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Diário Oficial

22 Teresina(PI) - Sexta-feira, 25 de março de 2022 • Nº 58

GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ CAPÍTULO: II


SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA DO PIAUÍ DA PESSOA PRESA LGBTQIA+

PORTARIA/GSJ/N° 16/2022 Seção: I


Do Uso do Nome Social
Determina os parâmetros de
acolhimento de LGBTQIA+ em privação Art. 2º Constitui direito das pessoas presas LGBTQIA+ em privação
de liberdade no Sistema Penitenciário de liberdade ser chamada pelo seu nome social, de acordo com sua
do Estado do Piauí. identidade de gênero.

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas §1º Os registros de admissão de pessoas em privação de liberdade
atribuições legais que lhe confere o inciso IV, do art. 109 da nas unidades prisionais geridas pela Secretaria de Estado de Justiça
Constituição do Estado do Piauí; do Estado do Piauí deverão conter o nome civil e o nome social, este
último se requerido expressamente pela pessoa interessada.
CONSIDERANDO o disposto na Constituição Federal, em especial
no artigo 5º caput, incisos III, XLI, XLVII, XLVIII e XLIX; §2º A Secretaria de Estado de Justiça do Estado do Piauí poderá
empregar o nome civil da pessoa presa travesti ou transexual,
CONSIDERANDO a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a acompanhado do nome social, apenas quando estritamente
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da necessário ao atendimento do interesse público e à salvaguarda de
direitos de terceiros.
Costa Rica);
Seção: II
CONSIDERANDO o disposto na Lei Federal nº 7.210, de 11 de julho Da Destinação
de 1984, que instituiu a Lei de Execução Penal, em especial nos artigos
40, 41 e 45; Art. 3° Aos travestis e aos gays privados de liberdade em unidades
prisionais masculinas serão ofertados espaços de convivência
CONSIDERANDO a Resolução Conjunta nº 1, de 15 de abril de 2014 específicos.
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP;
CONSIDERANDO as Notas Técnicas nº 60/2019/DIAMGE/CGCAP/ §1º Às mulheres transexuais privadas de liberdade em unidades
DIRPP/DEPEN/MJ e 07/2020/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ prisionais femininas será dado tratamento isonômico nos termos do
caput.
RESOLVE
§2º Os ambientes destinados a essa população não devem ser os
CAPÍTULO: I mesmos designados à aplicação de medida disciplinar.
DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS
§3º A transferência da pessoa presa para o ambiente de vivência
Art.1º Determinar os parâmetros de acolhimento de pessoas presas específico estará vinculada a sua expressa manifestação de vontade.
LGBTQIA+ em privação de liberdade no Sistema Penitenciário do §4º Os espaços de convivência a que se refere o caput deste artigo,
Estado do Piauí. serão disponibilizados, onde houver, de acordo com a estrutura da
unidade prisional que a pessoa presa estiver custodiada.
§1º Para efeitos desta Instrução Normativa, e de acordo com a Art. 4º Haverá o encaminhamento da mulher transexual (com ou sem
Resolução Conjunta nº1/14 do Conselho Nacional de Política Criminal cirurgia e independentemente da retificação de seus documentos) à
e Penitenciária- CNPCP e da Nota Técnica nº 60/2019/DIAMGE/ unidade prisional feminina ou masculina, dependendo de
CGAP/DIRPP/DEPEN/MJ, entende-se por LGBTQIA+ a população manifestação de vontade da pessoa presa e mediante expressa
composta por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, autorização da Comissão Fiscalizadora de Políticas Penitenciárias
intersexual, assexual, considerando-se: para Acolhimento de Pessoas Presas LGBTQIA+ no Sistema
Penitenciário do Estado do Piauí, observando a identidade de gênero
I - Lésbica: denominação específica para mulheres que se relacionam indicada pela pessoa presa, ou para cumprimento de ordem judicial,
afetiva e sexualmente com outras mulheres; sendo o gestor prisional responsável por:
II - Gay: denominação específica para homens que se relacionam a) perguntar o nome social da pessoa;
afetiva e sexualmente com outros homens; b) perguntar como a pessoa se identifica em relação à identidade de
III - Bissexual: pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com gênero;
ambos os gêneros; c) incluir o nome social da pessoa, se ver, em formulário e demais
IV - Travesti: pessoas que pertencem ao gênero masculino na documentos usados na unidade;
d) promover que todos(as) os(as) agentes prisionais e demais
dimensão fisiológica, mas que socialmente se apresentam no gênero servidores(as) se reportem à pessoa fazendo uso do nome social, se
feminino, sem rejeitar o sexo biológico; o ver; e
V - Transexual: pessoas que são psicologicamente de um sexo e e) alocar a pessoa em espaço de vivência específico, separada do
anatomicamente de outro, rejeitando o próprio órgão sexual biológico; convívio dos demais presos, havendo estrutura na unidade prisional,
VI - Queer: pessoas que não seguem o padrão de heterossexualidade se tiver sido encaminhada para unidade masculina, ou das demais
ou binarismo de gênero; presas, se tiver sido encaminhada para a unidade feminina.
VII - Intersexual: denominação de variedade de condição (genéticas Art. 5º O homem transexual (com ou sem cirurgia), mesmo havendo a
e/ou somáticas) com que a pessoa nasce apresentando uma anatomia retificação do nome e sexo constante de seu registro civil (para
reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições típicas do masculino), será encaminhado para unidades prisionais femininas,
feminino ou do masculino; para garantir sua segurança, e se houver expressa manifestação de
VIII - Assexual: pessoa que sente pouca ou nenhuma atração sexual vontade, sendo o gestor prisional responsável por:
por quaisquer dos gêneros; a) perguntar o nome social da pessoa;
IX - Outras identidades de gênero e orientações sexuais que não se b) perguntar como a pessoa se identifica em relação a identidade de
encaixam no padrão cis-heteronormativo (Agênero, Androgeno, gênero;
Cisgênero, Crossdresser, Drag Queen/King, Gênero Fluido, Não c) incluir o nome social da pessoa em formulário e demais documentos
Binário, Pansexual, entre outros). usados na unidade;
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d) promover que todos(as) os(as) agentes prisionais e demais CAPÍTULO: IV
servidores(as) se reportem à pessoa fazendo uso do nome social; e DAASSITÊNCIA
e) alocar a pessoa em espaço de vivência específico, quando houver Seção: I
ou a depender da estrutura da unidade prisional, separada do convívio Da Assistência à Saúde
das demais presas.
Art. 10 A SEJUS/PI promoverá a assistência à saúde da pessoa presa
Parágrafo Único: As demais definições de gênero serão avaliadas LGBTQIA+, nos termos da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal),
pela Comissão Fiscalizadora de Políticas Penitenciárias para da Resolução Conjunta nº1/14 do Conselho Nacional de Política
Acolhimento de Pessoas Presas LGBTQIA+ no Sistema Penitenciário Criminal e Penitenciária-CNPCP e Nota Técnica nº 60/2019/DIAMGE/
do Estado do Piauí de acordo com a necessidade e garantindo CGAP/DIRPP/DEPEN/MJ.
tratamento isonômico. Art. 11 Serão assegurados à pessoa presa travesti e transexual em
situação de privação de liberdade o tratamento hormonal, assim como
Seção: III
Da Admissão sua manutenção e acompanhamento de saúde específico.

Art. 6º Os procedimentos para a apresentação e admissão de pessoas Seção: II


presas LGBTQIA+ nas Unidades Prisionais geridas pela Secretaria Da Assistência Educacional
de Estado de Justiça do Estado do Piauí – SEJUS/PI, deverão ser
executados em conformidade com a Portaria de nº 121/GSJ/2015, que Art. 12 Serão assegurados à pessoa presa LGBTQIA+ o ingresso e a
regulamenta os procedimentos de admissão de pessoas presas no continuidade da sua formação educacional e profissional.
Sistema Penitenciário do Estado do Piauí.
Seção: III
Seção: IV Da Assistência Social
Do Uso de Vestimenta
Art. 7º À pessoa presa transexual ou travesti em situação de privação Art. 13 A SEJUS/PI promoverá à pessoa presa LGBTQIA+, em
de liberdade serão permitidos o uso de roupas íntimas femininas ou igualdade de condições, o acesso ao benefício do auxílio-reclusão
masculinas e a manutenção de cabelos compridos, de acordo com aos dependentes, legalmente reconhecidos, do segurado recluso.
sua identidade de gênero, assegurando seus caracteres secundários. Parágrafo único. Estende-se ao cônjuge ou companheiro(a) do mesmo
Parágrafo único. O uso do uniforme pela população LGBTQIA+ nas gênero, em união estável, mediante ações das Assistências
unidades prisionais administradas pela SEJUS/PI deverá atender ao pertinentes.
padrão correspondente a unidade em que a pessoa presa estiver
custodiada. CAPÍTULO: V
DA COMISSÃO
Seção: V Seção: I
Da Visita Íntima Da Finalidade e Composição
Art. 8º É permitida a visita íntima para população LGBTQIA+ em Art. 14 Competem à Comissão Fiscalizadora de Políticas Penitenciárias
situação de privação de liberdade, nos termos da Resolução CNPCP para Acolhimento de Pessoas Presas LGBTQIA+ no Sistema
nº 4, de 29 de junho de 2011, Portaria de nº 121/GSJ/2015 e da Portaria Penitenciário do Estado do Piauí, o monitoramento, a aplicação e a
de nº 326/GSJ/2017, que dispõe sobre os procedimentos de execução das medidas adotadas por este instrumento normativo.
cadastramento e visitação a pessoas presas privadas de liberdade Art. 15. A Comissão Fiscalizadora de Políticas Penitenciárias para
no âmbito do Sistema Penitenciário do Estado do Piauí. Acolhimento de Pessoas Presas LGBTQIA+ no Sistema Penitenciário
do Estado do Piauí, compõe-se de cinco membros, a saber:
§1º É facultado à pessoa presa LGBTQIA+ receber visita íntima do I. Diretor da Diretoria da Unidade de Administração Penitenciária -
cônjuge ou companheiro (a), desde que comprove o vínculo afetivo, DUAP;
nos termos das Portaria de nº 121/GSJ/2015 e nº 326/GSJ/2017; II. Diretor da Diretoria de Inteligência Penitenciária - DINP;
§2º As pessoas que integram o rol de visitas íntimas das pessoas III. Diretor da Diretoria de Assessoria Militar - DMIL;
presas devem ter preservado o direito à sua orientação sexual e
identidade de gênero. IV. Diretor da Diretoria Administrativo-Financeira - DAF;
V. Diretor da Diretoria de Humanização e Reintegração Social -
CAPÍTULO: III DUHRS.
DOS PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS
Seção: I CAPÍTULO: VI
Do Ingresso e da Revista de Pessoas DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 9º Para ingressar na Unidade Prisional o(a) visitante cadastrado Art. 16 A aplicação das medidas regulamentadas por esta Portaria
deverá se submeter-se aos procedimentos de identificação, nos deve observar os critérios de segurança e disciplina, considerando
termos da Portaria de nº 121/GSJ/2015 e nº 326/GSJ/2017. as particularidades de cada unidade prisional.
§1º O visitante transexual que não tenha realizado a cirurgia de Art. 17 As disposições regulamentadas por esta Portaria serão
transgenitalização, deverá ser revistado por servidor do mesmo sexo aplicadas gradativamente, de acordo com a capacidade administrativa
biológico. e infraestrutural das unidades prisionais.
Art. 18 Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
§2º Nos casos em que o visitante transexual já tenha realizado a Art. 19 Ficam revogadas as disposições em contrário.
cirurgia de transgenitalização, a revista deverá ser realizada por
servidor correspondente a sua redesignação sexual. Cientifique-se. Publique-se e Cumpra-se.
§3º O processo de revista deve evitar qualquer forma de Teresina (PI), 21 de março de 2022.
constrangimento aos servidores e a população assistida, sendo
oportuno o registro de ocorrências existentes em local apropriado e CARLOS EDILSON RODRIGUES BARBOSA DE SOUSA
comunicando imediatamente ao gestor responsável para as medidas Secretário de Estado da Justiça
cabíveis. Of. 138

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