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CURSO DE DIREITO - LÍNGUA PORTUGUESA I-A – MÓDULO I | Prof.

Ana Paula Porto

DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS DE


GRADUAÇÃO? POR QUÊ? PARA QUÊ?

Para refletir sobre a presença da disciplina de língua portuguesa nos


cursos de graduação em Direito do Brasil, selecionamos um texto para debate.

O PORTUGUÊS E A REDAÇÃO DOS ALUNOS DE DIREITO

19 de agosto de 2012, 8h00

Por Vladimir Passos de Freitas

O português dos alunos de Direito vem se mostrando cada vez mais


deficiente. E não é privilégio desta ou daquela faculdade, pública ou
privada, nem mesmo de determinada região. É nacional. Frases
incompreensíveis, palavras utilizadas erroneamente, dificuldade
extrema em redigir um texto, impossibilidade de por no papel o que se
pensa, tudo isto vai se tornando rotina nas atividades dos estudantes da
graduação.

O fato não passa despercebido aos profissionais da área. Professores


comentam, as faculdades de Direito notam, escritórios de advocacia e
órgãos públicos alertam os estagiários, que por vezes são mandados
embora ou colocados em setores mais simples, onde não seja
necessário escrever.

A situação, que se agrava a cada ano, é altamente negativa. Sofrem os estudantes, pois
vislumbram as dificuldades que terão na vida profissional, perdem os que os empregam,
porque o serviço que prestam não corresponde às expectativas, penam as faculdades de
Direito, inclusive pelos reflexos que se fazem sentir nos exames da OAB, com o baixo nível
de aprovação.

De quem é a responsabilidade? Que fazer?

O primeiro passo é reconhecer que estamos diante de um momento de virada cultural, de


mudanças radicais. A começar pelo uso dos aparelhos eletrônicos. Mensagens eletrônicas,
torpedos nos celulares, manifestações nas redes sociais, costumam ser curtas, diretas,
telegráficas. Mudam comportamentos, formas de expressão, regras de conduta. Uma das
consequências é a total alteração da forma de comunicar-se por escrito, o que atinge um
número significativo de jovens.

Poucos com mais de 40 anos saberão o que significa a frase “quer teclar comigo?”. Resposta:
trocar mensagens. Mais difícil será compreender que “sussi” é sossego e “blz” quer dizer
beleza, tudo bem. Dois pontos e um colchete :) significa feliz, mas dois pontos e um O :O
quer dizer surpresa, “beijaum” é um beijo grande. Estamos diante de uma nova e diminuta
linguagem, o internetês. Consulte-se a respeito a Wikipedia (CLIQUE aqui PARA LER).
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Além disto, palavras estrangeiras são incluídas no vocabulário, por vezes substituindo alguma
do português (deletar, por apagar), em outras, traduzidas indevidamente (inicializar ao invés
de iniciar) ou mesmo inovando por completo (p. ex., printar para dizer imprimir).

Socialmente, o jovem que não se expressar desta forma estará excluído do grupo. Com certeza
ninguém jamais ouviu ou ouvirá uma jovem dizendo “ESTOU LOUCA PARA SAIR COM
ELE, PORQUE SEU PORTUGUÊS É MARAVILHOSO, FALA E ESCREVE MUITO
BEM”.

Em um segundo plano, mas também de grande relevância, são as deficiências do ensino


médio e fundamental. Não é preciso ser um especialista para saber que houve uma queda
brusca no nível de ensino e que não se reprova ninguém, principalmente nas escolas públicas.
Segundo a mídia impressa “A discreta melhora apresentada nos últimos anos no ensino médio
público cessou em 2011” (FOLHA DE S.PAULO, 15.8.2012, C1).

Tudo isto faz com que, ao entrar na Faculdade de Direito, o jovem acadêmico tenha grande
dificuldade em expressar-se, inclusive oralmente. O seu vocabulário reduz-se a poucas
palavras. Sem vocabulário não se expõem as ideias, não se transmite o que se pensa. Daí
porque surgem, nos trabalhos acadêmicos, nos testes ou nos estágios, petições lacunosas ou
confusas. Ofício, carta, MEMORANDUM, nem pensar.

Não é raro que o professor encontre parágrafos incompreensíveis, petições que repetem a
mesma coisa duas ou três vezes, ou referências que nada tem a ver com o assunto tratado,
porque foram copiadas por quem não consegue escrever. Há uma mescla de mau português
com dificuldade de organizar as ideias.

Se esta situação não é boa para qualquer estudante universitário, ela é ainda pior para o
acadêmico de Direito. Sim, porque nas profissões jurídicas a exposição de ideias, falando ou
escrevendo, é a imprescindível rotina de trabalho. Ao contrário, a importância será menor, por
exemplo, para um profissional de área técnica.

O estudante de Direito deve procurar sair dessa situação. A regra número um é ler, de
preferência autores com redação clara, rica em sinônimos, que organize bem suas ideias.
Machado de Assis, por exemplo. O editorial dos bons jornais também ajuda.

A segunda regra é escrever. Fugir da cômoda repetição de textos alheios, do copia e cola, do
uso absoluto de modelos. Redigir é um excelente meio de aprimorar a escrita. Uma folha por
dia, sobre qualquer assunto, pedindo a alguém que leia e corrija, pode gerar excelentes
resultados. Escrever o que se pensa, na ordem direta.

Por parte das faculdades de Direito também muito se pode fazer. Em primeiro lugar,
enfrentando o problema. Obviamente, elas não são a causa, mas nem por isso deixam de
sofrer as consequências. A queda no nível, com a consequente reprovação em Exame da OAB
e concursos públicos, atinge a imagem do estabelecimento de ensino.

É preciso que se inclua o português nos cursos de graduação, como matéria obrigatória. No
primeiro período e de preferência com um professor rigoroso. Se a faculdade não quiser
colocar com todas as letras que está ensinando português, pode batizar a matéria com um
nome mais pomposo como “Análise de texto” ou “Princípios de redação”. E se houver
dificuldades com a grade horária, já que cinco anos não são suficientes para tantas matérias,
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que pelo menos se ofereça um módulo, isto é, aulas que se assistem por inscrição voluntária
ou ainda curso a distância, via internet.

Os professores devem auxiliar os estudantes, tendo em mente que eles estão inseridos em um
mundo novo, com regras próprias. E também, na medida do possível, evitar provas objetivas,
pois não auxiliam na prática da redação. Provas orais também são importantes, porque
obrigam o aluno a saber expressar-se. É dizer, não basta criticar, contar os erros encontrados
nas provas. É preciso ajudar, orientar.

Os órgãos que administram as carreiras públicas também têm um papel a cumprir. Por
exemplo, cursos de redação, presenciais ou a distância, podem auxiliar os assessores dos
agentes do Ministério Público. Incluir o português nas provas de ingresso também é uma boa
providência (o TJ-SP inclui Língua Portuguesa nos concursos de ingresso na magistratura).
Colocar a matéria nos cursos que se ministram após a posse no cargo também é importante.

Em suma, o problema aí está e é preciso enfrentá-lo. E os estudantes necessitam ter em mente


que, mesmo neste novo mundo, ele sempre exigirá do profissional do Direito clareza de ideias
e eficiência na exposição das teses.

Fonte: https://www.conjur.com.br/2012-ago-19/segunda-leitura-portugues-redacao-alunos-direito. Acesso


em: 20 jul. 2018.

PARA REFLETIR

Ler e escrever são de fato duas ações necessárias para ter melhor
desempenho profissional?

Quais são os maiores problemas quanto ao uso da língua portuguesa na área


jurídica?

Que falhas de comunicação prejudicam a imagem profissional?

Em que medida a escrita on-line prejudica a prática de escrita correta?

Como conseguir escrever com clareza e ter eficiência da exposição?

ATIVIDADES
A partir da leitura do texto acima, responda às questões a seguir.
01) Considerando a forma de organização textual e as possibilidades de ênfase em narração,
descrição, dissertação, argumentação ou injunção, como podemos classificar o modo de organização
do texto de Vladimir Freitas? Apresente dois argumentos para sustentar sua conclusão.
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02) Segundo o autor do texto, problemas de domínio da língua portuguesa são perceptíveis por
várias razões. Que outras razões você pode elencar? Cite-as de forma objetiva.
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03) Em apenas UMA frase, resuma a ideia


central do texto. A frase é constituída por uma palavra ou por
________________________________________ uma sequência de palavras que constitui um
________________________________________ enunciado de sentido completo. O início e o
________________________________________ fim da frase são marcados, na fala, por uma
________________________________________ entonação característica e, na escrita, por
________________________________________ uma pontuação específica: a frase começa
________________________________________ com letra maiúscula e termina em um ponto.
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________________

04) Leia o excerto:” Se esta situação não é boa para qualquer estudante universitário, ela é
ainda pior para o acadêmico de Direito”.
Qual das alternativas abaixo apresenta corretamente a relação semântica introduzida pelo conetivo
SE?
a) Condição
b) Causa
c) Consequência
d) Finalidade
e) Conformidade
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05) O texto cita vários exemplos de internetês. Que outros exemplos você pode citar dessa linguagem?
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06) Considerando a possibilidade de sinonímia e reescritas de um excerto e o contexto de uso


das palavras, indique expressões de sentido equivalente para as destacadas na frase “Tudo isto faz
com que, ao entrar na Faculdade de Direito, o jovem acadêmico tenha grande dificuldade em expressar-se,
inclusive oralmente. O seu vocabulário reduz-se a poucas palavras. Sem vocabulário não se expõem as ideias,
não se transmite o que se pensa. Daí porque surgem, nos trabalhos acadêmicos, nos testes ou nos estágios,
petições lacunosas ou confusas. Ofício, carta, MEMORANDUM, nem pensar.”

Acadêmico

Vocabulário

Lacunosas

07) Apresente outros dois títulos adequados e coerentes para o texto, utilizando diferentes recursos de
elaboração.
Primeiro título:
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Segundo título:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________

08) Compartilhando a ideia de que o domínio da língua portuguesa é extremamente relevante para os profissionais,
proponha DUAS ações de estudantes dos cursos de graduação da URI para melhoria no uso da língua portuguesa na
modalidade escrita.

Primeira ação:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________
Segunda ação:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________

09) Considere o seguinte excerto do texto: “ O


português dos alunos de Direito vem se mostrando cada vez
mais deficiente. E não é privilégio desta ou daquela faculdade, pública ou privada, nem mesmo de
determinada região. É nacional.”

Apresente DUAS reescritas do excerto acima, mantendo o sentido original e, em cada reescrita, elabore apenas UMA
FRASE.

Primeira reescrita:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
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Segunda reescrita:
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______________________________________________________________________________________________
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09) (ENADE 2010)

PARA NÃO TROPEÇAR NA ESCRITA, FIQUE ATENTO!

ERROS DE PORTUGUÊS
1) “Em vez de” / “ao invés de”
• Errado: Ao invés de elaborarmos um relatório, discutimos o assunto em reunião.
Certo: Em vez de elaborarmos um relatório, discutimos o assunto em reunião.

2) “Faz” / “Fazem”
• Errado: Fazem dois meses que trabalho nesta empresa.
Certo: Faz dois meses que trabalho nesta empresa.

3) “Ao encontro de” / “De encontro a”


• Errado: Os diretores estão satisfeitos, porque a atitude do gestor veio de
encontro ao que desejavam.
Certo: Os diretores estão satisfeitos, porque a atitude do gestor veio ao
encontro do que desejavam.

4) “Quite” / “quites”
• Errado: O contribuinte está quites com a Receita Federal.
Certo: O contribuinte está quite com a Receita Federal.

5) “Ao meu ver” / “A meu ver”


• Errado: Ao meu ver, o evento foi um sucesso.
Certo: A meu ver, o evento foi um sucesso.

• Fonte: http://exame.abril.com.br/carreira/os-50-erros-de-portugues-mais-
comuns-no-mundo-do-trabalho/. Acesso em: 20 jul. 2017
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