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Mídia e Educação
Blog para quem se interessa por comunicação e educação, jornalismo, infância, direitos
humanos, educação midiática, educomunicação, media and information literacy (MIL)
/alfabetização midiática e informacional (AMI). Este blog pertence à Iandé Comunicação e
Educação.
Ele fala, ainda, sobre os equipamentos básicos necessários para a produção de programas
de rádio em uma escola, o curso de licenciatura em Educomunicação criado pela Escola de
Comunicações e Artes da USP, em 2009 e o Projeto Educom.rádio, em funcionamento,
desde 2001, na rede municipal de ensino de São Paulo.
Jornal do Professor – Quais os benefícios que a utilização de uma rádio na escola pode
trazer para o ensino e a educação?
Ismar de Oliveira Soares – Os benefícios são de duas ordens: didática e política. Para o
processo de aprendizagem, numa perspectiva didática, uma rádio na escola abre a
possibilidade de um tratamento diferenciado tanto para as atividades interdisciplinares e
extraclasses, quanto para o desenvolvimento dos conteúdos curriculares, permitindo aos
alunos lidar com novas linguagens. Favorece, especialmente, as propostas de ensino
integral, como se constata pela preferência das escolas vinculadas ao macrocampo
“Comunicação e uso de Mídias”, do programa Mais Educação do MEC, pela mídia rádio. Já
numa perspectiva mais complexa, sob o ponto de vista da educomunicação, a prática da
linguagem radiofônica é um excelente recurso na construção do que definimos como
“ecossistema comunicativo aberto e democrático”. Em outras palavras, uma rádio na
escola favorece o exercício de relacionamentos igualitários e colaborativos entre todos os
membros da comunidade educativa, envolvendo professores e alunos. Isso ocorre,
naturalmente, quando os educadores valorizam o trabalho em grupo e não as iniciativas
isoladas deste ou daquele pequeno gênio. O grande benefício, no caso, passa a ser de
natureza política: os alunos acabam aprendendo que existem outras formas de produzir
https://www.midiaeducacao.com/2012/03/ismar-de-oliveira-soares-usp-uso.html 1/8
08/05/2023, 15:09 Ismar de Oliveira Soares (USP): uso educomunicativo do rádio pode trazer alegria e autoconfiança
JP – Quais as habilidades que o projeto de uma rádio pode desenvolver com professores
e alunos?
JP – De que maneira o professor pode utilizar essa ferramenta na sala de aula? Quais os
conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio dela?
I. O. S. – Podemos falar em “ferramentas” e em “conteúdos” quando pensamos no uso
deste recurso no contexto da prática de ensino. No caso, a primeira disciplina a ser
beneficiada é a língua portuguesa, favorecendo, por exemplo, a compreensão da diferença
entre a língua culta e a linguagem popular. Através da produção de pequenos programas de
rádio podem ser experimentadas as várias opções de expressão, do gênero descritivo ao
opinativo, em formatos, os mais variados, enriquecidos com a mixagem de linguagens, em
que a voz humana é associada aos cenários sonoros oferecidos pela música instrumental e
cantada. Outras disciplinas, especialmente as que privilegiam as narrativas, como a
história e a geografia, ou mesmo atividades interdisciplinares, como as voltadas para a
educação em valores ou a educação ambiental, apresentam-se como espaços naturais para
o uso da linguagem radiofônica. No entanto, entendemos que a presença de uma rádio na
escola pode representar o primeiro passo para uma mudança mais profunda na maneira de
educar e ser educado: a autogestão do conhecimento sobre o próprio processo de
comunicação: o uso educomunicativo do rádio pode trazer para a escola a alegria do
pertencimento e a autoconfiança próprio do exercício do protagonismo infanto-juvenil.
JP – Como inserir o projeto de uma rádio escolar no projeto pedagógico da escola? Há
sugestões de projetos prontos bem desenvolvidos?
A segunda fase é a do uso do rádio como apoio didático, quando a linguagem midiática
passa a ser usada para integrar os diferentes processos de ensino/aprendizagem sobre
objetos específicos do conhecimento. Nesse momento, o papel do professor é essencial,
não apenas para orientar os alunos sobre os conteúdos a serem desenvolvidos, mas também
ajudá-los sobre as maneiras de empregar a linguagem radiofônica em seu tratamento.
Como os professores, em geral, não têm familiaridade com as linguagens midiáticas, a
assessoria de um especialista, como o educomunicador, passa a ser de grande valia, nessa
etapa.
Já a terceira fase diz respeito à opção pela prática educomunicativa, quando o uso do
rádio se associa ao de outras linguagens, integrando professores e estudantes em projetos
interdisciplinares voltados expressamente para melhorar as relações de comunicação no
interior no da escola. Em geral, a busca pela construção de ecossistemas comunicativos
abertos e criativos se associa ao tratamento de outros objetivos relacionados com a prática
da cidadania, como o envolvimento da comunidade com a educação ambiental, a redução
ou eliminação do bullying, ou mesmo a promoção do protagonismo infanto-juvenil no
desenvolvimento de ações de interesse da comunidade educativa.
JP – Quais os equipamentos básicos necessários para que uma escola possa produzir
programas de rádio?
O programa pronto pode então ser salvo em um formato de áudio como o MP3. Nesse
formato, ele tanto pode ser reproduzido no local, para ser ouvido pela comunidade escolar,
para o que será necessário que se tenha à disposição um amplificador e caixas de som, ou
mesmo disponibilizado na internet. Para a disponibilização na ciberespaço existem várias
alternativas. Uma delas é o Podomatic, um site onde pode ser criada uma página para a
rádio, nela disponibilizando todos os programas produzidos.
Para tanto, a formação - oferecida aos sábados, ao longo de 12 semanas, em sete fases,
correspondentes a sete semestres sucessivos, entre 2001 e 2004 - buscou atingir 25 pessoas
de cada uma das 455 escolas matriculadas (aproximadamente 12 professores, 10 alunos e
três colaboradores da comunidade).
Um total de 11 mil membros das comunidades educativas (sendo 6.600 professores, 3.500
alunos e 900 membros das comunidades) foram habilitadas a planejar o uso do rádio para
melhorar as relações de comunicação em suas respectivas escolas. As formações ocorriam
em polos, nas várias regiões da cidade, reunindo, cada um, entre 80 a 120 pessoas.
suas produções nas web-rádios de suas escolas. O que mais chama a atenção, no entanto, é
o convívio diferenciado nas escolas que optam pelo modelo educomunicativo do uso do
rádio.
JP – O senhor coordena a implementação da licenciatura em Educomunicação junto à
escola de Comunicações e Artes da USP. Qual é o objetivo básico desse curso? Que tipo
de profissional ele irá formar?
I.O. S. – A licenciatura em Educomunicação foi criada, na USP, em novembro de 2009,
depois de 10 anos de investigação científica e de assessoria a políticas públicas de
educação por parte do Núcleo de Comunicação e Educação da mesma universidade. Foi, na
verdade, em 1999, que o NCE concluiu uma pesquisa envolvendo a América Latina sobre a
natureza das relações entre a comunicação e a educação, identificando, ao final, que um
procedimento diferenciado marcava a prática dos sujeitos sociais que trabalhavam na
interface entre a comunicação e a educação. Tais agentes culturais, que vinham
trabalhando nessa linha alternativa ao longo de toda a segunda metade do século XX,
entendiam que a comunicação, quando implementada de forma democrática e solidária,
representava um eixo transversal para todo o processo educativo, transformando-o em seus
procedimentos e resultados. Nessa perspectiva, entendiam os mesmos agentes que as
tecnologias, mais que suportes ou ferramentas a serviço da educação, poderiam até
mesmo influenciar os próprios paradigmas que regiam as práticas educativas. A opção
destes agentes culturais foi denominada pelos pesquisadores do NCE-USP como
Educomunicação. O termo, em si, já vinha sendo usado desde os anos de 1980 pela Unesco
para designar os projetos de educação para os meios (media education). Ao ser
ressemantizado pelo NCE-USP, o conceito passou a englobar outras áreas de trabalho, entre
as quais as “mediações tecnológicas” a serviço das relações dialógicas nos espaços
educativos, alcançada apenas quando a comunicação passa a ser uma ação compartilhada
pelos sujeitos vivos do processo educativo, em igualdade de condições. É o que se
denomina como “gestão da comunicação nos espaços educativos”, entendida sempre como
necessariamente participativa.
O problema que se colocou para o NCE-USP foi o de levar à prática a teoria que havia
elaborado a partir de suas pesquisas, provando, primeiramente para a sociedade e depois
para a própria universidade, que era viável aplicar o conceito a realidades complexas,
como as que se fazem presente em espaços como os representados pelas redes escolares,
públicas ou privadas.
Nesse sentido, entre 1999 e 2009, uma série de experiências foram realizadas e
documentadas, tanto no âmbito escolar como no âmbito das práticas sociais, envolvendo a
educação não-formal. A rapidez com que o conceito se difundiu e o modo como alcançou
dialogar com segmentos da sociedade, como os envolvidos com a educação ambiental, a
mídia educativa e cultural e os sistemas educativos público e privado, acabou dando
sustentação para que a USP aceitasse os argumentos da Escola de Comunicações e Artes e
permitisse que um novo curso, em nível de graduação, fosse instalado, em seus campus, no
Butantã, na cidade de São Paulo.
A licenciatura em Educomunicação formará, em primeiro lugar, um professor de
comunicação para atender as demandas do Ensino Médio. Formará, simultaneamente, um
assessor tanto para os sistemas educativos, presenciais e a distância, quanto para os
demais segmentos sociais voltados para a relação entre a comunicação e a educação, como
o Terceiro Setor e a própria Mídia.
Educomunicação Entrevista
https://www.midiaeducacao.com/2012/03/ismar-de-oliveira-soares-usp-uso.html 4/8