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6 índice
, 15 @ 22 D 33 2 38
ENTREVISTA POEMAS CINEMA ENSAIO
O ficcionista baiano Aleilton Na série de poemas O crítico João Batista de José Mário da Silva disserta
Fonseca fala sobre o seu escolhidos pelo próprio Brito investiga as sobre a atuação intelectual e
romancista e da importância paraibano André Ricardo homossexualismo desde os imortal da ABL, Eduardo
Andressa Fabião
Arthur Lins
professora
cineasta
6 do leitor
Eu já li tanta coisa sobre Ariano que comecei a ler mais por obrigação; mas o clima de intimidade e
informalidade me tomou e lamentei quando cheguei ao fim do texto. Gostei da reprodução da fala de Ariano do
jeitão que ele gosta de dizer as coisas, das repetições, enfim, o texto ficou vivo, parecia que ele estava ali
falando.O Correio das Artes, com seu alto nível, orgulha a Paraíba
Clotilde Tavares - Natal/ RN
Adorei a entrevista de vocês com o mestre Ariano, muito boa, já estou lendo pela segunda vez. Pena não
conseguir o exemplar em papel, pois iria guardar junto com A Pedra do Reino, como se fosse um dos livros dele.
Pedro Salgueiro - Fortaleza/ CE
Parabéns, Astier, a cada mês o Correio das Artes está melhor! Grande trabalho que você tem feito
Olga Tavares - João Pessoa/ PB
6 lançamentos
DRAMATURGO PAULO PONTES: A OUSADIA E O ALCANCE DE SUA INTELIGÊNCIA TRANSPUNHAM OS LIMITES DA PROVÍNCIA
C
onheci Paulo Pontes nos tempos da Rá- e franzina daquele rapaz de pernas ar-
dio Tabajara no começo da década de queadas, rosto fino e alongado, marcado
1960. A imagem mais nítida que guardo de espinhas, orelhas proeminentes. Na
do nosso primeiro encontro foi de uma cara, uns óculos pesados, de lentes gros-
6depoimento
manhã de sábado, uma manhã límpida sas, parecendo fundos de garrafa, que
de azul na Praça João Pessoa. Sentados à denunciavam uma miopia acentuada.
sombra das palmeiras imperiais, éramos Sentou no meio do grupo, lançou
um grupo de jornalistas, poetas, escri- para cada um de nós um olhar indife-
tores, contistas, pintores, loucos e artis- rente, não cumprimentou ninguém. A
tas que começavam a dura jornada na sua simples presença, no entanto, como
busca de afirmação profissional. Fazía- que cercada por uma aura de magne-
mos pouso na redação de A União e tismo, fez com que assumíssemos, in-
sempre estávamos reunidos no deba- voluntariamente, uma postura mais
te das ideias e do pensamento domi- discreta. Era como se ali tivesse chega-
nante na época. Malaquias Batista, do um mais idoso do que nós e não o
Adalberto Barreto, Jório Machado, João mais moço do grupo, pelo menos na sua
Manuel de Carvalho, Wills Leal, Lin- aparência infanto-juvenil. Ele era da
duarte Noronha, Vladimir Carvalho, nossa mesma faixa etária, mas deixa-
Gonzaga Rodrigues, Firmo Justino, va transparecer no rosto os traços de
para citar alguns. uma indecifrável angústia interior. c
lhas), a escolher.
Na metade dos anos 50, João Pessoa
era uma cidade especial. O chique, para Tambaú, ou tomar de "assustado" alguma casa
os deserdados, era dançar sábado à noi- de família para bailar ao som de Waldir Cal-
te no Samburá, uma boate às claras em mon. Não se falava ainda no Sputnik, c
súbito pé-d´água, e resolvemos nos distância enquanto a mocinha co- TE E EX-SECRETÁRIO NACIONAL DA CULTURA
monárquicas. Além disso, tal par- constituiria uma experiência fun- RIA DA UNICENTRO, DO PARANÁ. ESCREVE
tilha, que, de modo algum, é um ato damental que se situa no fora da ARTIGOS SOBRE FILOSOFIA E LITERATURA
narrador erudito e a voz oficial tores. O romance puramente li- (2007) E EDITOR DA VERBO21
dos livros se calam para ouvir a terário, da palavra pela palavra, (WWW.VERBO21.COM.BR).
Inéditos de
Esquetes
E
PASSADO A LIMPO A CASA VERMELHA DA PRAÇA
eu a saúdo com uma mesura e ares No andar de cima, o herói rememora,
aristocráticos de um mendigo, e a tio Cecílio atravessou um ano inteiro
surpreendo fazendo-a possuidora num morre-não morre, que acabou se
de um vaso de hortênsias, impro- integrando de forma natural à rotina da
6contos
váveis nesta época do ano, subtraídas casa. A prima Tarsila chegou a dar uma
com astúcia e irresponsabilidade da es- festa de aniversário, com DJ e tudo, como
tufa do professor Novak - o alegre e brin- se ignorasse as dores do pai no quarto.
calhão Novak, dono de um hálito sem- No dia de sua morte, tio Cecílio ama-
pre denso, que perturba a molecada com nheceu recobrado, de faces coradas, ilu-
os sons que arranca de uma inseparável dindo que podia sarar a qualquer mo-
gaita de bolso -, gesto que, mais tarde, mento. Pediu que o sentassem na cama e
vai me valer um procedimento discipli- abrissem a janela do quarto. Tinha sido
nar interno, que, no fim, não terá o po- criado naquela casa, queria espiar pela
der de me afetar, pois já estarei de volta vez derradeira o casario trivial da pra-
ao Brasil, às minhas aulas na universi- ça, o sol deixando a paisagem em carne-
dade, uma rotina insossa e medíocre, viva.
bem diferente deste momento em que Lugar medonho, ele disse.
oferto a ela o vaso com hortênsias, e a E deu sua risada cava, a última, por
felicidade dela é tamanha que parece ter sinal, antes de encerrar o expediente nes-
o poder de tirar de seu esconderijo o sol te mundo.
entre nuvens, fazendo-o brilhar num dia
que, em recordações da velhice, será cha- CANTATA
mado de "inesquecível". Do nada, no meio da rua, ele a puxa
para si e a beija demorada e apaixona-
damente, a ponto de chamar a atenção
transeunte. Quando terminam, ela c
vaiana na cobertura, sobre a qual submissão feminina. Lembro PORTANTES ESCRITORES BRASILEIROS, AUTOR
até um jornal do Rio fez menção. O que, no sonho, você usava ca- DE VÁRIOS LIVROS ENTRE OS QUAIS FAROESTES
fato é que da bela Jaqueline e de seu belos compridos, como nos ve-
exíguo biquíni não se teve mais lhos tempos. E, como nos velhos ** ILUSTRAÇÃO COM OBRAS DE AMÍLCAR DE
5 POEMAS ESCOLHIDOS
POR ANDRÉ RICARDO AGUIAR
A tartaruga ciclista
tem um quê de pedra à flor veloz
que não se atira. colhe o tempo
(pedal)
(eremita em sua caverna pé ante perigo
sem idéia de Platão) no risco de dar consigo
fere
a si mesmo
(in)tenso
Ícaro
o vôo
é o alicerce do pássaro
(não o contrário)
o vôo
- imagina-se -
é mais leve que o ar.
**
Alteridade
E pelo sopro dos heterônimos,
Com dança brava e interativa.
Eis que nasce o Eu.
Nascedouro de universos
Espécie rarificada de perigos
Calculo múltiplo de sentidos.
**
Contemporaneidade
Hoje medito a goles de champanhe
ao celebrar a vida de Zeus e Métis
pois vibro ao ver Galileu e Téspis
Dizendo: Cronos, nos acompanhe! ** EUNICE BOREAL É ARTISTA MULTIMÍDIA.
** WWW.EUNASCE.BLOGSPOT.COM
DIVULGAÇÃO
uma mesa sobre "Literatura e adap- Deslocado, o compositor está ci-
tações", Ramil pouco discute a ques- ente da pouca contribuição do gaú-
tão - a não ser quando fala da ver- cho para a constituição de uma de-
são que fez para a música "Gotta terminada brasilidade, muito mais
serve somebody", de Bob Dylan -, próximo que está dos hermanos vi-
mas toca num ponto fundamental: zinhos argentinos e uruguaios. Por
no caso da canção de Dylan, a ideia este viés, como artista, reclama ain-
era recriar a sensação com outras da das fronteiras menos diluídas
palavras e expressões para que fos- entre tradição e modernidade para
se significativa, principalmente, os compositores do Sul, por muitas
para o compositor. Nem diabo nem vezes saturados de uma visão regio-
deus: Ramil prefere servir-se a si nalista estereotipada: "Enquanto os
mesmo. nordestinos vinham há anos se re-
Você pode ser rei no país do futebol novando e renovando a própria
Pode ser viciado em bingo e nunca música brasileira graças à sua sem-
ver a luz do sol cerimônia para com os próprios mi-
Você pode ser um mago e vender tos, à sua capacidade de manter viva
livros de montão a tradição popular, os rio-granden-
Pode ser uma socialite, enriquecer ses, devido a muito patrulhamento
vendendo pão por parte de uma mentalidade pro-
tecionista disseminada, em raras
Mas um dia vai servir a alguém, é oportunidades, conseguiam desvin-
Um dia vai servir a alguém cular o regionalismo de seu caráter
Seja ao diabo folclórico, de resgate cultural, de
Ou seja a Deus culto".
c nítidos, a correr neste horizonte Um dia você vai servir a alguém Qual a saída? A busca de si mes-
desértico, não estão aqui onde pare- ("Um dia você vai ser vir a al- mo, de sua identidade como artista
cem estar, mas a pelo menos uns guém", versão de Ramil para a mú- que ao mesmo tempo o conecta e
cem quilômetros de distância. Acon- sica "Gotta serve somebody", de Bob distingue dos compositores urba-
tece em dias de muito calor". Dylan, Tambong, 2000) nos de sua geração e finalmente do
Cd nas mãos, vão se consubstan- Este pode ser um caminho para próprio Brasil. A sua estética do frio
ciando aos olhos camadas de signi- entendermos a sua Estética do frio. - e aqui não estamos falando apenas
ficação de uma estética do frio. Ima- O livro foi resultado de uma confe- do livro, mas de toda sua obra como
gem e palavra. Poesia e prosa. Lite- rência apresentada em junho de compositor e escritor de ficção - cons-
ratura e canção. Jorge Luis Borges e 2003, em Genebra, Suíça, como par- titui em uma tentativa de revisão
João da Cunha Vargas. Erudito e te da programação Porto Alegre, un da imagem estereotipada do gaúcho
popular. Argentina e Brasil (Buenos autre Brésil. Para chegar naquilo que e do Brasil, país que compreende
Aires também pode ser Pelotas, Sa- diz não ser um projeto estético for- tantos espaços distintos, contudo
tolep). Mas que Brasil? mal, Ramil descreve uma situação permeados de pontos de intersec-
vivenciada nos primeiros anos de ções. Nas palavras do compositor/
A estética do frio artista, no Rio de Janeiro, cidade- escritor, a estética do frio, "reação a
A presença do compositor na ci- metáfora-clichê do Brasil tropical. um estado de coisas em tudo para-
dade foi importante para refazer- Em um junho muito quente, o com- lisante (...), é uma viagem cujo obje-
mos o caminho percorrido de Ra- positor assistia seminu, tomando tivo é a própria viagem". I
milonga até Délibáb e finalmente seu chimarrão, à transmissão de
compreendermos a estética do frio. um carnaval fora de época nordes-
tino, em um telejornal local. Em se-
Chove na tarde fria de Porto Alegre guida, o mesmo telejornal mostra a
Trago sozinho o verde do chimarrão chegada de um inverno rigoroso no
* REFERÊNCIAS BIBIODISCOGRÁFICAS:
Olho o cotidiano, sei que vou embora Rio Grande do Sul, digno de "clima
RAMIL, VITOR. A ESTÉTICA DO FRIO. CONFERÊN-
Nunca mais, nunca mais europeu". Ramil descreve o que se
CIA EM GENEBRA. PORTO ALEGRE: SATOLEP,
seguiu: "Aquilo tudo causou em mim
2004.
Chega em ondas a música da cidade um forte estranhamento. Eu me sen-
RAMIL, VITOR. DÉLIBÁB: MILONGA DE LA
Também eu me transformo ti isolado, distante. Não do Rio Gran- MILONGA. DISPONÍVEL EM: HTTP://
numa canção de do Sul, que estava mesmo muito WWW.VITORRAMIL. COM.BR/. ACESSO EM
Ares de milonga vão e me carregam longe dali, mas distante de Copaca- AGOSTO DE 2010.
Por aí, por aí bana, do Rio de Janeiro, do centro __________________________________________________________
do país. Pela primeira vez eu me PROFESSORA DE LITERATURA E MESTRE EM
("Ramilonga", Ramilonga, a estética sentia um estranho, um estrangei- LITERATURA BRASILEIRA PELA UFPB
do frio, 1997) ro em meu próprio território nacio-
que ela esperava conseguir na nhecido, que pode ser exótico, sur- RA DOS LIVROS DE POEMAS ANOS BISSEXTOS E
RODAPÉ
Rinaldo de Fernandes*
capítulos e andamentos do livro - e aí são aliás, no que diz respeito sobretudo à linguagem,
vários os tipos e elementos da cultura encontro uma possível matriz do personagem
contemporânea que são ironizados (e até do romance. Há entre eles diferenças de classe
barbarizados). Mas ainda me pergunto sobre - o personagem de Fonseca tem origem em
quem é esse narrador? Que tipo ele quer estratos pobres da sociedade; o de Mirisola é,
significar em nossa sociedade? reitere-se, de classe média. Mas isto não impede
Aparentemente, o urbano, de classe média o débito do escritor paulista com a ficção brutal
sem perspectiva, buscando sentido na do autor de Feliz ano novo.
violência (trata-se de um narrador muito
violento!). Um tipo sádico, de violência que *ESCRITOR E PROFESSOR DE LITERATURA DA UFPB. JÁ PUBLICOU LIVROS
lembra o Cobrador de Rubem Fonseca - onde, DE CONTOS E O ROMANCE RITA NO POMAR (2008)
U
João Batista de Brito*
sabe, na Hollywood clássica, um bei-
m desaguadouro inevitável para a jo tinha duração marcada e uma
pulsão homoerótica tem sido o cine- cama de casal era considerada uma
ma. Desde a queda universal da cen- imagem inadequada.
6cinema
c Comecemos com o cinema Bem, mas já é tempo de no segundo, Cary Grant se ves-
primitivo, ainda no século XIX, te de mulher. O que se nota é
um pouco antes do cinemató- perguntar: quando foi mesmo que, influenciadas pelo que co-
grafo dos irmãos Lumière, nhecem das vidas privadas de
quando o inventor americano que a homossexualidade Garbo e Grant, essas pessoas
Thomas Edison e seu sócio estão atribuindo aos persona-
W.K.L. Dickson tentavam regis- foi à tela pela primeira vez? gens, características dos seus
trar imagem e som, com um respectivos atores.
aparelho chamado de Kineto- Qual foi a produção corajosa É fato que em Marrocos (1930)
phone. O experimento de sin- Marlene Dietrich faz mais do
cronizar som e imagem dentro que inaugurou o tema que se vestir de homem: ela,
dessa caixa escura não deu cer- num lance rápido e brincalhão,
to, mas um filmezinho de 17 se- no cinema? beija uma mulher na boca, mas
gundos sobreviveu ao tempo e isso revela mais sobre ela que
pode ser visto ainda hoje nos sobre o filme de Josef von Stro-
carquivos da cinemateca de heim.
Nova Iorque. Sem título, está re- xuais nas telas do mundo. Há quem mencione certos tre-
gistrado como Dickson´s experi- Ainda no cinema mudo, um jeitos de Carlitos como sendo
mental sound film (1894) e mostra outro raro exemplo que me ocor- efeminados, isto sem conside-
o quê? Ao som de um gramofo- re é o de A caixa de Pandora (G.W. rar que tais trejeitos faziam
ne duas pessoas dançam abra- Pabst, 1928), por coincidência parte do seu esquema de panto-
çadinhas. Um rapaz e uma também envolvendo dança, mimas, geralmente para signi-
moça? Não: dois homens. agora com duas mulheres que gi- ficar "romantismo" ou qualquer
Por que dois homens? Não se ram agarradinhas em volteios coisa oposta a brutalidade,
conhece as razões para a esco- realmente sensuais. como se vê claramente na cena
lha de Dickson, mas o fato é que O que geralmente acontece é que antecede a luta de boxe em
esse "pas de deux" masculino é que os interessados em consoli- Luzes da cidade (1931). Outros fil-
dado pelos estudiosos do assun- dar a diversidade sexual, empe- mes em que, com ou sem funda-
to como a primeira manifesta- nham-se em catar e apontar mento, se veem elementos de
ção homossexual na história do manifestações homossexuais homossexualidade são: Relíquia
cinema. em filmes antigos, que, na ver- macabra, 1941 (no personagem
Depois do primitivo filmezi- dade, só trataram do tema de Cairo, feito por Peter Lorre); Gil-
nho de Dickson, e por causa forma obscura, ou acidental, ou da, 1946 (entre Glenn Ford e seu
dele, alguém pode supor que o equívoca mesmo. Essas pessoas patrão); O salário do medo (entre
tema da homossexualidade es- querem, por fim e à força, reti- Ives Montand e Folco Lulli); O
tendeu-se e tornou-se popular rar sentido homossexual de fil- império do crime, 1955 (entre dois
no cinema dos primeiros tem- mes como Rainha Cristina (1933) gangsters, um dos quais é Lee
pos. Nada disso. Decorreriam e Levada da breca (1938) somente Van Cliff).
muitas décadas para nos depa- porque, naquele primeiro Gre- Um caso clássico é o que se diz de
rarmos com imagens homosse- ta Garbo se veste de homem e, Casablanca, 1942, especialmente c
lhor (Billy Wilder), este último pburn, a sua confissão mais ín- UM BEIJO: MINICONTOS PARA CINÉFILOS
A duração da poesia:
sobre o novo livro de poemas de Adélia Prado
Hélder Pinheiro*
duração do dia, este é o título do sétimo revisita alguns temas, reflete sobre o
va disto é o número crescente de ensai- dia e por nenhum romantismo/ sou mo-
os, dissertações e teses sobre sua obra. vida", - "Viés",p. 11) "quero o carinho que
Podemos afirmar que, neste último li- à ovelha mais fraca se dispensa", ("Rute
vro a poetisa permanece fiel a seus te- no campo", p. 15); "Queria, ainda que em
mas e procedimentos. Embora haja uma tico à toa de tempo,/ gozar chefia de mi-
espécie de serenização, suas inquitações nha própria pessoa," ("Como um presen-
são, ainda, o transcorrer da vivência do te meu, um Riobaldo", p. 17); "Quero um
cotidiano, a forte religiosidade e uma paranormal a me ensinar piano", ("Bali-
visão erótica da vida. Permanecem tam- do", p. 47") e tantos outros exemplos.)
bém algumas personagens como o pai, a O estilo de Adélia Prado, maduro des-
mãe que morreu cedo, e uma linguagem de a publicação da primeira obra, não
com sabor de conversa, bem diferente traz qualquer alteração, mantendo-se fiel
dos rebuscamentos de linguagem que quer na articulação das imagens quer no
marcaram grande parte da lírica do sé- modo de construção dos poemas. Per-
culo XX. Agora septuagenária, a poetisa manece o que denominamos de constru-
c
gem ("A invenção de um modo") guida, uma curiosa junção entre clarão inaugural que névoa densa
dizia ensaiar o modo de andar das fé e ciência: "Como os oráculos faz parecer velados diamantes.
velhinhas, parece viver o que fora bíblicos,/ os paradoxos da física Em pequenos bocados,
pectos que a torna quase ilumi- dável capacidade de dialogar ENSAIOS MINÍMAS LEITURAS, MÚLTIPLOS INTER-
A OUTRA LUZ
Por Alberto Lacet
agosto 2010