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CANDAU-Didática - Entre Saberes - Sujeitos e Práticas
CANDAU-Didática - Entre Saberes - Sujeitos e Práticas
Resumo
A Didática tem uma longa trajetória histórica, sempre relacionada com os diferentes
contextos sócio-políticos e culturais, as diferentes concepções de educação e das
relações entre escola e sociedade. Ao longo de sua história, tem sido objeto de ardorosas
discussões, controvérsias e intensas buscas. O presente texto, depois de um breve
apontamento sobre a história da Didática, centra sua reflexão sobre seu papel para a
construção de uma escola comprometida com o direito à educação e a uma
aprendizagem significativa que seja efetiva para todas as crianças e jovens do nosso
país, em suas diferentes idades, identidades e etnias. Distingue diferentes abordagens
sobre a qualidade de educação que hoje disputam nos contextos educacionais e sociais:
uma perspectiva que enfatiza os conteúdos cognitivos presentes nos processos de
escolarização e trabalha sua organização e desenvolvimento nas diversas áreas
curriculares, outra centrada nas habilidades técnicas e operacionais necessárias para a
inserção em uma sociedade marcada pelo mercado e a competitividade e uma terceira,
sócio-crítica e intercultural, que privilegia a construção de sujeitos capazes de uma
atuação cidadã e transformadora na nossa sociedade. A partir desta terceira posição,
apresenta os conceitos de conhecimento, escola, ensino, aprendizagem e educador/a em
que se baseia. Relaciona esta abordagem com o mapa conceitual sobre educação
intercultural construído pelo GECEC (Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e
Cultura(s)), vinculado à PUC-Rio,que vem norteando as pesquisas que esta equipe da
pesquisa vem realizando. Propõe princípios que orientem uma Didática que assuma esta
perspectiva. Levanta questões que se colocam para uma formação de educadores, inicial
e continuada, que assuma esta proposta.
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Introdução
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resposta aos interrogantes atuais da sociedade, dos educadores/as, das crianças e jovens
sobre o sentido da escolarização em suas vidas. Pretendo identificar sinteticamente as
principais concepções de qualidade da educação hoje presentes no discurso educacional
e situar as possíveis contribuições da didática numa perspectiva sociocrítica e
intercultural de enfrentamento das questões atuais que desafiam nossas escolas, a partir
das reflexões desenvolvidas pelo Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e
Culturas (GECEC), vinculado ao Departamento de educação da PUC-Rio, com o apoio
de CNPq.
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inclusão dos grupos marginados na sociedade vigente, contudo sua lógica estrutural não
é colocada em questão. São estas as visões da qualidade de educação que hoje, em geral,
se expressam com maior força nas nossas sociedades.
No entanto, é possível perguntar: podemos entender a qualidade da educação em
outro marco conceitual e ideológico? Situo-me entre aqueles educadores e educadoras
que acreditam que sim. Na verdade, há várias experiências em curso que utilizam outros
parâmetros. Partem da convicção profunda de que a educação escolar pode colaborar
com processos de transformação estrutural da sociedade. Assumem uma perspectiva
crítica e intercultural. Afirmam a importância da educação como direito humano que
não pode ser reduzido a um produto que se negocia na lógica do mercado. Defendem o
papel do Estado na democratização da educação e se opõem às formas diretas e indiretas
de privatização da escola pública. Lutam pela valorização da profissão docente e pelo
reconhecimento dos movimentos promovidos por educadores e educadoras. Propõem
“reinventar” a escola, seus espaços, tempos, organização, dinâmicas etc.
Assumo esta perspectiva. Sou consciente de que ela já está sendo construída no
dia a dia de muitas escolas e salas de aula, por muitos educadores e educadoras, ao
longo de todo o país. É nesta busca que situo as possíveis contribuições da didática.
A didática tem uma longa trajetória histórica, sempre relacionada com os diferentes
contextos sociopolíticos e culturais, as diferentes concepções de educação e as relações
entre escola e sociedade. Ao longo de sua história, da Didática Magna (1631) de
Comênio, considerada o ponto de partida da construção da didática moderna, até hoje,
tem sido objeto de ardorosas discussões, controvérsias e intensas buscas.
Centrarei estes breves apontamentos no seu desenvolvimento entre nós,
especialmente a partir dos anos 80, isto é, do seminário “A Didática em Questão”,
realizado em 1982, que está completando, portanto, 30 anos. No entanto, considero
fundamental, para uma visão ampla do desenvolvimento da didática a partir dos anos 50
do século 20, a leitura do livro de Magda Soares (1991), baseado no seu memorial do
concurso para professora titular de didática da UFMG, “Metamemória - Memórias:
travessia de uma educadora”, certamente uma produção fundamental para se
compreender o processo vivido nesta etapa.
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Neste sentido, me sinto provocada a trazer questões que venho trabalhando nos
últimos anos, especialmente a partir da última década, que me parecem estar
demandando um novo olhar, uma nova leitura para as questões do campo da didática.
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didática, certamente com caráter preliminar e provisório. Convém ter presente que estas
categorias estão inter-relacionadas e concebidas de modo articulado.
A primeira categoria, sujeitos e atores, refere-se à promoção de relações tanto
entre sujeitos individuais, quanto entre grupos sociais integrantes de diferentes grupos
socioculturais. A interculturalidade crítica fortalece a construção de identidades
dinâmicas, abertas e plurais, assim como questiona uma visão essencializada de sua
constituição. Potencia os processos de empoderamento, principalmente de sujeitos e
atores inferiorizados e subalternizados e a construção da autoestima, assim como
estimula a construção da autonomia num horizonte de emancipação social.
Neste sentido, é importante que as práticas educativas partam do reconhecimento
das diferenças presentes na escola e na sala de aula, o que exige questionar os processos
de homogeneização, que invisibilizam e ocultam as diferenças, reforçando o caráter
monocultural das culturas escolares.
Romper com este daltonismo cultural (Cortesão e Stoer, 1999, p.56) e ter
presente o arco-íris das culturas nas práticas educativas supõe todo um processo de
desconstrução de práticas naturalizadas e enraizadas no trabalho docente para sermos
educadores/as capazes de criar novas maneiras de situar-nos e intervir no dia a dia de
nossas escolas e salas de aula. Exige valorizar as histórias de vida de alunos/as e
professores/as e a construção de suas identidades culturais, favorecendo a troca o
intercâmbio e o reconhecimento mútuo, assim como estimular que professores/as e
alunos/as se perguntem quem situam na categoria de “nós” e quem são os “outros” para
eles. Esta categoria também convida à interação da escola com os diferentes grupos
presentes na comunidade e no tecido social mais amplo, favorecendo uma dinâmica
escolar aberta e inclusiva.
Quanto à categoria de saberes e conhecimentos, sem dúvida, tem uma especial
importância para a didática. Parto da afirmação da ancoragem histórico-social dos
diferentes saberes e conhecimentos e de seu caráter dinâmico, o que supõe analisar suas
raízes históricas e o desenvolvimento que foram sofrendo, sempre em íntima relação
com os contextos nos quais este processo se vai dando e os mecanismos de poder nele
presentes. Em consonância com Koff (2009, p.61), assumo a posição que afirma que
mais do que discutir se estes termos são sinônimos ou não, o importante é reconhecer a
existência de diversos saberes e conhecimentos no cotidiano escolar e procurar
estimular o diálogo entre eles, assumindo os conflitos que emergem desta interação.
Trata-se de uma dinâmica fundamental para que sejamos capazes de desenvolver
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Considerações Finais
Retomo agora algumas das reflexões que desenvolvi neste texto. Uma escola de
qualidade para todos e todas ainda não foi conquistada. No momento atual está
pressionada e desafiada por muitas questões. Não se trata de enfrentá-las através de um
mero ajuste ou reforma de alguns aspectos específicos de sua configuração, reduzindo
sua problemática à gestão e maior controle através de sistemas de medição de
determinadas aprendizagens.
Assumo a perspectiva de que é necessário “reinventar a escola”, para que possa
ser mais significativa e relevante para os tempos pós-modernos em que vivemos.
Reinventar exige ressignificar e construir uma nova configuração. A dimensão cultural
vem adquirindo especial relevância, em todos os âmbitos, do político ao escolar. A
consciência de que igualdade e diferença se exigem mutuamente é cada vez mais forte.
Os diferentes grupos socioculturais, particularmente os historicamente
marginalizados e silenciados, vêm adquirindo continuamente crescente visibilidade e
questionam a escola. A reflexão didática não pode estar alheia a esta problemática. A
partir da perspectiva crítica, na qual estou enraizada, considero que a interculturalidade
é central para se avançar na produção de conhecimentos e práticas orientados a
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Referências
OLIVEIRA, Maria Rita N. S. 20 anos de ENDIPE. In: CANDAU, Vera Maria e outros.
Didática, Currículo e Saberes Escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000, p.161-176.
NOVAK, J. e CAÑAS, A. Building on new constructivist ideas and map tools to create
a new model for education. In: NOVAK, J., CAÑAS, A. GONZÁLES, F. M. (Eds.).
Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping. Pamplona,
Spain, 2004. Disponível em: http://cmc.ihmc.us/papers20040285; acessado em 7 de
janeiro de 2009.
SARLO, Beatriz . Escenas de la vida posmoderna. Buenos Aires: Seix Barral, 2004.
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Na produção acadêmica da área de educação sobre as distintas tendências pedagógicas, a perspectiva
tradicional é em geral apontada como a de maior vigência no desenvolvimento histórico da escolarização
em diferentes países. Para alguns autores, a dificuldade de construir estratégias pedagógicas adequadas
para enfrentar os desafios colocados hoje às escolas e aos/as educadores/as está provocando, em muitos
contextos, o fortalecimento desta perspectiva.
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