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ANÁLISE ESPACIAL E GESTÃO DE EQUIPAMENTOS

PÚBLICOS DE EDUCAÇÃO, SEGURANÇA E LAZER

RESUMO
A partir da dissertação intitulada “Planejamento Urbano e Equipamentos Comunitários: o caso
de Passo Fundo”, que tinha como objetivo central identificar os equipamentos comunitários de
três bairros da cidade de Passo Fundo e verificar se os mesmos atendiam ou não às demandas
municipais, chegou-se a justificativa deste trabalho. Em função dos dados levantados com a
dissertação foi possível constatar, que quase todos os equipamentos comunitários implantados
nos setores analisados, ocorreram sem planejamento adequado e sem a preocupação com o
número de pessoas que iriam atender. A partir desta verificação, a dissertação apontou a
necessidade de implantação de novos equipamentos nos bairros, e por ser a tecnologia de
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) uma ferramenta de auxílio ao planejamento urbano,
buscou-se com este estudo, simular as melhores áreas para a implantação de novos
equipamentos comunitários de educação, segurança e lazer em um dos três bairros da
dissertação, selecionado em função da carência de equipamentos e das características físicas
que o mesmo apresenta.
Palavras-chaves: Sistemas de Informações Geográficas (SIG), Equipamentos Comunitários,
Infra-Estrutura Urbana, Equilíbrio social da população.

ABSTRACT
From the dissertation entitled “Urban Planning and Communitarian Equipments: the case of
Passo Fundo”, that it had as objective central office to identify the community equipments of
three neighborhoods of the city of Passo Fundo and verify if the same ones meet or not to the
municipal demands, came the justification of this work. In function of the data raised with the
dissertation it was possible to evidence, that almost all implanted community equipments in the
analyzed sectors, occurred without adequate planning and without worrying about the number of
people that would attend. From this verification, the dissertation pointed the necessity of
equipment implantation new in the quarters, and for being the technology of Geographical
Information Systems (GIS) a tool of aid to the urban planning, searched with this study, simulate
the best areas for the implantation of community equipments new of education, security and
leisure in one of the three neighborhoods of the dissertation, selected in function the lack of
equipment and the physical characteristics that it presents.
Palavras-chaves: Geographical Information Systems (GIS), Communitarian Equipments,
Urban Infrastructure, Social balance of the population.

1
1 INTRODUÇÃO

A fim de devolver a cidade moderna à coletividade desapropriada ao longo


do processo de formação das grandes aglomerações urbanas
contemporâneas, Arantes (1995, p.97) cita que a partir de meados dos anos
1960, arquitetos e urbanistas entregaram-se a uma verdadeira obsessão pelo
‘lugar público’. Para eles, este era “o antídoto mais indicado para a patologia da
cidade funcional” que ocorria após as primeiras separações do Movimento
Moderno no pós-guerra.
No século XXI, Guimarães (2004, p.173), coloca que cada vez mais se deve
tentar preservar todos os grandes espaços disponíveis das cidades, pois “o
espaço público deve ser a opção aos espaços confinados e socialmente
estratificados dos clubes e condomínios”. Isto porque, as áreas comunitárias de
uso comum do povo proporcionam qualidade de vida não só a população local,
mas também aos moradores dos bairros vizinhos, sobretudo à comunidade
carente, que têm suas necessidades básicas supridas através dos
equipamentos comunitários localizados próximos as suas residências, além de
praticar seu lazer nas áreas públicas da mesma, como as praças, parques,
áreas verdes e espaços afins.
Segundo Arfelli (2004):

[...] enquanto que os equipamentos urbanos integram a infra-


estrutura básica à expansão da cidade, destinados portanto, a dar
suporte ao seu crescimento e a proporcionar condições dignas de
habitabilidade, os equipamentos comunitários são aqueles dos quais
se valerá o Poder Público para servir a comunidade, que ocupará
lotes criados pelo parcelamento urbano, nas áreas de educação,
saúde, assistência social, esportes, cultura, lazer, etc.

A idéia e a justificativa à realização do presente artigo vieram a partir da


conclusão da dissertação intitulada “Planejamento Urbano e Equipamentos
Comunitários: o caso de Passo Fundo”, Baseada na Lei Federal 6.766/791, a

1 Lei Federal 6.766 de 19 de dezembro de 1979 (alterada pela Lei 9.785, e já em revisão pelo
Projeto de Lei 3.057, de 2000), que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras
providências, trata do assunto, disciplinando as atividades urbanísticas voltadas ao
ordenamento territorial e à expansão da cidade, definindo e diferenciando equipamentos
urbanos e equipamentos comunitários. Em seu quarto artigo, cita os equipamentos

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dissertação tinha como objetivo geral identificar os equipamentos comunitários
em três bairros da cidade de Passo Fundo/RS e verificar se os mesmos
atendiam ou não às demandas municipais de acordo com os critérios
estabelecidos por essa lei.
Em função dos dados levantados com a dissertação, Romanini constatou
que a localização e dimensionamento de quase todos os equipamentos
comunitários implantados nos setores analisados, ocorreram sem planejamento
adequado e sem a preocupação com o número de pessoas que iriam atender.
Observou ainda, que em relação às áreas mínimas edificadas, as distâncias
permitidas de deslocamento e a conservação dos equipamentos, para a melhor
utilização dos mesmos, também não foi respeitada. A partir desta verificação, a
dissertação apontou a necessidade de implantação de novos equipamentos nos
bairros.
Todavia para a realização do artigo, fez-se um recorte, tomando apenas uma
das três áreas estudadas: o Bairro Santa Marta, selecionado em função da
carência de equipamentos e dos aspectos físicos que o mesmo apresenta. O
objetivo da pesquisa, ao fazer tal recorte é, a partir das constatações de
Romanini das carências deste local e utilizando o Sistema de Informações
Geográficas2 (SIG), trabalhando com softwares apropriados, comprovar a
necessidade de colocação de novos equipamentos comunitários, bem como
simular onde seriam os melhores lugares para tal.
A investigação dividiu-se em alguns capítulos: logo abaixo segue um
apanhado teórico sobre os equipamentos comunitários, as explicações
referentes à metodologia e levantamento histórico-geográfico do bairro Santa
Marta, baseado em Romanini (2006). Por fim mostra-se como, através da
utilização dos softwares Idrisi e Arcgis chegam-se à visualização e

comunitários: Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos: I – as


áreas destinadas a sistema de circulação, a implantação de equipamentos urbanos e
comunitários, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais á densidade de
ocupação prevista para a gleba, ressalvando o disposto no § 1 deste artigo; § 2 – Consideram-
se comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde, lazer e similares.
2 Os Sistemas de Informação Geográfica - SIG ou Geographic Information System - GIS, são
ambientes computacionais automatizados usados para captura, armazenamento, análise e
manipulação de dados geográficos georeferenciados (dados referenciados por coordenadas
geográficas localizados na superfície terrestre em um sistema de representação cartográfica).

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comprovação das necessidades do bairro, sendo possível apontar soluções às
necessidades e falhas estruturais deste.

2 EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS

Para Couto (1981), os equipamentos comunitários desempenham


importante função para o equilíbrio social, político, cultural e psicológico de
uma população, pois funcionam como fator de escape das tensões geradas
pela vida contemporânea em comunidade.
Campos Filho, (1999, p.111) cita ainda que, ao se referir aos equipamentos
comunitários, automaticamente estará se referindo a população mais carente,
pois:
[...] quanto mais baixa a renda dos moradores, mais eles serão
dependentes dos serviços da rede estadual subsidiados. Por isso, a
grande maioria da população, com renda familiar da ordem de até
dez salários mínimos mensais, preferirão as creches, escolas de
primeiro grau, postos de saúde, praças de lazer e áreas verdes do
Estado. Essa condição é crucial para a definição do tamanho do
bairro de vizinhança. Isso porque a dimensão ótima desses
equipamentos é uma condição de fundamental importância para a
qualidade de prestação de serviços [...].

Para Ferrari (1977, p.301) “[...] a população ótima para a unidade de


vizinhança deve ser tal que permita, no mínimo, a instalação de uma única
escola primária e cujo tamanho não provoque sua desintegração, pela
duplicação de equipamentos comunais”. Santos (1988) observa que os
equipamentos públicos voltados para a vizinhança e os bairros devem ser
distribuídos com a maior regularidade possível pelo espaço urbano.
Moretti (1997, p.129), no entanto, ao listar os equipamentos comunitários
coloca que estes devem ser localizados em áreas específicas:

[...] chamam-se de áreas institucionais aquelas destinadas à


implantação de equipamentos urbanos e comunitários. As
necessidades urbanas quanto às áreas institucionais constituem
uma lista extensa: além das creches, pré-escolas, escolas de 1º. E
2º. Graus e postos de saúde, têm-se hospitais, universidades,
cemitérios, postos policiais e de correios, escritórios administrativos
municipais, mercados, bibliotecas, teatros, centros culturais e
comunitários, terminais rodoviários, asilos e locais para caixa
d’água, estações de tratamento de água e esgoto, entre outros.

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Segundo Guimarães (2004, p.173), cada vez mais se deve tentar preservar
os grandes espaços disponíveis das cidades, pois “o espaço público deve ser a
opção aos espaços confinados e socialmente estratificados dos clubes e
condomínios”.
Logo, uma postura antecipativa deveria ser levada em conta na formulação
de diretrizes urbanísticas tanto para o planejamento da cidade como um todo,
quanto na abertura de novos loteamentos, de acordo com Guimarães (2004,
p.134), “da área loteada das cidades serão destinados para uso público, no
mínimo 35% (incluindo o sistema viário), dos quais 15% serão utilizados
exclusivamente para equipamentos comunitários e áreas livres para uso
público”.
Moretti (1997, p.129), também trata especificamente sobre o assunto,
citando que nos projetos de parcelamento do solo, os municípios devem
estabelecer a exigência de doação de 5% do total da gleba como área
institucional, independente da densidade populacional do empreendimento.

2.1 EQUIPAMENTOS DE EDUCAÇÃO


Junto aos estudos de arquitetura e urbanismo pesquisados sobre os
equipamentos de educação, Campos Filho (2003, p.58) coloca que:

[...] no caso da educação, os equipamentos principais são: a creche,


a escola maternal, a pré-escola, o primeiro grau até a 4ª série (o
antigo primário), da 5ª a 8ª série (o antigo ginásio) e o segundo grau.
O ensino de nível superior tem outra lógica de localização, a qual
pode ser muito mais distante da moradia que a dos equipamentos
do primeiro e segundo graus.

Em específico na educação brasileira, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de


1996, estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, citando em seu
1º artigo, que “a educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais”.

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No artigo 21º da mesma Lei, se estabelece que a educação escolar é
composta pela: educação básica (I), formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio e pela educação superior (II).
Moretti (1997, p.141) trata a questão do dimensionamento da seguinte
maneira: “Quanto à localização das escolas, os técnicos da FDE, indicam uma
localização preferencial que possibilite o acesso a pé em não mais que 15 min.,
correspondendo a um raio de atendimento de aproximadamente 800 m”.
Para Guimarães (2004, p.238), o dimensionamento dos equipamentos de
ensino é calculado em função da população em idade estudantil de 7 a 17 anos
(aproximadamente de 25% a 36% da população brasileira) e com o índice de
m² de construção por aluno:
 Ensino Fundamental (1º Grau): 0,864 m² por população e um raio de 800
m das unidades residenciais;
 Ensino Médio (2º Grau): 0,182 m² por população e um raio de 1.600 m
das residências.

2.2 EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA


Em relação aos equipamentos de segurança, Santos (1988, p.159) é um
dos únicos autores que trata diretamente deste assunto. Ele coloca que a
implantação do posto policial deve: ser da alçada do Governo do Território;
funcionar em prédio com delegacia e cadeia atuando em áreas que podem ir
além da urbana, incluindo o meio rural; localizar-se em área periférica ao centro
da cidade, afastada de residências, escolas, creches etc.; ocupar terreno com
área mínima de 1.000 m²; prever pátio para estacionamento e manobra de
viaturas policiais, além de estacionamento defronte ao prédio.
Dados do IBGE (2001) citam que apenas 18,9% dos municípios brasileiros
têm guarda municipal, conseqüentemente Ferrari (1977, p.305), entretanto, diz
que o Posto Policial deve estar localizado na Unidade de Vizinhança ou no
Bairro, ou seja, próximo mais ou menos 800 m das residências.

2.3 EQUIPAMENTOS DE LAZER


Finalmente, sobre os equipamentos de lazer, têm-se Santos (1988, p.158) o

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qual explica que as praças ou áreas verdes devem:

[...] ser pequenas, servindo a grupos de vizinhança ou quarteirões


(ver proposta de utilização do miolo dos quarteirões); ser ruas
tratadas como “praças lineares”; ser praças de bairro ou centrais
abrigando ou se interligando a atividades recreativas (escolas,
campos de esporte. igrejas, mercados. quiosques malocões, bares e
restaurantes, cinemas sorveterias etc; e ser faixas lineares
arborizadas a partir das margens de rios, córregos, igarapés.

O autor coloca ainda que devem ser previstos nas praças, estacionamentos
para automóveis e bicicletas; ser previstas articulações sinalizadas com o
sistema viário, e ser obedecido o seguinte dimensionamento: 4,5 m²/habitante.
Em relação aos índices e conforme Cavalheiro & Del Picchia (1992) é
importante comentar que está difundida e arraigada no Brasil a assertiva de
que a ONU, ou a OMS, ou a FAO, considerariam ideal que cada cidade
dispusesse de 12,00 m2 de área verde/habitante.
Referindo-se ainda às praças, Ferrari (1977, p.612) cita que os jardins
públicos das unidades residenciais e das unidades de vizinhança devem ter
área de 1,00 m² por habitante, enquanto os jardins públicos de zonas (setoriais)
devem ter área de 8,00 a 9,00 m² por habitante. Guimarães (2004, p.245),
entretanto cita que a praça deve distar 800 m das unidades residenciais.

3 METODOLOGIA

O presente artigo desenvolve-se como parte integrante da disciplina de


Geoprocessamento aplicado ao Planejamento Urbano e Ambiental. Segundo o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2004), o termo
Geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de tecnologias
voltadas à coleta e tratamento de informações espaciais para um objetivo
específico. As atividades de geoprocessamento são executadas por sistemas
específicos, os Sistemas de Informação Geográfica (SIG). “Geoprocessamento
é um conceito abrangente que representa qualquer tipo de processamento de
dados georeferenciados, enquanto um SIG processa dados gráficos e não-
gráficos com ênfase em análises espaciais e modelagens de superfícies”
(JESUS, 2006, p.09).

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Durante a disciplina foram apresentados dois softwares: o Idrisi Kilimanjaro
e Arcgis, programas que reúnem ferramentas nas áreas de processamento de
imagens, sensoriamento remoto, SIGs, geoestatística, apoio a tomada de
decisões e análise de imagens geográficas.
Para esse trabalho foram utilizados mapas base em vetor e figura, criados
em CAD (Computer Aided Design – Desenho assistido por computador),
contendo informações sobre as características da malha urbana do bairro
estudado. Optou-se por fazer este recorte, pela dificuldade de
georeferenciamento de toda a área urbana e para facilitar a visualização do
bairro. Não foi possível ainda utilizar imagens de satélite devido à sua baixa
resolução, fato que impossibilitou a manipulação de dados nos softwares
anteriormente citados. Todavia estas imagens são apresentadas aqui, como
forma de complemento à metodologia.
Para o correto desenvolvimento do método exposto, fez-se uma
classificação dos equipamentos comunitários, segundo diversos autores,
apresentada no capítulo anterior, que serve de parâmetro regulador aos
procedimentos explorados nos softwares e abaixo se tem a caracterização da
realidade do Bairro em estudo, que serve igualmente como elemento norteador
e possibilitador de construção de um banco de dados sobre o Santa Marta.
Os procedimentos de criação do banco de dados, de visualização dos
mapas e de manipulação e simulação destes, para chegar aos resultados
planejados no artigo, são apresentados no capítulo 05 de forma detalhada.

4 BAIRRO SANTA MARTA

A cidade de Passo Fundo conta atualmente com uma população de cerca


de 185.000 hab. e uma densidade demográfica de 228,7 hab/Km² de acordo
com dados da FEE (2005). Os dados de Passo Fundo revelam e retratam um
incremento populacional na região e a expansão urbana do município.
O Bairro Santa Marta localiza-se a região sudoeste da cidade de Passo
Fundo (Figura 01), a aproximadamente 3,00 Km da área da cidade. O Setor do
Bairro Santa Marta é formado pelos seguintes Loteamentos: Nossa Senhora

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Aparecida, Jardim América, Vila 20 de Setembro, Vila Donária, Loteamento
Força e Luz.

Figura 01. Implantação do Bairro Santa Marta na cidade de Passo Fundo, sem escala
Fonte: Autoras, 2007.

De acordo com o IBGE (Agência de Passo Fundo, 2006), são


características do Bairro:
 Área total: 5.517.070,58 m² ou 551,70 ha
 Total de domicílios: 1.412
 População total: 5.360 (Jovens de 10 a 19 anos = 1.199)
 Alfabetização: 87,17% das pessoas residentes são alfabetizadas
 Média de moradores por domicílio ocupado: 4,0 pessoas
 Predominância da Renda do responsável pelo domicílio: ½ a 2
Salários Mínimos

4.1 EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS DO BAIRRO SANTA MARTA

A pesquisa de campo feita por Romanini (2006) e que segue abaixo é parte
integrante da dissertação que guiou este trabalho. Esta revelou que dentre os

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equipamentos comunitários implantados no Bairro Santa Marta, somente três
são equipamentos de educação, um de segurança e não há nenhum
equipamento público de lazer para uma população de 5.360 habitantes.
Além da verificação se há equipamento de determinado tipo inserido no
bairro, Romanini (2006) analisou se os mesmos atendiam ou não aos
parâmetros de referência estipulados na pesquisa. De acordo com a análise,
nenhum dos equipamentos aqui avaliados atende aos parâmetros de referência
especificados na dissertação.
Além da análise qualitativa exposta acima, a dissertação utilizou-se do
método quantitativo para medir a demanda de equipamentos diante da
comunidade local. As aspirações de 40% da população que respondeu ao
questionário no Bairro Santa Marta demonstram que a prioridade para que o
Setor fique melhor seria com a implantação de Equipamentos Comunitários de
Segurança. Em segundo lugar com 16% aparecem os Equipamentos de
Educação, seguidos pelos de Lazer com 15%: A pesquisa demonstra então
que o Setor do Bairro Santa Marta, mostra-se carente da implantação
principalmente dos Equipamentos de Segurança e de Lazer.

5 APLICAÇÃO DE SIG NA BUSCA PELA ADEQUADA


IMPLANTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS NO
BAIRRO SANTA MARTA

Por ser a tecnologia de sistemas de informações geográficas (SIG) uma


ferramenta de auxílio ao planejamento urbano, busca-se nas linhas que se
seguem, simular as melhores áreas para a implantação de novos equipamentos
comunitários de educação, segurança e lazer no bairro Santa Marta, da
seguinte maneira:
Após a constituição do banco de dados, iniciou-se o processo de
manipulação dos mapas, para ter a dimensão do raio de abrangência dos
equipamentos comunitários. Ficou claro, como já havia sido dito por Romanini
(2006), que a abrangência dos equipamentos é pequena e insuficiente para a
demanda existente.

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Abaixo segue o buffer de abrangência dos equipamentos de educação –
escola de ensino médio (Figura 02), raio de 1.600m, segundo Guimarães
(2004). Percebe-se que apesar da escola ter a função de atender todo bairro,
ela consegue abranger somente as zonas mais próximas. De acordo com
Romanini (2006), a escola possui um raio de abrangência muito superior ao
permitido segundo a literatura da área, e não atinge a porcentagem de
população servida do setor.
Já o buffer de abrangência das escolas de ensino fundamental (Figura 02),
raio de 800 m, segundo Guimarães (2004), mostra que estas cobrem somente
as áreas em que estão assentadas, não sendo problema neste momento,
todavia se novas zonas forem urbanizadas, outras escolas deverão ser
construídas nos pontos carentes.
Ao analisar-se o buffer do equipamento de segurança (Figura 03), percebe-
se que a carência é ainda maior, comprovando o estudo de Romanini. O único
posto policial tem a função de atender todo o bairro, porém ao delimitar-se o
raio de abrangência deste, de 800 m, segundo Ferrari (1977), fica evidenciado
a impossibilidade de cumprimento das recomendações.
Fica clara a necessidade de novos equipamentos de educação e
segurança. Desse modo, partiu-se à investigação dos melhores locais para a
implantação destes, atendendo às recomendações de Romanini.

Figura 02. Mapa da abrangência dos Figura 03. Mapa da abrangência do


equipamentos de educação – escola de equipamento de segurança no Bairro Santa
ensino fundamental e médio no Bairro Santa Marta, sem escala. Fonte: Autoras, 2007.
Marta, sem escala. Fonte: Autoras, 2007

A autora sugere que seja feita a implantação de pelo menos um Posto


Policial em cada unidade de vizinhança do setor, sendo necessários mais dois

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Postos Policiais. Recomenda que seja implantado uma nova Escola de Ensino
Médio no Bairro Santa Marta, que atenda os 1.702 estudantes deste e em
relação aos equipamentos de lazer, recomenda a implantação de pelo menos
24.120,00 m² de área verde, a fim de atingir a área mínima necessária em
função do setor. Sugere que as mesmas sejam implantadas com um raio de
abrangência que varie de 600 a 800 m das residências a que irão atender.
Por fim, atendendo ao objetivo de simular melhores locais para a
implantação dos equipamentos de educação, em específico, uma escola de
ensino médio, dois equipamentos de segurança e ainda a criação de
equipamentos de lazer, inexistentes no bairro, criaram-se três novos layers de
pontos – um para cada equipamento – sobrepondo-os ao mapa das zonas
adequadas para cada um, simulando o raio de abrangência destes novos
equipamentos. Os testes repetiram-se por diversas vezes até chegar-se nos
mapas que seguem a seguir (Figuras 04 a 06).
É importante ainda chamar a atenção para uma ocorrência durante a
pesquisa de Romanini (2006). Ao aplicar os questionários no bairro Santa
Marta, a autora constatou que 15% dos 60 entrevistados não reconhecem o
local onde moram como um único bairro. Essas pessoas, de alguns dos
loteamentos, faziam questão de riscar o nome do bairro que estava na ficha e
colocar o nome da unidade de vizinhança (vila ou loteamento) em que
moravam, demonstrando pouco reconhecimento ou legibilidade da Área
Administrativa Santa Marta como um todo.

Figura 04. Mapa com sugestões de Figura 05. Mapa com sugestões de
implantação do novo equipamento de implantação dos novos equipamentos de
educação no Bairro Santa Marta, sem escala. segurança no Bairro Santa Marta, sem escala.
Fonte: Autoras, 2007. Fonte: Autoras, 2007.

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Vazios
Urbanos

Arroio

Figura 06. Mapa com sugestões de Figura 07. Mapa do Bairro Santa Marta com
implantação dos novos equipamentos de lazer destaque para o arroio (ao centro, cortando o
no Bairro Santa Marta, sem escala. Fonte: bairro) e seus vazios urbanos, sem escala.
Autoras, 2007. Fonte: Autoras, 2007.

Parte dessa falta de legibilidade, em hipótese, é devido à formação


geográfica do bairro. Percebe-se que ele apresenta algumas peculiaridades em
sua topografia (Figura 07). As seis unidades de vizinhança são distribuídas
separadamente pelo terreno e existem barreiras físicas (zonas de arroio
contornado por mata) entre elas. Esta formação não foi considerada pela
prefeitura que, há mais de um ano, uniu os loteamentos transformando-os em
um único bairro ou Área Administrativa Santa Marta.
Todavia, segundo Lynch (1997), um bairro é uma área de caráter
homogêneo, reconhecida por indicações que são contínuas dentro desta área e
descontínuas num outro local. A homogeneidade pode traduzir-se em
características espaciais dos espaços abertos, assim como pode ser notada na
topografia, na vegetação ou em contornos. Ainda segundo o autor (p.78):

Não é incomum um bairro com um núcleo forte e cercado por um


gradiente temático que vai desaparecendo aos poucos. Às vezes, de
fato, um ponto nodal forte pode criar uma espécie de bairro numa
zona homogênea mais ampla, simplesmente por “radiação”, ou seja,
pela sensação de proximidade com o ponto nodal.

Por fim, Lynch (1997) reforça que a topografia é um elemento muito


importante para o reforço dos elementos urbanos. Colinas de forte presença
visual podem definir regiões, rios configuram fortes limites; os pontos nodais
podem ser confirmados por sua localização em pontos-chave do terreno.

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Desse modo acredita-se que a presença do arroio cortando o bairro,
dividindo-o ao meio e as grandes zonas vazias entre as nucleações urbanas,
causam uma baixa legibilidade por parte dos moradores do bairro Santa Marta.
Portanto como forma de “unir” os loteamentos, buscando melhorar a
legibilidade do lugar, é que simulou-se aqui a implantação dos equipamentos
nas zonas não-urbanas, entre os loteamentos. A escola, as praças e os postos
policiais, quando em funcionamento, podem servir como marcos referenciais
entre os residentes, pois a percepção destes pode ser influenciada pelos usos,
hábitos e rotinas cotidianas desenvolvidas dentro e fora dos bairros e por
características físico-espaciais do entorno (KOHLER et all, 1997).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o término da pesquisa, ressalta-se que o geoprocessamento de


dados, através do uso de SIG torna-se relevante para a distribuição e
implantação de equipamentos na malha urbana. A possibilidade de
manipulação dos dados coletados, de confecção de mapas, utilizando as
ferramentas computacionais, facilita muito o processo de investigação e a
tomada de decisões futuras, além de gerar uma base cartográfica para uma
região importante como Passo Fundo.
Ressalta-se também a necessidade de cautela perante a Prefeitura
Municipal quando da formação de novos bairros, para que considere as
características locais e conseqüentemente, atenda aos princípios da
legibilidade.
Por barreiras metodológicas não foi possível utilizar o mapa de relevo da
região analisada. Todavia, recomenda-se para trabalhos futuros que este seja
considerado tendo em vista que a topografia do terreno é importante tanto para
medidas estruturais quanto para o processo de percepção dos moradores.
Segundo Romanini (2006) sugere-se ainda, a implantação de pelo menos um
campo de esporte que atenda a população do bairro, em um raio de influência
de até 2.400 m.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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