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Gramática e Literatura

para vestibular medicina


1ª edição • São Paulo
2019

L C LINGUAGENS, CÓDIGOS

2
e suas tecnologias
Gramática e Literatura
ENTRE LETRAS Lucas Limberti, Murilo de Almeida Gonçalves e Pércio Luis Ferreira
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Claudio Guilherme da Silva
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-147-9

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando
qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos
principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno realmente
necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Todo livro é
iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos principais
vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 11 e 12: Pronomes pessoais 7
Aulas 13 e 14: Pronomes demonstrativos e possessivos 15
Aulas 15 e 16: Pronomes relativos, interrogativos e indefinidos 21
Aulas 17 e 18: Numerais, preposições e interjeições 27

LITERATURA
Aulas 11 e 12: Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno 37
Aulas 13 e 14: Padre Antônio Vieira 47
Aulas 15 e 16: Arcadismo em Portugal: Bocage 59
Aulas 17 e 18: Arcadismo no Brasil e nativismo épico 71
Abordagem de GRAMÁTICA nos principais vestibulares.

FUVEST
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no ves-
tibular da Fuvest, sendo abordados não apenas em suas relações morfossintáticas, mas também
a partir de seus aspectos de uso coloquial.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

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FAC

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1963
T U C AT U Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames.

UNICAMP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência relativa no vestibu-
lar da Unicamp, aparecendo com maior frequência em testes de segunda fase.

UNIFESP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unifesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames. Ainda são
muito comuns exercícios com usos de preposições.

ENEM/UFMG/UFRJ
Os temas abordados neste caderno apresentam baixa incidência na prova do ENEM, ocorrendo
algumas aparições de uso de pronomes pessoais.

UERJ
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no vesti-
bular da UERJ. De maneira mais esporádica, encontraremos questões sobre preposições.
11 12
Pronomes pessoais

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronome
Pronome é a palavra variável que, na linguagem, identifica os participantes da interlocução (pessoas do
discurso), os seres no mundo, além de eventos ou situações aos quais o discurso faça referência.
Os pronomes, em geral, operam em conjunto com os substantivos (nomes), podendo substituí-los, referen-
ciá-los ou, ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo. Vejamos alguns exemplos:

O rapaz estava bravo, mas ele tinha toda a razão. (O termo ele substitui o substantivo rapaz.)
Essa é a moça que processou o gerente da loja. (O termo que faz referência ao substantivo moça.)
Aquele rapaz é bastante irritante. (O termo aquele acompanha e qualifica/especifica o termo rapaz.)

Por meio desses exemplos é possível perceber que os pronomes são uma classe de palavras que não possuem
significações pré-determinadas. Seus sentidos são, na maioria dos casos, dependentes de contextos que permitirão ao
leitor recuperar as referências dos pronomes utilizados nos processos comunicativos.
Tecnicamente, os pronomes exercem algumas relações semânticas condizentes às pessoas do discurso.
Essas funções são conhecidas como anafóricas (retomada de termos anteriormente mencionados), catafóricas
(prenuncia algo que será mencionado/dito) ou dêiticas (apontamento de coisas/pessoas que estão no mundo).
Essas funções são exercidas por todas as classes de pronomes, com exceção dos pronomes interrogativos e
indefinidos. Em nossa primeira aula, aprenderemos como realizar as classificações iniciais entre pronomes de tipo
substantivo e pronomes de tipo adjetivo, além de trabalharmos com os pronomes pessoais.

Pronomes substantivos x pronomes adjetivos


§§ Entende-se por pronome substantivo aquele que substitui um substantivo ao qual faz referência.
Exemplo: Aquilo o deixou constrangido. = A situação o deixou constrangido.

§§ Entende-se por pronome adjetivo aquele que acompanha um substantivo, atribuindo-lhe características.
Exemplo: Este carro é bastante potente.

Observação: A classificação dos pronomes em substantivos ou adjetivos não exclui as classificações de


origem (pessoal, demonstrativo, possessivo, relativo, indefinido e interrogativo) desses elementos.

Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Nesse movimento, eles acabam por
evidenciar as pessoas do discurso. Quando temos de designar a pessoa que fala (1ª pessoa), usamos os pronomes
eu e nós. Para marcar as pessoas a quem nos dirigimos (2ª pessoa), usamos tu, vós e você(s). Já para apontar
para pessoas de quem se fala (3ª pessoa), utilizamos ele(s) e ela(s).
De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como:
§§ Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de sujeito ou
de predicativo do sujeito.
Exemplo: Eu fiquei bastante chateado.
A seguir, temos a lista de pronomes do caso reto em português:

1ª pessoa do singular eu
2ª pessoa do singular tu
3ª pessoa do singular ele / ela

9
1ª pessoa do plural nós
2ª pessoa do plural vós
3ª pessoa do plural eles / elas

Observação 1: Conforme se vê no quadro, apenas os pronomes pessoais retos de 3ª pessoa variam em


gênero. Os demais têm uma única forma para masculino e feminino.

Observação 2: Em Língua Portuguesa, é comum a omissão dos pronomes do caso reto, sem prejuízo do
entendimento da frase. Isso se dá pelo fato de as desinências verbais serem capazes de designar as pessoas
que estão sendo utilizadas na construção.
Exemplo: (Eu) Fiquei bastante chateado. (É possível localizar o “eu” pela desinência do verbo.)

§§ Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de comple-
mento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal.
Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.)

A seguir, temos a lista de pronomes do caso oblíquo em português:

1. Pronomes oblíquos átonos


Os pronomes oblíquos átonos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) fraca em relação às pala-
vras que os acompanham. Esses pronomes não são precedidos de qualquer preposição.
Pessoa Pronome oblíquo átono Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular me eu
2ª pessoa do singular te tu
3ª pessoa do singular o / a / lhe ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural os / as / lhes eles / elas

Observação 1: Os pronomes o(s) e a(s) funcionam exclusivamente como substitutos de objetos diretos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de complementos preposicionados.
Observação 3: Os pronomes me, te, nos e vos funcionam tanto como substitutos de objetos diretos
como de objetos indiretos.

Casos especiais de uso dos pronomes átonos


Os pronomes o(s) e a(s) podem assumir formas especiais quando acompanhados de verbos que possuam
as terminações -z, -s ou -r. Eles serão usados como lo(s) e la(s).
Exemplos: traz + o = trá-lo
empurrastes + o = empurraste-lo
beijar + a = beijá-la

Tratando-se de verbos que apresentam terminação com som nasal, os pronomes o(s) e a(s) assumem as
formas no(s) e na(s).
Exemplos: compram + o = compram-no
põe + a = Põe-na
detém + os = detém-nos
tem + as = Tem-nas

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2. Pronomes oblíquos tônicos
Os pronomes oblíquos tônicos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) forte em relação às palavras
que os acompanham. Esses pronomes são precedidos por preposição (em especial a, para, de e com).
Pessoa Pronome oblíquo tônico Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular mim / comigo eu
2ª pessoa do singular ti / contigo tu
3ª pessoa do singular ele / ela ele / ela
1ª pessoa do plural nós / conosco nós
2ª pessoa do plural vós / convosco vós
3ª pessoa do plural eles / elas eles / elas

Observação 1: Alguns pronomes dessa lista são inéditos (mim, comigo, ti, contigo, conosco e con-
vosco) e, por esse motivo, são exclusivamente tônicos. Os repetidos (já vistos anteriormente) são aqueles
que podem atuar como tônicos ou átonos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de objetos indiretos.
Observação 3: Em composições que exijam o uso da gramática normativa, as preposições nunca podem
introduzir pronomes pessoais do caso reto. Esse movimento só é permitido com pronomes pessoais do caso.
Exemplos: Não há mais nada entre mim e ti (certo)
Não há mais nada entre eu e ti. (errado)
Estão todos contra mim. (certo)
Estão todos contra eu. (errado)
Não vá sem mim. (certo)
Não vá sem eu. (errado)

Atenção: Essa regra passa por uma alteração no caso de haver, após o pronome, um verbo no infinitivo.
Nesse caso, o pronome estará funcionando como sujeito desse verbo. E como vimos anteriormente, quem
ocupa posição de sujeito em uma frase são os pronomes do caso reto.
Exemplo: Arrumaram um monte de encrencas para eu resolver.

Pronome reflexivo
Os pronomes pessoais oblíquos podem funcionar como pronomes reflexivos, indicando que o sujeito pratica
e também sofre a ação verbal.
Pessoa Pronome oblíquo àtono Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular me / mim eu
2ª pessoa do singular te / ti tu
3ª pessoa do singular se / si / consigo ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural se / si / consigo eles / elas

Vejamos alguns exemplos de aplicação:


1. Eu não me incomodo com esses barulho.
2. Conhece a ti mesmo.
3. Pedro já refletiu consigo mesmo a respeito da briga.
4. Presenteamo-nos naquele dia.
5. Vós vos banhastes naquele rio.
6. Eles se beijaram de maneira apaixonada.

11
Pronomes de tratamento
Os pronomes de tratamento são utilizados em relações pessoais de comunicação e obedecem a uma regra de
utilização bem específica, conhecida como segunda pessoa indireta, regra na qual os pronomes são estruturados
a partir da 2a pessoa, mas concordam com a 3ª pessoa. Vejamos a tabela com os principais pronomes de tratamento:

Vossa Majestade V.M. reis e rainhas


Vossa Altleza V.A. príncipes e duques
Vossa Senhoria V.S.ª(s)
tratamento cerimonioso
Vossa Santidade V.S. papa,
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) grandes autorides e oficiais-generais

Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais


Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos

Observação 1: Também são pronomes de tratamento as formas o senhor, a senhora e você(s). As duas
primeiras formas são empregadas no tratamento mais respeitoso (em geral, com pessoas mais velhas), já a forma
“você(s)” é utilizada em tratamentos entre amigos (pessoas que já se conhecem, de idade próxima ou que sejam
mais novas).

Observação 2: Como dito anteriormente, embora os pronomes de tratamento marquem 2ª pessoa (vossa),
a concordância deve ser feita com verbo em 3ª pessoa.
Exemplo: Lembre-se que Vossa Reverendíssima estará no evento litúrgico desta noite.

Observação 3: A gramática normativa exige que se mantenha uma congruência entre os pronomes de
tratamento usados em composições textuais. Desse modo, se o texto começar tratando a pessoa por “tu”, deve-se
distribuir (e manter) as formas de tratamento correspondentes ao longo do texto (“teu” e “tua”).

Exemplos: Quando você chegar, eu te buscarei na estação. (errado)


Quando tu chegares, eu te buscarei na estação. (certo)
Quando você chegar, eu a buscarei na estação. (certo)

12
INTERATIVIDADE

LER E OUVIR

Letra e Música Ela disse adeus (Paralamas do Sucesso)

Observe os pronomes da canção abaixo e procure identificar a razão de seus empregos.

Ela disse adeus (Paralamas do Sucesso)

Ela disse adeus


(Now the deed is done
As you blink she is gone
Let her get on with life
Let her have some fun)

Ela disse adeus, e chorou


Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu, e se olhou
Sem luxo, mas se perfumou
Lágrimas por ninguém
Só porque é triste o fim
Outro amor se acabou

Ele quis lhe pedir pra ficar


De nada ia adiantar
Quis lhe prometer melhorar
E quem iria acreditar
Ela não precisa mais de você
Sempre o último a saber

13
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Pessoais

14
13 14
Pronomes demonstrativos
e possessivos

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes possessivos
São pronomes que transmitem à pessoa gramatical a ideia de posse sobre algo.
Exemplo: Este dinheiro é meu.

Pessoa Pronomes possessivos Equivalente no caso reto


1ª pessoa do singular meu(s) / minha(s) eu
2ª pessoa do singular teu(s) / tua(s) tu
3ª pessoa do singular seu(s) / sua(s) ele / ela
1ª pessoa do plural nosso(s) / nossa(s) nós
2ª pessoa do plural vosso(s) / vossa(s) vós
3ª pessoa do plural seu(s) / sua(s) eles / elas

Algumas relações semânticas dos possessivos


§§ Pode funcionar como um marcador de indefinição de um substantivo.
Exemplo: A empresa tem lá seus problemas, mas ainda oferece um bom salário.
§§ Pode indicar conjectura numérica (especulação sobre algum número).
Exemplo: Ele já deve ter seus 50 anos.

§§ Pode indicar afetividade.


Exemplo: Olha aí! É o meu guri. (Chico Buarque)
Observação: Há casos em que o pronome oblíquo lhe funciona como pronome possessivo (quando puder
ser substituído por seus/suas).
Exemplo: Vão lhe roubar as joias. = Vão roubar suas joias.

Pronomes demonstrativos
São utilizados para evidenciar o posicionamento de uma palavra em relação a outras palavras, ou em
relação a um contexto. Esses eventos se dão em relações espaciais, temporais e sintáticas.
§§ Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois grupos: os variáveis e os invariáveis.
§§ Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s)
§§ Invariáveis: isto, isso, aquilo

Relações espaciais
§§ O pronome este e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem fala.
{{ Exemplo: Usarei este lápis (aqui) mesmo.

§§ O pronome esse e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei esse lápis (aí) mesmo.

§§ O pronome aquele e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está afastado tanto de
quem fala, quanto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei aquele lápis (ali) mesmo.

17
Relações temporais
§§ O pronome este e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo presente em relação ao momento
em que se fala.
{{ Exemplo: Esta noite eu vou ao shopping / Neste mês chove bastante.

§§ O pronome esse e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado mais recente ou futuro
em relação ao momento em que se fala.
{{ Exemplo (passado): Esse aumento da crise ocorreu em todos os países da América do Sul.

{{ Exemplo (futuro): Nessa reunião definiremos os parâmetros de venda.

§§ O pronome aquele e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado distante em relação
ao momento em que se fala.
{{ Exemplo: Naquela época ainda havia telefones de rua, chamados de orelhões. / Aquelas praças cos-

tumavam ser seguras.

Relações Sintáticas
§§ O pronome este e suas variantes são utilizados para anunciar/adiantar o que será dito na sequência frasal
ou para remeter a um termo imediatamente anterior (recém mencionado).
{{ Exemplo (anunciando informação): O maior problema está neste relatório: ele não dá conta de explicar

todos os problemas
{{ Exemplo (retomando termo recente): Não sei se eu adquiro uma moto ou um carro. Acho que este (último =

carro) é um pouco mais seguro.


§§ O pronome esse e suas variantes são utilizados para retomar um termo, uma ideia ou uma oração já mencionados.
{{ Exemplo: Duas vezes por ano, o Sol atinge sua maior declinação em latitude. Esse fenômeno é conhe-

cido como solstício.


§§ O pronome aquele e suas variantes são utilizados para retomar um termo mais distante entre dois apresentados
em uma sentença (Em geral ele é trabalhado em conjunto com o pronome este, que retomará o item mais próximo).
{{ Exemplo: Na empresa há dois funcionários que se destacam – Pedro e Rogério. Este pelo sua organização,

e aquele pela sua eficiência.

18
INTERATIVIDADE

ACESSAR

Sites “Este” ou “esse”? Tanto faz!

brasiliarios.com/colunas/66-marcos-bagno/578-este-ou-esse-tanto-faz

19
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Possessivos

Pronomes Demonstrativos

20
15 16
Pronomes relativos,
interrogativos e indefinidos

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes indefinidos
São palavras que fazem referência à 3a pessoa do discurso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou impreciso
Exemplo: Alguém quebrou os copos da minha cristaleira.

Percebe-se que o termo alguém refere-se a uma terceira pessoa (de quem se fala), mas não somos capazes
de lhe atribuir identidade (a informação é vaga, imprecisa).

Pronomes que exercem essas funções


Nenhum, nenhuns, nenhuma(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias, outro(s), outra(s), pou-
co(s), pouca(s), algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s),
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), tanta(s).
Os pronomes indefinidos podem ser classificados como variáveis ou invariáveis

Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
algum alguma alguns algumas
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas alguém
todo toda todos todas ninguém
muito muita muitos muitas outrem
pouco pouca poucos poucas tudo
vário vária vários várias nada
tanto tanta tantos tantas algo
outro outra outros outras cada
quanto quanta quantos quantas
qualquer quaisquer

Pronomes relativos
São aqueles que recuperam nomes anteriormente mencionados, estabelecendo com estes relação.
Exemplo: A escola tem um calendário que possui muitos feriados

No exemplo apresentado, o pronome “que” recupera o substantivo calendário (o antecedente).

Classificação dos pronomes relativos


Variáveis
Invariáveis
Masculino Feminino
o qual os quais a qual as quais quem
cujo cujos cuja cujas que
quanto quantos quanta quantas onde

Observação 1: Os pronomes que, o qual, os quais, a qual e as quais são equivalentes, com o detalhe
de que o que é invariável, cabendo em qualquer circunstância, e os demais necessitarão de um substantivo
já determinado.
Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei.

23
Observação 2: Para evitar ambiguidades e outros problemas de sentido, o pronome relativo onde deve
ser utilizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões, cidades, ambientes etc.).
Exemplo: Este é o armazém onde estocamos os produtos.

Observação 3: O pronome relativo cujo não realiza a recuperação de um antecedente, mas aponta para
uma relação de posse com o consequente.
Exemplo: A mulher cuja a casa foi invadida já está em segurança.

Observação 4: O pronome quem faz referência a pessoas e vem sempre precedido de preposição.
Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo muito dinheiro.

Pronomes interrogativos
São pronomes utilizados nas formulações de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta aos
pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes interrogativos são que, quem, qual e quanto (e suas variações).
Entende-se como pergunta direta aquela em que o pronome interrogativo é colocado no início do questionamento
(temos sinal de interrogação ao final da pergunta). Já a pergunta indireta é aquela em que o pronome interrogativo
aparece em outra posição na frase, que não o começo (não há sinal de interrogação).

Pergunta direta Pergunta indireta


Quanto custou a reforma da casa? Gostaria de saber quanto custou a reforma da casa.

24
INTERATIVIDADE

LER

Livros
Pronomes: morfossintaxe e semântica - Danniel Carvalho
e Dorothy Brito

O livro surge da problemática do que é “pronome”, geralmente


utilizado para referir a diferentes conjuntos de itens, tais como:
os pronomes pessoais, demonstrativos, interrogativos, indefinidos,
relativos, entre outros, mas cuja definição tradicional é considerada
insatisfatória. Com o objetivo principal de contribuir com as
discussões sobre pronome, o volume reúne trabalhos sobre os
mais diversos aspectos dessa categoria gramatical, sendo fruto de
pesquisas desenvolvidas nos últimos anos por pesquisadores ligados
à área, versando acerca de aspectos morfossintáticos e semânticos
da categoria pronome, em suas principais e mais recentes vertentes
do estudo, além de aspectos relacionados ao processo de percepção
pelo falante-ouvinte e das relações socioculturais dos pronomes.

25
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Indefinidos

Pronomes Interrogativos

Pronomes Relativos

26
17 18
Numerais, preposições
e interjeições

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Free-Photos/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Numeral
Numeral é a classe de palavra que se relaciona diretamente com o substantivo, atribui-lhe quantidade,
situa-o em determinada sequência e com ele mantém vínculo morfossintático.
Exemplo: Os cinco ingressos devem ser distribuídos aos vencedores.
(cinco é um atributo numérico do substantivo ingressos)

O numeral traduz em palavras as quantidades indicadas pelos números. Se a expressão for escrita apenas
em números, não será tratada de numerais, mas de algarismos.

Exemplos:
Ele foi aprovado em primeiro lugar.
(primeiro é o algarismo empregado para formar numerais escritos)

Usei um quarto do meu salário para pagar as contas.


(um quarto é o algarismo empregado para formar numerais escritos)

IMPORTANTE! Algumas palavras são consideradas numerais, se denotarem ideia de quantidade, propor-
ção ou ordenação.

Passou-se uma década até alcançarmos a democracia.


Comprei meia dúzia de ovos para o bolo.

Classificação de numerais
§§ Cardinais: indicam contagem, medida.
Exemplo: A medida do quarto é de trinta metros.

§§ Ordinais: indicam a ordem ou o lugar da coisa ou pessoa numa série dada.


Exemplo: Verifique o segundo contato da agenda.

§§ Multiplicativos: indicam multiplicação da coisa ou pessoa, quantas vezes a quantidade dela foi aumentada.
Exemplo: Apareceu um triplo de convidados a mais que o esperado.

§§ Fracionários: indicam parte de um inteiro da coisa ou pessoa.


Exemplo: Dois terços dos alunos foram aprovados na primeira fase da prova.

Emprego de “ambos” e “ambos os”


São considerados numerais e significam “um e outro” e também “os dois” (ou “uma e outra” e “as duas”).
São empregados para retomar pares de seres anteriormente mencionados. Se empregarmos ambos/ambas em
função adjetiva, ou se antecederem um substantivo, devem vir seguidos de artigo (o, a, os, as). No entanto, se em
função substantiva, dispensa-se o artigo.
Exemplos:
Os dois estudantes, ambos repetentes, tinham grandes dificuldades de aprendizado.
Gosto de meus irmãos; ambos os dois.

29
Emprego de “meio” como numeral adjetivo As preposições são invariáveis, ou seja, não se fle-
xionam em gênero, número ou grau. Mas elas se contraem
Meio(s) e meia(s) são numerais adjetivos que com outras palavras, como vimos no exemplo anterior. Ao
acompanham substantivos. Por esse motivo, obedece- se juntar ao artigo, elas passam a estabelecer concordância
rão às regras de concordância nominal (concordam em em gênero e número com essas palavras. Importante lem-
gênero e número com esse substantivo). brar que não se trata de uma variação própria da preposi-
Exemplos: ção, mas da palavra com a qual ela se funde.
Agora é meio dia e meia. (metade da hora) A relação estabelecida pelas preposições pressu-
Meia taça de vinho já me deixa bêbado. põe um primeiro elemento – chamado antecedente – e
um segundo – chamado consequente. Aquele é o que
Empregos especiais dos numerais exige a preposição, também chamado termo regente; o
segundo é o termo regido por ela, também chamado de
Quando há a necessidade de se atribuir carac- termo regido pela preposição.
terísticas numéricas a figuras importantes, como papas, O antecedente ou termo regente de preposição
reis, imperadores, séculos ou partes de uma obra, em- pode ser:
pregam-se os ordinais até o décimo elemento. Daí em §§ Substantivo: bloco de cimento.
diante, deve-se empregar os cardinais, desde que o nu- §§ Adjetivo: contente com o desempenho.
meral venha seguido do substantivo. §§ Advérbio: preciso imediatamente de um curativo.
§§ Pronome: quem de vocês fez isso?
Ordinais > cardinais
§§ Verbo: gostar de matemática.
João Paulo II (segundo)
Tomo XVI (dezesseis)
D. Pedro II (segundo)
Classificação das preposições
Capítulo XX (vinte) §§ Essenciais – palavras que atuam exclusivamen-
Século VIII (oitavo) te como preposição. São elas: a, ante, após, até,
Século XX (vinte) com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
por, sem, sob, sobre.
Exceção: para designar leis, decretos e porta-
§§ Acidentais – palavras de outras classes gra-
rias, emprega-se o ordinal até nono, e o cardinal a par-
maticais que atuam como preposições. São elas:
tir do décimo elemento.
como, conforme, consoante, durante, exceto, fei-
Artigo 1º (primeiro)
to, mediante, segundo.
Artigo 9º (nono)
Artigo 10 (dez)
Valor semântico das preposições
Preposição Do ponto de vista semântico (do sentido), as pre-
posições são divididas em dois grupos: as relacionais e
A preposição é utilizada para estabelecer re- as nocionais.
lações de sentido entre dois ou mais termos de uma
oração. Trata-se de um processo de conexão entre os Preposições relacionais
elementos que foram ligados pela preposição.
São aquelas exigidas por algum termo antece-
Exemplo: Comprou os bilhetes da rifa com o dente (verbo, substantivo, adjetivo ou advérbio), e que,
troco do lanche, (da: contração da preposição “de” por conta disso, não acrescentam qualquer valor semân-
com o artigo “a” / com: preposição isolada / do: con- tico à sentença. As preposições relacionais introduzem o
tração da preposição “de” com o artigo “o”) objeto indireto ou o complemento nominal.

30
Exemplos: Eu necessito de ferramentas. (de Comprei uma mesa de madeira. (matéria)
ferramentas = objeto indireto / não há sentido expresso Aquele livro é de Marcelo. (posse)
pela preposição) Devemos ingerir vários copos de água durante
Ele é essencial para a empresa. (para a empre- o dia. (conteúdo)
sa = complemento nominal / não há sentido expresso
pela preposição) Preposição EM
Ligue à noite, pois já estarei em casa. (lugar)
Preposições nocionais O relógio é feito em ouro. (matéria)
Temos que discutir todo o tema em vinte mi-
São aquelas que acrescentam valor semântico à nutos. (tempo)
sentença. As preposições nocionais introduzem o adjun- Formou-se em Sociologia. (especialidade)
to adnominal e o adjunto adverbial.
Exemplos: Essas terras são de grandes fazen- Preposição PARA
deiros (a preposição “de” transmite ideia de posse) Ele foi convidado para dar uma palestra. (finalidade)
Os rapazes viajaram para Pernambuco (a prepo- Ele viajou para a França. (destino)
sição “para” transmite ideia de destino ou direção)
Preposição POR
Preposições nocionais mais recorrentes Comprei o livro no sebo por apenas vinte reais. (preço)
A reunião acontecerá por Skype. (meio)
Preposicão A Viajamos por muitas cidades. (lugar)
A persistirem os sintomas, o médico deve ser Ele faz isso por medo de ser demitido (causa).
consultado. (condição) Ficarei aqui por uns três meses (tempo)
Nas férias passadas, viajamos a Brasília. (destino)
As provas devem ser feitas a lápis. (instrumento) Locuções prepositivas
Preposição COM São duas ou mais palavras empregadas
Os moradores estão preocupados com as fortes com a função de uma única preposição. Nelas,
chuvas. (causa) a última palavra do conjunto é sempre uma pre-
Amanhã sairei com meu tio. (companhia) posição essencial: acerca de, apesar de, a respeito
Amanhã será o jogo do Palmeiras com o Corin- de, de acordo com, graças a, para com, por causa de,
thians. (oposição) abaixo de, por baixo de, embaixo de, adiante de, diante
Ele me agrediu com uma bacia. (instrumento) de, além de, antes de, acima de, em cima de, por cima
Ele estava atrasado; caminhava com pressa. (modo) de, ao lado de, dentro de, em frente a, a par de, em lugar
Iremos a sua formatura com certeza. (afirmação) de, em vez de, em redor de, perto de, por trás de, junto
Só poderemos continuar o projeto com os devi- a, junto de, por entre.
dos investimentos. (condição)
Contração de preposições
Preposição DE
Saímos de casa cedo. (origem) No português, fica vetada a contração de prepo-
Falaram bastante de você na festa. (assunto) sições com artigo em casos em que o substantivo que
Ele veio de avião, pois achou que era mais antecede a preposição estiver funcionando como sujeito
rápido. (meio) de algum verbo posterior.
Ele desmaiou de cansaço. (causa)
O jogador se moveu de costas para acertar Exemplo (contração autorizada): Temos que
a bola. (modo) entender as razões do rapaz (o substantivo rapaz não é
Eles voltaram de noite. (tempo) sujeito).

31
Exemplo (contração vetada): Temos que en-
tender as razões de o rapaz desistir do curso (o subs-
tantivo rapaz é sujeito do verbo “desistir”. Isso proíbe a
junção de preposição com artigo).

Interjeição
Interjeição é a palavra invariável que manifesta
sensações, emoções, sentimentos, ordens, chamamentos
ou estados de espírito, revelando as reações das pessoas.

Classificação
§§ Admiração ou surpresa: Puxa! Vixe! Caram-
ba! Nossa! Céus! Eita!
§§ Alegria: Viva! Oba! Que beleza! Eba!
§§ Aplauso: Viva! Bravo! Parabéns!
§§ Chamamento: Alô! Ei! Oi! Psiu! Socorro!
§§ Concordância: Claro! Certo! Ok!
§§ Dor: Ai! Ui! Ah! Oh!
§§ Lamento: Que pena! Ai coitado!
§§ Saudação: Olá! Oi! Adeus!
§§ Silêncio: Silêncio! Basta! Chega!

32
INTERATIVIDADE

LER

Livros
Interjeição: um fator de identidade cultural do brasileiro -
Adriana Leite do Prado Rebello

Este livro demonstra como as interjeições devem ser descritas e


utilizadas pedagogicamente no trabalho com o português como
língua não materna, a fim de proporcionar ao aluno estrangeiro
uma aprendizagem que vise à sua competência comunicativa.

33
Estrutura Conceitual

Gramática Normativa

Formação de Palavras

Classes de Palavras

Advérbio Preposição Interjeição Numeral

Classes Classe
invariáveis variável

34
Abordagem de LITERATURA nos principais vestibulares.

FUVEST
A maior parte das questões de literatura da Fuvest refere-se às obras obrigatórias. Neste caderno,
você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o BARROCO E ARCADISMO.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Como a Unesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre BARROCO E ARCADISMO.

UNICAMP
A maior parte das questões de literatura da Unicamp refere-se às obras obrigatórias. Destaque
especial para os “sonetos” na lírica camoniana que é contemplado na lista de obras.

UNIFESP
Como a Unifesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre BARROCO E ARCADISMO.

ENEM/UFMG/UFRJ
Neste caderno, você encontra algumas questões acerca do Arcadismo. Como o Enem não possui
uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste exame contemplam os conhecimentos das
escolas literárias, bem como de seus principais representantes.

UERJ
Neste caderno, você encontrará exercícios da UERJ nas aulas de Barroco e Arcadismo, sempre
relacionados aos autores de literatura brasileira.
11 12
Gregório de Matos Guerra,
o Boca do Inferno

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O primeiro poeta brasileiro: adequação e irreverência
Gregório de Matos (1636-1696) é o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica
e satírica no Brasil. Nasceu em Salvador, estudou no Colégio dos Jesuítas e depois em Coimbra (Portugal), onde
cursou Direito, tornou-se juiz e ensaiou seus primeiros poemas satíricos. De volta ao Brasil, em 1681, exerceu os
cargos de tesoureiro-mor e de vigário-geral, apesar de sempre ter se recusado a vestir-se como clérigo.

Disponível em: <http://imirante.globo.com>

Graças às suas sátiras, foi perseguido pelo governador baiano Antônio de Souza Menezes, o “Braço de
Prata”. Depois de se casar com Maria dos Povos e exercer a advocacia, saiu pelo Recôncavo baiano como cantor
itinerante, dedicando-se às sátiras e aos poemas erótico-irônicos, o que lhe custou alguns anos de exílio em Angola.
Voltou doente ao Brasil e, impedido de entrar na Bahia, morreu em Recife.
Ao contrário do padre Antônio Vieira, Gregório foi de encontro a uma tendência generalizadora da época,
alastrando-se e acolhendo a poesia religiosa, os costumes e a reflexão moral.
Em relação aos temas, convivem em seus poemas um desenfreado sentimento de sensualismo, erotismo e
paixão idealizada. Seus poemas são dados ao gosto pelo jogo de palavras e das brincadeiras.

Cronologia biográfica
Gregório de Matos viveu durante o ciclo da cana-de-açúcar e fez parte da elite, à qual ele mesmo se contra-
pôs, ao se indignar com o atraso da sociedade patriarcal brasileira depois de voltar de Portugal.
Ele nada publicou em vida. Depois de sua morte, seus manuscritos foram reunidos em um códice, cuja capa
trazia o brasão da Coroa portuguesa com a seguinte insígnia: Inéditas poezias do doutor Gregório de Mattos Guerra.

§§ 1636 – Em 20 de dezembro, Gregório de Matos Guerra nasce em Salvador, Bahia.


§§ 1650 – Viaja para Lisboa aos 14 anos.
§§ 1652 – Incentivado pelo pai, matricula-se na Universidade de Lisboa.
§§ 1661 – Forma-se na universidade e casa-se com dona Michaela de Andrade.
§§ 1662 – Conclui o bacharelado em Coimbra.
§§ 1663 – Nomeado juiz de fora em Alcácer do Sal, no Alentejo.
§§ 1672 – Nomeado procurador da cidade da Bahia.
§§ 1674 – Deixa o cargo de procurador.
§§ 1678 – Fica viúvo.
§§ 1691 – Casa-se, pela segunda vez, com Maria dos Povos.
§§ 1694 – Degredado para Angola.
§§ 1696 – Morre no estado de Pernambuco, porque foi proibido de voltar a Salvador.

39
Exemplo desse pioneirismo é a semelhança do poema
“Ao mesmo desembargador Belchior da Cunha Brocha-
do” com o poema “Rosa tumultuada”, de Manuel Ban-
deira (poeta do século XX).
Disponível em: <http://imirante.globo.com>

Ilustração de Carybé para o livro Bahia: imagens da terra e do povo.

O “língua de trapo”
Gregório de Matos primou pela irreverência ao
afrontar os valores e a falsa moral da sociedade baiana 1. Erobo: mitologia, nome das trevas infernais, “onde nunca chega o dia”.
de seu tempo, cujo comportamento era considerado in- Entenda-se: já que tanto garbo tanta energia são gentil glória desta terra,
que sejam também alegria da terra mais remota (isso é, o Erebo).
decoroso. Irreverente como poeta lírico, seguiu e rompeu
Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção e prefácio de José
ao mesmo com os modelos barrocos europeus. Como Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 205.
poeta satírico, denunciou as contradições da sociedade
baiana de século XVII, alvejando os grupos sociais – go-
vernantes, fidalgos, comerciantes, escravos, mulatos etc.
A linguagem empregada agrega ao código da
língua portuguesa vocábulos indígenas e africanos, bem
como palavras de baixo calão.
Pelo fato de não ter publicado nenhuma obra em
vida, seus poemas foram transmitidos oralmente, até
meados do século XIX, quando então foram reunidos Manuel Bandeira. Estrela da tarde. 3. ed.
em livro por Varnhagen. São Paulo: Global, 2012, p. 139.
Esse trabalho enfrentou alguns problemas de
natureza autoral. Os copistas não necessariamente obe- Foi apelidado de Boca do Inferno, graças à
deceram a critérios científicos para tal. Há controvérsias sua poesia satírica, dirigida aos governantes corruptos,
sobre a autoria de alguns poemas atribuídos a ele e é co- a religiosos licenciosos e às hipocrisias da sociedade.
mum que um mesmo texto apresente variações de voca- Seus mais de 700 poemas de todos os gêneros e estilos
bulário ou de sintaxe, dependendo da edição consultada. poéticos (exceto o épico) permaneceram inéditos até o
Apesar disso, a obra de Gregório de Matos vem século XX. Entre os anos de 1923 e 1933, a Academia
sendo reconhecida como a que iniciou uma tradição en-
Brasileira de Letras organizou e publicou seis volumes
tre nós, bem como superou os limites do próprio Barro-
deles: I. Poesia sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa;
co. Em pleno século XVII, o poeta chegou a ser um dos
IV e V. Poesia satírica; e VI. Últimas.
precursores da poesia moderna brasileira do século XX.

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Poesia satírica “Para a tropa do trapo vazo a tripa é uma ex-
pressão idiomática que se aproxima de não quero
Não poupa aspecto algum do sistema e do po- mais dar importância a esse bando de miseráveis”.
der, o que faz dele um poeta maldito. Provoca os políti- WISNIK, José Miguel. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.
cos e ridiculariza os que viviam para bajular e louvar os São Paulo: Cultrix, 1976.

poderosos, traços que contribuíram para o “abrasileira-


mento” do Barroco importado da Europa. No poema a seguir, há uma crítica impiedosa à
Crítico social mordaz, vive em uma sociedade de incompetência, à promiscuidade e à desonestidade. O
competição, na qual vence quem for mais esperto ou deso- poema vem precedido da seguinte explicação:
nesto. Este soneto vem precedido da seguinte explicação: “Torna a definir o poeta os maus modos de
obrar na governança da Bahia, principalmente naquela
“Contemplando nas coisas do mundo desde o
universal fome, que padecia a cidade.”
seu retiro, lhe atira com seu ápage, como quem a nado
escapou da tormenta.” Epílogo
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa Que falta nesta cidade?... Verdade.
Com sua língua, ao nobre o vil decepa: Que mais por sua desonra?... Honra.
O velhaco maior sempre tem capa. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Mostra o patife da nobreza o mapa: Por mais que a fama a exalta,
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa: Nesta cidade onde falta
Quem menos falar pode, mais increpa: Verdade, honra, vergonha.
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. [...]
E que justiça a resguarda?... Bastarda.
A flor baixa se inculca por tulipa:
É grátis distribuída?... Vendida.
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Valha-nos Deus, o que custa
Para a tropa do Trapo vazo a tripa, O que El-Rei nos dá de graça,
E mais não digo, porque a Musa topa Que anda a justa na praça
Em apa, epa, ipa, opa, upa. Bastarda, vendida, injusta.
[...]
O açúcar já se acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Disponível em: <http://www.cella.com.br>

Logo já convalesceu?... Morreu.


À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o governo a convence?... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, na vence.
DIMAS, Antônio. Gregório de Matos.
Caricatura de Gregório de Matos São Paulo: Abril Educação, 1981.

ápage: desaprovação, raiva; carepa: caspa, sujeita; vil: reles,


ordinário; decepa: destrói; increpa: censura; inculca: finge, insinua; gar-
lopa: trabalhador braçal

41
Poesia lírica: sacra e amorosa Poesia lírica filosófica
A poesia lírica de Gregório de Matos é idealis-
A lírica filosófica de Gregório de Matos revela um
ta, às vezes emocional, às vezes conceitual, mas fre-
poeta que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso
quentemente preocupada em entender contradições,
como ensina o professor Antonio Candido. A lírica sacra do “desconcerto do mundo”, ocupa-se com a transito-
ressalta o senso do pecado ao lado do desejo do perdão. riedade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade
do homem.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, À instabilidade das coisas no mundo
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido, Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Se basta a vos irar tanto pecado,
Em contínuas tristezas a alegria.
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Se uma ovelha perdida e já cobrada Como a beleza assim se transfigura?
Glória tal e prazer tão repentinho Como o gosto da pena assim se fia?
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada, Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Cobrai-a; e a não queirais, Pastor divino, Na formosura não se dê constância,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. E na alegria sinta-se tristeza.
despido: despeço; delinquido: cometido delito;
empenhado: comprometido Começa o mundo enfim pela ignorância,
WISNIK, José Miguel. Poemas escolhidos de Gregório de Matos.
São Paulo: Cultrix, 1976.
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
O lirismo amoroso é contraditório, marcado pela
MATOS, Gregório de. Obra completa. São Paulo: Cultura, 1943.
ambiguidade da mulher, vista como uma dualidade
entre matéria e espírito. No soneto abaixo, dedicado à
O tema desse soneto detém-se no estado transi-
dona Ângela de Souza Paredes, o eu lírico está diante
do dilema: qual a finalidade da beleza, se ela leva à per- tório da condição humana. A antítese repete-se na ten-
dição? Que papel tem o anjo (a mulher admirada), se tativa de aproximação entre duas ideias naturalmente
causa a desventura? opostas.
Na segunda estrofe, todos os versos interrogam
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar dela a cada dia o eu poético, bem como o deixam perplexo diante do
E ouvida, me incitava e me movia mistério do universo.
A querer ver tão bela arquitetura: Essa é uma visão de mundo que corresponde à
Ontem a vi, por minha desventura arte barroca: o homem é um ser instável em face da
Na cara, no bom ar, na galhardia realidade que lhe faz apelos dirigidos aos sentidos, diri-
De uma mulher, que em Anjo se mentia gidos ao espírito.
De um Sol, que se trajava em criatura:
Matem-me, disse eu vendo abrasar-me,
Se esta a coisa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me

42
INTERATIVIDADE

ASSISTIR

Filme GREGÓRIO DE MATTOS

Em pleno século XVII, surge na Bahia o poeta Gregório de Mattos (Waly


Salomão), que com sua obra e vida trágicas anuncia o perfil tenso e
dividido do povo brasileiro. Com sua produção literária, o poeta cria
situações desconfortáveis aos poderosos da época, que passam a
combatê-lo até transformar sua vida em um verdadeiro inferno.

OBRAS

Pinturas Engenho com capela. Frans Post, 1667.

43
LER

Livros
O lúdico e as projeções do mundo barroco - Affonso Ávila,
Perspectiva, 1971

Numa interpretação totalizadora dos múltiplos aspectos que se


conjugam estética e historicamente no fenômeno do Barroco e
sobretudo de sua manifestação brasileira, O lúdico e as projeções do
mundo barroco, de Affonso Ávila, procura não só especificar o papel
do Barroco na formação da singularidade nacional, como iluminar
criticamente a nossa faixa na aldeia de McLuhan e, a partir daí, aferir
a dimensão da nossa presença na galáxia da modernidade.

A sátira e o engenho - Gregório de Matos e a Bahia do


século XVII

Aborda os poemas satíricos de Gregório de Matos, tratados retóricos


da época e documentos históricos, como as delações de pecados e
heresias ao Santo Ofício e as atas da Câmara de Salvador. Analisa a
sátira de Gregório de Matos a partir da tradição retórica do século
XVII, em que a obscenidade e a maledicência estão previstas por
regras precisas. Convida o leitor a um fascinante mergulho na poética
clássica de Aristóteles e Quintiliano e na barroca de Gracián e Tesauro.

Boca do Inferno - Ana Miranda

Salvador, final do século XVII. Nessa cidade de desmandos e


devassidão, desenrola-se a trama do Boca do Inferno, recriação de
uma época turbulenta centrada na feroz luta pelo poder que opôs o
governador Antonio de Souza Menezes, o temível Braço de Prata, à
facção liderada por Bernardo Vieira Ravasco, da qual faziam parte o
padre Antonio Vieira e o poeta Gregório de Matos.

44
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta habilidade demanda que o estudante saiba lidar com o primeiro aspecto da tríade
analítica básica a arte literária (contexto / autor / obra). Conhecer o contexto, ou seja, a
história e as relações sociais e políticas nela impressas. Esta relação entre o texto literário
e o contexto político requer que o estudante abandone aquele senso comum do discurso:
“política não se discute”, pois no Enem não só se discute, como serve de base para re-
solução das questões de Literatura.

Modelo
(Enem)
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006)

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o
soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
a) visão cética sobre as relações sociais.
b) preocupação com a identidade brasileira.
c) crítica velada à forma de governo vigente.
d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.

45
Análise Expositiva

Habilidade 15
O poema de Gregório de Matos estabelece uma intertextualidade com as Sagradas Escrituras:
“Quando Deus redimiu da tirania/Da mão do Faraó endurecido”.
Entender as características do escritor é premissa básica para a resolução da questão. Gre-
gório de Matos, conhecido como o “Boca do Inferno” utilizava sua literatura como meio de
criticar a sociedade de sua época, ainda que o fizesse por meio de metáforas, como ocorre no
texto acima: “Deus, que veio estirpar desta cidade/o Faraó do povo brasileiro.”
Alternativa C

Estrutura Conceitual

GREGÓRIO
DE MATOS
O BOCA DO INFERNO
2 Gregório de Matos ganhou o apelido
de “boca do Inferno” por conta de
suas poesias satíricas e sua

1 crítica ao governo baiano.


Os poemas de Gregório de Matos 3
O Barroco é também conhecido podem ser classificados como
como Seiscentismo Lírico - filosóficos, Religiosos e
Satíricos.

Por conta de sua personalidade


satírica e de sua vida boêmia,
4 Gregório foi deportado para 5
Angola. Algum tempo depois voltou ao Brasil com o apoio do
De família rica, Gregório de Matos
governador, mas foi proibido de voltar à Bahia desembarcando em
Guerra nasceu na Bahia no ano 1636.
Pernambuco. Morreu obscuramente no Recife no ano 1696 e foi
Estudou no Colégio dos Jesuítas e
enterrado na capela do hospício de Nossa Senhora da Penha.
seguiu para Coimbra, onde se formou
Pouco tempo depois a capela foi demolida e não existem
em Direito em 1661.
vestígios de seus restos mortais.

46
13 14
Padre Antônio Vieira

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Padre Antônio Vieira e o convencimento da fé cristã

Disponível em: <http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br>

Antônio Vieira (1608-1697) é a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto
à literatura portuguesa quanto à brasileira. Compreende um vasto campo temático que vai da religião à política,
passando pela diplomacia num desfile de sua mais interessante capacidade: a de orador e pregador da fé cristã.
Português de origem, Vieira tinha sete anos quando veio com a família para o Brasil. Na Bahia, estudou com
os jesuítas e espontaneamente ingressou na Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado com apenas 15 anos. A
maior parte de sua obra foi escrita no Brasil. Desempenhou várias atividades como religioso, conselheiro de Dom
João IV, rei de Portugal, e como mediador de Portugal em conflitos econômicos e políticos com outros países.
Disponível em: <http://www.colegioweb.com.br>

O homem de ação e lábia


Embora religioso, Vieira nunca restringiu sua
atuação à pregação religiosa. Seus sermões estiveram
a serviço das causas políticas que abraçava e defendia,
o que o levou a se indispor com muita gente: pequenos
comerciantes que escravizavam índios e até com a In-
quisição. Atacava os senhores de escravos, bem como
cobrava de Lisboa as determinações que tolhiam a li-
berdade dos índios; questionava os capitães-mor pela
desobediência às determinações religiosas. Isso e mui-
to mais foram fatores determinantes para sua expulsão,
bem como a de outros jesuítas do Brasil.
Valendo-se do púlpito – único meio de propa-
gação de ideias às multidões no Nordeste brasileiro do
século XVII –, Vieira pregou a índios, brancos, negros,
brasileiros, africanos, portugueses, dominadores e do-
minados. Suas ideias políticas impregnavam a cateque-
se jesuíta em defesa do índio e do domínio português
sobre a colônia por ocasião da invasão holandesa. Pregação de Vieira

49
“Umas religiões são de descalços, outras de calçados; a

© Divulgação
vossa é de descalços e despidos. O vosso hábito é da mesma cor;
porque não vos vestem as peles das ovelhas e camelos, como a
Elias, mas aquelas com que vos cobriu ou descobriu a natureza,
expostos aos calores do sol e frios das chuvas. A vossa pobreza é
mais pobre que a dos menores, e a vossa obediência mais sujei-
ta dos que nós chamamos mínimos. As vossas abstinências mais
merecem nome de fome, que de jejum, e as vossas vigílias não
são de uma hora à meia-noite, mas de toda a noite sem meio. A
vossa regra é uma ou muitas, porque é a vontade e vontades de
vosso senhores. Vós estais obrigados a eles, porque não podeis
deixar o seu cativeiro, e eles não estão obrigados a vós, porque
vos podem vender a outro, quando quiserem. Em uma só reli-
Medalha do Padre Antônio Vieira, esculpida por Dorita Castelo Branco. gião se acha este contrato, para que também a vossa seja nisto
singular. Nos nomes do vosso tratamento não falo, porque não
Embora Vieira defendesse os índios da escravi- são de reverência nem de caridade, mas de desprezo e afronta.
dão, seus sermões eram reticentes em relação à escravi- Enfim, toda a religião tem fim e vocação, graça particular. A gra-
zação dos negros. Limitavam-se a descrever a situação a ça da vossa são açoutes e castigos” [...].
que eram submetidos os negros e a apontar a perspecti-
va de uma pós-morte que compensasse os sofrimentos Padre visionário
em vida. “A realidade na qual Vieira procura interferir
Vieira também foi sonhador e profeta, chegou
não é diretamente a exterior, mas a interior, tentando
a escrever três obras nesse sentido: História do futuro,
mudar as convicções tanto dos negros como dos bran- Esperança de Portugal e Clavis Prophetarum.
cos. Por isso, nestes sermões ele se dirige aos dois, ora a Baseado em textos bíblicos e nos textos proféticos
um, ora a outro, sabendo que o ouvem continuamente” do poeta português Bandarra, ele acreditava na ressurrei-
comenta o historiador Luiz Roncari (Literatura brasileira ção do rei Dom João IV, seu protetor, morto em 1656. Es-
– dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2. ed. sas ideias constam em Esperança de Portugal. Em razão
São Paulo: Edusp/FDE, 1995. p. 167). delas, entre 1665 e 1667, foi processado e preso pela In-
Observe tal postura neste fragmento do “Ser- quisição e teve cassado seu direito à palavra em Portugal.
Disponível em: <http://redememoria.bn.br>

mão Vigésimo Sétimo”.


Disponível em: <http://www.spelltraducoes.com.br>

Vieira na redução das tribos de Marajó, 1657. Theodoro Braga (1917).

Constam desse processo também acusações de


envolvimento com cristãos-novos – judeus convertidos
ao cristianismo por medo de perseguição. Em vez de

50
atacar os judeus, como se fazia nos países católicos
pressionados pela Inquisição, Vieira defendia a perma-
nência e a entrada deles em Portugal como forma de
estimular o comércio naquele país. Paralelamente, pre-

Disponível em: <http://www.bahia-turismo.com>


vendo um “Terceiro Estado” da Igreja, tinha interesse
em fazer um acordo teológico secreto com os judeus.

Púlpito da igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador (BA), de onde


Vieira pregou.

Sermão da sexagésima
Metalinguagem
© Divulgação

Proferido na Capela Real de Lisboa, em 1655, é


Caricatura de Vieira
também conhecido como Sermão da Palavra de Deus.
O orador A arte de pregar é seu tema. Com o objetivo de analisar
“por que não frutifica a Palavra de Deus na Terra?”,
As qualidades de Vieira como orador são incom- propõe-se a demonstrar que os verdadeiros culpados
paráveis. Dotado de boa formação jesuítica à estética são os pregadores que usam da palavra apenas com um
barroca em voga, pronunciou sermões que se tornaram objetivo ornamental, sem desenvolver eficazmente uma
ao mesmo tempo a expressão máxima do Barroco em argumentação capaz de frutificar nos ouvintes.
prosa sacra e uma das principais expressões ideológicas “Ora, suposto que a conversão das almas por
e literárias da Contrarreforma. Pregou no Brasil, em Por- meio da pregação depende destes três concursos: de
tugal e na Itália, sempre com grande repercussão. Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos
Entre sua vasta produção de mais de duzentos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do
sermões e quinhentas cartas, destacam-se: pregador, ou por parte de Deus?”.
Excluindo a culpa de Deus e inocentando os ou-
§§ Sermão da sexagésima, proferido na Capela Real vintes, a culpa recai nos pregadores, conforme se perce-
de Lisboa, em 1655, cujo tema é a arte de pregar. be no desenrolar da argumentação:
§§ Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal “Primeiramente, por parte de Deus, não falta e
contra as de Holanda, proferido na Bahia, em nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definidas no
1640, posiciona-se contra à invasão holandesa. Concílio Tridentino e no nosso Evangelho a temos.” [...]
§§ Sermão de Santo Antônio (aos peixes), pro- “Os pregadores deitam a culpa nos ouvintes,
ferido no Maranhão, em 1654, ataca a es- mas não é assim. Se for por parte dos ouvintes, não
cravização de índios. fizera a Palavra de Deus muito grande fruto, mas não
§§ Sermão do mandato, proferido na Capela Real de fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte
Lisboa, em 1645, desenvolve o tema do amor místico. dos ouvintes. Provo.” [...]

51
“Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a Palavra de Trecho IV
Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por Mas dir-me-eis: padre, os pregadores de hoje não pre-
que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa nossa.” gam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois
Leia com atenção alguns trechos do “Sermão da como não pregam a palavra de Deus? – esse é o mal. Pregam
sexagésima”. palavras de Deus, mas não pregam a Palavra de Deus.

O Sermão da sexagésima é a peça maior da ora-


Trecho I tória do padre Vieira, mas outros também se destacaram.
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos?
Um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um es-
tilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda a arte e Sermão pelo bom sucesso das armas
a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de Portugal contra as de Holanda
de ser muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao
semear: [...] Compara Cristo o pregar ao semear, porque o O Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal
semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte.
contra as de Holanda foi proferido na Bahia, na igreja
Nas outras artes tudo é arte: na música tudo se faz por
de Nossa Senhora da Ajuda, em 1640. O orador chama
compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na arit-
mética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz o povo ao combate contra os holandeses, desenhando
por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; a figura dos flamengos, protestantes, como hereges. A
caia onde cair. Vede como semeava o nosso lavrador do Bahia estava para cair sob o jugo dos holandeses.
Evangelho. ‘Caía o trigo nos espinhos e nascia’ [...] ‘Caía o
trigo nas pedras e nascia’ [...] ‘Caía o trigo na terra boa e
nasci’. Ia o trigo caindo e ia nascendo.
Disponível em: <http://www.bahia-turismo.com>

Trecho II
[...] o pregar há de ser como quem semeia, e não
como quem ladrinha ou azuleja. Não fez Deus o céu em
xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão
em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de
outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra
há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão
de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra
hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num
sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre
em fronteira com o seu contrário? [...]

Trecho III
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de
ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da
mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo
isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem tron-
co, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos.
Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas,
porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco,
porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste
tronco hão de nascer diversos ramos, que soa diversos discur- Interior da igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador (BA), onde o
sos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; es- padre Vieira proferiu o sermão contra os holandeses.
tes ramos hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque
os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. [...]

52
Trecho I Trecho I
(...) Pequei, que mais Vos posso fazer? E que fizestes vós, Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que
Job, a Deus em pecar? Não Lhe fiz pouco; porque Lhe dei oca- o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais
sião a me perdoar, e perdoando-me, ganhar muita glória. Eu em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-
dever-Lhe-ei a Ele, como a causa, a graça que me fizer; e Ele lo para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades
dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar. (...). tinham as pregações do vosso pregador Santo António, como
Em castigar, vencei-nos a nós, que somos criaturas fracas; mas também as devem ter as de todos os pregadores. Uma é louvar
em perdoar, vencei-Vos a Vós mesmo, que sois todo-poderoso o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar
e infinito. Só esta vitória é digna de Vós, porque só vossa jus- e repreender o mal para preservar dele. Nem cuideis que isto
tiça pode pelejar com armas iguais contra vossa misericórdia; pertence só aos homens, porque também nos peixes tem seu
e sendo infinito o vencido, infinita fica a glória do vencedor. lugar. Assim o diz o grande Doutor da Igreja S. Basílio: Non
carpere solum, reprehendereque possumus pisces, sed sunt
Trecho II in illis, et quae prosequenda sunt imitatione: ’Não só há que
Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os notar, diz o Santo, e que repreender nos peixes, senão tam-
homens, mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas bém que imitar e louvar.’ Quando Cristo comparou a sua Igreja
vozes: a vosso peito divino se há de dirigir todo o sermão. à rede de pescar, Sagenae missae in mare, diz que os pesca-
dores ‘recolheram os peixes bons e lançaram fora os maus’:
Elegerunt bonos in vasa, malos autem foras miserunt. E onde
há bons e maus, há que louvar e que repreender. Suposto isto,
Sermão de Santo Antônio para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso
(aos peixes) sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas
virtudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. E des-
Sermão de Santo Antônio, também chamado ta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que melhor vos
de Sermão aos peixes, foi pregado em São Luís do está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos.
Maranhão, em 1654, e refere-se a colonos que aprisio-
navam indígenas. Trecho II
Três dias antes do embarque escondido para Lis- Este é, peixes, em comum o natural que em todos
boa, na festa de Santo Antônio – 13 de junho de 1654 vós louvo, e a felicidade de que vos dou o parabém, não
–, em São Luís do Maranhão, Vieira causou surpresa: em sem inveja. Descendo ao particular, infinita matéria fora
vez de tematizar os milagres de Santo Antônio, detona a se houvera de discorrer pelas virtudes de que o Autor da
situação que estava vivendo, a pressão contra sua pes- natureza a dotou e fez admirável em cada um de vós. De
soa e alerta aos ouvintes que se não quisessem ouvi-lo alguns somente farei menção. E o que tem o primeiro lu-
que fossem como Santo Antônio, pregaria aos peixes, gar entre todos, como tão celebrado na Escritura, é aquele
que estavam ali a poucos passos. Os vícios e as virtudes santo peixe de Tobias a quem o texto sagrado não dá outro
dos homens são elencados na busca por uma legislação nome que de grande, como verdadeiramente o foi nas vir-
mais justa aos índios. tudes interiores, em que só consiste a verdadeira grandeza.
O sermão exalta as qualidades dos peixes, como Ia Tobias caminhando com o anjo S. Rafael, que o acom-
panhava, e descendo a lavar os pés do pó do caminho nas
a obediência, e critica a soberba e o oportunismo. O
margens de um rio, eis que o investe um grande peixe com
principal defeito que ele aponta é a intensidade e a
a boca aberta em ação de que o queria tragar. Gritou Tobi-
voracidade, uma vez que os peixes devoram uns aos
as assombrado, mas o anjo lhe disse que pegasse no peixe
outros, especialmente os maiores, que devoram os me-
pela barbatana e o arrastasse para terra; que o abrisse e
nores. Vieira exalta os peixes que, por sua natureza, não
lhe tirasse as entranhas e as guardasse, porque lhe haviam
podem ser sacrificados vivos a Deus e sacrificam-se en-
de servir muito. Fê-lo assim Tobias, e perguntando que vir-
tão, em respeito e reverência.
tude tinham as entranhas daquele peixe que lhe mandara
guardar, respondeu o anjo que o fel era bom para sarar da
cegueira e o coração para lançar fora os demônios:

53
Cordis eius particulam, si super carbones ponas, fumus
eius extricat omne genus daemoniorum: et fel valet ad ungen-
dos oculos, in quibus fuerit albugo, et sanabuntur. Assim o disse
o anjo, e assim o mostrou logo a experiência, porque, sendo o
pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno
do fel, cobrou inteiramente a vista; e tendo um demônio,
chamado Asmodeu, morto sete maridos a Sara, casou com ela
o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu
dali o Demônio e nunca mais tornou. De sorte que o fel daquele
peixe tirou a cegueira a Tobias, o velho, e lançou os demônios
de casa a Tobias, o moço. Um peixe de tão bom coração e de tão
proveitoso fel, quem o não louvará mais? Certo que se a este
peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia
um retrato marítimo de Santo António.

Trecho III
Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural
irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas
mãos, que tomá-lo indignamente! Em tudo o que vos excedo,
peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é
melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o
meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as
palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com
a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o
entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a
vontade. Vós fostes criados por Deus, para servir ao homem, e
conseguis o fim para que fostes criados; a mim criou-me para
o servir a ele, e eu não consigo o fim para que me criou.

Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante


dele muito confiadamente, porque o não ofendestes; eu espe-
ro que o hei de ver; mas com que rosto hei de aparecer dian-
te do seu divino acatamento, se não cesso de o ofender? Ah
que quase estou por dizer que me fora melhor ser como vós,
pois de um homaem que tinha as mesmas obrigações, disse
a Suma Verdade, que ‘melhor lhe fora não nascer homem‘: Si
natus non fuisset homo ille. E pois os que nascemos homens,
respondemos tão mal às obrigações de nosso nascimento,
contentai-vos, peixes, e dai muitas graças a Deus pelo vosso.
© Wikimedia Commons

54
INTERATIVIDADE

ASSISTIR

Filme Sermões - a história de Antônio Vieira

História do padre Antônio Vieira, nascido em Portugal, em 1608,


e que morreu em Salvador, Bahia, em 1697. Considerado um dos
maiores escritores portugueses, mestre na retórica, ele foi perseguido
e executado pela Inquisição por sua posição contra a escravidão e o
colonialismo, assim como por sua simpatia aos judeus.

Filme Palavra e Utopia

Em 1663, o padre Antônio Vieira é chamado a Coimbra para comparecer


diante do Tribunal do Santo Ofício, a terrível Inquisição. As intrigas da
corte e uma desgraça passageira enfraquecem a sua posição de célebre
pregador jesuíta e amigo íntimo do falecido rei D. João VI.

55
LER

Livros
Livros
Padre Antônio Vieira - 400 Anos Depois - Lelia Parreira
Duarte e Maria Thereza Abelha Alves

Neste volume, estão reunidas reflexões de especialistas na obra de


padre Antônio Vieira, orador sacro do Barroco português/brasileiro, às
quais se juntam estudos de mestrandos e doutorandos, apresentados
em evento comemorativo realizado pelo Centro de Estudos
Luso-afro-brasileiros da PUC-Minas.
Padre Antônio Vieira – O tempo e seus hemisférios

Entre 13 de março e 18 de outubro de 2008, o Instituto de Estudos


Portugueses (IdEP) (agora Grupo de Investigação Interdisciplinar de
Estudos Portugueses, do Centro de História da Cultura) organizou
um conjunto de atividades que decorreram na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, para comemorar o IV Centenário do Nascimento
do Padre Antônio Vieira.

OBRAS

Gravura Padre Antônio Vieira

Em obra do século XVIII, o padre Antônio Vieira aparece sendo expulso por revoltosos no Maranhão.
(Fundação Biblioteca Nacional)

56
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta habilidade demanda que o estudante saiba lidar com o primeiro aspecto da tríade analítica
básica: a arte literária (contexto / autor / obra). Conhecer o contexto, ou seja, a história e as rela-
ções sociais e políticas nela impressas. Esta relação entre o texto literário e o contexto político re-
quer que o estudante abandone aquele senso comum do discurso: “política não se discute”, pois
no Enem não só se discute, como serve de base para resolução das questões de Literatura.

Modelo
(Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito
semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas,
porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para
a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de
dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo
sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que,
se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).

O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.

57
Análise Expositiva

Habilidade 15
O consagrado sermão apresentado por Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre o
sofrimento de cristo crucificados e as condições de maus tratos sofridos pelos escravos nos
engenhos de açúcar. Este pressuposto embasa a habilidade 15 cobrada pelo Enem que deseja
que o estudante entenda sua denúncia para com o martírio vivido pelos cativos na sociedade
colonial. Um trecho do texto que confirma esta proposição é: “Em um engenho sois imita-
dores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo
Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão”.
Alternativa E

Estrutura Conceitual

PADRE ANTÔNIO VIEIRA


O padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa no dia 6 de fevereiro de 1608.

1
Veio para o Brasil com sua família humilde, desembarcando na Bahia
com seis anos de idade. Seu pai foi nomeado escrivão dos Agravos e
Apelações da Relação da Bahia. Fez seus primeiros estudos com sua
mãe, e depois no Colégio dos Jesuítas.

2 3
Vieira fez seu primeiro sermão “Os homens são como os olhos:
em Portugal no dia 1º de janeiro vendo tudo não se veem a si próprios”.
de 1642. Padre Antônio Vieira

58
15 16
Arcadismo em Portugal:
Bocage

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
© Wikimedia Commons

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O século das luzes
Disponível em: <http://vignette2.wikia.nocookie.net>

O século XVIII foi palco de uma série de transformações culturais e sociopolíticas na Europa: ascensão da
burguesia e decadência da aristocracia; ruptura definitiva com o mundo medieval; nascimento do Iluminismo.
Para acompanhar o desenvolvimento das grandes nações europeias e satisfazer os interesses da burguesia,
Portugal empreendeu diversas reformas econômicas, políticas, culturais e educacionais.
Já no Brasil, as manifestações da estética arcádica tiveram início na segunda metade do século XVIII. A
atividade mineradora – já intensa desde 1700 – determinara mudanças na organização e na dinâmica da vida bra-
sileira. Houve um aumento considerável na circulação de mercadorias e dinamização das regiões que abasteciam
com gado as Minas Gerais (Sul e Nordeste).
Vila Rica, atual Ouro Preto, tornou-se centro eco-
© Carlos Julião/Wikimedia Common

nômico e gerador de cultura, e o Rio de Janeiro transfor-


mou-se em polo de produção e divulgação de ideias na
Colônia, substituindo Salvador.
A descoberta do ouro em Minas Gerais coinci-
diu com o declínio da lavoura da cana-de-açúcar, e o
deslocamento do centro econômico do Nordeste para a
região mineira provocou importantes mudanças sociais.
Uma delas foi a substituição da vida rural pela urbana.
Formou-se uma camada média da população
influenciada pelos ideais burgueses. A atividade mine-
radora, explorada pelos portugueses e mantenedora da
riqueza de Portugal, foi a responsável pela “derrama”,
cobrança que levaria alguns exploradores a se organizar
no movimento da Inconfidência.
A “derrama” era a cobrança imediata e única de
impostos determinada pela Corte portuguesa à Colônia,
Extração de diamantes. Aquarela, 1776, Carlos Julião.
referente à extração de ouro.

61
Com o crescimento das cidades, apareceu no
Arcadismo em Portugal
Brasil o trabalho não escravo, desvinculado das ativida-
des agrícolas e da mineração. Eram artesãos, burocratas,

© Husond/Wikimedia Common
profissionais liberais, literatos – esboço de uma classe
média que, disposta a defender seus próprios interesses,
adotou a ideologia liberal burguesa vinda da França: o
Iluminismo. A difusão do pensamento iluminista – que
apregoava a liberdade de propriedade e a igualdade de
poderes, criticando o Estado absolutista – tinha como pa-
lavras de ordem: liberdade, igualdade, fraternidade.
Em 1789, esse espírito culminou na Revolução France-
sa, que modificou o conceito de classe social elevando os
burgueses ao topo do poder. Palácio de Queluz, onde vivia a família real portuguesa, durante o verão
(século XVIII).

Arcadismo Depois que a nação portuguesa alcançou o apogeu,


entre os séculos XV e XVI, o país viveu um período de declínio
A partir da segunda metade do século XVIII, ao político, econômico e cultural que se estendeu por todo o sé-
lado das profundas transformações sociais e econômi- culo XVII. Com a chegada das ideias iluministas no século XVII,
cas que anunciavam revoluções intelectuais nas socie- contudo, Portugal renovou-se e modernizou-se. Na literatura,
dades europeias, desenvolve-se um novo estilo literário, a figura mais expressiva foi Manuel Maria du Bocage, um
o Arcadismo, que propunha uma volta à natureza, à dos melhores poetas portugueses de todos os tempos.
vida simples do campo em reverência ao bucolismo. Ao chegarem a Portugal, nas primeiras décadas
Opondo-se aos dilemas, exageros e rebusca- do século XVIII, as ideias iluministas entusiasmaram in-
mentos do Barroco, o Arcadismo retornou aos mo- telectuais, artistas e até mesmo o rei D. João V e seu
delos greco-latinos e à sua mitologia em busca de sucessor, D. José I, que desejavam modernizar o país.
simplicidade e harmonia. Um projeto de reformas políticas, econômicas,
A palavra arcadismo foi inspirada em Arcádia, educacionais e culturais voltado tanto a satisfazer os in-
uma lendária região grega habitada por pastores que teresses da burguesia mercantil e colonialista quanto a
cultivavam a poesia e a música, viviam de modo simples equiparar Portugal novamente às grandes nações euro-
e espontâneo e celebravam o amor e a natureza. peias foi posto em prática. À frente desse projeto esteve
Os poetas do arcadismo adotavam pseudônimos (na condição de ministro e com amplos poderes) o mar-
pastoris em homenagem à vida simples dos pastores da quês de Pombal, também adepto das ideias iluministas.
Arcádia, que viviam em comunhão com a natureza. Em
decorrência dessa retomada dos modelos clássicos, o
Arcadismo foi chamado também de Neoclassicismo,
Iluminismo português
um novo Classicismo.
De origem italiana, o Arcadismo foi inaugu- Pombal e Verney: a missão
rado com a fundação da Arcádia Romana, em 1690, de racionalizar Portugal
com a finalidade de combater o Barroco. Da Itália
difundiu-se para outros países, inclusive Portugal, e Pombal contou com o apoio de diversos inte-
da Metrópole portuguesa passou à Colônia. Em Por- lectuais e cientistas portugueses com formação estran-
tugal, a data inicial do Arcadismo é 1756, ano da geira. Nesse grupo destacou-se o padre Luis Antônio
fundação da Arcádia Lusitana, encerrada em 1825, Verney, cujo projeto de reforma pedagógica, aplicado
ano da publicação do poema Camões, de Almeida parcialmente por Pombal, mudou de modo significativo
Garrett, que deu início ao Romantismo. o cenário científico português.

62
As ideias de Verney foram expostas na obra o
“Verdadeiro método de estudar”, publicada em 1746.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Nela, o escritor ataca a orientação que os jesuítas da-
vam à educação e condena a arte de Camões, em cujas Cronologia biográfica
antíteses via traços da estética barroca. 1765 – Nasce em Setúbal, Portugal, Manuel Maria Du
Essas críticas deram origem a um amplo debate Bocage.
sobre a necessidade de renovar a cultura portuguesa. 1775 – Morte de sua mãe.
Em torno da questão estética da literatura, foram pu- 1781 – Foge de casa e torna-se soldado.
blicados inúmeros tratados, envolvendo temas como o 1783 – Muda-se para Lisboa, onde se engaja na Armada
belo e a verdade na arte. Em decorrência desse período Real Portuguesa e participa da vida boêmia da cidade.
de efervescência cultural, foi fundada a Arcádia Lusita- 1786 – Depois de uma viagem em que passou pelo Brasil,
na, em 1756, considerada o marco introdutório do Ar- chega a Goa, na Índia, uma das colônias portuguesas.
cadismo em Portugal. 1790 – Volta para Portugal.
1791 – Foi convidado para participar da Nova Ar-

Arcádias cádia.
1797 – Depois de preso sucessivamente, foi libertado
e transferido para o Convento do Oratorianos, onde foi,
As Arcádias eram academias literárias, espécies
aparentemente, levado ao abandono da irreverência.
de agremiações que tinham por objetivo promover deba-
1799 – Publica sua segunda obra de poesias, também
tes permanentes sobre a criação artística, avaliar critica-
com o título de Rimas.
mente a produção de seus filiados e facilitar a publicação
1804 – Publicação de uma terceira série de Rimas, com apoio
de suas obras.
e elogios da marquesa de Aloma, que passou a protegê-lo.
Portugal contou com duas importantes acade-
1805 – Morre em 21 de dezembro, como tradutor.
mias árcades: a Arcádia Lusitana, que efetivamente

Disponível em: <http://quadrogiz.blogspot.com.br>


deu início ao movimento árcade em Portugal, e a Nova
Arcádia (1790), que contou com o maior poeta portu-
guês do século XVIII: Bocage.
© Thomas Cole/Wikimedia Common

Manuel Maria Barbosa du Bocage

A trajetória de vida do poeta português Boca-


Sonho de Arcádia. Óleo sobre tela. Thomas Cole, 1838.
ge (1765-1805) foi muito parecida com a de Camões.
O gênero literário predominante durante o Ar-
Envolveu-se em polêmicas e em aventuras, dedicou-se
cadismo português foi a poesia, embora tenha havido
à vida boêmia, cultivou grandes amores e ingressou na
criação em todos os gêneros. Apesar da vasta produção
carreira militar, mas desertou e fugiu para a China.
do período, poucas são as obras que hoje interessam
Bocage passou para a história da literatura portugue-
ao leitor moderno, particularmente ao leitor brasileiro.
sa como um poeta erótico, embora sua poesia lírica árcade
seja superior. A obra Rimas, de 1791, valeu-lhe o convite para
a Nova Arcádia, onde usava o pseudônimo Elmano Sadino
(Elmano é um anagrama de Manoel, e Sadino é relativo ao rio
Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde o escritor nasceu).

63
Sua produção literária revela a ânsia pelo locus Camões, grande Camões, quão semelhante
amoenus, que simboliza a fuga da vida citadina (fugere Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
urbem). Prende-se aos valores literários do Arcadismo, .................................................................
cuja presença feminina é marcante com constantes Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...
citações de Marílias, Ritálias, Márcias, Gertrúrias. Há Se te imito nos transes da Ventura,
estudiosos que apontam Maria Margarida Rita Cons- Não te imito nos dons da natureza.
Hermâni Cidade. Ob. Cit., p. 149.
tâncio Alves como a grande paixão do poeta e a quem
fado: sorte, destino
são atribuídos os dois primeiros pseudônimos pastoris: ventura: sorte, destino
Marília e Ritália. Outra figura muito presente em sua
obra é Gertrúria, na verdade, Gertrudes Homem de No- Foi na lírica, em especial nos sonetos, que Boca-
ronha, conterrânea de Setúbal e a quem o poeta dedica ge atingiu o ponto alto de sua obra, embora também
muitos versos, o que leva a crer que tenha sido ela o tenha se destacado como poeta satírico e erótico.
grande amor de sua vida. Idílios marítimos, Rimas (três
volumes) e Parnaso bocagiano reúnem a produção lite-
rária de Bocage. Os sonetos de Rimas são o ponto alto
Bocage e a transição
de sua produção, comparável a de Camões. A solidão,
Bocage é considerado o melhor escritor português
a desilusão amorosa, o sentimento de desamparo e a
do século XVIII. Ao lado de Camões e de Antero de Quen-
dor de viver contagiaram de tal maneira sua poesia que
ela acabou se afastando da estética árcade – racional tal, é um dos três maiores sonetistas de toda a literatura
e pouco dramática – para se enveredar pelo campo portuguesa. Contudo, o título de melhor escritor da épo-
dramático e confessional, fato que inseriu Bocage num ca não significa que Bocage tenha sido o mais perfeito
contexto pré-romântico. árcade, papel que talvez caiba a Filinto Elísio. A impor-
Magro, de olhos azuis, carão moreno, tância conferida à obra de Bocage advém principalmente
Bem servido de pés, meão de altura, da tradução do momento transitório em que o escritor
Triste de facha, mesmo de figura, viveu, um período marcado por mudanças profundas,
Nariz alto no meio e não pequeno; como a Revolução Francesa (1789) e o florescimento do
.................................................................
Romantismo. Na totalidade, sua obra não é árcade nem
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento, romântica. É uma obra de transição, que apresenta simul-
E somente no altar amando os frades. taneamente aspectos de ambos os movimentos literários.
Hermâni Cidade. Bocage – a obra e o homem. 3. ed.
Lisboa: Arcádia, 1978. p. 25-26.
deidade: deusa
Lírica Arcádica:
facha: rosto
meão: mediano
A fase inicial da poesia de Bocage é marcada
Nesses versos, o poeta procura descrever a si por formas e temas próprios do Arcadismo: ambiente
mesmo. Neles, fica um aspecto marcante da vida e da bucólico – o fugere urbem –, o ideal de vida simples e
obra do autor: “Devoto incensador de mil deidades”, alegre – aurea mediocritas –, a simplicidade e a clareza
isto é, bajulador ou conquistador de mil moças. das ideias e da linguagem etc.
Além das inúmeras experiências amorosas,
Bocage também viveu aventuras nas colônias portugue-
sas da Índia (Goa) e da China (Macau). Como o au- Já se afastou de nós o Inverno agreste
tor de Os Lusíadas, Bocage também se incorporou em
companhias militares, lutou na guerra, naufragou, amou Já se afastou de nós o Inverno agreste
muitas mulheres, foi preso e morreu na miséria. Cons- Envolto nos seus húmidos vapores;
ciente dessas coincidências, Bocage perseguia o modelo A fértil Primavera, a mãe das flores
da vida e da obra de seu mestre. O prado ameno de boninas veste:
Varrendo os ares o subtil nordeste
Os torna azuis: as aves de mil cores

64
Adejam entre Zéfiros, e Amores, No poema abaixo, compõe-se um painel oposto ao
E torna o fresco Tejo a cor celeste; universo claro e equilibrado do Arcadismo. Em vez do equi-
líbrio, o pessimismo e a morte como saída para a angústia
Vem, ó Marília, vem lograr comigo
de viver; em vez de racionalismo, o predomínio absoluto da
Destes alegres campos a beleza,
emoção; em vez de objetividade, o subjetivismo.
Destas copadas árvores o abrigo:
Meu ser evaporei na lida insana
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo Meu ser evaporei na lida insana
Notando as perfeições da Natureza! Do tropel das paixões que me arrastava;
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Lírica pré-romântica Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana


Nessa lírica, não se observa o convencionalismo
Existência falaz me não dourava!
amoroso e o racionalismo dos árcades. Ao contrário dis-
Mas eis sucumbe a natureza, escrava
so, surge uma subjetividade e emoção que serão pró-
Do mal que a vida em sua origem dana.
prias do movimento literário posterior: o Romantismo.
No poema abaixo, vemos um eu lírico que, não Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
correspondido pela “cruel” amada, fala abertamente de Esta alma que sedenta em si não coube,
seus sentimentos em relações à morte, compondo um No abismo vos sumiu desenganos.
quadro macabro. Quadro esse completado pelos demais
Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roube,
“membros” da corte noturna – corujas, fantasmas – e Ganhe um momento o que perderam anos,
habitado também pelo eu lírico, num gesto de total de-
Saiba morrer o que viver não soube.
sespero e descontrole emocional. Hernâni Cidade. Ob. Cit., p. 113.

falaz: enganoso
Oh retrato da morte, oh noite amiga lida: luta
ufano: orgulhoso
Oh retrato da morte, oh noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha do meu pranto,
Poesia Satírica
De meus desgostos secretária antiga!
Embora seja considerada inferior à poesia lírica,
Pois manda Amor que a ti somente os diga, a produção satírica de Bocage foi uma das que mais se
Dá-lhes agasalho no teu manto; popularizou. Foi por meio desta poesia que o poeta re-
Ouve-se, como costumas, ouve, enquanto cebera a alcunha “O poeta Maldito”, já que tratava de
Dorme a cruel, que a delirar me obriga. temas de natureza grosseira, vulgar e obscena.

E vós, oh cortesãos da escuridade,


Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;


Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Mocho: coruja
Pio: piedoso

Hermâni Cidade. Ob. Cit., p.141-142.

65
Soneto do epitáfio
La quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marques, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
Que engrole “sub-venites” em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
“Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
Verbi-gratia: por exemplo
Engrolar: enrolar
Sub-venites: salmos
Gatarrão: gato
Gente de malta: gente de má fama, ralé
Outeiro: Colina, monte.

Dicas!

§§ Valorização da vida no campo (bucolismo)


§§ Crítica à vida urbana
§§ Objetividade
§§ Idealização da mulher amada
§§ Inutilia truncat (cortar o inútil)
§§ Locus amoenus (lugar agradável)
§§ Convencionalismo amoroso
§§ Aurea mediocritas (mediocridade áurea ou
ouro medíocre)
§§ Linguagem simples
§§ Emprego frequente de pseudônimos
§§ Pastoralismo
§§ Fugere urbem
§§ Carpe diem

66
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Bocage, O Triunfo do Amor

Filme inspirado na vida, obra e lenda do poeta português Manoel Maria


Barbosa du Bocage, símbolo libertário da sexualidade dos países de
língua portuguesa. Em um painel que abrange poemas de todos os
gêneros, o filme abre com o episódio baseado no poema que conta a
história da bela e requintada cortesã Manteigui que, ao apaixonar-se
pelo poeta indomável, acaba redimindo-se no amor.

Filme Bocage. Direção: Leitão de Barros, 1936

A figura do grande poeta português do século XVII, nascido em Setúbal


em 1765 e falecido em Lisboa em 1805, de que a tradição popular
irresistivelmente se apossou, é focada através de um esboço histórico
da autoria de Rocha Martins, tendo também para o efeito, escrito os
diálogos que comentavam a ação e feito os versos Gustavo de Matos
Sequeira e Pereira Coelho.

68
LER

Livros
Livros
Bocage - A Vida Apaixonada de um Genial Libertino

Depois do imenso fascínio que os seus romances anteriores – O


claustro do silêncio, O terramoto de lisboa e a invenção do mundo
e O amor infinito de Pedro e Inês – exerceram junto do público, Luis
Rosa volta a encantar-nos com um romance inspirado que nos seduz
pela riqueza da personalidade que evoca – Manuel Maria Barbosa
du Bocage. Um homem tumultuado, no que coabitam o sublime
e o prosaico, um espírito minado por inquietações vorazes que só
na poesia e no amor se apazigua. E é essa duplicidade do poeta
e da época em que lhe foi dado viver que o autor tão bem soube
captar e deixar impressa nestas páginas que nos falam de um gênio
irremediavelmente embriagado com a sensualidade, o amor e a vida.

OBRAS

Pinturas Bocage, em painel de azulejos

Bocage, em painel de azulejos, desenho de Louro de Almeida e Rogério Chora (1979),


em Setúbal (Centro Comercial do Bonfim)

69
Estrutura Conceitual

ARCADISMO PORTUGAL –
BOCAGE
1
O Arcadismo está no período histórico
2 do Iluminismo e pode ser chamado de
Neoclassicismo.
Como era característico dos árcades, Bocage
usava um pseudônimo: Elmano Sadino.
Referência a um anagrama de seu primeiro
nome e ao rio Sado que corta a província de
Setúbal, sua cidade natal.
Bocage viveu na Índia de
3 1786 a 1790, passando por
Goa, Damão e Macau,
O poeta foi encarcerado no Limoeiro,
acusado de crime de lesa-majestade

5 4 por entregar panfletos apologistas a


Rev. Francesa bem como poemas
Em função de uma vida eróticos.
pouco regrada, sua saúde
debilitou-se rapidamente
no seu último ano de vida
(1805).

70
17 18
Arcadismo no Brasil
e nativismo épico

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
Commons
ed a Co
© Wikimedia
k medi
Wiki onss
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Comm

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Minas Gerais e o ciclo do ouro
O Arcadismo brasileiro teve origem e expressão principalmente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), em Minas
Gerais, cuja manifestação se relaciona diretamente com o grande crescimento urbano no século XVIII nas cidades
mineiras e a expansão econômica graças à extração de ouro.
Em cidades maiores, cresciam a divulgação de ideias políticas e o florescimento da literatura. Jovens brasilei-
ros das camadas mais privilegiadas da sociedade costumavam ser mandados a Coimbra, em Portugal, para estudar.
Aqui, na Colônia, não havia cursos superiores. Ao retornarem de Portugal, traziam ideias que faziam fermentar a
vida cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro marquês de Pombal, adepto de
algumas ideias iluministas.
Em Vila Rica, essas ideias levaram vários intelectuais e escritores a sonhar com a independência do Brasil,
principalmente após a repercussão do movimento de independência dos Estados Unidos das América (1776), so-
nhos esses que culminaram na frustrada Inconfidência Mineira (1789).

Arcadismo na Colônia: entre o local e o universal


Os escritores brasileiros do século XVIII tinham
uma postura bastante peculiar em relação ao Arcadismo
importado de Portugal. Por um lado, procuravam obede-
cer aos princípios estabelecidos pelas academias literá-
rias portuguesas, bem como se inspiravam em escritores
clássicos consagrados, como Camões, Petrarca e Horá-
cio. Paralelamente, com vistas a elevarem a literatura
da Colônia ao mesmo grau das literaturas europeias e
a conferir a ela mais universalidade, tentavam eliminar
vestígios pessoais ou locais.
Por fim, acabaram por apresentar em suas obras
aspectos diferentes dos prescritos pelo modelo impor-
tado. A natureza, por exemplo, aparece na poesia de
Cláudio Manuel da Costa como mais bruta e selvagem
do que na poesia europeia; o mito do “homem natural”
culminou, entre nós, na figura do índio, personagem

73
das obras de Basílio da Gama e Santa Rita Durão; a por portugueses e espanhóis, e o Caramuru, de
expressão dos sentimentos, em Tomás Antônio Gonzaga Santa Rita Durão, narra as aventuras do portu-
e Silva Alvarenga, é mais espontânea e menos conven- guês Diogo Álvares Correia, que aprisionado
cional. Esses aspectos característicos da poesia árcade pelo tupinambás na costa brasileira, viveu entre
nacional foram mais tarde recuperados e aprofundados os selvagens e casou-se com uma indígena.
pelo Romantismo, movimento que buscou definir uma
identidade nacional à nossa literatura.
Além dessa espécie de adaptação do modelo eu-
ropeu a das peculiaridades locais, não se pode esquecer
da forte influência barroca exercida no Brasil ainda du-
rante o século XVIII. As igrejas de Ouro Preto de então
só tiveram sua construção concluída quando o Arcadis-
mo já vigorava na literatura.
Entre os autores árcades brasileiros, destacam-se: Os árcades e a Inconfidência
§§ líricos: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antô-
nio Gonzaga e Silva Alvarenga. Os escritores árcades mineiros Tomás Antonio
§§ épicos: Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa
Cláudio Manuel da Costa. participaram diretamente do movimento da Inconfidên-
§§ satíricos: Tomás Antônio Gonzaga. cia Mineira. Chegados de Coimbra com ideias enciclo-
§§ encomiásticos: Silva Alvarenga e Alvarenga pedistas e influenciados pela independência dos EUA,
Peixoto.
eles não apenas se somaram aos revoltosos contra a
A poesia laudatória ou encomiástica, gênero poéti-
exploração pelo erário régio, que confiscava a maior
co de exaltação, foi muito praticada no século XVIII e serviu
parte do ouro extraído da Colônia, mas também ajuda-
de veículo para ideias políticas relacionadas ao Iluminismo.
A primeira obra árcade publicada no Brasil foi ram a divulgar os sonhos de um Brasil independente e
Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. contribuíram para a organização do grupo inconfidente.

Peculiaridades do
Arcadismo brasileiro
§§ Apego aos valores da terra. Esse apego era
oferecido pela localização geográfica do “grupo
mineiro”, em quem brotou um nativismo que se
incorporou ao ideário da estética bucólica, em voga
no Arcadismo. Emergido da natureza brasileira, ser-
viu de pano de fundo para a poesia dos “pastores”.
§§ Sátira à corrupção. Em Cartas chilenas, Tomás Desse grupo, apenas um homem não tinha a
Antonio Gonzaga fez circular a sátira política em mesma formação intelectual dos demais nem era escri-
manuscritos anônimos, criticando a exploração tor, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes –
portuguesa e a corrupção dos governos coloniais, alcunha que recebeu por ser dentista prático –, maçom
o que revela significativa consciência política do Ar- e simpatizante dos ideais iluministas.
cadismo brasileiro graças à consciência política do Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que devia vul-
“grupo mineiro”. tosas somas ao governo português, os inconfidentes foram
§§ Incorporação do indígena. Os poemas épi- presos. À exceção de Tiradentes, todos negaram ter participa-
cos, O Uraguai, de Basílio da Gama, narram a luta ção do movimento. Segundo versão oficial, Cláudio Manuel
contra indígenas e jesuítas e são protagonizados da Costa teria se suicidado na prisão antes do julgamento.

74
Tiradentes, que assumiu para si a responsabilidade O poema apresenta inversões na ordem dos ter-
da liderança do grupo, e Alvarenga Peixoto foram conde- mos da frase (Nise, a matutina aurora, já rompe o negro
nados à morte por enforcamento. Tomás Antônio Gonzaga manto com que a noite escura tinha escondido a chama
e outros, condenados ao exílio temporário ou perpétuo. brilhadora, sufocando a face pura do Sol) e figuração
No dia 20 de abril de 1792, foi comutada a pena (“negro manto”, para noite, e “chama brilhadora”,
de todos os participantes do movimento, menos a de para Sol) tipicamente barrocas.
Tiradentes, enforcado no dia seguinte. Seu corpo foi es-
quartejado e as partes expostas por Vila Rica. Os bens
foram confiscados, a família, amaldiçoada por quatro
gerações e o chão de sua casa foi salgado para que nele
nenhuma planta voltasse a nascer.

Cláudio Manuel da Costa:


a consciência árcade

O pai do Arcadismo brasileiro


Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), também
conhecido pelo pseudônimo de Glauceste Satúrnio, nas- Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio (pseudônimo)
ceu em Mariana, Minas Gerais. Depois de estudar no
Destes penhascos fez a natureza
Brasil com os jesuítas, completou os estudos em Coim-
O berço, em que nasci: oh quem cuidara.
bra, onde se formou advogado. Tomou contato com as Que entre penhas tão duras se criara
renovações da cultura portuguesa empreendidas por Uma alma terna, um peito sem dureza.
Pombal e Verney, bem como com os novos procedimen-
Quando cheios de gostos, e de alegria
tos literários adotados pela Arcádia Lusitana.
Estes campos diviso florescentes,
De volta ao Brasil, o jovem trabalhou em Vila Rica
Então me vêm as lágrimas ardentes
como advogado e administrador. Sua carreira de escritor
Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.
teve início com a publicação de Obras poéticas. Em 1789,
foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira e Aquele mesmo objeto, que desvia
preso. Pouco tempo depois, foi encontrado morto na pri- Do humano peito as mágoas inclementes,
são. A alegação oficial para sua morte foi a de suicídio. Esse mesmo em imagens diferentes
Com ampla formação cultural, Cláudio liderou o Toda a minha tristeza desafia.
grupo de escritores árcades mineiros e soube dar con-
Se das flores a bela contextura
tinuidade, apesar das limitações da Colônia, à tradição
Esmalta o campo na melhor fragrância,
de poetas clássicos. Seus sonetos apresentam notável
Para dar uma ideia de ventura;
afinidade com a lírica de Camões.
Como, ó Céus, para os ver terei constância,
Em virtude dessas ligações com a tradição clássica,
Se cada flor me lembra a formosura
sua obra é a que melhor se ajustou aos padrões do Arca-
a bela causadora de minha ânsia?
dismo europeu. Há nela também influências do Barroco:
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Org.).
Poema de Cláudio Manuel da Costa.
Já rompe, Nise, a matutina aurora São Paulo: Cultrix, 1976, p. 72.

O negro manto, com que a noite escura,


constância: firmeza, ânimo
Sufocando do Sol a face pura, contextura: ligação, firmeza
Tinha escondido a chama brilhadora. divisar: avistar
inclementes: severas, rigorosas
ventura: sorte, felicidade

75
O autor cultivou a poesia lírica e épica. Na lírica, des-
Tomás Antônio Gonzaga:
taca-se o tema da desilusão amorosa. A situação mais comum
observada em seus sonetos é a de Glauceste, o eu lírico pastor,
a renovação árcade
que se lamenta em razão de não ser correspondido por sua Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) é o mais
musa inspiradora, Nise, ou de encontrar-se num lugar de gran- popular dos poetas árcades mineiros, e sua obra ainda
hoje é lida com interesse. Nascido no Porto, em Portugal,
de beleza natural sem a companhia da mulher amada.
veio ainda menino com a família para a Bahia, onde vi-
Nise é uma personagem fictícia incorpórea, pre-
veu e estudou até a juventude. Posteriormente, fez o cur-
sente apenas pela citação nominal. Não se manifesta so de Direito, em Coimbra, e, como Cláudio Manuel da
na relação amorosa, não há nenhuma demonstração de Costa, lá estabeleceu contato com as ideias iluministas e
correspondência às invocações do eu lírico. Apenas repre- árcades. Escreve uma obra filosófica em homenagem ao
senta o ideal da mulher amada inalcançável – nítido tra- marquês de Pombal: Tratado de Direito Natural.
De volta ao Brasil, passou a viver em Vila Rica,
ço de reaproveitamento do neoplatonismo renascentista.
onde exerceu a função de ouvidor. Iniciou ali sua ativi-
Na poesia épica, o poema Vila Rica é inspirado dade literária e sua relação amorosa com Maria Doro-
nas epopeias clássicas, que trata da penetração ban- teia de Seixas, uma jovem então com 16 anos, cantada
deirante, da descoberta das minas, da fundação de Vila em seus versos com o pseudônimo de Marília.
Rica e das revoltas locais. Hoje, no conjunto da obra do Em 1789, acusado de participar da Inconfidência,
Gonzaga foi preso e mandado ao Rio de Janeiro, onde ficou
autor sobrepõe-se a lírica:
encarcerado até 1792, quando foi exilado para Moçambi-
que. Apesar dos sofrimentos passados na prisão, Gonzaga
Enfim serás cantada, Vila Rica, levou na África uma vida relativamente tranquila. Lá, casou-
Teu nome alegre notícia, e já clamava; -se, enriqueceu e ainda se envolveu com a política local.
Viva o senado! viva! repetia
Itamonte, que ao longe o eco ouvia.

A poesia de Cláudio Manuel da Costa também


contempla elementos da paisagem local: o ribeirão do
Carmo, rio que corta a região; os vaqueiros, em lugar de
pastores gregos; as montanhas e os vales; e as constan-
tes referências às penhas, pedras que sugerem o am-
biente agreste e rústico de Minas Gerais.

A arte e a vida
Comparada a dos demais poetas árcades brasi-
leiros, a poesia de Tomás Antônio Gonzaga apresenta
inovações que apontam para uma transição do Arcadis-
mo para o Romantismo.
Incorporando muito de sua experiência pessoal à
poesia, escrita antes e durante a prisão, Gonzaga con-
seguiu quebrar a rigidez dos princípios árcades. Em con-
Ouro Preto, de Guignard. traposição à contenção dos sentimentos, sua poesia é
mais emotiva e espontânea. Em vez de apresentar uma

76
mulher irreal, como a Nise, de Cláudio Manuel da Costa,
sua Marília se mostra mais humana, próxima e real:

Na sua face mimosa,


Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubis mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.

Os temas árcades do distanciamento da mulher


amada e do sofrimento dele decorrente não são, em
Gonzaga, meros temas clássicos convencionais, mas
assumem feição de pura verdade, poemas escritos en-
quanto o poeta se encontrava preso:

Estou no inferno, estou, Marília bela;


e numa coisa só é mais humana Lira 77
a minha dura estrela;
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro
uns não podem mover do inferno os passos;
fui honrado pastor da tua aldeia;
eu pretendo voar e voar cedo
vestia finas lãs e tinha sempre
à glória dos teus braços.
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Essas experiências dão à obra de Gonzaga mais nem tenho a que me encoste um só cajado.
subjetividade, espontaneidade e emotividade – traços apro-
fundados pelo Romantismo. Suas obras reúnem Marília de Para ter que te dar, é que eu queria
Dirceu (poesia lírica) e Cartas chilenas (poesia satírica). de mor rebanho ainda ser o dono;
prezava o teu semblante, os teus cabelos
ainda muito mais que um grande trono.
Agora que te oferte já não vejo,
além de um puro amor, de um são desejo.

Se o rio levantado me causava,


Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava, apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
de ver-te ao menos compassivo o rosto.
Fonte de suspiros, Ouro Preto, MG
Ah! Minha bela, se a fortuna volta.
A poesia lírica: Marília de Dirceu Se o bem, que já perdi, alcanço e provo
Por essas brancas mãos, por essas faces
A poesia lírica é a parte mais conhecida da produ- Te juro renascer um homem novo,
ção literária de Tomás Antônio Gonzaga. São popularmen- Romper a nuvem que os meus olhos cerra,
te conhecidos, principalmente na região de Minas Gerais, Amar no céu a Jove e a ti na terra!
e até explorados pela literatura de cordel os amores entre Se não tivermos lãs e peles finas,
Marília e Dirceu (pseudônimo pastoral de Gonzaga). podem mui bem cobrir as carnes nossas

77
as peles dos cordeiros mal curtidas, O texto a seguir, de Tomás Antônio Gonzaga, é
e os panos feitos com lãs mais grossas. constituído por fragmentos da “Carta 2a”, na qual Cri-
Mas ao menos será o teu vestido tilo narra a seu amigo Doroteu o comportamento de
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido. Fanfarrão Minésio na cidade de Santiago.
Nas noites de serão nos sentaremos
cos filhos, se os tivermos, à fogueira: Não cuides, Doroteu, que brandas penas
entre as falsas historias, que contares, me formam o colchão macio e fofo;
lhes contarás a minha, verdadeira. não cuides que é de paina a minha fronha
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto, e que tenho lençóis de fina holanda,
ainda o rosto banharei de pranto. com largas rendas sobre os crespos folhos;
custosos pavilhões, dourados leitos
A poesia satírica: Cartas chilenas e colchas matizadas não se encontram
na casa mal provida de um poeta,
O poema satírico, incompleto, Cartas chilenas, aonde há dias o rapaz que serve
circulou em partes pela cidade de Vila Rica, entre 1787- nem na suja cozinha acende o fogo.
1788. Depois da Inconfidência Mineira, essas cartas desa- Mas nesta mesma cama tosca e dura,
descanso mais contente do que dorme
pareceram, o que fez supor que seus autores ou seu autor
aquele só põe o seu cuidado
fosse um dos poetas árcades presos, Cláudio Manuel da
em deixar a seus filhos o tesouro
Costa, Tomás Antônio Gonzaga ou Alvarenga Peixoto. Es-
que ajunta, Doroteu, com mão avara,
tudos estilísticos do português Rodrigues Lapa atribuem
furtando ao rico e não pagando ao pobre.
a autoria delas a Tomás Antônio Gonzaga. Aqui... mas onde vou, prezado amigo?
A omissão da autoria nas Cartas chilenas decorre Deixemos episódios que não servem,
do risco resultante de seu conteúdo. Elas satirizavam os des- e vamos prosseguindo a nossa história.
mandos administrativos e morais de Luiz da Cunha Meneses, Apenas, Doroteu, o nosso chefe
que governou a capitania de Minas entre 1783 e 1788. as rédeas manejou do seu governo,
A obra é um jogo de disfarces. Fanfarrão Minésio fingir nos intentou que tinha uma alma
é o pseudônimo do governo; chilenas equivale a minei- amante da virtude. Assim foi Nero.
ras; Santiago, de onde são assinadas, equivale a Vila Governou aos romanos pelas regras
Rica. O autor das cartas é identificado como Critilo, e da formosa justiça, porém logo
trocou o cetro de ouro em mão de ferro.
seu destinatário, Doroteu.
Manda, pois, aos ministros lhe deem listas
As Cartas chilenas são a principal expressão sa-
de quantos presos as cadeias guardam:
tírica da literatura colonial do século XVIII. Trilhando os
faz a muitos soltar e aos mais alenta
caminhos abertos por Gregório de Matos, Gonzaga dá
de vivas, bem fundadas esperanças.
continuidade à irregular tradição satírica de nossa lite-
ratura, ao mesmo tempo que oferece à historiografia Estranha ao subalterno, que se arroga
um rico painel social e político daqueles dois anos que o poder castigar ao delinquente
precederam a Inconfidência Mineira. com troncos e galés, enfim, ordena
que aos presos, que em três dias não tiveram
Embora a crítica do poema tenha como alvo apenas
assentos declarados, se abram logo
o governador e seus assessores, não o colonialismo portu-
em nome dele, chefe, os seus assentos.
guês propriamente, fica clara a fragilidade da estrutura po-
Aquele, Doroteu, que não é santo,
lítica colonial e os abusos de poder praticados pela Coroa.
mas quer fingir-se santo aos outros homens,
Apesar da suposição de que o poema tenha sido pratica muito mais do que pratica
escrito para ser distribuído em Vila Rica em forma de quem segue os sãos caminhos da verdade.
panfleto, sua qualidade apresenta certa regularidade. Ra- Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
ramente cai no panfletário. O poema mantém certa atu- abre os braços em cruz, a terra beija,
alidade, acostumados que estamos a muitos fanfarrões. entorta o seu pescoço, fecha os olhos,

78
faz que chora, suspira, fere o peito e conseguiu uma façanha única entre os brasileiros da
e executa outras muitas macaquices, época: ingressar na Arcádia Romana, na qual assumiu o
estanho em parte onde o mundo as veja. pseudônimo de Termindo Sipílio.
Assim o nosso chefe, que procura
Em 1767, voltou ao Rio de Janeiro, onde foi
mostra-se compassivo, não descansa
preso no ano seguinte acusado de ter ligação com os
com estas poucas obras: passa a dar-nos
da sua compaixão maiores provas. jesuítas. Um decreto de então condenava ao exílio em
O povo, Doroteu, é como as moscas Angola quem mantivesse comunicação oral ou escrita
que correm ao lugar, aonde sentem com os jesuítas.
o derramado mel; é semelhante Preso, Basílio da Gama foi levado a Lisboa. Livrou-
aos corvos e aos abutres, que se ajuntam -se da prisão graças a um poema em homenagem à filha
nos ermos, onde fede a carne podre.
do conde de Oeiras, futuro marquês de Pombal. A amiza-
À vista, pois, dos fatos, que executa
de lhe rendeu novos contatos com os árcades portugue-
o nosso grande chefe, decisivos
ses e permitiu-lhe escrever sua obra máxima, O Uraguai.
da piedade que finge, a louca gente
de toda a parte corre a ver se encontra
algum pequeno alívio à sombra dele. O Uraguai
(In: Tomás Antônio Gonzaga. São Paulo: Abril Educação, 1980. p.
66-70. Literatura Comentada.
Publicado em 1769, O Uraguai é tematiza a luta
de portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas que,
instalados nas missões jesuíticas do atual Rio Grande do
Sul, não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri.

Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, MG

Basílio da Gama e o
nativismo indianista
Basílio da Gama (1741-1795) nasceu na cida-
de que hoje é chamada Tiradentes, em Minas Gerais. A quebra do modelo clássico
Estudou em colégio jesuíta, no Rio de Janeiro, e tinha
intenção de ingressar na carreira eclesiástica. Comple- A luta travada por portugueses e espanhóis
tou seus estudos em Portugal e na Itália, no período contra índios e jesuítas é narrada por Basílio da Gama,
em que os jesuítas foram expulsos dos domínios portu- desde os preparativos até a conclusão. Os cantos apre-
gueses. Na Itália, Basílio construiu uma carreira literária sentam a seguinte sequência de fatos:

79
§§ Canto I: as tropas aliadas reúnem-se para com- Quem é o verdadeiro herói da história?
bater os índios e os jesuítas.
§§ Canto II: o exército avança e há uma tentativa de Pelo fato de O Uraguai ser uma obra de intenções
negociação com os chefes indígenas Sepé e Ca- épicas, seria de esperar que em nada tivessem destaque os
cambo. Sem acordo, trava-se a luta, que termina movimentos de guerra e os atos de heroísmo. Contudo, não
com a derrota e a retirada dos índios. é o que se verifica. Ao contrário, a própria guerra chega a ser
§§ Canto III: Cacambo ateia fogo à vegetação em questionada como meio de atuação política, o que revela
volta do acampamento aliado e foge para sua uma postura tipicamente iluminista do autor, cujas ideias
aldeia. O padre Balde, vilão da história, faz pren- coincidem com as de seu amigo Marquês de Pombal.
der e matar Cacambo para que seu filho sacrílego
Baldeta possa casar-se com Lindoia, esposa de Vinha logo de guardas rodeado,
Cacambo, e tomar a posição do chefe indígena Fonte de crimes, militar tesouro,
morto. Em uma visão, Lindoia prevê o terremoto Por quem deixa no rego o curto arado
de Lisboa e a expulsão dos jesuítas por Pombal. O lavrador, que não conhece a glória:
E vencendo a vil preço o sangue e a vida
§§ Canto IV: no mais bonito dos cinco cantos são re-
Move, e nem sabe por que move a guerra.
tratados os preparativos do casamento de Baldeta
com Lindoia. Chorando a morte do marido, não
O herói português Gomes Freire de Andrade, líder das
quer casar-se. Entra num bosque e deixa-se picar
tropas luso-espanholas, também não mostra o
por uma cobra venenosa. Chegam os brancos,
entusiasmo dos heróis épicos tradicionais:
que cercam a aldeia. Todos fogem. Antes, porém,
os padres mandam queimar as casas e a igreja.
§§ Canto V: o líder português Gomes Freire de An- ...Descontente e triste
drada prende os inimigos na aldeia próxima. Há Marchava o General: não sofre o peito
Compadecido e generosa a vista
referências ao domínio universal da Companhia
Daqueles frios e sangrados corpos,
de Jesus e a seus crimes.
Vitimas da ambição de injusto império
Escrito em apenas cinco cantos em versos bran-
cos (sem rima) e sem estrofação, O Uraguai não segue a
estrutura camoniana de Os Lusíadas. Embora apresente O genocídio de Sete Povos das Missões
as cinco partes tradicionais das epopeias – proposição,
invocação, dedicatória, narração e epílogo – o poema O Tratado de Madri (1750) determinava uma
inicia com a ação em pleno desenvolvimento: troca de territórios: os portugueses que viviam na colô-
nia de Sacramento – hoje parte do Uruguai – deveriam
Fumam ainda nas desertas praias desocupar a região e instalar-se nos sete povoados,
Lagos de sangue tépidos e impuros chamados Sete Povos, pertencentes a Portugal e ocu-
Em que ondeiam cadáveres despidos.
pados por índios. Em troca, a Espanha teria soberania
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
sobre as Tordesilhas. Provavelmente influenciados pelos
O rouco som da irada artilheria.
jesuítas, os indígenas que ocupavam aqueles povoados
não queriam passar ao domínio português. Diante do
O fato de o autor tratar de um episódio histórico impasse, os governos português e espanhol se uniram
recente – na época ocorrido havia pouco mais de dez para intervir militarmente na região. Foram necessárias
anos – revela outro aspecto que diferencia O Uraguai duas investidas para que conseguissem seu objetivo – a
dos poemas épicos tradicionais. segunda narrada em O Uraguai. Essas lutas ocasiona-
ram a morte de alguns milhares de índios e constituem
um dos principais genocídios do país.

80
Que alegre cena para os olhos! Podem
Daquela altura, por espaço imenso,
Ver as longas campinas retalhadas
De trêmulos ribeiros, claras fontes,
E lagos cristalinos, onde molha
As leves asas o lascivo vento.
Engraçados outeiros, fundos vales,
Verde teatro, onde se admira quanto
Produziu a supérflua Natureza.

Apesar da postura critica à guerra manifesta pelo


autor, o fato histórico narrado não é alterado. Espanhóis
e portugueses saem vencedores da guerra. Do lado ini-
migo, apenas os jesuítas são tratados no poema como
verdadeiros vilões – outro traço da obra que satisfaz os
Ruínas da igreja de São Miguel das Missões, RS, palco das lutas
interesses do marquês de Pombal. Os índios derrotados narradas em O Uraguai.
são vistos com simpatia, talvez até como vítimas da ação
A valorização do índio e da natureza selvagem do
jesuítica na região e dos conflitos que dela resultaram.
Brasil corresponde ao ideal de vida primitiva e natural cultiva-
Destacadas a força e a coragem do indígena, a derrota
do pelos iluministas e pelos árcades. Esses aspectos nativistas
se deve apenas à desigualdade de armas. O índio seria uma es-
prenunciam as tendências do Romantismo, no século XIX.
pécie de herói moral da luta, dadas suas qualidades de caráter:

Fez proezas Sepé naquele dia. José Santa Rita Durão:


Conhecido de todos, no perigo
Mostrava descoberto o rosto e o peito retomada do modelo clássico
Forçando os seus co exemplos e coas palavras.

Lindoia. José Maria de Medeiros, 1882.


O poema não enfatiza a guerra em si, nem as
ações dos vencedores, nem os vilões jesuítas – tratados O frei Santa Rita Durão (1722-1784) nasceu em
caricaturalmente. Ganham destaque a descrição física Mariana, Minas Gerais. Como Basílio da Gama, estu-
e moral do índio, o choque de culturas e a paisagem dou no colégio dos jesuítas e completou seus estudos
nacional. Há passagens de forte lirismo, como a do epi- em Portugal. Lá, ingressou na vida religiosa e tornou-se
sódio da morte de Lindoia: professor de Teologia.

81
Afirmando que a razão do poema Caramuru era O tema de Caramuru
“o amor à pátria”, Santa Rita, embora tenha passado
a maior parte de sua vida em Portugal, confirma a ten- O poema narra as aventuras, em parte históri-
dência nativista de seu poema. cas, em parte lendárias, do náufrago português Diogo
Álvares Correia, o Caramuru. Em meio às aventuras do
protagonista, o autor aproveita para fazer uma longa
descrição das qualidades da terra:

Não são menos que as outras saborosas


As várias frutas do Brasil campestres;
Com gala de ouro e púrpura vistosas
Brilha a mangaba e os mocujés silvestres.

Costumes indígenas enfocados pela óptica cristã:


Moema. Vitor Meireles, 1832.
(Inspirada na personagem de Santa Rita Durão.)
Que horror da humanidade! ver tragada
Da própria espécie a carne já corruta!
Caramuru: um retrocesso?
Quando não deve a Europa abençoada
A fé do Redentor, que humilde escuta!
Publicado em 1781, doze anos depois de O Ura-
guai, é provável que Santa Rita tenha sido estimulado
pela publicação de Basílio da Gama, ainda que haja di- Caramuru, como O Uraguai, apresenta, em meio
ferenças fundamentais entre os dois poemas. à narrativa épica, momentos líricos de significativa be-
Religioso, Santa Rita não é antijesuíta como o leza, nos quais, ao lado de aspectos próprios da cultura
colega. Valoriza a ação catequética de natureza inteira- indígena, aparece o tema universal da morte por amor.
mente cristã dos jesuítas junto aos índios.
As liberdades formais e líricas de que Basílio da Caramuru: o “homem de fogo”
Gama se serve são ignoradas por Santa Rita. Caramuru
obedece rigidamente ao modelo camoniano: são dez
cantos, com estrofes em oitava-rima, versos decassíla-
bos e estrutura convencional. Como em Camões, recor-
re às mitologias cristã e pagã – representada por deu-
ses indígenas, em vez de deuses greco-latinos.
Apesar de distante do Brasil desde os nove anos,
o autor procura retratar a natureza brasileira, ao descre-
ver o clima, a fertilidade da terra, as riquezas naturais.
Alia-se à tradição dos cronistas e viajantes que descreve-
ram a colônia no século XVI. Interessa-se particularmen-
te pelo indígena, descreve seus costumes e instituições e
ressalta sua catequese. Contudo, seu poema revela certo
artificialismo próprio de quem leu sobre o país, mas não
vivenciou o que descreve. Caramuru é considerado um
poema inferior a O Uraguai e, de certa forma, um retro-
cesso sob o ponto de vista temático e estilístico.

82
Ao naufragar na costa brasileira em 1510, Diogo
Álvares Correia foi aprisionado pelos tupinambás. Certa Em negro sangue o lívido veneno.
vez, pegou num mosquete e atirou num pássaro, ma- Leva nos braços a infeliz Lindoia
tando-o. Os índios, que não conheciam armas de fogo, O desgraçado irmão, que ao despertá-la
ficaram impressionados com a detonação e gritaram Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
“Caramuru! Caramuru!”, vocábulo que significa “ho-
Pelo dente sutil o brando peito.
mem de fogo” ou “dragão saído do mar”. Diogo viveu
Os olhos, em que Amor reinava, um dia.
entre os índios tupinambás, na Bahia, no século XVI,
Cheios de morte; e muda aquela língua
e desposou Paraguaçu, ambos personagens do poema
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Caramuru. De acordo com a lenda, confirmada pela ver-
Contou a larga história de seus males.
são de Santa Rita, Diogo foi resgatado por uma nau
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
francesa e, em companhia de Paraguaçu, levado à Corte E rompe em profundíssimos suspiros,
francesa, de onde, posteriormente, partiu para Portugal. Lendo na testa da fronteira gruta
A seguir, veja trechos retirados de O Uraguai, de Basílio De sua mão já trêmula gravado
da Gama (Texto I), e Caramuru, de Santa Rita Durão (Texto II). O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes respeito
O suspirado nome de Cacambo.
Texto I
Inda conserva o pálido semblante
Canto IV - Morte de Lindoia
Um não sei quê de magoado e triste.
Entram enfim na mais remota e interna Que os corações mais duros enternece.
Parte de antigo bosque, escuro e negro, Tanto era bela no seu rosto a morte!
Onde ao pé de uma lapa cavernosa In: CÂNDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Cobre uma rouca fonte, que murmura, Ob. cit., p. 150-151, v.1.

Curva latada de jasmins e rosas.


Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido Texto II
Para morrer a mísera Lindóia.
Os chefes indígenas oferecem as filhas a
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores, Diogo Álvares para se honrarem com seu paren-
Tinha a face na mão e a mão no tronco tesco. O lusitano aceita o parentesco, mas não as
De um fúnebre cipreste, que espalhava donzelas, por fidelidade a Paraguaçu. Tomado por
Melancólica sombra. Mais de perto saudades da Europa, embarca numa nau france-
Descobrem que se enrola no seu corpo sa. Moema, uma Índia apaixonada pelo português,
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge desesperada de ver partir com Paraguaçu, tenta
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. acompanhá-lo, nadando.
Porém o destro Caitutu, que treme – “Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...
Do perigo da irmã, sem mais demora
Porém o tigre, por cruel que brame,
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes (...)
Acha forças amor, que enfim o domem; (...)
(...) Soltar o tiro, e vacilou três vezes
(...) Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
O arco e faz voar a aguda seta,
Como não consumis aquele infame?
Que toca o peito de Lindoia, e fere
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Ah! Que corisco és tu... raio... penhasco!
Deixou cravados no vizinho tronco.
Tão jura ingratidão menos sentira
Açouta o campo côa ligeira cauda
E esse fado cruel doce me fora.
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se o meu despeito triunfar não vira
Se enrosca no cipreste, e verte envolto

83
Essa indígena, essa infame, essa traidora. Ode ao marquês de Pombal
Por serva, por escrava, te seguira.
Não os heróis, que o gume ensanguentado
Se não temera de chamar senhora
da cortadora espada,
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia,
em alto pelo mundo levantado,
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.
trazem por estandarte
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
dos furores de Marte;
Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
Ensanguentados rios, quantas vezes
Nem o passado amor teu peito incita
vistes os férteis vales
A um ai somente, com que aos meus respondas.
semeados de laças e de arneses?
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
Que importam os exércitos armados,
(Disse, vendo-o fugir) ah! Não te escondas
no campo com respeito conservados,
Dispara sobre mim teu cruel raio...”
se lá do gabinete a guerra fazes
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
e a teu arbítrio dás o tom às pazes?
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
que, sendo por mão destra manejada,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
a política vence mais que a espada.
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Que importam tribunais e magistrados,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
asilos da inocência,
Mas na onda do mar, que, irado, freme,
se pudessem temer-se declarados
Tornando a aparecer desde o profundo,
patronos da insolência?
– Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa, – e sem
De que servirão tantas
mais vista ser, sorveu-se na água.”
tão saudáveis leis, sábias e santas,
In: CIDADE, Hernâni. Santa Rita Durão.
Rio de Janeiro: Agir, 1957. p. 87-88. se, em vez de executadas,
forem por mãos sacrílegas frustradas?
Mas vives tu, que para o bem do mundo
Alvarenga Peixoto: sobre tudo vigias,
cansado teu espírito profundo,
o pombalismo e a colonização as noites e os dias.
Ah! quantas vezes, sem descanso uma hora,
Autor de poemas líricos e laudatórios – em ho-
vês recostar-se o sol, erguer-se a aurora,
menagem a alguém –, estes talvez sejam o melhor da enquanto volves com cansado estudo
produção de Alvarenga Peixoto. Veiculam ideias filo- as leis e a guerra, e o negócio, e tudo?
sóficas e políticas em discussão na época. Abordou o Vale mais do que um reino um tal vassalo:
pombalismo, a exploração colonialista, o nativo, a paz, graças ao grande rei que soube achá-lo.
a importância do saber e da razão. CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Ob. cit., p. 172-174.

Silva Alvarenga:
a poesia nativista e sensual
Silva Alvarenga (1749-1814), autor de Glaura, des-
tacou-se pelo cultivo de rondós e madrigais em que há forte
musicalidade e elementos da fauna e flora nacionais: beija-
-flor, pomba, cobra, onça, mangueiras, cajueiros, jambeiros.
Em razão desses traços, sua poesia é considerada nativista
com fortes indícios de transição para o Romantismo.

84
O beija-flor Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade;
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Não estimo a liberdade,
Submergida em doce calma;
Busco os ferros por favor.
E a minha alma ao bem se entrega,
Não me julgues inocente,
Que lhe nega o teu rigor.
Nem abrandes meu castigo;
Neste bosque alegre e rindo
Que sou bárbaro inimigo,
Sou amante afortunado,
Insolente e roubador.
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor. Deixo, ó Glaura, a triste lida
Todo o corpo num instante Submergida em doce alma;
Se atenua, exala e perde: E a minha alma bem se entrega,
É já de oiro, prata e verde Que lhe nega o teu rigor.
A brilhante e nova cor. CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José A.
Ob. cit., p. 179-180.
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe negar o teu vigor.

Vejo as penas e a figura,


Provo as asas, dando giros;
Acompanham-me os suspiros,
e a ternura do Pastor.

E num voo feliz ave


Chego intrépido até onde
Riso e pérolas esconde
O suave e puro Amor.

Deixou, ó Glaura, a triste lida


Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Toco o néctar preciso,


Que a mortais não se permite;
É o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor;

Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço;
Não me assusta o terno laço,

É fingido o meu temor.

Deixo, ó Glaura, a triste lida


Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

85
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Os Inconfidentes

O filme retrata a Inconfidência Mineira, movimento político do século


18 do Estado de Minas Gerais. Faziam parte do grupo de conspiradores
contra o domínio colonial português poetas e nobres, incluindo o padre
e o coronel da guarnição.
O dentista Tiradentes é o escolhido para dar exemplo aos rebeldes que
se levantavam contra a Coroa portuguesa. Seus cúmplices, apesar de
terem confessado, não assumem responsabilidades. O único a fazer
isso é Tiradentes, que acaba sendo condenado à morte. (76 min.)

Filme Tiradentes

A trajetória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Humberto


Martins), líder da Inconfidência Mineira, um movimento surgido em
Vila Rica (Ouro Preto) em 1789. Tiradentes sonhou junto com amigos
e intelectuais ver o Brasil independente do domínio português, mas
esbarrou na traição de Joaquim Silvério dos Reis (Rodolfo Bottino).

Filme Caramuru - A invenção do Brasil

Em 1º de janeiro de 1500, um novo mundo é descoberto pelos europeus,


graças a grandes avanços técnicos na arte náutica e na elaboração de
mapas. É neste contexto que vive em Portugual o jovem Diogo (Selton
Mello), pintor que é contratado para ilustrar um mapa e, por ser
enganado pela sedutora Isabelle (Débora Bloch), acaba sendo punido
com a deportação na caravela comandada por Vasco de Athayde (Luís
Mello). Mas a caravela onde Diogo está acaba naufragando ele, por
milagre, consegue chegar ao litoral brasileiro. Lá ele conhece a bela
índia Paraguaçu (Camila Pitanga) com quem logo inicia um romance
temperado posteriormente pela inclusão de uma terceira pessoa: a índia
Moema (Déborah Secco), irmã de Paraguaçu.

86
LER

Livros
Arcadismo - Col. Roteiro da Poesia Brasileira

O Arcadismo, estilo dominante no século XVIII, vincula traços do Iluminismo


à convenção pastoril que evoca. Configura em Portugal a atitude geral
neoclássica, mas com divergências em relação ao padrão geral, como a
ausência de anticlericalismo. Associam-se nas manifestações da poesia, o
árcade bucolismo, o culto das normas ditadas pela antiguidade clássica,
presentes nas artes e nos manuais da época, que preconizam o retorno ao
equilíbrio e à simplicidade dos modelos greco-romanos, diretamente ou a
partir do renascimento. No Brasil, evidenciou-se, nas manifestações poéticas,
de forma peculiar: sem o rococó, pré-romantismo e dimensões nativistas.

Cláudio Manuel da Costa - Laura de Mello e Souza

O mineiro Cláudio Manuel da Costa, consagrado pelos versos de Vila Rica,


poema dedicado à fundação da capital “das Minas Gerais”, é revisitado de
maneira inovadora nesse perfil biográfico escrito por Laura de Mello e Souza,
que lança uma nova perspectiva sobre a vida, a obra e o destino do poeta
brasileiro.
O leitor é transportado à Minas Gerais do século XVIII, onde Cláudio
Manuel da Costa exerceu a carreira de advogado paralelamente à de poeta,
engajando-se também no movimento da Inconfidência Mineira. Um dos
temas mais polêmicos de sua biografia, sua morte, cujas circunstâncias nunca
foram totalmente esclarecidas, que continua a motivar muita especulação.

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OBRAS

Pinturas Tiradentes esquartejado / A prisão de Tiradentes

Tiradentes esquartejado. Por Pedro Américo, 1893.

A prisão de Tiradentes. Por Antônio Diogo da Silva Parreiras, 1914.

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CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 16 - Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de cons-


trução do texto literário.

Esta habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas, no caso
o conceito de uma escola literária específica. A construção dos procedimentos literários estão
ligados aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto
em relação à concepção artística do contexto.

Modelo
(Enem)

Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera.
(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul 2012.)

No soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma


reflexão em que transparece uma
a) angústia provocada pela sensação de solidão.
b) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

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Análise Expositiva

Habilidade 16
Esta questão, como acenado na habilidade e competência específica, constitui-se um pres-
suposto de que o estudante deva conhecer o contexto (escola literária do Arcadismo), em
função do autor e de sua concepção de escrita (no caso os tradicionais sonetos de Cláudio
Manuel da Costa). O soneto deste poeta é representativo de algumas características árcades:
o fugere urbem, o bucolismo e locus amoenus, presentes no retorno ao campo e no desejo de
vida tranquila que em outro momento o eu-lírico vislumbrara, como se vê em: “Uma fonte
aqui houve”/ (...) “Árvores aqui vi florescentes”. A busca por tranquilidade se contrapõe à
realidade, uma vez que o eu lírico revela ter encontrado um lugar diverso daquele presente
em sua memória: “Eu me engano: a região esta não era; / Mas que venho a estranhar, se estão
presentes /Meus males, com que tudo degenera.”.
Alternativa E

Estrutura Conceitual

2
Os poetas árcades encontram inspiração
ARCADISMO BRASIL nas terras mineiras, principalmente Vila
3
NATIVISMO ÉPICO Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias.
Os principais escritores brasileiros desse

1 O estilo literário árcade no Brasil tem período são: Cláudio Manuel da Costa,
início com a publicação das Obras poéticas
de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
4 Santa Rita Durão, Basílio da Gama e
Tomás Antônio Gonzaga
Autor do poema épico Caramuru
(1781), Freire Santa Rita Durão foi
poeta e orador, considerado um dos
precursores do indianismo no Brasil. 6
Apesar de Tomás Antônio Gonzaga ter
nascido em Portugal, a cidade de

5 Marília – no Paraná –, recebe esse


nome em homenagem à obra “Marília
Basílio da Gama é autor do poema épico de Dirceu” do escritor.
O Uraguai (1769), nesse texto, aborda
as disputas entre os europeus, os
jesuítas e os índios. (Tratado de
Madrid).

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