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A percepção dos brasileiros sobre a saúde e o SUS

Os serviços públicos e privados de saúde no Brasil são péssimos, ruins ou


regulares (notas de 0 a 7) para 92% dos brasileiros. A sensação também é de
insatisfação em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), segundo 87% da
população. Essa avaliação considerada insatisfatória integra pesquisa inédita
realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina
(CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM). Estas e outras informações
foram divulgadas nesta terça-feira (19), durante coletiva à imprensa, em Brasília.
CONFIRA A ÍNTEGRA DA PESQUISA NO SITE DO CFM.

“Trata-se de um censo que confirma o que os médicos já vêm denunciando há


muito tempo: a saúde não é uma prioridade de governo. O grau de insatisfação é
emblemático e aponta o desejo da população por mudanças profundas na
condução dos rumos do país. Essa pesquisa deve gerar a reflexão na sociedade
sobre os caminhos a se tomar”, afirmou o presidente do CFM, Roberto Luiz
d’Ávila.

Metodologia

De acordo com o inquérito, a saúde no Brasil é apontada como a área de maior


importância para 87% brasileiros e é também indicada por 57% como tema que
deveria ser tratado como prioridade pelo Governo Federal. A abrangência do
estudo foi nacional, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de
diferentes portes, moradores nas cinco Regiões do país. Foram ouvidas 2.418
pessoas – 60% delas residentes no interior – entre os dias 3 a 10 de junho,
homens e mulheres com idade superior a 16 anos.

Outras áreas como educação (18%) e combate à corrupção (8%) também


aparecem com alto nível de prioridade para a população. Contudo, a distância
delas para a saúde é significativa. Entre os outros temas citados pelos
entrevistados constam segurança (7%), combate ao desemprego (4%) e moradia
(3%). Temas como combate à inflação, meio ambiente e transporte despontam
com menor grau de prioridade, com menos de 1% na pesquisa.

SUS de difícil acesso e de má qualidade

A pesquisa realizada pelo Datafolha apontou ainda que todos os aspectos do


atendimento do SUS têm imagem insatisfatória entre a população brasileira. Os
pontos mais críticos estão relacionados ao acesso e ao tempo de espera para
atendimento. Mais da metade dos entrevistados que buscaram acesso no SUS
relataram ser difícil ou muito difícil conseguir o serviço pretendido, especialmente
cirurgias, atendimento domiciliar e procedimentos específicos, como hemodiálise e
quimioterapia.

Sobre a qualidade dos serviços, 70% dos que buscaram o SUS disseram estar
insatisfeitos e atribuíram avaliações que variam de péssimo a regular. A
percepção mais negativa está relacionada ao atendimento nas urgências e
emergências e nos prontos-socorros. Juntamente com as Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs), estes setores têm se configurado como a principal ‘porta de
entrada’ para o SUS. Homens com idade de 25 a 39 anos, com nível superior e
moradores das regiões Norte e Centro-Oeste são os que pior avaliam os serviços
públicos.

Um ano na fila de espera

O tempo aguardado para ser atendido ou agendar uma consulta, exame, internação,
cirurgia ou outro procedimento também é um gargalo para o SUS. Entre os 2.418
entrevistados da Pesquisa do Datafolha, pelo menos 30% declararam estar
aguardando ou ter alguém na família aguardando a marcação ou realização de
algum procedimento pelo SUS. Mas apesar desse percentual, isso não significa
inexistência de queixas ou facilidade no acesso ao procedimento diagnosticado.

Só dois entre cada dez entrevistados (dentre os que declararam aguardar algum
atendimento) conseguiram ser atendidos em até um mês no seu pedido de consulta,
exame, internação, cirurgia ou procedimento específico (quimioterapia ou
hemodiálise, por exemplo). Para quase metade deste grupo, esse tempo é ainda
maior, podendo chegar a seis meses.

O mais grave é que, dentre os que aguardam algum procedimento ou agendamento,


uma parcela significativa da população (29%) espera há mais de seis meses para
ter seu pedido atendido, sendo que mais da metade desse grupo relata estar na fila
de espera há mais de um ano. Inclusive pessoas que possuem planos de saúde,
disseram aguardam algum tipo de atendimento pela rede pública.

As maiores taxas de pessoas que estão aguardando estão entre as mulheres de


idade intermediárias (25 a 55 anos), de escolaridade fundamental, nos segmentos
de classe menos favorecidos e residentes no Sudeste e nas regiões metropolitanas.

Falta de infraestrutura no SUS

“Essa sobrecarga no atendimento de urgência e emergência acentua a visão


negativa sobre o SUS e demonstra a total falta de gestão e regulação do sistema. É
ali que, diariamente, pacientes e médicos e outros profissionais de saúde constatam
o abandono deste serviço público que, para muitos, é a única alternativa”, afirmou
Roberto d’Avila. Parcela significativa dessa percepção ruim decorre da ausência de
medidas que assegurem o bom funcionamento dos serviços, lembrou o presidente,
para quem a desativação de milhares de leitos públicos nos últimos anos tem
colocado médicos pacientes em “sacrifício”.

De acordo com dados apurados pelo CFM junto ao Cadastro Nacional de


Estabelecimentos em Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, quase 13 mil leitos
foram desativados na rede pública de saúde entre janeiro de 2010 e julho de 2013.
O número passou de 361 mil para 348 mil leitos. As especialidades mais atingidas
com o corte foram a psiquiatria (-7.499 leitos), pediatria (-5.992), a obstetrícia
(-3.431) e cirurgia geral (-340).

Em números absolutos, os estados das regiões Sudeste e Nordeste foram os que


mais sofreram redução no período. Só no Rio de Janeiro, por exemplo, 4.621 leitos
foram desativados. Na sequência, Minas Gerais (-1.443 leitos) e São Paulo (-1.315).
No Nordeste, foi no Maranhão o maior corte (-1.181). Entre as capitais, foram os
fluminenses os que mais perderam leitos na rede pública (-1.113), seguidos pelos
fortalezenses (-467) e curitibanos (-325).

Falta dinheiro e gestão de qualidade

As avaliações negativas não se restringem à atividade fim do sistema de saúde


(atendimento). Há críticas também à gestão e ao financiamento do SUS. De acordo
com a pesquisa, para a maioria da população (80%) o governo tem falhado na
gestão dos recursos da saúde pública. Na opinião de quase 60% dos entrevistados,
o SUS não tem recursos suficientes para atender bem a todos, de forma equânime.

Para o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, essa percepção sobre as finanças


do setor está diretamente relacionada à má gestão dos recursos públicos na área.
“Levantamentos recentes elaborados pelo CFM têm denunciado a situação do
financiamento e da infraestrutura da saúde no país. O último deles, divulgado em
julho deste ano, mostrou que o gasto per capita em saúde em 2013 foi de apenas
R$ 3,05 ao dia. O valor está muito abaixo dos parâmetros internacionais e
representa apenas metade do que gastaram os beneficiários de planos de saúde do
Brasil no mesmo período”.

De acordo com o levantamento, em 2013 os governos federal, estaduais e


municipais aplicaram a cifra de R$ 220,9 bilhões para cobrir as despesas dos mais
de 200 milhões de brasileiros usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo,
o gasto per capita em saúde naquele ano foi de R$ 1.098,75.

Equívocos

Outro levantamento da autarquia mostrou ainda que, entre 2001 e 2012, o Ministério
da Saúde deixou de aplicar quase R$ 94 bilhões de seu orçamento previsto.
Significa dizer que a União deixou de gastar, por dia, R$ 22 milhões que deveriam
ser destinados à saúde pública.
“Como podemos ter uma saúde de qualidade para nossos pacientes e melhor
infraestrutura de trabalho para os profissionais do setor com tão poucos recursos? O
pior de tudo isso é que, enquanto estados e municípios se esforçam para aplicar o
mínimo previsto em lei, a União deixa de gastar, por dia, R$ 22 milhões que
deveriam ser destinados à saúde pública”, criticou Carlos Vital.

Outro fator que aponta equívocos na gestão do SUS é a baixa capacidade de


execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De acordo
com análise do CFM, divulgado em março deste ano, apenas 11% das ações
previstas para a área da saúde foram concluídas desde 2011, ano de lançamento da
segunda edição do programa. Das 24.066 ações sob responsabilidade do Ministério
da Saúde ou da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) pouco mais de 2.500 foram
finalizadas até dezembro do ano passado.

Enquanto isso, 9.509 ações constam em obras ou em execução, quantidade que


representa 39% do total. “Numa perspectiva otimista, mesmo que o Governo federal
consiga concluir projetos em andamento, o Programa chegará ao fim deste ano sem
cumprir a metade do prometido”, avaliou Vital. Entre a região do país, a que
apresentou pior resultado percentual de execução foi o Sudeste, onde o governo
conseguiu concluir somente 318 (7%) das 2.441 obras previstas.

Na sequencia aparece o Nordeste, que apesar de concentrar o maior volume


absoluto de obras – mais de 11 mil -,teve apenas 1.119 (10%) empreendimentos
concluídos nos últimos três anos. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, o percentual de
conclusão oscila entre 11% e 12%, respectivamente. Já os estados do Norte tiveram
o resultado relativamente melhor, mas igualmente mínimos. Somente 464 (10%) das
2.861 ações foram concluídas.

Comparações internacionais

Além da má qualidade da gestão dos recursos, que tem impacto direto na


assistência da população e na atuação dos profissionais, os representantes dos
médicos acreditam que a saúde pública, no Brasil, não é uma prioridade de
Governo. “Recentemente, um grupo ligado aos planos de saúde mostrou que cada
um dos 50,2 milhões de beneficiários de planos privados pagou, em média, R$
179,10 por mês para contar com a cobertura de seu plano em 2013. Isso representa
cerca de R$ 2.150,00 por ano – quase o dobro do que os governos pagam pelo
direito à saúde pública”, ponderou o diretor de Comunicação do CFM, Desiré
Callegari.

As informações do CFM dialogam com dados da Organização Mundial da Saúde –


OMS (Estatísticas Sanitárias 2014), que, apesar de diferenças metodológicas,
revelou que o Governo brasileiro tem uma participação aquém das suas
necessidades e possibilidades no financiamento. Do grupo de países com modelos
públicos de atendimento de acesso universal, o Brasil era, em 2011, o que tinha a
menor participação do Estado (União, Estados e Municípios) no financiamento da
saúde.

Segundo os cálculos da OMS, enquanto no Brasil o gasto público em saúde


alcançava US$ 512 por pessoa, na Inglaterra, por exemplo, o investimento público
em saúde já era cinco vezes maior: US$ 3.031. Em outros países de sistema
universal de saúde, a regra é a mesma. França (US$ 3.813), Alemanha (US$
3.819), Canadá (US$ 3.982), Espanha (US$ 2.175), Austrália (US$ 4.052) e até a
Argentina (US$ 576) aplicam mais que o Brasil.

Fonte: CFM

Link para o artigo acima: A percepção dos brasileiros sobre a saúde e o SUS.

3 - A percepção dos brasileiros sobre a saúde e o


SUS
Responda as questões abaixo sobre a pesquisa:

1. Como os brasileiros avaliam os serviços públicos e privados de saúde no


Brasil?

2. O que os médicos vêm denunciando há muito tempo?

Metodologia -

3. Quantas pessoas foram ouvidas na pesquisa e qual foi a abrangência da


mesma?

4. Para 87% dos brasileiros, a saúde é a maior área de importância no Brasil.


Qual a porcentagem das outras áreas?

SUS de difícil acesso e de má qualidade -

5. Qual a imagem que os brasileiros têm do SUS? O que justifica essa


percepção?

6. Quais são os tratamentos particularmente difíceis de conseguir atendimento?

7. Quais setores são considerados “a porta de entrada” para o SUS?

8. Quais perfil das pessoas que pior avaliam os serviços públicos de saúde?

Um ano na fila de espera -

9. Outra queixa comum entre os usuários do SUS é o tempo de espera. Qual a


porcentagem de pessoas que declararam estar aguardando ou ter alguém da
família aguardando a marcação ou realização de algum procedimento?
Quantas pessoas conseguem ser atendidas dentro de um mês de espera?

10. Qual a porcentagem de pessoas que estão esperando procedimento ou


agendamento há mais de seis meses? Qual o perfil das pessoas com
maiores taxas de tempo de espera?

Falta de infraestrutura no SUS -

11. A falta de gestão e regulação adequada do sistema sobrecarrega os


profissionais da saúde, especificamente no atendimento de urgência e
emergência, e acentua a imagem negativa sobre o SUS. De acordo com a
pesquisa, quantos leitos foram desativados na rede pública entre 2010 e
2013? Quais as especialidades mais atingidas? Quais as regiões mais
afetadas?

Falta de dinheiro e gestão de qualidade -

12. Assim como a maioria da população brasileira, o primeiro vice-presidente do


CFM aponta que a falta de recursos financeiros providos pelo governo está
relacionada à má gestão na saúde pública. O último levantamento de dados
mostra que o gasto per capita em saúde em 2013 foi muito abaixo dos
parâmetros internacionais. Qual é este valor?

Equívocos -

13. Quanto do seu orçamento previsto o Ministério da Saúde deixou de aplicar


entre 2001 e 2012?

14. Além da má gestão financeira dos recursos da saúde pública, qual outro fator
que se mostra problemático na gestão do SUS?

Comparações internacionais -

15. Segundo os cálculos da OMS, quanto o Brasil gasta com saúde pública por
pessoa? Dos países citados com modelos públicos de atendimento de
acesso universal, qual que mais investe na saúde?

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