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Curso Pacificando as relações internas e externas

Facilitador: João Vale

Inveja, competição -– versão de 27.04.15

A inveja e a competição deixam a mente permanentemente tensa. Você está sempre


olhando para si mesmo e para o outro: será que ele vai realmente conseguir e eu não?
Será que ele/ela vai tomar o meu lugar? As sementes da inveja e da competição estão
presentes em todos os reinos. Quando carentes e vemos que alguém está prestes a
conseguir algo, “vestimos a armadura” e partimos para o ataque. Quando apegados e
alguém ameaça nossa relação com o objeto de apego, atacamos. Se perdemos, vamos
parar na raiva. Se vencemos, ficamos ansiosos com o objeto de desejo nas mãos, com
medo de que alguém venha toma-lo. Confundimos a armadura com a nossa roupa
comum e as vezes não tiramos ela nem para dormir. Até mesmo animais demonstram
inveja e competem pelos recursos, brigam e lutam para conseguir carinho, sexo, comida.
Na plenitude do deslumbramento, não temos inveja. Mas, quando perdemos algo ou
alguém para outra pessoa, quando a impermanência atua, achamos que “erámos
ingênuos” e renascemos como invejosos e competitivos: “Agora eles vão ver”...Não
percebemos que mesmo a mente do deslumbramento era equivocada, estava nos
enganando o tempo inteiro. Por isso, aqui a mitologia budista chama os seres presos na
inveja e competição de semi-deuses (asuras). Semi, porque são pela metade. Possuem
força para competir mas ao competirem já mostram que vão ficar presos nisso para
sempre, defendendo sempre sua posição. Não há como se tornarem naturalmente
“deslumbrados” e “deslumbrantes” como os deuses. A mente aqui é ansiosa, aflitiva
porque, embora não consigam, eles vão passar a vida toda lutando para conseguir. A
imagem da armadura é muito bem apropriada para falar dos semi-deuses. Eles vestem-
se com roupas brilhantes para o combate. Compreendem muito bem as regras do jogo,
estão prontos para serem os melhores. Não percebem que, no fundo, o objeto que
desejam, o reconhecimento e a aclamação, é tão efêmero quanto ilusório. Além disso,
desgastante. Eles insistem em lutar e lutar até cansarem. Vemos casos de políticos assim
ou donos de empresa também. Estão tão mergulhados no personagem do “lutado”,
“batalhador”, “guerreiro” profissional, defendendo o seu “reino”, suas “idéias”, que
seguem a vida toda assim, passando por cima de tudo e todos. Eles só precisam
defender a sua “bandeira”. Colocá-la num lugar alto para que todos possam ver. Isso
significa também que ele tem interesse de conquistar territórios, expandir os negócios
ou a área de atuação. E para isso eventualmente travam batalhas homéricas. O corpo se
acostuma as batalhas e precisa da adrenalina da disputa para se sentir bem. Algumas
pessoas, por outro lado, gostam de conquistar umas as outras. Gostam de conquistar
para mostrar que podem, para colecionar relações. Depois que estão diante da pessoa,
com as fragilidades do outro expostas, elas olham e não sabem o que fazer direito. As
vezes somem, outras vezes arrumam uma desculpa e seguem para outra conquista. As
vezes, temos poucas habilidades mas gostamos de ser conhecidos por aquele que possui
aquilo e nos sentimos extremamente tensos quando alguém chega e demonstra
habilidades iguais as nossas. As vezes vamos para carência ou começamos a comer e
dormir bastante, sem querer encarar aquilo (mergulhando no torpor e na obtusidade).
Outras vezes acionamos a armadura e partimos para o combate. O ciúme por exemplo é
um sentimento que está ligado a competição. Nós podemos até mesmo ter uma amante,
um amante, mas a possibilidade do nosso parceiro, parceira ter nos deixa assustados e
em alerta. A mente do ciúme é estrategista e fuça todas as possibilidades, checa todas as
conexões possíveis de modo a se certificar da traição do outro. Às vezes, ao
constatarmos a traição, partimos para o combate (mesmo que não estejamos felizes na
relação), nos valorizando, vestimos uma armadura bonita e lustrosa e dizemos: “alto lá,
olhe para mim, eu melhorei”. Por outro lado, podemos ir para a
carência,supervalorizando o outro e nos humilhando. No mundo da arte e dos esportes,
no mundo da política e mesmo nas relações a dois e na familia, vemos muito a energia
da competição. A única forma que temos de sair fora da competição é desistir de
competir e desejar que o outro cresça, conquiste o que deseja e seja feliz. Isso significa
sermos capazes de reconhecer que já temos tudo dentro de nós e seguirmos em frente,
mesmo que sejamos muito bons naquilo que fazemos, podemos ser bastante generosos.
Quando estamos plenos, ninguém pode tomar da nossa mente a capacidade que ela tem
de ter idéias criativas, amplas e potentes.

Os quatro aspectos da raiva e do medo (Corpo, Energia, Mente e Paisagem)

Corpo: Quando estamos na competição, nosso corpo está tenso. Eventualmente,


desenvolvemos regiões de dor e couraças por nos sentirmos ameaçados e, ao mesmo
tempo, por nos dar força para seguir lutando. O corpo repete o movimento de olhar para
o outro e olhar para si, para avaliar, julgar.

Energia: A energia da inveja e competição é sempre inquieta e avaliativa. Ela sempre


olha o que o outro tem e deseja ter mais e melhor.

Mente: A mente da inveja e competição é muito habilidosa nos seus planos. Ela planeja
e calcula aquilo. É capaz de raciocínios rápidos ou alimentar a competição por muito
tempo, vidas. A mente está sempre avaliando, calculando.

Paisagem: A paisagem dos semideuses avalia sempre quem são seus aliados, quem sãos
seus oponentes, quais seus recursos, quais os recursos do outro. Ela não olha paras as
pessoas, mas sim para aqueles que são seus rivais e aquelas que deseja conquistar.

DUKKA

DUKKA: Na luta, nos sentimos úteis, fortes, corajosos. No entanto, a vitória sempre
traz a derrota e ficamos presos ao objeto, com receio de perdê-lo. A mente quanto está
na inveja, competição, acredita que a luta tem que ser feita, que é bom guerrear, mas
esquece todo o sofrimento que está guardado ao conquistar o objeto e ter que “proteger
as fronteiras”. Veja que na Roda da Vida as emoções saem juntas, uma encadeando a
outra, a medida que a nossa relação com o objeto muda, nós mudamos, oscilamos.
Segunda parte da motivação - QUALIDADES - [Alegria]
Me alegro por poder entender isso, me alegro porque o mundo todo é um lugar de
ensinamento. Me alegro porque não há nada que escape disso. Me alegro porque várias
vezes me debati e agora estou olhando para isso diretamente. Me alegro porque sinto a
energia que vem de trazer benefícios. Me alegro porque sinto que essa energia pode me
nutrir. Me alegro por perceber que todos me ensinam, todas as experiências ensinam. Me
alegro por ter a oportunidade de praticar isso, e oferecer isso. CONTENTAMENTO TOTAL.
Inspiro e expiro dentro do meu corpo-vida, minha energia autônoma.

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