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Gramática e Literatura Volume 2
Gramática e Literatura Volume 2
L C LINGUAGENS, CÓDIGOS
2
e suas tecnologias
Gramática e Literatura
ENTRE LETRAS Lucas Limberti, Murilo de Almeida Gonçalves e Pércio Luis Ferreira
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.
Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Claudio Guilherme da Silva
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)
Impressão e acabamento
Meta Solutions
ISBN: 978-85-9542-147-9
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando
qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2019
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
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CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
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CARO ALUNO
O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos
principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno realmente
necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Todo livro é
iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos principais
vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 11 e 12: Pronomes pessoais 7
Aulas 13 e 14: Pronomes demonstrativos e possessivos 15
Aulas 15 e 16: Pronomes relativos, interrogativos e indefinidos 21
Aulas 17 e 18: Numerais, preposições e interjeições 27
LITERATURA
Aulas 11 e 12: Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno 37
Aulas 13 e 14: Padre Antônio Vieira 47
Aulas 15 e 16: Arcadismo em Portugal: Bocage 59
Aulas 17 e 18: Arcadismo no Brasil e nativismo épico 71
Abordagem de GRAMÁTICA nos principais vestibulares.
FUVEST
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no ves-
tibular da Fuvest, sendo abordados não apenas em suas relações morfossintáticas, mas também
a partir de seus aspectos de uso coloquial.
LD
ADE DE ME
D
UNESP
U
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FAC
INA
BO
1963
T U C AT U Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames.
UNICAMP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência relativa no vestibu-
lar da Unicamp, aparecendo com maior frequência em testes de segunda fase.
UNIFESP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unifesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames. Ainda são
muito comuns exercícios com usos de preposições.
ENEM/UFMG/UFRJ
Os temas abordados neste caderno apresentam baixa incidência na prova do ENEM, ocorrendo
algumas aparições de uso de pronomes pessoais.
UERJ
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no vesti-
bular da UERJ. De maneira mais esporádica, encontraremos questões sobre preposições.
11 12
Pronomes pessoais
Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronome
Pronome é a palavra variável que, na linguagem, identifica os participantes da interlocução (pessoas do
discurso), os seres no mundo, além de eventos ou situações aos quais o discurso faça referência.
Os pronomes, em geral, operam em conjunto com os substantivos (nomes), podendo substituí-los, referen-
ciá-los ou, ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo. Vejamos alguns exemplos:
O rapaz estava bravo, mas ele tinha toda a razão. (O termo ele substitui o substantivo rapaz.)
Essa é a moça que processou o gerente da loja. (O termo que faz referência ao substantivo moça.)
Aquele rapaz é bastante irritante. (O termo aquele acompanha e qualifica/especifica o termo rapaz.)
Por meio desses exemplos é possível perceber que os pronomes são uma classe de palavras que não possuem
significações pré-determinadas. Seus sentidos são, na maioria dos casos, dependentes de contextos que permitirão ao
leitor recuperar as referências dos pronomes utilizados nos processos comunicativos.
Tecnicamente, os pronomes exercem algumas relações semânticas condizentes às pessoas do discurso.
Essas funções são conhecidas como anafóricas (retomada de termos anteriormente mencionados), catafóricas
(prenuncia algo que será mencionado/dito) ou dêiticas (apontamento de coisas/pessoas que estão no mundo).
Essas funções são exercidas por todas as classes de pronomes, com exceção dos pronomes interrogativos e
indefinidos. Em nossa primeira aula, aprenderemos como realizar as classificações iniciais entre pronomes de tipo
substantivo e pronomes de tipo adjetivo, além de trabalharmos com os pronomes pessoais.
§§ Entende-se por pronome adjetivo aquele que acompanha um substantivo, atribuindo-lhe características.
Exemplo: Este carro é bastante potente.
Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Nesse movimento, eles acabam por
evidenciar as pessoas do discurso. Quando temos de designar a pessoa que fala (1ª pessoa), usamos os pronomes
eu e nós. Para marcar as pessoas a quem nos dirigimos (2ª pessoa), usamos tu, vós e você(s). Já para apontar
para pessoas de quem se fala (3ª pessoa), utilizamos ele(s) e ela(s).
De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como:
§§ Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de sujeito ou
de predicativo do sujeito.
Exemplo: Eu fiquei bastante chateado.
A seguir, temos a lista de pronomes do caso reto em português:
1ª pessoa do singular eu
2ª pessoa do singular tu
3ª pessoa do singular ele / ela
9
1ª pessoa do plural nós
2ª pessoa do plural vós
3ª pessoa do plural eles / elas
Observação 2: Em Língua Portuguesa, é comum a omissão dos pronomes do caso reto, sem prejuízo do
entendimento da frase. Isso se dá pelo fato de as desinências verbais serem capazes de designar as pessoas
que estão sendo utilizadas na construção.
Exemplo: (Eu) Fiquei bastante chateado. (É possível localizar o “eu” pela desinência do verbo.)
§§ Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de comple-
mento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal.
Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.)
Observação 1: Os pronomes o(s) e a(s) funcionam exclusivamente como substitutos de objetos diretos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de complementos preposicionados.
Observação 3: Os pronomes me, te, nos e vos funcionam tanto como substitutos de objetos diretos
como de objetos indiretos.
Tratando-se de verbos que apresentam terminação com som nasal, os pronomes o(s) e a(s) assumem as
formas no(s) e na(s).
Exemplos: compram + o = compram-no
põe + a = Põe-na
detém + os = detém-nos
tem + as = Tem-nas
10
2. Pronomes oblíquos tônicos
Os pronomes oblíquos tônicos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) forte em relação às palavras
que os acompanham. Esses pronomes são precedidos por preposição (em especial a, para, de e com).
Pessoa Pronome oblíquo tônico Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular mim / comigo eu
2ª pessoa do singular ti / contigo tu
3ª pessoa do singular ele / ela ele / ela
1ª pessoa do plural nós / conosco nós
2ª pessoa do plural vós / convosco vós
3ª pessoa do plural eles / elas eles / elas
Observação 1: Alguns pronomes dessa lista são inéditos (mim, comigo, ti, contigo, conosco e con-
vosco) e, por esse motivo, são exclusivamente tônicos. Os repetidos (já vistos anteriormente) são aqueles
que podem atuar como tônicos ou átonos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de objetos indiretos.
Observação 3: Em composições que exijam o uso da gramática normativa, as preposições nunca podem
introduzir pronomes pessoais do caso reto. Esse movimento só é permitido com pronomes pessoais do caso.
Exemplos: Não há mais nada entre mim e ti (certo)
Não há mais nada entre eu e ti. (errado)
Estão todos contra mim. (certo)
Estão todos contra eu. (errado)
Não vá sem mim. (certo)
Não vá sem eu. (errado)
Atenção: Essa regra passa por uma alteração no caso de haver, após o pronome, um verbo no infinitivo.
Nesse caso, o pronome estará funcionando como sujeito desse verbo. E como vimos anteriormente, quem
ocupa posição de sujeito em uma frase são os pronomes do caso reto.
Exemplo: Arrumaram um monte de encrencas para eu resolver.
Pronome reflexivo
Os pronomes pessoais oblíquos podem funcionar como pronomes reflexivos, indicando que o sujeito pratica
e também sofre a ação verbal.
Pessoa Pronome oblíquo àtono Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular me / mim eu
2ª pessoa do singular te / ti tu
3ª pessoa do singular se / si / consigo ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural se / si / consigo eles / elas
11
Pronomes de tratamento
Os pronomes de tratamento são utilizados em relações pessoais de comunicação e obedecem a uma regra de
utilização bem específica, conhecida como segunda pessoa indireta, regra na qual os pronomes são estruturados
a partir da 2a pessoa, mas concordam com a 3ª pessoa. Vejamos a tabela com os principais pronomes de tratamento:
Observação 1: Também são pronomes de tratamento as formas o senhor, a senhora e você(s). As duas
primeiras formas são empregadas no tratamento mais respeitoso (em geral, com pessoas mais velhas), já a forma
“você(s)” é utilizada em tratamentos entre amigos (pessoas que já se conhecem, de idade próxima ou que sejam
mais novas).
Observação 2: Como dito anteriormente, embora os pronomes de tratamento marquem 2ª pessoa (vossa),
a concordância deve ser feita com verbo em 3ª pessoa.
Exemplo: Lembre-se que Vossa Reverendíssima estará no evento litúrgico desta noite.
Observação 3: A gramática normativa exige que se mantenha uma congruência entre os pronomes de
tratamento usados em composições textuais. Desse modo, se o texto começar tratando a pessoa por “tu”, deve-se
distribuir (e manter) as formas de tratamento correspondentes ao longo do texto (“teu” e “tua”).
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INTERATIVIDADE
LER E OUVIR
13
Estrutura Conceitual
MORFOLOGIA
PRONOMES
Pronomes Pessoais
14
13 14
Pronomes demonstrativos
e possessivos
Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes possessivos
São pronomes que transmitem à pessoa gramatical a ideia de posse sobre algo.
Exemplo: Este dinheiro é meu.
Pronomes demonstrativos
São utilizados para evidenciar o posicionamento de uma palavra em relação a outras palavras, ou em
relação a um contexto. Esses eventos se dão em relações espaciais, temporais e sintáticas.
§§ Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois grupos: os variáveis e os invariáveis.
§§ Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s)
§§ Invariáveis: isto, isso, aquilo
Relações espaciais
§§ O pronome este e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem fala.
{{ Exemplo: Usarei este lápis (aqui) mesmo.
§§ O pronome esse e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei esse lápis (aí) mesmo.
§§ O pronome aquele e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está afastado tanto de
quem fala, quanto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei aquele lápis (ali) mesmo.
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Relações temporais
§§ O pronome este e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo presente em relação ao momento
em que se fala.
{{ Exemplo: Esta noite eu vou ao shopping / Neste mês chove bastante.
§§ O pronome esse e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado mais recente ou futuro
em relação ao momento em que se fala.
{{ Exemplo (passado): Esse aumento da crise ocorreu em todos os países da América do Sul.
§§ O pronome aquele e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado distante em relação
ao momento em que se fala.
{{ Exemplo: Naquela época ainda havia telefones de rua, chamados de orelhões. / Aquelas praças cos-
Relações Sintáticas
§§ O pronome este e suas variantes são utilizados para anunciar/adiantar o que será dito na sequência frasal
ou para remeter a um termo imediatamente anterior (recém mencionado).
{{ Exemplo (anunciando informação): O maior problema está neste relatório: ele não dá conta de explicar
todos os problemas
{{ Exemplo (retomando termo recente): Não sei se eu adquiro uma moto ou um carro. Acho que este (último =
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INTERATIVIDADE
ACESSAR
brasiliarios.com/colunas/66-marcos-bagno/578-este-ou-esse-tanto-faz
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Estrutura Conceitual
MORFOLOGIA
PRONOMES
Pronomes Possessivos
Pronomes Demonstrativos
20
15 16
Pronomes relativos,
interrogativos e indefinidos
Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes indefinidos
São palavras que fazem referência à 3a pessoa do discurso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou impreciso
Exemplo: Alguém quebrou os copos da minha cristaleira.
Percebe-se que o termo alguém refere-se a uma terceira pessoa (de quem se fala), mas não somos capazes
de lhe atribuir identidade (a informação é vaga, imprecisa).
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
algum alguma alguns algumas
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas alguém
todo toda todos todas ninguém
muito muita muitos muitas outrem
pouco pouca poucos poucas tudo
vário vária vários várias nada
tanto tanta tantos tantas algo
outro outra outros outras cada
quanto quanta quantos quantas
qualquer quaisquer
Pronomes relativos
São aqueles que recuperam nomes anteriormente mencionados, estabelecendo com estes relação.
Exemplo: A escola tem um calendário que possui muitos feriados
Observação 1: Os pronomes que, o qual, os quais, a qual e as quais são equivalentes, com o detalhe
de que o que é invariável, cabendo em qualquer circunstância, e os demais necessitarão de um substantivo
já determinado.
Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei.
23
Observação 2: Para evitar ambiguidades e outros problemas de sentido, o pronome relativo onde deve
ser utilizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões, cidades, ambientes etc.).
Exemplo: Este é o armazém onde estocamos os produtos.
Observação 3: O pronome relativo cujo não realiza a recuperação de um antecedente, mas aponta para
uma relação de posse com o consequente.
Exemplo: A mulher cuja a casa foi invadida já está em segurança.
Observação 4: O pronome quem faz referência a pessoas e vem sempre precedido de preposição.
Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo muito dinheiro.
Pronomes interrogativos
São pronomes utilizados nas formulações de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta aos
pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes interrogativos são que, quem, qual e quanto (e suas variações).
Entende-se como pergunta direta aquela em que o pronome interrogativo é colocado no início do questionamento
(temos sinal de interrogação ao final da pergunta). Já a pergunta indireta é aquela em que o pronome interrogativo
aparece em outra posição na frase, que não o começo (não há sinal de interrogação).
24
INTERATIVIDADE
LER
Livros
Pronomes: morfossintaxe e semântica - Danniel Carvalho
e Dorothy Brito
25
Estrutura Conceitual
MORFOLOGIA
PRONOMES
Pronomes Indefinidos
Pronomes Interrogativos
Pronomes Relativos
26
17 18
Numerais, preposições
e interjeições
Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Free-Photos/Pixabay
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Numeral
Numeral é a classe de palavra que se relaciona diretamente com o substantivo, atribui-lhe quantidade,
situa-o em determinada sequência e com ele mantém vínculo morfossintático.
Exemplo: Os cinco ingressos devem ser distribuídos aos vencedores.
(cinco é um atributo numérico do substantivo ingressos)
O numeral traduz em palavras as quantidades indicadas pelos números. Se a expressão for escrita apenas
em números, não será tratada de numerais, mas de algarismos.
Exemplos:
Ele foi aprovado em primeiro lugar.
(primeiro é o algarismo empregado para formar numerais escritos)
IMPORTANTE! Algumas palavras são consideradas numerais, se denotarem ideia de quantidade, propor-
ção ou ordenação.
Classificação de numerais
§§ Cardinais: indicam contagem, medida.
Exemplo: A medida do quarto é de trinta metros.
§§ Multiplicativos: indicam multiplicação da coisa ou pessoa, quantas vezes a quantidade dela foi aumentada.
Exemplo: Apareceu um triplo de convidados a mais que o esperado.
29
Emprego de “meio” como numeral adjetivo As preposições são invariáveis, ou seja, não se fle-
xionam em gênero, número ou grau. Mas elas se contraem
Meio(s) e meia(s) são numerais adjetivos que com outras palavras, como vimos no exemplo anterior. Ao
acompanham substantivos. Por esse motivo, obedece- se juntar ao artigo, elas passam a estabelecer concordância
rão às regras de concordância nominal (concordam em em gênero e número com essas palavras. Importante lem-
gênero e número com esse substantivo). brar que não se trata de uma variação própria da preposi-
Exemplos: ção, mas da palavra com a qual ela se funde.
Agora é meio dia e meia. (metade da hora) A relação estabelecida pelas preposições pressu-
Meia taça de vinho já me deixa bêbado. põe um primeiro elemento – chamado antecedente – e
um segundo – chamado consequente. Aquele é o que
Empregos especiais dos numerais exige a preposição, também chamado termo regente; o
segundo é o termo regido por ela, também chamado de
Quando há a necessidade de se atribuir carac- termo regido pela preposição.
terísticas numéricas a figuras importantes, como papas, O antecedente ou termo regente de preposição
reis, imperadores, séculos ou partes de uma obra, em- pode ser:
pregam-se os ordinais até o décimo elemento. Daí em §§ Substantivo: bloco de cimento.
diante, deve-se empregar os cardinais, desde que o nu- §§ Adjetivo: contente com o desempenho.
meral venha seguido do substantivo. §§ Advérbio: preciso imediatamente de um curativo.
§§ Pronome: quem de vocês fez isso?
Ordinais > cardinais
§§ Verbo: gostar de matemática.
João Paulo II (segundo)
Tomo XVI (dezesseis)
D. Pedro II (segundo)
Classificação das preposições
Capítulo XX (vinte) §§ Essenciais – palavras que atuam exclusivamen-
Século VIII (oitavo) te como preposição. São elas: a, ante, após, até,
Século XX (vinte) com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
por, sem, sob, sobre.
Exceção: para designar leis, decretos e porta-
§§ Acidentais – palavras de outras classes gra-
rias, emprega-se o ordinal até nono, e o cardinal a par-
maticais que atuam como preposições. São elas:
tir do décimo elemento.
como, conforme, consoante, durante, exceto, fei-
Artigo 1º (primeiro)
to, mediante, segundo.
Artigo 9º (nono)
Artigo 10 (dez)
Valor semântico das preposições
Preposição Do ponto de vista semântico (do sentido), as pre-
posições são divididas em dois grupos: as relacionais e
A preposição é utilizada para estabelecer re- as nocionais.
lações de sentido entre dois ou mais termos de uma
oração. Trata-se de um processo de conexão entre os Preposições relacionais
elementos que foram ligados pela preposição.
São aquelas exigidas por algum termo antece-
Exemplo: Comprou os bilhetes da rifa com o dente (verbo, substantivo, adjetivo ou advérbio), e que,
troco do lanche, (da: contração da preposição “de” por conta disso, não acrescentam qualquer valor semân-
com o artigo “a” / com: preposição isolada / do: con- tico à sentença. As preposições relacionais introduzem o
tração da preposição “de” com o artigo “o”) objeto indireto ou o complemento nominal.
30
Exemplos: Eu necessito de ferramentas. (de Comprei uma mesa de madeira. (matéria)
ferramentas = objeto indireto / não há sentido expresso Aquele livro é de Marcelo. (posse)
pela preposição) Devemos ingerir vários copos de água durante
Ele é essencial para a empresa. (para a empre- o dia. (conteúdo)
sa = complemento nominal / não há sentido expresso
pela preposição) Preposição EM
Ligue à noite, pois já estarei em casa. (lugar)
Preposições nocionais O relógio é feito em ouro. (matéria)
Temos que discutir todo o tema em vinte mi-
São aquelas que acrescentam valor semântico à nutos. (tempo)
sentença. As preposições nocionais introduzem o adjun- Formou-se em Sociologia. (especialidade)
to adnominal e o adjunto adverbial.
Exemplos: Essas terras são de grandes fazen- Preposição PARA
deiros (a preposição “de” transmite ideia de posse) Ele foi convidado para dar uma palestra. (finalidade)
Os rapazes viajaram para Pernambuco (a prepo- Ele viajou para a França. (destino)
sição “para” transmite ideia de destino ou direção)
Preposição POR
Preposições nocionais mais recorrentes Comprei o livro no sebo por apenas vinte reais. (preço)
A reunião acontecerá por Skype. (meio)
Preposicão A Viajamos por muitas cidades. (lugar)
A persistirem os sintomas, o médico deve ser Ele faz isso por medo de ser demitido (causa).
consultado. (condição) Ficarei aqui por uns três meses (tempo)
Nas férias passadas, viajamos a Brasília. (destino)
As provas devem ser feitas a lápis. (instrumento) Locuções prepositivas
Preposição COM São duas ou mais palavras empregadas
Os moradores estão preocupados com as fortes com a função de uma única preposição. Nelas,
chuvas. (causa) a última palavra do conjunto é sempre uma pre-
Amanhã sairei com meu tio. (companhia) posição essencial: acerca de, apesar de, a respeito
Amanhã será o jogo do Palmeiras com o Corin- de, de acordo com, graças a, para com, por causa de,
thians. (oposição) abaixo de, por baixo de, embaixo de, adiante de, diante
Ele me agrediu com uma bacia. (instrumento) de, além de, antes de, acima de, em cima de, por cima
Ele estava atrasado; caminhava com pressa. (modo) de, ao lado de, dentro de, em frente a, a par de, em lugar
Iremos a sua formatura com certeza. (afirmação) de, em vez de, em redor de, perto de, por trás de, junto
Só poderemos continuar o projeto com os devi- a, junto de, por entre.
dos investimentos. (condição)
Contração de preposições
Preposição DE
Saímos de casa cedo. (origem) No português, fica vetada a contração de prepo-
Falaram bastante de você na festa. (assunto) sições com artigo em casos em que o substantivo que
Ele veio de avião, pois achou que era mais antecede a preposição estiver funcionando como sujeito
rápido. (meio) de algum verbo posterior.
Ele desmaiou de cansaço. (causa)
O jogador se moveu de costas para acertar Exemplo (contração autorizada): Temos que
a bola. (modo) entender as razões do rapaz (o substantivo rapaz não é
Eles voltaram de noite. (tempo) sujeito).
31
Exemplo (contração vetada): Temos que en-
tender as razões de o rapaz desistir do curso (o subs-
tantivo rapaz é sujeito do verbo “desistir”. Isso proíbe a
junção de preposição com artigo).
Interjeição
Interjeição é a palavra invariável que manifesta
sensações, emoções, sentimentos, ordens, chamamentos
ou estados de espírito, revelando as reações das pessoas.
Classificação
§§ Admiração ou surpresa: Puxa! Vixe! Caram-
ba! Nossa! Céus! Eita!
§§ Alegria: Viva! Oba! Que beleza! Eba!
§§ Aplauso: Viva! Bravo! Parabéns!
§§ Chamamento: Alô! Ei! Oi! Psiu! Socorro!
§§ Concordância: Claro! Certo! Ok!
§§ Dor: Ai! Ui! Ah! Oh!
§§ Lamento: Que pena! Ai coitado!
§§ Saudação: Olá! Oi! Adeus!
§§ Silêncio: Silêncio! Basta! Chega!
32
INTERATIVIDADE
LER
Livros
Interjeição: um fator de identidade cultural do brasileiro -
Adriana Leite do Prado Rebello
33
Estrutura Conceitual
Gramática Normativa
Formação de Palavras
Classes de Palavras
Classes Classe
invariáveis variável
34
Abordagem de LITERATURA nos principais vestibulares.
FUVEST
A maior parte das questões de literatura da Fuvest refere-se às obras obrigatórias. Neste caderno,
você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o BARROCO E ARCADISMO.
LD
ADE DE ME
D
UNESP
U
IC
FAC
INA
BO
1963
T U C AT U Como a Unesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre BARROCO E ARCADISMO.
UNICAMP
A maior parte das questões de literatura da Unicamp refere-se às obras obrigatórias. Destaque
especial para os “sonetos” na lírica camoniana que é contemplado na lista de obras.
UNIFESP
Como a Unifesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre BARROCO E ARCADISMO.
ENEM/UFMG/UFRJ
Neste caderno, você encontra algumas questões acerca do Arcadismo. Como o Enem não possui
uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste exame contemplam os conhecimentos das
escolas literárias, bem como de seus principais representantes.
UERJ
Neste caderno, você encontrará exercícios da UERJ nas aulas de Barroco e Arcadismo, sempre
relacionados aos autores de literatura brasileira.
11 12
Gregório de Matos Guerra,
o Boca do Inferno
Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O primeiro poeta brasileiro: adequação e irreverência
Gregório de Matos (1636-1696) é o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica
e satírica no Brasil. Nasceu em Salvador, estudou no Colégio dos Jesuítas e depois em Coimbra (Portugal), onde
cursou Direito, tornou-se juiz e ensaiou seus primeiros poemas satíricos. De volta ao Brasil, em 1681, exerceu os
cargos de tesoureiro-mor e de vigário-geral, apesar de sempre ter se recusado a vestir-se como clérigo.
Graças às suas sátiras, foi perseguido pelo governador baiano Antônio de Souza Menezes, o “Braço de
Prata”. Depois de se casar com Maria dos Povos e exercer a advocacia, saiu pelo Recôncavo baiano como cantor
itinerante, dedicando-se às sátiras e aos poemas erótico-irônicos, o que lhe custou alguns anos de exílio em Angola.
Voltou doente ao Brasil e, impedido de entrar na Bahia, morreu em Recife.
Ao contrário do padre Antônio Vieira, Gregório foi de encontro a uma tendência generalizadora da época,
alastrando-se e acolhendo a poesia religiosa, os costumes e a reflexão moral.
Em relação aos temas, convivem em seus poemas um desenfreado sentimento de sensualismo, erotismo e
paixão idealizada. Seus poemas são dados ao gosto pelo jogo de palavras e das brincadeiras.
Cronologia biográfica
Gregório de Matos viveu durante o ciclo da cana-de-açúcar e fez parte da elite, à qual ele mesmo se contra-
pôs, ao se indignar com o atraso da sociedade patriarcal brasileira depois de voltar de Portugal.
Ele nada publicou em vida. Depois de sua morte, seus manuscritos foram reunidos em um códice, cuja capa
trazia o brasão da Coroa portuguesa com a seguinte insígnia: Inéditas poezias do doutor Gregório de Mattos Guerra.
39
Exemplo desse pioneirismo é a semelhança do poema
“Ao mesmo desembargador Belchior da Cunha Brocha-
do” com o poema “Rosa tumultuada”, de Manuel Ban-
deira (poeta do século XX).
Disponível em: <http://imirante.globo.com>
O “língua de trapo”
Gregório de Matos primou pela irreverência ao
afrontar os valores e a falsa moral da sociedade baiana 1. Erobo: mitologia, nome das trevas infernais, “onde nunca chega o dia”.
de seu tempo, cujo comportamento era considerado in- Entenda-se: já que tanto garbo tanta energia são gentil glória desta terra,
que sejam também alegria da terra mais remota (isso é, o Erebo).
decoroso. Irreverente como poeta lírico, seguiu e rompeu
Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção e prefácio de José
ao mesmo com os modelos barrocos europeus. Como Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 205.
poeta satírico, denunciou as contradições da sociedade
baiana de século XVII, alvejando os grupos sociais – go-
vernantes, fidalgos, comerciantes, escravos, mulatos etc.
A linguagem empregada agrega ao código da
língua portuguesa vocábulos indígenas e africanos, bem
como palavras de baixo calão.
Pelo fato de não ter publicado nenhuma obra em
vida, seus poemas foram transmitidos oralmente, até
meados do século XIX, quando então foram reunidos Manuel Bandeira. Estrela da tarde. 3. ed.
em livro por Varnhagen. São Paulo: Global, 2012, p. 139.
Esse trabalho enfrentou alguns problemas de
natureza autoral. Os copistas não necessariamente obe- Foi apelidado de Boca do Inferno, graças à
deceram a critérios científicos para tal. Há controvérsias sua poesia satírica, dirigida aos governantes corruptos,
sobre a autoria de alguns poemas atribuídos a ele e é co- a religiosos licenciosos e às hipocrisias da sociedade.
mum que um mesmo texto apresente variações de voca- Seus mais de 700 poemas de todos os gêneros e estilos
bulário ou de sintaxe, dependendo da edição consultada. poéticos (exceto o épico) permaneceram inéditos até o
Apesar disso, a obra de Gregório de Matos vem século XX. Entre os anos de 1923 e 1933, a Academia
sendo reconhecida como a que iniciou uma tradição en-
Brasileira de Letras organizou e publicou seis volumes
tre nós, bem como superou os limites do próprio Barro-
deles: I. Poesia sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa;
co. Em pleno século XVII, o poeta chegou a ser um dos
IV e V. Poesia satírica; e VI. Últimas.
precursores da poesia moderna brasileira do século XX.
40
Poesia satírica “Para a tropa do trapo vazo a tripa é uma ex-
pressão idiomática que se aproxima de não quero
Não poupa aspecto algum do sistema e do po- mais dar importância a esse bando de miseráveis”.
der, o que faz dele um poeta maldito. Provoca os políti- WISNIK, José Miguel. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.
cos e ridiculariza os que viviam para bajular e louvar os São Paulo: Cultrix, 1976.
41
Poesia lírica: sacra e amorosa Poesia lírica filosófica
A poesia lírica de Gregório de Matos é idealis-
A lírica filosófica de Gregório de Matos revela um
ta, às vezes emocional, às vezes conceitual, mas fre-
poeta que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso
quentemente preocupada em entender contradições,
como ensina o professor Antonio Candido. A lírica sacra do “desconcerto do mundo”, ocupa-se com a transito-
ressalta o senso do pecado ao lado do desejo do perdão. riedade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade
do homem.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, À instabilidade das coisas no mundo
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido, Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Se basta a vos irar tanto pecado,
Em contínuas tristezas a alegria.
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Se uma ovelha perdida e já cobrada Como a beleza assim se transfigura?
Glória tal e prazer tão repentinho Como o gosto da pena assim se fia?
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada, Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Cobrai-a; e a não queirais, Pastor divino, Na formosura não se dê constância,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. E na alegria sinta-se tristeza.
despido: despeço; delinquido: cometido delito;
empenhado: comprometido Começa o mundo enfim pela ignorância,
WISNIK, José Miguel. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.
São Paulo: Cultrix, 1976.
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
O lirismo amoroso é contraditório, marcado pela
MATOS, Gregório de. Obra completa. São Paulo: Cultura, 1943.
ambiguidade da mulher, vista como uma dualidade
entre matéria e espírito. No soneto abaixo, dedicado à
O tema desse soneto detém-se no estado transi-
dona Ângela de Souza Paredes, o eu lírico está diante
do dilema: qual a finalidade da beleza, se ela leva à per- tório da condição humana. A antítese repete-se na ten-
dição? Que papel tem o anjo (a mulher admirada), se tativa de aproximação entre duas ideias naturalmente
causa a desventura? opostas.
Na segunda estrofe, todos os versos interrogam
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar dela a cada dia o eu poético, bem como o deixam perplexo diante do
E ouvida, me incitava e me movia mistério do universo.
A querer ver tão bela arquitetura: Essa é uma visão de mundo que corresponde à
Ontem a vi, por minha desventura arte barroca: o homem é um ser instável em face da
Na cara, no bom ar, na galhardia realidade que lhe faz apelos dirigidos aos sentidos, diri-
De uma mulher, que em Anjo se mentia gidos ao espírito.
De um Sol, que se trajava em criatura:
Matem-me, disse eu vendo abrasar-me,
Se esta a coisa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me
42
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
OBRAS
43
LER
Livros
O lúdico e as projeções do mundo barroco - Affonso Ávila,
Perspectiva, 1971
44
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Esta habilidade demanda que o estudante saiba lidar com o primeiro aspecto da tríade
analítica básica a arte literária (contexto / autor / obra). Conhecer o contexto, ou seja, a
história e as relações sociais e políticas nela impressas. Esta relação entre o texto literário
e o contexto político requer que o estudante abandone aquele senso comum do discurso:
“política não se discute”, pois no Enem não só se discute, como serve de base para re-
solução das questões de Literatura.
Modelo
(Enem)
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006)
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o
soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
a) visão cética sobre as relações sociais.
b) preocupação com a identidade brasileira.
c) crítica velada à forma de governo vigente.
d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
45
Análise Expositiva
Habilidade 15
O poema de Gregório de Matos estabelece uma intertextualidade com as Sagradas Escrituras:
“Quando Deus redimiu da tirania/Da mão do Faraó endurecido”.
Entender as características do escritor é premissa básica para a resolução da questão. Gre-
gório de Matos, conhecido como o “Boca do Inferno” utilizava sua literatura como meio de
criticar a sociedade de sua época, ainda que o fizesse por meio de metáforas, como ocorre no
texto acima: “Deus, que veio estirpar desta cidade/o Faraó do povo brasileiro.”
Alternativa C
Estrutura Conceitual
GREGÓRIO
DE MATOS
O BOCA DO INFERNO
2 Gregório de Matos ganhou o apelido
de “boca do Inferno” por conta de
suas poesias satíricas e sua
46
13 14
Padre Antônio Vieira
Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Padre Antônio Vieira e o convencimento da fé cristã
Antônio Vieira (1608-1697) é a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto
à literatura portuguesa quanto à brasileira. Compreende um vasto campo temático que vai da religião à política,
passando pela diplomacia num desfile de sua mais interessante capacidade: a de orador e pregador da fé cristã.
Português de origem, Vieira tinha sete anos quando veio com a família para o Brasil. Na Bahia, estudou com
os jesuítas e espontaneamente ingressou na Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado com apenas 15 anos. A
maior parte de sua obra foi escrita no Brasil. Desempenhou várias atividades como religioso, conselheiro de Dom
João IV, rei de Portugal, e como mediador de Portugal em conflitos econômicos e políticos com outros países.
Disponível em: <http://www.colegioweb.com.br>
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“Umas religiões são de descalços, outras de calçados; a
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vossa é de descalços e despidos. O vosso hábito é da mesma cor;
porque não vos vestem as peles das ovelhas e camelos, como a
Elias, mas aquelas com que vos cobriu ou descobriu a natureza,
expostos aos calores do sol e frios das chuvas. A vossa pobreza é
mais pobre que a dos menores, e a vossa obediência mais sujei-
ta dos que nós chamamos mínimos. As vossas abstinências mais
merecem nome de fome, que de jejum, e as vossas vigílias não
são de uma hora à meia-noite, mas de toda a noite sem meio. A
vossa regra é uma ou muitas, porque é a vontade e vontades de
vosso senhores. Vós estais obrigados a eles, porque não podeis
deixar o seu cativeiro, e eles não estão obrigados a vós, porque
vos podem vender a outro, quando quiserem. Em uma só reli-
Medalha do Padre Antônio Vieira, esculpida por Dorita Castelo Branco. gião se acha este contrato, para que também a vossa seja nisto
singular. Nos nomes do vosso tratamento não falo, porque não
Embora Vieira defendesse os índios da escravi- são de reverência nem de caridade, mas de desprezo e afronta.
dão, seus sermões eram reticentes em relação à escravi- Enfim, toda a religião tem fim e vocação, graça particular. A gra-
zação dos negros. Limitavam-se a descrever a situação a ça da vossa são açoutes e castigos” [...].
que eram submetidos os negros e a apontar a perspecti-
va de uma pós-morte que compensasse os sofrimentos Padre visionário
em vida. “A realidade na qual Vieira procura interferir
Vieira também foi sonhador e profeta, chegou
não é diretamente a exterior, mas a interior, tentando
a escrever três obras nesse sentido: História do futuro,
mudar as convicções tanto dos negros como dos bran- Esperança de Portugal e Clavis Prophetarum.
cos. Por isso, nestes sermões ele se dirige aos dois, ora a Baseado em textos bíblicos e nos textos proféticos
um, ora a outro, sabendo que o ouvem continuamente” do poeta português Bandarra, ele acreditava na ressurrei-
comenta o historiador Luiz Roncari (Literatura brasileira ção do rei Dom João IV, seu protetor, morto em 1656. Es-
– dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2. ed. sas ideias constam em Esperança de Portugal. Em razão
São Paulo: Edusp/FDE, 1995. p. 167). delas, entre 1665 e 1667, foi processado e preso pela In-
Observe tal postura neste fragmento do “Ser- quisição e teve cassado seu direito à palavra em Portugal.
Disponível em: <http://redememoria.bn.br>
50
atacar os judeus, como se fazia nos países católicos
pressionados pela Inquisição, Vieira defendia a perma-
nência e a entrada deles em Portugal como forma de
estimular o comércio naquele país. Paralelamente, pre-
Sermão da sexagésima
Metalinguagem
© Divulgação
51
“Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a Palavra de Trecho IV
Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por Mas dir-me-eis: padre, os pregadores de hoje não pre-
que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa nossa.” gam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois
Leia com atenção alguns trechos do “Sermão da como não pregam a palavra de Deus? – esse é o mal. Pregam
sexagésima”. palavras de Deus, mas não pregam a Palavra de Deus.
Trecho II
[...] o pregar há de ser como quem semeia, e não
como quem ladrinha ou azuleja. Não fez Deus o céu em
xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão
em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de
outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra
há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão
de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra
hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num
sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre
em fronteira com o seu contrário? [...]
Trecho III
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de
ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da
mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo
isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem tron-
co, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos.
Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas,
porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco,
porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste
tronco hão de nascer diversos ramos, que soa diversos discur- Interior da igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador (BA), onde o
sos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; es- padre Vieira proferiu o sermão contra os holandeses.
tes ramos hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque
os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. [...]
52
Trecho I Trecho I
(...) Pequei, que mais Vos posso fazer? E que fizestes vós, Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que
Job, a Deus em pecar? Não Lhe fiz pouco; porque Lhe dei oca- o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais
sião a me perdoar, e perdoando-me, ganhar muita glória. Eu em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-
dever-Lhe-ei a Ele, como a causa, a graça que me fizer; e Ele lo para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades
dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar. (...). tinham as pregações do vosso pregador Santo António, como
Em castigar, vencei-nos a nós, que somos criaturas fracas; mas também as devem ter as de todos os pregadores. Uma é louvar
em perdoar, vencei-Vos a Vós mesmo, que sois todo-poderoso o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar
e infinito. Só esta vitória é digna de Vós, porque só vossa jus- e repreender o mal para preservar dele. Nem cuideis que isto
tiça pode pelejar com armas iguais contra vossa misericórdia; pertence só aos homens, porque também nos peixes tem seu
e sendo infinito o vencido, infinita fica a glória do vencedor. lugar. Assim o diz o grande Doutor da Igreja S. Basílio: Non
carpere solum, reprehendereque possumus pisces, sed sunt
Trecho II in illis, et quae prosequenda sunt imitatione: ’Não só há que
Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os notar, diz o Santo, e que repreender nos peixes, senão tam-
homens, mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas bém que imitar e louvar.’ Quando Cristo comparou a sua Igreja
vozes: a vosso peito divino se há de dirigir todo o sermão. à rede de pescar, Sagenae missae in mare, diz que os pesca-
dores ‘recolheram os peixes bons e lançaram fora os maus’:
Elegerunt bonos in vasa, malos autem foras miserunt. E onde
há bons e maus, há que louvar e que repreender. Suposto isto,
Sermão de Santo Antônio para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso
(aos peixes) sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas
virtudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. E des-
Sermão de Santo Antônio, também chamado ta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que melhor vos
de Sermão aos peixes, foi pregado em São Luís do está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos.
Maranhão, em 1654, e refere-se a colonos que aprisio-
navam indígenas. Trecho II
Três dias antes do embarque escondido para Lis- Este é, peixes, em comum o natural que em todos
boa, na festa de Santo Antônio – 13 de junho de 1654 vós louvo, e a felicidade de que vos dou o parabém, não
–, em São Luís do Maranhão, Vieira causou surpresa: em sem inveja. Descendo ao particular, infinita matéria fora
vez de tematizar os milagres de Santo Antônio, detona a se houvera de discorrer pelas virtudes de que o Autor da
situação que estava vivendo, a pressão contra sua pes- natureza a dotou e fez admirável em cada um de vós. De
soa e alerta aos ouvintes que se não quisessem ouvi-lo alguns somente farei menção. E o que tem o primeiro lu-
que fossem como Santo Antônio, pregaria aos peixes, gar entre todos, como tão celebrado na Escritura, é aquele
que estavam ali a poucos passos. Os vícios e as virtudes santo peixe de Tobias a quem o texto sagrado não dá outro
dos homens são elencados na busca por uma legislação nome que de grande, como verdadeiramente o foi nas vir-
mais justa aos índios. tudes interiores, em que só consiste a verdadeira grandeza.
O sermão exalta as qualidades dos peixes, como Ia Tobias caminhando com o anjo S. Rafael, que o acom-
panhava, e descendo a lavar os pés do pó do caminho nas
a obediência, e critica a soberba e o oportunismo. O
margens de um rio, eis que o investe um grande peixe com
principal defeito que ele aponta é a intensidade e a
a boca aberta em ação de que o queria tragar. Gritou Tobi-
voracidade, uma vez que os peixes devoram uns aos
as assombrado, mas o anjo lhe disse que pegasse no peixe
outros, especialmente os maiores, que devoram os me-
pela barbatana e o arrastasse para terra; que o abrisse e
nores. Vieira exalta os peixes que, por sua natureza, não
lhe tirasse as entranhas e as guardasse, porque lhe haviam
podem ser sacrificados vivos a Deus e sacrificam-se en-
de servir muito. Fê-lo assim Tobias, e perguntando que vir-
tão, em respeito e reverência.
tude tinham as entranhas daquele peixe que lhe mandara
guardar, respondeu o anjo que o fel era bom para sarar da
cegueira e o coração para lançar fora os demônios:
53
Cordis eius particulam, si super carbones ponas, fumus
eius extricat omne genus daemoniorum: et fel valet ad ungen-
dos oculos, in quibus fuerit albugo, et sanabuntur. Assim o disse
o anjo, e assim o mostrou logo a experiência, porque, sendo o
pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno
do fel, cobrou inteiramente a vista; e tendo um demônio,
chamado Asmodeu, morto sete maridos a Sara, casou com ela
o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu
dali o Demônio e nunca mais tornou. De sorte que o fel daquele
peixe tirou a cegueira a Tobias, o velho, e lançou os demônios
de casa a Tobias, o moço. Um peixe de tão bom coração e de tão
proveitoso fel, quem o não louvará mais? Certo que se a este
peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia
um retrato marítimo de Santo António.
Trecho III
Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural
irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas
mãos, que tomá-lo indignamente! Em tudo o que vos excedo,
peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é
melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o
meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as
palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com
a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o
entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a
vontade. Vós fostes criados por Deus, para servir ao homem, e
conseguis o fim para que fostes criados; a mim criou-me para
o servir a ele, e eu não consigo o fim para que me criou.
54
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
55
LER
Livros
Livros
Padre Antônio Vieira - 400 Anos Depois - Lelia Parreira
Duarte e Maria Thereza Abelha Alves
OBRAS
Em obra do século XVIII, o padre Antônio Vieira aparece sendo expulso por revoltosos no Maranhão.
(Fundação Biblioteca Nacional)
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CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Esta habilidade demanda que o estudante saiba lidar com o primeiro aspecto da tríade analítica
básica: a arte literária (contexto / autor / obra). Conhecer o contexto, ou seja, a história e as rela-
ções sociais e políticas nela impressas. Esta relação entre o texto literário e o contexto político re-
quer que o estudante abandone aquele senso comum do discurso: “política não se discute”, pois
no Enem não só se discute, como serve de base para resolução das questões de Literatura.
Modelo
(Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito
semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas,
porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para
a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de
dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo
sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que,
se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).
O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
57
Análise Expositiva
Habilidade 15
O consagrado sermão apresentado por Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre o
sofrimento de cristo crucificados e as condições de maus tratos sofridos pelos escravos nos
engenhos de açúcar. Este pressuposto embasa a habilidade 15 cobrada pelo Enem que deseja
que o estudante entenda sua denúncia para com o martírio vivido pelos cativos na sociedade
colonial. Um trecho do texto que confirma esta proposição é: “Em um engenho sois imita-
dores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo
Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão”.
Alternativa E
Estrutura Conceitual
1
Veio para o Brasil com sua família humilde, desembarcando na Bahia
com seis anos de idade. Seu pai foi nomeado escrivão dos Agravos e
Apelações da Relação da Bahia. Fez seus primeiros estudos com sua
mãe, e depois no Colégio dos Jesuítas.
2 3
Vieira fez seu primeiro sermão “Os homens são como os olhos:
em Portugal no dia 1º de janeiro vendo tudo não se veem a si próprios”.
de 1642. Padre Antônio Vieira
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15 16
Arcadismo em Portugal:
Bocage
Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons
L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O século das luzes
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O século XVIII foi palco de uma série de transformações culturais e sociopolíticas na Europa: ascensão da
burguesia e decadência da aristocracia; ruptura definitiva com o mundo medieval; nascimento do Iluminismo.
Para acompanhar o desenvolvimento das grandes nações europeias e satisfazer os interesses da burguesia,
Portugal empreendeu diversas reformas econômicas, políticas, culturais e educacionais.
Já no Brasil, as manifestações da estética arcádica tiveram início na segunda metade do século XVIII. A
atividade mineradora – já intensa desde 1700 – determinara mudanças na organização e na dinâmica da vida bra-
sileira. Houve um aumento considerável na circulação de mercadorias e dinamização das regiões que abasteciam
com gado as Minas Gerais (Sul e Nordeste).
Vila Rica, atual Ouro Preto, tornou-se centro eco-
© Carlos Julião/Wikimedia Common
61
Com o crescimento das cidades, apareceu no
Arcadismo em Portugal
Brasil o trabalho não escravo, desvinculado das ativida-
des agrícolas e da mineração. Eram artesãos, burocratas,
© Husond/Wikimedia Common
profissionais liberais, literatos – esboço de uma classe
média que, disposta a defender seus próprios interesses,
adotou a ideologia liberal burguesa vinda da França: o
Iluminismo. A difusão do pensamento iluminista – que
apregoava a liberdade de propriedade e a igualdade de
poderes, criticando o Estado absolutista – tinha como pa-
lavras de ordem: liberdade, igualdade, fraternidade.
Em 1789, esse espírito culminou na Revolução France-
sa, que modificou o conceito de classe social elevando os
burgueses ao topo do poder. Palácio de Queluz, onde vivia a família real portuguesa, durante o verão
(século XVIII).
62
As ideias de Verney foram expostas na obra o
“Verdadeiro método de estudar”, publicada em 1746.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Nela, o escritor ataca a orientação que os jesuítas da-
vam à educação e condena a arte de Camões, em cujas Cronologia biográfica
antíteses via traços da estética barroca. 1765 – Nasce em Setúbal, Portugal, Manuel Maria Du
Essas críticas deram origem a um amplo debate Bocage.
sobre a necessidade de renovar a cultura portuguesa. 1775 – Morte de sua mãe.
Em torno da questão estética da literatura, foram pu- 1781 – Foge de casa e torna-se soldado.
blicados inúmeros tratados, envolvendo temas como o 1783 – Muda-se para Lisboa, onde se engaja na Armada
belo e a verdade na arte. Em decorrência desse período Real Portuguesa e participa da vida boêmia da cidade.
de efervescência cultural, foi fundada a Arcádia Lusita- 1786 – Depois de uma viagem em que passou pelo Brasil,
na, em 1756, considerada o marco introdutório do Ar- chega a Goa, na Índia, uma das colônias portuguesas.
cadismo em Portugal. 1790 – Volta para Portugal.
1791 – Foi convidado para participar da Nova Ar-
Arcádias cádia.
1797 – Depois de preso sucessivamente, foi libertado
e transferido para o Convento do Oratorianos, onde foi,
As Arcádias eram academias literárias, espécies
aparentemente, levado ao abandono da irreverência.
de agremiações que tinham por objetivo promover deba-
1799 – Publica sua segunda obra de poesias, também
tes permanentes sobre a criação artística, avaliar critica-
com o título de Rimas.
mente a produção de seus filiados e facilitar a publicação
1804 – Publicação de uma terceira série de Rimas, com apoio
de suas obras.
e elogios da marquesa de Aloma, que passou a protegê-lo.
Portugal contou com duas importantes acade-
1805 – Morre em 21 de dezembro, como tradutor.
mias árcades: a Arcádia Lusitana, que efetivamente
63
Sua produção literária revela a ânsia pelo locus Camões, grande Camões, quão semelhante
amoenus, que simboliza a fuga da vida citadina (fugere Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
urbem). Prende-se aos valores literários do Arcadismo, .................................................................
cuja presença feminina é marcante com constantes Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...
citações de Marílias, Ritálias, Márcias, Gertrúrias. Há Se te imito nos transes da Ventura,
estudiosos que apontam Maria Margarida Rita Cons- Não te imito nos dons da natureza.
Hermâni Cidade. Ob. Cit., p. 149.
tâncio Alves como a grande paixão do poeta e a quem
fado: sorte, destino
são atribuídos os dois primeiros pseudônimos pastoris: ventura: sorte, destino
Marília e Ritália. Outra figura muito presente em sua
obra é Gertrúria, na verdade, Gertrudes Homem de No- Foi na lírica, em especial nos sonetos, que Boca-
ronha, conterrânea de Setúbal e a quem o poeta dedica ge atingiu o ponto alto de sua obra, embora também
muitos versos, o que leva a crer que tenha sido ela o tenha se destacado como poeta satírico e erótico.
grande amor de sua vida. Idílios marítimos, Rimas (três
volumes) e Parnaso bocagiano reúnem a produção lite-
rária de Bocage. Os sonetos de Rimas são o ponto alto
Bocage e a transição
de sua produção, comparável a de Camões. A solidão,
Bocage é considerado o melhor escritor português
a desilusão amorosa, o sentimento de desamparo e a
do século XVIII. Ao lado de Camões e de Antero de Quen-
dor de viver contagiaram de tal maneira sua poesia que
ela acabou se afastando da estética árcade – racional tal, é um dos três maiores sonetistas de toda a literatura
e pouco dramática – para se enveredar pelo campo portuguesa. Contudo, o título de melhor escritor da épo-
dramático e confessional, fato que inseriu Bocage num ca não significa que Bocage tenha sido o mais perfeito
contexto pré-romântico. árcade, papel que talvez caiba a Filinto Elísio. A impor-
Magro, de olhos azuis, carão moreno, tância conferida à obra de Bocage advém principalmente
Bem servido de pés, meão de altura, da tradução do momento transitório em que o escritor
Triste de facha, mesmo de figura, viveu, um período marcado por mudanças profundas,
Nariz alto no meio e não pequeno; como a Revolução Francesa (1789) e o florescimento do
.................................................................
Romantismo. Na totalidade, sua obra não é árcade nem
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento, romântica. É uma obra de transição, que apresenta simul-
E somente no altar amando os frades. taneamente aspectos de ambos os movimentos literários.
Hermâni Cidade. Bocage – a obra e o homem. 3. ed.
Lisboa: Arcádia, 1978. p. 25-26.
deidade: deusa
Lírica Arcádica:
facha: rosto
meão: mediano
A fase inicial da poesia de Bocage é marcada
Nesses versos, o poeta procura descrever a si por formas e temas próprios do Arcadismo: ambiente
mesmo. Neles, fica um aspecto marcante da vida e da bucólico – o fugere urbem –, o ideal de vida simples e
obra do autor: “Devoto incensador de mil deidades”, alegre – aurea mediocritas –, a simplicidade e a clareza
isto é, bajulador ou conquistador de mil moças. das ideias e da linguagem etc.
Além das inúmeras experiências amorosas,
Bocage também viveu aventuras nas colônias portugue-
sas da Índia (Goa) e da China (Macau). Como o au- Já se afastou de nós o Inverno agreste
tor de Os Lusíadas, Bocage também se incorporou em
companhias militares, lutou na guerra, naufragou, amou Já se afastou de nós o Inverno agreste
muitas mulheres, foi preso e morreu na miséria. Cons- Envolto nos seus húmidos vapores;
ciente dessas coincidências, Bocage perseguia o modelo A fértil Primavera, a mãe das flores
da vida e da obra de seu mestre. O prado ameno de boninas veste:
Varrendo os ares o subtil nordeste
Os torna azuis: as aves de mil cores
64
Adejam entre Zéfiros, e Amores, No poema abaixo, compõe-se um painel oposto ao
E torna o fresco Tejo a cor celeste; universo claro e equilibrado do Arcadismo. Em vez do equi-
líbrio, o pessimismo e a morte como saída para a angústia
Vem, ó Marília, vem lograr comigo
de viver; em vez de racionalismo, o predomínio absoluto da
Destes alegres campos a beleza,
emoção; em vez de objetividade, o subjetivismo.
Destas copadas árvores o abrigo:
Meu ser evaporei na lida insana
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo Meu ser evaporei na lida insana
Notando as perfeições da Natureza! Do tropel das paixões que me arrastava;
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Lírica pré-romântica Em mim quase imortal a essência humana.
falaz: enganoso
Oh retrato da morte, oh noite amiga lida: luta
ufano: orgulhoso
Oh retrato da morte, oh noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha do meu pranto,
Poesia Satírica
De meus desgostos secretária antiga!
Embora seja considerada inferior à poesia lírica,
Pois manda Amor que a ti somente os diga, a produção satírica de Bocage foi uma das que mais se
Dá-lhes agasalho no teu manto; popularizou. Foi por meio desta poesia que o poeta re-
Ouve-se, como costumas, ouve, enquanto cebera a alcunha “O poeta Maldito”, já que tratava de
Dorme a cruel, que a delirar me obriga. temas de natureza grosseira, vulgar e obscena.
65
Soneto do epitáfio
La quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marques, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
Que engrole “sub-venites” em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
“Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
Verbi-gratia: por exemplo
Engrolar: enrolar
Sub-venites: salmos
Gatarrão: gato
Gente de malta: gente de má fama, ralé
Outeiro: Colina, monte.
Dicas!
66
INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
68
LER
Livros
Livros
Bocage - A Vida Apaixonada de um Genial Libertino
OBRAS
69
Estrutura Conceitual
ARCADISMO PORTUGAL –
BOCAGE
1
O Arcadismo está no período histórico
2 do Iluminismo e pode ser chamado de
Neoclassicismo.
Como era característico dos árcades, Bocage
usava um pseudônimo: Elmano Sadino.
Referência a um anagrama de seu primeiro
nome e ao rio Sado que corta a província de
Setúbal, sua cidade natal.
Bocage viveu na Índia de
3 1786 a 1790, passando por
Goa, Damão e Macau,
O poeta foi encarcerado no Limoeiro,
acusado de crime de lesa-majestade
70
17 18
Arcadismo no Brasil
e nativismo épico
Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
Commons
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© Wikimedia
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Minas Gerais e o ciclo do ouro
O Arcadismo brasileiro teve origem e expressão principalmente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), em Minas
Gerais, cuja manifestação se relaciona diretamente com o grande crescimento urbano no século XVIII nas cidades
mineiras e a expansão econômica graças à extração de ouro.
Em cidades maiores, cresciam a divulgação de ideias políticas e o florescimento da literatura. Jovens brasilei-
ros das camadas mais privilegiadas da sociedade costumavam ser mandados a Coimbra, em Portugal, para estudar.
Aqui, na Colônia, não havia cursos superiores. Ao retornarem de Portugal, traziam ideias que faziam fermentar a
vida cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro marquês de Pombal, adepto de
algumas ideias iluministas.
Em Vila Rica, essas ideias levaram vários intelectuais e escritores a sonhar com a independência do Brasil,
principalmente após a repercussão do movimento de independência dos Estados Unidos das América (1776), so-
nhos esses que culminaram na frustrada Inconfidência Mineira (1789).
73
das obras de Basílio da Gama e Santa Rita Durão; a por portugueses e espanhóis, e o Caramuru, de
expressão dos sentimentos, em Tomás Antônio Gonzaga Santa Rita Durão, narra as aventuras do portu-
e Silva Alvarenga, é mais espontânea e menos conven- guês Diogo Álvares Correia, que aprisionado
cional. Esses aspectos característicos da poesia árcade pelo tupinambás na costa brasileira, viveu entre
nacional foram mais tarde recuperados e aprofundados os selvagens e casou-se com uma indígena.
pelo Romantismo, movimento que buscou definir uma
identidade nacional à nossa literatura.
Além dessa espécie de adaptação do modelo eu-
ropeu a das peculiaridades locais, não se pode esquecer
da forte influência barroca exercida no Brasil ainda du-
rante o século XVIII. As igrejas de Ouro Preto de então
só tiveram sua construção concluída quando o Arcadis-
mo já vigorava na literatura.
Entre os autores árcades brasileiros, destacam-se: Os árcades e a Inconfidência
§§ líricos: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antô-
nio Gonzaga e Silva Alvarenga. Os escritores árcades mineiros Tomás Antonio
§§ épicos: Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa
Cláudio Manuel da Costa. participaram diretamente do movimento da Inconfidên-
§§ satíricos: Tomás Antônio Gonzaga. cia Mineira. Chegados de Coimbra com ideias enciclo-
§§ encomiásticos: Silva Alvarenga e Alvarenga pedistas e influenciados pela independência dos EUA,
Peixoto.
eles não apenas se somaram aos revoltosos contra a
A poesia laudatória ou encomiástica, gênero poéti-
exploração pelo erário régio, que confiscava a maior
co de exaltação, foi muito praticada no século XVIII e serviu
parte do ouro extraído da Colônia, mas também ajuda-
de veículo para ideias políticas relacionadas ao Iluminismo.
A primeira obra árcade publicada no Brasil foi ram a divulgar os sonhos de um Brasil independente e
Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. contribuíram para a organização do grupo inconfidente.
Peculiaridades do
Arcadismo brasileiro
§§ Apego aos valores da terra. Esse apego era
oferecido pela localização geográfica do “grupo
mineiro”, em quem brotou um nativismo que se
incorporou ao ideário da estética bucólica, em voga
no Arcadismo. Emergido da natureza brasileira, ser-
viu de pano de fundo para a poesia dos “pastores”.
§§ Sátira à corrupção. Em Cartas chilenas, Tomás Desse grupo, apenas um homem não tinha a
Antonio Gonzaga fez circular a sátira política em mesma formação intelectual dos demais nem era escri-
manuscritos anônimos, criticando a exploração tor, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes –
portuguesa e a corrupção dos governos coloniais, alcunha que recebeu por ser dentista prático –, maçom
o que revela significativa consciência política do Ar- e simpatizante dos ideais iluministas.
cadismo brasileiro graças à consciência política do Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que devia vul-
“grupo mineiro”. tosas somas ao governo português, os inconfidentes foram
§§ Incorporação do indígena. Os poemas épi- presos. À exceção de Tiradentes, todos negaram ter participa-
cos, O Uraguai, de Basílio da Gama, narram a luta ção do movimento. Segundo versão oficial, Cláudio Manuel
contra indígenas e jesuítas e são protagonizados da Costa teria se suicidado na prisão antes do julgamento.
74
Tiradentes, que assumiu para si a responsabilidade O poema apresenta inversões na ordem dos ter-
da liderança do grupo, e Alvarenga Peixoto foram conde- mos da frase (Nise, a matutina aurora, já rompe o negro
nados à morte por enforcamento. Tomás Antônio Gonzaga manto com que a noite escura tinha escondido a chama
e outros, condenados ao exílio temporário ou perpétuo. brilhadora, sufocando a face pura do Sol) e figuração
No dia 20 de abril de 1792, foi comutada a pena (“negro manto”, para noite, e “chama brilhadora”,
de todos os participantes do movimento, menos a de para Sol) tipicamente barrocas.
Tiradentes, enforcado no dia seguinte. Seu corpo foi es-
quartejado e as partes expostas por Vila Rica. Os bens
foram confiscados, a família, amaldiçoada por quatro
gerações e o chão de sua casa foi salgado para que nele
nenhuma planta voltasse a nascer.
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O autor cultivou a poesia lírica e épica. Na lírica, des-
Tomás Antônio Gonzaga:
taca-se o tema da desilusão amorosa. A situação mais comum
observada em seus sonetos é a de Glauceste, o eu lírico pastor,
a renovação árcade
que se lamenta em razão de não ser correspondido por sua Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) é o mais
musa inspiradora, Nise, ou de encontrar-se num lugar de gran- popular dos poetas árcades mineiros, e sua obra ainda
hoje é lida com interesse. Nascido no Porto, em Portugal,
de beleza natural sem a companhia da mulher amada.
veio ainda menino com a família para a Bahia, onde vi-
Nise é uma personagem fictícia incorpórea, pre-
veu e estudou até a juventude. Posteriormente, fez o cur-
sente apenas pela citação nominal. Não se manifesta so de Direito, em Coimbra, e, como Cláudio Manuel da
na relação amorosa, não há nenhuma demonstração de Costa, lá estabeleceu contato com as ideias iluministas e
correspondência às invocações do eu lírico. Apenas repre- árcades. Escreve uma obra filosófica em homenagem ao
senta o ideal da mulher amada inalcançável – nítido tra- marquês de Pombal: Tratado de Direito Natural.
De volta ao Brasil, passou a viver em Vila Rica,
ço de reaproveitamento do neoplatonismo renascentista.
onde exerceu a função de ouvidor. Iniciou ali sua ativi-
Na poesia épica, o poema Vila Rica é inspirado dade literária e sua relação amorosa com Maria Doro-
nas epopeias clássicas, que trata da penetração ban- teia de Seixas, uma jovem então com 16 anos, cantada
deirante, da descoberta das minas, da fundação de Vila em seus versos com o pseudônimo de Marília.
Rica e das revoltas locais. Hoje, no conjunto da obra do Em 1789, acusado de participar da Inconfidência,
Gonzaga foi preso e mandado ao Rio de Janeiro, onde ficou
autor sobrepõe-se a lírica:
encarcerado até 1792, quando foi exilado para Moçambi-
que. Apesar dos sofrimentos passados na prisão, Gonzaga
Enfim serás cantada, Vila Rica, levou na África uma vida relativamente tranquila. Lá, casou-
Teu nome alegre notícia, e já clamava; -se, enriqueceu e ainda se envolveu com a política local.
Viva o senado! viva! repetia
Itamonte, que ao longe o eco ouvia.
A arte e a vida
Comparada a dos demais poetas árcades brasi-
leiros, a poesia de Tomás Antônio Gonzaga apresenta
inovações que apontam para uma transição do Arcadis-
mo para o Romantismo.
Incorporando muito de sua experiência pessoal à
poesia, escrita antes e durante a prisão, Gonzaga con-
seguiu quebrar a rigidez dos princípios árcades. Em con-
Ouro Preto, de Guignard. traposição à contenção dos sentimentos, sua poesia é
mais emotiva e espontânea. Em vez de apresentar uma
76
mulher irreal, como a Nise, de Cláudio Manuel da Costa,
sua Marília se mostra mais humana, próxima e real:
77
as peles dos cordeiros mal curtidas, O texto a seguir, de Tomás Antônio Gonzaga, é
e os panos feitos com lãs mais grossas. constituído por fragmentos da “Carta 2a”, na qual Cri-
Mas ao menos será o teu vestido tilo narra a seu amigo Doroteu o comportamento de
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido. Fanfarrão Minésio na cidade de Santiago.
Nas noites de serão nos sentaremos
cos filhos, se os tivermos, à fogueira: Não cuides, Doroteu, que brandas penas
entre as falsas historias, que contares, me formam o colchão macio e fofo;
lhes contarás a minha, verdadeira. não cuides que é de paina a minha fronha
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto, e que tenho lençóis de fina holanda,
ainda o rosto banharei de pranto. com largas rendas sobre os crespos folhos;
custosos pavilhões, dourados leitos
A poesia satírica: Cartas chilenas e colchas matizadas não se encontram
na casa mal provida de um poeta,
O poema satírico, incompleto, Cartas chilenas, aonde há dias o rapaz que serve
circulou em partes pela cidade de Vila Rica, entre 1787- nem na suja cozinha acende o fogo.
1788. Depois da Inconfidência Mineira, essas cartas desa- Mas nesta mesma cama tosca e dura,
descanso mais contente do que dorme
pareceram, o que fez supor que seus autores ou seu autor
aquele só põe o seu cuidado
fosse um dos poetas árcades presos, Cláudio Manuel da
em deixar a seus filhos o tesouro
Costa, Tomás Antônio Gonzaga ou Alvarenga Peixoto. Es-
que ajunta, Doroteu, com mão avara,
tudos estilísticos do português Rodrigues Lapa atribuem
furtando ao rico e não pagando ao pobre.
a autoria delas a Tomás Antônio Gonzaga. Aqui... mas onde vou, prezado amigo?
A omissão da autoria nas Cartas chilenas decorre Deixemos episódios que não servem,
do risco resultante de seu conteúdo. Elas satirizavam os des- e vamos prosseguindo a nossa história.
mandos administrativos e morais de Luiz da Cunha Meneses, Apenas, Doroteu, o nosso chefe
que governou a capitania de Minas entre 1783 e 1788. as rédeas manejou do seu governo,
A obra é um jogo de disfarces. Fanfarrão Minésio fingir nos intentou que tinha uma alma
é o pseudônimo do governo; chilenas equivale a minei- amante da virtude. Assim foi Nero.
ras; Santiago, de onde são assinadas, equivale a Vila Governou aos romanos pelas regras
Rica. O autor das cartas é identificado como Critilo, e da formosa justiça, porém logo
trocou o cetro de ouro em mão de ferro.
seu destinatário, Doroteu.
Manda, pois, aos ministros lhe deem listas
As Cartas chilenas são a principal expressão sa-
de quantos presos as cadeias guardam:
tírica da literatura colonial do século XVIII. Trilhando os
faz a muitos soltar e aos mais alenta
caminhos abertos por Gregório de Matos, Gonzaga dá
de vivas, bem fundadas esperanças.
continuidade à irregular tradição satírica de nossa lite-
ratura, ao mesmo tempo que oferece à historiografia Estranha ao subalterno, que se arroga
um rico painel social e político daqueles dois anos que o poder castigar ao delinquente
precederam a Inconfidência Mineira. com troncos e galés, enfim, ordena
que aos presos, que em três dias não tiveram
Embora a crítica do poema tenha como alvo apenas
assentos declarados, se abram logo
o governador e seus assessores, não o colonialismo portu-
em nome dele, chefe, os seus assentos.
guês propriamente, fica clara a fragilidade da estrutura po-
Aquele, Doroteu, que não é santo,
lítica colonial e os abusos de poder praticados pela Coroa.
mas quer fingir-se santo aos outros homens,
Apesar da suposição de que o poema tenha sido pratica muito mais do que pratica
escrito para ser distribuído em Vila Rica em forma de quem segue os sãos caminhos da verdade.
panfleto, sua qualidade apresenta certa regularidade. Ra- Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
ramente cai no panfletário. O poema mantém certa atu- abre os braços em cruz, a terra beija,
alidade, acostumados que estamos a muitos fanfarrões. entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
78
faz que chora, suspira, fere o peito e conseguiu uma façanha única entre os brasileiros da
e executa outras muitas macaquices, época: ingressar na Arcádia Romana, na qual assumiu o
estanho em parte onde o mundo as veja. pseudônimo de Termindo Sipílio.
Assim o nosso chefe, que procura
Em 1767, voltou ao Rio de Janeiro, onde foi
mostra-se compassivo, não descansa
preso no ano seguinte acusado de ter ligação com os
com estas poucas obras: passa a dar-nos
da sua compaixão maiores provas. jesuítas. Um decreto de então condenava ao exílio em
O povo, Doroteu, é como as moscas Angola quem mantivesse comunicação oral ou escrita
que correm ao lugar, aonde sentem com os jesuítas.
o derramado mel; é semelhante Preso, Basílio da Gama foi levado a Lisboa. Livrou-
aos corvos e aos abutres, que se ajuntam -se da prisão graças a um poema em homenagem à filha
nos ermos, onde fede a carne podre.
do conde de Oeiras, futuro marquês de Pombal. A amiza-
À vista, pois, dos fatos, que executa
de lhe rendeu novos contatos com os árcades portugue-
o nosso grande chefe, decisivos
ses e permitiu-lhe escrever sua obra máxima, O Uraguai.
da piedade que finge, a louca gente
de toda a parte corre a ver se encontra
algum pequeno alívio à sombra dele. O Uraguai
(In: Tomás Antônio Gonzaga. São Paulo: Abril Educação, 1980. p.
66-70. Literatura Comentada.
Publicado em 1769, O Uraguai é tematiza a luta
de portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas que,
instalados nas missões jesuíticas do atual Rio Grande do
Sul, não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri.
Basílio da Gama e o
nativismo indianista
Basílio da Gama (1741-1795) nasceu na cida-
de que hoje é chamada Tiradentes, em Minas Gerais. A quebra do modelo clássico
Estudou em colégio jesuíta, no Rio de Janeiro, e tinha
intenção de ingressar na carreira eclesiástica. Comple- A luta travada por portugueses e espanhóis
tou seus estudos em Portugal e na Itália, no período contra índios e jesuítas é narrada por Basílio da Gama,
em que os jesuítas foram expulsos dos domínios portu- desde os preparativos até a conclusão. Os cantos apre-
gueses. Na Itália, Basílio construiu uma carreira literária sentam a seguinte sequência de fatos:
79
§§ Canto I: as tropas aliadas reúnem-se para com- Quem é o verdadeiro herói da história?
bater os índios e os jesuítas.
§§ Canto II: o exército avança e há uma tentativa de Pelo fato de O Uraguai ser uma obra de intenções
negociação com os chefes indígenas Sepé e Ca- épicas, seria de esperar que em nada tivessem destaque os
cambo. Sem acordo, trava-se a luta, que termina movimentos de guerra e os atos de heroísmo. Contudo, não
com a derrota e a retirada dos índios. é o que se verifica. Ao contrário, a própria guerra chega a ser
§§ Canto III: Cacambo ateia fogo à vegetação em questionada como meio de atuação política, o que revela
volta do acampamento aliado e foge para sua uma postura tipicamente iluminista do autor, cujas ideias
aldeia. O padre Balde, vilão da história, faz pren- coincidem com as de seu amigo Marquês de Pombal.
der e matar Cacambo para que seu filho sacrílego
Baldeta possa casar-se com Lindoia, esposa de Vinha logo de guardas rodeado,
Cacambo, e tomar a posição do chefe indígena Fonte de crimes, militar tesouro,
morto. Em uma visão, Lindoia prevê o terremoto Por quem deixa no rego o curto arado
de Lisboa e a expulsão dos jesuítas por Pombal. O lavrador, que não conhece a glória:
E vencendo a vil preço o sangue e a vida
§§ Canto IV: no mais bonito dos cinco cantos são re-
Move, e nem sabe por que move a guerra.
tratados os preparativos do casamento de Baldeta
com Lindoia. Chorando a morte do marido, não
O herói português Gomes Freire de Andrade, líder das
quer casar-se. Entra num bosque e deixa-se picar
tropas luso-espanholas, também não mostra o
por uma cobra venenosa. Chegam os brancos,
entusiasmo dos heróis épicos tradicionais:
que cercam a aldeia. Todos fogem. Antes, porém,
os padres mandam queimar as casas e a igreja.
§§ Canto V: o líder português Gomes Freire de An- ...Descontente e triste
drada prende os inimigos na aldeia próxima. Há Marchava o General: não sofre o peito
Compadecido e generosa a vista
referências ao domínio universal da Companhia
Daqueles frios e sangrados corpos,
de Jesus e a seus crimes.
Vitimas da ambição de injusto império
Escrito em apenas cinco cantos em versos bran-
cos (sem rima) e sem estrofação, O Uraguai não segue a
estrutura camoniana de Os Lusíadas. Embora apresente O genocídio de Sete Povos das Missões
as cinco partes tradicionais das epopeias – proposição,
invocação, dedicatória, narração e epílogo – o poema O Tratado de Madri (1750) determinava uma
inicia com a ação em pleno desenvolvimento: troca de territórios: os portugueses que viviam na colô-
nia de Sacramento – hoje parte do Uruguai – deveriam
Fumam ainda nas desertas praias desocupar a região e instalar-se nos sete povoados,
Lagos de sangue tépidos e impuros chamados Sete Povos, pertencentes a Portugal e ocu-
Em que ondeiam cadáveres despidos.
pados por índios. Em troca, a Espanha teria soberania
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
sobre as Tordesilhas. Provavelmente influenciados pelos
O rouco som da irada artilheria.
jesuítas, os indígenas que ocupavam aqueles povoados
não queriam passar ao domínio português. Diante do
O fato de o autor tratar de um episódio histórico impasse, os governos português e espanhol se uniram
recente – na época ocorrido havia pouco mais de dez para intervir militarmente na região. Foram necessárias
anos – revela outro aspecto que diferencia O Uraguai duas investidas para que conseguissem seu objetivo – a
dos poemas épicos tradicionais. segunda narrada em O Uraguai. Essas lutas ocasiona-
ram a morte de alguns milhares de índios e constituem
um dos principais genocídios do país.
80
Que alegre cena para os olhos! Podem
Daquela altura, por espaço imenso,
Ver as longas campinas retalhadas
De trêmulos ribeiros, claras fontes,
E lagos cristalinos, onde molha
As leves asas o lascivo vento.
Engraçados outeiros, fundos vales,
Verde teatro, onde se admira quanto
Produziu a supérflua Natureza.
81
Afirmando que a razão do poema Caramuru era O tema de Caramuru
“o amor à pátria”, Santa Rita, embora tenha passado
a maior parte de sua vida em Portugal, confirma a ten- O poema narra as aventuras, em parte históri-
dência nativista de seu poema. cas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo
Álvares Correia, o Caramuru. Em meio às aventuras do
protagonista, o autor aproveita para fazer uma longa
descrição das qualidades da terra:
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Ao naufragar na costa brasileira em 1510, Diogo
Álvares Correia foi aprisionado pelos tupinambás. Certa Em negro sangue o lívido veneno.
vez, pegou num mosquete e atirou num pássaro, ma- Leva nos braços a infeliz Lindoia
tando-o. Os índios, que não conheciam armas de fogo, O desgraçado irmão, que ao despertá-la
ficaram impressionados com a detonação e gritaram Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
“Caramuru! Caramuru!”, vocábulo que significa “ho-
Pelo dente sutil o brando peito.
mem de fogo” ou “dragão saído do mar”. Diogo viveu
Os olhos, em que Amor reinava, um dia.
entre os índios tupinambás, na Bahia, no século XVI,
Cheios de morte; e muda aquela língua
e desposou Paraguaçu, ambos personagens do poema
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Caramuru. De acordo com a lenda, confirmada pela ver-
Contou a larga história de seus males.
são de Santa Rita, Diogo foi resgatado por uma nau
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
francesa e, em companhia de Paraguaçu, levado à Corte E rompe em profundíssimos suspiros,
francesa, de onde, posteriormente, partiu para Portugal. Lendo na testa da fronteira gruta
A seguir, veja trechos retirados de O Uraguai, de Basílio De sua mão já trêmula gravado
da Gama (Texto I), e Caramuru, de Santa Rita Durão (Texto II). O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes respeito
O suspirado nome de Cacambo.
Texto I
Inda conserva o pálido semblante
Canto IV - Morte de Lindoia
Um não sei quê de magoado e triste.
Entram enfim na mais remota e interna Que os corações mais duros enternece.
Parte de antigo bosque, escuro e negro, Tanto era bela no seu rosto a morte!
Onde ao pé de uma lapa cavernosa In: CÂNDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Cobre uma rouca fonte, que murmura, Ob. cit., p. 150-151, v.1.
83
Essa indígena, essa infame, essa traidora. Ode ao marquês de Pombal
Por serva, por escrava, te seguira.
Não os heróis, que o gume ensanguentado
Se não temera de chamar senhora
da cortadora espada,
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia,
em alto pelo mundo levantado,
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.
trazem por estandarte
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
dos furores de Marte;
Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
Ensanguentados rios, quantas vezes
Nem o passado amor teu peito incita
vistes os férteis vales
A um ai somente, com que aos meus respondas.
semeados de laças e de arneses?
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
Que importam os exércitos armados,
(Disse, vendo-o fugir) ah! Não te escondas
no campo com respeito conservados,
Dispara sobre mim teu cruel raio...”
se lá do gabinete a guerra fazes
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
e a teu arbítrio dás o tom às pazes?
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
que, sendo por mão destra manejada,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
a política vence mais que a espada.
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Que importam tribunais e magistrados,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
asilos da inocência,
Mas na onda do mar, que, irado, freme,
se pudessem temer-se declarados
Tornando a aparecer desde o profundo,
patronos da insolência?
– Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa, – e sem
De que servirão tantas
mais vista ser, sorveu-se na água.”
tão saudáveis leis, sábias e santas,
In: CIDADE, Hernâni. Santa Rita Durão.
Rio de Janeiro: Agir, 1957. p. 87-88. se, em vez de executadas,
forem por mãos sacrílegas frustradas?
Mas vives tu, que para o bem do mundo
Alvarenga Peixoto: sobre tudo vigias,
cansado teu espírito profundo,
o pombalismo e a colonização as noites e os dias.
Ah! quantas vezes, sem descanso uma hora,
Autor de poemas líricos e laudatórios – em ho-
vês recostar-se o sol, erguer-se a aurora,
menagem a alguém –, estes talvez sejam o melhor da enquanto volves com cansado estudo
produção de Alvarenga Peixoto. Veiculam ideias filo- as leis e a guerra, e o negócio, e tudo?
sóficas e políticas em discussão na época. Abordou o Vale mais do que um reino um tal vassalo:
pombalismo, a exploração colonialista, o nativo, a paz, graças ao grande rei que soube achá-lo.
a importância do saber e da razão. CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Ob. cit., p. 172-174.
Silva Alvarenga:
a poesia nativista e sensual
Silva Alvarenga (1749-1814), autor de Glaura, des-
tacou-se pelo cultivo de rondós e madrigais em que há forte
musicalidade e elementos da fauna e flora nacionais: beija-
-flor, pomba, cobra, onça, mangueiras, cajueiros, jambeiros.
Em razão desses traços, sua poesia é considerada nativista
com fortes indícios de transição para o Romantismo.
84
O beija-flor Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade;
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Não estimo a liberdade,
Submergida em doce calma;
Busco os ferros por favor.
E a minha alma ao bem se entrega,
Não me julgues inocente,
Que lhe nega o teu rigor.
Nem abrandes meu castigo;
Neste bosque alegre e rindo
Que sou bárbaro inimigo,
Sou amante afortunado,
Insolente e roubador.
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor. Deixo, ó Glaura, a triste lida
Todo o corpo num instante Submergida em doce alma;
Se atenua, exala e perde: E a minha alma bem se entrega,
É já de oiro, prata e verde Que lhe nega o teu rigor.
A brilhante e nova cor. CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Ob. cit., p. 179-180.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe negar o teu vigor.
Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço;
Não me assusta o terno laço,
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INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
Filme Os Inconfidentes
Filme Tiradentes
86
LER
Livros
Arcadismo - Col. Roteiro da Poesia Brasileira
87
OBRAS
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CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Esta habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas, no caso
o conceito de uma escola literária específica. A construção dos procedimentos literários estão
ligados aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto
em relação à concepção artística do contexto.
Modelo
(Enem)
Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera.
(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul 2012.)
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Análise Expositiva
Habilidade 16
Esta questão, como acenado na habilidade e competência específica, constitui-se um pres-
suposto de que o estudante deva conhecer o contexto (escola literária do Arcadismo), em
função do autor e de sua concepção de escrita (no caso os tradicionais sonetos de Cláudio
Manuel da Costa). O soneto deste poeta é representativo de algumas características árcades:
o fugere urbem, o bucolismo e locus amoenus, presentes no retorno ao campo e no desejo de
vida tranquila que em outro momento o eu-lírico vislumbrara, como se vê em: “Uma fonte
aqui houve”/ (...) “Árvores aqui vi florescentes”. A busca por tranquilidade se contrapõe à
realidade, uma vez que o eu lírico revela ter encontrado um lugar diverso daquele presente
em sua memória: “Eu me engano: a região esta não era; / Mas que venho a estranhar, se estão
presentes /Meus males, com que tudo degenera.”.
Alternativa E
Estrutura Conceitual
2
Os poetas árcades encontram inspiração
ARCADISMO BRASIL nas terras mineiras, principalmente Vila
3
NATIVISMO ÉPICO Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias.
Os principais escritores brasileiros desse
1 O estilo literário árcade no Brasil tem período são: Cláudio Manuel da Costa,
início com a publicação das Obras poéticas
de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
4 Santa Rita Durão, Basílio da Gama e
Tomás Antônio Gonzaga
Autor do poema épico Caramuru
(1781), Freire Santa Rita Durão foi
poeta e orador, considerado um dos
precursores do indianismo no Brasil. 6
Apesar de Tomás Antônio Gonzaga ter
nascido em Portugal, a cidade de
90