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O mundo começou a sofrer as consequências de cada passo que davam para fora do vazio. A
paz, os sonhos, o futuro e tudo o que foi construído através do sofrimento dos mortos iria,
novamente, correr o risco de ser jogado ao esquecimento.
Quanto mais se aproximavam do fim, pior ficava a situação do lado de fora. Júnior ouviu a
voz de seus ancestrais e chamou os guardiões, mas já era tarde demais. No último passo dado
pelos magos, foi possível avistar um grande feixe de luz cortando o céu. Aquele era o
chamado para os guardiões e a chance perfeita para os magos.
Pouco a pouco, enquanto o sol deslizava no céu, eles se aproximavam do seu destino. A Lua
chegou e iluminou o grande reino na frente dos magos, nesse momento, o fim já era
inevitável.
Uma grande chuva caiu sobre Calligar, as gotas eram tão poderosas que quebravam a grossa
muralha que protegia o reino. Em poucos segundos, o sangue se fundiu com a água e gritos
puderam ser ouvidos de todas as partes.
Os sonhos e futuro daquele povo foram destruídos em um piscar de olhos, mas perante todo
aquele poder o castelo continuou em pé.
— Venham!!!! Venham atrás de mim!!! — vociferava Júnior, com as veias de seu pescoço
quase explodindo.
— Venham!!!!! — repetiu.
Não importava o quanto ele gritasse, os magos simplesmente o ignoravam. Eles andavam
pelas ruas do reino, escutando a linda canção dos berros desesperados, era como uma
harmonia que preparava o ambiente para receber o grande solo.
O grito, a dor, o sangue, a morte, tudo isso preenchia o coração de William que, flutuando no
céu, começou a última página do concerto.
Um grande símbolo roxo em espiral se formou em cima do reino e o envolveu por inteiro.
William levantou seu braço direito e sussurrou:
— Cachoeira de sangue.
Um grande oceano de sangue saiu do espiral, mas antes que pudesse alcançar as casas,
Júnior, que observava aquilo do castelo, virou suas mãos para o espiral e gritou:
— Escudo de Cristal!!!!
Um enorme círculo de cristal de pôs abaixo de todo aquele sangue, impedindo que chegasse
ao chão. Os braços de Júnior estremeciam mais e mais a cada segundo que passava, a força
imposta era tanta que seus olhos sangravam.
Mas para William, aquele esforço era inútil. O mago levemente moveu seu braço e em
seguida, o escudo quebrou. Todo o reino foi tingido de vermelho.
— MALDITO!!! — berrou Júnior, indo na direção de William. Seus olhos exalavam ódio.
O mago olhava para frente, não ligava para aquele homem. Júnior puxou sua espada das
costas e desferiu um golpe contra William, mas, ainda olhando para frente, segurou a espada
do homem, tirou de sua mão e a enfiou no coração de Júnior. O homem caiu do alto,
enquanto via o nojo na cara de William.
O restante dos magos subiram até o céu, deram as mãos e juntos, sussurraram: — Cair da
noite.
Do mesmo símbolo espiral, saiu um enorme feixe de luz roxa que partiu o céu e o chão. A
superfície estremeceu, enormes rachaduras se espalharam para fora do reino, a luz era tão
forte que partia até mesmo a gravidade e as ondas de choque provocadas fizeram estrago até
30 quilômetros fora do reino.
A destruição foi tão descomunal que chegou até a montanha onde os guardiões conversavam.
Emily e os outros foram para o topo da torre, formaram um círculo e começaram a conjurar
um feitiço.
O brilho se estendeu até fora da torre e logo depois eles sumiram. Quando surgiram diante
de Calligar, tudo o que encontraram foi o resquício do que uma vez existiu.
— Eu… estou… sentindo… alguém… — falou Meredith que, logo após, apontou para um lugar
no meio daquele buraco.
Emily sem ao menos pensar, se jogou dentro e correu na direção da pessoa. Assim que o viu,
ela caiu de joelhos e se desmanchou em lágrimas. Era Júnior, ainda vivo. Seu corpo estava
em carne viva, estava totalmente deformado.
— Tem alguém aí? — perguntou Júnior, com a voz rouca e seca, quase inaudível. Sangue
escorria de sua boca a cada palavra dita.
— Sou eu, a Emily, eu, eu vou te salvar — Colocou sua mão no peito do homem e começou a
sussurrar algo.
— Pare, já era pra mim. Escute. — Emily continuava a sussurrar. — Emily!! — A princesa
parou de sussurrar.
O olhar de Júnior se tornou vazio, aquelas foram suas últimas palavras. Com um berro
descomunal, o ódio começou a se expandir no coração de Emily. Seus gritos eram dolorosos,
e dessa imensa dor, os magos se alimentavam.
Os restante dos guardiões foram correndo até onde estava a princesa e a tiraram de lá, ela
gritava para a deixarem, mas eles insistiam em levá-la e assim fizeram.
Longe de Calligar, Emily parou de chorar. No fundo ela sabia que tinha que continuar. Olhou
nos olhos de todos os guardiões e disse: — Nós vamos matar esses desgraçados.