Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Não podemos deixar que nos rotulem. Devemos priorizar nossa própria escrita e a das mulheres
do terceiro mundo. [...] Por que sou levada a escrever? Porque a escrita me salva da
complacência que me amedronta. Porque não tenho escolha. Porque devo manter vivo o espírito
de minha revolta e a mim mesma também. Porque o mundo que crio na escrita compensa o que
o mundo real não me dá. No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele uma alça para poder
segurá-lo. Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e minha fome. Escrevo para registrar
o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal escritas sobre mim, sobre
você. Para me tornar mais íntima comigo mesma e consigo. Para me descobrir, preservar-me,
construir-me, alcançar autonomia. Para desfazer os mitos de que sou uma profetisa louca ou
uma pobre alma sofredora. Para me convencer de que tenho valor e que o que tenho para dizer
não é um monte de merda. Para mostrar que eu posso e que eu escreverei, sem me importar com
as advertências contrárias. Escreverei sobre o não dito, sem me importar com o suspiro de
ultraje do censor e da audiência. Finalmente, escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho
um medo maior de não escrever. (ANZALDUA, 1980/2000, p. 231-232, grifo da autora)
Por que deveria tentar justificar por que escrevo? Preciso justificar o ser chicana, ser
mulher? Você poderia também me pedir para tentar justificar por que estou viva?
(ANZALDUA, 1980/2000, p. 231-232, grifo da autora)
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
Minha opção metodológica tem sido aproximar as figuras do teórico da performance e
do artista da performance para a criação de modos enfaticamente corporais de
conhecimento e escrita.
(FABIÃO, 2011)
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Fomos educadxs para respeitar mais ao medo do que às nossas próprias necessidades de
linguagem e definição, e enquanto a gente espera em silêncio por aquele luxo final do
destemor, o peso do silêncio vai terminar nos engasgando.
(LORDE)
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
A não ser que tenhamos consciência de que não se pode evitar tomar posição, tomamos posição sem nos
darmos conta.
-------------------------------------------------------------------------------------
Ramón Grosfoguel
O racismo/sexismo epistêmico é um dos problemas mais importantes do mundo
contemporâneo.
Preciado
Não foram o motor a vapor, a imprensa ou a guilhotina as primeiras máquinas
da Revolução Industrial, mas sim o escravo trabalhador da lavoura, a
trabalhadora do sexo e reprodutora, e os animais. As primeiras máquinas da
Revolução Industrial foram máquinas vivas. Assim, o humanismo inventou
um outro corpo que chamou humano: um corpo soberano, branco,
heterossexual, saudável, seminal. Um corpo estratificado, pleno de órgãos e de
capital, cujas ações são cronometradas e cujos desejos são os efeitos de uma
tecnologia necropolítica do prazer. [...] O Renascimento, o Iluminismo, o
milagre da revolução industrial repousam, portanto, sobre a redução de
escravos e mulheres à condição de animais e sobre a redução dos três
(escravos, mulheres e animais) à condição de máquinas (re-) produtivas. [...]
A máquina e o animal são nossos homônimos quânticos. [...]A mudança
necessária é tão profunda que se costuma dizer que ela é impossível. Tão
profunda que se costuma dizer que ela é inimaginável. Mas o impossível está
por vir. E o inimaginável nos é devido. O que era o mais impossível e
inimaginável, a escravidão ou o fim da escravidão? O tempo de animalismo é
o do impossível e o do inimaginável. Este é o nosso tempo: o único que nos
resta.
------------------------------------------------------------------------------------------