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26. Concorda que, ao fazer a imagem dizer tudo através do texto que a acompanha,
esquecemos que ela fala tanto como o texto sem sequer precisar dele? Por outras palavras,
concorda que o “casamento” entre imagem e texto é muitas vezes forçado e não natural?
Justifique a sua resposta e dê um exemplo claro, plausível e convincente.
R: Em parte quero concordar com esta afirmação na medida em que a imagem por si já transmite
mensagem sem precisar do texto para complementar o conteúdo. A comunicação visual é muito
eficiente, vale mais a compreensão do significado pelo uso de recursos visuais. O exemplo disso
é que até hoje as pinturas rupestres não foram decifradas, mais ainda podemos imaginar que ao
invés de existir um desenho de um animal, tivéssemos a frase: “hoje fui a caça e acertei três
gazelas”. Haveria alguma dúvida sobre o que aquilo significa. Outro exemplo, uma foto ao lado
representa duas crianças bem pequenas sentadas num sofá vermelho. Ela, por si só, apresenta
uma estrutura que traz significados para as mais variadas pessoas que para elas olharem,
significados esses que podem depender, inclusive, da intencionalidade com que a fotografia está
sendo olhada. Para apreciar esta imagem, não creio seja necessária legenda ou outro tipo de texto
referência.
Entretanto, nem todas imagens dispensam o “casamento” com o texto, por exemplo, é quase
impossível descrever em uma imagem de um conto ou poesia, tal ocorre quando usamos imagem
em anúncios acompanhadas de texto para comunicar de forma efectiva. Portanto, o texto e a
imagem andam juntos, há uma relação de complementaridade.
Tomemos como exemplo o caso de um deficiente visual, não dúvida que para perceber a imagem
necessita de união de processos de áudio descrição para contemplar o significado da imagem.
A nível mundial os países adoptam uma bandeira que simboliza a identidade e autonomia como
Estado, transmitindo reconhecimento pelo mundo através da Bandeira Nacional. As bandeiras
são caracterizadas por cores que representam o país, tanto a nível político, sócio-cultural e
remetem ao tempo e espaço.
No continente africano as cores dominantes das bandeiras são vermelha, verde, azul e amarela
dourada devido aos históricos acontecimentos da colonização europeia. Moçambique não é a
excepcão, a bandeira nacional é representada pela cor vermelha, verde, preta, amarela dourada e
branca.
A fenomenologia constitui base para diversas ciências, tal é o caso da semiótica que estuda os
signos. De acordo com (PIERCE, 1995, apud SANTAELLA, 1983), signo é algo percebido que
se apresenta no lugar de outra coisa material ou imaginária, para representá-la.
1.1. Origem
A mesma fonte refere que, as bandeiras têm as suas origens nas insígnias, sinais distintivos de
poder ou de comando usados desde a antiguidade e que podiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. A sua substituição por tecidos pintados em cores
vivas foi feita pelos romanos, com o seu “vexilium” (estandarte), uma tendência que se acentuou
durante a Idade Média.
Portanto, foi a partir daí que se instituiu a bandeira como simbolo de pertença de um povo a um
determinado espaço físico (território), neste caso, simbolizando a autonomia identitária, como
uma Nação, um país soberano, não importando o seu tamanho pequeno ou grande, o processo de
interacção dentro desta unidade territorial, primeiro, e fora dela se desencadeou e, à luz das
chamadas relações internacionais, o reconhecimento pelo mundo fora por este símbolo, que é a
Bandeira Nacional.
2. Imagem
A imagem pode ser a representação de algo, sendo ela caracterizada de acordo com quem a lê ou
interpreta. Logo, cada indivíduo possui uma leitura diferente, não podendo ser definido à mesma.
A definição da imagem é polissémica devido aos infinitos usos desse termo, que vai desde os
desenhos rupestres até à imagem mental. A forma que uma imagem pode proporcionar, os
mistérios que a envolvem, as diferentes leituras feitas por vários intérpretes, cria um universo de
teorias e formas de interpretação.
Portanto, quando o intérprete estabelece uma relação com a imagem são mobilizados vários
códigos com objectivo de ter uma percepção do objecto. É neste contexto que mostra-se
fundamental o estudo da imagem fotográfica das bandeiras para obtenção do significado do
objecto.
3. Fotografia
De acordo com (OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), a fotografia é entendida como uma
manifestação democrática de uma arte, que causa impressão luminosa na observação através da
reprodução de imagens visíveis, que normalmente não é visto pelo olho nu.
Santaella (1983) define a fotografia como um signo híbrido que contém ícones (semelhança) e
índices (continuidade), estando ligado à categoria primeiridade, através da relação que é
estabelecida com seus referentes de modo analógico ou apenas sensível.
O Continente Africano tem cinquenta e cinco países subdivididos em cinco regiões a saber:
África Austral constituída por África do Sul, Angola, Botswana, Comores, Lesoto, Madagáscar,
Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Essuatíni, Zâmbia e Zimbábwè; África Central
constituída pela República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Chade e Congo;
África Ocidental constituída por Benin, Burkina Fasso, Cabo Verde, Camarões, Costa do
Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Libéria, Mali,
Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Togo; África
Setentrional ou Norte de África constituída pela Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Saara
Ocidental, Sudão e Tunísia; Áfrca Oriental constituída por Burundi, Djibouti, Eritreia, Etiópia,
Quénia, Ruanda, Seychelles, Somália, Tanzânia e Uganda.
Fonte: google.co.mz
A imagem fotográfica acima ilustra bandeiras dos países do continente africano, que constituem
símbolo nacional para cada estado. A característica principal das bandeiras é a forma rectangular,
Fazendo uma observação das bandeiras, nota-se que as sensações e interpretações não se
distanciaram muito daquilo que se estabeleceu convencionalmente, porém, a preocupação da
semiótica não está em erros ou acertos nas interpretações, mas nos processos mentais que
estabelecem os efeitos cognitivos do signo sobre o intérprete.
A imagem fotográfica é rica e carrega um senso criativo instrumental, onde a sua importância
torna-se evidente dando destaque episódios, situações e objectos, num determinado tempo,
espaço e contexto, representando ao menos, recortes da realidade, visto que a máquina regista
apenas um ângulo do fotografado.
Para fazer análise semiótica da imagem fotográfica das bandeiras é fundamental entender a teoria
de Peirce sobre a fenomenologia e semiótica.
Princípio da Fenomenologia
De acordo com (SANTAELLA, 2002), elas são disciplinas muito abstratas e gerais que não se
confundem com ciências práticas; e são chamadas de normativas porque têm por função estudar
ideais, valores e normas. A Estética guia nossos sentimentos; a Ética guia nossa conduta e a
Lógica estuda os ideais e normas que conduzem o pensamento.
A primeiridade é a ideia imediata, não há nada anterior, é simples em si mesma, novidade, sem
compromisso com passado nem com futuro, a percepção é ingénua, despida de qualquer juízo de
valor, comparações, explicações e julgamentos, (SANTAELLA, 1983).
Segundo (OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009), “na sencundidade há um mundo legítimo,
concupiscente, que não depende do pensamento, porém é pensável, é o palco da existência”.
Logo a secundidade é a consciência das sensações que foram causadas pelos estímulos, no caso
vertente, referimos o visual. Portanto, ela corresponde a acção e reacção, é o conflito da
consciência com fenômeno, buscando entendê-lo.
A Semiótica é a ciência dos signos, que ajuda a entender a construção do significado através da
interpretação do objecto, as formas de se comunicar utilizando linguagens ou não verbais, ou
seja, escrita, oral, gestual, desenhada e corporal.
Conforme (Santaella, 1983), o crescimento do ser humano tanto moral, social, assim como
intelectual altera a percepção e a importância que se dá a cada signo. Citada ainda por (OLIARI,
ALMEIDA & BONA, 2009), os autores afirmam que “essa quase-ciência fornece as fundações
para as três normativas: estética, ética e lógica, e estas por sua vez, fornecem as fundações para a
metafísica”.
Portanto, é nosso entender que com base na semiótica, a ciência dos signos, o objecto pode ser
interpretado para obtenção do seu significado, na medida em que ela possibilita analisar as
relações entre uma coisa e o significado, estudando os fenômenos que geram significações
distintas, conforme o momento social e histórico.
Dito isto, podemos afirmar que a semiótica está no nosso dia-a-dia, sem que necessariamente
haja consciência disso, pois, é a base para uma série de signos sobre o mundo que nos rodeia.
Os principais percursores da Semiótica, que marcaram início dos estudos sobre signos foram o
suíço Ferdinand de Saussure e o americano Charles Sanders Peirce.
Saussure entende a Semiótica como estudo de todos os sistemas de signos na vida social e, por
conseguinte, a Linguística seria uma parte da Semiologia que, por sua vez, seria uma parte da
Psicologia Social.
Segundo Santaella (1983), o filosofo Peirce, baseado na concepção do estudo dos fenômenos,
definiu três categorias para mostrar como os fenômenos aparecem à consciência. Numa primeira
fase temos Primeiridade, que é a qualidade da consciência imediata, percepção espontânea;
segunda fase: Secundidade, que é a reacção, compreensão e profundidade do seu conteúdo e, por
último, Terceiridade que é a experiência das medições.
Fonte: portaldogoverno.co.mz
Nota-se que a bandeira tem uma forma triangular e três formas quadradas que unidas formam um
rectângulo, de cima para baixo estão dispostas horizontalmente as cores verde, preta e a amarela
dourada separadas por estreitas brancas, do lado esquerdo a cor vermelha ocupa o triângulo
isósceles no centro do qual se encontra uma estrela dourada de cinco pontas, com um livro ao
centro, sobre a qual se cruzam uma arma e uma enxada.
Fazendo observação exaustiva, pode se verificar uma sensação de movimento que se dá através
da iconização de um cata-vento, devido a relação rectângular em que os quadrados e o triângulo
estão dispostos.
Esta sensação de movimento, construída pela imagem de cata-vento, sugere a ideia de vento e
relacionando com a bandeira do país transmite a impressão de um ambiente mais aberto do que
fechado, onde há circulação do ar. Aliás, a bandeira de Moçambique é estática, seus elementos
Portanto, esta sensação dá-se ao verificamos uma estrela, um livro ao qual se sobrepõem uma
arma e uma enxada cruzadas, que demostram a valorização pelas raízes históricas, que foram
impulsionadoras da luta da armada para a conquista da independência nacional.
Depois das primeiras impressões buscamos os significados dos dados pela Legislação, que indica
o objecto em estudo como símbolo da República de Moçambique, e faz uma descrição da forma
e de suas cores.
De acordo com Constituição da República, no artigo 305, as cores são assim representadas:
A imagem parte da realidade física, o que chamamos secundidade, para a sensação causada pelos
estímulos visuais (formas, cores), primeiridade e que mediada pela cultura (terceiridade) se
convencionou ao objecto a palavra bandeira.
Quanto à secundidade, ela ocorre através da consciência dos estímulos, portanto, apresentação da
bandeira como existente singular é um sin-signo. Conforme Santaella (2002), “essa propriedade
de existir, que dá poder de funcionar como signo, é chamado de sin-signo, onde ‘sin’ significa”.
No continente africano existem diversas bandeiras que representam cada país, não obstante cada
uma tem suas cores, formas, tamanhos, marcas e significados, o que as torna únicas e singulares.
Fazendo uma relação entre o signo e objecto, na secundidade, a imagem é um índice porque tem
uma relação direta com a imagem fotográfica da bandeira de Moçambique, visto que havendo
relação de continuidade entre o signo e o objecto existe um índice. No nível indicial a imagem
fotográfica é índice de tecido, o desenho de estrela, livro, arma e enxada são ícone. Ainda na
secundidade, na relação entre o signo e seu interpretante, a fotografia da bandeira é um dicente
por sua existência concreta, é um signo de existência real.
A imagem fotográfica da bandeira é um sin-signo que traz consigo diversos qualisignos, pois é
formado por qualidades e propriedades que despertam, num primeiro momento, impressões de
qualidade imediata. Neste sentido, quase que instantâneo, ao primeiro olhar, vê- se apenas um
conjunto de cores, formas e tamanhos, ou seja, ‘um fenômeno interno a mente’, característico da
primeiridade., (TEIXEIRA et all, 2011, apud OLIARI, ALMEIDA & BONA, 2009).
Contudo, quando o intérprete estabelece a relação com a imagem da bandeira surgem hipóteses
dado que as cores, as formas e o tamanho sugerem possibilidades de interpretação do objecto.
Tal hipótese ou rema constitui signo que para o intérprete funciona como possibilidade podendo
se verificar ou não.
Desta forma, podemos afirmar que a imagem fotográfica da bandeira de Moçambique é um signo
carregado de significados que nos remete a sensações, interpretações, sentimentos percepções, e
conhecimentos.
Neste diapasão percebemos que o processo de significação ocorre pela dinamicidade dos signos,
sendo o representamen que é a relação estabelecida entre o objecto e intérprete. Aliás importa
referir que o obejcto bandeira é representado pelas cores vermelha, que simboliza a resistência
secular ao colonialismo, a luta armada de libertação nacional e a defesa da soberania; verde,
significa as riquezas do solo; preta, simboliza o continente africano; amarela dourada, significa
as riquezas do subsolo e branca, que simboliza a justeza da luta do povo moçambicano e a paz.
OLIARI, Deivi Eduardo.; ALMEIDA, Milton António Corrêa de. & BONA, Rafael José. A
mensagem pela imagem: análise Semiótica das fotografias Publicitárias da Coleção Verão
2007 da WJ Acessórios. Intercom – Blumenau – Maio, 2009.