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O Brasil e o Universo
Crônicas sobre a surrealidade política e cultural brasileira.
Flávio Gordon
A vitória de Stálin Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Doutor em Antropologia
O filósofo Jean-Paul Sartre
Social (UFRJ), baixista
escrev eu certa v ez que, para os
amador, carioca, rubro-
homens de sua geração (nascidos negro, 38 anos, casado.
no começo do século XX), o
Visualizar meu perfil completo
ev ento mais decisiv o do século
não foram as duas grandes
guerras mundiais, mas a Arquivo do blog
ascensão do socialismo e a
fundação do Estado comunista na ► 2015 (3)
►
Tudo se passou de modo bem diferente com uma outra utopia moderna, também
socialista (nacional antes que internacional, embora igualmente ex pansionista), também Criar seu atalho
em busca de um mundo melhor e de uma humanidade renov ada, igualmente crente no
poder redentor da ciência (agora já biológica, antes que sociológica). Refiro-me, é claro,
Total de visualizaç ões de página
ao Nazismo ou - um termo que caiu em desuso - ao Nacional-Socialismo. Hoje em dia, o
Nazismo definitiv amente não é cult, muito menos pop - ainda que grupos neo-nazistas
pipoquem aqui ou ali (sobretudo na Europa). Muito pelo contrário, em quase todo o
Ocidente, a apologia ao Nazismo é considerada, com muita justiça, um crime grav e. 2 1 0 7 7 3
O que terá se passado com essas duas utopias, semelhantes em muitos aspectos, quase Minha lista de blogs
contemporâneas, para que recebessem da história tratamento tão desigual? Como o
Amurtah
Comunismo pôde, inclusiv e, ser considerado essencialmente oposto ao Nazismo?
Arte greco-budista XXI
Há 2 meses
A única resposta que me v em à mente é a seguinte: enquanto o Nazismo foi derrotado, o Augusto Nunes | VEJA.com
#SanatórioGeral: Neurônio abandonado
Comunismo saiu-se o grande v itorioso da Segunda Guerra Mundial. E, como se sabe, são
Há uma hora
os v itoriosos que costumam contar sua v ersão da história. Se esse v itorioso for Stálin,
então, aí mesmo é que a história sairá do feitio que lhe interessa, mesmo que para isso Bios Theoretikos
seja necessário esconder documentos, manipular biografias, cortar retratos. Só "Impressão: nascer do sol", de Claude
Monet
recentemente, após a abertura dos arquiv os de Moscou, descobriu-se, por ex emplo, que
Há 7 anos
Stálin entregou para a Gestapo milhares de judeus que hav iam buscado refúgio na URSS,
acreditando inocentemente na farsa montada pelo ditador comunista, que publicamente Blog do Angueth
alardeav a seu anti-nazismo de propaganda, enquanto, nos bastidores, cooperav a São José, rogai por nós!
Há 4 meses
intensamente com o Estado-Maior alemão. Mas estou me adiantando.
Blog do Pim
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31/07/2019 O Brasil e o Universo: A vitória de Stálin
O Blog do Pim agora está na VEJA.
Acompanhe lá, todos os dias!
Ao contrário do que se diz, o Comunismo não acabou com a queda do muro de Berlim. A
Há 5 anos
v ersão de Stálin ainda é a v ersão corrente no imaginário popular. Até mesmo o
abandono do termo "Nacional-Socialismo" para caracterizar o regime de Hitler - por Cenas de Paris
sugerir uma incômoda prox imidade v erbal com o "Internacional-Socialismo" - é obra do Mais sobre a exposição Jacques Tati
Há 10 anos
ditador sov iético. E, embora Stálin tenha sido posteriormente criticado pelos
comunistas que o sucederam, esses últimos colheram os frutos plantados por ele. Dentre Cesar Gordon
esses frutos, penso que o mais importante foi o sucesso em dissociar historicamente os A floresta por quem vê o invisível
dois socialismos modernos, o internacional e o nacional. Ao primeiro, coube o Há 11 anos
priv ilégio de poder manter intacta e imaculada sua ideologia, independentemente dos Ciência Brasil
crimes hediondos cometidos contra a humanidade. Depois do regime sov iético, outras Professores de matemática de
tentativ as de fundar a sociedade comunista se sucederam e ainda se sucedem, todas elas Ugandópolis (Brasil) fazem com que as
crianças odeiem contas. Resultado: é um
com resultados catastróficos em termos de mortalidade humana (com destaque, é claro,
desastre o que o povo sabe de
para a Rev olução Cultural de Mao Tse Tung). Ao segundo, o Nacional-Socialismo, ao matemática.
contrário, coube assumir sozinho todo o fardo histórico de suas monstruosidades, que, Há 3 anos
de modo geral (à ex ceção de uns poucos fanáticos marginalizados), conspurcaram
Construindo o pensamento
definitiv amente (graças a Deus!) seus ideais. Em suma: o Nazismo pagou um alto preço
pelos seus atos, já o Comunismo não. Contra Impugnantes
Compra do livro "COSMOGONIA DA
DESORDEM"
Há um ano
Ao aliar-se aos EUA para combater os nazistas ao fim da Segunda Guerra, Stálin
conseguiu difundir a idéia de que Comunismo e Nazismo eram antagonistas em essência. Diogo Mainardi - VEJA.com
No entanto, qualquer estudo sério dessas duas grandes utopias modernas rev ela que,
ex cetuando questões de detalhe, elas eram fundamentalmente gêmeas. O que ocorreu na Diplomatizzando
Julho: mês de férias, mês de leituras:
Segunda Guerra entre comunistas e nazistas foi algo como um conflito entre irmãos, uma PRAlmeida em Academia.edu
disputa entre facções riv ais, ambas modernas e rev olucionárias, ambas ansiosas por Há 16 horas
instaurar uma nov a ordem mundial (v er Modris Eksteins, A Sagração da Primavera, Rio
de Janeiro: Rocco, 1 992). Stálin pretendia usar Hitler para destruir a v elha ordem Escrevo, sim!
O Grande Buda!
européia burguesa e liberal (representada, sobretudo, pela Inglaterra e pela França). O Há 8 anos
problema é que acordos com fanáticos sempre podem falhar. Nem Stálin nem ninguém
poderia imaginar que Hitler fosse atacar a URSS. Mas, ainda assim, Stálin soube Eu gosto de Agatha Christie
Há 6 anos
capitalizar a sublev ação de Hitler em benefício próprio.
Frases do Calvin
Calvin & Haroldo & Star Wars - Uma
A questão é que o Nazismo e o Comunismo rezav am pela mesma cartilha. Ambos Homenagem Estrelar!
Há 3 anos
acreditav am que, para criar a nov a ordem mundial, era sumamente necessário a
eliminação de certas categorias de pessoas: os judeus, no caso do nazistas; os burgueses, Fusca Brasil
no caso dos comunistas. Não por acaso, os dois regimes foram os campeões mundiais Golpe no Recesso
em genocídio, atingindo, juntos, números até então inéditos na história da humanidade. Há 5 dias
Odilon de Oliveira
Na apresentação de Death by Government, o também estudioso do assunto Irv ing Louis
Horowitz sugere que o estudo de Rummel aponta para "a necessidade de rev er nosso Olavo de Carvalho - Sapientiam
senso da profundidade dos horrores cometidos por regimes comunistas contra a Autem Non Vincit Malitia
humanidade. Os números são tão grotescos quanto a isso que dev emos, de fato, rev isar Professor Paulo Moura
nossa sensibilidade acerca do estudo comparativ o dos totalitarismos para perceber que,
dos dois maiores horrores sistemáticos do século, os regimes comunistas possuem uma Reinaldo Azevedo - Blog - VEJA.com
consideráv el v antagem sobre os fascistas no que diz respeito à sua propensão homicida" MEU ÚLTIMO POST NA VEJA
Há 2 anos
(Death by Government, New Jersey : Transaction Publishers, 1 994, p. x iii).
Revista Vila Nova
Seguidores
O fato é que se hoje a apologia do Nazismo dá cadeia, a apologia do Comunismo resulta
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31/07/2019 O Brasil e o Universo: A vitória de Stálin
freqüentemente em cargos e posições de destaque no meio univ ersitário, nas artes, no Seguidores (35) Próxima
show business, na indústria cultural. Como foi possív el ao mov imento comunista
manter intacta sua autoridade moral? A resposta é uma só: os comunistas subseqüentes
fizeram com Stálin o que esse último fizera com Hitler - demonizaram-no.
Transformando Stálin em bode ex piatório, o mov imento comunista logrou salv aguardar
a doutrina, que teria sido traída e av iltada pela brutalidade stalinista. Num golpe
retórico algo rousseauniano, o rev isionismo comunista concluiu: a doutrina era
essencialmente boa, Stálin é que a corrompera. Foi um golpe de mestre! Não que Stálin
não fosse, em v erdade, um "demônio" (no sentido dostoiev skiano do termo)[1]. Mas
estav a longe de ser o único.
Seguir
Uma das conseqüências do rev isionismo comunista foi a beatificação de certos
personagens, paralelamente à demonização de Stálin. Uma v ez que Stálin já não serv ia
A razão e o título deste blog
para representar a marav ilhosa ideologia comunista, tratou-se de eleger uma nov a
figura. Isso foi o que ocorreu com Trótsky , por ex emplo. Tendo sido, em determinado Este blog nasceu da constatação de
momento, um opositor a Stálin, e assassinado de forma brutal a mando dele, Trótsky que o Brasil, alinhado com outros países da
caía como uma luv a para ocupar o papel de mártir do "v erdadeiro" Comunismo. Sendo América Latina, vem numa escalada vigorosa
assim, um conflito apenas estratégico e circunstancial entre os dois líderes comunistas, rumo ao totalitarismo. É possível perceber,
passou a ser representado como uma ruptura fundamental entre um traidor da causa e o nas mais diferentes esferas, indícios de que
estamos próximos – se é que já não
seu mais nobre defensor.
chegamos lá – de viver em pleno 1984, de
George Orwell. Orwell, aliás, foi um dos
primeiros a perceber que toda revolução
Peço licença ao leitor para abrir um parêntese, a título de curiosidade arqueológica. Há totalitária é precedida por uma revolução
ainda hoje, aqui no Brasil, um punhado de stalinistas renitentes, ansiosos por recuperar semântica, e esse é um dos temas centrais
a imagem do v elho guru. É o caso, por ex emplo, do filósofo petista João Quartim de do presente blog.
Moraes, professor da Unicamp. Em uma resenha do liv ro Stálin: um novo olhar, de Ludo
Creio que o Brasil está passando por
Martens (Rio de Janeiro: Rev an, 2003), Moraes quase não cabe em si: "Requer coragem
um processo de deturpação da linguagem
intelectual desafiar o maciço e tenaz preconceito que cerca a imagem de Stalin" (v er pública, especialmente política. Tal
aqui). Para quem não liga o nome à pessoa, Quartim de Moraes foi integrante da luta deturpação cria uma camada semântica
armada nos anos de 1 960, tendo feito parte da POLOP (Política Operária) e, protetora, bloqueando o acesso à realidade,
posteriormente, contribuido na fundação da VPR (Vanguarda Popular Rev olucionária). e impossibilitando sua correta expressão. É
Quartim de Moraes integrou o "tribunal rev olucionário" responsáv el pelo "justiçamento" como se tivéssemos passado ao largo das
(isto é, ex ecução sumária sem direito à defesa) do capitão do Ex ército norte-americano bases fundamentais do pensamento
ocidental, ignorando a criação da filosofia e
Charles Rodney Chandler, metralhado na saída de sua residência, na frente da esposa e
ciência política por Sócrates, Platão e
do filho de quatro anos, por ter sido considerado, pelos terroristas, um agente da CIA.
Aristóteles. Como se estes pensadores
Quartim de Moraes é, hoje, um dos entusiasmados signatários de um tal Manifesto dos nunca tivessem existido para além de
Filósofos pró-Dilma Roussef. pequenos círculos de estudiosos, o Brasil
parece ter adotado o paradigma sofista,
onde a retórica e o consenso público -
Fim do parêntese. A narrativ a à qual me referi anteriormente (que dissocia radicalmente reforçado hoje pela "rebelião das massas",
Stálin e Trótsky ), é claro, não passa de uma total distorção da história da URSS. Como no sentido de Ortega y Gasset - eram mais
importantes do que a verdade. Como dizia
sugere um dos maiores historiadores do marx ismo, Leszek Kolakowski: "Trótsky não
outro autor que admiro muito, o filósofo
ofereceu nenhuma forma alternativ a de Comunismo ou qualquer doutrina diferente da
político Eric Voegelin, o totalitarismo é
de Stálin" (Main Currents of Marxism, London & New Y ork: W. W. Norton, 2005, p. menos um fenômeno político e mais um
962). fenômeno pneumopatológico, ou seja, uma
doença do espírito. Ele começa na mente
doentia de alguns guias espirituais e líderes
Com efeito, foi Trótsky quem, em 1 91 8, seguindo orientação de Lênin, inaugurou os políticos e, daí, quando não encontra uma
campos de concentração sov iéticos, que futuramente serv iriam de modelo para os reação firme e pronta, se espalha para toda
a sociedade. Como mostrou Voegelin no
nazistas, e que continuaram a ser usados pelo regime sov iético após o fim da Segunda
magistral “Hitler e os Alemães”, isso foi o
Guerra. Os campos sov iéticos foram designados inicialmente para punir os inimigos do
que aconteceu na Alemanha, por exemplo,
Ex ército Vermelho e os ex -oficiais czaristas relutantes em aderir à Rev olução. No permitindo a ascensão do nazismo. A
entanto, esses locais logo passaram a serv ir também para a detenção de camponeses sociedade alemã, na época, não teve a
insurgentes, pois que submetidos à requisição forçada de grãos por parte do gov erno coragem de perceber a extensão do
rev olucionário (uma política que, entre os anos de 1 932 e 1 933, já com Stálin, resultou problema, nem tampouco possuía meios de
na morte por inanição de milhões de ucranianos, na tragédia que ficou conhecida como descrevê-lo corretamente. Mutatis
"Holodomor" ou "A Grande Fome" - v er Robert Conquest, The Harvest of Sorrow, Mutandis, creio que algo semelhante ocorre
no Brasil. Os grandes responsáveis por isso
Univ ersity of Alberta Press, 1 986). Estima-se que, por v olta de 1 921 , cerca de 80 % dos
são, a meu ver, os formadores de opinião:
detentos nos campos de concentração sov iéticos era de camponeses (v er George
imprensa, comentaristas políticos, artistas,
Leggett, The Cheka: Lenin’s Political Police, Ox ford: Ox ford Univ ersity Press, 1 981 , p. intelectuais.
1 7 8).
O fato é que a sociedade brasileira
está cada vez mais suscetível a todo tipo de
totalitarismo, e o domínio que o atual
O Grande Terror não começou com Stálin, apenas foi intensificado por ele. Em 1 91 9,
governo exerce sobre diversos domínios
Lênin dissera: "não reconhecemos qualquer liberdade, ou igualdade, ou democracia
sociais - chegando mesmo a impor um
trabalhista que se oponham aos interesses de emancipar o trabalho da opressão do quadro de referências e linguagem permitido
capital" (v er Robert Conquest, The Great Terror: A Reassessment, New Y ork: Ox ford - é um claro sinal. Este blog pretende reunir
Univ ersity Press, 2008, p. 6). A Rev olução fora feita em nome da classe operária, mas amostras que nos ajudem a compreender
logo a v anguarda do Partido começou a considerá-la indigna de confiança. Lênin insistia como o Brasil e o Universo puderam se
que a "v iolência rev olucionária" era também essencial "contra os elementos v acilantes e distanciar tanto...
rebeldes das próprias massas de trabalhadores" (ibid.).
V ídeos interessantes
Em suma, para a doutrina comunista, o trabalhador abstrato e genérico era algo Como a URSS contribuiu para a ascensão
marav ilhoso e comov ente, mas o trabalhador real, de carne e osso, era um incômodo do Nazismo
obstáculo à Rev olução. Vídeo-propaganda do 3º Congresso
Nacional do PT: "Socialismo Petista"
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31/07/2019 O Brasil e o Universo: A vitória de Stálin
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Em 1 921 , estav a bastante claro que a maior parte dos trabalhadores russos se opunha ao
Partido. Karl Radek, discursando para cadetes do Ex ército, disse-o com todas as letras:
"O Partido é a v anguarda politicamente consciente da classe trabalhadora. Estamos
agora num momento em que os trabalhadores, no limite de sua resistência, se recusam a
seguir a v anguarda que os conduz à batalha e ao sacrifício (...) Dev emos nos render aos
clamores dos proletários que atingiram o limite de sua paciência, mas que não
compreendem seus reais interesses como nós compreendemos? Seu estado mental é, no
presente, francamente reacionário" (ibid.).
Nas palav ras de Robert Conquest: "O Partido, apartado de sua justificação social, agora
sustentav a-se apenas sobre o dogma. Ele tornara-se, no modo mais clássico, um
ex emplo de seita, um fanatismo. O Partido assumiu que o apoio popular ou proletário
podia ser dispensado e que a mera integridade dos pretex tos seria adequada,
justificando tudo pelo caminho" (ibid. p. 7 ).
Mas o ex termínio como método rev olucionário - que ficou ev idente ao longo da
Rev olução Russa - tampouco foi, digamos, apenas uma necessidade pragmática da
Rev olução. Tal idéia era uma necessidade teórica intrínseca ao projeto comunista desde
sua fundação intelectual, com Marx e Engels.
Argumentando contra mov imentos nacionalistas dos pov os eslav os, e em fav or do
imperialismo austro-húngaro, Marx e Engels escrev eram, no capítulo XIV de Revolução
e Contra-Revolução na Alemanha:
"Acabaram, assim, por agora e, prov av elmente, para sempre, as tentativ as dos eslav os
da Alemanha para recuperar uma ex istência nacional independente (...) estas
nacionalidades moribundas, os boémios, os caríntios, os dálmatas etc. tentaram tirar
partido da confusão univ ersal de 1 848, de modo a restaurar o seu statu quo político do
ano de 800 (...) o destino natural e inevitável dessas nações moribundas era de
permitir que se completasse este progresso de dissolução e de absorção pelos seus
vizinhos mais fortes. Esta não é certamente uma perspectiv a muito lisonjeira para a
ambição nacional dos sonhadores pan-eslav istas que tinham conseguido agitar uma
parte dos boémios e dos eslav os do sul; mas podem eles esperar que a história volte
atrás mil anos a fim de agradar alguns grupos humanos tísicos que, em toda a parte do
território que ocupam, estão penetrados e rodeados de alemães, que, desde tempos
quase imemoriais, não tiv eram, para todos os efeitos de civ ilização, outra língua a não
ser a alemã, e a quem faltam as mais elementares condições de ex istência nacional, o
número e a solidez de um território? (...) Depois do seu primeiro esforço, que se
ev aporou em 1 848, e depois da lição que o gov erno austríaco lhes deu, não é prov áv el
que seja feita outra tentativ a em ulterior oportunidade. Mas se eles tentarem de novo,
com pretextos semelhantes, aliar-se à força contra-revolucionária, o dever da
Alemanha é claro. Nenhum país num estado de rev olução e env olv ido numa guerra
ex terna pode tolerar uma Vendée[2] no seu próprio seio". (Marx & Engels, Revolution
and Counter-Revolution: Or, Germany in 1 848, London & New Y ork: Cornell Univ ersity
Library , 1 848[1 896], pp. 99-1 01 ).
Em "O Conflito Magiar", artigo publicado em 1 849 na rev ista Nova Gazeta Renana,
editada por Marx , Engels também criticav a os pan-eslav istas:
Segundo George Watson, historiador da literatura socialista, essa era uma das primeiras
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v ezes na história (senão a primeira) que a idéia de genocídio era adv ogada de forma tão
ex plícita (v er The Lost Literature of Socialism, Cambridge: The Lutterworth Press, 1 998,
p. 85).
Em suma, Marx e Engels acreditav am que "nada na história é conquistado sem v iolência
e crueldade implacáv el" e que, portanto, dev eria hav er "uma batalha inex oráv el de v ida
ou morte contra aqueles eslav os que traíssem a Rev olução; uma luta de aniquilação e
terror cruel - em defesa não dos interesses da Alemanha, mas dos interesses da
Rev olução" (Marx e Engels, “Democratic Pan-Slav ism”. In: Collected Works of Karl Marx
and Friedrich Engels, 1 848-49, v ol. 8, New Y ork: International Publishers, 1 849[1 97 7 ],
p. 37 8).
Assim é que, em "A Questão Judaica", Marx afirmav a abertamente: “Qual é o fundamento
secular do Judaísmo? A necessidade prática, o interesse egoísta. Qual é o culto secular
do judeu? A usura. Qual o seu Deus secular? O dinheiro. Pois bem, a emancipação da
usura e do dinheiro, isto é, do judaísmo prático, real, seria a auto-emancipação de nossa
época (...) A emancipação dos judeus é, em última análise, a emancipação da
humanidade do judaísmo” (Marx , “On the Jewish Question”. In: Karl Marx . Early
Writings, London: Penguin Books, 1 843[1 992], pp. 236-237 ).
Adolf Hitler conhecia a obra de Marx . Não por acaso, ele certa v ez questionou: "Como,
enquanto socialista, não ser um anti-semita?" (George Watson, The Lost Literature of
Socialism, Cambridge: The Lutterworth Press, 1 998, p. 80).
Essa história tenebrosa, inacessív el ao público durante muitos anos, pode ser v ista de
forma sintética, mas muito contundente, no documentário The Soviet Story, do diretor
letão Edv ins Snore (disponív el no youtube em 9 partes: Parte 1 ; Parte 2; Parte 3; Parte 4;
Parte 5; Parte 6; Parte 7 ; Parte 8; Parte 9). O documentário, aliás, dev eria ser ex ibido nas
aulas de história para crianças e jov ens. Sobretudo no Brasil, onde os liv ros escolares de
história costumam pintar o Comunismo com belas tintas.
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31/07/2019 O Brasil e o Universo: A vitória de Stálin
pesquisas anteriores de Ernst Topitsch e Viktor Suv orov .
Fruto de uma minuciosa pesquisa nos arquiv os de Moscou, o liv ro mostra como, nos
anos que antecederam a Segunda Guerra, o regime sov iético inv estiu no rearmamento
secreto da Alemanha e cedeu parte do território da URSS para que as tropas alemães se
reestruturassem, longe da v igilância franco-britânica. Como se sabe, ingleses e
franceses, v itoriosos na Primeira Guerra, hav iam imposto à Alemanha - por meio do
Tratado de Versalhes - pesadas punições e humilhações, incluindo o desarmamento
forçado.
Dizem os autores do liv ro: "Até recentemente, temas 'inconv enientes' eram esmagados
pela censura ideológica, e ainda hoje o caminho até eles é espinhoso. A ideologia oficial
orientou seus seguidores a justificar suas próprias falhas por meio de outras pessoas.
Até hoje observ a-se o fenômeno da substituição de uma mentira ou meia-v erdade por
outra. A v erdade não deix a de ser rev elada porque é difícil encontrá-la, mas porque não
é afirmada. Mas é chegado o momento de contar às pessoas uma amarga v erdade: que
nada menos do que o fascismo real assolou o nosso país, e que o totalitarismo que
comandou o destino das pessoas na URSS e na Alemanha foi uma das razões para a
eclosão da Segunda Guerra Mundial. Sob muitos aspectos, o fascismo de Hitler foi
estimulado por Stálin. Poucos historiadores sabem que o Wehrmacht alemão
(Reichswehr)[3] saiu das restrições de Versalhes para se restabelecer em nosso solo. Na
URSS, sob condições ultra secretas, medidas militares conjuntas foram tomadas,
campos de pouso foram construídos, tanques e av iões eram operados. A nata do
Wehrmacht fascista foi treinada lá. Isso tudo foi atestado em documentos. Os
documentos disponív eis chocam até mesmo profissionais, mas eles constituem apenas
uma parte dos segredos ocultados das pessoas" (op. cit. pp. 9-1 0).
Enfim, fica cada v ez mais claro que Comunismo e Nazismo fazem parte de uma mesma
história de terror, e que os conflitos que os div idiram ao fim da Segunda Guerra Mundial
foram um estremecimento ex cepcional em relações outrora amistosas e de cooperação.
O respeito imerecido que o Comunismo ainda goza nos dias de hoje só pode ser
ex plicado, portanto, como fruto de uma deliberada cegueira ideológica por parte de
seus apologistas. Com uma historiografia cada v ez mais abundante sobre os horrores
dos regimes sov iético e chinês (para não falar em Cambodja, Cuba, div ersos países da
África etc.) é inadmissív el que haja ainda gente disposta a dar mais uma chance ao
projeto, como se as tragédias concretas dele resultantes tiv essem sido meros acidentes e
desv ios de uma bela utopia. É incrív el que uma doutrina famosa por postular,
justamente, a conexão íntima entre teoria e prática (como postula o marx ismo) possa
ter sido re-interpretada por seus adeptos de modo a serv ir ao argumento contrário: o de
que a prática concreta dos regimes comunistas não tev e qualquer relação com o
fundamento teórico da doutrina. Citando nov amente os autores da obra acima referida:
"A ideologia oficial orientou seus seguidores a justificar suas próprias falhas por meio de
outras pessoas".
O problema do pensamento utópico quando aplicado à realpolitik não são os desv ios da
utopia. O problema é a utopia mesma, sobretudo quando serv e de parâmetro para julgar
a realidade presente. O pensamento utópico dev eria ser proibido para maiores de 1 8
anos, pois a irmã gêmea do sonho costuma ser a auto-permissiv idade. Os ex emplos
históricos do Comunismo e Nazismo dev eriam ser o bastante para derrubar um
conhecido dito popular: "sonhar não custa nada". Depende... No caso socialista, custou
muito!
Já está mais do que na hora de difundir as descobertas da historiografia sov iética pós-
1 989 para o grande público, derrubando de v ez a v ersão fraudulenta propagandeada por
Stálin. O que, até o momento, tem impedido tal realização é a cega obstinação de
intelectuais, jornalistas, formadores de opinião em geral, na recusa em lidar com sua
própria consciência. Muitos se recusam a amadurecer e v er desfeitos seus sonhos e
utopias de juv entude. Mas essa é a sua responsabilidade - fazer com que a foice e o
martelo, em v ez de desfilar liv remente no peito dos jov ens desav isados, passe a ocupar
o mesmo lugar que o de sua camarada, a suástica: a lata de lix o da história. E que,
sempre juntas, as duas nunca mais saiam de lá! É claro que sempre hav erá um ou outro
que, assim como o filósofo petista João Quartim de Moraes, sentem uma atração
irresistív el por rev irar o lix o em busca de alimento.
Notas:
[1] Em nota à edição brasileira de "Os Demônios", de Dostoiév ski, o tradutor Paulo
Bezerra comenta: "O primeiro nome de guerra de Stálin foi 'Biesochv illi', uma aglutinação
de biês, isto é, demônio, com chvilli, sufix o formador de nome em georgiano" (Os
Demônios, São Paulo: Editora 34, 2004, p. 7 ).
[2] Alusão ao motim contra-rev olucionário na V endée (prov íncia ocidental da França),
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desencadeado em 1 7 93 pelos realistas franceses, que utilizaram o campesinato desta
prov íncia para a luta contra a Rev olução.
[3] Reichsw ehr era o nome do conjunto das forças armadas alemãs num período entre
as duas guerras mundiais, entre 1 91 9 e 1 935, posteriormente rebatizada de Wehrmacht.
9 comentários:
Responder
Responder
M uito obrigado pelos comentários e pelo incentivo. Você tem razão. É que, no momento,
estou sem tempo para trabalhar no blog, mas espero escrever com mais freqüência a
partir do ano que vem.
Gostaria de comentar a nota [1]. O sr. Paulo Bezerra, que traduziu Os Demônios, suprimiu
partes da poesia de Pushkin em se pede ajuda ao Senhor. Será Paulo Bozerra, ele
mesmo, um demônio? Será que estou equivocado? Comparem a tradução feita por Rachel
de Queiroz com a tradução mutilada de Bezerra.
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Responder
Excelente!
Responder
Em maio de 2012, o autor destas linhas frequentava um curso preparatório para o difícil e
concorrido concurso do Itamaraty. Faziam três...
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