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Introdução
Nos anos que seguiram o período republicano, os assuntos referentes aos pressupostos
de Educação Moral e Cívica foram se intensificando e assumiram contornos mais evidentes.
Segundo Márcia Regina dos Santos (2015), “no Programa de Instrução Pública de 1892 já era
possível perceber a presença da formação moral e cívica” na instrução dos alunos (2015, p.
48). A Educação Moral e Cívica então foi se delineando e se firmando no cenário educacional
brasileiro ao passo que no ano de 1925 através da Reforma “Rocha Vaz” passou a fazer parte
do currículo obrigatório do Ensino Secundário sob o título de Instrução Moral e Cívica, que
apesar da diferenciação de nomenclatura “não descaracterizava os objetivos de formação de
caráter que fundamentavam a disciplina” (SANTOS, 2015, p. 51). Posteriormente, no período
de 1931, essa disciplina sofreu uma substituição pela disciplina de Ensino Religioso,
ocasionada pela Reforma “Francisco Campos” e pela Constituição Promulgada em 1934.
Em 1931, o ensino de Educação Moral e Cívica foi retirado do currículo das escolas
secundárias, pelo então Ministro da Educação e Saúde, Francisco Campos. Em seu lugar foi
introduzido o Ensino Religioso nas escolas públicas de ensino primário, secundário e normal
de todo país. Francisco Campos identificava a Educação Moral com a Educação Religiosa,
pois para ele a doutrina católica deveria ser uma doutrina de Estado. A formação moral dos
estudantes deveria ser a formação de uma moral católica (FILGUEIRAS, 2011, p.26).
Com a sublevação do Estado Novo em 1937, a disciplina de Ensino Religioso tornou-se
facultativa e a Educação Moral e Cívica passou a assumir moldes de um instrumento que
favorecia a formação de um indivíduo condizente aos ideais governamentais. Contudo, não
assumindo ainda a figura de uma disciplina específica, mas integrada as demais, conforme
cita a Lei Orgânica de 1942, para o Ensino Secundário
A educação Moral e Cívica não seja dada em um tempo determinado,
mediante execução de um programa especifico, mas resulte, a cada
momento, da forma de execução de todos os programas e do próprio
processo de vida escolar que, em todas as atividades e circunstâncias, deve
transcorrer em termos de elevada dignidade e fervor patriótico. (Artigo 24)
(BAÍA HORTA, 1994, p.181).
Com o fim do Regime Militar a disciplina de Educação Moral e Cívica ainda perdurou
no currículo escolar brasileiro até 1993, quando foi revogada pelo Decreto-lei No. 8.663
Art. 1º É revogado o Decreto-Lei nº 869, de 12 de dezembro de 1969, que
dispõe sobre a inclusão da Educação Moral e Cívica como disciplina
obrigatória, nas escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de
ensino no País e dá outras providências.
Art. 2º A carga horária destinada às disciplinas de Educação Moral e Cívica,
de Organização Social e Política do Brasil e Estudos dos Problemas
Brasileiros, nos currículos do ensino fundamental, médio e superior, bem
como seu objetivo formador de cidadania e de conhecimento da realidade
brasileira, deverão ser incorporados sob critério das instituições de ensino e
do sistema de ensino respectivo às disciplinas da área de Ciências Humanas
e Sociais. (BRASIL, 1993).
Fonte: Contribuições para o desenvolvimento da Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política nos
Currículos de 1º e 2º graus (1984) que reafirma o Parecer Nº94 de 1971.
Considerações Finais
Os modos como os indivíduos vivem e agem são aquisições intencionais que foram
sendo construídas ao longo da história de uma sociedade como mecanismo de distinção e
sublevação em relação a outros grupos considerados não-civilizados. Os indivíduos foram
sendo condicionados e corporificados a um o padrão social reconhecido e “legitimado pelo
grupo vigente a qual foram inicialmente obrigados a se conformar por restrição externa” e
acabaram por reproduzir, “mais suavemente ou menos, no seu íntimo através de um
autocontrole que opera mesmo contra seus desejos conscientes.” (ELIAS, 1993, p. 129). O
indivíduo ao mesmo tempo que incorpora um conjunto de regras de vivências, passa a
reproduzir em forma de habitus de maneira inconsciente o savoir-vivre de sua época.
A disciplina de EMC representou um mecanismo de reprodução dos padrões
socialmente idealizados de viver e pensar na sociedade brasileira no contexto do Regime
Militar. Os livros didáticos de EMC apresentavam à nova geração um padrão específico de
emoções e comportamentos que a sociedade pretendia alcançar, demonstrando assim um
modo de distinção e superioridade das outras culturas e sociedades ditas “não civilizadas”. Os
manuais aproximavam os hábitos culturais, intelectuais e comportamentais do povo
brasileiro com savoir-vivre europeu e norte-americano, considerados na visão dos autores
como ápice da civilidade.
O homem civilizado representado nos manuais representava a efígie do modelo
urbano-progressista de nação, na qual seus representantes apresentariam um padrão elevado
de comportamentos pessoais. As características inerentes a esse arquétipo de Homem
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação
João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855
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civilizado seriam provenientes de “mudanças estruturais ocorridas em pessoas na direção de
maior consolidação e diferenciação de seus controles emocionais e por conseguinte de sua
experiência e de sua conduta” (ELIAS, 1994, p.216). O Bom Cidadão representado nos livros
didáticos de EMC apresentava as características da “tradição institucionalizada e da situação
vigente” (ELIAS, 1994,p. 49) no que se remete aos padrões de civilidade.
Referências
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Teoria e Educação, Porto Alegre, v.2, 1990.
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Ed., 1994, v I.
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FILGUEIRAS, Juliana Miranda. A Educação Moral e Cívica e sua produção didática. Dissertação de
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HORTA, José Silvério Baía. O hino, o sermão e a ordem do dia; regime autoritário e a educação no
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LEÃO, Andréa Borges. Norbert Elias e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
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SANTOS, Márcia Regina dos. Signos de um ideal: livros escolares de Educação Moral e Cívica em
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VIEIRA, Cléber Santos. Organização Social e Política Brasileira- OSPB: História, cidadania e livros
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Fontes
Legislação
BRASIL. Decreto-Lei nº. 869, 12 de setembro de 1969. Dispõe sobre a inclusão da Educação Moral e
Cívica como disciplina obrigatória, nas escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de
ensino no País, e dá outras providências
________.Decreto-Lei nº. 869, 12 de setembro de 1969. Dispõe sobre a inclusão da Educação Moral
e Cívica como disciplina obrigatória, nas escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de
ensino no País, e dá outras providências
________. Lei Nº 68.065 de 14 de fevereiro de 1971: Dispõe: A inclusão da Educação Moral e Cívica
como disciplina obrigatória, nas escolas de todos os graus e modalidades dos sistemas de ensino no
País, e dá outras providências.
Livros didáticos
ANDRADE, Benedito de. 1971. Educação Moral e Cívica. São Paulo, Editora Atlas. Curso médio. 4ª
edição Revista e aumentada.1971
MOSCHINI, Felipe N; COSTA, Costa; Massumeci, Victor. Moral e Civismo. Editora Brasil EBSA, 1970.
SANTOS, Theobaldo Miranda dos. Educação Moral e Cívica. Companhia Editora Nacional .1974.