipsado e os vaidosos de sua própria «vid a vitorio­
sa» vão dizendo: «Eu, eu, eu,».

13. A QUE SE PO D E C O M P A R A R E S T A F A S E DE S A N ­
T IF IC A Ç Ã O ?

A o título de um imóvel. O crente é como uma proprie­


dade que Deus comprou. Pagou o preço, esta «oblação» de
seu Filho no Calvário. Obteve ali o título a nós, e a tudo
que somos e temos. Isto foi de uma só vez. E tem valor
permanente. Agora, na posse do que comprou, êle vai de­
senvolvendo, cultivando, enriquecendo e tirando o proveito
do que é dêle. Esta é a fase progressiva da santificação — o
crescimento na graça e no conhecimento do Senhor, o «fru ­
to do Espírito» e muitos outros elementos da espiritualidade
crescente, a mordomia de tudo que somos e temos. Coope­
remos com Deus nisto. «Assim também operai a vossa sal­
vação», (isto é: desenvolvei-a; já é vossa; o título é bom; o
preço foi pago; cooperai em desenvolver, com Deus e para
Deus, as ricas possibilidades de que a vossa salvação é ca­
paz) «com temor e tremor; porque Deus é o que opera em
vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa von­
tade», F il. 2:12, 13. Vamos com a onda divina — não com
a onda humana — na eficácia desta operosidade de Deus
em nós. E ’ a santificação progressiva, firmada, qual rocha
de Gibraltar, na santificação eterna que é Cristo crucifica­
do, doado de uma só vez ao crente.

14. A E S C R IT U R A S A L IE N T A A M B A S E S TA S FA SE S
D A S A N T IF IC A Ç Ã O , A O B J E T IV A E S U B J E T IV A ?
Sim. E* a santificação que Cristo obteve para nós, e a
que o Espírito efetua em nós. E* fase instantânea e eterna
148 DOUTRINAS
assim como é a fase vagarosa e progressiva da santidade;
ambas em coesão, simetria e harmonia.

15. COMO PODEMOS IL U S T R A R E S T A S D U AS FASE S


D A VERDADE?

E ’ assim, pois, a vida, tanto física como espiritual. Co­


memos e bebemos e crescemos, «muitas vêzes e de muitas
maneiras». E ’ tudo vagaroso, progressivo, contínuo, exten­
sivo à vida toda. Nasci, segundo a carne, uma só vez, há 65
anos. F iz agora cálculo de que comi umas 72.000 vêzes, ao
menos, e bebi talvez 103.000 vêzes na vida. O corpo cresce
e fica maduro com uma invisível morosidade. Temos de
cuidar de comida, bebida, exercício, descanso, divertimento,
companheirismo animador, saúde e paz, dia a dia, hora a
hora, de momento em momento. Aparecerá alguém dizendo:
«Isso é morosidade insuportável. L á no restaurante tal, es­
tão dando uma refeição que logo produz, numa só experiên­
cia, todo êste resultado, numa segunda etapa da vida. Como
a primeira etapa era nascer, esta é ficar adulto, maduro, e
alimentado uma vez para sempre. Vamos para lá ». Não vá.
E ’ mentira, insensatez, exploração. Nascemos, de fato, uma
só vez. Mas crescemos invisível, morosa, parcelada, progres­
sivamente. Não admitimos a impaciência com a natureza
morosa do crescimento físico. Pois bem, também não nos
impacientemos com os aspectos graduais, progressivos e
morosos da vida sobrenatural.

16. Q U A L A R E LA Ç A O V IT A L E N T R E A V E R D AD E DE
DEUS E A N O SSA S A N T IF IC A Ç A O ?

Lêde E f. 5:26-27; I Tess. 5:23; João 17:17. Sendo a


verdade instrumental na santificação, ninguém cresce.) na
vida espiritual mais do que sua aceitação e assimilação es­
piritual, das verdades que aprende. E' antl-espiritual a cam­
panha anti-doutrinária em que muitos agora se empreen­
dem, porque não há verdade que não seja nutritiva, fortifi-
eadora, educativa, e santificadora. Ainda lêde I I Ped. 3:18;
I I Cor. 9:8; M at. 11:25; I Cor. 3:1; 13:11; E f. 4:14; e I I
Ped. 1:4-8 sôbre as fases progressivas da santificação, e o
valor da doutrina, da verdade revelada, nesse progresso.
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 149
17. PODEM OS C RESCER A P O N T O D E N Ã O M A IS P E ­
CARM O S ?

Deixemos que Deus nos fale a respeito, na sua palavra:


«S e dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós
mesmos e não há verdade em nós. . . Se dissermos que não
pecamos, fazêmo-lo mentiroso, e sua palavra não está em
nós». Assim o grande apóstolo do amor ensina ( I João 1:
8, 10), e fa la na prim eira pessoa do plural, incluindo-se a si
mesmo entre os im perfeitos. Tiago, santo irmão do Senhor,
escreveu: «Porque todos tropeçamos em muitas coisas», in­
cluindo-se também na afirmação, Tiago 3:1. Salomão, na
oração dedicatória do templo, testificou: «N ã o há homem
que não peque», I I Crôn. 6:36; e Jesus ensinou a mesma tris­
te verdade quando incluiu na oração modelo, para todos os
seus discípulos, o pedido: «Perdoa-nos os nossos pecados»,
M at. 6:12. Jesus recusou ser chamado bom, caso não fosse
reconhecido como Deus, dizendo: «Ninguém há bom senão
um, que é Deus», M ar. 10:18. A bondade humana é falha,
relativa, superficial e parcial, só passando como bom quem
se compara com outros maus. Jesus disse a todos os seus
apóstolos: «S e vós sendo maus», M at. 7:11; Luc. 11:13 —
aliás, incluiu outros com os apóstolos. E ’ o característico
de todos os sêres humanos, ser essencialmente maus, mem­
bros de uma raça unânimemente contaminada e depravada.
Es tu Deus? N ã o ? Então, não és bom, pois «só há um bom,
que é Deus». Os fariseus eram os que se consideravam bons,
nos dias de Jesus, e êsse farisaísmo era a coisa que o Sal­
vador mais solenemente condenava e repudiava. «N ã o há
homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque»,
E cl. 7:20. «S e tu, Senhor, observares as iniquidades, Se­
nhor, quem subsistirá?» (Sal. 130: 3, 4 ). «Quem pode en­
tender os próprios êrro s?» (S al. 19:12). E* a fraqueza dos
enganados advogados dêsse perfectionismo humano. Muitos
dêles são sinceros, mas não entendem seus próprios êrros.
São superficiais em seu juízo de si mesmos.
Aquele santo mestre das Escrituras, o dr. W alter Con-
ner, diz, em seu opúsculo oportuno sôbre «Que é um san­
t o ? » : «Jesus nos previne contra os que já são bons. Seu
alvo é baixo dem ais. . . Se Paulo não tinha alcançado a per­
feição, eu seria incapaz de crer na profissão de qualquer ou­
tro que se julgasse p erfeito . . . é uma fa lta de penetração
150 DOUTRINAS
íntima; é decepção própria quando qualquer pessoa em
qualquer levripo nesta vida finge ter alcançado o alvo da
perfeição.. . Tenho a plena convicção de que qualquer um
que faz a profissão de que alcançou a perfeição, não está
manifestando juízo maduro e espiritual acerca de seu pró­
prio estado». São palavras de um grande conhecedor da
Bíblia e dos homens, varão santo e sábio na genuína espi­
ritualidade .
Isto tudo é uma questão da veracidade de Deus. E' tão
fácil negar a existência de Deus, ou do sol ao meio dia, como
é negar estas muitas Escrituras e inúmeras outras iguais.
Tal doutrina é ultraje contra a majestade divina, pois nega
a veracidade de Deus: «S e dissermos que não pecamos, fa-
zêmo-lo mentiroso, e sua palavra não está em nós». Não
pode haver aqui deferências humanas. Todo crente leal, que
ama a Jesus Cristo c adora o Pai, tem de concluir e teste­
munhar firmemente a todos: «sempre seja Deus verdadeiro,
e todo homem mentiroso», Rom. 3:4. Qual a outra alternati­
va? E ’ a de classificar como veraz o propagandista de sua
própria santidade imaculada mas taxar Deus de mentiroso.
São os únicos alvitres. Escolhei no temor de Deus, certos
de que, quem nega a veracidade de Deus Pai, Filho e Espí­
rito Santo, longe de ser isento de pecado, é um dos mais
atrevidos pecadores na face da terra. O perfectionismo é
uma doutrina de medonhas consequências. Os seus propa-
gandistas perdem suas próprias famílias, em proporção
alarmante, para o evangelho. Dividem as igrejas. Introdu­
zem fogo fátuo no meio, na suposição de que é um aviva-
mento espiritual. Perdem a vida salutar e se impossibilitam
de manifestar a verdadeira santidade e espiritualidade, que
sempre é humilde e confessa suas próprias faltas. Quando
Paulo escreveu a Prim eira Epístola aos Corintios, disse: «Eu
sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chama­
do apóstolo». Cresceu mais na graça e na santidade, e qs-
creveu a Epístola aos Efésios dizendo: « A mim, o mínimo de
todos os santos». Cresceu mais na santidade e escreveu a
Timóteo: «Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores,
dos quais eu sou o principal». Onde há mais luz, podem ser
vistas melhor as partículas de poeira e as manchas. Onde
há maior luz de santidade real, aí há mais humildade e con­
fissão de pecado. E* marca da genuína espiritualidade.
Quem esteja gabando de sua perfeição, de sua isenção de
pecado, de sua santidade imaculada, de sua vida de vitória,
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 151
nem sabe o «A B C » do que é santidade. Engana-se a si mes­
mo e a outros, e nem hesita em ultrajar o Deus bendito, ne­
gando-lhe a veracidade, para fazer sua própria palavra v a ­
ler contra a P alavra de Deus. Acautelai-vos. In form ai a
outros. Zelai pela verdade de Deus.

18. QUE S IG N IF IC A M A S P A L A V R A S D E I JOÃO 3:8-10


E A S P A L A V R A S D E P A U L O SÔBRE A P E R F E IÇ Ã O
R E A L DO C R E N T E N E S T A V ID A ?

Antes de estudar a respeito, firmemos em nosso espírito


que nunca jogarem os uma Escritura contra outra, prom o­
vendo assim vergonhosa guerra civil entre passos na Bíblia
que porventura pareçam contraditórios. E ’ melhor ficar
sem solucionar nossas dificuldades mentais do que assim
irreverentemente resolvê-las por uma solução fácil, mas
fa ls a .
Quando Paulo fala de crentes adiantados como sendo
«p erfeitos», êle quer dizer: maduros, bem desenvolvidos e
experimentados na vida cristã, I Cor. 2:6; 14:20; F il. 3:15.
E, a despeito das nossas imperfeições, sempre tenhamos o
alvo da p erfeição. Devemos ser tão bons como Deus é
bom, M at. 5:48; Rom . 2:2; E f. 2:13; Col. 1:28; 4:12. Em
Cristo temos esta perfeição jurídica «por uma só oblação».
Mas nesta vida nunca a temos em absoluto, I Cor. 13:10,
mas a teremos, quando form os «os justos aperfeiçoados» no
céu. Heb. 12:23. De sorte que, o crente confessa e busca
o alvo da perfeição divina, porém nunca alcança êste alvo
aqui na terra. Mas progride muito, e alcança a relativa per­
feição dos maduros experimentados. Confessa as faltas e
prossegue para o alvo ainda, até o fim da jornada.
H á uma diferença real entre os filhos de Deus e os f i­
lhos do diabo. N ão há terceira classe. A qualidade de vida
mostra a diferença, como João afirm a na sua P rim eira
Epístola (3:8-10). O grego tem um tempo de verbo que in­
dica ação única. N ão é o tempo que aqui João usou. N ão
ensina o apóstolo que o crente não comete um só ato de pe­
cado, não peca nunca, nenhuma vez. Isso seria contraditório
do que êle já dissera no cap. 1. Havia, no grego, um tempo
de verbo que indica ação constante, contínua, repetida, cos­
tumeira, habitual. E ’ o tempo que o apóstolo usa aqui. O
crente, «nascido de Deus, não peca» habitualmente, continua­
mente com curso normal e voluntário de sua vida. Antes,
152 DOUT R I NAS
o rumo costumeiro e normal de sua vida é êste alvo de per­
feição. E ’ a direção em que êle anda, passo a passo, embo­
ra tropece, às vêzes. E esta declaração é veraz, sem contra­
dizer a outra verdade que João havia ensinado.

19. Q U A L A A T IT U D E , D E NO SSA P A R T E , QUE CO­


O P E R A M E LH O R COM ESSAS F A S E S O B JE TIVAS
E SU B JE TIV AS DE CRISTO E DO E S P ÍR IT O S A N ­
TO E M N O SSA S A N T IF IC A Ç Ã O ?

E ’ a fé, a crescente expansão e madureza da fé em


Deus, para todos os fins da espiritualidade e serviço. E ' a
docilidade mental que traz todo o pensamento em cativeiro
a Cristo. E* o cultivo em nós mesmos do fruto do Espírito,
o amor, o gozo, a paz e tôda aquela divina doçura de caráter
e operosidade que Paulo considera em Gál. 5:22, Rom. 12
e em I Cor. 13.

20. Q U A L A D O U T R IN A O P O R T U N A SÔBRE N O SSA


M A N E IR A DE A G IR , COMO PESSO AS S A N T IF I­
CADAS ?

E* a doutrina de mordomia. E ’ por isso que se ouvem


os batistas falar tanto da mordomia. Há grupos sugestiona-
dos que estão buscando fazer a parte divina na santificação,
pelas energias de sua própria carne. Êles se angustiam, v i­
vem no ascetismo tristonho, enfraquecem as forças físicas
com que devem dar a Deus, à família, à pátria, serviço leal.
Tudo fazem para ver se, com essas energias da carne, po­
dem F O R Ç A R a sua santificação da parte de Deus e ter um
PO D E R humano, no domínio sobre outros, para os mesmos
fins carnais da soberba que finge a perfeição dêles, em ne­
gação vergonhosa da veracidade divina. Nós deixamos, em
plena fé, que Deus faça sua própria obra de santificar. Cre­
mos, e assim nos rendemos, submissos e serenos, ao Espíri­
to que unge, guia, e dirige a vida. Alegrem ente sirvamos a
Deus, na comunhão de seu povo obediente, nas igrejas bí­
blicas, conforme a sua Palavra e ensino. Elevemos o alvo
da mordomia, reconhecendo que pertencem a Deus nosso
próprio ser, nossos dons, talentos, salário, capital, lucros,
nossa influência, cultura, vida social, vida doméstica, vida
comercial e tudo mais. Abramos nosso espírito ao Espírito
Santo de Deus, para sermos o que êle quer e fazermos o que
A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO 153
êle manda, na devoção particular, no lar, na sociedade, no
comércio, na pátria e, quando nos couber, na vida interna­
cional da nossa geração e no reino do nosso Deus entre os
crentes. Isto é mordomia, é o lado humano da santificação.
E ’ uma doutrina salutar, santificadora, moral, espiritual, po­
derosa, e, nos melhores sentidos, vitoriosa, com a vitória da
fé . Excelente livro para todos é «N ã o Sou Meu», do irmão
W alter Kaschel. E expressemos as verdades de santificação
em seus benditos alvos, cantando: «N ã o sou meu», «Tem po
para ser santo», «Tudo entregarei», «Vem , Espírito D ivino»,
« A ti seja consagrada», e o hino nacional do reino de Deus
— «Saudai o nome de Jesus» O hino de louvor ao Cordeiro
diz:
«T u não sòmente perdoas,
Purificas também, ó Jesus» 16
E o hino n9 1 do Cantor Cristão expressa nossas aleluias:
« A Ti, ó Deus, real Consolador,
Divino fogo santificador,
Que nos anima e nos acende o amor,
Aleluia, aleluia!»
C A P IT U L O X III

A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO


1. Q U A N T A S VÊZES E N C O N T R A M O S M E N Ç Ã O DO E S ­
P ÍR IT O D E D EU S N A B ÍB L IA ?

N o Velho Testamento 79 vêzes e 224 no N ovo.

2. QUE F A Z IA O E S P ÍR IT O NO S TE M P O S A N T E S D E
C R IS TO ?

1) N a criação do mundo, qual ave posta em seu ninho


de ovos, o Espírito chocava o ninho da natureza que se
achava no caos prim itivo e produziu a ordem do universo,
Gên. 1:2; Sal. 104:30; Jó 26:13; 32:8; 33:4.
2) Moveu eficazmente na chamada dos mensageiros de
Deus, na produção da Escritura pelos profetas, I I Ped. 1:21,
como na orientação oral profética de Israel, Núm . 11:17, 25,
26, 29; I I Crôn. 15:1; 20:14; E z. 3:24; 2:2; 11:5.
3) Criou tôda a crescente esperança messiânica em Israel
por meio dos profetas, I Ped. 1:11, 12, e não de mero sentido
contemporâneo, mas para a plenitude dos tempos, Gál. 4:4;
I Sam. 23:2; Is. 42:1-4.
4) V eio em sua plenitude a José, nos vastos problemas
administrativos do Im pério Egípcio, Gên. 41:38; e a Bezaleel
para consagrar seus dons artísticos ao adorno do tabernácu-
lo, para «inventar invenções» nesse intuito, Ê x. 28:3; 31:3;
35:31; e a Josué para ser o sucessor de Moisés e guia a Is ­
rael para a posse da T erra de Promissão, Deut. 34:9; Núm .
27:16-23, especialmente v . 18.
5) Miraculosamente fê z possível o nascimento de Isa-
que, Gál. 4:29.
6) Ficou no meio de Israel peregrino e fêz-se inimigo
dêles e pelejou contra êles para os corrigir, Is. 63:10, 11, e
lhes deu descanso, v . 14.
7) Habitou em Israel desde sua saída do Egito, A g .
2:5; M iq. 2:7.
8) Produziu lealdade nos heróis, I Crôn. 12:18.
9) Produziu avivamento e refrigério e conversão em
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 155
Israel, Is. 44:3-5; P ro v. 1:23 e guiava os santos, Sal.
143:10.
10) Ensinava a Israel e protestava contra êles pelos
profetas, Nem . 9:20, 30; Zac. 7:6; E z. 11:5.
11) Deu mensagem por profetas, às vêzes indignos ou
Instáveis, Núm. 24:2; I Sam. 19:20-24; I I Crôn. 24:20;
Miq. 3:8.
12) Fortaleceu e orientou juizes para libertar e julgar
a Israel, Juí. 3:10; 6:34 («revestiu a Gideão» como quem
veste um terno de roupa); 11:29; 13:25; 14:6, 19; 15:14;
também a líderes após o cativeiro, Zac. 4:6.
13) Ungiu reis de Israel para as responsabilidades reais,
e agiu por êles no sentido duplo de fazer de Israel reino de
Deus, e do rei, um tipo de Ungido de Deus que seria Rei,
P rofeta e Sacerdote de um reino espiritual (Cristo quer di­
zer Ungido) — I Sam. 10:6, 10; 11:6; 16:13; Sal. 2.
14) Abandonou reis de Israel, quando rebeldes, isto não
significando perda de salvação mas da unção para o trono,
I Sam. 16:14.
15) Arrebatava miraculosamente ou, às vêzes, em visão
profética, I Reis 18:12; I I Reis 2:11, 16, como A t. 8:39; E z.
3:12, 14; 8:3; 11:1, 24; 37:1; 43:5.
16) Deixava o desviado a seu caminho escabroso até que
voltasse, então lhe restaurava a alegria da salvação e reno­
vava nêle o espírito voluntário, que fa z todo o serviço de
Deus leve e delicioso, Sal. 51:11, 12, sendo onipresente nes­
ta missão, Sal. 139:7.
17) Torna-se o Espírito de graça ê súplicas no íntimo
do povo, Zac. 12:10.
18) Derramado abundantemente, na mocidade e na
velhice, em profecia e visão, Joel 2:28, 29; Is. 32:15; 44:3-5;
E z. 39:29.
19) Separou o Israel de Deus de entre o Israel segundo
a carne, «o renovo», «o rebento», «a décima parte», Is. 6:13;
11:1, e repousou sôbre êle, Is. 11:2, e Deus deu-lhes a du­
pla bênção do Espírito e da Palavra, Is. 59:21.
20) Levava seus escolhidos a evangelizar, Is. 61:1, 2,
tornando Israel na Dispersão uma das mais poderosas fo r­
ças missionárias na história.
21) Ergueu bandeira ao redor da qual reuniu os fiéis
em tempos de poderosa oposição popular contra Deus, Is.
59:19.
22) Anunciou e fêz vingar a N ova Aliança, com a re-
156 DOUTRINAS
sidêneia do Espírito no íntimo, E z. 36:27; 37:14; a qual veio
à plena flo r e ao seu fruto maduro no N ovo Testamento,
Heb. 10:15-20, havendo nos regenerados novo coração e novo
espírito humano, ÊJx. 11:19. E ra esta doutrina da N ova A li­
ança que Nicodemos, como o mestre de Israel, devia ter en­
tendido, pois era o zênite da revelação por intermédio dos
profetas Jeremias e Ezequiel, Jer. 31:33, 34; João 3:10.

3. O N O V O T E S T A M E N T O CO RRO B O RA E S T A D O U ­
T R IN A DO QUE P Ê Z O E S P IR IT O NO S TE M PO S DO
VELH O TE STA M E N TO ?

Perfeitam ente. Jesus, ressuscitado, «abriu-lhes o enten­


dimento para compreenderem as Escrituras», Luc. 24;
25-27, 45. O Velho Testamento é a Bíblia de Jesus e êle é
seu melhor intérprete, pois êle mesmo é o seu principal assun­
to. A mensagem dos profetas todos era Jesus. « A êste dão
testemunho todos os profetas, de que todos os que nêle crêem
receberão o perdão dos pecados», A t. 10:43. O Espírito caiu
sôbre Com élio e sua casa, em apoio dêsse ensino. Estêvão
disse que os pais sempre resistiram ao Espírito, nos dias
dos profetas, A t . 7:51. O Espírito ensinava pelo taberná-
culo, H eb. 9:8; e os profetas sabiam que sua mensagem
evangélica profetizava mistérios a ser descortinados em tem ­
pos posteriores, I Fed. 1:11, 12; I I Ped. 1:21. Jesus identi­
ficou pessoalmehte o cumprimneto messiânico da profecia,
Luc. 4:18-21. *

4. E ’ C O R R E T A A T E O R IA D E QUE A N T E S D E C R IS ­
TO O E S P ÍR IT O SO> V E IO «S Ô B R E » OS SA N TO S,
M A S D E P O IS DE PENTECOSTES V IV E «N O »
CRENTE ?

N ã o . T a l teoria não merece respeito. E ’ falsa. N o V . T .


o Espírito é mencionado como agindo no crente 14 vêzes, e
sôbre êle 34 vêzes, enquanto no N . T . o Espírito é mencio­
nado como estando no crente 18 vêzes e sôbre êle 8 vêzes,
enquanto o crente está no Espírito, conforme 31 passagens.
E ’ interpenetração mútua*, união vital. Nessa teoria ousada,
porém, que a leitura das referências dadas refutará por si,
há -dois erros: o primeiro, é supor que «sôbre» indica super­
ficialidade exterior. Mas «sôbre» é a expressão da presença
e do poder do Espírito em sua relação para com Jesus, Luc.
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 157
4:18, e da profecia de Pentecoste, A t . 2:17; e o segundo, é
que o próprio apóstolo Pedro afirm a a presença do Espírito
«n os» antigos profetas, como já se mostrou.

5. PO R QUE A L G U M A S VERSÕES IM PR IM E M ! A P A L A ­
V R A E S P ÍR IT O COM M IN Ú S C U L A N O V E L H O T E S ­
TAM ENTO , EM ALG U M AS PASSAG ENS OU EM
TôD AS?

E ’ que procuram im aginar se o autor antigo podia ter


a idéia da Trindade. Caso não a tivesse, querem escrever:
espirito. Querem im prim ir nossa Bíblia como se fosse livro
do judaismo. N ão vem ao caso: ou o Espírito de Deus, em
tais passagens do V . T . , é nosso Deus mesmo, como o espí­
rito do homem é o homem mesmo, ou é o Espírito Santo,
Terceira Pessoa da Trindade. De qualquer maneira trata-se
do nome divino e deve começar com maiúscula. N ão é cria­
tura, em hipótese alguma. N ão fa z diferença alguma a nós
se Moisés, Isaías e Ezequiel pensavam do Espírito de Deus
em têrmos da unidade divina ou da Trindade. E* Deus-uno
para os que ainda eram limitados a esta fase da revelação,
trino aos que na progressiva revelação possuem a verdade
mais ampla. Em ambas as hipóteses é a mesma pessoa.
Nosso Velho Testamento é a Bíblia de Jesus, o supremo li­
vro cristão nos dias de Jesus e das primeiras igrejas apos­
tólicas e deve ser traduzido e impresso como livro cristão,
não como mera literatu ra nacional de Israel, lim itada pela
ignorância e incredulidade judaica.

6. Q U A L A D IF E R E N Ç A N A M IS S Ã O DO E S P ÍR IT O
P A R A NOSSOS D IA S E P A R A O IS R A E L DOS A N T I ­
GOS P R O F E T A S , S A L M IS T A S E R E IS ?

E ' que muitas verdades só podem ser eficazmente in­


terpretadas após o conhecimento dos fatos consumados e
são tais fatos a encarnação, o Calvário, a ressurreição de
Cristo, e o advento do Espírito em missão especial no dia
de Pentecostes. A profecia contém o anúncio dêsses fatos
revelados, mas o Espírito agora testifica os fatos consuma­
dos, e o evangelho é seu significado. N o V . T . vemos obs­
curamente um Vulto Messiânico, nas sombras do longínquo
futuro. A g o ra vemos a Deus no rosto de Jesus Cristo pela
iluminação do Espírito. Sinai, Calvário e Pentecostes falam
158 DOUTRINAS
de três pessoas ativas na redenção humana em adventos
especiais, sem negar a existência da Trindade desde o prin­
cípio .
A lém do que o V . T . afirm a do trabalho do Espírito,
por nome, há muitas atividades de Deus na vida humana,
narradas pelos profetas, que o N . T . revela ser o trabalho
do Espírito — santificar, por exemplo — e muito trabalho
que o N . T . atribui ao Espírito é ali afirmado dos santos
do antigo Israel e dos tempos patriarcais, a fé, por exemplo,
em Abraão, e em Heb. 11, A palavra fé é usada uma só
vez no V . T . , Hab. 2:4, e o verbo crer se acha mais no
Evangelho de João do que em todo o V . T . , mas o N ovo clas­
sifica como fé a fôrça m otriz na vida e nas vitórias de to­
dos os santos em Israel, Heb. 11 e A t . 10:43. Igualmente,
atribui agora a Cristo é ao Espírito o que naquêles tempos
remotos era conhecido como apenas sendo ato de Deus, sem
distinguir qual a pessoa divina que se ativava no caso. E*
o uso mais natural da luz maior do pleno dia, a qual brilha
também sobre o caminho que já se atravessou.

7. Q U A L A M ISSÃO E S P E C IA L DO E S P ÍR IT O E M R E -
L A Ç A O A JESUS N A S U A V ID A T E R R E S T R E ?
1) Autor de sua humanidade. A virgem M aria o conce­
beu por obra e graça do Espírito Santo, Luc. 1:35.
2) O Espírito deu grande surto de revelação profética
sobre o advento, na sua véspera, e encantadores salmos,
Luc. 1 e 2.
3) Também interveio miraculosamente no nascimento
de João Batista, com profecia de sua especial santidade e
carreira, L u c . 1.
4) T reze vêzes a Bíblia historia casos da plenitude do
Espírito; e Lucas, que é o historiador escolhido do Espírito,
é quem nos informa de dez dêsses casos em que homens e
mulheres ficaram «cheios do Espírito Santo». Três dêsses
casos pertencem ao período da encarnação, Luc. 1:15, *41,67.
5) O Espírito tomou form a visível e desceu sobre Je­
sus, depois do seu batismo e de sua saída do Jordão, eviden­
ciando o fato de a Trindade empenhar-se na carreira mes­
siânica de Jesus e em nossa redenção, e identificando-o as­
sim para o Batista que o identificou para o povo por êle pre­
parado para seu Cristo, Mar. 1:10; Mat. 3:16; João 1:26-34
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 159
6) O Espírito obrigou Jesus a enfrentar Satã e a tenta­
ção, M ar. 1:12.
7) Nosso Senhor, que esvaziou-se do exercício dos atri­
butos da divindade, na encarnação, mas não da sua latente
natureza divina, vivia em completa e constante submissão
a seu Pai, à luz da sua Bíblia, e sob a direção do Espírito
sem limites, F il. 2:6, 7; João 3:34; 7:16; 8:28; 14:10, 11,
pois a direção total de sua vida lhe servia de equivalente à
onisciência, sem ser medida que não esteja ao dispor de to­
dos nós.
8) Pelo Espírito Jesus expulsou demônios, M at. 12:28;
entrou na prova satânica e voltou em poder, Luc. 4:1, 14;
cumpriu o ideal messiânico, Luc. 4:18; e, segundo muitos
intérpretes, ofereceu-se no Calvário em sacrifício eficaz, Heb.
9:14; e foi declarado Filho de Deus em poder, Rom. 1:4;
Mat. 28:18.
9) Deus testificou, dando como credenciais da Palavra
de seu Filho «sinais, e milagres e várias maravilhas e dons
do Espírito Santo», Heb. 2:3, 4; A t. 10:38.

8. COMO P O D IA JOAO B A T IS T A E R R A R E E S C A N D A ­
LIZ A R -S E EM JESUS, SE E S T A V A CHEIO DO E S P I­
R ITO SA N TO TÔDA A SU A V ID A , COMO PRO M ETEU
A P R O F E C IA DE LU C . 1:15? João errou em sua pri­
meira -declaração pública a Jesus: «Eu careço de ser bati­
zado por ti». Não lhe fazia falta o fato de não ser batizado
por Jesus. Se fosse necessário, Jesus o teria batizado. Não
leva dois minutos o batizar; João errou nessa opinião e er­
rou em duvidar se Jesus era o Messias, Mat. 3:14; Luc.
7:19, 20. Como podia? A razão foi que a plenitude do Espí­
rito não é a infalibilidade ou a impecabilidade ou a onisci­
ência. E* sua direção de nossa vida para nossa especial tare­
fa no serviço de Deus. Sempre temos êsse dom inefável em
«vasos de barro », bem imperfeitos. A plenitude do Espíri­
to enche nossa personalidade até onde o caminho estiver
desimpedido e nas proporções de que sejamos capazes. O
oceano enche a Baía de Todos os Santos até os limites de
seu contorno, e a Baia de Ganabara até onde suas praias
convidam mas com a interrupção de suas cento ê tantas
ilhas e várias penínsulas, enche a Enseada de Botafogo e
pequenina Praia Vermelha, a vasta foz do Amazonas e o
estreito porto de Recife. O oceano entra na sua plenitude
160 DOUTRINAS
até onde encontra a barreira natural — o sobrenatural tam ­
bém encontra barreiras naturais. A plenitude do Espírito
Santo enche o vaso de barro até transbordar, mas I lim itada
pela sua capacidade e por outra consideração qualquer. João
estava cheio do Espírito Santo para sua missão de P re ­
cursor, mas não para ser infalível, onisciente ou inerrante,
a não ser no testemunho que o Espírito dava por êle a Jesus.

9. Q U A IS A S A T IV ID A D E S DO E S P IR IT O NO S C R E N ­
T E S D U R A N T E O P E R ÍO D O H IS T O R IA D O P E L O S
EVANG ELH O S ?

1) O novo nascimento daquêle que crê em Jesus, João


1:12, 13; 3:3, 5, 6, 14-16.
2) A conversão de muitos, Luc. 1:15, 16.
3) A dádiva do Espírito aos discípulos individualmente
em resposta à oração, Luc. 11:13.
4) A suficiência do Espírito para a defesa do crente na
perseguição, perante as autoridades, M at. 10:20.
5) Plenitude do Espírito em três das doze vêzes que a
Bíblia narra casos dêste fato, Luc. 1:15, 41, 67.
6) Revelação oportuna, Luc. 1 e 2, e M at. 16:17.
7) Os discípulos conheciam o Espírito, João 14:17, já
nos dias de Jesus.
8) Também o Espírito habitava com êles, João 14:17.
9) Jesus deu especial inspiração do Espírito para seus
discípulos poderem declarar pecados perdoados, por discer­
nimento espiritual dêste fato em pessoas convertidas, João
20:22. Inspiração é assôpro, aqui como em I I T im . 3:16.
10) A recepção dos mandamentos de Cristo ressuscita­
do, A t . 1:2 (passagem paralela com o fim dos E v a n g e lh o s ).

10. SE R E V E L A Ç Õ E S P O S T E R IO R E S NO S E N S IN A M
Q U E O E S P ÍR IT O E ’ F A T O R D IV IN O N A S V Á R IA S
P A R T E S D A E X P E R IÊ N C IA D A S A L V A Ç Á O , Q U A L
A N O S S A C O N C LU S Ã O SÔBRE A S A L V A Ç Ã O EM
T E M P O S A N T E R IO R E S ?

E ' razoável supor que a mesma salvação teria a mesma


causa e o mesmo divino A gen te. A Trindade é eterna. Em
tôda a linguagem simbólica cerimonial, o P a i recebe a obla-
ção; o Filho é «o Cordeiro que fo i morto desde a fundação
do mundo», A p oc. 13:8; O Espírito é a unção sempre. Diz-
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 161
se tudo isto por símbolos antes de dizê-lo por doutrina clara.
E ’ a mesma verdade sôbre a mesma salvação. Cristo era a
Rocha que dava refrigério e vida a Israel espiritual, I Cor.
10:4. O Espírito é a bênção de Abraão, a promessa a ser
realizada entre todas as nações, Gál. 3:14. A fé em Deus,
no V . T . , justifica, e o Espírito é Autor da experiência e
Deus o Filho, uma vez revelado, é o objeto dessa fé salva­
dora. O germe está no Velho, e a vida desenvolvida no Novo
Testamento. Cristo ilumina a todo homem e o Espírito ori­
enta tôdas as relações redentoras, dadas por Deus e recebi­
das pelos homens, através dos séculos. Nunca limitemos a
operosidade de Cristo e do Espírito aos tempos do Natal ou
do Pentecostes para cá. Êles são contemporâneos de tôda
a raça em tôda a história e sempre salvaram o crente.

11. QUE LU Z TEM OS NOS A TO S E N A S E P ÍS T O L A S


SÔBRE A A T IV ID A D E DO E S P ÍR IT O ?

Lucas escreveu mais do Novo Testamento do que qual­


quer outro, e é o historiador por excelência do Espírito San­
to por tôda a época da encarnação e do cumprimento apos­
tólico da Grande Comissão. E ’ uma só era cristã, de uma
só peça. Os Atos dos Apóstolos constituem o Segundo Tomo
do que Jesus havia C O M E Ç A D O , no Prim eiro Tomo, «a
fazer ê a ensinar», e as Epístolas nos dão a doutrina do que
A tos nos historiou.
Como o eterno Verbo agiu desde a eternidade e em Be­
lém armou sua tenda em nossa carne, assim o Espírito era
ativo desde o dia da criação e por tôda a história humana,
mas teve um advento especial em Jerusalém, no dia de Pen­
tecostes do ano 30. Os adventos não negam prévia ativida­
de. Esta antecipara parcialmente o que os adventos do Filho
e do Espirito plenamente efetuaram e oficialmente inaugu­
raram. Como « o Novo Testamento é latente no Velho Tes­
tamento e o Velho é patente no N o vo » (Agostinho), assim
o pré-figurado e antecipado numa era de revelação progres­
siva é realizado e doutrinado na «plenitude dos tem pos».
Paulo usou o mesmo verbo sôbre os dois adventos: Deus esc-
apostolou (enviou como um apóstolo para fora) Jesus, Gál.
4:4, seu Filho, e também o Espírito, sua voz em nossas al­
mas que clama: Aba, Pai, v . 6. Naturalmente, a doutrina
é mais ampla e clara, depois dos dois adventos públicos das
duas Pessoas da Trindade que redimem e revelam, mas não
162 DOUTRINAS
pensemos que Jesus era inexistente ou inativo antes do seu
natal, ou o Espírito Santo, antes do seu Pentecoste. Ambos
continuavam a ação que haviam começado, e acrescenta­
ram novas revelações pessoais, mútuas e do P a i.

12. Q U A IS OS M E M O R Á V E IS M IL A G R E S Q U E E R A M
A S C R E D E N C IA IS DOS DOIS A D V E N T O S ?

1) N o caso de Jesus, eram a estréia de Belém, a visita


e o anúncio dos anjos, a Trindade m anifesta no batismo, a
Transfiguração, a V oz do céu glorifieando ao Pilho, João
12:28 os majestosos m ilagres do Calvário, da ressurreição e
da ascensão com «muitas provas in falíveis».
2) O som como de vento impetuoso, as línguas como de
fogo, repartidas e pousando sobre cada membro da prim ei­
ra igreja, localizada em Jerusalém, e o m ilagre de 120 ga-
lileus falarem espontaneamente umas quinze línguas que
nunca haviam estudado antes e serem entendidos por nativos
de cada terra representada entre a multidão, no caso do
Espírito. Com êste m ilagre estupendo, sinal da inaugura­
ção da nova era missionária para todas as nações e línguas
da terra, ia o poder em plenitude, para a coragem moral de
inaugurar a evangelização mundial na mesma cidade que
havia crucificado o Salvador.
3) A lém desses dois tipos de m ilagre, limitado um a
apresentar ao mundo Cristo, o Redentor, limitado o outro
tipo a apresentar o Espírito, o intérprete da Redenção e do
Redentor, há em abundância numerosos tipos de milagres,
sinais e maravilhas características de Cristo, do Espírito,
dos apóstolos e de outros crentes. São curas de cegos, sur­
dos, leprosos, mancos, e de todas as doenças, mudar água
em vinho, andar sobre as águas, ressuscitar os mortos, pro­
nunciar juízos (Ananias, Safira, Elim as) e profecias (sobre
Cafarnaum, Jerusalém e a figu eira infrutífera, e t c ) . Os
m ilagres relacionados com Cristo, o N atal e o Calvário, in­
clusive a visita de sêres celestiais a Jesus a respeito do seu
«êx o d o » (outra redenção comparável com o Êxodo sob M oi­
sés), a ressurreição e a ascensão nunca se repetem — são
as credenciais sõ de Jesus. Igualmente, o majestoso m ilagre
do som impetuoso de Pentecoste e as línguas de fogo são
o m ilagre do advento do Espírito, evento e dia nunca re­
petidos, como nunca se repete o nascimento do Messias de
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 163
uma virgem . Mas os demais milagres tanto de Jesus como
do Espírito se repetiam, havendo ocasião oportuna, inclusive
o dom de falar línguas nunca antes estudadas, como cre­
denciais dos apóstolos e outros pioneiros do seu grupo. O
dom de línguas igualava um grupo nativo após outro com
os judeus de Jerusalém, e demonstrava a igualdade de Pau­
lo aos Doze. Mas, uma vez que o cristianismo teve e histo­
riou, por intermédio de um grande perito na história como
Lucas, a inauguração de seu avanço missionário através do
mundo, suas credenciais foram apresentadas aos homens e
aceitas, e não precisam de ser re-apresentadas de dia em
dia. Paulo, em I Cor. 13, profetizou a cessação de dois
dons miraculosos, a profecia e as línguas. De fato, todos
cessaram. Após o primeiro século, ninguém mais ressusci­
tou, andou sôbre água, curou lepra por um movimento da
mão ou falou língua nunca antes estudada. Não houve ou­
tro N atal de Lucas 2 ou Pentecoste de Atos 2. São adven­
tos. Chegados Cristo e o Espírito, permanecem. Eis que
estão conosco todos os dias até ao fim do mundo.

13. P E R M A N E C E A O B R A S O B R E N A T U R A L DO E S P Í­
R IT O NOS C R E N T E S ?
De certo. A regeneração, a santificação, as chamadas,
os dons, os frutos, o poder, a unção, o conforto do Espírito
são atividades do Espírito sôbre nosso espírito. Não são
milagres, que constituem invasões de leis naturais que re­
gem a matéria e efetuam resultados que essas leis em si não
possibilitam sem intervenção divina. Mas a vasta esfera da
comunhão de espíritos, mesmo do Espírito Santo com o
nosso espírito, não é na esfera da matéria. E ’ sobrenatu­
ral, mas não miraculoso. O m ilagre é sinal de revelação.
Completada a revelação em Jesus e no Espírito e no Novo
Testamento, desaparecem os sinais. Em seu lugar temos o
Novo Testamento e o Espírito o confirma em nossos cora­
ções.

14. QUE S IG N IF IC A M ÊSSES TÊRMOS QUE IN D IC A M


A A T IV ID A D E S O B R E N A T U R A L DO E S P ÍR IT O
AGORA ?
A regeneração é o novo nascimento. O Espírito o efe­
tua por meio da Palavra. Consiste em dar uma disposição
164 DOUTRINAS
santa ao pecador que se arrepende e erê. N ovo começo, com
novo rumo e nova natureza. A unção do Espírito, I João
2:20, 27, é o equipamento espiritual que o Espírito dá ao
crente, para sua missão na vida, iluminando-lhe a mente e
a Escritura e esclarecendo-lhe o plano de Deus para sua
vida, dando-lhe sagrados impulsos e poder.
O fruto do Espírito é: o amor (a disposição de dar-nos
a Deus e a outros em consagração cristã ); a alegria espiri­
tual (que é gozo de sa lva çã o ); a paz (que é a reconciliação
que Cristo efetua pela sua cruz, em que Deus nos acolhe,
não nos imputando nossos pecados e nós temos a serenidade
íntima da certeza de nossa relação justa para com Deus e
de harmonia com os homens de boa vontade); a longanimi-
dade (que é «longo ânimo», a disposição de adiar a i r a ) ; a
benignidade (que é a benevolência a t iv a ); a bondade (que
é o caráter bom, o vigo r ético da vida santa); a fé ou a f i ­
delidade (que é fé para servir a Deus e a tenaz lealdade
neste serviço, com visão larga do possível no c a s o ); a man­
sidão (que é força sob controle, calma no uso e na direção
de energia mental, moral e espiritu al); e o domínio próprio
(que significa ter nas mãos tôdas as rédeas de nossas pai­
xões, ambições, vontade, impulsos e capacidade e dar-lhes o
rumo e o uso que o Senhor Jesus p e d ir ). E* o máximo e per­
manente poder do Espírito Santo na vida, o real poder de
Pentecostes, usado em testemunho eficaz. Paulo declarou
esse fruto muito superior aos dons da profecia ê das línguas,
os quais haviam de cessar — e cessaram naquele século.
Os dons do Espírito que eram do período da revelação
—■ desde a encarnação até a morte do último apóstolo —
mas não existem hoje em dia, são os ofícios da revelação di­
vina, apóstolos e profetas e outros operadores de milagres,
I Cor. 12:9, 10, 28, 30; E f. 4:7, 8, 11; Rom . 12:6; milagres,
como ressuscitar os mortos, falar línguas compreensivel-
mente sem prévio estudo, etc. I Cor. 12:28; M ar. 16:17, 18;
inspiração, I I Tim . 3:16, sendo João 16:13 a promessa do
N ovo Testamento e da orientação oral apostólica do pri­
meiro século. Dêssés dons ninguém participa hoje, ou do
batismo no Espírito Santo e de seu dom de línguas, que sem­
pre foi a prova e a manifestação dêsse batismo miraculoso.
Mas, os dons sobrenaturais do Espírito que são para tôda
vida espiritual, não para a missão especial da revelação
apostólica, são numerosos, ricos e abundantes. Cristo mes­
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 165
mo é dom inefável, Rom. 6:23; I I Cor. 9:15; E f. 4:7. A sal­
vação é dom, E f. 2:8. O Espírito Santo é, e sempre foi,
dado a cada crente, quando crê, A t . 2:38; 19:2; João 7:37-
39. Além disso podemos receber o Espírito, em resposta à
oração, como recurso especial para nossa vida, Luc. 11:13,
a água da vida, João 4:10, o dom da graça, Rom . 5:15, I
Cor. 1:4, o dom da justiça de Cristo que recebemos pela fé,
Rom . 5:17, a chamada para o ministério, E f. 3:7, 8. O Cris­
to glorificado deu dons aos homens, não só o ministério es­
pecial de apóstolos e profetas, do século apostólico, mas o
ministério de todos os séculos: evangelistas, pastores e mes­
tres, E f. 4:7, 8, 11; I Cor. 12:28. H aja visto no fato de se­
rem nossos, também, os apóstolos e profetas que nos deram
o Novo Testamento. Também são nossos os milagres que
confirmaram esta revelação literária e seus autores, como
igualmente são nossos os milagres que provaram o advento
do eterno Verbo e do divino Espírito. O que aquêles milagres
provaram, ainda está provado e o que revelaram, ainda está
revelado. A justificação é dom gratuito, Rom. 5:16; 3:22,
24. Dons havia em Corinto que pode haver entre nós: «em
tôda a palavra, em todo o conhecimento», I Cor. 1:5; I I
Cor. 8:7 — «em fé, em palavra, em ciência, em tôda a dili­
gência», no carinho para com o fundador, e na graça de con­
tribuir; como também os dons perenes de amor, esperança e
fé, I Cor. 13, e a diversidade de dons para cada membro do
corpo (aquela igreja ), «a sabedoria, a palavra de ciência»,
«doutores», «socorros», «governos», I Cor. 12:4, 5, 6, 8, 9,
28. Tôda a providência divina é «boa dádiva», «dom perfei­
to», Tiago 1:17. A cooperação das igrejas em tarefa bené­
vola comum é dom da graça divina nas suas vidas, I I Cor.
8:1, 4, 6, 19; I Cor. 15:10. Paulo, em Rom. 12, enumera
dons como o ministério, ensinar, exortar, contribuir com li­
beralidade, presidir reuniões, ser misericordioso com alegria,
Rom. 12:6-8. A oportunidade de pregar e a operosidade na
faina são dons de graça divina, E f. 3:8; I Cor. 15:10. Se
consultássemos o verbo ãar, na concordância, veriamos mui­
tos outros dons que enriquecem a vida cristã.
A chamada do Espírito se refere à voz eficaz do Espírito
em nós que nos chamou e atraiu para a salvação em Cristo,
A t. 2:39; I Cor. 1:26; E f. 4:1, 4; F il. 3:14; I I Ped. 1:10;
Rom. 8:28, 30. Outrossim, depois de salvos, o Espírito cha­
ma cada crente para seu trabalho no reino de Cristo. E ’ sua
U6 DOUTRINAS
vocação e a esfera do seu serviço, João 10:3, E f. 2:10; Rom .
1:7; I Cor. 1:2; M at. 10:38. A chamada para o ministério é
diferente de qualquer outra vocação. E ’ «ca rreira », A t .
20:24, «m inistério», a que a pessoa chamada é ordenada a
dedicar-se única e inteiramente, deixando outro meio de
vida e vivendo do evangelho, M a t. 4:20, 22; 19:27; R om .
1:1; I Cor. 1:1; 9:14; Luc. 10:7.
A santidade é a separação do crente para Cristo, o E s­
pírito dando à nossa vida êste rumo positivo e, pelo mesmo
destino, nos afastando do mundo, da carne e do diabo.
O poder do Espírito é seu sobrenatural trabalho no cren­
te que lhe é suficiente para tôda a obra divina de salvação,
do princípio ao fim , e sua residência nos chamados para a
direção de sua vida com tôda a suficiência que fô r m ister.
O conforto do Espírito cumpre a promessa de Jesus de
não nos deixar órfãos, mas fica r ao nosso lado em conse­
lhos e consolação, João 14:16, 26; A t . 9:31. São fases da
atividade sobrenatural do Espírito em todo êste prazo entre
a prim eira e a segunda vinda do Salvador.

15. COMO SE C O M P O R T A M OS H O M E N S DA B ÍB L IA
Q U A N D O C H E IO S DO E S P ÍR IT O ?

H á 13 casos desta plenitude. José administrou bem seu


ofício político providencial, Gên. 41:38. Bezaleel «inventou
invenções» e usou seu dons artísticos para ornar o taber-
náculo do culto, Ê x. 31:3; 35:31. João Batista «converteu
muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, converteu
os corações dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, e os re­
beldes à prudência dos justos» — uma conversão tríplice de
que muito precisamos hoje em dia, Luc. 1:15-17, e ainda
«preparou um povo bem disposto» para Jesus. Isabel aben­
çoou e animou a virgem crente, a mãe do Senhor, Luc. 1:41,
45. Zacarias, na plenitude do Espírito, proferiu majestoso
salmo em testemunho ao Senhor. Jesus, nessa plenitude, fo i
afugentado para o deserto e a tentação, Luc. 4:1. A Ig r e ­
ja de Jerusalém recebeu esta plenitude quando seus m em ­
bros estavam sentados em culto ordeiro, A t . 2:2. Após pas­
sarem suas fases características do advento do Espírito, ja ­
mais repetidas, aquela ig reja ficou cheia de poder para tes­
temunhar, Luc. 24:49; A t . 1:8. E, como resultado desta
plenitude, 3.000 crentes foram batizados obedientemente,
«e perseveraram na doutrina dos apóstolos, na comunhão
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 167
e no partir do pão e nas orações», em grande mordomia e
ofertas públicas, A t. 2:42, 43, 45. Pedro, nessa plenitude,
pregou o sermão de A t. 4:8-20, e recusou obedecer ao Es­
tado para obedecer a Deus. A Ig re ja de Jerusalém, nova­
mente cheia do Espírito, dirigiu maravilhosa oração a Deus,
unânime e de decisão sublime, A t. 4:31, seguida por prega­
ção fiel da Palavra. Os sete diáconos ficaram cheios do Es­
pírito para uma grande obra de benevolência, em paz na
Igreja, A t. 6:5. Paulo teve esta plenitude para ser-lhe res­
taurada a vista e para ser batizado e inaugurar sua carrei­
ra missionária na sinagoga, A t. 9:17. Barnabé, na plenitude
do Espírito, viu, discerniu e apoiou o trabalho de outros — ■
marca de real espiritualidade, A t. 11:23, 24. Paulo se en­
cheu do Espírito em medonha repreensão e castigo provi­
dencial de um oponente do evangelho, A t. 13:9. Se medi­
tarmos nestes 13 casos — todos em que a Bíblia afirma que
alguns ficaram cheios do Espírito — seremos libertados de
sentimentalismo emocional, da propaganda pentecostista ou
darbista, e da atitude anti-doutrinária que aflige almas tí­
midas. Antes teremos uma idéia nítida do que o Espírito
fa z quando enche um crente.

16. QUE S IG N IF IC A O B A TISM O NO E S P ÍR IT O SA N TO ?

Acertemos a linguagem. N a Bíblia, quem batizou no


Espírito foi só Jesus, A t. 2:33, em cumprimento de M at.
3:11 — «Êle (Cristo) vos batizará». E ' assim sempre. O Es­
pírito Santo corresponde ao batistério, não ao batizador, nes­
sa linguagem metafórica. E ’ imersão no Espírito. Quanto ao
sentido da figura, há duas opiniões largamente mantidas en­
tre os batistas. Apoio pessoalmente esta: que o batismo no
Espírito foi um m ilagre majestoso que serviu de credencial
ao Espírito, no seu advento no dia de Pentecostes ou no iní­
cio de seu trabalho desta missão especial em outros grupos
de crentes — Samaria, Éfeso, a casa de Cornélio, Corinto,
etc. Era sinal para testemunho — uma vez manifestada a
presença do Espírito adequadamente, cessou o sinal. O m ila­
gre sempre incluiu o sinal de se falar línguas nunca antes
estudadas. O m ilagre repetido entre os crentes de novas
regiões evangelizadas, serviu para demonstrar que eram
iguais à igreja original de Jerusalém e assim püblicamente
reconhecidos pelo Espírito Santo.
A segunda opinião que acha advogados entre os batis­
168 DOUTRINAS
tas é a seguinte: O batismo é sinal de abundância, João 3:
23 — submergir nesta abundância. N este sentido, pois, de
imersão figurada, se identifica o batismo no Espírito com
qualquer experiência do crente em que tenha especial poder
espiritual, a plenitude do Espírito. E ’ d ifíc il acreditar, po­
rém, que a figu ra do batismo (há um só batismo, não re­
petidos batismos, literalmente, E f. 4:4) sirva para essas
frequentes experiências de espiritualidade. A espirituali­
dade hoje em dia nunca se acompanhou com o m ilagre de
fa la r língua alguma sem prévio estudo. Parece mais bí­
blico, pois, afirm ar a plenitude do Espírito, seus dons, fru ­
to, iluminação, etc. hoje em dia, mas entender que fo i lim i­
tado ao século apostólico o batismo no Espírito, com o si­
nal de línguas, como se lim itava os dons de profecia e da
inspiração das Escrituras e muítos m ilagres daquêle tempo
que serviam de credenciais a Jesus, ao Espírito e ao grupo
apostólico pioneiro. A meu modo de ver, nunca se deu o
batismo no Espírito sem o m ilagre de fa la r línguas reais, e
êste batismo não se realiza hoje nem nos fa z falta, pois, o
que demonstrou, ficou demonstrado. P ic a também ao nos­
so dispor a plenitude do E spírito. Mais do que a plenitude
não há.

17. Q U E S IG N IF IC A I CO R. 12:13?

U m a boa tradução é: « N a comunhão de um só Espírito


(ou: E m um só E spírito) fomos todos nós batizados em um
só corpo». E ' a doutrina de que já somos regenerados e f i ­
camos na comunhão do Espírito antes de entrarmos nas
águas do batism o. N o Espírito vivem os e obedecemos a
Cristo e pelo batismo entramos na ig reja como membros. A
tradução «pelo E sp írito» é falsa e perversa e o batismo aqui
é o batismo a que Cristo se submeteu no Jordão, com o apôio
do mesmo Espírito. N ão se trata de «batism o pelo E spírito»,
nem é correta a tradução «form ando um só corp o». N ã o de­
vemos erguer aqui uma falsa Escritura e com ela contradi­
zer todo o resto do N ovo Testam ento.

18. Q U E Q U E R D IZ E R JOÃO 7:37, 38?

Quer dizer o que diz.


1) T ira sua doutrina do Espírito do Velho Testam ento:
A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 169
«Como diz a Escritura». Mostra que o Espírito agia no
crente, intimamente, mesmo nos dias dos profetas.
2) Declara que todos os crentes hoje em dia têm o Es­
pírito Santo: «quem crê em m im . . . » «haviam de receber
os que nêle cressem». O Espírito está em todos os crentes,
e Jesus afirmou que assim seria.
3) Nesta relação para com Jesus, é a fé (v ir e beber
dêle), que fa z residir em nós o Espírito.
4) Isto não significa que o Espírito Santo é criatura
que só começasse a existir no dia de Pentecoste de A t . 2;
ou que não é verdade o resto da Bíblia sobre sua atividade
nos tempos do Velho Testamento e dos Evangelhos e de A t.
1. Não usemos uma perversão desta Escritura para negar
o testemunho de 79 Escrituras no V . T . e de várias ou­
tras nos Evangelhos. Dentro dêste quadro total, cabe João
7:38 como declaração de que o Espírito não teve ainda seu
advento especial prometido, mas não nega a existência ou
o trabalho do Espírito até aí.

19. Q U A L A M ISSÃO S U P R E M A DO E S P IR IT O ?

E* de m agnificar a Jesus. Quando uma seita, ou um


homem, ou uma senhora sempre fala do Espírito e põe sua
suprema ênfase no Espírito, é prova cabal de que não é
guiado pelo Espírito Santo. «Ê le me glorificará, porque há
de receber do que é meu, e vô-lo há de anunciar», «N ã o fa ­
lará de si mesmo mas dirá tudo que tiver ouvido», «Ê le tes­
tificará de m im ». Só é espiritual um cristianismo em que
caiba a Jesus a primazia. O Espírito Santo é a terceira, não
a primeira, Pessoa da Trindade. Êle não veio para eclipsar
a Jesus, mas para varrer da mente as nuvens e deixar o Sol
da justiça brilhar no pleno dia. Nossa religião é o cristia­
nismo, não o Espiritismo. Sigamos o Espírito em glorificar
a Jesus. Assim seremos verdadeiramente espirituais.

20. E ’ P A R A NÕS QUE F O I D A D A A PR O M E S S A DE


QUE O E S P ÍR IT O G U IA R IA E M TÔ D A A V E R D A D E ?

N ão. E ’ promessa dada aos apóstolos. Nenhum de nós


sabe toda a verdade nem há para todo o mundo promessa
neste sentido. Jesus prometeu aos apóstolos: «Quando vier
aquêle Espírito de Verdade, êle vos guiará em tôda a verda­
170 DOUTRINAS
d e .» E «êsse vos ensinará tôdas as coisas e vos fará lem­
brar de tudo quanto vos tenho dito», João 16:13; 14:26. A
linguagem é para, quem ouviu Jesus ensinar. Nenhum de nós
o ouviu. Nenhum de nós conhece tôda a verdade. Mas o Es­
pírito, pelo círculo apostólico, produziu, oralmente prim ei­
ro, e depois no N ovo Testamento, a verdade de tôda a reve­
lação cristã — ■ e nós a temos no Novo Testamento. E* o
permanente testemunho de Cristo mediante o Espírito. O
Espírito nunca contradiz o Novo Testamento, pois estaria
negando sua própria veracidade. O Espírito sempre nos guia
na verdade e vontade de Cristo, revelada no N ovo Testa­
mento .
C A P IT U L O X IV

A DOUTRINA DO REINO DE DEUS


1. Q U A IS OS PO SSÍV E IS SEN TID O S DA PALAVRA
R E IN O f

1) Teritório em que alguém tem autoridade real. O


reino de Deus, na velha «dispensação tinha «T erra Santa»,
e uma capital que era «a Cidade Santa». Mas o evangelho
não visa identificar o reino de Deus com nenhum governo
ou povo nacional, nem tem «cidade santa» nem há «cidade
eterna» na terra.
2) Todos os cidadãos que, com seu rei, compõem uma
nação de govêrno monarquista.
3) O domínio, a soberania, a autoridade real de um rei,
e seu exercício. Êstes dois sentidos, o domínio do Rei e a
cidadania espiritual dos crentes, unidos em Cristo, ou sua
profissão, são os empregos do têrmo no Novo Testamento.

2. Q U A L O M A IS A N T IG O SE N TID O DO R E IN O D E
D EU S?
O domínio divino providencial no universo: Sal. 2:24,
103:19; I Crôn. 29:11, 12; Dan. 4:17, 25, 32; M at. 6:10, 13;
A t . 4:24-1; Rom . 8:28-30; Apoc. 19:6. Abrange tudo e to ­
dos. N o universo e na história, Deus age e permite sêres
livres agirem .

3.. A T E O C R A C IA D E IS R A E L E R A O R E IN O D E D E U S ?

Sim, em sentido restrito, tempo limitado e realização


mui breve e parcial. Era fase da revelação progressiva, du­
rante a qual Israel servia de mestre das nações de todo tem ­
po e lugar, no monoteismo, na moral e na esperança mes­
siânica. Só um «resto», o Israel espiritual dentro do «Israel
segundo a carne», concretizou na vida êste ideal, im perfeita­
mente. O regime teocrático, como o da Lei, foi julgado, re­
pudiado por Deus e abandonado — em juízo divino nos ca­
tiveiros; em símbolo, quando o véu do templo se rasgou; e
172 DOUTRINAS
em fato consumado na destruição de Jerusalém no ano 70,
M at. 5:35; 8:12; 21:43; Rom. 9:4, 5, 25-33; 10:3, 4; 11:5;
Is. 6:11-13; Êx. 19:6; Sal. 48:2; 68:24; 81:8-16; 149:2-4.

4. Q U A L O SE N TID O E V A N G É LIC O DO R E IN O DE
D EU S?
E ’ a íntima soberania de Jesus, como Salvador e Rei,
nas almas regeneradas e na sua vida pessoal e coletiva, M at.
6:10, 33; 21:31; M ar. 10:15; 12:34; Luc. 9:62; 17:20-21:
18:24; João 3:3, 5; Rom. 14:17; I Cor. 4:20; Col. 1:13; T ia ­
go 2:5; Apoc. 1:9. N otai quantas vezes se afirm a a existên­
cia atual do reino, a entrada nêle como coisa já experimen­
tada, o seu fruto e poder, nesta experiência agora, sendo a
esfera ê o alvo da vida cristã.

5. COMO PODE E N T R A R A LG U É M NO R E IN O ?
Somente pelo novo nascimento. Sem isto, não se pode
ver o reino, pois é interior e invisível, João 3:3. Mesmo cri­
anças «recebem o reinõ», ao tomar-se crentes, e assim en­
tram nêle pelo segundo nascimento, M at. 18:3 («se não vos
converterdes»), 6 («pequeninos que creem em m im » — não
são criancinhas inconscientes); M ar. 10:13-15 (o menino
«recebe o reino», não nasce nêle, v . 15 — «dos tais», meni­
nos crentes e outros que assim «recebem » o reino, «é o rei­
no de D eu s»); Luc. 18:17 (entra-se no rein o). Não se acha
pessoa alguma nêle pelo nascimento da carne. A vida eter­
na, que principia neste nascimento, é obtida pela fé em Je­
sus Cristo, e o reino abrange todos so crentes, João 3:15,16,
18, 36 — crentes em Cristo, com fé-confiança genuína.

6. O R O M A N ISM O E O U TR AS S E IT A S E N S IN A M QUE
A F R A S E «N A S C E R DE Á G U A E E S P ÍR IT O » (U M
SO* N A S C IM E N T O D E DOIS F A T O R E S ) Q U ER D I­
ZE R A R E G E N E R A Ç Ã O B A T IS M A L , RE C E B ID A, GE­
R A L M E N T E , NO B A TISM O IN F A N T IL . E ’ A V E R ­
D A D E ? «N A S C E R DE Á G U A » SE R E F E R E AO B A ­
TISM O ?

E ’ sério engano no qual seitas protestantes sacramen-


talistas caem também. Notai a solene linguagem de Jesus:
«E m verdade, em verdade te digo que aquele que não nas­
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 173
cer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus»,
João 3:5. Minha tradução seria se alguém não nascer de
água e Espírito, pois não há artigos com estes dois substan­
tivos. E ’ um só nascimento, de dois elementos ou fatores.
Se a água aqui significa o batismo, a doutrina de regenera­
ção batismal é inegável e inevitável e o cumprimento da
condição consistiría em receber a água antes do Espírito,
pois é a ordem da solene advertência do Salvador: «Em ver­
dade, em verdade» — água, primeiro, o Espírito, em segui­
da. Esta interpretação anula o evangelho. Seguiu logo,
duas vêzes, a afirmativa da vida eterna de todos os crentes.
Se o nascer de água fosse o batismo, Cristo diria: todo aquê-
le que se batiza tem a vida eterna. A s muitas afirmativas
da salvação de TODOS os que crêem, Rom. 1:16; A t. 10:43;
13:19; Rom. 3:22; 4:11; Gál. 3:26, teriam de ser anuladas,
para se ler: serão salvos todos os que nascem da água batis­
mal. Se esta Escritura se refere ao batismo, «na verdade,
na veitiade», nunca foi salva pessoa alguma sem o batismo
e o evangelho é nulo e o próprio Calvário é falso, pois ali
se deu a um salteador não batizado a promessa de entrar
no paraíso — com Cristo, mas sem o batismo. (Natural­
mente, se a salvação fosse prometida ao batismo, seria a
um batismo genuíno, e não a qualquer ato espüriamente
classificado de batism o). Isto é vital para a doutrina do rei­
no, pois resolve a questão se o reino é espiritual ou sacra­
mental, eclesiástico, exterior. Veremos, pois, as razões exe-
géticas porque «nascer de água» não tem referência alguma,
direta ou indireta, próxima ou remota, a batismo algum.
1) Censurou Jesus a Nicodemos por não ter compreen­
dido esta doutrina pelo Velho Testamento, de que era mes­
tre. E' a razão fundamental. Logo a referência à água tem
de ser elemento fundamental do ensino do V .T . Não pode
ser o batismo, pois isto não é doutrina do V .T ., mas come­
çou com João. Mas o V .T . está cheio do sentido simbólico
de água e em conexão com a Nova Aliança, E z. 36:25, 26
— a purificação, simbolizada pela cerimônia de aspersão de
água purificadora, das cinzas de uma bezerra vermelha, mis­
turadas com água. Não fiqueis sugestionados com a pala­
vra «aspersão» — é cerimônia do V .T ., descrita por todo o
cap. 19 de Números, em linguagem metafórica também
mencionada em Heb. 10:22 («aspersão» íntima, não da tes­
ta de criancinha inconsciente, mas do «coração» arrependi­
174 DOUTRINAS
d o ). Ora, Ezequiel, precisamente na grande doutrina da
N ova Aliança, menciona esta água de purificação, símbolo
da morte expiatória de Jesus para «nos purificar de todo o
pecado», e menciona água, v . 25, antes de Espírito, v . 27,
unindo os dois fatores no «coração novo» da N ova Aliança.
Jesus segue nitidamente esta Escritura, seu sentido e sua
ordem. Primeiro é o que significa a água de purificação, o
sangue do Calvário, e o Espírito, nesta conexão, dá o «novo
coração» e «novo espírito». «O que nasce do Espírito é es­
pírito». Só o farisaísmo de Nicodemos vedou-lhe os olhos
para não ver, em E z. 26:25-27, êste evangelho e esta or­
dem. Ainda as bênçãos de salvação se simbolizam no V .T .
pela água: o refrigério espiritual, Sal. 23:2; o Espírito San­
to, Is. 44:3, 4; 41:17; a Palavra de Deus, Sal. 19:7-9, «re ­
frigera», «é pura», e o temor produzido é «lim po», Sal. 119:
9; o arrependimento, Sal. 51:7 com a renovação purifica-
dora, v . 10 e a presença do Espírito, v . 11. Vêde a compara­
ção do reino universal com as águas do mar, Is. 11:9; Hab.
2:14; as palavras dos sábios, P rov. 18:4; 20:5; o rio de vida,
em E z. 48. Vêde a vasta abundância, mesmo na casa dos
pobres, de água para essas cerimônias do V . T . e sua men­
sagem evangélica, João 2:6 — 600 litros de água para ceri­
mônias de purificação. Nicodemos não devia ser ignorante
do simbolismo de tudo isso. Não era um literalismo cru, mas
o «derramamento» do Espírito, Joel 2:28. O farisaísmo e o
romanismo são igualmente cegos 'em pensar que «nascer de
água» trata de água literal, material, cerimonial. Qualquer
mestre, com o V .T . na mão, deve saber melhor. Em resu­
mo, é claro o sentido figurado do têrmo «á g u a », em inúme­
ras passagens, cerimônias e referências do V . T ., e na pró­
pria N ova Aliança .Logo a um mestre religioso é indescul­
pável tomar ao pé da letra a água, na frase «nascer de água
e Espírito». Ambos os fatores são espirituais. Todo êste
nascer é de cima, de novo, do íntimo, de Deus. Sapos nascem
em água. Mosquitos nascem em água, como nascem germes
de moléstias epidêmicas e parasitas de anemia e morte, mas
o regenerado não nasce da água benta, ou do batistério ou
da pia batismal.
2) Só podia ser compreensível a Nicodemos a água ba-*
tismal, se a referência fosse para o batismo de João ou o de
Jesus, administrado por seus apóstolos, João 4:1, 2, mas o
romanista nega que êsses batismos fossem o «batismo cris­
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 17S
tão» — frase que não se encontra na Bíblia, que conhece
«um só batismo». O clero diz que o batismo contemporâneo
não tinha poder para regenerar. Logo não podia ser, para
Nicodemos, um evangelho de regeneração batismal, pois o
único batsimo que existia não regenerava, segundo Roma.
3) O simbolismo do batismo nunca se associa com o
comêço da vida, o nascer, mas é ligado com o fim da vida,
a morte e a ressurreição, Rom .. 6 e Col. 2:12.
4) A ordem (nascer de água 'e Espírito) é fatal. O ro-
manista atribui a regeneração à aspersão de água batismal-
ex opere operato. O ato físico dá o resultado espiritual.
O Espírito é carro de reboque, arrastado pela fôrça da água
benta. Tal cristianismo fica em materialismo mágico e me­
cânico .
5) E ’ preciso olhar os fatos. A linguagem m etafórica
concorda com os fatos. Os fatos do novo nascimento abran­
gem seu lado divino e seu lado humano. O insigne dr. Car-
roll resumia a doutrina por êste desenho:

REGENERAÇÃO
A R R E P E N D IM E N T O ] F E ’ = S A LV A Ç Ã O
O arrependimento, evangelho de João e Jesus, citado
nos Sinóticos, é quase o equivalente da regeneração, evan­
gelho de Jesus, citado no Evangelho de João (1:13; 3:3, 5 ).
A. ordem seria a mesma: o arrependimento (o efeito purifi­
cador da Palavra, em nova mentalidade, qual água de puri­
ficação cerimonial) e a fé (em que a regeneração é consu­
mada e começa a vida e tern a ).
6) E* de uma só peça esta Escritura e outras de lingua­
gem semelhante no contexto geral da N ova Aliança em toda
a Bíblia. Ainda lemos da «lavagem de regeneração e reno­
vação do Espírito», Tito 3:5. A regeneração lava, limpa,
purifica (no arrependimento) e renova (dá vida eterna, v i­
gor e vitalid ad e). Em E f . 5:26, a lavagem de água é «pela
P a la vra ». A Palavra de Deus lava como água, realmente,
na regeneração (João 3:5; I Cor. 6:11 — notai a ordem:
«lavados», isto é, purificados na regeneração, «santificados»,,
isto é, separados para Deus, e «justificados», a decisão divina
no céu que ratifica a experiência na t e r r a ). E depois, sim­
bolicamente, o batismo «la va », A t. 22:16. São de uma só
peça as Escrituras que empregam esta linguagem. Se tôdas
176 DOUTRINAS
são de literaüsmo cru, o romanismo é a verdade. Se o senti­
do é metafórico, concorda com o evangelho de salvação pela
graça mediante a fé. O reino, pois, é espiritual. Temos de
agir num meio ambiente romanista. E ’ de suma importân­
cia que, em evangelizar, nosso evangelho fique claro e ve-
raz, sem mistura de saeramentalismo. E ’ a razão de tanta
ênfase nesta verdade.

7. H A ’ Q U A LQ U E R D IF E R E N Ç A E N T R E «O R E IN O D E
D E U S » E «O R E IN O DOS C É U S »?
Nenhuma. Mateus escreveu a judeus, cuja reverência
os levava a evitar usar o nome de Deus. «Reino de Deus» e
«Reino dos céus» são sinônimos, e Mateus usa ambas as fr a ­
ses, cap. 13, etc., e 12:28; 19:24, etc.

8. Q U A L O SE N TID O A C O M O D ATIV O DO «R E IN O » EM
C E R TA S P A R Á B O L A S ?
E ’ o sentido do reino nominal, a esfera da profissão
cristã, a cristandade, todos que se dizem cristãos. Um país
é a população inteira, cidadãos natos e naturalizados, os es­
tranhos que mourejam ali, os traidores e espiões inimigos
que se escondem no meio e os que vivem no meio e não se
definem. Assim o reino é meramente nominal, a esfera da
profissão cristã, nas parábolas de M at. 13. O reino é rede,
com peixes bons e maus. E ’ árvore em que pousam as aves
do céu, símbolo de Satan, v . 19. E ’ joio e trigo, filhos do rei­
no e filhos do maligno, lado a lado e indistinguíveis, exteri­
ormente. E ’ planta sem raiz, em terra de rocha, sem pro­
fundidade de solo. E ’ semente arrancada do coração logo
que caiu â beira da senda, ou plantas sufocadas na mata da­
ninha, ou semente boa, dando cem por um. E' fermento em
massa. Se a massa é a humanidade, o fermento é o evan­
gelho. Se a massa é o reino, o fermento é a falsa doutrina.
Seja qual fôr a teoria da parábola, o reino é mistura de ele­
mentos heterogêneos, neste sentido. Jesus fala de três fer-
mentos: «o fermento dos fariseus», M at. 16:11, 16, que é a
hipocrisia e a justiça própria pelo ritualismo legalista; «o
fermento dos saduceus», o racionalismo, M at. 16:11, 16; « o L
fermento de Herodes», o mundanismo que quer identificar
o reino de Deus com a política dos homens, M ar. 8:15; e
Paulo fala de «ferm ento velho», «ferm ento de maldade e
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 177
malícia», I Cor. 5:6-8. Tudo isto nos ensina que o cristianis­
mo nominal será vasto, vigoroso e mundial, mas nunca per­
feito ou total em si, ou universal, ou genuíno em tudo e em
todos seus professos. E ’ fato comum, visível ao redor de
nós. Jesus o previu e nos preveniu nestas «parábolas do rei-
no», em Mat. 13.

9. O R E IN O E ’ SINÔNIM O COM A IG R E JA ?
Nunca, de forma alguma. Os termos não são sinônimos,
pois reino é têrmo monárquico e igreja (assembléia congre-
gacional) é têrmo democrático. Há um reino e muitas igre­
jas, Apoc. 2 e 3; 22:16.
10. M AS A B ÍB L IA NÃO TE M U M A D O U T R IN A D A
IG R E JA G E R AL, A COM UNHÃO DE TODOS OS
CRENTES ?
Sem dúvida, em Heb. 12:23; E f. 1:22, 23; 3:3-10; 5:5,
22, 23, 25, 27, 31, 32; Col. 1:24-27; Apoc. 21 e 22:17. Mas
a Bíblia nunca chama esta Igreja (a soma total dos salvos)
o reino de Deus. Todos os salvos constituem o reino de
Deus, «a Igreja dos primogênitos», «a família de Deus», «a
noiva do Cordeiro», «o corpo de Cristo», etc. — mas isto
não significa que reino, igreja, família, noiva, corpo, etc.,
sejam palavras sinônimas. Não são, e nunca se confundem
na Bíblia. Um homem, sua esposa e dois filhos maiores po­
dem ser, de um ponto de vista, uma família. De outro ponto
de vista, são uma Sociedade Anônima, com título a um ne­
gócio em que todos são sócios e donos, mas isso não torna
sinônimos: fam ília e sociedade anônima. Assim o reino e a
Igreja não são sinônimos, nunca, mesmo quando tratam dos
crentes todos. São concepções diferentes da comunhão dos
santos, e a Ig reja Geral não é organização. Não ê composta
de igrejas locais ou de Igrejas Nacionais e seitas. Não é a
soma de todos os que passaram pelo batismo infantil. Na
Itália, Espanha e América Latina, até ontem, a população
inteira era «a Igreja», como era nos países protestantes da
Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e certas ilhas. A
linguagem popular assim identifica «a Ig re ja » como a eris-
tandade, com a religião organizada, nos países do Ocidente,
com o mundo arrolado na pseudo-Igreja pelo batismo infan­
til. O Novo Testamento não comete ou autoriza essa per-
178 DOUTRINAS
versa confusão — nem a Ig re ja Geral nem as igrejas apos­
tólicas jamais se confundem com o mundo. ET calamitosa
calúnia e falsa doutrina chamar as hordas de nominais cris­
tãos «a Ig re ja », em sentido geral ou local, mas o reino, em
seu sentido nominal, das parábolas de M at. 13, tem exata­
mente essa idéia.

11. M A S M A T . 16:16-19 N A O ID E N T IF IC A «R E IN O » E
«IG R E J A », P E L A S IM IL A R ID A D E DAS M ETÁFO ­
R A S : «E D IF IC O M IN H A IG R E J A » E «E U T E D A ­
R E I A S C H A V E S DO R E IN O »?
Absolutamente não. E dificar é termo que se aplica ao
construtor de um prédio. Mas também «p ortas» são de edi­
fícios . Serão idênticos a Ig re ja e o Hades, por ter Jesus usa­
do «ed ifica rei» e «portas», em v . 18? Todos dirão que não.
Pois bem. Como podem ser chamados o reino e a Ig re ja a
mesma coisa, somente porque Jesus usou a figu ra de «ed i­
fica r» em v. 18 e de «chaves» em v. 19? O fato de que te­
mos m etáforas de «edifícios», de «p ortas» e de «chaves»
nesta passagem é acidental e incidental. N ão identifica
Igreja, Hades e reino. Êiste argumento prova demais. A s
chaves são símbolo de autoridade para abrir — Pedro abriu
o reino, na inauguração da fase internacional e missionária
do reino, no dia de Pentecostes, para os judeus de todo o
mundo. Com as mesmas chaves, abriu as portas do mundo
gentio para o reino, na casa de Cornélio. Cristo lhe deu a
primazia do uso destas chaves, representativamente, mas
não como monopólio. Que eram estas chaves? São o evan­
gelho, com a autoridade de pregá-lo, e nós também as te­
mos. A tarefa da Ig re ja Geral é abrir o reino a todos, com
as chaves do evangelho, missão também das igrejas. E es­
tas chaves estão nas igrejas, como organizações, pois a
mesma elevada linguagem de «lig a r e desligar» se usa de
uma igreja no exercício de disciplina, M at. 18:18, que se
usara da missão de Pedro em M at. 16:19. Pedro era arau­
to do reino, com as chaves de autoridade para abri-lo a ju­
deus e a gentios. A s igrejas são agências do reino: promo­
vem sua extensão e interesses com as mesmas chaves do
evangelho que pregam e com a disciplina, na qual ligam e
desligam. Chave não é só de casa: é de cadeado, portão, ci­
dade, mala, desvio, depósito, máquina, relógio, cofre, armá­
rio, mobília, etc. Lemos das «chaves de ciência», Luc. 11:
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 179
52, «da m orte», Apoc. 1:18; «de D avi», Apoc. 3:7; «do poço
do abismo», Apoc. 9:1; 20:1-3. E ’ uma coincidência tênue
o fato -de Jesus fa la r em «edifiear minha igreja », «portas do
inferno» e «chaves do reino» no mesmo trecho. P or que li­
gar a prim eira frase e a terceira e desprezar a segunda? E*
arbitrário. O reino nunca é identificado com qualquer sen­
tido bíblico da palavra igreja , e a identificação já resultou
em males indizíveis. Todos os crentes estão na fam ília de
Deus e no reino de Deus e na Ig re ja Geral, sem confusão dos
têrmos mas, com a divisão do cristianismo ‘em muitas seitas,
há milhões de crentes que não têm nem o batismo, nem as
igrejas, nem a ceia do Senhor, nem o ministério bíblico, nem
a disciplina de igrejas bíblicas. E ' uma verdade triste que
nunca devemos perder de vista. Cristo e seus apóstolos pre­
disseram estas apostasias, em vasta escala, e não devemos
buscar unir tudo como reino, Ig re ja ou fam ília de Deus. N e ­
nhum incrédulo, dentro ou fora das organizações eclesiásti­
cas, fa z parte do genuíno reino ou da fam ília ou da Igreja
do Senhor. Cada uma destas palavras encerra grande dou­
trina e cada uma é diferente da outra, na sua idéia prin­
cipal .

12. E M QUE S E N TID O PODEM OS D IZ E R QUE AS


IG R E JA S SÃO A G Ê N C IA S DO R E IN O ?
Negativam ente, não é no sentido de que todos os mem­
bros das igrejas estão no reino espiritual de Cristo — não
estão; nem no sentido de que só os membros das igrejas es­
tão no reino. Antes, há milhões de cristãos sinceros, des­
norteados pelas seitas erradas a que pertencem . Êles não
têm batismo genuíno, ou igrejas bíblicas ou o cristianismo
biblicamente organizado, com a form a e o espírito unidos
em obediência a Cristo, «os odres novos e o vinho n ovo». O
pessoal do reino e o pessoal das igrejas nunca são os mesmos,
como não há sinonímia dos têrmos reino e igreja.
Positivamente, o reino universal de Deus, na criação e
na providência, abrange todas as criaturas. O reino nomi­
nal abrange todos os professos cristãos. O reino dos cida­
dãos regenerados abrange todos os salvos, dentro ou fo ra
de quaisquer igrejas, genuínas ou espúrias. Vejamos, pois,
a relação positiva entre o reino e as igrejas. A tarefa das
igrejas do Novo Testamento é a de prom over o reino. Deus
utiliza a organização — agrupa os crentes leais em igrejas.
180 DOUTRINAS
O lugar destas, no N ovo Testamento, é de vasta importân­
cia. Sua autoridade é de «lig a r e desligar». A linguagem
figurada, usada a seu respeito, inclui termos como casa de
Deus, coluna da verdade, corpo de Cristo, lavoura de Deus,
rebanhos de Cristo com sub-pastores sob o Pastor e Bispo
de nossas almas, candelabros cujo Zelador é Jesus, recipien­
tes do que «o Espírito diz às igreja s» que, definitivamente,
é grande parte do N . T . , etc. E as comissões e a missão que
lhes são dadas na Bíblia indicam que as igrejas são o meio
determinado por Deus para servi-lo e estender seu reino.
Mas nunca limitemos o reino às igrejas. H á independentes
e guerrilheiros no exército do Senhor. U m dêles conseguiu
banir demônios em nome de Jesus, sem acompanhar os após­
tolos na vida que Cristo organizou e o próprio Mestre proi­
biu aos seus obedientes seguidores que lhe impedissem o
serviço benéfico. N ão lhes ordenou parar na sua atividade
de apóstolos para fa la r de união e «fren te única», nem aban­
donar sua missão para correr atrás dêsse «independente».
Muitos «independentes», todavia, são «independentes» de­
mais, pois são «independentes» de Jesus e sua autoridade.
13. Q U A L A A G Ê N C IA R I V A L DO R E IN O , HOJE E M
D IA ?
E ’ o Estado totalitário. Nós podemos servir à nossa g e ­
ração (como deve ser traduzido A t. 13:26), à nossa pátria
e ao Estado civil do nosso povo, e servir a Cristo, se esta
dualidade de obrigação fô r reconhecida. Jesus a reconhe­
ceu. Nunca procurou ser Deus e César. Nunca fê z progra­
ma algum para o Estado. N ão foi totalitário. «D a i a César
o que é de César, e a Deus o que é de D eus». N em colocou
aqui Deus primeiro, pois nascemos no reino de César, mas
só entramos no reino de Deus muito mais tarde, pelo nasci­
mento novo, mediante a fé em Cristo. N ão há política, nem
ideologia, nem sociologia, nem program a governam ental no
ensino de Jesus. Êle não fo i revolucionário. Obedeceu a três
leis: a lei de Deus, a lei dos judeus na teocracia e a lei ro­
mana provincial. N em Pilatos achou fa lta nêle, nem Hero-
des. Êle é nosso Exem plo. N ão há uma sílaba de totalita­
rismo em tôda a doutrina de Jesus. Dividiu as lealdades com
César. Mas César não teve esta idéia — queria o absolutis-
mo do Estado. N ão admitia o Cristo Rei, nem reino que não
fosse dêste mundo. Surgiu, pois, o medonho conflito, de 33
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 1B1
a 323, entre «nosso Senhor Deus e Salvador C ésa r» e «nosso
Deus e Salvador, o Senhor Jesus C risto». O totalitarism o de
César fo i derrotado pelo regim e cristão de dupla lealdade:
ao Estado, em m atéria cívica, e a Deus, em m atéria religiosa
— e Cristo não quer reinar, senão nesta base, até sua segun­
da vinda.

14. O N D E NO SSO S E N H O R E N S IN O U E S T A V E R D A D E ?

Precisam ente onde devia esclarecê-la — perante o E s­


tado, falando ao representante do Im pério Romano, Pôncio
Pilatos, na hora do seu processo civil. E Pau lo a ensinou
aos próprios romanos, cap. 13 de Rom .
15. COMO D E F E N D E U O R E I M E S S IÂ N IC O S E U R E IN O
N O C O R A Ç Ã O R E D IM ID O , Q U A N D O PR O C E S S A D O
COMO R I V A L D E C E S A R ?

Disse: «O meu reino não é dêste mundo; se meu reino


fosse dêste mundo, pelejariam os meus servos (Jesus não
fo i pacifista — W . C . T .), para que eu não fosse entregue
aos judeus. Mas agora meu reino não é daqui. . . Eu para
isso nasci, e para isso vim ao mundo, afim de dar testemu­
nho da verdade. Todo aquêle que é da verdade ouve a m i­
nha voz», João 18:36. Pilatos não achou nisso rivalidade
alguma a César ou à lei e à ordem na Palestina. Ninguém
mais acharia, se tivesse juízo. O reino de Jesus é um reino
da verdade revelada na consciência e vida dos salvos. «O
que é da verdade», os que têm afinidade espiritual com a
doutrina pregada por Cristo, constituem seu reino nas al­
mas redimidas, na terra. N ão há m aior pecado contra o
reino de Cristo, m aior apostasia desta verdade, do que ne­
ga r a veracidade do Filho de Deus, declarando: «O reino
de Cristo, sim, E ’ D Ê STE M U N D O e vou identificá-lo com
minha ambição de regim e político e de meu sistema econô­
mico predileto; assim terei a autoridade de Cristo para meu
program a m aterialista dêste mundo e Jesus se tornará Che­
fe Político de meu partido». E ’ exploração do nome de
Jesus.

16. ISSO IN D IC A IN D IF E R E N T IS M O DE JESUS AS


R E S P O N S A B IL ID A D E S DO C ID A D Ã O ?
182 DOUTRINAS
Do form a nenhuma. Jesus ensinou a moral, e é a m o­
ral que fa lta nos governos dêste mundo e estes próprios go-
gernos precisam obedecer à lei m oral. N ão aliar-se com a
idolatria, não jurar em vão, cumprir a constituição e as leis,
não desprezar o único dia santo, o que vem cada semana,
respeitar o lar, não roubar a propriedade de seus cidadãos
nem cobiçar o território de nação próxima, não m atar senão
em defesa da segurança nacional — ■eis os deveres morais de
qualquer go vêrn o . Governos que se regem pela simples m o­
ral são os melhores governos possíveis. Ninguém pense em
perfeição como alvo político. Será vasto melhoramento se
qualquer govêrno viver segundo a mais elementar m o ra l.
Nenhum govêrno terá êxito onde Israel fracassou — fazen ­
do valer o ideal de uma teocracia, sob uma lei única. Cadu­
cou essa idéia, há vinte séculos.

17. QUE O U TRO A S P E C T O DO R E IN O DE C R IS TO


F A Z P A R T E D E S T A D O U T R IN A ?

Sua vitória final realizada pela sua segunda vinda. Meu


livro «C rem os» tem como último capítulo êste assunto: « P a ­
norama P rofético do P o r v ir ». N ão o repetirei aqui, mas é
assunto de grande doutrina apostólica.

18. QUAL, O E S T A D O F I N A L DO R E IN O D E D E U S ?
Cristo vencerá. Então virá o estado final do universo,
até onde nos fô r revelado o futuro: «D E P O IS V IR A ' O F IM ,
quando tiver entregado o reino ao P a i», I Cor. 15:24-28.
V olta o universo a ser o reino de Deus, v . 28. O incidente
do pecado terá fim , no inferno. O resto do universo estará
em paz. O Apocalipse canta «A lelu ias», ao contemplar esta
consumação, pela qual tôda a criação geme, Rom . 8:19-22.

19. E ’ V E R D A D E D IZ E R Q U E O SE R M ÃO DO M O N T E
C O N TE M A C O N S T IT U IÇ Ã O DO R E IN O D E C R IS T O ?

Absolutamente não. O reino é uma das doutrinas do


Sermão, mas não é o assunto. A palavra se acha em M at.
5:3, 10, 19, 20; 6:10, 13 ( ? ) , 33; 7:21. São 9 vêzes em três
longos capítulos e não é definido nenhuma vez. O Sermão
do Monte veio no auge do ministério de Jesus, etapa central
de sua jornada à cruz. João e Jesus já haviam pregado o
A DOUTRINA DO REINO DE DEUS 183
arrependimento e a fé, o evangelho do reino, um ano e
m eio. O cap. 3 de João tem o reino por assunto e também
M at. 13. O assunto do Sermão do Monte é a expansão da
justiça que se acha em form a preparatória e provisória na
L ei de Moisés.

20. E M Q U E C O N S IS T E A G R A N D E Z A DO R E IN O ?
Consiste em lealdade a Cristo, obediência aos seus man­
damentos, fidelidade e visão na esfera de sua soberania na
vida espiritual, M at. 5:19. «Ê s te s » são os mandamentos co­
muns a tôdas as fases do reino de Deus — Lei, Profetas,
Salmos, e a pregação de Jesus, que expandiu seu sentido.
Quem violar e ensinar aos homens a violar os mandamentos
que Cristo renovou e impôs na consciência cristã, é o menor
no reino. Quem «cum prir e ensinar» é o m aior no reino.
N ão é diferente a Grande Comissão. O Sermão db Monte
não eclipsa o resto da Escritura. Ensinar a observar tudo
que Cristo mandou é a tarefa de reino e igrejas até ao fim
do mundo, M at» 28:18-20.
C A P ÍT U L O XV

A DOUTRINA DAS IGREJAS


1. Q U E Q U E R D IZ E R A P A L A V R A Q U E T R A D U Z IM O S
IG R E J A ?

Quer dizer co n grega çã o . P o r isto, os batistas crêera


num cristianism o con gregacion al. O N o vo Testam ento des­
conhece outro tipo de cristianism o. Nunca se lê de Ig r e ja
N acional ou Ig r e ja C atólica ou de Ig r e ja Grega, ou Latin a
ou Síria, ou da Ig r e ja de qualquer província. N ad a disso
é Ig re ja , no sentido bíblico. Todas as igrejas do N ovo T e s ­
tam ento são entidades con gregacion ais. Reuniam seus
membros em lugares determinados, na casa de um m em bro
abastado, ou numa sinagoga ou escola. A t . 1:13; 19:9; Rom .
16:5, 23; T ia g o 2:21 (no g re g o : vossa s in a g o g a ); I C or.
16:19. Estas congregações autônomas mantinham culto,
evangelização, testemunho, ensino, votação, disciplina, elei­
ções de oficiais e mensageiros, cooperação com outras ig r e ­
jas congêneres, ceia do Senhor, contribuição, etc. Cada ig r e ­
ja era uma província espiritual, uma dem ocracia de re g e ­
nerados biblicamente batizados, obediente a Cristo.
2. D E V E M O S U S A R O P L U R A L D A P A L A V R A IG R E J A ?

D evem os. A B íblia o em prega. « A M agn a C arta da


Liberdade H um ana» ( como é chamada a E pístola aos Gá-
latas) fo i escrita «às igreja s da G a lá cia ». O últim o livro da
B íblia fo i enviado às sete igreja s da Á sia . Jesus na últim a
página da Bíblia, é citado como falando assim: «E u Jesus,
enviei o meu anjo, para vos testifica r estas coisas nas I g r e ­
ja s », A p o c . 22:16. A o rem atar o L iv ro da R evelação D iv i­
na, o Senhor por seu Espírito, revelou que êle favorece
«ig r e ja s », não uma só Ig r e ja . Os que alegam haver uma só
Ig r e ja m entem . Há, houve e haverá m uitas ig reja s. O N o v o
Testam ento fa la de igreja s em A t . 15:41; 16:5; R om . 16:
4, 16; I Cor. 7:17; 11:16; 14:33, 34; 16:1, 19; I I C or. 8:18,
19, 23, 24; 11:8, 28; 12:13; G ál. 1:2, 22; I Tess. 2:14; I I
Tess. 1:4; A p o c . 1:4, 11, 20; 2:7, 11, 17, 23, 29; 3:6, 13, 22;
A DOUTRINA DAS IGREJAS 185
22:16. O esforço para ter uma só Igreja no mundo é apos­
tasia e imitação do êrro supremo do romanismo.

3. H A ' O U TRAS PRO VAS D A D O U TR IN A DE QUE H A ­


V IA M U IT A S IGREJAS CONGREGACIONAIS NO
C R ISTIA N ISM O ?
Sim. O Novo Testamento chama as igrejas por nome:
as de Jerusalém, Antioquia, Corinto, Tessalônica, Filipos,
Colossos, Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Fila­
délfia, Laodicéa, Cencréia; e, no plural, as «igrejas da Ásia,
Judeia, Macedônia, Galácia,». E há indiretas referências a
igrejas em Damasco, Babilônia, Trôade, Cesaréia, Atenas,
Beréia, e nas províncias da Galácia, Peréia, Samaria, Uírico,
Creta, Dalmácia, Capadócio, Bitínia, Chipre, Egito, Cirene
e Itália. Jesus começou tendo uma só igreja. Esta obede­
ceu à ordem divina: «Multiplicai-vos e enchei a terra» e
«produziu segundo a sua espécie». De uma igreja surgiram
muitas da mesma espécie. Hoje em dia há alguns que am­
bicionam obrigar os ponteiros do relógio a voltar para trás
e fazer das muitas igrejas uma só! Seria voltar à Idade das
Trevas.

4. H A V IA , NO PR IM E IR O SÉCULO, M AIS DE UMA


IG REJA N U M A CIDADE?
Sem dúvida. A Igreja de Corinto se reunia na casa de
Gaio, tesoureiro da cidade, Rom. 16:23. E, no porto de Co­
rinto, num subúrbio chamado Cencréia, havia outra igreja,
talvez na casa de Febe, Rom. 16:1. Além da igreja na casa
de Prisca e Áquila, em Roma, os eminentes comentadores
anglicanos, Sanday e Headlam, opinam haver mais duas
igrejas indicadas, em Rom. 16:14, 15 ou núcleos de futuras
igrejas. A razão por que Paulo não enviou à Igreja de Roma
sua magna Epístola aos Romanos, seria provàvelmente, o
fato de que já havia várias Igrejas em Roma, não uma só,
quando êle escreveu. Já os judeus tinham este costume, de
muitas sinagogas numa cidade. O Dicionário Bíblico de
Hurlbutt declara que havia em Jerusalém quase 500 sina­
gogas (480, segundo o Talmud, que Schuerer classifica de
« m it o » ). O número de igrejas seria de acordo com a conve­
niência, segundo o mesmo critério que explica o número de
sinagogas. Também os católicos romanos confirmam isto.
186 DOUTRINAS
O «M is s à l Quotidiano», em latim e português, tradução de
p o m Beda Keckeisen, sempre chama os fiéis a assistirem à
missa do dia como se, em espírito, estivessem em uma das
«ven eráveis ig re ja s » de R om a. A firm a que o apóstolo P e ­
dro, em Roma, «reunia os fié is », na casa de Santa Pruden-
ciana, que era a residência do senador Pudens, e na de «S ão
Clem ente» e na casa de «S an ta P risca », no M onte Aventino,
sendo que a «ig r e ja m ã e» de tôdas as igrejas romanas -do
mundo é a de S. João de Latrão, catedral do Papa, «onde
se preserva a mesa em que Jesus celebrou a páscoa e a ceia»,
páginas 247, 397, 493, e 18 a 20 da introdução, do referido
«M is s a l». O Cardeal D . Jaime Câmara, em sua H istória
Eclesiástica, narra como Constantino deu 40 basílicas às
igreja s que existiam em R om a. Tudo isto testifica que, an­
tes «dos dias do Catolicismo, o cristianismo era congregacio-
nal, e desenvolveu muitas igrejas, às vêzes, numa grande
cidade, que podiam reduzir-se a uma só, em horas de seve­
ra perseguição. Paulo, por exemplo, perseguia uma só ig r e ­
ja, a única, até aí, a Ig r e ja de Jerusalém, A t . 8:1-, que f i ­
cou espalhada por toda a Palestina. Mas, quando Paulo v o l­
tou, depois de uns três anos, achou «a s igreja s da Judéia»,
Gál. 1:22, embora não as visitasse. U m a ig re ja original se
tornara em muitas; multiplicou-se segundo a sua espécie.

5. D E V E M O S F A L A R D A «IG R E J A D E ---------», O U D A
«IG R E J A E M ---------» ?

Depende. O N ovo Testam ento usou ambas as preposi­


ções com a palavra ig r e ja : de e em . Tem os « a ig re ja dos
Tessalonicences», I e I I Tess. 1:1; « a ig re ja de Deus que
está em Corinto», I C or. 1:2; I I Cor. 1:1, «a s igrejas da Ga-
lá cia », G ál. 1:1; etc. H á nomes, porém, onde não sôa bem,
como a «ig r e ja do Jóquei Clube», ou «d o Santo A n tôn io», ou
de «S ão B o r ja ». E m casos de nomes onde a ig re ja parece­
ría ser de algo ou de alguém, de modo inconveniente, torna-
se mais suave dizer: « a ig re ja em São Francisco X a v ie r»,
por exem plo. E ’ m atéria de conveniência e som, não de dou­
trina, pois a B íblia usa ambas as preposições, em sentido
igual ou sinônimo, com a palavra ig re ja .

6. H A V I A C U L T O C O N G R E G A C IO N A L ANTES DE
JE SU S ?
A DOUTRINA DAS IGREJAS 187
Sim. Todo o Israel se congregava no deserto, em frente
do tabernáculo. O Velho Testamento exigiu que todos os
homens se congregassem no templo três vêzes por ano, nas
festas judaicas. E, no cativeiro, surgiu a sinagoga, centro
de cultos semanais de leitura e exposição da Bíblia, oração
e hinos. Há séculos, os judeus haviam celebrado cultos con-
gregacionais. E uns duzentos ou trezentos anos antes de
existir o N ovo Testamento grego, havia o Velho Testamen­
to grego, a Versão Septuaginta (« L X X » ), traduzida em A le ­
xandria na vasta e culta colônia judaica ali. Ora, tanto a
palavra ekklesia, como sinagoga, descreviam os cultos e as
organizações congregacionais, no templo e nas sinagogas
da Dispersão. E ra a Bíblia de Jesus e seu povo. E o têr-
mo congregação aparece mais vêzes no Velho Testamento
grego do que no Novo, e veio aos lábios de Jesus e à pena
dos apóstolos em seu sentido congregacional já firmado e
in variável.

7. JESUS TA M B É M D IR IG IU CULTOS C O N G REG AC IO ­


N A IS ?
Constantemente. Sua religião é uma em que é central
a pregação. Quem prega, forçosamente, congrega ouvintes.
O culto é congregacional por natureza. E Cristo mandou:
«Id e e p rega i». Isto envolve ter congregações, o cristianis­
mo congregacional.

8. QUEM O R G A N IZ O U A P R IM E IR A IG R E J A DE
C RISTO ?
Jesus mesmo. Quando escolheu seus apóstolos, reuniu
o discipulado numeroso e escolheu os Doze e os «colocou na
igreja», M at. 5:1; Luc. 6:12, 13; I Cor. 12:28. Jesus deu
instruções, já nos dias de sua carne, para a disciplina de
cada igreja, M at. 18:18. Os discípulos nenhuma curiosida­
de mostram. Não perguntam a Jesus: «Tu falas em igreja,
Senhor; que quer dizer is to ? » N ão. Éles sabiam. Nada per­
guntam. Jesus lhes informara o que estava fazendo quan­
do estava com êles na terra. A idéia de igrejas autônomas
na disciplina era parte do discipulado original.

9. DE QUEM E ’ U M A IG R E J A D E CRISTO C O M PO STA?


De santos: Rom . 1:7; I Cor. 1:2; F il. 1:1; Col. 1:2;
188 DOUTRINAS
etc. — «Tôdas as igrejas dos santos», I Cor. 14:33. E ' o
nome de todos os crentes. Indica que foram , pela graça de
Deus, mediante a fé, separados do mundo, da carne, do dia­
bo, e ficam separados para Jesus Cristo, afim de lhe per­
tencerem, servirem e obedecerem. Cada ig re ja é uma assem­
bléia de regenerados. Nenhum outro tem direito de ser
m em bro. Tam bém o batismo é essencial para ser membro
de uma ig re ja bíblica — prim eiram ente a salvação, e em
seguida, o ato de professá-la püblicam ente. João preparou
para Jesus o povo que se arrependeu e fo i batizado. Jesus
« fê z e batizou discípulos». E ’ a ordem da Grande Comissão
que nos rege até a segunda vinda do M essias.' E podemos
saber que era universal a p raxe. H á duas cidades a que
Paulo escreveu epístolas, as quais êle nunca tinha visto —
Colossos e R om a. Mas êle tem certeza, precisamente nessas
duas cidades, que todos os seus leitores foram «sepultados»
com Cristo no batismo e também «ressuscitados», no ato,
para «andar em novidade de vida», Rom . 6, Col. 2. E* evi­
dência da universalidade do batismo de crentes, nessas duas
cidades onde êle nunca pisara.

10. U M A IG R E J A E ’ U M O R G A N IS M O O U U M A O R G A ­
N IZ A Ç Ã O ?

Am bas as coisas. O rganism o se define como a «disposi­


ção dos órgãos nos sêres vivos — corpo organ izad o». O r­
ganização: « A t o ou efeito de organizar, organ ism o». «O r ­
g a n iza r» significa «constituir o o rga n ism o ». « ó r g ã o » é
«p a rte de um corpo o rg a n iza d o ». Cada ig re ja genuína é
tanto organismo, como é organização. N ão há conflito en­
tre as duas idéias. A s igrejas são organismos porque vida
eterna anima e unifica os membros. E são organizações
porque têm membros com funções determinadas, oficiais, pac­
tos, sessões, propriedades, regulamentos internos, capacida­
de de ser pessoa jurídica, eleições, disciplina, tesouraria, e
cooperação com as demais igrejas por m ensageiros. Tudo
isto e as organizações internas das igrejas (E E .D D ., U U .
M . B ., Sociedades de Senhoras, Moças, Juvenis, e t c .) indi­
cam que uma ig re ja é organização.

11. P O R Q U E H A ’ V A R IA S D E N O M IN A Ç Õ E S N O C R IS ­
T IA N IS M O M U N D IA L H O JE E M D IA ?
A DOUTRINA DAS IGREJAS 189
Porque surgiram fortes divergências em doutrina, mo­
ral, organização e interpretação da Bíblia, com acréscimo
das tradições dos homens e das filosofias de especulação hu­
mana. N o século apostólico havia somente uma denomina­
ção. Todas as igrejas eram da mesma natureza congrega-
eional, e da mesma fé (« a doutrina dos apóstolos»), «a fé
uma vez para sempre entregue aos santos», « a form a de
sãs palavras», «o depósito», «toda a verdade», revelada
pelo Espírito aos apóstolos, segundo a promessa de Jesus,
João 16:13, •— «um a só fé, um só batismo e um só Senhor».

12. E* P E C A D O S E R S E C TÁ R IO , COMO A F IR M A M AL­


GUNS?
Isso depende do que significa ser sectário. Nenhuma
parte da eristandade cindida, é tôda. Cada divisão é uma
parte, uma seita. N o meio de tantas seitas católicas, ortodo­
xas, orientais, protestantes e outras, os batistas são um
povo que procura conhecer, m anter e testemunhar o Cris­
tianismo de Cristo, segundo o N ovo Testamento ,v N ão que­
rem qualquer mistura das tradições dos homens, quer do
judaismo que Jesus cancelou e removeu, na cruz, Col. 2:14;
quer do paganismo, que entrou em massa no prim itivo ca­
tolicismo, de 300 a 1000 D .C ., quer das filosofias, nas teolo-
gias dos credos «ecum ênicos».
Suponhamos que o evangelho (as novas de salvação)
que Jesus pregou é rejeitado por 90% da eristandade nomi­
nal. E ’ fato terrível. E ’ sectário fica r firm e e leal, embora
na minoria, com o evangelho vera z? Se isso é ser sectário,
devo ser sectário. Se o batismo de Jesus é praticado somen­
te por uma seita, e rejeitado pela vasta maioria, devo per­
tencer a esta seita. Onde o im utável Cristo é sectário, na
doutrina ou na prática do seu cristianismo revelado, basta
ao discípulo que seja como o seu M estre e creia a mesma
verdade, embora seja rejeitada pela m aioria sectária e de­
fendida pela minoria, uma «seita contra a qual todos fa ­
la m ». Ser sectário nunca é pecado, se consiste em ser leal
a Jesus Cristo, com outros da mesma fé e ordem obediente.

13. M A S N Á O D E V E M TÔ D AS A S D E N O M IN A Ç Õ E S
A P E N A S C H A M A R -S E : A IG R E J A C R IS T A ? N Ã O
SE C H A M A A E S PÔ S A P E L O N O M E D E S E U M A ­
R ID O ?
190 DOUTRINAS
Antes do casamento, não! A Ig re ja de Corinto foi cha­
mada virgem , I I Cor. 11:2. Nenhuma virgem se chama pelo
nome do seu futuro m arido. Isso é presunção!
F in gir que tôdas as denominações são «a mesma coisa»
é hipocrisia. Pois todos sabem que são diferentes. D ivergem
em evangelho, doutrina, ministério, ritos, govêrno, moral,
costumes, credos, métodos, literatura, e relações corn o go ­
vêrno civil! D izer que «não há diferença» é falta de vera­
cidade . E ’ mendacidade indesculpável. O crente deve ter
p a la vra .
Essa idéia de tôdas as denominações ser « A Ig re ja Cris­
tã » é insensatez anti-bíblica. Onde se lê na Bíblia alguma
palavra a respeito da «Ig r e ja C ristã»? Se isso não foi dever
dos apóstolos e das prim eiras igrejas, como é que se fe z de­
ver nosso? Jesus ainda não se casou. E ’ noivo. «A s bodas
do Cordeiro» se celebrarão no céu, como afirm a o A poca­
lipse e M at. 22.
Mesmo que houvesse uma só Ig re ja e essa fôsse a es­
posa de Jesus e levasse o nome do Esposo, seu nome é Je­
sus. Cristo é o nome do seu ofício (o Messias, o Cristo), não
o nome pessoal que a esposa levaria. A esposa do pre­
sidente Truman leva o nome de Senhora Truman, não Se­
nhora Presidente. Ninguém diz: Dona General, ou Dona Co­
ronel, ou Dona Médico, ou Dona Advogado ou Dona E nge­
nheiro. A espôsa não tom a o nome do ofício do marido. Se
as igrejas devem levar o nome de Jesus, o nome pessoal
do Salvador e noivo do seu povo, então devem ser chama­
das: «a Ig re ja Jesuíta (de Jesus). São os jesuítas que acer­
taram, se essa teoria é veraz; mas a Bíblia nunca usa ad­
jetivo algum com a palavra igreja — nem católica, nem or­
todoxa , nem outro. Bastava dizer as igrejas, quando havia
só uma denominação.
14. M A S HOJE H A ' M U IT A S D E N O M IN A Ç Õ E S, E COMO
H A V E M O S D E D IS T IN G U I-L A S ?
Pelos seus nomes. Assim com Silva, Lima, Dutra, A r a ­
nha, Soren, Cavalcante, Lindoso, etc. etc., são nomes her­
dados que, juntamente com outros nomes pessoais, distin­
guem os homens, do mesmo modo presbiterianos (sinodais
ou independentes ou consevadores), e tais nomes, são nomes
históricos e honrados, de grupos de crentes, com certas dou­
trinas e práticas características. Seria insensato um homem
A DOUTRINA DAS IGREJAS 191
que insistisse: «E u não quero nome sectário, eu só me cha­
mo H O M E M » . «M as como é, Senhor Homem, que vamos
distinguir V . S. dos demais homens, se cada um não se de­
nomina por um sobrenome d iferen te»? «N ã o im porta. Só
me chamo H om em ». Mas o povo o chamará outro nome e
talvez seja menos do seu agrado. Cada denominação leva o
nome que popularmente o distinguiu, os presbiterianos pelos
seus presbíteros e presbitérios, aliás, não no sentido bíbli­
co dos vocábulos; os metodistas pelos métodos de W esley,
que também não eram bíblicos, em muitos respeitos, e os
luteranos se chamavam por Lutero, os Nestorianos, por
Nestor, etc.
Os Anabatistas foram salientados, no pensamento popu­
lar, pelo fato de rebatizar (ana — batizar) os que haviam
recebido o batismo infantil. N ão é fa to. T al cerimônia não
é batismo algum genuíno. L ogo batizávamos — não reba-
tizávam os. Nunca repetimos um batismo válido. H á «um
só batismo», mas administramos êste a milhões que abando­
naram falsas doutrinas e o batismo que era a bandeira dês-
ses erros. Gradualmente caiu a sílaba ana e ficamos batis­
tas. E ’ nossa denominação, nome do nosso povo. E tem
vantagens. Se nós nos chamássemos: As Igreja s Cristãs,
então muitos clamariam, em protesto: «M as nós também
somos cristãos». E ’ o que protestam contra a meia dúzia de
seitas no Brasil que procuram o monopólio do nome Ig r e ­
ja Cristã. E ’ o predileto nome sectário, embora nada tenha
de bíblico. Mas as igrejas batistas não fingem ser os úni­
cos cristãos e o nome nos identifica historicamente, embo­
ra o batismo seja uma das doutrinas que menos pregam os.
O que é importante, a nosso ver, é que as igrejas hoje em
dia sejam a mesma qualidade de igrejas que as do N ovo
Testamento. P o r isto chamamos, entre nós, as igrejas batis­
tas: as igrejas do N ovo Testamento, sem resistir o nome po­
pular que levamos como denominação. Pelo menos, batista
é o nome bíblico. Católico e ortodoxo não são bíblicos. E
cristão, nas Escrituras, é aceito sem protesto, exatamente
como nós aceitamos o nome de batistas. Vêde a origem do
têrm o em Antioquia pagã, A t . 11:26, e seu uso pelo pagão
A gripa, A t . 26:28, e como têrmo de opróbrio na persegui­
ção, descrita pelo apóstolo Pedro: I Ped. 4:16. A denomi­
nação sempre vale pelo que é, não pelo nome dado pelo povo.
192 DOUTRINAS
15. Q U E F IG U R A S SE E M P R E G A M N A L IN G U A G E M
M E T A F Ó R IC A D E C R IS T O E DO N O V O T E S T A M E N ­
T O A C Ê R C A D A S IG R E J A S D E D E U S ?
São chamadas: santuário de Deus, I Cor. 3:17; noiva
de Cristo, I I Cor. 11:2; candelabro ou castiçal, onde as lu­
zes individuais dos crentes ficam unidas, A p oc. 1:12, 20;
M a t. 5:15; lavoura de Deus, I Cor. 3:9; edifício de Deus,
I Cor. 3:9; corpo de Cristo, I Cor. 12:27; pão, simbolizado
pelo pão da ceia, I Cor. 10:17; morada de Deus, no Espírito
E f . 2:22; (sendo a correta tradução: «cad a e d ifíc io ... templo
s a n to ... m orada», e t c . ) ; rebanho, A t . 20:28, 29; coluna da
verdade, I T im . 3:15 — correta tradução: «P a r a que saibas
como convém andar (ou com portar-se) numa casa de Deus,
que é uma ig reja do Deus vivo, uma coluna e um esteio da
verd ad e». N ão há um só artigo no origin al de todo êste v e r­
sículo, a não ser com a palavra verdade; e é clara a figura,
cada ig re ja sendo uma de muitas colunas que sustentam e
firm am bem a verdade. N ada se sustenta numa só coluna.
Considerai, pois, a grandeza da missão de uma ig re ja bíbli­
ca, vista nessas m últiplas figu ras apostólicas.

16. N O S S A V ID A C R IS T A SE R E L A C IO N A S Ò M E N TE
COM A IG R E J A D E Q U E F A Z E M O S P A R T E ?

N ã o . Isso é bairrismo, egoísmo e m iopia espiritual. A s


igrejas são uma irmandade de fé . Devemos zelar por tôdas
elas e ajudar qualquer uma que estiver ao nosso alcance.
Qualquer crente batizado é capaz de mudar-se para qual­
quer outra ig re ja igu al. Paulo sentia cada dia «o cuidado
(a ansiedade pelo bem estar) de tôdas as igreja s», I I Cor.
11:28. P o r elas o apóstolo sofria «trabalhos, açoites, prisões,
perigos de morte, apedrejamento, naufrágios, viagens m ui­
tas, perigos de rios, salteadores, judeus, gentios, desertos,
cidades, mar, falsos irmãos, fadiga, vigílias, fome, sêde, nu­
dez e fr io » . Devem os im itar seus sacrifícios e zêlo por tô ­
das as igrejas, não pela nossa somente. «Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às ig re ja s ». A espiritualidade se
m anifesta em nós nesta comunhão fratern al e cooperação
gera l de muitas igrejas, irmanadas na mesma fé e atividade
com um .

17. COMO SE C H A M A ESTA A T IV ID A D E ?


A DOUTRINA DAS IGREJAS 193
Chama-se a cooperação das igrejas. A s igrejas bíbli­
cas cooperam por mensageiros, entre si ou em união para
administrar responsabilidades que sejam comuns a várias
igrejas. A doutrina da cooperação das igrejas se acha am­
plamente exposta em I Cor. 16; I I Cor. 8 e 9; Rom. 15; A t.
20 ê 21, etc. Começa esta cooperação das igrejas na graça
de Deus e se remata na glória de Cristo, I I Cor. 9:1, 23. E
os mensageiros das igrejas, pelos quais a atividade coopera-
dora é promovida, são chamados «a glória de Cristo». E ’
alto louvor e mostra a vasta importância da cooperação das
ig re ja s . Os batistas fazem em todo o mundo um ingente
trabalho cooperador por meio de associações e convenções,
uniões, juntas, comissões, e a Aliança Batista Mundial, to­
das elas compostas dos «mensageiros das igrejas, glória de
C ris to ». De fato, poucos esforços neste mundo dão tanta
glória a Cristo como os resultados das deliberações destes
mensageiros reunidos. A cooperação das igrejas é tão bí­
blica e indispensável como a existência das mesmas igrejas.

18. DEVEM OS F A L A R DE « A IG R E JA B A T IS T A »?
Nunca. Não há tal coisa. Como dizia o imortal Gam-
brell, meu professor: «Cada igreja batista é como um ovo.
E* completa em si, autônoma e independente das demais
igrejas. Não há um vasto Ovo Católico, composto de todos
os ovos do mundo. Seria um Ovo podre. E não há uma vasta
Ig reja Católica ou Igreja Batista, composta de tôdas as igre­
jas . Cada igreja batista é completa, autônoma, indepen­
dente em si; não fa z parte de outra igreja e tem em si a
própria vida e perpetuidade». Ela se reproduz, «segundo a
sua espécie». H á umas 75.000 igrejas batistas no mundo e
deve haver centenas de milhares, uma em cada bairro, vila ou
vizinhança ru ral. Nunca falemos de « A Ig re ja B a tis ta ».
Não existe tal coisa.
A Bíblia às vezes, fala, de modo genérico, usando a pa­
lavra igreja no singular. Nós falamos assim do lar, da si­
nagoga, da família, da escola, da caneta-tinteiro, da bom­
ba atômica, e tc . . . Não é que isso signifique L a r Católico
composto de todos os lares, ou Sinagoga Universal de que
tôdas as sinagogas sejam partes componentes, ou uma só
fam ília do mundo ou uma só escola, ou caneta ou bomba
atômica. Usamos um têrmo no singular, em sentido genéri­
co e o sentido é realmente plural e se refere a todos da es­
m DOUTRINAS
pécie. Assim Jesus, a respeito de todas as igrejas, e cada
uma, disse: «Dize-o à igreja», genèricamente falando. Assim
Paulo fala de cada uma igreja ser «coluna da verdade» e
cada um edifício espiritual, um templo santo, morada de
Deus no Espírito, M at. 18:17; E f. 2:21, 22; I Tim . 3:15;
etc. Êste sentido genérico da palavra igreja é o mesmo que
tem o plural da palavra.

19. M A S N Ã O H A ’ N A B ÍB L IA A IN D A OUTRO S E N T I­
DO D A P A L A V R A IG R E JA, U M SE N TID O G E R A L
EM QUE A P A L A V R A A B R A N G E TODOS OS S A L ­
VO S?
Há eminentes batistas que pensam que não. Pessoal­
mente, em harmonia com muitos dos melhores intérpretes,
penso que sim. A Epístola aos Hebreus se refere à «univer­
sal assembléia e igreja dos primogênitos que estão inscri­
tos no céu e a Deus e aos espíritos dos justos aperfeiçoados»,
Heb. 12:23.
Acho que esta «Ig re ja Geral» é a soma de todos os ins­
critos no livro da vida, todos sendo primogênitos de Deus.
Os judeus davam ao primogênito dupla herança, a missão
sacerdotal e a chefia da família, especiaimente na era patri­
arcal. Mas na fam ília de Deus a herança de todos os filhos
é dupla. Todos são primogênitos. Todos são sacerdotes e
reis para Deus, Apoc. 1:6. Um dia todos êstes serão con­
gregados na presença de Jesus em assembléia festiva e igre­
ja universal. E, em antecipação, agora em a comunhão
dos santos, podemos falar desta Igreja Geral, composta de
todos os salvos.
Devemos, porém, notar as seguintes verdades a res­
peito: 1) Esta Ig reja não é organização. Não é composta
de tôdas as denominações, nem é denominação em si. Nada
tem de aspecto eclesiástico ou «católico» ou «ecumênico»,
no sentido popular dêsses têrmos desconhecidos na Palavra
de Deus. E ’ uma fraternidade espiritual de todos que exer­
ceram a fé salvadora em Jesus Cristo e foram regenerados
pelo Espírito Santo. 2) Não há uma guerra civil, na Bíblia,
entre essa Igreja Geral, mera linguagem m etafórica a res­
peito da soma de todos os crentes, e as igrejas bíblicas. Cada
uma destas é igreja (congregação) ao pé da letra, não em
sentido figurado. A estas igrejas quase todo o N ovo Testa­
mento fo i escrito e enviado. A cooperação destas igrejas
A DOUTRINA DAS IGREJAS 195
tem sua origem na graça de Deus e seu resultado na glória
de Cristo, I I Cor. 9. Estas igrejas cuidam da disciplina dos
membros que pecam, M at. 18; I Cor. 5, 10; I I Cor. 1; ob­
servam a ceia do Senhor, I Cor. 11; «liga m e desligam»,
M at. 18:18; cumprem a Grande Comissão, M at. 28:28-30;
são as luzes, com Cristo (o sol) e o ministério (as estréias),
com que Jesus pretende iluminar o mundo, A poc. 1; são
os rebanhos servidos pelos pastores-mestres outorgados pelo
Cristo glorificado, E f. 4:11; cada uma fo i contemplada no
Calvário, A t . 20:28; são as colunas e sustentáculo da v e r­
dade, I Tim . 3:15; cada uma é para seus membros e meio
ambiente, noiva de Jesus, corpo de Cristo, santuário do E s­
pírito Santo, pão simbolizado pela ceia, lavoura de Deus,
casa de Deus e edifício para a morada de Deus. Genérica-
mente, de cada uma de tais igrejas, Paulo pergunta, horro­
rizado: «Desprezais a igreja de D eu s?» E Cristo manda «D i-
ze-o à igreja », como o tribunal superior e final que ju lga seus
membros, I Cor. 5:13. Opor um sentido m etafórico da pala­
vra Ig re ja a tôda esta obediência a Cristo que é prestada
somente dentro de igrejas bíblicas, e pela cooperação das
mesmas, é uma rebeldia ousada contra a autoridade do F i­
lho de Deus. Ninguém tem o direito de optar pelo sentido
m etafórico de uma palavra da revelação divina é repudiar
seu sentido comum literal e todos os deveres da obediência
à Palavra de Deus. A Ig re ja Geral nada tem de rivalidade
com as igrejas, nem vice-versa. 3) Cada igreja visa ser em
minúcia, o que a igreja geral é em vasta escala, composta,
unicamente de crentes. Alguns chamam cada igreja um
«m icrocosm o», ou resumo, do que a igreja geral é como «m a-
crocosmo», ou em escala universal. N ão podemos conse­
guir a limitação perfeita das igrejas aos regenerados. Um
Judas, um Ananias, uma Safira, um Simão Mago, um Demas
ou Diótrefes entrará, e mais tarde «irá para seu próprio lu­
g a r ». A doutrina mais urgente dos batistas acerca das igre­
jas é que somente os regenerados têm direito de entrar.
4) A linguagem figurada usada a respeito das igrejas, em
tese, se em prega também acêrca da Ig re ja Geral, que é o
corpo de Cristo, E f. 1:23; sua futura esposa, mas que ele
ainda prepara suas bodas para serem realizadas no céu com
sua noiva, E f. 5:22-23; Apoc. 2:2, 9; 22:17; o templo de
Deus em que os regenerados são edificados como pedras v i­
vas na construção, I Ped. 2:5. Pedro também chama essa
comunhão de todos os crentes « a geração eleita, o sacerdócio
196 DOUTRINAS
real, a nação santa, o povo adquirido», v . 9. Paulo a classi­
fica como « o Israel de Deus», Gál. 6:16; F il. 3:3; Rom.
2:28, 29. Como o antigo Israel era chamado « a Congregação
do Senhor», porque se congregava realmente, assim êste Is ­
rael segundo o Espírito se congrega nà N ova Jerusalém, e
já leva o antigo nome de Congregação (Ig r e ja ) Geral dos
Prim ogênitos. Jesus deu muitos pastores para muitos reba­
nhos, mas êle, como o Bom Pastor, tem um rebanho (não
um redil, como os padres falsificam as Escrituras) univer­
sal, João 10:16. E assim com outras figuras. Creiamos am­
bas estas verdades, as igrejas em sentido literal, e a lingua­
gem figurada acêrca de todos os salvos que os chama: « A
Ig re ja dos P rim ogên itos.»
N otai que quase todas as figuras a respeito das igrejas
se usam nas Epístolas aos Coríntios e outras Escrituras. E
quase tôdas as figuras sôbre a Ig re ja Geral se acham nas
Epístolas dos últimos anos de Paulo (E f. e C o l.) e na Ep.
aos Hebreus. 5) Orientemo-nos por toda esta verdade. T e ­
nhamos por irmãos, nesta comunhão dos santos, todos os
crentes. Mas avaliemos que, no terreno de igrejas bíblicas,
a vasta maioria dos crentes são rebeldes contra a autoridade
de Jesus Cristo, nunca foram batizados, têm bispos, ig re­
jas, sacramentos anti-bíblicos, e vão fabricando uma nova
Ig re ja Católica e nova Idade das Trevas, no seu unionismo.
Tenhamos os olhos e os corações abertos, pois, para o que
todos têm em comum, em Jesus Cristo, e para o que quais­
quer uns recusam ter em comum, isto é, a obediência à au­
toridade do Senhor. 6) Nunca aceitemos a interpretação de
João 15 de que Jesus é a Videira e todas as denominações
«ram os da Ig r e ja ». E ’ tolice. A Videira é Cristo, não a Ig r e ­
ja . E as varas ou ramos são crentes, não denominações. Nem
pensemos que João 17 ensina qualquer catolicismo, romanis-
ta ou protestante. Ensina esta unidade em Cristo dos salvos,
unidade em separação do mundo, na verdade e na santifica­
ção, não em unir tôdas as falsas doutrinas com a verdade,
tôdas as falsas igrejas e as verdadeiras, tôdas as tradições
dos homens e a revelação divina. Que os crentes sejam um,
como o P a i e o Filho são um — em natureza e propósito
espiritual. O Pai e o Filho não são um por pertencerem a
uma vasta Ig re ja Celeste ou porque rezam o mesmo Credo
ou obedecem ambos ao Papa. A unidade espiritual de Deus
Triúno é a norma da unidade que Jesus suplicou em João 17.
A DOUTRINA DAS IGREJAS 197
20. COM O E N T R A M O S N U M A IG R E J A , N O S E N T ID O
C O N G R E G A C IO N A L , A O P E ’ D A L E T R A ? E COM O
E N T R A M O S A F A Z E R P A R T E D A IG R E J A G E R A L
D O S P R IM O G Ê N IT O S ?

Crentes entram nas ig reja s com o membros pelo batism o


e o consentim ento congregacional m anifestado em voto.
Pau lo diz: «E m um só Espírito, fom os batizados em um
c o rp o ». O crente já está no E sp írito antes do seu batism o.
E ' a preciosa doutrina da regeneração antes do batismo. « N a
comunhão de um só E spírito fom os batizados em um corpo»,
é a tradução de I Cor. 12:12, dada pelos eminentes comen­
tadores, Conybeare e H ow son. «E m o E sp írito », prim eiro;
o batismo depois da salvação; a entrada na ig re ja por m eio
do batism o. Os batistas ensinam: Cristo antes da Ig r e ja ; o
sangue rem idor antes da água batism al; a salvação antes
do batism o; o E sp írito antes de form alidades ou organização.
N a Ig r e ja G eral se entra pela regen eração. Portanto,
entram os quando crem os. E ’ a Ig r e ja *dos «p rim ogên itos»,
ou regenerados. A regeneração pela fé, fa z do crente m em ­
bro de C risto e do seu corpo, ovelh a do seu rebanho, pedra
v iv a de sua casa espiritual. N ã o é verdade que alguém en­
tra em ig re ja algum a pelo «batism o do E spírito S a n to ». A n ­
tes de existir o batism o no Espírito, que começou no D ia de
Pentecostes, existiu uma igreja , sob disciplina e com o ba­
tismo, a ceia, ê o apostolado, que se m ultiplicou m ais ta r­
de em m uitas ig reja s de Deus, existiram muitos regen era­
dos, e a Ig r e ja dos prim ogênitos que o são pela regeneração.
E xistia o Supremo Pastor, seu rebanho e m uitas ovelhas do
m esm o. N ã o se entrou nunca em nenhuma igreja , lite ra l ou
figu rada, pelo batism o no E sp írito Santo. Êste veio ungir
uma ig r e ja já existente.
A im portância das ig reja s é evidente pela riqueza do
ensino de Jesus, do E spírito e dos apóstolos sobre o assunto.
CAPÍTULO XVI

A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR


1. A C E IA E ’ S A C R A M E N T O ?

N ão. Sacramento é uma palavra paga, em origem, his­


tória e sentido, na língua e no pensamento da vasta m aioria
dos cristãos nominais que a incorporam em seus credos. A
Bíblia nada sabe de sacramentos. Os «católicos» e os «o rto ­
doxos», de Rom a e Moscou, respectivamente, têm sete sacra­
mentos. Os protestantes têm dois. A Bíblia e os batistas
não têm nenhum. E não fazem fa lta . Sua ausência é essen­
cial a um cristianismo puro e leal.

2. E N T Ã O , COMO E ' Q U E A C E IA DO S E N H O R SE C H A ­
M A N A B ÍB L IA ?

P ositiva m en te, lemos da «ceia do Senhor», I Cor. 11:


20; da «m esa do Senhor», do «pão que partim os», do «cálice
de bênção que abençoamos», I Cor. 10:16-21; do «p a rtir do
pão», A t . 2-42 (mas em v . 46, o p a rtir do pão se refere às
refeições particulares em casa) . Paulo chama o pão e o cá­
lice: « a comunhão (participação simbólica) do c o r p o ... a
comunhão do sangue. . .de Cristo», I Cor. 10-16. Mas a fr a ­
se « a com unhão», em A t . 2:42 não se refere à ceia, mas à
fraternidade cristã, ao amor fraternal como de sócios no
reino de Deus e seus em prendimentos.
N egativam ente, a ceia do Senhor nunca se chama «s a ­
cram ento», «P áscoa», «M issa», «E u caristia», «S an ta Ceia»,
«P ã o dos A n jos», «Santíssim o Sacram ento», «Jesus-hóstia»,
«Deus Sacramentado», «Transubstanciação», «Consubstan-
ciação» (lu terana), ou «sacrifício do a lta r». Nosso único al­
ta r é o Calvário, nosso único sacrifício e Sacerdote, Jesus
Cristo, H eb. 13:10-13.
H á uma form a de «sãs palavras» e devemos conservá-
la . Basta o nome que a Escritura deu, « a ceia do Senhor»,
com a term inologia sôbre os atos simbólicos, na linguagem
já citada. A verdade de Deus é mais segura nas palavras
de Deus.
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 199
3. «COMO E ’ QUE OS CATÓ LICO S JEJU A M A N T E S D A
M ISSA, M A S OS B A T IS T A S N A O TO M A M A C E IA
EM J E J U M ?»

Pergunta textual, que recebi escrita, numa noite, antes


de p r e g a r ). Respondí: « E ’ porque os católicos estão erra­
dos e os batistas estão certos, de acordo com a Escritura
S a gra d a ».
Jesus é o nosso E xem plo. Êle estabeleceu a ceia logo
depois de um grande banquete anual, a Páscoa dos judeus
- - não em jejum. Êle e os seus apóstolos haviam tomado
parte neste banquete por horas, comendo um cordeiro as­
sado inteiro, vários pães, ervas amargas, passas, tâmaras,
môlho, vários copos de vinho misturado com água, etc. Isso
é jejum ? E ’ o exemplo que o Senhor nos deu quando cele­
brou, a ceia . Outrossim, a passagem clássica sôbre a ceia é
I Cor. 11:18-34. A í Paulo ordena que os membros da Igreja
de Corinto comam em casa antes da ceia, e não venham sem
comer, «se algum tiver fom e», v. 34. E Mateus historia o
evento assim: «Quando comiam», é que o Senhor deu origem
à nova ceia, M at. 26:26 e Marcos concorda: «assentados a
c o m e r ...», «e comendo eles», M ar. 14:18-22. Tal jejum é
pecado, pois Jesus proibiu o jejum em ostentação, M at.
6:16-18. E, como as tradições dos homens tornam o culto
inválido, o acréscimo de tanta superstição à ceia do Se­
nhor fêz que semelhante culto pervertido se torne nulo pe­
rante Deus, M at. 15:9.

4. A S P IN T U R A S M E D IE V A IS D A «Ü L T IM A C E IA » SÃO
V E R ÍD IC A S ?

Nada mais falso e contraditório da razão e da histó­


ria. Tais pinturas, como arte, podem ter grande beleza e in­
teresse, mas como história, falta-lhes tôda a fidelidade aos
Evangelhos, e não passam de crassa ignorância, mentira e
superstição. Essa arte sacramentalista tem cinco defeitos:
1) N ão é verossímil a cena. Alguém já viu 13 homens
sentados de um só lado da mesa, e três lados sem hóspede
algum? Esquisito!
2) Não é fiel aos costumes antigos. Nos dias de Jesus,
reclinavam-se os convivas à mesa, em sofás, meio-sentados,
meio-deitados, reclinados sôbre um cotovelo. João, assim
reclinado, deitava a cabeça sôbre o peito de Jesus e lhe fêz
200 DOUTRINAS
uma pergunta intima, João 21:20. O que vemos na arte cle­
rical são mesas de um convento e cadeiras. E ’ anacronismo
ridículo. Errou o tempo representado, por 15 séculos.
3) O Cristo dessas telas é um vulto convencional, alheio
às Escrituras, cujos autores eram os contemporâneos dele.
P or exemplo, Paulo escreveu: «N ã o vos ensina a mesma na­
tureza que é deshonra para o varão ter cabelo crescido?»
O apóstolo teria cortado a mão antes de escrever tais pa­
lavras, se fossem derrogatórias do seu Salvador. E* psi­
cologicamente impossível ter pensado Paulo assim, se Jesus
seguia o uso que o apóstolo condenou perante os coríntios, e
o Espírito Santo não teria guiado a Jesus para seguir o cos­
tume que é «deshonra» na revelação que havia de inspirar
o apóstolo a escrever. N ão vem ao caso dizer que Jesus era
nazireu. Não o fo i. O nazireu não bebia vinho — mas Je­
sus o bebia, mesmo nessa noite da ceia. N a ignorância abis­
mai do clero, não sabiam a diferença entre «nazireu» (ju ­
deu com voto de não cortar o cabelo ou beber vinho) e na­
zareno (cidadão de N a z a r é ). Tenho uma «V id a de Cristo»,
por autor católico romano, que chama a João «nazareno» e
vários N . T s. que chamam a Jesus «nazareu» e «n azireu ».
E ’ isso que explica essa arte cheia de Nazwrenos-nazireus.
Duas das principais revistas dos E . U . A . recentemente, em
seus estudos do problema da delinquência juvenil, solenemen­
te advertiram ao público norte-americano que um dos mo­
tivos do fácil desvio da juventude da moral é a arte religio­
sa; representa a Jesus como efeminado. N ão merece o res­
peito dos jovens. Buscam heróis nos gangsters e salteado­
res que os cinemas, o rádio e as revistas juvenis glorificam .
O Cristo real fo i o mais varonil dos homens, sempre segui­
do pelos homens. E* um insulto à sua pessoa pintá-lo de
maneira ãeshonrosa, segundo o testemunho da P alavra de
Deus, pois há duas coisas que o mundo detesta — mulher
masculinizada e homem efeminado. Mau grado ao senti-
mentalismo doentio da arte medieval, Jesus não foi efem ina­
do, mas sim «o forte Filho de Deus, eterno amor», como o
chamou o poeta crente, Sidney Lanier.
4) T a l arte de Rom a é falsa e nociva também em re­
presentar vários dos apóstolos como gente encanecida. O
apostolado era um grupo de moços. Eram ativos na evan-
gelização itinerante no ano de 57 ou 58, viajando com
suas esposas, trinta anos depois dessa prim eira ceia do Se­
nhor, quando Paulo escreveu à Ig re ja de Corinto, I Cor. 9:5.
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 201
João escreveu cinco livros do N ovo Testamento 60 ou 70
anos depois da morte de Cristo. F oi um Salvador jovem,
com um apostolado jovem, que juntos se reclinaram ao re­
dor de mesas orientais do século I, no cenáculo de M aria
Marcos. Pouco depois, Jesus ainda se refere a Pedro como
moço, João 21:18 — «m ais m oço». «Quando já fores ve­
lho» — ainda não o é. Pedro ainda teria 40 anos de trabalho
duro em seu ministério. Como podemos respeitar, como re­
ligião, uma arte tão falsa, por maior que seja sua beleza
como arte ?
5) A s feições dos apóstolos e de Jesus são italianas, em
regra. Mas os Cristos de Rhoden são holandeses. Ora, os.
fatos no caso se deram em Jerusálém, numa roda de judeus:.
Tais pinturas fazem mais para enganar o povo e fa lsifica r
a história dos Evangelhos do que bibliotecas inteiras de li­
vros clericais. O povo não lê os livros, mas olha para as
imagens e as pinturas e o Cristo que vêem é falso, efemina­
do, irreal. Qual o adorado, tal é o adorador.
k

5. COMO E ’ QUE JESUS N A O C O N VID O U S U A MÃE:


OU SEUS H O SPED EIRO S, P A R A A C E IA ?

E ' que a ceia do Senhor não é festa social ou domésti­


ca. Êle tinha outros meios de mostrar à sua mãe o amor f i ­
lial e a amizade para com os amigos. A ceia tem outra fina­
lidade ê não deve ser desvirtuada para fins sociais ou sentí-
mentalismo. A mãe do Salvador não tem a posição doutri­
nária na Bíblia que lhe é dada no romanismo. Nunca é
mencionada no N . T . depois de A t. 1:14. Jesus disse:
«Quem é minha mãe e quem são meus irmãos ?. .. qualquer
que fize r a vontade de meu P ai que está nos céus, este é meu
irmão e irmã e mãe», M at. 12:48-50. Também não era ofen­
sa social comer na casa de M aria e João Marcos e não con­
vidá-los. Os símbolos da religião cristã nunca devem ser
prostituídos para manifestar sociabilidade ou acatamento*
aos homens. São reservados para a glória de Jesus — « f a ­
zei isto em memória de m im ».

6. P O R QUE SÒM ENTE OS APÓ STO LO S ESTAVAM


PRESENTES ?

Porque êles ocupam um lugar diferente de quaisquer


outros no cristianismo. Jesus os fizera seus agentes 'em ad~
202 DOUTRINAS
ministrar a primeira ordenança, o batismo, João 4:2. A g o ra
recebam a segunda ordenança, a ceia. São os órgãos da re­
velação apostólica, dada por Jesus e pelo Espírito Santo.
Foram os primeiros a ser colocados na igreja, I Cor. 12:28;
H a t. 10:1-5; 16:13-19. Juntamente com Paulo, o apóstolo
especial dos gentios, eram as testemunhas oficiais da res­
surreição, A t. 1:22. Jesus com êles celebrou os primeiros
domingos. Pregaram no dia de Pentecostes e doutrinavam
o cristianismo daí em diante, A t. 2:42. Fazem parte do fun­
damento de que Jesus é a pedra angular, E f. 2:20. São co~
fundadores das igrejas do primeiro século, exceção feita da
primeira igreja de todas, que Jesus mesmo edificou. Ainda
têm missão no céu e serão associados com Jesus no juízo e
na soberania. A ceia pois, como o resto do cristianismo, lhes
foi entregue — não para êles, mas afim de ser fielmente en­
tregue por êles para as igrejas que haviam de fundar e as
do porvir. A ceia é parte da «doutrina dos apóstolos» em
que os espirituais devem perseverar, A t. 2:42.

7. QUALr A M E N S A G E M D A CEIA.?

1) E ’ sermão. A igreja tôda prega: «Todas as vezes


que comerdes êste pão e beber des êste cálice, A N U N C IA IS
a morte do Senhor, até que venha», I Cor. 11:26. Tôda, a
igreja prega — cada mulher, cada criança batizada — to­
dos, em santo símbolo, anunciam a morte do Senhor. E* ser­
mão formal, simbólico, reverente, espiritual, unânime, da
parte da igreja que celebra a ceia.
2) E ’ uma profecia — «a té que venha»; aviva nossa es­
perança da segunda vinda. Comemora o primeiro advento,
consumado no Calvário: antecipa com gôzo o segundo, no
fim do mundo.
3) E ’ monumento. Como o batismo e o domingo, é me­
m orial da redenção. Fazem os isto em grata memória do
C alvário.
4) Ceia é símbolo da nutrição. Nós vivemos do Cristo
crucificado, como o corpo se nutre do que come, bebe e as­
simila. Assimilando o valor da morte de Cristo, somos nu­
tridos por êle, na comunhão de seu corpo e seu sangue.
5) A lém da própria ceia ser Sermão, Profecia, Monu­
mento e Símbolo de Nutrição, os seus elementos, pão e v i­
nho, têm em si vários sentidos simbólicos:
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 203
a ) Unidade da ig re ja que a celebra — «U m só pão, um
só corpo», I Cor. 10:17.
b) A pureza de cada igreja pela disciplina que é simbo­
lizada pelos pães asmos, usados originalmente, sendo o fe r ­
mento sinal de corrupção e do êrro que devem ser elim ina­
dos, se bem que êste ensino é mais uma paralelo com o sim­
bolismo da antiga páscoa do que com a ceia, I Cor. 5:6-8,
mas a aplicação é para a Ig r e ja de Corinto, I Cor. 5:9-13.
c) A separação entre a vida social de cada ig re ja e a
vida social corrupta do meio ambiente mundano. « A mesa
do Senhor» e « a mesa dos demônios», «o cálice do Senhor»,
e «o cálice dos demônios» de carnalidade são os alvitres pe­
los quais o membro tem de optar, não podendo sentar-se a
ambas, I C or. 10:21. Rica, variada e santificadora é a dou­
trina da ceia na vida de uma ig re ja e seus membros.

8. JESUS E X IG IU V IN H O FERM ENTADO E PAES A S ­


M O S?

N ão. Usou-os, e ficou de pé seu simbolismo. Êle usou


o que estava à mão, mas sua linguagem cuidadosamente
fo g e de exigências complexas cerimoniais. Só fa la em «êste
cálice» e «o fru to da vide», e «êste pão», nunca em êste pão
ou pães asmos. Tudo que a ceia ensina pode ser preservado
sem vinho intoxicante oü pão peculiar -dos judeus. O que
vai além, no simbolismo, se preserva nas referências bíbli­
cas que visam pureza e disciplina nas igrejas.

9. E ’ P R E C IS O T E R U M SCT P Ã O E U M SO’ C Á L IC E
CO M U M ?

N ã o. O simbolismo histórico fic a de pé pela clareza da


original instituição. H á igrejas com 10.000 membros. P en ­
sou o dr. C arroll que a Ig r e ja de Jerusalém chegou a ter
50.000 membros, se bem que espalhados. Seria um P Á O mons­
truoso o que desse para tantos. Conheço igrejas que recu­
sam ter vários pães ou os cálices individuais, que são mais
higiênicos, mas têm tantos cálices como têm diáconos e tan­
tas salvas para estes distribuírem o pão! Discutindo isso
com seus pastores, lembrei-lhes: «O irm ão tem vários pães,
não um só, e uma porção de cálices, não um s ó ». Veio a
resposta im paciente. «M as nossa ig re ja tem centenas de
membros. Quanto tempo levaria para passar um cálice enor­
204 DOUTRINAS
me a centenas de pessoas?» (Sim, e quão sujo deveria ser,
após tantos lábios tocá -lo!) Respondí: «Concordo que é im-
prático ter um cálice só, mas o irmão abandonou o costume
de um só cálice> na sua igreja, tendo vários, exatamente
como uma ig reja de m il membros que tenha m il cálices.
N em mil, nem sete, nem doze cálices preservam o costume
de um s ó !» A sabedoria do Senhor é vista no cuidado com
que escolheu sua linguagem .

10. Q U A N T A S V Ê ZE S P O R A N O D E V E S E R C E L E B R A ­
D A A C E IA ?
Tam bém Jesus não determinou. Simplesmente disse:
«Todas as v e z e s .. . » D eve ser suficientemente raro para não
se tornar banal, suficientemente comum para dar sua men­
sagem, suas verdades e seus ideais. Nunca deve ser consi­
derada meio de salvação.

11. E ’ F A T O O Q U E OS S A C R A M E N T A L IS T A S D IZE M ,
H O JE E M D IA , Q U E A C E IA E ’ C E N T R A L N O C U L ­
TO E Q U E O C U L T O E ’ A C O IS A P R IN C IP A L NO
C R IS T IA N IS M O ?

N ã o. Isso é falso, nocivo e supersticioso. Se é central


no culto, como é que Jesus não o sabia? Escondeu a cele­
bração num cenáculo, e nem estabeleceu a cerimônia até o
fim de sua vida. N o entanto, sem a ceia existir, ele dirigia
cultos constantes, nas sinagogas e ao ar liv re . F o i quem
melhor ensinou o que é culto. N o cristianismo o que é cen­
tral é a pregação da Palavra; o culto é «em espírito e v e r­
dade», não principalmente em ritual e cerimônias. N em o
culto é coisa principal no cristianismo. O Evangelho, a sal­
vação, a graça divina na vida, a P alavra pregada e vivida,
são de significação mais vasta no N . T . do que as duas ce­
rimônias do batismo e da ceia. Exagerada confiança nestas
sempre degenera em superstição e perda do evangelho.

12. Q U A L O S U P R E M O P R O B L E M A B A T IS T A A C Ê R C A
D A C E IA DO S E N H O R ?

E* precisamente isto: fielm ente observar a ceia nas


igrejas, sem superstição, de um lado, ou frívo la irreverên­
cia, do outro. A ceia merece mais tempo, mas não o culto
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 205
inteiro. Algumas igrejas já batizam no início do culto, e
celebram a ceia no princípio também, com a pregação em
seguida. Isso garante que a ceia não seja mero apêndice
após longo sermão. Podemos ter reverência sem supersti­
ção, e as igrejas, em geral, estão conseguindo isto. Nenhum
crente deve ser «eeista», como alguns são chamados, por­
que só vão à igerja no domingo da ceia. Os tais têm ainda
alguma superstição do romanismo, do luteranismo, ou de
qualquer outra fonte de idéias sacramentalistas que predo­
minavam na sua vida antes de se tom arem batistas. D e­
vem purgar êsse velho fermento ê ser pontuais e firmes em
tudo, não apenas numa cerimônia de vez em quando.

13. A S E S C R IT U R A S DE JOÂO 6:35, 53, 54, 56, 63, T R A ­


T A M D A C E IA DO S E N H O R ?

Absolutamente não. A ceia não existia quando Jesus


disse isto. Não podia estar no horizonte daquela multidão.
A linguagem trata do Calvário, que era matéria da profe­
cia, mesmo no Velho Testamento, Is . 53, Sal. 22, etc. E*
Cristo crucificado que nos nutre na vida eterna que o cren­
te tem. O romanismo não crê nesta «vida eterna» do «cren­
te», nem êles bebem o cálice. Logo, não podem apoiar estas
Escrituras, que exigem que todos bebam o sangue, sem re­
pudiar a missa, que só permite ao padre beber. «C om er» e
«beber» significam «crer», como se vê, lendo o trecho. A
ceia está completamente fora do horizonte deste grande
sermão de Jesus sobre sua morte.

14. PO R QUE OS B A T IS T A S NAO TÊ M ALTARES E


SACERD O TES ?

«N ós temos um altar» — não muitos — e êste é o Cal­


vário, Heb. 13:10. E, neste altar, fo i oferecido um Sacrifí­
cio, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, «um
único sacrifício pelos pecados», H eb. 10:12. «Porque com
uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santifi­
cados», vs. 14, 18. Sim, «pela oblação do corpo de Jesus
Cristo F E IT A U M A V E Z », v . 10. Nunca se confunda a
mesa do Senhor com altares — e o Novo Testamento des­
conhece no cristianismo quaisquer oficiais com o nome de
sacerdotes. N a Bíblia, só o judaísmo e o paganismo têm
oficiais chamados sacerdotes ou sacrifícios em altares e não
206 DOUTRINAS
há lugar, no cristianismo puro, para esses elementos do ju-
daismo e do paganismo. O Calvário é nosso perene altar,
Cristo nosso único Sacerdote e Mediador.

15. QUEM E ’ QUE G U A R D A E JU LG A A A D M IN IS T R A ­


ÇÃO D A C E IA ?

A s igrejas do N ovo Testamento têm esta responsabilida­


de e dever. Quem preside é o pastor. A Ceia é ato de uma
igreja bíblica, não de indivíduo algum, de fam ília ou de mero
agrupamento de indivíduos. A Escritura que é a Eclesiologia
Inspirada é a Prim eira Epístola de Paulo à Igreja de Corin-
to. Nesta passagem clássica sôbre a ceia, Paulo mostra cla­
ramente quem é responsável. E ’ a igreja celebrante.
«Quando vos ajuntais na ig r e ja .. . quando vos a juntais
para comer», I Cor. 11:18, 20, 33. «Desprezais a igreja de
D eus?» é a exclamação horrorizada de Paulo contra os que
pervertem a ceia. Assim várias vêzes Paulo define a ceia
como ato de uma igreja, congregada para êste fim : nem
é ato de um indivíduo, nem é a propriedade de um oficial,
para levar para onde êle quiser — ao leito do moribundo, aos
hospitais, ou ao campo de batalha. A ceia não é para doen­
tes ou moribundos, nem é ordenança m ilitar. Cinco segun­
dos depois de morrer, o soldado que enguliu a hóstia no cam­
po de batalha, ou no hospital, já sabe que fo i miseràvelmente
ludibriado. E quem o enganou terá juízo mais pesado. N in ­
guém roube a ceia para fins pessoais ou sectários. Deus a
pôs nas igrejas bíblicas. A í deve ficar. Os apóstolos a rece­
beram do Senhor Jesus para entregá-la às igrejas, como
fêz Paulo, I Cor. 11:23. A igreja é juiz, I Cor. 5:12 — «N ã o
julgais vós os que estão dentro?» vs. 11, 13. Em todo o ter­
reno da disciplina Jesus manda a cada igreja «lig a r e desli­
g a r». E ’ solene responsabilidade. Nada que preste é deixa­
do à tôa. Jesus é Senhor e manda em sua casa. Não é cha­
mada «a ceia do Salvador» como se fosse de todos os salvos,
mas «a ceia do Senhor», para os obedientes. O primeiro
mandamento de obediência pública do crente é o batismo e
o batismo obediente conduz para uma igreja obediente, dedi­
cada a ensinar aos discípulos batizados a obedecer a Jesus
em tudo que êle mandou.
A disciplina de uma igreja é obrigada pelo Novo Testa­
mento a pôr grandes restrições morais ao redor da mesa do
Senhor, I Cor. 5:11; 11:20. Há muito comer e muito beber
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 207
que não é «ceia do Senhor» diz esta última Escritura. E ’
uma festa qualquer, mas o próprio Senhor revela que não
é a ceia dêle. Também esta disciplina deve excluir os que
ensinam falsa doutrina: «Rogo-vos, pois, irmãos, que noteis
os que promovem dissensões e escândalos C O N T R A A DOU­
T R IN A que aprendestes; desviai-vos deles», Rom . 16:17.
O verbo que Paulo usou, quando nos ensinou a repudiar os
que ensinam doutrina falsa, a qual sempre causa divisões e
escândalos, é o verbo cheio de reminiscência da ceia. Diz:
«N ã o vos reclineis à mesa com êles», como se fazia naquela
primeira noite da ceia, João 22:20. Falsa doutrina é cristia­
nismo espúrio e não merece o apôio da ceia de uma igreja
bíblica.

16. A C E IA D E V E SER C E L E B R A D A DE N O IT E OU DE
D IA ?

E* outra matéria em que Jesus não deu mandamento


«Todas as vêzes que comerdes.. . beberdes» é sua ordem,
sem indicar a hora do dia. Mas a Ig re ja de Roma certamen­
te errou estúpidamente em proibir o ato de noite senão na
celebração da «missa do galo», na véspera do N atal. Jesus
a instituiu de noite. Paulo a celebrou em Trôade, de madru­
gada, A t. 20:7, 11. Também não é limitada ao domingo,
pois Jesus a estabeleceu na noite que nós chamamos de
quinta-feira. E ’ bom variar o tempo, às vêzes de dia, às vê­
zes de noite, com plena liberdade para cada igreja «lig a r e
desligar» detalhes do seu uso local. Há igrejas na roça que
não têm culto de noite. Eis, pois, a sabedoria de Deus: não
fazer um regulamento, ou «lei canônica», para governar to­
das as minúcias da cerimônia.

17. DEVEM OS A JO E LH A R -N O S AO TOM AR A C E IA ?

Para que? Alguém já viu ceia verdadeira em que os


convivas se ajoelhassem? São restos de idolatria do roma-
nismo, em que adoram a hóstia como «carne e sangue e dei-
dade de Jesus». Certas denominações preservaram o hábito,
quando sairam dessa idolatria, como igualmente retiveram
de Roma o batismo infantil. GenuflexÕes perante qualquer
«semelhança» de coisas do céu ou da terra são proibidas na
lei moral, Êx. 20:5. O pão e o cálice são «semelhanças» de
Jesus no Calvário. E ’ pecado, pois, ajoelhar-se diante do pão
208 DOUTRINAS
e do vinho, como é pecado ajoelhar-se perante um homem,
pois êle também fo i criado à im agem e semelhança de Deus.
Jesus disse: « A o Senhor teu Deus adorarás e só a êle ser­
v irá s » .

18. O V E R S ÍC U LO E M I COR. 11:28 («Examine-se, pois,


o homem a si mesmo e assim coma dêste pão e beba
deste cá lice»), N A O D E IX A A C E IA COMO M A T É ­
R IA E M QUE C A D A Q U A L F A Ç A O QUE E N T E N ­
DER, SEM QUE SE JA D A C O N T A DOS OUTROS,
SENDO O IN D IV ÍD U O O Ü N IC O JU IZ ?
N ão. Isso é anarquia. Já Paulo mandou dizer, pelo Es­
pírito Santo: «N ã o julgais vós os que estão d en tro?» Já
proibiu que a igreja comesse com certas classes de pessoas.
"Restringe a ceia contra a falsa doutrina, Rom . 16:17, e es­
tabelece, neste mesmo capítulo, a Ig re ja de Corinto como
celebrante da ceia, em ajuntamento form al e congregacio-
nal para êste fim . Êste texto não pode anular seu contexto.
Um a das mais sábias regras de interpretar a Bíblia é esta:
«O contexto esclarece o t e x t o ». Aplicando êste princípio,
vemos que é dentro da igreja, e na hora que es.ta celebra a
ceia, que o indivíduo deve examinar-se, e o ensino não é que
êle deve examinar-se para ver se tem direito ou vontade de
tomar a ceia. E ’ para membros da Ig re ja de Corinto que
Paulo escreveu isso, não para os do lado de fora. N ão. O
indivíduo dentro da ig re ja deve examinar-se, na própria hora
da ceia para ver se está discernindo o corpo de Jesus. Não
é lícito estar pensando na esposa ou em mamãe ou em sen
timentalismos e amizades humanas. Só Jesus está diante
de nossos olhos na devida espiritualidade da ceia. Cada um
examine-se, na hora de comer e beber, para verificar que
seus olhos estejam fitos no Calvário, não em agradar aos
amigos de outras denominações. Tôda a deferência humana
na hora da ceia, é desprezo a Jesus, «não discernindo o cor­
po do Senhor». Se vamos fazer fazer obséquios a fulanos
então façamos uma ceia nossa para fulanos. Mas fique a
ceia do Senhor, unicamente do Senhor e como êle ordenou.

19. A S F R A S E S «IS T O E ’ O M E U C O R PO », «É S T E C Á ­
L IC E E ’ O NO VO T E S T A M E N T O (nova aliança) E M
MEU S A N G U E », SÃO L IN G U A G E M A SE R T O M A ­
D A AO P E ’ D A L E T R A ?
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 209
N ão. A lv o principal em interpretar a Bíblia é dar sen­
tido literal a declarações, mandamentos e doutrinas literais,
em que não entrou figura ou m etáfora alguma, por exemplo,
em Êx. 20:4. Igualmente é dar sentido figurado, simbóli­
co ou m etafórico a tôda linguagem que é figurada, e não
literalista. Quem dá sentido literal a Escrituras m etafóri­
cas, e sentido figurado a Escrituras que não tenham metá­
fora nenhuma, fa z baralhar a Bíblia inteira e, de todos os
seus intérpretes, há de ser julgado o mais incompetente. O
clero de Rom a mostra, em grau sem igual, essa dupla inép­
cia — ou m á vontade. E ’ indesculpável a cegueira delibe­
rada que reduz a linguagem figurada e simbólica de Jesus
ao literalismo cru. Jesus é «L eão da tribo de Judá», mas
não em selva ou jaula. « E ? «Á g u a da Vida», mas mão mo­
lha, nem corre de poço artesiano. E ' «Cordeiro de Deus»,
mas não teve lã no corpo. E ’ «S ol da Justiça, Estrela da
manhã, Luz do mundo», mas não brilha no céu físico. E*
assim com o resto da vasta linguagem figurada a respeito
de Jesus. Ninguém lhe dá sentido literal. Todos interpretam
figuradamente a linguagem m etafórica. Como é, pois, que
só em «com er carne» e «beber sangue» de Jesus, vamos ser
literalistas, com absoluta e deliberada cegueira em referên­
cia ao evidente sentido figurado dos têrmos? E ’ exploração
doutrinária, interpretação tendenciosa.

20. EM RESUM O, QUE IN S TR U Ç Õ E S P O S IT IV A S E QUE


R E STRIÇ Õ ES N E G A T IV A S D E U O SE N H O R SÔBRE
S U A C E IA ?
E' ceia, não é sacramento. Usa pão partido, não hóstia,
que nem é pão, nem é partido. E ’ cerimônia simbólica, não
salvadora. Proclama, «anuncia», a graça redentora do Cris­
to crucificado: não transmite esta graça. E ' parte da vida
normal, não em jejum ascético. Todos comem o pão, todos
bebem o cálice. Ninguém se ajoelha. E* ato de uma igreja
bíblica, composta de membros regenerados e batizados. O
pastor preside. E* «em m em ória» de Jesus — não é Jesus-
hóstia ou Jesus-sacramentado. Nada tem com a linguagem
de João 6, que nenhuma referência fa z a uma ceia ainda não
existente ê nunca profetizada. N ão é para mostrar amor
às nossas mães ou famílias, nem agrado a nossos amigos.
Seu espírito é reverente e inteligente. Visa ser um sermão
coletivo, memorial a Jesus, profecia de sua segunda vinda,

D — 14
210 DOUTRINAS
retrato de como o Cristo vivo nos nutre a vida cristã. Indi­
ca pureza e separação do mundo, é ordenança para igrejas,
não ordenança m ilitar. E ’ do Senhor, para obediência dos
seus em igrejas como êle determinou. N ão é do clero ou dos
hospitais ou dos campos de batalha. Tem mesa, não altar,
nem sacerdote. E xige reverência, sem superstição. H á fir ­
mes restrições morais e doutrinárias. E ’ mesa dentro da
casa do. Senhor, não mesa na rua, accessível a todos sem
distinção. E, embora não seja terreno de individualismo
desenfreado, o indivíduo é membro da igreja e deve exami­
nar-se para no íntimo discernir as realidades do Calvário,
o corpo partido, o sangue derram ado. Assim meditando,
cantando, examinando-se, discernindo o corpo e o sangue,
através dos símbolos e além destes, êle entra na comunhão
com seu Senhor neste culto espiritual de sua igreja. «P o r ­
tanto, qualquer que comer êste pão e beber este cálice do
Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue
do Senhor», I Cor. 11:27. «In ã ign a m en te» é advérbio e tra­
ta da maneira em .que a ceia se observa. N ão se diz: in­
digno, como se qualquer um de nós fosse digno do Calvário
ou de Cristo ou da ceia! Ninguém é digno, e a ceia não é re­
servada para gente digna! Mas não a celebremos indigna­
mente. Isso é ofensa contra o Salvador crucificado.
A ceia do Senhor na minha vida pessaal de crente e
ministro, é fonte de indizível estímulo m oral e espiritual, de
santidade e devoção a Cristo, sem mistura de superstição al­
guma. Procuro na hora da ceia esquecer-me de todos os
meus queridos e amigos e lembrar-me só de Cristo. Volto,
na minha mente, através de dois mil anos e me ponho na­
quela colina parecida com uma caveira e contemplo a cruz
central. A o Crucificado ali peço perdão dos meus pêcados,
que tiveram sua parte naquela morte redentora. Renovo
diante da sua face divina, todos os meus votos de crente, de
membro da igreja, de ministro da P alavra. Consagro-me
de novo à minha tarefa. Às vêzes, acho-me com as faces
molhadas de lágrim as. Às vêzes, na intensa emoção de dis­
cernir o Calvário e assimilar as suas verdades, machuco
o pedaço de pão nos meus dedos e me esqueço do símbolo,
no aprêço do simbolizado. Discernindo o corpo e o sangue
do Senhor, nestas meditações, e ajustando minha vida de
acordo, a ceia me fa z bem ao espírito. Não me deixo levar
pelo encanto do órgão. Nada de estético houve no Calvário,
e detesto melodias que me façam esquecer de Jesus, mas se
A DOUTRINA DA CEIA DO SENHOR 211
elas trazem à memória o testemunho da cruz, vou com seu
espírito e sua verdade, na adoração simbólica. Só queria que
a ceia fosse uma experiência tão abençoadora na vida de
cada crente que leia estas linhas como o é na minha vida.
E, se «em espírito e verdade» adoramos, o ato pode ter êste
valor para todos nós.
C A P IT U L O X V II

A DOUTRINA DO M INISTÉRIO
OFICIAL DAS IGREJAS
1. Q U A IS OS D O IS S E N T ID O S C O M U N S D A P A L A V R A
M IN IS T É R IO ?
1) Qualquer serviço é o sentido gera l. Falam os do m i­
nistério da música, da arte, do sofrimento, da medicina — o
serviço, ou a utilidade na vida, de qualquer atividade, ou de
qualquer influência que eleva e estimula. 2) O sentido espe­
cial é o m inistério oficia l das igrejas, chamado pelos nomes
de pastor, presbítero, bispo, no N ovo Testam ento.
Todos os crentes são servos de Deus e prestam-lhe
culto e serviço. Mas nem todos os crentes são bispos. R ela­
tivam ente poucos devem ser «m estres». T ia go 3:1. A s ove­
lhas de um rebanho não são tôdas pastores.
2. N A B ÍB L IA T A M B É M E N C O N T R A M O S D U P L O S E N ­
T ID O D A P A L A V R A M IN IS T É R IO ?

Perfeitam ente, e sem confusão ou dubiedade. .. Lem os


a palavra traduzida m inistério, no largo sentido de serviço
cristão, em Luc. 10:40 — «m uitos serviços» de M arta; «s o ­
corro aos irm ãos», A t . 11:29; «adm inistração» de socorro,
I I Cor. 9:12, 13; do «serviço » de anjos aos herdeiros da sal­
vação, Heb. 1:14; «o serviço de vossa fé », F ili. 2:17, 30 —
a contribuição enviada a Paulo na prisão em Roma, etc.
Qualquer atividade serviçal a outros ou a Deus é indicado
pela palavra «m in is té rio », neste sentido gera l. O mesmo se
verifica em tôdas as línguas.
Mas o term o também tem referência, nas Escrituras, ao
ofício da administração pastoral das igrejas e da pregação
da P alavra. E ' carreira, para cuja responsabilidade Deus
exige que os chamados para êste ministério deixem tudo,
se dediquem inteiram ente a esta vida de «oração e m inisté­
rio da P a la vra », e vivam do evangelho que pregam, A t . 6:4;
I Cor. 9:14. O diaconato, porém, foi criado para um servi­
ço material, social, fraternal, benevolente, que a ig re ja m i­
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO O FICIAL... 213
nistrava aos pobres por intermédio dos diáconos. O diaco-
nato foi criado afim de que o ministério não tivesse traba­
lhos materiais, mas se dedicasse «à oração e ao ministério
da P a la v ra ». E ’ a razão de não serem pagos os diáconos.
Ganham pelo seu trabalho comercial ou profissional. E é a
razão porque aos diáconos não é exigido que sejam «aptos
para ensinar», porque não têm a tarefa de mestres nas
igrejas, I T im . 3:2; E f. 4:11. Várias atividades dêste mi­
nistério oficial das igrejas, que lhes é dado pelo Cristo glo-
rifiçado, são catalogadas nesta lista de E f. 4:11. Apóstolos
e profetas para o tempo da revelação, e evangelistas e pas-
tores-mestres, o ministério permanente da P alavra e das
igrejas, visam promover o ministério de todos os santos —
nesse sentido geral de serviço cristão — até alcançar o aper­
feiçoamento do corpo dos crentes em geral e seu pleno co­
nhecimento da verdade. N ão há confusão nenhuma entre este
ministério oficial (evangelistas, pastores-mestres, presbíte­
ros, bispos) e o serviço de mesas, do diaconato, ou o servi­
ço cristão universal, que é de todos os crentes. Todos são
servos de Cristo, mas só os chamados pelo Senhor e os elei­
tos pelas igrejas são ministros das igrejas e vivem sustenta­
dos por elas por causa do seu ministério da P alavra.
3. Q U A L A D IF E R E N Ç A E N T R E OS B A T IS T A S E OU­
TRO S N O T O C A N T E A O M IN IS T É R IO ?

«C atólicos», «ortodoxos», «anglicanos», etc. acrescenta­


ram sacerdotes ao ministério do N ovo Testamento e, em de­
sobediência a Jesus, os chamam «padres», M at. 23:9. A o
outro extremo são os darbistas e os «am igos» ou «quaquers».
N ão admitem ministério oficial algum. Procuram dar ao
sérviço de todos os crentes o monopólio da palavra m inistério
e banir das igrejas o m inistério oficia l. Realmente, não
crêem em igrejas mas numa só igreja, que chamam «o cor­
po místico de C risto». Outro êrro é o dos presbiterianos*
congregacionalistas, etc., que separam pastores e presbíte­
ros em dois oficiais.
Os batistas repudiam todo sacerdócio oficial que não
seja o de Cristo, todo altar que não seja o Calvário, tôda
oblação que não seja a de H eb. 10:6, 8, 10, 14, 18, ofereci­
da uma só vez e de eficácia eterna. Cremos que profetas e
apóstolos eram dons para o estabelecimento do cristianis­
m o e a produção do N ovo Testamento, e não têm sucessores
214 DOUTRINAS
hoje em dia. E cremos numa só ordem do ministério oficial:
nenhum bispo é mais do que pastor, e nenhum presbítero
menos que pastor. Bispo, Presbítero e pastor são nomes do
ministério todo, sejam pastores, evangelistas, ou missioná­
rios. E diáconos são leigos, não uma ordem inferior do m i­
nistério .

4. COMO O N O VO T E S T A M E N T O PRO VA ESTA DOU­


T R I N A B A T IS T A ?

Cabalmente. Basta ler A t . 20:17, 28; I T im . 3:1; 5:17;


T ito 1:5, 7; I Ped. 5:1-4; F il. 1:1; I I I João 1. Nestas Escri­
turas os mesmos homens, o ministério todo e em geral, são
chamados, ora por um dêstes nomes, ora por outro. Qual­
quer ministro é pastor, bispo e presbítero.

5. Q U E A S P E C T O S DO M IN IS T É R IO L O C A L SAO I N ­
D IC A D O S P O R E S T A S P A L A V R A S : B ISPO , P R E S ­
B ÍT E R O E P A S T O R ?
B IS P O quer dizer superintendente. O pastor é dirigen­
te da ig reja tôda, como o superintendente -da Escola Domi­
nical é dirigente da Escola Dominical tôda. P R E S B ÍT E R O
é o supremo título de honra do ministério, no N ovo Testa­
mento. Os anciãos eram os conselheiros do povo de Israel;
e, embora não limitado aos velhos, o presbítero é o conse­
lheiro de sua igreja . Sua perícia especial é em labor tenaz
e constante «n a P alavra e na doutrina». Todos os presbíte­
ros têm esta missão. Mas Paulo manda dobrada remune­
ração (pois é o que significa «honra», em T im . 5:17) para
aquêles que se esforçam e salientam neste ministério da P a ­
lavra. Muitos pregadores não se esforçam na doutrina nem
são diligentes nisto. E ' trabalho sacrificial e merece, por
isto, maior honra entre os crentes espirituais. P A S T O R é
o têrm o de ternura, zêlo pessoal, cuidado, e camaradagem
da parte do ministro com todos os crentes que constituem
seu rebanho. P o r ser o têrmo pastor tão querido, e por ser
desvirtuado há séculos o sentido popular dos vocábulos bis
po e presbítero, cairam em desuso popular estes dois no­
mes do único ofício. Mas todos expressam fases da obri­
gação ministerial e todos fazem parte da doutrina apos­
tólica .
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO OFICIAL... 215
6. H A V IA M A IS QUE U M BISPO , P A S T O R , P R E S B ÍT E -
TERO , N U M A IG R E J A A P O S T Ó L IC A ?

Evidentemente: A t , 20:17, 28; F ii. 1:1. A s igrejas de


Éfeso, Filipos, Jerusalém, Antioquia, etc. eram muito gran­
des, e um grande rebanho pode ter muitos pastores. Gran­
des igrejas batistas atualmente têm diversos, em \ários paí­
ses. Mas, no Apocalipse, vemos sete igrejas em que só ha­
via um pastor em cada uma. Era tempo de terrível perse­
guição e as igrejas foram reduzidas em número de mem­
bros. João foi banido para Patmos, Antipas fo i martirizado
e outros espalhados. Para cada igreja havia um «a n jo » —
mensageiro da P alavra de Deus, como fôra João Batista,
no princípio, M ar. 1:2. Em tempos normais, porém, a ta ­
refa fo i grande. E as igrejas elegeram muitos pastores, pois
também trabalhavam muito ao redor da sede de sua igreja,
em abrir novos campos para multiplicar as igrejas. Assim
o evangelho progrediu.
7. OS B A T IS T A S TÊ M R A Z Ã O E M C R E R QUE C A D A
M IN IS T R O D EVE, P R IM E IR A M E N T E SER C H A M A ­
DO PO R D EU S E, E M SE G U ID A, SE R E L E IT O A O
P A S T O R A D O D A IG R E J A O N D E V A I S E R V IR ?

Certamente que sim. 1) Todo o ministério apostólico


foi divinamente chamado e enviado: o Batista, os doze após­
tolos, os setenta evangelistas, Paulo e Barnabé, e o minis­
tério todo. Foram todos a dádiva de Cristo às suas igrejas,
E f. 4:1. 2) A todos Deus deu missão relacionada com a
igreja, em sentido genérico, têrmo, que é equivalente a di­
zer: às igrejas. O Batista preparou, pela conversão e pelo
batismo, um PO V O que prèviamente fôra pelo próprio Se­
nhor preparado, para o Senhor Jesus. N otai a dupla lingua­
gem — um povo duplamente preparado, por João Batista
após o preparo prèviamente dado por Deus na conversão, e
preparado pelo Senhor para o Senhor Jesus. Êste POVO,
êste novo Israel, esta nova congregação do Senhor, havia
de andar peregrinando com Jesus, nos dias de sua carne,
como a Congregação de Israel peregrinara com Moisés no
deserto, A t. 7:38. João Batista preparou o m aterial de que
Jesus organizou e ‘e dificou a sua igreja, como D avi prepa­
rou o m aterial de que Salomão edificou o templo.
Os apóstolos foram postos «n a ig re ja » por Deus quan­
216 DOUTRINAS
do Jesus os chamou, I Cor. 12:28; Luc. 6:13. Paulo e Bar-
nabé foram chamados à sua missão especial, dentro da Ig r e ­
ja de Antioquia, e por ela encaminhados, após prévio tra ­
balho em outras igrejas, A t . 13:1; 12:22-25; 14:26; 15:41;
(onde se vê que Paulo já fundara igrejas em Tarso e Cilí-
cia, antes de ir trabalhar em A n tio q u ia ). Logo após essas
fases pioneiras de introduzir e estabelecer o evangelho, os
apóstolos, e obreiros gerais como os evangelistas Timóteo,
Tito, etc., levaram as igrejas a eleger esses obreiros locais
que se chamam indiscriminadamente, pastores ou bispos ou
presbíteros, A t. 14:23; Tito, 1:5; I Tim . 3:1, 14, 15. Os m i­
nistros do Apocalipse são «a n jos» das igrejas. E Tiago cha­
ma o ministério: «os presbíteros da igreja », Tiago 5:14, em
cada lugar onde sua Epístola circular havia de ser lida.
3) A norma e doutrina apostólica é a eleição dos oficiais.
Pois assim a igreja interessada regista sua convicção e seu
apôio à prévia escolha divina que em oração procura desco­
brir. Assim a vontade humana vai em busca da vontade di­
vina.
8. M A S H A ’ CASOS P O S IT IV O S D A E L E IÇ Ã O DOS O F I­
C IA IS P E L A S IG R E J A S ?

Incontestàvelm ente. O primeiro oficial designado a


qualquer ofício foi Matias, e êle foi eleito ao apostolado,
«p or voto comum» dos 120 que Jesus ordenara fix a r resi­
dência em Jerusalém, como a prim eira igreja lo c a l. Esta
fo i a prim eira de todas as «Prim eiras Ig re ja s » das demais
cidades, através dos séculos. Lucas nos diz que o Senhor
Jesus «deu mandamentos aos apóstolos pelo Espírito San­
to», no intervalo entre a sua ressurreição e sua ascensão.
F o i segundo o Espírito, A t . 1:2, e segundo a Palavra, A t .
1:16, que a prim eira eleição se deu, com muita oração, 1:14,
24, e bastante estudo das qualificações do eleito, 1:21, 22.
Igualm ente a eleição é que deu à mesma igreja os primeiros
diáconos. Estas eleições constituem norma e -doutrina dos
apóstolos e assim Lucas deu-lhes logo tanto destaque, para
orientar o cristianismo de todo o porvir. A norma da elei­
ção passou para as demais igrejas. Portanto, Paulo e Bar-
nabé, ao fundarem igrejas, no seu trabalho missionário, cui­
daram da eleição de presbíteros. A Vers. Alm eida diz: «H a -
vendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em
cada igreja,», A t . 14:23. N otai a norma,: « o consentimen­
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO OFICIAL... 217
to (voto) comum», «havendo eleito» (ou feito eleger), «em
cada ig re ja ». E o grego é mais claro ainda, pois o próprio
verbo é retrato da eleição pelo sistema de votar por levan­
tar uma das mãos, exatamente como votam as igrejas ba­
tistas. E ainda vemos as igrejas, na sua cooperação numa
tarefa comunm, elegendo mensageiros e os enviando a desem­
penhar missão em conjunto com os mensageiros das demais
igrejas cooperadoras, I I Cor. 8:19, 23. A norma apostólica
é eleição: «por voto comum», «por consentimento comum».
Os apóstolos não tinham sucessores — eram testemunhas
da ressurreição e «testemunha» de um evento não pode ter
sucessor que não viu o evento. Também os apóstolos não
escolheram Matias ou os sete diáconos ou os primitivos
presbíteros. Apenas deram «parecer», recomendando a elei­
ção, A t. 6:2, 5. «E êste parecer contentou a tôda a multi­
dão e E LE G E R A M Estêvão», etc. E ’ a doutrina e prática
dos batistas. Nenhum outro cristianismo é bíblico. E ficou
provaçjo^ na recente guerra mundial, que esta form a bíblica
das igrejas é mais viável e tem mais êxito. A perseguição
fãcilrríente prendeu e inutilizou as oligarquias da «Ig re ja
Nacional», em qualquer país. Mas as igrejas locais autô­
nomas eram indestrutíveis, e sairam da terrível provação
vivas, e, em vários países ainda mais fortes, quando raiou
a liberdade de novo para as igrejas.
9. N Ã O E' F A T O D E S A B O N A D O R QUE A E L E IÇ Ã O DE
M A T IA S F O I PO R L A N Ç A R SO RTES?
Não é fato de espécie alguma, muito menos desabona-
dor. O capítulo 1 do livro dos Atos dos Apóstolos» é uma
parte da nossa Bíblia, inspirada por Deus, e não deve ser re­
pudiado irreverente e cinicamente. E ’ parte da «doutrina
dos apóstolos», norma em que devemos perseverar. A es­
colha -de Matias pela igreja obedeceu a êste tríplice critério.
Em primeiro lugar, estabeleceram as qualificações para o
exercício do ofício. E ’ boa norma ainda. Em segundo lu­
gar, eliminaram de consideração todos os que não possuissem
estas qualificações, e verificaram quantos eram elegíveis.
E ’ também boa norma. Acharam dois igualmente aceitáveis
aos olhos humanos . Nesta altura, e somente assim, apelaram
em oração a Deus para indicar, entre os dois qualificados,
a sua escolha. E, por um método imparcial e bíblico, dei­
xaram a escolha à providência divina, primeiramente, pois
218 DOUTRINAS
a xftbíia déles diz: « A sorte se lança no regaço, mas do Se­
nhor procede tôda a sua disposição», Prov. 16:33; e ainda:
« A sorte faz cessar os pleitos», Prov. 18:18. Não nos assen­
temos «na roda dos escarnecedores» da Palavra de Deu§
Sal. 1:1. Em iguais circunstâncias, o mesmo método é bom
e, até o dia de hoje, é aproveitado quando sé julga ser uma
solução viável de desempate. Mas êstes passos preliminares
não foram a eleição. A gora vem a votação pela Igreja: «E
por voto comum foi contado com os doze apóstolos». Eis a
votação unânime que elegeu Matias, depois dos estudos pre­
liminares indicados. Em Atos 6, vemos o mesmo prévio es­
tudo das qualificações e o primeiro passo para a eleição.
Mas, em fim, é o «voto comum» que elege.
10. M AS N Ã O E ’ V E R D A D E QUE OS APÓSTOLOS E X E R ­
C IA M s o b r e A S IG REJAS A A U T O R ID A D E QUE
OS PR E LA D O S «C ATÓ LIC O S», «O RTO D O XO S» E
P R O T E S T A N T E S HOJE EM D IA C H A M A M E P IS ­
COPAL ?
Absolutamente, não. A palvra «episcopal» não existe
na Bíblia e o têrmo bispo se acha 5 vezes: A t. 20:28; Eli.
1:1; I Tim . 3:2; Tito 1:7; I Ped. 1:25. Nunca o têrmo é
usado a respeito dos apóstolos, nem uma só vez. Só se fala
em bispos em grandes igrejas dos gentios, onde Paulo, não
os outros apóstolos, teve seu campo de atividade. Bispo foi
sempre um oficial local, e havia vários numa igreja grande.
Pedro chama Jesus «Pastor e Bispo», mostrando de novo
que a mesmá pessoa é tanto «Pastor», como «Bispo», na lin­
guagem apostólica. Era de praxe, e se estendeu até a lingua­
gem metafórica. Mas nem direta nem indiretamente se
chama qualquer apóstolo bispo. E geralmente não agiam
como bispos, pois seu trabalho era geral. Podiam dirigir
novas igrejas, até que houvesse pastor ou pastores sobre o
rebanho, mas o ofício do apóstolo era, geral e frequentemen­
te itinerante. Porém, os bispos eram os oficiais localmente
responsáveis pelas igrejas e servos delas no seu pastorado.
Só quando êle era pastor de novel igreja seria um apóstolo
o bispo daquela igreja.
Pedro nega exercer autoridade sobre igreja alguma, I
Ped. 5:1, 2, 3. João conhecia un Diótrefes que podia ilici­
tamente «procurar a prim azia» e «impedir de receber oy
irmãos» e «os lançar fora da igreja», mas João não fazia
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO OFICIAL... 219
isso, nem podia controlar a D iótrefes. Paulo não podia evi­
tar que a livre Ig re ja de Corinto tivesse facções, grupos
partidários de Paulo, Cefas, Apoio e Cristo. Nenhuma auto­
ridade exercia êle sobre essa igreja, senão a da verdade re­
velada, I I Cor. 1:24 «N ã o que tenhamos domínio sobre vossa
fé, mas porque somos cooperadores com o vosso g ô z o ». As
igrejas podiam responsabilizar um apóstolo e mandá-lo, A t.
11:18; 14:26-27; 15:22.

11. Q U A L F O I A A U T O R ID A D E , POIS, DOS APÓ STO LO S


SÔBRE A S IG R E J A S ?

A autoridade da P alavra. N ão havia ainda o N ovo Tes­


tamento. Mas os apóstolos e outros profetas eram os órgãos
da revelação divina e os orientadores das ig re ja s . Faziam
assim o que o N ovo Testamento fa z para nós.

12. COMO SAO R E S P O N S Á V E IS O UTRO S M IN IS T R O S


P O R U M N O V E L P A S T O R E N T R A R N O E X E R C Í­
CIO DE S E U M IN IS T É R IO ?
Nem igrejas, à parte de seus pastores, nem os pasto­
res à parte de suas igrejas, mas rebanhos com pastores é
como o cristianismo bíblico funciona. Um novo pastor deve
scr examinado e consagrado por pastores já experimenta­
dos, e por êles formalmente recomendado e separado para o
ministério das igrejas. A escolha divina e a chamada são
de Cristo; a eleição é da igreja; a consagração ao ofício é
«pela imposição das mãos de um presbitério», um grupo de
presbíteros que consagra o novo bispo, I Tim . 4:14. A «im ­
posição das m ãos» é uma das doutrinas chamadas funda­
mentais, em Heb. 6:1; é a proteção do ministério contra neó-
fitos, embusteiros ou ineptos. Paulo manda: « A ninguém
imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pe­
cados alheios», I T im . 5:22. Sou participante das culpas de
quem eu apoie. O presbitério que consagre e solte no meio
das igrejas um neófito, um interesseiro, um vaidoso, um
explorador, um ladrão, um sedutor de moças ou um incom­
petente, tem sua parte da vergonha e da culpa do que daí
resulte. Assim Deus fêz provisão para que igrejas e pasto­
res cerrem fileiras contra a entrada dos incompetentes no
ministério. Timóteo, na ocasião em que foi consagrado, deu
um grande testemunho, I Tim . 6:12. Muitas das horas mais
220 DOÜTRINAS

sublimes na vida cristã se verificam na consagração de no­


vos e bons pastores. E Jesus mandou que orássemos por
mais obreiros, quando êle deu os Doze e quando deu os Se­
tenta, M at. 9:38; Luc. 10:2. U m santo e numeroso ministé­
rio é a suprema necessidade das igrejas de Deus.

13. D E U S C H A M O U P A R A O M IN IS T É R IO A S S A N T A S
M U L H E R E S D A S IG R E J A S A P O S T Ó L IC A S ?

Nenhuma vez. Escolheu Jesus os doze apóstolos e os


setenta evangelistas, sem incluir mulher algum a. O Espí­
rito chamou o ministério inteiro do N ovo Testamento, mas
nunca fê z parte desse ministério qualquer senhora. N ão se
lê de nenhuma pastora, presbítera ou bispa. Priscila podia
animar, corrigir, e hospedar ilustres ministros, mas não fê z
parte do ministério de nenhuma igreja, embora várias vê-
zes hospedasse uma ig re ja em sua casa. A P alavra de Deus
definitivam ente manda que a direção pastoral das igrejas
seja mascuilna: «Convém, pois, que o bispo s e ja . . . marido
de uma só mulher», I T im . 3:3. A té que uma senhora seja
suficientemente masculinizada para ser m arido de «um a só
m ulher», não deve fa zer parte dêsse ministério oficial, cha­
mado bispos.
14. ISSO IN D IC A F A L T A D E IG U A L D A D E N A S A L V A ­
ÇÃO, IN F E R IO R ID A D E D E DONS, IN C A P A C ID A D E
IN T E L E C T U A L O U D IS C R IM IN A Ç Ã O A R B IT R Á R IA
C O N T R A A M U L H E R C R IS T Ã , D A P A R T E D E JE ­
SUS E D E SEUS A P Ó S T O L O S ?

Nenhum a. Indica a profunda sabedoria de Jesus, como


Criador e Conhecedor da raça humana que êle fêz, e da di­
ferença entre os sexos. E ’ baseado em fundamental diferen­
ça orgânica. Tom a em consideração funções prim aciais.
Salvaguarda o lar de ser menosprezado ou negligenciado.
Salvaguarda a ig r e ja . Reconhece a supremacia de cada
sexo no terreno dos seus dons. E dons constituem e definem
chamadas. A história confirm a a sabedoria de Jesus. M es­
mo na vida batista, há regiões onde a mulher g a lg a a dire­
ção pública e geral das igreja s. Mas ali os homens ficam
inativos e ausentes. Como substituto e riva l do homem, a
mulher cristã é um fracasso. Como coperadora e irmã, é
uma glória e um triunfo.
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO O FIC IA L... 221
15 Ê S TE F A T O R E S T R IN G E P A R A PR O PO R Ç Õ E S M E S ­
Q U IN H A S O T R A B A L H O D A M U L H E R D E D IC A D A
N A S IG R E J A S D E C R IS T O ?
O N ovo Testam ento diz que não, e a história tam bém .
M a ria M adalena era uma das senhoras mais distintas e ri­
cas da Palestina, e de renome entre o povo. Ela, Salomé, e
outras mulheres, virtualm ente sustentaram e patrocinaram
o trabalho missionário de Jesus e dos Doze, e sua lealdade
e iniciativa vão até à cruz, ao túmulo e à ressurreição do
Senhor. D a mesma maneira, a mulher batista se distinguiu
em missões, educação, benevolência, medicina, literatura,
música, hospitais, orfanatos, centros redentivos de tôda a
sorte, colportagem , visitação, evangelização pessoal e so­
cial, e m il outras m aneiras. H á 7.000.000 de batistas, no
grupo m aior de nosso povo, e absolutamente nenhuma pasto-
ra existe nas suas 27.000 igrejas, e nenhuma irm ã ambi­
ciona o episcopado, que eu saiba. N o entanto, na esfera
onde ela é suprema e sem par, a mulher batista se fê z g lo ­
riosa no serviço de Jesus e nas suas igrejas, na U nião Geral
de Senhoras e nas suas sociedades locais e em carreiras m il
de variadíssim a atividade cristã. E la é o supremo susten-
táculo do lar, da igreja, da escola, e do país, onde segue a
vontade do seu Salvador. Podem os confiar que tanto o amor
de Jesus como seu entendimento de nós todos, anim aram a
orientação que êle deu, por seu Espírito, na sua P alavra,
acêrca de tudo isto. E, mesmo se não vemos a razão de
Cristo, razão há. Podemos ter certeza disto e lealm ente
apoiar o N o vo Testamento, na sua revelação da verdade e
vontade do Senhor, apoiando não somente as restrições mas
a la rga esfera positiva de atividade feminina, no panorama
apostólico do trabalho da mulher nas igreja s de Deus.

16. Q U A L E ’ A A U T O R ID A D E D A IG R E J A SÔ BRE S E U
PASTO R?

E ’ a autoridade de escolher ou desfazer a sua escolha


(« lig a r » ou desligar», no terreno de relações pastorais), da
disciplina dêle como dos demais membros, de dar e determ i­
nar-lhe o sustento, G ál. 6:6; I Cor. 9:14; I T im . 5:17, e de
enviá-lo em missão especial, A t . 15:2, e tantas outras fun­
ções quantas, na sua autonomia, exerce na recepção de
membros, na sua disciplina, na eleição de diáconos, e mensa­
222 DOUTRINAS
geiros, e na m ordom ia e cooperação com as demais ig re ­
jas da mesma fé e ordem, em missões è beneficência.

17. Q U A L E ’ A A U T O R ID A D E DO P A S T O R SÔBRE S U A
IG R E J A ?
E ’ a autoridade de um servo para cumprir seu serviço.
E ? prim eiram ente a autoridade da P a la vra que êle prega, e
a direção pastoral do rebanho.

18. Q U A IS OS D E V E R E S D E U M P A S T O R P A R A COM
S U A IG R E J A ?

São indicados por seus próprios nomes. Êle é o bispo


(superintendente) de toda a vid a ê atividade da ig re ja . N ão
fa z tudo. F a z que todos trabalhem voluntária e eficazm ente,
em união e com jeito. Êle é pastor do rebanho. Guia. D á
exem plo. A fa s ta os lobos. Busca os errantes e os tra z de
novo à g rei. Chama a todos por nom e. Cuida especialmen­
te dos cordeiros, isto é, dos crentes novos ou jovens. D á sua
vida pelas ovelhas, em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus. Im ita ao Senhor Jesus, o P astor Supremo. E 5 uma
ovelha que é pastor, portanto em plena base de igualdade
de natureza, mas de responsabilidade de função oficial, de­
finida pelo N ovo Testam ento. A inda o pastor é presbítero
(co n selh eiro ). Sua suprema missão é p regar — • coração e
o m inistério da P a la v r a ». Ê le orienta pela natureza e ex­
periência. Ainda êle é presidente de sua democracia espiri­
tual e congregacional, I Tess. 5:12, 13; R om . 12:9. Enfim ,
tudo que se ensina nas Epístolas Pastorais, em João 10 e
21, em I Cor. e I I C or. e no A p oc. 2 e 3 constitui o vasto
e santo alvo do m inistro de uma ig re ja de Deus. E ’ a mais
sublime carreira dada por Deus a um homem na terra . E
todo o seu tempo, talento e esforço é pouco, para cumprir
seu m inistério.

19. Q U A IS OS D E V E R E S D E U M A IG R E J A P A R A COM
SEU PA S TO R OU PA S TO R E S ?

Obediência à P a la v ra de Deus que êle prega, e mesmo


à verdade e vontade de Deus que porventura êle n egligen ­
cie p regar; sustento pastoral no mesmo nível de conforto
que os membros da ig re ja gozam , G áL 6:6; conhecê-lo,
A DOUTRINA DO MINISTÉRIO O FICIAL... 22.1
acatá-lo e tê-lo em grande estima, I Tess. 5:12, 13; não
aceitar acusação contra êle senão por testemunhas, pois
tudo que o pastor possui neste mundo é seu bom nume, l
Tim . 5:19; im itar seu exemplo, seguindo-o como êle seguo
a Cristo, I Cor. 11:9; orar por êle e suplicar um ministério
numeroso ha seara geral de Deus, Luc. 10:2; corrigir suas
idéias erradas, por gentil sugestão particular, mesmo por
parte de estudiosas mulheres na sua grei, A t. 18:26; visão
de como expandir o reino de Deus e a igreja que êle dirige,
e apoio intelectual e financeiro ao program a digno, ao tra ­
balho local e cooperativo com as demais igrejas na causa
geral. Todo crente tem êstes deveres. Um a ovelha que
não ande com seu rebanho e pastor é ovelha desgarrada.
20. Q U A IS A S O U T R A S F A S E S DO M IN IS T É R IO , A L É M
DO P A S T O R A D O D E IG R E J A S ?

São ao menos trê s : «Missionários, doutores e evange­


listas». A palavra traduzida «a p ó s to lo », se usou a respeito
de muitos que não eram dos Doze ou Paulo. Em tais casos,
significa m issionário. O missionário é o enviado para intro­
duzir e estabelecer o evangelho, o reino de Deus e igrejas
bíblicas num território, cooperar com as igrejas estabeleci­
das, educá-las na Palavra de Deus e ajudar em preparar um
ministério adequado. Geralmente os missionários bíblicos
agiram ao redor de centros estratégicos, de que o evangelho
se irradiava, e as igrejas se multiplicavam, sob seus próprios
pastores. Os batistas restauraram em tempos modernos, sob
Carey e Judson, a concepção bíblica de missões. Eram mis­
sionários, neste sentido, (sem ser apóstolos como os Doze e
Paulo) Barnabé e Silas, talvez os Setenta, e os que são des­
critos em I I João 7 assim: «Porqu e pelo seu nome sairam
nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos re­
ceber, para que sejamos cooperadores da verdade». Os após­
tolos eram missionários e m ais. Os missionários que não
eram apóstolos seguiram a mesma norma de devoção, sem
ter os dotes ou a carreira de apóstolos, ou sua autoridade
no cristianismo.
A lém dos pastores e mestres, ainda havia doutrinadores
gerais das igrejas, chamados na Vers. A l . : «doutores». H a ­
via 5 dêsses, a uma vez, na Ig re ja de Antioquia, dos quais
Deus enviou dois como missionários, Paulo e Barnabé. «E m
terceiro lugar, doutores» é a importância reconhecida do
224 DOUTRINAS
seu ofício, em I Cor. 12:28. São homens poderosos na Es­
critura e com capacidade para seu ensino, tais como profes­
sores de nossos seminários, os redatores da literatura das
Escolas Dominicais e da Mocidade Batista, os redatores dos
jornais, autores de livros e revistas, e, em geral, os que en­
sinam a verdade a muitas igrejas, direta ou indiretamente.
E ainda lemos de evangelistas. São obreiros itineran­
tes que especialmente se dedicam à salvação do povo, ao es­
tabelecimento de novas igrejas na zona de sua atividade re­
gional e à promoção do bem estar das igrejas. Tais eram
os Setenta que Jesus enviou, e Timóteo, Tito, Apoio, Tíqui-
co, Marcos e muitos outros. E ’ o elemento do ministério que
menos destaque tem entre nós. A palavra « evangelista» de­
generou, por aqui, em um novato ou inexperiente ou inca­
paz de ser pastor. E ’ falsa doutrina. N a doutrina bíblica, o
evangelista é «consagrado pela imposição das m ãos». E* no­
tável obreiro do m inistério. Filipe foi o primeiro grande
evangelista, o evangelista nacional da Palestina. Deus nos
dê mais evangelistas bíblicos e nos ensine a conhecer e usar
seus dons e pagar-lhes adequadamente. E ’ um ministério
que muito cansa, e isso nossas juntas e convenções estaduais
devem compreender, com ternura e compaixão, mas orar
para que Deus nos dê evangelistas. E ’ fase vital do nume­
roso ministério que necessitamos da parte do Cristo glorifi-
Todo êste ministério de Deus é o supremo dom do seu
amor pára suas igrejas. Nesta verdade vivamos e traba­
lhemos e oremos ao Senhor da seara «que envie trabalhado­
res para sua seara.»
C A P IT U L O X V III

A DOUTRINA DO INFERNO
1. COM QUE LIN G U A G E M E N S IN A A B ÍB L IA ESTA
D O U T R IN A ?

Com a palavra inferno, usada 12 vêzes no N . T .; com


a palavra perdição, umas 18 vêzes; com o verbo correspon­
dente umas 15 vêzes; com o adjetivo eterno 7 vêzes, sôbre
fogo, suplício, pecado, juízo; com o advérbio nunca, umas
9 vêzes, e sempre 6 ou mais vêzes; fogo 30 vêzes; e com vá­
rias metáforas e frases de contraste com a salvação eter­
na. As palavras Hades, no N ovo Testamento, e Seol, no
Velho Testamento, significam o mundo dos mortos, o além-
túmulo. Quando, pois, as Escrituras usam estes termos a
respeito dos mortos, sem Deus, descrevem o inferno, Mat.
11:23; 16:18; Luc. 16:23; Sal. 31:17; Ez. 31:15. Quando
se usam do crente, e de Cristo, descrevem o céu, Luc. 16:
22, 23; A t. 2:27, 31. O uso de Seol, na Vers. Bras. como o
mundo dos mortos, se vê em Gên. 37:35; 42:38; 44:29, 31;
Is. 38:10, etc. Almeida traduz: «sepultura», mas põe Seol
na margem em Sal. 44:15, etc. em algumas edições. As
doutrinas sôbre o destino eterno do homem pertencem prin­
cipalmente ao Novo Testamento, I I Tim . 1:10.

2. E ’ D O U T R IN A E X T E N S A E S A L IE N T E N A E S C R I­
TURA?

Não. O cristianismo não é religião de pavor, de alarme


sensacional, de medo asfixiante, do bizarro e tristonho. O
Novo Testamento é um livro normal. Como um guia da ci­
dade, mostra onde estão o cárcere, o manicômio, o necroté­
rio e os cemitérios, mas dá mais ênfase à vida e felicidade
dos habitantes; assim a Bíblia fala muito mais da vida, da
terra, e do céu do que do inferno ou da morte e Hades. P ro ­
porção é a glória da verdade revelada. Todavia, há peniten­
ciárias e leis que regem a vida aqui e além. A verdade não
as esconde, embora não se ocupe delas principalmente. Omi­
tir a pregação do inferno é deslealdade a Jesus e aos homens.
226 DOUTRINAS
P regá-la fora da proporção evangélica é desserviço ao cris­
tianismo e ao mundo, que se afasta de uma religião que lhe
parece vin gativa e irascível. O lugar que o inferno ocupa
na mensagem de Jesus é o lugar que deve ocupar também
em nosso pensamento é testemunho. N ada mais, nada m e­
nos.

3. P A R A Q U EM F O I F E IT O O IN F E R N O ?
P ara o diabo e seus anjos rebeldes. Se qualquer pecador
para ali fôr, será contra a boa vontade de Deus. O homem
no inferno é um intruso, M at. 25:41 I I Ped. 2:4; Judas 6;
I T im . 2:4.

4. Q U EM E ’ D E S T IN A D O A SE R H A B IT A N T E DO I N ­
FERNO ?
Os medrosos, os incrédulos, os abomináveis, os homici­
das, os que desobedecem ao sétimo mandamento, os feiticei­
ros, os idólatras, todos os mentirosos, os cães (nome usado
na Bíblia para certa classe de pessoas), qualquer que ame
e cometa a mentira, os devassos, os efeminados, os sodomi-
tas, os ladrões, os avarentos, os bêbados, os maldizentes, os
roubadores, os glutões, os réus de inimizades, porfias, iras,
pelejas ou dissenssoes, e todos os que praticam a iniquidade,
Apoc. 21:8; 22:15; I Cor. 6:10; Gál. 5:20; E f. 5:5; M at.
7:23, etc. N otai que em primeiro lugar de gravidade estão
os pecados contra Deus — medo de ouvir e crer e viver com
êle em paz, e o pecado fatal de não crer em Cristo, agra­
vados em muitos casos pela idolatria -— o culto de falsos
deuses ou do verdadeiro Deus por imagens e os pecados de
tôda espécie contra os homens, acompanham a vida sem
Deus e sem fé salvadora. «Tais fostes alguns; mas fostes
lavados», diz Paulo, I Cor. 6:11. «O sangue de Jesus Cristo,
seu Filho nos purifica de todo o pecado», I João 1:7.

5. O P E C A D O R D E IX A DE P E C A R Q U A N D O M O R R E ?

Como pode? Ainda é a mesma pessoa. O espírito é li­


vre, e mais livre para pecar do que nunca. O corpo passou
mas os pecados da alma continuam. Portanto, o Apocalip­
se, no fim da sua descrição dos dois destinos, exclama aos
que se perdem: «P róxim o está o tempo. Quem é injusto,

V
A DOUTRINA DO INFERNO 227
faça injustiça ainda; e quem está* sujo, suje-se ainda», Apoe.
22:11. O inferno é o lugar das almas sujas; e serão mais
sujas, por índole, gôsto, contágio e imitação. Êste versícu­
lo não significa o apôio da injustiça ou sujeira. E' decla­
ração do inevitável, como quando Jesus mandou: «Ou fazei
a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má e o
seu fruto mau», M at. 12:33. A natureza determina a condu­
ta no tempo e na eternidade: e conduta etemamente perver­
sa terá consequências sem fim .

6. DEVEMOS T O M A R AO P E ’ D A L E T R A AS V Á R IA S
DESCRIÇÕES M A T E R IA IS DO IN F E R N O ?

E ’ possível. Mas é possível também tomá-las como lin­


guagem figurada. Lázaro e o rico deixaram os corpos na
terra. Fogo literal não alcança o espírito. Além disso, a*
várias figuras não condizem com a interpretação literal.
Uma «lagoa de fo g o » não seria «ti*evas exteriores». Cada
texto se interpreta segundo o contexto. A consciência a fli­
ta arde como brasas. Fora da comunhão celestial, a alma
perdida é como alguém que fosse expulso do palácio real
iluminado, indo para as trevas exteriores. E ’ assim com as
demais figuras materiais do inferno. Os demônios nunca
tiveram corpos, logo os sofrimentos preparados para êles
não são corpóreos, mas é nesses sofrimentos que o incrédulo
é intruso.
n-

7. O IN F E R N O A B A R C A R A ’ A M A IO R PARTE DA
RAÇA HUM ANA?

A Bíblia não dá esta idéia. O inferno é «lagoa», «abis­


mo» — não é oceano. E ’ uma pequena parte do universo
para a qual o pecado ficará banido. As visões de João con­
templam «milhões de milhões», multidões inumeráveis de
todas as partes, de todas as raças. Não se fala assim do
inferno.
E ’ preciso lembrar que a vasta maioria da raça huma­
na, até aqui, morreu na infância e está no céu e não sabe­
mos quanto tempo durará o evangelho e quantos serão sal­
vos. O notável Hodge pensava que a população do univer­
so, em relação à do inferno, seria como a proporção dos ha­
bitantes de qualquer país em relação aos presos na peniten­
ciária. Se incluirmos os anjos no cálculo desta população,
228 DOUTRINAS
creio que isto é fa to. De qualquer modo, o céu quase en­
che o horizonte das visões do Apocalipse.

8. Q U A L A C O N TR IB U IÇ Ã O F E IT A P O R JESUS À DO U­
T R IN A DO IN F E R N O ?

E ’ o principal Autor da revelação desta verdade no N ovo


Testamento, em diversas maneiras: O nome — há descren­
tes desta verdade, que insistem na idéia de que não deve
ser traduzida a palavra gréga que significa inferno. Querem
trazê-la intacta para o vernáculo, como foi incorporado o
vocábulo batizar, sem traduzi-lo. A palavra grega é geena.
Mas é precisamente o nome da doutrina de Jesus sôbre êsse
lu gar de castigo do diabo, dos demônios, e dos incrédulos e
o nome dêsse lugar, e da doutrina a respeito, é inferno, em
nossa língua. Logo é insensato não traduzir a palavra pelo
que significa — o inferno.
Geena, vale -de Hinom na etimologia, fo i um vale do lado
de fora das muralhas de Jerusalém, onde se lançavam o lixo,
o refugo, os corpos de animais mortos e onde outrora se pra­
ticaram abominações da idolatria de Moloque em que crian­
ças eram queimadas vivas em holocausto. Essa baixada de
má fama, ruína, fogo e vermes sem fim, afastamento dos
bons e sãos, e perdição irreparável, era o têrmo exatamente
adequado para a doutrina de Jesus. Já se incorporara na sua
terminologia corrente bilingue, com o sentido que o inferno
tem entre nós. Traduzimos o sentido da palavra quando
usada, não a etimologia remota e material de um têrmo
cujo alcance principal é no terreno do espírito.

9. Q U A L A A P T ID Ã O DO TÊ R M O P A R A O E N S IN O D E
JESUS ?

E ’ isto: o que aquêle vale era para Jerusalém terrestre,


o inferno é para o universo. Para o inferno vão os que não
acertaram com o propósito da vida, os quebrados, os restos,
os refugos, os que morreram a segunda morte, o lixo da
raça, os cacos da população, precisamente o que precisa ser
separado dos sãos e bons. O que o forno do lixo é para as
casas de uma cidade e sua limpeza, o que o hospital de iso­
lamento é para a saúde da cidade, o que a penitenciária é
para os cidadãos ordeiros, o que o posto de imigração é con­
tra a entrada de indesejáveis, o que necrotérios e cemitérios
A DOUTRINA DO INFERNO m
são para os vivos, tudo isso o inferno é para o universo, o
céu e a terra. Jesus optou pela palavra ideal para definir
e sugerir com vividez a sua doutrina do inferno.

10. M A S EM QUE SENTIDO PODEMOS D IZE R QUE O


IN C R É D U LO E ’ REFUGO, PERD IÇÃO , G E E N A ?

No sentido real do pensamento de Jesus «Qualquer que


quiser salvar a sua vida, perde-la-á, mas qualquer que per­
der a sua vida por amor de mim e do evangelho, êsse a sal­
vará», M ar. 8:35. Salva é a vida que se orienta por amor
de Jesus e do evangelho, embora o mundo diga: «aquêle
protestante está perdendo tudo por causa de sua religião».
Quem opte por «salvar sua vida» para si, recusando-a a
Cristo, é um perdido já, e o lugar próprio para os tais é a
perdição e a companhia de outros perdidos. Se estar com
Deus nesta vida lhes aborrece, seria também um aborreci­
mento na eternidade. Cada qual vai com sua grei. N o in­
ferno é onde o incrédulo será mais feliz do que seria no céu.
«Semeai um ato e colhereis um hábito: semeai hábitos e co­
lhereis um caráter». Pois bem. O incrédulo fêz sua semea-
dura. Fatalmente terá sua colheita. A incredulidade é se­
paração de Deus nesta vida. A separação de Deus, continu­
ando depois da morte, é o inferno. E ’ a baixada dos inferio­
res que assim quiseram ê querem.

11. QUE O U T R A CO N TRIB U IÇ ÃO FÊZ JESUS À DOU­


T R IN A DO IN F E R N O ?

Reservou-a para sua proclamação quase exclusiva e


única. Há recados que um homem de autoridade enviaria,
por um subordinado qualquer. H á outros em cujo desempe­
nho enviaria seu secretário. Há afazeres mais sérios em
cuja solução êle mesmo aparece e dêles trata pessoalmente.
Assim Jesus tomou para si a proclamação da verdade do
inferno. Das doze vêzes que achamos a palavra no N . T .,
onze vêzes está nos lábios de Jesus e outra vez está na Es­
critura mais antiga do N . T ., produzida pelo meio irmão
austero do Senhor, Tiago. Sendo Jesus o principal arauto
de sua doutrina do inferno, é de solene dignidade a doutri­
na, e de responsabilidade suprema a nossa atitude a respei­
to. E ’ uma questão da veracidade do Filho de Deus, «a fiel
230 DOUTRINAS
testem unha». Êle é o único de nossa raça que foi além do
véu e voltou e é o que deu mais aviso do perigo do inferno.

12. Q U E O U TRO S A S P E C T O S D A D O U T R IN A DO IN ­
F E R N O PR O C E D E M D E JE SU S?

Quase todos os elementos da doutrina têm sua fonte no


testemunho e na veracidade de Jesus. E ’ dêle a linguagem
figurada, também nos veio dêle, a palavra escolhida; fo i
Cristo que associou a palavra eterno com o pecado, o juízo, o
fogo, o suplício. E ' Jesus que diz « N unca» ; e que afirmou
haver abismo entre Lázaro e o rico, sôbre o qual nunca nin­
guém passará. E ’ Jesus que fa la do fogo, das trevas exterio­
res, da separação, da companhia dos demônios e seu chefe,
da população infernal dos perdidos e da sua essencial natu­
reza inferior; as virgens tolas vérsus as sábias, os cabritos
vérsus as ovelhas, à esquerda vérsus à mão direita; e é J e ­
sus que deu a revelação final do Apocalipse.

13. COMO IN D IC O U JESUS O S O F R IM E N T O SE R SU ­


P R E M A M E N T E DO E S P ÍR IT O B A N ID O DE D E U S ?

Vede a nítida história do rico e Lázaro. «Filho, lem ­


bra-te» — o ministério da memória incrédula é em si um
inferno. O sentido de culpa social — o rico não se lembrou
dos seus irmãos nesta vida. A gora, convicto das suas ne­
gligências, pede uma ressurreição especial de Lázaro para
os avisar. Jesus lhe inform a que tinham a Bíblia, a mesma
Bíblia dêle. A g o ra nós temos a suprema revelação, a de
Jesus. Mas está demonstrado o discernimento do Salvador;
quem não atende à P alavra de Deus, não atende a um L á za ­
ro ou mesmo ao Cristo, ressuscitados. T a lvez a razão pela
qual Jesus deu a êste habitante do céu o nome de Lázaro
fosse porque êle ressuscitaria um Lázaro, de Bétânia, e para
aquela geração o nome teria tremendo va lor. Um Lázaro
voltou, mas esses mesmos judeus ficaram na incredulidade
mais dura, ao ponto de crucificarem o Messias que Deus lhes
deu. Vermes roem. R ói também a consciência. Fogo arde.
A rd e também a paixão e não há corpos para satisfazerem .
Tôdas as figuras principais que descrevem o inferno par­
tiram dos lábios de Jesus. F oi seu amor divino que tanto
avisou aó mundo do seu perigo, como de tal maneira amou
A DOUTRINA DO INFERNO 231
o mundo, que deu-se em sacrifício pela expiação dos seus
pecados.

14. M A S COMO PO D EM SER F E L IZ E S OS S A N TO S EM


LU Z SE, COMO LÁ Z A R O , S A B E M QUE OUTROS SO­
F R E M N O IN F E R N O ?

A razão é que agora no céu participam do ponto de vis­


ta de Deus, apoiam sua justiça, sabem que o incrédulo tem
seu melhor quinhão e habitat e sociedade no inferno. A l ­
guém afirm a que não somos sinceros, pois, se realmente
créssemos na existência do inferno, estaríamos fora de nós,
em simpatia com o sofrimento. Mas não é verossímel essa
crítica. L á nas penitenciárias, nos manicômios, nos hospi­
tais, nos campos de concentração, nas regiões do frio, bani­
mento, fome, terremoto, desastre e guerra, há* neste momen­
to gritos, dores, loucura, separação, injustiça e juízo. Mas
o crítico de Jesus e de sua doutrina se ri, é feliz, tem seu lar,
negócio, divertimento e sociedade. A miséria alheia em nada
lhe diminui estas alegrias. Sente, mas reconhece o inevitá­
vel. Sabe que há provisões de competentes autoridades para
o que a justiça exige, e apoia. E, se não tivéssemos esta ati­
tude, nós também estaríamos logo no manicômio. A água
busca seu nível. E na baixada do inferno o incrédulo «fo i
para o seu lu gar». Ora, o crente percebe e apoia as leis
que regem o universo.

15. QUEM E> QUE A T O R M E N T A O PE C A D O R NO I N ­


FERNO ?

Se é fogo literal aquêle de que o simpático rico se quei­


xa a Abraão, Luc. 16:24, Jesus não nos disse quem o acen­
deu. Já indiquei que o fogo literal não atinge espíritos in-
corpóreos. Logo, creio que êste fogo m etafórico é o sofri­
mento íntimo que o homem mau experimenta para todo o
sempre. Então êle mesmo acende e conserva bem vivo êsse
fogo, pela memória, pela imaginação, pelos desejos nunca
satisfeitos, pelos ódios, e pelo rancor do seu espírito. Ou-
trossim, são trevas exteriores que sofrem os expulsos das
bodas, em outras parábolas de Jesus. Elas são, provàvel-
mente, o negrume do pecado cujo horror eterno êles sentem
em seu próprio íntimo, isolados da luz do mundo que é Cristo.
Jesus não é inquisidor do perdMo. Êste é o único autor da
232 DOUTRINAS
sua própria infelicidade. O pecado é auto-punitivo. A se-
m eadura e a safra são da mesma espécie de vida. O pecador
é seu pior inimigo, antes e depois da m orte.

16. P O R Q U E T E R IA JESUS D E S E N H A D O N O R IC O
Q U E D E S P E R T O U N O IN F E R N O , U M H O M E M S IM ­
P Á T IC O , D E C E N TE E H O N R A D O P E L O M U N D O ?

P a ra prevenir, exatamente, a essa gente, que vai para


o inferno. N ã o consta uma ofensa positiva siquer, no caso
dêste rico. Pois bem. São também pecados de omissão que
danam eternam ente. Me nada fê z para outros. N ã o se im ­
portou com os males sociais à sua porta. Nenhuma consci­
ência de m ordom ia manifestou. T e v e Bíblia, mas só se lem ­
brou de evangelizar a outros quando era tarde para si, quan­
do já lhe passara a hora. N ão ligou im portância a hoje, o
dia da salvação. E ra egoísta no inferno, como o fô ra na ter­
ra . Queria proteção da parte dos seus superiores depois como
antes da m orte. Achava que o fim da existência de outros,
cã e lá, era fazer-lhe a vontade. T e v e seu rude choque em
descobrir que não é. E’ a vida nitidamente infernal antes e
depois da m orte.

17. H A* G R A U S D E S O F R IM E N T O S N O IN F E R N O ?

Sim . U m Deus justo puniria todos igualm ente? Se êsse


fogo, e essas trevas, e êsse tormento são do íntim o e do am­
biente social, então cada um é o criador do seu próprio in­
fern o pessoal no lugar que para isto fo i preparado, na jus­
tiça divina. O grau de punição va ria com a luz, com a
oportunidade, com a personalidade, com o ambiente e os
dons desprezados, com a intensidade da resistência a Deus,
ao evangelho, a Cristo, ou à própria consciência. «E u mesmo
sou o inferno», exclama um personagem descrito por Milton,
no «P araíso Perdido».
O juizo de bons e maus é segundo as suas obras. A
salvação ou a perdição é segundo a fé em Cristo ou sua
ausência. N a parábola do juízo, em M a t. 25, a divisão é fe i­
ta segundo a natureza de ovelhas e cabritos, antes do ju í­
zo. Êste tra ta das obras, não da salvação; o crente não en­
tra em juízo: o incrédulo já está julgado, João 3:18, na Vers.
B ras. O juízo é das obras, para determ inar o galardão do
A DOUTRINA DO INFERNO 233
crente, e o grau «de pena do descrente, Apoc. 20:12, 13; M al
12:47, 48.

18. COMO SE R E V E L A N A S E S C R ITU R A S O ESTAD O


DAQUÊLES QUE N U N C A O U V IR A M DE JESUS?
Suas obras serão julgadas segundo a lei conhecida por
suas consciências, Rom . 2:6, 9, 12, 14, 16. Há uma lei na­
tural, escrita na consciência dos homens mais ignorantes
da revelação. Cada um é julgado pela lei divina que lhe rege
a consciência. Não é culpado pelo que não sabia — se bem
que a criança que mete a mão no fogo sofre, embora não sou­
besse. A ignorância da lei não desculpa a ofensa. Mas, na
ignorância da salvação, não é condenada a pessoa, pela in­
credulidade do evangelho que nunca ouviu. Em regra, tais
populações são perversas, segundo mesmo as suas próprias
luzes. Seu lugar é o inferno. Mas, se o tormento do inferno
é íntimo, êsses menos culpados terão em si a diferença, o
alívio do grau de sofrimento íntimo. Será gradativamente-
pior o estado dos mais iluminados que, todavia, escolheram
as trevas. Deus dá a cada um o melhor estado que a justi­
ça permite. H á pelo menos tanta diferença entre os pecado­
res no inferno quanto há aqui na terra.

19. PO R QUE JESUS F A L O U DE O CORPO TA M R Ê M


SO FRER A SEG U N D A M ORTE, N A S E P A R A Ç Ã O
DE DEUS NO IN F E R N O ?
Porque o corpo dos maus é ressuscitado para o juízo
final e a personalidade completa irá para o estado final,
Mat. 5:29, 30; 10:28; 18:9. Jesus avisa que é melhor opor-
nos à tentação carnal agora que sofrer a pena, em espírito o
corpo, no estado final. Mas o mesmo Jesus revelou que o
rico e Lázaro foram imediatamente para o tormento ou a
companhia dos bem-aventurados. O tormento não é só dêle,
pois Abraão diz «vós», Luc. 16:26, e o rico sabe que seus
irmãos o seguirão para o mesmo destino. Mas esta pala­
vra «atormentado», em Luc. 16:24, 25, só quer dizer estar
aflito. A palavra «torm ento» realmente só se acha no N .T .
em duas Escrituras, M at. 25:46 e I João 4:18. E o fato de
quê, nesta passagem, é o resultado de medo nesta vida, e
que os habitantes do inferno são «os medrosos», é prova de
que não é um suplício arbitràriamente imposto do lado de
234 DOUTRINAS
fora, mas reinante na alma, por si mesma atorm entada. T e ­
mos direito tam bém de repudiar todos os sentidos pagãos,
gregos e romanos, da palavra Hades, e suas superstições as­
sociadas com o térmo, como igualm ente as noções m edie­
vais rom anistas dos «in fe rn o s ». Cristo não é responsável
pelas idéias falsas ou exageradas que, antes ou depois de
êle usar a palavra, ficaram associadas com ela. Seria tão
absurdo como associar com Jesus todas as idéias de deuses
que os gregos, os romanos ou os orientais tenham advogado.
N ã o há, na linguagem de Jesus, p alavra algum a em desabo­
no de sua justiça é amor, pois o am or reage em separar os
seus do m al e do contágio.

20. Q U A IS A S C O N S E Q U Ê N C IA S D E C R E R O U D E S ­
C R E R N A V E R D A D E DO IN F E R N O COMO R E V E ­
LAD A ?

Os que descreem logo abandonam também as doutrinas


da im ortalidade e do céu. H á um ódio tão grande entre os
homens contra esta verdade pregada por Jesus, que p re fe ­
rem perder a doutrina do céu a adm itir a do inferno. Se não
negam outra vida para os santos em luz, ficam em dúvida.
Silenciam . D egeneram em advogados de um mundo só. O
céu dos tais fica um efêm ero socialismo, nunca realizado,
pouco tem po gozado, se real. Perdem tôdas as doutrinas
do C a lv á rio . Se o pecado não fa z diferença eterna, para
que tão grande sacrifício divino afim de expiá-lo? O evan­
gelho se dissipa. O que não crê o testemunho de Jesus so­
bre o inferno já o repudiou sobre outros assuntos também,
e logo não crê quase nada da sua B íblia. A m oral fic a
frou xa. Os m otivos de arrependim ento perdem seu v ig o r .
O cristianism o fic a sendo nariz de cera que cada um puxa
na direção que ambiciona e torce como quer. M as se aceita­
mos o testemunho de Jesus, sabemos os fatos do universo —
céu, terra e inferno — e tem os os m otivos e incentivos que
Jesus nos deu e evangelizam os à luz das realidades in visí­
veis e eternas.
C A P IT U L O X IX

A DOUTRINA DO CÉU
1. O CÊU E ’ L U G A R O U C O N D IÇ Ã O D E E X IS T Ê N C IA ?

Am bas as coisas. Só Deus é onipresente. Os demais


sêres são limitados, finitos, restrito s. Portanto, se achara
num dos vários lugares mencionados na revelação divina:
a terra ou o ar ou o céu ou o inferno. A palavra Haães sig ­
n ifica o mundo invisível dos mortos, o além-túmulo, o além-
véu. O mundo pode sign ificar os sêres humanos todos (João
3:16) ou o universo físico — terra, lua, sóis, estréias, e o es­
paço . N ão existe, na g eo g ra fia bíblica do universo, nem
o lim bo (lu ga r fictício das criancinhas que m orrem não ba­
tizadas) nem o 'purgatório (lu gar das almas cristãs que se
purgam das suas im perfeições, depois da morte, pelos seus
s o frim e n to s ). São ficções clericais, abomináveis esse voca ­
bulário falso de lugares que não existem . Céu, inferno, terra,
são os nomes bíblicos de lugares habitados por homens; e o
ar ou o espaço é esfera na qual anjos e demônios se m ovem .

2. Q U E M E S T A ’ N O C Ê U ?

1) Deus, o « P a i nosso que estás nos céus»; 2) Cristo,


a quem Estêvão viu, A t . 7:55; H eb. 8:1; 3) anjos, M a t.
18:10; 22:30; 28:2; Lu c. 2:15, etc. 4) os santos e os apósto­
los e os profetas, A p o c . 18:20; I I T im . 4:6, 8, 18; 5) os
que lá fazem a vontade de Deus, M a t. 6:10; 6) os que con­
fessaram a Cristo na terra e por êle foram confessados di­
ante do Pai, M a t. 10:32, e dos anjos, L u c. 12:8; A p oc. 3:5;
7) os que na terra ajuntarem tesouros no céu, ali os recebe­
rão: em ser galardoados pela fidelidade, M at. 6:1 — «tereis
galardão junto de vosso Pai, que está nos céus», M a t. 6:19-
21; L u c. 18:22; I T im . 6:19; 8) « a cidade do Deus vivo, a
Jerusalém celestial, aos muitos m ilhares de anjos, a univer­
sal assembléia e ig re ja dos p rim ogên itos. . . aos espíritos
dos justos aperfeiçoados», H eb. 12:22-24; 9) os que ali se
alegram pelo arrependimento dos pecadores na terra, Lu c.
15:7; 10) Jesus, nosso Precursor e os que o seguiram, H eb .
236 DOUTRINAS
4:14; 6:20; 11) os que entram na casa do Pai, na casa de
muitas moradas, João 14:2, 3; 12) os crentes por quem Je­
sus orou, João 17:24; 13) os majestosos sêres e criaturas apo­
calípticas e multidões redimidas de tôdas as tribos e nações
e línguas e povos, 144.000 de uma classe especial; os m ár­
tires, os perseguidos, e milhões de milhões, e milhares de
m ilhares», Apoc. 4, 5, 7; 14) vencedores e harpistas e can­
tores, A p oc. 15:1, 2; 15) os serafins, Is. 6:1-3; e os arcanjos
Gabriel, Luc. 1:10; e Miguel, A poc. 12:7; 16) os crentes an­
tigos que aqui eram peregrinos, Heb. 11:8-10; 13:14; 17) A
N o v a Jerusalém que é nossa mãe, A poc. 21:2, 3; Gál. 4:26;
18) os exércitos de Deus, A poc. 19:14; Is . 6:3; I I Heis 6:
17; 19) Elias, Sal. 99:1; 20) os que a muitos ensinam a jus­
tiça, Dan. 12:3; 21) uma nuvem de testemunhas, Heb. 12:
1; 22) a igreja gloriosa, E f. 5:27; 23) os que deixam êste
tabernáculo e revestem sua habitação no céu, I I Cor. 5:1-9;
24) os santos, em luz, Col. 1:12. Esta rica term inologia bí­
blica se reduz a três categorias: Deus, os anjos, os rem i­
dos. O Espírito Santo nos fo i «enviado do céu», I Ped. 1:12.

3) Q U E N O M E S F IG U R A D O S T A M B É M T E M O C E U ?
1) Seio de Abraão, Luc. 16:22. Isto significa que o
céu é a terra hospitaleira onde se banqueteia o hóspede.
Trata-se do costume de o hóspede de honra reclinar-se à
mesa junto ao chefe da casa, podendo reclinar a cabeça so­
bre o seio dêste no banquete e fa la r intimamente. Assim o
mendigo glorifiçado, Lázaro, fê z com A braão. 2) Paraíso
é um têrm o que sign ifica parque de recreio. O céu será hos­
pitalidade «na casa do meu P a i» e será felicidade, recreio,
alegria. E ' novo Jardim do Éden onde novamente teremos
acesso à árvore da vida, A p oc. 2:7, e ao rio da água da vida
que sai do trono de Deus e do Cordeiro, A p oc. 22:2. Que
esta árvore esteja no paraíso, e no céu, prova cabalmente
que são dois nomes do mesmo lugar e que o bandido que
Jesus salvou no Calvário fo i com ele para o céu imediata­
mente depois da morte, onde Estêvão entrou, A t . 7:55, 59.
3) Hades e Seol são os nomes grego e hebrá-ico que indicam
o além-túmulo, o mundo dos mortos. N ão devemos associar
com êles nem as cruas superstições e desespêro que a pa­
lavra Hades tinha entre os gregos, nem mesmo as mui li­
mitadas revelações que os hebreus gozavam do futuro pelo
Velho Testam ento. A revelação foi sempre progressiva e
A DOUTRINA DO CÉU 237
Cristo trouxe a vida e a imortalidade à luz pelo evangelho,
demonstrando-as pela sua própria ressurreição. 4) Ainda
há outras figuras, como as bodas do Rei, em seu palácio, o
celeiro da parábola das sementes e do semeador, templo, ci­
dade, «terra feliz», Canaã, etc., etc.

4. T IN H A M OS IS R A E L IT A S A R IC A V IS Ã O E F E ’ QUE
NÔS TE M O S?
N ã o . Gradualmente se ia revelando segundo as suas
possibilidades de receber a verdade. E ’ mister avaliar que
o reino de Deus, para êles, era a teocracia de Israel, e seu
entusiasmo era pela comunhão com Deus nesta vida, no
templo, no culto, nas peregrinações, na vida social com base
racial, e as revelações miraculosas que lhes deram sua ori­
gem e redenção e história. Sendo esta a fase epocal da re­
velação divina, era natural que a religião de Israel tivesse seu
centro na terra e não no céu, e que a comunhão do cren­
te fôsse com Deus agora, de modo a eclipsar parcialmente
o além, de que Deus ainda não revelara o que o N ovo Testa­
mento contém. Deus desperta por seu Espírito em nós o en­
tusiasmo por êle que esteja viável na experiência. Ora a
experiência de Israel com Deus estava na teocracia, com
seus profetas, sacerdotes, reis, raça, peregrinações, salmos,
templos, festas, altar e a crescente profecia messiânica. Era
comunhão com Deus nesta vida, sem excluir a eternidade.

5. IS R A E L T IN H A U M A D O U T R IN A DO CÉU?
Sim. Centenas de vêzes a palavra se acha no Velho
Testamento. E ’ o local do trono de Deus e da residência dos
anjos. Mas não se define o futuro dos santos depois desta
vida.

6. N Ã O E N S IN A O V E LH O T E S T A M E N T O A IM O R T A ­
L ID A D E D A A L M A ?

Sim, ensina. H á vislumbres desta verdade. A liás todo


o meio ambiente de Israel era saturado desta doutrina. O
E gito e a Babilônia tinham como o supremo interêsse desta
vida sua continuação além da m orte. O silêncio de Israel a
respeito é como seu silêncio no N . T. sôbre imagens — pro­
va de unanimidade sôbre o assunto, sem dúvida ou contro­
238 DOUTRINAS
vérsia a respeito. Israel po<iia viver nesta convicção orien­
tal internacional e aguardar sua revelação nítida em Jesus.

7. COMO SE E X P L IC A O PE SSIM ISM O D E SALO M ÃO


A C Ê R C A DO A LÉ M -TÚ M U LO EM CERTOS DE SEUS
ESCRITO S ?

E ’ que o Espírito Santo usou o mais sábio dos homens


para expor a futilidade de uma vida, mesmo das mais fa ­
vorecidas, cujo fim seja a morte. Êle expõe, no livro de
Eclesiastes, sua filosofia de <Iesespêro na contemplação de
uma vida de um mundo só. Era preciso expor a vaidade
de existência, se fosse a morte o fim de tudo. Mas Salomão
historia estas etapas na sua investigação e avança para
sua conclusão final no fim do livro. Tom a seu título de
«pregador» e aconselha uma vida, desde a mocidade, em ple­
na união com Deus e, longe de afirm ar que a morte acaba
com tudo, êle ensina que «o espírito volta a Deus que o deu. »
O juízo final abrangerá a vida inteira. E ’ sumamente falaz
e indefensivel que o sabatismo use a expressão dessas eta­
pas de pessimismo do sábio, em meditar na brevidade desta
vida, como se fosse uma revelação divina de que a morte ter­
mina tudo. Essa seita fa z de Salomão, nessas especulações
pessimistas que êle narra, uma autoridade superior a Cristo
e a todo o N ovo Testamento. Crê no pessimista Salomão
e fecha os olhos a Cristo, Paulo e João. E nem nota que
quando o mundano Salomão se torna «pregador», êle repudia
tudo isto em palavras serenas de fé, Ec. 12:1, 7, 9, 13, 14.
N o seu templo, Salomão deu a Israel o zênite de sua con-
munhão com Deus na teocracia. Falhou. Os profetas do ca­
tiveiro descobriram o indivíduo que é o centro da N ova A li­
ança. Pois bem. N o evangelho, o eterno destino do indiví­
duo é tudo e já não há teocracia política, mas somente o
reino de Deus no coração redimido. E Cristo descortinou
que isto é eterno.

8. Q U A N TO S CÉUS H A ’ ?

O Escritura fala do «céu dos céus», I Reis 8:27; do «te r­


ceiro céu», 33 Cor. 12:2; «de todos os céus», E f. 4:10. Os
judeus calculavam «sete céus». Talvez os três de Paulo se­
jam o céu das nuvens e aves, o das estréias, e a habitação
celestial. Nada sabemos do local e ordem de vida dos espí­
A DOUTRINA DO CÉU 239
ritos incorpóreos. Resta-nos crer o que nos é revelado. Cris­
to é a «fie l testemunha» e sua palavra basta.

9. O C R E N T E ESTA* NO CÉU E N T R E A M O R T E E A
R E S S U R R E IÇ Ã O ?
Sem a possibilidade de dúvida. Lêde as Escrituras da
resposta à pergunta n9 2. I I Cor. 5:1-8 é prova cabal desta
preciosa verdade.

10. N A O HA* U M L U G A R IN T E R M E D IÁ R IO PARA OS


E S P ÍR IT O S ?
N ão. «Ausentes do corpo, presentes com o Senhor».
E* o resumo de toda a doutrina do N ovo Testam ento. O
espírito crente «tem vida eterna», «nunca m orrerá», já está
«em C risto» em união indissolúvel. Seu novo tabernáculo
está no céu, hem a m orte nos separará do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

11. HA* F A L S A S D O U T R IN A S QUE SE O PÕ EM ?


Muitas. Os sabatistas erê em que a alma dorme com o
corpo no túmulo. E* a negação da imortalidade, realmente,
pois uma inconsciência de milênios não é sono. O católico
inventou o limbo para as criancinhas não batizadas e o pur­
gatório para os cristãos. Am bos são fábulas pagas. Outros
pregam a imortalidade condicional, outros ainda, o univer­
salismo, outros o aniquilamento. Os espíritas e teosofistas,
a reencarnação. O liberal protestante vacila entre a verda­
de e o purgatório modificado. Alguns só admitem o crente
no céu quando ressuscitado. Mas a Bíblia não apoia tais
idéias. O ensino é claro, abundante e insofismável, e seu
principal autor é Jesus Cristo.

12. O C R E N T E E N T R A N O CÉU COM Q U A L Q U E R IM ­


P E R F E IÇ Ã O ?

Nenhuma. «N ã o entrará nela (N ova Jerusalém) coisa


alguma que contamine, e cometa abominação e mentira;
mas somente os que estão inscritos no livro da vida», «os
justos aperfeiçoados», A poc. 21:27; Heb. 12:23. «Seremos
semelhantes a êle; porque assim como é o verem os», I João
3:2. O próprio têrmo vertido imortalidade, significa incor-
:240 DOUTRINAS
rupção. Nossa perfeição moral não exclui a possibilidade de
crescer e aprender e desenvolver a personalidade, mas ape­
nas a idéia e possibilidade do pecado. O sangue de Jesus
nos purifica de todo o pecado . Outro purgatório não há, nem
é preciso ou possível.

13. QUE SABEM OS DO CÉU ? .

N ão tem sol, lua, mar, templo, noite, casamento, lá ­


grimas, coisa que contamine, mentira, morte ou dor. Cristo
é sua luz. E ’ como casa, tabernáculo, morada sem aspectos
físicos. «Os seus servos o servem ». Há divisões de respon­
sabilidades: «S ê tu sôbre cinco cidades». H á «tesouros» que
esta vida depositou ali. H á galardão de fidelidade. Há mú­
sica, sociedade, adoração, aleluias, e conhecimento assim
como somos conhecidos. Os anjos são servos dos filhos de
Deus. Seremos companheiros de Jesus no juízo, I Cor. 6:2.
Somos testemunhas da marcha da providência divina, na
arquibancada do universo. H á descanso e trabalho que não
cansa, novamente.

14. TODOS SÃO IG U A IS NO CÉU?


Não na personalidade, responsabilidade, missão, ou ati­
vidade. Os Doze apóstolos terão doze tronos e especial auto­
ridade sôbre as doze tribos de Israel, no seu julgamento,
M at. 19:28. N otai que isso é quando Jesus está entronizado
na glória — não num Israel na terra. H averá quem se sen­
te à direita e outrem à esquerda de Jesus, M at. 20:23. Nas
parábolas dos talentos e dos trabalhadores na vinha e das
minas, temos os seguintes princípios da distribuição de res­
ponsabilidades e galardão nos céus: 1) N ão é pelo prazo de
serviço, mas pela grau de fidelidade que Deus galardoa, Mat.
20:1-16. 2) Igual fidelidade em situações terrestres diferen­
tes terá igual galardão, M at. 25:21, 23. 3) Graus diferentes
de fidelidade e esforço terão diferentes galardões, «segundo
as obras de cada um», Luc. 19:16, 19. Mesmo entre os sê-
res angélicos, há arcanjos e majestosas criaturas, etc.

15. IS TO CONDIZ/COM A IG U A L D A D E D A S A L V A Ç Ã O ?
Perfeitam en te. Pois todos são salvos pela graça, sem
distinção, redimidos pelo sangue. Isto sim, é o cântico de
A DOUTRINA DO CÉU 241
Moisés e do Cordeiro, Apoc. 5:9; 7:9. Não haverá um ser
humano no lar celestial, desde as criancinhas que lá entram
até Metuselá e Adão e o último crente a ser salvo, que não
esteja em pleno pé de igualdade na redenção pelo sangue
do Cordeiro. «Mas cada um receberá o seu galardão segun­
do o seu trabalho», I Cor. 3:8; Apoc. 22:12.

16. H A V E R A ’ PESSOAS A L I QUE COMEÇARAO A V ID A


C E L E S T IA L SEM G A LA R D Ã O ?

Sim. «Se a obra de alguém se queimar» — toda a sua


atividade na terra sendo inútil — «sofrerá detrimento, mas
o tal será salvo, todavia como pelo fogo», I Cor. 3:15. E ’ a
obra de quem edifica «palha, feno» sôbre o fundamento, que
se queima; mas o crente é seguro na fundamento, que é
Cristo. Por êle é salvo com pouco ou nenhum galardão. So­
mos salvos pela graça, mas galardoadòs pelo trabalho fiel.

17. QUE ACO NTECE QUANDO O CRENTE M ORRE?

Êle deixa todas as imperfeições na terra. E ’ glorifiçado,


pertencendo aos «justos aperfeiçoados». Os anjos servem
de guias para o novo cidadão celestial. Êle começa sua vida
celestial na altura da personalidade que tinha, livre das suas
faltas e imperfeições, e vai se desenvolvendo sob o cuidado
de Deus. «Quem é justo, faça justiça ainda, e quem é santo
seja santificado ainda», Apoc. 22:11. Jesus recebe o que
entra no céu, de pé, como cortês Hospedeiro, A t. 7:56.

18. QUE S IG N IF IC A A VISÃO D AS A L M A S NO CÉU D E­


B AIX O DO A L T A R ?

E ’ metáfora. Não há, literalmente templo no céu, Apoc.


21:22. O Cordeiro é o templo: seu sangue é o sacrifício de
único valor. Os que estão debaixo do altar estão sob a pro­
teção do sangue de Jesus. O trecho (Apoc. 6:10) não indi­
ca um estado de purgatório ou coisa semelhante. Êstes são
os mártires fidelíssimos. Têm vestes brancas. Repousam,
v. 12. O que anelam é o juízo divino. E serão juizes com
Cristo no tempo próprio, e já sentem a têmpera judicial.

D. 16
242 DOUTRINAS
19. E ' S A T IS F A T Ó R IO O E S TA D O DO U N IV E R S O E N ­
Q U A N T O O P E C A D O E OS M A U S N A O FO R E M
JU LG A D O S ?
N ão pode ser. E o céu é supremamente interessado na
luta. Quando um pecador se arrepende, é uma vitória que
causa alegria no céu. E já vimos que clamam pelo juízo dos
maus, que virá na paciência de Deus. A vida nos céus é
um estado ainda não final até o juízo, o banimento do mal
e dos maus e de Satanás e seus demônios . Com a ressurrei­
ção e o dia do juízo final, o universo, inclusive o céu, verá
o fim do drama do pecado e terá sua «regen eração». A jus­
tiça divina será püblicamente vindicada e aceita. H averá
novo céu e nova terra, na qual habitará justiça. E os jus­
tos terão corpos de glória, como o corpo ressuscitado de
Jesus.

20. N E S T E ÍN T E R IM H A ’ Q U A L Q U E R D E F IC IÊ N C IA
OU D IS S A T IS F A Ç Ã O ?
N ã o . Paulo anela não ser achado espírito nu, mas re­
vestido do seu tabernáculo do céu, I I Cor. 5:1-4, «para
que o m ortal seja absorvido pela vid a ». Aos convidados para
as bôdas, se dava veste nupcial, M at. 22:11. N ão é possível
dizer em língua humana as realidades que correspondem a
esse futuro, I I Cor. 12:4. Glória habita nessa terra de pro-
missão. Estaremos satisfeitos quando acordarmos na seme­
lhança do Senhor. Pois em tôda a experiência cristã, «as
coisas que o ôlho não viu e o ouvido não ouviu e não subi­
ram ao coração do homem são as que Deus preparou para
os que o amam», I Cor. 2:9. E, mesmo no céu, há surpresas
e esperanças sempre além; e o dia de juízo e a ressurreição
serão um novo regim e no universo inteiro. « P o rta n to » —
t .. H e b . 12: 1, 2 é a ordem do dia aqui na te rra .
CAPÍTULO XX

A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE


REGEM E IMPULSIONAM A
VIDA CRISTÃ
1. Q U A L O PO D E R DE M O TIVO S N A V ID A ?

São a fôrça m otriz da vida. Valem, para fins cristãos,


o que o motor vale para movimentar o automóvel. O motor
toma combustível e o transforma em energia; assim pro­
duz o progresso e a atividade. Como o motorista conser­
va limpo e em boa ordem seu motor, assim o Espirito Santo
purifica o crente e nêle gera a força motriz dos motivos da
sua escolha e do seu uso. Tudo na vida cristã depende dos
motivos e sua fôrça sobre nossos espíritos. Seguiremos o
método indutivo de um estudo parcial dos motivos da vida
cristã.

2. PO R QUE D EVEM OS F ILH O S SER O B ED IEN TES


AOS P A IS ?
«Porque isto é justo», E f. 6:1. A justiça no caso é evi­
dente. O sofrimento e esfôrço dos pais para dar vida aos
filhos, e para manter, desenvolver e educar esta vida, con­
fere direitos, obrigações e responsabilidades. Os pais são a
voz da experiência, o elo entre a experiência do passado e
do presente, o elo entre a história e o porvir. Que esta voz
seja acatada, é justo.
Para os corações bem orientados, a justiça é poderoso
motivo. Os perversos, os demagogos, os criminosos e os
agitadores mostram reconhecer a inerente fôrça m otriz do
apêlo à justiça quando declaram: «Isto não está certo, di­
reito, justo», ou coisa que valha. A Bíblia fa z constante
apêlo a êste motivo: «veredas direitas», Heb. 12:13; «andar
direitamente», Gál. 2:14; «retos caminhos», A t. 13:10; II
Ped. 2:15; «endireitai», Luc. 3:4, 5; João 1:23; «reto cora­
ção», A t. 8:21; «a prudência dos justos», Luc. 1:17; «bus­
car. . . sua justiça», sendo obrigação primordial, Mat. 6:33,
244 DOUTRINAS
Eis m otivo poderoso sôbre a consciência. A justiça tende a
formular-se em lei.

3. Q U A L O M O TIV O P O R QUE O F IL H O D E V E OBE­


D E C E R E H O N R A R AO S P A IS ?
Ei-lo: «E* o primeiro mandamento com promessa: para
que te vá bem e vivas muito tempo sôbre a terra», E f. 6:2,
3. A promessa se lê em Ê x. 20:12; Deut. 5:16; Jer. 35:18,
19. Promessas são poderosos motivos para todos, desde a
criancinha até ao crente mais espiritual e maduro. H á uma
continuidade moral e social que nasce na obediência aos
pais. Garante a estabilidade no lar e na vida doméstica, cí­
vica, comercial, e social, e o progresso. A fôrça m otriz das
promessas de Deus é fator poderoso na consciência e vida.
O próprio Jesus «suportou a cruz; desprezando a afronta»,
por êste m otivo: «pelo gôzo que lhe estava proposto», Heb.
12:2. E Paulo afirm a: «Tôdas quantas promessas há de
Deus são nêle sim, e por êle o Am em », I I Cor. 1:21. N otai
como êste motivo santifica toda idéia do cristianismo: «a
terra da promessa», Heb. 11:9; «a esperança da promessa»,
A t . 26:6; «filhos da promessa», Rom . 9:8; Gál. 4:20; «C ris­
to ...confirm asse as promessas», Rom . 15:8; «herdeiros
segundo a promessa», Gál. 3:29; «o Espírito Santo da pro­
messa», E f. 1:13; «promessa da vida presente e da que há
de v ir», I Tim . 4:8. «concêrto confirmado em melhores
promessas», Heb. 8:6; «grandíssimas e preciosas promes­
sas», I I Ped. 1:4; «a vida eterna, a qual Deus, que não pode
mentir, prometeu», Tito 1:2. A própria Bíblia é uma histó­
ria da diferença que Deus fa z entre os que se separam para
êle e os que o desprezam. Apeguemo-nos às promessas, pois
«firm e nas promessas», é marca do crente e fôrça m otriz
da vida santa. N otai como cada bem-aventurança tem seu
«porque» —■ nove promessas, motivos das nove aspirações
de beatitude.

4. P O R QUE D E V E O C R E N T E A L E G R A R -S E ?

«A legrai-vos antes por estarem os vossos nomes escri­


tos nos céus», Luc. 19:20. A alegria da salvação é a supre­
ma alegria e cria no crente a certeza, a estabilidade, o es­
pírito voluntário e o testemunho entusiasmado e eficaz, Sal.
51:12, 13. Jesus proibiu aos setenta alegrarem-se de sua
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E. . . 215
capacidade e poder de expulsar demônios. Tende isso à van­
gloria é ao orgulho. Sendo a salvação totalmente de gruçn,
o regosijo nela é para a glória do seu Autor e para nossa
humildade. Os maiores crentes dos séculos foram os de
maior certeza, firm es e estáveis. A dúvida enfraquece, con-
runde, desvia e repele. O Evangelho de João visa confirmar
a fé; portanto, fa la da «vida eterna» 17 vêzes, e quatro vê-
zes promete que o crente «nunca perecerá». Quando eu era
jovem pastor, ouvi um sermão sôbre: «Quatro colunas da
Vida Cristã E stá vel». São estas: «M inha salvação depende
do que Cristo fe z por mim no Calvário. Minha certeza e se­
gurança depende da Palavra dé Cristo, dada ao crente. M i­
nha alegria na salvação depende do meu andar com Cristo.
E meu galardão depende do meu trabalho, obediente a
Cristo» . Desdé aquela hora, nunca tive dúvida da minha sal­
vação por um instante. Esta certeza inabalável depende da
Palavra de Cristo: «Dou-lhes a vida eterna e nunca hão
de perecer». Se somos filhos de Deus, pela fé, vale a pena
lembrar-nos do fato e agir nesta certeza, atitude filial e
lealdade ao P a i da fam ília.

5. Q U A L O M O TIV O QUE A N IM O U O PRO FETA


JO NAS ?

«E u sou hebreu e temo ao Senhor, o Deus do céu que


fê z o mar e a terra seca», Jon. 1:9. Tem er é m otivo que
Jesus sentiu, H eb. 5:7 (e Getsêm ane); que êle ordenou,
Luc. 12:5; e ensina, por meio dos seus apóstolos: Pedro, I
Ped. 2:17; A t . 10:35; Paulo, I I Cor. 5:11; 7:1; E f. 5:21;
F il. 2:12; I T im . 5:20. Êste temor é o princípio de sabedo­
ria, Sal. 111:10; P ro v. 1:7; 9:10; «é lim po», Sal. 19:9; «é
uma fonte de vida»', P ro v. 14:27; «encaminha para a vida»,
P ro v. 19:23. E ’ elemento da N ova Aliança, Jer. 32:40. O
zênite da depravação humana é: «N ã o há temor de Deus
diante de seus olhos», Rom. 3:18. A té para o incrédulo
ajuizado, o temor de Deus é m otivo salutar.

6. Q U A L O M O T IV O QUE A N IM O U M O ISÉS?

A esperança de galardão, Heb. 11:26. Crer que Deus


é «galardoador dos que o buscam», Heb. 11:6; 10:35, é ele­
mento vital de fé em Deus. E ’ motivo forte do Sermão do
Monte, tanto no sentido de «galardão no céu», M at. 5:12;
246 DOUTRINAS
Luc. 6:35; como nesta vida, Mat. 6:33. Paulo ensinava este
motivo, I Cor. 3:8, 14; e João, I I João 8; e Jesus, do céu,
A p oc. 22:12. A doutrina de galardão não é a de remunera­
ção em que é pago o serviço feito com salário ou preço es-
tipulado. N em a salvação nem o galardão é na base de pa­
gamento, mas, sim, de graça. O galardão é mais parecido
com o prêmio, F il. 3:14, oferecido de graça, para estimular
0 serviço fie l. E ’ m otivo legítim o e poderoso, usado univer­
salmente pelos homens e por Deus. N as suas parábolas, Je­
sus ensinou que o galardão é determinado soberanamente
por ele, M at. 20:9, 10; sendo o mesmo grau de fidelidade
galardoado com iguais galardões, M at. 25:14-23; porém,
tendo cada grau diferente de fidelidade seu galardão propor­
cional Luc. 19:17-19. Que Deus galardoe é de sua graça,
A poc. 22:12 («d a r ») mas a base do galardão são as nossas
obras e a fidelidade que manifestam. Pode haver salvação
sem galardão algum — todas as obras queimadas, mas a
alma salva, I Cor. 3:12-15. Tal crente será envergonhado
diante de Jesus, na sua vinda, I João 2:28: M at. 10:33.

7. Q U A L O M O T IV O COM QUE JESUS PR O M U LG O U O


PROGRAM A M IS S IO N Á R IO DOS SÉCULOS N A
G R A N D E CO M ISSÃO ?
Autoridade. «Foi-m e dada tôda a autoridade no céu e
na te r r a . P O R T A N T C f , id e .. . fazei discípulos.. . bati­
zando .. . ensinando.. . até a consumação dos séculos», Mat.
28:18-20. A autoridade de Cristo é seu direito inerente, ab­
soluto, divino e eterno de mandar no cristianismo, no uni­
verso e na consciência do crente, e de esperar e receber obe­
diência voluntária, sincera, alegre, perfeita constante. Os
títulos de Jesus que expressam êste direito são: Senhor, Rei,
Legislador, Soberano, etc. (Veja-se a lista dos nomes e t í­
tulos do S a lv a d o r). Tôda a autoridade humana é limitada
pela soberania de Cristo: dos pais, E f. 6:1, «no Senhor»; do
govêrno civil, Rom . 13; A t . 5:29; das igrejas, M at. 18:18
(V ers. A l. Ed. Bras. R e v . ) ; no ministério, I I I João 10,
1 Ped. 5:3. A autoridade, porém, é enaltecida como motivo,
em tôdas as esferas da vida. E o magistrado, o policial e o
soldado são chamados ministros de Deus, no terreno civil,
como o pastor o é no seu púlpito, Rom . 13, especialmente
v . 7. Vêde com Paulo descreve os que não sentem êste mo­
tivo, Rom . 1:28-32; I T im . 3:1-9.
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E... 247
8. QUE OUTRO M O TIVO A N IM O U MOISÉS E E R A A
FÔ RÇA M O TR IZ DE S U A P E R S E V E R A N Ç A ?

«Ficou firme, como vendo o invisível», Heb. 11:27. Éste


patrimônio de fé êle imitou e assim o herdou dos patriarcas:
«Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as pro­
messas; mas crendo-as. e abraçando-as, confessaram que
eram estrangeiros e peregrinos na terra ». Abraão, por exem­
plo, «esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o ar­
tífice e construtor é Deus», Heb. 11:10, 13-16. « A vida não
consiste e m . . . coisas», diz Jesus, Luc. 12:15. «A s coisas
que se vêem são temporais, e as que se não veem são eter­
nas»,’* I I Cor. 4:18.

9. QUE M O TIVO A P R E S E N T O U P A U L O AOS CORÍN-


TIOS P A R A A F A S T A -L O S D A G LU T O N E R IA , D A E M ­
BRIAG UES, DO P A R T ID A R IS M O E DO DESPRÊZO
DOS POBRES, N A C E LE B R AÇ ÃO D A C E IA ?

A certeza do castigo divino. O pecado do crente tem


consequências nesta vida e o castigo divino visa disciplinar,
educar e santificar o caráter e a conduta da fam ília de Deus.
E ’ uma parte do temor de Deus que nos serve de curso pri­
mário, na sabedoria do coração. «Se nós nos julgássemos
a nós mesmos, não seríamos julgados» (A h ! se tivéssemos
êsse juízo e disciplina íntima para a correção própria de
nossas faltas í) . «M as quando somos julgados, somos repre­
endidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo», I Cor. 11:31, 32. O Velho e o Novo Testamento
estão cheios da história dêsses castigos divinos (Vêde a li­
ção sobre o Espírito que «se fez inim igo» do povo desviado
de D eu s). E a mesma Epístola aos Coríntios nos adverte
que essas coisas foram «escritas para aviso nosso» — cons­
tituem as ricas lições da história reveladora. Esta disciplina
paterna é universal na fam ília de Deus, pois o Pai nunca
teve senão um Filho perfeito, Heb. 12:5-11. Todo pecador
deve temer as consequências do pecar.

10. ÊSSES CASTIG O S D IV IN O S SAO D A ORDEM DE


C E IF A IN E V IT Á V E L DO QUE SE SEM EOU OU
C O N S TITU E M P R O V ID Ê N C IA E S P E C IA L ?

Podem ser uma ou outra coisa ou ambas uníssonas. O


248 DOUTRINAS
castigo da embriagues, do adultério e de muitos outros pe­
cados, geralmente, são suas naturais consequências. Mas
a embriaguês e o adultério dos filhos de E li tiveram espe­
cial castigo providencial I Sam. 2:12-17, 22-25, 27-36 — um
dos mais terríveis juízos divinos na história. E não menos
rigoroso fo i o juízo do adultério de Davi, porque dava oca­
sião aos inimigos de Deus para blasfemarem, I I Sam. 12:1-
14. Paulo ensinou o dever de abundante e universal contri­
buição para o sustento de nossos pastores baseando-se no
princípio que rege tôda a conduta e vida: o que se semeia,
isso se colherá. Semeando nosso dinheiro e bens para o pro­
gresso do reino e o cultivo do espírito, ceifaremos do Es­
pírito essa qualidade de vida. Semeando nossa mordomia
principalmente para a satisfação da carne, teremos a colhei­
ta carnal, cujo fim é sempre am argo e doloroso. E ’ m otivo
eficaz para o crente ou o incrédulo ajuizado.

11. QUE A T IT U D E P R O C U R A O E S P ÍR IT O E S T IM U L A R
E M NÕS, COMO F Ô R Ç A M O T R IZ D A S A N T ID A D E ,
N A B A S E DÊSSES M O TIV O S DE C A S T IG O E D IS ­
C IP L IN A D IV IN A ?

São quatro: 1) Exam e próprio, para evitar o juízo divi­


no, pela disciplina íntima, I Cor. 11. 2) Certeza de que a
punição de pecado deliberado é muito maior, Heb. 10:25-31,
m otivo de não «deixar a nossa con grega çã o». 3) Arrenpen-
dimento que evite em tempo o castigo, I I Cor. 7:9, 10; A poc.
2:5. 4) Evitarm os os pecados de presunção, em constituir-
nos juizes -do sofrimento alheio, Sal. 19:13. Nada mais de­
testável se vê no mundo do que a cínica presunção que opi­
na: «S im . Isso foi castigo de D eus». Deus puniu — ou ia
punir — os amigos de Jó por essa insolência, Jó 42:79. H á
muitas razões de sofrimento. Jesus sofreu. E os melhores
sofrem . Cabe a cada um ju lgar a razão do seu sofrer, e
Deus é o Juiz de todos. E ’ insolência que terceiros se façam
juizes no caso. Deixemos isso para o exame próprio. Rom.
14:4; I Cor. 4:3-5. N em julguemos o servo alheio, nem
gastemos tempo precioso em demasiada introspecção. Deus
tornará patente sua orientação na vida do crente dócil.

12. Q U A L A R A Z Ã O PO R QUE A E S C R IT U R A SE OCU­


P A T A N T O D ÊSTES M O TIV O S Q U E P R IN C IP A L -
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E. . . 249
M E N TE TÊM SEU A P Ê L O Â CO NSCIÊNCIA DO HO­
M EM R E G E N E R AD O ?
>

«Porque o homem natural» (sem Deus e em seu estado


de depravação e incredulidade) não compreende as coisas
do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura e não pode
entedê-las, porque se discernem espiritualmente», I Cor. 2:
14; Mat. 16:23 (deficiência de Pedro quando pensava como
se fosse «homem natural»); I Cor. 1:18, 23; Rom. 8:5, 7.
Somente um povo regenerado pode sentir profundamente
motivos espirituais: a autoridade de Cristo, o temor reve­
rente de Deus, a esperança de galardão, o estímulo das pro­
messas da N ova Aliança, e a disciplina dos domésticos da
fé, o ímã da cruz de Cristo «(atrairei, se fôr levantado)», em
seu alcance maior e mais íntimo, a alegria da salvação, o
respeito ao invisível, a emancipação da escravidão a «coisas»,
o fruto do Espírito, o poder da graça. Como pode uma pes­
soa destituída de espiritualidade sentir motivos que somente
a espiritualidade produz e reforça? Impossível. Daí o fatal
fracasso de todas as utopias e esperanças no homem natu­
ral para fazer que venha o reino de Deus. Sem o Novo N as­
cimento, êle nem pode ver o reino de Deus. Não sabe o que
é, muito menos é cidadão do reino, inteligente em promovê-
lo na vida. Daí também a futilidade de pregar o Sermão do
Monte a pecadores perdidos. E ’ pedir vida aos mortos, visões
aos cegos, lealdade aos rebeldes, poder aos impotentes, amor
aos interesseiros, lealdade filial a quem nem é filho nem co­
nhece o Pai. Por isso, o Comentário da série M offatt assim
fala (Vol. sôbre Mateus, pág. 25): «Convém notar que o Ser­
mão foi pregado, não para o mundo largo, mas para os dis­
cípulos . . . Isto é a chave de tudo. A s multidões ao redor
podem escutar, mas suas palavras não são pregadas, princi­
palmente para êles. . . O instinto evangélico é são e salu­
tar . Primeiramente trazei os homens e as mulheres a Cris­
to, consegui que o aceitem e sejam arrolados na companhia
de seus discípulos e, em seguida, será viável ensinar-lhes a
viver sua qualidade de vid a . . . O fenômeno mais perigoso
na história sempre tem sido o de aplicar a ética cristã sem
a experiência cristã». A Bíblia evangeliza o pecador; então
educa o novo homem, salvo e santificado, nos motivos que
tornam possível a vida santa que Deus quer.
250 DOUTRINAS
13. Q U A L O M O TIV O S U P R E M O ?

E ’ o amor divin o. De novo, a Bíblia nos ensina que! so­


mos incapazes de sentir a bendita influência deste motivo,
no homem natural. Êste amor existe em nós somente quan­
do «o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo que nos foi dado», Rom . 5:5. E ’ fruto do
Espírito, Gál. 5:22. A coisa mais desesperadora im aginável
é procurar no incrédulo o fruto do Espírito Santo, que só
existe depois da salvação. O maior passo para tudo que se
possa desejar, neste mundo e na eternidade, é a conversão
do pecador. Isto lhe abre a porta — para Cristo. «Tudo é
possível ao que crê». «Sem fé é impossível agradar a Deus».
Ign orar esta verdade é o supremo fracasso de todas as ideo­
logias políticas e econômicas de suficiência humana. Não
esperemos demais do homem natural e não cairemos na de­
silusão .

14. Q U A L O M O TIV O QUE C O N S T R A N G IA O A P Ó S T O ­


LO P A U L O ?
«O amor de Cristo» — manifestado por êle no Calvário
como nosso Substituto, em que «um morreu por todos» e o
valor desta morte era como se todos morressem. De fato,
«todos m orreram », no seu Substituto, e são identificados
com Cristo nas realidades da redenção do Calvário. Cristo
crucificado fêz possível que Deus P a i seja «justo e o justifi-
cador daquêle que tem fé em Jesus», Rom . 3:26; I I Cor.
5:14, 15. Como testemunha dos valores do Calvário, é que
o Espírito Santo age, João 16:7-14. A morte que nos remiu
fê z o aniquilamento da morte, Heb. 2:9, 14, 15; I I Tim .
1:10, e de todo o regim e do M aligno que opera sob a égide
da morte espiritual. Jesus teve que explorar, desde a encar­
nação, através do Getsêmane e do Calvário, até o primeiro
domingo cristão, todos os confins da morte, removeu sua
causa, o pecado, e ganhou a decisão do seu aniquilamento,
anunciado, consumado e demonstrado ao universo na ressur­
reição. A cruz e o túmulo vazio de José de Arim atéia, são
etapas da mesma jornada redentora objetiva: são de uma
só peça. O evangelho é a nova de tudo isto. E ’ o supremo
fa to na história do universo. E ’ a chave da suprema fo r­
ça m otriz. «L o n ge de mim o gloriar-me, a não ser na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo pela qual o mundo é cru c ifi-
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E. . . 251
caão para m im e eu para o m undo», Gál. 6:14. Aí, sim, há
poder. Levantado, Jesus se fez imã divino. E* a suprema
fôrça m otriz. «E êle morreu por todos para que os que v i­
vem, não vivam mais para si; mas para aquêle que por êles
morreu e ressuscitou», I I Cor. 5:15. Repito, e vou além:
são de uma só peça a morte expiatória de Cristo na cruz,
sua ressurreição e nossa vida santa que assimila estas ver­
dades e valores. Nunca esta classe entenderá isso, nem lá
no céu. Mas podemos crer, e abrir o coração à suprema rea­
lidade .

15. COMO E ’ QUE O A M O R S U B JE TIV O DE C R ISTO CO­


M O V IA P A U L O ?

Todo o capítulo 8 da Ep. aos Romanos é a resposta,


começando: «N ad a de condenação h á . . . » , e chegando ao
zênite do amor: «nada de separação» do amor eficaz de Je­
sus agora, nosso Sacerdote e Inteifcessor. Vede o Espírito,
neste capítulo, e o P a i operando o universo de acôrdo com
êste propósito redentivo aos redimidos. H á vastos e nume­
rosos aspectos do supremo motivo, o amor divino.
1) O amor de Cristo, em seu sacrifício objetivo, nos re­
concilia com Deus, cancela o pecado, justifica e redime. O
Espírito opera as conseqüências subjetivas regeneradoras e
santificadoras (E f. 5:2 e a divisa deste Instituto: Gál. 2:20
e as Escrituras já c ita d a s ).
2) O amor pessoal e subjetivo de Cristo pede reciproci­
dade, é contagioso, desperta gratidão, impulsiona para a
obediência, o sacrifício e o serviço, I João 4:14; Apoc. 1:5.
3) Nosso amor a Cristo, João 14:21, 23, 24; 8:42; 15:9;
E f. 6:24; I João 5:2.
4) «O prim eiro am or», M at. 22:37; Rom . 5:5; Gál.
5:22; Apoc. 2:4.
5) O amor do Espírito, Rom . 15:30.
6) O amor ao próximo e o lícito amor próprio, Rom .
13:9, 10; M at. 5:43, 44; M ar. 12:31.
7) Am or fraternal, João 15:17; 13:34; I João 2:40; 3:
11, 14; 5:1, 2; I I Ped. 1:7.
8) A m or à verdade e amor fraternal com a verdade, II
e I I I João, I Ped. 1:22; I I Cor. 13:6. Vêde meu opúsculo
(ou Comentário sôbre a Ep. aos Gálatas) sôbre «o fruto do
Espírito como visto em Jesus».
252 DOUTRINAS
16. SE O M U N D O IN C R É D U L O E ’ IN F E N S O A ÉSTES
SU PREM O S M O T IV O S : O A M O R D IV IN O , O TE M O R
R E VEREN TE, A E S P E R A N Ç A DE G ALARD AO , A
A U T O R ID A D E D E CRISTO, E T C ., COMO PODEM OS
IN F L U E N C IA R O P E C A D O R P A R A A S A L V A Ç A O
E A M ORAL ?

P rega i o arrependimento. E vangelizai. Anunciai a


Cristo. Êle é o ím ã. A pelai à consciência e à lei de Deus.
Usai os motivos de temor, da safra inevitável da semeadu-
ra dó pecado para esta vida e a eternidade. P rega i a eter­
nidade. Comovei com a mensagem do amor redentivo de
Cristo. Orientai com a verdade revelada. Encaminhai o
pecador, através dos motivos que estão ao seu alcance, para
os que estarão ao seú alcance em Cristo. Dai o ensino claro
e o exemplo. E conhecendo a verdade, como discípulo de
Cristo, a verdade o libertará.

17. O ND E E COMO M A N A R AO D E NÔS P A R A O UTRO S


OS M O TIV O S QUE SE N TIM O S E A QUE O BED E­
CEMOS ?

Isso é do mistério da personalidade, segrêdo do Espírito


Santo agindo em nosso espirito. Realidades espirituais são
contagiosas como incêndio. Calor expande. Entusiasmo por
Cristo, mesmo ao ponto de martírio, sempre gerou mais
entusiasmo. Os confins do reino se alargam, pela conversão,
de um para 30 ou 60 ou 100, segundo a parábola do semea­
dor . V iver a verdade, permite que tenha ela poder visível
e contagioso. Em Antioquia, Barnabé «viu a graça de Deus»
e se alegrou . Vida cristã, entusiasmada e genuína, é a fo r ­
ça mais poderosa no mundo para estabelecer motivos bons
e transformadores na vida pessoal e doméstica, social e civil.

18. COMO U SO U P A U L O S U A R IQ U E Z A D E V E R D A D E
P A R A SE R F Ô R Ç A M O T R IZ N A V ID A S A N T A ?

Em tôdas as suas Epístolas, êle desenvolveu as verda­


des necessárias e oportunas. Então usou esta plataform a de
doutrina para fa zer nela seú apêlo ético, espiritual e prático,
na segunda parte da E pístola. A Bíblia é armazém espiri­
tual -de motivos. Neste arsenal, há armas para tôdas as lu­
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E , . . 253
tas da vida. Form ai o hábito de abrir o espírito ao Espí­
rito de Deus e sua revelação, deixando a mesma revelação
mostrar o uso das suas verdades para definir e reforçar m o­
tivos para a parte prática que cada livro do N . T . ensina.
P o r exemplo,* Romanos 1 a 11 é o m aior bloco de doutrinas
majestosas na Bíblia. Contemplando estas verdades da
justiça objetiva de Cristo e a justiça subjetiva do Espírito
que Deus, de graça, outorga aos crentes, Paulo exclama:
«R ogo-vos P O I S (portanto, à vista destas sublimes ve r­
dades, doutrinadas em capítulos 1-11, como motivos na
vossa vida) pela compaixão (plural, no grego — todas as
mercês expostas) de Deus, que apresenteis os vossos cor­
pos (em ) sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é
o vosso culto racional (elevando a vida saerifieial e santa
à altura do culto do te m p lo ). E não vos conformeis com
êste mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento» E seguem cinco capítulos do mais santo ideal
que a mente possa contem plar. O m otivo é êsse « P O I S»,
sim, «as m ercês» de Deus enumeradas em Romanos 1-11.
T irai dêste tesouro motivos e alvos, assim velhos como no­
vos, M at. 13:52.

19. H A ’ PRO VISÕ ES P A R A O PRO G RESSO NOS M O T I­


VOS B ÍB LIC O S ?
Sim, e para infinito progresso. A própria revelação foi
progressiva até alcançar sua culminância em Jesus. O Se­
nhor revogou o provisório ê preparatório que havia na L ei e
nos Profetas, que só duraram até João. Em lugar dessa le­
gislação teocrática (tanto religiosa como civil, em Israel na­
cional, até sua destruição em 70 A . D . ) Jesus dividiu as es­
feras de legislar: 1) no terreno moral è espiritual, êle expan­
diu, alterou e finalizou a moral de Moisés. Êste proibiu o
adultério: Jesus taxou de essencial adultério o olhar carnal
cubiçoso. Moisés proibiu o homicídio: Jesus classifica de
homicídio, em essência e potencialmente, o ódio. Mas o
ódio é o motivo supremo das ideologias que são rivais ao
cristianismo. A lei mandou amar ao próximo: Jesus definiu
«o próximo», não como o vizinho, de proximidade física, mas
o necessitado, até de outra nação, a quem nos seja viável
ajudar; e, ainda mais, não deixou a doutrina da boa v iz i­
nhança em frases abstratas, mas concretizou tudo na per­
sonagem e no espírito do Bom Samaritano de sua parábo­
254 DOUTRINAS
la. Eis quantos hospitais levam o nome de «Bom Samarita-
n o». Jesus não fundou hospitais nem os ordenou na terra.
Deus, porém, o princípio criador e a ilustração que produz
tôda possível benevolência. A parábola do Bom Samaritanò
fortifica os motivos de todo o altruísmo mais que todos os
códigos de leis. Sendo a lei de Cristo não regulamentação
de costumes mas alvo de princípios, I Cor. 9:21, é de eterno
valor e capaz de infinito progresso e de aplicação a quantos
problemas surjam na vida. «Sempre rairá mais luz da P a ­
lavra de Deus», disse aos «Peregrinos» que fundaram a Nova
Inglaterra, seu pastor João Robinson, quando sairam do V e­
lho Mundo para o Novo. 2) Nenhuma legislação fêz Jesus
no terreno político, econômico ou internacional, senão a mo­
ral de Sinai, que êle completou nos seus princípios. Jesus
não fêz nem promoveu revolução, desordens, ou programas
de ação materialista qualquer. Sua lei é: «D ai a César o que
é de César», que deixa ao govêrno civil sua própria autori­
dade, debaixo de Deus; que Paulo define como de «ministro
de Deus», na vida cívica. Há, neste terreno também, escopo
de todo possível progresso humano, sem peias formuladas
no primeiro século. Sempre a vida religiosa leal obedece a
Deus, revelado em seu Filho. Sempre, em seu legítimo ter­
reno civil, deve o crente acatar e obedecer a César. «Meu
reino não é dêste mundo», diz Jesus. A separação da Ig re ­
ja e Estado é a fonte de tôda a liberdade, ordem e progres­
so estável. O ideal emancipou o espírito humano para todo
0 progresso.

20. QUE M O TIVO E ’ TA M B É M A N O R M A D A V ID A ?

A doutrina da imitação — de Paulo, I I Tess. 1:6;


1 Cor. 4:16; 11:1; das igrejas, I Tess. 2:14; de Cristo mesmo
(«S egu e-m e»); e de Deus, E f. 5:1. «Sêde vós perfeitos como
(motivo e norma) é perfeito o vosso Pai que está nos céus»,
M at. 5:48. Cada criatura de Deus deve ser tão boa como
Deus é bom. Nada supérfluo há no caráter divino. E ’ imi-
tável. O poder do exemplo é motivo e norma; é motivo de­
monstrado em vida. Sendo já realizado em outrem, é viável
em nós; é possível aqui e além. O reino expande suas fron­
teiras de coração em coração. Ser exemplo é poderoso mo­
tivo para quem pretende dar este exemplo, e atrai imita­
dores .
A DOUTRINA DOS MOTIVOS QUE REGEM E. . . 255
Termino assim: Cantai vossos motivos. Fora do N ovo
Testamento, o melhor tesouro de doutrinas e motivos é o
Cantor Cristão. H á melodias, na vida que esteja santifica­
da por motivos, que fazem viver Cristo em nós de modo
atraente, contagioso e exemplar, E f. 5:19.

Você também pode gostar