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RICOUER, Paul. Percurso do reconhecimento.

Nós nos aproximaremos ainda mais do que gosto de chamar de pequeno milagre do
reconhecimento se discernimos a solução do mais antigo enigma da problemática da memória,
a saber, o da representação presente de uma coisa ausente. O reconhecimento consiste na
resolução efetiva desse enigma da presença da ausência graças à certeza que o acompanha: “É
ela! É ele!” O que faz do reconhecimento o ato mnemônico por excelência. Mas com isso o
enigma não é tornado ainda mias impenetrável no plano educativo? [...] Se uma lembrança
voltou, foi porque eu não a havia perdido; mas se, apesar de tudo, eu a reencontrei e a
reconheci, foi porque sua imagem havia sobrevivido (p. 137)

Havíamos então postulado a existência da lembrança “pura” como um estado virtual da


representação do passado anterior à sua vinda em imagens. É preciso agora atribuir a essa
lembrança pura, além da virtualidade e da inconsciência, uma existência comparável à que
atribuímos às coisas exteriores quando não as percebemos. A distinção entre o passado e o
presente é dada no próprio reconhecimento em que os elementos retornam “com seu contorno,
sua cor e seu lugar no tempo” [...] É o enigma completo da presença da ausência que é
reafirmado: decidir sobre o presente, reconhecer como uma lembrança (p. 127)

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