Este artigo analisa como os direitos humanos são abordados na formação de policiais militares no Brasil. Os autores comparam duas cartilhas, uma produzida pelo governo e outra por uma ONG, e encontram que ambas enfatizam a ação dos policiais ao invés de uma abordagem baseada nos direitos humanos. Eles concluem que novas práticas discursivas são necessárias para construir relações de poder mais respeitosas entre a polícia e os cidadãos.
Este artigo analisa como os direitos humanos são abordados na formação de policiais militares no Brasil. Os autores comparam duas cartilhas, uma produzida pelo governo e outra por uma ONG, e encontram que ambas enfatizam a ação dos policiais ao invés de uma abordagem baseada nos direitos humanos. Eles concluem que novas práticas discursivas são necessárias para construir relações de poder mais respeitosas entre a polícia e os cidadãos.
Este artigo analisa como os direitos humanos são abordados na formação de policiais militares no Brasil. Os autores comparam duas cartilhas, uma produzida pelo governo e outra por uma ONG, e encontram que ambas enfatizam a ação dos policiais ao invés de uma abordagem baseada nos direitos humanos. Eles concluem que novas práticas discursivas são necessárias para construir relações de poder mais respeitosas entre a polícia e os cidadãos.
humanos: Novas práticas discursivas na formação e atuação do policial militar. Cadernos de Linguagem e Sociedade 2016.
3º Sgt QPM 1-0 Lucas Alves de Oliveira
Neste artigo, os autores analisam a prática discursiva dos direitos humanos,
proposta na nova Matriz Curricular Nacional implementada pela Secretaria Nacional de Segurança pública, destinada a formação dos policiais militares. Esta pesquisa analisa a construção da representação do policial militar em situações de interação com a sociedade durante instruções da ação de abordagem e busca pessoal baseadas nas novas práticas trazidas pela MCN, com ênfase nos direitos humanos. Para o desenvolvimento desta pesquisa, os autores levantam os seguintes questionamentos: 1. Como o policial militar é representado dentro das novas epráticas discursivas da MCN? 2. Que relações de poder estão envolvidas nessa representação? 3. Como os direitos humanos têm sido abordados no material didático empregado na formação desses profissionais?
Os autores iniciam a pesquisa realizando uma contextualização histórica acerca
das polícias militares do Brasil. Para tanto, consideram dois momentos históricos vividos por estas instituições. O primeiro remete ao governo militar, notadamente ao período de ditadura que se instalou no país no ano de 1964 a 1985. Neste momento, estabeleceu-se uma vinculação legal das Polícias Militares ao Exército Brasileiro. Essa ligação ao exército, resultou em um distanciamento da sociedade, contribuindo para a construção de uma imagem do policial associada ao desrespeito aos direitos e garantias individuais, em razão dos abusos vividos no período ditatorial. Além disso, a preservação da ordem pública sempre esteve relacionada ao controle de manifestações civis que muitas vezes acarretam em confronto com manifestantes, independentemente da legitimidade das manifestações. Portanto, as práticas discursivas no âmbito da formação destes policiais, sempre refletiram o discurso autoritário militar, perpetrado na matriz curricular de formação destes policiais. O segundo momento histórico, presente no momento atual, se deu com o estabelecimento da democracia no país após a promulgação da constituição de 1988, que implicou em diversas mudanças ideológicas e institucionais. Sendo nosso governo democrático ainda jovem, tanto o povo brasileiro quanto a polícia militar, ainda estão se adequando a esse novo contexto social. Com a influência do estado democrático de direito, a MCN foi instituída como um dos passos necessários para a mudança nas práticas discursivas das polícias militares brasileiras e também para a construção de uma nova imagem desses agentes de segurança pública. Esse processo está baseado na reestruturação dos currículos utilizados em sua formação. Com esta reestruturação, espera-se obter mudanças no âmbito da formação das novas gerações de policiais militares. Como processo metodológico para o desenvolvimento da pesquisa, os autores utilizam-se da análise do texto de duas cartilhas elaboradas pela SENASP (Atuação Policial na Proteção dos Direitos Humanos de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade) e pela ONG Centro de Direitos Humanos de Sapopemba. Na Cartilha da SENASP, analisa-se o trecho presente na página 20 e 21 intitulada “Procedimentos na Abordagem Policial”. Tal capítulo busca orientar os policiais acerca de como abordar indivíduos suspeitos, por meio de figuras representativas e mensagens textuais, por exemplo: “Parado! Polícia!... “Mãos na Cabeça!”, “Realize a busca pessoal”, etc. Ressalta-se que esta cartilha foi elaborada por policiais militares da Força Nacional, ou seja, oriundos de diferentes Estados do Brasil, partindo do pressuposto de que seu conteúdo demonstra a percepção dos policiais militares frente a sua atuação nestas circunstâncias. O Segundo texto investigado, foi o da Cartilha de Sapopemba, que é baseada em textos legais, tais como a Constituição Federal, Código Penal, Código Processual Penal etc., foi elaborada por uma equipe composta por civis ligados a instituições de direitos humanos. Tal documento foi criado com vistas a esclarecer a comunidade a respeito dos procedimentos legais que os policiais devem observar durante uma busca pessoal, de forma que se preserve os direitos humanos durante a atuação das polícias no país. O trecho analisado trata da legalidade da abordagem policial, desde que cumprido os requisitos de fundada suspeita. O material ainda informa o leitor que não é permitido o policial realizar xingamentos quando da abordagem, devendo tratar com respeito o cidadão em situação de abordagem, incorrendo em crime de abuso de autoridade a depender do caso, em caso de descumprimento destas premissas. Para análise do texto, os autores utilizaram-se do método de análise de transitividade, que consiste em: segmentar o texto em orações e criar tabelas de concordâncias, com vistas a identificar de forma detalhada, os papeis dos participantes: quem faz o que com quem e sob quais circunstâncias. Os autores concluíram na análise de transitividade dos dois texto que, ao todo foram encontrados 61% de processos materiais, 26% de processos verbais, 11% de processos relacionais e 2% de processos mentais. Os processos materiais, são aqueles utilizados para representar ações físicas como: correr, dirigir, bater, prender, etc. Processos relacionais são aqueles em que se utiliza relações de atribuição, identificação e posse entre vários participantes. Processos verbais estão relacionados às atividades de comunicação e expressão simbólica de significados, sendo verbais ou não, como por exemplo: pedir, mandar, oferecer, declarar, mostrar, indicar etc. A partir dos dados analisados, os autores concluíram que o foco da Cartilha da SENASP e a ação (procedimentos técnicos) dos policiais no momento da abordagem, ou seja, um manual de instruções de como abordar suspeitos sob o aspecto da segurança do policial. Enquanto os policiais são representados em 14 processos materiais (70%), a pessoa abordada aparece como Ator em apenas 6 ocorrências (30%), em que sua função é virar, cooperar, reagir ou tentar agredir. Esta cartilha revela a autoridade dos policiais sob o abordado e o poder de agir sobre ela. Já na Cartilha de Sapopemba, a análise de transitividade revela que o policial militar participa como Ator em 9 (42%) ocorrências, enquanto a pessoa abordada aparece apenas em 6 (26%). Os verbos associados a ação do policial são: parar, revistar, tratar, bater, constranger, e revelam a ação e o poder do policial sob o abordado. A análise de transitividade permitiu constatar que a atividade de abordagem policial é caracteriza em elevado número de processos Materiais e Verbais, nos quais o policial militar é representado, preponderantemente, nos papéis de Ator. Esta representação não difere da construída nos anos dos regimes de exceção, pois, devido ao poder de polícia, que lhe é legalmente conferido, e à natureza do evento (abordagem), a relação de poder é clara: o policial está no comando e é ele quem emite ordens, conforme se constata pelas primeiras orientações dadas pela Cartilha da Força Nacional: “assuma o controle da situação” e “emita ordens curtas e claras”. Sob outra ótica, o abordado encontra-se sob domínio do poder do policial. Em tais situações, deve ficar em silêncio e obedecer às ordens do policial. Sua representação constitui na recepção das verbalizações do policial. Deste modo, é possível afirmar que do ponto de vista do abordado, a situação é de constrangimento, pois tais pessoas se vem muitas vezes, e sem justificativa, tendo seu direito de ir e vir cerceado, seu corpo apalpado e seus pertences revistados sem poder falar até que o procedimento seja completado pelos policiais. Por fim, os autores ainda afirmam que a cartilha produzida pela SENASP, apesar de possuir diversas referências aos direitos humanos e à necessidade de se preservar a dignidade da pessoa, não os insere no texto que foi analisado, que trata das abordagens, resultando apenas em instruções essencialmente técnicas. Tal Cartilha apresenta elevados processos materiais e ausência de processos mentais. Já a Cartilha de Sapopemba, passou mais a impressão do que o policial pode e não pode fazer quando da abordagem a um cidadão. Dessa forma, há mais ênfase no que fazer do que na ação reflexiva que é essencial para atuar em conformidade com os Direitos Humanos. Desta forma, os resultados apontaram na necessidade de novas práticas discursivas a serem propostas pela MCN, com vistas a construir mudanças nas relações de poder estabelecidas entre a polícia e o cidadão, tornando-as mais respeitosas frente aos Direitos Humanos.
A política criminal de segurança pública à luz da tutela da dignidade humana e do Direito Internacional Humanitário: análise do estado do Rio de Janeiro a partir de 2016