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Jornalismo diversional:
a diversão pela forma1

Francisco de Assis
Doutor em Comunicação Social pela Universidade
Metodista de São Paulo (Umesp)
Docente do Mestrado Profissional em Jornalismo
do Centro Universitário Fiam-Faam
E-mail: francisco@assis.jor.br

Resumo: O artigo discute a possibilidade de relacionar jorna-


lismo e diversão por meio da forma, mais precisamente pelas
1
Tema explorado em nosso doutoramen-
feições do formato que denominamos “reportagem de interes- to (Assis, 2014), jornalismo diversional con-
se humano”, subordinado ao “gênero diversional”, nos termos
propostos por José Marques de Melo. Embasados em revisão bi- siste em nomenclatura que José Marques de
bliográfica e em pesquisa empírica – entrevistas com jornalistas Melo (2009a, p. 36) atribui a uma das classes
brasileiros –, demonstramos que o cruzamento da informação
de atualidade com o entretenimento não só é possível como textuais regularmente praticadas por jorna-
também é confirmado no dizer desses profissionais. listas brasileiros.2 Em termos sucintos, refe-
Palavras-chave: Teoria do jornalismo, gêneros jornalísticos,
jornalismo diversional, prática jornalística, forma jornalística.
re-se à classe de matérias consideradas agra-
dáveis (Erbolato, 2006, p. 44), redigidas com
Periodismo diversional: la diversión por la forma recursos redacionais típicos da literatura e
Resumen: El artículo discute la posibilidad de relacionar el
periodismo y la diversión a través de la forma, más precisa- distanciadas do relato puro e simples que
mente por las facciones del formato que llamamos “reportaje predomina no noticiário informativo.3
de interés humano”, subordinado al “género diversional”, en los
términos propuestos por José Marques de Melo. Basados en re- O termo “diversional” consta, pois, em ta-
visión de la literatura y en investigación empírica –entrevistas xonomia elaborada pelo referido autor a res-
con periodistas brasileños–, hemos demostrado que la inter-
sección de la información de actualidad con el entretenimiento
peito dos gêneros jornalísticos. Trata-se de
no sólo es posible sino que también se confirma en el discurso neologismo, sem palavra correlata em outro
de estos profesionales.
Palabras clave: Teoría del periodismo, géneros periodísticos,
periodismo diversional, la práctica periodística, forma perio- 1
Considerações apresentadas pelo autor durante o 14º Congres-
dística. so Ibero-Americano de Comunicação (São Paulo, ECA-USP, 31
de março de 2015), acrescidas, aqui, de pequenos enxertos que
Diversional journalism: the amusement by the form contribuem para uma melhor compreensão do assunto.
Abstract: This article discusses the possibility of relating jour- 2
Na classificação proposta por Marques de Melo (2009a, p. 36),
nalism and amusement by means of the form, in more preci- é reconhecida a vigência de cinco gêneros na imprensa brasilei-
se terms in the format characteristics we call “human interest ra: informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário
report”, subordinated to the “diversional genre”, in the terms (ver Quadro 1, adiante).
proposed by José Marques de Melo. Based on bibliographical 3
Corresponde, ao menos em partes, ao que mais comumente
review and empirical investigation – interviews with Brazilian chamam de “jornalismo literário”, o que, a nosso ver, consiste
journalists – we demonstrate that crossing information on em equívoco, uma vez que os conceitos relacionados ao referi-
updated facts with entertainment not only is possible but also do termo o posicionam no plano dos recursos narrativos. Por
it is sustained by these professionals interviews. isso mesmo, compreendemos que jornalismo literário consiste
Keywords: Journalism theory, journalitic genres, diversional no arsenal técnico de que se valem os jornalistas para dar corpo
journalism, journalistic practice, journalistic form. ao gênero diversional (Assis, 2014, p. 149).

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idioma, e que, de fato, se remete transver- voltamos nossa pesquisa de mestrado ao “jor-
salmente à ideia de diversão. Ideia por vezes nalismo de variedades”, especialidade focada
incompreendida, a bem da verdade, porque “na informação e na orientação a respeito das
não raramente confunde-se conteúdo com opções de lazer” (Assis, 2009, p. 233). Ocorre,
forma, como veremos a seguir. porém, que conteúdo (o teor) se difere de for-
Pautando-nos, então, por um quadro te- ma (o exterior), ainda que sejam apresentados
órico alinhado à proposta classificatória de sempre juntos – ou seja, não há forma sem
Marques de Melo, de ordem funcionalista conteúdo e tampouco o inverso (Marques de
(reconhecendo de que o jornalismo cumpre Melo, 2009b, p. 19). Mas ambos nem sempre
funções variadas no meio social), buscamos têm o mesmo atributo.
também ouvir, por meio de entrevistas, o Explicamos melhor: o gênero a que nos
que nove renomados jornalistas brasileiros, dedicamos no doutorado diverte por meio
escolhidos por serem notáveis cultivadores de formatos “que mimetizam os gêneros fic-
cionais”, embora “permaneçam ancorados na
realidade” – para usar a definição de Marques
Na perspectiva funcionalista de Melo (2010b, p. 6) –, e que, exatamente
na qual nos apoia­ por assim ser, se configuram pela soma de
mos, são os contornos dois fatores: 1) a materialidade, isto é, a for-
estabelecidos em ma concreta, com certos caracteres essenciais,
consonância com uma propiciada por 2) rituais específicos que condi-
cionam os fazeres responsáveis pela constitui-
função que configuram
ção das matérias. Ou, se quisermos recorrer
os gêneros jornalísticos a outro referencial teórico, podemos indicar
que se tratam dos fatores “estilísticos” e “orgâ-
nicos” – nessa ordem – apontados por Mikhail
do gênero, percebem a respeito de seu traba- Bakhtin (1986, p. 60. Tradução nossa).
lho. A análise, portanto, recai no cruzamento No entanto, seu conteúdo – isto é, os te-
entre a base teórica e o relato sobre a prática mas destacados, os assuntos focalizados, os
do que chamamos de jornalismo diversional. casos trazidos à tona, os personagens descri-
tos, dentre outros elementos – nem sempre
está ligado ao que podemos entender como
O jornalismo e sua forma: a questão
divertido. E tampouco tem a pretensão, a
dos gêneros
obrigação ou a expectativa de sê-lo. Muitas
Este tópico versa, em linhas gerais, sobre o vezes, consiste em dramas humanos, assassi-
horizonte de fundo do qual brotam a questão natos, casos de tortura, histórias de pessoas
dos gêneros e, consequentemente, a discussão já falecidas, e assim por diante. A finalidade
aqui proposta: a forma do jornalismo. Trata- de diversão, por isso mesmo, se cumpre e se
se de uma particularidade pouco destacada estabelece no relato com requintes literários.
em pesquisas da área, as quais buscam mais Quando tratamos do jornalismo diversio-
evidenciar os assuntos pautados pela mídia e nal, estamos, por essa razão, nos reportando à
os discursos dela provenientes. No tangente forma que se mostra capaz de divertir,4 e não a
ao caso particular que nos importa, observa-
mos um grande número de estudos que rela- 4
Esse problema se revela até quando versamos o termo para ou-
cionam informação de atualidade e entreteni- tras línguas. Em espanhol, como exemplo, a expressão “perio-
dismo diversional”, pela qual optamos (Assis, 2013), pode soar
mento pela perspectiva do conteúdo, isto é, o estranha aos hermanos que desconhecem a classificação. Porém,
jornalismo que se pauta pelo divertimento ou se usássemos a fórmula “periodismo de diversión”, distorceríamos
o conceito, uma vez que não estamos discutindo um jornalismo
por possibilidades de diversão. Nós mesmos sobre a diversão, mas um jornalismo que diverte.

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conteúdos que versem sobre diversão, entrete- ao longo do tempo e nos espaços em que cir-
nimento, lazer ou similares, apesar de eles po- cula. Além disso, devemos levar em conta a
derem ser evocados em muitos casos. Forma, “referência à realidade” – que McQuail indica
nos diz Fayga Ostrower (1995, p. 174) – desde como substância dos gêneros –, a qual liga os
um ponto de vista próprio do campo das ar- anseios da sociedade às funções do jornalismo.
tes –, “significa, sempre: estrutura, organiza- Lorenzo Gomis (2008, p. 107-108.
ção, ordenação. Isto é muito importante, pois Tradução nossa) não deixa de notar que os
só podemos perceber formas, ou ordenações gêneros refletem a evolução do jornalismo
que sejam delimitadas. O que não consegui- e surgem em paralelo à necessidade de a im-
mos delimitar, nem conseguimos perceber”. prensa oferecer conteúdos diversificados, de
Na perspectiva funcionalista que assumi- naturezas variadas e/ou com funções distintas,
mos como fundamento e na qual nos apoia- acompanhando as expectativas sociais. Além
mos, são os contornos estabelecidos em con- disso, devemos atentar ao fato de que, mesmo
sonância com certa função que configuram havendo uma relação direta entre os gêneros e
os gêneros jornalísticos. Marques de Melo as funções desempenhadas pelo jornalismo –
(2005, p. 129), inclusive, afirma, categorica- significando que eles vão surgindo conforme
mente: “o gênero jornalístico não se define o avanço do campo –, sua identificação e/ou
pelo conteúdo, mas pela forma de expressão”. categorização esbarra numa série de impasses,
Essas ideias bebem da fonte teórica dos “sendo possível adotar diversos critérios” e, in-
gêneros midiáticos, articulada por Denis clusive, “reduzir didaticamente essa variedade
McQuail (2003, p. 336), que os considera a alguns poucos, de sentido relevante” (Gomis,
“um mecanismo prático para ajudar qual- 2008, p. 110. Tradução nossa).
quer meio de massas a produzir, de modo Em geral, o que se costuma rotular como
consistente e eficiente, e a relacionar a sua gêneros jornalísticos são as composições ela-
produção com as expectativas das suas au- boradas por jornalistas ou por colaboradores
diências”. O gênero, de acordo com o au- (notícia, reportagem, artigo, editorial, etc.),
tor, deve atender a quatro características: 1) sempre submetidas a finalidades/funções,
identidade coletiva, capaz de ser reconhecida independentemente do nome que se atri-
por produtores e receptores; 2) relação des- bua a esses propósitos. Os próprios manuais
sa identidade com finalidade (informação, de redação revelam a tendência de reduzir
entretenimento ou correlata), formato (as- o termo aos “textos que mais comumente
pectos que o configuram, como estrutura, são publicados em seus respectivos jornais,
linguagem) e significado (“referência à rea- limitando discussões e/ou possíveis classi-
lidade”); 3) permanência dessa identidade, ficações” (Assis, 2011, p. 14). Desse modo,
estabelecida consensualmente através dos aparece como o que anota Fernando Cascais
tempos; e 4) uma estrutura narrativa e/ou (2001, p. 98): um “conceito operacional que
um ordenamento sequencial previsíveis, que designa as diferentes formas que o texto jor-
se moldem a padrões estabelecidos. nalístico pode revestir e que correspondem a
Portanto, um gênero que tem a diversão diferentes rotinas de produção informativa”,
como propriedade se configura pela combi- sendo “opções de hierarquia de uma redac-
nação de uma finalidade específica (diver- ção”, dependentes de vários fatores (organi-
tir) com uma estrutura narrativa (que adota zacionais, editoriais, de recursos humanos e
recursos da literatura em sua composição), técnicos, bem como da natureza do aconteci-
reconhecida pelos agentes sociais que atuam mento pautado). Consistem, nessa perspec-
no processo jornalístico (produtores e recep- tiva e conforme Juan Gargurevich (2004, p.
tores) e que se mantém “relativamente está- 9. Tradução nossa), em “formas que o jorna-
vel” (Bakhtin, 1986, p. 60. Tradução nossa) lista busca para se expressar, devendo fazê-lo

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de modo diferente, segundo a circunstância que se divide em outras, denominadas for-


da notícia” – aqui, entendida em sentido lato matos, os quais, em relação à primeira, são
–, “seu interesse e, sobretudo, o objetivo de desdobrados em espécies, chamadas tipos.
sua publicação”.
Apesar de a ideia de “forma”, mencionada Nesse esboço, os gêneros são, primeira-
mente, tidos como intrínsecos ao universo
por Gargurevich, nos ser cara – como previa-
da comunicação social – assimilando, con-
mente acenamos –, e de entendermos que as
sequentemente, as suas propriedades – e,
rotinas têm acompanhado o cumprimento
depois, como grupos de mensagens jorna-
das variadas funções do jornalismo1, a con-
lísticas diferenciados por seus intentos. Para
cepção de gênero com que trabalhamos é dife-
nós, portanto, os gêneros não são tipos de
rente dessas que aqui foram descritas, porque textos que se determinam pela estrutura
ambiciona não ser reducionista ou excessiva- composicional das palavras ou pelos traços
mente operacional. Para posicionar melhor de estilo; eles consistem, acima de tudo, em
nosso marco conceitual, vejamos o que define agrupamentos que refletem múltiplos de-
José Marques de Melo (2009a, p. 35): sempenhos do campo profissional, atenden-
do a demandas específicas e se articulando
O campo da comunicação é constituído por
conforme as exigências dos espaços em que
conjuntos processuais, entre eles a comuni-
são suscitados. Assim sendo, a classificação
cação massiva, organizada em modalidades
significativas, inclusive a comunicação pe-
tomada como parâmetro não considera a
riodística (jornal/revista). Esta é estrutura- existência de, por exemplo, “gêneros infor-
da, por sua vez, em categorias funcionais, mativos”, mas, sim, do “gênero informativo”,
como é o caso do jornalismo, cujas unida- que abriga “formatos informativos”. E isso
des de mensagem se agrupam em classes, se dá, naturalmente, com todos os outros. O
mais conhecidas como gêneros, extensão Quadro 1 ilustra melhor:

Quadro 1 – Gêneros e formatos classificados por José Marques de Melo


Gênero Formatos
Informativo Nota, Notícia, Reportagem, Entrevista
Opinativo Editorial, Comentário, Artigo, Resenha, Coluna, Crônica, Caricatura, Carta
Interpretativo Análise, Dossiê, Perfil, Enquete, Cronologia
Diversional História de interesse humano, História colorida
Utilitário Indicador, Cotação, Roteiro, Serviço
Fonte: Marques de Melo (2009a, p. 36)

Em termos mais específicos, compreen- unidades da comunicação massiva periódica


demos gênero jornalístico como “a classe de que agrupa diferentes formas e respectivas
espécies de transmissão e de recuperação
5
Uma das críticas de que são alvo as classificações dos gêneros oportuna de informações da atualidade, por
diz respeito justamente à “dificuldade de os delimitar” (Cas- meio de suportes mecânicos ou eletrônicos”
cais, 2001, p. 98). Ainda que, ao longo do tempo, as discus-
sões tenham enfatizado a relação estreita entre os materiais (Marques de Melo; Assis, 2013, p. 30).
jornalísticos e as funções que eles desempenham, aceitamos Falta, então, esclarecer o que são as “unida-
que as linhas divisórias servem apenas como orientação, por
nem sempre ser possível separá-las em sentido stricto. Ou seja, des de mensagem” que “se agrupam em clas-
em muitos casos, o exercício classificatório aponta a finalidade
principal, sem deixar de reconhecer que outras estão imbuídas
ses”, “denominadas formatos”, às quais se refere
nas matérias (ou no conjunto delas) que foram observadas. Marques de Melo (2009a, p. 35). Seu conceito,

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bem como sua subordinação a um conjunto produção. E embora “formato” seja palavra
maior, foi incorporado, pelo autor que nos encontrada mais no vocabulário dos profis-
ampara, em conformidade com a terminolo- sionais de TV (Aronchi de Souza, 2004, p.
gia comum aos estudos midiáticos (Mcquail, 45) do que no ambiente das redações, esse
2003, p. 339). Contudo, tratando do jorna- termo nos ajuda a entender os limites e as
lismo, especificamente, “formato” diz respei- possibilidades das composições jornalísticas.
to às várias disposições textuais – expressões
concretas dessa atividade profissional – que A natureza diversional
repórteres e cooperadores empreendem.
desse novo tipo de
No dicionário da língua portuguesa, a
palavra formato é descrita como sinônimo jornalismo está
de “feitio, forma” (Ferreira, 1986, p. 800). justamente no resgate
Corresponde, logo, à “dimensão objetiva” das formas literárias
dos gêneros jornalísticos, referida por Josep de expressão, relegadas a
Maria Casasús e Luis Núñez Ladevéze (1991, segundo plano
p. 87. Tradução nossa), a qual nos “nos con-
duz à apreciação de modelos estruturais e
estilísticos cujos conjuntos prototípicos re-
 sboço teórico sobre o jornalismo
E
cebem diversas denominações”, como notí-
diversional
cia, crônica, artigo, reportagem, etc., como se
observa no Quadro 1. Em decorrência, for- Retomando colocações precedentes, subli-
mato jornalístico “é o feitio de construção da nhamos que o conceito de “gênero diversio-
informação transmitida pela mídia, por meio nal” projeta a diversão no campo do jorna-
do qual a mensagem da atualidade preenche lismo, reconhecendo-a como função legítima
funções sociais legitimadas pela conjuntura e assumindo que há produção e consumo de
histórica em cada sociedade nacional” material jornalístico que diverte. José Marques
(Marques de Melo; Assis, 2013, p. 32). de Melo (2006b) apresenta-o como aquele que
Os formatos são definidos, por Denis se robustece como “contingência do jornalis-
McQuail (2003, p. 340), como “sub-rotinas mo no sentido de sobreviver num ambiente
para lidar com temas específicos dentro de midiático dominado pelo entretenimento”.
um gênero”, sendo dependentes das circuns- Obviamente, o divertimento – ou en-
tâncias em que há necessidade de se fazer uso tretenimento – a que estamos nos referindo
deles. Isto é, o formato não tem finalidade não é exatamente o mesmo proporcionado
própria, isolada, mas, sim, acompanha aque- por espaços humorísticos vigentes na
la a que o gênero ao qual está subordinado imprensa, como seções de piadas, histórias
pressupõe. Um exemplo: o formato “roteiro” em quadrinhos, entre outras formas que
é adotado quando se espera o uso do “gênero não têm a obrigação de abordar assuntos,
utilitário”, o qual se presta ao serviço (a ser quaisquer sejam, de maneira verossímil.
útil), por meio de pequenas doses de infor- Também não é o mesmo entretenimento
mação, organizadas de modo a auxiliar os oferecido por outras produções midiáticas, de
cidadãos em tomadas de decisão cotidianas. natureza ficcional. Desse modo, condescender
A lógica parece-nos clara. Os formatos que o jornalismo proporciona certa dose de
materializam o papel que o gênero deve diversão a seu público, por meio de conteúdo
cumprir, tendo suas características definidas interessante, agradável de ler – ou de assistir/
não apenas pela superfície do texto (a ma- ouvir, já que essa prática não é restrita aos
terialidade, os elementos linguísticos), como, suportes impressos –, é acatar a vigência de
principalmente, pelas lógicas internas de uma classe de mensagens independente e que

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se diferencia pelas condições que pressupõe e na mesma tese, tratar-se “de narrativa jorna-
que possibilitam a efetivação desse propósito. lística que exige sensibilidade, envolvimento
Entretanto, nem sempre se pensou assim. afetivo e profunda observação dos protago-
Em sua tese de livre-docência, defendida em nistas das notícias e dos ambientes em que
1983, na qual propôs sua primeira classifi- atuam”:
cação dos gêneros, Marques de Melo (2003,
p. 64) chegou a desconsiderar essa autono- A natureza diversional desse novo tipo de
mia, alegando que a diversão não passava de jornalismo está justamente no resgate das
“mero recurso narrativo que busca estreitar formas literárias de expressão que, em nome
os laços entre a instituição jornalística e o seu da objetividade, do distanciamento pessoal
público e não transcende a descrição da re- do jornalista, enfim da padronização da in-
alidade, apesar das formas que sugerem sua formação de atualidades dentro da indústria
dimensão imaginária”. A justificativa foi não cultural, foram relegadas a segundo plano,
ter encontrado “ancoragem” dessa tendência quando não completamente abandonadas
“na práxis jornalística observada no país” (Marques de Melo, 2003, p. 33-34).
naquela conjuntura, ainda rescaldo da re-
O desacerto entre a explicação teórica e
a proposta classificatória deixou, por muito
Não há razão para que tempo, a legitimidade do gênero em suspenso.
Hoje, porém, após reexaminar essa dinâmica,
notícias de importância
o autor aponta, com precisão, que, na história
econômica e social do jornalismo, o século 20 figura “como um
deixem de ser caldeirão de novos gêneros e formatos, reci-
apresentadas ao lado clando os gêneros informativo e opinativo, e
de matérias menos testemunhando o aparecimento de gêneros
importantes e mais atrativas complementares”; entre eles, “embora de-
notando intensidade sazonal”, “aparece um
segmento de natureza emotiva e hedonística,
pressão da ditadura militar (1964-1985), que nutrido pela civilização do ócio, configuran-
cerceou a atuação dos jornalistas brasileiros. do o gênero diversional, cuja identidade vacila
O que se expôs naquele momento ainda entre o mundo real e a narrativa imaginária”
gera dúvidas, especialmente motivadas por (Marques de Melo, 2010b, p. 2-3).
leituras desatentas. Embora sem categorizar É nesse panorama que se situa o gênero
o jornalismo diversional – por constatar que “complementar” e de caráter “emocional”
a imprensa diária brasileira não se dedicava
aqui estudado. É complementar porque, hege-
a essa possibilidade –, o autor não deixa de
reconhecê-lo no plano conceitual. Aceitando monicamente, o jornalismo permanece pola-
a analogia feita por Mário Erbolato (2006, p. rizado na informação e na opinião (Marques
43) entre essa nomenclatura e o “novo jorna- de Melo, 2010a, p. 92); logo, os demais agru-
lismo” – ou new journalism6 –, ele explicou, pamentos, que surgiram ao longo do último
século, ofereceram novas possibilidades ao
que já era – continua sendo – de praxe no jor-
6
Demarcando uma revolução – ou uma evolução, ao menos nalismo. E emocional pelo fato de atender aos
– na imprensa dos Estados Unidos, o new journalism teve seu
início na década de 1960 (embora haja algumas controvérsias
anseios de uma sociedade hedonista que espe-
quanto ao seu provável começo). Não chegou a ser um movi- ra encontrar em várias frentes – até mesmo no
mento formal, pois os repórteres não o promoveram de maneira jornalismo – algo a lhe dar prazer (incluindo
organizada; pode-se dizer que agiam mais de maneira intuitiva
(Wolfe, 2005, p. 27-28). Distinguiu-se pelo “estilo de reportagem prazer estético) e que, pelo mesmo motivo,
inovador” – conquanto questionável –, “que veio com a intenção valoriza cada vez mais as emoções.
declarada de reformar o jornalismo e que, ao se espalhar pelo
mundo, conseguiu abalar o cânone das rotinas produtivas e da
De volta à questão privilegiada no tópico
estilística em muitas redações” (Castro, 2010, p. 47). anterior, isto é, a da forma, é justo fazer um

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esclarecimento. Na conclusão alcançada em Anterior à nossa defesa, há mais de meio


nossa tese, defendemos que, embora Marques século, Fraser Bond (1959, p. 7) já acenava
de Melo (2006a; 2009a, p. 36) estabeleça dois para a dedicação da imprensa em suprir os
formatos distintos para o gênero – história de leitores com materiais capazes de entretê-los,
interesse humano e história colorida, como se assegurando que “o jornal e a revista atraem
viu no Quadro 1 –, os elementos constituintes o público que busca distração”, entre outras
de ambos7 demonstram se fundir num só fa- estratégias, justamente com “histórias de ‘in-
zer, o que nos levou a determinar que o jorna- terêsse humano’”.
lismo diversional se manifesta em um formato Bond não está sozinho em reconhecer esse
básico, podendo ser desdobrado em variados mérito. Edwin Emery, Phillip Ault e Warren
tipos,8 a depender das circunstâncias. A esse Agee (1974, p. 58. Grifo nosso) apontam
formato, chamamos reportagem de interesse que, nos Estados Unidos, ainda no térmi-
humano. Por duas razões. Primeiro porque no do século 19, os jornais se preocupavam
“reportagem” é o que os jornalistas revelam e em “entreter o leitor, além de informá-lo e
afirmam, de fato, produzir, quando cultivam instruí-lo”, com a publicação de “notícias ‘de
o gênero discutido. Depois, porque o “inte- interesse humano’”, “histórias cujo valor re-
resse humano” consiste no traço que confe- side mais na habilidade de redação do que no
re identidade à forma específica dessa classe. conteúdo” e que “sempre tiveram ampla acei-
Ao afirmar isso, não nos referimos apenas ao tação”. Protegendo a ideia de que os veícu-
fato de as histórias narradas serem interessan- los de comunicação têm de “equilibrar” suas
tes por seu teor (afinal, isso corresponde ao funções de “informar, instruir e divertir”, os
conteúdo); mas, também e principalmente, autores acreditam que “a preocupação de
tratamos desse “interesse” como recurso ex- fornecer entretenimento ao leitor de modo
pressivo capaz de convertê-las em relato apto algum diminui o valor social do jornal”. Ao
a divertir, a mexer com as sensações daqueles contrário, “não há razão para que notícias de
que se puserem a contemplá-lo. importância econômica e social deixem de
ser apresentadas de forma interessante, ao
7
Nos termos dados pelo autor, história de interesse humano é lado de outras matérias menos importantes,
“narrativa que privilegia facetas particulares dos ‘agentes’ noti- que apresentem maior atrativo”.
ciosos. Recorrendo a artifícios literários, emergem dimensões
inusitadas de protagonistas anônimos ou traços que humani- O interesse humano, orienta Luiz Beltrão
zam os ‘olimpianos’. Apesar da apropriação de recursos ficcio- (1969, p. 72), pode ser despertado a partir de
nais, os relatos devem primar pela verossimilhança sob o risco
de perder a credibilidade”. Já a história colorida se apresenta em casos identificados em “todos os quadrantes
“relatos de natureza pictórica que valorizam tons e matizes na da atividade humana”, em “todos os seres”,
reconstituição dos cenários noticiosos. Trata-se de uma leitu-
ra impressionista, que penetra no âmago dos acontecimentos,
em “todos os domínios da inteligência e da
identificando detalhes enriquecedores, capazes de iluminar a sensibilidade”. Para transformá-los no “en-
ação de agentes principais e secundários. Não obstante a pre- tretenimento” reclamado pelo “organismo
sença do repórter no cenário noticioso, ele se comporta como
um ‘observador distante’, enxergando detalhes não perceptíveis social” – possibilitando a seus leitores “des-
a olho nu” (Marques de Melo, 2006a). cansar das preocupações” –, o jornalista há
8
No esquema adotado por José Marques de Melo para situar
os gêneros jornalísticos no universo da comunicação social, há, de “colhê-los onde quer que se registrem”.
como já dissemos, o desdobramento desses grupos em forma- Houve um tempo, provavelmente no início
tos, os quais, por sua vez, se subdividem em tipos. Em texto que,
com ele, produzimos a quatro mãos, assim registramos: “tipo
do século 20 – embora não seja devidamente
jornalístico é o modelo assumido pela mensagem da atualidade sinalizado pelos autores – em que eram postas
com a finalidade de melhor preencher a função social que lhe distinções entre “informação” e “interesse hu-
corresponde na engrenagem midiática. [...] A espécie – ou seja,
o tipo – varia de acordo com a necessidade de trabalhar um mano” (Mcquail, 2003, p. 344), entre “notícia
acontecimento de determinada maneira, mas também pode direta” e “destaques” – ou “features”, em inglês
implicar numa decisão autoral ou institucional e, mesmo,
seguir uma padronização exigida pelo suporte que a veicula” –, termo “genérico” que designava, nos EUA,
(Marques de Melo; Assis, 2013, p. 30). os textos que “podiam ser redigidos quase

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como ditava a fantasia”. Tratava-se da “era da compreender que diversão não necessaria-
notícia sentimental e de expressão jornalística mente corresponde a algo engraçado, àquilo
quase sem limite” (Hohenberg, 1962, p. 242). que promove o riso, ao jocoso ou ao deboche.
Contudo, ainda na primeira metade do mes- O ato de divertir-se pode ou não ser estimu-
mo século, esse contraste deixou de ser persis- lado pelo que é hilário. Além do mais, tam-
tido, uma vez que a própria prática fazia sepa- bém nem sempre pressupõe a alienação que
rações. Em 1940, pesquisa realizada por Helen os frankfurtianos atribuíram à indústria cul-
MacGill Hughes, discípula de Robert Park e tural e aos seus feitos. Também se estabelece
integrante da Escola de Chigago, “examinou por meio de gratificação estética. Uma pes-
a relação entre as duas formas de conteúdo e soa pode muito bem ter diversão em contato
concluiu que os jornais norte-americanos se com histórias dramáticas, de sofrimento ou
tinham ‘transformado de uma forma mais ou de superação. O teor não precisa ser espiritu-
menos sóbria de registro para uma forma de oso para tanto. Os filmes (ficcionais ou não)
literatura popular’”, como nos conta McQuail exploram essas particularidades. As teleno-
(2003, p. 344). A equação, em seu modo de velas também. Os livros, igualmente. Sempre
ver, é algo aparentemente simples: se a ativida- com a mesma finalidade, ou seja, a de diver-
de jornalística deriva, em parte, “de tradições tir. Com o jornalismo seria diferente? É cer-
muito antigas de contar histórias”, os leitores to, em nosso modo de ver, que não. Inserida
do jornalismo “são, certamente, muitas vezes no ambiente midiático, essa atividade busca,
mais atraídos para o ‘interesse humano’ do como se observou, encontrar meios para dis-
que para ‘notícias’ sobre política, economia e putar espaço, ainda que indiretamente, com
sociedade”. A curiosidade e o encantamento outras ofertas feitas pelos media.
despertados nos ouvintes dos contadores tam- A segunda divergência, surgida principal-
bém mobilizam os receptores da imprensa. mente no mercado, diz respeito à diversão
No “jornalismo moderno”, finaliza John como caractere do jornalismo. Há um des-
Hohenberg (1962, p. 243), “o arco-íris do in- conforto, entre os profissionais, em associar o
terêsse humano arqueia-se por todo o cam- que fazem ao entretenimento. Por isso mes-
po”: tanto nas revistas – ilustradas, semanais, mo, como antecipamos no princípio, entre-
mensais, de circulação geral – quanto nos vistamos, durante a elaboração de nossa tese,
jornais, que “transformaram o velho des- nove jornalistas tidos como cultivadores do
taque jornalístico em trabalho eficaz, colo- gênero classificado por Marques de Melo, na
rido e bem documentado, que destronou o intenção de compreender como percebem
seu desleixado e limitado antecessor”. Nessa tal questão. Esses sujeitos, nomeadamente
contextura, o interesse humano se estabiliza Audálio Dantas, Carlos Wagner, Consuelo
como recurso expressivo, técnica adequada Dieguez, Daniela Pinheiro, Eliane Brum,
para a composição da forma dessa natureza. João Moreira Salles, José Hamilton Ribeiro,
Ricardo Kotscho e Zuenir Ventura, foram es-
Ecos na prática colhidos com base no cruzamento de critérios
devidamente estabelecidos e justificados em
O aspecto gerador de mais entraves nas nosso trabalho (Assis, 2014, p. 171-174).
discussões sobre o gênero diversional não Nossos entrevistados notadamente se
está relacionado à sua estrutura ou às suas preocupam que outros interpretem equivo-
características, mas, sim, ao próprio termo cadamente essa aproximação, seja pensando
que o nomeia, remetido que é à diversão. que a função capital do jornalismo, a de in-
E isso se dá por duas divergências aparen- formar, está sendo sufocada por essas práti-
tes. A primeira, especialmente levantada no cas afeitas a pormenores, seja taxando suas
âmbito acadêmico, é uma dificuldade em produções como literatura ou algo nesse

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sentido. Reforçam, então, cada qual de uma chegaram a comparar seus trabalhos com
maneira, que a feição por eles dada às ma- elementos da teleficção, do mercado edi-
térias – a que denominamos “jornalismo di- torial, do cinema. O exercício de lidar com
versional” – não se exime do compromisso essas particularidades, sem sair do território
com a informação, com a checagem, com a da imprensa, é desafiador, confirmaram-nos.
precisão e, principalmente, com a realidade. E essa percepção não é só deles. A constata-
O que se busca não é ignorar as perguntas ção é universal, acreditamos. Por isso mes-
do lead, mas, sim, trabalhá-las de maneira mo, os profissionais que se propõem a tal
mais atraente, adicionando-lhes elementos fazer – e o realizam, com visível talento –
capazes de respondê-las e, de quebra, trans-
formar o que se está contando em peça jor-
nalística interessante, atraente, com estilo. Não é demérito entreter
De seus discursos, extraímos falas que con- por meio da atividade
firmaram um esforço em escrever textos que jornalística; é, ao
não sejam “chatos”, uma expectativa em des- contrário, uma
pertar sensações (fazer rir e chorar) com o que
resistência à simplificação
produzem, um equiparar de suas matérias a
um “microlivro”, a compreensão de que atraem
que os formatos
seus leitores justamente pela forma – e não ne- informativos tendem a adotar
cessariamente (ou nem sempre) pelo conteúdo
que abordam – e, principalmente, a manifes-
tação de quererem ser lidos e de fazer algo que acabam se destacando entre os demais. Seu
agrade aos outros e, antes disso, a eles mesmos. mérito é o de capturar elementos do mundo
Se, por um lado, poucos foram o que ver- real capazes de sustentar narrativas que não
balizaram haver proximidade entre infor- só informem como também ofereçam uma
mação de atualidade e diversão naquilo que gratificação a mais: uma estética que, tradi-
fazem, todos eles, por outro, reconheceram cionalmente, é da literatura, mas que o jor-
que suas matérias intentam, além da essên- nalismo toma emprestado.
cia informativa, oferecer algo agradável aos A função de divertir – motivadora da clas-
leitores, para ser lido não na pressa com que sificação que adotamos – se confirma, então,
se costuma acompanhar o noticiário, mas em na voz desses sujeitos, seja na dos que assu-
momentos à parte da correria diária. Quando mem haver uma busca por composições que
questionados sobre suas percepções a respeito informem e entretenham, seja na dos que dão
do que possivelmente levaria as pessoas a te- indícios a permitir essa dedução. Fique claro,
rem apreço por essas matérias, não incomum porém: o que eles fazem não é entretenimen-
surgiam respostas que sinalizavam, como mo- to. Tampouco é literatura. E muito menos
tivos, o apreço pela forma, a procura por algo ficção. É jornalismo, acima de tudo. Tem apu-
que fuja do padrão-comum – haja vista que os ração, tem precisão. Mas a isso se somam tem-
veículos (impressos, eletrônicos ou digitais) peros que possibilitam textos aprazíeis.
estão cada vez mais iguais uns aos outros – e o
interesse por conhecer histórias interessantes, Considerações finais
contadas de um jeito especial, humanizado.
Complementarmente, sobressai-se uma Devemos enfatizar, por tudo o que se
busca do repórter por transformar o jorna- viu, que o cumprimento da função de di-
lismo em um produto com qualidade similar vertir, subentendida pelo gênero diver-
a uma boa obra ficcional. Durante as entre- sional, não consiste apenas em definição
vistas que fizemos para a tese, os jornalistas acadêmica, sem vínculo com o mundo

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exterior. Argumentamos, baseados nas Em outras palavras, o trabalho da impren-


evidências, que não se trata somente de um sa incorpora, sem dúvida alguma, aspectos da
olhar de fora. outra esfera referida, de modo a acompanhar a
Os próprios jornalistas reconhecem seus movimentação cultural do tempo em que vi-
trabalhos como tendo significado superior vemos e a encontrar saídas para que os frutos
ao da informação, esbarrando na noção de de suas performances não se tornem maçantes.
Reforce-se, porém, que, em hipótese algu-
entreter, mesmo tendo alguns reafirmado
ma, é demérito propiciar diversão por meio
a ideia de que jornalismo e entretenimento
da atividade jornalística. É, ao contrário,
não podem ser confundidos. Nós também uma espécie de resistência à simplificação
pensamos que não deve haver essa confusão, que os formatos informativos tendem a fazer
mas isso não quer dizer que não haja influ- com as questões a que se reportam.
ências, aproximações. (artigo recebido mai.2015/aprovado abr.2016)

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