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Pergunta:

26. Concorda que, ao fazer a imagem dizer tudo através do texto que a acompanha,
esquecemos que ela fala tanto como o texto sem sequer precisar dele? Por outras palavras,
concorda que o “casamento” entre imagem e texto é muitas vezes forçado e não natural?
Justifique a sua resposta e dê um exemplo claro, plausível e convincente.

R: Em parte quero concordar com esta afirmação na medida em que a imagem por si já transmite
mensagem sem precisar do texto para complementar o conteúdo. A comunicação visual é muito
eficiente, vale mais a compreensão do significado pelo uso de recursos visuais. O exemplo disso
é que até hoje as pinturas rupestres não foram decifradas, mais ainda podemos imaginar que ao
invés de existir um desenho de um animal, tivéssemos a frase: “hoje fui a caça e acertei três
gazelas”. Haveria alguma dúvida sobre o que aquilo significa. Outro exemplo, uma foto ao lado
representa duas crianças bem pequenas sentadas num sofá vermelho. Ela, por si só, apresenta
uma estrutura que traz significados para as mais variadas pessoas que para elas olharem,
significados esses que podem depender, inclusive, da intencionalidade com que a fotografia está
sendo olhada. Para apreciar esta imagem, não creio seja necessária legenda ou outro tipo de texto
referência.

Entretanto, nem todas imagens dispensam o “casamento” com o texto, por exemplo, é quase
impossível descrever em uma imagem de um conto ou poesia, tal ocorre quando usamos imagem
em anúncios acompanhadas de texto para comunicar de forma efectiva. Portanto, o texto e a
imagem andam juntos, há uma relação de complementaridade.

Tomemos como exemplo o caso de um deficiente visual, não dúvida que para perceber a imagem
necessita de união de processos de áudio descrição para contemplar o significado da imagem.

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RESUMO

O trabalho objectiva analizar e descrever as características da imagem fotográfica de bandeiras


de cinquenta e cinco países de África, com incidência para a bandeira de Moçambique, que
representa o objecto estudo e a ideia deste objecto. As bandeiras dos países africanos são símbolo
nacional que promovem ao mundo sentimentos, sensações, ideias, valores simbólicos constituem
uma série de significações. Para análise e reflexão buscamos a teoria de Charles Sandes Pierce
categorizada em pensamento (primeiridade, secundidade, terceiridade) e das tricotomias
(representamen – signo em si mesmo; objecto – signo com seu objecto; interpretante – signo com
intérprete). De igual modo, procuramos sustentar o trabalho pela fenomenologia, sendo ela a
ciência que observa e analisa os fenômenos na consciência, visto que importa de facto é o olhar
imune de qualquer pré-conceito. É na fenomenologia que se desenvolve os estudos da semiótica
que, por sua vez, estuda e explica os signos (qualquer coisa que é percebida).Para o estudo e
análise da bandeira de Moçambique procuramos descrever os aspectos estruturais e formais
como também as percepções, sensações e impressões causadas pelo objecto em estudo. As ideias
causadas pela observação da bandeira nacional possibilitam uma série de significações e
interpretações, a partir dos seus elementos constitutivos.

Palavras-chave: Análise semiótica. Fenomenologia. Imagem fotográfica. Moçambique.

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INTRODUÇÃO

A nível mundial os países adoptam uma bandeira que simboliza a identidade e autonomia como
Estado, transmitindo reconhecimento pelo mundo através da Bandeira Nacional. As bandeiras
são caracterizadas por cores que representam o país, tanto a nível político, sócio-cultural e
remetem ao tempo e espaço.

No continente africano as cores dominantes das bandeiras são vermelha, verde, azul e amarela
dourada devido aos históricos acontecimentos da colonização europeia. Moçambique não é a
excepcão, a bandeira nacional é representada pela cor vermelha, verde, preta, amarela dourada e
branca.

Esta diversidade de cores despertou interesse em perceber os significados e o que representam.


Para suportar o estudo tomamos como base a fenomenologia, a ciência que estuda os fenômenos
e a teoria de Pierce que elaborou três categorias universais para descrever como os fenômenos
aparecem à consciência, considerando os valores simbólicos dos elementos que a constituem a
bandeira. Segundo (SANTAELLA, 1983), “fenômeno é qualquer coisa que esteja de algum
modo e em qualquer sentido presente à mente, que apareça, seja ela externa, seja ela indirecta ou
visceral”.

A fenomenologia constitui base para diversas ciências, tal é o caso da semiótica que estuda os
signos. De acordo com (PIERCE, 1995, apud SANTAELLA, 1983), signo é algo percebido que
se apresenta no lugar de outra coisa material ou imaginária, para representá-la.

O trabalho tem como objectivo de analisar e descrever os elementos da imagem fotográfica da


bandeira de Moçambique à Luz da teoria de Pierce, um dos principais percursores da semiótica,
que traçou o início dos estudos sobre signo.

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1. Breve historial das Bandeiras

1.1. Origem

De acordo com a “enciclopédia online” historicamente as bandeiras remontam à Idade Média,


quando os exércitos aliados, para não se confundirem uns com os outros usavam um pedaço de
pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do batalhão ou companhia
envolvida.

A mesma fonte refere que, as bandeiras têm as suas origens nas insígnias, sinais distintivos de
poder ou de comando usados desde a antiguidade e que podiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. A sua substituição por tecidos pintados em cores
vivas foi feita pelos romanos, com o seu “vexilium” (estandarte), uma tendência que se acentuou
durante a Idade Média.

Portanto, foi a partir daí que se instituiu a bandeira como simbolo de pertença de um povo a um
determinado espaço físico (território), neste caso, simbolizando a autonomia identitária, como
uma Nação, um país soberano, não importando o seu tamanho pequeno ou grande, o processo de
interacção dentro desta unidade territorial, primeiro, e fora dela se desencadeou e, à luz das
chamadas relações internacionais, o reconhecimento pelo mundo fora por este símbolo, que é a
Bandeira Nacional.

2. Imagem

A imagem pode ser a representação de algo, sendo ela caracterizada de acordo com quem a lê ou
interpreta. Logo, cada indivíduo possui uma leitura diferente, não podendo ser definido à mesma.

A definição da imagem é polissémica devido aos infinitos usos desse termo, que vai desde os
desenhos rupestres até à imagem mental. A forma que uma imagem pode proporcionar, os
mistérios que a envolvem, as diferentes leituras feitas por vários intérpretes, cria um universo de
teorias e formas de interpretação.

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Segundo (Aumont apud OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), a imagem pode causar uma
ilusão deliberadamente, mas que para isso ocorra é necessário que determinadas condições
psicológicas, percetivas além de culturas e sociais sejam tomadas em consideração.

Portanto, quando o intérprete estabelece uma relação com a imagem são mobilizados vários
códigos com objectivo de ter uma percepção do objecto. É neste contexto que mostra-se
fundamental o estudo da imagem fotográfica das bandeiras para obtenção do significado do
objecto.

3. Fotografia

De acordo com (OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), a fotografia é entendida como uma
manifestação democrática de uma arte, que causa impressão luminosa na observação através da
reprodução de imagens visíveis, que normalmente não é visto pelo olho nu.

Santaella (1983) define a fotografia como um signo híbrido que contém ícones (semelhança) e
índices (continuidade), estando ligado à categoria primeiridade, através da relação que é
estabelecida com seus referentes de modo analógico ou apenas sensível.

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4. Análise Semiótica das bandeiras dos países do Continente Africano

O Continente Africano tem cinquenta e cinco países subdivididos em cinco regiões a saber:
África Austral constituída por África do Sul, Angola, Botswana, Comores, Lesoto, Madagáscar,
Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Essuatíni, Zâmbia e Zimbábwè; África Central
constituída pela República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Chade e Congo;
África Ocidental constituída por Benin, Burkina Fasso, Cabo Verde, Camarões, Costa do
Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Libéria, Mali,
Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Togo; África
Setentrional ou Norte de África constituída pela Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Saara
Ocidental, Sudão e Tunísia; Áfrca Oriental constituída por Burundi, Djibouti, Eritreia, Etiópia,
Quénia, Ruanda, Seychelles, Somália, Tanzânia e Uganda.

Figura 1: Bandeiras dos países do Continente Africano

Fonte: google.co.mz

A imagem fotográfica acima ilustra bandeiras dos países do continente africano, que constituem
símbolo nacional para cada estado. A característica principal das bandeiras é a forma rectangular,

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predominando a cor vermelha, que representa a resistência ou o sacrifício do povo perante à
dominação, a verde representa a esperança e azul significa tranquilidade ou harmonia.

Fazendo uma observação das bandeiras, nota-se que as sensações e interpretações não se
distanciaram muito daquilo que se estabeleceu convencionalmente, porém, a preocupação da
semiótica não está em erros ou acertos nas interpretações, mas nos processos mentais que
estabelecem os efeitos cognitivos do signo sobre o intérprete.

Segundo (OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), fotografia é “a manifestação democrática de


uma arte”, ou por outra, é o “método de observar uma realidade e reflectir na mente do
observador, espaço perceptivo de uma realidade”. Ela potencializa a generalidade das coisas que
ocorrem e das leituras dos factos, o que justifica a escolha da imagem fotográfica porque
percebemos que transmite transparência do objecto real bandeira, conforme teoria de Pierce, a
fotografia da bandeira é um signo que representa a generalidade, neste caso ao povo de cada
estado.

A imagem fotográfica é rica e carrega um senso criativo instrumental, onde a sua importância
torna-se evidente dando destaque episódios, situações e objectos, num determinado tempo,
espaço e contexto, representando ao menos, recortes da realidade, visto que a máquina regista
apenas um ângulo do fotografado.

Para fazer análise semiótica da imagem fotográfica das bandeiras é fundamental entender a teoria
de Peirce sobre a fenomenologia e semiótica.

Princípio da Fenomenologia

A Fenomenologia estuda os objectos e as estruturas da consciência cognitiva, daquilo que chega


à mente, ou seja, investiga os modos como aprendemos qualquer coisa que aparece à nossa
mente: cheiro, uma formação de nuvens, bandeira, ou mesmo algo complexo como conceito
abstrato provocado por lembrança.

De acordo com (Nicolau, 2010), a fenomenologia é “compreendida como método da crítica do


conhecimento universal das essências por Edmund Husserl, fundador da Fenomenologia, é a
própria ciência da essência do conhecimento. Na prática da Fenomenologia efetua-se o processo
de redução fenomenológica que permite ao sujeito atingir a essência do fenômeno”.

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Peirce através da experimentação elaborou categorias universais, partindo da Fenomenologia,
que pressupõe a observação dos fenômenos e a posterior categorização do pensamento e dos
objectos, (Nicolau, 2010).

A Fenomenologia intenta caracterizar e compreender todos os fenômenos. Para estudarmos os


fenômenos precisamos ter uma habilidade contemplativa, estar apto a distinguir as diferenças
fenoménicas e ter a capacidade de colocar as observações em categorias. A fenomenologia
forneceu as fundações para as três ciências normativas: Estética, Ética e Lógica ou Semiótica e
estas, por sua vez, fornecem as fundações para a metafísica.

De acordo com (SANTAELLA, 2002), elas são disciplinas muito abstratas e gerais que não se
confundem com ciências práticas; e são chamadas de normativas porque têm por função estudar
ideais, valores e normas. A Estética guia nossos sentimentos; a Ética guia nossa conduta e a
Lógica estuda os ideais e normas que conduzem o pensamento.

A primeiridade é a ideia imediata, não há nada anterior, é simples em si mesma, novidade, sem
compromisso com passado nem com futuro, a percepção é ingénua, despida de qualquer juízo de
valor, comparações, explicações e julgamentos, (SANTAELLA, 1983).

Segundo (OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), “na sencundidade há um mundo legítimo,
concupiscente, que não depende do pensamento, porém é pensável, é o palco da existência”.
Logo a secundidade é a consciência das sensações que foram causadas pelos estímulos, no caso
vertente, referimos o visual. Portanto, ela corresponde a acção e reacção, é o conflito da
consciência com fenômeno, buscando entendê-lo.

No que terceiridade diz respeito, corresponde à camada da inteligibilidade ou pensamento em


signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo (SANTAELLA, 1983). Esta fase
permite a aproximação da primeira e da segunda categoria, através da síntese intelectual. Mais
ainda, a terceiridade envolve leis e convenções, aprendizagem, pensamento, mediação e
representação.

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5. Semiótica e Semiologia

A Semiótica é a ciência dos signos, que ajuda a entender a construção do significado através da
interpretação do objecto, as formas de se comunicar utilizando linguagens ou não verbais, ou
seja, escrita, oral, gestual, desenhada e corporal.

Conforme (Santaella, 1983), o crescimento do ser humano tanto moral, social, assim como
intelectual altera a percepção e a importância que se dá a cada signo. Citada ainda por (OLIARI,
ALMEIDA & BONA, 2009), os autores afirmam que “essa quase-ciência fornece as fundações
para as três normativas: estética, ética e lógica, e estas por sua vez, fornecem as fundações para a
metafísica”.

Portanto, é nosso entender que com base na semiótica, a ciência dos signos, o objecto pode ser
interpretado para obtenção do seu significado, na medida em que ela possibilita analisar as
relações entre uma coisa e o significado, estudando os fenômenos que geram significações
distintas, conforme o momento social e histórico.

Dito isto, podemos afirmar que a semiótica está no nosso dia-a-dia, sem que necessariamente
haja consciência disso, pois, é a base para uma série de signos sobre o mundo que nos rodeia.

Os principais percursores da Semiótica, que marcaram início dos estudos sobre signos foram o
suíço Ferdinand de Saussure e o americano Charles Sanders Peirce.

Saussure entende a Semiótica como estudo de todos os sistemas de signos na vida social e, por
conseguinte, a Linguística seria uma parte da Semiologia que, por sua vez, seria uma parte da
Psicologia Social.

Segundo Santaella (1983), o filosofo Peirce, baseado na concepção do estudo dos fenômenos,
definiu três categorias para mostrar como os fenômenos aparecem à consciência. Numa primeira
fase temos Primeiridade, que é a qualidade da consciência imediata, percepção espontânea;
segunda fase: Secundidade, que é a reacção, compreensão e profundidade do seu conteúdo e, por
último, Terceiridade que é a experiência das medições.

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6. Significado da imagem fotográfica da bandeira de Moçambique à Luz da Teoria de
Peirce

A análise semiótica da bandeira de Moçambique (Figura 2) vai obedecer o aspecto físico, a


estrutura, bem como as cores que a constituem e seu significado.

Figura 2: Bandeira de Moçambique

Fonte: portaldogoverno.co.mz

A imagem fotográfica da bandeira nacional de proporção de 2:3, aprovada a 1 de Maio de 1983,


foi feita de tecidos coloridos através do vermelho, verde, preta, amarela dourada e branca
recortados e emendados. Trata-se uma imagem quadrada plana unidimensional.

Nota-se que a bandeira tem uma forma triangular e três formas quadradas que unidas formam um
rectângulo, de cima para baixo estão dispostas horizontalmente as cores verde, preta e a amarela
dourada separadas por estreitas brancas, do lado esquerdo a cor vermelha ocupa o triângulo
isósceles no centro do qual se encontra uma estrela dourada de cinco pontas, com um livro ao
centro, sobre a qual se cruzam uma arma e uma enxada.

Quanto ao significado, constatamos que a estrela representa a solidariedade entre os povos, a


arma simboliza a luta armada e a defesa do país, enquanto o livro destaca a educação e a enxada,
a agricultura.

Fazendo observação exaustiva, pode se verificar uma sensação de movimento que se dá através
da iconização de um cata-vento, devido a relação rectângular em que os quadrados e o triângulo
estão dispostos.

Esta sensação de movimento, construída pela imagem de cata-vento, sugere a ideia de vento e
relacionando com a bandeira do país transmite a impressão de um ambiente mais aberto do que
fechado, onde há circulação do ar. Aliás, a bandeira de Moçambique é estática, seus elementos

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criam sensações de dinamismo e movimento, não só físico, mas também histórico dado pela
impressão de um recuar ao tempo aquando colonização portuguesa.

Portanto, esta sensação dá-se ao verificamos uma estrela, um livro ao qual se sobrepõem uma
arma e uma enxada cruzadas, que demostram a valorização pelas raízes históricas, que foram
impulsionadoras da luta da armada para a conquista da independência nacional.

Depois das primeiras impressões buscamos os significados dos dados pela Legislação, que indica
o objecto em estudo como símbolo da República de Moçambique, e faz uma descrição da forma
e de suas cores.

Significado das cores da bandeira de Moçambique

De acordo com Constituição da República, no artigo 305, as cores são assim representadas:

Vermelha – resistência secular ao colonialismo, a luta armada de libertação nacional e a defesa da


soberania; Verde – as riquezas do solo; Preta – o continente africano; Amarela dourada – as riquezas do
subsolo; e Branca – a justeza da luta do povo moçambicano e a paz.

A imagem parte da realidade física, o que chamamos secundidade, para a sensação causada pelos
estímulos visuais (formas, cores), primeiridade e que mediada pela cultura (terceiridade) se
convencionou ao objecto a palavra bandeira.

A imagem fotográfica da bandeira de Moçambique, à luz da teoria de Peirce, verifica-se que na


terceiridade o signo é lei (legi-signo), em relação ao seu objecto e se dá pela lembrança de outras
experiências relacionadas ao contexto sócio cultural, o que torna a bandeira um símbolo que
possui uma relação convencional do objecto com a denominação colectiva da palavra bandeira.

Independentemente da idade ou conhecimento das características sócio-culturais e convencionais


comuns das bandeiras, ao olhar a imagem no primeiro contacto, poderá não identificar que se
trata da bandeira de Moçambique, porém, no segundo contacto reconhecerá como bandeira, e
poderá lhe causar sentimentos, saudades, emoções e lembranças de determinado tempo e espaço.

Além disso, enquanto bandeira de Moçambique, é um legi-signo, é um argumento, que está no


campo da terceiridade. Por exemplo, as escolas ensinam a descrever a bandeira, nisto referimos o
processo de terceiridade.

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A bandeira de Moçambique é um símbolo que permite ao interpretante inúmeras probabilidades
de interpretação. Na terceiridade, quando o intérprete estabelece relação com o signo transmite
argumentos, justificativas a razão do signo. Tomemos como exemplo, ao olhar a bandeira de
Moçambique hasteada até a metade do mastro, podemos fazer a leitura de que o país está de luto.

Quanto à secundidade, ela ocorre através da consciência dos estímulos, portanto, apresentação da
bandeira como existente singular é um sin-signo. Conforme Santaella (2002), “essa propriedade
de existir, que dá poder de funcionar como signo, é chamado de sin-signo, onde ‘sin’ significa”.
No continente africano existem diversas bandeiras que representam cada país, não obstante cada
uma tem suas cores, formas, tamanhos, marcas e significados, o que as torna únicas e singulares.

Fazendo uma relação entre o signo e objecto, na secundidade, a imagem é um índice porque tem
uma relação direta com a imagem fotográfica da bandeira de Moçambique, visto que havendo
relação de continuidade entre o signo e o objecto existe um índice. No nível indicial a imagem
fotográfica é índice de tecido, o desenho de estrela, livro, arma e enxada são ícone. Ainda na
secundidade, na relação entre o signo e seu interpretante, a fotografia da bandeira é um dicente
por sua existência concreta, é um signo de existência real.

A imagem fotográfica da bandeira é um sin-signo que traz consigo diversos qualisignos, pois é
formado por qualidades e propriedades que despertam, num primeiro momento, impressões de
qualidade imediata. Neste sentido, quase que instantâneo, ao primeiro olhar, vê- se apenas um
conjunto de cores, formas e tamanhos, ou seja, ‘um fenômeno interno a mente’, característico da
primeiridade., (TEIXEIRA et all, 2011, apud OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009).

Contudo, quando o intérprete estabelece a relação com a imagem da bandeira surgem hipóteses
dado que as cores, as formas e o tamanho sugerem possibilidades de interpretação do objecto.
Tal hipótese ou rema constitui signo que para o intérprete funciona como possibilidade podendo
se verificar ou não.

Portanto, as imagens fotográficas devido a sua qualidade possibilitam ao intérprete imaginação


com determinada coisa podendo ser materializada durante os conhecimentos universais que o
leitor acessa e reorganiza as hipóteses interpretativas estabelecidas com finalidade de confirmar
ou não as hipóteses.

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Quanto à primeiridade, ao analisar a bandeira, fica-se com a sensação que Moçambique é um
país que valoriza a diversidade cultural, a agricultura constitui base de subsistência dado a
existência da estrela, da enxada e das cores dos quadrados e triângulo.

Desta forma, podemos afirmar que a imagem fotográfica da bandeira de Moçambique é um signo
carregado de significados que nos remete a sensações, interpretações, sentimentos percepções, e
conhecimentos.

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7. CONCLUSÃO

O trabalho teve como objectivo analisar e descrever os elementos da imagem fotográfica da


bandeira da República de Moçambique à Luz da teoria de Pierce. Iniciamos por descrever o
historial do surgimento das bandeiras no mundo, de seguida analisamos as bandeiras dos países
do continente africano, onde constatamos que tem característica principal a forma rectangular, a
predominância da cor vermelha, que simboliza a resistência a dominação europeia, a cor verde
representa a esperança, o azul que simboliza a harmonia. Por outro lado, percebemos que as
bandeiras dos países africanos transmitem interpretações que nos remetem ao recuar do tempo e
espaço.

Quanto à análise semiótica da bandeira de Moçambique procuramos descrever o objecto a partir


da observação, o que despertou sensações e impressões para a compreensão do objecto bandeira.
Outrossim, tomamos como relevante os aspectos estruturais e formais da bandeira fotografada a
luz das categorias fenomenológicas e da teoria de Pierce.

Durante a interpretação, o signo estudado despertou percepções, ideias, sensações e sentimentos,


o que possibilitou leituras de outros aspectos do signo. Segundo a teoria de Pierce, a bandeira de
Moçambique transmite um leque de significados, que surgem por via do processo de semiose,
produzido por significações.

Neste diapasão percebemos que o processo de significação ocorre pela dinamicidade dos signos,
sendo o representamen que é a relação estabelecida entre o objecto e intérprete. Aliás importa
referir que o obejcto bandeira é representado pelas cores vermelha, que simboliza a resistência
secular ao colonialismo, a luta armada de libertação nacional e a defesa da soberania; verde,
significa as riquezas do solo; preta, simboliza o continente africano; amarela dourada, significa
as riquezas do subsolo e branca, que simboliza a justeza da luta do povo moçambicano e a paz.

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8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BITTENCOURT, Eliane de Oliveira & LUIS, Rozilda da Silva. Análise da Imagem da


Bandeira de Itajai à Luz da Semiótica de Peirce.

NICOLAU, Marcos. Comunicação e Semiótica: visão geral e introdução à Semiótica de


Pierce. Universidade Federal da Paraíba. Agosto. 2010.

OLIARI, Deivi Eduardo.; ALMEIDA, Milton António Corrêa de. & BONA, Rafael José. A
mensagem pela imagem: análise Semiótica das fotografias Publicitárias da Coleção Verão
2007 da WJ Acessórios. Intercom – Blumenau – Maio, 2009.

SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo: Editora Brasiliense. 1983.

____.Semiótica Aplicada. São Paulo: Thomson Learning. 2002.

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