10 A UNIÃO – João Pessoa, Paraíba - SEXTA-FEIRA, 11 de fevereiro de 2022
Cultura
Carreira solo
Vocalista d’Os Gonzagas
lança música e videoclipe
Em mais um capítulo do álbum visual, Yuri Gonzaga apresenta ‘Como Estás’
Do quarto para o banheiro, do ba-
nheiro para a cozinha, da cozinha para
seus locais de estudo ou trabalho. O ri-
tual do “acordar” é quase unânime no
mundo contemporâneo. Mas durante o
isolamento social imposto pela pande-
mia, em meio a fragilidades emocionais
e incertezas, muitos vivenciaram suas
casas em tempo integral. São essas des-
cobertas de si e do lar que Yuri Gonza-
ga explora em mais um capítulo do ál-
bum visual Amador, o primeiro de sua
carreira solo. O single e o clipe ‘Como Es-
tás’ chegam ao YouTube hoje.
“Esta é uma canção de minha au-
toria, feita no momento mais fechado
da pandemia durante o ano de 2020. O
título remete às perguntas que fazía-
mos uns aos outros, através de aplica-
tivos de mensagens ou pelas redes so-
ciais, e às respostas que cada um dava,
à sua maneira, para falar se estava bem
ou mal naquele momento”, explicou
Yuri Gonzaga. “Durante esse período,
eu estava sozinho em casa e podia ou-
vir minha voz ecoar pelos ambientes.
Isso está refletido no cômodo escolhi-
do para o capítulo três, que é a sala de
estar. Justamente por esse sentido da
solidão, a canção tem instrumentação
Funes Cultural
Tarcísio Meira César
José Ozildo dos Santos
Tarcísio Meira César, indiscuti-
velmente, foi a mais poética de to-
das as personalidades patoenses.
Lamentavelmente, duas décadas
após sua morte, é um nome quase
esquecido, apesar de alguém já ter
dito que “sua obra tem uma quali-
dade real que lhe dá atualidade sem
a tornar circunstancial”.
Nascido a 21 de junho de 1941,
era filho do casal José César Caval-
canti e Maria Rita Meira César. Na
cidade de Patos, fez seus primeiros
estudos. Em 1955, foi aprovado no
exame de admissão ao Ginásio Dio-
cesano, concluindo o curso ginasial
em finais de 1958.
Em princípios do ano seguinte,
transferiu-se para o Recife. Na capi-
tal pernambucana, perfez o curso se-
cundário no Colégio Padre Félix. Em
seguida, aprovado no exame vesti-
bular (1962), ingressou na Faculdade
de Filosofia da UFPE, diplomando-se
aos 17 de dezembro de 1964.
Esforçado, buscando sua inde-
pendência financeira, Tarcísio Mei-
ra César antes mesmo de concluir
seu curso superior, tornou-se pro-
fessor de Língua Portuguesa e Lite-
ratura, na Faculdade onde estudava,
funções que desempenhou no perío-
do de 1963 a 1964, quando passou à
condição de professor substituto da
cadeira de Metodologia e Técnica de
Pesquisa Social (1965). Mais tarde, foi
assistente do Catedrático Pessoa de
Morais (1968), com quem nutria for-
tes laços de amizade.
Inteligência precoce, “pautou
toda a sua curta existência por uma
dedicação exclusiva à cultura”. Em
1964, iniciou sua militância no jorna-
lismo, atuando como repórter do Jor-
nal do Commercio (do Recife). No ano
seguinte, tornou-se redator/repór-
ter especial do Diário de Pernambuco,
passando a colaborar vários jornais
e revista do país e do exterior.
Em 1965, no Instituto de Ciências
do Homem da Faculdade de Filo-
sofia/UFPE, em Recife, fez seu cur-
so de Pós-Graduação. Nesse mesmo
ano, tornou-se redator e editorialis-
ta do Diário da Noite, também edita-
do na capital pernambucana.
EDIÇÃO: Audaci Junior
Foto: Ana Moraes/Divulgação
Com instrumentação enxuta, composição fala da solidão na quarentena
mais enxuta, apenas com escaleta, vio-
lão e pandeirola”, contou.
‘Como Estás’ conta com um texto de
Carlos Henrique, amigo e parceiro mu-
sical de Yuri que concebeu em conjun-
to a ideia de Amador. “Essa participa-
ção de Carlos simboliza uma rede de
apoio formada por esses amigos que
podemos contar e desabafar”.
Ao todo, o disco contará com seis Através do QR Code
faixas lançadas como capítulos audio- acima, acesse o
visuais. Mais dois singles serão lança- canal oficial de
dos no mês de março. YouTube do artista
Fundação Ernani Satyro
Foto: Reprodução
sar foi assessor de im-
prensa da prefeitura
daquela capital (1975-
1979), durante a ges-
tão do Dr. Marcos Ta-
moyo. Ali, foi repórter
e redator de O Glo-
bo (1972), da Última
n
Hora (1973), da Edito-
Fundação ra Abril; editor do Diá-
Ernani Sátyro rio de Notícias (1976);
fez a reunião, redator da Coluna
em um único Nacional de Heron
Domingues (1971);
livro, de toda colaborador da Revis-
a produção ta Leitura (1964-1975)
poética do e do Correio da Manhã
patoense (1970), tendo ainda
atuado no Jornal Fala-
Tarcísio Meira
do Perspectiva (1971) e
César, sob o
sido redator do Jornal
título ‘Poesia do Rio, ambos levados
Reunida’ ao ar através da TV
Tupi, Canal 6.
Espírito culto, amante da poesia e Filósofo, ensaísta, jornalista e
dotado de profundos conhecimentos poeta, Tarcísio Meira César tinha
sobre os clássicos universais, ainda em si ainda muito a oferecer. Mas,
em 1959, ao lado de 13 outros jovens “os desígnios divinos determina-
poetas paraibanos, participou da co- ram que ele nos deixasse de manei-
letânea Geração 59, editada em João ra prematura”. Mergulhado num
Pessoa, pela Secretaria de Educação estado de inibição pavloviana, Tar-
e Cultura, cuja manifestação artísti- císio Meira César foi “um gênio que
ca, constitui-se num “dos movimen- destruiu-se precocemente”, falecen-
tos fundamentais da moderna pro- do a 1º de janeiro de 1988, no Hospi-
dução literária paraibana”. tal Santa Lúcia, em Brasília (DF). Seu
No Recife, por todo o ano de 1968, corpo, transladado para a cidade de
foi Oficial de Gabinete da Casa Civil, Patos, foi sepultado no Cemitério São
no Governo Nilo Coelho. Em princí- Miguel, no dia 3 seguinte.
pios do ano seguinte, transferiu-se Patrono da cadeira nº 9 do Insti-
para o Rio de Janeiro, onde, através tuto Histórico e Geográfico de Patos,
da Editora Leitura, publicou Poemas em 1997, a Fundação Ernani Sátyro,
da Terra Estranha, seu primeiro livro, enfeixou num único e valioso livro
que foi posteriormente renegado, ex- toda a sua produção poética, sob o
ceto, meia dúzia de poemas que fo- título Poesia Reunida, volume que
ram republicados em Poemas Grotes- foi, então, largamente distribuído,
cos e Outras Fantasias e O Espelho Em e que, por sua vez, enriquece a bi-
Que Terminaras. Esses livros “reúnem bliografia paraibana.
composições poéticas em que o espí- Num gesto valoroso e digno de
rito da Geração 59 ainda se faz pre- registro, seus familiares doaram ao
sente, com uso frequente do soneto, Instituto Histórico e Geográfico de
mas em que aparece uma nova preo- Patos, todo o seu acervo cultural,
cupação metopoética: coisa absurda composto por 1.263 livros, fotogra-
é falar com a poesia / desnuda como fias, cartas e documentos, que foi ri-
o luar e bem mais bela; / como uma gorosamente catalogado e instalado
petulante caravela / sangrando ma- em sala própria. Por força da Resolu-
res de melancolia”. ção nº 4, de 21 de junho de 2002, a Bi-
No Rio de Janeiro, onde residiu blioteca do IHGP passou a denomi-
por alguns anos, Tarcísio Meira Cé- nar-se Tarcísio Meira César.
EDITORAÇÃO: Luciano Honorato
L eo
B arbosa
portuguesleobarbosa@gmail.com
Ney, um canto
de liberdade
C
ontar uma história é sempre perigoso,
pois corre-se o risco de reduzir uma vida
ou de enaltecê-la. Porém, uma biografia
bem contada cumpre o papel de, ao mesmo
tempo em que cativa o leitor, fazê-lo prosseguir
na leitura, além repensar a própria trajetória –
não como forma a despertar qualquer tipo de
inveja, mas de maneira a refletir sua existência
a partir das idiossincrasias humanas. Nesse
caminho, vai Ney – a biografia (Companhia
das Letras, 2021, 512 páginas), do escritor e
jornalista Julio Maria.
Fruto de cinco anos de trabalho, mais de
200 entrevistas e de sete longas conversas
com o cantor, além de ligações diárias para
Ney durante seis meses, a obra se inicia com
a apresentação dos conflitos entre o cantor e
seu pai. O autor tem como recurso evidenciar
a sina de Matogrosso, em uma relação quase
edipiana, aliado ao fato de que Ney desde
cedo teve que encarar a solidão por se sentir
rejeitado. Mas a obra vai além: apresenta
cada passo da personagem desde quando
sai de casa, aos 17 anos, passando por
suas descobertas e aventuras sexuais, sua
passagem como servidor da Aeronáutica,
suas idas e vindas entre São Paulo, Brasília
e Rio de Janeiro, até chegar aos palcos com
o Secos e Molhados, para posteriormente
seguir em carreira solo, tornando-se o grande
artista que é. Não me parece haver um juízo
de valor por parte do biógrafo, tampouco a
pretensão de colocar o biografado no divã.
O que se percebe é que Julio não poupa o
cantor e nem ele mesmo o faz, ao revisitar as
memórias desses 50 anos de carreira musical
e oitenta anos de vida, completados em
agosto de 2021.
Ney impressiona por sua determinação e
força ao encarar um país eivado de repressão,
em um contexto de censura e muito pudor que
prevalecia nos anos 70 e 80. Mudou muito de lá
para cá? Certamente, embora ainda vejamos,
infelizmente, resquícios de perseguição
de caráter ideológico para se controlar
sexualidade(s), conservadorismo opressor
que tem infelicitado milhões de pessoas pelo
mundo. Muitas vezes cobrado por se afirmar
gay, o cantor não cede. Diz que é um ser
humano e que não vai se reduzir a um rótulo. A
exaltação à sua liberdade é pauta recorrente,
algo digno de quem pretende ter uma vida
autônoma e de fato autoral.
Destaco os pontos que mais me chamaram
atenção, não necessariamente por ordem
de relevância. 1) É de se pensar que, com
o corpo e a sanidade que Ney tem, não
haveria abusado de drogas, mas esse é um
aspecto que não se esconde na obra. 2) Ney
sobreviveu a duas epidemias, a da Aids e a da
Covid-19. Mesmo com a vida sexual agitada
– com homens e mulheres que o desejaram e
desejados por ele, com amantes marcantes,
Zé, Cazuza e Marco de Maria, vítimas do
HIV, – Matogrosso não se contaminou. 3) Ney
é um artista que poucas vezes fez concessões
ao mercado. Tomava/toma a frente de seus
shows – da seleção das músicas à iluminação,
passando pelo local em que ocorreriam/
ocorrem. Vários desses espetáculos bancados
pelo próprio cantor.
Um aspecto negativo da obra é o fato
de Maria avançar rapidamente a partir da
década de 1990, deixando o leitor curioso por
detalhes decorridos a partir desse momento.
É como se o que se passou nos últimos trinta
anos não tivesse tanta relevância quanto
os vinte anos anteriores. Atenção também
às fotografias, que só são apresentadas no
final da obra, podendo ter sido introduzidas
à medida que os fatos fossem relatados, de
modo a ilustrar o texto verbal.
Por fim, é preciso dizer que, desde quando
tive a oportunidade de assistir a seus shows
Beijo Bandido, Atento aos Sinais e à mais
recente turnê de Bloco na Rua, sacramentei a
ideia de que dificilmente haverá figura mais
ousada, inventiva e ativa do que Ney. Com
oito décadas, mantém demasiada vivacidade,
como seus próprios exames biológicos
comprovam: está com 55 anos de idade
corporal. Ler a biografia de Ney Matogrosso
é uma oportunidade de escutá-lo de outra
forma, haja vista que ele é muito reservado
em entrevistas. A vida de Ney é sinônimo de
resistência e de amor pela música.
Colunista colaborador