Há poucas pesquisas sobre procrastinação, em relação à importância do tema e
fora do ambiente acadêmico. No entanto, são comuns comportamentos como deixar de fazer porque há dificuldade, atrasar uma tarefa importante com resultados menores quando feitos após certo prazo, atrasar ações em benefício de alguma coisa fácil e rápida e que provoque menos ansiedade. Também, o conceito social, de comparecer no horário para realizar trabalho e para não dispor do tempo do outro e atrapalhar seus planejamentos, parece, inexistente na cultura brasileira. Destaca-se, especialmente, quando o inicio do trabalho, depende do grupo comparecer em maioria ou de seu chefe. O atrasar pode ter conseqüências imprevistas para cada um. Os psicólogos evitam, em suas pesquisas sobre procrastinar, o inconveniente de pesquisas de campo e longas. Fazem pesquisas com estudantes e em ambiente acadêmico, sendo poucas em laboratório. Encontramos, problemas metodológicos a serem resolvidos, tanto em pesquisas com pequenos grupos como também em uma fábrica. As contingências em instituições j dificultam o procrastinar pelas sanções sociais e resultados da produção exigida. Em trabalho com pequenos grupos, durante seis meses, Kerbauy ( 1996), mostra ser possível instalar comportamentos de fazer tarefas, baseando-se em regras, organização do tempo e discriminação de reforçadores sutis, em contrapartida a reforçadores de maior valor e a longo prazo. A desistência do programa é pequena, aproximadamente 10%. O registro detalhado de comportamento especificando hora e conseqüência em relação a adiar ou fazer, mostrou-se um dos componentes fundamentais para autoconhecimento e fazer v mudanças. A identificação de regras desadaptadas, embora requeiram maior tempo, são ' eficazes na mudança de repertório. Os reforçadores grandes e a longo prazo são os nomeados, mas são difíceis ou quase impossíveis de serem empregados em programas de curto prazo, como viagens, por exemplo. Aprender a discriminar pequenos reforçadores inerentes à própria atividade é auxiliar de manutenção de mudanças. Conclui-se por desenvolver programas de 1 0 a 1 2 semanas e com avaliação dos resultados através de relatos e registros.
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O pesquisador, ao estudar comportamentos complexos, utiliza paradigmas experimentais de comportamentos, para identificar as variáveis que influenciam o comportamento escolhido. Estando completa ou não, essa investigação, a necessidade dos contextos clínicos e educacionais, obriga a utilização dos dados já encontrados. O circulo se completaria, com a volta ao laboratório, para identificação clara das variáveis relevantes. Nesse processo haveria destaque para certos pontos que ainda não tinham sido completamente esclarecidos e busca de explicitar a influência do ambiente para a instalação e manutenção do comportamento. O estudo da procrastinação ou adiamento ó ligado ao de autocontrole. Ao conceber autocontrole, como a pessoa controlando variáveis das quais se comportamento é função, quando há conflito entre contingências positivas e negativas, e não como um traço de personalidade ou de característica inata das pessoas, que acompanhariam todo seu desenvolvimento, Skinner (1953/1967) fez uma proposta que produziu pesquisas. Destacam- se as de Mischel e colaboradores (1989) e Rachlin e colaboradores (1972,2000). Considero, no entanto, que a análise de Ferster (1962) sobre o comportamento alimentar, desenvolveu uma área que tem sua influência até hoje, embora seu artigo, na maior parte das vezes, não seja mencionado. Ouvi dizer, que é pela falta de dados, sendo somente uma análise. Mas ó análise, com ênfase em variáveis ambientais envolvidas no comportamento alimentar. É a primeira retomada do conceito de autocontrole após o capitulo XV de Skinner (1953/ 1966) em ciência e comportamento humano e a primeira aplicação do conceito, se excluirmos Walden Two (1948), por ser livro de ficção. Mesmo Goldiamond (1965), com sua aplicação em casos clínicos, que ele chamou de procedimentos de autocontrole em problemas pessoais, e nos quais trabalhou com controle de estímulo fazendo planejamentos ambientais, não apresentou o problema da procrastinação. No entanto, mostrava em seu artigo, como a análise de autocontrole era uma ferramenta para tratar de inúmeros problemas. A aplicação do conceito de autocontrole para analisar procrastinação ó bem posterior. Apesar de Skinner (1953/1967) destacar que a pessoa passa a controlar parte de seu próprio comportamento quando a resposta leva tanto a reforçamento positivo quanto negativo e esclarecer que tem conseqüências que provocam conflito, as pesquisas foram poucas e sobre procrastinação inexistentes, até os primeiros estudos em ambiente universitário. No entanto procrastinar ó um problema de autocontrole. De fato, um mesmo comportamento tem a possibilidade de ser reforçado ou punido (comer e deliciar-se ou engordar), tem uma história pessoal de conseqüências aversivas (come certa quantidade de alimentos e engorda). Há uma contingência em curso, que se o comportamento controlador, de baixa freqüência, ocorrer, muda as condições ambientais e a probabilidade da resposta controlada. No caso da procrastinação, temos o comportamento de adiar o inicio ou interromper trabalhos iniciados, ser reforçado ou punido, pela atratividade da tarefa alternativa e a aversividade de não ter feito a esperada. Existe também uma história pessoal, de por exemplo, perder prazos, não entregar trabalho em dia, ficar angustiado por não ter completado o trabalho e achar que não dará tempo ou fará melhor. Se for possível a emissão de um comportamento de baixa freqüência até aquele momento, como sentar-se à escrivaninha e se propor a escrever dois parágrafos, aumentará reforçadores presentes e a motivação para evitar punições. Esse lapso, nessa seqüência, é completado por regras, especialmente nas pessoas verbais, ou por discriminação de reforçadores sutis.
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1. Maneiras objetivas de analisar a procrastinação. Várias abordagens de psicologia teorizaram sobre procrastinação, propuseram definições salientando o sucesso e a maneira de atingi-lo ou atividades como relaxamento para diminuir a ansiedade. No entanto, os comportamentalistas, desde o inicio, apesar de poucos estudos sobre procrastinação, excluíram o papel de fatores de personalidade e focalizaram na aprendizagem e nos hábitos adequados, no que era possível fazer. Wallace (1977) analisando as técnicas de autocontrole de escritores famosos, dismistifica a força de vontade, a inspiração misteriosa para escrever e mostra como ó um comportamento como outro qualquer, sujeito aos princípios de aprendizagem. Sem serem comportamentalistas esses escritores utilizavam, por exemplo, registros e esquema de horário de trabalho regular para acelerar e manter o escrever. Portanto se pensarmos dessa maneira, a análise das contingências do comportamento daquela pessoa e o emprego cuidadoso e lógico de técnicas de terapia comportamental podem resolver esse problema. Dillon, Kent e Malott (1980) empregaram um plano de supervisão sistemática em 1 2 pós-graduandos para manter um trabalho regular de redação de tese. Os estudantes encontravam-se com o supervisor. Também, com estudantes no mesmo processo de redação de teses, especificavam quais as atividades necessárias, e todas as etapas, tendo feedback para seu progresso á medida que atingiam os objetivos intermediários. Esse estudo não apresenta seguimento. Suponho que os estudantes entregaram a tese no prazo. De fato, além do programa, há as contingências da pós graduação e a necessidade do titulo para obtenção de empregos. As contingências naturais da situação são poderosas. Continuando essa linha de estudos, M alott, Whaley e Malott (1992) falando das pesquisas com um sistema de supervisão e analisando porque o sistema funciona, afirmam ser pelo fato de prover manipulação de desempenho. Necessita-se desse sistema quando as contingências naturais são insuficientes para dar condições para o comportamento adequado, o que é freqüentemente o caso de dissertações e teses, cartas e até mesmo... cartões postais. Malott e colaboradores trabalham, em clientes verbais, com a adição de contingências que atuam indiretamente. Suplementam regras difíceis de seguir com outras fáceis. Fazem contratos, empregando resultados definidos e mensuráveis. Essas regras especificam as perdas e têm um limite de tempo para procrastinar. Por exemplo, se tem trabalho para segunda feira pode procrastinar até sexta feira às 1 0 horas, o que deixará tempo hábil, para completar a tarefa. Se não fizer, não escrever, pode tornar-se muito aversivo, por não poder escovar o dente e perder dinheiro. Como o pensamento do que ocorrerá torna-se aversivo ele diminui essa aversividade fugindo e produzindo palavras escritas. Portanto o sistema funciona porque produz regras claras sobre os resultados prováveis e definidos. Essas regras tornam-se operações estabelecedoras para garantir o reforçamento de fazer a tarefa. Os autores salientam a necessidade do limite de tempo para que as regras estabeleçam adesão. Boice (1996) pergunta por que essas pesquisas são pouco citadas e qual seu efeito prático. Considera que o controle é tão forte e poderoso que pode aborrecer a pessoa em vez de ajudá-la. Consideramos esse um ponto a ser pesquisado, pois explicaria, por exemplo, mesmo sem tantos controles, porque as teses são pouco publicadas. Evidentemente, há múltiplos controles. Esse autor tem um conceito de procrastinação, ligando-o ao conceito de bloqueio, e questiona porque as coisas escritas sobre esses dois conceitos, são geralmente anedóticas, e com poucas pesquisas, quando esses comportamentos dificultam os
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tratamentos de doenças e o termino de trabalhos relevantes. Pergunta se não seria um grande tema da psicologia, que não foi examinado, sendo mal compreendido Com os escritores, e sua ansiedade e bloqueio ao escrever, Salovey e Haar (1990) em um estudo no laboratório, compararam técnicas cognitivas como inoculação de stress e enfrentamento, escrever livremente, no laboratório, com um grupo de controle, em lista de espera. Iniciaram o estudo com convite para 100 pessoas, após as desistências terminaram com 43 participantes escolhidos pelo auto-relato de ansiedade e bloqueio. Os resultados para os dois grupos foram próximos quanto a melhorar o escrever e os autores destacam a necessidade de estudar ansiedade para escrever devido à importância desse comportamento no mundo atual. Nurnberger e Zimmerman (1970) empregaram "esquiva produtiva" para forçar, um professor assistente que não escrevia há dois anos, a escrever. Utilizaram um procedimento usado na época, de enviar o cheque (guardado em poder do experimentador) para uma organização detestada, caso não escrevesse a quota combinada. Escreveu. Há, na literatura, planejamentos ambientais e com reforçadores positivos. Hall e Hursch (1982) convenceram quatro professores universitários que atrasavam prioridades, a colocar um horário em sua porta para limitar interrupções. Dois permaneceram mais nas tarefas necessárias e dois não. Boice (1982) conseguiu bons resultados com acadêmicos que, se escrevessem a cada dia, tinham acesso a reforçadores como ler jornais ou esquiva de punidores como não poder tomar banho. Skinner (1980) em suas notas sobre autocontrole, no livro organizado por Epstein, diz que escrever a primeira parte de um parágrafo ó difícil porque o escritor não tem uma audiência. Quando alguma coisa foi escrita, serve de estímulo discriminativo evocando a escrita que se segue. Esta é outra explicação, pois escrever tende a ser reforçado em esquema de razão, e uma pausa após reforço, pode ser devido às condições nas quais o reforço, não foi obtido. Para “começar" precisa ter condições especiais de reforçamento. Skinner aconselha até papeis de cores diferentes, pois ao completar uma página e mudar a cor, pode ser reforçador. Parece, portanto, que o escrever e suas dificuldades têm fascinado os psicólogos, talvez principalmente aqueles que escrevem. Continuando seus estudos sobre procrastinação, e tendo encontrado anteriormente que a procrastinação depende da estimativa de tempo, das contingências existentes e que provoca comportamentos emocionais negativos, como ansiedade e raiva, Kerbauy (1996,1997) conduziu um grupo. Eram seis universitários voluntários que compareceram a seis sessõçs, durante seis semanas, e dois alunos de graduação, que auxiliaram o pesquisador. As sessões foram gravadas e transcritas. Após explicar o objetivo da pesquisa, estudar procrastinação e sua ocorrência, solicitou-se o registro de tarefas. O primeiro registro foi sobre tarefas a serem realizadas e se foi feita ou adiada. Foram acrescentadas novas colunas no registro, dependendo das discussões do grupo e da necessidade de compreender o comportamento de procrastinar. Foram acrescentadas colunas com notas de zero a dez, para avaliar a habilidade e atratividade da tarefa. Também coluna sobre a emoção produzida por fazer ou adiar a tarefa. Os resultados mostraram que a procrastinação depende mais da atratividade da tarefa do que da habilidade para realizar. Ao hierarquizar as dificuldades e condições em que ocorre procrastinação, em seu caso particular, os participantes preferem realizar as atividades sociais que, em sua experiência, propiciaram conseqüências emocionais positivas. Quando as contingências são especificadas a tarefa é mais realizada. As conseqüências aversivas fracas parecem não auxiliar na emissão do comportamento esperado, provavelmente por não favorecer a esquiva. Também a
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especificação de regras facilita a execução da atividade. Fazer a tarefa é acompanhado do registro de alívio, bem estar, felicidade, palavras explicadas em detalhe, pelos participantes. Não fazer a tarefa é acompanhado de decepção, "dor de consciência", insegurança e irritação. Somente um participante relatou não se preocupar. Conclui-se pela vantagem de grupos pequenos e importância do registro, para compreender o comportamento de procrastinar e as contingências.. Os universitários, acadêmicos e escritores são sujeitos de estudos. Será que os outros trabalhos não propiciam adiamento? Kerbauy e colaboradores têm analisado diversas condições. Hamasaki e Kerbauy (2001) investigaram quanto à prevenção e os cuidados com a saúde poderiam estar relacionados com a procrastinação. Através de entrevistas com 31 participantes de 18 a 67 anos e de ambos os sexos encontraram que as explicações para adiar exames médicos são: outras prioridades e falta de informação sobre prevenção e tempo dispendido. Os check up e a prevenção de câncer ginecológico são os exames mais realizados, mas 16 participantes assumiram o adiamento. Há relato de emoções semelhantes ao adiamento de outras atividades de vida cotidiana, encontradas em outros estudos. Com Enumo (1995) (1999) e seus alunos, foi possível, entre outros estudos, entrar em uma indústria e fazer o questionário usual, das pesquisas anteriores, sobre o que é adiar e o que fazem para não adiar tarefas e descrição de algumas contingências. Entrevistaram funcionários com várias funções na empresa. O adiamento era praticamente impossível em tarefas mais controladoras. O adiar a entrada no serviço era inexistente, pois há cartão de ponto e desconto dos atrasos. Novamente, aqui, observa-se a tarefa sendo controlada pelas regras claras e quase impedindo a procrastinação. Concluindo, diriamos que as pesquisas com procrastinação empregam ques tionários, entrevistas, registros e relatos, declaração de planejamentos e realização ou não, observação de atividades planejadas e se são realizadas naquele local e hora. A análise das contingências do procrastinar varia de acordo com os locais e atividades e culturas bem como os reforços ou punições para as ações feitas ou não. Devido à importância para inúmeras atividades, de prevenção de problemas de saúde a entregar relatórios ou trabalhos em dia e pagar contas sem juros, o trabalho preventivo e as pesquisas são atuais. Portanto, saindo da área de clinica, em que se iniciou, poderá se constituir um campo de prevenção e desenvolvimento humano.
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