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Gecilene Magalhães Marinho Barros, Thiago Almeida Barros

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EXPERIÊNCIAS COM RÁDIO ESCOLA: MEDIAÇÕES E


PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO PÚBLICO

EXPERIENCES WITH SCHOOL RADIO: MEDIATIONS AND


EDUCOMMUNICATIVE PRACTICES IN PUBLIC EDUCATION

EXPERIENCIAS CON RADIO ESCOLAR: MEDIACIONES Y


PRÁCTICAS EDUCOMUNICADORAS EN LA EDUCACIÓN
PÚBLICA

Gecilene Magalhães Marinho Barros 1


Thiago Almeida Barros 2

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n5-110
Recebido em: 25 de Abril de 2023
Aceito em: 22 de Maio de 2023

RESUMO
Este trabalho apresenta análise de experiências de rádio escola desenvolvidas em uma
escola estadual de ensino médio em Belém-PA. Foram realizadas entrevistas em
profundidade com alunos e professores. Verificou-se que a rádio escola tem papel
fundamental no processo de aproximação entre alunos, professores e comunidade
escolar, além da potencialização de habilidades e competências, promovendo o
protagonismo dos estudantes.

Palavras-chave: Educomunicação; rádio escola; protagonismo; escola pública; Belém-


PA.

ABSTRACT
This paper presents an analysis of radio school experiences developed in a state high
school in Belém-PA. In-depth interviews were conducted with students and teachers. It
was found that the school radio plays a fundamental role in the process of bringing
students, teachers and the school community closer together, in addition to enhancing
skills and competences, promoting student protagonism.

Keywords: Educommunication; school radio; protagonism; public school; Belém-PA.

RESUMEN
Este artículo presenta un análisis de las experiencias con radio escolar desarrolladas en

1
Mestra em Comunicação Linguagens e Cultura. Universidade da Amazônia do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, Linguagens e Cultura (UNAMA - PPGCLC). Av. Alcindo Cacela, 287, Bloco E, 3o andar, Umarizal, Belém
- PA, CEP: 66060-902. E-mail: gecilene.marinho@gmail.com
2
Doutor em Comunicação, Linguagens e Cultura pela Universidade da Amazônia do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, Linguagens e Cultura (UNAMA - PPGCLC). Av. Alcindo Cacela, 287, Bloco E, 3o andar, Umarizal, Belém
- PA, CEP: 66060-902. E-mail: tbarros81@gmail.com

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una escuela secundaria pública en Belém-PA. Se realizaron entrevistas en profundidad


a estudiantes y docentes. Se constató que la radio escolar juega un papel fundamental
en el proceso de acercamiento de estudiantes, docentes y comunidad escolar, además
de potenciar habilidades y competencias, promoviendo el protagonismo estudiantil.

Palabras clave: Educomunicación; radio escolar; protagonismo; escuela pública;


Belém-PA.

1. Introdução
O rádio tem como características primordiais o imediatismo,
instantaneidade e alto poder informativo, dada a velocidade de seu alcance. O
papel educativo de rádios em escolas se estabelece à medida em que se
ampliam as formas de comunicação nestes ambientes: ajuda a desenvolver
competências e habilidades dos sujeitos a partir de seus usos e das apropriações
das informações, objetivando a participação atuante dos alunos, com o intuito de
desconstruir a visão unilateral de aprendizado, onde o estudante tem apenas
função coadjuvante.
Morán (2015) defende atenção aprofundada aos meios de comunicação
e suas linguagens pela educação. O processo comunicativo é ampliado com o
uso da rádio escola, pois a linguagem radiofônica se adequa ao contexto cultural
dos indivíduos, personificando a alma do desenvolvimento do trabalho, tornando
o aluno mais crítico e responsável pela informação veiculada, possibilitando a
reflexão contínua.
Dessa forma, refletimos sobre o poder construtivo da rádio no contexto
escolar, compreendendo, segundo Baltar (2012), que são instrumentos de
interação sociodiscursiva da comunidade em uma instituição educacional. Perfis
editoriais e elaboração de programas são influenciados “por uma série de
fatores, tais como a história de vida e o conhecimento de mundo dos sujeitos
envolvidos no projeto” (BALTAR, 2012, p. 40).
A partir da experiência de rádio escola vivenciada na Escola Estadual de
Ensino Médio Magalhães Barata, localizada no bairro do Telégrafo, em Belém-
PA, e entendendo a importância do uso do rádio enquanto ferramenta
educomunicativa, apresentamos neste trabalho uma visão sobre como a
instituição utiliza o projeto de rádio escola “Conexão MB” para desenvolver o

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protagonismo dos alunos no espaço escolar e como ocorre a interação entre


alunos, professores e comunidade a partir da rádio. Para responder a estas
indagações, analisamos os resultados obtidos por meio de entrevistas em
profundidade realizadas em 2016 com alunos e professores que participam
diretamente do projeto.

2. A Experiência da Rádio Escola “Conexão Mb”


A escola Magalhães Barata abriga aproximadamente 1.300 alunos nos
turnos da manhã, tarde e noite. Para dar início ao projeto da rádio escola
“Conexão MB”, contou, em 2012, com a parceria do Centro Artístico Cultural
Belém Amazônia, organização não governamental conhecida como Rádio
Margarida, responsável pelo Projeto Novas Práticas Educativas, em parceria
com a Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc).
A parceria resultou na realização de oficinas e preparação de alunos e
professores sobre técnicas de rádio. Além disso, foram disponibilizados kits
pedagógicos de novas práticas educativas, material organizado pela Rádio
Margarida com informações sobre linguagem audiovisual e atividades
relacionadas. A escola também recebeu um computador, mesa de som,
microfone e caixa acústica para que o projeto fosse mantido.
Gestado em 2009, na sala de informática da escola, ainda com o nome
“Rádio Caça Talentos”, o projeto tinha como objetivo envolver outros professores
e direção e dinamizar o uso das mídias, em especial o rádio, com divulgação das
produções textuais dos alunos e criação de programas com temas que
envolvessem diferentes disciplinas. Contudo, o processo de maturação junto à
Rádio Margarida deu vida a uma nova proposta de ação.
O novo modelo de projeto foi sedimentado após a realização de uma
votação com alunos do ensino médio interessados. A rádio, então, recebeu o
nome de “Conexão MB”. Os programas sofreram alterações da proposta original:
“Di Rocha”, “Gospel Hits”, “Love Hits”, “Frequência MB” e “Mix MB”, com o intuito
de divulgar projetos, informar sobre assuntos relacionados à escola e notícias,
além de garantir entretenimento. Em 2012, a rádio passou a entrar no ar nos
intervalos dos turnos da manhã e da tarde, diariamente, com veiculações de 15
minutos elaboradas por estudantes sob a supervisão de professores

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coordenadores.
A partir da experiência da Magalhães Barata, outras escolas estaduais da
capital paraense começaram a organizar suas rádios. Além das redes sociais, a
maior vitrine da “Conexão MB” é a participação da equipe na programação
audiovisual da Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos maiores eventos literários
do Brasil, realizada anualmente no Hangar Centro de Convenções de Belém.
Durante o evento, os alunos comandam programação de três horas seguidas,
no estande da rádio web Seduc. O evento foi suspenso por dois anos por conta
da pandemia de covid-19.

3. Relações entre Comunicação e Educação


As transformações nas formas de comunicar e suas intenções delineiam
caminhos desafiadores considerando a quebra das barreiras tempo-espaciais,
diante das distintas necessidades de interação humanas e as relações com
meios. Entender que os processos comunicativos implicam no ato de
compartilhar e dialogar com o outro conforme cada maneira de sociabilidade nas
diversas sociedades, sem uma regra única ou padrão, é essencial para a
construção de compreensões mais flexíveis do fenômeno e de sua importância.
“É através dela, pelo seu exercício que se desenvolvem atividades como o
ensino ou o confronto de ideias” (MARTINO, 2001, p.12).
Para Wolton (2006, p. 25), “a comunicação é o resultado de um formidável
movimento de emancipação ao mesmo tempo social, cultural e político”. Sendo
assim, ressalta que as mudanças abraçam aspectos sociais, culturais e
essencialmente democráticos.
É importante compreender de qual forma a comunicação e a educação
são articuladas no sentido de firmar a democracia em processo social e
normativo, nos diversos espaços de socialização e interação, focando na ação
do sujeito ativo, questionador e realizador de seus projetos com autonomia. “A
crescente presença da imprensa escrita, do rádio e, finalmente, da televisão
mostrava estar se desenhando uma nova configuração nos conceitos de ensino-
aprendizagem, de educação, de conhecimento” (CITELLI, 2004, p.135).
Ao pontuarmos estas questões, inegavelmente vem à tona o ambiente

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escolar e suas diversas funções, que devem despertar e preparar os alunos à


cidadania, através dos estímulos necessários para a prática de habilidades e
competências de maneira transdisciplinar. Acostumados a confundir
“comunicação com os meios e a educação com seus métodos e técnicas, nós,
estudiosos desses campos, padecemos com frequência não só de uma forte
esquizofrenia, mas também de uma falta de memória” Mártin-Barbero (2014, p.
17).
Neste ponto, Martín-Barbero dialoga com Canclini (2015), pensando a
comunicação a partir do prisma cultural híbrido e de estudos que sigam pelo
caminho das mediações. “As práticas culturais são mais que ações, atuações.
Representam, simulam as ações sociais, mas só às vezes operam como uma
ação” (CANCLINI, 2015, p. 350).
Wolton (2006), que compreende a comunicação como processo de
relação com o outro, analisa o processo fazendo críticas ao midiacentrismo: “as
informações, as imagens, os dados, as mensagens são feitas por quem e, para
quem, com qual respeito da alteridade cultural?” (WOLTON, 2006, p. 39). Além
da relação de produção e recepção, devemos considerar as ações dos sujeitos
que interagem nestes processos, a partir de resistências e desejos de
transformação.
Neste cenário de relação entre comunicação e educação, cabe a
indagação sobre qual lado a escola está? Ao lado da produção ou da
resistência? Sem dúvidas, vivemos em momento de mudanças, passando de
uma “sociedade com sistema educativo para uma sociedade do conhecimento e
aprendizagem contínua, isto é, sociedade cuja dimensão educativa atravessa
tudo” e Barbero (MARTÍN-BARBERO, 2014, p.121, grifo do autor). Por conta
disso, “a escola precisa abrir espaço para novas expressões discursivas e
narrativas que brotam da vida das comunidades” (OROFINO, 2005, p. 123).
As discussões sobre a interseção dos campos da educação e
comunicação são consideradas recentes, dadas a dimensão e complexidade das
áreas e suas reflexões na contemporaneidade. Para Freire (2016), a
comunicação é elemento transformador dos seres humanos em sujeitos,
especialmente quando aliada a práticas educativas.
Referência de estudos de educomunicação, Soares (2011) destaca a

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necessidade de os sistemas de educação envolverem-se com a moderna


produção cultural e com os sistemas de comunicação. Este novo campo de
estudo vem sendo delineado de maneira processual e fundamenta-se para além
da inter-relação das duas áreas. “A intersubjetividade, vale dizer, o diálogo com
outros discursos, é a garantia da sobrevivência do novo campo e de cada uma
das áreas de intervenção” (SOARES, 2011, p. 13).
Orofino (2005) defende que os processos educacionais devem ser
acompanhados por uma pedagogia da comunicação, que permita ao aluno
analisar criticamente os meios, com maior atenção para a característica de
espetacularização e banalização da cultura pela mídia. Ao desenvolver uma
pedagogia dos meios, o professor poderá oferecer ferramentas ao aluno para
que ele questione as ideologias dominantes e intensifique seu processo de
reflexividade social, ressignificando a sua realidade. A mídia vem estabelecendo
características pedagógicas de maneira mais evidente e “neste sentido, projetos
de Mídia e Educação ou Educomunicação tornam-se uma alternativa para uma
maior aproximação entre escola e sociedade” (GAIA, 2001, p. 13).
É primordial que o professor busque a aproximação com os meios de
comunicação, que tenha envolvimento com eles, alimentando-se de suas
potencialidades, dominando sua eficiência e seu uso, para então, construir novos
saberes. As novas tecnologias quebram barreiras estruturais e físicas,
permitindo que o indivíduo se desloque, se transfira para outros espaços e sua
força vem aumentando de maneira consolidada. “Certamente é tarefa do ensino
escolar preparar técnica e socialmente os alunos para o uso dessa nova mídia”
(HONNETH, 2013, p. 559).
Os espaços educativos precisam estar abertos ao multiculturalismo,
sendo capazes de preparar os alunos aos impactos das Novas Tecnologias da
Informação e Comunicação (NTICs). Morán (2015) defende que a educação
sempre foi híbrida, combinada de diferentes formas a públicos, atividades e
espaços: “[...] com a mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível,
amplo e profundo” (MORAN, 2015, p. 27). Desta forma, a escola precisa
caminhar com o movimento da educação para a vida, que é rico em suas
nuances e múltiplas linguagens, de forma conectada e contextualizada com seus

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sujeitos.

4. Abordagem Metodológica: o que dizem Alunos e Professores


Optamos por realizar entrevistas em profundidade para compreender
como a rádio escola “Conexão MB” é apropriada por alunos e professores.
Assim, embasados em Duarte (2014), buscamos conseguir respostas com base
na experiência subjetiva de nossas fontes. As sessões de entrevistas ocorreram
nos dias 14, 21 e 24 de junho de 2016, no turno da manhã. Foram selecionados
10 alunos e 10 professores que atuavam diretamente na rádio. Participaram do
processo apenas os que dispuseram no período solicitado. Portanto,
alcançamos 70% de participação dos estudantes (7) e 50% de participação
docente (5). Respeitando os procedimentos éticos, os sujeitos entrevistados não
serão identificados neste trabalho.
O roteiro de entrevista consiste em nove perguntas sobre as experiências
dos participantes em relação às atividades desenvolvidas por eles na rádio
escola: 1) “Qual o papel da rádio escola Conexão MB?”; 2) “O que mudou na
escola após o início das atividades da rádio?”; 3) “De que forma alunos e
professores interagem com o projeto da rádio?”; 4) “Qual a importância da rádio
escola nos processos de comunicação entre as pessoas que trabalham e
estudam na Magalhães Barata?”; 5) “Qual a sua opinião sobre a programação
da rádio?”; 6) De que forma a ‘Conexão MB’ representa a escola?”; 7) “Quais as
atividades relacionadas à rádio que você conhece ou já participou?”; 8) Quais as
conquistas da ‘Conexão MB’?; e 9) “Quais os maiores desafios enfrentados pela
rádio escola e de que forma é possível superá-los?”.
A partir do referencial teórico e das observações sobre a importância do
rádio como ferramenta de comunicação e educação, destacamos três categorias
a serem pontuadas nesta análise: a) protagonismo dos alunos no processo
comunicativo; b) comunicação entre professores, alunos e comunidade escolar;
e c) papel/função da rádio na escola.

5. Opiniões Matrizes sobre a Atuação da Rádio Escola


A análise do material obtido nas entrevistas permite a identificação de
opiniões matrizes de alunos sobre as questões levantadas. Sobre a categoria

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protagonismo no processo comunicativo, os estudantes destacam a participação


de equipes nos eventos e transmissões (entre elas a Feira Pan-Amazônica do
Livro) como espaços para apresentar o que aprenderam no cotidiano da rádio
na escola. Eles enfatizam também a possibilidade de atendimento às demandas
dos demais alunos sobre a grade de programação da rádio e escolha de gêneros
musicais, recados sobre a agenda escolar e outras informações. O ambiente do
projeto é descrito como estimulador da criatividade e diversidade. Os estudantes
ponderam, no entanto, que as atividades carecem de mais recursos de
infraestrutura.
Nas respostas dos alunos, o termo mais recorrente e que dá indicativos
do protagonismo desses atores no projeto é “participei” - isoladamente, não
garante o sentido necessário, portanto, cabe a contextualização. Referindo-se à
participação, os entrevistados enfatizam a importância dos programas especiais
na Feira do Livro, especialmente pela possibilidade de atuação em eventos que
ultrapassam os muros físicos da escola: simboliza protagonismo.
Outro processo em evidência é a participação dos alunos que
acompanham a rádio em sua rotina e interagem com os demais estudantes da
escola. Nessa dinâmica educomunicativa, há uma engrenagem de atuação em
dois níveis de engajamento: o aluno que produz conteúdos e o aluno que
interage ao fazer demandas à rádio. Ambos possibilitam um ciclo oportuno de
renovação de ideias e debate sobre interesses em comum.
Ainda sobre a categoria protagonismo nos processos comunicativos, as
opiniões matrizes dos professores entrevistados indicam a intensificação da
participação dos alunos nos projetos propostos pela rádio e nas atividades
interdisciplinares em sala de aula, além do envolvimento de alunos externos da
rádio interessados em contribuir com a programação e divulgá-la. Os professores
apontam a existência de um processo de profissionalização dos estudantes
integrantes do projeto em relação às técnicas e demais procedimentos
característicos da produção em rádio, com destaque para entretenimento e
radiojornalismo – inclusive alguns os estudantes começaram, naquele período,
a trabalhar em emissoras de Belém como assistentes.
De forma comparativa, as opiniões matrizes de alunos e professores

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reconhecem a participação dos estudantes em todas as etapas de planejamento


e execução das atividades da “Conexão MB”, com o desenvolvimento de
diferentes formas de envolvimento.
Sobre as potencialidades desta comunicação e participação, que devem
envolver os professores e comunidade escolar, Soares (2011) defende a
comunicação dialógica no ecossistema escolar como uma força intensificadora.
A gestão compartilhada desses

recursos e processos de informação, contribui essencialmente para a


prática educativa, cuja especificidade é o aumento imediato do grau de
motivação por parte dos estudantes, e para o adequado
relacionamento no convívio professor/aluno, maximizando as
possibilidades de aprendizagem, de tomada de consciência e de
mobilização para a ação (SOARES, 2011, p. 17).

Soares (2011) reforça precondições norteadoras para o estabelecimento


de um ecossistema educomunicativo através da essencial comunicação entre os
envolvidos. Baseando-se nestas premissas, destacamos a segunda categoria
identificada nas entrevistas referente à comunicação entre professores, alunos
e comunidade escolar.
As opiniões matrizes dos alunos sobre essa questão indicam que o projeto
da rádio escola melhora a interação entre estudantes, professores e direção da
instituição de forma geral. Amplia também a ligação afetiva entre discentes,
docentes e gestores do projeto, com a criação de sentimento de união para a
superação de dificuldades de infraestrutura, entre outros. Para os estudantes, a
“Conexão MB” permite que os seus integrantes sejam “reconhecidos” pela
escola, mas ainda existem professores resistentes às atividades e integração do
trabalho em sala de aula com a rádio.
Nesta categoria, as opiniões matrizes de professores confirmam as
declarações dos alunos. Eles informam que mais estudantes do que docentes
interagem com os projetos desenvolvidos pela rádio. No entanto, aqueles que
estão integrados, desenvolvem uma relação que potencializa o diálogo, troca de
saberes e divulgação de informações de interesse comum. Porém, outras
questões são ressaltadas, como o orçamento reduzido para a realização de
projetos, falta de materiais básicos e necessidade de ampliação da rede de
parcerias externas à escola.

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Na análise da categoria papel/função da rádio escola, os alunos


consideram que a "Conexão MB" oferece ao ambiente escolar um importante
meio de acesso a informações, tanto para alunos como para professores, a
exemplo de notícias, avisos da coordenação da Magalhães Barata, debates de
questões estudantis e divulgação de projetos. Funciona também como fonte de
entretenimento, com programação musical, entrevistas e curiosidades sobre
temas de várias áreas do conhecimento, especialmente relacionados à cultura
local. Estudantes e docentes consideram que a rádio mudou o panorama dos
intervalos de aulas com animação e possibilidade de interação. Para os
entrevistados, o discente que ingressa no projeto desenvolve saberes que
agregam sua formação escolar e para o mundo da vida.
Na visão do grupo de alunos, os termos mais mencionados para sua
definição são: informação, entretenimento, programação variada, interação,
diversão, fonte de informação, cultura, notícia, meio de comunicação,
conhecimento para a vida - características pertinentes ao uso dessa ferramenta
na educação.
A opinião matriz dos professores indica que as vivências comunicativas
da rádio servem de referência e apoio às atividades de ensino e aprendizagem
e outras ações interdisciplinares, inclusive reforçando o desenvolvimento
cognitivo dos estudantes participantes. Um dos principais avanços descritos está
na capacidade de leitura e interpretação adequada de textos e comunicação
clara e eficiente. Para os docentes, a "Conexão MB" incentiva a formação cidadã,
pois é ambiente de diálogo, leitura, apreciação de cultura e compartilhamento de
conhecimentos. Citam ainda o potencial de ações que surgem na rádio escola e
começam a se consolidar, como o clube do livro, produção de jornal escolar
impresso, criação de perfis informativos em redes sociais e produção de
conteúdos audiovisuais.

6. Considerações Finais
O resultado da análise das entrevistas em profundidade permite
contemplar um panorama comunicativo muito maior existente no ambiente
escolar, observando o nível de conhecimento, interação e engajamento

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desenvolvido entre os grupos de professores e alunos envolvidos em ações


educomunicativas na Magalhães Barata. A rádio escola “Conexão MB” é
considerada como importante meio propulsor dos processos de ensino e de
aprendizagem. A rádio conecta várias iniciativas educativas realizadas na
escola, gerando frutos, como o diálogo com outras mídias, a exemplo das redes
sociais e produção de conteúdos audiovisuais. Os alunos envolvidos se
autorreconhecem pelo desempenho alcançado na “Conexão MB” e também são
reconhecidos pelos professores. Consideram-se protagonistas da produção de
informações, sobretudo quando são instados a estender a programação da rádio
a eventos fora da escola. No entanto, ainda percebemos que, mesmo em número
reduzido, parte dos professores prefere fechar os olhos às possibilidades que o
projeto oferece, optando exclusivamente por “giz e o quadro”, reflexo de um
engessamento histórico nas práticas escolares, tornando ainda maior o desafio
do uso de tecnologias digitais e novas apropriações dos meios de comunicação
em sala de aula.

REFERÊNCIAS

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Paulo: Cortez, 2012.

CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da


modernidade. São Paulo: Edusp, 2015.

CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação: a linguagem em movimento. São


Paulo: Editora Senac, 2004.

DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS,


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GAIA, Rossana. Educomunicação & mídias. Maceió: Edufal, 2001.

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Alegre, v. 13, n. 3, p. 544-562, set./dez. 2013. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/16529 .
Acesso em: 21 set. 2017.

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MARTÍN-BARBERO, Jesús. A comunicação na educação. São Paulo:


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BACICH, Lilian et al. (Orgs). Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na
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SOARES, Ismar. Educomunicação - o conceito, o profissional, a aplicação:


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WOLTON, Dominique. É preciso salvar a comunicação. São Paulo: Paulus,


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