Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo 121
Abstract
The discussion on the clinic of the early infancy makes it possible to review
classical psychoanalytic conceptions about the constitution of the subject and to
emphasize the importance of the intersubjective relations in the beginning of the
psychic life, indicating an important relationship between the drive theory and
the early object relations. The paper aims to broaden the notion of representation
to include the sensory and non-verbal communication between the baby and his
primary objects, based on the fact that the process of subjectivation is construc-
ted through the experiences that are shared between the infant and his primary
others. The contributions of R. Roussillon and A. Green indicate that the quality
of early interactions are extremely important to facilitate the representation of the
absence of the object. Thus, the symbolizing function of the object is at the same
time the constitution of its affective presence as well as its capacity to become a
containing structure through the work of the negative.
Keywords: symbolizing function; work of the negative; clinic of the early
infancy.
Resumen
La reflexión sobre los primeros días nos permite revisitar los puntos de
vista del psicoanálisis en la constitución del sujeto y destacamos la importancia
de las relaciones interpersonales en la constitución de la psique, que apunta a una
relación entre la dimensión de la unidad de calidad e de las relaciones entre sujeto
y objeto a temprana edad. En este trabajo se busca ampliar la noción de represen-
tación a fin de incluir las experiencias sensoriales y no verbales del bebé, ya que la
subjetividad se construye sobre un proceso cuyo elemento clave es la experiencia
compartida con los demás. Las contribuciones de R. Roussillon y A. Green a dos
elementos que deben ser articulados para favorecer los procesos de simbolización
tempranos: la calidad del continente y la presencia sensible del objeto, así como
la importancia de la constitución de lo apagamiento del objeto que resulta do tra-
bajo del negativo y su transformación en la estructura encuadrante. Por lo tanto,
la presencia del objeto es esencial para permitir la representación de su ausencia,
el trabajo del negativo es también esencial para permitir el establecimiento de
límites entre interior / exterior y entre instancias psíquicas.
Palabras chave: función simbólica; negativo; clínica de los comienzos.
ência de sustentação materna para que a criança possa internalizar a mãe e se au-
tomaternar. Assim, a capacidade de narrar a própria história decorre da qualidade
das trocas entre o bebê e seu ambiente afetivo, visto que o bebê parece muito mais
sensível, inicialmente, à musicalidade da língua do que à significação dos signos.
Dessa forma, a clínica da primeira infância confronta o clínico com uma
mudança de paradigma, a passagem de uma clínica do conteúdo para uma clínica
do continente, na qual a ênfase na relação e no vivido e a ideia de construção em
análise é mais importante do que uma clínica baseada no significante e na lingua-
gem em sua vertente verbal. Isso não significa desconsiderar a função da lingua-
gem na constituição do sujeito, mas ressaltar sua dimensão sensível: a musicalida-
de da língua materna, os diferentes tipos de comunicação não-verbal, as sensações
que envolvem as interações entre o bebê e seus pais ou cuidadores primordiais.
A obra freudiana, apesar de ressaltar a necessidade da presença do outro
para que o sujeito possa se constituir, tem como proposição clínica uma metap-
sicologia direcionada às neuroses, ou ao que se convencionou denominar uma
clínica do conteúdo ou dos conflitos intrapsíquicos (Urribarri, 2012; Roussillon,
1999). Foi a partir da inquietação de Ferenczi em procurar modificações que
permitissem o trabalho com pacientes graves, considerados refratários à técnica
clássica da interpretação, que ocorreu uma mudança de foco na clínica psicanalí-
tica – de uma clínica centrada no Édipo e na castração para uma clínica direcio-
nada às falhas básicas no processo de construção do self, remetendo a pacientes
empobrecidos, esvaziados, com dificuldade de expressão e representação psíquica.
Em “A elasticidade da técnica psicanalítica” (1928/1992), Ferenczi de-
fende a noção do “tato psicológico” na situação analítica, isto é, a capacidade
empática do analista de “sentir-com” o analisando, vivenciando seus conflitos,
para então representá-los, transformando-os em discurso. Essa capacidade afetiva,
que pressupõe uma clínica de intensidade e de movimento é retomada por Stern
(1992), ao propor que a constituição do psiquismo do bebê se inicia através de
uma coconstrução sensório-perceptual entre este e seus adultos primordiais.
A noção de “afetos de vitalidade” é particularmente relevante, pois propõe
uma ênfase na dimensão de intensidade e movimento do afeto e não só de seu
conteúdo formal. Como indica Stern (1992), o bebê inicia seu percurso subjetivo
através de modalidades afetivas que se diferenciam dos afetos categóricos (alegria,
raiva, medo, tristeza) por pertencerem ao domínio da experiência afetiva em uma
perspectiva de ativação e intensidade.
e de um gesto é vivenciado pelo bebê como uma linguagem analógica, à qual ele
responde com seu corpo. Corpo aqui entendido como corpo relacional, que afeta
e é afetado pelo outro. Como indicam Golse e Desjardins (2005, p. 18), “o bebê
precisa – não saber – mas experimentar e sentir profundamente que a linguagem
do outro (e singularmente a de sua mãe) o toca e o afeta, e que esta é afetada e
tocada, por sua vez, pelas primeiras emissões vocais dele”.
Roussillon (1999) avança nessa discussão ao propor uma distinção entre os
processos de simbolização primária e a simbolização secundária. De acordo com
o autor, a simbolização secundária se funda sobre a ausência e sobre o trabalho de
luto pela perda do objeto enquanto o campo das simbolizações primárias se apoia
sobre a qualidade da presença do objeto, das sensações e percepções decorrentes
das interações significativas entre o bebê e seus outros fundamentais.
Isso não significa propor uma simetria no encontro entre uma criança e
um adulto, mas sim indicar que o processo de simbolização precisa ser comparti-
lhado para ser integrado e apropriado pelo sujeito. Se retomarmos a concepção de
Stern da constituição dos “envelopes protonarrativos” como narrativas compostas
de afetos de vitalidade, podemos articulá-la à proposição de Roussillon (1999) so-
bre a importância da presença do objeto nos primórdios da subjetivação. O bebê
só consegue transformar percepção em representação a partir de uma experiência
de prazer compartilhado com um objeto que se deixa utilizar como espelho sem
contudo perder sua singularidade como sujeito.
Roussilon (2008b) propõe a noção de “homossexualidade primária em
duplo” para descrever a constituição do narcisismo primário na qual o objeto
desempenha o papel de semelhante, de espelho, de duplo do sujeito, sem que a
experiência seja uma vivência de fusão. Para Roussillon, o outro primordial preci-
sa no início da vida, refletir e partilhar os estados afetivos do bebê, sem no entanto
se confundir com ele. Como indica o autor:
Considerações finais
Referências
Golse, B. (2003). Sobre a psicoterapia pais-bebê: narratividade, filiação e transmissão. São Paulo:
Casa do Psicólogo.
Golse, B., & Bydlowiski, M. (2002). Da transparência psíquica à preocupação materna pri-
mária: uma via de objetalização. In L. Corrêa Filho, M. H. Corrêa Girade, & P. França
(Orgs.), Novos olhares sobre a gestação e a criança até 3 anos: saúde perinatal, educação e
desenvolvimento do bebê (p. 215-221). Brasília: L. G. E. Editora.
Golse, B., Desjardins, V. (2005). Dos corpos, das formas e do ritmo como precursores da
emergência da intersubjetividade e da palavra no bebê. Revista Latinoamericana de Psicopa-
tologia Fundamental, VIII(1), 14-30.
Green, A. (1988a). O analista, a simbolização e a ausência no contexto analítico. In A. Green
[Autor], Sobre a loucura pessoal (p. 36-66). Rio de Janeiro: Imago.
Green, A. (1988b). A mãe morta. In A. Green [Autor], Sobre a loucura pessoal (p. 148-178).
Rio de Janeiro: Imago.
Green, A. (2010a). Seminário sobre o trabalho do negativo. Anexo 3. In A. Green [Autor],
O trabalho do negativo (p. 301-305). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em
1988)
Green, A. (2010b). O trabalho do negativo. Anexo 1. In A. Green [Autor], O trabalho do ne-
gativo (p. 289-294). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1986)
Houzel, D. (2004). As implicações da parentalidade. In L. Solis-Ponton (Org.), Ser pai, ser mãe.
Parentalidade: um desafio para o terceiro milênio (p. 47-53). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Kupfer, M. C. et al. (2010). Predictive value of clinical risk indicators in child development:
final results of a study based on psychoanalytic theory. Revista Latinoamericana da Psicopa-
tologia Fundamental, 13(1), 20-30.
Laznik, M. C. (2000). A voz como primeiro objeto da pulsão oral. Estilos da clínica, V(8), p.
80-94.
Lebovici, S. (1987). O bebê, a mãe e o psicanalista. Porto Alegre: Artes Médicas.
McDougall, J. (2000). Um corpo para dois. In J. Mcdougall, & Gachelin et al. (Orgs.), Corpo
e História (p. 9-47). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Roussillon, R. (1999). Agonie, clivage et symbolisation. Paris: Puf.
Roussillon. R. (2008a). Le transitionnel, le sexuel et la réflexivité. Paris: Dunod.
Roussillon, R. (2008b). Le jeu et l’entre je(u). Paris: Puf.
Spitz, R. (1946). Anaclitic depression. Psycho-Anal., Study of the Child, 2, 12-25.
Stern, D. (1992). O mundo interpessoal do bebê. Porto Alegre: Artes Médicas.
Stern, D. (2004). The present moment in psychotherapy and everyday life. London: Brunner-Mazel.
Stern, D. (2005). L’enveloppe prénarrative. In S. Missonier (Org.), Narrativité et attachement
en psychanalyse (p. 210-220). Paris: Érès.
Urribarri, F. (2012). André Green: o pai na teoria e na clínica contemporânea. Jornal de Psica-
nálise, 45(82), 143-159.